Editor: Instituto Politécnico de Santarém
Coordenação: Gabinete coordenador do projecto
Ano 5; N.º 205; Periodicidade média semanal; ISSN:2182-5297; [N.31]
FOLHA INFORMATIVA Nº38-2012
1º Convívio gastronómico dos Avieiros do Porto da Palha, em Azambuja, na Primavera do ano de 2012
Ementa: Lampreia grelhada; Arroz de sável com ovas (com vinho, sobremesas, café e digestivo)
O 1º Convívio gastronómico dos Avieiros do Porto da Palha, em Azambuja, ocorreu na
Primavera do ano de 2012 por iniciativa da comunidade Avieira daquela aldeia.
Porquê o nome da aldeia? Porque os Avieiros, sempre que se estabeleciam aproveitavam os
sítios mais favoráveis junto das margens do Tejo. Desses sítios os que mais frequentemente
escolhiam localizavam-se junto de portos fluviais onde a actividade económica era significativa
e as pessoas se aglomeravam como consequência dessa mesma actividade.
Assim aconteceu por exemplo com o Porto do Carvão, na Chamusca, pelo facto de ali se
processarem as cargas de carvão para abastecer o mercado de Lisboa. Assim aconteceu com o
Porto do Patacão, local desde há muito referenciado em cartas fluviais como um porto de
embarque e desembarque de pessoas e bens da
margem esquerda do Tejo – em Alpiarça – para a
margem direita – em Vale de Figueira, no concelho de
Santarém. Ocorreu o mesmo com o Porto da Palha, na
Azambuja, pelo facto de ali se carregar a palha que ia
alimentar os equinos que na altura puxavam os carros
em Lisboa, ou que serviam na Cavalaria Portuguesa.
Uma vez estabelecidos, aplicaram as suas habilidades
ou maneiras de saber-fazer para poderem subsistir no
novo meio-ambiente. Uma das competências que
desenvolveram de uma forma adaptada foi a de
cozinhar com ingredientes novos, nomeadamente o
peixe do rio e as plantas ribeirinhas do Tejo, criando
aos poucos um novo tipo de refeições, mas mantendo
a base cultural que traziam da Praia de Vieira de Leiria.
A pesca bem-sucedida da lampreia, no Porto da Palha
A gastronomia dos avieiros é fruto do ambiente natural de proveniência – Vieira de Leiria – da
cultura própria da comunidade e dos locais para onde migraram. A gastronomia avieira foi,
portanto sendo cruzada, ao longo do processo de assentamento (pelo menos desde 1833),
com os recursos disponíveis, as necessidades e as práticas ancestrais da comunidade.
O Porto da Palha, no concelho de Azambuja, visto do Tejo
É sabido que as mudanças sociais acarretam alterações nos hábitos e práticas diárias e a
gastronomia não foge a esta regra geral das sociedades. Como outro qualquer fenómeno
social, a gastronomia não resulta só da interacção entre o meio ambiente e a realidade
sociocultural, porque também tem inúmeros envolvimentos sociais que influenciam,
significativamente, as sociedades e os homens com repercussão directa sobre a sua saúde e as
relações que se estabelecem entre eles.
Um aspecto da aldeia Avieira do Porto da Palha
É sobre as implicações sociais da gastronomia, que gostaríamos de deixar breves reflexões
tendo em consideração a diversidade de aspectos que podem ser considerados.
Um barco Avieiro adaptado a mesa de refeições, para convívios gastronómicos no Porto da
Palha, neste caso no “Estaminé do Zé”. O motor que se vê em primeiro plano foi adaptado
para reservatório de vinho, para servir os convidados. Ao fundo vê-se o rio Tejo.
Previamente há que realçar a importância da
gastronomia dentro da família. É, geralmente,
à volta de uma mesa que se realizam os
encontros familiares e se consolida o espírito
de coesão e de união. É, igualmente, neste
contexto de socialização primária que os mais
novos, instigados a cumprir as regras sociais
vigorantes sobre o que comer, como comer e
como fazer o comer, recebem as informações
transmitidas pela família aqui no seu papel de
intermediária entre os jovens e a sociedade.
Regra geral os grandes momentos de alegria
das famílias e das sociedades são
acompanhados de eventos gastronómicos:
casamentos, nascimentos, baptizados,
aniversários, êxitos profissionais e escolares,
isto é, todas as datas festivas e simbólicas das
sociedades.
A gastronomia desempenha de igual forma um papel determinante na criação da coesão e da
amizade que nasce e se enriquece no seio dos grupos. Cabe, portanto, abordar o convívio que
se faz presente em todas as manifestações gastronómicas.
É geralmente à volta da mesa e na selecção, preparação, apresentação e prova do que se come
e bebe que se criam e cimentam ambientes de camaradagem, de convívio e alegria, que dão
colorido à vida não só daquelas comunidades como também delas para com os visitantes.
Representantes da Junta de Freguesia de Vieira de Leiria e da Câmara Municipal de Marinha Grande
Saborear, depois de acabada a pescaria, as lampreias grelhadas e o arroz de sável dos Avieiros
do Porto da Palha, in situ, acompanhado de vinho tinto e pão caseiro, num ambiente de franco
convívio, onde o bailarico se fez presente, é um prazer que só pode ser devidamente avaliado
por quem já viveu esta agradável experiência.
No entanto, dadas as condições entretanto criadas pela comunidade Avieira do Porto da Palha,
está neste momento em curso um conjunto de iniciativas que visam realizar com regularidade
estes convívios gastronómicos, para dar a conhecer a cada vez mais pessoas a enorme riqueza
culinária ali existente.
Com estas iniciativas pretende-se no futuro passar a receber turistas nacionais e estrangeiros
para beneficiarem da hospitalidade própria dos Avieiros do Porto da Palha e para que a própria
comunidade possa beneficiar dessa actividade produtiva, até aqui pouco ou nada valorizada
naquele local.
Para isso, a comunidade está a organizar-se para proporcionar uma experiência completa aos
visitantes, levando-os a participar na pescaria a bordo dos barcos, lançando as redes, ajudando
a recolhê-las e delas retirando os peixes capturados, ajudando a amanhar o pescado e a
cozinhá-lo de acordo com as orientações das/dos experientes cozinheiras/os e, claro,
participando activamente na refeição – comendo aquilo que se pescou e cozinhou.
Foi o que aconteceu nesta Primavera de 2012, que aqui se deixa relatado, e que em anexo é
retratado nas diversas fases da 1º Convívio Gastronómico dos Avieiros do Porto da Palha.
Lampreias acabadas de apanhar, conservadas num viveiro
ANEXO – AS DIVERSAS FASES DO 1º CONVÍVIO
GASTRONÓMICO DO PORTO DA PALHA
A preparação das redes para o início da faina piscatória, no início da manhã
O lançamento das redes
A disposição das redes no interior da embarcação
A bóia que sinaliza o fim do lance
Sinalizações originais para evitar encalhes ou que as redes se estraguem
O início da recolha das redes
A primeira “surpresa”: uma enorme lampreia
Já no porto, com Avieiros veteranos que também pescaram nesse dia: - não foi uma má safra
No porto começa a amanha do pescado, neste caso lampreias
O sável preparado para amanhar
Outros interessados na amanha do sável
A banca onde o sável e a lampreia são amanhados, com o Tejo por fundo.
As tarefas são aqui desempenhadas por Avieiros, homens e mulheres.
A lampreia já amanhada
O sável já amanhado
A conferência dos “especialistas” para saber se tudo correu como planeado
A preparação da lampreia assada, debaixo de um enorme eucalipto, na margem do Tejo
A preparação e o serviço do arroz de sável
O repasto ao som da concertina, à “maneira antiga”
O bailarico que não podia faltar
Lurdes Véstia
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