V ENCONTRO DE PESQUISA
DISCENTE DOS PROGRAMAS
DE PS-GRADUAO EM EDUCAO DA
UNINOVE &
I ENCONTRO DE PESQUISA EM
EDUCAO, RELAES TNICO-RACIAIS E
CULTURAS
Educao e Diversidade: dilogos
interculturais
So Paulo, 13 e 14 de Maio de 2015
1
2015 Universidade Nove de Julho
Encontro de Pesquisa Discente dos Programas de Ps-Graduao em
Educao (5.: 2015: So Paulo, SP)
[Anais] do 1 Encontro de Pesquisa em Educao, relaes tnico-
raciais e culturas (1.: 2015: So Paulo, SP) organizado por Neide
Cristina da Silva [et al]. So Paulo: UNINOVE PPGE/PROGEPE,
2015.
625 p.
ISSN 2176-6398
1. Gesto Educacional 2. Planos e Polticas Educacionais 3. Culturas e epistemologias contra hegemnicas 4. Formao e Prtica
Docente 5. Fundamentos filosficos da educao. I. Silva, Neide
Cristina. II. Ttulo
CDU 37 (063)
A instituio ou qualquer dos organismos editoriais desta publicao no se responsabilizam pelas opinies,
idias e conceitos emitidos nos textos, de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).
REPRODUO AUTORIZADA, DESDE QUE CITADA A FONTE
Os textos esto publicados conforme os originais dos articulistas.
2
Comit Organizador
Coordenao Geral
Cassio Diniz
Neide Cristina da Silva
Reinaldo Vicente da Costa Jr
Telma Cezar
Comisso Cientifica
Ademar Bernardes Pereira Jr
Maria Lucia da Silva
Maria Jos Poloni
Neide Cristina da Silva
Reinaldo Vicente da Costa Jr
Rosilda Maria Alves
Telma Cezar da Silva Martins
Walter Martins
Prof. Dr. Adriano Salmar Nogueira e Taveira
Prof. Dra Claudia Georgia Sabba
Prof. Dr. Jos Eduardo de Oliveira Santos
Prof. Dra Margarita Victoria Gomes
Prof. Dr. Mauricio Silva
Prof. Dr. Manuel Tavares
Prof. Dra Monica de vila Todaro
Comisso Cerimonial e Protocolo
Edmar Souza das Neves
Juliana Benda
Kacianna Patricia de Jesus Barbosa e Amorim
Luis Roberto B. de Paiva
Sandra Costa
Vanessa Amorim Dantas
3
Comisso Marketing e Divulgao
Andre Lus Gabriel
Cassio Diniz
Claudia Cristina de Oliveira
Daniel Bocchini
Donizete Antnio Mariano
Fernanda Batista Alves
Marcos Antonio dos Santos orreia
Comisso Patrocnio
Evangelita Carvalho da Nobrega
Sebastio Monteiro
Wendel Cssio Christal
Comisso Artstica
Antnio Germano
Francisca Monica Rodrigues de Lima
Comisso Tcnica
Edielso Manoel Mendes de Almeida
Fernando de Paula Simes
Ricardo Stefanelli
Equipe de Apoio
Alexandre Bernardo da Silva
Antonio Carlos R.dos Santos
Ana Luiza Sodero
Claudia dos Santos Almeida
Cosmo Luciano do Nascimento
Daniel de Aguiar Pereira
Eduardo Gasperoni de Oliveira
Emerson Martins
Eliane Aparecida Costa
Fernanda Pereira da Silva
4
Janaina Melques Fernandes
Jos Machado
Larissa Terezani
Leandro Tenrio do Nascimento
Luciane da Silva Vicente
Maria Tereza F. da Silva
Monica Abud Perez de CerqueiraLuz
Monica Roberto D. Dias
Rafael Carlos da Silva
Rafael W.Belli
Rgia Vidal dos Santos
Rita Aparecida Nunes de Souza da Luz
Sandra Regina Vivanco Mirabeti
Thiago Batista Costa
Thiago de Oliveira Valim
Vanda Araujo
Vanderley Pereira Gomes
Vitor Neves Barbosa
5
SUMRIO
Apresentao dos (as) palestrantes e membros das mesas temticas -----------------
010
Palavras de Abertura -----------------------------------------------------------------------
015
Representante Discente -------------------------------------------------------------------------
015
O dia seguinte ao 13 de Maio -----------------------------------------------------------------
017
Palestra de Abertura -----------------------------------------------------------------------
019
Consideraes sobre o alter na vida e nas pedagogias alternativas -----------------
019
Mesas Temticas ----------------------------------------------------------------------------
031
Anlise sobre o acesso popular e a incluso da diversidade cultural e
epistemolgica na universidade federal da integrao latino-americana (UNILA) -
031
Barreiras culturais comunicao, conflitos e criatividade em grupos especficos e
tnico-raciais diferenciados --------------------------------------------------------------------
057
(Des) locar, (re) conhecer e (trans) formar: relato de uma experincia referente a
abordagem da cultura afro brasileira e diasprica na prtica educativa ------------
073
Os dilemas da universidade brasileira no incio do sculo XXI ------------------------
078
O processo de branqueamento na pequena infncia --------------------------------------
083
O sistema universidade aberta do Brasil ----------------------------------------------------
087
Quilombo Ivaporunduva: estudos etnogrficos sobre educao, trabalho e modos
de sociabilidade ----------------------------------------------------------------------------------
097
Comunicaes -----------------------------------------------------------------------------------
113
As concepes de brincar, orientadoras das prticas de docentes da educao
infantil, por elas mesmas -----------------------------------------------------------------------
113
A contribuio do contedo dana nas aulas de educao fsica -----------------------
127
A dana no processo de ensino-aprendizagem na educao infantil escolar --------
139
A educao fsica no centro de ensino superior do Amap e a formao de
professores: construo de um currculo contra hegemnica ---------------------------
155
6
A escola e os alunos oriundos da fundao CASA ---------------------------------------
171
A epistemologia latino-americana e o desafio da interculturalidade ------------------
182
A formao em exerccio do professor polivalente da escola pblica: um olhar
sobre a sua prtica -------------------------------------------------------------------------------
193
As diretrizes curriculares para o ensino mdio e as mudanas no ensino de fsica -
204
Avaliar para gerir: um olhar sobre as escolas estaduais paulistas da regio sul 1,
em So Paulo, capital ----------------------------------------------------------------------------
214
Delineando aes de interveno com vistas aprendizagem efetiva dos alunos
nas escolas prioritrias da diretoria de ensino leste 1 -----------------------------------
225
Desigualdades educacionais e sua relao com os fatores: raa e gnero -------------
243
Dilogo de um socilogo do cotidiano com os fundamentos tericos e
epistemolgicos da pesquisa-ao ------------------------------------------------------------
258
Educao e conhecimento: uma proposta visando construo formativa do
indivduo luz dos componentes filosficos -----------------------------------------------
274
Incluso da criana com deficincia fsica nas aulas de educao fsica: um estudo
de caso .......................................................................................................................
287
Leitura em sala de aula como o lugar do extraordinrio ----------------------------------
304
Os ribeirinhos da vila do aaizal: uma leitura contra hegemnica ----------------------
315
O sindicalismo docente universitrio mexicano e a precarizao do trabalho:
histria e embates polticos na contemporaneidade (1990-2010) -----------------------
330
Paulo freire e a conscientizao ---------------------------------------------------------------
343
UNILAB: internacionalizao e interiorizao da universidade pblica --------------
354
Resumos Expandidos -----------------------------------------------------------------------
367
A contribuio do estgio supervisionado para o curso de pedagogia -----------------
367
A corporeidade como categoria de reflexo na formao de professores da
educao infantil----------------------------------------------------------------------------------
373
A educao a distncia na universidade da integrao internacional da lusofonia
afro-brasileira (UNILAB------------------------------------------------------------------------
376
7
A educao superior nas universidades populares: um estudo sobre a matriz
curricular da universidade federal da fronteira sul sob a tica da incluso da
diversidade cultural e epistemolgica --------------------------------------------------------
379
A formao continuada como espao para reflexo sobre as prticas de leitura
literria em educao infantil: levantamento de teses e dissertaes -------------------
386
A formao do pedagogo para o eixo natureza e sociedade na educao infantil ---
389
A formao reflexiva e dialgica dos alunos pibidianos a partir dos portiflios
reflexivos-------------------------------------------------------------------------------------------
393
A mediao do professor nos espaos ldicos da creche ---------------------------------
394
Analise comparativa curricular do curso de pedagogia na universidade federal
fronteira sul e universidade nove de julho ---------------------------------------------------
397
Aprendizagem alm dos livros ----------------------------------------------------------------
403
A produo nacional sobre formao de professores constante na revista brasileira
de estudos pedaggicos -------------------------------------------------------------------------
406
A psicomotricidade na educao infantil ----------------------------------------------------
410
Artes circenses em projetos scios-culturais ------------------------------------------------
417
As abordagens pedaggicas da educao fsica utilizadas pelos professores no
decorrer do processo ensino-aprendizagem -------------------------------------------------
425
As nossas negras razes no currculo escolar: uma prtica pedaggica com alunos
da EJA de Diadema ------------------------------------------------------------------------------
426
Contribuies de Paulo Freire para a compreenso da organizao e gesto da
escola -----------------------------------------------------------------------------------------------
431
Cultura popular nos cursos de formao superior em dana do Brasil-----------------
436
De prioritria comunidade de aprendizagem : o processo de transformao de
uma escola sob ponto de vista dos alunos ---------------------------------------------------
441
Disponibilidade do sistema de avaliao institucional (sai), do Centro Paula Souza
(CEETEPS): compreenso dos gestores escolares -----------------------------------------
444
Edgar Morin e a complexidade: compreenses para uma educao no sculo XXI
452
Educao Cientfica e diversidade cultural -------------------------------------------------
460
8
Educao continuada: a prtica pedaggica de professores alfabetizadores aps a
formao oferecida (PNAIC) ------------------------------------------------------------------
467
Educao de Jovens e Adultos: mtodo Paulo Freire e alfabetizao da pessoa
idosa ------------------------------------------------------------------------------------------------
471
Educao Fisica: as relaes tnico-raciais na compreenso do professor do ensino
fundamental I--------------------------------------------------------------------------------------
473
Educao fsica e o seu percurso revelador, diante de suas expectativas para o
campo acadmico e cientfico------------------------------------------------------------------
476
Educao infantil: o livro didtico em pauta ------------------------------------------------
481
Educao pela diversidade: a esttica como possibilidade de uma prtica inclusiva
486
Escola cidad desafios e possibilidades por meio dos colegiados escolares -------
491
Formao de professores indgenas: desafios tericos e prticos -----------------------
496
Formao de professores: um estado do conhecimento nas reunies da ANPED ---
500
Gesto democrtica no ensino mdio: enfoques nacionais e internacionais na
scientific eletronic library online (SCIELO) ------------------------------------------------
506
Gesto e prticas educacionais para jogos educomunicativos nas escolas pblicas
do municpio de So Paulo ---------------------------------------------------------------------
510
Gesto participativa: ascenso da autonomia na escola pblica-------------------------
520
Material escolar: o problema do desperdcio -----------------------------------------------
533
Mudanas na prtica de professoras da creche no processo de formao continuada
em servio -----------------------------------------------------------------------------------------
537
Nem Joo, nem Maria: o ensino do futsal para integrao de gneros nas aulas de
Educao Fsica -----------------------------------------------------------------------------------
540
Nossa senhora negra, nossos alunos no: a origem religiosa da educao
brasileira e a questo tnico-racial ------------------------------------------------------------
541
O corpo que fala e no escultado nas aulas de educao fsica -----------------------
546
O ensino em ead e interculturalidade --------------------------------------------------------
548
O futlama como tema gerador nas aulas de educao fsica nas escolas da orla da
553
9
cidade de Macap --------------------------------------------------------------------------------
O papel do ncleo pedaggico como formador dos profissionais da educao ------
555
O processo de ingresso no ensino superior por meio dos colgios universitrios
CUNIS na Universidade Federal do Sul da Bahia ----------------------------------------
558
O trabalho e sua relao com a educao ----------------------------------------------------
561
Paulo freire e o palhao: uma ferramenta possvel na preparao do docente -------
567
Prticas de leitura literria: levantamento de dissertaes e teses ----------------------
572
Precarizao da educao e pedagogia da alternncia ------------------------------------
576
Slackline como ferramenta pedaggica para o desenvolvimento motor nas aulas de
educao fsica ------------------------------------------------------------------------------------
584
Respeitvel pblico! Apresentamos: atividades circenses nas aulas de educao
fsica............................................................................................................................
585
Termos indgenas e africanos em nossa linguagem cotidiana ---------------------------
587
Valorizao da cultura corporal ribeirinha amaznica por intermdio do currculo
cultural da educao fsica ----------------------------------------------------------------------
589
Vamos brinquedoteca? uma anlise sobre questes tnico-raciais na educao
infantil ----------------------------------------------------------------------------------------------
590
Projeto das oficinas -------------------------------------------------------------------------
594
A representao do negro no cinema ------------------------------------------------------
594
As relaes tnico-raciais nos espaos da educao infantil --------------------------- 595
Dilogos tnico-raciais na contao de histrias ------------------------------------------- 597
Literaturas de lngua portuguesa: vises brasileira e africana --------------------------- 598
Oficina a Lei 10639/03 na sala de aula ------------------------------------------------------ 601
Oficina bonecas Abayomi ---------------------------------------------------------------------- 604
Questes tnico-raciais atravessando a msica --------------------------------------------- 605
Apresentaes artsticas e culturais ---------------------------------------------------- 606
Errata 613
10
APRESENTAO DOS (AS) PALESTRANTES E MEMBROS DAS
MESAS TEMTICAS
Abertura
Prof. Dr. Jason Ferreira Mafra Coordenador do Mestrado em Gesto e Prticas
Educacionais (UNINOVE)
Formao Acadmica
Doutorado em Educao Universidade de So Paulo (USP)
Mestrado em Educao Universidade de So Paulo (USP) Graduao em Histria Centro Universitrio Salesiano de So Paulo (UNISAL)
Prof. Dr. Marcos Antonio Lorieri Docente do Mestrado e Doutorado em Educao
(UNINOVE)
Formao Acadmica
Doutorado em Educao Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC/SP).
Mestrado em Educao (Filosofia da Educao) Pontifcia Universidade Catlica de
So Paulo (PUC/SP)
Graduao em Filosofia Universidade de So Paulo (USP)
Edmar Souza das Neves representante discente UNINOVE
Formao Acadmica
Pedagogo, Universidade Federal do Amap Especialista em Psicologia Educacional pela PUC- BH
Mestre em Educao Fsica pela USJT/SP-
Doutorando UNINOVE
Encerramento
Prof. Dr. Marcos Ferreira Santos Docente FE - USP - Professor de Mitologia,
livre-docente na FE-USP
Formao Acadmica
Doutor (FE-USP, 1998) Ps-doutoramento em Hermenutica Simblica pela Universidad de Deusto (Bilbao,
Pas Basco, 2003). Membro do Conselho Consultivo da Aliana pela Infncia no
Brasil.
Atuao em pesquisa, ensino e extenso na rea de Antropologia da Educao.
11
Prof. Dr. Jos Eustquio Romo - Coordenador do Mestrado e Doutorado em
Educao (UNINOVE)
Formao Acadmica
Doutorado em Histria Social Universidade de So Paulo (USP)
Doutorado em Educao Universidade de So Paulo (USP). Graduao em Licenciatura Em Histria Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF)
MESAS TEMTICAS Mesa Educao Superior
Moderador: Prof. Dr. Jos Eduardo de Oliveira Santos (UNINOVE)
Formao Acadmica
Doutorado em Educao - Universidade de So Paulo (USP). Mestrado em Geografia Humana - Universidade de So Paulo (USP).
Graduao em Cincias Sociais - Universidade de So Paulo (USP).
Ms. Luciana da Silva Araujo (UNINOVE)
Formao Acadmica
Mestra em Educao pela Universidade Nove de Julho, So Paulo- SP (2013)
Graduada em Comunicao Social - Jornalismo pela Faculdade Ubaense Ozanam Coelho, Ub, MG (2004).
Cursando pedagogia na Universidade Metodista de So Paulo-SP.
Prof. Andreia Fernandes (UMESP) - Professora no curso de pedagogia na Faculdade
Zumbi dos Palmares desde 2012
Formao Acadmica
Doutoranda em Educao (Universidade Metodista de So Paulo)
Mestre em Educao pela mesma universidade.
Ms. Suelen Pontes Alexandre (UNINOVE) - professora titular na Secretaria da
Educao do Estado de So Paulo
Formao Acadmica
Filosofia pelo Centro Universitrio Assuno (2009)
Mestrado em Educao pela Universidade Nove de Julho (2015)
Experincia na rea de Filosofia, com nfase em Epistemologia
Ms. Tatiana Romo (UNINOVE) - professora do ensino superior tanto na modalidade
presencial quanto na Educao a distncia
12
Formao Acadmica
Graduada em Psicologia (2000) - PUC-SP.
Psicodramatista e Socionomista, especialista em grupos e aprendizagem.
Pesquisadora de aprendizagem em ambientes virtuais e dos papeis da Universidade no Brasil, membro dos projetos de pesquisa: observatrio da Educao (OBEDUC-
CAPES) e Politicas de incluso nas novas universidades pblicas federais.
Mesa Educao e Diversidade
Moderador: Prof. Dr. Maurcio Pedro da Silva (UNINOVE)
Formao Acadmica
Ps-Doutorado - Universidade de So Paulo (USP)
Doutorado em Letras Literatura Brasileira Universidade de So Paulo (USP).
Mestrado em Letras Literatura Brasileira Universidade de So Paulo (USP).
Graduao em Letras-Portugus Brasileira Universidade de So Paulo (USP).
Prof. Dra. Josildeth Gomes Consorte - experincia em diversas reas da
Antropologia como Educao, Manifestaes Religiosas Brasileiras e Relaes
tnicas.
Formao Acadmica
Bacharel e licenciada em Geografia e Histria pela Universidade Federal da Bahia (1951)
Cursou as sequencias de Antropologia e Sociologia na Fundao Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo (1952).
Ps-graduao em Antropologia nas Universidades de Columbia (New York EUA) e Chicago (Chicago-EUA) entre 1953 e 1955.
professora Titular desta mesma Universidade desde 1984
Doutora Honoris Causa pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
Prof. Dr. Felipe Chibs (USP) - Professor e pesquisador possui mais de 20 anos de
experincia na docncia em nvel de graduao e ps-graduao
Formao Acadmica
Doutorado em Cincias da Comunicao pela ECA-USP (2005)
Mestrado em Cultura e Comunicao pelo Programa em Integrao da Amrica Latina (PROLAM) pela USP (2000)
Lcenciatura em Psicologia pela Universidade de La Habana, Cuba.
Prof. Dra. Sandra Maria Christiani de La Torre Lacerda Campos
Formao Acadmica
13
Bacharel e Licenciada em Filosofia pela Universidade de So Paulo (1981)
Mestre em Cincias Sociais pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (1996)
Doutora no mesmo programa (2007).
Atualmente Especialista de Apoio Pesquisa em Museu, no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo. Tem experincia na rea de Antropologia,
com nfase em Etnologia, atuando principalmente nos seguintes temas: antropologia
amerndia, etnologia indgena, acervos de museus, museus etnogrficos, curadoria de
colees, antropologia dos artefatos, antropologia visual e educao indgena.
Profa. Dra. Marcia Cristina Amrico - professora na Faculdade Zumbi dos Palmares
Formao Acadmica
Graduao em Cincia com habilitao em Licenciatura em Qumica pela Universidade Metodista de Piracicaba (2006)
Mestra (2010) e Doutora em Educao pelo Programa de Ps-Graduao da Universidade Metodista de Piracicaba (2015).
Prof. Ms Wilson da Silva - Professor universitrio
Formao Acadmica
Mestre em Cincias da Comunicao / Cinema (ECA USP)
Professor Histria, Comunicao e Pedagogia
Fundador do Ncleo de Conscincia Negra da USP
Dirigente do Movimento Quilombo Raa e Classe
Ativista do Movimento LGBT
Mesa Educao Bsica
Moderadora: Profa Dra Ligia De Carvalho Aboes Vercelli (UNINOVE)
Formao Acadmica
Doutora e mestre em educao pela Universidade Nove de Julho (Uninove).
Graduada em psicologia e em Pedagogia com especializao em Psicopedagogia.
Professora das disciplinas Psicologia da Educao e Metodologia do Ensino da Educao Infantil do curso de Pedagogia na Universidade Nove de Julho
Prof. Elsa Lopes (PUC) - Diretora de Creche-Prefeitura Municipal em Santo Andr
Formao Acadmica
Pedagoga, ps-graduada em Coordenao Pedaggica na Escola Bsica
Mestre em Educao pela UMESP, Doutoranda em Educao: Currculo pela USP/SP.
14
Prof. Elisabeth Fernandes de Souza (SME-SP) - Assistente Tcnico Educacional
Educao tnico Racial SME/DOT-G - SME
Ms. Telma Cezar (UNINOVE) - H mais de 25 anos na rea de Educao,
ministrando aulas desde a educao infantil at o ensino superior
Formao Acadmica
Doutoranda em Educao pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE)
Mestre em Educao
Especializao (Lato Sensu) em Educao Infantil e Pedagoga pela Universidade Metodista de So Paulo.
Tatiane Nunes Valente (PUC) - Professora do Atendimento Educacional
Especializado na Prefeitura Municipal de Macap
Formao Acadmica
Graduada em Licenciatura Plena em Educao Fsica, pela Universidade Estadual Vale do Acara
Pedagogia, pela Universidade do Estado do Amap-UEAP.
Especialista em Praticas Pedaggicas para o Ensino de Pessoas com Necessidades Especiais, pela Faculdade Atual.
Mestranda em Educao: Formao de Formadores, pela PUC-SP.
15
PALAVRAS DE ABERTURA
Edmar Souza das Neves
Representante Discente PPGE UNINOVE
Em nome do Programa de Ps-graduao em Educao da Universidade Nove de
Julho dou as boas-vindas a todos os participantes do V Encontro de Pesquisa Discente do
Programa de Ps-Graduao em Educao da UNINOVE e Primeiro Encontro de Pesquisa,
em Educao tnico - Raciais e Culturais. Estendo, tambm, um especial agradecimento a
todos os que trabalharam com denodo e generosidade para o sucesso deste evento. Eles deram
um eloquente testemunho de solidariedade orgnica. Destaco, aqui, o incansvel trabalho da
comisso geral, da comisso cientfica, da comisso de cerimonial e protocolo, da comisso
de Marketing e Divulgao, da comisso de patrocnio, da comisso artstica, da comisso
tcnica e da comisso de apoio.
A tempos que estudiosos das Cincias Sociais e demais reas de conhecimento
denunciam o carter opressivo da globalizao em relao s identidades culturais diversas,
sobretudo quando se leva em conta que globalizar pode significar homogeneizar, diluindo
identidades e apagar as marcas das culturas ditas inferiores.
No contexto da sociedade globalizante alguns grupos sociais tornam-se inferiores por
serem diversos e plurais e por apresentarem como uma ameaa aos padres euro americanos
de ser e viver.
Tais padres, assentados nas culturas ocidentais brancas, letradas, masculinas,
heterossexuais e crists, esto arraigados no imaginrio social e naturalizados cotidianamente
nos diversos espaos de convivncia humana, afetando tanto os chamados grupos minoritrios
quanto os pertencentes s esferas hegemnicas.
Sabe-se que as discusses das relaes tnicas raciais e culturais, em territrio
brasileiro so antigas, complexas e, extremamente polmicas. Porm, necessrias para a oferta
de uma educao igualitria e compromissada com a formao de um sujeito que seja capaz
de compreender e aceitar as diferenas tnicas raciais e as diversidades culturais. Enquanto
educador progressista, compreendo a instituio escolar como um palco onde todas as
contradies sociais se encontram, cabendo a cada agente escolar, de forma individual e
mailto:[email protected]16
coletiva estruturar processos educativos que caminhem no sentido contrrio a qualquer tipo de
descriminao. Isto significar que temos o desafio de conjecturarmos um modelo educativo
democrtico em que a igualdade de oportunidade prevalea frente a igualdade legal, como
preconiza o artigo 5 da Constituio Federal. Pois em um pas com tantas desigualdades e
excluses sociais como o Brasil, no apropriado tratar de maneira igual pessoas que so
historicamente diferentes.
Infelizmente no Brasil, as aes educativas que objetivam a utopia da existncia
harmnica entre os grupos tnica e culturalmente diferenciados, e a existncia de uma
sociedade plural, de direito e de fato, ainda so tmidas na maioria das instituies formadoras
includo escolas e universidades. Os sussurros que escutamos so quase sempre pautados
em uma retrica vazia de sentido poltico, sem grandes repercusses concretas.
Portanto caros participantes, a proposta de discusso apresentada pelo V Encontro
de Pesquisa Discente do Programa de Ps-Graduao em Educao da UNINOVE e Primeiro
Encontro de Pesquisa, em Educao tnico- Raciais e Culturais de refletirmos sobre os
padres hegemnicos que acabam por delinear formas de ser e viver e ao mesmo tempo de
socializarmos experincias contra hegemnicas que lutam por uma sociedade diversa e plural.
Pois temos a certeza de que nenhuma sociedade, cuja a populao multicultural e que no
educa para o convvio com a diferena, pode ser prspera e feliz.
Desta forma, que no decorrer deste evento possamos direcionar nossas reflexes
pautadas numa perspectiva das ponderaes de Boaventura de Souza Santos.
Quero ser tratado com igualdade sempre que a diferena me inferioriza, e ser tratado
com diferena sempre que a igualdade me descaracteriza.
17
O DIA SEGUINTE AO 13 DE MAIO
Telma Cezar da Silva Martins
Estamos ns aqui no V Encontro de Pesquisa Discente do Programa de Ps-graduao
em Educao da Uninove e I Encontro de Pesquisa em Educao, Relaes tnico-raciais e
Culturas; o que podemos co-memorar (juntos trazermos a memria) sobre esse dia?
13 de maio de 1888, enfim, a escravido acabou. Agradecemos a princesa Isabel e
festejamos? No. No bem assim! No dia seguinte tudo poderia ser diferente. Mas, no foi.
Esse dia seguinte, ao fim da escravido, foi o dia mais longo da histria. Um dia que ainda
no terminou.
Depois de sculos de sequestros, escravido e assassinatos, o que se viu nos anos ps-
abolio foi a formao e o desenvolvimento de um pas que negou e ainda nega populao
negra condies mnimas de integrao e participao na riqueza. Sem terra, sem empregos,
sem educao, sem sade, sem teto, sem representao. Sequer a mais liberal das reformas, a
agrria, fora possvel no pas das capitanias hereditrias. Vamos olhar para o campo e
observar as fileiras ou os acampamentos de Sem Terra, maioria negras e negros. Vamos
buscar na memria os rostos de quem conforma o peloto que estremece So Paulo na justa
luta por moradia capitaneada pelos movimentos de Sem-Teto nos dias de hoje: negras e
negros! Vamos olhar para as filas dos hospitais, para os que esperam exames e tratamentos,
para os analfabetos ou para as crianas em idade escolar que esto fora da escola. Vamos
olhar para a populao carcerria e suas condies de existncia. Vamos olhar para as vtimas
de violncia policial, para os nmeros de desaparecimentos e homicdios. Vamos olhar para os
dependentes do bolsa-famlia ou da previdncia social. Vamos olhar para a pobreza. De fato,
ela atinge a todos. Mas a presena de negras e negros nas condies narradas aqui, tem sido
desproporcional e pouco se alterou desde 1888.
Passamos pelos 127 anos seguintes ao fim da escravido e no foram suficientes para
nos livrar de uma herana racista, reafirmada, cotidianamente, pelos descendentes dos
colonizadores que dirigiram o Brasil.
mailto:[email protected]://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/03/26/nao-esta-faltando-cadeias-esta-faltando-e-tronco-em-praca-publica/http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/03/26/nao-esta-faltando-cadeias-esta-faltando-e-tronco-em-praca-publica/http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/03/25/populacao-carceraria-do-brasil-aumentou-mais-de-400-em-20-anos/http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/04/01/nas-favelas-a-ditadura-militar-nunca-terminou/18
Hoje 14 de maio de 2015 estamos ns aqui (alunos e alunas, professores e professoras,
pesquisadores e pesquisadoras), ou melhor, como foi dito ontem: representantes da Academia
e representantes do cho da escola, o que ns temos a ver com isso?
Os altos ndices de violncia com a populao negra (analfabetismo, evaso escolar,
excluso do mundo do trabalho, homicdio) afetam a todos ns: negros e no negros. Por isso,
buscamos diferentes caminhos para transformar essa perversa realidade. E, da, no podemos
minimizar a discusso, temos que avanar: alm de repensarmos se as relaes devem ser
harmnicas ou respeitosas, se as polticas focais minimizam as universais, se quem tem que
dar as respostas so professores/as ou pesquisadores/as, temos que juntos/as -
pesquisadores/as, professores/as - levantarmos a bandeira de uma educao contra
hegemnica que contribui para o (des)pensar das mentes colonizadas.
19
PALESTRA DE ABERTURA
CONSIDERAES SOBRE O ALTER NA VIDA E NAS PEDAGOGIAS
ALTERNATIVAS
Marcos Antnio Lorieri
Professor - PPGE UNINOVE
"Uma pessoa uma pessoa
por causa das outras pessoas".
Ditado sul africano da tribo Ubuntu
Agradeo aos organizadores do Encontro Discente de 2015 por este convite que muito
me honra e parabenizo os alunos do PPGE/PROGEPE da UNINOVE pela realizao do
mesmo.
Foi-me solicitado apresentar algo sobre a proposta temtica do livro Pedagogias
Alternativas organizado pela Professora Rosemary Roggero, pelo Professor Carlos Bauer e
por mim o qual contm as conferncias de abertura e de encerramento, bem como as das
mesas temticas do VIII Colquio sobre Instituies Escolares realizado aqui em nosso PPGE
no ano de 2011. O IX Colquio foi realizado em 2013 com temtica relativa aos 80 anos do
Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova. Cada Colquio tem um tema e o de 2013 foi este:
Pedagogias alternativas. Neste ano de 2015 realizaremos o X Colquio que ter como foco o
Plano Nacional de Educao. Ser realizado na ltima semana de outubro deste ano.
Pode parecer que o tema proposto por vocs no se coadune com o tema geral deste
encontro que Educao e Diversidade: dilogos interculturais. Mas, acho que h ligaes
importantes entre ambas as temticas. Buscarei aqui indicar estas ligaes, ao mesmo tempo
em que apresento aspectos que julgo mais significativos do livro.
Um pouco do livro
Retomo aqui ideias que escrevi para a apresentao do livro que aborda o tema do VIII
Colquio, ou seja, alternativas educacionais que visam a oferecer respostas a situaes
mailto:[email protected]20
diversas que ocorrem nas maneiras de viver dos humanos. Os humanos no vivem da mesma
maneira em todos os lugares, em todas as pocas e em todos os momentos. O alter de
alternativa indica exatamente o outro, a alteridade. H maneiras outras, alm das nossas, de
ser gente. o que denominamos de diversidade cultural. Culturas so maneiras ou modos
cultivados de produo e de organizao da vida humana. H sempre maneiras outras ou
diversas de viver. E isso uma riqueza de manifestaes de algo comum a todos ns: todos
ns, seres humanos, produzimos maneiras de viver. Mas, diversamente. E, dentro das vrias
maneiras de viver, h maneiras outras, ou diversas, de se fazer educao, maneiras outras,
ou diversas, de fazer acontecer educao em instituies escolares e fora delas: seja no que
denominamos de educao formal e de educao informal ou no formal. O livro, nos seus
diversos captulos, trata disso: de alternativas, ou maneiras outras, ou diversas, de se fazer
educao: seja em culturas diversas, seja em tempos diversos, seja com procedimentos
pedaggicos diversos.
Alternativas podem ser pensadas como as sucesses que ocorrem nas experincias
educacionais nas quais h alternncias de tempos dedicados escola e ao trabalho, seja ao
longo do dia, seja no decurso das pocas do ano. H alternativas na organizao do
funcionamento das escolas, h alternativas educacionais s escolas, h alternativas nas
maneiras de se trabalhar dentro das escolas. H maneiras diversas de desenvolvimento do
trabalho didtico com as diversas disciplinas, ou na proposio delas, ou mesmo em relao
aos momentos de oferta de disciplinas no acontecer do currculo escolar.
O colquio foi uma oportunidade para se pensar e debater alternativas educacionais no
interior das instituies escolares e em instituies alternativas a elas. O livro, consequncia
do Colquio, oferece a ampliao dessa oportunidade e o convite a se pensar o que deve ser
conservado porque bom e o que precisa ser mudado porque necessrio, visto que a vida e a
educao fazem-se em ambas as possibilidades: a da conservao e a da mudana. Sem
alternativas as mudanas no ocorrem e, ento, a conservao prevalece at gastar-se e
desgastar-se por completo provocando a morte da vida e, nela, da educao.
Busquem-se a vida e a educao na conservao revitalizada pelas novas boas
alternativas e pelas novas boas mudanas que sempre conservam, dialeticamente, algo daquilo
que veio antes. Assim tambm so as diversas culturas: elas sempre agregam algo novo na
maneira de os humanos cultivarem a vida e os espaos nos quais a vida se desenvolve. Nem
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sempre as novidades so boas: da a constante vigilncia crtica. E nem sempre bom o que
veio antes: da, tambm a vigilncia crtica.
1. O contedo do livro
O livro est organizado em nove partes precedidas de uma apresentao.
Apresentao: Carlos Bauer, Rosemary Roggero, Marcos A. Lorieri
PARTE I: Pedagogias Alternativas com trs captulos com as seguintes temticas:
Da experincia pedaggica alternativa educativa (Jean-Claude Gimonet); Reflexes sobre
alternativas educativas (Thierry De Burghgrave); No rastro das pedagogias alternativas:
pedagogia da esperana e da alternncia (Antnio Joo Mnfio).
PARTE II: Pedagogia em movimentos sociais e associaes civis, com trs
captulos: Aprendizagens em pedagogias alternativas: movimentos sociais (Maria da Glria
Gohn); Pedagogia nos movimentos sociais (ngela Randolpho Paiva); Educao e pedagogia
nos movimentos e organizaes de trabalhadores do campo (Maria Antnia de Souza).
PARTE III. Alternativas no contexto da educao profissional, tambm com trs
captulos: A reforma do ensino profissional: governos FHC e Lula (Miguel Henrique Russo);
Ideologia e formao profissional: a lgica da naturalizao e da adaptao (Celso Carvalho);
Contribuies da histria profissional (Celso Joo Ferretti).
PARTE IV. Pedagogia da Alternncia: origem, didtica, expanso, problemas,
com dois captulos: Educao: territrio e globalizao (Paolo Nosella); Os centros
familiares de formao em alternncia CEFFAs (Joo Batista Begnami, Luis Pedro
Hillesheim e Thierry De Burghgrave).
PARTE V. Filosofia no Ensino Fundamental, com dois captulos: Notas para pensar
el sentido poltico de ensear y aprender filosofa (Walter Kohan); Filosofia para crianas
educao para pensar bem: a proposta de Matthew Lipman (Marcos Antnio Lorieri).
PARTE VI. Pedagogias da Educao a Distncia, com trs captulos: Educao a
distncia no ensino da msica (Prof. Dr. Daniel Marcondes Gohn); Sobre ambientes virtuais
na configurao da escola: reflexes sobre formao (Rosemary Roggero); Educao de
qualidade para o futuro (Fredric M. Litto).
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PARTE VII. Associativismo e Sindicalismo: impactos na educao, com trs
captulos: Heterogeneidade e fragmentao (Sadi Dal Rosso); La profesionalizacin del
acadmico universitario en Mxico: origen y desarrollo (Renate Marsiske); Associativismo e
sindicalismo na histria da educao aspectos tericos e ideolgicos de sua construo
(Carlos Bauer).
PARTE VIII. Arquitetura Escolar: desafios pedaggicos, com dois captulos:
Arquitetura Escolar: organizao do espao e desafios pedaggicos (Ester Buffa); A escola e a
cidade (Luiz Octvio Rocha).
PARTE IX. Pedagogias Freireanas, com quatro captulos: Uma Introduo
Pedagogia da Correspondncia em Paulo Freire (Edgar Pereira Coelho); Despensar as
pedagogias coloniais e os seus pressupostos epistemolgicos (Manuel Tavares); Universidade
popular um sonho possvel de ser concretizao (Adriana Salete Loss e Cludia Finger
Kratochvil); Pedagogias de Paulo Freire (Jos Eustquio Romo).
Seria longo comentar a respeito de cada captulo do livro e fica aqui o convite para que
o leiam.
2. Conversando sobre educao e diversidade: dilogos interculturais
H tantas diversidades, assim como h sempre algo em comum nos humanos: este o
meu ponto de partida. Um dos aspectos comuns aos humanos a diversidade: comum ser
diferente. comum ser outro, ou ser humano de maneiras diversas. Da a estranheza de se
estranhar a diversidade e, pior, lutar contra ela. Pior ainda: lutar contra o diferente. Tom-lo
como inimigo. Contra isso, vrias posturas tm surgido, depois de muitas brbaras posturas
que, historicamente, indicaram a eliminao do diferente com as consequncias que todos
conhecemos.
Aqui j h um aspecto a ser considerado, seja na formao dos educadores, seja no
trabalho destes educadores com as crianas e com os jovens. necessrio reforar a tomada
de conscincia a respeito deste princpio: o de que a diversidade algo natural e belo na
Natureza, incluindo a os seres humanos e que, ela no apenas bela, mas boa, pois permite
trocas enriquecedoras entre os diversos. No caso dos humanos, permite as trocas
interculturais. Ou, os dilogos interculturais.
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Vale lembrar a feliz distino que Paulo Freire faz entre dilogo e polmica. Na
polmica busca-se impor a outro o prprio ponto de vista. No dilogo trocam-se pontos de
vista com a inteno de, na troca dos mesmos, se poder chegar a algum ponto de vista mais
bem argumentado, mais completo, mais apurado. Quando se faz a apurao, faz-se, tambm, a
depurao do que no era to bom e fica-se com o que era bom no um e no outro. Assim,
parece-me, deve ser o dilogo intercultural.
O termo interculturalidade tem sido utilizado para indicar propostas de convivncia
entre diferentes culturas com o objetivo de integrao entre elas sem, com isso, anular sua
diversidade e nem perder de vista a igualdade fundamental de todos, em especial sua igual
dignidade. Somos sempre dignos, isto , merecedores de respeito como pessoas. Faz parte
dessa dignidade, podermos ser diferentes. Candau (2008) chama a ateno para o fato de que
houve uma enorme nfase na igualdade no discurso da modernidade. Os novos discursos
apontam para a diferena e a convivncia com o diferente. No que o foco na igualdade tenha
perdido sua validade, mas h uma nfase na diferena.
Como entender igualdade e diferena e como entender que todos somos iguais
diferentemente? Ou como diz Rios em texto apresentado no 4 Congresso da SOFELP
(Sociedade de Filosofia de Lngua Portuguesa) realizado em 2014 em Cabo Verde:
Entretanto, de maneira extremamente diversificada que se d a criao cultural nos
diversos grupos e sociedades. Poderamos dizer que o que iguala os seres humanos
, contraditoriamente, o fato de serem diferentes, e de se construrem de maneira
diferente. H um direito diferena assim como um direito igualdade? Como
assim? Candau diz: No se trata de afirmar um polo e negar o outro, mas de
articul-los de tal modo que um nos remeta ao outro. (2008, p. 47)
Somos igualmente diversos na nossa maneira de ser gente. E isso um direito de todos
ns. O que no podemos eliminar a nossa igual condio humana. E esta, tambm, carrega
consigo direitos.
No uma questo simples, mas h elementos presentes nas discusses atuais que
podem nos ajudar, ao menos, a darmos aquele primeiro passo que o da tomada de
conscincia do problema e de alguns meios capazes de resolv-lo. Estes meios caminham na
direo das polticas pblicas e na direo da busca de proposies educativas a serem feitas
s nossas crianas e aos nossos jovens no intuito de convenc-los a realizarem prticas de
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respeito igual dignidade de todos e, tambm, s diferentes maneiras de realizarmos nossa
igual dignidade.
Ao comentar algumas posies de Boaventura Sousa Santos a respeito deste tema e
algumas das premissas ali contidas, Candau diz: Todas essas premissas esto voltadas para
essa grande questo da articulao entre igualdade e diferena, isto , da passagem da
afirmao da igualdade ou da diferena para a da igualdade na diferena. (CANDAU, p. 49).
Em continuao ela insiste no seguinte:
A questo est em como trabalhar a igualdade na diferena, e a importante
mencionar o que Santos (2006) chama de o novo imperativo transcultural, que no
seu entender deve presidir uma articulao ps-moderna e multicultural das polticas
de igualdade e diferena: temos o direito a ser iguais, sempre que a diferena nos
inferioriza; temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos
descaracteriza (SANTOS, 2006, p. 462). nessa dialtica entre igualdade e
diferena, entre superar toda a desigualdade e, ao mesmo tempo, reconhecer as
diferenas culturais, que os desafios dessa articulao se colocam. (CANDAU,
2008, p. 49).
3. Interculturalidade, direitos humanos e educao
Em texto enviado ao IV Colquio Internacional de Filosofia da Educao realizado na
Universidade dos Aores em 2012 apresentamos consideraes que aqui so retomadas
julgando que possam auxiliar nas reflexes sobre o que pode fazer a educao em relao a
esta temtica. Essas consideraes partiam de algumas questes como: haveria um nico
humano a dizer de si e a pedir pela sua realizao, ou h possibilidades diversas de se ser
humano? As diversidades contemplam a satisfao do ser gente? Quando exercemos o ofcio
de educadores o fazemos na busca de ajudar seres humanos em formao a saberem buscar
suas satisfaes e as dos outros? H um nico caminho de satisfao do humano?
Para enfrentar estas questes iniciamos por afirmar ser comum dizer-se da
importncia das diferenas e da riqueza do humano que elas revelam. Ao mesmo tempo foram
colocadas questes relativas ao que comum ou igual nos seres humanos e que, talvez,
merea tanta ateno quanto que dada s diferenas. Se as consideraes relativas s
diferenas apontam para caminhos diversos de o humano realizar-se, haveria, tambm e ao
mesmo tempo, caminhos comuns a indicarem algo de base e a todos necessrio? Como pensar
este algo comum ao constatar os muitos diversos caminhos culturais que os homens criam e
25
nos quais se realizam, criando-se e recriando-se continuamente? Que resposta a educao
deve ou pode dar a estas interpelaes?
Uma ideia de Edgar Morin pode auxiliar na busca de alguma resposta: A Terra
constitui um laboratrio nico onde, no tempo e no espao, manifestaram-se as constantes e
as variaes humanas individuais, culturais, sociais: todas as variaes so significativas,
todas as constantes so fundamentais. (MORIN, 2003, p. 18).
H algo constante e, ao mesmo tempo, algo dinmico, ou varivel que significativo
e constitutivo do humano. Naquilo que comum, os seres humanos so, ao mesmo tempo,
seres do cosmo e seres da vida. Como seres da vida carregam as marcas comuns do biolgico.
So tambm seres culturais: produtores de cultura e produzidos pela cultura. A cultura o
toque propriamente humano dado animalidade, ou seja, ao biolgico O primeiro capital
humano a cultura. O ser humano, sem ela, seria um primata do mais baixo escalo (pois),
no seio das culturas e das sociedades, os indivduos evoluiro mental, psicolgica,
afetivamente. (MORIN, 2003, p. 35). H, aqui, dois dados comuns a todos os humanos:
todos so membros de uma espcie e todos so membros de alguma sociedade e, por
conseguinte, de alguma cultura. Sem a biosfera no h o humano e nem sem a sociosfera. O
indivduo humano, na sua autonomia mesma, , ao mesmo tempo, 100% biolgico e 100%
cultural. (MORIN, 2003, p. 53). Cabe aos humanos preservar, nutrir e regenerar a ambas. E
h um terceiro aspecto tambm constitutivo de todo humano que ele denomina de esprito ou
de mente. O esprito uma emergncia do crebro que suscita a cultura, a qual no existiria
sem crebro. (MORIN, 2003, p. 38).
H, pois, trs esferas necessrias nas quais a vida humana se d: a biosfera (na qual
emerge o crebro), a sociosfera (na qual emerge a cultura) e a esfera do esprito/mente (a
noosfera), visceralmente imbricada nas outras duas e que tem papel fundamental na conduo
da humanizao. Dependemos todos, igualmente, de cuidados com as trs esferas nas quais
nos realizamos. Morin d um destaque especial da noosfera ( do esprito), pois, atravs do
esprito o homem abre-se ao mundo pela curiosidade, pelo questionamento, pela explorao,
pela paixo de conhecer e se sensibiliza por tudo (o aspecto esttico do humano),
manifestando essa sensibilizao pelos mais diversos meios, sendo um deles, o das artes. Este
esprito incita todos os comeos. (Idem, p. 40). Os exerccios do esprito/mente formam um
26
algo comum a todos os humanos. Variam os exerccios e seus produtos, mas o exercitar-se o
mesmo e a mesma, a necessidade dele e do seu cultivo nas mais diversas culturas.
Destaquem-se, dentre os produtos do esprito/mente, as manifestaes da sensibilidade
humana que decorrem de algo do qual ningum pode deixar de cuidar: o seu ser esttico. Pois,
trata-se de uma dimenso antropolgica capital: o ser humano no vive s de po, no vive
s de mito, vive de poesia. Vive de msica, de contemplaes, de flores, de sorrisos (idem, p.
137-138). Sejam quais forem e como forem estas manifestaes da sensibilidade humana, elas
so imprescindveis para a realizao dos humanos.
As consideraes a respeito do que h de comum e que no pode ser descartado na
busca da boa realizao dos humanos poderiam se estender por vrios outros aspectos. Essas
consideraes convidam para se pensar na necessidade de cuidados com os elementos
fundamentais imbricados e entrelaados na constituio do propriamente humano: os
cuidados com o Planeta Terra, com a vida em geral e, dentro dela, da vida humana como
finalidade importante de nossas aes, com as sociedades para que sejam redes de segurana
sem se tornarem redes aprisionantes, com as coisas do esprito pois, sem elas, no sabemos do
mundo, da vida, das sociedades, de ns mesmos e nem conseguimos nos realizar
esteticamente, afetivamente, como sujeitos e intersubjetivamente. Esses cuidados so direitos
de todos, independentemente da diversidade cultural.
Sabemos, pois, do que comum ou igual em todos ns e da necessidade dos cuidados
a respeito, necessidade que gera direitos iguais para todos os humanos. Mas, sabemos,
tambm, que somos iguais na diferena ou na diversidade de nossas maneiras de realizarmos
essa igualdade. Esses diferentes caminhos de realizao do humano so uma riqueza. O
tesouro da humanidade est na diversidade criadora, mas a fonte de sua criatividade est na
sua unidade geradora. (MORIN, 2003, p. 66). A diversidade uma obviedade. H o
homem, ou o ser humano, mas este humano s se apresenta atravs de homens e mulheres
muito diversos (MORIN, 2003, p. 62). H o esprito humano que s aparece em espritos
diferentes (idem, p. 62), assim como h a inteligncia humana que se concretiza em
inteligncias muito diversas (idem, p. 63). H a afetividade e esta se realiza de modos
singulares em cada pessoa. H a cultura humana, mas o que se v so as mais variadas
culturas, pois, a cultura s existe atravs das culturas (idem, p. 64). Assim como h a
linguagem humana que se realiza pelas mais diversas formas como, por exemplo, pelas
27
variadas lnguas. Somos gmeos pela linguagem e separados pelas lnguas (MORIN, 2003,
p. 65).
As diversas maneiras de se ser igualmente gente, porm, nem sempre so aceitas ou
reconhecidas como genuinamente humanas. Acabam por no serem consideradas como de
direito de as pessoas existirem assim, diversamente, na sua igual humanidade.
Aquilo que permitiria a compreenso provoca a incompreenso entre culturas quando se v
apenas a diferena e no o fundo antropolgico comum. Da mesma forma, entre os indivduos, somos
incapazes de nos compreender enquanto s vemos a alteridade e no a identidade. (...). Em todas as
coisas humanas, a extrema diversidade no deve mascarar a unidade, nem a unidade bsica mascarar a
diversidade. (MORIN, 2003, p. 65).
Sem isso a humanidade comum perece e, em seu perecimento, perecem juntos todos
os diversos humanos. A diversidade depende da unidade e vice-versa. A admisso disso exige
um reacerto na concepo do humano indicando novos aportes antropolgicos e novas
propostas para a educao. necessrio entender que no se pode pensar e agir a partir de
reducionismos, pois eles matam a riqueza da diversidade e em nada ajudam na busca da
satisfao das exigncias do que comum, a comear pela satisfao exigncia do respeito
dignidade humana que engloba o respeito ao direito da diversidade.
Esta a base ou o ponto de partida para a exigncia do respeito variedade cultural e
para a luta pela interculturalidade. Esta, por sua vez, parece ser uma luta mais difcil, pois, no
se trata de apenas respeitar as outras culturas ou de buscar bem conviver com as diferenas.
Muito menos de apenas tolerar o diferente.
Trata-se de saber conviver, sim, e tambm de saber comunicar-se com o diferente
buscando entendimentos e aprendizagens mtuas o que leva ao mais difcil, que o
intercambiar realizaes culturais como conhecimentos, saberes, prticas, maneiras de ser.
Intercambiar significa trocar entre. Significa oferecer seus prprios bens culturais a outros de
outra cultura e tambm saber receber estes bens da outra cultura. Talvez o mais difcil seja o
receber. No um simples receber, mas um receber que reelabora o recebido. A reelaborao
permite novos desenvolvimentos do humano sem, contudo, descaracterizar o j elaborado.
Pensar assim implica em pensar em ao menos duas coisas: primeiro pensar que
nenhuma cultura realiza por completo o humano nos membros de um grupo social; segundo,
que nenhuma cultura absolutamente melhor que outras. Todas so portadoras de algo bom (e
28
tambm de algo no to bom) e todas tm carncias do melhor do humano. Nas trocas, nos
intercmbios, todos podem ser aprimorados. Este posicionamento reporta-se ideia de
hibridizao cultural tal como expressada por Candau:
Alm disso, deve ser dada especial ateno aos aspectos relativos hibridizao
cultural e constituio de novas identidades culturais. importante que se opere
com um conceito dinmico e histrico de cultura, capaz de integrar as razes
histricas e as novas configuraes, evitando uma viso das culturas como universos
fechados e em busca do puro, do autntico e do genuno, como uma essncia
preestabelecida e um dado que no est em contnuo movimento. (2008, p. 53).
Uma ideia nada fcil. Ela se ope simples ideia da tolerncia do diferente. Penso
que no o caso de se propor s nossas crianas e jovens que tolerem os diferentes de ns e
sim que saibamos conviver bem com todas as pessoas numa relao constante de respeito
sua dignidade humana e, alm disso, que saibamos levar em conta aquilo que o diferente traz
de diverso e que pode ser acolhido nas nossas maneiras de ser porque acrescenta aquilo de
humanidade em ns que percebemos que nos falta.
H hoje muitos estudos a respeito desta temtica relativa interculturalidade que
caminham juntos com os estudos relativos multiculturalidade e pluriculturalidade. Em
todos eles fala-se no necessrio respeito diversidade cultural e no direito de todas as pessoas
viverem de acordo com suas referncias culturais em qualquer lugar em que estejam neste
Planeta Terra. Fala-se tambm na necessidade de qualquer pas, ao acolher pessoas de outras
culturas, oferecer-lhes o total respeito que cabe a todo ser humano. Isso tem por base o
pressuposto da igualdade de todos como pessoas. J h uma histria positiva dessas falas e
uma histria ainda no to positiva de aes coerentes com elas. A histria, porm, de falas
relativas interculturalidade e ao seu entendimento recente. Muitas vezes fala-se em
interculturalidade no sentido ou de multiculturalismo ou de pluriculturalismo colocando-se
nelas a ideia restrita de tolerncia. As falas acima mencionadas que se reportam ao
intercmbio de culturas e mesmo ideia de hibridizao cultural ainda sofrem dificuldades de
preciso e, mais ainda, de assuno objetiva. A ideia de intercmbio cultural, de trocas de
elementos culturais ainda parece assustar. No entanto, pode ser rica e encaminhadora para
novas buscas de realizao do humano. E isso implica profundamente na discusso a respeito
dos direitos humanos. Reinaldo Matias Fleuri (2003) apresenta um histrico das discusses
29
em torno destes temas e traz interessantes contribuies para a elucidao de alguns aspectos
relativos interculturalidade. Assim como o texto de Vera Maria Candau: Direitos humanos,
educao e interculturalidade: as tenses entre igualdade e diferena (2008). Ambos os
textos esto indicados nas referncias bibliogrficas no final desta exposio.
Dados os limites disponveis para estas consideraes, fao remisso bibliografia
indicada e proponho algumas consideraes provocativas a partir dos elementos at aqui
expostos.
4. Consideraes provocativas
Pensando em direitos humanos na perspectiva da interculturalidade entendida como
intercmbio de culturas, o que indica trocas entre elas, como pensar em direitos? Direito a
qu?
Antes de provocar alguma resposta, julgo oportuno repetir algo que li em algum texto
e que afirma no haver nenhuma cultura pura, visto que todas as culturas so resultantes de
intercmbios culturais. Parece-me acertada esta afirmao.
Se estiver correto, parece-me ser de direito de qualquer pessoa, poder assimilar
elementos culturais diversos daqueles nos quais se formou. Um direito que derivado da
natural limitao de qualquer conjunto de bens culturais para satisfazer todas as necessidades
ou carncias das pessoas. Em havendo carncias em uma cultura e, em havendo possibilidades
de satisfao dessas carncias em elementos de outras culturas, por que no assumir a
possibilidade de assimilao desses elementos por qualquer pessoa? E, em havendo duas ou
mais culturas que se encontrem (e isso mais comum do que se imagina) por que no
considerar ser de direito dos membros dessas vrias culturas, trocarem entre si elementos de
suas culturas? No seria este um direito de todos? Igualmente de todos? justo impedir ou
tentar impedir este intercmbio? E mais: seria justo tentar impedir o conhecimento o mais
abrangente possvel de diversas culturas? Fazer isso no seria contrariar o direito igual de
todos de terem acesso a possveis bens culturais que lhes faltam em suas culturas? Seriam
direitos humanos a serem vistos e defendidos na perspectiva da interculturalidade entendida
como intercambiamento cultural? Como subsdio a estas indagaes interessante pensar no
que diz Candau ao comentar algumas ideias de Boaventura Souza Santos:
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Afirmar que nenhuma cultura completa, que nenhuma d conta de toda a riqueza
do humano, leva-nos a, muito mais do que trabalhar com a ideia de uma cultura
verdadeira e nica, que tem de ser universalizada, desenvolver a sensibilidade para
com a ideia da incompletude de todas as culturas e, portanto, da necessidade da
interao entre elas. Nenhuma cultura d conta do humano. (CANDAU, 2008, p.
49).
Segunda considerao: se fosse possvel (parece-me no o ser) a busca da
conservao de alguma cultura pura, que consequncias para o bem dos humanos esta busca
traria? Talvez estas palavras de Candau nos ajudem: Sempre que a humanidade pretendeu
promover a pureza cultural e tnica, as consequncias foram trgicas: genocdio, holocausto,
eliminao e negao do outro. A hibridizao cultural um elemento importante para levar
em considerao na dinmica dos diferentes grupos socioculturais. (2008, p. 51).
Penso que uma tarefa da Filosofia da Educao tambm a de refletir criticamente
sobre esta temtica e principalmente refletir sobre como a educao deve tratar dela com
vistas a buscar acima de tudo a realizao da dignidade das pessoas. Dignidade esta, que o
postulado bsico de todo o discurso dos direitos humanos e que deve se tornar o postulado
bsico de todas as aes nesta direo. Em especial as aes educacionais.
Referncias bibliogrficas
BAUER, Carlos; ROGGERO, Rosemary; LORIERI, Marcos A. (Orgs) Pedagogias
Alternativas, Jundia, SP: Paco Editorial, 2014.
CANDAU, Vera Maria. Direitos humanos, educao e interculturalidade: as tenses entre
igualdade e diferena. In: Revista Brasileira de Educao. Rio de Janeiro: ANPED v. 13 n. 37
jan/abr 2008, p. 45-56.
FLEURI, Reinaldo Matias. Intercultura e educao. In: Revista Brasileira de Educao. Rio
de Janeiro: ANPED, Maio/Jun/Jul/Ago 2003 N 23 p. 16-33.
MORIN, Edgar. O Mtodo 5: a humanidade da humanidade. A identidade humana. Trad.
Juremir Machado da Silva. 2 ed. Porto Alegre: Sulina, 2003.
RIOS, Terezinha Azerdo. Educao para a interculturalidade desafio construo do
dilogo. Comunicao enviada ao IV Congresso da SOFELP realizado em Praia, Cabo Verde
de 6 a 8 de maio de 2013.
31
MESAS TEMTICAS
ANLISE SOBRE O ACESSO POPULAR E A INCLUSO DA DIVERSIDADE
CULTURAL E EPISTEMOLGICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA
INTEGRAO LATINO-AMERICANA (UNILA)
Suelen Pontes - PPGE/UNINOVE
Resumo
Este trabalho pretende compreender a incluso da diversidade cultural e epistemolgica no
quadro de acesso popular consolidado na Universidade da Integrao Latino-Americana
(UNILA). pretendido a compreenso do modo como o princpio filosfico apresentado no
decreto de lei 12. 189 se substancializa no projeto poltico pedaggico que contm bases
humansticas, de democracia cognitiva e politizao cientfica, diferentemente das bases que
sustentam as matrizes coloniais de educao superior. As epistemologias no eurocntricas,
constituiro a base terica de fundamentao do novo projeto de ensino e educao superior,
tendo em vista a incluso da diversidade cultural e epistemolgica numa perspectiva no
ocidentocntrica, descolonial, emancipatria e de acesso popular. A UNILA como uma
proposta de alternativa aos atuais modelos sistmicos de educao superior vem buscando
contribuir para a integrao regional da Amrica Latina, reconhecendo a diversidade das
identidades nacionais e dos elementos que unem nossas razes e nossos destinos enquanto
continente diante do mundo globalizado, quando pretende ser e afirmar-se como um modelo
de ensino de educao superior contra-hegemnicos. Por meio de uma anlise qualitativa,
percebemos como se consolidam as propostas humansticas nesse quadro de integrao da
vocao internacionalista e solidria da UNILA.
Palavras-chave: Educao superior, Integrao, Inovao, Diversidade epistemolgica.
Introduo
Este trabalho analisa, no ensino da educao superior, um projeto de acesso popular ao
ensino superior, que visa a incluso da diversidade cultural e epistemolgica, mais
precisamente nos processos que se desenvolveram nessa direo, na Universidade Federal da
Integrao Latino-Americana (UNILA).
Na contemporaneidade, em funo das polticas neoliberais, a educao superior
tornou-se objeto de mercantilizao, que no se restringe esfera do ensino. As exigncias do
mercado de trabalho de uma mo de obra cada vez mais qualificada e a ausncia de resposta
do setor pblico a essas exigncias, abriu o caminho para a iniciativa privada no mbito da
mailto:[email protected]32
educao que, apesar dos objetivos de lucro, cumpre, muitas vezes, o papel que compete ao
Estado, ou seja, a democratizao do acesso educao superior. Os grupos sociais mais
desfavorecidos, que cursaram o ensino mdio nas escolas pblicas, so o pblico privilegiado
das universidades privadas. E este um dos grandes paradoxos da educao superior no
Brasil: os filhos das elites cursam as universidades pblicas e os filhos dos mais
desfavorecidos tm que pagar para ter o direito de acesso universidade.
Diante das ausncias que surgem dos saberes suprimidos, marginalizados e
desacreditados, nascem novos modelos de educao superior que propem o dilogo com
diferentes reas do saber. Ocorre que esses novos modelos so fontes alternativas produo
cientfica hegemnica que possuem o objetivo de uma transformao social emancipatria.
Um dos modelos contra hegemnicos de educao superior o proposto por
Boaventura de Sousa Santos - as Universidades Populares dos Movimentos Sociais (UPMS) -
e surge como alternativa aos modelos universitrios tradicionais, ou clssicos, que acabam por
responder apenas s necessidades das elites. De acordo com Santos (2006, p. 156-157),
O objetivo principal da UPMS contribuir para aprofundar o interconhecimento no
interior da globalizao contra-hegemnica mediante a criao de uma rede de
interaes orientadas para promover o conhecimento e a valorizao crtica da
enorme diversidade de saberes e prticas protagonizados pelos diferentes
movimentos e organizaes.
No mbito dos novos modelos, surgem as novas universidades implementadas no Brasil
nos ltimos cinco anos que procuram responder s demandas dos pases em desenvolvimento
e possuem como foco o fortalecimento dos modos de resistncia contra hegemnicos, como
o caso do universo da nossa pesquisa, a Universidade Federal de Integrao Latino-
Americana (UNILA).
A educao brasileira fruto de um contexto de colonizao, processo que foi
determinante (historicamente) para o desenvolvimento ou subdesenvolvimento dos pases sul
americanos. A cultura da Amrica Latina tornou-se dependente do colonialismo intelectual,
que acabou mercantilizando o conhecimento cientfico da universidade, distanciando-se da
vida social pelo seu carter elitista ou profissionalizante.
H novos modelos de educao superior que pretendem, precisamente, afirmar-se
como modelos anticoloniais. possvel a superao do processo colonial, a partir da tomada
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da conscincia do modo como se constitui esse modo estruturado e imposto do saber. Trata-se
de um projeto muito complexo, mas do qual possvel se tomar a conscincia para a
transformao completa das estruturas coloniais e que imperam ainda nas bases do
conhecimento e nas instituies que os promovem. Trabalhamos tambm com o conceito de
diversidade por considerarmos, a partir do campo emprico de pesquisa e dos documentos
analisados, que a UNILA tem como projeto institucional e pedaggico a promoo da
diversidade cultural, numa perspectiva humanista, cientfica e tecnolgica que leva em
considerao o desenvolvimento latino-americano, sobretudo dos pases menos
desenvolvidos.
Do ponto de vista da matriz institucional, o projeto da UNILA tem por objetivo a
afirmao da diversidade cultural. Por isso, aponta para a afirmao de uma viso
multicultural. Contrariamente multiculturalidade descritiva, a perspectiva multicultural do
projeto da universidade emancipatria no sentido em que prope um movimento a favor da
equidade cognitiva social, uma universidade para alm de seus muros que mantm o dilogo
com os diferentes povos e culturas que frequentam o seu espao. Consideramos, no entanto,
que este conceito adquirir contedo se for operacionalizado a partir de uma viso
democrtica multicultural e intercultural, utilizadas como ferramentas para o processo de
descolonizao das mentes e dos saberes, buscando promover um dilogo entre as diversas
culturas, a que Boaventura de Souza Santos (2010) denomina por ecologia dos saberes.
O presente trabalho, enquadra-se nas reflexes e debates contemporneos sobre a
educao superior tendo em vista a construo de modelos alternativos aos modelos
eurocntricos, que privilegiem uma produo de conhecimento fundamentada nos contextos
sociais e na diversidade cultural e que respondam s necessidades e anseios das populaes
mais desfavorecidas. Os novos modelos de educao superior, nos quais se enquadra o nosso
objeto de pesquisa, esto sustentados, do ponto de vista institucional, numa concepo
democrtica e emancipatria. Nesta perspectiva, as nossas referncias tericas so as que
promovem o debate e a problematizao da viso ocidentocntrica, e dos modos sistmicos e
tradicionais de se pensar e se produzir conhecimentos que foram impostos aos pases do Sul.
A metodologia da nossa pesquisa foi pensada de acordo com uma abordagem
qualitativa norteada pela representao social e poltica os nossos referenciais foram
buscados nas categorias ontolgicas e epistemolgicas dos autores inseridos no universo da
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pedagogia crtica que tm desenvolvido fundamentos, mtodos e tcnicas de abordagem da
educao superior sob o olhar da teoria crtica e contra hegemnica, dentre os quais se
destacam Anbal Quijano, Boaventura de Sousa Santos, Immanuel Wallerstein, Jos
Eustquio Romo, Manuel Tavares, Paulo Freire, W. Mignolo, Estermann, entre outros.
A universidade do sculo XX
importante para a compreenso dos novos modelos de universidade, a anlise de
como se consolida a universidade no sculo XX, diante do fato em que este foi um perodo
em que o capital se acentuou, e, por conta disso, surgiram movimentos de universidade que
podem ser considerados antagnicos aos organismos multilaterais, que propuseram reformas
ao longo deste perodo. As reformas no podem ser analisadas simplesmente como
informaes tendentes a novas prticas. Podemos perceb-las, como parte de um plano
estratgico das instituies em seu processo de modernizao.
O sistema educacional resulta dos processos de valorizao do capital, pois no a
educao que produz a riqueza, a riqueza que proporciona condies educacionais.
O desenvolvimento do capitalismo foi um marco ente a relao do mundo do trabalho
com a universidade. A educao superior, que tradicionalmente se propunha promover valores
ligados alta cultura, passou a ser tambm uma educao voltada para o mundo do trabalho
e para a formao de quadros profissionais e dirigentes. No sculo XX, as principais
finalidades da universidade eram o ensino, a investigao e a prestao de servios. Conforme
afirma Santos (2000, p.188):
Apesar de a inflexo ser, em si mesma, significativa e de se ter dado no sentido do
atrofiamento da dimenso cultural da universidade e do privilegiamento do seu
contedo utilitrio, produtivista, foi sobretudo ao nvel de polticas universitrias
concretas que a unicidade dos fins abstractos explodiu numa multiplicidade de
funes por vezes contraditrias entre si.
Somente depois da independncia, que houve na Amrica Latina, expressiva expanso
do ensino. A partir de ento, emergiram ondas de modernizao no final do sculo XIX e
incio do sculo XX, que foram induzidas pelas oligarquias progressistas, com a expanso do
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capitalismo e da democracia, ao lado do crescimento urbano e incio do processo de
industrializao, que, no caso latino-americano, foi muito delongado.
No caso brasileiro, atraso no desenvolvimento da industrializao, contribuiu para que
esses movimentos no conseguissem alcanar a modernidade europeia. evidente que a
modernizao e a democratizao, no so semelhantes entre todos os pases da regio da
Amrica Latina e Caribe. Em termos globais a renovao experimental cientfica e
democratizao cultural so privilgios de uma pequena minoria.
Em termos de comparao, se tomarmos em considerao o caso do Chile, Canclini
(2013) refere que na dcada de 1930 somente 10% dos estudantes de ensino secundrio eram
admitidos nas universidades. Ento, podemos ter uma ideia de como a expanso da
democracia e da modernidade ficaram restritas somente a um estrato elitizado da populao
na maioria dos pases da Amrica Latina.
A partir da modernizao, de tipo ocidental, que a universidade como instituio, foi
sendo dominada pelo corporativismo e pela mercantilizao. Nos ltimos decnios do sculo
XX, a universidade embarcou no projeto poltico neoliberal. Em relao a este aspecto,
Romo (2013, p.95) nos explica que esse projeto:
[...] imperou soberanamente nos sistemas nacionais de educao da Amrica Latina,
apesar das poucas vozes da resistncia que se faziam ainda ouvir em alguns poucos
nichos das universidades nacionais. [...] no subcontinente latino-americano e no
Brasil, implantando a lgica do mercado no universo da educao, cujo imperativo
mais impactante foi (e continua sendo) a vinculao da remunerao e da progresso
funcional docente produtividade.
No entanto, percebemos a transformao ocorrida em grande parte do mundo ao lado
da implantao de sistemas nacionais de exames: avaliaes estruturais, classificatrias e
meritocrticas. Como refere Romo (2013), uma forma diablica que a hegemonia
encontrou para universalizar a ideia de que nem todos possuem competncia para atingirem os
benefcios que os processos civilizatrios propiciam.
Entre tantos conflitos, a universidade, atualmente, tenta equalizar a educao
humanstica e a formao profissional dos estudantes. Ao pensarmos a universidade no a
dissociamos do universo do trabalho, ao contrrio, notria a comunicao entre ambos. No
que se refere relao entre universidade e mundo do trabalho e s transformaes ocorridas
no seio do mundo ilustrado Santos (2000, p.198) afirma, nos seguintes termos:
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A resposta da universidade a esta transformao consistiu em tentar compatibilizar
no seu seio a educao humanstica e a formao profissional com o reforo da
centralidade na formao da fora de trabalho especializada. Esta resposta,
plenamente assumida nos anos sessenta, trouxe consigo, como j referi, a
diferenciao interna do ensino superior e da prpria universidade. Ao lado das
universidades tradicionais surgiram ou desenvolveram-se outras instituies
especificamente vocacionadas para a formao profissional, mantendo graus
diversos de articulao com as universidades.
Emergiram, na dcada de 1960, novos modelos de educao superior, diferentes dos
modelos tradicionais. Procuravam manter a articulao com as universidades na medida em
que pretendiam compatibilizar a formao profissional especializada com uma formao
humanstica, o que os distinguia, internamente, dos modelos tradicionais.
A acentuao da dicotomia educao trabalho esclarecida por Boaventura em dois
nveis. No primeiro, o pesquisador destaca que o ato de sequncia, em relao ao trabalho
aps a educao, (...) pressupe uma correspondncia estvel, entre a oferta de educao e a
oferta de trabalho, entre titulao e ocupao; No segundo, (...) a prpria concepo de
trabalho tem vindo a alterar-se no sentido de tornar mais tnue a ligao entre trabalho e
emprego, fazendo com que o investimento na formao deixe de ter sentido (SANTOS 2000,
p.197). De fato, ocupando ainda hoje o trabalho a centralidade na vida das pessoas e estando
a produtividade condicionada ao trabalho, as universidades passaram a incorporar a dimenso
profissionalizante e, como tal, a relao com o mundo do trabalho.
Conforme aumenta a fragmentao do sistema universitrio, resultante tambm das
privatizaes, ocorre a desvalorizao dos diplomas. As universidades por sua vez, foram-se
multiplicando com base em processos de estratificao e massificao. Houve uma crescente
ampliao dos setores tcnico-profissionalizantes e dos setores profissionais tradicionais.
Romo (2013, p.94) refere que:
Foi criado o mito da incompatibilidade absoluta entre massificao e qualificao na
Educao Superior na maioria dos pases do mundo capitalista. Este ainda o
argumento que sustenta o elitismo da universidade, como se toda formao humana
no fosse adequadamente desenvolvida em nvel superior. Diante deste mito, cabe
indagar (i) Por que somente uma minoria pode ter acesso aos processos e aos
produtos do que h de melhor no banquete civilizatrio? (ii) Por que a maioria da
humanidade dever ser condenada ao trabalho pesado, s atividades manuais,
mecnicas, repetitivas, em suma, s tarefas mais desumanizantes? Somente uma
sociedade dominada por uma viso de mundo que tem como ponto de partida e que
exibem em seu frontispcio o individualismo pode defender a superioridade
gnosiolgica (vanguardismo) e poltica (elitismo) de um grupo minoritrio.
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O ensino superior, no mundo ocidental, destinado s minorias, se deparou com
grandes dificuldades impostas por teorias que tornavam inoportunas sua universalizao. De
acordo com os apontamentos de Romo, desde a sua criao a universidade sempre se
manteve presente criticamente, resistindo contra a ignorncia, a intolerncia, o obscurantismo
e outras formas de violncia.
O ensino superior se tornou importante como instituio, de modo global, na metade
do sculo XX, sob forte influncia europeia. Houve um processo de modificao no interior
das instituies, ou melhor, processo de modernizao implicando na massificao e
democratizao de ensino, que contribuiu para o aumento do nmero de estudantes.
Na Amrica Latina, a viso do papel social da universidade bem singular: ela tem
um propsito social, de incluso, democratizao do acesso, apesar de se apresentar, em
grande parte, condicionada pela viso eurocntrica de ensino e de cincia. A educao latino-
americana foi engendrada em um modelo de formao de cidadania subalterna: isto significa
que a educao, aparentemente, est voltada para uma formao cidad, mas em contrapartida
submissa aos padres coloniais. Streck & Moretti (2013, p. 35) refere nos seguintes termos,
Entende-se que nossa educao parece estar presa ao seu destino de formar para a
cidadania menor ou para a no cidadania, ou seja, est como que enredada sob uma
forma de cidadania subalterna. A colonialidade um dos elementos que constituem
o padro mundial do poder capitalista, que no contexto de convergncias de crises
(econmica, ambiental, de representao poltica) sustenta a imposio de um
determinado tipo de classificao social que opera nos planos materiais e subjetivos.
Na Amrica Latina, h uma resistncia contra-hegemnica, que busca a superao da
colonialidade pedaggica a partir de um pensamento emancipador sustentado nos
pressupostos filosficos e epistemolgicos da teologia da libertao e no pensamento de Paulo
Freire.
Diante de um ensino superior com finalidades estritamente produtivistas, percebemos
que a universidade latino-americana possui traos fortes eurocntricos, de cultura
hegemnica. Apesar da expanso nos dias atuais e da ampliao do acesso, qualitativamente o
ensino superior esteve durante muitos anos restrito s elites sociais, e so elas quem do
seguimento s culturas coloniais.
As ltimas dcadas do sculo XX foram, a grosso modo, marcadas por profundas
crises, na maioria dos pases, de ordem social, democrtica, econmica e poltica, muitas
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delas provocadas por uma ordem global, afetando fortemente os pases da Amrica Latina
que, em termos geoeconmicos e polticos, se situam na periferia do capitalismo, por conta de
sua dependncia econmica e dos processos polticos de carter neocolonial. Nesse contexto,
a universidade vive em um confronto complexo, numa dupla dimenso; aumentam as
exigncias da sociedade, ao mesmo tempo em que o Estado limita os recursos direcionados
para a universidade.
A instituio universitria, edificada e associada ao mundo ocidental no aspecto
funcional de organizao, impermevel, rgida e avessa s mudanas. As crises resultantes
dos processos de transformao social podem tambm ser entendidas pelos contextos dos
processos de desestruturao econmica e poltica. Na perspectiva de Romo, um pouco na
linha do marxismo, as crises resultam do modo de produo econmica, de carter capitalista,
e da ideologia que o sustenta. Neste sentido, o pesquisador afirma:
O que est em crise o modo de produo especfico, uma formao social histrica
e uma teoria singular que lhes d sustentao ideolgica, No a cincia que est
em crise, mas um tipo de cincia, formulada pelos intelectuais orgnicos de uma
formao social que entrou em uma fase crtica, ou de transio para outro tipo de
sociedade. (ROMO,2013, p. 92).
No o mundo que se encontra em crise, conforme professam as sociedades
hegemnicas, que do continuidade ordem colonizadora. A crise existe no interior de uma
sociedade mundial em transio, e a universidade o reflexo de um processo em que,
tendencialmente, reproduz a sociedade dominante, suas hierarquias, seu modelo de cincia, de
verdade e de conhecimento. Ao analisarmos os ltimos decnios do sculo XX, observamos
que a expanso da mundializao do capital e a queda do socialismo desestabilizaram
algumas instituies de formao social.
O projeto das universidades populares
A UNILA segue o projeto poltico-pedaggico de ampliao do acesso das classes
populares educao superior implantada nos governo Lus Incio Lula da Silva. Tal
ampliao vem proporcionando o ingresso ao ensino superior das camadas sociais
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desfavorecidas historicamente (negros, indgenas e classe trabalhadora mais pobre). Conforme
referem Dirceu Beninc e Eduardo Santos (2013, p. 74),
educao popular de nvel superior cabe promover prticas de libertao integral
das pessoas e dos grupos sociais. Para tanto, ser essencial valorizar, aprimorar e
divulgar a agroecologia, a agricultura familiar, a economia solidria, os
empreendimentos cooperativos, enfim, todos os saberes e os fazeres populares
disponveis. A universidade possui um papel relevante na construo de um projeto
nacional de desenvolvimento alternativo ao modelo neoliberal. Assim,
imprescindvel que a instituio universitria estabelea relaes slidas com a
sociedade, especialmente com os movimentos e vice-versa.
Neste sentido, a UNILA vem seguindo um modelo de educao, que em termos de
acesso, pode ser considerada popular, buscando promover a integrao e a valorizao dos
conhecimentos cientficos e populares para o desenvolvimento regional e nacional por meio
da democratizao cognitiva que pretende ser alternativa aos modelos sistmicos de educao
superior impostos pela hegemonia neoliberal.
No mbito dos modelos de universidades populares surge, em 2003, a proposta das
universidades populares dos movimentos sociais (UPMS). Este modelo foi proposto no
Frum Social Mundial (FSM) , em um encontro de intercmbio dos movimentos sociais. A
UPMS nasce da emergncia de articular conhecimentos diversos, para que sejam fortalecidos
os modos de resistncia contra a hegemonia neoliberal.
As UPMS possuem um formato institucional diferente das universidades tradicionais.
A principal diferena que as UPMS formam estudantes dos pases considerados
emergentes ou em desenvolvimento, e surgem como alternativa ao modelo neoliberal da
educao mercantilista. De acordo com Romo, as universidades populares dos movimentos
sociais,
Situam-se, ainda tentativamente, no campo da inovao institucional e curricular, no
universo da diversidade e da valorizao do pensamento e dos interesses das
maiorias, da construo de uma sociedade baseada na justia social e na equidade. J
emergindo, constroem, processualmente e por meio da socializao do processo
decisrio, formatos institucionais adequados a polticas alternativas de
planetarizao contra-hegemnicas ao processo de globalizao. (2013, p. 102).
As universidades populares visam o conhecimento emergentes dos movimentos e
organizaes sociais, na tentativa de se estabelecer uma ao conjunta de desenvolvimento,
expandindo o conhecimento para alm de seus muros. Estas universidades tm por finalidade
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resgatar as epistemologias populares e promover a ecologia dos saberes lutando por uma
justia cognitiva, promovendo a diversidade e pluralidade de saberes, para alm dos padres
capitalistas, na tentativa de combater o epistemicdio, designando a supresso ou morte
epistemolgica dos conhecimentos populares. (SANTOS, 2010).
O conhecimento cientfico sempre foi privilgio de estratos sociais elitizados, de
representantes do colonialismo que sempre se ajustaram aos princpios e fundamentos da
cincia moderna. As UPMS so uma nova proposta que se situa numa dimenso contra
hegemnica, tendo em vista a democratizao do conhecimento, e a construo de uma
alternativa ao princpio de unidade na cincia e na cultura defendido pela modernidade. O
princpio de unidade do saber uma conceituao da epistemologia eurocntrica moderna
uma antiga herana que ainda se faz presente nas universidades consideradas tradicionais que
resistem ao pensamento alternativo, diversidade, heterogeneidade.
As UPMS, propostas por Boaventura de Sousa Santos, tm por finalidade contribuir
para a formao de um pensamento contra hegemnico. Esse novo formato de universidade,
promotor de uma pluralidade de saberes, situa-se na contramo das propostas da cincia
moderna, resgatando os saberes que foram silenciados e oprimidos ao longo da histria. A
constituio de redes de saberes que interagem e dialogam entre si ope-se, por um lado,
compartimentao e especializao, caractersticas da cincia moderna e, por outro, visam a
promoo d
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