Esta dissertação foi julgada adequada para a obtençio
do Titulo
MESTRE EM LINGÜÍSTICA
Ârea de Concentração: Lingüística Aplicada, pelo Programa de
Pós-Graduação.
Profi Dri Maria Marta Furlanetto
Coordenadora da Pós-Graduação em
Lingüística
'X
Profã Dxí^Hilda Gomes Vieira
Orientadora
Apresentada à Banca Examinadora:
CONVENÇÕES
1. Abreviaturas que aparecem nesta dissertação:
EP = Experiência Pessoal
EV = Experiência Vicária
T = Total
S = Sinopse
0 = Orientação
AC = Ação Complicadora
A = Avaliação
R = Resolução
C = Coda
A = grupo de 20 informantes formado por alunos da
8â série do lo grau.
B = grupo de 20 informantes formado por alunos da
3â série do 2Q grau.
M = Masculino
F = Feminino
2. Numeração: Números de 01 a 20, referem-se aos in
formantes do grupo A e de 21 a 40 referem-sej , aos informan
tes do grupo B.
3. Notações que aparecem antes de partes de narrat_i
va ou de narrativa completa: por exemplo EP A 20 F, significa
que é uma narrativa de experiência pessoal produzida pelo in
formante do sexo feminino, número 20, do grupo A.
4. As letras do alfabeto (a a ^ a que apare
cem antes das orações, como, por exemplo:
aa e o cobrador colocou o meu irmão no colo
bb e levou-o para a grama,
servem apenas para identificação das orações narrativas de
qualquer tipo. Este critério da identificação segue o utili
zado por Labov e Waletzky (1967) na apresentação do modelo.
RESUMO
O objetivo desta dissertação é a análise da estrutura
de narrativas escolares escritas produzidas por dois grupos de
informantes (A eB) em duas situações de produção: narrativas
de experiência pessoal (EP) e narrativas de experiência vicã
ria (EV) , ã luz do modelo de análise proposto por Labov/Wale_t
zky (1967) e confirmado por Labov (1972).
Trata-se de um estudo comparativo do desempenho da
produção de textos narrativos dos dois grupos de informantes,
formados por alunos da 8§ série do le grau (grupo A) e por
alunos da 3§ série do 2Q grau (grupo B); e da complexidade es
trutural de narrativas de experiência pessoal e de experiên
cia vicária.
0 estudo comparativo foi efetuado sob os aspectos qua
litativo e quantitativo..
Os resultados apontam que os informantes da presente
pesquisa, tanto os do grupo A quanto os do grupo B, já produ
zem textos narrativos e que as narrativas produzidas em situa
ção de produção EP apresentam maior complexidade estrutural
do que as narrativas produzidas em situação de produção EV.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................ 01
1.1. Motivação para a escolha do assunto ......................... 01
1.2. Objetivo da pesquisa ........................................ 02
1.3. Hipóteses ................................................... 05
1.4. Escolha do estabelecimento de ensino ........................ 06
1.5. Informantes ................................................. 07
1.6. Procedimento da coleta de dados ............................. 08
1.7. Estrutura desta dissertação ................................. 08
2. ABORDAGEM LINGÜÍSTICA DA NARRATIVA................................. 10
2.1. Preliminares ................................................ 10
2.2. Modelo de análise de narrativas proposto por
Labov/Waletzky (1967) e Labov (1972) ........................ 11
2.2.1. Definição da narrativa ............................. 11
2.2.2. Estrutura da narrativa ............................. 14
2.2.3. Seções estruturais da narrativa: definição
e funções .......................................... 16
2.2.4. Funções da narrativa na situação de_. comuni^
cação .............................................. 24
2.2.5. Reportabilidade e credibilidade .................... 28
2.3. Teoria de Weinrich ..... .................................... 30
2.3.1. Atitude de locução ................................. 31
2.3.2. Prospectiva de locução ............................. 32
2.3.3. Relevo ............................................. 33
3. ANÁLISE DAS NARRATIVAS ............................................ 36
3.1. Abordagem da estrutura global da narrativa nas
duas situações EP e EV ..36
3.2. Pseudo-narrativas ........................................... ..67
3.3. Ciclo narrativo; texto com mais de uma narrativa 73
3.4. Análise quantitativa ........................................ ..75
3.4.1. Avaliação da hipótese 1 ............................ 84
3.4.2. Avaliação da hipótese 2 ............................ 88
3.4.3. Conclusão do capítulo .............................. 94
4. SEÇÕES ESTRUTURAIS DA NARRATIVA ................................... 98
4.1. Caracterização do bloco narrativo formado pelas
seções: Orientação, Complicação da Ação e Resolu
ção ......................................................... 98
4.1.1. Orientação ......................................... 98
4.1.2. Ação Complicadora e Resolução ...................... 106
4.2. Caracterização do bloco narrativo formado pelas
seções Sinopse, Avaliação e Coda ............................ 118
4.2.1. Sinopse ............................................ 118
4.2.2. Avaliação .......................................... 122
4.2.2.1. Avaliação, como estrutura primá
ria ..................................... 123
4. 2.2.2. Avaliação, como estrutura secun
dária ................................... 124
4.3. Coda ........................................................ 138
4.4. Conclusões do capítulo ...................................... 142
5. CONCLUSAO ........................................................ 146
BIBLIOGRAFIA ......................................................... 150
1. INTRODUÇÃO
1.1. Motivação para a escolha do assunto.
Pressupondo-se que a função da escola, na área de lin
guagem, é introduzir o educando no mundo da escrita e torná-lo
capaz de empregar este instrumento de comunicação de forma ade
quada, numa sociedade que valoriza este tipo de conhecimento,
é que se pensou em efetuar um trabalho com textos escritos.
A preocupação com a dificuldade de escrever pela maio
ria dos alunos motivou a pesquisa, pois se acredita ser esta
capaz de apontar caminhos e possíveis soluções para amenizar
este problema que angustia todos quantos estejam envolvidos com
o processo ensino-aprendizagem.
Decidido trabalhar com textos escritos, restava selec_i
onar o tipo de texto. Optou-se por narrativas. Por que narrat_i
vas? Interessava, por um lado, o fenômeno de se poder, através
do discurso, reconstituir uma realidade que se transforma. Por
outro lado, a experiência pedagógica apontava para o privilégio
da narrativa no exercício escolar da produção escrita.
Além disso, é sabido que contar história é um comporta
mento humano característico; ouve-se e conta-se histórias desde
pequenos.
1.2. Objetivo da Pesquisa
Esta dissertação pretende ser um estudo da estrutura
de narrativas escolares escritas produzidas por dois grupos de
informantes (Â e B) em situação de produção de narrativas de
experiência pessoal (EP) e narrativas de experiência vicária (EV).
Trata-se de uma estudo comparativo do desempenho da produção
de textos narrativos dos dois grupos, formados por alunos de
8§ série do IQ grau (grupo A) e por alunos de 3â série do 2Q
grau (grupo B) nas duas situações de produção de narrativa
(EP e EV) e da complexidade estrutural de narrativas de experi
ência pessoal e narrativas de experiência vicária.
Pretende-se estudar a estrutura narrativa sob dois as
pectos :
a) aspecto qualitativo, onde se estuda os elementos for
mais que caracterizam as várias seções estruturais da narrativa.
b) aspecto quantitativo: onde se estuda a freqüência
das várias seções da narrativa.
Um exame de alguns trabalhos referentes ã narração le
vou aos estudos de Propp (1965), Lévi-Strauss (1970), Barthes
(1971) , William Labov/Joshua WaletzIcY (1967) e Labov (1972) .
Dentre eles, os de Labov/Waletzky (1967) e Labov (1972) foram os
que mais se aproximaram da análise que se pretendia realizar,
que consta de uma investigação da estrutura de narrativas es
critas produzidas por alunos do IQ e 2e graus.
Todos os trabalhos examinados apresentam reflexões so
bre narrativas, mas com exceção do trabalho de Labov / Waletzky
(1967) e Labov (1972) , nenhiim outro oferece análise dos elemen
tos lingüísticos que compõem a narrativa.
A sucessão temporal de que fala Propp (1965), ou os d^
ferentes significados que uma ação pode adquirir na narrativa,
conforme ele propõe não estão fundamentados com elementos for
mais da linguagem.
Lévi - Strauss (1970) em seu estudo sobre omito, encara
-o como uma forma de discurso que deve ser pesquisada acima do
nível habitual da expressão lingüística, representando mais
uma análise do pensamento mítico do que propriamente da narra
ção mítica.
O trabalho de Barthes (1971), embora se proponha como
partindo da Lingüística, opera com conceitos intuitivos e de
difícil detecção no plano de iima análise concreta. Isto não di
minui a importância e a riqueza de sua reflexão sobre a narra
tiva, mas esta abordagem não ajuda a empreender uma descrição das
características lingüísticas da narrativa.
Para o propósito desta pesquisa, e em decorrência das
diferenças na perspectiva de abordagens, as análises destes au
tores, acabaram por se definir na bibliografia lida apenas co
mo xima leitura extra do fenômeno da narração, mas que não viria
a intervir diretamente nas análises efetuadas.
Ao contrário, os estudos de Labov e Waletzky apóiam-se
numa metodologia que se propõe todo o tempo científica e apre
sentam, de forma efetiva, noções, conceitos e procedimentos,
propriamente lingüísticos. A própria compreensão do objeto faz
necessariamente incluir na análise, conceitos e noções estrita
mente lingüísticos (tais como: verbos, orações, coordenaçãcy su
bordinação, restrição, mecanismos sintáticos, etc ...), presen
te todo o tempo na análise destes autores.
Atualmente, muitas são as adesões ãs correntes do pen
sarnento lingüístico de que é necessário ampliar-se o escopo de
exame e reflexão da ciência lingüística (que nas grandes ver
tentes tem-se limitado à Frase), assim se propõe o presente e^
tudo da narrativa escrita numa situação determinada de fala,
qual seja, o narrador estar consciente de que escreve para um
narratário.
Como esta dissertação pretende ser um estudo da narra
tiva sob o ponto de vista lingüístico, procurou-se adotar um
modelo de análise que atendesse a este objetivo, e a abordagem
de Labov e Waletzky pareceu o modelo de análise mais adequado,
já que evidencia a estrutura narrativa e se presta, também, ã
efetivação do estudo comparativo que se pretende.
Embora seja um modelo aplicado a narrativas orais, para
afastar a dúvida da validade de aplicar-se este modelo de aná
lise a narrativas escritas, buscou-se apoio na tese de Kato
(1987; 9): " defendi a tese da isoformia e da isofuncionalida
de parcial entre a fala e a escrita", ou ainda, quando esta me^
ma autora afirma;
"a conclusão natural é de que a teoria da apren dizagem da escrita não pode ser algo totalmen te independente de uma teoria da aquisição".
(Kato, 1987: 137).
Portanto, a reflexão sobre estas afirmações forneceu
tranqüilidade para a adoção deste modelo de análise, o que foi
reforçado pelas considerações de Sleight (1987) ao adotar este
modelo de análise em seu estudo comparativo entre narrativas o
rais e escritas, quando cita outros pesquisadores que estão u
tulizando este mesmo modelo em narrativas escritas.
As reflexões que embasam as análises desta dissertação
partem das considerações de Labov e Waletzky acerca das seções
estruturais da narrativa e as respectivas funções que exercem
dentro da globalidade narrativa.
1.3. Hipóteses
De maneira a atingir o objetivo da pesquisa, fez-se ne
cessário o controle das variáveis sexo, idade, escolaridade,
homogeneização da situação de produção da narrativa e o conse
qüente levantamento de hipóteses.
A seguir se justifica o controle das variáveis acima
relacionadas:
a) Sexo - várias pesquisas têm mostrado que o fator se
xo intervém na aquisição e desenvolvimento da linguagem (Hunt:
1965); Vito:1970; Piaget:1923). Assim, controlou-se esta variá
vel, ao compor-se os grupos com o mesmo número de informantes
do sexo masculino e do sexo feminino.
b) Idade - Concorda-se com Piaget (1923), Hunt(1965),
Deese (197 6) que o amadurecimento global do ser humano leva o
indivíduo ao amadurecimento gradativo da linguagem. Por isso,
a variável idade foi levada em consideração. A presente inve^
tigação preocupa-se com informantes na faixa etária de 14 e de
17 anos, completados durante o ano de 1988.
c) Escolaridade - Na literatura lingüística, é corren
te que a aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral sofrem
influência do ambiente lingüístico a que o indivíduoé exposto.
Ê de se esperar que o mesmo ocorra com a linguagem escrita no
ambiente escolar, como já constataram Hunt (1965)e Menyuk(1975).
Por esta razão, a variável escolaridade foi considerada neste
estudo. Os informantes são concluintes dos lõ e 2Q graus.
d) Homogeneização da situação de produção das narrati
vas - Acreditando-se que uma das maiores dificuldades da produ
ção escrita está na indefinição da situação de interlocução na
na qual se insere o texto escrito escolar é que se levou em
consideração esta variável. As situações de interlocução oral
e escrita são diferentes na medida em que, na oral, a situação
de enunciação é dada ao mesmo tempo que o texto, ou seja, co
nhece-se o interlocutor, enquanto que, na escrita, o interlocu
tor está ausente. A posição assumida é de que a artificialid£
de do uso da língua escrita (Geraldi, 1984) poderia interferir
nos resultados da pesquisa, portanto procurou-se a homogeneiza
ção da situação de produção das narrativas, expondo-se os in
formantes ao mesmo espaço (local de coleta; sala especialmente
cedida para este fim pelo estabelecimento)e a umnarratãrio vir
tual, para inserir a produção do texto em um contexto que o
tornasse o mais próximo possível da realidade lingüística.
Controladas estas variáveis, levantou-se as seguintes
hipóteses;
1.3.1. Hipótese 1 - Os informantes do grupo B apresen
tariam um melhor desempenho na produção da estrutura narrativa
do que os informantes do grupo A nas duas situações de produção.
1.3.2. Hipótese 2 - Os textos narrativos produzidos em
situação de produção EP apresentariam maior complexidade estru
tural que os textos narrativos produzidos em situação de produ
ção EV nas dois grupos.
1.4. Escolha do estabelecimento de ensino
Escolheu-se para a coleta de dados o Conjunto Educacio
nal Almirante Lamego, estabelecimento de ensino da rede estadu
al, situado na zona urbana da cidade de Laguna, litoral sul de
Santa Catarina. Este estabelecimento de ensino recebe grande
número de alunos de vários pontos do município e nele seria
possível selecionar-se os informantes, atendidos os critérios
de controle das variáveis já apresentadas, uma vez que é fre
qüentado por alunos de ambos os sexos e oferece cursos de 19 e
20 graus.
1.5. Informantes
Os informantes foram selecionados aleatoriamente, atra
vés de fichas fornecidas pela Supervisão Escolar do estabeleci
mento, apenas atendidos os critérios de controle das variáveis.
Os informantes formam dois grupos: grupo A e grupo B.
0 grupo A é formado por 20 alunos de 8ã série do IQ grau; sen
do 10 informantes do sexo masculino (M) e 10 informantes do se
xo feminino (F).
0 grupo B é formado por 20 alunos da 3§ série do 2Q
grau, sendo 10 informantes do sexo masculino (M) e 10 informan
tes do sexo feminino (F).
Para a formação dos grupos observou-se o critério da
idade. Os informantes do grupo A deveriam ter, ou vir a ter,
14 anos até o final do ano letivo de 1988 e os do grupo B, de
veriam ter, ou vir a ter, 17 anos até o final do respectivo ano
letivo, respeitando-se, assim, a idade regulamentar estabeleci^
da para as séries envolvidas neste trabalho.
Para a formação do grupo B, buscou-se os informantes
do sexo feminino junto ao curso do Magistério, enquanto que os
do sexo masculino junto ao curso de Química, visto que estes
cursos são mais freqüentados por um dos sexos. Predomina o se
xo feminino, no curso do Magistério e o sexo masculino, no cur
so de Química.
1.6. Procedimento da eoleta de dados
As narrativas foram coletadas no início do ano letivo
de 1988. Todas as narrativas foram selecionadas num mesmo lo
cal (uma sala especialmente cedida para este fim), no período
da tarde.
Os grupos produziam as narrativas separadamente.
Inicialmente coletou-se as narrativas de experiência
pessoal nos dois grupos e posteriormente, (intervalo de dois
dias) as narrativas de experiência vicãria.
Para a coleta das narrativas de experiência pessoal,
foi apresentada a seguinte proposição aos informantes; "Você
poderia escrever um susto que você levou para alguém, que não
conhecesse este fato da sua vida?"
Para a coleta das narrativas de experiência vicãria,
os informantes foram expostos a um filme com 7 minutos de du
ração. Tratava-se do primeiro episódio do filme "Fuga para a
Liberdade", original em Inglês e legendado em Português.
Após assistirem ao filme, foi-lhes apresentada a se
guinte proposição; "Você poderia escrever a história do filme
a que você acabou de assistir para alguém que não o assistiu?."
1.7. Estrutura desta dissertação
Além desta introdução, onde se apresenta a metodolo
gia empregada, os critérios de seleção de informantes, motiva
ção para a escolha do assunto e adoção do modelo de análise,
apresenta-se mais 4 capítulos.
No capítulo 2, os aspectos da narrativa são considera
dos sob a perspectiva de análise apresentada por W.Labov e J.
Waletzky (1967) e Labov (1972).
2 - ABORDAGEM LINGÜÍSTICA DA NARRATIVA
2.1 - Preliminares
Esta dissertação ê uma tentativa de identificar e anal_i
sar os elementos lingüísticos que definem a narrativa como um
tipo específico de discurso. Segundo a tradição da ret5rica ,
é possível pensar-se era três tipos de discurso: narração, de£
crição e dissertação. O discurso englobaria, portanto, todas
as formas, enquanto a narrativa se definiria por característi
cas próprias que a distinguem das outras formas que o termo
discurso engloba. Ê o que diz Genette na citação abaixo:
(...) o discurso (...) ê o modo "natural" da linguagem, o mais aberto e o mais universal , acolhendo, por .definição todas as formas; a narrativa; ao contrário, ê iim modo particular definido por um certo numero de exclusões e condições restritivas ( Genette,1973:272)
Dessa forma, a especificidade da narrativa do ponto
de vista de sua função estã na instauração de um acontecimento,
daí vários autores terem definido a narrativa como sendov a
parte do texto que veicula as açoês, como diz Genette:
"Toda narrativa comporta com efeito, embora intimamente misturadas e em proporçoês muito variáveis, de um lado representações de ações e de acontecimentos, que constituem a narra ção propriamente dita, e de outro lado repre sentações de objetos e personagens" (Genette,1973:375)
à Afirmação de Genette, pode se acrescentar . as idéias
de Labov ao tratar as várias seçoes estrutiirais da narrativa ,
atribuindo a elas funções diversas dentro da globalidade da
narrativa. Por ser objeto deste estudo, a estrutura da narra
tiva, adotou-se o modelo de Labov./ ÍWalétzky (1967) e Labov
(1972) , jã que estes modelos incluem uma tentativa de detec
tar os elementos lingüísticos que aparecem na narrativa, pro
curando-se estabelecer um paralelo entre as reflexões destes
autores e as de Weinrich para fundamentar teoricamente este
estudo. Espera-se que as idéias apresentadas por estes auto
res sejam capazes de fornecer subsídios para a análise que se
irã efetuar.
2.2 - Modelo de Analise de Narrativas Proposto por La
bov/Waletzky (1967) e Labov (1972)
2.2.1 - Definição da Narrativa
Labov e Waletzky definiram a narrativa
como um:
"method of recapitulating past experience by matching a verbal sequence of clauses to the sequence of events which ( it is inferred ) actually ocorred" (Labov, 1972:359).^
Assim definida a narrativa, percebe-se que uma das
suas finalidades é recapitular experiências passadas, cora a
particularidade de recuperar linguisticamente a seqüência or_i
ginal dos eventos ocorridos e reorganizá-los. Desta maneira ,
uma simples alteração na disposição sintática das orações nar
rativas resultaria na quebra da seqüência original dos aconte
cimentos e o comprometimento da interpretação semântica origi
a) orações narrativas - são aquelas ordenadas tempo-
ralmente, ou seja, estão em "juntura temporal" e a simples al
teração na disposição sintática deste tipo de oração resulta
na alteração da interpretação semântica original do evento
ocorrido. Como no exemplo:
Eu esmurrei o menino
então ele me esmurrou
ou
Ele me esmurrou
então eu o esmurrei.
b) oraçoes livres - são aquelas que podem ser desioca
das para qualquer ponto da narrativa sem prejuízo da interpre
tação semântica da ordenação temporal do evento narrado.
c) orações restritas - são aquelas que podem ser des
locadas somente através de alguns pontos da narrativa, pois
são limitadas a determinados momentos narrativos.
d) orações coordenadas - são aquelas que indicam a-
ções simultâneas e podem ter sua disposição sintática altera
da sem prejuízo da interpretação semântica original dos even
tos narrados.
Pelo exposto, percebe-se que a unidade básica da nar
rativa é a oração narrativa e diz-se que duas orações estão em
"juntura temporal" quando estão ordenadas temporalraente.
Para Labov, uma narrativa mínima ê aquela que contém
apenas uma juntura temporal: "minimal narrative is deflned as
one containing a single temporal juncture" (Labov:197 2,361)^ .
Em seu artigo "The Transformation of Experience in Narrative
Sintax" ele apresenta um exemplo de narrativa mínima:
Este autor, prosseguindo a análise das diversas se -
ções da narrativa, diz que a narrativa pode ser considerada
como uma série de respostas a questões subjacentes que cor
responderiam a um esquema previamente interiorizado pelo nar
rador, que o aciona no momento de produzir este tipo de discur
so.
As questões subjacentes, que desencadeariam a realiza
ção das seções estruturais, são:
(a) Para a Sinopse: sobre o que é?
(b) Para a Orientação: quem?, quando?, o que?, onde?
(c) Para a Ação Complicadora; o que aconteceu então?
(d) Para a Avaliação; e daí?
(e) Para a Resolução; o que afinal aconteceu?
Segundo Labov apenas a questão (c) i essencial para
desencadear a narrativa, já que (e) é uma seçao conseqüente
da questão (c); sendo assim as seçoes Ação Complicadora e Re
solução constituem-se nas seções estruturais que são essenci^
ais â realização da narrativa.
Pode se ainda, dizer que a narrativa é uma entidade
formal e funcional. Formal,, na medida em que se identifica a
narrativa como discurso constituído â base de elementos, reco
nhecido desde o nível das orações ati o nível da narrativa com
pleta. Funcional, na medida em que estes elementos são identi
ficados a partir das funções que o discurso narrativo cumpre
na situação de comunicação: uma função referencial e uma fun -
ção avaliativa.
2.2.3 - Seções Estruturais da Narrativa; Definição e
Funções.
Cada seção estrutural cumpre uma função dentro da
globalidade narrativa. É o que será apresentado a seguir:
A Sinopse constitui-se de uma ou duas orações que re
sumem o relato.
A Orientação situa o ouvinte em relação a pessoa, lu
gar, tempo e situação de comunicação. Ê responsável pela con
textualização.
A Ação Coraplicadóra ê o corpo propriamente :dito da
narrativa, onde se concentram as orações narrativas.
A Resolução apresenta o desenlace dos acontecimentos.
A Coda é um mecanismo funcional que faz com que a
perspectiva verbal volte ao momento presente.
A avaliação ê a parte da narrativa que revela a ati
tude do narrador em relação â narrativa, destacando eventos
em relação a outros.
Segundo Labov, a Avaliação é uma suspensão da ação
básica da narrativa que. tem por finalidade informar sobre a
carga dramática ou o clima emocional da situação.
Ao retomar o estudo da narrativa em 1972, Labov con
centra-se, sobretudo, no estudo da Avaliação na narrativa e
deixa claro, então, que nem sempre a Avaliação suspende a
ação, afirmando que:
"The evaluation of the narrative forms a se- condary stríícture which is concentrated in the evaluation section but may be found in various forms throughout the narrative".
(Labov, 1972:369)9
Para este autor, a função da Avaliação é realizada por
orações coordenadas entre si ou grupos de orações livres ou
restritas, ou ainda, por elementos lexicais e sintáticos. Por
essa razão, diz ele, a definição fundamental da Avaliação de
ve ser semântica, embora sua implicação seja estrutural, já
que a Avaliação foi definida como aquela parte da narrativa
que traz embutido o ponto de vista do narrador.
Através destes argumentos, Labov considera que
qualquer elemento que indique o valor de certos eventos em re
lação a outros deve ser considerado como avaliativo. Considera
a Avaliação muito importante para a estrutura narrativa, con
forme pode ser constatado na afirmação abaixo;
"Beginnings, middles, and ends of narratives have been analyzed in many accounts of folk lore or narrative. But there is one impor- tant aspect of narrative which has not been discussed - perhaps the most important ele- ment in addition to the basic narrative cia use. That is what we term the evaluation of the narrative, the means used by the narra- tor to indicate the point of the narrative, its raison d'être: why it was told, andwhat the narrator is getting at."
(Labov, 1972:366).10
Para o autor, a Avaliação i a razão de ser narrativa,
o elemento mais importante depois da oração narrativa básica,
pois e através da Avaliação que o narrador sinaliza para o nar
ratário porque está contando aquilo, defendendo o seu ponto de
vista e tornando o.evento reportável, isto é, torna-o capaz de
despertar o interesse do narratário.
Sob esta visão de Labov sobre a função da • Avaliação
na narrativa, ; ode se entender a narrativa como xmia modalidade
discursiva, uma vez que as relações discursivas e pragmáticas,
segundo Koch, são:
"de caráter eminentemente subjetivo já que dependem das intenções do falante, dos efei tos que este visa ao produzir o seu discurso"
(Koch, 1984:33)
Dessa maneira, do desejo do narrador de tomar o seu re
lato reportável, este utiliza-se de recursos lingüísticos vis
to que
"a linguagem possui uma lógica própria e carac teriza-se, acima de tudo, pela argumentativi- dade"
(Koch, 1984:33)
Acredita-se que esta "lógica própria da linguagem" es
teja, também, presente no discurso narrativo, pois ao lado das
orações narrativas formam-se relações de ordem diversas a fim
de direcionar o ponto de vista do relato. Pelas leituras de au
tores que se dedicam ao estudo da linguagem, pode-se dizer que
o tipo de argumentatividade que predomina na narrativa é a per
suasão, que apela mais para os sentimentos do narratário, em
oposição ao convencimento predominante no texto dissertativo e
que opera mais com argumentos racionais.
Labov classifica a Avaliação na narrativa através de
sua função, que se realiza por uma variedade de recursos. As
sim, tem-se os seguintes tipos de Avaliação:
1. Avaliação, como estrutura primária
Este tipo de Avaliação - ocupa uma posição fixa en
tre a Ação Complicadora e a Resolução. Quando este tipo de Ava
liação ocorre a ação é suspensa, o.que chama a atenção do nar
ratário para aquela parte da narrativa. Quando isto é feito ha
bilmente, a atenção do narratário é suspensa e a Resolução vem
com maior força.
2. Avaliação, como estrutura secundária
A Avaliação, como estrutura secundária pode ocor
rer sob diversas formas e distribuir-se por toda a narrativa :
"as the focus of waves of evaluation that penetrate the narra-^
tive"(cf.Labov, 1972;369)^ A Avaliação, como estrutura secunda
ria pode, ainda, ser classificada como;
a) Avaliação Externa - Quando o narrador suspende momen
taneamente a ação e comunica ao narratãrio o seu ponto de vista
sobre determinado ponto da narrativa.
b) Avaliação Encaixada - A Avaliação vem encaixada na
narrativa preservando a continuidade dramática do processo nar
rativo. Corresponde ao uso do discurso direto na narrativa. Se
gundo Labov, o encaixamento da Avaliação na narrativa pode ser
feito através de passos, sugerindo vima gradação de encaixamento:
- o 19 passo i quando o narrador cita seus sentimentos
como algo que estivesse ocorrendo com ele naquele momento;
- o 29 passo é quando o narrador fala para si próprio
como se o fizesse para os outros;
- o 39 passo é quando o narrador introduz a 3- pessoa
que avalia a ação para o narrador.
c) Ação Avaliativa - é a dramatização da ação, consiste
em contar o que as pessoas fizeram em lugar do que elas disse
ram.
d) Avaliação Interna oü Elementos Avaliativos - Quando
os elementos sintáticos servem para que o narrador comunique
seu ponto de vista, eles podem ser vistos como elementos avalia
tivos. Estes elementos avaliativos distribuem-se por toda a nar
rativa e integram a sintaxe da própria narrativa.
Labov (1972) afirma que a oração narrativa apresenta
uma estrutura sintática simples e que, quando o narrador foge a
esta estrutura sintática básica da oração narrativa é porque
quer marcar avaliativamente o seu relato. Veja-se o que diz o
autor a este respeito:
-------- ^ ^ ---------- J> --------- J>
As setas indicam uma série linear de eventos organiza
dos na narrativa em seqüência temporal, o que é característica
básica da narrativa.
0 narrador, ao empregar um intensificador, seleciona
um evento e o reforça, como pode ser visualizado no esquema a
baixo. A intensificação de um evento, no processo narrativo ,
em relação a outro, possui um caráter avaliativo:
Os intensificadores são gestos (ou dêiticos -como
"this", "that"), quantificadores e repetições.
Labov diz que:
"Intensifiers as a whole do not complicated the basic narrative sintax. But the other types of internai evaluation are sources of syntactic complexity"
(Labov, 1972:380) 13
Os que trazem maior complexidade ã estrutura sintática
narrativa são: comparadores, correlativos e explicativos.
Acerca da simplicidade da isintaxe narrativa, Labov diz
não ser ela surpreendente, se for tomado o ponto de vista opo£
to, e reflete;
"If the task of the narrator is to tell what happened, these will serve very well. What use has he for questiona, or what reasondoes he have to speak of the future, since he is dealing with past events?(...) What reason would the narrator have for telling us that something did not happen, since he is the business of telling us what did ha£
(Labov, 1972; 380)
Assim, Labov mostra que os desvios são maneiras de a-
valiar, uma vez que através de Comparadores (negativos, futu
ros, modais, interrogativos, imperativos, comparativos), colo
ca-se cs eventos ocorridos em contraste com eventos que pode-=-
riam ter ocorrido, porém não ocorreram. Em termos de esquema
narrativo/ têm-se:
Já os correlativos trazem juntos dois eventos que ocor
reram efetivamente: São eles os progressivos, os particípios ,
os apostos duplos, os adjetivos duplos e pode-se visualizar os
correlativos através deste esquema:
Por sua vez, os explicativos, como é de se esperar, a-
crescentam explicações. São realizados em orações coordenadas
ou subordinadas introduzidas por conjunções, tais como: mas,
embora, já que, porque, pois, e o pronome relativo que. Os ex
plicativos classifican-se, ainda, em causativos e qualificati
vos. Podem ser representados através do seguinte esquema:
■>
Tais esquemas sintáticos podem aparecer em orações pu
ramente de avaliação, compondo a seção estrutural Avaliação ,
como distribuir-se por toda a narrativa.
Estes são os pontos mais relevantes sobre a Avaliação,
apresentados por Labov (1972). Neste estudo, o autor dá um
maior peso à Avaliação, em relação as outras seções estrutu
rais, conferindo-lhe um papel maior na estruturação da narrat^
va e um lugar central entre as demais seções estruturais, E,
como já foi exposto, esta seção passa inclusive a ser responsa
vel pelos desvios ou modificações que se impõem â estrutura
sintática básica da naírativa. Apesar da grande importância
que Labov atribui ã Avaliação, ele ressalta o traço de essen-
cialidade da narrativa desempenhado pelas orações narrativas
que apresentam juntura temporal, uma vez que a especificidade da
narrativa consiste em recuperar lingüisticamente um evento em
sua seqüência temporal.
2.2.4 - Funções da Narrativa na Situação de Comunicação
A narrativa cumpre na situação de comunicação as fun
ções referencial e avaliativa.
A especificidade da narrativa de recuperar lingüística
mente a seqüência temporal em que os fatos ocorreram efetiva
mente, Labov e Waletzky(1967) e Labov (1972) denominam de fun
ção referencial; mas afirmam que a seqüência temporal organiz^
da em orações não é, por si só, motivadora da narrativa, já
que esta se presta a outra função que é determinada por um e^
timulo no contexto social em que ocorre.
Denominam, assim, de função referencial ã relação en
tre a ' seqüênclá temporal r e o r g a n ã z ;a ,d a;. narra
tivamente e a experiência efetivamente ocorrida. E denominam
de função avaliativa, à relação motivadora da narrativa a par
tir das relações humanas que ela organiza e das quais depende.
Labov e Waletzky(1967) e Labov (1972) afirmam que a
Avaliação ê típica da narrativa oral de experiência pessoal,
onde ciampre a função acima mencionada. Para estes autores o de
sencadeamento da atividade avaliativa é a resposta a um estímu
lo que não se encontra presente na narrativa de experiência v_i
caria.
Para confirmar esta posição, Labov (1972) compara na£
rativas de experiência pessoal e de experiência vicária e con
clui que a narrativa de experiência vicária é diametralmente
oposta ã de experiência pessoal em graus de avaliação;
"The difference between evaluated and unevalu ated narrative appears most clearly when we examine narrative of vicarious experience"
(Labov, 1972: 367)^^
e a posição do autor sobre este aspecto pode ser verificada
nesta outra citação;
"This is typical of many such narratives ' of vicarious experience that we collected"
(Labov, 1972; 367)^^,
como conclusão da análise efetuàdá numa narrativa de experiên
cia vicária.
Da posição destes autores, de que a narrativa de expe
riência vicária não é avaliada, discorda Lira, argumentando
que:
"a avaliação deve ser relacionada ao fato nar rado. Quando este for significativo para o narrador vai haver avaliação”
(Lira, 1987; 107)
Para esta pesquisadora, a avaliação não depende da s^
tuação de produção da narrativa, mas do empenho do narrador
em atuar sobre o narratário. Ao considerar-se a narrativa co
mo um ato de fala, é natural que se pense que esta tenha efe_i
tos perlocucionários sobre o narratário, no sentido de ating_i
lo de alguma forma. Se de forma positiva, o narrador será re
compensado com expressões de apreço e interesse como: "Nossa!','
"Que maravilhai", "Que horror!", "Não é possível!", e se de
forma negativa, receberá a frustrante pergunta: "E dai?", demon^
trando que a questão subjacente à estrutura narrativa e refe
rente à avaliação não foi devidamente controlada pelo narrador.
Dessa maneira, ao considerar-se a função avaliativa co
mo resultado das relações humanas dentro do contexto social em
que ocorre, verifica-se que a relação que se estabelece entre
narrador/narratãrio é fator determinante da presença ou ausên
cia da avaliação e da composição da própria sintaxe narrativa.
0 próprio Labov afirmou que a gramática não é exatamen
te um instrumento para expressar proposições básicas:
"A gramática se ocupa da ênfase, do focus, da escolha entre o que é de menor e maior vülor, ela é um meio de organizar a informação e ado tar pontos de vista alternativos"17
Para Slobin, isto é verdade tanto para o discurso fala
do como para o discurso escrito, pois as diversas maneiras de
escrever exploram e alargam as possibilidades de uma língua.
Assim, também na narrativa, o narrador, além de ordenar tempo-
ralmente os eventos, pode escolher o ponto de vista de acordo
com a sua intenção, pois, segundo Labov, cabe ao narrador sina
lizar para o narratário por que está contando aquilo.
Esta posição do autor coincide com a posição de Benve-
niste que mostrou a existência de dois planos distintos da
enunciação: o do discurso e o da história. Estes planos de
enunciação se referem ã integração do sujeito da enunciação no
enunciado. No caso da história, diz ele;
"trata-se da apresentação dos fatos advindos a certo momento do tempo sem qualquer intervenção do locutor na narrativa".
(Benveniste, 1976: 267)
O discurso, por contraste, é definido como:
"toda enunciação supondo um locutor e um ouvin te tendo o primeiro a intenção de influenciar o outro de algum modo".
(Benveniste, 1976: 267)
Pensa-se que quando alguém produz uma narrativa, esta
belece-se como narrador e estabelece o narratário, seu inter
locutor. O que ele pensa do mundo, o que ele conhece ou desco
nhece, o que pode lhe interessar, tudo é incorporado à pró
pria tessitura da narrativa para que se estabeleça uma ponte
entre eles.
Dessa maneira, a relação narrador/narratário deve ser
entendida como fundamental para a compreensão da narrativa,
pois estas duas categorias têm realidade sociológica, o que
possibilita considerar-se a narrativa como modalidade discur
siva, que permite caracterizar as relações entre narrador/nar
ratário na situação real de narração, já que o primeiro tem
uma intenção representada semântica e sintaticamente, o que
marca significativamente a interpretação destas relações.
Esta posição pode ser reforçada por Vieira/Vogt(1978),
em seu artigo "Função do Narratário nas Narrativas Orais de
Experiência Pessoal:
"- 0 narrador tem um papel importante na composição da narrativa, uma vez que ele é responsável pelo aparecimento nela de cer tos elementos, o narratário é especifica mente responsável pela presença da avaliaçãa
- o narratário é uma categoria dependente do narrador, tanto quanto este o é daquele. Correspondem estas duas categorias, ao eu e ao tu de toda enunciação, e têm, do ponto de vista estritamente verbal, uma idên tidade sempre relativa. Isto significa, que não existe narrador sem narratário, nem narratário sem narrador, da mesma forma, que quem diz eu não pode, pela mesma instan ciação do pronome de lã pessoa, deixar de estabelecer os limites de sua identidade. Esses limites são dados pela instituição de tim tu djscursivo (o outro discursivo) e é só em relação a ela que se pode falar legj^ tivamente na identidade da pessoa verbal."
(Vieira/Vogt, 1978; 28-29)
Procurando ser coerente com a posição assviinida, neste
capítulo, através dos argumentos apresentados nas posições as
sumidas por Labov, Lira, Benveniste, Vieira, Vogt é que, no
presente estudo da narrativa, procurou-se determinar o narra
tário virtual nas duas situações de produção de narra
tiva. (EP e EV).
2.2.5 - Reportabilidade e Credibilidade
Em 1981, Labov acrescentaria ã narrativa os elementos
reportabilidade e credibilidade, não os considerando como in
tegrantes da estrutura sintática da narrativa.
A reportabilidade responde pelo direito concedido pe
lo narratário ao narrador de fazer uso da palavra por determ^
nado período de tempo, que na narração costuma ser maior que
o utilizado em outros atos de fala e está diretamente ligada
à avaliação através do controle, por parte do narrador, da
questão subjacente: "E daí?".
A credibilidade, assim como a reportabilidade, é tam
bém ligada ãs intervenções avaliadoras e é tão importante quan
to a reportabilidade, só que a credibilidade é construída so
bre uma série de relações lógicas de causa e efeito, oriundas
do conhecimento geral que determinada cultura ou grupo tem do
mundo.
Pode se dizer, então, que a reportabilidade é o atri^
buto do que é narrável, conforme os valores de cada povo e a
adequação ãs situações de narração, enquanto a credibilidade
é o encadeamento de situações que são narradas e que tornam o
relato verossímel. Segundo Citell:
"verossímel é, pois, aquilo que se constitui em verdade a partir de sua própria lógica".
(Citelli, 1985; 14)
E este autor vai além em seu raciocínio:
"Daí a necessidade para se conseguir" o efei. to de verdade", da existência de argumentos".
(Citelli, 1985: 14)
A credibilidade está intimamente ligada ao desejo do
narrador de "paçsar" o seu relato como verdadeiro, pois nem to
do ato de convencer se reveste de verdade.. Pode ser que o nar
rador não esteja "passando" uma verdade mas apenas manipulan
do-a. Assim,a credibilidade liga-se ã própria lógica da nar
rativa e Citelli exemplifica com a estória do super - homem,
dizendo;
"Ê indiscutível que o Super-homem não seja verdadeiro, porém ele nos resta verossímel. Todos conhecem e aceitam as transformações pelas quais passa o repórter do Planeta Piá rio, Clark Kent. Afinal, ele não é um ser comum, é um extraterreno, filho de um lon gínguo e desaparecido planeta. Assim sendo, a estória do super-homem está montada numa lógica que lhe é própria, e que lhe dá su^ tentação contra os apressadinhos que desejam alegar ser tudo aquilo lama grande mentira".
(Gitelli, 1985; 14)
Dessa forma, a credibilidade pode ser entendida como
resultado de certa organização da narrativa que a apresenta
como verdadeira para o narratário e a falha desta organiza
ção pode provocar a reação do narratário e levá-lo a conte^
tar a verdade dos fatos narrados.
A partir da divisão feita por Labov, pode se dizer
que a reportabilidade de um evento tem pouco ou nada a ver
com sua credibilidade, já que um bom narrador pode levantar
detalhes de acontecimentos em situações onde outros narrado
res não encontrariam elementos para serem narrados.
2.3 - Teoria de Weinrich
Harald Weinrich (1973) procede a xiin estudo minu
cioso e sistemático da classe dos verbos, mais precisamente das
formas temporais flexionadas.
Pelo exame de vários textos escritos (de Merimée, Sar
tre e outros) ele observa a grande freqüência das formas tempo
rais na sua relação com a totalidade de linhas dos textos esco
Ihidos, e no total das ocorrências, ele verifica num e noutro
texto a freqüência maior de uma ou de outra forma temporal.
sa distribuição das formas verbais não é arbitrária. Segundo
ele, a sucessão dos tempos nos textos obedece manifestadamente
a um certo princípio de ordem.
De acordo com Weinrich, as formas verbais através de
seus morfemas de tempo estão intimamente ligadas ã relação de
interlocução. Nessa íntima relação com a interlocução, as for
mas temporais empregadas por um locutor transmitem sinais a
seu ouvinte, como se dissessem "isto é um comentário", ou "i£
to é uma narração", invocando neste ouvinte uma reação corres
pondente, de tal modo que a atitude de comunicação assim cria
da lhes seja comum.
Daí surgiu a noção de dominãncia temporal (freqüência
maior de uma forma temporal em detrimento de outra) que deve
marcar para o alocutário o tipo de texto constituído. A obser
vação sistemática dos tempos verbais revelou a distribuição de
dois grandes grupos de verbos: verbos do Grupo I e verbos do
Grupo II.
Koch objetivando analisar a proposta de Weinrich e ve
rificar sua adequação ao sistema temporal do Português,. apre
senta o seguinte esquema:
"Grupo I: canto, tenho cantado, cantarei, terei cantado, vou cantar, acabo de cantar, estou cantando, etc ..
Grupo II: cantei, cantava, tinha cantado, cantaria, terei cantado, ia cantar, acabava de cantar, estava cantando, etc ...
(Koch, 1984: 37)
Assim, Weinrich estabeleceu a primeira grande oposição
no seu trabalho: a distinção entre o que nos textos se revela
como "mundo narrado", onde a dominância temporal é cumprida por
verbos do Grupo II, e como "mundo comentado", caracterizado pe
la grande freqüência de verbos do Grupo I.
Os morfemas temporais, que assinalam comentário ou nar
rativa, permitem ao locutor influenciar o alocutário no sent^
do de assegurar para seu texto a acolhida que ele deseja, empre
gando os tempos comentativos o locutor pede a seu interlocutor
que se concentre em cada informação lingüística, exigindo uma
atitude vigilante, ao passo que ao empregar os tempos narrati
vos adverte que é possível uma atitude mais descontraída.
2.3.1 - Atitude de Locução
à constituição dos textos mediante o uso pelo
locutor de um ou outro dos grupos de formas temporais, Weinrich
dá o nome de Atitude de Locução, que se caracteriza pela oposi^
ção entre o grupo dos tempos do mundo narrado e o grupo dos tem
pos do mundo comentado. Por mudança de Atitude de Locução enten
de-se a passagem que ocorre num texto entre o uso de verbos de
um grupo para outros do outro grupo, marcando aí diferente tex
tos {comentativos e narrativos).
De acordo com Weinrich, um tempo não pode jamais per
tencer ao grupo do comentário e ao da narração ao mesmo tempo.
0 uso do tempo Presente liga-se ao comentário, ao passo que o
uso do tempo Pretérito Imperfeito e do tempo Pretérito Perfe_i
pertence ao mundo narrado.
2.3.2 - Perspectiva de Locução
O tempo de um texto, segundo Weinrich, é nor
malmente orientado conforme duas direções fundamentais da co
municação; a informação anterior (retrospecçao) e a informa
ção posterior (prospecção). E é no sistema temporal que se en
contram as distinções encarregadas da orientação em relação
ao tempo do texto.
Weinrich distingue, ainda, tempo de texto de tempo de
ação. Tempo da Ação é o tempo ao qual corresponde o conteúdo
da comunicação. O tempo do texto e o tempo da ação podem coin
cidir e, quando ocorre esta coincidência, tem-se o grau zero
da perspectiva. Isso se dá no caso dos tempos comentativos com
o Presente, e nos narrativos, ao mesmo tempo, com o Pretérito
Imperfeito e Pretérito Perfeito. No grau zero não há a preocu
pação em se marcar a perspectiva de locução.
A perspectiva de locução exprime a relação entre tem
po de texto e tempo da ação e divide os tempos verbais em três
tipos, conforme o esquema apresentado por Koch:
tempos de grau zero,
sem perspectiva
"b perspectiva
comunicativa
-retrospectiva
tempos com /
perspectiva \prospectiva"
(Koch, 1984: 44)
2.3.3 - Relevo
Para o autor, ainda, é necessário observar xuna
terceira dimensão para xima teoria do tempo: os tempos têm por
função dar relevo a um texto, projetando para o Primeiro Plano
alguns conteúdos e rechaçando outros como Plano de Fundo. Ape
nas nesta dimensão é que aparecerão as diferenças entre Preté
rito Imperfeito e Pretérito Perfeito, conforme apresenta Koch
em seu esquema, quando pretende adequar a proposta de Weinrich
ao sistema temporal do Português:
is plano
só aparecendo em alguns setores do sistema tem poral. Por exemplo o perfeito simples do in
"c relevo , ), dicativo indicaria o IQplano, ao passo que o imperfeito marcaria o 29 plano."
2Q plano ou Plano de Fundo (Koch, 1984: 44)
Pelo exposto, pode-se observar que ambos os tempos ver
bais caracterizados como tempos narrativos (pertencem ao grupo
II - mundo narrado), no que diz respeito ã atitude de locução,
e pertencem ao grau zero, no que diz respeito ã perspectiva de
locução. Por esta razão surge a questão sobre qual seria o pa
pel destes tempos na narrativa. Para respondê-la, pode-se re
correr ao próprio Weinrich para mostrar estes mecanismos de
transição verbal no texto narrativo e sua função:
"... na repartição desses dois tempos na narra tiva não há outra lei constante além do princT pio de sua mescla; o detalhe de sua distribui.
ção é abandonado ao poder do narrador. Na ver dade sua liberdade é limitada por certas estru turas narrativas fundamentais. No início da e^ tória não se pode passar totalmente sem expos^ ção; também a narrativa tem normalmente uma in trodução onde o tempo é mais frequentemente do Plano de Fundo. Ademais em numerosas narrati. vas o final é explicitamente marcado por uma conclusão e ela também tem uma tendência para os tempos de Plano de Fundo. Isso não é abso lutamente uma obrigação, as exceções existem; mas é relativamente freqüente encontrar, como na lenda de Saint Dimitri, no início e no fim da narrativa uma concentração de tempos do Pia no de Fundo.'No nó narrativo esses (Imperfeito e Mais que Perfeito) são destinados ãs circun^ tãncias secundárias, ãs descrições, reflexões e tudo o que o autor deseja repousar no Plano de Fundo.
Ê completamente impossível decidir "a priori" o que, numa narrativa estará do .lado do Passado Simples e portanto do Primeiro Pia no. Pertence ao Primeiro Plano aquilo que o autor quer constituir como tal. Aqui também a margem do jogo onde se dispõe o narrador encon tra-se limitada por certas leis fundamentais da narratividade. Elas querem que o Primeiro Pia no seja habitualmente aquilo porquê a estória é contada; retém o resumo factual; o que o t_í tulo resiime ou poderia resumir; ou ainda aqu_ilo que no fundo dá ãs pessoas o desejo de dei. xar de lado um instante suas ocupações para e^ cutar uma estória tão estranha ao seu universo cotidiano; é em suma, segundo a palavra de Goethe, L'evénement inoui (o acontecimento não não esperado, novo). A partir daí deixa-se en fim determinar o inverso, o plano de fundo da narrativa; em seu sentido mais amplo é aquilo que por si só não despertaria o interesse mas ajuda o ouvinte a se orientar através do mundo narrado e lhe torna a escuta mais fácil"
(Weinrich, 1973: 115)
Quando examina narrativas, Weinrich percebe que ela é
composta por verbos no Imperfeito e no Passado Simples. Os pri.
meiros dominam no início e no fim das narrativas, enquanto o
Passado Simples ocupa o meio. Acrescenta, ainda, que os Imper
feitos localizados no início e no fim da narrativa, represen
tam circustâncias secundárias,- embora tenham funções precisas
e indispensáveis a cumprir. Entre essas duas partes, localiza-
se o corpo narrativo; nessa parte os verbos aparecem no Passa
do Simples. Conclui gue o Imperfeito é na narrativa o tempo de
Plano de Fundo, e o Passado Simples (Pretérito Perfeito no sis
tema temporal do Português) é o tempo do Primeiro Plano.
Nesta visão de Weinrich, a flexão verbal é responsável
tanto pela diferença de atitude de locução e pela perspectiva
de locução como também pelo relevo.
A narrativa é, assim, em primeiro lugar, uma atitude
do locutor em relação ao mundo; mas como próprio Werinch diz,
o texto narrativo vem mesclado de partes narrativas e comenta-
tivas.
Embora fundamentado em outros aspectos e com outros ob
jetivos, o texto de Weinrich, quando estuda o relevo nas narra
tivas acaba por se aproximar bastante das conclusões de LabovV
a respeito deste tipo de discurso. 0 que se mostra a princípio
de natureza tão distinta e descrevendo objetos iguais (Weinricív
narrativas literárias e Labov, narrativas de experiência), mas
de forma também diferente, quanto podem parecer por um lado as
funções estruturais de Labov e Waletzky e por outro a detecção
de dois planos: Primeiro Plano e Plano de Fundo de Weinrich,
na realidade se revelam como formas descritivas bem semelhan
tes, no que diz respeito sobretudo ã funcionalidade de seus
elementos, do material narrativo com que trabalham.
Descrevendo e postulando funções estruturais da narra
tiva Labov, tanto quanto Weinrich, busca dar conta de elementos
encontrados no texto e para os quais atribui o papel de estru
turador, do mesmo modo como Weinrich fala de seus planos.
A apresentação das reflexões de Weinrich acerca do tex
to narrativo e o paralelismo das suas reflexões com as de Labov/
Waletzky (1967) e Labov (1972) são importantes, neste estudo,
jã que se espera que sejam subsídios valiosos para a análise
de narrativas que se pretende efetuar.
NOTAS DO CAPiTULO 2
1. "método de recapitulação de experiência passada combinando
uma seqüência verbal de orações a uma seqüência de eventos que
(segundo se infere) ocorreram efetivamente".
2. "Narrativa, então, é apenas uma maneira de recapitular esta
experiência passada: as orações caracterizam-se pela ordenação
em seqüência temporal; se as orações narrativas são invertidas
a interpretação semântica da seqüência original é alterada; Eu
esmurrei este rapaz e ele me esmurrou, ao invés de Este rapaz
esmurrou-me e eu o esmurrei".
3. "uma narrativa mínima é definida como contendo apenas uma
juntura temporal".
4. "a Eu conheço um garoto chamado Harry.
b Outro garoto atirou-lhe uma garrafa na cabeça,
c e ele levou sete pontos.
5. "0 esqueleto de uma narrativa então consiste de série de
orações ordenadas temporalmente às quais chamamos de orações
narrativas".
6. "uma narrativa completa deve apresentar o seguinte:
1. Sinopse
2. Orientação
3. Ação Complicadora
4. Avaliação
5. Resultado ou Resolução
6. Coda
7. a "Sinopse", descrita como "uma ou duas orações resumindo a
história toda", t8. É claro que há um complexo encadeamento e encaixamento de^
tes elementos mas aqui estamos apresentando-os de forma simpli.
ficada".
9. A avaliação da narrativa forma uma estrutura secundária que
está concentrada na seção Avaliação mas que pode ser encontra
da de forma variada por toda a narrativa".
10. "Inícios, meios e finais das narrativas têm sido analisa
dos em muitas abordagens de folclore ou narrativa. Mas há um
aspecto importante que não tem sido discutido - talvez o ele
mento mais importante em adição ã cláusula narrativa básica.
Isso é o que denominamos de avaliação da narrativa, o sentido
dado pelo narrador para indicar o ponto de vista da narrativa,
sua razão de ser por que foi contada e o que o narrador quer
conseguir com isso".
11. "como foco de ondas de avaliação que penetram a narrativa".
12. Dada a existência desta organização simples das cláusulas
narrativas, nós podemos perguntar: onde, quando e com que efei
to as narrativas podem fugir a isso (a esta estrutura simples)? De^
de que a complexidade sintática é relativamente rara na narra
tiva, quando ela ocorre deve ter um efeito marcado. E de fato
nós percebemos que desvios da sintaxe narrativa básica têm uma
força avaliativa marcada. A perspectiva do narrador é frequen
temente expressa poe elementos sintáticos relativamente me
nores na cláusula narrativa".
13. "Intensificadores como um todo não complicaram a sintaxe
narrativa básica. Mas os outros três tipos de avaliação in
terna são responsáveis pela complexidade sintática".
14. "Se a tarefa do narrador é contar o que aconteceu, esta
(a simplicidade sintática) serve muito bem. Por que ele faria
perguntas ou qual a razão para falar do futuro, se ele está
apresentando fatos passados? (...) Que razão teria o narrador
para contar o que não aconteceu, se o seu propósito é- contar
o que aconteceu?."
15. "A diferença entre narrativas avaliada e não - avaliada
aparece mais claramente quando examinamos narrativas de expe
riência vicária".
16. "Isto é típico de muitas de tais narrativas de experiên
cia vicária que coletamos."
17. Labov, 1971: 72, apud Slobin, 1980: 270
3. anAlise das narrativas
3.1. Abordagem da estrutura global da narrativa nas duas situa
ç5es EP e EV
Neste capítulo serão examinadas algumas das narrativas
colhidas nas duas situações de narrativa (EP e EV), procurando
caracterizar as diversas seções estruturais deste tipo de texta
Serão abordados alguns mecanismos sintáticos usados nas
narrativas (chamados por Labov de "desvios sintáticos" que fo
gem ã estrutura sintática da oração narrativa básica). Esses
esquemas sintáticos usados como recursos avaliativos nas narra
tivas ocuparão espaço na exposição das idéias, pois dessa expo
sição é que se poderá situar mais devidamente estes elementos,
entendidos na sua função de organizadores de narrativa, para se
obter uma melhor compreensão da sua natureza enquanto elemen
tos que devem ser recuperados na própria situação de interlocu
ção em que emerge o processo narrativo.
,Ê evidente que durante a análise das narrativas, a a-
tenção estará todo o tempo voltada para o modelo de análise que
deu a origem a estas reflexões.
Por fim, pela combinação da análise qualitativa ã aná
lise quantitativa, que se pretende seja profunda o suficiente
para que se compare a estrutura global das narrativas nas duas
situações de narrativa (EP e EV), espera-se uma maior compreen
são das funções das várias seções em sua concorrência para a
organização do texto narrativo.
Selecionou-se, para a análise das narrativas nas duas
situações, narrativas consideradas coirpletas e incocipletas quanto a estru,
tura global.
Para a análise de narrativas completas quanto â estru
tura global, selecionou-se narrativas de um mesmo informante
para representar narrativa de experiência pessoal e narrativa
de experiência vicária. Adotou-se o critério da ecolha do me^
mo informante por parecer que assim fica mais evidente a estru
tura narrativa que caracteriza a produção do tipo de texto,
sem interferência de elementos extralingüísticos (sexo, ida
de, escolaridade, influência cultural e social).
Observe-se o procedimento do narrador (Informante 20F
A) para recuperar o acontecimento na narrativa de Experiência
Pessoal (EP):
O
a Era iim lindo dia de sol
b havia muita gente na praia,
gatinhos e gatinhas,
c estavam surfando,
d jogando frescobol, volei, enfim, se divertindo.
Entre eles, eu.
e Então peguei meu mory boogui
fdau<ü+jXM•
><
f fiz meus aqúecimentos
g pensando
que tudo estivesse em ordem, pés-de-pato, cor-
dinha, etc ...
h e entrei na água,
^ j minha colega ainda estava se aprontando, a^ por isso entrei na água sozinha.-p
w i Eu já estava acostumada a isso,
o fazia todos os dias.
1 passei a arrebentação
m e procurei um lugar bom
para eu ficar
(0---
^ n (uma tarefa dificil,
w o pois havia muitos surfistas dentro d'água)
p Após tentativas frustradas de pegar algumas
ondas
consegui.
(0c
0)+J
w
q era uma onda enorme
r confesso
que naquele instante senti medo,
s pois a onda era realmente gigantesca.
t trepei aquela maravilha da natureza,
u mas quando ia tentar dar um 360°
V cai,
X eu vi o lip daquela onda
estourar em sima de mim,
z fui rolando dentro d'água.
gens, de hábitos, de lugar e de tempo; ainda que a expressão
indicadora de tempo: "a Era um lindo dia de sol" se constitui
numa expressão atemporal, pois não informa o narratário sobre
a época do acontecimento, apenas o situa em algum momento do
passado, constituindo-se numa fórmula eficaz para traçar uma
fronteira entre mundo narrado e mundo cotidiano e uma vez ace
to, pelo narratário, o seu papel, este se estenderá até o final
do relato. (Ver Weinrich, 1974:81.)
Nesta narrativa, o protagonista é a própria narradora,
o que permite afirmar ser esta uma narrativa de experiência
pessoal.
Formalmente as orações da Orientação (orações de a a
d) são orações livres em que se constata a presença de verbos
no Pretérito Imperfeito (estavaj^ era, havia) e no Progressivo
Passado - (estavam) jogando, (estavam) surfando, (estavam) se
divertindo). Como se pode observar esta seção estrutural reaM
za a contextualização da cena onde se desenrolará o fato, con^
tituindo-se em Plano de Fundo para a ação que se desenrolará.
O uso dos progressivos passados é o recurso avaliativo
usado nesta seção estrutural, pois expressa uma ação durativa
que se prolonga, mesmo enquanto o fato estiver acontecendo. 0
uso desses progressivos faz com que a narrativa fique mais vi
vida e dramática, pois a par da tranqüilidade e harmonia da ce
na, orienta que ocorrerá um fato que momentaneamente deveria
pertubá-lo, caracterizando-se este recurso avaliativo como um
correlativo. (Labov, 1972).
A narradora prossegue seu relato, passando ã seção e^
trutural Ação Complicadora (orações e a ^), e a partir da ora
ção e introduz-se efetivamente o primeiro evento narrativo,
é aqui que se inicia o acontecimento único que faz deste tex
to, um texto narrativo.
Por acontecimento único entende-se aquele de que se
ocupa a "seqüência narrativa" propriamente dita, a qual ex
pressa o processo dinâmico de eventos que se sucedem ordena
damente no tempo, constituindo-se num todo e que deve ser en
tendido nessa organização própria e sobretudo na sua unicida
de.
A Ação Complicadora configura-se lingüísticamente co
mo uma seqüência ordenada de enunciados responsáveis pela ex
pressão dos eventos e obedecendo à ordem em que esses eventos
ocorreram, para que se cumpra a função narrativa. Esta se
qüência narrativa é veiculada pelas orações narrativas e têm
como marca particular o verbo no Pretérito Perfeito, caracte
rizado por Weinrich como tempo de grau zero da perspectiva
narrativa (peguei, fiz, entrei, passei, procurei, consegui ,
trepei, caí, vi, fui (rolando), pensei, tomei, emergi, respj.
rei, tive). No entanto, o Pretérito Perfeito não é exclusi
vo das orações narrativas típicas (isto é, aquelas que apre
sentam juntura temporal) e aparece em outras orações indepen
dentes, principalmente nas seções Avaliação e Coda.
Muitas vezes, o Pretérito Perfeito não cumpre a fun
ção referencial na narrativa, entendida como a relação tempo
ral "antes" e depois", e isso já havia sido constatado por
Koch:
"0 maior problema encontrado foi o pretérito simples, que apresenta elevado índice tanto no relato como no comentário. (...) Todavia, nos casos em que o pretérito perfeito co-o corre com tempos do comentário dentro de um mesmo período, fato bastante freqüente em português, somos de opinião de que se trata de um tempo do mundo comentado e postulamos^ com base na posição de Buli (1960), (...) a existência de uma neutralização entre duas
formas diversas; a que constitui, em nossa língua, o tempo zero do mundo narrado e o que representa a perspectiva retrospectiva em re lação ao tempo zero, no mundo comentado." (Koch, 1984 : 43).
Esta constatação de Koch serve para a análise deste
tempo verbal nas narrativas do corpus coletado.
Assim sendo, a série de eventos que constitui a seção
estrutural Ação Complicadora é realizada através de orações
narrativas, cujo núcleo verbal encontra-se no Pretérito Per
feito, que recuperam linguisticamente os fatos na ordem tempo
ral em que estes ocorreram.
Nesta seção estrutural da narrativa há uma mescla de
verbos no Pretérito Perfeito e verbos no Pretérito Imperfeito .
Note-se que a dinâmica do processo narrativo se dá com verbos
do Pretérito Perfeito, que imcorporam a função referencial e
por si sõ conseguem recuperar linguisticamente os fatos orde
nados temporalmente e apresentam os elementos que, segundo
Labov, compõem a estrutura sintática básica da oração narrati^
va:
"e Então peguei meu mory boogui
f fiz meus aquecimentos
h e entrei na água.
1 Passei a arrebentação
m e procurei um lugar bom
p Após tentativas frustradas de pegar
algumas ondas consegui
t Trepei aquela maravilha da natureza
V e caí
X Eu vi o lip daquela onda
estourar em cima de mim
2 fui rolando dentro d'água
hh e emergi
ii respirei fundo
11 e sair dali"; enquanto que as orações com Pretérito
Imperfeito têm uma função nitidamente avaliativa e não fazem
avançar o processo narrativo, antes comentam sobre as orações
narrativas, constituindo-se em Plano de Fundo do processo nar
rativo, já que este processo tem a função primeira de recuperar
lingüísticamente os eventos em sua seqüência temporal, confor
me pode se observar na seqüência de orações abaixo:
" g pensando
que tudo estivesse em ordem, pés-de-pato, cordi-
nha, etc ...
j minha colega ainda se aprontando
por isso entrei na água sozinha
i Eu estava acostumada a isso,
o fazi todos os dias,
1 passei a arrebentação."
0 acontecimento único, merecedor da própria locução,
se faz introduzir à altura da oração e. As orações e, ^ e h
estão em juntura temporal, e a narradora relata os procedimen
tos necessários e costumeiros para a prática do esporte a
que se refere no relato.
A oração g é avaliativa e não está em juntura tempo
ral com as orações próximas. Ao enunciá-la a narradora tem a
intenção de agir sobre o narratário através de recursos ava-
liativos, visando a apresentar o seu ponto de vista. Para is
so desvia-se da sintaxe básica da narrativa e utiliza , como
recurso avaliativo, o condicional, que segundo Todorov:
"o condicional e preditivo oferecem não só uma característica semântica comum (a hipótese ) más se distinguem por uma estrutura sintática particular: dizem respeito a uma sucessão de duas orações e não a uma oração isolada. Mais precisamente, concernem ã relação entre essas duas orações, que é sempre de implicação, mas com a qual o sujeito da enunciação pode manter diferentes relações." (Todorov, 1979:142)
0 condicional, nesta oração, determina uma relação de
implicação com os eventos que seguem e a hipótese permanecerá
subjacente ã narração, apontando para uma relação implícita de
causa e efeito, que eventualmente poderá ser afastada em confor
midade com o desenvolvimento do fluxo do fio narrativo.
A narradora, na oração j, realiza uma avaliação exter
na, apresentando o ponto de vista de que a prática daquele es
porte lhe é familiar e freqüente, e utiliza-se de vários me
canismos de avaliação, tais como; o intensificador "ainda", a
negação, o progressivo passado, a oração explicativa "por is
so entrei na água sozinha", o item lexical "sozinha", o marca
dor temporal de excesso "já", intensificado pela oposição an
tes e depois.
Nas orações e m a narradora dá prosseguimento ã a-
ção básica, informando ao narratário a seqüência dos eventos.
Suspende momentaneamente o fluxo do fio narrativo para apre
sentar outra avaliação externa (oração o), de caráter locali^
ta, comentando sobre a escolha do lugar, marcada inclusive gra
ficamente pelo uso dos parênteses. Utiliza-se de recursos ava
liativos internos como o intensificador "muito", o item lexi
cal "difícil" e a oração explicativa "pois havia muitos sur
fistas dentro d'água", levando o narratário a entender que a
prática deste esporte exige qualidades como paciência, habili
dade e conhecimento e incluindo-se entre os praticantes deste
esporte ela também é detentora dessas qualidades, evidencian
do-se a intenção de tornar seu relato reportável.
A narradora prossegue o desenvolvimento desta seção
estrutural com a oração £ , que fornece ao narratário uma or_i
entaçâo sobre o desenvolvimento da ação, além de informar que
o referido esporte é perigoso e difícil e exige habilidades ,
trazendo embutida uma força avaliativa, na seqüência;
"p Após tentativas frustradas de pegar
algumas ondas
q consegui
r era uma onda enorme
com a caracterização da onda, elemento indispensável para a
prática deste esporte.
Na oração r, o fluxo do fio narrativo é suspenso nova
mente enquanto a narradora tece considerações sobre este mo
mento narrativo e utiliza o Presente Histórico como um meca
nismo de avaliação interna que torna o relato mais dramático,
pois traz o evento para o momento da fala, deslocando-o do
seu momento narrativo. (Ver Schiffrin, 1981).
Ao mesmo tempo que faz uso do Presente Histórico ( meio
produtor de tensão enquanto metáfora temporal).(Weinrich,
1974: 162,163), contrasta-o com o dêitico "naquele instante" ,
levando e trazendo o narratário do momento da fala ao momento
narrativo com grande rapidez, um jogo lingüístico que torna o
relato mais vivo através da apresentação dos seus sentimentos,
prosseguindo a avaliação com a caracterização da onda: " a on
da era realmente gigantesca".
O advérbio "realmente", embora não figure no modelo
de Labov, foi considerado na análise desta narrativa como um
recurso altamente avaliativo, pois reforça o grau de credibi
lidade e reportabilidade que a narradora quer imprimir a seu
relato, uma vez que exprime o sentimento e a atitude da narra
dora diante do fato enunciado. Os itens lexicais "confesso" e
"gigantescas" vem reforçar a credibilidade e a reportabilida
de do evento através de seus expressivos conteúdos semânticos.
A ação narrativa alcança seu clímax com a seqüência
de orações t a Com a oração t, tem-se o sucesso de narrado
ra e na oração v, o seu fracasso introduzido pela conjunção
"mas" e ao fazer um jogo de prospecção (ia tentar dar) e de re
trospecção (cai), de caráter avaliativo, atua sobre o narratá
rio no sentido de abrir-lhe possibilidades de conclusão, base
ado na relação implícita de causa e efeito, introduzido pela
hipótese que já se encontra subjacente desde a oração £.
Neste ponto a ação narrativa é suspensa totalmente,
caracterizando a seção estrutural Avaliação, como estrutura
primária nas narrativas de experiência pessoal, confirmada pe
Ias narrativas produzidas pelos informantes do presente estu
do. A Avaliação estende-se da oração ^ a 23. Os recursos ava
liativos que marcam esta seção são a negação e a repetição ,
este último faz com que "a narrativa adquira a forma de esp^
ral" (Vogt, 1978) , demonstrando a competência narrativa do in
formante que não exagera nos detalhes, não causando confusão,
nem se tornando elíptica.
A negação, segundo o modelo de Labov, é um comparador
na medida em que coloca a negação como uma ação possívele não
realizada. 0 uso do verbo saber, precedido pela negação, ind^
ca que o narrador, no momento em que está narrando, perdeu o
controle da situação e a oração subordinada é que apresenta a
ação importante para o desenrolar da narrativa (gg Nao sei co
mo tomei impulso).
Formalmente esta seção estrutural caracteriza-se pela
presença de orações restritas a este ponto da narrativa, mas
permutáveis entre si, isto é, não estão confinadas por juntura
temporal, além da predominância dos verbos no Pretérito Imper
feito (estava, tentava, conseguia).
Quando a narradora produz a oração inicia-se Reso
lução que se caracteriza como conseqüência da Ação Complicado-
ra e prossegue até a oração 11^. Nesta seção, a narradora narra
que consegue emergir e intercala orações de juntura temporal
(orações narrativas) cora orações avaliativas, justificando, ex
plicando e apresentando seu ponto de vista, através de mecani^
mos sintáticos como o intensificador "ainda"; a oração explica
tiva combinada com comparador: "pois estava vindo uma seqüência
de ondas igualmente gigantescas"; o correlativo "estava vindo",
que apresenta um aspecto durativo da ação; além do reforço se
mântico conseguido pelo item lexical "Gigantescas".
Com a oração mm, a narradora instala a seção estrutural
Coda e traz o narratário ao momento da enunciação e este efeito
é conseguido através do núcleo verbal no Pretérito Perfeito
usado no final da Resolução ("peguei"), do dêitico "aquela" e
pelo uso do Pretérito Perfeito no início da Coda "sai" e "pen
sei", sendo que este tempo verbal usado neste ponto da narrati
va constitui-se numa neutralização entre o tempo de grau zero
do mundo narrado e o tempo de retrospecção do mundo comentado ,
ou ainda, "uma passagem da situação narrativa para a situação
discursiva" (como quer Morey, 1986: 48), e pelo Presente, numa
clara referência ao momento da enunciação e à situação dialôg^
ca que engloba narrador/narratário: "É realmente existe alguém
la em cima que gosta de mim". A estes aspectos formais que ca
racterizam o momento discursivo na Coda, acresce-se o uso de
vun . estereótipo, que funciona como um recurso avaliativo alta
mente persüasivo, uma vez que o estereótipo" impede qualquer
questionamento acerca do que está sendo enunciado" (Citelli,
1985: 47). Então a narradora remete a Deus (alguém lã em cima)
o seu sucesso e fecha-se a hipótese que estava em aberto desde
a oração e que orientou a lógica da narrativa através da
argumentação de que a causa do seu fracasso estava fora do seu
conhecimento e a solução também, fora do seu alcance, evidenci
ando a tessitura desta narrativa e aonde a narradora estava
querendo chegar com o relato no sentido de influenciar o narra
tivo a adotar seu ponto de vista.
Este é um exemplo de uma narrativa altamente avaliada
e que se caracteriza como representante da estrutura global t^
pica da narrativa de experiência pessoal.
A seguir será analisada a narrativa de experiência v_i
cária produzida pela mesma informante EV A 20F;
a O fato que vou relatar agora
trata-se de uma história de amor à vida e à natureza
0
b Trapper era garimpeiro
que gostava muito da vida nas montanhas
c e vivia só,
d tinha como amigos apenas os animais e a natureza
e vivia do ouro, que ele retirava do rio
u<
f e trocava por mantimentos
h certa vez, ao sair do posto de trocas
ele leu \im cartaz
que o fez ter lembranças tristes,
se tratava de um anúncio de compra de filhotes pelo
zoológico.
i Aquilo o revoltou tanto que ele rasgou o cartaz,
j o homem que lia
ficou furioso,
1 Frenchy era um homem sem escrupulos, sem carater,
que s5 pensava em dinheiro,
m Voltando as montanhas
n Trapper logo se esqueceu do ocorrido,
o Foi vizitar uma família de coiotes
que ele tratava com imenso carinho,
p Sem Trapper perceber
Frenchy o seguiu
q e viu a família de coiotes
r e pensou: Estes coiotes valem mais
que ouro, vou vendê-los ao Zoológico"
s Logo que Trapper se afastou
t Frenchy se aproximou
para pegar os filhotes,
u Os filhotes se assustaram
V e começaram a uivar.
X Trapper escutou
z e foi ver
o que acontecia
aa Trapper viu
Frenchy indo com os filhotes,
bb Trapper não sabia
o que fazer
pois Frenchy era mais forte que ele,
dd então teve uma idéia
ee e fez uma armadilha.
Rff Trapper prendeu Frenchy
gg e salvou os filhotes.
hh após o episódio Trapper voltou a sua
vida simples, sem riqueza
ii apenas amando
jj e protegendo a natureza.
Esta narrativa de experiência vicária apresenta as se
ç5es Sinopse, Orientação, Ação Complicadora, Resolução e Coda.
A seguir será analisada a estrutura global desta narrativa:
A Sinopse é realizada pela oração a que resume a estó
ria e traz embutido o ponto de vista da narradora. Pode- se ob
servar que a referência da Sinopse abrange a Ação Complicadora,
a Resolução e também a Avaliação. A Sinopse desta narrativa mo£
tra aspectos de envolvimento do narrador com o texto que produz
{"que vou relatar"), atuando como um recurso para despertar o
interesse do narratário.
Formalmente esta Sinopse é realizada por uma oração in
dependente, no início da narrativa e apresenta uma locução ver
bal (ir + relatar) que é marcadamente avaliativa, pois contém
um aspecto durativo, e, incorpora uma prospecção intrínseca, se
guida do item lexical "agora", que no texto perde o significado
de neste momento para adquirir o significado de enquanto durar
esta narrativa^ numa evidente transmutação semântica em função
deste ato de fala; a narração.
Nas orações "b" a realiza-se a caracterização da
personagem principal (Trapper), através da seção estrutural Ori
entação, formada, nesta narrativa, por uma série de orações li
vres, cujo núcleo verbal apresenta-se no Pretérito Imperfeito ,
o que indica o caráter habitual das ações enunciada e funcionan
do como Plano de Fundo para realçar a ação narrativa propriamen
te dita, que se desenvolverá: na seção estrutural Ação Complica
dor a.
O recurso avaliativo (sintático) mais usado nesta seção
é a explicação que funciona como qualificativo (oração adjetiva
introduzida pelo pronome relativo): "que gostava muito da vida
nas montanhas;"
"e (que) vivia só";
"que ele retirava do rio";
"e (que) trocava por mantimentos".
A narradora usa, ainda, o intensificador "muito; opera
dor comparativo "como" e o item lexical "só", como recursos ava
liativos.
A narrativa prossegue com a expressão "certa vez", uma
expressão estereotipada utilizada para marcar, nesta narrativa,/
o inicio do processo narrativo dinâmico capaz de recuperar lin
guísticamente os eventos em sua seqüência temporal, e esta dina
micidade do processo narrativo realiza-se por uma série de ora
ções narrativas concatenadas, cujos núcleos verbais encontrara -se
no Pretérito Perfeito (leu, revoltou, rasgou, ficou, esqueceu ,
foi visitar (^visitou), perceber (=percebeu), seguiu, viu, pen-
sou, afastou-se, aproximou-se, assustaram, escutou, foi ver
(=viu), teve, fez), constituindo-se no Primeiro Plano narrati-.
vo, aquilo que é novo e digno de ser narrado, embora nesta se
ção estrutural encontre-se também orações avaliativas, funcio
nando como Plano de Fundo para o desenrolar da ação narrativa,
cujos núcleos verbais se encontram-se no Pretérito Imperfeito
(tratava, lia, era, pensava, tratava, sabia, era).
A Ação Complicadora engloba as orações de h a In_i
cia narrando a ida da personagem Trapper ao posto e o encontro
com a personagem antagonista (Frenchy). A ação é interrom pid a
momentaneamente para a caracterização da personagem antagonis
ta na oração 1. Esta oração, apesar de apresentar elementos o
rientadores para a caracterização da personagem antagonista, é
claramente avaliativa e para isso a narradora utiliza-se dos
recursos avaliativos; negação e explicação; "sem caráter", 'feem
escrúpulos", "que só pensava em dinheiro".
Nas orações 25, n e o, a narrativa retoma o seu fio con
dutor, levando a personagem principal para o seu espaço e afa
zeres habituais, através da locução verbal (ir + visitar) e do
imperfeito (tratava) apoiado em seu aspecto durativo e imper
fectivo, o que se caracteriza como marca avaliativa, confirman
do o que Labov (1972) diz sobre a avaliação ser uma estrutura
secundária, que se distribui por vários pontos da narrativa,
sob várias formas.
Na oração , o fluxo do fio narrativo prossegue, mar
cado avaliativamente pela negação: "Sem Trapper perceber "
(= paráfrase: Trapper não percebeu). Tem-se, então, as orações
narrativas 3/ r e o encaixamento da avaliação, através da ação
avaliativa; "e pensou; Estes coiotes valem mais que ouro, vou
vendê-los ao zoológico". Este momento narrativo é muito avalia
do através de desvios da sintaxe narrativa básica como o compa
rativo (mais que) e da prospecção (vou vendê-los).
A ação narrativa prossegue com a oração s. apresentan
do ações simultâneas das duas personagens, caracterizadas como
anti-sujeitos, enquanto desenvolvem programas narrativos anta
gônicos, introduzidos pela partícula "logo".
A narradora suspende momentaneamente a seqüência de
ações conseqüentes e apresenta uma ação paralela nas orações u
e V para avaliar a reação dos filhotes diante da atitude da per
sonagem-antagonista;
"u Os filhotes se assustaram
V começaram a uivar"
O processo narrativo é retomado novamente nas orações
X a relatando a atitude da personagem principal. A seguir
tem-se uma Avaliação Externa nas orações bb - cc, marcada sin
taticamente pela negação, explicação e comparação, trazendo
grande complexidade ã estrutura narrativa básica:
" Trapper não sabia
o que fazer
pois Frenchy era mais forte que ele".
O processo narrativo prossegue nas orações ^ - ^3.
tingindo o seu clímax e o seu desenlace ocorrerá já na seção
estrutural Resolução, com as orações - jj.' sendo que as ora
ções 22 ® Ml orações narrativas típicas, marcadas por
juntura temporal; isto implica que qualquer alteração na orga
nização sintática destas orações prejudicará a interpretação
semântica original da seqüência temporal em que os eventos
ocorreram, observe-se:
" então teve uma idéia
fez uma armadilha
Trapper prendeu Frenchy,"
assim sendo, infere-se que nesta narrativa a Ação Complicadora
e a Resolução formam uma única seção estrutural narrativa, nu
ma nítida relação de causa-consegüência, não interrompida pela
seção estrutural Avaliação, e esta estrutura global apresenta
da por esta narrativa é típica da narrativa de experiência vi
cária, ou seja, neste tipo de narrativa a Avaliação, como es
trutura primária, não se faz presente.
Já na Coda, a narradora tece comentários sobre a vida
da personagem principal e volta ao momento da enunciação atra
vés da expressão: "Após o episódio", e esta seção confirma seu
caráter eminentemente avaliativo, fechando o círculo narrativo
iniciado pela Sinopse e indicando que a fronteira entre o mundo
narrado x mundo cotidiano está fechada, afastando a significa
ção transmutada que "agora" tomou ao iniciar-se este ato de fa
la e libera o narratário de seu papel de interlocutor. No en
tanto, as formas gerundivas das orações ff-gg; "amando"e"pro
tegendo", mostram claramente que o narrador deseja ter influen
ciado o narratário de algum modo, (efeito perlocucionário) dei^
xando implícita uma lição de amor à vida e à natureza, já colo
cada de forma subentendida quando do sucesso do programa narrati^
vo da personagem principal e o conseqüente fracasso do programa
narrativo da personagem-antagonista.
Prosseguindo a análise de narrativas, passa-se ao exa
me de narrativas.que^ segundo o modelo que orienta estas refle^
xões, podem ser consideradas incompletas por não apresentarem
todas seções estruturais da narrativa; Trata-se da.' narrativa
EP A 7M;
O<
a Uma noite iim amigo me convidou
para roubar laranja
b antes de ir
nós convidamos outro amigo
c mas ele não quiz ir.
d AÍ nós fomos
e e chegando lá,
f o Everaldo subiu no pé
g e daí eu fiquei enbaicho
h pegando as laranja.
1 o Dadá, convidou outro guri
pra dar um susto em nós,
m o Dadá chegou lá
n e daí ele vio nós apanhando laranja
o e daí ele falou "assim" O que vocês
estão fazendo aí"
p eu e o Everaldo saimos correndo
q e nois passamo um cerca de arame farpado
só num pulo.
R
r quando chegamos em casa
s eles chegaram logo depois
t contamos essa história do susto
u e eles começaram a rir
V e dizer "o rapaz pois foi eu e o
Lino que falemos aquilo"
Esta narrativa apresenta apenas as seções estruturais
Ação Complicadora e Resolução. Os itens lexicais "noite" e
"amigo" econtrados na oração a não são suficientes para se con^
tituírem niama seção de Orientação, pois que esta oração caracte
riza-se como uma oração narrativa típica e encontra-se em juntu
ra temporal com a oração b, e o item lexical "antes" que intro
duz a oração b afasta qualquer dúvida neste sentido por ser um
elemento denotador da seqüência temporal.
Se para Labov (1972) uma narrativa completa apresenta
as seções estruturais; Orientação, Ação Complicadora, Avalia
ção, Resolução, Coda, esta narrativa caracteriza-se como uma
narrativa incompleta, pois apresenta apenas as seções estrutu
rais essenciais da narrativa, aquelas capazes de recuperarem
lingüísticamente um acontecimento em sua dinamicidade. Assim
sendo, este texto só cumpre a seqüência narrativa e pode se
atribuir a ele um caráter de pobreza, entendido enquanto falta
de detalhes e avaliação, mas não se pode dizer que não se deu
o processo narrativo. Por outro lado, observou-se no corpus co
letado poucos textos com estas características, o que permite
mostrar que manifestações lingüísticas as mais diversas são
criadas a partir da situação de interlocução que se estabelece
entre os usuários da língua; e nessa situação e por ela é que
se dão as diversas formas discursivas. Parece que, neste textcy
houve interferência, na escrita de recursos da oralidade, o que
demonstra que o narrador teve dificuldades em dominar a situa
ção de interlocução na qual se insere o texto escrito, não per
cebendo que as situações de interlocução oral,e escrita são di^
ferentes na medida em que, na oral a situação de enunciação é
dada, ao mesmo tempo que o texto, ou seja, conhece-se o inter
locutor, o tempo e o lugar da enunciação, enquanto que, na es
crita, apenas o texto é apresentado ao narratário.
A apresentação abrupta das personagens antecedidas pe
lo artigo definido: "f o Everaldo subiu no pé"; "1 o Dadá con
vidou outro guri"; o uso dos continuativos: "ai, daí, então" ;
além de desvios de concordância; como o apagamento do s: "h pe
gando as laranja"; "q e nois passamo um cerca..."; alternância
da vogal [a] e [e[ na conjugação verbal: "falemo"; podem ser
citadas como marca desta oralidade, evidenciando-se o manejo
precário que o narrador tem da língua escrita e que este narrador
assimila a imagem do interlocutor a sua própria imagem, deixan
do muitas lacunas, pois para este narrador tudo pode ser supri,
mido diante deste narratário idealizado. (Ver Vieira e Vogt, 1978).
Observe-se, agora, como este narrador recuperou o acon
tecimento. Cfcmo'-já foi visto esta narrativa apresenta apenas as
seções estruturais Ação Complicadora e Resolução.
Inicia-se a Ação Complicadora na oração a e estende-se
até a oração 3. Esta seção é formada por orações narrativas t^
picas, cujos núcleos verbais encontram-se no Pretérito Perfeito
(convidou, convidamos, quiz, fomos, subiu, fiquei, convidou ,
chegou, viu, falou, passamos, falamos, foi), no Progressivo Pa£
sado (saímos correndo) ou no infinitivo ou gerúndio (chegando,
apanhando, roubar, ir, dar), denominado por Weinrich de semi-
tempos, pois estes tempos verbais dependem de informação de ou
tros tempos verbais. (Ver Weinrich, 1974: 360).
Esta narrativa apire senta poucos desvios da sintaxe nar
rativa básica, uma vez que na maior parte das orações realizam
-se apenas os elementos sintáticos que Labov considerou como
estruturadores da sintaxe básica da narrativa, quais sejam ;
conjunção, sujeito, núcleo verbal, complemento verbal, adjunto
adverbial de tempo, de lugar e de modo e os poucos desvios que
ocorrem podem ser considerados como recursos avaliativos, nesta
narrativa:
"a Uma noite iim amigo me convidou para roubar laranja";
o infinitivo roubar, nesta oração, desloca a perspectiva de lo
cução, fazendo uma prospecção e apresentando a ação principal
da narrativa que ainda irá se desenrolar. Pode-se atribuir a
este jogo prospectivo um caráter avaliativo. A narrativa pros
segue com as orações b e c:
"b antes de ir
:: nós convidamos outro amigo
c mas ele não quiz ir."
A oração b está em juntura temporal com a, como indica
o item lexical "antes", e na oração £, a conjunção "mas" e a
negação são recursos avaliativos, que apresentam um fato que
poderia ocorrer {a aceitação do convite) e não ocorreu. Esta
oração é altamente avaliativa, pois dela depende o desenrolar
da narrativa, constituindo-se no elemento propulsor do proces
so narrativo: a não aceitação do convite é que desencadeará os
eventos seguintes.
Nas orações d e h, instala-se a ação principal, enquan
to nas orações m a n instala-se uma ação paralela, desenvolvi
da pela personagem - antagonista, Dadá. A oração 1 apresenta
o infinitivo (para dar), que desloca a perspectiva de locução
através do jogo prospectivo para esta ação paralela e antagôni^
ca. A narrativa projeta-se sobre interesses antagônicos (rou
bar laranjas x dar susto) que movem as personagens envolvidas
em programas narrativos distintos.
Na oração o, o narrador utiliza-se do discurso direto,
uma forma de encaixamento da avaliação capaz de reproduzir a
ação da personagem-antagonista (antagonista, do ponto de vista
do narrador, já que esta interfere em seu programa narrativo;
roubar laranjas);
o falou assim "0 que voces estam fazendo ai"; este re
curso avaliativo torna-se eficaz, pois desencadeia uma
ação que influenciará o fracasso do programa narrativo de per
sonagem principal (narrador) como ele narra nas orações £ a 3;
"p eu e o Everaldo saimos correndo
q e nois passamo uma cerca de arame farpado só num pulo; "
e o sucesso subtendido do programa narrativo da perso
nagem antagonista (dar susto), e neste momento narrativo, che
ga-se ao clímax da ação e inicia-se a Resolução, na seqüência
de orações de £ ^ X*
r quando chegamos em casa
s eles chegaram logo depois
t contamos essa história do susto;
nas orações r e t, o narrador prossegue relatando a
ação principal de chegar e contar a história, intercalada pela
explicação da oração que adquire um caráter avaliativo, em
bora seja uma oração narrativa que esteja em juntura temporal
com r, como o propósito de confrontar as personagens principal
e antagonista e seus respectivos programas narrativos.
Prosseguindo a narrativa tem-se nas orações u e v ( e
eles começaram a rir) a apresentação do sucesso da personagem
antagonista e seu programa narrativo (dar susto) e para isso,
o narrador utiliza-se do recurso avaliativo discurso direto,
passando a palavra a seu antagonista;
"v "0 rapaz, pois foi eu e o Lino que falemos aquilo".
As orações avaliativas o e v caracterizadas pelo dis-
curso direto, quando o narrador passa a palavra a seu antagonis
ta, aponta para o ponto de vista que o narrador deseja passar
para o narratário de que o seu colega é esperto e ele não; nar
ra a sua desvantagem por ter feito papel de tolo {levar susto).
Na verdade, não havia razão para o susto, já que era falso o po
der atribuído ao colega (em determinado momento narrativo) de
interpelá-lo; "0 que vocês estão fazendo aí?" Ao narrador falta
ram instrumentos lingüísticos para auxiliá-lo no desempenho da
produção narrativa para poder influenciar e informar melhor o
narratário.
A seguir será analisada uma narrativa de experiência vi^
cária como outro exemplo de narrativa incompleta. Utilizou-se o
mesmo critério de seleção de informantes para que se evidencie
a estrutura global da narrativa. Assim, analisou-se narrativas
de um mesmo informante, para exemplificar narrativa de experiên
cia pessoal e narrativa de experiência vicária.
EVA 20M;
o
a Um dia Trapper achou ouro
b e desceu
c ele ia comprar comida
d Na vendinha tinha um homem mal encarado e barbudo,
e Trapper parou no caminho
f e viu os lobinho
g e então foi embora
h mas o homem lhe tava seguindo
i e pegou aqueles filhotes
que começaram a gritar
j Daí ele fez uma armadilha
1 que caiu direto nela
m e os bichinhos foram soltos
n e aquele outro deu boas gargalhadas
Esta narrativa de experiência vicária apresenta apenas
as seções estruturais Ação Complicadora e Resolução, caracter_i
zando-se como uma narrativa incompleta, segundo o modelo que
orienta .esta análise.
A ação complicadora inicia-se na oração a e estende-se
até a oração j, quando a ação atinge seu clímax. Nota-se que o
narrador não domina a situação de interlocução, em que seu vir
tual narratário não conhece o filme a que ele assistiu e que
está relatando. A omissão de detalhes de orientação e avaliação
prejudicam a recuperação do acontecimento narrado.
Na oração a, o narrador inicia a narrativa com a fórmu
la estereotipada "um dia", que não acrescenta nenhuma informa
ção ao narratário, apenas o transporta do mundo cotidiano para
o mundo narrado e apresenta abruptamente a personagem em ação:
a Um dia Trapper achou ouro
b e desceu;
as lacunas na informação deixam dúvidas ao narratário
(achou ouro-^onde?; desceu-de onde?); dúvidas, que numa situa
ção de interlocução face a face poderiam ser suprimidas; mas
que, na escrita, permanecem e prejudicam a recuperação do pro
cesso narrativo, o que provoca dificuldades de entendimento do
texto.
Na oração c "ele ia comprar comida", o narrador explica
o que o personagem desejava fazer. Poder-se-ia pensar que estas
orações formassem uma seção de Orientação, mas as característi-
1 que caiu direto nela
m e os bichinhos foram soltos
n e aquele outro deu boas gargalhadas
Esta narrativa de experiência vicãria apresenta apenas
as seções estruturais Ação Complicadora e Resolução, caracter_i
zando-se como uma narrativa incompleta, segundo o modelo que
orienta : esta análise.
A ação complicadora inicia-se na oração a e estende-se
até a oração j, quando a ação atinge seu clímax. Nota-se que o
narrador não domina a situação de interlocução, em que seu vir
tual narratário não conhece o filme a que ele assistiu e que
está relatando. A omissão de detalhes de orientação e avaliação
prejudicam a recuperação do acontecimento narrado.
Na oração a, o narrador inicia a narrativa com a fórmu
la estereotipada "um dia", que não acrescenta nenhuma informa
ção ao narratário, apenas o transporta do mundo cotidiano para
o mundo narrado e apresenta abruptamente a personagem em ação;
a Um dia Trapper achou ouro
b e desceu;
as lacunas na informação deixam dúvidas ao narratário
{achou ouro^onde?; desceu-de onde?); dúvidas, que numa situa
ção de interlocução face a face poderiam ser suprimidas; mas
que, na escrita, permanecem e prejudicam a recuperação do pro
cesso narrativo, õ que provoca dificuldades de entendimento do
texto.
Na oração c "ele ia comprar comida", o narrador explica
o que o personagem desejava fazer. Poder-se-ia pensar que estas
orações formassem uma seção de Orientação, mas as característi-
"lobinhos" e "bichinho" enunciados neste texto.
Na oração j: "Daí ele fez uma armadilha". 0 item lex_i
cal "ele” não deixa clara a sua referência, pois tanto pode re
ferir-se a "Trapper" ou ao "homem", dificultando a interpreta
ção, e esta dificuldade se ampliará na oração _1, já na seção
estrutural Resolução;
"1 que caiu direto nela", nesta oração o item lexical
"que" é usado inadequadamente e tem valor da conjunção aditiva:
(e caiu direto nela) . Se por vim lado, a conjunção "e" afasta
a possibilidade de interpretar-se esta oração como uma oração
explicativa, introduzida por pronome relativo, por outro lado
resolve o aspecto da juntura temporal, pois evidencia a rela
ção temporal marcada por "antes" e "depois" em que se sucedem
os fatos: alguém fez uma armadilha e alguém caiu nela; o que
esta alteração e esse raciocínio não explicam é quem fez a ar
madilha e quem caiu nela, e neste ponto a narrativa torna-se
incompreensível. E o narrador prossegue:
"m e os bichinhos foram soltos
n e aquele outro deu boas gargalhadas"; e o narratá-
rio deveria perguntar; "quem é aquele outro?"
Como se ve, esta narrativa esta repleta de lacunas, de
referências inadequadas e ambíguas, impossibilitando a compre
ensão da narrativa, embora não se possa dizer que não ocorreu
o processo narrativo, pois este texto apresenta orações narra
tivas com juntura temporal, elemento caracterizador do proces
so narrativo, segundo o modelo de análise adotado. Mas, por
mais boa vontade que possua o narratário de recuperar o aconte
cimento efetivamente ocorrido, não conseguirá, pois os recur
sos lingüíticos utilizados pelo narrador não são suficientes
para que isto ocorra. A falta de domínio da situação de inter
locução acrescido do manejo precário do código escrito faz com
que o narrador tenha o seu desempenho narrativo prejudicado. 0
narratário não consegue recuperar o ponto de vista do narrador,
uma vez que nesta narrativa os elementos avaliativos são esca^
sos e isso faz com que se tenha um texto desenunciado (Ver Ca
minha; 1986; 70-73), não fazendo referência alguma sobre o mo
mento ou sujeito da enunciação.
3.2. Pseudo-narrativas
Embora a grande maioria dos textos coletados sejam nar
rativas bem sucedidas, no sentido de apresentarem as seções e^
truturais da narrativa e ser possível evidenciar o processo nar
rativo, encontrou-se alguns que não o são (Ver análise quanti
tativa) . Iniciam como se fossem narrativas, ou seja, apresen
tam segmentos com características de Sinopse ou Orientação e
mesmo um fato que poderia ser propulsor do processo narrativo,
como nos exemplos abaixo, mas estes textos não se configuram
como narrativas:
EVB 39F
a Trapper era um senhor
que vivia nas florestas e nos campos,
enfim vivia com a natureza,
b Os seus amigos eram os animais
c e seus inimigos eram os que maltratavam os animais,
d Mas toda vez que Frenchy ia maltratar os animais pa
ra ficar bem na vida,
e Trapper ia ajudar os seus amigos
f Trapper vivia em lugares lindos.
g Era cada lugar que Trapper passava tinha seus animais
de toda espécie,
h Trapper de tão bom que era
sentia-se feliz,
i mas seus inimigos encontravam
a tristeza que mereciam,
j Não devemos nunca maltratar os animais
1 Devemos sim conservar a natureza.
Este texto caracteriza-se principalmente pela oposição
semântica entre itens lexicais. Observe-se outro texto que não
realizou o processo narrativo:
EVB 35 F:
a Esta história nos contou
que não devemos maltratar os animais
b não devemos ser egoístas
c sovando,
d chutando,
e malçacrando
pois os animais não fazem mal a ninguém^'
f querem de nós apenas a liberdade,
g também devemos olhar nosso mundo
para ver as maravilhas
h mas o que mais precisamos
poupar em nosso mundo
é a felicidade,
i e também lutarmos pela liberdade, não só a nossa, mas
também a dos animais,
que mais precisam de nós
j Quando pensar em fazer algum mal lembre-se
que acontecerá coisas más.
1 Trapper queria s5 o bem dos animais enquanto Frenchy
queria s5 a riqueza.
m e acabou numa armadilha.
Nestes exemplos de textos não-narrativos dois deta
lhes chamaram a atenção;
a) os textos não-narrativos foram produzidos na situa
ção narrativa experiência vicária, o que leva a pensar que esta
situação narrativa ofereça maior dificuldade para o adolescen
te reportar os acontecimentos;
b) os informantes que produziram textos não narrativos
eram alunos do curso do magistério (3i série do IIQ grau), o
que leva a pensar que estes informantes além de desconhe ce rem
as características do texto narrativo, têm a sua produção pre
judicada pela assimilação de características do discurso didá
tico, embora a variável curso não houvesse sido considerada co
mo uma variável relevante, capaz de interferir no resultado da
presente investigação, no entanto, ê uma hipótese que poderia
ser investigada em pesquisas futuras. 0 raciocínio de que o
curso haja influenciado na produção deste tipo de texto está
embasado teoricamente nas considerações de Orlandi (1987) so
bre o discurso pedagógico. Segundo esta autora, este tipo de
discurso quebra as leis do discurso, tais como enunciadas por
0. Ducrot (1972) : o interesse, a utilidade ou a lei da informa
tividade e ela analisa:
"Além dessas leis gerais válidas para o compor tamento lingüístico em geral, há uma regula
mentação para cada categoria de atos de fala (...), o recurso didático, para mascarar a
quebra das leis de interesse e utilidade, é a
chamada motivação no sentido pedagógico. Essa motivação aparece no DP como motivação que cria interesse, que cria uma visão de utilidade, fa zendo ccan que o DP apresente as razões do sistona como razoes de fato. Ex.: no léxico, o uso das pala vras "dever", "ser preciso". (Orlandi, 1987:18)
As considerações da autora sobre o discurso pedagógico
orientaram a análise destes textos, que trouxeram dificuldades
sob o ponto de vista do modelo de análise adotado, já que não
apresentavam o elemento caracterizador da narrativa, ou seja,
a juntura temporal, o que implica em ausência do processo nar
rativo, e se tornaram úteis para a determinação das caracter!^
ticas do discurso didático que,- segundo Citelli (1985:53) cos
tuma ser marcado por duas variáveis fundamentais: a estereoti-
pia e a idealização, e este se organiza em torno de temas como
religião, riqueza, pobreza, amizade, felicidade, etc....
Das considerações de Orlandi e Citelli valeu-se a ana
lista para o estudo destes textos e procurou-se marcas lingüí^
ticas do discurso didático, que serão apresentadas a seguir;
a) Uso do imperativo, confirmando o caráter autoritá
rio deste tipo de discurso, enquanto se apropria e reproduz o
saber institucionalizado:
EVB 35F:
"j lembre-se
que acontecerá coisa más;"
b) Uso constante dos itens lexicais "dever", "querer "
EVB 39F:
"j Não devemos maltratar os animais"
1 Devemos sim conservar a natureza.
EVB 35F:
" Esta história nos contou
que não devemos maltratar os animais"
"b não devemos ser egoístas"
1 Trapper só queria o bem dos animais";
b) Jogo de negação e de afirmação, primeiro condena-se
um comportamento na voz autoritária deste discurso para a se
guir enunciar o comportamento correto, que implicitamente está
sendo endossado pelo referido discurso:
EVB 39F:
"j Não devemos nunca maltratar os animais"
"1 Devemos sim consrvar a natureza"
"h Trapper de tão bom que era
sentia-se feliz
i mas seus inimigos encontravam
a tristeza que mereciam"
EVB 35F:
"1 Trapper queria só bem dos animais,
enquanto Franchy queria só a riqueza"
c) Idealização subjacente neste tipo de discurso, e pa
ra exemplificar isto, pode-se citar a sobreposição de temas e
leitos por este tipo de discurso em constante oposição, como
ccnpor t amentos aceitáveis e inaceitáveis: felicidade x tristeza, , bem dós
animais e danatureza x riqueza; bondade x maldade; liberdade x
não liberdade; amor x desamor, egoísmo x altruísmo.
e) Estereotipia, pois o discurso pedagógico é por exce
lência um discurso persuasivo, enquanto espera modificar com
portamentos; e este é um recurso altamente convicente por tra
zer implicitamente um valor de verdade^ üm exemplo de estereo-
tipia encontra-se no texto EVB 35F; em que o estereótipo "pou
par" é usado inadequadamente e traz um certo estanhamento se
mântico, pode se dizer até uma certa incoerência, pois na ora
ção h tem-se:
"h mas o que mais precisamos poupar em nosso mundo é a
felicidade". Ora se poupar felicidade, implica em não
ser feliz e pelos argumnetos da informante quem é feliz é quem
quer o bem dos animais, quem não é egoísta, percebe-se que a
informante está em flagrante contradição. A explicação para o
uso deste item lexical que parece mais adequada para a analista
é a assimilação de uma forma estereotipada, apreendida através
do discurso didático a que a informante está exposta e cujo
conteúdo semântico não incorporou por ser estranho ao seu re
pertório lingüístico.
Sob o ponto de vista de modelo adotado, não é possível
considerar estes textos como narrativas, uma vez que não apre
sentam nenhuma juntura temporal e não recuperam linguísticamen
te o processo narrativo em sua dinamicidade; falta a estes tex
tos aquilo que é típico da narrativa, ou seja, falta o ciclo de
ações dinâmicas, ligando-se uma ã outra para restaurar um acon
tecimento, não apresentando aquilo que é essencialmente narra
tivo: as seções estruturais Ação Complicadora e Resolução. Ã
ausência da juntura temporal soma-se a ausência de núcleos ver
bais no Pretérito Perfeito, caracterizado como tempo de grau
zero do mundo narrado. Assim sendo, pode-se considerar textos
como estes pseudo-narrativas, enquanto não detentores dos ca
racteres da narrativa e por não serem capazes de recuperar lam
acontecimento em sua seqüência temporal.
3.3. - Ciclo Narrativo: texto com mais de vuna narrativa.
Se, por um lado, tem-se textos que não apresentam nar
rativa alguma, como se viu anteriormente, por outro lado, tem
-se textos que se constituem em mais de uma narrativa. Obser
ve-se o texto a seguir:
EPB 23M:
O
a Aos 7 anos eu morava em Santiago,
um lugar do interior, sem luz elétrica
b e tinha um colega muito brincalhão
u
c Um dia eu ia na venda
d e vi um vulto branco
e então sai correndo
f e gritando
g Lógico que pensei
que era um fantasma
Rh mas meu colega tirou o lençol
i e começou a rir de mim.
u
C
j Alguns dias depois eu convidei
o meu colega para brincar.
1 Fiz uma máscara com uma abóbora,
m coloquei uma vela acesa dentro dela,
n e deixei no rancho
o Não havia a hora de me vingar
Rp Quando ele foi se esconder no rancho
levou um grande susto
q e aí foi a minha vez de rir.
r E continuamos a pregar peça um no outro durante mu_i
to tempo,
s até que vim para a cidade.
Para elucidar a idéia de que este texto apresenta mais
de uma narrativa, dividiu-se o texto em duas partes: a primei
ra de "Aos 7 anos ... rir de mim" e a segunda de "j Alguns
dias depois ... até o final, pois cada parte constitui-se numa
narrativa completa, conquanto, ambas apresentam um ciclo comple
to de ações conseqüentes, sendo que estes ciclos estão intima
mente relacionados, já que formam um texto complexo e coerente.
Na primeira parte, tem-se um ciclo narrativo completo,
com estas seções estruturais:
Orientação - orações a e b
Ação Complicadora - orações de c a ^
Avaliação - oração 3^
Resolução - orações h e i .
Da mesma forma, na segundo parte do texto, tem-se ou
tro ciclo narrativo completo, com estas seções estruturais:
Ação Complicadora - orações j. a n
Avaliação - oração o
Resolução - oração p
Coda - orações £ a ^
Tem-se, pois, em cada iima das partes, um ciclo de a
ções instaurando eventos distintos. As ações do primeiro ci
clo estão ligadas entre si no sentido em que uma ação é conse
qüente em relação ã outra, o conjunto delas formando xim todo
coerente, um todo dinâmico. Já entre as orações "i e começou
a rir de mim” e "j Alguns dias depois eu convidei o meu cole
ga para brincar", última oração da primeira parte e a prime_i
ra oração da segunda parte, respectivamente, não há tal liga
ção conseqüente. Neste ponto do texto acaba um ciclo de ações
e começa outro, inclusive com a alternância pelas personagens
dos papéis de agente e paciente da ação, (ora dar susto, ora
tomar susto), além de que os programas narrativos que se pro
jetam na narrativa são distintos e não simultâneos.
Pelo exposto, procurou-se deixar claro por que se con
siderou que este texto apresenta mais de uma narrativa, e a
argiimentação que valida o raciocínio desta análise é que este
texto possui mais de um ciclo completo de ações conseqüentes.
3.4. - Análise Quantitativa
Prosseguinio a análise da estrutura global da narrativa
nas duas situações de produção (EP e EV) pelos dois grupos de
informantes (A e B), procurou-se combinar a análise qualitati
va à análise quantitativa. Assim, elaborou-se quadros que con
figuram as matrizes narrativas das produções de cada informan
te em seu grupo específico em cada situação de produção.
Estes quadros fornecem uma visão geral da produção da
estrutura narrativa e constituem a fonte básica para o levanta
mento quantitativo, sobre o qual se fez o tratamento estatíst_i
CO, a fim de se detectar o nível de significãncia dos dados co
letados na realização do estudo comparativo que será apresenta
do a seguir.
Para se efetivar o estudo comparativo, baseou-se na ob
servação da expressão numérica e do índice estatístico. Apl_i
cou-se o teste estatístico Qui-quadrado, cujo índice de signi-
ficância é positivo, se superior a 3,841 e negativo, se infe
rior a este índice.
As matrizes narrativas dos quadros 1, 2, 3 e 4 configu
ram-se pela presença (+) ou ausência (-) das várias seções e^
truturais que concorrem para a estrutura global da narrativa.
Para a configuração destas matrizes narrativas levou-
se em conta apenas a seção estrutural Avaliação, como estrutu
ra primária, localizada entre as seções estruturais. Ação Com
plicadora e Resolução, conforme já foi caracterizada na funda
mentação teórica desta dissertação.
Os dados do quadro 1 mostram que os informantes do gru
po A na situação de produção EP, em sua totalidade, produziram
textos narrativos, porque produziram as seções estruturais
senciais à recuperação do evento narrado em sua seqüência tem
poral, fato verificável pela freqüência 20, para as seções
Ação Complicadora e Resolução.
Verifica-se que a seção produzida com menor freqüência
foi a Sinopse (freqüência 11), que as seções Orientação e Ava
liaçâo foram produzidas com igual freqüência (freqüência 16) e
que a Coda foi produzida com freqüência expressivai(freqüência 18).
Pela observação e análise dos dados constata-se que os
informantes do grupo A produzem textos narrativos nesta situa
ção de produção o que fica evidenciado pela freqüência máxima
de realização das seções Ação Complicadora e Resolução.
A ausência de algumas seções assinaladas, neste quadro,
não se constitui em expressão numérica significativa capaz de
prejudicar o desempenho deste grupo nesta situação de produ
ção, já que se refere a seções não essenciais à recuperação do
evento narrado em sua seqüência temporal.
Os dados atestam, conforme caracterização teórica da
estrutura narrativa, a realização de todas as seções estrutu
rais da narrativa previstas pelo modelo de análise adotado, em
bora haja- pequena diferença numérica entre algumas seções.
Mesmo havendo esta diferença numérica é de se esperar que ou
tros narradores desta faixa etária e neste nivel de escolarida
de produzam textos narrativos em situação de produção semelhan
te, fato que poderá ser confirmado em pesquisas futuras.
Os dados do quadro 2 mostram que os informantes do gru
po B na situação de produção EP, em sua totalidade produziram
textos narrativos na medida em que produziram as seções estru
turais essenciais à recuperação do evento narrado em sua se
qüência temporal, fato verificável pela freqüência 20, para as
seções Ação Complicadora e Resolução.
Verifica-se, ainda, a freqüência 20 para a seção Ava
liação, freqüência 18 para as seções Orientação e Coda e que
a seção realizada com menor freqüência foi a Sinopse (freqüên
cia 13).
Pela observação e análise dos dados, constata-se que
os informantes do grupo B produzem textos narrativos nesta s^
tuação de produção, o que fica evidenciado pela freqüência máxi^
ma de realização das seções Ação Complicadora e Resolução.
A ausência de algumas seções assinaladas, neste qu£
dro, não se constitui em expressão numérica significativa ca
paz de prejudicar o desempenho deste grupo nesta situação de
produção, já que se referem a seções não essenciais ã recupera
ção do evento em sua seqüência temporal.
Os dados atestam, conforme caracterização teórica da e^
trutura narrativa, a realização de todas as seções estruturais
da narrativa previstas pelo modelo de análise adotado embora
haja pequena diferença numérica entre algumas seções. Mesmo ha
vendo esta diferença numérica é de se esperar que outros narra
dores desta faixa estária e neste nível de escolaridade produ
zam textos narrativos em situação de produção semelhante, fato
que poderá ser confirmado em pesquisas futuras.
Os dados do quadro 3 mostram que 19 informantes do gru
po A na situação de produção EV produziram as seções estrutu
rais essenciais à recuperação do evento narrado em sua seqüên
cia temporal (freqüência 19, para a Ação Complicadora e a Reso
lução) e que apenas 1 informante (16 F) produziu texto não nar
rativo, caracterizado pela ausência das várias seções estrutu
rais da narrativa.
As observações dos dados mostram que apenas 3 informan
tes deixaram de produzir a seção Orientação, indicada pela fre
qüência 17.
As seções produzidas com menor freqüência foram a S_i
nopse (freqüência 03) e a Coda (freqüência 04).
Quanto ã seção Avaliação, os dados mostram sua ausên
cia, nesta situação de produção, não figurando em nenhum dos
textos examinados, (freqüência 0).
A análise aponta que a ausência da Avaliação, nesta s_i
tuação de produção ê muito significativa, pois indica que esta
seção não concorre para a estrutura global da narrativa de ex
periência vicária (EV), conforme análise posterior desta seção
estrutural.
Os dados do quadro 4 mostram que 17 informantes do gru
po B, na situação de produção EV produziram textos narrativos,
enquanto 3 informantes (34F, 35F, 39F) produziram textos não-
narrativos, uma yez que deixaram de produzir as várias seções
estruturais da narrativa.
Observou-se que as seções Ação Complicadora, Resolução
e Orientação foram realizadas com igual freqüência. (Freqüência 17).
A seção Coda foi realizada com freqüência 09, enquanto
a seção Sinopse foi realizada com a menor freqüência. (Freq. 08).
Quanto à seção Avaliação, os dados mostram a ausência
desta seção, nesta situação de produção, não figurando em' ne
nhum dos textos examinados. (Freqüência 0).
A análise aponta que a ausência da Avaliação, nesta si
tuação de produção, ê muito significativa, pois indica que e^
ta seção não concorre para a estrutura global da narrativa de
experiência vicária (EV), conforme análise posterior desta se
ção estrutural.
3.4.1 - Avaliação da hipótese 1
Os dados que configuram as matrizes narrativas apresen
tados- nos quadros 1, 2, 3 e 4 permitiram a elaboração do qua
dro 5, apresentado a seguir a fim de se efetuar a avaliação
da hipótese 1, através da confrontação e da análise dos dados.
Freqüência das várias seções que concorrem para a estru
rura global da narrativa produzidas pelos informantes dos grupos
A e B nas duas situações de produção.
Seçoes
Estruturais
Situação
de ProduçãoTotal Grupos
A B
EP
EV
24
11
11
03
13
08
EP
EV
34
34
16
17
18
17
ACEP
EV
40
36
2019
2 017
EP
EV
36 16 2 0
EP
EV
40
36
2 019
2 017
EP
EV
36
13
18
04
18
09
De maneira a avaliar a hipótese 1: os informantes do
Grupo B apresentariam um melhor desempenho na produção da es
trutura narrativa do que os informantes do grupo :A inas duas si
tuações de produção, confrontou-se os dados do quadro 5 que
apontam um desempenho idêntico dos dois grupos quando da reaM
zação das seguintes seções estruturais na situação de produção
EP, conforme pode ser verificado pelas freqüências:
Ação Complicadora - Freqüência 20 (A e B);
Resolução - Freqüência 20 (A e B);
Coda - Freqüência 18 (A e B), e um desempenho
diferenciado na realização das seguintes seções, nesta mesma
situação, conforme pode ser verificado pelas suas freqüências:
Sinopse - Freqüência 11 (A), 13 (B);
Orientação - Freqüência 16 (A), 18 (B);
Avaliação - Freqüência 16 (A), 20 (B).
Ao confrontar-se os dados coletados na situação EV para
a comparação do desempenho dos dois grupos, observa-se um de
sempenho idêntico entre os dois grupos quando da realização
das seguintes seções, conforme pode ser verificado pelas suas
freqüências;
Orientação - Freqüência 17 (A e B);
Avaliação - Freqüência 0 (A e B) e um desempenho d_i
ferenciado quando da realização das seguintes seções, conforme
pode ser verificado pelas suas freqüências:
Sinopse - Freqüência 03 (A); 08 (B)
Ação Complicadora - Freqüência 19 (A), 17 (B)
Resolução - Freqüência 19 (A), 17 (B)
Coda - Freqüência 04 (A), 09 (B).
Os dados apontam desempenho favorável para o grupo A,
na realização das seções Ação Complicadora e Resolução e desem
penho favorável para o grupo B, na realização das seções Sino£
se e Coda. Ê importante ressaltar que o grupo A produziu as se
ções essenciais ã estrutura narrativa em maior número.
Um dado valioso observado foi a igual freqüência reali.
zada para as seções estruturais Ação Complicadora e Resolução
nas duas situações de produção. Isto demonstra que o informan
te realiza simultaneamente estas duas seções, responsáveis pe
lo ciclo de ações conseqüentes e pela recuperação lingüística
do evento em sua seqüencia temporal.
Observa-se, ainda, que tanto os informantes do grupo A
quanto os do grupo B produziram textos narrativos na situação
EP, enquanto que na situação EV, o grupo A produziu 19 textos
narrativos e o grupo B produziu 17 textos narrativos, contra
riando a hipótese levantada, embora a diferença (2 informantes)
não se constitua em número significativo capaz de caracterizar
um melhor desempenho do grupo A nesta situação de produção.
Outro dado importante que o quadro mostra é que a pro
dução de textos não-narrativos ocorreu apenas em situação- de
produção EV, o que leva o analista a considerar que não há d^
ferença significativa de desempenho na produção da estrutura
narrativa entre os dois grupos, uma vez que o fato (produção
de textos não-narrativos) ocorreu em uma situação específica
de produção.
Quanto ao maior número de informantes do grupo B que
produziu texto não-narrativo (3 informantes), já foi levantada
a hipótese, quando da análise qualitativa deste tipo de texto
no item 3.3, desta dissertação, de que o curso que os informan
tes freqüentam (magistério) tenha influenciado ■ sua produção.
O desempenho diferenciado mais significativo entre os
dois grupos ocorreu, na situação EV, na produção das seções es
truturais Sinopse e Coda, o que a análise aponta como não pre
judicial ã estrutura narrativa, já que estas são seções não e£
s enciais ao processo narrativo propriamente dito, porém esta
diferença numérica se constitui em indício que caracteriza
um desempenho favorável ao grupo B, na produção destas duas se
ções.
Apesar da diferença numérica apresentada na produçãc
de algumas seções estruturais da narrativa que indicam desempç
nho diferenciado entre os dois grupos nas duas situações de
produção (especialmente na situação EV), o dado considerado
mais significativo para esta análise foi a produção ou não de
textos narrativos, indicada pelas freqüencias das seções esser
cias ã recuperação do evento em sua seqüência temporal. (Açãc
Complicadora e Resolução). Isto leva ã conclusão de que nãc
ficou caracterizado um melhor desempenho de um dos grupos comc
se esperava e que os informantes, tanto os do grupo A quantc
os do grupo B, já interiorizaram a estrutura narrativa.
3.4.2 - Avaliação da Hipótese 2:
De maneira a avaliar a hipótese 2: os textos
narrativos produzidos em situação EP apresentariam maior com
plexidade estrutural que os textos narrativos produzidos em
situação EV nos dois grupos, buscou-se elementos nos quadros
6 e 7, que serão apresentados a seguir.
Esta hipótese foi levantada a partir do conhecimento
teórico sobre a estrutura narrativa que embasa este estudo.
Para Labov, o texto narrativo produzido em resposta a um est^
mulo que provoque o relato de uma experiência pessoal é mais
complexo porque mais avaliado, já que atribui ã avaliação mui.
tas das complexidades estruturais e sintáticas da narrativa.
Os dados que configuram as matrizes apresentadas nos
quadros 1, 2, 3 e 4 permitiram a elaboração dos quadros 6 e 7 ,
a fim de se efetuar a avaliação da hipótese 2, através da con
frontação e análise dos dados.
Freqüência das varias seções estruturais da narrativa
produzidas pelos grupos A e B nas situações EP e EV.
Situações de Produção
Estruturais EP EV
T A B T A B
S 24 11 13 11 03 08
0 34 16 18 34 17 17
AC 40 20 20 36 19 Í7
A 36 16 20 00 00 00
R 40 20 20 36 19 17
C 36 18 18 13 04 09
T 210 101 109 130 62 68
A partir da confrontação dos dados, efetuou-se a análi.
se comparativa da produção dos dois grupos nas duas situações.
Os dados, deste quadro, mostram maior freqüência das
seções Sinopse, Ação Complicadora, Avaliação, Resolução e Coda
na situação EP nos dois grupos. Apenas, na situação EV, ocor
reu uma maior freqüência da seção Orientação no Grupo A, embo
ra a diferença entre as situações EP e EV, neste caso, não se
ja expressiva; freqüência 16 (EP) e 17 (EV).
A análise aponta freqüência favorável ã situação EP na
maioria das seções estruturais, especialmente na seção Avalia
ção (freqüência 16 no grupo A e freqüência 20 no grupo B na si.
tuação EP e freqüência 0 nos dois grupos na situação EV), e no
total (freqüência 210 (EP) e freqüência 130 (EV)) , o que leva a
concluir que os textos narrativos produzidos em situação EP,
tanto pelo grupo A quanto pelo grupo B, apresentam maior com
plexidade estrutural do que os produzidos em situação EV.
Para prosseguir a avalição da hipótese 2, apresentar-
se-á o quadro 7:
Quadro 7
Freqüência total, índice estatístico e nível de signi
ficância das várias seções estruturais que concorrem para a
estrutura narrativa nas situações EP e EV:
Seções
Estruturais
Situações de produção
EP EV
índice Significância
S 24 11 8,58 sim
0 34 34 0,00 não
AC" 40 36 3,12 não
A 36 00 - sim
R 40 36 3,12 não j.
C 36 13 27,86 sim
A partir da confrontação dos dados deste quadro, efe
tuou-se a análise comparativa para cada seção em particular,
que será apresentada a seguir;
- Sinopse - Tem-se, no quadro 7, : para -esta “^seção
a freqüência 24, na situação EP e a freqüência 11, na
situação EV.
A estes dados apresentados foi aplicado o teste esta
tístico que estabeleceu o índice de significância em 8,58 a
favor da produção EP para esta seção estrutural.
Isto leva a concluir que há diferença significativa
na produção da Sinopse entre as duas situações de produção,
favorável à situação EP.
- Orientação - Tem-se, no quadro 7, para a produção
desta seção freqüência igual para ambas as situações. (Fre
qüência 34 (EP e EV).
A aplicação do teste estatístico estabeleceu o índice
de significância em 0,00, portanto se concluiu que não há di
ferença da seção Orientação ente as duas situações de produção.
- Ação Complicadora - Tem-se, no quadro 7, uma peque
na diferença numérica quando da realização desta seção estru
tural nas duas situações de produção. (Freqüência 40 (EP) e 36 (EV)).
A aplicação do teste estatístico estabeleceu o índice
de significância em 3,12 para este seção estrutural, o que
aponta uma diferença não significativa na produção da Ação
Complicadora nas duas situações de produção.
- Avaliação - Tem-se, no quadro 7, para esta seção e^
trutural, uma freqüência bastante diferenciada, indicada pela
freqüência 36, na situação EP e freqüência 0, na situação EV.
A estes dados não foi possível aplicar o teste esta
tístico devido ã total ausência de freqüência desta seção e^
trutural na situação EV. Porém esta ausência se constitui
num dado altamente significativo quando se estabelece a compa
ração da produção do texto narrativo nas duas situação de pro
dução.
Esta ausência da seção Avaliação, na situação EV, con
firma a posição de Labov de que a narrativa de experiência
vicária não é avaliada e contraria a posição de Lira (1987),
que contesta esta posição do referido autor. No entanto, deve
se atentar para o fato de que esta ausência refere-se apenas
ã Avaliação, como estrutura primária. Na análise qualitativa
apresentada nesta dissertação (item 3.1) e exemplificada com
a narrativa EVA 20 F, mostrou-se a ausência desta seção estru
tural naquela narrativa, porém se mostrou evidências de que
aquela narrativa é avaliada (avaliação, como estrutura secun
dária) e para isto o informante valeu-se de muitos recursos
avaliativos através de elementos lingüísticos variados.
Posto isto, é possível se concluir que a seção Avalia
ção, como estrutura primária, é típica de experiência pessoal,
com isso, entretanto, não se quer dizer que a narrativa de ex
periência vicária não é avaliada, já que neste tipo de narra
tiva pode se encontrar a avaliação, como estrutura secundária.
O estudo da avaliação, como estrutura secundária, será
apresentado no capítulo 4, item 4.2.2.2. desta dissertação,
onde o leitor poderá ter uma apresentação mais detalhada de£
te elemento estrutural da narrativa.
- Resolução - Tem-se, no quadro 7, uma pequena dife
rença numérica quando da realização desta seção estrutural
nas duas situações de produção. (Freqüência 40 (EP) e 36 (EV).
A aplicação do teste estatístico estabeleceu o índice
de significãncia em 3,12 para esta seção estrutural, o que
aponta uma diferença não significativa na produção da Resolu
ção nas duas situações de produção.
- Coda - Tem-se, no quadro 7, para esta seção estrutu
ral, uma freqüência diferenciada favorável a situação EP, ind_i
cada pela freqüência 36 (EP) e 13 (EV).
A estes dados foi aplicado o teste estatístico que e^
tabeleceu o índice de significância em 27,86 na produção des
ta seção estrutural.
Isto leva a concluir que há diferença significativa
na produção da Coda entre as duas situações de produção, favo
rável à situação EP.
Confrontando-se os dados e os índices de significãn
cia, verifica-se que não há diferença na produção Orientação
nas duas situações de produção; que não há diferença signifi
cativa na produção da Ação Complicadora e da Resolução nas
duas situações e que há diferença significativa na produção
das seções Sinopse, Avaliação e Coda, favorável ã situação de
produção EP.
Estas verificações levam à confirmação da validade da
hipótese 2, uma vez que a observação indica \ima maior freqüên
cia das seções estruturais em narrativas de experiência pes
soal e a análise aponta que há maior complexidade estrutural
presente na produção deste tipo de narrativa, entendida esta
complexidade estrutural pela maior freqüência de algumas se
ções estruturais, principalmente pela freqüência da Avaliaçãcv
à qual são atribuídas muitas das complexidades do texto narra
tivo.
Estas constatações levam a concluir que o narrador
produz a estrutura narrativa em situação EP com mais esponta
neidade, devido ã reportabilidade e a credibilidade que quer
imprimir ao fato narrado, quando se utiliza dos mais variados
recursos lingüísticos a fim de pressionar o narratário a com
partilhar seu ponto de vista acerca do fato.
3.4.3 - Conclusões do Capítulo
Após apresentação dos dados, índices e discussão a re^
peito destes elementos, pode se concluir que, ao contrário do
que se esperava, não ficou caracterizado \im melhor desempenho
do grupo B em relação ao grupo A na produção da estrutura nar
rativa, uma vez que ambos os grupos produziram textos narrati
vos na situação EP e apresentaram um desempenho pouco diferen
ciado na situação EV.
0 dado mais significativo considerado nesta análise
foi a produção ou não de textos narrativos, caracterizada pela
freqüência das seções estruturais. Ação Complicadora e Resolu
ção, seções responsáveis pela recuperação lingüística do even
to narrado em sua seqüência temporal.
Apesar da análise apontar desempenho idêntico na produ
ção da estrutura narrativa dos dois grupos, é importante res
saltar que há indícios de diferença de desempenho entre os dois
grupos, favoráveis ao grupo B, referente à produção das seções
estruturais Sinopse e Coda, embora estas seções não sejam e^
senciais ã estrutura narrativa.
A ausência destas seções, especialmente no grupo A, le
va a pensar que, com o amadurecimento lingüístico elas vão se
integrando ã estrutura essencial da narrativa já interiorizada
pelos informantes.
0 conhecimento da estrutura narrativa, por parte dos
professores de língua, poderá contribuir para o desenvolvimen
to destas seções ao longo das etapas de escolaridade, influen
ciando positivamente na aquisição da estrutura global da narra
tiva para que o texto escolar se torne mais completo e adequado.
Já a hipótese 2 foi confirmada, pois os dados apresen
tados nos quadros 6 e 7 apontam uma maior complexidade da nar
rativa de experiência pessoal, uma vez que foi nesta situação
que ocorreu maior freqüência de diversas seções estruturais
nos dois grupos.
A ausência da seção Avaliação na situação de produção
EV nos dois grupos é o dado mais significativo pois atesta uma
maior complexidade estrutural da narrativa de experiência pes
soai.
Esta constatação não ê surpreendente, porque o narra
dor tem a intenção de tornar o seu relato reportável e quando
se trata de reportar um relato de experiência própria ele se
utiliza espontaneamente dos mãis variados recursos lingüi^
ticos de que dispõe para melhorar seu desempenho narrativo.
Ao acionar estes recursos lingüísticos, o narrador aumenta a
complexidade estrutural do seu texto narrativo, produzindo as
várias seções que concorrem para a estrutura global da narra
tiva, o que não ocorre na situação EV, quando sua intenção é
recuperar a experiência do outro em sua seqüência temporal.
A partir das considerações acerca dos dados, efe
tuou-se a análise da estrutura global da narrativa e concluiu
se que a estrutura narrativa forma dois blocos narrativos di£
tintos, quando se procede ao estudo comparativo entre as duas
situações de produção: um bloco formado pelas seções Orienta
ção, Ação Complicadora e Resolução e o outro, formado pelas
seções Sinopse, Avaliação e Coda.
O primeiro bloco narrativo não apresentou diferença
estatisticamente significativa na composição da estrutura nar
rativa nas duas situações de produção, enquanto que o segundo
bloco apresentou diferença estatisticamente significativa a fa
vor da situação EP.
Estas considerações levaram ao estudo destes dois blo
COS narrativos nas duas situações de produção nos dois grupo^
e que será apresentado no capítulo seguinte para uma melhor ca
racterização das várias seções estruturais e da função que de^
sempenham na organização do texto narrativo.
4. SEÇÕES ESTRUTURAIS DA NARRATIVA
Tendo sido analisadas narrativas representantes das
duas situações de produção de narrativa para obter-se uma vi.
são da estrutura global deste tipo específico de discurso, de
acordo com o modelo de análise adotado nesta pesquisa, passa
se, agora, à busca de uma maior caracterização formal de cada
seção estrutural da narrativa.
Buscando apoio no esquema formal fornecido por Labov,
separou-se os diversos enunciados lingüísticos responsáveis
pelas diferentes seções estruturais que compõem a narrativa.
A fim de se classificar um elemento como tendo qual ou tal fun
ção na narrativa, procurou-se distinguir e caracterizer umas
seções estruturais das outras.
A seguir, apresenta-se a caracterização das várias se
ções estruturais da narrativa com base em observação dos auto
res sobre a estrutura dos enunciados de uma narrativa e em ob
servações de fatos lingüísticos encontrados nos textos que for
mam o corpus desta pesquisa.
Esta caracterização parte das considerações já apre
sentadas no capítulo anterior, qual seja:
- a estrutura narrativa é formada por dois blocos nar
rativos distintos: o primeiro, formado pela Orientação, Ação
Complicadora e Resolução e o segundo, pela Sinopse, Avaliação
e Coda.
O Objetivo deste capítulo é analisar um e outro bloco.
Espera-se que ao final desta exposição se possa ter
uma maior compreensão das características das seções estrutu
rais que concorrem para a organização do texto narrativo.
4.1 - Caracterização do bloco narrativo formado pelas
seções: Orientação, Complicação da Ação e Resolu
ção.
A análise destas seções em conjunto está apoiada
nas considerações apresentadas no final do capítulo anterior ,
à guisa de conclusão para as análises elaboradas até aquele mo
mento.
4.1.1 - Orientação
Para classificar as orações de Orienta
ção o modelo adotado leva em conta critérios que talvez não se
jam compatíveis entre si: semântico e formal. São orações de
Orientação por conterem informações de circunstancialidad^ re^
ponsáveis pelas informações de tempo, de lugar, sobre persona
gens e seus hábitos, mas são também por virem no início do tex
/to narrativo e por terem conjunto livre de deslocamento.
Os textos coletados na pesquisa, tanto os de experiên
cia pessoal quanto os de experiência vicária, confirmaram as
observações dos autores sobre esta seção estrutural, porém, le
vando-se em conta a afirmação de Labov de que quando uma oração
de Orientação vem em outros pontos da narrativa ela passa a
ser oração de Avaliação é que se analisará uma oração que apre^
senta informação de orientação, embora não esteja localizada no
início do texto narrativo. Observe-se parte desta narrativa:
EP A 5M;
c Quando eu ia atravessar a rua
d estava distraído
e e não olhei
se vinha algum carro
f e o carro que um fusca
freiou próximo de mim,
h Neste momento eu fiquei
paralizado.
R i o carro quase me atropela
j Este foi um dos maiores
sustos da minha vida,
1 eu tinha apenas sete anos,
Tem.se na oração 1_ "eu tinha apenas sete anos", uma ora
ção que se poderia classificar como de Orientação, já que pode
ser considerada como resposta ã questão subjacente "quando"?,
cuja resposta, segundo o modelo de análise adotado, é considera
da como informação de orientação (pelo critério semântico) so
bre o tempo em que a ação aconteceu e formalmente caracteriza-se
como uma oração livre, uma vez que pode ser deslocada para quajL
quer ponto desta narrativa e continuar sendo verdade que o nar-
dor tinha sete anos quando o fato aconteceu. No entanto, esta
oração (oração 1) foi produzida efetivamente pelo narrador na
seção estrutural Coda, e apresenta-se al estrategicamente, na
narrativa, para ressaltar a importância que o narrador quer im
primir ao fato de ter apenas sete anos na época em que a ação
se desenvolve, o que aponta para o caráter avaliativo desta
oração, e este caráter avaliativo é ressaltado pelo intensifi-
cador apenas, já que que marca o contraste com a idade atual
do narrador. Apreendido o sentido desta oração no processo nar
rativo, nota-se a intenção do narrador em atuar sobre o narra-
tário, mudando a sua opinião em relação ao narrador. Se o nar
rador não passasse esta informação (apenas sete anos), a imagem
do narrador estaria em desvantagem em relação ã sua idade a-
tual, pois distração deste tipo não combina cum um adolescente
mas o narrador ao apresentar estrategicamente esta informação
causa impacto no narratário, que automaticamente aceita a di£
tração como natural para a idade em que a ação efetivamente a
conteceu. Apresentados estes argumentos resta a dúvida: será a
oração 1, um a oração de orientação ou de avaliação?
Se for considerada de Orientação, pelo critério semãn
tico, pois é uma oração que dá informação de orientação, não
pode ser considerada de Orientação pelo critério formal, pois
não ocorre no início do texto narrativo. Parece que o critério
semântico é mais forte e ela não seria classificada de Orienta
ção apenas por estar noutra posição no texto narrativo, por
que não se pensar, então, em sobreposição de funções? Pensa-se
que orações deste tipo atuam no texto narrativo como orienta
ção ao mesmo tempo que avaliam, e esta posição está apoiada na
afirmação do próprio Labov (1972):
"Of course there are complex chainings and em beddings of theses elements, but here we are dealing whith the sirapler forras." ,
(Labov,1972; 372T
Entende-se que a aceitação da sobreposição de funções
por lima mesma oração, num texto narrativo, pode acontecer em
alguns casos e que a oração _1 da narrativa EP A 5M pode ser
um exemplo desta sobreposição de funções, já que esta oração
incorpora simultaneamente as funções de orientar e avaliar ne^
ta narrativa.
Outros exemplos desta sobreposição de funções ' podem
ser observados nas orações abaixo;
EP A 16F:
m tinha bastante gente
EP A 20F:
q Confesso
que naquele intante senti medo.
Débora Schiffrin, analisando a Variação Temporal na
narrativa, verificou que:
"orientation clauses can be embedded in complica ting action to add Information which the hearer needs in order to understand or interpret the significance of adjacently reported events" ~
(Schiffrin, 1981: 48j
Assim, constatou-se que informações de orientação são
passadas pelo narrador durante o desenrolar da ação narrativa,
em pontos estratégicos do texto, e que estas informações de or_i
entação são localizadas de tal modo que fazem avançar o proce^
so narrativo. Observou-se através da análise, que, além da sobre
posição das funções de orientar e avaliar desempenhadas por
uma única oração, são frequentemente usadas pelos narradores o
rações com funções sobrepostas de orientar e fazer progredir o
processo narrativo, conforme pode ser verificado nos exemplos
abaixo;
EPB 23M:
j Andei alguns metros ....
EPA 20F:
0 Após tentativas frustradas ...
EPB 22M:
m Naquelas alturas, não tendo ninguém por perto ...
EVA 13F:
De repente Trapper ouviu alguns ruídos
EVA 7M.
Trapper correu na frente
EPA 14F:
Quando ele seguiu em frente a moça já estava' seguran
do no ferro para subir no ônibus,
EPA 17F.
a Essa noite era noite de natal
EPA 18F;
1 Agora o ônibus está no conserto.
Estes exemplos apresentam orações das quais não se po
de afirmar que sejam orações de Orientação, segundo o modelo
de Labov; no entanto não parece restar dúvidas quanto a sua
interpretação, enquanto também veiculadoras de tal função. A
questão é que, nestes casos, a Orientação se dá em referência
a momentos particulares da narrativa.
É fácil verificar que as orações acima são orações re^
ponsáveis pela recuperação lingüística do evento narrado em sua
seqüência temporal, e ao mesmo tempo, são responsáveis pela in
formação de plano de fundo para a ação que está se desenrolan
do, ficando mais uma vez caracterizada a sobreposição de fun
ções por uma mesma oração no texto narrativo.
Do levantamento das marcas formais recorrentes na Se
ção Orientação, registrou-se o uso freqüente de verbos no Pre^
térito Imperfeito e locuções verbais formadas por estar + ge
•rúndio, projetando como secundárias as ações desta seção que
se constituem em Plano de Fundo para a ação que vai se desenro
lar. Freqüentemente esta seção cumpre a função de introduzir o
processo narrativo. Apresenta as personagens, instala-os num
lugar preciso e os situa numa cronologia, correspondendo ao que
é estático ou equilibrado numa determinada realidade, como po
de ser observado no exemplo abaixo:
EVB 22M:
O
a Trapper era um homem que vivia no Alaska.
b Era um garimpeiro
que morava nas montanhas
c e amava os animais,
d Conversava com eles
e e os alimentava
f Estava sempre admirando o caçador solitário - o Lobo
g Ficava horas observando o destemido
animal relaxando com os filhotes
h Certo dia, o garimpeiro desceu ...
Pode-se constatar claramente que o narrador não está
narrando um acontecimento, mas descrevendo um hábito, onde pre
dominam os verbos no Pretérito Imperfeito e os Verbos de esta
do, denotando o caráter estático desta seção e seu papel de
Plano de Fundo para o processo narrativo.
Somente a partir da oração h é que se tem o início
propriamente do acontecimento. Toda essa parte inicial (a - g)
cobre a função referencial de fornecer elementos de orienta
ção de pessoa, lugar e hábitos.
Estas constatações podem ser observadas também nos e
xemplos abaixo:
EVB 29M:
a Trapper tinha o dom de
falar com os animais
b Gostava muito de andar
pelas montanhas.
EVB 28M:
f Trapper era garimpeiro
g e pagava tudo com ouro.
EPA 4M:
a Eu estava no ponto do ônibus
b esperando o ônibus
EPA lOM;
b Eu estava levando
umas compras para uma freguesa do
super-mercado
onde trabalho
c Eu ia pedalando pelo acostamento.
EPB 22M;
a Num dia ensolarado, calmo e tranqüilo
parecia estar tudo ocorrendo muito bem,
b eu estava vagando num campo de propriedade de meu pai.
c pensando sobre o futuro que parecia obscuro e incom
preensível numa fase importante de minha vida a ado
lescência.
Além dos aspectos já descritos, pode-se verificar que
elementos de orientação vêm muitas vezes constituindo a subor
dinada relativa introduzida pelos pronomes que e onde; e com
alguma freqüência a subordinada adverbial introduzida por conjunções como
I ^
porque e quando, oonforme pode se exenplificar oan as oraçoes a seguir:
EVA 3M;
a Trapper era um homem
que vivia com a natureza
b e gostava dos bichos
que moravam nela.
EVA 6M;
1 Na saída do lugar onde ele
fazia suas compras ...
d Eu vinha rápido
porque estava frio
EPA 17F:
h Quando era detardezinha ...
EVA 12F:
i Quando estava saindo
: tinha um homem ...
EPB 24M:
a Era um dia muito quente
porque era época de verão.
EPB 25M:
c Nós iamos depressa
porque já estavamos atrazados,
4.1.2 - Ação Complicadora e Resolução
Como já foi exposto na seção teórica de^
te trabalho, estas seções são consideradas por Labov como se
ções essenciais à estrutura narrativa por se comporem de ora
ções narrativas típicas (aquelas que apresentam juntura tempo
ral) e portanto, são capazes de recuperar o acontecimento em
sua dinamicidade.
Retomaremos o exemplo apresentado anteriormente (4.1.1)
e a partir deste serão tecidas considerações sobre estas seções:
O<
R
h Certo dia, o garimpeiro desceu
para comprar seus suprimentos,
i na loja encontrou um cartaz
que oferecia dinheiro
para quem prendesse animais para o zoológico,
j e um homem o estava lendo.
1 Seu nome era Frenchy
m O garimpeiro não gostou
n e rasgou o cartaz
dizendo
o que caçar para sobreviver
era uma coisa
p e para exibir era outra
q Frenchy achava
que Trapper era rico
r e queria pegá-lo
s então o seguiu
t No caminho de volta Trapper parou
para conversar com os filhotes de lobo
u e Frenchy resolveu pegá-los na intenção de
ganhar com isso.
V Trapper percebeu o choro dos filhotes
X e descobriu
que estavam em apuros,
z Trapper preparou uma armadilha para Franchy.
aa Frenchy foi apanhado
bb e os filhotes libertados,
Se forem observadas as orações de a a 3 (apresentadas
no item 4.1.1) pode- se verificar que estas orações podem sofrer
deslocamentos entre si, sem que com isso se incorra em prejul
zo da sua significação. Esta é uma das características das o
rações de Orientação. E isso é o que as distingue daquelas da
seqüência narrativa, capazes de recuperar os eventos na ordem
em que ocorreram, pois qualquer alteração na ordem das orações
de h a ^ pode prejudicar a interpretação semântica da ordem
de ocorrência dos eventos.
Apesar das características próprias da seção Orienta
ção, a partir deste momento, ela passará a fazer parte desta
reflexão, pois como já foi apresentado no capítulo anterior ,
esta seção juntamente com a Ação Complicadora e a Resolução
formam um bloco narrativo dentro da estrutura global da narra
tiva.
Retomando a análise, parte-se do raciocínio de que o
narrador controla questões subjacentes ditadas pela sua compe
tência narrativa, que dirige a sua produção. Dessa maneira, u
ma narrativa corresponde inicialmente às questões; "Onde?",
"Quando?", "Quem?", apresentando o acontecimento de forma e^
tável e equilibrada na Orientação, enquanto que nas seções A
ção Complicadora e Resolução, responde às questões, também
subjacentes: " 0 que aconteceu?" e " 0 que aconteceu finalmentá»"
e desempenha função bem definida, qual seja, a recuperação tem
poralmente ordenada dos eventos ocorridos, isto é, recupera o
acontecimento em sua dinamicidade, e entre estas seções se e^
tabelece uma intensa relação de causa/conseqüência. Outro ar
gumento que corrobora a posição de que estas seções mantêm
uma intensa relação, é que apresentaram o mesmo nível de sig-
nificância quando da análise quantitativa.(Ver item 3.4.2)
Embora as seções Orientação, Complicação da Ação e Re
solução possam ser estudadas conjuntamente pela característica
que comungam, a de desempenhar uma função referencial dentro
da globalidade narrativa, há de se entender que são diferentes
as relações tecidas entre os componentes de uma sentença no
grupo de orações da seção Orientação e das orações das seções
Ação Complicadora e Resolução, visto que cada seção desempenha
funções específicas. Cabe à Orientação a referência situacio-
nal, enquanto que ã Ação Complicadora e ã Resolução cabe a re
cuperação dos eventos na ordem temporal em que ocorreram.
Se é possível se considerar como um único bloco narra
tivo a realização destas seções na estrutura global, caberia
perguntar como se dá a transição entre a seção Orientação e a
Ação Complicadora e Resolução?
Na produção da narrativa, verifica-se que a transição
entre estas seções não se dá de forma abrupta,e que a competên
cia do narrador o leva a empregar mecanismos de gradação art_i
culados através de elementos textuais, principalmente expre^
sões adverbiais e expressões verbais que podem servir de ele
mentos demarcativos entre as seções. Estes mecanismos de grada
ção estão freqüentemente presentes nas narrativas escolares e^
critas. Entre os mecanismos de gradação mais usados pelos infor
mantes estão as formas estereotipadas, que são muitas vezes
condenadas na prática pedagógica. 0 conhecimento teórico da e^
trutura da narrativa por professores de língua poderia se tor
nar útil, no sentido de substituir as expressões estereotipa
das, na maioria das vezes desprovidas de conteúdo semântico no
texto (preenchendo ali apenas uma lacuna indicada pelo esquema
narrativo interiorizado pelo narrador), o que tornaria o texto
escolar mais pessoal, claro, atraente e significativo, cumprin
do assim os princípios retóricos e as máximas griceanas na pro
dução do texto escrito. (Ver Kato, 1987: 84).
É freqüente encontrar-se no corpus expressões estereo
tipadas do tipo: "thi dia"f "Certa vez", "Uma vez", "üm certo
dia", "Uma bela manhã", "de repente".
Além destes mecanismos de gradação, as relações ver
bais devem ser vistas como muito importantes no texto narrati
vo, porque é através destas que se dá a progressão necessária
para que se reproduza lingüísticamente uma realidade dinâmica,
uma realidade que se transforma. Por esta razão, nas seções A
ção Complicadora e Resolução, predominam as orações narrativas,
cujo núcleo verbal é constituído de verbos de ação no Pretéri
to Perfeito. Observou-se que a passagem entre a Seção Orienta
ção e estas seções se dá através de transições verbais, sendo
as mais comuns entre o Pretérito Imperfeito/Pretérito Perfeito^
com a mediação de advérbios, de locuções adverbiais ou ainda de
expressões estereotipadas:
EPA 12F.
b embaixo da janela tinha um piso
c quando chegei no chao
EPA IM:
d estava esperando
e de repente um caminhão
começou a bozinhar.
EPA 6M;
b estava se divertindo muito
c estava brincando e tudo o mais
d e então o Paulo perguntou:
EVA IM:
f trocava por mantimentos ...
g Certo dia^ quando ele foi
nesse lugar ...
EVA 3M:
g A ganância dele pela
riqueza era tanta que ele
fazia qualquer coisa pelo ouro.
i E um dia Frenchy foi atrás de Trapper
EPA 16F:
f eu vinha rápido
g e aí escutei um barulho.
EVA 5M:
i os cachorrinhos gostavam muito dele.
j Depois ele foi a um posto ...
EVB IIF;
i 0 Trapper achava outo
j Assim Trapper foi na venda
EVA 14F.
e mas também buscava ouro no riacho
r Certa vez Trapper encontrou ouro.
EPB 31B:
e tudo ia corendo normalmente
f até que chegou uma notícia
0 eu estava meio sem sono
g mas um livro
h e adormeci
EVB 31F:
1 Frenchy era um homem mau.
j Um certo dia, Francchy saiu
para perseguir Trapper
EVB 21M:
d ... não concordava com isso.
e Por isso no dia que Frenchy
apareceu na floresta ...
Constatou-se que a transição verbal também acontece com
estes tempos verbais sem a medição de advérbios ou qualquer e
lemento textual:
EPA 5M:
d estava distraído
e não olhei se vinha algum carro
EPA 8M;
b Eu não tinha estudado
para o teste,
c a professora chegou na sala
EPA 4M:
d Ele vinha em alta velocidade
e e fez uma curva feixada.
EPA lOM:
d e me preparava para atravessar a facha,
e Olhei para um lado, ...
EVA 2M;
c Por todos os lugares Trapper achava ouro.
d Trapper passou num lugar, ...
EVA 9M:
j s5 que Trapper não imagina
que lã tivesse um homem ganancioso
que fazia tudo por ouro.
1 Frenchy o homem ganancioso
pregou \im cartaz .. .
EPA 17F:
b eu ainda mora em Porto Alegre
c Meu pai convidou eu, minhas irmãos e minha mãe para
visitar minha madrinha em Cachoeirinha, ...
EVB 28M;
i Sua época preferida era a da procriação.
j construiram um loja,
Apesar de as narrativas coletadas evidenciarem as obser
vações de Labov sobre as seções Orientação, Ação Complicadora
e Resolução, por este trabalho ter pretensões pedagógica^ pen
sa-se que seja possível falar-se de momentos narrativos na
constituição destas seções estruturais da narrativa, tão im
portantes para a produção deste tipo de texto, o que complemen
taria a proposta de Labov e auxiliaria na aplicação deste mode
lo de análise para a compreensão e prática deste tipo de texto
nas atividades escolares. Uma vez que se tem tratado até o mo
mento a narrativa como um processo, dentro dessa dinâmica pro
cessual propomos considerar-se os seguintes momentos narrati
vos que cumprem dentro da narrativa, uma função referencial:
- momento inicial . que dá conta do caráter estático
da narrativa, apresentando-a em equilíbrio; (na Orientação)
- modelo propulsor - que deixa a dinâmica da narrativa
bem explícita e funciona como elemento propulsor na narrativa;
- momento transformador - onde ocorrem as ações sücedâ
neas que alteram o equilíbrio estabelecido no momento inicial;
- momento final - (já na Resolução) quando ocorre a
passagem para um novo equilíbrio ou um novo momento.
Retomando a análise da narrativa EVB 22M, e consideran
do-se a proposta aqui apresentada, encontrou-se os vários mo
mentos narrativos, como podem ver verificados a seguir: o mo
mento inicial encontra-se nas orações a e 3; o momento propul-
sorna oração h (certo dia, o garimpeiro desceu para comprar man
timentos); o momento transformador estende-se das orações i a
^ e o momento final, nas orações ^ e bb.
Passa-se, agora, â análise da narrativa EPA 6M, também
levando-se em consideração a proposta apresentada;
Oa No verão fui na praia com um colegas
b a gente estava se divertindo muito,
c estava brincando e tudo o mais.
u<
d então o Paulo perguntou
quem queria fazer xaina proposta
que era atravessar o canal
e e eu aceitei
f Entrei na água
g nadei, nadei
i e quando faltava pouco
---fiquei com as pernas duras
j e então a força d'água começou
a me puchar para fora
1 Eu gritei muito
m mas ninguém me ouviu
n eu ia cadaveis mais pro fundo,
o a correnteza ficava cadaveis mais forte
p fui ficando apavorado
q gritei com toda a minha força
r e um colega percebeu
que tinha alguma coisa errada.
s Eu estava desesperado,
t pensavava na minha mãe
u e já estava perdendo as esperanças
R
v quando apareceu um salva vidas
X e me puchou prá terra
z Então eu vejo o Paulo todo feliz
aa Este foi um grande susto
que levei
bb e ainda tive de pagar
a aposta
cc Porque aposta é aposta, não é?
Pode-se constatar que se trata de uma narrativa comple
ta, pois confirma a estrutura prevista pelo modelo adotado (La
bov). Ãs seções estruturais do modelo será acrescida a propos
ta anterior, ou seja, a observação de momentos narrativos. A
análise aponta a existência de momentos narrativos bem marca
dos, nesta narrativa que incorporam as funções de orientar e in^
taurar o processo narrativo em sua dinamicidade, reforçando as
considerações anteriores sobre a sobreposição de funções na
narrativa. Seguindo esse raciocínio, tem-se os seguintes momen
tos narrativos, neste texto;
- momento inicial - aparece nas orações a e c e corre^
ponde â seção Orientação;
- momento propursor:, aparece nas orações d e e e ope
ra como elemento de gradação da passagem da seção de Orientação
para a seção Ação Complicadora, artiiulada pelos elementos tex
tuais: e então e pela transição temporal entre Pretérito Imper
feito e Pretérito Perfeito;
- momento transformador - estende-se da oração e a r ;
- momento final - instala-se nas orações v e
Embora a maioria dos informantes tenha produzido narra
tivas, conforme o modelo adotado, é freqüente encontrar-se, no
corpus, exemplos de narrativas que não apresentam estes diver
sos momentos. Por isso se julga que a proposta de se acrescen
tar ao modelo de Labov a noção de momentos narativos seja impor
tante, no sentido de completar este modelo de análise, e assim
tornar mais válida sua aplicação pedagógica, já que esta noção
de momentos narrativos pode ser aplicada em atividades escola
res de produção textual.
A seguir, será apresentado um exemplo de narrativa em
que os diversos momentos narrativos não estão bem marcados, em
bora apresente as várias seções previstas mo modelo de Labov;
EPA 13F;
a Um dia eu caí da janela
ub embaixo tinha um piso de cimento
c quando chegei no chão
d aí dei um corte bem grande na cabeça
f eu estava muito assustada
R g e fiquei alguns dias no hospital
Este texto pode ser definido como uma narrativa, já que
satisfaz as exigências do modelo de análise adotado, porém é in
consistente, pois os momentos narrativos não estão bem defin^
dos e a progressão narrativa fica prejudicada. Os fatos são nar
rados de forma abrupta e percebe-se que o narrador nao dispõe
de elementos de gradação textual para estabelecer a progressão
narrativa. A noção de momentos narrativos poderia levar ã aqu_i
sição desses elementos textuais que possibilitam o desenvolvi
mento desta gradação narrativa embasada na estrutura narrativa
já presente na produção do narrador adolescente, uma vez que a
recuperação do evento deveria ser feita de momento a momento ,
passando por um processo de equilíbrio / transformação / equilí
brio novo, característico da estrutura narrativa.
4.2 - Caracterização do bloco narrativo formado pelas
seções Sinopse, Avaliação e Coda.
A análise destas seções em conjunto também está apoia
da nas considerações apresentadas no final do capítulo ante
rior, ã guisa de conclusão para as análises elaboradas até a
quele momento.
4.2.1 - Sinopse
Como já foi apresentada na fundamenta
ção teórica, Labov localiza as orações de Sinopse no início das
narrativas e as caracteriza como cobrindo os mesmos fatos tra
tados pela narrativa toda. Nas narrativas constantes do corpus*
desta pesquisa, encontrou-se vários exemplos que confirmam a
Sinopse tal como foi definida pelo autor (Labov; 1972).Aabran
gência referencial deste tipo de Sinopse abarca a seção Ação
Complicadora e Resolução, utilizando-se de elementos anafór^
COS, tais como: "tudo", "isso", "o que", como pode ser verifi
cado nos exemplos abaixo:
a Tudo aconteceu ...
EPB 36F:
a Tudo aconteceu a uns quatro
anos atrás-
EVB 40F;
a Tudo ocorreu no Alaska.
No entanto, encontrou-se alguns casos em que a Sinopse
não esta" iniciando a narrativa, mas é colocada num ponto estra
tégico do texto, intercalada ou após a Orientação, como nos
exemplos:
EPB 30M:
d quando soube
que havia virado um barco ...
EPB 22M;
d Isso aconteceu há cinco anos
atrás.
Além da Sinopse abranger a referência das seções essen
cialmente narrativas (Ação Complicadora e Resolução), pode tam
bém abranger a seção Avaliativa, trazendo embutido o ponto de
vista do narrador, como nos exemplos abaixo:
EPB 26M:
a No dia do meu aniversário
quando fiz sete anos, levei
um susto horrível.
a Eu levei iim grande susto
no dia 20/11/87
EPB 38F:
a Jamais vou esquecer o que aconteceu.
EVB 38F:
a Essa é a história de um homem
que amava a natureza.
EVB 25F:
a 0 filme conta a história de um
homem que gostava de animais.
Além desses aspectos, a Sinopse pode, ainda, apresentar
o grau de engajamento do narrador com o seu texto, objetivando
despertar maior ou menor interesse no narratário para b relato
que vai se desenrolar. Quando o narrador tem a intenção de des
pertar um maior interesse no narratário, ele utiliza marcas lin
güísticas que fazem alusão à situação de interlocução. Estas
marcas enunciativas são freqüentes nas narrativas de experiência
pessoal:
EPA 5M:
a Eu estava vindo da escola
quando levei um susto.
EPA BM:
a Quando eu estava na 6§ série
a professora me pegou colando.
a Este susto que eu vou falar
é de mim e de outras pessoa.
EPB 31F;
a Agora vou contar um susto que aconteceu comigo.
Já nas narrativas de experiência vicária há um maior
distanciamento do narrador em relação ao seu texto, quando o
corre o apagamento do narrador, conforme pode ser verificado
nos exemplos abaixo:
EVB 25M:
a 0 filme conta a história
de um homem que gostava
de animais.
EVB 37F:
a 0 filme relata o episódio
da vida de um amante da natureza.
EVB 38F;
a Essa é a história de um
homem ...,
embora haja um único narrador, que mesmo na narrativa de expe
riência vicária apresenta marcas lingüísticas que apontam para
o seu envolvimento com o texto e com o narratário:
EVA 20F:
a O fato que vou relatar agora
trata-se de uma história
de amor ã vida e ã natureza.
Nas Sinopses produzidas pelos informantes nota-se uma
certa tendência para expressões estilizadas e que se configu
ram como uma introdução à narrativa, conforme pode ser verif^
cado nos exemplos acima.
A seção estrutural Sinopse não é considerada como uma
seção essencial à estrutura narrativa, tanto que Labov consi
dera como bem formada a narrativa que apresenta as seções e^
truturais: Orientação, Ação Complicadora, Avaliação, Reso
lução e Coda.
Assim, a Sinopse constitui-se em mais uma opção de que o
narrador dispõe no universo lingüístico para enriquecer este
tipo específico de discurso.
Nesta seção também se pode falar sobre sobreposição
de funções, visto que a Sinopse, além de resumir o fato a ser
narrado, pode apresentar o ponto de vista do narrador, em re
lação ao fato, acumulando desta maneira a função de avaliar.
4.2.2 - Avaliação
A avaliação depreende-se, segundo Labov
e Waletzky, da atitude do narrador em direção ao narratário ,
no sentido de informá-lo da validade de sua experiência.
Para Labov (1972); "a avaliação é a razão de ser da
narrativa" Esta afirmação do autor deve ser entendida como o
desejo que o narrador possui ao contar algum fato de tornar
seu relato reportável e para isso selecionará o que narrar de
acordo com as pressões sociais exercidas pelo grupo sobre ele.
A sua competência narrativa lhe apontará o que é aceitável ou
não para ser contado para este ou aquele grupo, ou para este
ou aquele narratário.
Durante o relato, o narrador controla a questão subja
cante: "E daí”, que se não respondida adequadamente durante o
seu desempenho, poderá ser feita pelo narratário, o que aponta
rá o seu fracasso enquanto narrador.
A avaliação cumpre na narrativa função avaliativa, d_i
retamente ligada ã interlocução e não está diretamente ligada
ã recuperação lingüística do evento narrado em sua seqüência
temporal. Na verdade, o processo narrativo é suspenso para que
haja avaliação. As orações avaliativas não fazem progredir a
narrativa, antes comentam sobre as orações narrativas.
Quanto àestrutura formal, as orações avaliativas asse
melham-se ãs orações de Orientação. Compõem-se de orações mui
ticoordenadas, formando conjuntos livres ou conjuntos restri
tos a alguns pontos da narrativa.
A Avaliação participa da estrutura global da narrativa
como duas estruturas distintas: A Avaliação, como estrutura
primária e a Avaliação, como estrutura secundária.
4.2.2.1 - Avaliação, como estrutura primária
A Avaliação, como estrutura primária,
localiza-se entre as seções Ação Complicadora e Resolução» Ela
ocorre quando o narrador suspende a ação no seu momento mais
dramático, passando a tecer considerações sobre o acontecimen
to, sobre seus sentimentos, elabora julgamentos, dá depoimen-s
tos, enfim, manifesta uma série de procedimentos subjetivos em
relação ao seu relato.
Freqüentemente o embutimento desta seção entre as se
•ções Ação Complicadora e Resolução se faz através de transições
temporais entre o Pretérito Perfeito/Pretérito Imperfeito / Pre
térito Perfeito, conforme podem ser verificadas em narrativas
já apresentadas em exemplos anteriores, tais como a narrativa
EPA 20F, EPA 12F, EPA 6M.
A avaliação, como estrutura primária, pôde ser consta
tada, nas narrativas coletadas, como típica da narrativa de ex
periência pessoal, constituindo-se como o item de diferenciação
mais significativo ao comparar-se as narrativas coletadas em
situação de experiência pessoal e de experiência vicária, como
pode ser verificado na análise quantitativa dos dados, nesta
dissertação. (Ver item 3.4)
4.2.2.2 - Avaliação^ como estrutura secundária
Relembrando o que já foi colocado na
parte teórica desta dissertação, Labov diz que a estrutura sin
tática básica da oração narrativa é simples e atribui à avali
ação a complexidade sintática das orações que compõem a narra
tiva. Para este autor, ã estrutura sintática básica da oração
narrativa, constituída de elementos, tais como: conjunção, su
jeito, verbo, complementos, advérbios de modo, lugar e tempo,
vão se impor elementos que variam em complexidade e são desv_i
antes da estrutura básica narrativa. Estes elementos, segundo
o autor, possuem força avaliativa marcada e sobre este aspec-
e _
to será enfocada a presente observação.
Considerou-se Avaliação, como uma estrutura secundá
ria, sempre que esta não ocupasse posição fixa entre as seções
^ -
Açao Complicadora e Resolução, podendo estar localxzada em qua^
quer ponto da narrativa.
A Avaliação, como estrutura secundária, pode ser cla^
sificada como:
1. Avaliação Externa
2. Avaliação Encaixada
3. Avaliação Interna
1. Avaliação Externa - é a que mais se assemelha à ava
liação, como estrutura primária, uma vez que suspende momenta
neamente a ação e apresenta a atitude do narrador. A diferença
básica entre elas é que, enquanto esta avalia determinados mo
mentos narrativos, aquela avalia o momento mais dramático da
ação, incidindo esta avaliação sobre a globalidade da narrativa.
Este tipo de avaliação é muito freqüente nas narrativas
de experiência pessoal, como pode ser verificado nos exemplos
abaixo;
EPA 8M;
Quando eu estava na 6â série
a professora me pegou colando
o
<
b Eu não tinha estudado para o teste
c A professora chegou na sala
d e começou a distribuir os testes
f eu olhei as questões
g e vi
que não sabia nada
h Então puxei o caderno devagarinho
i e abri embaixo da carteira
j comecei a copiar.
1 Eu estava muito nervoso,
m suando frio
n parecia
que a professora só olhava para mim
o Continuei colando ...
EPB 28M;
X ... e o cobrador colocou meu irmão
no colo
z e levou-o para a grama
aa Não havia mais nada a fazer
meu irmão já estava morto
EPB 29M:
a Quando eu tinha dez anos
fui pescar com meu pai em alto-mar
O
b De tanto eu pedir para ele
deixar eu ir lâr fora
ele concordou.
EPB SOM:
U
C
ee 0 barco foi tirado do mar com
‘ a união das pessoas,
ff foi uma solidariedade incrível!
o<
e ... de caçar os animais,
f Trapper foi taxativamente brutal
g Quando ele ouviu gritos ...
EPB 31F:
R
o Quando cheguei,
perguntei
p e soube
que ele já havia sido medicado-
q Felizmente estava tudo bem.
EPB 39F;
i e comecei a chorar,
j Não tinha como voltar ã casa,
EPB 38F:
o
n senti um arrepio
o e era
como se alguém estivesse ao meu lado
As orações sublinhadas se constituem em focos avaliati^
vos, que incidem sobre determinados pontos da narrativa, levan
do o narratário a interessar-se pelo relato de forma explícita.
0 narrador, que usa este tipo de avaliação, está consciente da
existência de um narratário e deseja tornar seu relato reporta
vel.
2. Avaliação Encaixada - Este recurso funciona como um
mecanismo de continuidade dramática e visa a tornar mais vivo
o relato da experiência; é o que pode ser verificado no exem
pio a seguir;
EPB 28M;
a No dia 18.10.85 eu estava trabalhando
quando me comunicaram
que um dos meus irmãos havia
sofrido um acidente
u
b No caminho de volta para casa
após ser dispensado pelo patrão
c vi minha mãe
que ia para Laguna no carro
do meu primo,
d Ela não me viu
e e eu fui ficando preocupado
f comecei a imaginar o que
teria acontecido,
g chegando em casa,
perguntei
o que aconteceu aos meus
irmãos
h e eles me explicaram tudo.
i era 1 : 0 hs da tarde
j meu irmão Ariosvaldo estava
brincando
1 e o pai do colega dele
V pediu para ele
ir comprar cigarros,
m Ele não foi numa vendinha próxima,
n preferiu atravessar o asfalto
o e comprar no Restaurante Lagoa,
p Ao atravessar a pista
apareceu um carro marca Alfa Romeo
em uma velocidade não permitida
q meu irmão vendo
que não dava tempo de sair fora,
r isto é, de chegar ao acostamento
s colocou a mão na cabeça
t e não viu mais nada
R
u Com a batida meu irmão caiu no asfalto,
V porêm o ônibus que o carro havia ultrapassado
X viu tudo
z parou
aa e o cobrador colocou o meu irmão no colo
bb e levou-o para a grama,
cc Não havia mais nada a fazer
meu irmão já estava morto.
dd Eu pensei
que fora injusto isto com a minha família
ee mas hoje penso
que foi apenas um imprevisto da vida.
Esta narrativa causou alguns problemas de análise. A
princípio, pensou-se que se tratava de um relato de experiên
cia vicária, pois parecia tratar-se de um relato de experiên
cia de uma outra pessoa (o irmão do narrador), mas como esta
narrativa foi produzida a partir da situação em que se previ
ra a realização de narrativa de experiência pessoal, procurou
-se observar, com todo o rigor, o fato.
A observação levou a perceber que o narrador por estar
por demais envolvido com o relato, visto que é muito pessoal
e dramático, acionou a sua competência narrativa, e isso o le
vou ao encaixamento da avaliação e permitiu-lhe reviver o mo
mento em que tomou conhecimento do fato. O encaixamento da
avaliação se dá através da passagem da fala do narrador para
uma terceira pessoa (eles/seus irmãos) e através do item lexi.
cal "explicaram". Tem-se o encaixamento da avaliação das ora
ções a ccf cobrindo quase que a totalidade do processo nar
rativo. O aparente distanciamento do narrador ao passar a pa
lavra a uma terceira pessoa foi considerado um recurso avalia
tivo altamente eficaz, pois além de tornar o relato mais dra
mático e vivo, descarta a possibilidade de dúvida, por parte
do narratário, quanto ã reportabilidade e credibilidade do fa
to narrado.
Este é o exemplo de encaixamento de avaliação mais pro
longado que se encontrou nas narrativas coletadas, sendo um re
curso utilizado tanto nas narrativas de experiência pessoal,
quanto nas narrativas de experiência vicária, embora seja mais
freqüente nas primeiras.
A seguir, serão apresentados alguns exemplos de encai
xamento da avaliação;
EPB 29M:
e Meu pai olhou para o. céu
f e gritou para os tripulantes
que se apressassem.
EPB SOM;
j e outros gritavam praia
afora; ajudem, ajudem.
EVB 28M:
s viu os filhotes
t e disse Valem tanto quanto ouro
EVB 28M:
11 Então Trapper disse Da próxima vez te mando para
o zoológico.
EPB 34F:
n Quando cheguei perto da minha
casa meu tio falou
que minha avó tinha sido levada para o hospital.
EPB 36F;
1 Então meu pai pediu
que ela pegasse iima toalha.
EPB 36F;
X o médico disse que meu
pai teve uma emorragia.
É freqüente, ainda, o narrador apresentar o que as per
sonagens fazem dentro do processo narrativo em lugar do que
elas dizem. A este recurso avaliativo Labov chama de Ação Ava
liativa e se constitui no mais alto grau de encaixamento da a
valiação, geralmente introduzido por verbos como pensar, saber,
imaginar e esperar, como pode ser observado nos exemplos abai.
xo:
EVA 19F:
i estava só esperando
que ele fosse embora
EPB 22M:
j mas ele não se contentou com isso.
EPB 22M;
m Eu pensei em atravessar a rua para o lado mais próxd.
mo,
EVB 27M:
j ele resolveu colocar uitia armadilha
dd mas Trapper sabia
que tinha algo errado
EVB 29M;
p e percebendo
que ele gostava muito daqueles caozinhos
q resolveu pegá-los
EPB 38F:
V Eu sei que pronunciei
mas a voz não saiu.
EVB 32F:
p pensou: Esses filhotes
valem mais que o ouro
que o Trapper tem!
EVB 36F:
o e então pensou
que ele era muito rico.
EVB 20F:
u Quando viu Frenchy,
ele pensou: S5 existe
uma saída para a cidade.
Os encaixamentos da avaliação, é importante ressaltar,
são inerentes ao processo narrativo e colaboram para a progre£
são da narrativa.
A observação dos encaixamentos da avaliação, nas narra
tivas analisadas, leva a concluir que o narrador - adolescente
jã domina este recurso narrativo, aplicando-o adequadamente no
seu discurso e que este representa mais uma opção para a produ
ção de narrativas.
3. Avaliação Interna - Relembrando o que já foi apre
sentado na parte teórica desta dissertação sobre a estrutura
sintática da oração narrativa, retomar-se-á a afirmação de La
bov sobre a simplicidade sintática da oração narrativa e sua
alusão ao caráter avaliativo de alguns elementos sintáticos ca
pazes de trazer complexidade à estrutura básica destas orações.
Segundo este autor, â estrutura básica da oração narra
tiva vão se impor desvios que variam em complexidade e possuem
força avaliativa. Estes elementos sintáticos, desviantes da, e^
trutura básica da oração narrativa são classificados ,em inten-
sificadores, comparadores, correlativos e explicativos.
A sintaxe narrativa não se constitui em assunto espec_í
fico desta dissertação, por isso serão aqui apresentados ape
nas alguns mecanismos avaliativos que possuemirrpli.cações sintá
ticas a fim de se caracterizar a Avaliação, como estrutura se
cundária, já que o assunto por si só poderia se constituir em
tema de uma dissertação.
Dentre estes mecanismos avaliativos mais marcantes, po
de- se destacar o esquema sintático em que a negação aparece co
mo um comparador, conforme o ponto de vista de Labov (1972) .
Considerar a negação como um comparador dentro da estrutura
narrativa, como o faz Labov, é uma postura inovadora e é o que
se procurará demonstrar, através dos dados, com base nas análi^
ses elaboradas.
Labov questiona por cpe o narrador usa a negação quando
está narrando um acontecimento passado e presumivelmente acon
tecido. 0 próprio autoíf responde a este porquê: o narrador tem
a intenção de avaliar o fato narrado e torná-lo mais dramático
e reportável. Para conseguir seu intento, o narrador lança mão
de esquemas sintáticos, como a negação, que pela lógica da nar
rativa é um comparador, uma vez que coloca, no mesmo nível nar
rativo, elementos distintos e opostos: o negativo eo positivo;
o factual e o virtual. Ao optar por um, o narrador escolhe en
tre dois caminhos narrativos e alternativos, sendo que um deles
pode até interromper o fluxo do fio narrativo, como pode ser
verificado na narrativa EPA 7M {apresentada no item 3).
Nesta narrativa, tem-se, na oração c "mas ele não quiz
ir", a recusa de um convite. Se o amigo tivesse aceitado o con
vite da personagem-narrador, o fluxo do fio narrativo teria s_i
do interrompido e não haveria razão para narrar tal fato, pois
ele simplesmente não teria acontecido. Por esse motivo, Labov
atribui ã negação um caráter essencialmente narrativo e o papel
de comparador. (comparador em relação ao que poderia ter acon
tecido; aceitação do convite).
É freqüente, nos dados coletados, a negação evidenciar
seu caráter de comparador, enquanto apresenta uma ação que de
veria/poderia ter ocorrido e a não realização da ação expressa
pelo narrador, como pode ser constatado nos exemplos abaixo,
em que esse tipo de esquema sintático desviante do padrão nar
rativo básico das orações narrativas se constitui num mecani^
mo avaliativo eficaz:
a Quando ele seguiu em frente
a moça estava segurando
no ferro para subir no ônibus,
0 ele não viu
p e foi levando a moça pendurada
até na outra esquina.
EPA 18F:
j Eu não sofri nada, nem nenhum arranhãozinho.
EPB 21M:
h e aconteceu
o que não estava programado.
• • •
j Em lugar de doces e alegria encontrei rosas fúnebres
e muita tristeza.
EPB 22M:
g Era sem dúvida um terrível boi
h e só pelo fato de eu avistá-lo
proximo a mim
1 já me deixava penotizado,
j mas ele não se contentou com isso
1 e partiu em minha direção.
EPB 23M:
f Eu não queria ir
porque tinha medo de cair.
Nestes exemplos, fica claro que o uso da negação é um
mecanismo de avaliação, compreendido na sua relação com o que
o narrador supõe como verdadeiras justificativas para o aconte
cido.
Perceber a negação como um comparador é mais um passo
para a compreensão da estrutura narrativa, que possui uma orga
nização textual própria e deve ser percebida com tal. Assim co
mo a negação, outros elementos sintáticos podem ser recupera
dos dentro da estrutura narrativa, na qual desempenham papel
notadamente avaliativo, como a interrogação, a explicação, a
quantificação e a correlação.
No caso específico da interrogação, Labov questiona
por, que o narrador faria perguntas, quando está narrando, se
ele sabe o que aconteceu e conclui que a interrogação tem, den
tro da estrutura narrativa, a função de avaliar e pela análise
efetuada pode-se acrescentar que a interrogação é uma marca
lingüística evidente de que o narrador está consciente da si
tuação de interlocução em que está inserido. No entanto, esta
marca é rara nas narrativas coletadas, apenas dois informantes
a usaram;
EPB 38B:
E se aquilo puxasse o cobertor!
0 que seria de mim?
EPA 6M;
Por que aposta é aposta, não é?
0 exposto, com base na análise dos dados coletados, e^
tabelece que mecanismos de avaliação interna dependem direta
mente do narrador, da sua interferência/avaliação sobre o que
ele narra, da sua competência em organizar o seu texto, e rea
lizam-se sob a forma dos mais diversos esquemas sintáticos
que o narrador supõe seja compartilhada pelo seu narratário.
4.3 - Coda
A coda cumpre a função de sinalizar para o nar-
ratãrio que a narrativa está chegando ao fim.
A fim de se caracterizar a Coda examinar-se-á esta
seção estrutural da narrativa EPB 28M:
EPB 28M:
dd Eu pensei
que fora injusto isto para minha família
ee mas hoje penso
que foi apenas um imprevisto da vida.
Nesta Coda, o narrador ao mesmo tempo que finaliza a
narração (enquanto ato de fala) e libera o narratário de seu
papel assumido no início do relato, avalia o fato narrado.
Esta afirmação baseia-se na posição de que o narrador simul
taneamente procura explicar o evento em questão sob um ponto
de vista pessoal, verificável principalmente pelo verbo pen
sar (pensei, penso), através de uma atitude de locução comen
tativa e procura se colocar a partir do momento da enuncia-
ção, deixando evidente que está consciente do seu interlocu
tor (neste caso específico, o narratário), pois comenta dire
tamente para ele.
Percebe-se, neste exemplo, que a Coda está efetiva
mente fora do acontecimento narrado propriamente dito. For
malmente, compõem-se de orações livres que trazem, sem dúvida,
a perspectiva de locução para o momento da, enunciação, confor
me se constata pelo uso do Pretérito Perfeito "pensei" e do
Presente "penso", que aqui se constitui nvima neutralização en
tre o mundo narrado e o mundo comentado.
O uso do dêitico "isto" marca a proximidade do narrador
com o narratário, enquanto que o uso do pronome "eu" evidencia
a relação de envolvimento do narratário com o seu texto. Além
destes aspectos, o narrador usa a conjunção adversativa "mas"
numa clara oposição a sua posição anterior quanto ao fato, o
que se entende seja de caráter avaliativo, pois esta afirmação
parece ser fruto de uma análise do narrador sobre o fato narra
do por ele.
Pela exposição destes elementos, neste caso específi
co, é possível dizer que a Coda além de finalizar a narrativa
e trazer a perspectiva de locução para o momento da enunciação,
cumpre também a função de avaliar. Mais uma vez, nesta exposi
ção, pode se falar da sobreposição de funções de uma seção e^
trutural dentro da estrutura global da narrativa.
Prosseguindo com este estudo, observou-se que o empre
go da Coda não é muito freqüente nas narrativas de experiência
vicária, e os informantes que a empregaram, nesta situação de
produção, objetivam indicar o fim da narrativa e fazer voltar
a perspectiva de locução para o momento de enunciação:
EVA 5M:
11 E assim foi a história
EVA 9M:
11 Esta é a verdadeira história de Trapper
iiun e assim o filme terminou.
EVA 18F:
bb Assim acaba a História de Trapper è os coots.
Os exemplos acima levam a considerar que alguns narra
dores, mesmo em situação de produção de narrativa de experiên
cia vicária sentem necessidade de preencher o esquema, já in
teriorizado por eles, da estrutura narrativa e o realizam sob
a forma de estereótipos. Isto ocorreu muito raramente nas nar
rativas de experiência pessoal, apenas um informante do grupo
A empregou este tipo de Coda;
EPA 18F;
m E assim acabou o susto.
Por outro lado, nas narrativas de experiência pessoal,
o emprego da Coda é bastante freqüente e é ai empregada como
um prolongamento da Resolução, onde o narrador tece comentá
rios sobre o desfecho da ação e marca a oposição entre narra
ção/discurso, justamente por ser a Coda a passagem de lorna si
tuação de fala narrativa para uma situação de fala discursiva,
marcada lingüísticamente pelo uso de dêiticos e pelas transi
ções temporais entre Pretérito Perfeito/Presente:
EPA 9M:
t Este foi um susto
que jamais pretendo esquecer.
EPA 13F:
f Mas tudo não passou de um grande susto que eu espero
que não se repita nunca mais.
EPA 14F:
t O que eu quero dizer com esse assunto para os moto
ristas é que
u quando forem seguir em frente olhar no retrovisor
primeiro para não acontecer mais isso.
EPA 15F:
q Este susto eu não queria levar nunca,
foi um susto e tanto 1
EPA 16F:
t Felizmente foi s5 um susto.
EPA 19F:
i Este foi o maior susto da minha vida.
EPB 23M;
gg Este foi o maior susto da minha infância que até
hoje me lembro muito bem.
EPB 25M;
q Este acidente abalou a cidade
r e foi o maicr susto da minha vida
s jamais esquecerei a terrível imagem daquele corpo
agitado no ar.
EPB 26M;
z Este foi um ato que ficou marcado na minha vida.
t foi só apenas um susto.
EPB 35F:
n Este foi o maior susto
que eu lembro que já levei.
EPB 38F:
jj só sei
que foi o maior susto da minha vida.
Nos exemplos acima, é possível verificar a sobreposi
ção de funções desempenhada pela Coda. Esta . sobreposição de
funções já foi verificada também na narrativa EPB 28M, anal_i
sada anteriormente. Em ambos os casos, os narradores utiliza
ram muitas marcas lingüísticas com a função de avaliar. Estas
marcas lingüísticas são facilmente percebidas por quem acompa
nhou o desenrolar desta exposição e são utilizadas para pre^
sionar o narratário a compartilhar o ponto de vista do narra
dor e comprovam o seu nível de competência narrativa, üm rela
to torna-se mais reportável na medida exata em que for avalia
do.
4.4 - Conclusões do capitulo
Os aspectos apresentados no decorrer desta expo
sição confirmaram que é pertinente considerar-se que a estru
tura narrativa é formada por dois blocos distintos, que devem
ser entendidos pelas suas respectivas funções na situação de
comunicaçao.
O primeiro bloco, formado pelas seções estruturais
Orientação, Ação Complicadora e Resolução, cumpre uma função
referencial, ou seja, cumpre a função de recuperar lingüísti
camente o evento em sua seqüência temporal e apresentá-lo em
uma situação específica através da referência de tempo, de
espaço, de interlocução, compondo dentro da estrutura global
da narrativa- aquilo que é essencialmente narrativo. Este
bloco narrativo detém as propriedade definidoras da narrati.
va e compõe aquilo que é inerente ao processo narrativo ne^
te tipo específico de discurso.
0 segundo bloco, formado pelas seções Sinopse, Ava
liação e Coda, desempenham a função de relacionar o narrador
e narratário, portanto a função desempenhada por este bloco
deve ser entendida mais em seu aspecto discursivo através
das relações que se estabelecem entre narrador e narratário.
Aponta, ainda, o envolvimento do narrador com o seu texto e
seu nível de consciência da situação de interlocução em que
o processo narrativo está inserido.
Este bloco cumpre uma função avaliativa, no sentido
de atentar para as pressões sociais que o grupo exerce sobre
o narrador e compõe aquilo que não é essencialmente narrati
vo, neste tipo específico de discurso.
Em razão de o presente estudo ter pretensões pedagó
gicas, podendo contribuir para a melhoria do processo ensino
-aprendizagem no ensino da redação, em especial da narração,
apresentou-se a proposta de acoplar-se, ao modelo de análise
adotado para a estrutura narrativa, a noção de momentos nar
f ativos para que seja possível recuperar-se o processo nar
rativo de momento a momento, evidenciando a dinâmica proce^
suai de uma realidade que se transforma e é representada por
elementos lingüísticos próprios a este tipo de discurso.
Além disso, durante a exposição, mostrqu-se que a ava
liação ocorre sob várias formas em pontos diversos da estrut£
ra, fato verificável pela realização de funções sobrepostas
nas diversas seções estruturais,o que traz uraa maior comple
xidade ao do texto narrativo. É importante atentar que a aná
lise apontou um maior emprego deste tipo de avaliação nas nar
rativas de experiência pessoal,o que vem reforçar a posição
já apresentada anteriormente de que os textos narrativos- pro
duzidos em situação EP apresentam maior complexidade estrutu
ral do que os textos narrativos produzidos em situação EV.
NOTAS DO CAPÍTULO 4
1. "É claro que há um complexo encadeamento e encaixamento de^
tes elementos, más aqui estamos apresentando-os de forma ampl_i
ficada."
2. "orações de orientação podem estar encaixadas na ação com
plicadora para acrescentar informações que o ouvinte necessi
ta nesta ordem para entender ou interpretar os eventos repor
tados adjacentemente."
5. CONCLÜSAO
Ao longo deste trabalho, estudou-se a estrutura global
de narrativas escolares escritas e procurou-se caracterizar os
elementos lingüísticos das várias seções estruturais para se
obter uma melhor compreensão deste tipo de discurso.
Buscar-se uma caracterização da narrativa, através de
marcas lingüístivas ocorrentes e recorrentes neste tipo de di^
curso, que possibilitem distinguir a função e as peculiarida
des das diversas seções estruturais não é tarefa fácil e muito
menos absoluta em seus resultados. É na consideração do texto
narrativo em sua totalidade, nas relações entre os diversos
elementos que aí aparecem que se procurou compreender a narra
tiva, enquanto um tipo específico de discurso.
Pela análise qualitativa combinada à análise quantita
tiva, que foi o procedimento deste estudo, pode se dizer que
os informantes da presente pesquisa, tanto os do grupo A quan
to os do grupo B, já produzem a estrutura narrativa, principa]^
mente a estrutura essencialmente narrativa, responsável pela
função 2'eferencial.
Por outro lado, a análise apontou que as narrativas
produzidas em situação de produção EP apresentam maior comple
xidade estrutural do que as narrativas produzidas em situação
EV.
Os aspectos apresentados no decorrer desta exposição
levam a considerar que a narrativa é formada por dois blocos
narrativos distintos, cumprindo funções específicas na situa
ção de comunicação.
O primeiro, cumpre uma função referencial, qual seja
a de recuperar o evento ocorrido em sua dinamicidade (recupe
ração da seqüência temporal) e apresentá-lo em uma situação
específica (referência tempo, espaço, personagens, e a própria
situação de interlocução). Este bloco narrativo, formado pelas
seções Orientação, Ação Complicadora e Resolução, ao cumprir
uma função referencial dentro da globalidade da narrativa,
compõe . aquilo que é essencialmente narrativo neste tipo de
discurso.
0 segundo, formado pelas seções Sinopse, Avaliação e
Coda, cumpre uma função avaliativa, compreendendo aquilo que
não é essencialmente narrativo, neste tipo de discurso, e a
função desempenhada por este bloco narrativo deve ser entend^
da mais em função do seu aspecto discursivo através das rela
ções estabelecidas entre narrador e narratário e sua consciên
cia da situação de interlocução, portanto a função deste blo
co deve ser recuperado a nível de discurso.
Pensa-se que as considerações e as análises apresen
tadas, nesta pesquisa, poderão ter repercuss^ pedagógica de
grande valia no ensino de IQ e 2° graus, relacionada princi
palmente ao ensino da redação, em especial da narração, pois
apresenta um referencial teórico aplicado ao produto real co
Ihido ém . situação escolar.
Sugere-se que as atividades escolares de produção tex
tual, especialmente a produção de textos narrativos, sejam
propostas a partir de experiências do próprio educando. Duran
te a exposição deste estudo mostrou-se que o narrador ao re
portar uma experiência própria se utiliza dos mais variados
recursos lingüísticos.
O conhecimento da estrutura narrativa, por parte do
educador, é indispensável pois o desempenho narrativo do edu
cando é o ponto de referência que indicará ao educador as se
ç5es estruturais já interiorizadas, o que possibilitará o de
senvolvimento da competência narrativa do educando, ao fixar
as estruturas que ele já produz e propondo situações para a
aquisição das outras seções que ele ainda não realiza em"suas
produções de narrativas.
Desta forma, o ensino da estrutura narrativa poderá
se tornar um processo gradual de complexidade, influindo na
aquisição da estrutura global da narrativa.
Muito importante, ainda, é não esquecer que o texto
narrativo deve ser produzido numa situação em que o narrador
esteja consciente de que escreve para um narratário, pois a
artificialidade das redações escolares se torna um entrave pa
ra o desenvolvimento da capacidade de expressão do educando.
Espera-se que a leitura desta dissertação, estimule
os professores a conhecerem aspectos teóricos que orientem a
sua prática pedagógica, além dos apresentados aqui, para assu
mirem a sua responsabilidade perante a educação atual, já que
a sociedade hoje está a exigir dos jovens a capacidade de do
minar a escrita como uma das habilidade indispensáveis para
a sua realização profissional e social. Como diz Mello;
"a questão da capacitação do professor e de sua formação cultural mais ampla se coloca com grande relevância. Para a tarefa de ser um dos agentes de mudança da escola e da prá tica pedagógica visando a torná-la adequada ..., o saber fazer técnico constitui cond^ ção necessária porque é a base do querer po lítico, ainda que a dimensão política da ta refa docente não seja percebida com tal".
(Mello; 1982; 141)
Assim sendo, buscar o auto-aperfeiçoamento é tarefa
que se impõe ao educador, para situá-lo como um profissional
que procura solucionar os problemas educacionais e de sua
área específica de atuação através do conhecimento racional
do objeto do seu trabalho, pois não basta ter boa intenção,
é preciso, antes de tudo, ter competência técnica para desen
volver a atividade educacional como uma atividade política,
no sentido de compromisso com a evolução do conhecimento e
da sociedade.
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