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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE NUTRIÇÃO
EFEITO DO CONSUMO DE ÓLEO DE COCO DURANTE A
FASE DE CRESCIMENTO SOBRE O ESTADO DE
HIDRATAÇÃO CORPORAL E A FUNÇÃO RENAL DE
RATOS ADULTOS
EMANUELLY SILVEIRA DE ARRUDA
Cuiabá-MT, outubro de 2018
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE NUTRIÇÃO
EFEITO DO CONSUMO DE ÓLEO DE COCO DURANTE A
FASE DE CRESCIMENTO SOBRE O ESTADO DE
HIDRATAÇÃO CORPORAL E A FUNÇÃO RENAL DE
RATOS ADULTOS
EMANUELLY SILVEIRA DE ARRUDA
Trabalho de Graduação apresentado ao Curso de
Nutrição da Universidade Federal de Mato
Grosso como parte dos requisitos exigidos para
obtenção do título de Bacharel em Nutrição, sob
orientação da Profª. Dra. Márcia Queiroz
Latorraca.
Cuiabá-MT, outubro de 2018
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente а Deus que esteve ao meu lado e me deu força, ânimo e crença
para não desistir e continuar lutando por este meu sonho e objetivo de vida.
À minha família meu pai Emídio Paes, minha mãe Sandra Regina e meus irmãos
Eduardo Arruda e Emídio Junior. Pois foram eles que me incentivaram e inspiraram através de
gestos e palavras a superar todas as dificuldades, mesmo os distantes. Agradeço também ao
meu namorado Tiago Lopes, que de forma especial е carinhosa me deu força е coragem, me
apoiando em todos os momentos.
As minhas amigas de turma Emily, Regiane e Jane que em meio ao desespero uma
auxiliava a outra, sendo a calmaria e a serenidade, para melhor foco no estudo.
Ao técnico de laboratório Celso Afonso por sempre ter sido prestativo quando precisei.
Por fim, agradeço a Profª. Dra. E orientadora Márcia Latorraca pelo convívio, apoio,
compreensão, amizade e parceria durante todo o estudo. Reconheço um esforço gigante com
muita paciência e sabedoria, disponibilizando recursos e ferramentas dados para minha
evolução de cada dia.
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RESUMO
O óleo de coco vem se destacando no mercado como um alimento funcional, sendo utilizado na prevenção e
tratamento da obesidade, dentre outras enfermidades metabólicas. As propriedades antiobesidade do óleo de coco
têm sido atribuídas ao conteúdo de ácido láurico, considerado termogênico, e que, portanto, contribui para a perda
de gordura e peso corporal e redução significativa da gordura abdominal, prevenindo doença arterial coronariana.
Recentemente foi observado que ratos mantidos durante a fase de crescimento após o desmame com uma dieta
normolipídica contendo óleo de coco apresentaram aumento da cetonemia, sugerindo que essa dieta induz a
acidose metabólica. Nessa situação, mecanismos compensatórios renais são ativados para restaurar o equilíbrio
ácido-básico. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos do consumo de óleo de coco durante a fase de
crescimento sobre o estado de hidratação corporal e a função renal em ratos adultos. Ratos Wistar recém-
desmamados, foram divididos ao acaso em três grupos e alimentados por 60 dias com dieta controle (7% de óleo
de soja) correspondendo ao Grupo Controle (C), dieta mista (3,5% de óleo de coco, 3,5% de óleo de soja)
correspondendo ao Grupo Misto (M) e dieta com óleo de coco (7% de óleo de coco) correspondendo ao Grupo
Óleo de Coco (OC). O grupo M teve um consumo absoluto maior em relação aos grupos OC e C. O consumo
alimentar relativo à 100g de peso corporal e o coeficiente de eficácia alimentar foram similares entre os grupos.
Não houve diferença entre os grupos em relação aos pesos corporais e IMC ao desmame e ao final do período
experimental, bem como na razão circunferência da cintura/circunferência torácica. A temperatura corporal foi
maior no grupo M em relação do grupo OC, mas similar ao grupo C. As concentrações séricas de albumina e
creatinina foram similar nos grupos OC e M, e em ambos os grupos essas variáveis foram maiores em comparação
ao grupo C. As concentrações séricas ureia, ácido úrico e o hematócrito não diferiram entre os grupos. A cetonemia
de jejum foi maior no grupo OC em comparação ao grupo C. O grupo M apresentou cetonemia de jejum menor
em comparação ao grupo OC, mas maior em relação ao grupo C. A ingestão hídrica, diurese, perda de líquidos
pelas fezes, balanço hídrico, concentrações urinárias de sódio, potássio, ureia e corpos cetônicos, e a osmolaridade
e densidade urinárias não diferiram entre os grupos. O pH urinário do grupo OC foi maior em relação aos grupos
M e C. Portanto, os resultados encontrados sugerem que o estado de hidratação corporal e a função renal não se
alteraram em ratos adultos mantidos com dieta à base de óleo de coco durante a fase de crescimento após o
desmame.
PALAVRAS CHAVE
Óleo de coco; hidratação corporal; função renal; ratos adultos
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ABSTRACT
Coconut oil has been prominent in the market as a functional food, being used in the prevention and treatment of
obesity, among other metabolic diseases. The antiobesity properties of coconut oil have been attributed to the
content of lauric acid, considered thermogenic, and therefore, contributes to fat loss and body weight and
significant reduction of abdominal fat, preventing coronary artery disease. Recently it was observed that rats
maintained during the growth phase after weaning with a normolipid diet containing coconut oil showed increased
ketonemia, suggesting that this diet induces metabolic acidosis. In this situation, renal compensatory mechanisms
are activated to restore acid-base balance. Thus, the objective of this study was to evaluate the effects of coconut
oil consumption during the growth phase on the state of body hydration and renal function in adult rats. Wistar
rats were weaned in three groups and fed for 60 days with control diet (7% soybean oil) corresponding to Control
Group (C), mixed diet (3.5% coconut oil, 3 , 5% of soybean oil) corresponding to the Mixed Group (M) and diet
with coconut oil (7% of coconut oil) corresponding to the Coconut Oil Group (OC). The M group had a greater
absolute consumption in relation to the OC and C groups. The food consumption relative to 100g of body weight
and the coefficient of food efficacy were similar between the groups. There were no differences between the groups
regarding body weights and BMI at weaning and at the end of the experimental period, as well as the waist
circumference / chest circumference ratio. Body temperature was higher in group M than in group C, but similar
to group C. Serum albumin and creatinine concentrations were similar in OC and M groups, and in both groups
these variables were higher in comparison to group C. Serum urea, uric acid and hematocrit concentrations did
not differ between groups. The fasting ketonemia was higher in the OC group compared to the C group. The M
group presented lower fasting ketonemia in comparison to the OC group, but higher in relation to the C group.
Water intake, diuresis, fluid loss through feces, urine concentrations of sodium, potassium, urea and ketone bodies,
and urinary osmolarity and density did not differ between groups. The urinary pH of the OC group was higher in
relation to the M and C groups. Therefore, the results found suggest that the body hydration status and renal
function did not change in adult rats maintained with coconut oil-based diet during phase after weaning.
KEY WORDS
Coconut oil; body hydration; renal function; adult rats
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 8
2. OBJETIVOS .................................................................................................................... 10
2.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................................. 10
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................... 10
3. REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................... 11
4. MATERIAL E MÉTODO............................................................................................15
4.1 ANIMAIS.................................................................................................................15
4.2 DIETAS ..................................................................................................................... 16
4.3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS...............................................................18
4.3.1 Avaliação dos parâmetros somáticos...................................................................18
4.3.2 Avaliação de ingestão alimentar ............................................................................ 19
4.3.3 Avaliação de ingestão hídrica ................................................................................ 19
4.3.4 Coleta de fezes e urina ........................................................................................19
4.3.5 Determinação da temperatura corporal .................................................................. 20
4.3.6 Determinação das concentrações urinárias de sódio, potássio e ureia ................19
4.3.7 Determinação dos caracteres urinários gerais......................................................20
4.3.8 Determinação de corpos cetônicos no sangue ....................................................... 21
4.3.9 Coleta de amostras e análises dos parâmetros séricos e hematócrito .................... 21
4.4 ANÁLISES ESTATÍSTICAS ................................................................................... 21
5. RESULTADOS..................................................................................................................22
6. DISCUSSÃO.......................................................................................................................27
7. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 29
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 30
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1. INTRODUÇÃO
A obesidade é uma doença crônica de origem multifatorial que envolve características
genéticas e ambientais. Caracteriza-se pelo aumento de adiposidade corporal que é
acompanhado por maior risco de comorbidades que afetam a qualidade de vida (SERRA, 2013).
O aumento da obesidade em todo o mundo tem um importante impacto na saúde pública.
Em particular, a obesidade tem uma contribuição importante para a incidência global de
doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo 2, câncer, osteoartrite, apnéia do sono e
incapacidade laboral (SEIDELL, 2015).
O quadro clínico de obesidade também está fortemente associado às dislipidemias, e o
controle do peso corporal parece ser uma medida eficaz no controle destas, relacionando-se à
redução das Lipoproteínas de Baixa Densidade (LDL, do inglês Low Density Lipoprotein) e
aumento das Lipoproteínas de Alta Densidade (HDL, do inglês, High Density Lipoprotein)
(MARQUES, 2011).
Nos últimos anos, as demandas por alguns produtos alimentícios mudaram
consideravelmente, pela crença de que alguns alimentos contribuem diretamente para a saúde
(ARORA, 2015). A esses produtos são atribuídas propriedades funcionais. Os alimentos
funcionais são definidos como quaisquer alimentos que além do seu valor nutritivo tenham
impacto positivo na saúde, desempenho físico, ou no bem estar do indivíduo (PALOU, 2000).
Esses alimentos são usados para manter ou regular condições de saúde específicas, tais como
hipertensão arterial e hipercolesterolemia (PATEL, 2008)
A mídia tem oferecido diversas opções de produtos como recurso para a prevenção e
tratamento de várias doenças. Dentre eles, o óleo de coco vem se destacando no mercado como
um alimento funcional, com a promessa de possuir excelente ação antibacteriana, antiviral e
antifúngica, ajudando no combate a vários microrganismos patogênicos, sendo esses efeitos
atribuídos ao ácido láurico.
As propriedades antiobesidade do óleo de coco também têm sido atribuídas ao conteúdo
de ácido láurico, considerado termogênico. Esse ácido graxo contribuiria para a perda de
gordura corporal, perda de peso e redução significativa da gordura abdominal (ALMEIDA,
2007) prevenindo doença arterial coronariana (CARDOSO, 2015).
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Existem alguns estudos mostrando que o óleo de coco extra virgem contribui para a
redução da gordura corporal e perfil lipídico, ainda há controvérsias a esse respeito, uma vez
que o mesmo é uma fonte de gordura saturada (CARDOSO, 2015).
Recentemente, Menezes (2016) avaliou o efeito do consumo de uma dieta normolipídica
contendo óleo de coco durante o crescimento após o desmame. Embora o óleo de coco em
quantidade normal tenha aumentado concentrações de HDL-colesterol, verificou-se elevação
das concentrações sérica de albumina e de corpos cetônicos. A hiperalbuminemia é um dos
indicadores de desidratação celular. O aumento da cetonemia sugere que a dieta à base de óleo
de coco induz a acidose metabólica, que desencadeia mecanismos compensatórios renais que
visam restaurar o equilíbrio ácido-básico (ADEVA, 2011).
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2. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar os efeitos do consumo de óleo de coco sobre o estado de hidratação corporal e
a função renal em ratos durante a fase de crescimento e na vida adulta.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Verificar o padrão alimentar de ratos adultos mantidos com dieta à base de óleo de coco
durante a fase crescimento pós desmame.
Caracterizar o perfil nutricional de ratos adultos mantidos com dieta à base de óleo de
coco durante a fase crescimento pós desmame.
Determinar o balanço hídrico de ratos adultos mantidos com dieta à base de óleo de
coco durante a fase crescimento pós desmame.
Verificar os caracteres gerais e elementos anormais da urina de ratos adultos mantidos
com dieta à base de óleo de coco durante a fase crescimento pós desmame.
Determinar marcadores urinários e séricos de função renal de ratos adultos mantidos
com dieta à base de óleo de coco durante a fase crescimento pós desmame.
Determinar indicadores do estado de hidratação de ratos adultos mantidos com dieta à
base de óleo de coco durante a fase crescimento pós desmame.
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3. REVISÃO DE LITERATURA
O óleo de coco tem sido muito utilizado na indústria alimentícia (EYRES ,2007), sendo
o óleo refinado, branqueado e desodorizado ou, mais recentemente, o não refinado (virgem) as
formas mais comumente utilizadas comercialmente (MARINA et al. ,2009). A produção de
óleo de coco vem aumentando em todo o mundo. Em 2010, foram produzidos 3,5 milhões de
toneladas, sendo os principais produtores as Filipinas (1,7 milhão de toneladas), Indonésia (0,7
milhão de toneladas) e Índia (0,5 milhão de toneladas) (GUNSTONE, 2010). Deste total, cerca
de 2,0 milhões de toneladas foram exportados, sendo as Filipinas o maior exportador. O
consumo nos Estados Unidos em 2010 foi de 0,4 milhão de toneladas ou 1,28 kg per capita por
ano, e na União Europeia foi de 0,6 milhão de tonelada ou 1,3 kg per capita por ano (EYRES
et al.,2016).
O óleo de coco possui a vantagem de ser resistente à oxidação e polimerização, o que o
torna um óleo estável para cocção. É adequado para frituras rasas de uso único, embora não
seja recomendado para frituras profundas contínuas devido ao seu baixo ponto de fusão, que
pode levar à produção de substâncias potencialmente cancerígenas quando superaquecido
(SRIVASTAVA et al. ,2010).
Por seu alto teor de ácidos graxos saturados (92%), o óleo de coco sempre foi
classificado, juntamente com manteiga, óleo de palma e gorduras animais, como fonte de
gordura saturada, e, portanto, devendo ser pouco consumido (SIVAKUMARAN et al. ,2014;
YONG et al., 2009). Nos últimos anos, a literatura comercial tem comparado o óleo de coco
aos triglicerídeos de cadeia média (TCM), e considerado benéfico para a saúde humana por ser
comportar de forma atípica em comparação com outros alimentos ricos em gordura saturada.
Entretanto, os estudos que avaliam os TCM não são aplicáveis porque os triglicerídeos que
predominam no óleo de coco são diferentes em sua estrutura, absorção e metabolismo. Os TCM
são constituídos predominantemente por ácidos graxos caprílico (C8: 0) e cáprico (C10: 0),
classificados como ácidos graxos de cadeia média. O principal ácido graxo do óleo de coco é o
láurico (C12: 0), classificado como de cadeia média ou de cadeia longa. Em termos de digestão
e metabolismo, no entanto, ele se comporta mais como um ácido graxo de cadeia longa, porque
a maioria (70% -75%) é absorvida com quilomícrons, enquanto que 95% dos ácidos graxos de
cadeia média são absorvidos diretamente na veia porta (DENKE,1992).
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Os ácidos graxos de cadeia média são mais solúveis em água do que os de cadeia longa
e são solubilizados na fase aquosa do conteúdo intestinal sem formar micelas, sofrendo assim
uma absorção mais rápida (MARTEN et al. 2006). Também são eletrólitos fracos e altamente
ionizados em pH neutro, que aumenta ainda mais a sua solubilidade (TIMMERMANN, 1992).
O aumento de solubilidade ocorre nos ácidos graxos com dez carbonos ou menores, o que
exclui, portanto, o ácido láurico.
Quando os ácidos graxos são combinados em triglicerídeos, estes também são
denominados de cadeia média, longa ou muito longa. Os triglicerídeos de cadeia muito longa
têm de vinte e quatro a trinta carbonos (C24:0 a C30:0) e cerca de 4% dos triglicerídeos em
óleo de coco são deste comprimento. Os triglicerídeos contendo ácido láurico têm um peso
molecular mais elevado e são metabolizados de forma diferente dos triglicerídeos de baixo peso
molecular, com cadeias compostas com C8 a C10 (triglicerídeos de cadeia média). O peso
molecular médio dos triglicerídeos no óleo de coco é de 638, enquanto os TCM é de 512 e esse
menor peso molecular facilita a ação da lipase pancreática. Consequentemente, os triglicerídeos
de cadeia média são hidrolisados mais rapidamente e mais completamente do que os
triglicerídeos de cadeia mais longa (BACH,1982). Portanto, o óleo de coco não é constituído
predominantemente por ácidos graxos ou triglicerídeos de cadeia média. Assim, as evidências
benéficas do TCM não podem ser extrapoladas para o óleo de coco.
O transporte e o metabolismo dos ácidos graxos de cadeia curta e média também
diferem. Os ácidos graxos de cadeia curta são transportados no sangue como ácidos graxos
livres, enquanto os de cadeia mais longa circulam combinados com a albumina (BACH, 1982).
Para serem metabolizados na mitocôndria, os ácidos graxos de cadeia longa necessitam da
carnitina palmitoiltrasnferase I (sistema de transporte da carnitina), enquanto os de cadeia
média não necessitam desse sistema, são facilmente transportados para dentro da mitocôndria
-hidroxibutirato) (Papamandjaris et al.
1998). Estes dois produtos podem ser metabolizados no fígado para produzir CO2, H2O e
energia (MISHKIN et al. 1972, OCKNER et al. 1972; PAPAMANDJARIS et al. 1998).
Assim como as dietas que possuem baixo teor de carboidratos e elevado conteúdo de
proteínas e gordura, denominadas dietas cetogênicas (FREEMAN ,2010), os TCM ou os ácidos
graxos de cadeia média também aumentam a formação de corpos cetônicos (acetoacetao, 3- -
hidroxibutirato e acetona) (TRAUL et al. 2000). Em resposta ao estado de acidose metabólica
induzida por dieta, os rins ativam mecanismos compensatórios que visam restabelecer o
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equilíbrio ácido-base. Uma das adaptações à dieta acidogênica é vasodilatação renal e o
aumento da taxa de filtração glomerular, com consequente aumento do volume urinário
(ADEVA, 2011).
A água é sem dúvida a molécula mais abundante no corpo de todos os animais; e a
manutenção de um nível adequado de água corporal é essencial para sobrevivência
(McKINLEY et al., 2004).
O estado de hidratação normal é a situação equivalente ao equilíbrio hídrico, sendo este
um processo dinâmico. Há dois estados extremos como a hiper-hidratação, que é o estado
equivalente ao equilíbrio positivo da água (excesso de água no organismo) e o de
hipohidratação, que é o estado equivalente a um equilíbrio negativo de água (deficiência de
água) (Greenleaf,1992). Na desidratação há um processo de perda de água do corpo e na
reidratação há um processo de ganho de água.
As principais vias pelas quais o nosso organismo pode perder água são: o rim, pulmões,
pele e sistema gastrointestinal (vômitos ou diarreias). Por outro lado, os ganhos de água são
realizados através do sistema gastrointestinal pela ingestão de bebidas, pela alimentação e pela
produção de água através do metabolismo (GREENLEAF et. al., 1983).
A avaliação do conteúdo da água corporal e da osmolalidade plasmática (Posm) são
considerados o “padrão ouro” para a análise do estado de hidratação de um organismo
(CHEUVRONT e SAWKA, 2005; POPOWSKY et al. ,2001). O estado de hiper-hidratação
reduz, enquanto o estado de hipohidratação aumenta a Posm. A água move-se livremente entre
os espaços intracelular e extracelular, sendo deslocada de áreas de menor concentração para as
de maior concentração de solutos, de forma a alcançar o equilíbrio osmótico (HEW-BUTLER
et al. ,2007). A Posm aumenta quando a perda de água induz à desidratação, pois a água é
hipotônica em relação ao plasma. Em casos de hipohidratação, espera-se então um aumento da
Posm, o que pode ocorrer por perda de água pelo suor, diarreia ou pela produção de urina
(SHIRREFFS, 2003).
De acordo com Stein et al. (1949), o aumento da concentração de hematócrito pode ser
associado à redução do volume plasmático, sendo que os pesquisadores assumiram que as
alterações do percentual de hematócritos ocorriam com igual magnitude em relação à redução
do volume plasmático. O volume plasmático circulante é definido como todo o líquido do
espaço vascular, o que exclui as células sanguíneas vermelhas (HEW-BUTLER et al ,2007). A
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redução do volume de fluidos corporal é associado com a diminuição do volume plasmático, o
que pode resultar em impactos negativos na função cardiovascular (GONZALEZ-ALONSO et
al,1997). Portanto, a manutenção do volume plasmático torna-se necessária para a garantia da
homeostase.
O estado de hidratação também pode ser avaliado por análise osmolaridade urinária
(Uosm). Trata-se de um método simples, prático e com um baixo custo. De acordo com Shirrefs
e Maughan (1998), em humanos, considera-se no estado de hipohidratação, indivíduos que
apresentarem valores de Uosm superiores a 900 mOsm/kg. Entretanto por se tratar de uma
variável muito instável, essa medida apresenta valores com uma grande variação individual.
A osmolaridade urinária pode ser obtidas diretamente usando um osmômetro que avalia
o ponto de congelamento (método mais confiável e recomendado) ou o ponto de evaporação
(este último possui maior incerteza de medição, e portanto é menos usado). Pode-se também
calcular a partir da determinação das concentrações dos componentes que contribuem para a
pressão osmótica urinária e plasmática ou sérica. São os principais íons e moléculas orgânicas:
sódio, potássio, cloreto, uréia e glicose ( SHIRREFS, 1998 e 2003 ).
A densidade urinária também pode indicar o estado de hidratação corporal. Consiste na
medida dos solutos dissolvidos na urina e avalia a capacidade renal de concentração e de
manutenção da homeostase do organismo. Pode ser medida através de aparelhos ou de tiras
reagentes. A densidade normal da urina situa-se entre 1,010 a 1,030 g/L. A densidade urinária
guarda uma relação linear com a osmolaridade urinária (SHIRREFS, 1998 e 2003).
Os indicadores urinários têm limitações em relação à identificação das alterações
verificadas na hidratação. Estes indicadores têm menor sensibilidade do que os sanguíneos e
dão respostas mais atrasadas (SHIRREFS, 1998 e 2003).
Finalmente, as medidas objetivas não invasivas como a ingestão hídrica, o volume
urinário, a consistência das fezes e alguns sinais vitais como e temperatura corporal podem
contribuir para a avaliação do estado de hidratação corporal.
A determinação do pH urinário é um indicador do estado metabólico do organismo,
como por exemplo, o estado de acidose metabólica (ADEVA, 2011). O pH de uma solução é
dado pela recíproca da concentração de H+. Os pulmões e os rins são os principais órgãos
reguladores do equilíbrio ácido-base do organismo. Esta regulação se dá pela formação de
hidrogênio e de ácidos fracos, bem como pela reabsorção de bicarbonato do filtrado glomerular,
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que ocorre nos túbulos contornados. Em um indivíduo hígido, geralmente, a primeira urina da
manhã possui pH ligeiramente ácido, entre 5,0 e 6,0, enquanto em outras amostras do dia o pH
pode variar de 4,5 a 8,0 (HU etal. ,1993 ).
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4. MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo foi desenvolvido no Laboratório de Avaliação Biológica de Alimentos do
Departamento de Alimentos e Nutrição da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT). Todos os experimentos foram dirigidos por princípios de boas práticas
de laboratório e procedimentos científicos, seguindo o guia prático do manual de biotério do
International Committee on Laboratory Animals (ICLA), e submetidos à aprovação do Comitê
de Ética da UFMT.
4.1 ANIMAIS
Ratos Wistar recém-desmamados (28 dias de idade), provenientes do Biotério da Universidade
de Cuiabá (UNIC) foram separados ao acaso em três grupos e alimentados por 60 dias com
dieta controle (7% de óleo de soja) correspondendo ao Grupo Controle (GC), dieta mista (3,5%
de óleo de coco, 3,5% de óleo de soja) correspondendo ao Grupo Misto (GM) e dieta com óleo
de coco (7% de óleo de coco) correspondendo ao Grupo Óleo de Coco (GOC). Em todas as
etapas do estudo os animais receberam água e as respectivas dietas ad libitum e foram mantidos
em gaiolas coletivas de polipropileno (medindo 37,0 x 31,0 x 16,0 cm) com tampa de material
galvanizado. Uma vez por semana, os animais foram transferidos para gaiolas metabólicas onde
permaneceram por 24 horas para determinação do balanço hídrico. Além disso, foram mantidos
em condições padronizadas de iluminação (ciclo claro/escuro de 12 horas) e temperatura de 22
2C.
4.2 DIETAS
A dieta controle foi elaborada de acordo com as recomendações da AIN-93G (American
Institute of Nutrition) para roedores em fase de crescimento, prenhez e lactação, sendo
composta por 17% de caseína (REEVES, 1993). Na dieta de óleo de coco, houve a substituição
do óleo de soja pelo óleo de coco extra virgem, na mesma proporção da dieta controle. Na dieta
mista houve a distribuição igualitária entre óleo de soja e óleo de coco, e a quantidade de
gordura foi igual ao da dieta controle. Os demais nutrientes tiveram as concentrações mantidas.
Todas as dietas eram isocalóricas conforme o quadro 1.
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Quadro 1 - Dietas Experimentais
Ingredientes Dieta Controle(GC)* Dieta
Mista(GM)
Dieta Óleo de
Coco(GOC)
Amido 397,0 397,0 397,0
Caseína 200,0 200,0 200,0
Amido de Milho
dextrinizado
132,0 132,0 132,0
Sacarose 100,0 100,0 100,0
Óleo de soja 70,0 35,0 -
Óleo de coco - 35,0 70,0
Celulose microfibra (fibra) 50,0 50,0 50,0
Mistura de minerais AIN-
93G*
35,0 35,0 35,0
Mistura de vitaminas AIN-
93G*
10,0 10,0 10,0
L-cistina 3,0 3,0 3,0
Bitartarato de colina 2,5 2,5 2,5
Total 1000,0 1000,0 1000,0
*AIN 93 G (Reeves, 1993)
A composição nutricional (Quadro 2) do óleo de coco foi obtida das informações contidas na
embalagem.
Quadro 2- Composição Nutricional do Óleo de Coco Extra Virgem
Componentes Quantidade por porção 100g
Valor energético 847 Kcal=533 KJ
Carboidratos 0 g
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Proteínas 0 g
Gorduras Totais 93,4g
Gorduras Saturadas 86,7 g
Gorduras Trans 0 g
Gorduras Monoinsaturadas 5,34 g
Gorduras Poliinsaturadas 1,34 mg
Colesterol 0 mg
Fibra Alimentar 0 mg
Sódio 0 mg
A composição nutricional (Quadro 3) do óleo de soja foi obtida das informações contidas na
Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO, 2011).
Quadro 3- Composição Nutricional do Óleo de Soja
Componentes Quantidade por porção 100g
Valor energético 884 Kcal=3699 KJ
Carboidratos 0 g
Proteínas 0 g
Gordura Total 100g
Gorduras Saturadas 15,2g
Gorduras Monoinsaturadas 23,3g
Gorduras Poliinsaturadas 60,0g
Colesterol 0 mg
Fibra Alimentar 0 mg
Sódio 0 mg
Fonte: Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO), 2011.
4.3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS
4.3.1 Avaliação dos parâmetros somáticos
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Aos 28 dias e aos 60 dias de vida, o peso corporal foi registrado, usando balança digital.
Em seguida, após anestesia foi mensurado o comprimento naso-anal. Essas variáveis foram
utilizadas para o cálculo do índice de massa corporal (IMC), que corresponde à razão entre o
peso corporal (g) e o quadrado do comprimento naso-anal (cm) (NOVELLI, 2007).
No final do período experimental mediu-se com uma fita inextensível a circunferência
abdominal na posição imediatamente anterior as patas traseiras, e a circunferência torácica na
posição imediatamente posterior as patas dianteiras. Os valores expressos em centímetros foram
utilizados para calcular a razão da circunferência abdominal/ circunferência torácica (razão
CA/CT).
4.3.2 Avaliação de ingestão alimentar
Uma vez por semana, os ratos foram alocados individualmente em gaiolas metabólicas,
sendo a ingestão alimentar registrada no período de 24 horas. No tempo restante, os ratos foram
mantidos em gaiolas coletivas (quatro animais por gaiola) e a ingestão alimentar foi registrada
a cada três dias. Utilizou-se o método de resto-ingesta, sendo o peso do resto descontado do
peso ofertado. O consumo alimentar durante o período em que foram mantidos em gaiolas
coletivas foi dividido pelo número de ratos. Os resultados foram expressos em valor absoluto e
relativo à 100g do peso corporal. Foi determinado o coeficiente de eficácia alimentar pela razão
entre o ganho de peso corporal e a quantidade de dieta ingerida durante o período experimental
4.3.3 Avaliação de ingestão hídrica
Para a mensuração de ingestão hídrica, os ratos foram alocados individualmente em
gaiolas metabólicas por 24 horas, uma vez por semana. Utilizou-se o método de resto-ingesta,
sendo o volume do resto descontado do volume ofertado. Os resultados representam a média
da ingestão hídrica durante o período
4.3.4 Coleta de fezes e urina
Amostras de fezes e urina foram coletadas para determinação do balanço hídrico e
urinálise. As coletas de fezes e urina de 24 horas foram realizadas com os animais alocados
20
individualmente em gaiolas metabólicas. As fezes foram coletadas e transferidas para placas de
Petri, pesadas e mantidas por aproximadamente dois dias em estufa a 60 C° até apresentarem
peso constante. Posteriormente calculou-se a diferença entre o peso inicial e final, que
correspondeu ao teor de água das fezes.
A urina de 24 horas foi coletada em recipientes acoplados a gaiola metabólica, sendo
transferida a cada 12 horas para tubos falcon e armazenada, sob refrigeração, para determinação
dos caracteres gerais, ureia, eletrólitos e pesquisa de elementos anormais.
O balanço hídrico foi determinado pela diferença entre o volume ingerido e o excretado
pela urina e fezes. Os resultados representam a média do balanço hídrico durante o período
avaliado.
4.3.5 Determinação da temperatura corporal
Após 55 dias de tratamento os ratos foram separados e imobilizados para realizar a
temperatura retal, utilizando o termômetro digital aguardando em média 30 segundos para
estabilização do resultado. Os resultados foram expressos em °C.
4.3.6 Determinação das concentrações urinárias de sódio, potássio e
ureia
Amostras de urina foram diluídas em água deionizada para determinação da
concentração de sódio (10µl – 10 ml água deionizada) e potássio (5 µl – 5 ml água deionizada),
usando fotômetro de chama (modelo910M Analyser,SãoPaulo,SP,Brasil). A concentração de
ureia urinária foi determinada usando Kit comercialmente disponível (Bioclin, ).
4.3.7 Determinação dos caracteres urinários gerais
Para determinação da cetonúria, pH e a densidade urinária foram utilizadas fitas
reagentes (Uriclin 10, Laborclin Produtos para laboratório, São Paulo). A osmolaridade urinária
21
foi calculada multiplicando-se o coeficiente 33 pelos dois últimos algarismos da densidade
(ALVES e PECEGO, 1995).
4.3.8 Determinação de corpos cetônicos no sangue
Para a determinação da concentração de corpos cetônicos (hidroxibutirato), amostras de
sangue foram coletadas após 55 dias de tratamento. As amostras de sangue foram obtidas a
partir de um corte na cauda dos ratos e as determinações foram feitas utilizando um aparelho
glicosímetro (Freestyle Optium Neo) e tiras específicas para dosagem de corpos cetônicos
(Freestyle Optium B-Ketone).
4.3.9 Coleta de amostras e análises dos parâmetros séricos e
hematócrito
Após 60 dias de tratamento, os ratos foram submetidos à eutanásia, que consistiu em
narcose com CO2 seguida da decapitação. Amostras de sangue coletadas que foram
armazenadas em tubos contendo EDTA foram usadas para determinação do hematócrito.
Alíquotas de soro obtidas por centrifugação foram usadas para medir as concentrações de
albumina, ureia, creatinina e ácido úrico.
4.4 ANÁLISES ESTATÍSTICAS
Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão do número de animais. Foi
aplicado o teste de Levene para verificar a homogeneidade das variâncias. Utilizou-se ANOVA
a um fator, seguido do teste de comparação múltipla de médias (LSD), quando necessário. O
nível de significância foi estabelecido em P< 0,05. Os resultados foram analisados utilizando o
software Statistic (Stat-soft).
5. RESULTADOS
22
Na Tabela 1 estão descritos os parâmetros referentes ao padrão alimentar dos grupos
avaliados. O grupo M teve um consumo absoluto maior em relação aos grupos OC e C. O
consumo alimentar relativo a 100g de peso corporal e o coeficiente de eficácia alimentar foram
similares entre os grupos.
Tabela 1- Consumo alimentar absoluto e relativo ao peso corporal, e coeficiente de
eficácia alimentar de ratos adultos mantidos durante a fase de crescimento após o desmame com
dieta controle (grupo C), mista (Grupo M) e óleo de coco (grupos OC)
Variáveis Grupos
C M OC
Consumo alimentar absoluto (g)
1119±83b
(8)
1208±46a
(9)
1136±33b
(8)
Consumo alimentar relativo (g/100g
de peso corporal)
259±45
(8)
264±38
(9)
288±36
(8)
Coeficiente de eficácia alimentar 0,29±0,06
(8)
0,28±0,04
(9)
0,25±0,05
(8)
Valores expressos em média e desvio padrão do número de ratas entre parênteses.
Letras diferentes indicam diferenças significativas (teste LSD, P<0,05).
Conforme mostra a tabela 2, não houve diferença entre os grupos quando se avaliaram
os pesos corporais e IMC ao desmame e ao final do período experimental, bem como a razão
circunferência da cintura/circunferência torácica. A temperatura corporal no final do período
experimental foi maior no grupo M em relação do grupo OC, mas similar ao grupo C. Não
houve diferença da temperatura corporal entre os grupos OC e C.
Tabela 2- Perfil somático e temperatura corporal de ratos adultos mantidos durante a
fase de crescimento após o desmame com dieta controle (grupo C), mista (Grupo M) e óleo de
coco (grupos OC)
Variáveis Grupos
23
C M OC
Peso corporal ao desmame (g) 123±28
(8)
135±26
(9)
118±21
(8)
IMC ao desmame (kg/cm2) 0,50±0,10
(8)
0,46±0,06
(9)
0,44±0,05
(8)
Peso corporal final (g) 442±74
(8)
464±59
(9)
399±46
(8)
IMC final (kg/cm2) 0,72±0,08
(8)
0,73±0,07
(9)
0,67±0,05
(8)
Razão CA/CT 1,2±0,1
(8)
1,2±0,1
(9)
1,0±0,07
(8)
Temperatura corporal (°C) 33,9±0,4ab
(8)
34,3±0,8a
(9)
33,4±0,5b
(8)
Valores expressos em média e desvio padrão do número de ratas entre parênteses.
As concentrações séricas de albumina e creatinina foram similar nos grupos OC e M, e
ambos os grupos apresentaram essas variáveis maiores em comparação ao grupo C (P<0,05).
As concentrações séricas ureia, ácido úrico e o hematócrito não diferiram entre os grupos. A
cetonemia de jejum foi maior no grupo OC em comparação ao grupo C grupos. O grupo M
apresentou cetonemia de jejum menor em comparação ao grupo OC, mas maior em relação ao
grupo C (Tabela 3).
Tabela 3- Concentrações séricas albumina, ureia, creatinina, ácido úrico, cetonemia no
estado de jejum e hematócrito de ratos adultos mantidos durante a fase de crescimento após o
desmame com dieta controle (grupo C), mista (Grupo M) e óleo de coco (grupos OC)
Variáveis Grupos
C M OC
Albumina (mg/dl) 4,2±0,1b 4,5±0,2a 4,5±0,1a
24
(8) (7) (6)
Ureia (mg/dl) 30,9±4,8
(8)
32,7±2,9
(9)
33,8±7,4
(8)
Creatinina (mg/dl) 0,41±0,06b
(8)
1,6±0,5a
(9)
1,3±0,7a
(8)
Ácido úrico (mg/dl) 2,0±0,7
(8)
2,3±1,2
(9)
2,3±1,3
(8)
Cetonemia de jejum (mmol/L) 1,10±0,31c
(8)
1,6±0,33b
(9)
2,12±0,62a
(8)
Hematócrito (%) 50,8±3,8
(8)
51,2±2,3
(9)
53±3,6
(8)
Valores expressos em média e desvio padrão do número de ratas entre parênteses.
Letras diferentes indicam diferenças significativas (teste LSD, P<0,05).
Os valores médios de ingestão hídrica, diurese, perda de líquidos pelas fezes, bem como
o balanço hídrico não diferiram entre os grupos, de acordo com a Tabela 4.
25
Tabela 4- Ingestão hídrica, diurese, perda de água pelas fezes e balanço hídrico médios
de ratos adultos mantidos durante a fase de crescimento após o desmame com dieta controle
(grupo C), mista (Grupo M) e óleo de coco (grupos OC)
Variáveis Grupos
C M OC
Ingestão hídrica média (ml/dia) 9,7±3,3
(8)
9,5±1,9
(8)
10,9±2,9
(8)
Diurese média (ml/dia) 5,2±2,6
(8)
5,3±2,3
(8)
5,5±1,2
(8)
Perda pelas fezes (ml/dia) 0,21±0,08
(8)
0,19±0,04
(8)
0,19±0,03
(8)
Balanço hídrico 4,2±3,0
(8)
4,0±2,0
(8)
5,2±3,2
(8)
Valores expressos em média e desvio padrão do número de ratas entre parênteses.
Letras diferentes indicam diferenças significativas (teste LSD, P<0,05).
Na tabela 5 estão descritas as concentrações urinárias de eletrólitos, ureia e corpos
cetônicos, assim como densidade, osmolaridade e pH urinários. As concentrações urinária de
sódio, potássio, ureia e corpos cetônicos, e a osmolaridade e densidade urinárias não diferiram
entre os grupos. O pH urinário do grupo OC foi maior em relação aos grupos M e C.
26
Tabela 5- Concentrações séricas de sódio, potássio e ureia, densidade, osmolaridade e
pH urinários de ratos adultos mantidos durante a fase de crescimento após o desmame com
dieta controle (grupo C), mista (Grupo M) e óleo de coco (grupos OC)
Variáveis Grupos
C M OC
Sódio urinário (mEq/L) 74±56
(8)
71±73
(8)
108±48
(8)
Potássio urinário (mEq/L) 30±13
(8)
34±9
(8)
38±12
(8)
Ureia urinária (mg/dl) 54±36
(8)
47±21
(8)
75±48
(8)
Densidade urinária 1024±6
(8)
1026±3
(8)
1024±5
(6)
Osmolaridade urinária (mOsmol/L) 784±212
(8)
846±106
(8)
797±162
(6)
pH urinário 6,4±0,2b
(8)
6,5±0,0b
(7)
6,8±0,3a
(6)
Cetonúria (mmol/L) 17,5±14,6
(8)
19,3±14,8
(7)
12,5±14,0
(6)
Valores expressos em média e desvio padrão do número de ratas entre parênteses.
Letras diferentes indicam diferenças significativas (teste LSD, P<0,05).
27
6. DISCUSSÃO
No presente estudo, o óleo de coco associado ou não ao óleo de soja não alterou o perfil
somático e nem o padrão alimentar (ingestão alimentar relativa), mas aumentou as
concentrações séricas de corpos cetônicos, albumina e creatinina em ratos em fase de
crescimento. Em relação à ingestão alimentar o resultado obtido não surpreendeu porque o
efeito anorexinogênico atribuído ao óleo de coco tem se baseado em estudos em que foram
avaliados os efeitos do óleo de triglicerídeos de cadeia média (TCM) puros, e existem
diferenças importantes na composição desses óleos (Kinsella et al. 2017). No óleo de coco, o
ácido láurico (C12) perfaz quase 50% da gordura (Lockyer et al. 2016), e apenas 20 a 30%
chega ao fígado através da veia porta para ser usado como energia (Denke e Grundy 1992). O
óleo de TCM puro promove saciação e saciedade (Kinsella et al. 2017), possui
preponderantemente ácidos graxos de menor comprimento (C6-C10) e não contem ácido
láurico em sua composição (Denke e Grundy 1992). Curiosamente, o efeito anorexigênico da
cetonemia também não foi observado neste estudo. As concentrações plasmáticas de corpos
cetônicos circulantes variam de 0,1 mM no estado pós-prandial a 6 mM durante o jejum
prolongado (Owenet al. 1969) e 25 mM no diabetes não controlado (Foster 1991), com
considerável variação interindividual. Assim, é possível que os valores observados nos grupos
mantidos com dieta à base óleo de coco (2,12 mml/L ) e na dieta mista (1,6 mmol/L) não
tenham sido suficientes para reduzir significativamente a ingestão alimentar.
Apesar do aumento da cetogênese, ratos mantidos com dieta à base de óleo de coco
apresentaram, elevação discreta do pH urinário, contrariando as observações de que a acidose
metabólica desencadeada por dietas cetogênicas contribui para a redução do pH urinário (sulyok
e Guignard 1990). A concentração urinária de potássio e ureia também se manteve inalterada
nos ratos mantidos com dieta à base de óleo de coco e existe uma relação inversa da excreção
ácida líquida renal com a excreção de potássio urinária e direta com a excreção de ureia urinária
(krapf etal. 1992 ). Além disso, a dieta à base de óleo de coco parece não ter contribuído para
mudanças significantes em outras funções renais, tais como, aumento do fluxo plasmático renal,
da taxa de filtração glomerular, que são ativadas para remover excesso de ácidos (Adeva e
Souto,2010). Também não foi observado aumento da concentração sérica de ácido úrico,
resultante do uso de dietas cetogênicas (Hall et al. 1993). Embora os animais mantidos com
dieta à base de óleo de coco e dieta mista tenham apresentado aumento das concentrações
séricas de albumina e creatinina, e no último grupo a temperatura corporal tenha se elevado
28
discretamente, a desidratação parece não ter sido a causa dessas alterações. Corroborando esta
suposição, não se observou alteração da diurese, do balanço hídrico, da osmolaridade e da
densidade urinárias, bem como do hematócrito.
É razoável supor que o aumento das concentrações séricas da albumina decorra da carga
extra de ácidos graxos de cadeia média, que requerem albumina para serem transportados (Bach
e Babayan 1982). Finalmente, a elevação da creatinina sérica parece não estar refletindo
desidratação ou prejuízo da função renal, uma vez que a creatinina é produto do catabolismo da
creatina muscular, variando em função da massa muscular do indivíduo (Hosten 1990).
29
7. CONCLUSÃO
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise encontrando resultados
expostos nas tabelas sugerindo que, o estado de hidratação corporal e a função renal não se
alteraram em ratos adultos mantidos com dieta à base de óleo de coco durante a fase de
crescimento após o desmame.
Podendo o desenvolvimento deste projeto ser continuado por tempo mais prolongado,
para otimização dos dados desse estudo.
30
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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