ESCRITOS SELETOS
E
ESPIRITUALIDADE EYMARDIANA
Assessor- Pe. Jackson Frota, SSS
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Introdução:
Sejam Bem Vindos Amigos e Amigas de Pe. Eymard!
Na generosidade dos homens de Deus, Pe. Eymard se eternizou com a sua
postura e seu legado escriturístico, bem como, com as suas obras de fundação.
Este legado nos é transmitido das mais variadas formas, desde fotos de seu
perfil, passando por seus escritos de retiros, notas pessoais, orações, experiências
de ascese, bem como o testemunho escrito de seus contemporâneos e atualmente a
produção artística e textual dos seus seguidores e seguidoras pertencentes a família
sacramentina e simpatizantes.
No que se trata do objetivo deste artigo, nos propomos a conduzir os seus
leitores a um primeiro contato e reflexão de dois escritos por demais seletos,
destacamos o escrito do Retiro de Roma datado de (25 de janeiro a 30 de março de
1865) e a grande experiência espiritual do Retiro de São Mauricio em ( 27 de abril
a 02 de maio de 1868), três meses antes de sua morte.
Estas duas experiências encarnadas e transmitidas pelas letras de Pe. Eymard
nos diz muito sobre a Espiritualidade Eymardiana, uma vivencia de encontro pessoal
com Jesus Eucarístico e seus apelos a uma postura mais comprometida com o ideal
de servir ao Mestre na vida apostólica e contemplativa em comunidade.
Nosso interesse maior é frisar algumas passagens, sendo quase que muito
complexo o esforço de querer trazer a tona tudo que foi escrito pelo Apóstolo da
Eucaristia, mas sentimos a necessidade de ressaltar aquelas frases que mais
indicam a espiritualidade que foi sendo delineada por Pe. Eymard nas suas duas
experiências espirituais, e que até hoje servem de módulos de compreensão e
estudo para seus seguidores.
Desejamos que todos os participantes não se limitem ao que se seguem, mas,
sobretudo fomentem o anseio de continuar a leitura e passem a enxergar minuncias
entre as linhas escritas destes dois escritos tão seletos e transparentes da
espiritualidade de um HOMEM TODO DE DEUS, TODO EUCARÍSTICO, e que nos
ensinar a nos alimentar do Cristo Eucarístico para nos cristificar para a mudança
deste mundo.
Boa Leitura!
Pelo Cenáculo de São Benedito.
Pe. Jackson Frota, sss
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Lentes de Compreensão dos Termos:
1º) Escritos Seletos: Textos selecionados através de uma triagem ideológica em vista de
um aprofundamento de determinado pensamento.
2º) Espiritualidade: Qualidade daquilo que é espiritual: a espiritualidade da alma. Teologia
Prática, exercícios devotos que têm por objeto a vida espiritual: livro de espiritualidade.
3º) Espiritualidade Eymardiana: ( nº 4 da RV): Não poderíamos viver a Eucaristia sem
estarmos animados do espírito que levou o Cristo a dar sua vida pelo mundo. Quando o
Senhor anunciou a Nova Aliança aos discípulos, pela doação de seu Corpo e de seu
Sangue, foi por amor que Ele se entregou. Associados à entrega que Ele nos fez de si
mesmo, colocamo-nos a serviço do Reino, realizando a palavra do Apóstolo: “Já não sou eu
quem vivo, é Cristo que vive em mim”.
1.0- POR UMA TIPOLOGIA DOS ESCRITOS:
-Pregação: Documentos de grande valia sobre suas experiências espirituais
compreendidas entre 1856 e 1865, dirigidas a Sociedade dos Servos e das Servas
do Ssmo. Sacramento, além das pessoas que se associavam ao seu apostolado.
-Correspondências: Cartas e anotações que comunicam seu perfil de Pastor,
Religioso e Fundador.
-Notas Espirituais: Confidências de suas meditações espirituais.
- As constituições de seus Institutos: 1859 e 1863.
2.0- Escritos Seletos:
2.1- Retiro de Roma: De 25 de janeiro a 30 de março de 1865
2.2- Retiro de São Mauricio: De 27 de abril a 02 de maio 1868
3.0- No Túnel do Tempo: 3 Ciclos de Compreensão
Primeiro Ciclo- de 1823 a 1839: textos da infância, do seminário do sacerdócio de Pedro Julião Eymard na diocese de Grenoble; Segundo Ciclo- de 1839 a 1856: reúne retiros e anotações de seu período marista; Terceiro Ciclo- de 1856 a 1868: corresponde a sua missão de fundador.
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4.0- O cerne dos Escritos Seletos:
Terceiro Período: 1856-1868
Ao longo de sua vida de fundador, Padre Eymard fez três retiros pessoais.
Correspondem a etapas muito importantes: 1863, no momento da aprovação canônica da
Sociedade do Santíssimo Sacramento pela Santa Sé; 1865, quando está em Roma para tratar
da questão do Cenáculo; 1868, no final de sua vida. Os dois primeiros ocorreram em Roma.
Em razão disso, são chamados comumente 1º Retiro de Roma e o segundo, o Grande Retiro
de Roma. O terceiro ocorre na calma do Noviciado de seu Instituto, em Saint- Maurice-
Montcouronne (Essonne), na periferia sul de Paris, apenas três meses antes de sua morte.
Na diversidade das situações, esses retiros marcam de modo significativo à trajetória
espiritual do fundador: está muito mais cuidadoso em consolidar espiritualmente sua obra
do que em aperfeiçoar as estruturas. Ele executou um considerável trabalho para redigir
constituições e diretórios de seus Institutos. Ao longo desses retiros, consagra-se a uma
reflexão aprofundada sobre si mesmo à luz do Espírito Santo. Consciente de que a vida e a
morte da Sociedade dependem de sua vida, como ele o afirma, apega-se muito mais a sua
santificação pessoal para melhor garantir à sociedade seu crescimento e desenvolvimento.
Na escuta de Deus e na docilidade ao Espírito Santo, recebe luzes e graças que o conduzem
ao topo da vida espiritual. (NUÑEZ e GARREAU, LA GRANDE RETRAITE DE ROME).
5.0- Retiro de Roma: Frustração ou Amadurecimento?
Segundo os autores Nunez e Garreau, ambos sacramentinos, o Grande Retiro de Roma
compreendido entre 25 de janeiro a 30 de março de 1865, situa-se no difícil contexto da
negociação para fundar uma comunidade em Jerusalém, se possível, no Cenáculo. É
chamado comumente de “O Grande Retiro de Roma”, em relação a seu primeiro retiro em
Roma, em 1863. Grande ele o é por sua duração e pela abundância das anotações que
deixou. Grande também por sua importância na vida do fundador.
Os autores supracitados nos dizem que por duas vezes, durante o ano de 1864, Padre
de Cuers esteve em Jerusalém para tentar lançar ali as bases de uma fundação. Há, porém, o
impasse. Padre Eymard decide partir para Roma a fim de acompanhar o problema e, se
possível, fazê-lo deslanchar. Chega a Roma em 10 de novembro de 1864 e fica hospedado no
Seminário francês. Lança mão de todos os argumentos com o Cardeal Barnabò, Prefeito da
Sagrada Congregação da Propaganda, e com Monsenhor Capalti, secretário, para obter êxito
em seu projeto. Toma consciência das dificuldades consideráveis que seu pedido provoca, da
situação quase sem saída em que se encontra. Entretanto, ele espera. Os obstáculos
administrativos multiplicam-se: reenvio do pedido, doença do Cardeal Prefeito, festas de
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Natal... Padre Eymard não abandona seu posto. “Em Roma, se não se empurra, se não se
está ali, vai longe!” (a Padre de Cuers, 2 de dezembro de 1864). Obstinado, ele vai acampar
em Roma até que a sentença seja dada. Aproveita esse repouso forçado para trabalhar na
biblioteca do Seminário francês sobre assuntos que lhe interessam: vida religiosa, eucaristia,
liturgia.
Em 25 de janeiro de 1865, retira-se para a Vila Caserta, junto aos Redentoristas, perto
de Santa Maria Maior. Entra em retiro. Percebe que o combate a ser travado é interior. Vai
permanecer nove semanas no Esquilino.
As anotações que transcreveu dia a dia para seu uso são o testemunho mais
importante de sua experiência de Deus e constituem um belíssimo texto da literatura
espiritual. Expressa com força seu desejo de conversão, a beleza da vocação eucarística, o
cuidado em centrar sua vida na Eucaristia, seu desejo de um dom cada vez mais total de si
mesmo, que encontra seu acabamento na graça do 21 de março com o “Dom da
personalidade”.
Como resumir o “Grande Retiro de Roma” de Padre Eymard? É preciso lê-lo e relê-lo
para colher o movimento de sua alma numa busca ardente de Deus, tendo como fundo uma
questão totalmente temporal. No final, deve renunciar à “conquista do Cenáculo” para
acolher como um dom “o Cenáculo interior”. A partir de então, um novo caminho abre-se
em sua vida e apostolado.
Em 30 de março, esgotado, Padre Eymard deixa Roma. Retorna pelo caminho dos
Alpes, detém-se em Lyon onde goza da hospitalidade da Senhora Jordan e chega a Paris no
dia 8 de abril, às vésperas do Domingo de Ramos, para as celebrações da Semana Santa.
6.0- Temas Essenciais dos Escritos do Retiro de Roma:
O desejo de construir um fio condutor de entendimento desta grande experiência da
Espiritualidade Eymardina, cremos de suma importância estruturar de forma esquemática os
principais temas-assuntos que levaram diariamente ao Pe. Eymard a escrever como que um
diário espiritual. Notamos a cada dia uma preocupação, um estiíulo, sentimentos aceitos e
notificados como, por exemplo: tristeza, alegria, dia ruim, dia tenso, preocupação,
consolação, desolação e sonhos a serem alcançados.
Segue para melhor compreensão em ordem a datação e o principal assunto que
corresponde ao espírito do escrito a punho pelo Pe. Eymard, notemos em 65 dias:
1 25 de Janeiro de 1865 QUE VENHA TEU REINO EUCARÍSTICO
2 26 de Janeiro de 1865 SOBRE SÃO PAULO
3 27 de Janeiro de 1865 MEDITAÇÃO SLENCIOSA- DOENÇA
4 28 de Janeiro de 1865 PECADO X JESUS CRISTO: MEUS PECADOS X PAIXÃO DE CT
5 29 de Janeiro de 1865 DOAÇÃO A NOSSO SENHOR
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DOAÇÃO DE SI MESMO E CONSEQUENCIAS
6 30 de Janeiro de 1865 LEVIANDADE DE ESPIRITO A MEDITAÇÃO, ORAÇÃO E EXAME DE CONSCIENCIA: DISSIPAÇÃO E INSENSIBILIDADE DE CORAÇÃO.
7 31 de Janeiro de 1865 CAUSAS E REMÉDIOS: A) ARIDEZ DO CORAÇÃO; B) DISSIPAÇÃO DO ESPIRITO; C) BONDADE DE DEUS;
8 01 de Fevereiro de 1865 VOCAÇÃO EUCARISTICA; VIRTUDE CARACTERISTICA DE UM ADORADOR; MOTIVOS DE ANIQUILAMENTO DE JESUS DO SSMO.
9 02 de Fevereiro de 1865 A) APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO; B) OFERENDA DE JESUS CRISTO; C) RENOVAÇÃO DOS VOTOS COM JESUS ; D) DOM DE SI MESMO
10 03 de Fevereiro de 1865 PRESENÇA DE DEUS
11 04 de Fevereiro de 1865 A CONSOLAÇÃO DE DEUS
12 05 de Fevereiro de 1865 A GRAÇA DO BATISMO X CARNE, INIMIGA DO ESPIRITO
13 06 de Fevereiro de 1865 CARÁTER DA VIDA DE JESUS CRISTO
14 07 de Fevereiro de 1865 MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO: A) CRIAÇÃO B) SANTIFICAÇÃO
15 08 de Fevereiro de 1865 EVANGELHO DE SÃO JOÃO
16 09 de Fevereiro de 1865 UNIÃO: QUESTIONAMENTO SERÁ QUE DEUS ME AMA? MOTIVOS DO AMOR DE DEUS POR MIM
17 10 de Fevereiro de 1865 SERÁ QUE AMO A DEUS? SOBRE O CENÁCULO ADORAÇÃO
18 11 de Fevereiro de 1865 SERVIÇO INTERIOR
19 12 de Fevereiro de 1865 MISÉRIA DO MEU ESPIRITO
20 13 de Fevereiro de 1865 MODÉSTIA EXTERIOR
21 14 de Fevereiro de 1865 MODÉSTIA- VIRTUDE ( GRANDE LUZ DO RETIRO)
22 15 de Fevereiro de 1865 CASTIDADE: A) IMITAÇÃO DE CRISTO B) CASTIDADE DO CORAÇÃO
23 16 de Fevereiro de 1865 IMITAÇÃO DE CRISTO E COMPARAÇÃO CONSIGO (sofrido)
24 17 de Fevereiro de 1865 ESPIRITO DE NOSSO SENHOR
25 18 de Fevereiro de 1865 JESUS HUMILDE DE CORAÇÃO
26 19 de Fevereiro de 1865 POBREZA DE JESUS
27 20 de Fevereiro de 1865 POBREZA ESPIRITUAL
28 21 de Fevereiro de 1865 SERVIÇO DE JESUS CRISTO VOCAÇÃO EUCARISTICA SERVIÇO EUCARISTICO DE PE. EYMARD
29 22 de Fevereiro de 1865 SER SERVO
30 23 de Fevereiro de 1865 TRABALHAR SOB NOSSO SENHOR
31 24 de Fevereiro de 1865 SER MINISTRO DE JESUS CRISTO
32 25 de Fevereiro de 1865 A SOCIEDADE E EU: A CIDADE E NECESSIDADE DE DEUS
33 26 de Fevereiro de 1865 ADORAÇÃO
34 27 de Fevereiro de 1865 ADORAÇÃO
35 28 de Fevereiro de 1865 ADORAÇÃO
36 01 de Março de 1865 PENITÊNCIA
37 02 de Março de 1865 REGRA DE VIDA E VIRTUDE
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38 03 de Março de 1865 ESTATISTICAS DOS QUE NÃO PROFESSAM A FÉ EM JESUS
39 04 de Março de 1865 EUCARISTIA COMO CENTRO
40 05 de Março de 1865 CENTRO DE VIDA
41 06 de Março de 1865 ALÉM DO CENTRO DE VIDA
42 07 de Março de 1865 SERVIÇO RELIGIOSO
43 08 de Março de 1865 PRESENÇA DE DEUS AFETUOSA E REGULADORA
44 09 de Março de 1865 POBREZA DO RELIGIOSO EM NOSSO SEHOR
45 10 de Março de 1865 RAZÕES DA SANTA POBREZA
46 11 de Março de 1865 A SSMA. VIRGEM: SUBMISSÃO E JESUS MESTRE
47 12 de Março de 1865 MANSIDÃO INTERIOR E EXTERIOR DE JESUS
48 13 de Março de 1865 SILENCIO DE JESUS MANSIDÃO EUCARISTICA MEIOS DE OBTÊ-LA
49 14 de Março de 1865 DEUS AMOR
50 15 de Março de 1865 SILÊNCIO, PACIÊNCIA, HUMILDADE E CONFIANÇA
51 16 de Março de 1865 LEIS
52 17 de Março de 1865 VIDA E JESUS PARA MIM (EYMARD)
53 18 de Março de 1865 PAIXÃO DE NOSSO SENHOR
54 19 de Março de 1865 SÃO JOSÉ E AS SUAS SETE DORES
55 20 de Março de 1865 VIDA DA SAGRADA FAMILIA
56 21 de Março de 1865 CRUZES DOS SANTOS VOTO DE PERSONALIDADE
57 22 de Março de 1865 UNIÃO DE NOSSO SENHOR
58 23 de Março de 1865 UMA VIDA DE UNIÃO COMO ALIMENTO
59 24 de Março de 1865 JESUS COMO HÓSPEDE DO HOMEM
60 25 de Março de 1865 ANUNCIAÇÃO
61 26 de Março de 1865 PRIMEIRA ADORAÇÃO DA VIRGEM AO VERBO ENCARNADO ADORAÇÃO DAS QUARENTA HORAS
62 27 de Março de 1865 JESUS COMO REI
63 28 de Março de 1865 ADORAÇÃO E ABANDONO
64 29 de Março de 1865 MILICIA EUCARISTICA E VIA-SACRA
65 30 de Março de 1865 OFERENDA E FORÇA
6.1- Vestígios da Espiritualidade Eymardiana:
1 25 de Janeiro de 1865 QUE VENHA TEU REINO EUCARÍSTICO:
Propósitos necessários: 1º Estar inteiramente entregue à ação do momento. Na tentação, no devaneio, colocar a mão no coração ou lançar um olhar para o crucifixo ou para o altar ou beijar o chão. 2º Trabalhar somente para minha santificação pessoal, mediante exclusão absoluta de todas as pessoas e coisas. No que me interessa todo o resto? Em que isto me beneficia ou é de vantagem para Deus em mim? 3º Totalmente voltado para a graça do momento e somente a ela.
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2 26 de Janeiro de 1865 SOBRE SÃO PAULO:
Admirei com que bondade Nosso Senhor espera Saulo às portas de Damasco e o arrasa em sua misericórdia, no momento em que Saulo estava mais furioso; com que doçura lhe fala, o chama duas vezes pelo nome, lhe faz uma admoestação genérica, sem detalhes humilhantes. Esse “duro” anuncia que há bastante tempo a graça o perseguia em vão.
3 27 de Janeiro de 1865 MEDITAÇÃO SLENCIOSA- DOENÇA:
Estado de espírito bastante recolhido, porém árido.
Minha alma está vazia de Deus. Eu não sinto mais Deus em mim, a não ser quando Ele me golpeia.
Por que este vazio? O mal provém de meu espírito sempre ocupado com as coisas externas, com coisas que o absorvem ou com estudos que eu amo. Não pertenço a Deus interiormente.
4 28 de Janeiro de 1865 PECADO X JESUS CRISTO: MEUS PECADOS X PAIXÃO DE CT
Como fui imprudente à medida que caminhava no sacerdócio, na função e como o bom Deus me protegeu! Na verdade, eu não o merecia. Percebi que em todos meus pecados a base foi sempre a vaidade. A própria vaidade me corrigiu frequentemente até mesmo me preservou! Vi que jamais me doei totalmente a Deus, mesmo no fundo de mim mesmo, eu com Deus, Deus comigo, por mim, para mim, a glória de seu serviço, a doçura de sua paz. Pequei como o Anjo. Roubei de Deus sua glória. Explorei sua graça. Coroei-me de sua bondade, de seu amor.
5 29 de Janeiro de 1865 DOAÇÃO A NOSSO SENHOR DOAÇÃO DE SI MESMO E CONSEQUENCIAS
Vi como não me doei a Nosso Senhor, ao Santíssimo Sacramento, a não ser pela dedicação do amor, pelo serviço, o culto, o zelo. Aí encontrava a natureza seu elemento, a vaidade e a atividade do espírito também.
6 30 de Janeiro de 1865 LEVIANDADE DE ESPIRITO A MEDITAÇÃO, ORAÇÃO E EXAME DE CONSCIÊNCIA: DISSIPAÇÃO E INSENSIBILIDADE DE CORAÇÃO.
Percebi que a leviandade é à base de meu caráter e de
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minha maneira de agir nas coisas que não são de minha escolha ou de meu agrado.
1. Meu coração é leviano porque vive do sentimento do momento, não sendo alimentado pela verdade permanente e pessoal. Meu coração aflora inteiramente, corre atrás da paz, do sentimento de Deus, ama falar de Nosso Senhor, de seu amor porque isto lhe traz benefícios. Oh! Como meu coração tem necessidade de Deus, tem fome de Deus, teria necessidade de chorar aos pés de Deus. No entanto, meu espírito inquieto, leviano, inconstante arrasta-o por toda a parte ou o atordoa com suas conversas exteriores ou o cansa e o tumultua por sua imaginação.
7 31 de Janeiro de 1865 CAUSAS E REMÉDIOS: D) ARIDEZ DO CORAÇÃO; E) DISSIPAÇÃO DO ESPIRITO; F) BONDADE DE DEUS; G)
Quanto à aridez de meu coração, vi que era a consequência natural de meu espírito dissipado, sempre vagando. É verdade que meu coração poderia viver de Deus, do santo recolhimento, da vida em Deus, em Nosso Senhor.
8 01 de Fevereiro de 1865 VOCAÇÃO EUCARISTICA; VIRTUDE CARACTERISTICA DE UM ADORADOR; MOTIVOS DE ANIQUILAMENTO DE JESUS DO SSMO.
Como o bom Deus me amou! Conduziu-me pela mão até a Sociedade do Santíssimo Sacramento! Todas minhas graças foram graças de preparação. Todos meus estados, um noviciado! Sempre dominou o Santíssimo Sacramento.
9 02 de Fevereiro de 1865 E) APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO; F) OFERENDA DE JESUS CRISTO; G) RENOVAÇÃO DOS VOTOS COM JESUS ; H) DOM DE SI MESMO I)
Renovei meus votos com Jesus e o dom de mim mesmo entre suas mãos a fim de que tenha hoje alguma coisa a oferecer, a dar a seu Pai, os frutos de sua redenção e de seu amor. Pobre de mim! Trinta anos de sacerdócio e vinte e quatro anos de preparação. Que frutos deu ao Mestre este campo regado com tantas graças? Cultivado com tantos cuidados? “Espinhos e ervas daninhas” (Gn 3, 18). Diante disso, como me senti angustiado!
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Renovei o holocausto da vida religiosa, particularmente meu comportamento em relação a fulano, minha fala sobre mim e sobre tudo aquilo de glorioso em minhas obras, conhecimentos, irmãos.
10 03 de Fevereiro de 1865 PRESENÇA DE DEUS
Fiquei pensando que tudo vai evaporar e desaparecer se não trabalhar habitualmente na presença de Deus, que é condição absoluta para mim, a fim de manter meu espírito controlado, atento às ordens Dele, meu coração na bondade de seu serviço e de seu amor, minha vontade a sua disposição, meu corpo, respeitoso.
11 04 de Fevereiro de 1865 A CONSOLAÇÃO DE DEUS
Nem sempre está nas mãos do homem seu caminho, mas pertence a Deus consolar e presentear com a graça quando, quanto e a quem Ele quiser. Tudo como agrada a Ele, nem mais nem menos.
12 05 de Fevereiro de 1865 A GRAÇA DO BATISMO X CARNE, INIMIGA DO ESPIRITO
Meditei sobre a graça inteiramente gratuita e misericordiosa do santo batismo que recebi. Percebi o que ele significa: uma recriação em Nosso Senhor Jesus Cristo, uma segunda vida em Jesus Cristo, mas em Jesus Crucificado.
13 06 de Fevereiro de 1865 CARÁTER DA VIDA DE JESUS CRISTO
Nosso Senhor veio para restaurar todas as coisas Nele. Ele é, ele se fez para nós nosso caminho, nossa verdade, nossa vida. Ora, para restaurar em nós, é preciso começar por submeter a carne ao espírito e o espírito a Deus. É preciso dominar a carne pela força porque ela não tem fé, nem esperança, nem mesmo razão: segue unicamente seus apetites desregrados. E quando o próprio espírito é conivente com ela, então ocorre a total rebelião. É o que acontece em mim, mas de outra maneira, mais sutil e mais ilusória. É que a natureza é religiosa e se reveste de certa aparência de virtude. Meu amor-próprio encontrou o meio de ser o amor de Deus
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14 07 de Fevereiro de 1865 MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO: A) CRIAÇÃO B) SANTIFICAÇÃO
Na Encarnação, considerei três coisas: 1ª.
1º-Deus quer ser desejado, seu desejo desapega e preserva do mundo, excita o amor.
2ª. 2º-A vida de Maria na Encarnação. Estava totalmente concentrada em seu divino fruto, no Emanuel, princípio, centro e fim de sua vida. Sua ocupação interior consistia inteiramente em admirar seu estado de humilhação, de louvar sua bondade, de adorá-Lo, de amá-Lo e de servi-Lo. Por toda parte, ela se sentia feliz com seu Bem-Amado. 3ª. Vida de Jesus na Encarnação. Jesus adorava seu Pai em seu estado de humilhação, frágil, submisso, prisioneiro. Agradecia-lhe os benefícios cada vez maiores com sua idade, suas forças naturais.
15 08 de Fevereiro de 1865 EVANGELHO DE SÃO JOÃO
Comungamos o corpo e o sangue de Nosso Senhor a fim de nos unirmos mais intimamente a seu espírito, a sua alma, a suas obras, a suas virtudes, a seus méritos, enfim, a sua vida divina. Nós nos alimentamos para nos fortalecermos.
16 09 de Fevereiro de 1865 UNIÃO: QUESTIONAMENTO SERÁ QUE DEUS ME AMA? MOTIVOS DO AMOR DE DEUS POR MIM
É preciso a união, mas como chegar a isto? É bastante simples: pela própria união! Por que tenho necessidade de tantas resoluções, de detalhes, de pesquisas espirituais? Tudo isto serve apenas para distrair o espírito. É preciso penetrar em Nosso Senhor.
17 10 de Fevereiro de 1865 SERÁ QUE AMO A DEUS? SOBRE O CENÁCULO ADORAÇÃO
Será que eu amo a Deus? Deus me ama, eis uma verdade consoladora. Maria me ama, eis minha esperança. No entanto, será que amo Nosso Senhor?
18 11 de Fevereiro de 1865 SERVIÇO INTERIOR ( Ser Família Divina)
Foi uma boa meditação! Eu estava em meu [estado] de graça. Estamos ligados ao serviço de família, a um serviço íntimo,
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ao serviço da própria pessoa de Jesus Cristo Sacramentado, para, consequentemente, permanecer com Ele, como os anjos que fazem sua corte e estão sempre prontos a todas suas ordens.
19 12 de Fevereiro de 1865 MISÉRIA DO MEU ESPIRITO
Como o bom Deus foi generoso comigo! Jamais consegui compreender meu mal em trabalhar sempre pelos outros, estudar, pregar, aconselhar e tudo o mais sob o pretexto da glória de Deus, para fazer o bem!
20 13 de Fevereiro de 1865 MODÉSTIA EXTERIOR
Questionei-me por que não sou modesto. É porque perco a visão da presença de Deus, não rezo e, então, a liberdade, a negligência dos sentidos é que interessa. Está muito claro que é uma grande mortificação, visto que sofro. Por que, então, não fazer diante de Deus aquilo que se faz em razão das normas da boa educação e do respeito no mundo? Por que não sou modesto nas ruas? Eu o sou nas coisas indiferentes e mesquinhas. Contudo, sou curioso, e essa curiosidade tem sua fonte na vaidade. Quero ver para estudar, para falar. Isto é vaidade das vaidades. Frequentemente minha vaidade custa caro, a dissipação, as imagens, as distrações e frequentemente as tentações.
21 14 de Fevereiro de 1865 MODÉSTIA- VIRTUDE (GRANDE LUZ DO RETIRO)
Enfim, Nosso Senhor fez-me conhecer e entender que a virtude soberana de um adorador é a modéstia!
22 15 de Fevereiro de 1865 CASTIDADE: C) IMITAÇÃO DE CRISTO D) CASTIDADE DO CORAÇÃO E)
Agradeci a Nosso Senhor ter conservado minha virgindade no estado secular, minha castidade no sacerdócio e meu voto na vida religiosa. Percebi que graça Nosso Senhor me concedeu! Apesar de minhas imprudências, de minha naturalidade, de minhas vaidades e essa falta de cuidado em relação à simpatia.
23 16 de Fevereiro de 1865 IMITAÇÃO DE CRISTO E COMPARAÇÃO CONSIGO (sofrido)
Acordando esta manhã, muitas vezes me veio à mente este pensamento da Imitação de Cristo: É estranho que não te
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abandones todo a mim, que não confies de todo o coração, com tudo o que podes desejar ou possuir... Levantando-me, prostrei-me até o chão e implorei luz e graça.
24 17 de Fevereiro de 1865 ESPIRITO DE NOSSO SENHOR
Pois bem! Será, portanto, Nosso Senhor meu mestre, que deseja formar-me, fazer sociedade comigo. Sinto que está tudo aí e não existe nada, além disso: a graça, a paz, a liberdade, a vida. Sinto que estou em casa, estando sob o comando de Nosso Senhor. Ele me fez ver bem isso!
25 18 de Fevereiro de 1865 JESUS HUMILDE DE CORAÇÃO
Meditei sobre Jesus humilde de coração. Comecei por renovar meu dom da personalidade, agradecer a meditação da tarde, suplicar esse espírito de mansidão de Nosso Senhor. A mansidão, porém, é à flor da humildade. Eis por que Nosso Senhor põe os dois: o coração e a humildade de coração. A humildade de coração, eis a árvore que produz a flor e o fruto da mansidão.
26 19 de Fevereiro de 1865 POBREZA DE JESUS
O espírito, a virtude, a vida de Jesus é um espírito, uma virtude, uma vida de pobreza absoluta e perpétua. Meditei sobre essa pobreza. Considerei o Verbo encarnado desposando-a em Belém e começando por tudo aquilo que a pobreza tem de mais humilhante, a morada dos animais, de mais rude, o estábulo, a manjedoura, a palha, o frio, à noite, longe de toda moradia, de todo socorro.
27 20 de Fevereiro de 1865 POBREZA ESPIRITUAL
Um pensamento que muito me tocou durante esta meditação é que o espírito de pobreza religiosa deve ser o remédio natural para meu defeito dominante: a vaidade, a cobiça dos meios e cuidados ou de sucessos, a sensualidade de espírito.
28 21 de Fevereiro de 1865 SERVIÇO DE JESUS CRISTO VOCAÇÃO EUCARISTICA SERVIÇO EUCARISTICO DE PE. EYMARD
Por minha vocação eucarística e por meu estado religioso estou ligado ao serviço da pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, não é a um santo, nem a um anjo, nem mesmo ao serviço da Santíssima Virgem que estou destinado, o que seria muito honroso e bom, mas à pessoa de Nosso Senhor, e ninguém tem direito a meu serviço, senão Nosso
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Senhor Jesus Cristo Sacramentado.
29 22 de Fevereiro de 1865 SER SERVO
Devo ser de Nosso Senhor, como Ele é de seu Pai, pois foi para comunicar-nos sua vida divina que o Verbo se fez carne.
30 23 de Fevereiro de 1865 TRABALHAR SOB NOSSO SENHOR
Nosso Senhor honrou-me ao chamar-me para trabalhar na Sociedade do Santíssimo Sacramento. Não poderia ter proporcionado a mim tamanha honra, embora se servisse da pessoa mais indigna e mais desprezível do mundo. Para tal Sociedade seria necessário o primeiro príncipe do mundo, o sacerdote mais perfeito, o religioso mais exemplar.
31 24 de Fevereiro de 1865 SER MINISTRO DE JESUS CRISTO
As pessoas não são atraídas a uma Sociedade religiosa pelo conforto, ciência e pelas qualidades exteriores, pessoas autossuficientes cujo espírito, o egoísmo tem seu alimento preparado. As santas vocações são a ela atraídas pela graça da santidade, pelas complacências de Deus numa Sociedade religiosa.
32 25 de Fevereiro de 1865 A SOCIEDADE E EU: A CIDADE E NECESSIDADE DE DEUS
Minha graça é uma graça interior. Além disso, não sei conter-me, proteger-me e calar-me no meio do mundo. Parece que a expansão com Nosso Senhor me torna ainda mais falante com os outros.
33 26 de Fevereiro de 1865 ADORAÇÃO
De imediato, constatei dois defeitos em minhas adorações: Pensamentos muito vagos, adoração de zelo. Na adoração, não se trata, ó minha alma, de ser apóstolo, nem Superior. É preciso ser simplesmente adorador
34 27 de Fevereiro de 1865 ADORAÇÃO
Minha meditação foi melhor que a de ontem de manhã.
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Estive mais piedoso e mais atento ao acordar, evitando o perigo de deixar meu espírito abrir-se para as coisas do mundo ou impróprias. Comecei a meditar sobre os sentimentos comuns da ação de graças, de minha vocação, da felicidade de estar ligado ao serviço pessoal de Nosso Senhor.
35 28 de Fevereiro de 1865 ADORAÇÃO
Devo observar a regra religiosa e, principalmente, a regra pública, tão bem como qualquer religioso, porque sou religioso antes de tudo. Estou tão obrigado a isso como qualquer outro. É a vida de minha alma e tenho necessidade de alimentá-la. Tenho que praticar as virtudes religiosas de meu santo estado e seria muito infeliz e castigado se não tivesse o direito e o mérito. Por isso, quando falto a uma regra por minha culpa, peco contra Deus, contra a Sociedade e contra mim mesmo.
36 01 de Março de 1865 PENITÊNCIA
Considerei Deus impondo a penitência a nossos primeiros pais culpados.
37 02 de Março de 1865 REGRA DE VIDA E VIRTUDE
A obediência à regra deverá ser minha primeira virtude, pois é somente por ela que sou religioso ativo, que glorifico a Nosso Senhor como religioso e até mesmo cumpro meu dever, obrigado a duplo título à edificação de meus irmãos. Agir por outro motivo seria a mais perigosa ilusão, pois seria incidir na própria liberdade caprichosa e estar sempre assim no casual e no particular.
38 03 de Março de 1865 ESTATISTICAS DOS QUE NÃO PROFESSAM A FÉ EM JESUS ( Graça de Reparação)
Constatei que Nosso Senhor não é amado pelos cinco milhões de pagãos, 50 milhões de judeus, 55 milhões de cismáticos, porque eles não o conhecem ou o conhecem muito mal. Oh! Entre tantos milhares de criaturas amantes, quantas
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haveriam de amar Jesus se o conhecessem tanto quanto eu! E eu deveria, pelo menos, amar Jesus em seu lugar e por elas!
39 04 de Março de 1865 EUCARISTIA COMO CENTRO
Para que existe a Eucaristia? Para que ela seja o centro do amor do homem.
40 05 de Março de 1865 CENTRO DE VIDA
A Sagrada Eucaristia é meu centro natural, sobrenatural e final por estado de vocação.
41 06 de Março de 1865 ALÉM DO CENTRO DE VIDA
Não existe outro centro senão Jesus e, para mim, Jesus Eucaristia.
42 07 de Março de 1865 SERVIÇO RELIGIOSO
É verdade que, para melhor servir Nosso Senhor, praticamos duas coisas do conselho evangélico:
1º Nós nos colocamos em vida de Sociedade. 2º Observamos as leis religiosas.
Tudo isto para desempenhar mais perfeitamente o serviço regular da adoração, do culto e do apostolado da divina Eucaristia.
43 08 de Março de 1865 PRESENÇA DE DEUS AFETUOSA E REGULADORA
Da grande liberdade que dou a minha alma, a seus pensamentos naturais e, então, sou arrebatado qual uma folha que o vento leva.
44 09 de Março de 1865 POBREZA DO RELIGIOSO EM NOSSO SENHOR
Meditei sobre a pobreza afetiva de Nosso Senhor. Constatei que, sem a prática, a pobreza afetiva é pouca coisa.
45 10 de Março de 1865 RAZÕES DA SANTA POBREZA
A pobreza em si não é estimável nem amável por si mesma, pois ela é uma privação, um castigo.
46 11 de Março de 1865 A SSMA. VIRGEM: SUBMISSÃO E JESUS MESTRE
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Agradeci a Nosso Senhor ter-nos dado uma mãe tão pura, tão santa, tão grande; de tê-la feito sua divina mãe, a fim de dá-la a nós com seu título de filho, com seus méritos, suas graças.
47 12 de Março de 1865 MANSIDÃO INTERIOR E EXTERIOR DE JESUS
Meditei sobre a mansidão de Nosso Senhor constituindo a base de seu caráter, seu espírito e sua vida. Jesus pratica a mansidão em toda sua vida exterior. Essa mansidão é como o suave perfume de sua caridade e santidade.
48 13 de Março de 1865 SILENCIO DE JESUS MANSIDÃO EUCARISTICA MEIOS DE OBTÊ-LA
Que belas coisas Nosso Senhor poderia ter dito para ensinar e consolar. No entanto, não disse, escutou os outros, assistiu às instruções da sinagoga, dos escribas, dos doutores da lei, como um simples israelita e da última classe do povo. Ele poderia ter repreendido, corrigido. Ele não o fez. Não era a hora.
49 14 de Março de 1865 DEUS AMOR
Jamais amarei nem poderei amar meu Criador como Ele me amou, porque não sou eterno, infinito, onipotente como Ele. Devo amá-Lo pelo menos durante todo o tempo de minha vida, com todo meu ser, com todo o poder de minhas obras. Nada de mais justo. A colheita pertence ao Senhor. O servo serve seu amo, o devotado filho serve seus pais além do amor. Por isso a ti estendi meu favor.
50 15 de Março de 1865 SILÊNCIO, PACIÊNCIA, HUMILDADE E CONFIANÇA
A ciência do mundo é fazer falar as pessoas, usar sua linguagem, comprometê-las, engajá-las na luta.
51 16 de Março de 1865 LEIS
Perscrutei quais as leis que deveria seguir no governo de meu ser em relação à vida sobrenatural. Nosso Senhor dignou-se esclarecer-me sobre o caminho a seguir e o modo de me conduzir com meu corpo, meu espírito e meu coração.
52 17 de Março de 1865 VIDA DE JESUS PARA MIM (EYMARD)
Ele pensa em mim em toda a parte onde se acha no Santíssimo Sacramento, em todas as santas hóstias onde está, bem como no céu, em seu trono de glória, finalmente como Deus sempre e em toda parte.
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53 18 de Março de 1865 PAIXÃO DE NOSSO SENHOR
É bem certo que Nosso Senhor conhece todos meus pecados, que Ele os via no jardim das Oliveiras e que os aceitou para expiá-los. Que Ele chorou sobre minhas ingratidões e por todos meus pecados, que foram mais sensíveis a seu coração do que os dos outros, porque Ele me amou mais.
54 19 de Março de 1865 SÃO JOSÉ E AS SUAS SETE DORES
Nosso Senhor concedeu-me uma grande graça neste dia, a de inspirar-me o pensamento suave e forte de consagrar-me especialmente e todo inteiro a São José como pai, líder, guia e protetor. Há tanta semelhança entre nossas duas vocações.
55 20 de Março de 1865 VIDA DA SAGRADA FAMILIA
Jesus era o alimento contínuo da vida de amor e de união de Maria e José. Eles se sentiam tão felizes em contemplá-Lo, ouvi-Lo, vê-Lo trabalhar, obedecer, rezar. Tudo fazia com tanta perfeição.
56 21 de Março de 1865 CRUZES DOS SANTOS VOTO DE PERSONALIDADE
Não há santo que não tenha sido crucificado pelo mundo, que não tenha sido crucificado por si mesmo e por Deus de modo admirável. Principalmente os santos Apóstolos e os fundadores das ordens religiosas foram os que mais sofreram. Fundar é cavar a terra do próprio coração, cortar as pedras, martelá-las, cimentá-las, uni-las, tirá-las de seu estado bruto, poli-las, privá-las da própria liberdade e da própria forma.
57 22 de Março de 1865 UNIÃO DE NOSSO SENHOR
Meditei sobre a união de Nosso Senhor conosco, união que
deve ser a vida de meu voto de personalidade. “Perfeita
abnegação de si”.
Renúncia da própria vontade;
desapego do interesse próprio; generosidade com sacrifício;
altruísmo, isenção.
A abnegação é uma das virtudes de uma alma caridosa.
58 23 de Março de 1865 UMA VIDA DE UNIÃO COMO ALIMENTO Meu Deus! Como viver da vida de união? Vi num lampejo que o meio único e especial era alimentar e fortificar o homem interior
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que é Jesus Cristo em mim, concebê-Lo, fazê-Lo nascer e crescer por todas as ações, leituras, orações, adorações e em todos os relacionamentos da vida. Para isto, é preciso renunciar continuamente a essa personalidade de Adão e viver sob a dependência de Jesus interior.
59 24 de Março de 1865 JESUS COMO HÓSPEDE DO HOMEM
Nosso Senhor é, pois, o hóspede de minha alma e de meu corpo, pois mora em mim.
60 25 de Março de 1865 ANUNCIAÇÃO
Meditei sobre o amor de Deus pelo homem decaído, sobre o amor do Pai dando seu Filho único na Encarnação para tornar-se semelhante aos homens, seu irmão segundo a carne. A escolha de uma forma de vida humilde, pobre e sofredora durante todo o tempo de sua vida mortal.
61 26 de Março de 1865 PRIMEIRA ADORAÇÃO DA VIRGEM AO VERBO ENCARNADO ADORAÇÃO DAS QUARENTA HORAS
Eis aqui meu modelo, minha mãe Maria! A primeira adoradora do Verbo Encarnado.
62 27 de Março de 1865 JESUS COMO REI
Adorei Nosso Senhor Rei em seu trono, Rei de amor, todo amor, todo doação. Agradeci-lhe toda honra e graça que me concedeu de ser adorador de ofício, sozinho. Dei-me inteiramente a seu serviço e a sua glória. Em seguida, minha alma pôs-se a considerar essa divina realeza em si mesma e quanto ela custou ao divino Rei.
63 28 de Março de 1865 ADORAÇÃO E ABANDONO
Como sou tão frio, tão natural ante essa sarça ardente, esse Sinai de amor, sobre esse Tabor perpétuo? Ai de mim! Infelizmente sou ainda tão terrestre! Sou tão humano! Eu me dou e me tomo sem cessar. Oh! meu Deus! Já é tempo de soltar esse grilhão ou de romper essa amarra que me retém preso à margem. Sede minha sabedoria. Concedei-me o dom da fortaleza. Só Vos peço essa graça, esse presente.
64 29 de Março de 1865 MILICIA EUCARISTICA E VIA-SACRA
Nosso Senhor tem três exércitos: 1º O primeiro é aquele que trava suas batalhas em meio ao mundo: são os pastores e os fiéis. 2º O segundo são os ministros, os embaixadores, os
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enviados plenipotenciários. São os missionários apostólicos, plenipotenciários da misericórdia, os defensores de seus direitos, os apóstolos da verdade, de seu amor. “Que as pessoas nos considerem como ministros de Cristo e administradores dos mistérios de Deus” (1 Cor 4,1). 3° O terceiro exército é o que está a serviço de sua pessoa adorável, constituindo sua guarda, sua corte, sua família; numa palavra, formando sua casa. É a milícia mais honrada e a mais amada.
65 30 de Março de 1865 OFERENDA E FORÇA
Pedi a graça, o dom e a virtude da força:
força na mansidão e paciência;
força na observância da regularidade e disciplina;
força nos quatro votos. No entanto, é a força que provém do amor. “Porque o amor é forte como a morte”
7.0- Retiro no Noviciado de São Mauricio: Consolidação e Despedida
De 27 de abril a 2 de maio 1868, Pe. Eymard se retira para o noviciado de seu
Instituto em Saint Maurice-Montcourrone. Ele encontra um grupo de jovens noviços
aos quais ele profere uma conferência, mas ele vem em primeiro lugar para
repousar, se recolher e orar.
Pe. Eymard está com 57 anos. É um homem totalmente doado ao ministério,
atravessa provações de saúde e dificuldades recentes: o abandono do Pe. de Cuers,
seu primeiro companheiro, o doloroso fechamento da comunidade das Servas em
Nemours com suas consequências financeiras, morais e espirituais e também
provações interiores nas entrelinhas de suas notas.
As jornadas são divididas em três meditações de uma hora, duas pela manhã,
das 6 às 10 horas e uma após o meio-dia, às 3h. Suas notas são sóbrias e sucintas.
Evocam seu estado, relembram as graças que recebeu, refletem sobre a ação
profunda do Espírito Santo a partir do voto da Personalidade (Cf. NR 44). Este último
retiro, três meses antes de sua morte ocorrida em 1º de agosto de 1868 em La Mure,
sua cidade natal, é como um testamento: na noite do espírito, a ação de graças e o
abandono na confiança. (Fonte: Publicado em: São Pedro Julião Eymard, Retiros de São Maurício
(27 de abril-2 de maio 1868); de E.C Nunes. E em: São Pedro Julião Eymard, Retiros e notas espirituais
pessoais. Ed. A. Guitton, vol. II, Roma, 1996, p. 130-150).
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8.0- Temas Essenciais dos Escritos do Retiro de São Mauricio:
O desejo de construir um fio condutor de entendimento de mais uma experiência da
Espiritualidade Eymardina, cremos ser de suma importância estruturar os principais temas-
assuntos que levaram ao Pe. Eymard a viver em três meses antes de sua morte e a se retirar
para a casa de noviciado em San Maurice, escrevendo um itinerário espiritual capaz de
estimular a montagem de retiros futuros a todos que se aventuram a se inspirar na
espiritualidade eymardiana.
Segue para melhor compreensão em ordem a datação e o principal assunto que
corresponde ao espírito do escrito a punho pelo Pe. Eymard, notemos em 06 dias:
1º dia: Segunda 27 de Abril de 1868 AÇÃO DE GRAÇAS
2º dia: Terça 28 de Abril de 1868 A SSMA. VIRGEM; O FOGO EUCARÍSTICO; SOBRE RENOVAÇÃO;
3º dia: Quarta 29 de Abril de 1868 A PRIMEIRA CAUSA- ESPIRITO; AÇÃO DE GRAÇAS; DOM DO ESPIRITO; SILÊNCIO;
4º dia: Quinta 30 de Abril de 1868 HUMILDADE E SEU INIMIGO; EXAME E NATUREZA DESTE INIMIGO; AMOR PRÓPRIO;
5º dia: Sexta 01 de Maio de 1868 VIRTUDE A HUMILDADE DE JESUS; CONTRIÇÃO; ORAÇÃO DE VIDA;
6º dia: Sábado 02 de Maio de 1868 PECADO DO ORGULHO NATURAL; SERVIR A DEUS;
8.1- Vestígios da Espiritualidade Eymardiana:
1º dia: Segunda 27 de Abril de 1868 AÇÃO DE GRAÇAS Ao me oferecer esta graça do retiro, Deus me dá a maior prova de seu amor por mim: - pois ao me permitir estar perto dele, me concede uma prova de sua misericórdia. - pois me concede a graça da oração: ele quer me ouvir, me santificar; - pois ele quer me falar, revelar-se, manifestar-se a mim na oração: ele quer me tratar como um amigo do coração.
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2º dia: Terça 28 de Abril de 1868 A SSMA. VIRGEM; O FOGO EUCARÍSTICO; SOBRE RENOVAÇÃO; Quantas graças Deus me deu até hoje! Como ele me amou! Ao extremo. O que me negou? Nada. O que não me daria no presente! Eu o amo pouco, e ele me ama com ternura.
3º dia: Quarta 29 de Abril de 1868 A PRIMEIRA CAUSA- ESPIRITO; AÇÃO DE GRAÇAS; DOM DO ESPIRITO; SILÊNCIO; - combater com paciência e humildade, invocando sem cessar o espírito de Jesus em mim. - que seu Divino Espírito cresça e se fortifique em mim à medida que decrescer o meu amor próprio. - que em tudo exista paciência e verdade e a virtude da liberdade do espírito, combatendo com todas as minhas forças o espírito de independência, de antipatia das pessoas, escutar com caridade e não por vontade, nem por sacrifício .
4º dia: Quinta 30 de Abril de 1868 HUMILDADE E SEU INIMIGO; EXAME E NATUREZA DESTE INIMIGO; AMOR PRÓPRIO; - Humildade de superior: ele deve ser o mais humilde, estando mais próximo de Nosso Senhor Jesus Cristo: seu primeiro ministro, seu confidente, homem de sua confiança e glória. É servir-se deste título para ir ao encontro dos grandes, buscando somente o sucesso exterior da Sociedade, não destacando as qualidades exteriores de seus membros, o lado exterior da sociedade.
5º dia: Sexta 01 de Maio de 1868 VIRTUDE A HUMILDADE DE JESUS; CONTRIÇÃO; ORAÇÃO DE VIDA; Jesus desposou a humildade. Ele a ama e a honra. É através dela que ele nos cura, nos santifica, nos glorifica. Ela é arca da aliança divina, a medida de nossa união com ele.
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6º dia: Sábado 02 de Maio de 1868 PECADO DO ORGULHO NATURAL; SERVIR A DEUS; - pecados do espírito: vaidade pessoal
- pecados do coração: confiança necessária, vaidade guardada, fraqueza na perseverança.
- pecados da vontade: preguiça nos deveres que perturbam o amor-próprio, que contrariam uma ação simpática, que humilham.
- pecados exteriores: pouca disposição para as contrariedades.
ATIVIDADES EM GRUPO:
a) Vivência e Reflexão dos Escritos ( Dinâmica)- Oficina de leitura ;
b) Video:
Impressão Externa sobre Pe. Eymard e sua Espiritualidade (TV Aparecida- SP);
c) Cruzada em formação de 02 cartas- Nossos Escritos Seletos.
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Conclusão:
Diante da alma escrita de Pe. Eymard pedimos luzes ao Espírito de Deus para
compreendermos e aplicarmos nas nossas vidas uma espiritualidade mais
eucaristizada.
Na aproximação dos dois Textos Seletos: retiro de Roma e o retiro de San
Maurice surge aos frequentadores do II Encontro de Eymardieneidade o desafio de
se transportar historicamente para um tempo em que a santidade não era só desejo,
mas, sobretudo, era necessidade para dar uma resposta radical a sociedade. E hoje,
teríamos coragem de escrever e transmitir nossas experiências de intimidade com
Deus?
Desejamos que todos os irmãos e irmãs eymardianos levem consigo uma
proposta: Descobrir entre as linhas escritas de Pe. Eymard uma nova forma de viver,
celebrar e comunicar a virtude da ação de graças- EUCARISTIA.
Sempre atual, a Espiritualidade Eymardiana, passa de um imobilismo para um
movimento que invoca ação social, mística e renovação, bastando tão somente,
encontrarmos o espelho para vislumbrarmos o Eu em si mesmo, Jesus em Mim
mesmo, e Eu em Jesus- Um Corpo Eucarístico:
"O grande mal de nossa época é que não vamos a Jesus Cristo
como a seu Salvador e a seu Deus. Abandona-se o único
fundamento, a única fé, a única graça da salvação... Então o que
fazer? Retornar à fonte da vida, mas não ao Jesus histórico ou ao
Jesus glorificado no céu, mas sim ao Jesus que está na Eucaristia.
Temos que fazê-lo sair de seu esconderijo para que possa de novo
colocar-se à cabeça da sociedade cristã... Que venha cada vez mais
o reino da Eucaristia: Adveniat regnum tuum!"
(Fonte:http://comunidadecatolicagratidao.blogspot.com.br/2010/11/fra
ses-de-sao-pedro-juliao-eymard.html) Acesso em 22 de agosto de 2012.
Referências:
GUITTON, A. São Pedro Julião Eymard, Retiros e notas espirituais pessoais. Vol. II, Roma, 1996.
GUITTON, A. Pierre Julian Eymard, Apôtre de l´Eucharistie, Vozes: São Paulo, 1997.
NUNES, E. C. São Pedro Julião Eymard, Retiros de São Maurício. Vol. V (27 de abril-2 de maio 1868).
http://coracaomistico.blogspot.com/2008/04/so-pedro-julio-eymard-1811-1868.html
( Acesso em 22 de agosto de 2012)
http://servosdaeucaristiasse.blogspot.com.br/2012/07/biografia-de-sao-pedro-juliao-
eymard.html ( Acesso em 23 de agosto de 2012)
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