1. E O SOL VOLTOU A BRILHAR Petrucio Pscografado por Ariston S.
Teles INDICE: O COMEO
....................................................... 7 O DRAMA
DA FAMLIA................................ 18 AUMENTAVA O CONFLITO
.......................... 32 REMINISCNCIAS
......................................... 44 OVERDOSE
..................................................... 53 UM PONTO
DE LUZ.................................... ... 60 NO RIO DE JANEIRO
..................................... 67 DOLOROSA
SURPRESA................................ 75 DESCE UMA LUZ
........................................... 86 O
REENCONTRO........................................... 102 O AMIGO
OCULTO ....................................... 116 A MENSAGEM
............................................... 125 Na primeira
semana de junho/96, fomos visitados aqui no Monte Alverne, durante
trabalhos medinicos, por um Esprito que se deixou ver por vrios
mdiuns. .Em reunio de estudo e preces ofereceu-nos, por via
psicogrfica, uma pgina em que deixou clara sua inteno de escrever
um romance, trazendo a pblico a histria de um adolescente que
cresceu no ambiente sombrio das drogas. c demonstrando desejo de
escrever na primeira hora da manh. Assim foi feito. Durante seis
dias, das 5 s 6 horas, mergulhei na histria. Vvi cerca de quarenta
anos em apenas seis dias, de segunda a sbado. Ao final de cada
sesso, que durava aproximadamente uma ' hora, eu ficava
emocionalmente esgotado. O amigo espiritual trazia o firme propsito
de cumprir uma misso. Petrucio seu nome. Quis apresentar-se com
aparncia romana e escrevia como se o trabalho j estivesse pronto no
Plano ' Espiritual. s isto o que pretendia dizer na apresentao
desta emocionante histria, agradecendo ao seu autor espiritual a
oportunidade de vivenciar profundamente uma situao dolorosa e, ao
mesmo tempo, gratificante. Ariston S. Teles Braslia, Primavera de
1996 Rafael era o mais novo dos dois irmos, filhos do casal Carmem
Medeiro e o eletricista Silvano Medeiro. Moravam na promissora
cidade de Juiz de Fora, Estado de Minas Gerais. Em casa tudo era
simplicidade e esperana. Nos trs primeiros anos do matrimnio os
cnjuges viveram em paz apesar das dificuldades financeiras, mas o
necessrio no faltava, at porque Silvano tinha o emprego que
garantia salrio razovel sem ter que pagar aluguel. A casa era
prpria. Enquanto o marido trabalhava na fbrica de carrocerias,
Carmem, em casa, confeccionava roupas infantis que eram vendidas
numa feira livre aos finais de semana. As crianas nasceram nesse
ambiente de tranqilidade e alegria. Nada faltava, embora Silvano
fosse pessoa inquieta e um tanto insatisfeita com a vida. Isso
normal, principalmente, quando no se cultiva uma religio. Era o
caso dos dois que iam igreja catlica somente em ocasies especiais,
cerimnias de casamento ou batizado. O irmozinho mais velho de
Rafael chamava-se Wilson. Os dois eram inteligentes e
2. nos primeiros dias de capesar da influncia do Rio de Janeiro
Capital do pas. O ndice de crimes e drogas era muito baixo. S
alguns anos depois que a situao iria mudar com a revoluo s a msica
no mundo, desencadeando uma srie de alteraes nos costumes entre
adolescentes e jovens. Quando os meninos do casal Medeiro entravam
na adolescncia uma onda de liberdade varria os meios sociais no
Brasil, causando problemas e conflitos no seio das famlias. Era uma
nova gerao bombareando tabus e preconceitos, chegando s aias da
libertinagem e da desordem. mundo teve que se adaptar aos novos
nceitos que a mocidade impunha. A essa altura a pequena famlia de
'Ivano no andava bem, ele passara a qentar bares, contraindo o vcio
do lcool. os finais de semana os filhos no toleravam comportamento
do pai e saam em busca liberdade e alguma distrao . Enquanto ,
Carmem permanecia em casa fazendo vontades do homem que j no era o
,mesmo. 9 bl03.txt migos havam insstido para que ele no faltasse ao
encontro na noite seguinte. Aqulo, no fundo, j representava um
compromsso. Precisava rever os companheiros at mesmo para falar da
reao que havia sentido durante a noite. O dia transcorreu normal.
Apenas uma ansiedade em relao ao encontro de loga mais noite. Na
escola, dois colegas que pertencam ao grupo de Elvis foram procurar
Rafael para dizer que estariam sua espera no mesmo local noite. s
20 horas, o ambiente estava composto no espao de Elvis. Eram seis
rapazes entre 1S e 23 anos. O mais velho era o chefe. - Ol Rafael!
Tudo bem? - Cumprimentou cordialmente Elvis. E aproximandose com
mais intimidade, disse: - Olha, o cigarrinho custa dinheiro. Se
voc^e puder colaborar...fique vontade. Mas no precisa se preocupar.
Importante mesmo a nossa amzade. s Na realidade, Elvis mantinha ali
um ponto de venda de maconha e eventualmente outras drogas que eram
trazidas por pessoa mais experiente, sempre que necessrio. Rafael
tinha poucos recursos. No trabalhava. Era sua me quem lhe dava um
dinheirinho para os gastos normais de um adolescente que desfrutava
de tudo em casa. O tempo passava. Um ms depois da primeira tragada,
Rafael estava dependente. 1 no conseguia passar dois dias sem a
Joaninha. Seu irmo comeou a trabalhar numa loja de calados depois
de fazer um curso profissionalizante. Estavam mais afastados um do
outro. Havia pouca conversa entre os dois. A mudana de
comportamento de Rafael era atribuda faixa etria. "Pessoas nessa
idade sempre do trabalho." Conseguiu ocultar o vcio por mais de um
ano. Era discreto e quando os pais lhe interrogavam 16 s atitudes
de inesperada rebeldia, argumentar. Em dezembro passou nas 5 e
mudou de ano letivo sem Isso dava aos coraes paternos certo
reconforto. O clima domstico piorava paulatinaente. Slvano
continuava perturbado. Wilson acabou unindo-se maritalmente a uma
moa, quando apenas contava 19 anos, e a me entregue costura e aos
afazeres de casa. Alma boa. Vinte anos de casamento representavam
longa caminhada para dentro de si mesma. As adversidades e
problemas enfrentados com pacincia e f, tornam-se oportundades de
crescmento espiritual.
3. i Em fevereiro do ano seguinte recomearam as aulas. Rafael
no desejava retornar ao colgio, contudo, estimulado pela me e pelos
professores, assumiu o compromisso por mais um ano letivo,
prometendo o possvel para corresponder aos anseios dos entes
queridos. Se no houvesse boa vontade em seu corao, certamente
abandonaria tudo para ingressar nos grupinhos que o atraam com as
luzes da fantasia e da iluso. s Uma voz oculta dizia: "pensa no teu
futuro, meu filho! No te entregues ao mal; prossegue nos estudos."
Concomitantemente outro som chegava aos seus ouvidos: "Aproveta a
macidade, o futura pertence aos velhos; o que mporta gozar a vida
enquanto tempo." Infelizmente no tinha discernimento nem foras para
romper em defnitivo com as sombras. Rafael, apesar do temperamento
que se tornava sempre mais difcil , era muito estimado pelos
professores e colegas. Guardava na alina qualidades indiscutveis.
Simpatia e senso de humor, bondade e desprendimento - eram marcas
de sua personaldade. O uso dirio da maconha, em contatos
clandestinos com o pessoal de Elvis, alteravalhe as energias mais
ntimas quase que despercebidamente. No ms de junho daquele ano seu
professor de matemtica, Alexandre Silva, 05.txt Algo precisa ser
feito com urgncia! O bem tem que vencer! Rafael estudava cada vez
menos. As atenes do professor s vezes incomodavam. Queria lberdade,
liberdade! Que ningum interferisse na sua vida. Alis, seus
companheiros noturnos tambm lhe prestavam "apOio" e "orientao". A
influncia negativa do grupo pesava muito. Se hauvesse alguma
predisposo mudana, tuda seria mais fcil , todavia, esprtos sombrios
j estavarn participando efetivamente do processa. O moa teria que
se levantar, transpor esses obstculos e buscar novo caminha. Teria
que cartar relaes cam sua turma. Urn transporte dessa ardem na to
fcil e uma determinao que para lograr xito, depende de muita fora
interior com o auxlio dos Protetores Espirituais. Rafael estava
enfraquecdo, mesmo assim prOsseguiu no Colgio at o final do 26 ano,
quando ento demonstrou total desnteresse, e desvinculou-se
definitivamente dos estudos, apesar do paternal esforo do professor
Alexandre. Ano seguinte. Novos impulsos nas sendas pedregosas.
Rafael agora visto camo um vagabundo, sem escola, sem trabalho, ndo
a casa somente para descansar e pedir dinheiro me. Ele prpro
senta-se marginalzado como se passasse a pertencer a outra
sociedade. Havia descoberto um paraso nas sombras da noite, nessa
onda colorida ia caminhando, apesar dos momentos de angstia e
depresso, Mil coisas aconteciam na sucesso dos ias e das noites.
Levado por amigos a conhecer um terrero de Umbanda, l deparou-se
cam um outro setor da vida humana. Ali estavam pessoas de vrias
idades, ambos os sexos, em dvertidas prticas mednicas. 27 Embora
alguns cavalos {mdiuns) tomassem bebdas acolicas durante as sesses,
tudo que se dizia era na sentido do bem. Os caboclos e
pretos-velhos falavam coisas interessantes a respeito dos
visitantes, O recinto apresentava caractersticas folclricas:
flores, altares, bandeirolas, velas, ncenso, danas, roupas brancas,
sendo que o pai de santo, ou seja, o babalorixc que comandava as
cerimnias, era homem de cor, comunicativo, bondoso e
cativante.
4. Os vsitantes limtavam-se em assistr a tuda, recebendo aplcao
de passes rnoda da casa, enquanto espritos comunicavarn-se ao mesmo
tempo, rodopiando, conversando e atendendo indivdualmente as
pessoas interessadas. Rafael, meio assustado coM o que va,
lembrou-se de sua rne que sempre demonstrou smpatia pelas coisas
espirituais, levantou-se e foi Ver com urA entidade incOrporada no
babalorix. 28 ~ - M fio, chega p perto. Preto Vio vai te abeno. ia,
tu ainda um menino. Percisa de muntia ajuda. Tem muntia coisa
imbaraada na tua cabea. Chega pr c, m fio. Rafael, embora estivesse
perplexo, com o toque magntico do esprito amigo, sentiu-se
tranqilo, e ps-se a escutar com profundo respeito as paiavras que
lhe balsamizavarn o corao. - Seu Preto Velho - disse Rafael na sua
ingenuidade - eu estou muito contente em falar com o senhor e poder
ouvir a sua voz. Mnha me j me disse que eu deveria dar mais
importncia s coisas de Deus. Eu ando muito confuso, minha cabea
realmente no est bem. Se o senhor puder me orientar , eu agradeo. -
Claro, m fio! pra isso que nis tarno aqui. Hoje tem mais gente pra
s atendido, entonce, v te d uns passes, mas antes, anota na cabea
uma coisa: oc no 29 nasceu pra vagabund , nem pra cher ne fum
porcaria. Oc percisa rez todo dia qu pra afast as coisa ruim que te
acompanha. Quando Rafael quis levantar-se do toco, em que se
acomodava agradecendo com humildade, o mensageiro generoso,
segurando-lhe pelas mos, disse: - T aqui um papel que oc vai lev,
vai l e vai guard. u'a lio que um home um dia escreveu antes de
morr. A entidade amiga, imediatamente entregou ao visitante uma
linda pgina que mais tarde seria deixada com Carmem. Aquela noite
foi diferente. Os companheiros de Rafael naquela experincia, talvez
no tivessem levado to a srio a sesso quanto ele. Momento
inesquecvel. Rafael guardaria para sempre as impresses daquele
trabalho espiritual. Sem dvida, tudo aquilo representava uma
cultura afro- brasileira, sem refletir as luzes da atualidade
cientfica, 30 porm, havia boas intenes com elevado propsto de amor
ao prxmo. O que estaria escrito na pgina que mereceu tanto carinho?
Rafael achou por bem dorrnir em casa, despedindo-se dos amigos por
volta das 24 horas, aps o encerramento das atividades espirituais
no terreiro de Pai Asa Branca. Antes de dormir leu a mensagem, na
presena de sua mezinha. Relatou as experincias da noite, que Carmem
ouviu com grande respeito. Pediu-lhe, em seguida, que guardasse a
referida pgina e ps-se a dormir. 31 u~v ~r Nosso jovem respirava
dentro de uma teia de vibraes antagnicas, e assim o problema se
complicava dia aps dia. Ora perdia o apetite,~ ora tinha fome de
leo. Lbios ressequidos, plpebras intumescidas e dormia pouco. O
sistema nervoso descontrolado, mpetos de agressividade, mente
obnubilada e o corao j assinalava certa disritmia. A alma oscilava
entre a sensao de euforia que a droga proporciona e a dolorosa 32
depresso das horas em que o organismo reclamava a falta dos
estimulantes.
5. Dependncia orgnica e psicOlgca. Nada que pudesse substituir
as efeitos sensacionais e degenerativos do vcio. A essa altura j
estava usando outros aditivos como cocana e at mesmo cOla de
sapateirO. O trabalho de adaptao,superao e reposio qumic do
organsmo ntenso e desgastante. O cOrpo absorve esses elementos
agressivOs dentro de certo lmite de resistncia at um dia. Ningum
viola as leis da natureza mpunernente. QuandO comeava a sentir
dores no corao, recorria a algum tranqilizante e ficava trs ou
quatro dias liberadO. Em seguida o impulso parecia mais forte e
irresistvel. Elvis, seu lder, tnha orientao para esses e outros
casos, exercendo cantrole sobre os rapazes, dos quais, alis,
dependia para o cansumo e distribuio dos produtos. 33 Ele mesmo
usava pouca droga. . Precisava estar lcido para no perder o domnio
da situao. Afinal era chefe de um grupo que no podia ser
dispersado. No ateli ou noutros pontos comearam a surgir diferentes
manifestaes de comportamento. Numa certa ocasio, na chcara de outro
amigo, apareceram dois rapazes viciados que moravam juntos...eram
"casados". Rafael j havia se deparado com homossexuais por vrias
vezes, contudo, ainda no tinha visto situao to extica um casal de
homens. O mal quase sempre atrai e desencadeia outros males. A
promiscuidade nasce de algum desequih'brio aparentemente sem
importncia, assim como o incndio de uma floresta pde ter origem
numa pequenina chama. 34 Na noite em que dormiram todos na mesma
casa, sendo um dos quartos ocupado pelo "casal", Rafael passou
muito mal. Sua alma entrou num vazio insuportvel e a conscincia
ardia que nem fogo. Em plena madrugada resolveu sair sozinho pelo
campo. Onde surgiu uma cancela aberta ele entrou at descobrir um
riacho. gua cristalina a refletir as ltimas estrelas. O vento
fresco da manh constituia refrigrio para sua alma cansada e triste.
Sentou-se numa pedra, e, mergulhando os ps e as mos na gua, lavou o
rosto. Acalmou o corao. Nesse momento lembrou-se de sua me e sentiu
sua falta. Recordou-se da morada e trouxe tela mnemnica recordaes
da infncia e do Colgio. A figura do professor Alexandre surgiu-lhe
na mente de tal forma que lhe abalou o campo emocional e teve ntima
saudade do grande amigo que tantas vezes lhe estendera as mos. 35
Rafael continuava sentado, impassvel. De sbita, levantau os olhos e
viu a sol nascendo par trs do horizonte azul bordado de nuvens
rosadas. O quadra manifestava beleza indescritvel. Em seguida,
porm, ele abaixou a cabea e se mirou no espelho lmpido das guas.
Havia dolorosO contraste entre o sol nascente e sua expresso
facial. - Meu Deus, este sou eu? Envelheci bastante. Estou
desfigurado e feio. Perdi o respeito a mim mesmo - refletia. Vale
assegurar que naquela mesma hora, s cinco e meia da manh, Carmem
estava em prece, projetando vibraes amOrosas aa filho desgarrado.
Na sala de costura, sazinha, segurando um crucfixo, dirigia-se a
Jesus, dizendo em pensamentO; - Senhor, cuida de meu filho. Sei que
tu tens piedade de todas ns e ests sempre a nas proteger, mas, um
corao de me que 37 Mais tarde, voltou e disse Carmem: - Eu havia
esquecido de lhe dizer que conheci uma me que talvez sofra mais que
voc. a me da Telma - Concluiu. - Quem Telma, meu filho?
6. - uma jia que fiquei conhecendo no meio da gandaia. Ela tem
dezoito anos, bonita, gostou de mim e usa droga a dois anos. - Fale
mais da Telma - pediu a genitora. - Bem. Eu estava, semana passada,
no Clube X, numa rodinha de amigos, quando ela chegou e me foi
apresentada. Dali samos os dois para um local onde podamos curtir
uma "viagem". Ela tinha cocana no bolso, e foi nessa que
embarcamos. Dali fomos a um jardim e l descobrimos que nos amvamos.
: Depois fui lev-la em casa. A me me agradeceu e conversamos muito.
Gente fina! - Cuidado, meu filho! O relacionamento de homem com
mulher muito delicado. Mas vou pedir a Deus para que a ' Telma seja
algum a trazer luz ao teu corao. . 38 De repente as dois juntos
podero encontrar a redeno. - isso a, mame! T feliz. Dizendo isso,
Rafael saiu apressado. Os dois toxicomanos, ligados por rnisterosos
laos, encontraram-se vrias vezes. - Telma, eu quero que vac veja um
poema que tenho guardado. Rapidamente fai em casa e trouxe a
mensagem da Preto Velho. Leu-a em vaz alta, mas, para sua decepo,
Telma soltou uma gargalhada e disse: voc acredta nisso? Jesus uma
figura criada pelos relgiosos, assm como as personagens do Walt
Disney. - Tudo bem! Minha me guarda esta pgina cam muito carinho. -
arrematou. O amor entre dois seres com a gua: pode ser pura ou
poluda, cristalina ou lamacenta. Para permanecer pura e saudvel a
gua deve receber tratamento especial em vaso limpo; o amar tambm
pede protea, 39 precisa que o recpiente da alma esteja preparado
contra as investidas da viciao do cime doentio, da maledicncia e d
agressividade. Bonito o relaconamento dos dois, porm era
constantemente perturbado pelo tipo de vida que levavam. Numa
determinada circunstncia, quando ambos conversavam sombra de uma
rvore, Telma quis saber o significado de uma tatuagem que ele
trazia no antebrao esquerdo. - Eu j te disse: um pssaro que
simboliza a liberdade. Tenho pressentimento de que sou uma ave que
ainda vai voar e encontrar o seu ninho bem longe daqui esclareceu.
Liberdade - eis a questo. Todos anseiam ser livres mas so poucos os
que sabem se movimentar no espao do livrearbtrio sem invadir o
terreno alheio e sem violar as leis divinas. A vem a reao da Lei na
forma de sofrimento e deficincias. - Rafaelzinho, - disse a
namorada tenho que ir. Minha me anda muito nervosa e preocupada.
Alis, ela est vindo em nossa direo. Dona Yolanda chegou e disse: -
Telma, vim tua procura porque teu tio Amncio est de frias e se acha
em nossa casa, conforme sabes. Ele pretende viajar de volta amanh
ou depois e deseja tua companhia. Enquanto as duas seguiam andando
pelo jardim, a bondosa genitora continuava o assunto: - Acho que
seria bom passares uma temporada longe daqui. Talvez l, com a
proteo de teus tios, possas ser submetida a algum tratamento
clnico. Que pensas? - ...eu gosto muito do tio Amncio e da tia
Anita, contudo, no queria ficar distante do Rafaelznho. - por pouco
tempo, filha. No faz bem ficarmos muito tempo num s lugar. 41 A
mudana de ambiente e clima traz nov nimo e navas experncias. - Vou
pensar - cancluiu Telma sem ocultar uma certa preocupao. Dia
seguinte Telrna deixava uma carta na residncia de Rafael,
ernbarcando
7. imedatarnente. Posteriormente Rafael ficou sabendo que sua
querida namorada havia partida para uma terra longnqua, sem dizer
quando afinal retornara. Mais tarde foi informado de que a famlia
da moa resolvera mudar de Juz de Fora. O rarnpimenta fo abrupto e
inesperado. 4 amor sempre finca razes na . alma. E uma planta que
na deve ser violentada; por isso Rafael sofreu bastante a falta de
sua confdente, seu amor. A vida prossegue. Meses, anas...altos e
baixos... O rapaz continua na mesma, no obstante receber tanta
ajuda. Cam a passar 42 do tempo a mente desgastava-se e a sade como
um todo se esvolava lentamente, sem que o "paciente" rsvelasse
legtima vontade de recuperao. Alis, a dificuldade maor de libertao
nesses casos reside exatamente no enfraquecmento da vontade.
Entretanto, a luz da esperana nunca se deve apagar. Deus pai que
determina a evoluo de todos os seus filhos. A desgraa de qualquer
criatura se reflete no Universo assim como a felcidade de algum
repercute positivamente no Infinito. Ningum ca sozinho e ningum
sobe sem abrir rastros luminosos em favor de todos. 43
REMINISENCIAS Rafael, a cada dia, mergulhava um pouco mais. Em
casa, sua me representava uma luz alimentada pela f. O
filho-problema tornou-se objeto de suas oraes drias. Conversando
com o esposo ou algum de fora sobre o assunto, ela dizia:
Rafaelzinho no pessoa m; apenas adoeceu. uma doena que torna a
criatura incapaz de reagir favoravelmente. Sozinho, sei que ele se
torna ainda mais debilitado. Debaixo de acusao e censura, busca
compensao de outra 44 forma. Meu filho precisa de muita compreenso
e preces. Em contato com uma vizinha, ela comentou: - Silvano virou
as costas ao filho, afirmando ser incapaz de ajudar; eu, porm,
continuo achando que Rafaelzinho vai se libertar um dia. No sei
quando, mas ele no est nem estar desamparado. Tenho conversado com
outras mes vtimas do mesmo drama. .Algumas esto efetivamente
desesperadas, outras chegam a desejar a morte para o filho. Eu
penso o contrrio: esses rapazes caram em armadilhas e, no dispondo
de foras para se reerguer, tm que ser socorridos. Quem sabe, todos
temos uma parcela de culpa: a sociedade, o Governo, os professores,
os pais. O problema de todos. Em minhas preces tenho recebido a luz
da compreenso. Enquanto Carmem permanecia na residncia ao lado,
dialogando com a amiga, 45 Rafael entrou em casa, abriu a
geladeira, tomou gua e deixou sobre a mesa uma carta. Estava
apressado, por isso, no esperou a me. Momentos depois, Carmem, ao
chegar, verificou a existncia do respectivo envelope. Logo percebeu
tratar-se de carta escrita pelo filho amado. Sentou-se...eram 9 e
meia da manh...Abriu o envelope e leu a missiva. Minha querida me,
beijos. Voc me comove. Penso sempre em voc. Sei do seu sofrimento.
No comeo at pensei que tudo fosse voltar ao normal. No consegui. Eu
tambm tenho sofrido. No desejo a ningum ter a vida que eu levo. As
noites que fico fora de casa so mais tristes. No estou inconsciente
e no sou o filho-rebelde que muita gente acha. Estou escrevendo
para lhe dizer aquilo que pessoalmente no consigo, entende?
Sou
8. 46 traido pelas minhas emoes. Tambm ocorre o seguinte: vejo
nas pessoas um olhar de censura que me constrange e me humilha. Uoc
sabe, s voc sabe que eu no sou o que pensam por a. Sou uma pessoa
que est vivendo uma experincia interessante, fazendo parte de uma
minoria discrmnada pela sociedade hipcrita. Me, no quero faz-la
sofrer ainda mais. Minha presena em casa um espinho no seu corao.
Vou tirar esse espinho, t legal? Hoje decidi afastar-me de casa.
Papai . vai sentir-se aliviado. Claro! E um torto querendo
desentortar os outros. Mesmo assim, fica aqui um abrao pra ele. Se
ele vier pra casa hoje, diga que eu j no estou aqui. Vou morar com
amigos, tentando trabalhar de alguma forma. Preciso de dinheiro
como qualquer ser humano normal. E eu sou normal. Sou produto de
uma mquina diablica - a organizao social hipcrita que os homens
construram. 47 No deixo meu endereo porque ainda no sei precsamente
ande vou ficar. Lugar definitivo sei que no vou ter. Um amigo
anteantem me convidou pra fcar no sto dele. NO dou o endereo porque
l ele mexe com droga e quer que tudo fique em sigilO. Me, no se
preOcupe mais comigo. VOu Me cudar na medida do possvel. Continue
rezando. Qualquer da eu passo aqui. Ah! eu ia esquecendo: diga a
Wilson que eu gosto dele e Csendo seu irmO. Que tambm nO se esquea
de mim. Beijos! Rafaelzinho Carmem leu a carta sem conseguir
cantrolar o pranto. Num gesto de extrema amargura, molhou o papel
carn as prprias lgrimas e depos beijou a assnatura do filho. Fcou
dfcil trabalhar naquela manh. E agora? Encomendas urgentes,
visitas, as almoo a preparar...Wilson ficou de vir almoar com ela
naquele dia. E agora, o que fazer da vda? O espao em volta
tornara-se sombrio. O corao estava despedaado. A f, por instantes,
cedeu lugar a uma total desolao. Em seguida foi ao quarto e
prostrou-se numa poltrona. A casa estava fria que nem um crcere. F
Vinte minutos depois, levantou-se e saIu pelas ruas, sedenta de paz
e alvIo. Na praa mais prxima uma igreja tnha as portas abertas.
Passou pelo jardim que nem uma sombra e, sentindo que trazia no
corao uma grande ferida, adentrou o templo. Dentro, um agradvel
silncio. Havia apenas um pianista ensaiando msicas que seriam
apresentadas logo mais noite em cerimnia de casamento. C 49
dourados e encantadores, quando conheceu e se casou com Silvano. Os
meses de namoro, as promessas de unio e harmonia, as estrelas da
esperana, um palcio de sonhos onde suas almas passariam a viver. Os
ilhos que seriam recebidos e educados com alegria e dedicao.
Qualquer sacrifcio seria superado , pela presena do amor, que um
dia naquela ' mesma greja seria abenoado por um sacerdote do
Evangelho. V'mte anos depois, tudo mudou. Dura realidade. Aps um
lindo da coberto de flores perfumosas, caram as sombras de uma
longa e dolorosa noite. Carmem viajou por aquele mar de recordaes
enquanto vibrava aos seus ouvdos as harmonias do rgo. Naquele amplo
auditrio, ladeado de altares, ela estava sozinha... e sozinha
adormeceu. Mais tarde, por volta de meio-dia, algum lhe toca no
ombro. Era o zelador da so igreja, avisando que as portas seriam
fechadas. Despertou e agradeceu. Enquanto reassumia a normalidade
de sua conscincia, via tudo azul em volta. Mensageiros espirituais
ali estiveram, derramando luminosas ptalas de consolao e amor.
9. Carmem fez uma prece silenciosa e saiu em paz, de volta ao
lar, onde Wilson estaria sua espera. Realmente l estava o rapaz,
porta, conversando agradavelmente com D. Helena - a vizinha amiga.
Aquela senhora, alis, era um arrimo para a alma combalida de
Carmem, nas horas mais difceis. sempre assim. A misericrdia dos Cus
est presente em toda parte. Mesmo quando tudo parece runas cobertas
de trevas; adiante, mos invisveis descortinam horizontes de paz. 51
Wilson e Carmem entraram. Ela relatou o ltimo acontecimento, sem se
alongar. O filho, observando que no havia comida pronta, convidou a
me para almoar fora. Durante duas horas de convvio, Wilson encheu o
corao materno de boas notcias: fora promovido no
emprego...Resolvera casar-se oficialmente com a jovem com quem
convivia h alguns anos...Ganhara uma bolsa para estudar nos Estados
Unidos...e dentro de sete meses Carmem estaria ganhando seu
primeiro neto. Quanto reconforto, meu Deus! Novas e belas paisagens
na longa estrada do destino. Sementes de renovadas alegrias
acabavam de ser plantadas em seu corao. 52 As festinhas dos
primeiros tempos, na casa de Elvis, tinham um colorido que acabou.
Agora tudo aparecia em preto e branco. Ingratido de amigos, antigos
colegas que fingiam no conhec-lo, insegurana e saudades de Telma. A
cena do ltmo encontro borbulhava no espelho de sua memria. Dona
Yolanda chegara a pensar que os dois, se levassem vida saudvel,
formariam um belo casal. 53 Telma, sob forte influncia dos tios,
despediu-se do rapaz friamente, com . esperana de fazer um
tratamento mdico e retornar imediatamente. Nos seus olhos, porm,
havia um brilho diferente que tocou profundamente a alma de Rafael.
- No fique preocupado, meu bem! Meus tios me prometem o melhor
possvel. Tio Eli para mim um segundo pai. Volto breve - concluiu.
Os dois estavam bem naquele momento. Choraram juntos e puderam
refletir um pouco sobre o futuro. Um senso de responsabilidade
movia-lhes o esprito. - S peo uma coisa, Telma, onde voc estiver;
pense em mim. Tenho receio de que a gente no volte a se ver. - Se
eu tivesse essa mesma impresso - respondeu a moa - desistiria de
viajar. Sei que volto. Fique tranqilo. Adeus! Ser que havia
verdadeiro amor naquele relacionamento? Talvez um dia a prpria vida
responda. De quando em quando, o corao de Rafael se enchia de
tristeza e saudade. Pensava: Telma foi a nica mulher que amei nesta
vida. Sua ausncia machuca minha alma. Aps dois meses de convvo ,
separamo-nos pela primeira vez. Sua ausncia di muito. Antes eu no
valorizava tanto 0 sentimento que nos ligava; hoje, porm, sinto o
quanto a sua presena signifca para mim. Quando se perde algo que se
reconhece o real valor. ... talvez ela se recupere e volte pra me
ajudar. Sozinho a caminhada mais difcil... Nosso jovem continuava
conjecturando, enquanto brincava naturalmente com um galho seco
entre as mos. Prosseguia: Sinto-me cada vez mais desamparado e s.
Sei que ningum tem culpa. H mais de uma semana no vejo minha me.
Ela no pode sair minha procura todos os dias. Trabalha muito.
Minhas amsiezades so alimentadas pela droga. 55 dourados e
encantadores, quando conheceu e se casou com Silvano. Os meses de
namoro, as promessas de unio e harmonia, as estrelas da esperana,
um palcio
10. de sonhos onde suas almas passariam a viver. Os ilhos que
seriam recebidos e educados com alegria e dedicao. Qualquer
sacrifcio seria superado , pela presena do amor, que um dia naquela
' mesma greja seria abenoado por um sacerdote do Evangelho. V'mte
anos depois, tudo mudou. Dura realidade. Aps um lindo da coberto de
flores perfumosas, caram as sombras de uma longa e dolorosa noite.
Carmem viajou por aquele mar de recordaes enquanto vibrava aos seus
ouvdos as harmonias do rgo. Naquele amplo auditrio, ladeado de
altares, ela estava sozinha... e sozinha adormeceu. Mais tarde, por
volta de meio-dia, algum lhe toca no ombro. Era o zelador da so
igreja, avisando que as portas seriam fechadas. Despertou e
agradeceu. Enquanto reassumia a normalidade de sua conscincia, via
tudo azul em volta. Mensageiros espirituais ali estiveram,
derramando luminosas ptalas de consolao e amor. Carmem fez uma
prece silenciosa e saiu em paz, de volta ao lar, onde Wilson
estaria sua espera. Realmente l estava o rapaz, porta, conversando
agradavelmente com D. Helena - a vizinha amiga. Aquela senhora,
alis, era um arrimo para a alma combalida de Carmem, nas horas mais
difceis. sempre assim. A misericrdia dos Cus est presente em toda
parte. Mesmo quando tudo parece runas cobertas de trevas; adiante,
mos invisveis descortinam horizontes de paz. 51 Wilson e Carmem
entraram. Ela relatou o ltimo acontecimento, sem se alongar. O
filho, observando que no havia comida pronta, convidou a me para
almoar fora. Durante duas horas de convvio, Wilson encheu o corao
materno de boas notcias: fora promovido no emprego...Resolvera
casar-se oficialmente com a jovem com quem convivia h alguns
anos...Ganhara uma bolsa para estudar nos Estados Unidos...e dentro
de sete meses Carmem estaria ganhando seu primeiro neto. Quanto
reconforto, meu Deus! Novas e belas paisagens na longa estrada do
destino. Sementes de renovadas alegrias acabavam de ser plantadas
em seu corao. 52 As festinhas dos primeiros tempos, na casa de
Elvis, tinham um colorido que acabou. Agora tudo aparecia em preto
e branco. Ingratido de amigos, antigos colegas que fingiam no
conhec-lo, insegurana e saudades de Telma. A cena do ltmo encontro
borbulhava no espelho de sua memria. Dona Yolanda chegara a pensar
que os dois, se levassem vida saudvel, formariam um belo casal. 53
Telma, sob forte influncia dos tios, despediu-se do rapaz
friamente, com . esperana de fazer um tratamento mdico e retornar
imediatamente. Nos seus olhos, porm, havia um brilho diferente que
tocou profundamente a alma de Rafael. - No fique preocupado, meu
bem! Meus tios me prometem o melhor possvel. Tio Eli para mim um
segundo pai. Volto breve - concluiu. Os dois estavam bem naquele
momento. Choraram juntos e puderam refletir um pouco sobre o
futuro. Um senso de responsabilidade movia-lhes o esprito. - S peo
uma coisa, Telma, onde voc estiver; pense em mim. Tenho receio de
que a gente no volte a se ver. - Se eu tivesse essa mesma impresso
- respondeu a moa - desistiria de viajar. Sei que volto. Fique
tranqilo. Adeus! Ser que havia verdadeiro amor naquele
relacionamento? Talvez um dia a prpria vida responda. De quando em
quando, o corao de Rafael se enchia de tristeza e saudade.
11. Pensava: Telma foi a nica mulher que amei nesta vida. Sua
ausncia machuca minha alma. Aps dois meses de convvo , separamo-nos
pela primeira vez. Sua ausncia di muito. Antes eu no valorizava
tanto 0 sentimento que nos ligava; hoje, porm, sinto o quanto a sua
presena signifca para mim. Quando se perde algo que se reconhece o
real valor. ... talvez ela se recupere e volte pra me ajudar.
Sozinho a caminhada mais difcil... Nosso jovem continuava
conjecturando, enquanto brincava naturalmente com um galho seco
entre as mos. Prosseguia: Sinto-me cada vez mais desamparado e s.
Sei que ningum tem culpa. H mais de uma semana no vejo minha me.
Ela no pode sair minha procura todos os dias. Trabalha muito.
Minhas amsiezades so alimentadas pela droga. 55 medida que o tempo
passa percebo maiores dificuldades. corno se eu estivesse andando
num deserto cheio de dunas e pedregulhos, cercado apenas por
miragens. Os amigos me dvertem rnas no me oferecem segurana. Uma
vez rninha me disse que eu seria amparado pelo Cristo. Sinceramente
no acredita. Se isso fosse verdade, ele j teria feito alguma coisa
por mim. Jesus certamente se esqueceu de mim. Tem mais com que se
ocupar. Mais tarde, por volta das vinte e uma horas, Rafael estava
no "stio", em companha de dois jovens com o mesmo drama. Naquela
noite nosso irmo achou que devia "afogar a saudade", e ento injetou
nas veias uma dose excessiva de cocana, Imediatamente entrou em
convulso. Os companheiros puseram-no num carro e deram entrada no
hospital. A crise teria sido fatal se no fosse a habilidade dos
mdicos em planta. 56 Quinze dias internado. Alvio para ele ' e para
a famlia. Carmem continuava esperanosa. Depois que o filho foi
submetido a processos de desintoxicao, mostrava-se renovado e
sereno, embora estivesse sob constante efeito de tranqilizantes.
Nas visitas, Carmem aproveitava para ler mensagens espritas ao lado
de Rafaelzinho. Ela, embora no estivesse ligada a nenhuma
instituio, aprendera a gostar da ; literatura kardequiana. - Filho,
falei hoje com seu pai, e t achamos que voc, logo que receba alta,
deve ir para nossa casa. Que pensa? Rafael, debilitado pelo
sofrimento, aqueesceu ao apelo discreto da me. Semanas agradveis e
tranqilas. Enquanto Carmem costurava; o filho, de mos no bolso ou
tomando caf, ia ouvndo comentrios da me que, medida que passava o
tempo, revelava-se mais serena e mais compreensiva. 56 As fugas
prematuras denotavam as longas noites insones, preocupada com o
paradeiro de Rafaelzinho. Resignara-se finalmente, graas ao
conhecimento assimilado na Doutrina que os Cus puseram em suas mos.
O rapaz ficou 38 dias em casa. O caf e o cgarro acalmavam-Ihe os
mpulsos. noite, o sono era sempre agitado. - Mame, essa noite
sonhei com um "cara" muito simptico- disse certa feita - me
chamando para uma festa. - Filho, embora voc no leve a srio muita
coisa que eu digo, devo esclarecer que esse "cara" certamente algum
que vive do outro lado: um esprto malfeitor, tentando persuadi-lo a
retornar ao ambiente degradado das infelizes criaturas que se
afastaram de Deus. Tome cuidado! No trigsimo nono dia de permanncia
em casa, desentendeu-se com o pai e saiu sem dizer quando
voltava.
12. 58 Na primeira esquina deparou-se com um velho companheiro
de devaneios e aventuras. Dali seguiram para a cidade vizinha de
Trs Rios, onde um trafcante do Rio de Janeiro mantinha um ponto de
vendas. Mais uma armadilha! Rafael foi novamente tragado pelas
sombras. 59 UM 'OP'ho D LUZ Longo perodo de rotina no submundo de
prazeres doentios. Em meio a tanta perturbao e promiscuidade fica
at difcil sonhar. Se no houvesse alguma proteo a nvel espiritual,
tudo seria resumido a lama. Rafael oscilava entre o labirinto
pernicioso e os intervalos de refazimento e repouso ao lado dos
pais. Em casa j havia um estado de aceitao. Nada ou quase nada
podia ser feito. Muitas tentativas com terapias diversas tinham
sido encetadas, sem maiores resultados. A concluso era simples: o
rapaz estava doente. O tratamento exigia a participao decisiva dele
mesmo, entretanto, no se verificava essa disposio. precso pensar
numa orentao preventiva nas escolas antes que problemas dessa ordem
se manifestem, gerando tanto sofrimento no seio das famlias. O
Cristo disse "faz por ti que o Cu ajudar." comentava Carmem,
demonstrando, a essa altura, elevado espirito de compreenso. Rafael
assemelhava-se a folha seca levada pelos ventos para qualquer
lugar. O irmo, que havia conhecido os Estados Unidos, tendo
estudado na Flrida , ultimamente resolveu morar l com mulher e
filhos. Era um bom profissional, o que alis , aumentava o conflito
de Rafael. As pessoas comparavam sempre, de tal forma que, quando o
drogado passava nalgum lugar, algum dzia: l vai o rmo de Wlson. 61
A famlia carregava verdadeiro estigma, e Silvano encontrava nesse
fato motivo para se . ausentar ainda mais, buscando at mesmo
aventuras extraconjugais. Carmem tinha conscincia de tudo, sem se
perturbar. Enquanto o marido aderia s foras sombrias, ela
mergulhava a mente nas claridades da orao. - Confio na bondade
infinita de Deus - exclamava sempre. Um dia, teve duas surpresas:
pela manh, logo cedo, o carteiro lhe trouxe correspondncia de
Wilson: uma linda carta acompanhada de muitas fotografias. Belas e
confortadoras notcias! As fotos evidenciavam tudo que ele dizi~a:
sucesso no trabalho, a esposa aprendia ingls, as crianas estavam
felizes na escola... A providncia Divina sbia. A Lei da Compensao
age em tudo. Ningum sofre sem justo merecimento, mas a misericrdia
dos Cus infinita. tudo feito proporcionalmente. 62 ~ Ningum reclame
nem exija o que talvez no merea. Que cada um procure entender os
desgnios de Deus e agradea ; constantemente. Serlamos todos felzes
se, no pretrito, houvssemos semeado somente as sementes da
felicidade. Isto, porm, no aconteceu com ningum. Pois bem...Apesar
da ausncia de Silvano e Rafael, aquele foi um dia de conforto para
seu esprito at s dezessete horas, quando chegaram sua resdnca dois
guardas de trnsito, informando que seu marido acabara de falecer
num acidente de carro. Noite de muito sofrimento. Ela no admitia
facilmente a hiptese de viver sozinha. Devia mesma carregar a cruz
da saudade at o fim? O filho com quem mantinha laos de afinidade
mudou-se para outro pas. Agora, o companheiro que, apesar das
dificuldades de relacionamento, partia, deixando no seu corao mais
um espinho. 63 Andar pelo deserto das provaes sozinha, isso terrvel
- pensava durante o
13. velrio por toda a noite. Notando que sua f estava sendo
perturbada, procurava reassumir o comando da mente e corrigia: bem,
preciso confiar em Deus e seguir o exemplo de Jesus. Ele dizia que
nos resignssemos porque estaria conosco todos os dias at a consu-
mao dos tempos. Nessa ocasio, orientada por amigos de determinada
instituio, decidiu estudat O Evangelho Segundo o Espiritismo em
casa, uma vez por semana, com a presena de dois casais da
vizinhana. De certa forma, sentia-se agora mais livre para viver
conforme os conceitos do Cristianismo. No da seguinte, porm, a
sensao de vazio era imensa. Sua sade, que no era boa, comeava a dar
sinais preocupantes. Trazia um problema congnito no corao que ,
pouco a pouco, vinha tona. Com a ausncia dos filhos e o falecimento
do marido, sentiu 64 Os irmos do Grupo fizeram-se presentes a todo
momento, deixando no ambiente vibraes de serenidade e paz. O
pequeno ncleo de estudo e orao que j se reunia duas vezes por
semana, mas uma vez revelava-se fonte de renovao e luz. O crculo de
amigos tornou-se mais slido e confvel. Eram pessoas que se
distinguiam pela elevao de sentimentos e nobreza de propsitos. Um
ar de renovao varreu sua rnorada. Quem l estivesse sentia uma
vibrao de paz que parecia emanar das paredes. (r) ftIO DE d10
Rafael passou a freqentar mais a casa da me. No fundo, sentia-se
obrigado a prestar algum apoio mulher que significava o anjo bom de
sua vida. Procurava comparecer aos cultos que l se realizavam. S no
o fazia quando a perturbao se agravava, quando estava fora da
cidade ou quando os amigos o mpediam com seus programas. Rafael,
contudo, havia encontrado certa estabilidade emocional. Estava
manso. 67 As reaes bruscas e volentas, prprias do vcio, j no eram
constantes. Exercia algum controle, embora sua mente continuasse
inquieta e deslocada das noes de tempo e responsabilidade. Ele
tinha qualidades que atraam a admirao das pessoas e lhe amenizavam
o sofrimento. 'Il~do seria pior se o seu corao fosse animado pela
maldade. Felizmente vibrava em seu esprto sentimentos de
honestidade e afeto. O ambiente no havia poludo tanto seu mundo
interior. O pior das drogas acontece quando se misturam com
violncia e assaltos. A crminalidade nos grupos organizados
constitui verdadeira ameaa civilizao. De vez em quando Rafael
viajava ao Rio de Janeiro, onde costumava hospedar-se com um primo,
vtima do mesmo conflito. Em certa ocasio os dois conversavam junto
ao mar, em Ipanema. Era noite. Estavam sbrios. O momento e a
crcunstncia faziamse propcios s melhores reflexes. s As estrelas
davam continuidade ao desfile de lmpadas na grande avenida. o
firmamento, naquelas horas, abria um leque de beleza incomparvel,
um convite de Deus libertao das almas que pululam nas sombras do
erro e da dor. Benito {o primo) , falava das vistas de um pastor
evanglico sua morada, em Botafogo, considerando a necessidade da
converso ao Cristo, enquanto Rafael recordava o exemplo de vida e
os ensinamentos que havia absorvidojunta sua inesquecvel genitora.
Existem, de fato, aqueles que tentam fazer proselitismo com a
ferramenta da palavra e aqueles outros que convencem naturalmente
utilizando apenas a comunicao dos
14. gestos. o exemplo sempre fala mais alto. - Duas pessoas do
sexo feminino marcaram profundamente meu destino afirmava Rafael -
primeiro, uma moa 69 chamada Telma que conheci h muitos anos, a
outra minha me. Telma tinha doura na voz e na alma. Namoramos
durante um perodo muito atribulado de minha vida. Eu c - Voc sente
saudades? - perguntou Benito. - Claro! - respondeu deixando rolar
duas lgrimas. - Mudemos de assunto - sugeriu o primo. - Ok! Estou
pensando atualmente em fazer uma psicoterapia. Talvez tenha que me
internar. Minha me vive praticamente s , entre a costura e as
atividades espirituais de , um grupo que resolveu constituir em
casa. E pessoa que soube transpor grandes obstculos o e est de p,
demonstrando muita dignidade. ! Seu jeito de viver mexe muito com a
minha , : conscincia. - Tenho ponderado ultimamente prosseguiu
Rafael - Imagine que ela resolveu me oferecer a penso que meu pai
deixou, limitando-se ao pequeno rendimento das confeces que vende.
Essa situao desconfortante para mim. Em princpio, eu aceitei "numa
boa". Era exatamente o que me faltava para sobreviver sem o
constrangmento de ter que vender maconha ou cocana. Digo
constrangimento porque esse comrcio sempre me deixou arrasado.
Felizmente nunca induzi ningurn ao vcio. As pessoas que me
procuravam j estavam em viagem. Nunca ofereci carona a quem no
estivesse bera da estrada. Benito silenciou. Nada disse a respeito,
sentindo-se talvez desautorizado pela prpria conscincia. O relgio
assinalava vinte e uma horas. As guas do Atlntico refletiam, em
graciosas cintilaes, a claridade da lua. Agradvel clima de harmonia
dominava a paisagem. Benito, normalmente desligado das questes
espirituais, foi tocado pela magia do momento e pousou o olhar
quase imvel nos montes distantes. Do lado espritual mensageiros
abnegados trabalhavam silenciosamente, no sentido de despertar
aquelas conscincias. Naquela noite chegaram cedo em casa.
Indescritvel necessidade de descansar o corpo e a alma dominou-lhes
sutilmente. Dia seguinte, o pastor da Igreja Batista, que costumava
visitar famlias em Botafogo, foi surpreendido pela presena, no
templo, dos jovens transviados. Durante a cerimnia, conquanto no
estivessem acessveis quele tipo de doutrinao, receberam ajuda
espiritual, tendo sido pacificados pela harmonia dos 72 cnticos. O
ambiente de alegria com a fe participao de muitos jovens transmitia
otimismo e f. Mais uma experincia edificante. Mais um estmulo
renovao sob a bno de Deus. e A vida, porm, no dia-a-dia voltou
praticamente rotina de sempre. O txico costuma produzir uma sensao
de euforia intercalada de vazios dolorosos e insuportveis. Tudo se
torna sem base e sem horizontes. Felizmente, Rafael estava em
processo de recuperao, embora continuasse dependente. Faltava-lhe
fora interior para assumir postura de real lbertao. Mas, sonhava
com essa oportunidade, predispondo-se lentamente ao auxlio dos
verdadeiros amigos que no haviam se afastado totalmente. Durante a
temporada de quinze dias na "cidade maravilhosa", pode ir duas
vezes 73 referda igreja. A me do Bento era evanglica. Quando,
finalmente, retornou a Juiz de
15. Fora, apresentava nova aura, levando assuntos novos para
comentar no grupo de Carmem. O pastor havia injetado em sua mente
lies e dvidas. Aquela foi a mais proveitosa viagem ao Ro. Momentos
marcantes vnham baila, nas suas reflexes. Diferentes estrelas
brilhavam no seu caminho. 74 DOLOROSk SUS Nosso irmo contava trinta
e cinco anos de idade quando, ao regressar do convvio dos parentes,
no Rio, decidiu morar definitivamente com a me. J no usava drogas
"pesadas". Somente maconha, discretamente. Carmem sabia, mas isso
no era motivo de preocupao. O problema j havia estado muito pior. -
Meu filho est bem, graas a Deus! suspirava contente. Agora ele
precisa cuidar especialmente da sade. 75 referida igreja. A me do
Benito era, evanglica. Quando, finalmente, retornou a Juiz de Fora,
apresentava nova aura, levando assuntos novos para comentar no
grupo de Carmem. O pastor havia injetado em sua mente lies e
dvidas. Aquela foi a mais proveitosa viagem ao Rio. Momentos
marcantes vinham baila, nas suas reflexes. Diferentes estrelas
brilhavam no seu caminho. .ra Nosso irmo contava trinta e cinco
anos de idade quando, ao regressar do convvio dos parentes, no Rio,
decidiu morar definitivamente com a me. J no usava drogas
"pesadas". Somente maconha, discretamente. Carmem sabia, mas isso
no era motivo de preocupao. O problema j havia estado muito pior. -
Meu filho est bem, graas a Deus! suspirava cantente. Agora ele
precisa cudar especialrnente da sade. 75 De fato , Rafael no andava
be As seqelas incomodavam bastante taquicardia, insnia, tontura e
uma lcera qu havia sdo detectada pelos mdicos. Para alegria geral,
Rafael, agora era ' homem, passando a colaborar com a me n produo e
venda da confeco. Jamais houve tanta tranqilidad naquela casa.
Carmem estava feliz. As velhas amizades do filho desapareceram. As
ameaas, tambm. Companheros novos surgiam aqui e ali, trazendo novas
oportunidades e diferentes assuntos. A vida sempre oferece impulsos
de renovao. Trs meses depois do seu retorno ao lar, ocorreu
desagradvel surpresa. Oh! meu Deus. Por volta das 22 horas chegaram
dois policais, cumprimentaram Carmem, que ainda estava acordada, e
invadiram a casa procurando Rafael Medeiro. Traziam intimao da
Justia. 76 Vasculharam a casa at que a suspeita fosse confirmada:
ao lado da cama onde Rafael se encontrava deitado, havia um armrio
guardando pacotinhos da "erva"... As explicaes de Carmem no
alteraram a ao dos agentes. Rafael foi imediatamente algemado,
conduzido delegacia e levado para a priso. O processo vinha da
capital carioca, de modo que a situao se tornava bastante
complicada. Se tudo dependesse das autoridades locais, a questo
seria resolvida facilmente, tendo em vista os contatos de amizade
que Carmem pde fazer, abrindo caminhos; porm, se a ordem procedia
do Rio, a coisa ganhava outra proporo. Dia seguinte ficou
esclarecido que Rafael andou se envolvendo com traficantes daquela
cidade, e acabou sendo denunciado por um deles, quando soube que o
companheiro de Juiz de Fora resolvera abdicar do
16. uso e comrcio das produtos. Tratava-se, poi de uma vingana.
Rafael passou a ser visto como "ovelha negra", traidor. Naqueles
das o primo Benito, sob mesma acusao estava foragido. A "organizao"
trabalha na sombra, fazendo todas as manobras para garantir o poder
sobre todos os elementos vinculados. Depois de seis dias de
providncias junto aos amigos da famlia, Carmem conseguiu, graas a
um advogado, que o filho cumprisse pena em Juiz de Fora mesmo, sob
a alegao de ser ru primrio. Muita investigao, porm, teria que ser
feita, antes de qualquer sentena. Certamente se fosse possvel
constituir bons advagados, o caso seria logo resolvido; entretanto,
tudo ia depender da boa vantade de um e de outro. O flagrante era
evidente. O homem fora encontrado com droga. Pacincia! 78 mas, Na
segunda noite de crcere, Rafael, so numa cela sombria e
malcheirosa, viu-se violentado pela prpria vida, e, curtindo
extrema amargura, sozinho como nunca, levou as mos ao rosto e
chorou, chorou copiosarnente. Num instante, pensou em se destruir.
o suicdio no sera dfcil, porm , ao mesmo tempo lembrava-se dos
ensinamentos esprtas, e expulsou a idia nfeliz. Suicdio significa
mergulhar voluntariamente num poo de sofrimentos inimaginveis.
Estando mais calmo, elevou o pensamento e desabafou: Por qu,
Jesus?! Pensei que meu sofrimento estivesse no fim, quando tudo se
renova a ponto de me deixar ,' perturbado e deprimido. Jamais me
senti to abandonado e s. No vejo uma mo que me possa levantar, uma
palavra que me reconforte, uma luz no fundo do tnel. Parece que o
tnel de meu destino no tem fundo . nem luz. 79 Exausto e abatido,
inclinou a cabea e adormeceu. Em seguida, fora do corpo fsico,
percebeu algum se aproximar com semblante de compaixo , e dizer:
"Calma, filho. Ningum est desamparado. Ora e confia. O amor cobre
multido de pecados." O mensageiro espiritual, querendo dar nfase ao
que dizia, tocou com a destra a fronte de Rafael e prosseguiu: -
Seu esforo na estrada da reabilitao, depois de tantos desvios e'
quedas, tem sido observado com respeito e carinho. Aqueles que
perseveram no Bem, acabam por merecer a coroa das alegrias e da
paz. Filho, resigna-te, aproveitando o imprevisto desta hora para
exercitar a humildade e a f. A vontade Divina funciona
infalivelmente acima de todos os cdigos e estatutos humanos. Em
todo o percurso da existncia o Cristo luz que orienta e reconforta!
so t O cenrio recendia indizvel beleza. Por instantes, o querido
presidirio desejou no retornar ao corpo. Melhor seria permanecer
definitivamente nesse lado luminoso e puro da vida. ` Mais tarde,
contudo, Rafael despertou com o eco daquela voz paternal na acstica
de sua alma. Levantou bem disposto e saiu para cumprimentar
fraternalmente os outros detentos - indivduos que tambm carregavam
' dificuldades e provaes. No dcimo quinto dia, tendo sensibilizado
policiais e delegados, recebeu alvar de soltura. Mais um momento de
lgrimas quando teve que se despedir dos companheiros. No fundo,
gostaria que aquela liberdade fosse para todos. Carmem e mais um
casal amigo j estavam sua espera na portaria da priso, e
17. dali partiram rumo a uma fazenda onde o seu si grupo
pretendia festejar com um almoo a liberdade de Rafael. - Voc um
vitorioso! Parabns! Voc va vencer sernpre! Estamos felzes com seu
exemplo! - todos exclamavam, desejosos de envolver o irmo nas
melhores vibraes de : entusiasmo e alegria. Antes da refeio, Rafael
banhou-se e rnudou de roupa. Algum fez questo de lhe oferecer uma
linda camisa, o que motivou palavras de admirao e jbilo. O sol
voltou a brilhar. Graas a Deus! No dia mediato todos estavam
reunidos para as atividades habituais na residncia de Rafael e
Carmem. Alis, Tina l permanecia; era quem arrumava a sala. Naquela
noite, enquanto os companheiros do Plano Fsico dialogavam
harmoniosamente, na Esfera Espiritual, ali mesmo, Entidades amigas
formavam outro crculo de orao e palestra. 82 i a Em dado momento
nosso companheiro Andr, irradando bondade e sabedoria, c comentou:
eu "O problema da educao no mundo ~e muito srio. Os profissionais e
estudiosos ~e dessa rea precisam fazer profunda e urgente reviso de
conceitos e atitudes. e Na faixa etria entre catorze e vinte e e um
anos, o esprito encarnado vivencia uma stuao pscolgca muto especfca
, caracterizada pelos impulsos precipitados de contestao e pela
nsia de liberdade. Entram em erupo foras latentes, exigindo
controle e compreenso para que as energias sejam, dentro do
possvel, canalizadas convenientemente. Observem que exatamente
nessa fase que a criatura corre os maiores riscos no campo das
manifestaes diversas, exteriorizando idias e sentimentos sem a
necessra ponderao. 83 O que ocorre com os pensamentos qu saltam
desgovernados, tambm se verifica com os impulsos da sexualidade.
Educao o tema fundamental nesse momento de definio e busca em que o
esprito se v pressionado no desencontro do velho com o novo. A
sensao que o jovem carrega nesse perodo a de quem est sendo
agredido por velhas e antiquadas estruturas. Geralmente os adultos,
mesmo nstru- ' dos e bem formados, precisam envidar grandes esforos
para mergulhar na alma verde da mocidade e compreender-Ihe as
aspiraes e os sonhos, as fraquezas e os mpetos, a nexpernca e a
sede de renovao. Essa uma travessia difcil da existncia humana. A
ponte pnsil pela qual todos passam. Cercear a lberdade dessas
mentes equivale a prender urn pssaro em gaiola em 84 plena
floresta. A floresta o mundo; a gaiola , a opresso. Convm no
esquecer que essa gaiola frgil e , portanto, pode a qualquer
momento ser destruda. Adolescentes e jovens devem ser orientados
com afeto, e nunca com animosdade. Educao trabalho de pacincia e
amor. O encerramento da reunio no Plano Espiritual coincidiu com a
prece no desfecho das atividades na residncia amiga. 85 D Ul LUZ O
ltimo acontecimento na vida de Rafael gerou comentrios impiedosos.
Elej no se senta vontade em Juiz de
18. Fora. As portas lhe pareciam fechadas. Desgostou-se da
cidade. Mesmo assim, relutava em deixar a me. Tentou um e outro
emprego, mas no se adaptava. Depois de muitas experincias,
deliberou ir para Niteri. L certamente receberia apoio da famlia de
Evandro... Jovem que fora salvo pela sua iniciativa, h 8 alguns
anos. Ainda guardava o cartozinho que o filho de Dr. Hilrio Cunha
lhe dera. Soube que Wilson desejava retornar ao Brasil, fixando
residncia l mesmo em Juiz de Fora, e isso lhe deixava contente. -
Preciso ficar algum tempo longe daqui - pensava - Cada esquina
desta cidade me traz recordaes que precisam ser apagadas. O
sofrimento que a priso lhe imps foi necessrio para que deixasse
definitivamente o vcio. gua fluidificada e passes constituiam o
tratamento a que se submetia , substituindo certos alopticos,
causadores de efeitos colaterais. Contudo, precisava agora
encontrar seu verdadeiro caminho, ou melhor, tomar um rumo com mais
segurana. Passado algum tampo, Rafael escreveu uma carta ao Dr.
Hilrio, expondo suas intenes e, tendo chegado a resposta, deliberou
viajar. Carmem e os demas elementos do Grupo concordaram com a
iniciativa. Certamente noutra cidade, noutra paisagem, noutro
clima, a situao poderia melhorar. Rafael no tinha condio psicolgica
para continuar em sua terra natal. Perdera o nimo de prosseguir
tentando emprego, mesmo porque havia um estigma que ele no podia
ocultar, por mais que demonstrasse esprito de sincera renovao. De
certo modo continuava marginali zado. Chegando residncia do Dr.
Hilrio Cunha, foi recebido calorosamente. Havia nos coraes profundo
sentimento de gratido para com o visitante. Faamos um retrocesso:
Evandro fugiu de casa. Estava na boca do fumo, iludido por um
motoqueiro, quando Rafael chegou. Era garoto de apenas dezesseis
anos, muito influencivel. A figura do motoqueiro significava forte
atrativo. Alegria, festa, farra, rock, namoradas, ~ curtio, baguna,
aventuras, liberdade - tudo sso, na performance de um playboy,
consegue despertar a admirao da moada que ainda no tem os ps no
cho. Nessas horas descortinam-se sonhos que logo se transformam em
pesadelo. Rafael viu o "artista" e teve pena do menino ingnuo que
vinha de garupa, pronto para experimentar o baseado. J estava de
cabea feita. A essa altura o filho de Carmem j tinha conscincia de
tudo, lutando consigo mesmo para transpor a barreira das sombras.
Embora o primeiro passo no pudesse ser evitado, Rafael passou horas
conversando com Evandro, tentando demov-lo das idias da turma.
Tarefa difcil, entretanto, conseguu marcar um encontro no dia
seguinte e ento as trevas foram dissipadas. Afinal, Rafael falava
com a fora de quem conhece e vivencia o problema. Evandro ouvia
tudo com ateno e respeito. 89 Claro que Rafael corria risco de se
apanhado como traidor; porm, em dad ` momento, era incontrolvel o
seu desejo d fazer o bem. Posteriormente teve tambm o cuidado de
telefonar aos pais de Evandro, e depois foi ter com eles
pessoalmente. Aquele trabalho, encetado nas caladas da noite, em
ambiente de degradao, resultou positvamente - uma alma foi
socorrida a tempo. Agora a vida fechava um ciclo...seu reencontro
com Evandro, regenerado e tranqilo, dava-se em nvel superior.
Felizmente o rapazinho soube trocar as prazeres fictcios e doentios
de algumas
19. horas por um estado de permanente e saudvel alegra. Naquela
noite Rafael foi utilizado pelo Plano Superior. Chegava ao ponto de
sugestionar o interlocutor claramente: "Seja forte! 90 ter No caia
nessa armadilha. As luzes da fantasia logo se apagam. Existem
outras formas de prazer, que no danificam o corpo nem a mente. o
Veja meu exemplo. Hoje sou uma pessoa doente. Estou aqui porque
ainda no encontrei a porta de sada. Depois que se criam vnculos,
tudo fica mais difcil. Voc, que ainda no entrou nesse castelo de
loucos, fique fora. Depois que estamos dentro as portas se fecham.
A droga ilude e mata. um fruto venenoso." Valeu o esforo. Hoje,
Rafael estendia as mos, pedindo ajuda famlia de Evandro, sendo
recebido como amigo. Depois do jantar, contando, inclusive com a
presena do rapaz, que acabara de chegar da Universidade onde fazia
o ltimo ano de medicina, o dono da casa chamou Rafael varanda do
apartamento e disse: 91 - Voc vai pernoitar hoje aqui, e amanh deve
seguir para um albergue onde ser admitido na condio de funcionrio.
Conversei com seus diretores, amigos nossos, e concordaram com o
meu pedido. Falei do seu passado, de suas experincias de vida.
Vamos l. Espero que voc se adapte ao trabalho que lhe espera e seja
bem sucedido. A informao foi ouvida com humildade e alegria. Dia
seguinte, Rafael, logo cedo, era apresentado pelo amigo ao pessoal
da referida instituio. Tudo bem. O entrosamento se fez imediato.
Pela primeira vez na vida Rafael sentia-se efetivamente til. A cada
ms, aproveitando um final de semana , tomava um nibus e visitava a
mezinha. Qualquer profisso digna abre horizontes ao esprito.
Qualquer trabalho 92 desenvolvdo com amor fonte de experincias
edficantes. Rafael ficou nesse albergue durante trs anos. Todas as
semanas conversava com Dr. Hilrio, que ali estava em dia
determinado, prestando assistncia gratuita. No havia ficado livre
completamente das seqelas. Sofria tontura em certos momentos; o
crebro parecia no funcionar bem. Alguma nuvem lhe impregnara os
neurnios. Alm disso, doa-lhe o estmago quando se alimentava sem
maiores cuidados. Entendendo-se com o Dr. Hilrio, foi orientado a
fazer um tratamento em clinica ' especializada, em Porto Alegre.
Havera despesas, porm, Rafael tnha possibilidades. No espao de
trinta e ses meses depositou suas economias em Caderneta de
Poupana. Assim, sem i delongas, pediu demisso, j que no pretendia
continuar no mesmo emprego, e ' seguiu para Juiz de Fora. Passados
dez dias , 93 fez as malas e embarcou, levando toda orientao
possvel do bom amigo, Dr. Hilrio. A temporada de trabalho em Niter
foi muito positiva. A disciplina de horrios a que no estava
habituado, o cumprimento de obrigaes dirias em regime de pacincia e
perseverana, o servio de muitas horas com mquinas datilogrficas,
visita a bancos e reparties diversas - tudo isso contribuiu para o
amadurecimento de sua
20. personalidade. Nosso estimado irmo atraiu de centenas de
pessoas, de vrias procedncias, as melhores vibraes de smpatia e
gratido. Portanto, levava consigo um crdito espiritual e novo nimo.
Por inmeras vezes teve que levantar noite para hospedar pessoas ou
famlias carentes. Era todo um servio de recepo, orientao e acomodao
que transcendia os limites profissionais, passando a exigir
sentimentos de abnegao e altrusmo. 94 Naquelas horas, quando
surgiam problemas mais delicados, Rafael lembravase de Carmem que,
de longe, continuava orando pelo filho. Aqueles trs anos, sem
dvida, faram at agora, o melhor trecho de sua camnhada pelo mundo.
* Porto Alegre. Cidade lmpa e bonita. Cultura e costumes diferentes
das outras que at ento conhecia. Ele, contudo, estava sozinho, mais
uma vez s. No conhecia nngum naquele mundo de prdias e jardins.
Enquanto o taxi o conduzia do aeroporto para o hotel e depois para
a casa de sade, onde um mdico amigo do Dr. Hilrio Cunha j estava
sua espera, seus olhos contemplavam as avenidas. Tudo era novo. No
sabia at quando ficaria naquele lugar. Era certo que o seu
tratamento demandava tempo, mas que tempo? Alguma ` surpresa? A
sade sofreria alguma complicao? 95 Misterioso pressentimento lhe
constrangia o esprito, embora estivesse reanimado pela f. Tudo iria
correr bem, com a protea de Deus - pensava. - Meu Jesus, por que
mais uma vez eu me vejo s? Cidade grande, lange de minha terra,
nenhum parente nem amigo... Ia pensando e olhando as ruas, quando
finalmente o veculo parou defronte ao hospital. Tinha pressa em
conhecer o local onde seria internado. Entrou, perguntou ao
funcionrio da recepo pelo mdico que estava sua espera, sendo
informado de que deveria aguardar ali mesmo. Dr. Epifnio chegaria
dentro de poucos minutos. Aps os primeiros entendimentos com o novo
personagem de sua histria , ele seguiu para o pequeno hotel da
periferia. A nternao estava marcada para oto dias depois. - Fazer o
qu durante esse tempo? perguntava a si mesmo. 9s No dia imediato
saiu andando pelas ruas, at se deparar com uma livraria. Entrou e
logo viu que se tratava de livros espritas. Alegrou-se
profundamente com o atendimento fraterno que uma senhora de nome
Vera lhe prestou. Conversaram bastante durante algum tempo, foi
informado sobre dias e horrios das reunies pblicas da federao
local, adquiriu meia dzia de livros e despediu-se com luminoso
sorriso. Teria finalmente o que fazer nas horas vagas. A leitura
talvez seja o melhor passatempo. Relaxa e instrui. A boa leitura
revigora o esprito. Dois dias depois Rafael comparece sesso pblica
da instituio, recomendada, e, para sua surpresa, D. Vera
encontrava-se porta recepcionando os visitantes. Aproveitando vinte
minutos que faltavam para o incio das atividades, voltaram a
conversar. 97 - A senhora minha primeira amiga e, por enquanto, a
nica aqui em Porto Alegre declarou com respeto e simpatia. - Muito
obrigada! Ns todos pertencemos a uma s famlia. Somos filhos de
Deus, sendo que a nossa verdadeira morada o Universo. Quero que o
senhor no se snta em terra estranha. Quando ocorrer a sua internao
para o tratamento previsto, eu e meu esposo iremos visit-lo. Fique
tranqilo - completou D. Vera com natural alegra.
21. Iniciada a reunio, aps uma prece , algum leu do Evangelio
Segundo o Espiritismo, a seguinte pgina: A pacinca Q A dor uma bnco
que Deus envia a seus eleitos; no vos afljas, pois , quando
sofrerdes; antes, bendizei de Deus onipotente que, pela dor, neste
mundo, vos marcou para a glria no cu. Sede pacientes. A pacncia
tambm uma caridade e deveis praticar a lei de caridade ensinada
pelo Cristo, enviado de Deus. A caridade que consiste na esmola
dada aos pobres a mais fcil de todas. Outra h porm, muito mais
penosa e, conseqentemente, muto mais meritria: a de perdoarmos aos
que Deus colocou em nosso caminho para serem instrumentos do nosso
sofrer e para nos porem prova a pacincia. A vida difcil, bem eu se.
Compe se de mil nadas, que so outras tantas picadas de alfinetes,
mas que acabam por ferir. Se, porm, atentarmos nos deveres que nos
so impostos, nas consolaes e compensaes que, por outro lado
recebemos, havemos de reconhecer que so as bnos muito mais
numerosas do que as dores. O fardo parece menos pesado, quando se
olha para o alto, do que quando se curva para a terra a fronte.
Coragem, amigos! Tendes no Cristo o vosso modelo. Mais sofreu ele
do que qualquer de vs e nada tinha de que se penitenciar, ao passo
que vs tendes de expiar o vosso passado e de vos fortalecer para o
futuro. Sede, pos, pacientes. Sede cristos. Essa palavra resume
tudo. - Um Esprito amigo. ( Havre, 1862.) Veio em seguida belssima
explanao em torno da leitura - o que facilitou melhor entendimento
por parte da platia. Na sada, Rafael, ao despedir-se de D. Vera e
outros companheiros, disse inesperadamente: - Tenho ntida impresso
que estou entrando em novo ciclo de experincias. Acho que minha
vida vai tomar novo rumo a partir desta viagem. No sei sincramente
se volto ou quando volto para Minas Gerais, mas a verdade que algo
novo desponta no meu destino; espero que isto ainda no seja minha
desencarnao. Gostaria de ficar mais tempo neste mundo. Preciso
corrigir erros e crescer para o Bem. - Concluiu. o Belos e
proveitosos foram os dias que antecederam sua ida para o hosptal.
Passeio, cinema, visita a obras beneficentes, caminhada pelo
parque, leitura e reunies de ' palestra na federao. Saber
aproveitar o tempo demonstrao de inteligncia. Em tudo nosso Rafael
demonstrava boa vontade. Nisto residia a base de sua recuperao. Os
bloqueios mentais e o problema estomacal provavelmente seriam
resolvidos. Questo de tempo e pacincia. A casa de sade que iria
receb-lo era especializada em doenas neurolgicas. Dr. Epifnio fazia
regresses e procurava tratar o inconsciente das pessoas. Tnha que
confar no futuro. Quando procurava fazer uma retrospectiva em sua
existncia, percebia uma oculta proteo, A evoluo uma senda de
tristezas e alegrias. Importante mesmo no desanimar. o No hospital
psiquitrico tudo corria bem. Os primeros dias dexavam a melhor
impresso possvel. Dr. Epifnio e a enfermeira Clia Maria eram
pessoas visivelmente educadas, o que predispunha os pacientes s
tcncas de tratamento e recuperao. Rafael ficou sabendo que seria
submetdo a uma gsicoterapia com base em medicamento homeoptico,
alimentao adequada, banhos e exerccio fsico. 102
22. O ambiente do hospital refletia o mais avanado pensamento
mdico: higiene, msica, aparelhagem moderna e pessoal realmente
habilitado para lidar com enfermos. Os pacientes de uma casa de
sade no so ratos inteligentes, passveis de experincias sem maiores
cuidados; so almas que , acima de tudo, precisam de apoio,
compreenso, dilogo e afeto. Muitas vezes a pessoa tem que reagir a
um estmulo agradvel , abrindo os refolhos do psiquismo aos agentes
da terapia indicada. Mdicos, enfermeiros e terapeutas de todas as
reas, deveriam se colocar como instrumentos dos Mensageiros
Espirituais, de cuja esfera procede o melhor remdio para qualquer
mal. Rafael estava contente. Novas amizades surgiam em sua vida
atribulada. Cada corao amigo representava mais uma luz no cu
pardacento de seu destino. Quem sabe, um dia o espao estaria todo
iluminado! 103 A leitura diria e a conversao edificante, a msica
selecionada e as visitas simpticas contribuam para o xito do
tratamento. Nosso amigo aprendera a cultivar a orao. Todas as
manhs, aps o banho habitual, juntava-se a outros companheiros para
orar e meditar. Assim, tudo se renovava nas energias do bem.
Passados quarenta dias, Dr. Epifnio, auxiliado por outros mdicos,
constatou que a cura no caso de Rafael, seria na ordem de 70% , ou
seja, ele no ficaria completamente restabelecido. Muitos neurnios
haviam sido destrudos pelos entorpecentes e narcticos. Abrindo-se
um intervalo no tratamento neurolgico, Dr. Epifnio encaminhou seu
paciente a outro hospital, onde seria provavelmente submetido a uma
cirurgia. Rafael ficaria pouco tempo l, o suficiente aos exames de
praxe, possvel interveno e ao repouso necessrio. 104 Confirmado.
lcera gstrica, devendo ser extirpada mediante operao norrnal.
Doloroso pressentimento dominou-lhe o corao. Um certo medo. Crurgia
no ' estmago sempre coisa preocupante. Por mais que os mdicos
tentassem acalm-lo, nosso rmo sentia-se deprimido e receoso. Algo
estava pra acontecer. A ausncia da mame doa-lhe na alma. No dia
aprazado , quando Rafael j~se encontrava na mesa de operao, por um
momento o mdico saiu e entrou a anestesista para os servios
iniciais de assepsa. Quando a mulher, irradiando simpatia,
cumprimentou o paciente e comeou a desempacotar um rolo de algodo,
fez-se imvel de repente e aproximou-se para ver de perto uma marca
que o homem trazia no brao esquerdo. Era uma tatuagem na forma de
pssaro. Ficou lvida e atnita; fechando os olhos, franziu a testa e
fixou o homem. Soltando a resprao que se lhe represava no peito,
perguntou: - voc Rafael Medero? O paciente, tentando contralar a
forte emoo do momento, contemplou a moa de cima a baixo e respondeu
queima roupa: - Sim, Telma! Que surpresa! Eu sou aquele que jamais
esqueceu voc. Um misto de alegria e pavor invadiulhes o corao.
Rafael no tinha corno articular outras palavras. Telma, igualmente,
empalideceu e retirou-se do recinto, buscando l fora um pouco de ar
lvre, onde pudesse respirar e coordenar ~idias e sentimentos. O
cirurgio, percebendo que algo estranho havia acontecido com a
anestesista, seguiu-lhe os passos at o instante em que Telma,
ernocionada e trmula, disse o que
23. se passava, justificando sua impossibilidade quanto ao
trabalho do momento. Dr. Renato imediatamente foi ter com Rafael,
ambos conversaram durante dez minutos, e a cirurgia teve que ser
adiada. Rafael, de fato, no tinha a mnima condo de sofrer aquela
interveno. O imprevisto abalou inclusive a alma do mdico que passou
a semana comentando o assunto. Mais tarde, aps desabafar com uma
coleg, Telma foi visitar Rafael, que a esperava com luminosa e
tmida expresso de felcdade. Ah! o mesmo sorriso, a mesma doura na
vaz, a rnesma alma, talvez pronta a preencher o vazio que Rafael
mantinha no corao h tanta tempo. Depois de agradvel e emocianada
conversa, descobriram que nada absolutamente impedia a reencontra
afetivo dos dois. noite, estando em prece, nosso Rafael exclamou
com o pensamento na luz da alegria: Senhor, j no estou sozinho!
Reencontramo-nos, ela e eu. Mos invisveis se incumbiram de religar
nossas almas. Vda nova...Abenoa, Senhor, nossas vidas! Uma semana
depois, o noivo de Telma j estava operado e passanda bem. A emoo da
inesperada felicidade transformara-se em suaves energias de paz,
capazes at rnesmo de ajudar na cicatrizao das fissuras. Mais oito
dias, teve alta, retornando ao tratamento neuropsiquico, com Dr.
Epifnio, onde continuaria em repouso. Curiosamente o mdico
constatou que Telma era o navo e excelente remdo que faltava ao
querido paciente. O prognstico j podia ser outro: 95% de recuperao
no quadro geral. Passa o tempo. Rafael no pensava em voltar para
Minas. No havia razo, at porque o casamento j estava marcado.
Corria o ms de dezembro de 1992, quando ambos andavam
providenciando apartamento para morar. c uma prece com a presena de
seus pais e amgos. As alegrias teriam sido maiores se Carmern
pudesse estar presente. No foi possvel. Seu problema cardaco
agravara-se ultmamente. A lua de mel aconteceu no litoral
paranaense . Praias, sol, vida nova sob a Bno de Deus! A passagem
de Telma pelas drogas foi curta; Felizmente recebeu socorro da
famlia, por sso no guardava seqelas; apenas recordaes desagradveis,
ou melhor, experincias que lhe ajudaram a compreender o mundo e a
ser mais prudente no dia-a-dia. As conseqncias so proporcionais ao
tempo de uso e ao tipo de droga. A simples experincia que os moos
so levados a ter, constitui perigo. Por que arriscar? Esse
verdadeiramente um risco de vida. uo O mal no precisa ser
experienciado intencionalmente. O mal sempre prejudicial. Se outros
j fizeram a experincia e constataram a negatividade da coisa,
tornamse desnecessrias novas tentativas. O fogo queima. Ponto
passivo. Ser preciso algum meter a mo em brasas ou em chamas para
acreditar que ele queima e destri? O mesmo acontece em relao s
drogas. Os jovens maduros, ou seja, mais inteligentes, no entram
nessa onda. Maioria falso critrio. Tudo aquilo que facilmente
x`a..:' atrai muita gente destitudo de legtimo valor, embora a dor
tambm ensine e desperte. ; Todo adolescente precisa ter muito
cuidado com o instinto de imitao. c esto nesse vcio so infelizes.
Houve urna hora, nos primeiros dias de relacionamento, em que
Rafael e Telma resolveram comentar o passado. Um exame de
conscincia que serviu inclusive para
24. tirar concluses sobre as fraquezas e possbildades do ser
humano num mundo que exige vigilncia e orao, conforme recornendou o
Divino Mestre. O prazer sensrio das drogas ilusrio e prejudical. Na
verdade trata-se de um veneno capaz de destruir pessoas, famlias e
povos. Alis, esse um dos maiores problemas da atualdade mundal.
Autntico flagelo... Vale lembrar que a perturbao proveniente do
vco, desencadeia outros problemas, como assaltos, seqestros,
estupros, mortes e toda sorte de violencia. A situao gravssima. At
o presente momento milhares de pessoas morreram tragicamente,
outras esto encarceradas, outras lesadas e muitas internadas em
manicmios. 112 O mal maior do que se imagina. A salvao est no
Evangelho - o maior e mais perfeito compndio de educao que nos foi
dado conhecer. At mesmo nas religies a droga tem atuado. Existem
seitas adotando ervas alucingenas, sob o pretexto de desenvolver a
sensibilidade espiritual. Mentira! Na realidade, a droga apenas
agua os sentidos, excitando o psiquismo, atravs de reaes qumicas no
crebro, levando a conscincia a estados alterados e provocando
paralelamente depresso e dependncia. Os governantes do mundo
inteiro deveriam se reunir mais em congressos e ; conferncias para
discutir e deliberar sobre esse mal que se alastra por toda parte,
arrastando adolescentes e jovens ao pntano da desgraa. Referimo-nos
aqui aos chefes de ! nao, mas, na realidade, o combate deve partir
de todos: religiosos, professores, 113 polticos, pais, estudantes,
lderes e cidados de todos os seguimentos da sociedade. preciso que
se diga que muita gente vem sendo alvo de investida das trevas que,
nos ltimos tempos, se organizaram com o propsito de desencadear o
mal em larga escala atravs do sexo e da droga. O comrcio
clandestino dessas substncias tem crescido assustadoramente, entre
vrios pases, envolvendo autoridades de diferentes nveis. A ambio
gera uma espcie de cegueira que acaba impedindo o homem de enxergar
a realidade. Uns usam a droga pelo prazer de entrar em estados
alterados, experienciando fantasias e alucinaes; outros
comercializam o produto pelo prazer de ganhar dinheiro fcil, mesmo
perdendo a dignidade. A civilizao vem sendo, aos poucos, destruda
pelo prprio homem. Este o quadro atual. 114 Se, portanto, os
prprios habitantes da Terra no tomaram nem tomam providncia
decisiva diante desse e de outros males, chegar o momento em que a
Lei Divina far prevalecer a sua fora e a sua vontade, acionando
mecanismos de sofrimento coletivo para que assim a humanidade
desperte e reassuma seu destino de trabalho e entendimento,
progresso, educao e paz. Vejam quem tem olhos de ver, ouam quem tem
ouvidos de ouvir - assim dizia Jesus. i15 o OCULTO L em Juiz de
Fora, nossa querida Carmem prosseguia com os trabalhos do Grupo.
Dele participavam professores, mdicos, donas de casa, comercirios
pessoas simples, unidas pelo mesmo ideal de vida. As reunies se
realzavam em clima
25. de muita espiritualidade. Essa era a tnca principal.
Leitura, comentrios e passes com amor e alegria. 116 Em verdade,
aquela residncia havia se transformado em verdadeiro posto de
assistncia espiritual. De quando em quando seus membros visitavam
instituies beneficentes, levando aos coraes necessitados o auxlio
que se fizesse possvel. O propsito era aprender e servir. Um dia
compareceu determinado casal ao Culto de Evangelho, desejoso de
falar com Rafael. Morava noutra cidade e no sabia da ausncia do
nosso amigo. Haviam se conhecido num dos momentos mais difceis da
vida, numa roda de drogados, em noite de devaneios e perturbao.
Embora Rafael estivesse na mesma faixa de viciao, dignou-se chamar
o casal parte e falar das suas experincias e concluses a respeito
de tudo que vinha fazendo ao longo do tempo. Falava como se no
fosse dependente. Naquela altura chegou mesmo a confessar: ` -
Olha, gente, eu entrei numa "canoa furada". Todos que esto nessa
onda perdem o controle da prpria vida. Somos marionetes , joguetes
das sombras, conforme diz minha me... Por incrvel que parea, o
rapaz passou cerca de quarenta minutos tentando convencer o casal a
deixar as drogas, prometendo fazer o mesmo. Rafael era assim. Havia
tanta sinceridade em suas palavras, que conseguiu atingir a alma
dos interlocutores, deixando marcas para posteriores reflexes. O
casal visitante concluiu seu relato, dizendo: - Felizmente estvamos
h pouco tempo naquela situao, influenciados por amigos que,
certamente, queram companheiros. 118 Doutra feita - prosseguiram -
falou-nos de sua me e das oraes que fazia em casa. Anotou nossos
nomes que seriam entregues a este grupo, prometendo ajuda
espiritual. Felizmente nossa libertao foi imediata, tudo se
iluminou em nossas vidas, de modo que recentemente, passados alguns
anos, decidimos procurar Rafael para agradecer. Guardvamos conosco
seu endereo, e foi com essa inteno que viemos aqu hoje completaram.
Essa explanao foi feita antes da reunio. Rafael no estava presente,
mas a irm Carmem e rnais alguns elementos do crculo puderam ouvir o
emocionante relato. Ficaram de ligar depois para o casal Rafael e
Telma. Em seguida foram convidados a participar dos estudos, que
teriam incio imediatamente, com aplcao de passes a pessoas
necessitadas. 119 Belssimo trabalho! Perfeito entrosa- mento entre
os dois Planos da vida. O grupo da tia Carmem - conforme passou a
sar identificado -, era um ponto de luz na cidade, uma fonte de paz
e refazimento para os coraes necessitados e sensveis. Casos como
aquele registrado antes da reunio, chegavam constantemente ao
conhecimento dos amigos que Rafael deixara em Juz de Fora. * Na
capital gacha os dois agora se mobilizavam para vsitar a querda
cidade mineira - objeto de muitas e marcantes recordaes.
Coincidindo perodos de frias, dois anos depois do matrimnio,
arrumaram as malas e embarcaram de avio para o Rio de Janeiro. De l
seguiriam de taxi com destino
26. terra natal. Assim aconteceu. 2 As alegras da chegada no
foram mais expressivas porque a irm Carmem estava enferma; as dores
no peito provocadas pela angina tornaram-se preocupantes. Na vspera
tivera que ser hospitalizada, mas tudo estava sob controle, as
mdicas que cuidavam do caso eram dos melhores, graas a Deus! Dez
dias de emoa... O contato com . velhos amigos, o reencontr com o
professor Alexandre, as sesses no Grupo de ta Carmem - tudo
representava motivo de saudades e alegrias. Passado algum tempo, as
passagens de volta tiveram que ser remarcadas, vez que o problema
no hospital se agravou. Era justo permanecer na cidade enquanto
fosse preciso. Nas sucessivas visitas que fizeram querida me no
hospital, tudo parecia voltar ao normal, contudo, a enfermidade
avanava sorrateiramente. - Voltemos a ver mame. - Vamos l. 121 -
Primeiro liguemos para o mdico. Talvez ele no permita. Ela entrou
num estado de muita complicao de ontem para hoje. Tendo feto a lgao
telefnca, os dois foram ter com a estimada Carrnem que, apesar do
sofrimento, mantinha-se serena e confiante. A visita tem que ser
rpida! - avisou o mdico - ela no pode fazer nenhum esforo. - Ok! -
Ol mame, tudo bem? - cumprimentou Rafael. - Graas a Deus! -
respondeu a paciente que, alis, naquela manh estava gozando de
visvel melhora. Passados alguns minutos, quando o casal ensaiava
retirar-se, Carmem segurou nas mos do filho e disse: - Escuta. Numa
das gavetas de minha cmoda, no quarto, deixei um livro. Presente
para vocs. Dentro desse livro, uma mensagem que h muito tempo voc
me pedu que guardasse. Estou devolvendo. Falando assim, em tom
muito baixo, a enferma desatou leve sorriso e fechou os olhos.
Estava cansada. Retornaram para casa debaixo de dolorosa
expectativa. Uma hora depois, Rafael corre ao telefone. Chamada do
hospital... Conversa breve... Monosslabos... Sua me acabava de
deixar o corpo fsco, seguindo naturalmente para uma vida melhar,
bem melhor. Dia seguinte, aps o funeral, que transcorreu em
atmosfera de harmonia e prece, fai decdido pelos filhos e noras que
o ncleo de trabalhos espirituas fundado por "tia" Carmem deveria
prosseguir normalmente. A casa passaria a pertencer legalmente ao
grupo. Rafael e Telma, antes de viajar, lembraram-se do livro a que
a mame fizera referncia no ltimo contato. 123 Era o Evangelho de
Jesus, numa primorosa encadernao. ` De posse do rico presente,
foram at janela que se achava aberta para um imenso cu azul. Dentro
do precioso livro, a pgina de i que Rafael j no se lembrava. Junto,
um retrato seu que tambm tinha sido guardado ' com muito carinho.
Indescritvel emoo! Enquanto Telma beijava a foto amarelada pelo
tempo, o esposo querido, com voz quase embargada, passou a ler o
poema que dizia:
27. Uma noite eu tive um sanho... Sonhei que estava andando
numa praia com o Senhor. No firmamento passavam cenas de minha
vida. , Em cada momento de minha histria ; percebi que eram
deixados dois pares de pegada.s na areia: um era o meu e o outro,
do Mestre. Que bam! Ele andava ao meu lado. I Quando a rltima cena
passou, olhei para trs e via as pegadas na areia. Notei 125 porm
que muitas vezes, no caminho da minha vida, havia apenas a marca de
dois ps. Observei tambm que sso aconteceu nos momentos mais difceis
e angustiosos da minha vida, Fiquei profundamente aborrecido. A
perguntei ao Senhor: - Mestre, tu me disseste que se eu resolvesse
te seguir, Tu andarias sempre comigo na longa estrada do destino.
Contudo, notei que durante as maiores atribulaes que sofri havia
apenas um par de pegadas na areia. No compreendo por que nas horas
em que eu mais necessitava de ti, tu me deixaste sozinho. O grande
Amigo me olhou com ternura e respondeu: - Meu querido filho,
,jamais eu te deixaria nas horas de prova e de sofrimento. Quando
viste, na areia, apenas a marca de dois ps, era dos meus. Nos
trechos mais dificeis eu te carreguei nos bracos. 126 LivROS DA
LlVREE BOA VIDA Jos Grosso e Cornlio Fires O MUNDO DE FRANCISCO DE
ASSIS Tagore e Damano GROS DE AMOR Tagore e Romanelli NOVAS LUZES
Andr Luiz e Hilrio Silva NOTCIAS DO CRISTO Diversos Espiritos
MINUTOS DE LUZ Pastorno BOA IDIA Pastorino UM MINUTO COM JESUS
Pastorino EXPANSO Andr Luiz ALM DAS ESTRELAS Tagore CONFERNCIAS
ESPRITAS NA EUROPA Ariston S. Teles O MDIUM DOM BOSCO Ariston S.
Teles PGINAS DO COTIDIANO Hilrio Silva PLENTTUDE Chiang-Ching
CARTILHA DA MEDIUMDADE Damiano ... E O SOL VOLTOU A BRILHAR
Petrucio Pedidos LIVREE - Livros Espritas Editora Caixa Postal 7610
- CEP 73001-970 Sobradinho - DF - Brasil Tel./Fax: (061) 327-2202
327-2290