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Universidade de Brasília
ELIANA CAMPOS
O ESPORTE AO ALCANCE DE TODOS Sua valorização e desvalorização no espaço público do CEU (Centro
Educacional Unificado)
São Paulo 2007
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ELIANA CAMPOS
O ESPORTE AO ALCANCE DE TODOS Sua valorização e desvalorização no espaço público do CEU (Centro
Educacional Unificado)
Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar.
Orientadora:
Profª. Ms. Alda Gregório Piazza
São Paulo
2007
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CAMPOS, Eliana O Esporte ao Alcance de Todos: sua valorização e desvalorização no espaço público do CEU (Centro Educacional Unificado) 37p. il. TCC (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância, 2007
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ELIANA CAMPOS
O ESPORTE AO ALCANCE DE TODOS Sua Valorização e Desvalorização no Espaço Público do CEU (Centro Educacional
Unificado)
Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar.
Orientadora:
Profª. Ms. Alda Gregório Piazza
Presidente Professora Mestre ALDA GREGÓRIO PIAZZA Universidade de Brasília Membro Professor Mestre Tony Honorato
Universidade Estadual de Londrina - UEL
São Paulo (SP), agosto de 2007
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Dedico este trabalho a meus professores:
mestres do ensino na faculdade, minha mãe, meu marido, meus colegas de trabalho,
meus amigos, meus alunos, meus orientadores, que contribuem a cada dia para meu
aperfeiçoamento profissional, intelectual e moral.
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AGRADECIMETOS
Agradeço a Deus por mais esta oportunidade e a todos aqueles que, direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração desta monografia. Agradeço também ao Ministério do Esporte e ao CEAD/UNB pela oportunidade de participar de um curso de especialização à distância.
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Se você acredita no valor da preguiça, Olhe a água parada. Seja qual seja o
Problema, o trabalho será sempre A sua base de solução...
Francisco Cândido Xavier
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RESUMO O esporte ao alcance de todos apresenta duas vertentes no espaço público do CEU – Centro Educacional Unificado. A primeira, que valoriza sua prática à medida que oferece atendimento a um grande número de pessoas; e a segunda, que desvaloriza seu acesso através da baixa qualidade oferecida nesse atendimento, uma vez que os espaços e as condições de manutenção do programa esportivo como um todo, deixam muito a desejar. O processo das relações sociais atuante no CEU pela comunidade existente no entorno e que se utiliza dos serviços prestados pela Unidade, exerce um papel preponderantemente ético e crítico da qualidade do projeto esportivo. Este trabalho procura identificar qual a correlação existente entre esse movimento de conscientização e a implantação do projeto original . Assim, partindo de uma visão real de dados históricos que pudessem permitir outras observações a respeito desse objeto de estudo, procurou-se discutir questões sobre a esportização dos jogos, no sentido de inserir princípios de excelência e inclusão no seu relacionamento com a comunidade de baixa renda que constitui o público usuário do CEU. Analisa também fatos relacionados com a idéia de educação e a concretização sócio-cultural do esporte para todos, onde o processo de globalização encontra-se cada vez mais ascendente. O presente relato de experiência conta como iniciou e se organizou o Centro Educacional Unificado – CEU, sua estrutura e finalidade. Especifica o trabalho desenvolvido dentro do núcleo esportivo, com seus objetivos, dificuldades e realizações. Mostra um espaço de conflitos políticos, dentro do processo das relações sociais das massas populares existentes e a conscientização do processo globalizado do esporte para todos, onde as práticas corporais e o mundo do lazer e do ócio se encontram. Palavras-chave: 1.Esporte – Ação e formação 2.Futebol de salão – Metodologia de ensino 3.Natação – Metodologia de ensino 4.CEU –Centro Educacional Unificado 5.Ética da responsabilidade.
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SIGLAS APM – Associação de Pais e Mestres CEU – Centro Educacional Unificado CIEP – Centro Integrado de Educação Pública CIAC – Centro Integrado de Atendimento à Criança TEF – Técnico de Educação Física
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SUMÁRIO p. 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 12 2 LEITURA DA REALIDADE .................................................................... 14 3 LEITURA DA REALIDADE ESPECÍFICA .............................................. 21 3.1 PROGRAMA DE ESPORTE NO CEU: NATAÇÃO E FUTSAL ........... 23 3.2 NATAÇÃO................................................................................................ 23 3.3 FUTSAL .................................................................................................. 26 4 ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS OBSERVADOS
NO PROGRAMA ESPORTIVO DO CEU ..................................................... 28
5 ANÁLISES, CRÍTICAS E SUGESTÕES ..................................................... 30 6 CONCLUSÃO ........................................................................................ 32 REFERÊNCIAS ....................................................................................... 35 ANEXOS ....................................................................................... 36
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1 INTRODUÇÃO
Um relato de experiência é um retrato escrito de nossa realidade. São as minúcias do dia-a-
dia, suas descrições e apontamentos de acordo com nossa visão. Neste caso, a natureza de
meu relato é crítico-reflexiva. Ele foi organizado a partir de dados coletados da realidade
da região e do próprio CEU, sua estrutura e organização, seguido de outra parte
denominada realidade específica, onde foram abordados assuntos pertinentes ao
planejamento e execução do meu trabalho pedagógico. Uma terceira parte constituída de
aspectos positivos e negativos observado no programa. Outra parte composta de análises,
críticas e sugestões onde pretende-se avaliar os levantamentos e apontamentos obtidos e
para finalizar a conclusão, onde busco sintetizar os assuntos por mim abordados.
O CEU – Centro de Educação Unificado, foi criado na gestão da então Prefeita Marta
Suplicy no ano de 2003.
Nossa unidade se chama CEU Meninos e não apresenta especificamente um programa
determinado como o Programa Segundo Tempo, mas promove uma programação esportiva
bastante ampla para seus freqüentadores, cujo objetivo é proporcionar uma base de
aprendizado nas respectivas modalidades sem o intuito de formar atletas.
No âmbito esportivo infantil que compreende as siglas G2 (7 a 9 anos), G3 (10 a 12 anos) e
G4 (13 a 17 anos), são oferecidas várias atividades direcionadas a cada uma destas faixas
etárias onde podemos destacar futebol de salão, futebol, natação, handebol, iniciação
esportiva e jazz.
Outras modalidades esportivas já foram incentivadas, tais como nado sincronizado, GR,
basquete, voleibol, mas não deram continuidade por falta de alunos.
O motivo da falta de alunos nessas modalidades acreditamos ter duas principais razões:
1ª) características da região onde o CEU está localizado: trata-se de uma comunidade
carente onde o público dá preferência a atividades aquáticas pois é praticamente o único
local onde teriam acesso a esse tipo de lazer, e as atividades que atraem mais as massas
populares como o futebol. O handebol conta com um pequeno grupo de alunas e desde que
esta modalidade teve início no CEU o número médio gira em torno de 12 alunas. Já o Jazz
conta com um número grande de alunos e conversando com algumas alunas elas me
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contaram que sempre adoraram dançar. Um dia uma amiga disse a outra que estava fazendo
Jazz no CEU e elas quiseram conhecer essa aula, pois não sabiam como era. Aí uma foi
chamando a outra e o grupo foi crescendo. Acreditamos que o interesse maior ou menor por
atividades não tão presentes na cultura esportiva brasileira se deve a uma série de fatores
como as relações de amizade entre os participantes, relação com o professor e não a um
fator isolado.
2ª) a divulgação bastante falha do núcleo esportivo, limitando-se a colocar apenas cartazes
dentro do próprio CEU, porisso mesmo muitas vezes a comunidade do entorno não conhece
as atividades que são oferecidas e desenvolvidas nesse equipamento sócio-cultural e
educacional da região.
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2 LEITURA DA REALIDADE
CEU MENINOS
Desde agosto de 2003, as comunidades vizinhas do CEU tem à disposição um complexo de
inclusão social, com atendimento escolar, atividades culturais e esportivas, recreação e
entretenimento.
A prefeitura já investiu mais de R$ 400 milhões na construção dos 21 CEUs.
O sonho de poder oferecer uma escola na qual o aluno receba educação formal, tenha
atividades durante o dia todo, pratique esportes e freqüente oficinas culturais vem
povoando a cabeça de governantes e educadores brasileiros desde 1931. Antes dos Centros
Educacionais Unificados (CEUs) começarem a funcionar em São Paulo, o Rio de Janeiro,
na década de 80 já tinha experimentado as escolas – parques, as aldeias educacionais e o
Centro Integrado de Educação Pública (CIEP). Nenhum deles vingou.
Outros estados viveram a euforia da inauguração dos Centros Integrados de Atendimento à
Criança (CIACS), cópias dos CIEPS, no governo de Fernando Collor de Mello, e também
se decepcionaram (Rev. Educação, junho/04)
Maria Aparecida Perez, secretária da Educação de São Paulo em 2004, garante que não se
pode comparar o CEU com as experiências anteriores. “Os CEUs são escolas abertas para
toda a vizinhança, que oferecem atividades esportivas e culturais a estudantes da rede
pública e particular e, assim, conseguem atender milhares de alunos”, explica.
Mas partidos opositores e membros da sociedade paulistana acreditam que a construção dos
CEUs não se fez somente pela necessidade de uma melhoria na Educação em tempo
integral e sim por conveniências políticas.
É consenso que o projeto se tornou praticamente a principal moeda eleitoral da prefeita
Marta Suplicy (PT), na busca pela reeleição.
O fato é que, cerca de três meses antes da eleição (época em que retornávamos com as aulas
de natação, que tinham sido interrompidas com a chegada do inverno), o CEU se tornou o
principal “ponto turístico” de São Paulo. Isso porque todos os dias recebíamos excurssões
de várias escolas do entorno que chegavam com os ônibus da prefeitura e tomavam conta
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do espaço. Foram montadas planilhas para atender essas excurssões, tal hora piscina, tal
hora isso, tal hora aquilo, tal hora lanche...
Resultado: nossos alunos tinham as aulas canceladas para que o espaço fosse cedido aos
visitantes. Passada a eleição, Marta Suplicy perdeu e tudo voltou ao normal.
ESTRUTURA FÍSICA E MATERIAL DO CEU MENINOS
O CEU foi projetado para dar atendimento à creche, à Educação Infantil, ao Ensino
Fundamental, ao Ensino de Jovens e Adultos e à comunidade.
Para tanto, possui três blocos: o bloco cultural, o bloco educacional e o bloco esportivo.
Dentro do bloco esportivo, contamos com a seguinte estrutura para a realização de nossa
programação:
• 03 piscinas, das quais uma é semi-olímpica e aquecida, porém todas descobertas.
Torna-se interessante observar as fotos nas páginas 37 e 38. A menor utilizada para
recreação, a média utilizada para aula (mas não tem aquecimento) e a maior
utilizada para hidroginástica e natação. Os materiais disponíveis para aula são as
pranchinhas e os espaguetes. Aos finais de semana as piscinas são utilizadas
somente para recreação ou para ocasionais eventos esportivos. É interessante
observar como as pessoas utilizam a piscina durante a recreação. Elas chegam em
vários grupos, normalmente com sacolas de supermercado cheias com toalha, gel de
cabelo e desodorante. Também trazem salgadinhos, sanduíches e refrigerantes, os
mais populares e fazem verdadeiros piqueniques passando o dia por lá.
• 01 quadra descoberta, cuja preferência de uso é do ensino fundamental (bloco
educacional).
• 01 pista de skate, utilizada pela comunidade. A maioria adolescentes do sexo
masculino. Eles parecem estar uniformizados pois todos andam com aqueles
bermudões até os joelhos, camisetas estampadas, bonés (que eles chamam de
bombetas) e tênis de skate que mais parece uma prancha de tão grande. Algumas
gírias são muito comuns como “cola lá” – apareça por lá, ou “tá osso” – quando
uma situação está ruim.
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• 02 campos de futebol (de terra), utilizada para aulas e pela comunidade mediante
reserva de horário. Também utilizado para campeonatos ocasionais. Aos finais de
semana os times da comunidade estão sempre presente e o técnico geralmente é
aquele mais gordinho que não serviu pra jogador e está lá com seus óculos escuros,
sem camisa e de chinelos incentivando com seus berros e xingamentos na beira da
grade. E antes do grande clássico começar os rituais acontecem como o goleiro
pulando de um lado e do outro do gol fazendo o sinal da cruz e depois o grupo
abraçado fazendo uma roda e rezando um Pai nosso tão rápido que não se entende
nada.
• 01 sala de dança/ginástica, utilizada para aulas e ensaios da cultura e do esporte,
contendo 01 aparelho de som e barras fixas encostadas em uma parede espelhada.
Foto na página 39.
• 01 ginásio coberto, utilizado para aulas e pela comunidade mediante reserva de
horário. Também utilizado para campeonatos ocasionais. Foto na página 39.
Os materiais utilizados no ginásio para aulas são bolas, cones e coletes.
O IMPACTO NO BAIRRO SÃO JOÃO CLÍMACO
O desenho dos edifícios busca aproximação com a comunidade e estimula nos
freqüentadores o convívio das diferenças.
O primeiro impacto é o da grandiosidade na construção em áreas ocupadas
desordenadamente. No edifício de três andares, funciona a escola de educação infantil e
fundamental, onde crianças de 04 e 14 anos circulam livremente. È o convívio das
diferenças.
Os prédios são divididos em três blocos e a passagem de um prédio para outro é feita
apenas pelo térreo, o que, segundo os projetistas, também é um estímulo à convivência em
grupo.
O CEU Meninos está ligado à sub-prefeitura da região do Ipiranga e fica localizado em São
João Clímaco, bairro de baixo poder econômico da periferia de São Paulo. Ao redor dele
estão comunidades carentes e o Heliópoles onde se encontra uma das maiores e mais
conhecidas favelas de São Paulo – a Favela do Heliópoles.
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O bairro é cercado por pequenos comércios, alguns deles informais, que estão distribuídos
por várias ruas e pela Estrada das Lágrimas, principal rua do bairro. Nesta rua é possível
encontrar pelo menos dois salões de cabeleireiro por quarteirão a cortes de R$ 3,00 cada.
Também encontramos várias barraquinhas de doces, churrasquinhos e bares, além de muito
lixo amontoado nas calçadas. Não existem muitos espaços de lazer e a noite muitas vezes a
polícia faz comando no bairro. Mesmo assim a comunidade gosta do bairro a dessa forma
as famílias são constituídas, tem seus filhos que crescem, se casam e continuam a morar no
bairro. Existe os grupos de hip-hop e muitos deles às vezes fazem apresentações no CEU o
que atrai muita gente.
Em meados do século passado, São João Clímaco ainda era habitado pelos índios caiçaras,
que deixaram sua terra natal e vieram contribuir para o surgimento do bairro. São João
Clímaco nasceu de Sítios/chácaras e fazendas, que com o passar dos anos foram sendo
loteados e vendidos. Nesta época predominavam, na região, a agricultura e a pecuária.
O bairro é hoje, um bairro próspero, que muito contribui para a economia do Estado. O
local cresceu e ganhou comércio forte. Possui uma das mais altas densidades demográficas
da cidade. São 205/habitantes por hectare. Quanto ao meio de transporte, um total de 20
linhas de ônibus servem o bairro.
RELAÇÕES DE PODER
As relações de poder que acontecem dentro do CEU dentro da esfera administrativa são
decididas conforme o partido político que foi eleito.
São os chamados cargos políticos ou cargos de confiança designados por alguns políticos
influentes da região. São vários os colegas que foram designados por este tipo de indicação,
cujos postos ocupados são sempre de liderança, como o do gestor e dos coordenadores,
entre outros.
E por não se exigir nenhuma formação ou experiência específica para muitos destes cargos
pouca gente realmente competente entra, e normalmente esses são os primeiros que saem
porque muitas vezes a competência incomoda aos demais.
Não posso dizer que os TEF´s tem um desinteresse político, uma vez que de certa forma
também estamos ligados à política por exercermos um cargo público cujas ações muitas
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vezes seguem demandas políticas. O que acontece é que nos distanciamos um pouco da
política por vermos tantas coisas erradas acontecerem e da forma como isso acontece, sem
falar no nosso próprio cargo, sem melhorias já reivindicadas há algum tempo.
Mas existem outras relações de poder dentro do CEU. Uma delas é a do professor x aluno.
De forma geral existe muito respeito por parte dos alunos com os professores e vice-versa e
além disso uma relação de amizade muito saudável. Às vezes acontece caso isolado fazer
algum tipo de reclamação e temos até uma aluna que reclama de muitas coisas e gosta de
fazer intrigas com o intuito de denegrir a imagem de alguns professores ou colocá-los uns
contra os outros, mas felizmente o bom censo prevalece e quem acaba por ficar
marginalizada do próprio grupo de alunos é ela por sua conduta e falta de ética. Algumas
vezes também aparece na turma de Futsal alguns alunos que vão freqüentar as aulas com a
intenção de bagunçar e agitar o ambiente. Porém deixamos bem claro que se quiserem
continuar a freqüentar as aulas eles precisam se dedicar, manter atitudes de respeito tanto
com o professor quanto com os colegas pois se não eles podem procurar outro lugar onde
eles tenham essa liberdade para fazerem o que bem entenderem. Alguns mudam e se
comprometem com o novo trabalho. Outros nunca mais voltam.
Já entre os próprios alunos essa relação de poder é bem mais sutil. Sempre tem aquela ou
aquele que toma a iniciativa diante de algumas situações como promover a festinha do
professor ou arrecadar um dinheiro para comprar algum presente, ou até mesmo de formar
um grupo e ir reivindicar melhorias junto ao gestor.
RECURSOS FINANCEIROS
Quanto aos aspectos relacionados a economia temos grande dificuldade em conseguir verba
para manutenção da estrutura ou aquisição de materiais. Em quase quatro anos de
programa, recebemos algum material uma única vez da secretaria de esportes para natação
e uma vez da secretaria de educação através de verba onde foram comprados alguns
materiais para ginástica.
Fora isto, a circulação de verbas se resume a :
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• verba de adiantamento bancário: que é mensal, no valor de R$ 2.500,00, destinada à
manutenção geral das instalações (pagamento de serviços), e notem bem – é para
todo o CEU!
• APM (Associação de Pais e Mestres): cuja arrecadação é variável, pois depende do
lucro de eventuais festas que organiza durante o ano e de contribuições voluntárias
de alunos. Esta verba é direcionada somente para gestão, que é responsável por
administrar assuntos pertinentes a gestão e aos blocos esportivo, cultural e
educacional, excluindo-se a escola.
Do total arrecadado, 15% destina-se para cada um dos três blocos, e o restante é
gasto com as demais despesas e aquisição de materiais permanentes e perecíveis.
Em torno do CEU, formou-se uma rede de comércio informal, como a barraquinha de
churrasco, pastel, cachorro-quente ou tapioca.
Temos por exemplo a barraquinha do Robson. Não tem uma pessoa no CEU que não o
conheça ou não tenha provado sua coxinha. Também tem a senhora que vende brigadeiros.
De vez em quando ela sobe até a secretaria com sua cesta cheia e tem boa freguesia. Esses
colegas, fortes agentes da economia informal, mantém de certa forma um vínculo com o
CEU. Quando são organizadas as festas que acontecem durante o ano, esses colegas
trabalham dentro do CEU de forma terceirizada revertendo lucro para a APM. Acredito que
o crescimento significativo da economia informal nos últimos anos se deve em primeiro
lugar ao alto índice de desemprego, e também ao valor alto de impostos que os pequenos
empresários tem de arcar, o que faz com que muitos acabem falindo ou desistindo e
partindo para este tipo de trabalho que gera uma renda as vezes suficiente ou pelo menos
ajuda no sustento da família.
Existe um distanciamento muito grande dos TEF´s com a gestão do CEU o que nos
dificulta apresentar uma prestação de contas de sua parte financeira. Quando busquei os
dados apresentados foi tudo o que consegui obter junto a meu coordenador, que é a pessoa
mais acessível a nós.
Falar do impacto do CEU na economia seria precipitado, conforme Cândido Malta.
“Houve, sem dúvida, uma valorização imobiliária das casas próximas às unidades...”
afirma.
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CULTURA E CEU
O CEU procura valorizar muito a cultura de uma forma ampla, que vai desde a cultura
predominante na periferia até uma cultura que normalmente verificamos mais na elite. Para
tanto, são constantemente apresentados em sua programação, mostras de cinema,
apresentações musicais dentro dos vários gêneros como HIP HOP, MPB, Samba e Pagode,
Rock, entre outros, festivais de música, peças de teatro, tanto de atores amadores muitas
vezes da própria comunidade, como de atores profissionais e consagrados, como Regina
Duarte e Tônia Carrero, festivais de dança, entre outras atividades.
Esses elementos culturais chegaram no CEU como uma novidade nunca antes imaginada
dentro das possibilidades de entretenimento para a população que ali vivia. O que, é claro
que trouxe uma ótima demanda, ainda mais considerando-se que é tudo gratuito.
De maneira geral, são pessoas que não tinham acesso a cultura de forma ampla, muito
menos um preparo cultural considerável, nem entendiam a necessidade da prática de
atividade física como forma de promover a saúde. Também não entendiam muito bem qual
a finalidade de determinadas aulas.
Algumas pessoas, por exemplo, chegavam aqui no CEU para se inscrever para fazer
hidroginástica e perguntavam no atendimento: “tem vaga para hidromassagem?”
No começo, se as pessoas chegassem para assistir a um espetáculo atrasadas e os
seguranças não as deixassem entrar elas chutavam a porta, saíam xingando... Hoje aos
poucos a conscientização vem chegando.
Impossível falar sobre o programa esportivo do CEU sem falar sobre o CEU como um
todo, porque realmente é um programa integrante ao projeto, que discutido de forma
separada seria difícil a compreensão.
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3 LEITURA DA REALIDADE ESPECÍFICA
Nosso núcleo esportivo é composto por três coordenadores – dois coordenadores de
projetos e uma coordenadora de núcleo.
Também é composto por oito Técnicos de Educação Física (TEF´s), dos quais quatro estão
no período da manhã, dois à tarde e dois à noite. Ainda existe duas vagas mas até agora não
foram ocupadas.
Temos um padrão de vencimento de R$ 706,90 por 20 horas semanais, mais auxílio
transporte para quem comprovar que não disponibiliza veículo próprio para vir trabalhar
(como se gasolina caísse gratuitamente do céu) e só, pois quem trabalha 20 horas não tem
direito a auxílio alimentação. Anualmente temos uma gratificação por desenvolvimento
educacional que pode chegar a R$ 1.200,00 (fora os descontos). Podemos usar o hospital do
servidor público do município e por isto temos um desconto de R$21,20 por mês, fora
outros descontos.
Nos dias de chuva as únicas aulas que acabam por ser canceladas são as de natação e
hidroginástica por serem expostas ao tempo. Buscamos fazer um outro tipo de atividade
nesses dias mas a turma não vem. Além disso por incrível que pareça dependendo do
horário temos problema de espaço, porque além de nós do esporte, também os oficineiros
do projeto Período integral utilizam os espaços esportivos.
Com a equipe de profissionais da Educação e da Cultura o tipo de relacionamento que
mantemos é o da amizade. Não existe uma proposta multidisciplinar nem ao menos um
momento destinado a se discutir idéias em conjunto com os outros núcleos. O
relacionamento entre os TEF´s é ótimo. Já trabalhamos em outros locais e trabalho com
outros colegas também professores e podemos dizer que não se trata de uma classe unida.
Mas o respeito e o coleguismo existente entre nós é algo que nos dá força para não desistir
do que fazemos quando os problemas apertam. E nos poucos momentos que conseguimos
nos encontrar são momentos de muita alegria e trocas de experiências.
Quanto às estruturas utilizadas por nós podemos mencionar as piscinas, o ginásio, o campo
de futebol e a sala de dança.
Nós, os TEF´s, atendemos alunos e comunidade do entorno, dos 07 anos à 3ª idade.
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Temos turmas de alongamento, natação, hidroginástica, futsal, futebol, voleibol para 3ª
idade, coreografia, ginástica, jazz, iniciação esportiva, dança de salão e handebol.
Dentre essas opções, eu atuo dentro dessa faixa etária proposta para nossa pesquisa (dos 07
aos 14 anos) com a natação e o futsal masculino.
Aa aulas de natação são divididas em duas turmas, uma de iniciação/adaptação ao meio
líquido e é composta por até 20 alunos entre 10 e 16 anos. A outra turma é de
aperfeiçoamento e também é composta por até 20 alunos entre 10 e 16 anos.
São duas aulas semanais de 45 minutos cada.
Já o futsal também é dividido em duas turmas, uma de 10 a 12 anos, outra de 13 a 15 anos.
São duas aulas semanais de 1 hora e 20 minutos.
O núcleo esportivo não segue o calendário escolar e sim o calendário de férias dos TEF´s,
respeitando-se apenas um período de férias das aulas em janeiro. Os TEF´s tem férias de 30
dias uma vez ao ano.
As aulas de piscina são interrompidas no inverno retornando em meados de setembro.
Embora a piscina seja aquecida, ela é descoberta e o aquecedor não é suficiente para
aquecer o necessário.
Nossa jornada de trabalho é de 20 horas semanais, das quais cumprimos 4 horas de 3ª a 6ª
feira e dois plantões de oito horas cada por mês aos finais de semana. Nesses plantões
geralmente fazemos reuniões para discutirmos assuntos ligados aos acontecimentos no
CEU, como mudanças ocorridas ou algum evento.
Não existe um período para planejamento de aulas, a não ser esporadicamente nesses
plantões.
Com relação a inclusão dos alunos nas turmas, ela é feita através do atendimento na
secretaria da gestão, localizada no próprio CEU. A pessoa chega, verifica com a atendente
se há vaga na turma que ela quer. Se houver, a pessoa preenche uma ficha (se maior de
idade, se menor leva para casa para os pais ou responsáveis preencherem e assinarem) e
mostra um documento com foto. A matrícula é feita na hora e a pessoa recebe uma
carteirinha de aluno, contendo: nome, modalidade, horário de aula e nome do professor
(TEF). Se não há vaga, ela pode colocar o nome em uma lista de espera e aguardar, pois
todo mês nós passamos uma relação de vagas disponíveis por turma para a gestão.
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Uma vez matriculado, o aluno já deve começar a freqüentar as aulas, não podendo exceder
o limite de 06 faltas semestrais ou 03 seguidas sem atestado médico.
Com relação ao estado de saúde do aluno, saiu uma resolução da prefeitura que diz que não
podemos obrigar o aluno a apresentar atestado de saúde a não ser que ele já apresente
algum problema diagnosticado. Mesmo assim, é consenso entre os TEF´s que os alunos das
turmas adulto e 3ª idade apresentem esse atestado para poderem freqüentar as aulas.
3. 1 PROGRAMA DE ESPORTE NO CEU: NATAÇÃO E FUTSAL
Não é meta do programa esportivo do CEU formar atletas e sim promover e incentivar a
prática de atividade física e esportiva em todas as etapas da vida de maneira prazerosa e
saudável.
Como não há um planejamento pedagógico em grupo, existe a possibilidade de se trabalhar
de formas variadas com esse processo pedagógico.
Minha proposta teórico-metodológica para se trabalhar os conteúdos parte
predominantemente do método analítico sintético, onde, segundo o módulo 2 que trata das
dimensões pedagógicas do esporte, existe a apresentação de tarefas fragmentadas, indo do
fácil para o difícil, do conhecido para o desconhecido, permitindo-se que o aluno consiga
conhecer todas as partes que compõem o esporte praticado.
3.2 NATAÇÃO
O que senti dando aula de natação é que a idade não é um fator determinante para
aprendizagem das crianças dessa faixa etária. Isso quer dizer que às vezes um aluno de 10
anos (por ex.) consegue evoluir mais e demonstra uma desenvoltura e um nível de
aperfeiçoamento maior do que outro aluno de mais idade.
As experiências que o aluno já adquiriu com o meio aquático influenciam bastante, uma
vez que para o aluno aprender a nadar ele precisa estar adaptado ao meio líquido.
Outro fator bastante importante é o desenvolvimento físico do aluno.
Segundo Jayme Werner dos Reis, em seu livro: “ A Natação na sua Expressão
Psicomotriz”,
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“... a capacidade de aprender as habilidades técnico-motoras é bastante influenciada pelo
estado de desenvolvimento físico do aluno. A aceleração ou o retardamento da
aprendizagem depende da constituição do grupo de alunos, conforme suas capacidades de
rendimento e a experiência adquirida anteriormente.”
O processo pedagógico em Natação é dividida em 04 etapas:
• Adaptação ao meio líquido
• Aprendizagem rudimentar dos estilos Crawl e Costas
• Aperfeiçoamento dos estilos Crawl e Costas, aprendizagem rudimentar dos estilos
Peito e Borboleta
• Aperfeiçoamento dos 04 estilos
Adaptação ao meio líquido:
Nesta fase, o trabalho é direcionado para que o aluno sinta-se confortável e a vontade em
deslocar-se pela água seja em pé ou na posição horizontal com o rosto na água. Alguns
exercícios educativos são utilizados como: impulsão na parede, imersão com expiração do
ar pelo nariz, flutuação, entre outros.
Normalmente, na primeira aula do aluno, eu explico sobre a profundidade da piscina e ele
entra. Falo sobre o início da aula que sempre é constituído por um aquecimento e que nesta
parte é preciso movimentar o corpo para prepara-lo para a seqüência da aula e mesmo que o
aluno não tenha nenhuma vivência na água, não tem importância pois ele pode ir só
caminhando pela água para conhecer o local. Ou seja, eu deixo o aluno a vontade para
nesse primeiro momento ele se movimentar como quiser explorando o espaço da piscina.
Muitos que se tornam alunos da Natação aqui no CEU já conhecem a piscina pois a
freqüentam nos finais de semana.
Então, quando eu oriento para se movimentarem como quiserem ou souberem, verifico
nesse momento se já existe alguma adaptação desse aluno ao meio aquático, pois, alguns já
saem batendo braços e pernas de maneira desordenada, outros saem pequenos passos
tímidos e com as mãos na borda. A partir desse diagnóstico vou trabalhando com a
realidade de cada aluno.
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Aprendizagem rudimentar dos estilos Crawl e Costas:
Nesta fase, quando o aluno já se encontra adaptado é dado ênfase ao aprendizado
rudimentar dos estilos Crawl e Costas.
Alguns autores discutem qual estilo ensinar primeiro, mas ninguém chegou a um consenso
até hoje em apontar um. O fato é que eu optei por começar pelo Crawl e em seguida pelo
Costas pelas seguintes razões: alguns alunos se sentem aflitos em ficar na posição de costas
pois eles não estão vendo uma superfície de apoio caso queiram se levantar. O nado Peito é
o mais exigente do ponto de vista de coordenação motora. O Crawl, comparado a este é
mais simples. O nado Borboleta é o mais exigente do ponto de vista de força. Como
geralmente o aluno iniciante ainda não adquiriu uma condição ideal de força, fica
complicado começar por este estilo. Então eu começo a ensinar o nado Crawl e quando o
aluno se sente um pouco mais confiante eu inicio o nado Costas.
A seqüência pedagógica utilizada se faz por: posição do corpo na água, trabalho de pernas,
trabalho de braços, respiração, coordenação geral, saídas e viradas.
Aperfeiçoamento dos estilos Crawl e Costas, aprendizagem rudimentar dos estilos Peito e
Borboleta:
Nesta fase, o aluno já adquiriu uma base geral a respeito dos movimentos utilizados para
nadar. A partir daí ele passa a turma de aperfeiçoamento. É neste estágio que se dá ênfase a
parte mais técnica dos movimentos. A medida que o aluno adquire está condição, começa-
se um trabalho rudimentar de aprendizagem dos estilos Peito e Borboleta.
Aperfeiçoamento dos quatro estilos:
Agora, o aluno já domina os princípios básicos de movimentação dos quatro estilos,
restando aperfeiçoa-los.
Cabe aqui ressaltar que para se alcançar os objetivos propostos neste processo pedagógico é
necessário dedicação por parte dos alunos e disponibilidade para se executar o trabalho com
freqüência.
A piscina sendo descoberta, limita nosso trabalho, que depende de uma temperatura mínima
razoável para a prática de natação e de não estar chovendo. Além disso, a piscina necessita
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de uma boa manutenção para manter a água aquecida. Sem falar que no período de frio que
vai de meados de Junho até meados de Setembro as aulas ficam suspensas, e meados de
Dezembro até começo de Fevereiro também por causa das férias. Tudo isso prejudica e
muito este processo de ensino/aprendizagem, uma vez que neste percurso a maioria dos
alunos desiste e aqueles que persistem acabam por estacionar em sua aprendizagem
evoluindo muito aquém das perspectivas.
3.3 FUTSAL
O Futebol, por ser um agente fortíssimo da cultura popular brasileira é praticado por
crianças desde muito cedo.
Como mencionei anteriormente, as experiências adquiridas influenciam muito no nível de
desenvolvimento tanto técnico como do ponto de vista motor.
Com a primeira turma que vai dos 10 aos 12 anos eu trabalho de forma a potencializar o
desenvolvimento dos fundamentos básicos da modalidade, como o passe, o drible, a
marcação, o chute a gol, a condução...
Também procuro orienta-los nos aspectos mais táticos como posicionamento em quadra,
contra-ataques, etc. As regras são ensinadas e às vezes fazemos algumas adaptações.
Já com a segunda turma, de 13 a 15 anos procuro enfatizar mais o aperfeiçoamento desses
aspectos técnicos e táticos além de introduzir também uma parte direcionada ao
condicionamento físico.
Muitas atividades são realizadas através de pequenos jogos adaptados onde sempre busca-
se um objetivo bem definido como a melhoria do passe, o direcionamento do chute, a
movimentação em quadra, o trabalho em conjunto, etc.
Exercícios isolados também fazem parte da aula, pois, quando o aluno não conhece a
técnica de determinado fundamento, num jogo ele tem mais dificuldade em realiza-lo.
Ainda que o aprendizado da técnica seja importante, o aluno sempre tem a liberdade para
criar sua própria maneira de jogar e dentro desse processo ele é orientado quanto aquilo que
funciona melhor ou não.
No módulo 2 do nosso curso de Especialização em Esporte Escolar, os autores tratam bem
esta questão que vem de encontro com a forma que procuro trabalhar. Segundo eles, os
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professores devem se preocupar com o fato de que não se deve modelar os alunos à
semelhança de, e sim deve-se mediar processos que possibilitem a aquisição de uma grande
bagagem de experiências motoras, contribuindo para o armazenamento e o enriquecimento
de um acervo de possibilidades e respostas. Acervo este que permitirá desenvolver-se no
futuro com grande variedade de condutas motoras, que não só apontariam para um esporte,
mas para vários.
Mas o ensino do Futebol vai ale de simplesmente ensinar o passe, o drible, etc...
Em nosso trabalho existe a preocupação com a questão da inclusão por ex., onde todos tem
acesso a prática esportiva ( os mais habilidosos e os menos habilidosos ). E isto está claro
para eles. Quando realizamos jogos amistosos ou festivais, todos participam.
Outro ponto trabalhado é a questão da ética no esporte, que envolve respeito ao próximo,
compromisso com os colegas, boa conduta, espírito de equipe, enfim, questão que está
intimamente ligada a maneira dele interagir com o meio esportivo.
No módulo 2 do nosso curso Freire (2003) destaca quatro princípios pedagógicos que
deverão nortear todo o processo de ensino-aprendizagem no Futebol (podendo ser
generalizado para o ensino dos esportes), resgatando o lúdico e criando espaço para a
utilização da cultura popular infantil. Esses princípios traduzem bem o que procuro
desenvolver em meu trabalho. São eles: o princípio da inclusão, diz respeito à necessidade
de ensinar Futebol a todos, não discriminando os que tem menos habilidades para o jogo; o
segundo princípio vem reforçar o primeiro, é o princípio da excelência, dizendo que não
basta ensinar, deve-se ensinar bem a todos, ou seja, aqueles que já jogam bem devem
aprender a jogar melhor e os que pouco sabem precisam avançar em seus conhecimentos. O
terceiro princípio levanta a questão de que não basta o ensino se restringir apenas à prática
do Futebol, mas deve-se possibilitar na práxis pedagógica o resgate de valores éticos e
morais, entre outros; portanto, ao educador cabe ensinar mais que Futebol a todos,
evidenciando um princípio ético e crítico. Já o quarto e último refere-se à necessidade
premente de fazer com que os alunos gostem de esporte, levando-o assim apenas para o
resto de suas vidas, engendrando um princípio de tomada de consciência das ações à
medida que desenvolvem autonomia na vida e no esporte.
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4 ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS OBSERVADOS NO PROGRAMA
ESPORTIVO DO CEU
ASPECTOS POSITIVOS:
• O programa deu oportunidade a centenas de crianças carentes de terem acesso à
prática esportiva de forma educativa;
• São oferecidas inúmeras atividades para todos os gostos e idades, não ficando
limitado somente a um tipo de público;
• A estrutura existente no local não é encontrada facilmente nos espaços públicos
(piscinas, ginásio coberto, sala de dança, etc.) de forma unificada num mesmo local.
ASPECTOS NEGATIVOS:
• Gastou-se muito na construção do espaço, mas não se planejou que para manter esse
espaço seria necessário uma boa soma em verbas. Agora toda essa estrutura vem
sendo danificada por efeito do tempo e de mau uso em alguns casos, sem receber a
devida manutenção;
• Com referência ao item mencionado acima a população não está preparada
culturalmente para manter este espaço. Freqüentadores roubam objetos
considerados patrimônio público, como chuveiros, torneiras, bolas, aparelhos
eletrônicos, entre outros. Além disso depredam espaços e materiais utilizados para
aula. Às vezes os alunos vinham nos reclamar que cortavam o pé nos ralos da
piscina que não tinham tampa. Questionando o assunto ao nosso coordenador, ele
nos disse que não pode colocar as tampas porque elas são roubadas nos finais de
semana quando a piscina fica aberta para a comunidade.
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• Existe uma equipe de segurança no CEU, mas também existe uma política de que o
CEU é um espaço de todos não havendo locais trancados. Pois é justamente por
excesso de liberdade que acontecem os furtos e depredações.
• A arquitetura local, embora alguns especialistas afirmem que a disposição dos
espaços facilita a convivência entre as pessoas, na prática essa arquitetura não
funciona, pois, o campo de futebol (que é de areia), fica ao lado da piscina e do
estacionamento. Quando venta, a piscina fica coberta de areia e nós também. Aos
finais de semana, já aconteceu várias vezes de bolas voarem do campo e acertarem
em cheio os carros no estacionamento provocando consideráveis prejuízos aos
proprietários. A biblioteca tem uma estrutura com enormes janelas de vidro que dão
vista direta para a piscina que está ao lado. Imagine alguém tentando realizar um
estudo enquanto centenas de pessoas gritam, pulam e mergulham ao lado.
• A divulgação das atividades esportivas é falha, pois somente dentro do CEU são
colocados cartazes com as aulas que são oferecidas. Não existe outra forma de
divulgação, muito menos no entorno. Muitas pessoas que começam a freqüentar as
aulas dizem que não freqüentavam antes porque pensavam que o atendimento era só
para alunos da escola do CEU.
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5 ANÁLISES, CRÍTICAS E SUGESTÕES
Para um trabalho pedagógico atingir seus objetivos ele necessita de alguns pontos
fundamentais como planejamento e periodicidade. Como citado anteriormente não temos
um planejamento em grupo, e nem mesmo temos um horário para planejamento. Isto
dificulta muito o trabalho com os alunos, uma vez que a maioria de nós tem outro trabalho
no outro período em que não estamos no CEU, até em função de termos um salário
insuficiente. Por isso, somos obrigados a planejar o conteúdo de nossas aulas muitas vezes
encima da hora porque não há outra maneira.
Também sentimos por não haver um trabalho articulado multiprofissionalmente. Através de
uma equipe se enxerga a mesma questão de vários ângulos diferentes e através das várias
idéias que surgem é possível criar a melhor forma de resolver a questão. O apoio das
chefias é importante. O distanciamento que lá existe nos faz muitas vezes perder a
motivação para implementar um trabalho novo. A falta de informações e de diálogo entre
as chefias e nós é outro ponto resultante dessa falta de articulação.
Outra questão que mencionei anteriormente são as etapas do processo ensino-aprendizagem
para Natação, onde relatei aquilo que já foi planejado. Mas na prática infelizmente não
conseguimos seguir o proposto, pelos seguintes motivos:
Devido a falta de manutenção adequada, o aquecedor da piscina e todo seu maquinário
constantemente apresenta defeito. Isto quer dizer que quando as temperaturas externas se
mantém altas por vários dias, ainda é possível desenvolver as aulas pois a piscina fica
“ligeiramente” aquecida. Mas, qualquer frente fria ou queda de temperatura já é o suficiente
para a água ficar em torno de 17º ou 18º, ou seja, imprópria para aula. Além do fato de que
quando chove, ou no inverno, ou nas férias a piscina também fica fechada.
Pra se ter uma idéia, retornamos com a Natação em Outubro do ano passado, que foi
quando as condições de tempo permitiu-nos recomeçar. Quando foi Dezembro a piscina
entrou em manutenção, pois apresentava um vazamento, além de estar com alguns azulejos
quebrados. Resultado: a piscina que era para ficar pronta em Janeiro foi entregue em Abril.
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E mesmo assim continuamos com o problema do aquecedor ficando assim como de
costume “a mercê” do tempo. No início de Junho quebrou a bomba e a piscina voltou para a
manutenção e sabe-se lá quando será entregue novamente.
Com isso, nossos alunos perdem o vínculo conosco, nosso trabalho não tem constância e
muito pouco consegue ser desenvolvido.
Contudo, ainda nos sentimos gratificados quando percebemos mesmo assim a evolução de
alguns alunos mais persistentes.
Já no trabalho com o Futsal, sinto que os alunos recebem bem as novas propostas
pedagógicas como alguns jogos educativos e outras atividades que procuro desenvolver,
mesmo porque tenho me empenhado neste trabalho desde o início quando entrei e toda a
turma que está comigo começou comigo, eles não vieram de outros professores embora
tenham alguns alunos que pratiquem Futsal em outros lugares.
É claro que, ainda é difícil mudar a velha cultura do Futebol que já se perde no tempo, onde
se divide cinco pra cada lado e se solta uma bola para um “rachão”.
Mas aos poucos eles estão conseguindo compreender a importância de um bom
aquecimento e alongamento, que o “coletivo” faz parte da aula mas “não é a aula”, entre
outros ensinamentos que aos poucos vão sendo assimilados.
Relatei anteriormente que a divulgação da programação esportiva é falha por ser
insuficiente. Já sugerimos para que fossem confeccionadas faixas de divulgação que
pudessem ser fixadas em pontos estratégicos como na frente do CEU ou no centro do
bairro. Outra sugestão seria divulgar na rádio Heliópoles e nos jornais do bairro. Mas até
agora nossas sugestões não foram atendidas.
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6 CONCLUSÃO
Acreditamos que o nosso relato de experiência traduz bem a nossa visão realista a respeito
do trabalho esportivo desenvolvido no CEU. Procuramos através dos pontos abordados
descrever a realidade que vivenciamos diariamente nesse espaço público, mostrando que o
esporte ao alcance de todos possui uma face valorizada à medida que recebe crianças que
muitas vezes passam o dia todo conosco entre uma atividade e outra e que se sentem
felizes por poderem participar das aulas, pois se não tivessem essa opção, estariam na rua
ou em casa sozinhos, uma vez que seus pais estão trabalhando fora (isto para aqueles que os
tem ou moram com eles). Os pais dessas crianças também valorizam o espaço que mantém
seus filhos longe das ruas.
Os alunos vêem o CEU como um espaço de realização de um sonho, pois, nos seus mais
belos sonhos, a rua de casa com dois chinelos de cada lado representando um gol se
transformou num belo ginásio com arquibancadas e piso taqueado. E ao se deparar com
uma piscina semi-olímpica e outras duas ao lado, então...
No verão, a solução para se refrescar seria um bom esguicho de mangueira, mas com a
possibilidade de entrar em uma piscina de verdade e quem sabe até aprender a nadar? É
realmente a realização de um sonho!
Mas em contra- partida existe também o lado político que faz do CEU locação de cargos
comissionados, nos quais pessoas ocupam postos cuja permanência depende de uma série
de conveniências políticas. De uma maneira geral se pegarmos desde as escalas mais baixas
até as mais altas dentro do quadro de cargos políticos, verificamos que a prioridade não é a
competência nem a implantação de projetos dentro dos vários núcleos (educacional,
cultural e esportivo), visando a melhoria da qualidade no atendimento e sim, apenas
quantificar aleatoriamente esse mesmo atendimento. Isto quer dizer que, não importa que
do núcleo esportivo, a sua piscina fique como está, que ela atenda os alunos 30 dias dentro
de 01(um) ano, o que importa é que “ o espaço dispõe de uma piscina para aulas de natação,
hidroginástica e recreação”. Não importa que as senhoras da 3ª idade tenham que subir até
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o 4º andar pela escada porque o elevador está constantemente quebrado (já a um bom
tempo), ou que elas utilizem colchonetes todo rasgados. O que importa é que “no CEU são
oferecidas várias atividades para a 3ª idade”!
E aí nós nos deparamos com dois aspectos que desvalorizam esse espaço e o esporte
oferecido: primeiro o lado do aluno ou usuário sim, o mesmo que valoriza também passa a
desvalorizar quando percebe que aquele sonho tem o lado negativo, por falta de verba e
interesse na manutenção plena e adequada do local e respectivas atividades, e segundo, o
próprio poder público pois constrói um Centro Educacional Unificado que promete ser um
marco para a Educação, sem oferecer condições para que esse mesmo espaço proporcione
algo que as pessoas cobram em todas as áreas, seja na Educação, na Cultura ou na Saúde: a
ética do cuidado, a ética da responsabilidade perante o ser humano, através da qualidade
em servir, proporcionando melhor qualidade de vida.
Vale aqui fazer uma comparação entre o esporte ao alcance de todos que procuramos
proporcionar e o movimento Esporte Para Todos (EPT) que muito foi difundido
nacionalmente e internacionalmente a partir da década de 60.
O EPT surgiu enquanto uma ideologia do direito de todos os cidadãos para a prática do
esporte, independente da classe social, idade, nação ou cor. Trata-se de uma proposta que
busca estimular recreação, comunicação e atividade física em geral, para pessoas, durante o
tempo livre ou disponível – o tempo de lazer, com o propósito da busca da saúde e do lazer.
O EPT é um incentivo para os diversos esportes, sem vencedores ou vencidos,
freqüentemente ligado às atividades com característica de não formalidade.
O que o diferencia do nosso trabalho em primeiro lugar é o direcionamento educacional,
ausente no EPT e presente em nossa prática. Em segundo lugar, no CEU são as pessoas que
buscam as atividades e estão sujeitas ao número de vagas disponíveis, diferente do EPT,
que geralmente vai até a comunidade e promove certos tipos de atividades abertas aos que
quiserem participar, através da massificação do esporte. Mais uma vez repito, não há a
preocupação prioritária com os aspectos cognitivos, afetivo-sociais e sim com o maior
número de adesões possível.
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Embora o esporte para todos, dentro da globalização, tenha se transformado em um
fenômeno cada vez mais em expansão, onde as práticas corporais e/ou esportivas estão
presentes em todas as camadas sociais, consumidas com conotações de valores e
significados diferenciados e não formais, alimentando assim o mundo dos negócios e do
ócio.
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REFERÊNCIAS
REVISTA EDUCAÇÃO – Edição Especial CEU. Ano 08. São Paulo: Segmento, junho/04.
SÃO PAULO. PMSP –PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CEU – Centro
Educacional Unificado - Projeto. São Paulo: PMSP, 2003.
JORNAL DE SÃO JOÃO CLÍMACO. São Paulo, 20/07/94
REIS, Jayme W. dos. A Natação na sua Expressão Psicomotriz. 1 ed. Porto Alegre: D.C.
Luzzatto Editores Ltda, 1987.
BRASIL. MINISTÉRIO DO ESPORTE. Dimensões Pedagógicas do Esporte. Brasília:
Universidade de Brasília/CEAD, 2004.
BRASIL. MINISTÉRIO DO ESPORTE. Elementos do Processo de Pesquisa em Esporte
Escolar. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004.
VALENTE, E. F. Perspectivas Históricas do Movimento Esporte Para Todos no Brasil.
Campinas / São Paulo : FEF/UNICAMP, Grupo de História do Esporte, Lazer e Educação
Física, 1994.
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