editorial
REVISTA DO SERVIDOR DA UNEB
Universidade do Estado da Bahia
Reitor Lourisvaldo Valentim da Silva
Vice-Reitora Adriana ds Santos Marmori Lima
Pró-Reitor de Gestão e Desenvolvimeno de Pessoas
(PGDP) Marcelo Duarte Dantas de Ávila
Realização Equipe PGDP
Projeto Gráfico e Editoração Pedro Santana
Revisão Rita Brito
[email protected] as informações e opiniões
são de responsabilidade dos respectivos autores.
A segunda edição da Revista do Servidor da UNEB reflete a consolidação de um projeto de reconhecimento e divulgação das experiências que são desenvolvidas em nossa
Universidade, que representam a riqueza da nossa história e diversidade territorial. Assim, a revista cumpre o papel de promover a interlocução entre os atores que vivenciam o cotidiano da nossa Universidade.A temática central dessa edição versa sobre o Parque Estadual de Canudos e o Memorial Antônio Conselheiro, destacando o importante papel que a UNEB desempenha junto à comunidade de Canudos e à preservação do patrimônio histórico e cultural da região, através da sua parceria com o projeto. Além dessa matéria e da entrevista com o professor Luiz Paulo Neiva, coordenador do Projeto Canudos, o leitor vai encontrar nas próximas páginas, crônicas, resenhas, informativos e textos de autoria dos servidores da UNEB.A Revista do Servidor também cumpre o papel de noticiar à comunidade universitária, algumas ações e projetos que vêm sendo desenvolvidos pela Pró-Reitoria de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, no sentido de promover formação e qualificação do nosso quadro de pessoal, oferecendo diversos cursos, tais como o de Especialização em Gestão Governamental, além da continuidade da política de incentivos à criação de ideias e práticas que venham a promover e qualificar o trabalho da e na Universidade, dessa maneira o servidor é convidado a participar do Prêmio “Inovar – Práticas Criativas”.Aguardamos o envio de contribuições para as próximas edições da nossa Revista, assim, fortaleceremos esse rico meio de comunicação dos nossos servidores.
Marcelo Duarte Dantas de Ávila
2 Revista do Servidor da UNEB
Prezados,Parabenizo a todos os colegas que
participaram da primeira edição da Re-vista do Servidor da UNEB, li a revista e gostei muito da crônica da colega Eliza-beth Azevedo, inclusive já me encontrei em situações muito parecidas com a que ela destacou. (risos)
Fiquei muito contente também com a matéria sobre meio ambiente e sustenta-bilidade, destacando a iniciativa do cam-
Espaço do Servidor
A Revista do Servidor, da Pró-Rei-toria de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas (PGDP), traz neste número, produções que traduzem a dinami-cidade da vida acadêmica da UNEB. Neste número, fomos beneficiados com artigos e crônicas de servido-res que retratam a Universidade e a fazem acontecer e se consolidar nos seus 29 departamentos.
Em cada página escrita nesta Re-vista, o ideal do pertencimento se faz presente. E isso é muito próprio entre os que trabalham para ver a UNEB projetada e respeitada no âm-bito da educação superior. Falamos do pertencimento de servidores que se colocam ao dispor da causa uni-versitária em qualquer espaço desse território baiano; falamos da dedi-
cação, da soma de esforços, da pre-sença diuturna de todos pelo bem da instituição e das comunidades terri-toriais. É dessa forma que nós servi-dores atuamos e fazemos com que a UNEB chegue onde a população ca-rece e espera.
A publicação de Revista e outros materiais, a promoção de cursos e a permanente e necessária orienta-ção, no que diz respeito aos procedi-mentos organizacionais, vem sendo realizados pela PGDP, sempre com a finalidade de manter a qualidade dos serviços e de reconhecer a im-portância do trabalho desempenha-do por cada um dos servidores da Universidade. O empenho da PGDP na qualificação de pessoas, que inte-ragem e produzem bons resultados
para a academia, tem ampliado os níveis de excelência da UNEB. Sem dúvida, tem-se investido muito na formação de pessoas e essa Pró-Reitoria tem apresentado resul-tados positivos; tem apresentado indicadores de uma gestão bem sucedida.
O lançamento do 2o número da Revista do Servidor vem, opor-tunamente, compor a pauta de comemorações dos 30 Anos da UNEB e ratificar que somos to-dos agentes de mudança e de transformação, porque falamos a linguagem de uma educação de qualidade, promovida por re-cursos humanos aperfeiçoados e comprometidos com a excelência da nossa Universidade.
pus de Guanambi. Precisamos de cons-ciência ambiental e sustentável para preservar a espécie humana.
Senti falta de um índice, mas não sei se essa é uma tendência das edições modernas.
Atenciosamente,Júlia Cardoso
Editora de Video/WebTV
À Revista do Servidor da UNEB. Adorei os temas abordados na primei-
ra edição, principalmente a das ativida-des de teatro no Campus X. Gostaria de sugerir uma seção de indicados, contan-do com filmes, livros, discos e eventos culturais para que possamos entrar em contato e acompanhar. Parabéns pela iniciativa e até o número 02 da Revista.
Sheila Guimarães de Souza
ERRATAO Artista Plástico e Professor Titular da UNEB, Manoelito Damasceno é o autor da obra que ilustra a contracapa da
edição anterior da Revista do Servidor da UNEB. Desculpamo-nos por qualquer mal-estar ocasionado, ao tempo em que o parabenizamos pela beleza do painel que humaniza o Foyer do Teatro da UNEB (Campus I/Salvador).
Revista do Servidor da UNEB 3
Sábado, final de uma manhã ensolarada
de 35 graus centígrados na cidade de
Salvador, nossa equipe chegou ao local
onde ocorriam as atividades acadêmi-
cas de mais uma etapa do Curso de Pós-Gra-
duação em Gestão Governamental. Este curso é
promovido pela Universidade do Estado da Bahia
(UNEB), para os seus servidores técnicos admi-
nistrativos, integrantes do quadro de pessoal
permanente.
O curso foi uma iniciativa da Pró-Reitoria de
Gestão e Desenvolvimento de Pessoas – PGDP,
imediatamente abraçada com entusiasmo pelo
Departamento de Ciências Humanas do Cam-
pus I/Salvador, com a colaboração do Programa
Gestão de Organizações (PGO). Em parceria com
o Departamento, a Gerência de Desenvolvimento
de Pessoas (GDP), participa da coordenação do
curso que em conjunto com uma equipe de pro-
fessores de altíssima competência, torna real o
que até então parecia mais um daqueles sonhos
eternos: ofertar aos servidores técnicos e ad-
ministrativos da Universidade uma qualificação
ao nível de Pós-Graduação. O curso irá munir
os servidores de ferramentas especializadas,
permitindo aos mesmos atuar com agilidade e
conhecimento nas engrenagens, cada vez mais
complexas, da administração pública.
Através de edital específico, a Pós-Graduação
em Gestão Governamental foi oferecida a to-
dos os servidores dos 24 campi que compõem
a UNEB e, através de seleção, foi formado o pri-
meiro grupo composto por 100 servidores dis-
tribuídos em duas turmas. O curso tem carga
horária de 465 horas, divididas em 18 meses e
é uma qualificação sem precedentes nos servi-
ços prestados pela Universidade do Estado da
Bahia. Este aprendizado certamente promoverá
uma maior interação e agilidade nas ações dos
Departamentos e nas parcerias entre a Univer-
recursos humanos | aperfeiçoamento
A capacitação e o aperfeiçoamento do corpo funcional da instituição é um dos pontos centrais da política de Gestão de Pessoas da UNEB.
Foto: Divulgação
4 Revista do Servidor da UNEB
sidade e as administrações municipais onde es-
tão localizados os Campi no interior do Estado.
Municiados destas informações a equipe da
Revista do Servidor da UNEB, compareceu ao
local dos estudos para colher as impressões e
a palavra de quem vem tornando esta ação rea-
lidade e, principalmente, daqueles que estão se
pós-graduando a partir desta iniciativa da Uni-
versidade. Esta, além de realizar o curso, viabi-
liza a participação de servidores de Salvador e
especialmente dos Campi do interior do Estado.
Ao chegarmos aos auditórios o que encon-
tramos foi um ambiente tão aquecido quanto o
que deixamos do lado de fora no calor atípico do
outono soteropolitano, porém este aquecimento
derivava da profusão de debates, de propostas
e sugestões levantadas. O clima era também de
agradecimento à equipe de coordenação pelas
ações desenvolvidas em prol da execução do
curso, principalmente pela escolha dos profes-
sores. O comprometimento dos envolvidos se
materializava em novas propostas de ações que
eram registradas pelo grupo gestor do curso,
para aprimoramento nas próximas edições, e
até para serem inseridas ainda para esta turma,
ampliando e aprimorando as
ações já ofertadas.
O grupo gestor do curso de
Pós-Graduação demonstrou toda
a sua atenção e presteza no
acompanhamento do curso e das
expectativas por ele geradas, já
anunciando, através da Gerente
de Desenvolvimento de Pessoas
(GDP), que integra a equipe de
coordenação do curso, Mariste-
la Campos de Oliveira, a amplia-
ção do leque de conhecimentos,
agregando cursos paralelos de O curso estimula a concentração, motivando o interesse dos servidores participantes.
A Vice-Reitora, Adriana Marmori, presente a mais uma atividade.
Também prestigiando o curso a Vice-Reitora, professora Adriana dos Santos Marmori Lima,
após enfatizar uma série de ações que, inclusive, vêm despertando o interesse de Universidades do Brasil
como a realização do Encontro dos Técnicos Adminis-trativos da UNEB (ENTEAD), se dirige de forma mais específica ao curso de Pós-Graduação enfatizando
a importância da aproximação do setor gestor (Central e Departamental) com o setor do servidor para que a partir da visão de quem faz o dia-a-dia
da Universidade, se apresentem as soluções para os problemas e as sugestões
para o futuro da Instituição.
Para o Pró-Reitor de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas – PGDP, professor Marcelo Duarte Dantas de Ávila – o im-portante é que se estabeleceu um novo foco sobre o servidor Técnico Administrativo da Universidade, estabeleceu-se a política de valorização em sua formação e atualização técni-ca profissional. Aperfeiçoar e atualizar o servidor é um passo importante no trabalho que se vem estudando no plano de política de cargos e salários.E ainda finaliza com um presente para coroar uma etapa vi-toriosa na política de afirmação profissional do servidor: os trabalhos de conclusão do curso serão destinadas á publi-cação científica.
Fotos: Divulgação
Revista do Servidor da UNEB 5
extensão. Voltados para as áreas de Redação
Oficial, Novo Acordo Ortográfico, Metodologia do
Trabalho Científico e Inglês Instrumental, estes
cursos ampliarão em muito as possibilidades
destes servidores dotarem os seus respectivos
lócus de trabalho de uma qualificação sem pre-
cedentes nesta Autarquia.
Após a vivência da equipe da Revista do Servi-
dor da UNEB, com a primeira turma do Curso de
Pós-Graduação em Gestão Governamental, só
nos resta, no calor da emoção de uma atividade
de sucesso, corroborar com as palavras da Ge-
rente de Desenvolvimento de Pessoas, Maristela
Oliveira, ao falar da importância de todas essas
ações: “ao se tornar instrutor, multiplicador do
conhecimento e também gestor, o servidor exer-
cita e fortalece a condição de multicampia, pas-
sando a ser também um facilitador para o trân-
sito das experiências e conhecimentos entre os
demais servidores, socializando as experiências
até então específicas”. Fique atento, portanto,
para as novas turmas que se formarão.
A servidora do Campus XIII/Itaberaba, Lene
São José, destaca que entre outros fatores o
curso motiva o servidor e o servidor motivado,
diagnostica os pontos a evoluir.
EVENTOS A SEREM REALIZADOS EM 2013
CURSOS:
Gestão e Melhoria de Processos e Procedimentos de Protocolo / Básico de Fotografia / Básico de Informática / Novo Acordo Ortográfico e Atualização em Língua Portuguesa / Redação Oficial e Textos Técnicos Profissionais / Produção de Textos / Contratos e Fiscalização / Pregão Eletrônico e Presencial / Deveres e Direitos do Servidor Público / Gestão de Materiais (Compras, Almoxarifado e Estoque) / Técnicas de Prevenção e Controle de Estresse / Pintura para Iniciantes / Contabilidade Aplicada ao Setor Público / Formação para Secretárias / Formação Gerencial / Formação Básica para Composição da Rede de Colaboradores da Capacitação.
OFICINAS:
Qualidade de Vida X Relações de Trabalho / Formação.
Maristela Campos de OliveiraGerente
Marlene Santos Costa, Campus V/Santo Antô-
nio de Jesus, na Universidade há 22 anos, reco-
nhece a possibilidade de poder estar se aprimo-
rando profissionalmente e afirma ser este curso
uma grande conquista da categoria.
Para o Analista Universitário, Reginaldo Araú-
jo, do Campus XV/Valença, estes cursos aprimo-
ram o servidor para que se torne coordenador
de ações que intensifiquem a socialização da
Universidade com a comunidade.
Segundo Flávio Andrade, do Campus I/Salvador,
a prática tem sido acima do esperado, a turma
tem interagido satisfatoriamente, o que resulta
na possibilidade de boas propostas de ação.
O clima descontraído é reflexo da satisfação dos servidores.
6 Revista do Servidor da UNEB
serviço | bibliotecapor: Carmozina Lopes, Luciana Pinheiro e Rozilda Reis
Para o fortalecimento das ações de ensino,
pesquisa e extensão desenvolvidas em seus De-
partamentos, a Uneb dispõe de um Sistema de
Bibliotecas (SISB), formado pela biblioteca Prof.
Edivaldo Machado Boaventura, no campus I e 23
(vinte e três) uni-
dades setoriais,
localizadas nos
departamentos
dos demais cam-
pi. O SISB oferece
suporte às ativi-
dades de ensino,
pesquisa e exten-
são de docentes,
servidores, pes-
quisadores e alu-
nos de graduação e pós-graduação da UNEB.
As bibliotecas que compõem o SISB têm como
objetivo: reunir, organizar, armazenar, conser-
var, disseminar, divulgar e manter atualizados os
acervos bibliográficos e multimídia.
O acervo das 24 bibliotecas totaliza 376.535
títulos e 426.328 exemplares, constituindo-se
mediante a compra, doação e/ou permuta de
livros, publicações periódicas e multimeios nos
seus diversos formatos.
A aquisição é realizada pelos departamentos,
com base nas ementas dos cursos e indicações
dos profissionais das diversas áreas do conhe-
cimento.
Nos dois últimos anos, o SISB teve uma ex-
pressiva evolução na aquisição e expansão do
acervo, o qual é planejado para atender às de-
mandas da comunidade acadêmica. Além disso,
foram criados o SISB Virtual e a fanpage oficial
do SISB no facebook, visando criar possibilida-
des de interação com a comunidade acadêmica
e de inclusão
digital. O SISB
Virtual é uma
ferramenta de
pesquisa com-
plementar, que
visa facilitar o
acesso às di-
versas bases
de dados, de
bibliotecas vir-
tuais, utiliza-
das no mundo inteiro.
Atualmente, todas as 24 (vinte e quatro) bi-
bliotecas, integradas ao SISB, são informatiza-
das. Na Biblioteca Prof. Edvaldo M. Boaventura,
Campus I, são oferecidos, inclusive, notebooks
para empréstimo local aos seus usuários, es-
tando, esta ação, em fase de expansão às de-
mais bibliotecas do Sistema.
Para Carmozina Lopes, coordenadora do SISB,
“estas ações representam importantes contri-
buições para o fortalecimento dos programas
especiais da Universidade, dos programas de
pós-graduação, além de iniciar um processo
de preparação das bibliotecas que compõem
o SISB, para o bom uso das novas tecnologias,
aliadas à educação”.
Fonte de dados: Sistema Pergamum e relatório quadrimestral SISB - Jan a abril/2013.
Conheça o Sistema de Bibliotecas da Uneb – SISB/UNEB
Revista do Servidor da UNEB 7
De domingo a domingo
esteja chovendo ou enso-
larado, não importava, lá
estava ela impávida sobre
a Pedra do Peixe ao no-
roeste-próximo do Farol
da Barra, poucos a viam.
Todos os dias centenas
e centenas de pessoas
passavam passeando, correndo, de automóvel,
bicicleta, skate, de mãos dadas, abraçados, ab-
sortos, loucos, enfim de tudo um pouco, mas
poucos ou quase nenhum a enxergava, parecia
coisa resguardada aos poetas, aos estetas ou
aos aluados.
Apesar de tudo isso, estava ela, sempre de
uma elegância ímpar com seus vestidos de le-
víssimos tecidos floridos e bordados à mão,
tamanha era a beleza e delicadeza que só po-
deriam ter sido incrustados naquele tecido por
mãos de fadas, não qualquer fada, mas do tipo
das que criaram o vestido da Gata Borralheira.
Os pés descalços confundiam-se com o brilho
do sal nas pequenas poças d’água que forma-
vam oásis para pequeninos peixes na escura e
inabalável rocha negro-chumbo.
Por solfejar intermitentemente uma linda
melodia, aqueles que não a viam, mas que a
ouviam, costumavam chamar aquele local de
“morada das sereias”. Os que viviam do mar
temiam; nem as ondas violentas das ressacas
de março ousavam tocar-lhe, apenas a fres-
ca brisa nordeste lhe acariciava e fazia flutuar
seus imensos fios de cabelos azuis. Os conta-
dores de histórias desta terra, desde tempos de
Monan e Maire, portanto anterior à chegada de
Cristo ou Oxossi por estas terras, narravam que
as pontas destes cabelos apagavam as pegadas
das virgens nativas nas areias de uma das ilhas
mágicas, que se petrificou, saindo do hiato en-
tre a Terra sutil e a Terra sólida com a chegada
de Martin Afonso de Souza que a denominou de
Ilha de Tinharé.
Não se tratava de uma jovem, os sulcos em
sua face demonstravam que a ampulheta ha-
via virado por várias vezes. Seus olhos negros
confundiam-se com as Marias-Pedras, rápidas
e abundantes nas poças que rodeavam aquele
coral, conseguiram permanecer abundantes por
terem pouca carne e muitas espinhas, o destino
lhes foi benevolente. Enquanto o sol brilhava ati-
nha-se à terra, lia com muita atenção a fisiono-
mia de todos que passavam. Nada dizia. À noite
voltava-se para o horizonte marítimo e postava-
-se como em oração. Nada dizia.
crônica | roger ribeiro“jamais se apressava em emitir parecer, o tempo lhe era grande aliado.”
Tu separarás a terra do fogo e o sutil do espesso*
8 Revista do Servidor da UNEB
Apenas quando os poucos que a enxergavam
chegavam e mansamente sentavam ao seu lado
parava de solfejar e atinha-se de corpo e alma
ao que lhe era narrado. Jamais se apressava em
emitir parecer, o tempo lhe era grande aliado,
sabia ouvir os sinais da natureza, não bastavam
as palavras, era necessário ouvir a brisa rever-
berar no som das palavras, o sol estalar na pele
do narrador. Havia muitos sinais que iam além
dos limites impostos pelos seus bloqueios mais
sutis. Era exatamente ali que podiam estar os
caminhos possíveis.
Por vezes sentia que o vento perdia a rota,
sentia pelos fios dos cabelos que saiam da reta e
rodopiavam perdendo a cor azul-água, corando-
-se de verde-esmeralda espelhando que a emo-
ção daquele corpo estava confusa. Os pássaros
marinhos não ousavam se aproximar muito
menos piar nestes momentos, de longe obser-
vavam as mudanças melódicas, aliás, do Morro
Ypiranga ouvia-se:
“Quando o riso se perde da face
E a tristeza invade
Entre o céu e o mar (...) / as gaivotas (...)”**
Em um destes momentos, quando o seu
acompanhante iria começar a narrativa, levan-
tou a mão pedindo-lhe que nada dissesse. Co-
locou levemente os dedos sobre seus lábios e
fechou os olhos para poder ouvir o vento e o sol
naquele corpo, os odores que surgiam naquele
momento, a reação dos peixes e das aves. Foi
neste momento que me viu voando entre o sol
e seus olhos, sombreando-os, sorriu largo para
meu voar! Voltou-se para o seu acompanhante e
baixinho lhe falou:
– Amedrontamo-nos com o ser só, por temer-
mos ter de nos aceitar.
Seus cabelos retornaram à rota, agora em um
azul-marinho vivo. Seus longos cabelos nas pe-
gadas nativas – o tempo.* Hermes / **Vôo Rasante – Lui Muritiba
Revista do Servidor da UNEB 9
Um terreno áspero, um misto de poeira fina e rochas
sedimentadas nos dá a impressão de andar sobre
cascalho, entre touceiras de mandacarus e arbustos
típicos da região do semiárido, que rapidamente nos
faz entender o porquê das roupas de couro típicas do
uso regional. Alguns passos adiante e estava a camisa de algo-
dão aprisionada no emaranhado de galhos secos e rígidos - efeito:
corte no tecido e arranhão na região das costelas. Onde será que
consigo uma jaqueta de couro cru?
Estamos no Sertão baiano, distantes 400 km da capital Salvador,
mas quando chegamos ao Parque Estadual de Canudos, consegui-
mos sentir a vibração de que ali se estabeleceu uma outra capital,
um arraial nascido lentamente de uma realidade que parecia mi-
lenar, contínua, uma reação inconsciente de se estar construindo
uma comunidade fruto de outra comunidade. A cria do leviatã, que
em sentido oposto à desmaterialização imposta à região nos finais
do século XIX, e buscando auxílio aos gregos, lemos como o nasci-
mento do filho que surge para negar o pai – o Titã.
(...)Havia no arraial
Uma igrejinha indigenteE ele como beato
Pregador e penitenteTomou a pobre igrejinhaPor seu abrigo dolente
Daí veio o apelidoDe Antônio Conselheiro
Logo espalhou-se a notíciaNaquele sertão inteiroTodo mundo tinha féNo beato milagreiro
(...)
ANTÔNIO CONSELHEIRO E A GUERRA DE CANUDOS
Apolônio Alves dos Santos
Disponível em http://www.jangadabrasil.com.br.
10 Revista do Servidor da UNEB
versidade do
Estado da
Bahia a área
de 1.321 hec-
tares que,
junto com o
Memorial An-
tônio Conse-
lheiro (MAC), demarcam um dos maiores sítios
para registro e estudo das Ciências Sociais do
Brasil. Este complexo histórico-arqueológico,
formado pelo PEC e pelo MAC, atrai hoje, pesqui-
sadores e visitantes não apenas do Brasil, onde
sua penetração e preservação deram-se muito
pela cultura da literatura de Cordel, mas, tam-
bém do mundo inteiro, seduzidos pela leitura do
diário histórico de “Os Sertões” e da literatura
sociológica da obra “Guerra do Fim do Mundo”.
Imagens da sociedade e da Guerra de Canu-
dos (1896-1897) em grandes painéis de vidro
que se integram ao ambiente, criam uma es-
trutura bela e moderna que instiga a curiosida-
de para a visita ao local. Ali, os pesquisadores
podem desvendar o imenso sítio arqueológico,
apoiados pelo bem estruturado laboratório
de Arqueologia, situado no Memorial Antônio
Conselheiro, na atual cidade de Canudos. Um
complexo cultural contendo Museu Arqueológi-
Por mais que leia e re-
leia a obra “Os Sertões”
de Euclides da Cunha, ou
a sua releitura na “Guer-
ra do Fim do Mundo” do
escritor peruano Mario
Vargas Llosa, ouvir seus
próprios passos naque-
la terra e ainda, de for-
ma impressionante, ouvir
o som do tão longínquo
mar quando o vento per-
passa pelas folhagens dos
arbustos que não con-
seguem esconder o horizonte, que parece bem
mais longe do que em qualquer outro lugar, é
se inserir em uma história trágica, tatuada em
um ambiente hostil e quente. O único caminho
possível parece ser a estrada, como se lê na pla-
ca indicativa, sagrada, por onde Antônio Vicente
Mendes Maciel, o Conselheiro, conduzia a “pro-
cissão” até as margens do rio Vasa-Barris.
O ambiente
O Parque Estadual de Canudos (PEC) foi cria-
do em 1986, através do Decreto das Terras
Devolutas nº 33.193, atrelado ao Decreto
da Secretaria de Educação e Cultu-
ra nº 33.333 de 30
de junho de 1986
e colocou sob a
responsa-
b i l i d a -
de da
Uni-
Painéis instalados demarcam os sítios arqueológicos e preservam a história e cultura do lugar.
Fotos: Divulgação
Revista do Servidor da UNEB 11
co, biblioteca, sala de vídeo, anfiteatro e área
de estudo da botânica local, promove um en-
tendimento do ecossistema que capacita e pro-
porciona gerir ações de intervenção adminis-
trativa nas soluções de questões históricas da
região, muitas destas, matrizes que lastreiam
o fato histórico de Canudos. Este manancial de
pesquisa e conhecimento sobre a história de Pátio do Memorial: painéis descrevem a saga de Canudos.
Dona Joana Ciriano, descendente dos habitantes de Canudos.
Foto: Evandro Teixeira
Nascida em 1893 no vale do rio Vasa-Barris, o arraial de Belo Monte, se não primava pela fertilidade, significava para a cres-
cente população de ex-escravos, trabalhado-res rurais, vaqueiros, pequenos comerciantes, velhos, mulheres e crianças, que fugiam das agruras naturais da aridez sertaneja, somada à violência do domínio político-econômico, uma possibilidade de subsistência, minimamente dig-na, fortalecida pelas poderosas pregações evan-gélicas de Antônio Vicente Men-des Maciel, O Conselheiro.
De tal forma o perene cresci-mento populacional do arraial baseado na produção rural semi comunitária e no comércio de gado e couro, passou a ser tratada pelos poderes constitu-ídos como algo que punha em risco a tranqüilidade do Sertão Nordestino, uma das bases de sustentação de uma República
eminentemente rural e escorada no controle e manipulação eleitoral.
Em uma coligação entre Estado e Igreja Cató-lica, em novembro de 1896, no governo estadual de Luís Viana, foi ordenada a primeira investida militar contra o fenômeno social do arraial de Belo Monte, daí em diante foram mais três expe-dições cada vez mais equipadas com “máquinas” de guerra e um grande contingente de reforços de militares estaduais e federais, até que em 05
de outubro de 1897, caiu a última base de resistência dos sertanejos agluti-nados pela palavra do Conselheiro.
Fonte: História da Bahia; Dias Tavares, Luís Henrique
Canudos tem sua coordenação adminstrativa
a cargo de Hamilton Paixão Santana e Adriana
Fontes, contando com o simpático e eficiente
acompanhamento e apresentação de Izailton
Almeida.
Foto: Divulgação
Foto: Antônio Olavo
12 Revista do Servidor da UNEB
entrevista | luiz paulo neivaCoordenador do Projeto Canudos (UNEB-FAPESB)
Revista do Servidor (RS) – Professor, fale sobre sua relação com Canudos.Luiz Paulo Neiva (LPN) – Fui a Canu-dos em junho de 1993, em evento que comemorava o centenário de fundação de Belo Monte (1893-1993), e Canudos entrava definitivamente em minha vida. Em 1995, assumi a Direção do CEEC (Centro de Estudos Euclides da Cunha) com propósito de preservar as referên-cias críticas da nossa memória. Com minha equipe, me empenhei na inicia-tiva de contribuir para preservar, com sistematicidade técnica e determina-ção política, a memória e as marcas da Guerra de Canudos, pesquisando, estimulando novos estudos, ouvindo os herdeiros da dor e cuidando das ri-quezas materiais e simbólicas daquele tempo, com o firme propósito de enrique-cer o registro histórico agregando-lhe a narrativa dos vencidos. Como resulta-do desta ação, destacamos a implan-tação do Parque Estadual de Canudos (PEC) – com demarcação dos sítios histórico-arqueológicos; realização de duas grandes etapas da pesquisa ar-queológica; implantação do Memorial Antônio Conselheiro (com museu, au-ditório, jardim temático); masterização de 43 mil documentos anteriormente microfilmados sobre a Guerra, dispo-nibilizados em arquivos digitais; desen-volvimento de um projeto editorial, com diversas publicações, destacando-se a Revista Canudos com cinco edições; inúmeros eventos, notadamente a co-ordenação do Simpósio Internacional 100 Anos de “Os Sertões”. RS – Que ações estão sendo adotadas para promoção do desenvolvimento sustentável e responsável da região?LPN – Acredito que o Projeto Canu-dos – que coordeno com o professor Manoel Abílio Queiroz, responde bem a essa questão. Lançado no início de 2008, ele é uma iniciativa de fomen-to ao desenvolvimento sustentável no semiárido baiano a partir de Canudos. O objetivo central é contribuir para o desenvolvimento da região, vinculando
a investigação de aspectos de diversas dimensões (história, memória, educa-ção contextualizada, bioma caatinga, agricultura de sequeiro e irrigada, etc.) que compõem as realidades do semi-árido à proposição de soluções inova-doras, aptas a reforçar e aperfeiçoar a infraestrutura socioeconômica local e o seu sistema produtivo. Os resultados alcançados até agora validam a impor-tância dessas práticas de planejamento e desenvolvimento, que reconhecem a participação coletiva, voltadas para o desenvolvimento sustentável, com efi-ciência econômica, equidade social e prudência ecológica.RS – Como impulsionar e gerar uma relação harmoniosa entre a pesquisa histórico-arqueológica e o estímulo à visitação turística do Parque?LPN – Um verdadeiro “museu a céu aberto”, demarcado, sinalizado e do-tado de uma infraestrutura adaptada às condições locais, o PEC é propício à realização de pesquisas, incrementa o turismo histórico, possibilita a con-secução de proveitosas atividades pe-dagógicas na área, beneficiando estu-dantes e professores de toda a região, além de atrair a presença de pesqui-sadores, estudiosos e intelectuais do Brasil e do exterior. Em 2012, cerca de 10.000 pessoas o visitaram e recen-temente foi inaugurada a exposição permanente de instalação em painéis de vidro com imagens que retratam o cenário da Guerra.RS – Qual a estratégia de inserção da comunidade local às ações do Parque e do Memorial?LPN – A principal é a participação efe-tiva da comunidade. Constituiu-se um Fórum de Desenvolvimento Local Sus-tentável, inicialmente com a participa-ção de 43 entidades da sociedade civil e da arena pública. O Fórum elaborou um plano que contempla os problemas e as potencialidades do município e, a partir daí, foram definidas as opções estra-tégicas para o desenvolvimento sus-tentável. Periodicamente o Fórum se
reúne para avaliar a Agenda de Com-promissos e celebrar conquistas, entre elas: assistência técnica à Unidade de Produção de mel com produção de 100 toneladas anuais; implantação de 100 tanques-rede para a produção de peixe em cativeiro (mais 300 serão implan-tados nos próximos meses); instala-ção da sala de teatro e criação da sua Companhia de Teatro; instalação de exposições fotográficas e iconográficas em painéis de vidro no Parque; articu-lações com o BNB para liberação de crédito para os pequenos produtores (mais de 50 projetos); requalificação do Memorial (com exposições permanen-tes); aquisição de livros para a bibliote-ca e instalação de moderno laboratório de arqueologia. O Núcleo de Audiovisu-al se constituirá num centro de produ-ção e criação de documentários, filmes e reportagens em um local tradicional-mente visitado pela mídia nacional, ob-jetivando contribuir para a preservação da memória e história da Guerra, evi-denciar a vida sertaneja e possibilitar a geração de renda. Além disso, estamos elaborando estudos para a implanta-ção da Cidade Cenográfica (ao estilo de Nova Jerusalém, em Pernambuco) com infraestrutura adequada à encenação anual da Saga de Canudos, que deverá criar, estima-se, mais de 1.000 empre-gos diretos e/ou indiretos. Gostaria de ressaltar a grande contribuição que a Senadora Lídice da Mata vem ofere-cendo às ações do projeto, através de emendas parlamentares da sua auto-ria, que totalizam cerca de R$ 1 milhão e que beneficiam a comunidade local. A mais recente contempla a aquisição de uma máquina retroescavadeira e um trator de pneus para os pequenos agricultores.RS – Existem planos para expansão do projeto e assimilação de novas parcerias?LPN – Neste ano, o Projeto Canudos entra numa nova fase que amplia as suas ações para os municípios de Eu-clides da Cunha, Monte Santo, Banzaê, e perspectivas para Uauá.
O Prêmio Inovar é uma iniciativa da Gerên-
cia de Desenvolvimento de Pessoas (GDP)
para identificar, divulgar e premiar anual-
mente, os servidores técnicos-administra-
tivos que se destacam com novos conheci-
mentos e práticas em gestão administrativa,
financeira e universitária, no âmbito dos di-
versos Departamentos e Órgãos Administra-
tivos que compõem a UNEB.
Estimular a geração de novas ideias, que
contribuam na melhoria das atividades exe-
cutadas pela Universidade, aprimorando sua
integração na qualidade dos serviços presta-
dos à comunidade, é o nosso objetivo.
Para se inscrever o servidor deve apresentar,
por escrito, a prática que está sendo feita ou mes-
mo alguma ideia que possa vir a ser feita, para
melhorar o desempenho das atividades relacio-
nadas à operacionalização de processos adminis-
trativos, financeiros ou finalísticos, de forma que
sua aplicação possa repercutir em resultados po-
sitivos, para a Universidade e para os cidadãos.
Os servidores administrativos da UNEB poderão
concorrer com trabalhos desenvolvidos individual-
mente ou em grupo, com temas de sua escolha.
As ideias apresentadas vão formar um banco de
ações inovadoras, que será disponibilizado publi-
camente pela Universidade do Estado da Bahia.
Revista do Servidor da UNEB 13
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14 Revista do Servidor da UNEB
fotografia | neemias oliveira da silva“quando saio com minha câmera, o meu olhar é irresistivelmente atraído para as pessoas e o seu cotidiano.”.
Fotografia é uma técnica
de gravação por meios
mecânicos e químicos ou
digitais, de uma imagem
numa camada de material
sensível à exposição
luminosa, designada como
o seu suporte**História da Fotografia.
Disponível em http://www.cantao.net
“Adquiri uma câmera Nikkormat totalmente
mecânica e passei a fotografar como hobby.
Alguns anos depois, em conversa com um
amigo, também apaixonado por fotografia,
surgiu a ideia de agruparmos outros jaco-
binenses para fundarmos um clube de foto-
Sim, esta seria a definição do que seja uma fotografia, porém, sem o que posso chamar de ÂNIMA!
Ou seja, a vida, o que transforma uma fotografia em algo vivo. O que faz você olhar uma foto e sorrir, ou
largar uma lágrima de emoção, refletir, amar, odiar, aprender! Enfim o que faz uma fotografia se tatuar
em uma pessoa? – O olho, por detrás de tudo o que foi dito no primeiro parágrafo.
É exatamente este olhar banhado de humanismo que Neemias Oliveira da Silva, irá de agora em dian-
te nos apresentar: Leia as imagens, aprecie as suas reflexões.
“Em 1990, quando eu cursava Licenciatura Curta em Estudos Sociais na FFPJ (Faculdade de Formação de Professores de Jacobina), hoje DCH-IV da UNEB, o meu professor de História do Brasil me convidou para trabalhar em seu Laboratório Fotográfico. Inicialmente, atendia os clientes no balcão. Com o passar do tempo, a curiosidade me levou à aventura no processo “mágico” da revelação. Passei a trabalhar na câmara escura, entre filmes, químicos e ampliadores.”
grafia. Nasceu o FOTOCLUBE PAYAYÁ. Rea-
lizávamos exposições e varais fotográficos
no centro da cidade. Foi nesse contexto que
a fotografia se tornou, para mim, uma forma
de comunicação e expressão de sentimentos
e visão de mundo.”
“Minha formação se deu nas ciências humanas. Inevitavel-
mente, a minha formação não só influenciou, mas determi-
nou o meu olhar fotográfico. Quando saio com minha câme-
ra, o meu olhar é irresistivelmente atraído para as pessoas
e o seu cotidiano.”
Meu campo de visão tornou-se retangular. Eu enquadrava tudo
que olhava.
Fotografia analógica ou digital? Algo permanece o mesmo em ambas as tecnologias: a forma pela qual se olha através do equipamento. Independentemente da tec-nologia utilizada, o olhar e a sensibilidade do fotógra-fo são elementos indispen-sáveis para a composição da imagem. Sou forçado a confessar que a minha fo-tografia, na maioria das ve-zes, é invasiva. Minhas fo-tografias não são dirigidas. Uso sempre equipamento que me permite fotografar à distância e utilizar a luz natural. É dessa forma que consigo congelar gestos e
expressões espontâneas, sem interferir no registro.Cor ou p&b? Cor quando desejo retratar a realidade, ou enfatizar o colorido de um determina-do objeto. Preto e branco quando o meu objetivo é dar à imagem uma dramaticida-de, uma intensidade e im-pacto maior.InfluênciaDois fotógrafos brasileiros contemporâneos, a fotogra-fia engajada de Sebastião Salgado e Walter Firmo que exploram uma temática so-cial e bem brasileira, regis-trando nosso folclore, nossa cultura e personagens típi-cos, de norte a sul do país.
Neemias Oliveira é Técnico Universitário da Uni-
versidade do Estado da Bahia (UNEB), lotado no
Departamento de Ciências Humanas (Campus
IV/Jacobina). Possui Licenciatura Curta em Es-
tudos Sociais (1992), Licenciatura em História
(2002) e Bacharelado em Direito (2010), todos pela Universidade
do Estado da Bahia. Possui também Especialização em Informá-
tica em Educação pela Universidade Federal de Lavras (2004) e
Especialização em História: Cultura Urbana e Memória pela Uni-
versidade do Estado da Bahia (2006); Cursando Especialização
em Direito Empresarial.
16 Revista do Servidor da UNEB
artigo | marcelo duarte dantas de ávila“a Uneb se estabeleceu enquanto instituição pública de educação superior e atingiu lugar de destaque na formação de profissionais em todo o Estado”.
A Universidade do Estado da Bahia (Uneb) está
comemorando 30 anos de existência e parti-
cipação na vida da população baiana. Ao longo
deste período, a Uneb se estabeleceu enquanto
instituição pública de educação superior e atin-
giu lugar de destaque na formação de profissio-
nais em todo o Estado. Desde a sua criação, a
partir da Lei Delegada nº 66 de 1º de junho de
1983, organizou-se segundo o modelo da multi-
campia, a partir da congregação de faculdades
já existentes localizadas em Salvador, Juazeiro,
Alagoinhas, Jacobina, Caetité e Santo Antônio de
Jesus. Hoje está presente, além da capital, em
23 municípios do interior por meio de seus 29
departamentos, demonstrando sua capilaridade
e abrangência em todo o território baiano.
Atualmente são oferecidos 108 cursos de gra-
duação presenciais nas mais diversas áreas do
conhecimento. Desde a sua origem, a instituição
se consolidou, sobretudo, na formação de pro-
fessores por intermédio
de seus cursos de licen-
ciatura. Até hoje a Uneb
já formou mais de 90 mil profissionais de edu-
cação e, mais recentemente, tem ampliado a
oferta dos bacharelados, implantando diversos
cursos novos, tais como Direito, Administração,
Psicologia, Medicina, Enfermagem, Nutrição,
Fisioterapia e novos cursos nas áreas de Enge-
nharia. Além dos cursos de graduação de oferta
regular presencial, a Uneb ainda oferece outros
cursos na modalidade à distância e cursos espe-
ciais de formação de professores.
Mas não é só na graduação que a Uneb se
destaca. Durante os últimos anos, a instituição
tem se sobressaído na construção e difusão de
conhecimento, o que pode ser verificado no au-
mento significativo da sua produção científica,
fortalecendo os grupos de pesquisa que vêm fa-
vorecendo a consolidação e a criação de cursos
de pós-graduação strictu senso em diver-
sas áreas do conhecimento.
Este cenário de crescimento e desenvol-
vimento exigiu o aumento da infraestrutura
física da instituição, a aquisição de acervo
especializado para as bibliotecas, constru-
ção de laboratórios e ampliação do quadro
de pessoal, a partir da realização de con-
cursos públicos. Ademais, a Universidade
tem investido na qualificação de docentes e
técnicos administrativos. Esse investimen-
to vem se refletindo de forma bastante visí-
vel, principalmente, no quadro docente, que
A Uneb comemora 30 anos
Nos seus primeiros passos, a UNEB estava presente em seis municipios.
Foto: Acervo ASCOM/UNEB
Revista do Servidor da UNEB 17
atualmente já conta com um percentual de 73%
de professores com mestrado e/ou doutorado.
A produção e participação dos estudantes de
graduação e pós-graduação em diversos even-
tos científicos nacionais e internacionais é outro
ponto de destaque, o que reflete o amadureci-
mento acadêmico conquistado ao longo destes
30 anos de existência. Não bastasse seu papel
decisivo na formação de profissionais e na pro-
dução de conhecimento, a Uneb ainda se dife-
rencia pela sua ação social por meio, por exem-
plo, de iniciativas direcionadas aos idosos, como
é o caso da Universidade Aberta à Terceira Idade
(Uati), além de outros inúmeros programas e
projetos direcionados às comunidades onde os
campi estão inseridos.
Para os próximos anos, a Uneb encontra-se
diante de muitos desafios. Talvez o maior e mais
importante deles seja o de ampliar e consolidar
a pós-graduação strictu senso, especialmente
no interior do Estado, fomentando o desenvol-
vimento da pesquisa e da inovação. Para tanto,
a Universidade terá que investir ainda mais na
qualificação docente, bem como na fixação de
profissionais qualificados no interior do estado,
favorecendo o desenvolvimento econômico e so-
cial dos municípios baianos.
Marcelo Duarte Dantas de Ávila mavila@uneb.
É professor e pró-reitor de Gestão e Desenvolvimento
de Pessoas (PGDP) da Uneb.
Revista do Servidor da UNEB 17
Com 24 campi implantados no Estado, a UNEB oferta 108 cursos de graduação e já formou mais de 90 mil profissionais de educação.
Foto: Acervo ASCOM/UNEB
18 Revista do Servidor da UNEB
ponto de vista | sérgio bahia
Desta forma se referia ao instrumento em
seu programa de rádio o grande violo-
nista Dilermando Reis, músico brasileiro
que elevou o violão no Brasil à dignidade que
merece.
Considerado a pequena orquestra pelo tam-
bém violonista espanhol Andrés Segóvia, o vio-
lão até o início do século XX era considerado um
instrumento de desocupados e boêmios, até se
tornar hoje um elo fundamental entre os com-
positores na música brasileira.
Para valorização desse instrumento pode-
remos citar músicos como: João Pernambuco,
Américo Jacomiro, o “Canhoto”, dentre outros
tantos.
O gênio Villa Lobos escreveu doze Estudos e
cinco Prelúdios para violão, sendo executados
nas salas de concerto do mundo inteiro.
Dentro da história da música brasileira ele se
sobressai nos acompanhamentos dos grandes
cantores das décadas de 30 e 40, até vir a se tor-
nar parte fundamental na ascendência de nossa
música, tornando-a internacional com a Bossa
Nova nas mãos do genial João Gilberto.
Como instrumento solista, se destaca nos de-
dos de músicos da nossa história mais recente
como Baden Powell, Raphael Rabelo, Duo As-
sad e do “insPIRADÍSSIMO” Yamandú Costa.
Quem nunca participou das famosas sere-
natas regadas a um bom vinho e ao som des-
se doce instrumento com sua música que nos
eleva e nos transporta a maravilhosas viagens?
Poucos instrumentos são tão presentes no coti-
diano, executados por músicos amadores tanto
quanto por profissionais. Afinal como dizia um
amigo meu: “É o instrumento mais fácil de ser
mal tocado”.
Na música brasileira o violão algumas vezes
é tratado como item essencial da vida como em
Chão de Estrelas de Orestes Barbosa, “... a ven-
tura dessa vida é a cabrocha o luar e o violão”,
ou como item de primeira necessidade na letra
de Chico Buarque em Acorda amor, “não esque-
ça a escova, o sabonete e o violão”.
Para mim é como um corpo feminino com suas
curvas sinuosas, violão e violonista se abraçam,
fazendo com que a música transcenda, vindo de
um universo desconhecido para deleite e como
essencial elemento da vida humana.
Sérgio BahiaSecretário da PGDP e Músico Profissional
Revista do Servidor da UNEB 19
variedades | festival
A década de 1960 foi para grande
parte do mundo um momento de sur-
preendentes rupturas e o Brasil não
fugiu a esta lógica, passou a década
de sessenta do século XX em profunda
agitação política, grandes debates que
apaixonavam os brasileiros a granel.
Porém, anos antes dos Beatles anunciarem o
“fim do sonho”, o do Brasil foi estrangulado pela
ocupação militar. O nosso “pé na estrada” propa-
gado pela Geração Beat, foi estancado e desviado
para uma estrada estática.
Porém como bem diz o poeta emerso deste
caldeirão: “Quando um muro separa, uma ponte
une”*, e o Brasil encontrou a música, os gran-
des festivais da canção para recompor, lavar e
enxaguar suas emoções. Destes apaixonantes
embates de poesias e melodias surgiram inter-
locutores que nos fizeram sonhar.
Foram consagradas interpretações insuperá-
veis como o paradoxal estupor de Toni Tornado
na “BR-3”, ou o surrealismo de Maria Alcina em
“Fio Maravilha”, Chico Evangelista reggueando a
Independência da Bahia, ou ainda Arrigo Barna-
bé e Itamar Assumpção destilando o “sabor de
Veneno”, eram novas tardes de domingo!
Porém, o verdadeiro fascínio eram as torcidas!
Elas que lotavam os teatros, ginásios, auditórios
e afins com suas bandeiras, faixas, cartazes e,
principalmente, suas vozes. A voz da socieda-
de que debatia, em momento de mordaça, suas
preferências rítmicas, melódicas e poéticas nos
ônibus, lanchonetes, feiras, escolas universida-
des. A música como a ponte que liberta.
Era assim, como dizia a plenos pulmões a pe-
quenina Elis: “Hoje tem arrastão”, e entre 1966 e
1969, quando foi interrompido só retornando em
1979, os Grandes Festivais da Canção fizeram o
que o AI-5 de 1968 tentou impedir, ou seja: uniu
o Brasil, fez as pessoas debaterem, se encontra-
rem e se reconhecerem.
É exatamente neste movimento aglutinador
que a UNEB, uma instituição, em certo sentido
como o Brasil, multicampi quer se inserir, já nos
reconhecemos na razão e na ciência, agora que-
remos nos unir pela arte, que ela nos faça dialo-
gar! E para isto as forças estão se aglutinando,
se fortalecendo, hoje somos a Pró-Reitoria de
Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, somada
à Pró-Reitoria de Assistência Estudantil e a Pró-
Reitoria de Extensão em conjunto, para realizar
o Grande Festival de Música da Universidade do
Estado da Bahia.
Como diria nos sessenta o “Rei”: “é isso aí bi-
cho” e os jovens de hoje à velocidade de 25 Me-
gabytes: “demorou!”.
A Grande Canção
* Pesadelo – Paulo César Pinheiro
Gil e Os Mutantes concorreram com “Domingo no Parque” no Festival da Record
Foto: Divulgação
20 Revista do Servidor da UNEB
O que torna esta obra do his-toriador londrino, de vastíssimo currículo, fascinante, é o seu propósito de convite ao diálogo. Não se trata de um livro para ler distraidamente como entreteni-mento, é necessária a disposi-ção de sentar frente a um autor com grande poder argumenta-tivo para se permitir momentos em que será impossível não se seduzir pelo desafio de relativi-zar, concordar, ir além, se en-
cantar, desencantar e ao mes-mo tempo mergulhar a fundo na sociedade que construímos.
Tentar dialogar com uma realidade que transforma bru-talidade em espetáculo é che-garmos próximos à provocação em que o professor Tony Judt inicia a sedução à sua atenção: “Um guia para os perplexos”, aceitar este debate é partir de um dos pilares desta obra: (...) ”Sabemos o preço das coisas, mas não temos idéia do seu valor.” Percorrer as duzentas e doze páginas deste livro é co-
nhecer um bom parceiro para uma reflexão mais densa, que impõe ao seu final a certeza de que estás apenas começando: “Os filósofos, como notoria-mente já observado, até agora apenas interpretaram o mundo de várias maneiras; a questão é mudá-lo”.
Uma obra sobre a nossa so-ciedade, a comunidade que nasce no pós-guerra com toda a sua complexidade e que pode ser lida na dimensão da sua contradição na frase atribuída ao jornalista Samuel Wainer: “Não tenho amigos, tenho inte-resses”.
indicados | discos, livros, filmes...
O MAL RONDA A TERRA – Um tratado sobre as insatisfações do presenteAutor: Tony JudtEditora Objetiva Rio de Janeiro / 2011
Uma narrativa livre, inspirada
em passagens da vida e obra do
jovem Renato Manfredini Jr, an-
tes de se tornar o Renato Russo,
líder do fenômeno musical dos
anos 1980 brasileiro: a Legião
Urbana.
Da mesma forma que a dire-
ção do Antônio Carlos localiza a
narrativa na pré-Legião, entre
muitas leituras possíveis do fil-
me, direcionei o olhar para um
roteiro incidental.
Por detrás da narrativa existe
o embrião das sociedades mo-
dernas que nascem no Brasil
pós década de 1950, uma so-
ciedade múltipla, uma geração
vivenciando as inquietudes da
pós-adolescência, arrastada pelo
tédio e falta de perspectivas de
um país mergulhado em uma
ditadura sem nexo.
Um filme onde o roteiro pas-
seia pela construção de uma
sociedade síntese do próprio
país, uma comunidade diver-
sa em suas nuances culturais
sendo exatamente esta diver-
sidade que permite o surgi-
mento de um poeta visceral
que cria um vigoroso Cordel,
(Faroeste Caboclo), incorpora
um lírico narrador (Eduardo e
Mônica), e crava o olhar sobre
a realidade provinciana-mo-
derna de sua geração (Geração
Coca-Cola).
Um filme que nos diz muito de
quem somos.
SOMOS TÃO JOVENSDireção: Antônio Carlos da FontouraBrasil / 2013