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ações de cidadania
Educação IntegralO Espaço Criança Esperança promove o desenvolvimento das dimensões humana e do pensamento
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Como publicado em setembro na Linha Direta, esta seção é destina-da à divulgação e ao compartilhamento de projetos apoiados pelo Criança Esperança. Nesta edição de outubro, apresentamos o Espa-
ço Criança Esperança de Belo Horizonte (ECE-BH), um projeto desenvol-vido no âmbito da parceria entre UNESCO, TV Globo, Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).
Assim como os outros Espaços Criança Esperança, o ECE-BH é um centro de referência no atendimento a crianças, adolescentes e jovens de baixa renda, e tem como objetivo promover a inclusão social e o fortalecimen-to da comunidade onde está inserido, desenvolvendo atividades voltadas para a prevenção da violência urbana e para a disseminação de uma cul-tura de paz.
Conforme o professor Leonardo Coelho, coordenador do Espaço, o mais interessante do projeto é a possibilidade de se pensar a educação in-tegral dos educandos. “Não fazemos o trabalho da escola, desenvolve-mos uma atividade complementar, damos elementos para que nossas crianças e adolescentes atinjam várias dimensões do humano, do pen-samento”, explica ele, informando ainda que a obra de Antônio Carlos Gomes da Costa, um dos grandes educadores do Brasil, é usada como referência no ECE-BH. “Trabalhamos tentando integrar a educação do corpo, da mente e do espírito e, para isso, utilizamos várias ferramen-tas, como, por exemplo, as ferramentas educacionais, além da arte, da cultura, do esporte e do lazer”, acrescenta o coordenador.
Criado em 2003, o ECE-BH está situado no Aglomerado da Serra, um con-junto de seis vilas, considerado a maior favela da capital mineira, local marcado pela vulnerabilidade social e pelo tráfico de drogas. O Aglome-rado fica na região Centro-sul da cidade, na encosta da Serra do Curral, e abriga aproximadamente 47 mil moradores, entre os quais, cerca de 6.500 crianças e adolescentes.
As atividades realizadas no ECE-BH envolvem desde o atendimento direto a crianças e adolescentes por meio de oficinas temáticas no campo da arte e cultura, esporte e lazer e multimídia; de capacitações de educado-res, novas lideranças, grupos culturais e esportivos; e do fortalecimento das relações comunitárias, com o envolvimento de lideranças e projetos sociais locais e de equipamentos do poder público. O intuito é criar es-paços de diálogo e promover a inclusão e o protagonismo juvenil, tendo como alicerce a educação. As atividades estão concentradas em quatro núcleos de atuação: Esportes, Comunicação e Cultura, Atenção Psicosso-cial e Educação.
O diferencial do ECE-BH, na opinião do coordenador, é o fato de ele estar integrado à Universidade, que desenvolve metodologias, inteligências e competências e sistematiza o conhecimento. “Isso é muito rico e favorece a integração com a comunidade acadêmica, com docentes, discentes e com os cursos”, avalia o professor, e cita como exemplos os cursos de Edu-
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cação Física, que atua com o Nú-cleo de Esportes, e de Psicologia, Serviço Social e Ciências Sociais, que atuam com os Núcleos de Aten-ção Psicossocial e de Educação.
Outros projetos também são inte-grados aos cursos da Universidade, como o de Enfermagem, realizado por meio de estágios supervisiona-dos, e outros especiais como o caso de um aluno intercambista que está dando aulas voluntárias de canto no Espaço. Ele é espanhol, mora na Suíça e cursa Relações Internacio-nais. “Nossas crianças têm contato com várias experiências do mundo, e essa troca, esse intercâmbio aju-da a quebrar os paradigmas de ex-clusão”, afirma Leonardo.
Atividades dos Núcleos
O Núcleo de Esportes desenvolve um trabalho de integração que,
para Leonardo, tem forte concep-ção de inclusão social. “O esporte é muito excludente, por isso sepa-ramos as equipes de esporte de rendimento e as de integração. Os talentos são trabalhados como esporte de rendimento em times que participam de campeonatos”, relata o coordenador do ECE-BH, citando o exemplo da equipe de ginástica do Espaço, que este ano integrou a seleção brasileira de gi-nástica que participou do Gymna-estrada, na Suíça.
Quanto ao esporte de integração, segundo o professor, “fornece os elementos básicos do esporte, mas busca também, por meio de me-canismos oferecidos pelas diversas modalidades esportivas, trabalhar a socialização, normas, trabalho em equipe, cooperação, competi-ção e colaboração, desenvolvimen-to físico e intelectual.” Um bom
exemplo são as oficinas de judô, desenvolvidas em parceria com o Minas Tênis Clube, um dos mais tradicionais centros esportivos do Brasil.
Trabalhar com elementos da cul-tura regional/local é sempre uma preocupação do Núcleo de Comu-nicação e Cultura, que faz também um movimento de inclusão da cul-tura mundial. “Não nos atemos ao bairrismo ou regionalismo de pen-sar apenas na arte e na cultura da comunidade. Temos uma ideia de cidadania planetária”, explica Leo-nardo. Ao mesmo tempo em que o Espaço disponibiliza aulas de hip--hop, oferece o balé clássico, de-monstrando, assim, a proposta de acesso multicultural.
“Essas barreiras culturais invisíveis que cercam as crianças atrapalham muito. Nossa ideia é quebrar essas barreiras, dando acesso à cultura e facultando a percepção de que o mundo é muito maior do que um bairro, uma cidade ou uma comu-nidade”, afirma o professor. Dentro do Núcleo de Comunicação e Cul-tura, são desenvolvidas também oficinas de Novas Mídias e Informá-tica, mais voltadas para a área de Comunicação.
As famílias também são atendidas pelo Núcleo de Atenção Psicosso-cial do ECE-BH, que oferece aten-dimento integral aos educandos que tiveram seus direitos violados e àqueles que demandam aten-ção especial devido a algum tipo de abuso, o que é percebido pelos educadores durante as oficinas. “Esse Núcleo procura entender o
Prof. Leonardo Coelho, coordenador do ECE-BH
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que está acontecendo na vida da-quela criança ou daquele adoles-cente e faz um atendimento inte-grado com a rede de equipamentos sociais da cidade, como postos de saúde, postos de atendimento a famílias e outras unidades da rede pública”, diz Leonardo.
Além disso, o Núcleo trabalha ou-tros temas relevantes, como afeti-vidade e sexualidade, por exemplo, e busca a reintegração de crianças e adolescentes que abandonaram os estudos. “Um dos condicionan-tes para que os educandos façam parte do Espaço Criança Esperança de Belo Horizonte é que eles este-jam na escola, mas aqueles que não estão não são excluídos do projeto. O Núcleo de Atenção Psicossocial procura fazer com que eles sejam reinseridos nos estudos”, conta.
Atividades educacionais por exce-lência são desenvolvidas no Núcleo de Educação, como, por exemplo, o reforço escolar, que é trabalha-do na oficina Para Casa Divertido. “Buscamos quebrar algumas resis-tências e, ao mesmo tempo, atrair a criança para as oficinas que são de demanda espontânea, nas quais os educandos se inscrevem para participar”, explica. A biblioteca do ECE-BH também é muito utiliza-da para leitura de revistinhas e de alguns clássicos da literatura, apro-priados à idade do público.
Além de promover a inclusão social por intermédio de uma educação conscientizadora, o ECE-BH tam-bém desenvolve ações destinadas a jovens e adultos que desejam concluir o Ensino Fundamental. Foi montado um Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) para atender a demanda por educação da comunidade. Segundo Leonardo Coelho, muitas vezes os pais não sabem cobrar da escola uma educa-ção melhor porque são analfabetos
A oficina de Para Casa Divertido é muito legal. Tudo é engraçado, as brincadeiras, os jogos e tudo o que a gente aprende lá. Eu aprendo todas as matérias, mas a mais difícil é matemática. Aí eu trago todos os meus deveres de casa para cá. Ao invés de aprender aquela coisa chata, só len-do, na oficina é muito mais divertido. Eu lembro uma vez que a gente foi a um Museu, e tinha um telefone tão antigo, tão antigo que a gente tinha de rodar a manivela, foi muito legal. Teve uma vez que estava chovendo muito e a gente foi ler um livro. A história pedia pra gente fazer uma receita de um super Milk Shake. Todos tiveram de sugerir ingredientes e a gente colocou as coisas mais legais, tipo asa de morcego, pata de di-nossauro... Depois a gente dobrou a receita e deixou dentro do livro, pras próximas pessoas que fossem ler. Foi muito divertido! Eu adoro a oficina porque eu aprendo muitas coisas, mesmo quando a gente está brincando. Manrik Gonçalves Giarola, 10 anos. Educando das oficinas de Para Casa Divertido, Atividades Aquáticas e Judô. Está na oficina de Para Casa Divertido há 2 anos
O Espaço Criança Esperança de Belo Horizonte busca complementar o pro-cesso formativo escolar dos educandos atendidos. Suas ações têm como objetivo a formação para valores, e suas oficinas, diversas como são, pro-porcionam experiências artístico-culturais e esportivas, além de comple-mentar o processo de ensino e aprendizagem das crianças e adolescentes. A oficina Para Casa Divertido, especificamente, tem como objetivo auxi-liar os educandos nos deveres e pesquisas escolares, de forma lúdica e contínua. Esse acompanhamento é muito importante para as crianças e adolescentes, uma vez que eles têm uma segunda oportunidade de com-preender o que foi ensinado em sala de aula. Mariane Faria, técnica social do Espaço Criança Esperança de Belo Horizonte
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ou porque tiveram uma educação muito básica. “O Ceja do ECE-BH tem sido um sucesso. As turmas estão sempre cheias e, além dos familiares dos nossos educandos, outras pessoas da comunidade es-tão participando”, informa.
Projetos complementares
Outro projeto que se desenvolveu bastante neste ano foi o Mundo do Trabalho, que realiza parcerias com algumas organizações de Belo Horizonte para a promoção da ca-pacitação dos educandos a partir da perspectiva do Jovem Aprendiz e do Primeiro Emprego. “Direcio-namos os jovens entre 14 e 24 anos para treinamentos em organiza-ções sociais e empresas, e depois os encaminhamos para o mercado de trabalho. Já capacitamos duas turmas pequenas de 20 alunos e es-tamos indo para a terceira”, diz o professor, enfatizando que a inicia-tiva é um sucesso, tendo alcançado quase 100% de inserção dos edu-candos no mercado de trabalho. “Esses jovens fazem parte de uma faixa de exclusão porque saem de projetos sociais e ficam no vácuo, à mercê de serem seduzidos pela criminalidade, se não encontram oportunidades”, completa.
Atualmente, vários ex-educandos e educadores do ECE-BH estão es-tudando em cursos de graduação. “Eles nunca imaginaram que te-riam essa oportunidade na vida, e o fato de a PUC Minas ser parceira do ECE-BH contribuiu muito tam-bém”, afirma o coordenador do ECE-BH. O Espaço conta hoje com 96 educadores, entre professores da PUC Minas, outros profissionais e extensionistas, atendendo a cerca de mil educandos, sendo em mé-dia 10 mil atendimentos por mês. “Há um tempo tomamos a decisão de diminuir a quantidade de aten-didos e aumentamos a capacidade
de atendimento, trabalhando em duas perspectivas: demanda es-pontânea e parceria com o projeto Escola Integrada, da Prefeitura”, comenta Leonardo.
A demanda espontânea acontece quando as famílias e as crianças vão até o Espaço e se inscrevem nas oficinas, e a Escola Integrada tra-balha com a cobertura escolar, em parceria com escolas municipais do entorno do Espaço. Nesta opção, as crianças vão para a escola, tomam café e depois seguem para o ECE--BH, para desenvolver atividades. Depois disso, voltam para a escola, almoçam e estudam. Outras turmas fazem o contrário, ficam na escola na parte da manhã e, à tarde, vão para o ECE-BH. “Hoje, no Escola In-tegrada, temos 125 crianças sendo atendidas. Mas o ECE-BH é apenas um dos parceiros da Prefeitura nes-te projeto, há outras instituições que fazem o mesmo.”
Existem algumas normas e regras para participar do ECE-BH: é pre-ciso, por exemplo, que haja uma corresponsabilização por parte da família e que os educandos este-jam frequentando a escola. “Não fazemos uma triagem excludente. Procuramos direcionar o educando que não se enquadra nessas nor-mas e regras para outras atividades específicas, ou para outros proje-tos, e quando verificamos algum tipo de problema, trabalhamos para que ele possa ser incluído, não excluído”, explica Leonardo.
Os problemas de evasão ocorrem por diversos motivos: às vezes, o educando não quer mais participar do ECE-BH, ou precisa trabalhar para contribuir em casa, ou, ainda, é seduzido pelo tráfico de drogas. “Quando os alunos deixam de fre-quentar o Espaço, depois de algu-mas faltas, o educador faz contato com a família e, se necessário, dá
o alerta para o Núcleo de Atenção Psicossocial, que procura saber o que pode estar acontecendo”, in-forma o coordenador do ECE-BH.
Leonardo Coelho acredita em uma evolução considerável da comuni-dade, mas espera sentir resultados mais significativos em alguns anos. “Claro que não dá para mensurar em que medida o ECE-BH é respon-sável por essas mudanças, porque somos apenas um dos responsáveis, junto com os programas da Prefei-tura e outros projetos sociais. Tudo isso vai impactando na qualidade de vida das pessoas”, garante.
UNESCO e TV Globo
Desenvolvido em parceria pela UNESCO e pela TV Globo, o Crian-ça Esperança apoia projetos so-ciais em todo o país, entre eles os ECEs de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Jaboatão dos Guararapes. A UNESCO é res-ponsável pelo acompanhamento programático e administrativo-fi-nanceiro das ações desenvolvidas nos ECEs, que são apresentadas anualmente, em planos de traba-lho discutidos entre a coordena-ção dos ECEs e a Organização. O acompanhamento dos programas acontece por meio de reuniões periódicas entre os parceiros, no âmbito dos chamados conselhos gestores, quando são discutidas questões relacionadas ao anda-mento das atividades realizadas.
Da parte da TV Globo, é impor-tante destacar o esforço de co-municação e mobilização social feito pela emissora para levar ao conhecimento do público o tra-balho de inclusão social realiza-do pelos Espaços, como forma de convidá-lo a participar, bem como de prestar contas das doações fei-tas solidariamente pela população brasileira.
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