Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 3840
EDITORA DO BRASIL E O LIVRO ADMISSÃO AO GINÁSIO (DÉCADAS DE 1940-1960)1
Cristiani Bereta da Silva2
Introdução
O livro Admissão ao Ginásio, assinado por Aída Costa (Português), Renato
Pasquale/Marcius Brandão (Matemática), Aurélia Marino (História do Brasil) e Renato
Stempniewski (Geografia do Brasil), teve sua primeira edição publicada em 1943 pela Editora
do Brasil S/A e no final da década de 1960 já havia ultrapassado mais de 550 edições.
Destinado aos estudantes que estavam no último ano do Primário e aos docentes que aí
atuavam, esse livro caracteriza-se por ser material de preparação para a realização dos
exames de admissão ao Ginásio. Sua publicação e circulação se deram no contexto da criação
de um novo nicho do mercado editorial brasileiro criado pela obrigatoriedade de exames para
o ingresso no Ginásio. Livros preparatórios com essa finalidade começaram a ser publicados
já na década de 1930 e alcançaram grande sucesso editorial, muitos deles com sucessivas
edições até a extinção oficial dos exames, em 1971. Aulas particulares nas casas dos
professores ou em cursinhos especializados, concomitantemente ao último ano do Primário,
eram uma realidade para aqueles que pretendiam prosseguir com os estudos após o Primário.
Instituídos em 1931 pela Reforma Francisco Campos3 e extintos em 1971 pela Lei
5.6924, os exames de admissão não apenas fizeram parte da vida de crianças, mas também de
1 Este trabalho apresenta resultados preliminares de pesquisa mais abrangente intitulada Exames de admissão ao ginásio e o ensino de história do Brasil (Décadas de 1930-1970) – Segunda Fase, financiada (desde sua primeira fase) pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com concessão de bolsa produtividade em pesquisa para o triênio 2016-2019 (Processo 310995/2015-9). É importante destacar a importante contribuição dos acadêmicos João Manuel Nunes de Souza e Talita Garcia Ferreira, bolsistas de iniciação científica da pesquisa, entre 2015 e 2016, neste texto. Eles participaram não apenas do inventário e da catalogação de documentos referentes à editora e aos autores do livro Admissão ao Ginásio, em acervos das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, mas também das análises iniciais das fontes históricas selecionadas.
2 Doutora em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora Associada no Departamento de História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Campus Florianópolis. E-mail: <[email protected]>.
3 Decreto nº 19.890, 1931, que implantou os exames de admissão e dividiu o Ensino Secundário em dois cursos seriados: Fundamental (com duração de cinco anos) e Complementar, este último exigido para o acesso a alguns cursos superiores (com duração de dois anos). Destaca-se que em 1942 o Ensino Secundário sofreu nova alteração com a Reforma Gustavo Capanema (Decreto-Lei n. 4.244). Ele foi dividido em dois ciclos: um primeiro de quatro anos, chamado de Ginásio, e um segundo de três anos, chamado de Colegial (tinha dois tipos de cursos: Científico e Clássico).
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suas famílias e de seus professores, particularmente aqueles que atuavam no Primário e que
eram incumbidos de prepará-las para que obtivessem sucesso nas provas escritas e orais em
quatro áreas de conhecimento: Português, Matemática, História do Brasil e Geografia do
Brasil. A inscrição para prestar os exames era paga, a idade mínima era de 11 anos e as provas
eram realizadas nas escolas secundárias (públicas ou privadas) em que as crianças
pretendiam estudar. Eram elaboradas, aplicadas e corrigidas pelos professores da própria
escola, seguindo o programa oficial determinado pelas leis vigentes.
No presente esses livros preparatórios fazem parte das memórias daqueles que entre as
décadas de 1930 e 1960 prestaram os exames de admissão e que neles estudaram na escola,
em casa, em cursinhos (SILVA, 2015; 2016). Os mais lembrados são os livros
multidisciplinares, que se dividiam em quatro partes – Português, Matemática, História do
Brasil e Geografia do Brasil – e traziam na capa os nomes dos professores responsáveis por
cada disciplina, quase sempre reconhecidos nacionalmente. O livro Admissão ao Ginásio
pode estar entre os maiores sucessos editoriais relativos a manuais didáticos do Brasil,
considerando-se as décadas de 1940 e 1960. O objetivo desse texto é tratar da história desse
livro considerando especialmente que seu percurso editorial está ligado à obrigatoriedade de
realização dos exames para a admissão ao Ginásio e à expansão do ensino secundário no país.
Entre 1933 e 1953, as matrículas no ensino secundário cresceram 490%, enquanto os
níveis de ensino primário e superior cresceram 90% e 80%, respectivamente, no mesmo
período (ABREU, 2005, p. 46). Crescimento que não esconde o caráter elitista e excludente
das políticas voltadas a esse nível de ensino na época5. Estudos apontam que as políticas
voltadas ao ensino secundário nas décadas de 1930 e 1940 visavam educar os futuros
dirigentes da nação (REZNIK, 1992; NUNES, 2000, DALLABRIDA; CARMINATI, 2007).
Eram políticas que atendiam a uma parcela bastante reduzida da população, ou seja, a classe
média urbana, e reforçavam ainda mais as hierarquias e dualidades do sistema escolar
existente. Importante lembrar que somente o Curso Secundário preparava e dava acesso legal
aos cursos superiores. As outras modalidades de ensino médio existentes – normal,
industrial ou comercial – não permitiam tal acesso, segundo a Reforma Francisco Campos de
1931.
4 Extinguiu os exames de admissão e unificou o Ensino Primário com o Ginásio, constituindo o Primeiro Grau, com duração de oito anos (destinado aos alunos de 7 a 14 anos) e o Segundo Grau, com duração de três anos (destinado aos alunos de 15 a 17 anos).
5 Apenas para ilustrar, em 1954 havia 535.775 alunos matriculados em 1.771 escolas secundárias no país. Esse número representa apenas 6% da população com idade entre 12 a 18 anos, segundo o recenseamento de 1950. (ABREU, 2005, p.43). Além disso, é importante chamar a atenção para o fato de que essas escolas eram fundamentalmente urbanas, nas zonas rurais eram praticamente inexistentes.
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A perspectiva apresentada é a de uma leitura histórica desse livro, considerando as
culturas escolar e política. Parte-se do entendimento de que a cultura escolar não pode ser
analisada sem que sejam estabelecidas relações que ela mantém, em cada tempo histórico,
com o conjunto de culturas que lhe são contemporâneas. Segundo Vinão Frago (2008, p. 22),
a cultura escolar pode ser definida como um conjunto “de teorías, ideas, principios, normas,
pautas, rituales, inercias, hábitos y prácticas” que são consolidadas ao longo do tempo em
forma de tradições, regularidades e regras não ditas, mas compartilhadas por seus atores no
interior das instituições educativas. Já a cultura política, “como a própria cultura, se inscreve
no quadro das normas e dos valores que determinam a representação que uma sociedade faz
de si mesma, do seu passado, do seu futuro” (BERNSTEIN, 1998, p. 353). Ela é um
fenômeno da duração que surge em meio às respostas dadas a uma sociedade “aos grandes
problemas e às grandes crises da sua história” (BERNSTEIN, 1998, p. 355).
Neste texto privilegiam-se as práticas e a inteligibilidade desse conjunto específico, que
passa pela compreensão do coletivo de sujeitos que dele fazem parte, o constituem e o dotam
de legitimidade, num determinado tempo histórico. A publicação do livro Admissão ao
Ginásio, sua circulação, legitimidade fazem parte desse conjunto de práticas que permitem
ler os conflitos e negociações entre cultura escolar e cultura política. O contexto histórico
analisado remete à construção e consolidação de nova cultura política do regime republicano
pós-1930. É relevante notar, por exemplo, que a formulação de duas importantes leis que
visavam conferir organicidade ao Secundário ocorreu respectivamente em 1931 e 1942 (ver
nota de rodapé n. 3). De igual modo, a criação da Comissão Nacional do Livro Didático, em
1938, primeira política pública para o livro didático em âmbito federal, que marca o controle
do Estado na publicação e circulação da produção didática no país (FILGUEIRAS, 2011).
Importa notar que a cultura política que permitiu a emergência e consolidação de tais
regulações demarca a instalação de um modelo de Estado autoritário, centralizado
politicamente, cujo intervencionismo sobre a sociedade foi crescente. Dessa forma,
transcende-se aqui a cultura política estadonovista, pois se compreende que ela se articula a
transformações e demais políticas que reverberaram na divulgação de normas e valores sobre
o comportamento político de sujeitos individuais e coletivos que ultrapassam os oito anos de
sua duração (GOMES, 2007). Os impactos da Reforma Gustavo Capanema no ensino
Secundário, por exemplo, perdurariam até 1961 (HALLEWELL, 2012, p. 408). Analisar as
práticas e as representações que as designam a partir desse aporte conceitual é importante,
na medida em que se compreende que as culturas políticas exercem papel fundamental na
legitimação de regimes ou na criação de identidades. A construção de uma cultura política
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implica a eleição de uma dada memória e de certa leitura política do passado (ABREU et al.,
2007).
A Editora
Editora do Brasil foi fundada no contexto da acelerada expansão do ensino secundário
observada a partir da década de 1930. Com o mercado didático acompanhando tal
crescimento, seis funcionários responsáveis pelo programa de livros didáticos da Companhia
Editora Nacional decidiram criar sua própria editora em 1943 (HALLEWELL, 2012, p. 409).
Como sociedade anônima, a editora teve 36 membros fundadores, sendo alguns deles de uma
mesma família, prevalecendo as famílias de Carlos Costa (autor de livros didáticos de
Biologia) e Manoel Netto (editor assistente da Editora Nacional).
Segundo pesquisa de Kátya Braghini (2010) a fundação da editora foi acompanhada
de estratégias de promoção de sua linha editorial, voltada para o mercado de livros didáticos.
Ainda em 1943 foi lançado um folheto explicativo para as escolas falando sobre o
funcionamento do ensino secundário após a Reforma Capanema, de 1942, como forma de
divulgar o nome da editora. Neste mesmo ano lança-se também a primeira edição do livro
Admissão ao Ginásio. Chama a atenção que o livro tenha sido lançado no mesmo ano de
fundação da Editora, 1943, período em que a Companhia Editora Nacional já possuía no
mercado, desde 1931, livros de preparação para os exames, assinado por professores
indicados como sendo do Liceu Nacional Rio Branco, estando entre eles Joaquim Silva, na
área de História6. Esses são indícios que apontam para a possibilidade de a editora ser
pensada junto com o projeto do livro e da própria linha editorial, voltada para o mercado
didático. Lembra-se, aqui, que nesse período as edições de livros eram feitas aliando
processos artesanais e mecânicos, ainda distantes das técnicas modernas da produção em
escala industrial, que só ocorreriam no Brasil entre as décadas de 1970 e 1990, segundo
pesquisa de Décio Gatti Jr. (2004). O projeto da editora certamente andou de modo paralelo
ao projeto do livro. Algo que só foi possível porque seus fundadores possuíam ampla
experiência na produção de material didático, incluindo contatos com autores e com o
mercado.
6 Trata-se do livro Exames de Admissão aos Cursos Ginasiais, que em sua capa vinha assim indicado: “Organizado por Profs. do Liceu Nacional Rio Branco”. A primeira edição é de 1931. Localizamos e adquirimos
num sebo a sétima edição, publicada em 1934. Em sua pesquisa Arnaldo Pinto Júnior (2010) indica que Joaquim Silvia, assim como outros professores do Liceu, foi contratado pela editora especificamente para produzir materiais didáticos.
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A Editora do Brasil foi fundada com linha editorial específica, voltada para o mercado
didático, especialmente o ensino secundário. Em 1946, com a finalidade de expandir os
negócios nessa área, criou o Departamento Escolar (DE), responsável por reunir informações
referentes à educação no Brasil e, ao mesmo tempo, criar um canal de comunicação com os
leitores. A criação do DE estava ligada a outro projeto, a revista da editora, que seria lançada
em 1947. Segundo Káthia Braghini (2010, p. 43), entre os objetivos da revista estavam: “a)
divulgar os resultados dos processos enviados ao DE; b) manter o profissional da educação
informado sobre os principais atos normativos importantes para o cotidiano escolar; c)
divulgar os produtos da Editora, mesmo que de forma evasiva”.
Ainda de acordo com a pesquisa de Braghini (2010) observa-se que, em 1949, a
editora já possuía duas coleções específicas: uma de livros didáticos, a Coleção Didática do
Brasil, e outra de livros de leitura, a Coleção Infanto-Juvenil. O catálogo do material didático
possuía 70 autores de todas as disciplinas obrigatórias do ensino secundário (ginasial e
colegial), entre estes Aída Costa, responsável pela parte dos conteúdos de Português do livro
Admissão ao Ginásio e outras obras relativas tanto à Língua Portuguesa quanto ao Latim.
Filha de um dos fundadores da editora, Carlos Costa, ela se licenciou em Letras Clássicas pela
Faculdade de Filosofia da USP, onde trabalhou por muitos anos atuando nas áreas de
Literatura Latina e Didática do Português. Em 1955, pouco mais de uma década de sua
fundação, a Editora do Brasil já alcançava o quarto lugar em livros editados no país por ano.
Com 100 edições ficou atrás da Companhia Editora Nacional (349 edições), Melhoramentos
(203 edições) e Francisco Alves (137 publicações).
A Revista EBSA foi um importante modo de expandir o nome da editora por todo o
país, pois era um periódico voltado para o ensino secundário e que buscava, como afirma
Braghini (2010, p.51), “se firmar como veículo de divulgação de produtos didáticos em meio a
uma clientela que não necessariamente perpassava pela licenciatura como meio de
formação”. Do mesmo modo o sucesso da revista pode ser relacionado também com a
expansão do ensino secundário no Brasil.
Além disso, é por meio da EBSA que a revista manifestava sua adesão a determinada
cultura política, aquela que melhor expressava sua representação de sociedade ideal e do
próprio lugar que ela imaginava ocupar nessa mesma sociedade, partilhando de seus
interesses e projetos de futuro. Segundo Katya Braghini (2010) se até o ano de 1959 (ano da
morte de Fernando Costa, diretor-presidente da editora) a editora era menos contundente
em relação as suas escolhas políticas, a partir de 1960, a revista passaria a fazer circular
abertamente as posições políticas da editora e os valores por ela defendidos no âmbito da
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moral e dos costumes. Nos anos de 1961 a 1964 a revista se mostrava contrária ao governo de
João Goulart e aos movimentos estudantis da época e, após o golpe de 1964, se alinhou ao
regime ditatorial, avisando sobre o “perigo comunista” e sua infiltração no meio estudantil,
como também lançando livros sobre a Educação Moral e Cívica. Além de enaltecer esses
temas na EBSA. Braghini (2010) demonstra que a Editora do Brasil foi uma das editoras que
mais se destacaram no período militar, tendo um dos maiores saltos quantitativos de venda
de livros.
Em 1971 a editora inaugurou, em Guarulhos-SP, o maior parque gráfico do país, capaz
de produzir 50.000 livros por dia. Os próximos três anos (1971 a 1973) marcariam período de
forte expansão, abrindo filiais em vários Estados. A editora acompanhava a expansão de
publicações didáticas do período e era considerada nesse período uma das três gigantes desse
mercado, ao lado da Companhia Editora Nacional e da Ática (HALLEWELL, 2012, p. 414).
Até a década de 1970 o Brasil possuía uma das maiores tiragens de livros didáticos do mundo
(considerando-se apenas os países não comunistas):
Enquanto os livros escolares norte-americanos e alemães vendiam edições de 150 mil exemplares e os da França e do Reino Unido, cerca de cem mil exemplares, a regra no Brasil eram tiragens de duzentas mil cópias no caso de livros didáticos para o secundário e de trezentas mil ou mais para o primário (HALLEWELL, 2012, p.766)
A história da Editora do Brasil acompanhou a própria mudança na produção editorial
do país, que saiu de uma produção quase artesanal para uma moderna indústria editorial, no
período. Décio Gatti Jr. (2004) observa que a década de 1960 assinala o corte de
transformações significativas na produção de livros didáticos. Além das questões técnicas
relativas à impressão propriamente, o que interfere no aumento do uso de ilustrações e
imagens diversas, há também a passagem do autor individual à equipe técnica responsável
pela elaboração dos produtos voltados para o mercado escolar; altera-se o formato dos livros,
que passa de 14 x 18 cm para 21 x 28 cm; as finalidades e inovações didático-pedagógicas, a
valorização de equilíbrio de imagens e textos etc. Nota-se também que entre as décadas de
1930 e 1960 os livros voltados para mercado didático sofriam poucas alterações ao longo de
seu percurso editorial. Seus autores não eram licenciados nas áreas de conhecimento que
assinavam, e sim legitimados por meio de sua atuação, nas disciplinas que ministravam em
instituições de prestígio públicas ou privadas, notadamente localizadas nas capitais do país,
especialmente São Paulo e Rio de Janeiro.
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Os autores
Os/as autores/as do livro didático Admissão ao Ginásio são os mesmos em todas as
edições do livro, à exceção da área de Matemática. Pelas edições localizadas observa-se que
Renato Pasquale, professor de Matemática no Ginásio Paulistano, e também de cursos
preparatórios para os exames no mesmo colégio, assina até a 351ª ed. de 1961, e a partir da
534ª edição já se encontra o nome de Marcius Brandão7, também autor de dezenas de livros
de Matemática. Aída Costa, filha de Carlos Costa, um dos fundadores da editora, assina a área
de Português e também é autora de vários livros relacionados à Língua Portuguesa e também
ao Latim. Renato Stempniewski, bacharel em Direito, é o autor de Geografia do Brasil e
também possui livros didáticos de Geografia publicados, os quais foram muito utilizados nas
décadas de 1960 e 1970. Como o interesse da pesquisa é voltado mais especialmente para os
conteúdos de História, a investigação se ateve à Aurélia Marino, que assina a parte relativa à
História do Brasil. A análise de diferentes catálogos e da revista EBSA mostra que Aurélia
Marino não assinou nenhuma outra obra na editora. E, até o momento (março de 2017), não
foram localizadas quaisquer outras publicações dela. Algumas pistas sobre ela foram
recolhidas por meio de pesquisa na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional8.
Aurélia Marino, filha do proprietário do Cinema Central da cidade de Caconde-SP,
Jacinto Marino, e de Júlia Gloso Marino, nasceu no dia 24 de agosto (ano não informado)9 e
faleceu no dia 28 de junho de 1997 na cidade de São Paulo10. Estudou na Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, graduando-se no curso de História
e Geografia no ano de 193711. Lá participou do concurso para eleger a “Rainha dos Estudantes
7 A pesquisa ainda busca localizar mais edições para poder ser mais precisa nessas informações. Foram consultadas diferentes bibliotecas em Santa Catarina, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Três exemplares foram localizados no LIVRES – Banco de dados de livros escolares brasileiros, projeto incialmente coordenado pela Profa. Dra. Circe Bittencourt. O acervo está localizado na biblioteca da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Seu catálogo pode ser consultado em: http://www2.fe.usp.br:8080/livres/#. Acesso em 10 out. 2015. As edições de n.10 e n.13 foram localizadas na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Alguns exemplares que compõem o acervo da pesquisa foram comprados por meio de pesquisas em diferentes sebos do Brasil.
8 Ver em: http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/. Acesso em: 15 mar. 2016. 9 No jornal Correio Paulistano de 23 de agosto de 1942, na seção Vida Social, encontra-se o seguinte trecho: “Verá
passar amanhã sua data natalícia a sra. d. Aurélia Marino Surerus, funcionária do Serviço de Saúde Escolar e professora do Ginásio Paulistano, esposa do conceituado clínico Dr. Adolfo Surerus, médico da mesma repartição. Muito estimada pelos delicados dotes que ornam sua cativante personalidade, será, por certo, a distinta aniversariante muito felicitada.” (CORREIO PAULISTANO, 1942, p. 6).
10 Informação encontrada na edição do jornal O Estado de São Paulo de 3 de julho de 1997 na seção de Falecimentos informando a missa de sétimo dia, segue o trecho: “Aurélia Marino Surerus – Amanhã, às 18h30, na Igreja Nossa Senhora de Lourdes, na Alameda dos Piratinis, 679, P. Paulista (7º dia).” (O ESTADO DE SÃO PAULO, 1997, p. 31).
11 Informação encontrada na notícia “Turma de 37 da antiga Faculdade de Filosofia da USP” do jornal O Estado de São Paulo (1988, p. 40), no qual há um evento de comemoração dos cinquenta anos de graduação da primeira e segunda turma da universidade, nomeando os/as estudantes e seus respectivos cursos.
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de São Paulo”12 no ano de 1937, ficando entre os três primeiros lugares e recebendo em torno
de cinco a sete mil votos, como foi sendo descrito nas várias notícias do jornal Correio
Paulistano nos meses de abril e maio de 1937. Por meio dessas notícias infere-se que desde
jovem Aurélia Marino já era conhecida. Sua candidatura e o primeiro lugar na corrida para
ser Rainha dos colégios e universidades de São Paulo durante certo tempo talvez se deva ao
fato de seu pai ser dono de um estabelecimento comercial.
Sabe-se também que ficou noiva duas vezes: a primeira vez em dezembro de 1937 com
Antônio Cervi, funcionário da Atlantic Refening Company of Brazil, e a segunda em março de
1942 com Adolfo Surerus, médico escolar do Serviço de Saúde Escolar do Departamento de
Educação de São Paulo, com quem se casou no dia 31 de maio de 1942 (CORREIO
PAULISTANO, 1942, p. 4).
Em relação a sua vida profissional, era professora na escola mista do Bairro da Bella
Paisagem na cidade de Fartura-SP em 1935, de onde pediu licença para tratamento médico e
foi substituída nesse mesmo ano. Em 1942 encontra-se como professora do Ginásio
Paulistano e diretora do curso de Admissão ao Ginásio na mesma instituição, como consta na
notícia acerca das comemorações do aniversário da capital paulista:
Associando-se às comemorações cívicas pela passagem de mais um aniversário de fundação da cidade, o curso de admissão do Ginásio Paulistano, sob a direção da provecta educadora prof. d. Aurélia Marino, realizará hoje várias festividades, nas quais tomarão parte todos os alunos desse curso. (CORREIO PAULISTANO, 1942, p. 1).
O fato de Aurélia Marino assumir um cargo elevado dentro de uma instituição de
ensino renomada na capital do Estado de São Paulo, ainda mais quando poucos anos antes
assumira a função de professora numa escola em cidade menor, pode ser compreendido pelas
redes de sociabilidades do período. Por meio dos indícios encontrados nas notícias do jornal
Correio Paulistano, observa-se que a família Marino, a própria Aurélia e seu esposo, um
renomado médico, faziam parte da “sociedade paulistana” da época. A pesquisa pôde
confirmar que ela era sócia fundadora da Sociedade de Etnografia e Folclore de São Paulo
(em 1936), cujo pioneiro foi Mário de Andrade. Além do conhecido escritor, faziam parte da
12 O concurso da “Rainha dos Estudantes de São Paulo” era promovido pela Folha Paulista e ocorria anualmente. As estudantes de todos os estabelecimentos de ensino superior, secundário e comercial da cidade de São Paulo podiam concorrer. A cerimônia de coroamento era uma grande festividade com a participação de figuras políticas, como no caso do ano de 1937, que teve a deputada Chiquinha Rodrigues na entrega da faixa e da coroa à vencedora, além de fazer parte da cerimônia o orador oficial da Federação dos Estudantes secundários e a deputada Carlota Pereira de Queiroz, como traz a edição do dia 18 de maio de 1937, e acrescenta que “uma comissão de figuras das mais representativas nos nossos círculos sociais, patrocina a festa, que promete revestir-se de grande brilho” (CORREIO DE SÃO PAULO, 1937, p. 7).
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sociedade figuras como Claude Lévi-Strauss e Dina Lévi-Strauss, reafirmando novamente a
participação de Aurélia Marino nas redes de sociabilidade e em contato com outros
intelectuais do período.
Depreende-se que Aurélia Marino foi convidada para assinar a área de História do
Brasil no livro Admissão ao Ginásio pela sua atuação no curso preparatório para os exames
no Ginásio Paulistano, mas também em alguma medida pelas suas relações familiares e
profissionais, sobretudo na Sociedade de Etnografia e Folclore de São Paulo. Ao coordenar o
curso dos exames de admissão no Ginásio Paulistano ela utiliza os livros preparatórios da
Companhia Editora Nacional, lançados sob o título Exames de Admissão aos Cursos
Ginasiais, publicado em 1931. Cabe aqui informar que em 1956 seria publicada uma obra
atualizada pela Companhia Editora Nacional para atingir o mesmo público, intitulada agora
Programa de Admissão, assinada por professores renomados como José Cretella Júnior
(Português), Osvaldo Sangiorgi (Matemática), Joaquim Silva e José de Arruda Penteado
(História do Brasil) e Aroldo de Azevedo (Geografia do Brasil).
O livro
Muito bem inspirada andou a Editora do Brasil ao lançar, há cinco anos, o livro “Admissão ao Ginásio”, de autoria de competentes professores do magistério paulista. Fala bem alto dos méritos dessa valiosa obra didática a acolhida que lhe dispensaram professores e estudantes do país inteiro, acolhida que traduz eloquentemente as suas treze e sucessivas reedições. Surpreenderá, todavia, um tal sucesso apenas aqueles que desconhecem o livro em apreço. Aos demais, aqueles que já foi dado a examiná-lo, mesmo superficialmente, não admiram que tão rápida e definitivamente se tenha ele se imposto. “Admissão ao Ginásio” é uma obra que obedece a dois princípios soberanos, a exatidão científica e a boa técnica didática. Entregue a professores especializados em cada qual das quatro matérias e de abalizada experiência no magistério, é todo ele vazado em linguagem acessível – até em suas minúcias – à idade juvenil, a que se propõe. Tem-se revelado, por isso mesmo, ótimo instrumento de trabalho para o aluno que se candidata ao ingresso no curso ginasial. (EBSA, 1948, p. 39, grifos meus).
Por ocasião do lançamento da 13ª edição, em 1948, a revista EBSA divulgava na seção
“Bibliografia” o sucesso de sua principal obra didática. De fato, as sucessivas edições em tão
curto período justificam o tom comemorativo do texto, que não deixa de enfatizar a qualidade
pedagógica do livro, ancorada em sua “exatidão científica e boa técnica didática”. Cada
exemplar trazia os programas oficiais das áreas de conhecimento que contemplava e os
conteúdos selecionados para os exames. Seu uso foi aprovado pela Comissão Nacional do
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Livro Didático, sendo possível acompanhar tal condição até 1959, pelo Diário Oficial13 A
seguir mostram-se capas de diferentes edições da obra:
Figura 1 – Capa da 86ª Edição, 1954 Acervo LIVRES - Banco de dados de livros escolares
brasileiros, USP.
Figura 2 – Capa da 351ª Edição, 1961 Acervo da pesquisa.
13 BRASIL. Diário Oficial, 12 de fevereiro de 1959.
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Figura 3 – Capa da 534ª Edição, s/a14 Acervo da pesquisa.
Foram localizadas em sites de livrarias de livros usados duas edições com capas
diferentes, mas que já haviam sido vendidas, portanto não estão entre os inventariados na
pesquisa.
14 Pela cronologia dos presidentes, à página 522, depreende-se que tenha sido publicado entre 1967 e 1969. As capas da 548ª e da 559ª são iguais.
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Figura 4 – Capa da 181ª Edição, 1958
Acervo15 Figura 5 – Capa sem informação quanto ao
ano e à edição
Acervo16
Como produtos culturais historicamente construídos, os livros didáticos são suporte
de divulgação de saberes escolares que, em determinado tempo e lugar, foram considerados
legítimos de serem selecionados e ensinados. Ele é parte da cultura escolar, está
irrenunciavelmente ligado à história das disciplinas escolares, não devendo, portanto, ser
observado à margem dos sistemas que regulam e controlam sua distribuição e seus usos.
Circe Bittencourt (2004) lembra sobre a complexidade do livro didático, caracterizada
pela interferência de diferentes sujeitos em sua produção, circulação e consumo. Além, é
claro, das funções bem diversificadas que pode assumir, dependendo das condições, do lugar
e do tempo em que é produzido e utilizado nas diferentes situações escolares. Sem ignorar
essas questões, na pesquisa que se está desenvolvendo “livro didático” é entendido como
aquele em que em geral pensamos quando a ele nos referimos, ou seja, o material impresso,
empregado para o desenvolvimento de processo de ensino e de formação, e que, desde sua
concepção, é produzido tendo em vista tanto as finalidades escolares quanto o mercado
escolar (BATISTA, 1999, p.542).
15 Disponível para venda na livraria A Traça em 2016. Ver: <https://www.traca.com.br/livro/478456/>. Acesso em: 20 mar. 2017.
16 Disponível para venda na livraria Sebo nas Canelas em 2016. Ver:<http://www.sebonascanelasleiloes.com.br/peca.asp?ID=2206489&ctd=24&tot=&tipo=#info-anchor>. Acesso em: 20 mar. 2017.
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Compreende-se que o livro Admissão ao Ginásio é um livro didático. Dito isso, volta-
se a se chamar a atenção para seu sucesso editorial. Esse livro certamente pode ser
considerado um dos casos mais excepcionais em relação a números de edições no mercado
didático: foram mais de 550 edições em três décadas. Com a primeira edição em 1943, em
1954 já estava na 86ª17 e, em 1958, apenas quatro anos depois, na 180a edição. Até o
momento foram localizados e inventariados cinco exemplares18: a 86ª edição de 1954, a 351ª
de 1961, a 534ª edição, sem ano no exemplar19, a 548ª, sem ano no exemplar20, e a 559ª, sem
ano no exemplar21.
Entre a 86ª e a 559ª edição pode-se observar mudanças quanto às capas, número de
páginas e também quanto ao tamanho. A 86ª possui capa brochura e as demais capa dura.
Houve sensível alteração no número de páginas – por exemplo, a 86ª possui 351 páginas, a
351ª 414 páginas e as edições 534ª, 548ª e 559ª possuem 524 páginas. O tamanho variou
pouco, mas variou: a 86ª edição e a 351ª possuem 14 x 18 cm, e as demais 15 x 20 cm. Os
exemplares localizados na pesquisa não trazem informação quanto à tiragem, o que limita a
análise quanto ao seu alcance de vendas e à comparação com outro sucesso do período: o
livro Programa de Admissão da Companhia Editora Nacional. Esse livro teve sua primeira
edição em 1956 com 50.000 exemplares, e no mesmo ano foi lançada a segunda edição, com
100.000 exemplares. Em 1958 a quarta edição já saiu com tiragem de 150.000, número que
iria se repetir nas edições subsequentes. A 18ª edição, publicada em 1968, teve tiragem de
cerca de 250 mil exemplares (VALENTE, 2008, p. 33). Voltando ao livro Admissão ao
Ginásio, observa-se que a arte das capas, quanto à quantidade de ilustrações, foi mudando ao
longo das edições, acompanhando as novidades técnicas da impressão e também as
exigências pedagógicas relativas aos materiais didáticos, que exigiram que sua linguagem
fosse adequada à idade das crianças a que se destinavam.
Observa-se que a 86ª edição possui poucas ilustrações, a maioria em preto e branco.
Há algumas coloridas numa seção específica da área do Português (para que os estudantes
descrevessem e fizessem uma redação) e na área de Geografia alguns mapas. Essa
característica está presente na 351a edição. Nas edições 534ª, 548ª e 559ª as ilustrações
aumentam consideravelmente, mas ainda em sua maior parte em preto e branco, algumas em
três cores, sendo em menor quantidade as coloridas. Enfatiza-se que a partir da década de
17 Exemplar disponível no LIVRES. 18 A 86ª edição foi totalmente escaneada, as outras quatro citadas fazem parte do acervo da pesquisa. 19 Pela cronologia dos presidentes, na página 522, supõe-se que a edição seja entre 1967 e 1969. 20 Pela cronologia dos presidentes, na página 523 supõe-se que a edição seja entre 1969 e 1971. 21 Pela cronologia dos presidentes, na página 523 supõe-se que a edição seja entre 1969 e 1971.
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1960 os livros passam a obedecer a alguns padrões de consumo que vão alterar não apenas
seu tamanho como também, e principalmente, sua apresentação gráfica: linguagem utilizada,
formatação dos textos, quantidade de imagens, uso de variadas cores, tipos de letras, etc.
Esse livro circulou por três décadas tendo seu uso autorizado pelo Estado. Nesse
período passou por governos e regimes políticos diferentes, sendo também regulado por
políticas distintas. Nas décadas de 1940 e 1950, pela Comissão Nacional do Livro Didático,
depois pela Campanha do Livro Didático e Manuais de Ensino, e em 1966, já na Ditadura,
pela Comissão do Livro Técnico e Didático. Do mesmo modo pode-se indicar que alguns
Estados o adotaram oficialmente, como, por exemplo, o Estado de Amazonas, pelo que se
depreende da publicação da Secretaria de Educação e Cultura, no Jornal do Comércio, em
1963. Choppin (2004, p.560) chama a atenção para a interferência do Estado ao lembrar que
textos escolares, desde o século XIX, “constituíram-se e continuam a se constituir como
poderosos instrumentos de unificação, até mesmo de uniformização nacional, linguística,
cultural e ideológica”. Tal interferência vai desde a sua elaboração, produção, aprovação, até
o financiamento, difusão e formas de utilização. Ao passar por esses processos estão sendo
envolvidos diversos agentes:
A concepção de um livro didático inscreve-se em um ambiente pedagógico específico e em um contexto regulador [...], característico das produções escolares (edições estatais, procedimentos de aprovação prévia, liberdade de produção, etc.). Sua elaboração (documentação, escrita, paginação, etc.), realização material (composição, impressão, encadernação, etc.), comercialização e distribuição supõem formas de financiamento vultosas, quer sejam públicas ou privadas, e o recurso a técnicas e equipes de trabalho cada vez mais especializadas, portanto, cada vez mais numerosas
(CHOPPIN, 2004, p. 554).
A historiadora Tania de Luca (2009) chama a atenção para a transformação do
triângulo ou tripé proposto por Antônio Candido (1959): autor, livro e leitor, para o
quadrilátero, acrescentando a função do Estado ao se trabalhar com as características desses
objetos culturais, já que o Estado desempenha papel fundamental para a construção do
aparato escolar, com as leis, as propostas pedagógicas e os profissionais que atuam nessa
área. Tendo sido produzido e circulado entre as décadas de 1940 e 1960, o livro Admissão ao
Ginásio evidencia essas marcas.
Considerações finais
Nos limites deste texto não foram abordados os conteúdos de História, contudo em
outras análises (2016b) já foi destacado que entre 1946 e 1961 as alterações nos programas
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curriculares de História vinculavam-se à reconstrução do regime democrático após a fim do
Estado Novo. Nesse sentido, ao mesmo tempo que as edições da década de 1950 e 1960
valorizam o progresso e a modernização, não se abandonam traços do Estado Novo relativos
à identidade e à ideia de um Brasil homogêneo. As mudanças nos currículos e a sua
consequente incorporação pelas editoras de manuais didáticos parecem seguir e repetir o
desejo de uma “comunidade imaginada” (ANDERSON, 1989, p. 14), tradições (re)inventadas
que seguem ensinando o Brasil aos brasileiros. Isso porque questões relacionadas a
identidades no que tange à história do Brasil são uma permanência importante observada
nessas obras.
Além do percurso editorial, o estudo desses livros deve considerar tanto as estratégias
usadas pelos autores e editores para impor uma ortodoxia do texto - as estratégias usadas
pelos autores e editores para impor um itinerário de leitura - quanto as inventividades dos
leitores (Chartier, 1990). Nessa direção, pode-se afirmar que embora os livros que
preparavam para os exames seguissem um protocolo de leitura, eles ultrapassaram sua
finalidade original, pois, mesmo após 1971, foram usados de diferentes maneiras por
professores e alunos no cotidiano escolar: aplicação de textos e exercícios no preparo das
aulas, no caso dos professores; estudo dos conteúdos como preparação para as provas
escolares e para concursos públicos, no caso dos estudantes (SILVA, 2016).
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