7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca
1/15
Fatalismo melanclico
(John Everett Millais, Ophelia, 1851-52)
Parte I: O prembulo
Parece que o cansao de viver acompanhou o homem desde a antiuidade, pelo menos
no !cidente" !s nomes dessa maneira de lidar como o mundo variaram con#orme as $pocas" %a
literatura, na arte, na poesia, na #iloso#ia, na relii&o, so'retudo at$ meados do s$culo * ania,
apatia, taedium vitae, ac+dia, melancolia, neurastenia, mal do s$culo,spleen, a'surdo, nusea etc"
p.s esse per+odo esse cansao adquiri outra denomina&o, passa ent&o a ser chamado de
depress&o"
!s estoicos procuraram tratar o tema de um modo #ilos.#ico" Preavam que os homens
deveriam aceitar o que decorria inevitavelmente da nature/a e n&o se revoltar" ! s'io deveria
viver numa esp$cie de 0#ortale/a interior e o'edecer a mima que lhe recomendava suportar e
se a'ster de participar do mundo" ssim, o s'io deveria controlar as suas representa3es do
mundo de modo a escapar do so#rimento" !s estoicos de#endiam um ideal de estado chamado
7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca
2/15
apatia, estado de insensi'ilidade emocional ou esmaecimento de todos os sentimentos" 4al
movimento era alcanado atrav$s do alaramento da compreens&o #ilos.#ica" Em ltima anlise,
um estado em que a alma n&o #ique suscet+vel a como&o, uma indi#erena 0controlada"
67neca #oi para um dos primeiros na antiuidade a descrever os sintomas desse estado, e
por ele era chamado detaedium vitae" 67neca esta'eleceu uma distin&o entre 0taedium (t$dio)
e 0aeritudo (desosto, esotamento, tam'$m no sentido #+sico)" %o ltimo, para 67neca, n&o $
a mesma coisa que o outro, impossi'ilitando soci-los como sinnimos" ! t$dio seria ent&o $ um
mal-estar que envolve quest3es eist7ncias, $ mais insidioso, paralisa a decis&o, e n&o sendo t&o
atitudinal, como no luto ou no #uror, parece desencora9ar qualquer atitude" :ontudo, a virtuosa
o'ra de 67neca parece nos levar para o lado contrrio da melancolia" Em seus tetos ou em
rande maioria deles, 67neca tenta eprimir que $ atrav$s da #iloso#ia que $ poss+vel a#astar esse
cansao de viver"J em ;audelaire, a vis&o de melancolia tam'$m est lida ao ser criativo, que produ/
arte" Pois $ atrav$s desse desa9uste com as normas vientes de sua $poca $ que se $ capa/ de sair
de si e perce'er n&o somente a si mesmo mas tam'$m o outro atrav$s da produ&o po$tica" !
chamado spleen$ a #orma moderna de acedia, o spleen$ a melancolia para a era moderna e
so'retudo pode ser caracteri/ada pela #iura do poetaflanurque transita em meio a multid&o,
mas se sente n&o encaiado nela, s&o pertencente 1?), o luto e a melancolia coeistem em cenrios semelhantes" !
luto $ representado como uma rea&o relativa < perda de alo ou alu$m" J a melancolia $
sinnimo de depress&o, $ uma triste/a mais pro#unda do que o luto e eralmente tem uma
dura&o mais prolonado em rela&o ao luto" ! luto, apesar da lia&o direta com o sentimento
de perda, n&o est necessariamente liada < morte"
@eralmente o luto $ um estado relacionado < perda, n&o havendo oriem patol.ica"
Mas $ importante o'servar se essa perda #oi superada dentro de um determinado tempo, via de
7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca
3/15
rera, entre um a dois anos" :aso o paciente em luto n&o se9a estimulado de #orma adequada, as
caracter+sticas do luto podem se aproimar as mani#esta3es da melancolia" AesBnimo, perda de
interesse pelas atividades cotidianas e mesmo perda de apetite" ! sentimento de auto-
recrimina&o e culpa ocorre em pessoas que tem a predisposi&o sociocultural a desenvolver tal
estado" C neste aspecto que Dehl (2>) escreve em seu livro O tempo e o Co, que os sintomas
psicol.icos est&o necessariamente liados a vida em sociedade e que os sintomas cl+nicos s&o
rever'era3es do que o su9eito n&o conseue suportar acerca do que lhe $ eiido socialmente"
%o Futo normal, pela perda de um ente, h a di#iculdade de adotar outro alvo de amor" !casiona
ent&o, o desvio de realidade" 6omente com o passar do tempo e com o desvio de #oca $ que
paulatinamente o luto ser superado"
inda seundo os pensamentos de =reud (1>1?), melancolia $ uma altera&o ps+quica
relacionada a uma ela'ora&o anormal do luto em que h di#iculdade na rela&o entre o su9eito ea realidade quando ocorre aluma perda"Em aluns casos pode ser averiuada a perda, por$m,
n&o se sa'e precisamente o que se consumiu" 6a'e-se, por eemplo, quem se perdeu, mas n&o se
sa'e o que se perdeu nessa pessoa" %o melanc.lico n&o se pode ver eatamente qual o contedo
da perda" Perder este o'9eto a'soluto sini#ica perder-se de si " ! luto se apresenta como perda da
auto-estima e pode estar associada a insnia e perda do apetite" 6eundo =reud a li'ido nesse
caso sem ter direcionamento, deloca-se o eo esta'elecendo uma compara&o com o ente
perdido" contece a perda de uma parcela da identidade, o a#eto volta-se contra o 0eo oriinal
do paciente, #a/endo so#rer com este con#lito interno" Eitem casos em que a melancolia
desdo'ra-se em suic+dio como hostilidade ao mundo eterno"%a melancolia o eo sucum'iria ao
mesmo e na mania 9 o teria superado, resultando disso um estado de aleria por al+vio, de
economia de eneria" %&o que a mania se9a resultado rem$dio para a melancolia, mas alo que
#a/ parte do con9unto estado"
Por isso a melancolia, no tocante aos motivos, pode ultrapassar
'astante o luto, que via de rera $ desencadeado somente pela perda real, amorte do o'9eto" Portanto, na melancolia travam-se inmeras 'atalhas em
torno do o'9eto, nas quais .dio e amor lutam entre si, um para desliar a li'ido do
o'9eto, o outro, para manter essa posi&o da li'ido contra o ataque" (=reud, 1>1?, p" 1G1,
1G2)
7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca
4/15
%as palavras de =reud, o luto se di#erencia da melancolia, pois a melancolia $ um luto
sem luto" melancolia aqui $ como um sintoma da vida em sociedade e o que ela (a sociedade)
intro9eta em cada su9eito" n&o concreti/a&o dos o'9etos tidos normais em uma determinada
sociedade e automaticamente tidos como desa9ustado"
J por outro lado e mais recentemente a depress&o, o novo Hmal do s$culoI tam'$m
poderia ser chamado por muitos de melancolia, 9 que a pr.pria palavra melancolia teve suas
apropria3es"C da teoria da '+lis nera que se cunha o termo melancolia" Este $ derivado do
reo melas (nero) e khol ('ile) que corresponde < translitera&o latina melaina-kole"
ntiamente, predominou a teoria hipocrtica que dividia a humanidade em quatro humores
(l+quidos corporais)* o melanc.lico ('+lis nera), o col$rico ('+lis amarela), o sanu+neo (sanue)
e o #leumtico (ua)" melancolia decorreria de um ecesso da '+lis nera circulando pelo
corpo e causando sentimentos neativos (apatia, triste/a, autopuni&o)" :om o decorre dostempos a melancolia apareceu como taedim vitae, como acedia, comospleene alumas outras
nomenclaturas" nclusive, no s$culo como depress&o, contudo n&o h consenso so're a
nomenclatura muito menos com os sintomas atri'u+dos < ela"
Maria ita Delh (2>) tenta di#erenciar a depress&o de melancolia, num estudo
temporal so're a depress&o*
Mas $ importante n&o con#undir depress&o e melancolia" Muito menos imainar que a
di#erena entre uma e outra se9a de rau, sendo a melancolia uma #orma mais rave de
depress&o" pesar das diversas coincid7ncias sintomticas, a depress&o $ muito
di#erente da melancolia" desesperana no melanc.lico, por eemplo, tem a ver com o
#ato de o !utro, em sua primeira vers&o imainria (materna), n&o ter con#erido ao
rec$m-nascido um luar em seu dese9o" ! melanc.lico #icou preso em um tempo morto,
um tempo em que o !utro deveria ter comparecido, mas n&o compareceu" J o tempo
morto do depressivo #unciona como re#io contra a ur7ncia das demandas de o/o do
!utro" Em seu re#io, o depressivo tenta se poupar do imperativo de satis#a/er o !utroK
no entanto, quanto mais ele se esconde, mais #ica < merc7 Aele" (Dehl, 2>, p" 2, 21)
Dehl tam'$m chama a aten&o para o que ela chama de sintoma social" Em seu livro ela
de#ende que as depress3es, desde a dade M$dia ocupavam um papel de sinali/ador do Hmal
estarI da sociedade" t$ a modernidade o luar do melanc.lico era de um su9eito ecepcional,
ec7ntrico" Mas com a Psicanlise e a apropria&o #eita por =reud, o melanc.lico passa a ter um
7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca
5/15
outro luar dentro da sociedade" Ele $ tido como o su9eito que silenciosamente rui as sustenta3es
dos 'em-resolvidos na vida moderna" Dehl ainda re#ora, 0depress&o $ sintoma social porque
des#a/, lenta e silenciosamente, a teia de sentidos e de crenas que sustenta e ordena a vida social
desta primeira d$cada do s$culo "(DELF, 2>, p22)
Por outro lado h aqui aqui um em'ate entre a teoria tecida por =reud e as considera3es
esta'elecidas por Dehl so're as perspectivas de =reud so're a melancolia e sua posi&o
arumentativa a n.s contemporBnea" 6e =reud $ uma esp$cie de divisor de uas nos estudos da
melancolia $ porque ele tra/ para dentro da #am+lia a culpa das mani#esta3es melanc.licas em
determinados su9eitos" melancolia pr$-#reudiana era encarada com uma esp$cie de dualidade -
9usti#icando os momentos de pro#unda triste/a em que supostamente o su9eito, em seu del+rio,
conseuisse interpretar o mal-estar social daquele momento, transpondo-se de si pra o !utro"
Ent&o o su9eito era tratado como melanc.lico-criativo" J que suas anstias eram, de aluma#orma, tradu/idas atrav$s de composi3es po$ticas"
Em =reud, essa concep&o de melanc.lico liada a produ&o art+stica $ deiada um
pouco de lado na inser&o por eemplo do compleo de Cdipo na constru&o, ou melhor, no que
se poderia chamar de prot.tipo de melancolia" semente estaria liada < #am+lia e n&o
necessariamente seria um sintoma social" :omo #ica mais claro nesta cita&o"
(""") as condi3es da melancolia para a psicanlise, de acordo com a desina&o
#reudiana" o romper com o paradima psiquitrico da psicose man+aco-depressiva e
tra/er o sini#icante melancolia para o campo da vida #ami- liar, via compleo de Cdipo,
=reud nos #ora a a'andonar esse sini#icante como indicativo do sintoma social" !s
+ndices alarmantes divulados pela !M6 indi- cam que $ poss+vel que a melancolia
tenha sido su'stitu+da pela depress&o como o nome mais adequado < epress&o
contemporBnea do mal-estar, herdeira do que teria sido a melancolia pr$-#reudiana"
(DELF, 2>, p" 82)
E complementa"
%&o eiste su'stitui&o que nos poupe da perda" o trocar a denomina&o do
0melanc.lico pela do 0depressivo para manter a linha anal+tica que articu- lava a
antia melancolia ao sintoma social, parte do 'rilho e do valor atri'u+do pela tradi&o
ocidental a essa #orma de mal-estar teve de ser deiada para trs" !s queiosos, os
autotorturados caracter+sticos da melancolia #reudiana, tam'$m n&o #a/em por merecer
7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca
6/15
essa herana" C preciso admitir que a aura romBntica, tanto re#leiva quanto criativa,
(mal-)equili'rada na tensa #ronteira entre o 7nio e a loucura N a aura dos antios
melanc.licos N, perdeu-se" 0Pode-se di/er que um trao caracter+stico do 7nio po$tico $
sa'er muito mais do que ele sa'e, escreveu 6chleel" (DELF, 2>, p")
C nesse sentido que #ala Dehl que h um deslocamento no sentido entendido no que era
ser melanc.lico antes e depois o sini#icado que $ atri'u+do ap.s as considera3es de =reud" Ela
a#irma que atualmente os depressivos que procuram cl+nicas psicanal+sticas est&o lone de se
parecerem com os 7nios po$ticos de outrora" Em'ora, pudessem s7-lo, n&o lhes passa a ca'ea
que tal #ato poderia estar liado a outro simplesmente por mudanas te.ricas"
Parte III: O filme e teorias
Meu o'9etivo aqui neste ensaio, al$m de #a/er um percurso so're a melancolia, tam'$m
$ de apontar 67neca como sinali/ador do Hmal estarI social antes mesmo inclusive dos
representantes na dade M$dia como apontou anteriormente aqui a Psicanalista Maria Dehl"
inten&o $ de propor de que #orma alumas passaens dos tetos latinos de 67neca est&o liados
ao #ilme Melancolia, de Fars von 4rier e ao tema melancolia, evidentemente"
Dados tcnicos:
4+tulo* Melancolia4+tulo oriinal* Melancholia
Elenco* Dirsten Aunst, :harlotte @ains'our, leander 6Oarsrd
Pa+s* =rana, Ainamarca, 6u$cia, lemanha
no* 211
Aura&o* 12> minutos
Aire&o* Fars von 4rier
Sinopse:
! #ilme-catstro#e narra o #im do mundo em duas partes, ao som de ichard Qaner" %a
primeira, acompanhamos o casamento de Justine (Dirsten Aunst), orani/ado com /elo por sua
irm&, :laire (:harlotte @ains'our)" %a seunda, am'ientada nas semanas que sucedem a #esta,
7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca
7/15
9 $ poss+vel notar no c$u a aproima&o do planeta Melancolia, que passou s$culos RescondidoR
atrs do 6ol e aora se aproima ameaadoramente da 4erra"
(Melancolia, "15"?min)
%a primeira parte, h um cenrio que lem'raria =esta de =am+lia, com sua lavaem
coletiva de roupa su9a, mas a encena&o do dinamarqu7s est mais pr.ima do humor nero e da
cria&ofakede situa3es de ! @rande :he#e" ! cinismo #ica pontuado nos diloos - 9 sa'e-se
da catstro#e iminente, e o teto n&o deia perder a escala" Mas o tom de #arsa do encontro deJustine com seus convidados tira dessas situa3es sua ravidade" Justine, nessa primeira parte do
#ilme parece ser alu$m 9 n&o est em consonBncia com o resto dos convidados e parentes"
! atraso devido a uma Fimusine que era rande de mais para passar por um caminho a
uma propriedade no interior cansa o espectador e d a entender que tanto o horrio de atraso
quanto o pr.prio casamento parecem n&o ser importantes" Justi#icando isso, o casal cheando
muito atrasado para a recep&o, Justine pre#ere ainda rever um cavalo no haras do que ir
cumprimentar seus convidados"
!utro ponto que $ impostante ressaltar nesse primeiro ato $ o esmaecimento da
personaem Justine durante o 9antar de casamento" 4odos parecem estar preocupados com ela,
em como ela esta lidando com o casamento ect, eceto sua m&e que parece incorporar uma
entidade realista-cruel" %em mesmo os arados do rec$m esposo #a/ com que Justine consia
7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca
8/15
desprender-se das amarras que parecem su#oc-la" :omo #ica melhor visuali/ado nesta frame
retirada nos primeiros minutos do lona"
(Melancolia, "5">min")
L em Justine, pelo menos no in+cio de lona, uma certa tentativa de escapar das
condi3es que a levam a #icar deprimida" Em'ora, parea que ela n&o sa'e muito 'em o que lhe
deia t&o cansada de viver" Pois o casamento era para ser uma das mais #eli/es passaens de
alu$m, sini#icaria estar com alu$m que se ama" l$m disso, Justine $ uma pu'licitria
renomada, tra'alha em uma empresa cu9o se patr&o a admira a ponto de lhe o#erecer uma
promo&o em pleno casamento" Em tese, era para tudo estar 'em, mas n&o est"
Penso que uma das condi3es mais sini#icativas do #atalismo 'en9aminiano, que
tam'$m poderemos chamar de con#ormismo, na sociedade contemporBnea N e que
atinem #ortemente adolescentes e 9ovens N, tenha sua oriem na sedu&o eercida pelas
#orma3es imainrias predominantes no estio atual do capitalis- mo" 4ais condi3es
da vida social n&o s&o alheias ao su9eito da psicanlise, tomado a partir da sinularidade
de sua posi&o nas estruturas cl+nicas" (DELF, 2>, p" >)
C so' tal conteto que Justine, a persona principal do lona parece estar inserida e
lentamente comea a mostrar-se en#adada ou cansada de todo o teatro criado no dia de seu
casamento"
7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca
9/15
cr+tica que entendo que $ tecida pelo diretor dinamaqu7s $ cruel" Ele aponta elementos
que na sociedade ocidental $ tido com essencial" %a #esta, ele apresenta&o a con#iura&o
#am+lia totalmente #ramentada, a ponto de estar destru+da, ou se9a, Justine em seu momento
melanc.lico n&o tem a quem recorrer" %em seu pai que parece no #ilme como uma esp$cie de
'o'o da corte, mas $ entil com a #ilha, tenta entend7-la, mas n&o hora que ela, de #ato, o
procura, ele 9 havia ido em'ora" Por outro lado, sua m&e $ dura, parece n&o se importar com os
sentimentos da #ilha, em'ora reconhea-os" Ela (a m&e) parece alu$m que quer epor para a
#ilha que n&o adianta casamento que em ltima instBncia, n&o adianta nada" Sue tudo 9 est
perdido" Ela $ amarurada e parece estar resinada a respeito do seu destino"
pu'licidade tam'$m $ outro #ator criticado pelo diretor, ao meu ver, pois Justine
demiti-se do caro que aca'ara de rece'er" 4udo acontece num diloo repleto de cara neativa,
como se a pu'licidade tam'$m #osse mais um ponto que pesasse o #ardo que tanto temdi#iculdade de suportar" pu'licidade a meu ver $ o rande motor da vida na sociedade de
consumo" Aita reras e cria conceitos como 9 #e/ as institui3es reliiosas em outras $pocas"
Esse campo miditico que cria a sociedade de consumo tam'$m $ responsvel por mant7-la, em
at$ certo ponto, depressiva" Lo9e o su9eito s. $ alu$m respeito mediante , p" 8G)
7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca
10/15
Aesse modo, o #atalismo pode tam'$m estar liado ao modus vivendi capitalista, cu9a
op3es de #ua parecem cada ve/ mais escassas" E al$m do mais o modo capitalista da sociedade
industrial avanada se tornou uma relii&o mais a'ranente do que o pr.prio cristianismo no
ocidente" 4ornando-se em certa medida a mais opressora das relii3es, lem'rando o teto de
Qalter ;en9amin no livro O capitalismo como religio onde o capitalismo responderia
7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca
11/15
#orma, tentar linc-lo com meu vi$s de pensamento so're a melancolia e dar conta do #ilme
tam'$m"
suspeita, no retorno 85, p" G>)
67neca tenta consolar o inconsolvel e n&o convence a si mesmo com suas palavras"
Parece entristecido, mas con#ormado com a dor que $ viver" l$m do mais, ele parece 9 n&o
7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca
12/15
acreditar mais no que antiamente escreveu so're ter coraem e intervir na vida p'lica,
so'retudo, porque tudo o que #e/ n&o mudou o #ato de que %ero era um tirano e que oma estava
a merc7 de alu$m que n&o tinha escrpulos e que ele e toda a oma estavam caminham para a
ru+na" sso 9usti#ica sua posi&o de retirada da vida p'lica e no caso dele at$ da vida em
sociedade como #oi o caso do seu e+lio"
(Melancolia, "WW"WXmin)
C dessa mesma #orma que ve9o Justine, alu$m que conseue ver atrav$s do v$u ilus.rio
como 67neca, mas que talve/, di#erente dele, at$ pelo #ato dos est+mulos ho9e serem muitos
di#erentes dos est+mulos da $poca de 67neca e muito mais intensos, ela se deia a'ater" %&o v7
mais sa+da para ela a para os outros" Essa desist7ncia da vida, em ltima instBncia acarreta
sintomas #+sicos at$ mesmo de paralisia corporal e perda de qualquer sentido na intera&o e
crena no #im de tudo"
! depressivo $ aquele que se retira da #esta para a qual $ insistentemente convidadoK
sua produ&o imainria empo'recida n&o sustenta as #antasias que deveriam promover
a crena na com'ina&o aparentemente in#al+vel entre o espetculo e o capital15W" !s
depressivos, cu9o nmero parece aumentar na propor&o direta dos imperativos de
7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca
13/15
#elicidade, s&o incmodos na medida em que questionam esse pro9eto" Aa+ seu
parentesco com os melanc.licos pr$-modernos, que so#riam por ter ca+do do (suposto)
luar de onde pretendiam atender < demanda do !utro" (DELF, 2>, p" 1G)
! diretor parece #a/er uma anlise 'astante pessimista no que se re#ere a transposi&o daimaem da protaonista, Dristin Aust, para a vida real" 6ua apropria&o anloa vai ao encontro
do #uturo desta sociedade industrial avanada" cr+tica a dissolu&o da #am+lia $ uma das
evid7ncias que para ele essa sociedade est #adada ao #racasso e isso pode acontecer como aponta
ele com uma desist7ncia da vida"
Em'ora encontra-se contradi3es no #ilme a #im de mostrar a #ace daqueles que n&o
perce'em o que est acontecendo ao seu redor" Mas serve muito mais como modo de a#irma&o
de que de, de #ato, n&o h mais 9eito, no sentido de salva&o" Pois :laire, irm& de Justine nutri um
amor ou uma ami/ade muito rande pela irm&, tenta n&o se eiar a'ater pela situa&o da irm& e
pelo imin7ncia do planeta Melancolia em rota de choque com a 4erra" Ela, alicerada pelo
marido, tenta air com pela ra/&o e n&o deiar o caminho da o'scuridade tom-la"
aceita&o #orada do #im de :laire $ 'em di#erente da resina&o encontrada em
Justine que no meio do #ilme se mostra totalmente entre a melancolia, mas que com a maior
proimidade do planeta que ir colidir com a 4erra, Justine tem um ltimo #leo possivelmente
impulsionada pelo est+mo de t$rmino do so#rimento, como o #im de tudo" Ela aceita a parece estar
em pa/ com esse #im"Aa mesma #orma, pensando 67neca nesta cena de melancolia, acho que ele muda a
chave de seus escritos para tentar desarticular esse sintoma social sentido desde o aue do
mp$rio omano" Evidentemente, o tecnicismo eacer'ado dos tempos atual $ 'em di#erente das
condu3es de vida romana da $poca, contudo devo salienter que independente da $poca, me
parece haver sempre alo que impulsiona, ou melhor, pressiona o indiv+duo socialmente a ponto
dele n&o suportar tais ei7ncias" ! dese9o n&o cessa nunca e esse va/io interno desem'oca em
sintomas como melancolia" sso acontece quando se perce'e que tais metas s&o inalcanveis eou s&o o oriem controladora ent&o perdem sua validade e tais caracter+sticas 9 n&o querem ser
conquistadas" conquista de metas imprime um preo alto demais cu9o indiv+duo n&o est
disposto a paar"
7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca
14/15
(Melancolia, 2"W"2Gmin)
eferncias:
M!"#$%O"I#" Aire&o de Fars von 4rier" Ainamarca* Fars von 4rier, 211" 6on", color"
Feendado"
DELF, Maria ita" O tempo e o %&o" 6&o Paulo* ;oitempo, 2>" 2> p"
7/25/2019 Ensaio- Melancolia e Sneca
15/15
67%E:, nnus" 6o're a 'revidade da vida" n* 67%E:, nnus" %ompila'&o de te(tos de
Sneca) 6&o Paulo* ;oitempo, 1>>?" p" 1-15" Aispon+vel em*
Yhttp*ZZpensamentosnomadas"#iles"[ordpress"comZ21GZ1ZW-so're-a-'revidade-da-vida-
lendo"pd#\" cesso em* 1G 9ul" 121G"
67%E:, nnus" A 4%S]FAAE A FM" n* ^4!E6, Urios" Os pensadores)
6&o Paulo* 'ril :ultural, 1>85" p" G1-GG"
;E%JM%, QalterK F_Q , Michael (!r")" O capitalismo como reli*i&o) 6&o Paulo*
;oitempo, 21W"
=E^A, 6imundK DELF, Maria itaK :!%E, Modesto" "uto e melancolia) 6&o Paulo*
:osacnai#, 212"
Top Related