Economia Política na era da Informação: Propriedade Intelectual
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Prof. Dr. Marcos DantasProfessor Titular da Escola de Comunicação da UFRJMembro do Comitê Gestor da Internet - Brasil21/08/2015 14:00hs
Introdução
Como explicar que um sistema de computadores acumulando e permitindo acesso a bilhões de retratos vulgares de pessoas comuns (e de algumas “celebridades”) possa valer USD 1 bilhão?
Operações semelhantes com valores similares são noticiadas a todo instante no capitalismo contemporâneo.
Como é gerado esse valor? Mera especulação financeira?
Ou ainda se trata de apropriação do valor do trabalho nos termos da Economia Política?
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A internet surgiu para a sociedade como uma grande rede aberta, livre, horizontal, equânime, isonômica que aproximaria os homens e mulheres na
construção de um mundo mais justo e democrático. De fato, a internet surgiu no espaço universitário (mas com apoio financeiro do Pentágono) e parecia,
em seus primeiros tempos, distante dos interesses econômicos e das disputas reais na sociedade.
Esta época dourada já passou.
Por um lado, grandes corporações financeiras estão “colonizando” a internet e dela fazendo um grande espaço de mercantilização e geração de lucros. É
a maior praça de comércio jamais criada alguma vez por qualquer sociedade humana.
Por outro lado, conforme as revelações de Edward Snowden não dão a mais ninguém o direito de se fazer de ingênuo, a internet é uma grande arma de
poder geopolítico-militar.
Na medida em que revela a sua verdadeira natureza social, a Internet passa a ser alvo de leis regulatórias que, como quaisquer outras leis, permitam, pelo
menos, aos agentes sociais dirimir os seus conflitos de um modo civilizado. O Marco Civil, em todo o mundo, é um marco pioneiro neste sentido.
Sumário:Introdução1. Elementos de Teoria da Informação2. Informação e teoria do capital3. “Sociedade do espetáculo”4. Trabalho em rede, trabalho grátis?5. Rendas informacionais6. Considerações finais
1.Elementos de Teoria da Informação
“Escrevo este livro principalmente para norte- americanos, em cujo ambiente os problemas da informação serão avaliados de acordo com um critério padrão norte-americano: como mercadoria, uma coisa vale pelo que puder render no mercado livre [...] O destino da informação, no mundo tipicamente norte- americano, é tornar-se algo que possa ser comprado ou vendido.
........................“Assim como a entropia tende a aumentar espontaneamente num sistema fechado, de igual maneira a informação tende a decrescer; assim como a entropia é uma medida de desordem, de igual maneira a informação é uma medida de ordem. Informação e entropia não se conservam e são inadequadas, uma e outra, para se constituírem em mercadorias” (N. WIENER, 1949)
Um dos criadores originais da Teoria da Informação e “pai” da Cibernética, Norbert Wiener já advertia que informação não seria redutível a mercadoria. Por que? Entender isto, exige entender o que seja informação, nos termos de uma teoria rigorosamente científica.
Informação, mercadoria?
“O custo de transmissão de um corpo de informação dado é com freqüência muito baixo. Se fosse zero, a alocação ótima iria requerer obviamente uma distribuição ilimitada da informação, sem custo
algum. Na realidade, uma peça de informação dada é, por definição, um bem indivisível, e aqui surgem os problemas clássicos das indivisibilidades. O dono da informação não deverá extrair o valor econômico que nela se encontra, se se busca a alocação ótima; mas é um monopolista, até certo ponto, e tratará de aproveitar-se disso.
Na ausência de uma proteção legal especial, o dono não pode simplesmente vender a informação no mercado aberto. Qualquer comprador pode destruir a informação a custo pequeno ou nulo [...]
[...] nenhuma proteção legal pode converter em um bem completamente apropriável, algo tão intangível quanto a informação [...] As leis de patentes tenderiam a ser incrivelmente complexas e sutis para permitir apropriação em larga escala.
[...] a alocação ótima para a invenção iria requerer que o governo ou algum outro organismo não governado por critérios de lucro ou prejuízo, financiasse a investigação e a invenção” (K. ARROW, 1962)
“A apropriação é, emgrande medida, uma questão de acertos legais e de imposição desses acertos por meios privadosou públicos. O grau de apropriação privada do conhecimento pode ser aumentado, elevando-se os castigos por violações de patentes e incrementando-se outros recursos destinados à vigilância de tais violações” (H. DEMSETZ, 1969)
Um recurso público ou um ativo apropriável por meio de legislação
“adequada”? O debate entre economistas, nos anos 1960, já
revelava a dificuldade de “criação de um mercado de informação se, por alguma razão, se deseje criá-
lo”, como escreveu K. Arrow.
Uma polêmica antiga
“Para a maior clareza deste livro, acho necessário dar uma definição de conhecimento e informação, mesmo que essa atitude intelectualmente
satisfatória introduza algo de arbitrário no discurso, como sabem os cientistas sociais que já enfrentaram o problema. Não tenho nenhum motivo convincente para aperfeiçoar a definição de conhecimento dada por Daniel Bell (1973: 175): ‘Conhecimento: um conjunto de declarações organizadas sobre fatos e idéias, apresentando um julgamento ponderado ou resultado experimental que é transmitido a outros por intermédio de algum meio de comunicação, de alguma forma sistemática. Assim, diferencio conhecimento de notícias e entretenimento’. Quanto a informação, alguns autores conhecidos na área, simplesmente definem informação como a comunicação de conhecimentos (ver Machlup 1962: 15). Mas, como afirma Bell, essa definição de conhecimento empregada por Machlup parece muito ampla. Portanto, eu voltaria à definição operacional de informação proposta por Porat em seu trabalho clássico (1977: 2): ‘Informação são dados que foram organizados e comunicados’ ” (CASTELLS, 1999: 45, nota 27)
“O que atravessa o cabo não é informação, mas sinais. No entanto, quando pensamos no que seja informação, acreditamos que podemos comprimi-la, processá-la, retalhá-la. Acreditamos que informação possa ser estocada e, daí, recuperada. Veja-se uma biblioteca, normalmente encarada como um sistema de estocagem e recuperação de informação. Trata-se de um erro. A biblioteca pode estocar livros, microfichas, documentos, filmes, fotografias, catálogos, mas não estoca informação. Podemos caminhar por dentro da biblioteca e nenhuma informação nos será fornecida. O único modo de se obter uma informação em uma biblioteca é olhando para os seus livros, microfichas, documentos etc. Poderíamos também dizer que uma garagem estoca e recupera um sistema de transporte. Nos dois casos, os veículos potenciais (para o transporte ou para a informação) estariam sendo confundidos com as coisas que podem fazer somente quando alguém os faz fazê-las. Alguém tem de fazê-lo. Eles não fazem nada” (Von FOERSTER, 1980: 19, grifos no original).
Comparemos esses dois conceitos...
Questão de método Qualquer investigação científica precisa assumir um parti-pris
epistemológico e metodológico.
http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/media/lucien.jpg, acessado em 22/05/2010
“Aqui, a comunicação é a mensagem que um sujeito emissor envia a um sujeito receptor através de um canal. O conjunto é uma máquina cartesiana concebida com base no modelo da bola de bilhar, cujo andamento e impacto sobre o receptor são sempre calculáveis. Causalidade linear. Sujeito e objeto permanecem separados e bem reais. A realidade é objetiva e universal, exterior ao sujeito que a representa [...] Posição dualista, cara a Descartes, [...]” (L. SFEZ, Crítica à comunicação, 1994, p. 65)
“A comunicação é a inserção de um sujeito complexo num ambiente que é ele mesmo complexo. O sujeito faz parte do ambiente, e este faz parte do sujeito. Causalidade circular. Idéia paradoxal de que a parte está no todo que é parte da parte. [...] Par sujeito/mundo, no qual os dois parceiros não perderam totalmente a identidade mas praticam trocas incessantes. A realidade do mundo não é mais objetiva mas faz parte de mim mesmo. Ela existe... em mim. Eu existo... nela. Recurso à expressão com base no modo spinozista. Eu exprimo o mundo que me exprime [...] Totalidade mas totalidade hierarquizada”. (SFEZ, idem)
Monismo dialéticoDualismo objetivista
Pelos seus compromissos e suas origens, a Economia
Política da Informação, Comunicação e Cultura se
orienta pelo monismo dialético.
Duas abordagens para a informação
Daí, comunicação é definida como transferência de informação de um emissor para um receptor. Essa transferência deve se dar sem ruídos.
Nasce com Claude Shannon, Norbert Wiener e outros. Informação é definida como a medida de
incerteza de um evento, dado um conjunto de eventos com possibilidade de ocorrer. Essa medida é o bit. A definição é quantitativa.
Há duas abordagens possíveis para o conceito de “informação”
2
Essa abordagem permitiu o desenvolvimento dos computadores e das modernas telecomunicações.
Informação é entendida como objeto, como dado. Metodologicamente, a teoria matemática é dualista, atomista, lógico-formal (o “ruído” é o terceiro excluído aristotélico). No entanto, é o ponto de partida para todo estudo científico da informação.
Abordagem positivista Abordagem dialética
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C. Shannon (1916-2001)
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Abordagem positivista Abordagem dialética
Nasce com com Heinz von Foerster, sendo desenvolvida por Gregory Bateson, Henri Atlan, Robert Escarpit, Umberto
Maturama, Anthony Wilden e outros. Nela, a informação é definida como a relação entre o sujeito e o objeto, como ação
orientada a um fim.
Daí, comunicação é definida como produção de significados (trabalho semiótico, em Umberto Eco) através do tratamento dos “ruídos” incorporados ao processo
Essa abordagem é menos conhecida, mas possibilitou importantes avanços na biologia e será importante ferramenta de crítica social (o “ruído” como evento de mudança)
Informação não é objeto, nem dado. Informação efetua-se como trabalho, na dimensão quantitativa (valor de troca) e na dimensão qualitativa (valor de uso). Metodologicamente é dialética, sistêmica, monista.
Duas abordagens para a informaçãoHá duas abordagens possíveis para o conceito de “informação”
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G. Bateson (1904-1980)
“Informação é uma diferença que produz uma diferença” (G. BATESON)
Conceito de informaçãoEntendemos informação como uma modulação de energia que provoca algo diferente em um ambiente qualquer e produz, nesse ambiente, algum tipo de ação orientada, se nele existir algum agente capaz e interessado em captar e processar os sentidos ou significados daquela modulação (Dantas, 2006).
Neguentropia
(capacidade de um sistema
para fornecer trabalho)
Entropia(processo progressivo
de perda de capacidade para fornecer trabalho; desordem progressiva)
Entropia máxima(estado de equilíbrio;
desordem máxima; morte térmica do sistema)
Informação(trabalho orientado)Vibrações sonoras
(ruídos)Radiações térmicas
(temperaturas)
Sistema-ambiente(objeto da ação)
Sistema neguentrópico(sujeito da ação)
O sistema deve decidir, executar e concluir a ação, antes que sua entropia se torne irreversível. O valor da informação é função do tempo para capturar e organizar os elementos necessários à
ação.
Radiações luminosas(cores)
Moléculas odoríficas(cheiros) Sinais (físicos) que
fornecem sentidos, orientações,
significados para um sistema
neguentrópico.
Dialética da informação
http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcR6vf14wyLMWGbBqJySn9GgOZl_hsJ14yxQXw_kuQXSF7cCEcANog, acesso 31/05/2011
LIVRO (Objeto)Produto material contendo formas nele impressas que
refletem luz em freqüências perceptíveis pela vista
humana. Como qualquer outro produto material, o
livro é perecível ao longo do tempo.
LEITURA (Ação)A leitura associa os sinais
luminosos com as imagens mentais, rearrumando as
conexões neurais, logo produzindo novas imagens
mentais. A leitura só é possível se já existe um estado mental prévio
indicando as possibilidades de
associação, estado esse adquirido pela
aprendizagem
Informação e conhecimento
A informação não está no livro, nem na mente. Ela é produzida se as formas impressas no livro são postas em relação com as formas contidas no cérebro. Informação requer conhecimento e produz
conhecimento. Informação motiva e orienta alguma ação e somente é produzida no curso da ação mesma.
MENTE (Sujeito)O sistema nervoso e
neurológico humano forma e retém imagens que, quando estimuladas, associam-se às imagens do mundo que lhe
chegam por meios dos sentidos. A essas
associações, a mente atribui significados quase sempre
relacionados a algum nome..
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ADITIVIDADEO conhecimento obtido da
informação pode ser transferido pra outros
(alienado) sem que o detentor original desse conhecimento
seja subtraído dele. O intercâmbio de informação
não é uma troca, mas uma comunicação (“tornar
comum”).Por isto, informação é
inapropriável
Propriedades da informação
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A riqueza gerada pela informação pode ser apropriada e distribuída coletiva e socialmente. A natureza da informação é
contrária à propriedade.
INDIVISIBILIDADEUm único e mesmo suporte
material pode ser usufruído por mais de uma pessoa. Não sendo divisível, a informação pode ser
compartilhada, isto é, mais de uma pessoa podem participar ou
interagir em uma mesma relação ou experiência informacional.
A informação também não depende da perecibilidade do suporte: pode ser replicada e
compartilhada, em novos suportes, se necessário, a custos ínfimos.
A informação nega o princípio básico de toda teoria econômica: a escassez. A escassez impõe a disputa pelos recursos, daí as
diferentes práticas sócio-políticas, violentas ou não, de apropriação e distribuição.
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ALEATORIEDADEA obtenção de um dado ou
conhecimento é sempre resultado de um processo (atividade, trabalho), cujo resultado final só pode ser conhecido
depois de concluído o processo mesmo. É uma atividade de busca, com
graus maiores ou menores de incerteza.
2.Informação e teoria do capital
“A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa, a qual, pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. A natureza dessas necessidades, se elas se originam do estômago ou da fantasia, não altera nada na coisa" (K. MARX, O Capital).
A mercadoria
Para que possa ser trocada, a mercadoria precisa, antes de mais nada, ser útil a alguém. Essa utilidade pode ser instrumental ou estética (ou ambas). O conceito marxiano de mercadoria não considera apenas as necessidades fisiológicas humanas (comer, vestir, morar), mas também aquelas outras necessidades que nos fazem verdadeiramente humanos: arte, diversão, cultura etc. A utilidade define o valor de uso da mercadoria.
Os valores de uso estão associados aos hábitos
e costumes de diferentes culturas e
grupos sociais. Talheres
(Ocidente)Hashi
(Oriente)
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O alimento só realiza o seu valor de uso se for digerido
e absorvido pelo organismo.
Um disco musical ou livro não podem ser destruídos para realizarem o seu
valor de uso. Cada vez que são usados, o conteúdo é reproduzido. Caso o
suporte seja destruído, o conteúdo pode ser transposto para outro suporte.
Valor de uso e seu suporte
Para que atenda suas finalidades funcionais, o valor de uso da mercadoria será consumido, isto é, o suporte será de algum modo necessariamente destruído ou desgastado pelo próprio consumo ou pelo tempo: alimentos em poucas horas; tecidos e roupas, em alguns meses; máquinas, em alguns anos. A mercadoria é
entrópica. No entanto, os produtos de função exclusivamente estética devem ser preservados para realizarem seu valor de uso. Seu consumo implica, cada vez, em
tornar a replicá-los explorando as propriedades neguentrópicas da informação.
A produção industrial
http://www.tbus.com.br/images/tecnologia-pesquisa.jpg, acessado em 11/06/2011
http://www.industry.siemens.com/metals-mining/PT/images/166.jpg, acesso em 4/11/2007
http://www.geladeirasantigas.com.br/im
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acesso em 12/07/2011
PESQUISA, PROJETO, ENGENHARIA FABRICAÇÃO E MONTAGEM
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Para que possa ser trocada, a mercadoria também precisa ser reproduzida ou replicada em unidades iguais ou muito similares. Toda mercadoria é reprodução de uma idéia original (projeto, desenho, logo informação) registrada num suporte material adequado às suas finalidades funcionais e também estéticas.
Qualquer processo industrial moderno envolve duas fases principais:1. Pesquisa, projeto e engenharia: esta fase resulta na concepção e construção de um modelo ou protótipo. O trabalho é semiótico.2. Fabricação e montagem: esta fase visa replicar o modelo em milhares de unidades idênticas e prontas para uso. O trabalho é, em grande medida realizado por sistemas de maquinaria (entrópico).
Tempo e espaço: determinações essenciais
“O capital, por sua natureza, tende a superar toda a barreira espacial. Por conseguinte, a criação das condições físicas do intercâmbio – dos meios de comunicação e de transporte – torna-se para ele, e numa medida totalmente distinta, uma realidade: a anulação do espaço pelo tempo” (K. MARX, Grundrisse)
“Quanto mais as metamorfoses da circulação forem apenas ideais, isto é, quanto mais o tempo de circulação for = zero ou se aproximar de zero, tanto mais funciona o capital, tanto maior se torna a sua produtividade e autovalorização” (K. MARX, O Capital, L. II: p. 91 )
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TEMPO
Em suma: “time is money!
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TEMPO
"Existem, porém, ramos autônomos da indústria, nos quais o produto do processo de produção não é um novo produto material, não é uma mercadoria. Entre eles, economicamente importante é apenas a indústria da comunicação, seja ela indústria de transporte de mercadorias e pessoas propriamente dita, seja apenas de transmissão de informações, envio de cartas, telegramas etc. [...] O que a indústria de transporte vende é a própria locomoção. O efeito útil acarretado é indissoluvelmente ligado ao processo de transporte, isto é, ao processo de produção de transporte. [...] O efeito útil só é consumível durante o processo de produção; ele não existe como coisa útil distinta desse processo, que só funcione como artigo de comércio depois de sua produção, que circule como mercadoria" (Marx, 1983: L. II, p. 42-43).
Capital e comunicações
O capital desenvolve as comunicações como um setor produtivo que responderá à determinação da redução do tempo. Logo, um setor essencial.
O valor da mercadoria
A teoria econômica só se interessa pelo valor de troca, isto é, pelo estudo da equivalência entre as mercadorias. Tanto a Economia Política quanto a Marginalista considera os aspectos culturais ou estéticos como “pressupostos”. O consumo parece ser apenas função de renda, ignorando-
se os aspectos culturais e até psicológicos profundamente imbricados no processo.
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http://images.china.cn/site1006/20070703/00080287d09607f4328701.JPG, acesso em 17/11/2007
http://www.escape-maps.com/images/army_map_service_wwii_history_photos/engineer_reproduction_plant_draftsmen.JPG, acesso em 03/08/2014
Toda mercadoria demanda um certo tempo de trabalho para ser produzida.
Este tempo é função das condições físicas e mentais médias do conjunto
dos trabalhadores, bem como das tecnologias disponíveis. Esse tempo
determina o valor de troca da mercadoria.
Como mede o desgaste físico do trabalhador ao longo da jornada (seja esse trabalhador, operário ou engenheiro), o valor de troca expressa a entropia do trabalho
durante o tempo em que está acrescentando informação ao seu objeto.
A produção (industrial) artística se efetua em dois tempos de trabalhos muito distintos
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Clarice Lispector (1920-1977)
Tempo de trabalho do artista: é um tempo incerto, geralmente demorado e de difícil
mensuração, cuja jornada pode consumir meses ou anos. O valor de uso criado é emoção, prazer,
empatia, sentimentos identitários, elementos psicológicos, subjetivos, “simbólicos”, próprios
da cultura. O seu objeto material são signos necessários à comunicação. O seu produto é um
original (ou matriz)
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O trabalho artístico
O trabalho vivo do artista mobiliza atividades vivas do leitor, do
espectador, do ouvinte. Para que possa efetuar o seu trabalho, a audiência (leitor, espectador) usa um suporte
material que resultará da replicação do trabalho do artista em escala e
condições industriais, mas cujos tempos não estão relacionados àqueles do
próprio artista. 1) Nas indústrias editoriais (livros,
filmes, discos), o original é transformado em milhares de cópias
unitárias similares à mercadoria. Mas o valor de uso, logo de troca, não é função
do trabalho de gráficos e outros operários;
2) Nas indústrias de fluxo ou onda (rádio e televisão), o original é difundido em tempo real, sem fases industriais de
replicação. O trabalho do artista (trabalho concreto) é usufruído
imediatamente pelo seu público.
http://imagens.canaltech.com.br/18536.32034-Televisao-Ambilight.jpg, acesso em 12/08/2014
As indústrias de fluxo, mas também o cinema e, até certo ponto, o disco, proporcionam uma relação quase imediata entre o artista e seu público. O valor de uso é o próprio desempenho, a
competência, a empatia, as habilidades intelectuais ou físicas do trabalhador-ator. Por isto, este trabalho é muito difícil de ser reduzido a abstrato, logo não geraria de valor de troca. O consumo é
a própria informação; a relação, não o sinal; a atividade, não o suporte veiculante. O suporte é apenas um meio de interação, de comunicação. Como já avisavam Wiener e Arrow, informação não
é redutível a mercadoria.
Trabalho concreto
Os autores divergem sobre a mercadoria produzida pelo trabalho artístico. Dallas Smythe sugeriu pioneiramente que seria a audiência produzida pelo trabalho relacionado do artista com seu
público, negociada pelas emissoras com as agências de publicidade. Cesar Bolaño defende que esse público-audiência é ele mesmo a mercadoria negociada pelas emissoras, mercadoria,
portanto, produzida pela exploração do trabalho artístico. Marcos Dantas sustenta que os artistas e seu público trabalham para produzir um tempo-espaço de audiência monopolizado pelas
emissoras e por elas “arrendado” aos anunciantes.
Rendas informacionais 6
Os modelos de negócios das indústrias culturais se apóiam nos direitos de propriedade intelectual (DPIs). Uma empresa (capitalista) adquire os direitos dos autores e artistas e pode
controlá-los na medida em que controle os meios de produção e canais de distribuição. Exatamente porque o custo marginal da reprodução é próximo a zero (Economia marginalista) ou o
trabalho abstrato é quase nulo (Economia política), a apropriação depende da criação de barreiras à entrada que
protejam os DPIs.
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A indústria editorial se protegia nos custos de investimento em gráficas,
fábricas de discos, estúdios e também canais de distribuição. A indústria de fluxo se protegia na
escassez de freqüências eletromagnéticas. A associação dos
DPIs com a monopolização dos meios de produção e distribuição introduzia escassez necessária à geração de rendas informacionais
(rendas de monopólio).
Tudo, agora, é fluxo (de bits)
3 https://lh5.googleusercontent.com/-zyvN_VnqO-M/TYS2GdGnBBI/AAAAAAAADQ4/C4UFe3XJDfE/s1600/30-ipad_kindle.jpg, acesso em 22/05/2011
As tecnologias digitais afetaram diretamente as indústrias artísticas editoriais, também trazendo-as (a muito contragosto) para o modelo de fluxo.
... e assim se consuma a percepção de Marx: o
capital tende a reduzir o tempo a zero e busca
metamorfoses cada vez mais “ideais”...
3.“Sociedade do espetáculo”
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http://www.sogeografia.com.br/Conteudos/GeografiaFisica/oceanos/content4_clip_image002.jpg, acessado em 5/10/2010
Fonte: Folha de S. Paulo, 13/11/2005; e Wikipédia
1) Sediada em Molvena, Nordeste da Italia, a Diesel desenha e comercializa roupas masculinas e femininas, sendo famosa pelos seus jeans. Faturou USD 766 milhões em 2009, empregando 647 pessoas.
Corporações como a Diesel são denominadas corporações-rede.
4) Nas lojas, seja em Nova York, Paris, Milão ou São Paulo, as calças são vendidas por preços que variam entre R$ 700 (USD 304) e R$ 1.200 (USD 522), a unidade.
2) O tecido especial para os jeans é fabricado em Santa Catarina, Brasil. Seu custo final é de R$ 6,44 (USD 2,80) por calça (preços de 2005)
2
O processo produtivo contemporâneo3) As calças são confeccionadas em Horizonte, CE, dando emprego a 450 pessoas. O preço unitário pago à confecção varia entre R$ 28,80 a R$ 48,85 (USD 12,37 a USD 22,57), valores de 2005.
Por mês, um(a) operário(a), em Horizonte, ganha entre R$ 300 a R$ 500, dependendo da produção (2005)
Por que alguém paga R$ 1.200 por algo que custou R$ 50? Porque não comprou uma calça, comprou uma DIESEL,
ainda por cima italiana...
Tantas obras renderam a [Peter] Schreyer os mais importantes títulos e láureas de seu campo profissional. E também uma agenda dividida entre os centros de design da Kia em Frankfurt (onde trabalha a maior parte do tempo), na Califórnia e em Namyang, Coreia do Sul.http://oglobo.globo.com/estilo/carros/um-bate-papo-com-peter-schreyer-maior-designer-de-carros-da-atualidade-13341666#ixzz38QuTyszR, acesso em 24/07/2014
Reportagem em O Globo, 23/07/2014
Trabalho criativo
Muitos autores denominam o atual sistema econômico por termos como: “economia criativa”, “capitalismo
cognitivo” etc. Manuel Castells chama de “capitalismo informacional”. David Harvey sugere “acumulação
flexível”. Marcos Dantas propõe “capital-informação”
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http://www.industry.siemens.com/metals-mining/PT/images/166.jpg, acesso em 4/11/2007ht
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O autor
Transformação do projeto em peças
de um produto final (etapas industriais)
Acabamento ou montagem final. Pode ser em qualquer lugar do mundo, no Brasil por exemplo.
Divisão internacional do trabalho
Não há “criação” sem indústria que materializa as idéias. A indústria pode ser altamente automatizada (ex: indústria automobilística) ou empregar grandes
contingentes de mão de obra altamente explorada (ex: indústria de vestuário). A localização das fábricas se espalha pelo mundo, dependendo de vários fatores:
custo de mão de obra, infra-estrutura, proximidade de mercados, incentivos fiscais etc.
Já a localização dos “cérebros” depende de recursos humanos qualificados e qualidade de vida.
Na foto à direita, uma linha de montagem automobilística, praticamente sem emprego de mão de obra fabril. Na foto à esquerda, linha de montagem têxtil (confecção) com largo emprego de mão de obra mal paga e de baixa qualificação
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(apoiado numa equipe altamente qualificada e muito bem paga,
empregada nos “centros de projeto”)
No capitalismo contemporâneo, o desenho tornou-se um aspecto determinante para a diferenciação e competição no mercado. Por isso, o processo de trabalho, inclusive o industrial, adquiriu características predominantemente artísticas. Trabalho vivo é mobilizado para efetuar atividades de pesquisa, investigação, estudo, análise e tomada de decisões científico-tecnológicas que resultarão em modelos, protótipos, matrizes, isto é, material sígnico de natureza artística.
http://www.designup.pro.br/files/port/1226320270.jpg, acessado em 27/06/2010
http://www.qpcpesquisa.com/desenho-industrial.jpg, acessado em 4/10/2010
http://www.guiadacarreira.com.br/wp-content/uploads/2009/06/
desenho_industrial.jpg, acessado em 27/06/2010
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http://cadiugf.files.wordpress.com/2009/01/desenho-industrial1.jpeg, acessado em 27/06/2010
Na sua atual etapa histórica, o capitalismo informacional ou capital-informação, a valorização do capital se baseia em atividades (trabalho) de processar, registrar e comunicar
informação, nas suas muitas formas textuais ou audiovisuais
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Trabalho material sígnico
“... não é possível ter um mercado florescente e em expansão, cujos consumidores sejam todos calvinistas e tradicionalistas diligentes que sabem muito bem quanto vale o dinheiro” (F. JAMESON, 2006).
http://f.i.uol.com.br/folha/ilustrissima/images/11140353.jpeg
“O que ocorreu é que a própria produção estética hoje está integrada à mercadoria” (F. JAMESON, 2006)
“... temos que voltar à teoria da imagem, recolocando a notável derivação teórica de Guy Débord (a imagem como a forma final da reificação da mercadoria). Nesse ponto, o processo se reverte, e não são os produtos comerciais do mercado que se tornam imagens na propaganda, mas sim os próprios processos de diversão e de narrativa da televisão comercial que são, por sua vez, reificados e transformados em mercadorias: a narrativa serializada, com seus segmentos rígidos e quebras temporais reduzidos a fórmulas, a ação das tomadas de câmera sobre o espaço, a história, as personagens e as modas, incluindo aí o novo processo de produção de celebridades e de estrelas que parece diferente da experiência histórica mais familiar que tínhamos dessas questões, e acaba por convergir com os fenômenos até agora ‘seculares’ da antiga esfera pública...” (F. JAMESON, 2006).
Estética, mercadoria e mídia 12
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Marcas e consumo
Embora a transformação material seja um “detalhe” indispensável, as corporações-redes e todo o sistema político-cultural ao seu redor, vendem MARCAS.
A mercadoria (material) é apenas um “pretexto” para o consumo de imagens que representam ou expressam gostos, prazeres, estilos de vida, identidades grupais.
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Nas modernas sociedades industriais capitalistas, uma grande parte da população já tem as suas necessidades básicas atendidas e pode viver em condições de conforto inimagináveis a até 150 anos atrás. Se as pessoas se contentassem com o que já tem, as empresas não poderiam sobreviver e o sistema já teria entrado em colapso. Para induzir as pessoas a seguir consumindo, o capitalismo desenvolveu a “sociedade do consumo”, isto é, toda uma cultura voltada para fazer da produção de novas necessidades, um estilo de vida. Expande-se o “tempo de lazer”, na medida em que, nos países industrializados, é definitivamente fixada a jornada de trabalho de 8 horas. Esse tempo de lazer será ocupado pela produção da indústria cultural, cujos filmes, novelas, canções, esportes com suas imagens e seus glamurosos artistas, estabelecem os padrões sociais de comportamentos a serem atendidos pelo “consumo conspícuo”, expressão cunhada pelo sociólogo Thorsten Veblen (1857-1929) no final do século XIX.
12A necessidade de produzir necessidades
... e assim, ao longo do século XX, sobretudo depois da Segunda Guerra, vai se consolidar em boa parte do mundo, uma sociedade que passa a consumir gostos, prazeres, desejos, pertenças identitárias, tudo isso que pode ser representado por alguma marca.
E para isso, os meios de comunicação social (“mídia”) serão absolutamente essenciais.
http://entornoonline.com.br/blogdagraci/wp-content/uploads/2014/05/o-maior-aliado-da-copa-do-mundo-1000x500.jpg, acesso em 04/08/2014
A “sociedade do consumo” começou a se formar, nos EUA, desde fins do século XIX, e se expandiu para todo o mundo depois da Segunda Guerra. Ela é
movimentada pela publicidade e pela indústria cultural que criam os hábitos cotidianos voltados para o consumo enquanto estilo de vida. O cinema, a música popular, os esportes, a programação do rádio e da televisão, os espetáculos em geral, ganharam crescente importância na vida cotidiana das pessoas e, daí, nas
suas referências culturais e psicológicas, logo na definição do que sejam “necessidades”.
Sociedade do espetáculo
“Toda a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos [...] O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens” (G. DÉBORD)
O Comitê Olímpico Internacional faturou USD 3,8 bilhões no “ciclo” das Olimpíadas de Londres. A FIFA faturou USD 3,2 bilhões no “ciclo” da Copa de 2010 e deverá faturar USD 5 bilhões no da Copa do Brasil. Metade dessas receitas veio dos direitos vendidos às TVs e a maior parte do restante, dos patrocinadores publicitários diretos.
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A telinha é o espetáculo
O espetáculo é a intermediação necessária entre a marca e o consumidor.
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CRIAÇÃO/PROJETO FABRICAÇÃO MATERIAL ACABAMENTO
Trabalho concentrado nos países ricos Trabalho distribuído
na periferia
TRANSPORTE DE VOZ E DADOS CORPORATIVOS(informações de projeto, de gestão e financeiras)
TRANSPORTE DE SOM E IMAGEM PARA O PÚBLICO(publicidade e marketing)
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Audiências
Pesquisas
Para as corporações-redes, as comunicações cumprem duas funções na redução dos tempos de circulação: 1) nas interações inter e intra-firmas; 2) nas interações com o mercado.
As comunicações no capitalismo contemporâneo
DISTRIBUIÇÃOE VENDAS
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4.Trabalho em rede, trabalho grátis?
A produção artística
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Clarice Lispector (1920-1977)
Para se apropriar do valor do trabalho “artístico” ou
“criativo”, o capital desenvolveu as indústrias
editoriais e de fluxo baseadas nos direitos à propriedade intelectual (DPI) e no controle dos meios de reprodução e
distribuição
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Indústrias editoriais: o “original” é submetido a um processo industrial de reprodução e distribuição
Indústrias de fluxo: a utilidade do trabalho é diretamente, em tempo real, distribuída para consumo.
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… mas, na “velha mídia”, as reações e interesses dos indivíduos e famílias só podiam ser captados por meios indiretos (pesquisas, cartas de leitores etc). O trabalho da audiência estava limitado quase apenas ao tempo de atenção.
O trabalho da audiência (no tempo livre)
Em casa, o tempo de audiência será também tempo de trabalho. É a audiência que valoriza o tempo vendido pelas empresas aos anunciantes.
http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRcUEshPCiKSOlsRukjakcEE7XR0rIYE94dDznlLo9r6wmanqA_, acesso em 11/06/2013
http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/senhor-do-seu-tempo/files/2013/04/06192009_familytime.jpg, acesso em 11/06/2013
http://www.websegura.net/wp-content/uploads/2011/09/1269437_93098115.jpg, acesso em 11/06/2013
http://www.mammedomani.it/images/stories/articoli/Baby_Tecnologie.gif, acesso em 11/06/2013
Trabalho da audiência: muita atividade em rede
Nas “novas mídias”, os “cliques” permitem um conhecimento quase individualizado sobre as preferências do “consumidor”. As bases de dados podem analisar gostos,
preferências, tendências, inclusive individualizar demandas.
As redes (“sociais”) permitem ao capital se apropriar de todo tempo disponível das pessoas, explorando trabalho literalmente não pago. Todo espaço-tempo da sociedade
torna-se espaço-tempo produtivo. O consumo torna-se imediatamente produtivo.
http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ-CjjSHbnP5PSGlpovr4wZd7djfPhEZtzpl9-luI7JokbjhWeBTA
A internet permite:
1) eliminar uma grande quantidade de tempos intermediários de trabalho vivo pouco ou nada “criativo”, na realização dos
pequenos negócios cotidianos de consumo, independentemente da distância;
2) alargar a produção do espetáculo a praticamente todo consumidor enredado em alguma atividade de navegação,
independentemente da distância
Internet, o capitalismo quase ideal
A internet é a realização do ideal capitalista de anular o
espaço pelo tempo.
As indústrias culturais editoriais, que se baseavam nos tempos de replicação e intermediação dos suportes (discos, livros), estão
acabando ou precisando se adaptar ao modelo de fluxo
(radiodifusão paga, pelo ar, cabo ou satélite, linear ou não linear).
As redes sociais (como bem sabe o Facebook), tornaram-se minas de ouro literais para o capital que se
valoriza com informação e conhecimento e, por meio delas,
pode encontrar uma fonte de conhecimento original em qualquer
lugar onde haja um cérebro pensante e devidamente
qualificado.
A Nokia lançou um concurso para internautas lhe dizerem que programas
gostariam de ver na telinha de seus smartphones. Participaram 7.700 e venceu um indiano que sugeriu um
identificador visual que substituísse as senhas de acesso. Em seguida, ofereceu
US$ 100 mil a quem desenvolvesse o programa em 36 horas. Venceu um
brasileiro, Jackson Feijó, mas o conhecimento é propriedade da Nokia
A Goldcorp colocou na rede seus dados geológicos. Pagou US$ 500 mil ao geólogo que
lhe indicou com segurança onde estavam as maiores chances de sucesso: encontrou uma
jazida de US$ 3,4 bilhões em ouro e seu valor de mercado pulou de US$ 90 milhões para US$ 10
bilhões
A Procter&Gamble paga US$ 300 mil ao químico, em qualquer lugar do mundo, que lhe apresentar uma solução para tirar mancha de
vinho das roupas. Evidentemente, a “propriedade do conhecimento” passa a ser
dela (e para quê continuar mantendo uma dispendiosa equipe de 7 mil químicos
assalariados?)
Capturando trabalho em qualquer lugarAs redes sociais anulam barreiras espaço-temporais na captura de trabalho informacional.
http://www.pontomidia.com.br/raquel/arquivos/assets_c/2011/06/gtciberfotinhos-thumb-350x280-234.jpg, acesso em 11/06/2013
http://www.editoraevora.com.br/blog/wp-content/uploads/2013/02/redes_sociais2.jpg, acesso em 11/06/2013
Tempode
audiência capitalizado
Mais-valia 2.0?
A informação gerada por essa produção social geral (“general intellect”) é apropriada na forma de “direitos intelectuais” defendidos pelos “jardins murados”.
Leiloeiro
(Google, Facebook etc.)
Espaço publicitário
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Trabalho contratado
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Trabalho gratuito
5.Rendas informacionais
A criação terá que ser comunicada. Para isso, o capital mobiliza, de modo articulado e combinado com o trabalho aleatório, o trabalho redundante de supervisão, controle, observação, direção ou correções do trabalho morto de transformação material final. É uma etapa necessária à fixação da informação processada nos seus suportes materiais adequados. As condições industriais de replicação (tempo tendendo a zero) determinam as possibilidades de apropriação das rendas informacionais.
Rendas diferenciais
http://imgs.jornalpp.com.br/b5fe022e7bf4f300a6e0f438dad1f2b6_L.jpg?t=-62169984000, acesso em 25/07/2014
1) Tempos diretos e indiretos são altos: barreiras naturais à entrada, poucas
firmas, lucros de monopólio. Ex: indústria automobilística
2) Tempos diretos e indiretos são baixos: barreiras jurídicas e policiais à entrada (papel do Estado) podem ser criadas em
segmentos empresariais intermediários, nestes se extraindo rendas de monopólio. Ex: empresas e entidades usuárias de
software proprietário, lojas de roupas etc.
3) Tempos diretos e indiretos são baixos: barreiras jurídicas e policiais à entrada (papel do Estado) não logram impedir
crescimento de microfirmas informais (emprego de trabalho redundante), erodindo as rendas de monopólio. Ex: “pirataria” de
discos, filmes, peças de vestuário etc.
4) Tempos diretos e indiretos são quase nulos: barreiras jurídicas e policiais à entrada (papel do Estado) não logram impedir crescimento do intercâmbio doméstico, não comercial, de arquivos,
zerando as rendas de monopólio. Ex: redes P2P.
http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTB1P9neL_r1p8RmDl_n4GMF9YjpmMYnxpaIWeccvj-wTxM4Wax, acesso em 22/05/2011
2 http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcS3if3saEwarcto-sLNyubG2HrivZ-oG9jlG2E3zv8-FfO-b1qK, acesso em 22/05/2011
Como “idéias”, “conhecimentos”, “imagens”, “informação” podem ser comunicados,
compartilhados e replicados a custos no limite de zero, o capital está desenvolvendo novos modelos de negócios que o jargão empresarial denomina “jardins murados”. A legislação dos “direitos intelectuais” e a
caça aos “piratas” nem sempre são eficazes...
3 https://lh5.googleusercontent.com/-zyvN_VnqO-M/TYS2GdGnBBI/AAAAAAAADQ4/C4UFe3XJDfE/s1600/30-ipad_kindle.jpg, acesso em 22/05/2011
O terminal conectado a uma “loja virtual” exclusiva substitui os suportes reprodutíveis
Os “jardins murados”
A acumulação já não se apóia na troca de equivalentes, princípio da
mercadoria, mas em rendas de monopólio. O capitalismo tornou-se
essencialmente rentista.
http://4.bp.blogspot.com/_S9yMFmI-N6c/SIttV_5TAEI/AAAAAAAAA7k/fbgbQR6svSQ/S1600-R/muro.jpg, acessado em 10/03/2020
“Jardins murados”
A essência do “jardim murado” é tornar compulsório o pagamento pelo acesso a cada espetáculo reduzido a alguma unidade “monetizável”. A
TV por assinatura tomou o lugar da TV aberta. O acesso à internet depende da assinatura de algum serviço de “banda larga” sendo
crescente a cobrança pelo acesso aos “conteúdos”, nos portais da internet ou nas “lojas virtuais” .
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CRIMINALIZAÇÃO SOCIALIZAÇÃO (“COMUNS”)
Lei do Copyright para o Milênio (Millenium Copyright Act – DMCA) – aprovada em 1998, esta lei estadunidense criminaliza a produção e disseminação de tecnologias, componentes ou serviços que visem anular medidas que buscam assegurar a gestão dos “direitos digitais” (digital right management –DRM).
Diretiva da União Européia sobre Copyright (2001) – incorpora a essência do DMCA
Hadopi – lei francesa aprovada em 2009 visa “promover a distribuição e proteção das obras criativas na internet”, para isso introduzindo mecanismo de controle das atividades dos usuários e penalizando infrigimento às leis de copyright. Cria a Alta Autoridade para a Difusa de Obras e Proteção de Direitos na Internet (“Hatopi” na sigla francesa)
Lei Sinde – espanhola, aprovada em 15/02/2011, permite fechar sítios na internet que sirvam para baixar arquivos “ilegalmente”.
Liberdade em rede vs. estado policial
ACTA
http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSJAhXjX1tS6QQeBwqfA0wIsdPiN2mCV46VQ1foXrSb5lilzrzFPQ, acesso 31/05/2011
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Em abril de 2009, os diretores do Pirate Bay foram condenados à prisão
5.Considerações finais
Das ruas comuns para os condomínios fechados
http://4.bp.blogspot.com/_WeoC73kslpI/St7Yh4o8CJI/AAAAAAAAAPM/gAUT-NL3B0M/s320/HermanoVianna1b.jpg, acessado em 8/11/2011
“Na semana passada, a seção Digital & Midia deste jornal publicou página inteira sobre migração da internet ‘tradicional’ para as redes sociais [...] Muitas pessoas embarcaram na onda e até já abandonaram seus emails. Por isso, esses migrantes são apontados como pioneiros das novas tendências bacanas. Mas podem ser vistos igualmente como garotos-propaganda – não remunerados – de uma reação poderosa contra a liberdade na rede, que faz tudo para transformar nossa vida virtual [...] em propriedade de meia-dúzia de megacorporações.Uma capa recente do Segundo Caderno também mostrou pessoas que passaram a usar o Facebook para ‘compartilhar seu conhecimento’, construindo excelentes guias culturais – que ‘antigamente’ teriam lugar em blogs e sites pessoais – dentro do território de Mark Zuckerberg [...] Não posso deixar de comparar: é como deixar as ruas comuns de uma cidade e passar a viver num condomínio cercado por muros e seguranças [...]Redes sociais como o Facebook são conhecidas justamente como ‘walled gardens’ ou [...] ‘jardins murados’ [...] Não sei se todo mundo tem consciência do que está fazendo ao trocar o ‘tradicional’ pelo ‘novo’” (Hermano Vianna, “Jardins Murados”, O Globo, 29/07/2011)
http://www.iti.gov.br/twiki/pub/Noticias/PressRelease2004Jul22A/SrgioAmadeu.jpg, acesso em 10/12/2008
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“A batalha que está ocorrendo atualmente centra-se em duas idéias: ‘pirataria’ e ‘propriedade’ ” (L. Lessig, Cultura livre: como a mídia usa a tecnologia e a lei para barrar a criação cultural e controlar a criatividade, 2004)
“As informações podem ter um ou mais autores, mas elas nascem a partir de um conhecimento comum, uma linguagem comum e, por mais genial que tenha sido a sua criação específica, ela somente pôde existir com base no acúmulo sócio-cultural. Por mais que tenha tentado fazer um novo cercamento, o capitalismo, ao atingir a sua fase informacional, não consegue, na prática, no cotidiano, resumir e fundir o autor ao proprietário de uma informação ou bem simbólico. Não consegue expulsar o conhecimento do terreno do comum e aprendê-lo no terreno privado. Autoria é diferente de propriedade. Uma idéia, ao ser criada, logo desprende-se de seu autor e retorna à sua base comum que é coletiva, social. Para evitar que isso ocorra é preciso tentar anular as características inerentes à essência dos bens informacionais [...] Por não sofrerem escassez, podem ser reproduzidos sem desgaste do original, sem perda” (S. Amadeu da Silveira, Redes virais e espectro aberto, 2007)
A alternativa dos comuns
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“Felizmente, para [as] elites, a criatividade cooperativa não era inerentemente subversiva. Longe de ser um renascimento de alta tecnologia da Comuna de Paris, comunidades virtuais eram – em sua maior parte – apolíticas. Nos textos fundadores do mcluhanismo da Nova Esquerda, os habitantes da ágora eletrônica eram revolucionários, artistas, dissidentes, visionários. Quatro décadas depois, as coisas eram bem diferentes. A maioria absoluta dos contribuidores dos sítios das redes sociais mais populares levam vidas muito mais simples. Mais do que debater os assuntos políticos urgentes do dia, seus tempos de conexão eram gastos com fofocas sobre suas experiências pessoais, amigos, celebridades, esportes, sítios bacanas, músicas populares, programas de TV e viagens de férias. Dentro dessa visão MySpace da ágora eletrônica, o comunismo cibernético era comercial, não excepcional. O que uma vez fora um sonho revolucionário, era agora parte agradável da vida cotidiana” (R. BARBROOK, Futuros imaginários: p. 381, grifos meus - MD).
... e assim caminha a humanidade19
Internet.org é claramente um projeto que busca capilarizar redes a serviço
do poder geopolítico dos Estados Unidos, em regiões potencialmente conflitivas, origem de movimentos migratórios globais e de militantes
anti-sistêmicos.Não parecendo oferecer condições de viabilização econômica, permite, por
outro lado, construir grandes big data sobre o estado do mundo, sobretudo
em suas regiões mais pobres.
O programa conta com a parceria de outras grandes corporações-redes industriais-financeiras, como a Samsung, Ericsson, Nokia, Qualcomm, todas interessadas em ampliar o mercado de dispositivos terminais e de infra-estrutura de acesso aos seus respectivos “jardins murados”. Para ser viabilizado, também precisa de apoio das grandes empresas que detém as infra-estruturas de telecomunicações, principalmente das operadores móveis.
Apesar das muitas negativas da parte de Mark Zuckerberg e de outros porta-vozes do Facebook,
o projeto é muito criticado porque ameaçaria a neutralidade da rede.
Projetos pilotos de internet.org já operam em mais de 10
países, a exemplo de Zambia, Tanzania, Kenya, Colômbia,
Bolívia, etc
Internet.org
Em agosto de 2013, o Facebook anunciou um programa de “inclusão digital” denominado “internet.org”. O programa visa levar acesso a uma cesta básica de serviços em rede, por meio do portal do Facebook, a populações muito pobres e regiões desprovidas de infra-estrutura de acesso.
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