1
Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa
COORDENAO GERAL DE PS-GRADUAO
COORDENAO DO MESTRADO EM CINCIAS DO
CUIDADO EM SADE
ANDRA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES
O CUIDADO COM A SADE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE NIBUS URBANO
EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO
Niteri - RJ
Dezembro/2011
http://www.uff.br/
2
ANDRA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES
O CUIDADO COM A SADE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE NIBUS URBANO
EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado
Acadmico em Cincias do Cuidado em Sade
da Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para obteno do Ttulo de
Mestre.
Linha de pesquisa: Cuidados coletivos em Enfermagem e Sade nos seus processos
educativos e de gesto.
Orientadora: Prof Dr. ZENITH ROSA SILVINO
Niteri RJ
Dezembro/2011
3
R 696 Rodrigues, Andra Maria dos Santos.
O cuidado com a sade auditiva em motoristas de nibus
urbano em uma empresa de transporte coletivo no Rio de
Janeiro / Andra Maria dos Santos Rodrigues.
Niteri: [s.n.], 2011.
92 f.
Dissertao (Mestrado em Cincias do Cuidado em Sade) -
Universidade Federal Fluminense, 2011.
Orientador: Prof. Zenith Rosa Silvino.
1. Audiologia. 2. Audiometria. 3. Audio. 4. Perda auditiva.
5. Sade do trabalhador. 6. Enfermagem
CDD 617.8
4
ANDRA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES
O CUIDADO COM A SADE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE NIBUS URBANO
EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado
Acadmico em Cincias do Cuidado em Sade
da Universidade Federal Fluminense como
requisito parcial para obteno do ttulo de
Mestre.
Aprovado em 12/12/2011.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________________
Prof Dr Zenith Rosa Silvino Presidente
Universidade Federal Fluminense
______________________________________________________________________
Prof Dr Mrcia Cavadas Monteiro 1 Examinadora
Universidade Federal do Rio de Janeiro
______________________________________________________________________
Prof Dr Elaine Antunes Cortez 2 Examinadora
Universidade Federal Fluminense
______________________________________________________________________
Prof Dr Heidi Elisabeth Baeck 1 Suplente
Universidade Veiga de Almeida - RJ
______________________________________________________________________
Prof Dr Ftima Helena do Esprito Santo 2 Suplente
Universidade Federal Fluminense
5
Dedico este trabalho a minha filha Beatriz que
com sua alegria de criana me contagia.
Atravs de seu olhar posso ver um mundo
melhor e cheio de novas perspectivas.
6
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeo a Deus, quem me capacita todos os dias da minha vida,
sozinha nada poderia fazer. Toda honra e toda glria sejam dadas a Ele.
Ao meu marido Marcelo, pelos momentos de apoio e incentivo e que com muito amor
entendeu os momentos de ausncia e sempre confiou em mim, meu companheiro nesta
caminhada.
Aos meus pais Horcio e Lda pelo suporte e auxlio em todos os momentos que
precisei para concluso de mais uma etapa em minha vida. Obrigada por acreditarem sempre
em mim.
A amiga e fonoaudiloga Jssica Novais pela amizade, ajuda e apoio e pelas palavras
de encorajamento.
A minha orientadora Dra Zenith, pelos ensinamentos, pela pacincia e por ter me
possibilitado crescer no meio acadmico.
A todos os professores do Mestrado Acadmico em Cincias do Cuidado em Sade
pela ajuda na construo de novos saberes e pelo estmulo a pesquisa. Em especial as
professoras Dra Ftima Helena e Dra Snia Mara.
As professoras componentes da banca examinadora Dra Mrcia Cavadas, Dra Heidi
Baeck e Dra Elaine Cortez, obrigada pelo carinho e disponibilidade.
Aos meus colegas de turma do Mestrado Acadmico em Cincias do Cuidado em
Sade, to especiais, cada um na sua essncia, foi muito bom nosso convvio nesse perodo.
Em especial agradeo pelas novas amigas que conquistei nesses anos com as quais
dividi muitos momentos de alegrias e de ansiedade: Mnica Simes, Glaucimara Riguete, e
Luana Pestana.
A amiga e fonaoudiloga Andra Carielo pela cooperao e pelo companheirismo.
Em especial aos motoristas de nibus pela disponibilidade e ateno.
A empresa de transporte coletivo que autorizou a realizao do estudo, contribuindo
para construo deste trabalho.
Ao inspetor de trfego e ao funcionrio do Setor de Recursos Humanos da Empresa de
transporte coletivo, pois sempre estiveram prontos a colaborar com a pesquisa.
A todos que direta ou indiretamente estiveram presentes e acompanharam a elaborao
desta pesquisa, meu sincero agradecimento.
7
O temor do Senhor o princpio do
conhecimento, mas os insensatos desprezam a
sabedoria e a disciplina.
(Provrbios 1:7)
8
RESUMO
Trata-se de uma pesquisa desenvolvida junto ao Mestrado Acadmico em Cincias do
Cuidado em Sade que tem como objeto de estudo o cuidado com a sade auditiva em
motoristas de nibus urbanos, considerando que a sade auditiva um dos aspectos
fundamentais para a comunicao humana. A pesquisa fundamentou-se nos pressupostos
tericos da audio, na rea da sade do trabalhador e na perspectiva do cuidado em sade,
pois cuidar da sade do trabalhador buscar espaos e condies de trabalho saudveis
fazendo com que sua atividade diria seja cada vez menos prejudicial, tanto no campo fsico
quanto no campo psquico. Os objetivos do estudo foram: identificar a existncia de variao
nos limiares auditivos dos motoristas de nibus atravs das audiometrias ocupacionais ao
longo de trs anos consecutivos; verificar os saberes dos motoristas de nibus urbano em
relao aos riscos de exposio ao rudo e sobre o cuidado com sua sade auditiva; descrever
o Programa de Conservao Auditiva da Empresa de Transporte Coletivo; e discutir aes de
cuidado com a sade auditiva para compor o Programa de Conservao Auditiva. A
abordagem metodolgica utilizada foi um estudo de caso em uma empresa de transporte
coletivo localizada na Cidade do Rio de Janeiro. A caracterizao do estudo observacional,
do tipo coorte, que significa a seleo de indivduos conforme o status de exposio, sendo
acompanhados para avaliao da incidncia de doena. Para anlise dos dados estatsticos
foram utilizados como mtodos: ANOVA de Friedman para verificar a existncia de variao
significativa nas audiometrias, ao longo de trs anos consecutivos; o teste de comparaes
mltiplas de Nemenyi, para identificar quais os anos que apresentam diferenas significativas
entre si; e o teste dos postos sinalizados de Wilcoxon para verificar a existncia de variao
na audiometria entre as orelhas, direita e esquerda. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comit de
tica e Pesquisa do Hospital Universitrio Antonio Pedro da Universidade Federal
Fluminense (HUAP/ UFF) sob CAAE - 6141.0.000.258-10. Os resultados da pesquisa
apontam que existem variaes nos limiares auditivos dos motoristas de nibus ao longo de
trs anos consecutivos, separadamente, por orelha. Comparando-se os limiares da orelha
direita e esquerda observou-se que a orelha direita no apresentou diferenas significantes nas
frequncias analisadas dos exames audiomtricos realizados, porm a orelha esquerda
apresentou diferenas significativas em trs frequncias (500 Hz, 1000 Hz e 3000 Hz).
De acordo com a Classificao da Portaria 19 (1998), evidenciou-se que houve uma reduo
do nmero de motoristas com exame de referncia dentro dos limites de normalidade, em
relao ao terceiro ano observado (exame sequencial). Cabe ressaltar, que a ocorrncia das
classificaes de agravamento ou desencadeamento de Perda Auditiva Induzida por Rudo
(PAIR) no foram identificadas na amostra avaliada.
Destaca-se que os motoristas de nibus em sua maioria no possuem conhecimento sobre os
riscos de exposio e cuidados com a sade auditiva, advindos da falta de informao. Esse
estudo aponta que a atuao do fonoaudilogo atravs de aes de cuidado inseridas no
Programa de Conservao Auditiva imprescindvel para promover a sade auditiva no
ambiente de trabalho.
Descritores: Audiologia, audiometria, audio, perda auditiva, sade do trabalhador,
enfermagem.
9
ABSTRACT
This is a survey developed along the Academic Masters in health care sciences that have as an
object of study the hearing health care in urban bus drivers, since the hearing health is one of
the fundamental aspects to human communication. The survey was based on theoretical
assumptions of the hearing, in the area of workers' health and the prospect of health care
because care of workers' health is seeking spaces and healthy working conditions causing
their daily activity to become less and less harmful, both in physical and psychic field. The
objectives of the study were to: identify the existence of variation in auditory thresholds of
bus drivers through the occupational audiometries over three consecutive years; verify the
knowledge of urban bus drivers in relation to risks of exposure to noise and about the care of
their health hearing; describe the company's Hearing Conservation program of Collective
Transport; and discuss actions of hearing health care to compose the Hearing Conservation
program. The methodological approach used was a case studied in a public transportation
company located in the city of Rio de Janeiro. The characterization of the observational study
is of a kind cohort, which means the selection of individuals as the exposure status, being
monitored with a view to assessing the incidence of the disease. For analysis of the statistical
data were used as methods: Friedman's ANOVA to verify the existence of significant
variation in audiometries, over three consecutive years; multiple comparisons testing
Nemenyi, to identify which year that have significant differences between themselves; and
testing of flagged posts of Wilcoxon to verify the existence of variation in audiometry
between the ears, right and left. This research was approved by the Ethics Committee and
University Hospital Research Antonio Pedro of the Universidade Federal Fluminense
(HUAPUFF) under CAAE-6141.0.000.258-10. Search results show that there are variations in
the auditory thresholds of bus drivers over three consecutive years, separately, by ear.
Comparing left and right ear thresholds observed that the right ear did not present significant
differences in frequencies of audiometric tests conducted, analyzed but the left ear presented
significant differences in three frequencies (500 Hz, 1000 Hz and 3000 Hz). According to the
classification of the Gatehouse 19, it showed that there was a reduction in the number of
drivers with reference examination within the bounds of normality, in relation to the third year
observed (sequential examination). Please note that the occurrence of the trigger or worsen
ratings for Noise-induced hearing loss (PAIR) were not identified in the sample evaluated. It
is noteworthy that the bus drivers mostly do not have knowledge about the risks of exposure
and hearing health care, from lack of information. This study points out that the actions of the
audiologist through careful actions entered in the Hearing Conservation program is essential
to promote hearing health in the working environment.
Keywords: Audiology, audiometry, hearing, hearing loss, occupational health, nursing.
10
Lista de Quadros
QUADRO 1 CLASSIFICAO DO NVEL DE AUDIO 25
QUADRO 2 RECONHECIMENTO E AVALIAO DE RISCOS PARA AUDIO 61
QUADRO 3 CARACTERIZAO DA EXPOSIO 61
QUADRO 4 GERENCIAMENTO AUDIOMTRICO 62
QUADRO 5 MEDIDAS DE PROTEO COLETIVA 62
QUADRO 6 MEDIDAS DE PROTEO INDIVIDUAL 63
QUADRO 7 EDUCAO E MOTIVAO 63
QUADRO 8 GERENCIAMENTO DE DADOS 64
QUADRO 9 AVALIAO DO PROGRAMA 64
11
Lista de Tabelas
TABELA 1 DELTA ENTRE ORELHAS (OE-OD) PARA CADA ANO E
FREQUNCIA
47
TABELA 2 ANLISE LONGITUDINAL DA AUDIOMETRIA DA ORELHA
DIREITA
49
TABELA 3 ANLISE LONGITUDINAL DA AUDIOMETRIA DA ORELHA
ESQUERDA
50
TABELA 4 DELTAS ABSOLUTOS ENTRE OS TRS ANOS OBSERVADOS POR
ORELHA E FREQUNCIA
55
TABELA 5 CLASSIFICAO DAS AUDIOMETRIAS PELA PORTARIA 19 NOS
EXAMES CONSECUTIVOS
56
TABELA 6 INTERPRETAO DO RESULTADO DO EXAME AUDIOMTRICO
SEGUNDO A PORTARIA 19
56
TABELA 7 DESCRITIVA DO FORMULRIO (N = 94)
58
12
Lista de Grficos
GRFICO 1 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 500 HZ POR ORELHA 51
GRFICO 2 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 1000 HZ POR ORELHA 51
GRFICO 3 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 2000 HZ POR ORELHA 52
GRFICO 4 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 3000 HZ POR ORELHA 52
GRFICO 5 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 4000 HZ POR ORELHA 53
GRFICO 6 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 6000 HZ POR ORELHA 53
GRFICO 7 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 8000 HZ POR ORELHA 54
GRFICO 8 AUDIOMETRIAS PELA PORTARIA 19 AO LONGO DE TRS
MOMENTOS OBSERVADOS
57
13
Lista de abreviaturas e siglas
ANOVA Anlise de Varincia
CEREST
CESTEH
CFFa
CRFa
Centro de Estudos da Sade do Trabalhador e Ecologia Humana
Centro de Referncia em Sade do Trabalhador
Conselho Federal de Fonoaudiologia
Conselho Regional de Fonoaudiologia
CIPA Comisso Interna de Preveno de Acidentes
CLT Consolidao das Leis do Trabalho
dB Decibel
dB (NA)
DP
DVRT
EP
Decibel (Nvel de Audio)
Desvio Padro
Distrbio de voz relacionado ao trabalho
Erro Padro
ENSP
EPI
Escola Nacional de Sade Pblica Srgio Arouca
Equipamento de Proteo Individual
FUNDACENTRO Fundao Jorge Duprat Figueiredo, de Segurana e Medicina do Trabalho
Hz
INSS
Hertz
Instituto Nacional do Seguro Social
HUAP
kHz
Hospital Universitrio Antnio Pedro
Quilohertz
MTB Ministrio do Trabalho
NR-7 Norma Regulamentadora No. 7
NR-9 Norma Regulamentadora No. 9
NR-15
NIOSH
Norma Regulamentadora No. 15
National Institute for Occupational Safety and Helth
OMS Organizao Mundial de Sade
OPAS Organizao Panamericana de Sade
OD
OE
Orelha Direita
Orelha Esquerda
PR Unidade Federativa do Estado do Paran
PAINPSE Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso Sonora Elevados
PAIR Perda Auditiva Induzida por Rudo
PCA Programa de Conservao Auditiva
PCMSO Programa de Controle de Medicina e Sade Ocupacional
PPRA Programa de Preveno de Riscos Ambientais
RJ
SP
Unidade Federativa do Estado do Rio de Janeiro
Unidade Federativa do Estado de So Paulo
SES
SESDEC
Secretaria do Estado da Sade
Secretaria de Estado de Sade e Defesa Civil do Rio de Janeiro
SSST
SMAC
SESMT
Servio de Sade e Segurana do Trabalho
Secretaria Municipal de Meio Ambiente
Servio Especializado em Engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho
SMTR Secretaria Municipal de Transportes
SUS Sistema nico de Sade
UFF
VA
Universidade Federal Fluminense
Via area
VO Via ssea
14
SUMRIO
APRESENTAO 15
INTRODUO 16
CAPTULO I - FUNDAMENTAO TERICA 20
1.1 A Audio e o Sistema auditivo 20
1.1.1 Estruturas perifricas do sistema auditivo 21
1.1.2 Estruturas centrais do sistema auditivo 22
1.1.3 Alteraes no sistema auditivo 22
1.1.4 Avaliao do sistema auditivo 24
1.2 CONSIDERAES SOBRE EXPOSIO AO RUDO E A PAIR 27
1.3 A SADE DO TRABALHADOR E A ATUAO FONOAUDIOLGICA 30
1.4 PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA 33
1.5 A SADE AUDITIVA E O CUIDADO EM SADE 36
CAPTULO II ABORDAGEM METODOLGICA 40
2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO 40
2.2 LOCAL DO ESTUDO 41
2.3 POPULAO DO ESTUDO 42
2.4 ASPECTOS TICOS DA PESQUISA 42
2.5 COLETA DE DADOS 43
2.5.1 Identificando os limiares auditivos 43
2.5.2 Formulrio sobre a exposio ao rudo e ao cuidado com a sade auditiva 43
2.5.3 Descrio do Programa de Conservao Auditiva 44
2.6 ANLISE DOS DADOS 45
CAPTULO III RESULTADOS 46
3.1 ANLISE INICIAL DA VARIAO DOS LIMIARES AUDITIVOS ENTRE
AS ORELHAS DIREITA (OD) E ESQUERDA (OE)
48
3.2 IDENTIFICAO DA VARIAO DOS LIMIARES AUDITIVOS AO LONGO
DE TRS ANOS CONSECUTIVOS SEPARADAMENTE POR ORELHA
48
3.3 COMPARAO DOS DELTAS DOS LIMIARES ENTRE OS ANOS E AS
ORELHAS DIREITA E ESQUERDA
54
3.4 RESULTADOS DOS EXAMES AUDIOMTRICOS CONFORME A
CLASSIFICAO DA PORTARIA 19
56
15
3.5 RESULTADO DO FORMULRIO APLICADO AOS MOTORISTAS DE NIBUS 58
3.5.1 Caracterizao dos sujeitos da amostra 60
3.6 DESCRITIVA DO PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA 60
CAPTULO IV DISCUSSO 65
4.1 IDENTIFICAO DA VARIAO DOS LIMIARES AUDITIVOS 65
4.2 OS SABERES DOS MOTORISTAS DE NIBUS SOBRE A EXPOSIO AO
RUDO E CUIDADO COM A SADE AUDITIVA
68
4.2.1 Questes relacionadas aos sujeitos e suas caractersticas auditivas 68
4.2.2 Questes relacionadas ao cuidado com a sade auditiva e sobre a exposio ao rudo 70
4.3 O PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA DA EMPRESA DE
TRANSPORTE COLETIVO
71
4.4 AES DE CUIDADO COM A SADE AUDITIVA 73
CONSIDERAES FINAIS 75
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 77
APNDICES 84
Apndice A: Formulrio para descrio do Programa de Conservao Auditiva 84
Apndice B: Formulrio sobre a exposio ao rudo e cuidado com a sade auditiva 85
Apndice C: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 86
ANEXOS 87
Anexo A: Ministrio do Trabalho e Emprego Portaria 3214 NR 7 anexo I quadro II 87
Anexo B: Parecer do Comit de tica em pesquisa da Faculdade de Medicina/HUAP 92
15
APRESENTAO
Desde a graduao no curso de Fonoaudiologia surgiu o interesse em estudar sobre a
sade dos trabalhadores que poderiam desenvolver algum dficit no processo comunicativo
devido s atividades laborais.
Nesta ocasio como trabalho de concluso de curso, foi desenvolvido um estudo sobre
a oratria como instrumento do resgate da expresso natural, pessoal e funcional da voz
facilitando a prtica profissional dos advogados.
O interesse em estudar sobre os aspectos que envolvem a sade auditiva surgiu
durante a atuao profissional na rea da audiologia ocupacional. Destaca-se que no cotidiano
de trabalho, durante a realizao de exames audiomtricos em trabalhadores de empresas de
transporte coletivo observou-se a prevalncia de diagnsticos sugestivos de perda auditiva por
nveis de presso sonora elevada, a falta de conhecimento e do cuidado por parte dos
trabalhadores em relao audio.
Em busca de novos saberes na rea da sade do trabalhador considerando que
atualmente a fonoaudiologia conta com um deslocamento de muitos profissionais para novos
campos de atuao ingressei como aluna especial na disciplina de Gesto de Programas
Ocupacionais do Mestrado Acadmico em Cincias do Cuidado em Sade da Universidade
Federal Fluminense (UFF) e no Ncleo de Estudos e Pesquisas em Cidadania e Gerncia na
Enfermagem (NECIGEN) na linha de pesquisa de sade do trabalhador que tem como uma de
suas propostas, a anlise dos aspectos envolvidos na investigao e interveno dos agravos
sade do trabalhador.
Como Aluna Efetiva do Curso de Mestrado Acadmico em Cincias do Cuidado em
Sade (MACCS/UFF) desenvolvi o estudo junto linha de pesquisa de cuidados coletivos em
enfermagem e sade nos seus processos educativos e de gesto, por conter atividades de
cuidado no contexto poltico social e no processo de trabalho em sade. Sade das populaes
vulnerveis. Gesto do cuidado e do trabalho em sade
16
INTRODUO
O objeto de estudo desta pesquisa o cuidado com a sade auditiva dos motoristas de
nibus urbano.
Considerando que a comunicao um aspecto fundamental nas relaes de trabalho,
nas quais as funes de audio, voz, fala e de linguagem precisam estar em pleno
funcionamento em seus aspectos anatmicos e fisiolgicos para que a mensagem que se
deseja tornar comum ao outro no seja prejudicada.
Durante a atuao profissional na rea da Audiologia Ocupacional foi observada a
prevalncia de diagnsticos sugestivos de Perda Auditiva Induzida por Rudo (PAIR), a falta
de conhecimento e do autocuidado no que se refere sade auditiva, por parte dos motoristas
de nibus, o que pode representar danos a sua sade com repercusses na qualidade do
trabalho desenvolvido.
A partir da observao emprica supracitada surgiu a inquietao sobre a efetividade
do programa de conservao auditiva aplicado na empresa de transporte coletivo, em relao
aos cuidados com a audio dos motoristas de nibus.
Cada vez mais nos ambientes de trabalho e sociais, a exposio ao rudo acima dos
limites permissveis orelha humana tem se tornado um agente presente. O dano auditivo
decorrente dessa exposio tem carter irreversvel se tornando necessria uma conduta
preventiva sobre os riscos que permeiam a sade auditiva.
O efeito causado pela exposio ao rudo, principalmente sobre a audio, tem sido
objeto de diversos estudos na rea da sade dos trabalhadores. As dificuldades auditivas
ocasionadas pela exposio prolongada ao rudo intenso, quando afetam a comunicao,
prejudicam as relaes interpessoais de seu portador, podendo levar sensao de insucesso e
frustrao, que caracterizam as desvantagens psicossociais e que tm importante impacto na
vida do sujeito, afetando sua vida profissional, social e familiar (GONALVES; IGUTI,
2006).
17
O cuidado com a sade auditiva do trabalhador importante instrumento para
construo de um ambiente laboral saudvel criando possibilidades de interveno e atuao,
de modo que os impactos eminentes do risco de exposio ao rudo intenso possam ser
amenizados e controlados.
Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS) no ano de 2005, cerca de duzentos e
setenta e oito milhes de pessoas foram acometidas de perda auditiva, e 80% delas vivem em
pases de baixa e mdia renda. A exposio excessiva ao rudo um dos fatores que contribui
para esta estatstica. A OMS refere tambm que para prevenir a perda auditiva por exposio
ao rudo, se deve reduzir a exposio, em termos profissionais e de lazer, utilizando
equipamentos de proteo individual, medidas de controle e de engenharia (OMS, 2010).
Outros rgos internacionais tambm chamam a ateno para esse fato, como por
exemplo o National Institute for Occupational Safety and Helth (NIOSH), que traz como
dados estatsticos que quatro milhes de trabalhadores nos Estados Unidos trabalham sob
risco de exposio ao rudo diariamente, e que dez milhes de pessoas tm perda auditiva
relacionada a tal exposio.
So contabilizados vinte e dois milhes de trabalhadores expostos ao risco rudo,
anualmente. O Occupational Safety e Helth Administration (OSHA) destaca que as perdas
auditivas relacionadas ao rudo foram consideradas como um dos mais prevalentes problemas
de sade ocupacional nos ltimos vinte cinco anos nos Estados Unidos.
No Brasil ainda no existem dados estatsticos que apontam para a realidade dessa
problemtica. Os sistemas de informao e de fiscalizao so precrios no possibilitando o
registro real dos casos. Considera-se tambm a existncia da subnotificao da doena
(TELES; MEDEIROS, 2007).
A poluio sonora um dos fatores de risco ambientais que interfere no estado de
sade das populaes. Todos os rudos provenientes de uma ou mais fontes sonoras, ao
mesmo tempo em um ambiente, geram desconforto e podem causar efeitos negativos sobre a
sade humana.
A urbanizao e o aumento do trfego de veculos nas vias pblicas propiciam o
aumento dos ndices de poluio sonora para populao em geral e, principalmente, para os
indivduos que trabalham diariamente sob o risco de exposio desta natureza. O crescimento
urbano intensifica a necessidade de deslocamento das pessoas em diferentes pontos das
grandes cidades, resultado da necessidade cotidiana da populao.
18
O nibus ainda o transporte pblico mais utilizado por grande parte da populao,
apesar das falhas na prestao do servio, como por exemplo, a irregularidade de horrios e a
lotao dos veculos. Quando a qualidade do referido servio no satisfatria h um
aumento na utilizao de automveis, vans, txis, dentre outros, causando engarrafamentos e
contribuindo ainda mais para a poluio do ambiente.
Segundo Cocco e Silveira (2011), o sistema de transporte pblico coletivo essencial
enquanto servio de utilidade pblica que garante a reproduo social da fora de trabalho
mediante as interaes espaciais que efetuam, aumentando de diversas maneiras a
produtividade do trabalho, seja diretamente, a partir do conforto, da confiabilidade e da
segurana oferecidos pelo servio, ou indiretamente, quando este facilita o acesso a outros
meios de consumo coletivo que potencializam e complexificam a fora de trabalho.
O sistema de transportes no municpio do Rio de Janeiro possui aproximadamente oito
mil e setecentos veculos, em circulao pelas vias pblicas, administrados por quarenta e sete
empresas privadas a partir de concesso pblica. a modalidade de transporte mais utilizada
pela populao do Rio de Janeiro (SMTR, 2011).
Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC, 2011):
medida que a cidade cresce as queixas pblicas relacionadas ao rudo
tornam-se cada vez mais numerosas. No Rio de Janeiro, pelo menos 60% das
reclamaes recebidas pela SMAC, so relacionadas a incmodo sonoro.
Esse percentual, em uma cidade com tantos outros focos potenciais de
conflito ambiental, mostra com clareza a dimenso que a questo sonora
ocupa junto a seus habitantes e sua importncia para a determinao da
qualidade do ambiente de seus habitantes.
Os motoristas de nibus so os trabalhadores que desempenham suas atividades nesse
ambiente pblico, no possuindo um local restrito para realizar suas tarefas, logo esto
diariamente sujeitos s condies do clima, do trfego, trajeto das vias, violncia urbana e
sobrecarga de rudo ambiental (BATTISTON; CRUZ; HOFFMANN, 2006).
A categoria dos motoristas de nibus urbanos tem grande importncia social,
principalmente nas sociedades contemporneas e mais urbanizadas, no somente pela
exposio a condies de trabalho bastante especficas, mas tambm pela responsabilidade
coletiva de sua atividade: o transporte cotidiano de passageiros. Em funo disso, esse grupo
vem sendo objeto frequente de estudos epidemiolgicos na rea de sade do trabalhador e da
medicina ocupacional (BENVEGN et al, 2008).
19
Nesse sentido, esses profissionais necessitam de aes de preveno e cuidado com a
sade auditiva, pois a dificuldade em ouvir ou a perda da audio so alteraes que podem
ser evitadas por meio do acompanhamento contnuo do perfil auditivo e da conscientizao
sobre a importncia da audio.
Diante dos fatos supracitados, foram levantadas as seguintes hipteses para estudo:
- Existem variaes nos limiares auditivos dos motoristas de nibus ao longo de trs
anos consecutivos;
- No existem variaes nos limiares auditivos dos motoristas de nibus, ao longo de
trs anos consecutivos;
- Os motoristas de nibus tm conhecimento sobre os riscos de exposio e cuidados
com a sade auditiva;
- Os motoristas de nibus no tm conhecimento sobre os riscos de exposio e
cuidados com a sade auditiva.
Para responder as hipteses levantadas, foram traados como objetivos:
1 Identificar a ocorrncia de variaes nos limiares auditivos dos motoristas de
nibus urbano, atravs do cadastro audiomtrico dos exames ocupacionais, ao longo de trs
anos consecutivos;
2 Verificar os saberes dos motoristas de nibus urbano, em relao aos riscos de
exposio ao rudo e sobre o cuidado com sua sade auditiva;
3 - Descrever o Programa de Conservao Auditiva da Empresa de Transporte
Coletivo;
4 - Discutir aes de cuidado com a sade auditiva para compor o Programa de
Conservao Auditiva.
20
CAPTULO I
FUNDAMENTAO TERICA
1. A AUDIO E O SISTEMA AUDITIVO
por meio da audio que se ouve e se percebe os sons gerados no ambiente. A
audio considerada essencial para os indivduos, pois a base da comunicao humana.
Alm disso, a formao e o desenvolvimento da fala e da linguagem esto diretamente ligados
a um bom funcionamento de tal sentido.
A audio ocorre por meio do sistema auditivo, que constitudo por estruturas
sensoriais e conexes. Esse sistema pode ser dividido em duas pores distintas, mas inter-
relacionadas que so: sistema auditivo perifrico e sistema auditivo central.
O sistema auditivo perifrico compreende estruturas da orelha externa, orelha mdia e
orelha interna e do sistema nervoso perifrico, no qual ocorre a captao e transmisso da
onda sonora pela orelha externa, a transduo sonora na membrana timpnica, cadeia
ossicular e msculos intratimpnicos (orelha mdia) e o processamento da informao
auditiva na cclea e poro coclear do nervo vestbulo coclear (orelha interna e sistema
nervoso perifrico) (BONALDI, 2011, p. 5).
O sistema auditivo central se refere s vias auditivas localizadas no tronco enceflico e
reas corticais, onde o processamento das informaes sonoras realizado. Os impulsos
nervosos so transmitidos pelas fibras do VIII nervo craniano para os ncleos cocleares,
tronco enceflico, tlamo e crtex (TEIXEIRA; GRIZ, 2011, p. 17).
21
1.1.1 Estruturas perifricas do sistema auditivo
A orelha externa a parte do sistema auditivo que protege, absorve e transforma a
energia das ondas acsticas em energia mecnica vibratria. Coleta e dirige as ondas sonoras
atravs do meato acstico externo at a membrana timpnica. constituda pelo pavilho
auricular e meato acstico externo que so as partes cartilagnea e ssea.
A comunicao entre as orelhas mdia e interna e o ambiente externo realizada pelo
meato acstico externo, que tem a funo bsica de conduzir os sons at a membrana
timpnica. O meato acstico e o pavilho auricular possuem propriedades acsticas
interessantes para fisiologia da audio, pois aumentam o efeito da sombra sonora e, tambm
aumentam nossa sensibilidade aos sons (ZEMLIN, 2000).
A orelha mdia representada pela cavidade timpnica onde se encontra a cadeia
ossicular (martelo, bigorna e estribo), articulada entre si com seus msculos e ligamentos, a
tuba auditiva, o adito, o antro e as clulas mastideas. um transformador de impedncia
altamente eficiente que possibilita a transmisso adequada das vibraes areas aos lquidos
labirnticos (MUNHOZ et al, 2003).
A orelha interna localiza-se na poro petrosa do osso temporal, e pode ser dividida
em dois sistemas de cavidades: um que abriga os rgos do equilbrio e o outro que protege os
rgos essenciais da audio. Os sistemas so denominados de labirinto sseo e labirinto
membranoso.
No labirinto sseo est localizada a cclea que possui funo auditiva, o vestbulo e os
canais semicirculares (anterior, posterior e lateral) que possuem funo de deteco e
orientao da cabea no espao. Dentro do labirinto sseo localiza-se o labirinto membranoso,
e o espao entre eles preenchido pela perlinfa (rica em sdio), no labirinto membranoso
encontra-se a endolinfa (rica em potssio) que constitudo pelo ducto coclear, sculo e
utrculo, ducto e saco endolinftico (SANTOS; RUSSO, 2009).
Na orelha interna est localizada a cclea, estrutura muito importante para o estudo da
PAIR, pois nela que est localizado o rgo de Corti, formado pela membrana tectria, pelas
clulas de sustentao e clulas ciliadas que podem ser lesadas pela exposio a nveis
elevados de presso sonora.
As clulas ciliadas so as clulas sensoriais, destinadas transformao das ondas
sonoras em impulsos nervosos. Devido ao seu posicionamento no ducto coclear podem ser
chamadas de clulas ciliadas internas e externas. (BONALDI, 2011, p. 11).
22
As caractersticas das clulas ciliadas lhes permitem movimentos que repercutem
sobre a lmina basilar e a estrutura do ducto coclear. Essas clulas possuem protenas
contrteis como, por exemplo, actina, miosina e um sistema de cisternas laminadas ao longo
de todo comprimento da clula. Esse sistema de cisternas ajuda a manter a forma da clula,
integridade estrutural e ainda funciona como uma fora elstica. Elas se encurtam quando
polarizadas e se estendem quando hiperpolarizadas. (BONALDI, 2011, p. 12).
As clulas ciliadas externas constituem o amplificador coclear, que por meio da
inclinao de seus clios amplifica o estmulo para determinar a deflexo dos clios das clulas
ciliadas internas que so receptoras e codificadoras cocleares, transmitindo a informao
sonora codificada da cclea para os ncleos cocleares e destes para o crtex auditivo
(BONALDI, 2011, p. 13).
1.1.2 Estruturas centrais do sistema auditivo
Os centros auditivos do tronco cerebral desempenham funes importantes na
determinao da direo de onde vem o som e, ao mesmo tempo, no direcionamento da
cabea e dos olhos na mesma direo. No crtex auditivo so analisados as caractersticas
tonais e o significado dos sons.
Os sinais auditivos chegam ao crebro pelo componente coclear do oitavo par
craniano, o nervo vestbulo coclear, que termina nos ncleos cocleares do tronco cerebral. Os
sinais so transmitidos pelo ncleo olivar superior, colculo inferior do tronco cerebral, corpo
geniculado medial do tlamo, e finalmente, para o crtex auditivo (TEIXEIRA; GRIZ, 2011).
1.1.3 Alteraes no sistema auditivo
Quando o sistema auditivo tem algum dano, seja de carter hereditrio ou adquirido,
pode ser considerado que o indivduo portador de uma deficincia auditiva ou surdez.
A incapacidade de ouvir reflete na dificuldade de se adquirir linguagem e,
consequentemente, afeta sua capacidade de comunicao que um instrumento necessrio
para a execuo das atividades sociais pertinentes ao ser humano.
23
A deficincia auditiva diz respeito perda total ou parcial da capacidade de ouvir, que
pode ser causada por problemas na gestao e no parto como, por exemplo: prematuridade;
doenas infecciosas como rubola, meningite, sarampo; infeces crnicas nos ouvidos e
utilizao inadequada de medicamentos ototxicos.
A deficincia auditiva pode surgir em qualquer fase da vida do indivduo, desde a
gestao, na infncia ou at mesmo, na vida adulta.
O rudo excessivo, incluindo a exposio no ambiente de trabalho um agente
causador de perda auditiva, principalmente na fase adulta, pois alm de causar um nus social
e econmico sobre o indivduo que adquiriu a perda auditiva, dificulta sua relao com a
famlia e no trabalho.
comum a pessoa se isolar e no querer participar de grupos sociais o que afeta
diretamente a sua qualidade de vida. Alm disso, muitas vezes, por questes financeiras,
algumas pessoas, principalmente os trabalhadores, no possuem condies de adquirir um
Aparelho de Amplificao Sonora Individual (AASI), o que contribui ainda mais para a
sensao de solido, frustrao e incapacidade.
Segundo Seligman (1997), as leses da orelha interna resultantes da exposio ao
rudo levam ao esgotamento fsico e a alteraes qumicas, metablicas e mecnicas do rgo
sensorial auditivo, refletindo na leso das clulas ciliadas (externas e internas), com leso
parcial ou total do rgo de Corti. A exposio pode apresentar-se da seguinte forma:
1. Por exposio aguda; Trauma Sonoro e Mudana Temporria no Limiar (TTS -
Temporary Threshold Shift)
2. Por exposio Crnica - Perda Auditiva Induzida por Rudo (PAIR) ou Mudana
Permanente no Limiar (PTS - Permanente Threshold Shift)
A PAIR1 o agravo mais conhecido quando a exposio ao rudo evidenciada. De
forma geral h um reconhecimento da sociedade e da comunidade cientfica de que a
exposio contnua ao rudo pode causar danos audio.
Alm disso, alguns sintomas associados perda auditiva podem surgir como, por
exemplo, a intolerncia a sons intensos e o zumbido que considerado o mais frequente deles.
O Ministrio da Sade define a PAIR como a perda provocada pela exposio, por
tempo prolongado, ao rudo. Configura-se como uma perda auditiva do tipo neurossensorial,
geralmente bilateral, irreversvel e progressiva com o tempo de exposio ao rudo (CID 10
1 Apesar da portaria 19(1998) anexo I da Norma Regulamentadora n 7 sugerir o termo perda auditiva induzida
por nveis de presso sonora elevados (PAINPSE), neste estudo optou-se em utilizar o termo PAIR, por ser mais
difundido e conhecido em meio aos profissionais de sade, engenharia e segurana e para os trabalhadores.
24
H 83.3). Consideram-se como sinnimos: perda auditiva por exposio ao rudo no trabalho,
perda auditiva ocupacional, surdez profissional, disacusia ocupacional, perda auditiva
induzida por nveis elevados de presso sonora, perda auditiva induzida por rudo
ocupacional, perda auditiva neurossensorial por exposio continuada a nveis elevados de
presso sonora de origem ocupacional (BRASIL, 2006).
O cuidado com a da sade auditiva das populaes, principalmente dos trabalhadores
que diariamente esto vulnerveis exposio do rudo ocupacional, deve ser considerado de
fundamental importncia. A preveno e o desenvolvimento de aes para o controle,
eliminao ou diminuio do risco precisam ser priorizados objetivando a construo de
ambientes saudveis, auditivamente.
1.1.4 Avaliao do sistema auditivo
So muitos os testes e exames utilizados para avaliar a audio. O que deve ser
considerado a especificidade do que se deseja inferir. A avaliao audiolgica composta
por procedimentos comportamentais, eletroacsticos e eletrofisiolgicos.
Segundo Santos e Russo (2009, p. 68), medir a audio pode referir-se em primeiro
lugar aos parmetros de intensidade e de altura do tom, s qualidades do timbre, da durao,
s condies de origem e direo da fonte sonora.
Durante a realizao de um exame auditivo dois fenmenos so observados: o evento
fsico, objetivo, mensurvel e o evento psicofsico, que o resultado da sensao que o
estmulo produz a uma pessoa, sendo, portanto, um fenmeno subjetivo.
Na avaliao audiolgica, a audiometria tonal considerada como a mais
fundamental, representando o primeiro teste de bateria bsica. Avalia todo sistema auditivo,
pois a resposta da pessoa depende da compreenso sobre o procedimento do exame e a
elaborao de uma resposta, no sendo, portanto avaliado, apenas o rgo da audio.
O objetivo da audiometria tonal liminar a determinao dos limiares de audibilidade,
isto , verificar o mnimo de intensidade sonora necessria para provocar a sensao auditiva
e comparar os valores com o padro considerado dentro da normalidade (SANTOS; RUSSO,
2009).
A finalidade da determinao dos limiares de audibilidade de vrias ordens tais
como: detectar a existncia de perda auditiva em crianas, adultos e idosos; auxiliar o
25
topodiagnstico das leses auditivas que possam atingir as orelhas externa mdia ou interna;
determinar o tipo de perda auditiva; servir como exame admissional, peridico e demissional
para trabalhadores expostos a rudo em programas de conservao auditiva; entre outros
(SANTOS; RUSSO, 2009).
Ao longo do tempo, vrias propostas de classificao para perda auditiva foram
adotadas, porm atualmente, a proposta recomendada a que consta nas Portarias 587/2004 e
589/2004 do Ministrio da Sade que determina as diretrizes nacionais para polticas pblicas
da sade auditiva, recomendada pela Organizao Mundial de Sade (OMS) no ano de 1997,
que utilizam as mdias das frequncias de 500 Hz, 1000 Hz, 2000 Hz e 4000 Hz (LOPES,
2011, p. 76).
Quadro 1 Classificao do nvel de audio.
NVEL DE
AUDIO
MDIA DAS
FREQUNCIAS DE
500, 1, 2, E 4 KHz
CARACTERSTICAS
RECOMENDAES
Audio Normal
0 a 25 dB No tem problemas
auditivos. Capaz de ouvir
sussurros
Cuidado com audio.
Perda de Audio
Leve
26-40 dB
Capaz de ouvir e repetir
palavras faladas em voz
normal, at 1 metro de
distncia
O uso de AASI pode ser
recomendado.
Perda de Audio
Moderada
41-60 dB
Capaz de ouvir e repetir
palavras faladas em voz
alta, at 1 metro de
distncia
Recomenda-se o uso de
AASI
Perda de Audio
Severa
61-80 dB
Capaz de ouvir e repetir
palavras faladas em voz alta
(gritando) direcionando
para a orelha melhor.
Necessrio o uso de AASI.
Recomenda-se o uso da
lngua de sinais e leitura
labial.
Perda de Audio
Profunda
Maior que 81dB
Incapacidade em ouvir e
compreender palavras
faladas em voz muito alta
(gritando).
Necessrio o uso de AASI.
Recomenda-se o uso da
lngua de sinais e leitura
labial.
Em se tratando de audiometrias ocupacionais, o Conselho Federal e os Regionais de
Fonoaudiologia (2009), atravs de um guia de orientaes sobre audiometria tonal,
logoaudiometria e medidas de imitncia acstica trouxeram informaes aos fonoaudilogos
de que os laudos das audiometrias, tanto de referncia quanto sequenciais, deveriam conter
Fonte: Organizao Mundial da Sade, 2005
26
descries do tipo, grau e configurao audiomtrica, sempre com base na literatura cientfica
e, principalmente, sem utilizar classificao de frequncia isolada em termos de grau, uma vez
que no h referncia da literatura para tal. Ressaltaram, ainda, que os laudos dos exames
ocupacionais devem conter todas as determinaes da Portaria n 19 do Ministrio do
Trabalho e Emprego - MTE, 1998, Anexo 1(A) ou da legislao vigente.
Entende-se como audiometria de referncia o exame realizado quando ainda no se
possui um exame audiomtrico prvio que, geralmente, so os exames admissionais. Os
exames que sero realizados posteriormente so considerados exames sequenciais. Esses
exames devem ser comparados, porm, quando algum exame audiomtrico sequencial
apresenta alterao em relao ao de referncia, este passa a ser o novo exame audiomtrico
de referncia. Os exames anteriores passam a constituir o histrico evolutivo da audio do
trabalhador.
A interpretao do resultado do exame audiomtrico com finalidade de preveno em
conformidade com a Portaria 19 - MTE, 1998, Anexo 1(A) segue os seguintes parmetros:
- Dentro dos limites aceitveis: os audiogramas com limiares auditivos menores ou
iguais a 25 dB (NA), em todas as frequncias examinadas.
- Sugestivos de PAIR: audiogramas que nas frequncias de 3.000 Hz, e/ou 4.000 Hz,
e/ou 6.000 Hz apresentam limiares auditivos acima de 25 dB (NA) e mais elevados do que nas
outras frequncias testadas, estando estas comprometidas ou no, tanto no teste da via area
quanto da via ssea, em um ou em ambos os lados.
- No sugestivos de PAIR: audiogramas com piora nos limiares auditivos do exame
sequencial no caractersticos de PAIR. Como por exemplo: sinais de acometimento
condutivo ou misto, ou leso neurossensorial, mas com limiares tonais igualmente
comprometidos ou mais elevados nas freqncias mais baixas.
- Sugestivos de desencadeamento de PAIR: quando o exame de referncia est dentro
dos padres aceitveis, mas a comparao com audiograma sequencial apresenta piora nas
freqncias de 3.000 Hz, 4.000 Hz, e/ou 6.000 Hz.
Essa piora considerada quando ocorre a diferena entre as mdias aritmticas dos
limiares auditivos no grupo de frequncias de 3.000 Hz, 4.000Hz e 6.000 Hz igualando ou
ultrapassando 10 dB (NA) ou a piora em pelo menos uma das freqncias de 3.000Hz,
4.000Hz ou 6.000 Hz igualando ou ultrapassando 15 dB (NA).
- Sugestivos de agravamento de PAIR: quando o exame de referncia j apresenta
configurao compatvel com PAIR e h piora em 3.000 Hz, 4.000Hz e 6.000 Hz no exame
sequencial.
27
Essa piora considerada quando ocorre a diferena entre as mdias aritmticas dos
limiares auditivos no grupo de freqncia de 500 Hz, 1.000Hz e 2.000 Hz, ou no grupo de
freqncias de 3.000, 4.000 e 6.000 Hz igualando ou ultrapassando 10 dB (NA) e a piora em
uma freqncia isolada igualando ou ultrapassado 15 dB (NA).
- Estvel em relao ao de referncia: Quando os limiares auditivos no apresentam as
diferenas citadas anteriormente.
A avaliao audiolgica peridica permite o acompanhamento da progresso da perda
auditiva, que pode variar de acordo com a intensidade e com o tempo de exposio, alm da
suscetibilidade individual. A velocidade da progresso da perda auditiva determina a eficcia
das medidas de proteo que devem ser aplicadas (MINISTRIO DA SADE, 2006).
1.2 CONSIDERAES SOBRE A EXPOSIO AO RUDO E A PAIR
O som originado por uma vibrao mecnica que se propaga no ar estimulando o
sistema auditivo. transmitido de forma ondulatria, sendo que a velocidade dessa
transmisso depende das caractersticas da onda no meio que se propaga. Portanto, o som
definido como qualquer vibrao, conjunto de vibraes ou ondas mecnicas que podem ser
ouvidas (SALIBA, 2009).
O rudo basicamente todo som que no desejado ou perturbador. Todos os sons que
se ouve podem ser classificados como rudo, desde que sejam indesejados por outros
indivduos que venham a capt-los. O rudo pode ser considerado como sinal acstico que
influencia o bem estar fsico e mental do indivduo (RUSSO, 1993).
Saliba (2009, p. 18) registra que:
O rudo o fenmeno fsico vibratrio com caractersticas indefinidas de
variaes de presso (no caso ar) em funo da freqncia, isto , para
determinada freqncia podem existir, em forma aleatria atravs do tempo,
variaes de diferentes presses.
Dentre as diversas causas de poluio, ressalta-se que o rudo proveniente de veculos
de transportes, atividades laborativas e de lazer tem contribudo para colocar a poluio
sonora como a terceira causa de poluio no mundo, perdendo apenas para o ar e a gua. Tal
fato representa, entre outros, um risco para audio de toda a populao (FIORINI, 2000).
28
Os sintomas no auditivos tambm podem surgir devido exposio ao rudo. Os
efeitos no auditivos causados pela exposio, atualmente, vem recebendo ateno por parte
dos pesquisadores.
Ibaez, Schneider e Seligman (2001, p. 48) descrevem que os sintomas no auditivos
relacionadas exposio podem ser de neurolgicas, vestibulares, digestivos e
comportamentais que atingem comunicao e causam distrbios do sono.
Segundo Fiorini (2004) as consequncias da exposio ao rudo podem ser de duas
ordens: efeitos na audio e efeitos gerais. Essa exposio pode perturbar o trabalho, o
descanso, o sono, a comunicao nos seres humanos, causar dficit na audio, provocar
reaes psicolgicas, fisiolgicas e at patolgicas.
Petian (2008) buscou estimar a prevalncia do incmodo causado pelo rudo em
trabalhadores de estabelecimentos comerciais no municpio de So Paulo. Detectou-se que o
incmodo relacionado ao rudo no local de trabalho foi estimado em 62,5%. Foi ressaltado
que o local de trabalho era ruidoso 65,75% dos trabalhadores e, 62% que o rudo do trfego
no local de trabalho era incmodo. Com os resultados deste estudo pode-se inferir que os
trabalhadores conheciam tanto o risco fsico do rudo, quanto o incmodo que ele pode
causar. Os trabalhadores relataram que o rudo poderia causar ou agravar alguns problemas de
sade, principalmente a perda auditiva, estresse e irritabilidade.
Benvegn et al (2008) observaram a existncia de uma associao significativa entre
os problemas psiquitricos menores e a hipertenso em motoristas de nibus na cidade de
Santa Maria no Rio Grande do Sul. Esse achado parece reforar a hiptese da associao entre
estresse e problemas psicolgicos com hipertenso.
No estudo de Lacerda et al (2010) concluiu-se que as queixas mais frequentes
relacionadas audio entre os motoristas de nibus foi o zumbido e a sensao de plenitude
auricular.
Ogido, Andrade Costa e Machado (2009), em um estudo relacionado com sintomas
auditivos e vestibulares causados pela exposio ao rudo, concluram que as disfunes
auditivas so queixas constantes na populao atendida em um centro de referncia de sade
ocupacional de Campinas (SP), reforando a necessidade permanente da adoo de medidas
preventivas em relao exposio ao rudo, tanto coletivas quanto individuais.
O Comit Nacional de Rudo e Conservao Auditiva publicou seu posicionamento
sobre a PAIR em seu primeiro boletim em 1994, revisto em 1999 definindo-a da seguinte
maneira:
29
A perda auditiva induzida pelo rudo relacionada ao trabalho, diferentemente do
trauma acstico uma diminuio gradual da acuidade auditiva, decorrente da exposio
continuada a elevados nveis de presso sonora. As caractersticas principais so:
- Na maioria das vezes sempre neurossensorial, em razo do dano causado as clulas
do rgo de Corti.
- Uma vez instalada irreversvel e, quase sempre, similar bilateralmente.
- Raramente leva perda auditiva profunda, pois, no ultrapassa os 40 dB nas
frequncias baixas e mdias e os 75 dB nas frequncias altas.
- Manifesta-se primeira e predominantemente nas frequncias de 6.000 Hz, 4.000 Hz,
e 3.000 Hz, com agravamento da leso, estende-se s frequncias de 8.000 Hz, 2.000 Hz,
1.000 Hz, 500 Hz e 250 Hz, as quais levam mais tempo para serem comprometidas.
- Tratando-se de uma doena predominantemente coclear, o portador da PAIR pode
apresentar intolerncia a sons intensos, zumbidos, alm de ter comprometida a inteligibilidade
da fala, em prejuzo do processo de comunicao.
- Uma vez cessada a exposio ao rudo provavelmente no haver a progresso da
PAIR.
- influenciada principalmente, pelas caractersticas fsicas do rudo, como o tipo, o
espectro e o nvel de presso sonora, pelo tempo de exposio e pela suscetibilidade
individual.
- Geralmente atinge o nvel mximo para as frequncias de 3.000 Hz, 4.000Hz e 6.000
Hz nos primeiros dez a quinze anos de exposio, sob condies estveis de rudo. Com o
passar do tempo, a progresso da leso se torna mais lenta.
- PAIR relacionada ao trabalho no torna o ouvido mais sensvel a futuras exposies.
- O diagnstico nosolgico de PAIR relacionada ao trabalho somente pode ser
estabelecido, por meio de um conjunto de procedimentos que envolvam anamnese clnica e
ocupacional, exame fsico, avaliao audiolgica e, se necessrio, exames complementares.
Esse diagnstico realizado pelo mdico do trabalho.
- Pode ser agravada pela exposio simultnea a outros agentes, como produtos
qumicos e vibraes.
- uma doena passvel de preveno e pode acarretar ao trabalhador alteraes
funcionais e psicossociais capazes de comprometer sua qualidade de vida.
A possibilidade de prevalncia de PAIR um fato eminente, portanto h uma
necessidade de no apenas realizar audiometrias ocupacionais pontuais, mas tambm de
monitorar a audio dos trabalhadores de forma longitudinal, como parte de um programa de
30
conservao auditiva. Resultados encontrados em estudos relacionados prevalncia de PAIR
contriburam para melhor compreenso do comportamento de algumas das principais
caractersticas relacionadas doena, em uma situao particular de organizao do trabalho,
relativamente comum nas indstrias brasileiras (GUERRA et al, 2005 ; TELES; MEDEIROS,
2007).
1.3 A SADE DO TRABALHADOR E A ATUAO FONOAUDIOLGICA
O trabalho humano um importante componente para evoluo social e econmica de
uma sociedade. Atravs dele o homem garante sua subsistncia e da sua famlia e deve se
sentir satisfeito em suas atividades laborais, pois atravs delas que colhe os resultados de
seu prprio esforo. Trabalhar deve ser algo prazeroso que traga satisfao pessoal e
profissional ao indivduo (RODRIGUES et al, 2012).
Na sociedade brasileira, o trabalho mediador de integrao social, tanto por seu valor
econmico quanto cultural tendo assim, importncia fundamental no modo de vida das
pessoas e na sua sade fsica e mental. Fica claro que os trabalhadores, tanto individualmente
como coletivamente, devem estar cientes do desgaste sofrido e que se no bem administrado
pode desencadear processos patolgicos (TRINDADE et al, 2006).
Cuidar da sade do trabalhador buscar espaos e condies de trabalho saudveis
fazendo com que sua atividade diria seja menos prejudicial para ele, tanto no campo fsico
quanto no campo psquico. Dejours e Abdoucheli (2007, p. 125) ao citarem as condies de
trabalho fazem referncia como presses fsicas, mecnicas, qumicas e biolgicas do posto
de trabalho, onde os corpos dos trabalhadores so afetados, ocasionando a eles desgaste,
envelhecimento e doenas somticas.
O campo da sade do trabalhador no Brasil passou a ser competncia da Unio a partir
da constituio de 1988, atravs do Sistema nico de Sade (SUS). Em algumas cidades, h o
incremento de Programas de Sade do Trabalhador na rede pblica, na perspectiva da Sade
Coletiva, estruturando-se aes de assistncia e vigilncia em sade dos trabalhadores, com
caracterstica interdisciplinar e interinstitucional (GONALVES, 2009).
Segundo Lacaz (2007) a sade do trabalhador campo de prticas e conhecimentos
cujo enfoque terico-metodolgico, no Brasil, emerge da Sade Coletiva, buscando conhecer
e intervir nas relaes de trabalho e de sade-doena.
31
A abordagem de riscos sade do trabalhador permite que o controle de causas de
acidentes, sejam agentes fsicos, qumicos e biolgicos causadores de agravos, esforos
fsicos e sobrecargas mentais. Essa interveno se efetiva basicamente no campo tecnolgico,
mas tem consequncias sobre a sade, que devem ser acompanhadas, por meio de indicadores
sociais e sanitrios (MACHADO, 1997).
Trabalhar integradamente as questes relacionadas sade do trabalhador e ao meio
ambiente um passo fundamental para se desenvolver novas abordagens terico-
metodolgicas que possibilitem avanar nos processos de anlise e interveno sobre as
situaes e eventos de riscos que so colocados para trabalhadores e o meio ambiente como
um todo (PORTO; FREITAS, 1997).
Segundo Mendes e Dias (1991), o objeto da sade do trabalhador pode ser definido
como o processo sade e doena dos grupos humanos, em sua relao com o trabalho.
Representa um esforo de compreenso desse processo, como e porque ocorre, e do
desenvolvimento de alternativas de interveno que levem transformao em direo
apropriao pelos trabalhadores e dimenso humana do trabalho, numa perspectiva
teleolgica.
Segundo Gonalves (2004), a ao do fonoaudilogo em sade do trabalhador deve
visar comunicao efetiva do mesmo, garantida pela audio preservada. Tal ao
promotora da sade, pois no se identificam os problemas auditivos unicamente, mas so
analisadas as formas como eles acontecem, permitindo aes para evit-los e que iro
repercutir na melhoria da qualidade de vida do trabalhador.
A atuao fonoaudiolgica engloba aes de promoo, proteo e recuperao da
sade nos diversos aspectos relacionados comunicao humana em todo o ciclo vital, se
inserindo em unidades bsicas de sade, ambulatrios de especialidades, hospitais, unidades
educacionais, domiclios e outros recursos da comunidade (LIPAY; ALMEIDA, 2007).
O fonoaudilogo o profissional capacitado para avaliar, diagnosticar e atuar no
sentido da preveno, atravs dos seus conhecimentos sobre os agentes de risco sade, do
local ou rgo que pode ser lesionado e atravs da realizao dos exames audiolgicos. A
principal caracterstica profissional do fonoaudilogo a sua atuao multidisciplinar por
possuir conhecimentos de outras reas como fsica acstica, audiologia e educao,
permitindo uma atuao preventiva da perda auditiva em vrias circunstncias (MORATA;
ZUCKI, 2005, p.25).
32
A ao do fonoaudilogo na rea da sade do trabalhador, bem como o
estabelecimento e a consolidao desse mercado de trabalho partiu do pioneirismo e da
determinao de alguns profissionais em um momento poltico propcio. Espera-se que uma
trajetria similar desponte junto sade ambiental (MORATA; ZUCKI 2005, p.26).
Conforme descrito no Boletim n 2 do Comit Nacional de Rudo, no que tange
avaliao audiolgica do trabalhador exposto a rudo, um dos requisitos para confiabilidade
dos resultados da audiometria tonal limiar que alm de ser obrigatrio por lei o exame
realizado por profissional legalmente habilitado, isto , o fonoaudilogo ou o mdico
(NUDELMANN et al, 2001).
Os agravos pertinentes atuao do fonoaudilogo na sade do trabalhador so a
PAIR e os distrbios da voz relacionados ao trabalho (DVRT). A notificao dos casos de
PAIR obrigatria no Estado do Rio de Janeiro desde 2003, de acordo com a resoluo da
SES n 2.075, e nacionalmente desde 2004, conforme a Portaria GM/MS n 777. (REDE
NACIONAL DE ATENO INTEGRAL SADE DO TRABALHADOR, 2010).
A notificao de agravos da atuao fonoaudiolgica vem acontecendo
gradativamente. Os profissionais envolvidos ainda precisam se conscientizar da importncia
dessa atividade. Essa notificao importante para produo de dados epidemiolgicos que
embasem as medidas de controle e preveno das doenas relacionadas ao trabalho.
Partindo do princpio de que a fonoaudiologia uma rea que vem avanando no
conhecimento cientfico e na atuao no campo da sade do trabalhador, cabe ressaltar o
quanto se faz necessrio a insero deste profissional nas equipes de servio especializado em
Engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho SESMT.
Rodrigues e Silvino (2010) ao realizarem uma reviso na literatura sobre a exposio
ao rudo relacionada sade auditiva verificaram que o maior nmero de produes dentro
desse eixo temtico se concentra entre os profissionais mdicos e fonoaudilogos. Tal anlise
permitiu perceber a visibilidade da trajetria percorrida pela fonoaudiologia nessa temtica.
O Conselho Federal de Fonoaudiologia (2011) e instituies afins estudam a
possibilidade de incluso da Fonoaudiologia do Trabalho como uma rea de especialidade da
profisso.
Normalmente, o que se observa nas empresas onde os funcionrios esto sob o risco
de exposio ao rudo, com necessidade de monitoramento da audio a atuao do
fonoaudilogo como prestador de servios ou como terceirizado.
33
Se em cada instituio tivesse um fonoaudilogo atuando integradamente com a
equipe das reas mdica, de engenharia e de segurana atravs do desenvolvimento de aes
para prevenir os agravos sade, possivelmente os trabalhadores e a instituio seriam
beneficiados, na perspectiva de minimizar as doenas ocupacionais, bem como proteger a
integridade auditiva do trabalhador.
1.4 PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA
Para se evitar o impacto negativo do rudo sobre a qualidade de vida do trabalhador
necessria a implantao de medidas preventivas. O objetivo de um Programa de Conservao
Auditiva (PCA) deve ser a preservao da audio, por meio da identificao de riscos,
monitoramento auditivo, medidas de proteo contra o rudo e medidas educativas
(GONALVES, 2004).
A finalidade de um PCA estabelecer procedimentos adequados de gerenciamento das
medidas de controle de exposio ocupacional ao rudo. Como qualquer programa, a
eficincia do PCA depende do comprometimento de todas as pessoas envolvidas em sua
elaborao e execuo.
Segundo Saldanha Jnior (2009, p. 13):
As atividades do PCA devem ser reavaliadas periodicamente visando ao
aprimoramento e adequao em relao s modificaes que possam
ocorrer na empresa, seja por demanda dos processos produtivos, seja pela
reorganizao do trabalho, ou ainda, por mudanas da legislao ou dos
riscos ocupacionais.
Em 1965, no Brasil o Ministrio do Trabalho e Previdncia Social estabelece atravs
da portaria n 491, no seu art. 2 que a eliminao da insalubridade poderia ocorrer pela
aplicao de medidas de proteo coletiva ou individual. Ainda na portaria n 491, em seu
anexo onze, os quadros com descrio dos agentes insalubres e respectivos graus de
insalubridade eram demonstrados. Um desses quadros j mencionava sobre os trabalhos em
ambiente com excesso de rudo, no especificando, entretanto, as medidas de proteo contra
a exposio ao rudo. (KWITKO, 2001).
Em 1967 (Decreto Lei n 229), enfocando a exposio ao rudo, destacou:
obrigatoriedade das empresas quanto ao fornecimento de equipamentos de proteo
34
individual aos empregados gratuitamente e o uso dos EPI sendo obrigatrio para os
empregados e tambm ficou impedida a comercializao de qualquer equipamento de
proteo individual sem aprovao certificada pela segurana e higiene do trabalho. Tornou-
se obrigatrio a realizao de exame mdico na admisso, peridicos e em atividades
insalubres, alm da renovao semestral. Em 1978, a portaria n 3.214 aprova as normas
regulamentadoras (KWITKO, 2001).
No que se diz respeito exposio ao rudo na sade do trabalhador, verifica-se que a
primeira obrigao legal surgiu em 1978, com a Portaria 3.214 e suas Normas
Regulamentadoras, sendo que a manuteno obrigatria da sade auditiva, por meio de
audiometrias, surgiu em 1983 com a Portaria n 12. A obrigao em manter o Programa de
Preveno de Riscos Ambientais (PPRA) surgiu em 1994 com a Portaria n 25 (KWITKO,
2001).
No Brasil cabe ao Ministrio do Trabalho (MTB) a funo de regulamentar a
Legislao Trabalhista e a Fundao Jorge Duprat Figueiredo, de Segurana e Medicina do
Trabalho (FUNDACENTRO), a realizao de estudos e pesquisas pertinentes aos problemas
de segurana, higiene, meio ambiente e medicina do trabalho relacionada promoo das
melhorias das condies de trabalho, alm de subsidiar a elaborao e reviso das normas
regulamentadoras. As Normas Regulamentadoras (NR), at o momento so trinta e quatro
dispondo sobre os servios especializados em engenharia de segurana e medicina do
trabalho.
Na NR 7 esto descritas as especificaes do Programa de Controle Mdico de Sade
Ocupacional - PCMSO que estabelece a obrigatoriedade de elaborao e implementao do
programa com objetivo de promoo e preservao da sade dos seus trabalhadores
(BRASIL, 1978).
Encontramos como parte integrante desta NR a Portaria 19 que tem como objetivo:
Estabelecer diretrizes e parmetros mnimos para a avaliao e o
acompanhamento da audio do trabalhador atravs da realizao de exames
audiolgicos de referncia e seqenciais; fornecer subsdios para a adoo de
programas que visem preveno da PAIR e a conservao da sade
auditiva dos trabalhadores. (Portaria SSST, 1998)
Na portaria supracitada tambm foram estabelecidos: a definio e a caracterizao da
PAIR; os princpios e os procedimentos bsicos para realizao do exame audiomtrico; a
interpretao dos resultados do exame audiomtrico com finalidade de preveno; os
parmetros para diagnstico da PAIR para definio da aptido ao trabalho e as condutas
preventivas.
35
A NR 9 - Programa de Preveno de Riscos Ambientais PPRA, visa preservao
da sade e da integridade fsica dos trabalhadores, atravs da antecipao, reconhecimento,
avaliao e consequente controle da ocorrncia de riscos ambientais existentes ou que venham
a existir no ambiente de trabalho, tendo em considerao a proteo do meio ambiente e dos
recursos naturais. Ministrio do trabalho (BRASIL, 1978).
Na NR 15 (Lei 6.515 de 22/12/1977) esto descritas em seu anexo 1: as atividades, as
operaes e os agentes insalubres, alm dos limites de tolerncia, de cada risco, inclusive os
tempos mximos de exposio permitida aos diversos nveis de intensidade sonora. Define
tambm, as situaes que, quando vivenciadas nos ambientes de trabalho pelos trabalhadores,
caracterizam seu exerccio insalubre (BRASIL, 1978).
Saldanha Jnior (2009) props em seu estudo a realizao um protocolo de auditoria
para PCA, de acordo com a legislao brasileira onde concluiu que embora a Legislao
Brasileira tenha avanado nas ltimas duas dcadas, no que diz respeito s aes relacionadas
conservao auditiva nos ambientes de trabalho, ainda hoje muitas empresas no possuem o
conjunto de aes coordenadas de forma necessria para garantir a eficcia do PCA, tanto do
ponto de vista preventivo, quanto no que diz respeito ateno do trabalhador.
Miranda e Dias (2004) ao realizarem um estudo sobre a inspeo e auditoria PPRA e
PCMSO em empresas dos ramos da indstria, servios e comrcio constataram que entre as
vinte e oito empresas que elaboraram o PPRA, vinte e seis (92,9%) delas apresentaram algum
tipo de inconsistncia dos dados em seu programa, por estarem incorretos ou por no terem
qualidade. Analisando-as conforme os riscos ocupacionais, verificou-se que em 82,1% dos
casos, as inconsistncias relacionavam-se com os riscos fsicos como, por exemplo, a
exposio ao rudo. Entre as empresas que apresentaram inconsistncias relacionadas com os
riscos fsicos, em 35,7% delas a inconsistncia se referia ao reconhecimento dos riscos, em
35,7% avaliao quantitativa, em 60,7% implantao de medidas coletivas e, em 17,9%
implantao de medidas de proteo individual.
No Chile, atravs do levantamento de alguns dados da exposio ao rudo, em
empresas metalrgicas e indstria madeireira apontou-se que para lidar com o risco rudo, as
empresas devem estabelecer programas de monitoramento para acompanhar os trabalhadores
expostos garantindo a qualidade dos dispositivos de proteo auditiva e fornecendo
orientaes de seleo e utilizao adequada aos funcionrios (VALENZUELA; VILLAGRA,
2006).
Em Taiwan resultado de um estudo mostrou que a alterao no limiar auditivo foi
maior para os trabalhadores que foram expostos ao rudo mais tolueno em comparao com
36
aqueles expostos somente ao rudo. Uma interveno eficaz, nesse caso, seria o
estabelecimento de polticas que determinem os limites mximos de exposio para solventes
neste ramo de atividade (CHANG et al, 2006).
Em Washington, srias preocupaes foram levantadas sobre a adequao da
preveno, regulao e estratgias de execuo dos programas de preveno da perda auditiva
nos Estados Unidos. Concluram que a maioria das empresas oferece pouca ou nenhuma
ateno ao controle do rudo e que utilizavam, principalmente, a proteo auditiva como base
para prevenir a perda auditiva, apesar de 38% dos trabalhadores das empresas pesquisadas
no utilizarem os protetores, rotineiramente. As empresas preferiam adotar somente a
utilizao dos protetores do que a adoo de programas de preveno da perda auditiva com
medidas educativas e de controle (DANIELL et al, 2006).
1.5 A SADE AUDITIVA E O CUIDADO EM SADE
A sade auditiva um dos aspectos fundamentais para a comunicao humana. O que
difere o ser humano dos outros seres a forma de se comunicar.
As aes de promoo, proteo e recuperao da sade devem ser garantidas nos
vrios aspectos relacionados comunicao humana. Sua qualidade determinante para a
autoconfiana, felicidade e segurana, propiciando uma comunicao mais efetiva e
fundamental para a sade do sujeito (ANDRADE, 1996).
Faz-se necessrio que o sujeito envolvido em alguma atividade de trabalho que possa
gerar dficits em sua sade seja incentivado e orientado para a promoo de cuidado
proporcionando melhoria na sua qualidade de vida.
um grande desafio para o ser humano fazer articular trabalho com cuidado prpria
sade. A ruptura entre trabalho e cuidado uma realidade desde a antiguidade, principalmente
a partir do processo industrial do sculo XIII, caracterizando-se pela ditadura do modo-de-ser-
trabalho como inveno, produo e dominao. Portanto, o resgate do cuidado no se faz
custa do trabalho e sim mediante uma forma de entender e realiz-lo. Para isso o ser humano
precisa voltar sobre si mesmo e descobrir o seu modo-de-ser-cuidado (BOFF, 1999, p.99).
37
Para Christovam (2009, p.74):
O homem como sujeito do cuidado tambm um ser cognoscvel capaz de
aprender a conhecer a si mesmo, a sociedade e o ambiente o qual est
inserido, a sua cultura e as vrias culturas que permeiam e influenciam a
sociedade, o ambiente e as relaes estabelecidas.
O cuidado deve ser entendido como uma atividade que vai alm do exerccio
profissional. Esse cuidado deve existir entre os profissionais e os trabalhadores envolvidos em
uma organizao. O fato que pequenas mudanas no modo de agir com os outros
demonstrando interesse e cuidado com a sua sade convergem para um relacionamento de
confiana entre a pessoa que deseja cuidar e o indivduo que est recebendo o cuidado.
No ambiente ocupacional, focalizando as empresas de nibus as aes de cuidado
podem determinar a diminuio dos impactos causados pelos riscos que envolvem a atividade
profissional. Trazer para os trabalhadores informaes importantes sobre o cuidado de si pode
favorecer a autonomia, autoconfiana em busca de seu bem estar e, consequentemente a
melhoria na qualidade na sua sade.
O cuidado passa por uma questo cultural em que o local ou pessoas dotadas de
princpios culturais diferentes percebem, praticam e conhecem formas diferentes de exercer o
prprio cuidado. Portanto, mesmo o cuidado humano sendo universal ele demonstrado
atravs de diferentes aes, estilo de vida e de sentidos prprios.
Para Leininger2 (1991 apud GEORGE, 2000, p. 299), o cuidado cultural definido
como:
Os valores, as crenas e modos de vida padronizado aprendidos, subjetiva e
objetivamente e transmitidos que auxiliam, sustentam, facilitam ou
capacitam outro indivduo ou grupo a manter seu bem estar, sade, melhorar
sua condio humana e seu modo de vida ou lidar com a doena, a
deficincia ou a morte.
No caso do trabalhador, em situao particular os motoristas de nibus, o cuidado
primordial para manuteno da qualidade de sua sade. Podem surgir distrbios orgnicos
psquicos e ergonmicos que iro afetar a execuo da atividade de dirigir, alm da vida
social e coletiva desse profissional. A atividade que eles desempenham desgastante, e sua
eficcia est relacionada principalmente a fatores ambientais do local de trabalho e a forma
como eles lidam com esses fatores (BATTISTON et al, 2006).
2 GEORGE, Julia. B. Teorias de Enfermagem: os fundamentos prtica profissional. 4 ed. Porto Alegre: Artes
Mdicas Sul, 2000.375p.
38
Segundo Maranho (2000), as aes de cuidado com a sade podem ser priorizadas e
organizadas de acordo com diferentes concepes sobre o processo sade-doena, sobre o
desenvolvimento humano e de acordo com o contexto sociocultural.
Portanto a maneira como o indivduo cuida da prpria sade depende de suas
concepes pessoais e de quanto esse cuidado prioritrio para si. Normalmente o que
acontece a busca do bem estar quando a sade se apresenta debilitada, fazendo com que o
indivduo passe a se atentar para a necessidade de se cuidar.
Diante dessas consideraes a prtica do cuidado atravs de procedimentos ou
esclarecimentos sobre alguma situao que possa colaborar para a melhora do estado de sade
do sujeito, deve vir acompanhada do empenho desse sujeito em reconhecer a importncia de
se autocuidar.
Para George (2000), o autocuidado o desempenho ou prticas de atividades que os
indivduos realizam em seu benefcio para manter a vida, a sade, e o bem estar. Este ajuda a
manter a integridade estrutural e o funcionamento humano, contribuindo para o
desenvolvimento humano.
Para Silva et al (2009), o autocuidado uma atividade do indivduo apreendida pelo
mesmo e orientada para um objetivo, tendo como propsito, o emprego de aes de cuidado
seguindo um modelo, que contribui para o desenvolvimento humano.
O autocuidado foi mencionado pela primeira vez em 1958, a partir das reflexes da
Enfermeira Dorothea Orem sobre a necessidade dos indivduos serem auxiliados pela
enfermagem. (GEORGE, 2000).
A ao de autocuidado, para Orem, a capacidade ou o poder de engajar-se no
autocuidado. Essa capacidade seria afetada por fatores condicionantes bsicos como sexo, o
estado de desenvolvimento, o estado de sade, a orientao scio-cultural, os fatores do
sistema familiar, os padres de vida, os fatores ambientais, a adequao e a disponibilidade,
de recursos. Orem destaca tambm que normalmente os adultos se cuidam voluntariamente.
Os bebs, as crianas, os idosos, os enfermos e os deficientes exigem cuidados ou assistncia
completa nas atividades de autocuidado (GEORGE, 2000).
A utilizao do cuidado e do autocuidado na perspectiva da sade auditiva pode ser
importante instrumento para que o trabalhador preserve a sua audio.
Cada vez mais a populao em geral est exposta nveis de presso sonoras elevadas
decorrentes do aumento da urbanizao ou pela utilizao prolongada dos tocadores pessoais
de msica em formato digital que atualmente se faz presente em meio aos adultos, crianas e
adolescentes.
39
Os indivduos que trabalham sob o risco de exposio ao rudo devem se cuidar ainda
mais para que o efeito desta exposio no seja potencializado. Alm disso, precisam ter
acesso a informaes quanto a agentes agressores a sua sade, ou seja, os riscos as quais esto
expostos decorrentes das suas atividades laborais, como o caso dos motoristas de nibus que
diariamente vivem a agresso de rudos no ambiente das grandes cidades.
40
CAPTULO II
ABORDAGEM METODOLGICA
2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO
Trata-se de um estudo de caso observacional do tipo coorte, retrospectivo com
abordagem quantitativa.
O mtodo de estudo de caso uma forma de investigar um tpico emprico seguindo
um conjunto de procedimentos pr-especificados, conta com mltiplas fontes de evidncia
para dar suporte ao estudo. Propicia uma descrio ampla e profunda do fenmeno social,
devido a sua capacidade de lidar com uma ampla variedade de evidncias e permitir que as
caractersticas holsticas e significativas dos processos organizacionais e administrativos
sejam retidas (YIN, 2010).
Os estudos observacionais so investigaes em que a informao sistematicamente
colhida, onde no h uma interveno ativa do investigador. Observaes sistemticas,
especialmente ao longo do tempo, podem permitir concluso causal. um tipo de desenho
que deve ser respeitado visto sua eficcia (LUNA FILHO, 1998).
Os estudos de coorte seguem grupos de sujeitos no tempo que tm como objetivo
descrever a incidncia de certos desfechos, ao longo do tempo e analisar associaes entre os
preditores e esses desfechos. Os estudos de coorte retrospectivos permitem os desfechos j
terem ocorrido quando o estudo foi iniciado (HULLEY et al, 2008).
41
Segundo Medronho (2004), os estudos de coorte so estudos observacionais, onde a
seleo dos sujeitos para um estudo depende das caractersticas de sua exposio a um
determinado risco. Os sujeitos so monitorados ao longo do tempo, com o objetivo de
verificar a incidncia de doenas ou outro desfecho de interesse (MEDRONHO et al, 2004).
No estudo retrospectivo o investigador identifica uma amostra montada no passado,
coleta os dados sobre as medidas passadas, onde as informaes j foram reunidas, bem como
as aferies de base realizadas e o perodo de seguimento, encerrado (HULLEY et al, 2008).
A abordagem quantitativa se refere a fatos pertinentes ao mundo concreto, objetivo e
mensurvel advindo das cincias naturais ou sociais. Alm disso, a quantificao dos dados
coletados tratada por meio de anlises estatsticas e matemticas (FIQUEIREDO; SOUZA,
2011).
2.2 LOCAL DO ESTUDO
A pesquisa foi realizada em uma empresa de transporte coletivo, localizada no
municpio do Rio de Janeiro, devidamente autorizada pela Diretoria da Empresa.
A empresa se caracteriza como particular, prestando servio pblico. Faz parte do
ramo rodovirio, desde a dcada de 60 quando iniciou a construo de seu espao fsico e a
disponibilizao da primeira frota de nibus.
Nas instalaes da empresa funcionam: o Setor de Recursos Humanos; o Servio de
Medicina Ocupacional, com sala para realizao das audiometrias; Refeitrio; Servio de
Mecnica e Abastecimento dos nibus.
A empresa opera, atualmente, com cento e sessenta e oito carros em oito linhas e
quatro servios que ligam o centro da Cidade Zona Norte, e da Zona Sul Zona Norte da
Regio Metropolitana do Rio de Janeiro. A frota inclui: nibus padro, micronibus,
supermicros e nibus adaptados para acesso a portadores de deficincia.
Em dezembro de 2008, a empresa, recebeu o prmio Parceria Eficiente 2008 na
categoria empresa, institudo pela Secretaria Municipal da Pessoa com Deficincia. Esse
prmio atribudo todo ano a empresas, empresrios, instituies comunitrias, cidados,
instituies pblicas e servidores municipais que promovem incluses de portadores de
deficincia no mercado de trabalho e aes voltadas para a melhoria da qualidade de vida das
pessoas com deficincia.
http://www.transporteestrelaazul.com/Paginas%20Secundarias/pgLinhasAtual.htmhttp://www.transporteestrelaazul.com/Paginas%20Secundarias/pgLinhasAtual.htm
42
2.3 POPULAO DO ESTUDO
A empresa de transporte coletivo campo dessa pesquisa, tem como parte integrante de
seu quadro funcional quatrocentos e trinta motoristas de nibus urbano. A amostra foi
constituda de cento e doze motoristas, caracterizando aproximadamente 26 % da populao
total.
Como critrios de incluso para o estudo foram considerados: motoristas com data de
admisso nos anos de 2007, 2008 e 2009; ser do sexo masculino; idade inferior a sessenta
anos; funo de motoristas e que desejassem participar do estudo, por opo.
Como critrios de excluso foram considerados: os motoristas afastados pelo Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS) e os motoristas que foram demitidos no perodo da
investigao.
2.4 ASPECTOS TICOS DA PESQUISA
Os motoristas foram informados sobre a finalidade do estudo e qual a utilidade dos
respectivos resultados, obedecendo aos cuidados ticos em relao ao sigilo e
confidencialidade dos dados, em concordncia com a Resoluo n 196 de 10 de outubro de
1996 do Conselho Nacional de Sade que referencia os princpios bsicos da biotica:
autonomia, no maleficncia, beneficncia e justia, visando assegurar os direitos e deveres
que dizem respeito comunidade cientfica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado.
Ainda em concordncia com a Resoluo n 196/96 do Conselho Nacional de Sade
foi solicitado aos sujeitos da pesquisa a assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (APNDICE III(C) autorizando sua participao voluntria. O respeito devido
dignidade humana exige que toda pesquisa se processe aps consentimento livre e esclarecido
dos sujeitos, indivduos ou grupos que por si e/ou por seus representantes legais manifestem a
sua anuncia participao na pesquisa.
Este trabalho foi aprovado pelo Comit de tica e Pesquisa do Hospital Universitrio
Antonio Pedro da Universidade Federal Fluminense (HUAP/UFF) sob CAAE -
6141.0.000.258-10 (ANEXO I(A).
43
2.5 COLETA DOS DADOS
2.5.1 Identificando os limiares auditivos
A primeira fase foi identificao dos limiares auditivos, por meio do cadastro
audiolgico dos motoristas de nibus contidos no banco de dados do software Winaudio 7.4.
O Winaudio um software de apoio audiolgico direcionado para mdicos e
fonoaudilogos que atuam na rea de audiologia clnica e ocupacional e para empresas que
necessitam de controle de sade ocupacional. A verso ocupacional direcionada para o
acompanhamento permanente do paciente.
A verso Ocupacional do Winaudio engloba nove mtodos de avaliao, para esse
estudo foi utilizado como mtodo de avaliao, o proposto pela Portaria 19 da Secretaria de
Segurana e Sade do Trabalho.
Os valores dos limiares auditivos registrados por meio do software Winaudio 7.4
foram coletados pela pesquisadora. Essa coleta obedeceu ordem cronolgica relativa data
de admisso dos motoristas. Primeiramente foram coletados os valores dos limiares dos
motoristas admitidos no ano de 2007(exame de referncia) e seus exames sequenciais 2008 e
2009, depois dos admitidos em 2008 (exame de referncia) e seus exames sequenciais 2009 e
2010, e por ltimo, dos motoristas admitidos em 2009 (exame de referncia) e exames
sequenciais 2010 e 2011.
Os dados foram inseridos em um banco de dados criado pela pesquisadora no software
Excel, e analisados posteriormente atravs de estatstica descritiva.
2.5.2 Formulrio sobre a exposio ao rudo e ao cuidado com a sade auditiva
A segunda fase foi realizada atravs de um formulrio com perguntas relacionadas
exposio ao rudo e ao cuidado com a sade auditiva aplicado aos motoristas de nibus.
(APNDICE II(B)
Segundo Cervo, Bervian e Da Silva (2007), o formulrio uma lista informal,
catlogo ou inventrio, destinado coleta de dados resultantes de observaes, interrogaes
e seu preenchimento realizado pelo pesquisador. O formulrio pode ser considerado
vantajoso, pois o pesquisador junto ao sujeito pode esclarecer as dvidas em relao aos
questionamentos apresentados, garantindo a uniformidade das informaes.
44
A aplicao do formulrio, inicialmente foi efetuada no dia da realizao do exame
audiomtrico peridico dos motoristas de nibus.
Devido ao prazo para o trmino do estudo, a realizao da aplicao do formulrio, se
deu em dias extras, durante os meses de maio, junho, julho, agosto e setembro de 2011,
obedecendo aos turnos de trabalho dos motoristas. Mediante esse fato aplicou-se o formulrio
a noventa e quatro motoristas no sendo possvel a resposta de toda a amostra (cento e doze
motoristas).
Os motoristas do primeiro turno responderam ao formulrio, junto com a
pesquisadora, antes do incio de sua jornada de trabalho, na garagem da empresa. O primeiro
turno normalmente iniciava suas atividades, por volta das quatro horas da manh.
Os motoristas do segundo turno responderam ao formulrio, junto com a pesquisadora,
ao trmino de sua jornada de trabalho, durante a entrega dos veculos na garagem da empresa.
O horrio do trmino das atividades do segundo turno era em torno de duas horas da manh.
O resultado das perguntas respondidas atravs do formulrio foi inserido em um banco
de dados criado pela pesquisadora no software Excel, analisados posteriormente atravs de
estatstica descritiva.
2.5.3 Descrio do Programa de Conservao Auditiva
A terceira fase do estudo constou da descrio do Programa de Conservao Auditiva
atravs de um formulrio seguindo as recomendaes para a elaborao do PCA segundo o
Comit Nacional de Rudo e Conservao Auditiva Boletim n 6, 1999 (APNDICE I(A).
A pesquisadora agendou uma visita com a equipe de Segurana do Trabalho da
empresa. Durante a visita foi apresentado o PPRA sendo observadas as informaes
pertinentes aos profissionais do trfego, em particular aos motoristas de nibus.
As etapas que constituem o PCA foram informadas pela equipe de segurana do
trabalho que se props a discorrer sobre cada etapa, mediante o formulrio em forma de check
list apresentado pela pesquisadora.
A pesquisadora no teve acesso ao documento fsico do PCA, pois segundo a Equipe
de Segurana do Trabalho o mesmo se encontra em reformulao devido recente transio
do pessoal da Engenharia de Segurana.
45
2.6 ANLISE DOS DADOS
A anlise descritiva apresentada sob forma de tabelas e os dados observados, atravs
de mdia desvio padro (DP) e mediana, juntamente com grficos ilustrativos e com os
dados categricos, atravs de frequncia e percentual.
A anlise estatstica foi composta pelos seguintes mtodos:
- Anlise de Varincia (ANOVA): procedimento utilizado para comparar trs ou mais
tratamentos. Existem muitas variaes da ANOVA devido aos diferentes tipos de
experimentos que podem ser realizados.
Foi utilizada a ANOVA de Friedman3 para verificar se existe variao significativa na
audiometria (em dB) ao longo de trs anos consecutivos. A ANOVA de Friedman um teste
no paramtrico que compara trs ou mais grupos emparelhados. O referido teste pode ser
utilizado para responder pergunta, no caso das amostras pertencerem mesma populao.
- Teste de comparaes mltiplas de Nemenyi:4 foi aplicado para identificar quais os
anos que diferem significativamente entre si.
- Testes no paramtricos foram aplicados,