Do abrigo ao acolhimento:
importância do vínculo nos
cuidados institucionais “Msc.” Dirce Barroso França
Psicóloga
Do abrigo ao acolhimento: importância do vínculo nos cuidados institucionais
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Do abrigo ao acolhimento: importância do vínculo nos cuidados institucionais
"Msc". Dirce Barroso França
Psicóloga
Presidente do Instituto Berço da Cidadania
www.bercodacidadania.org.br
Do abrigo ao acolhimento: importância do vínculo nos cuidados institucionais
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INTRODUÇÃO
A designação da medida protetiva prevista no artigo 101 do ECA tem sido
alterada ao longo dos anos: de orfanato, para abrigo e deste para entidade de acolhimento.
A alteração reflete, no primeiro caso, o reconhecimento quanto ao fato de que a maioria
das crianças e adolescentes que ali viviam não era órfã, mas que, ao contrário tinha
família. Por sua vez, esse reconhecimento permitiu que se deixasse de ignorar a realidade
dessas famílias e, pouco a pouco, se dessa ênfase à necessidade imperiosa de promover
ações que permitissem o retorno à mesma. Desta forma, a tônica dos discursos sobre o
tema passou a ser na importância do trabalho de investimento na família de origem (ou
natural, como se encontra designado na Lei 12.010/99). Dessa mudança de perspectiva
resultou o Plano Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária que enuncia, dentre
suas diretrizes: (1) a centralidade da família nas políticas públicas; (2) a primazia da
responsabilidade do Estado no fomento de políticas integradas de apoio à família e
(3) o reconhecimento das competências da família na sua organização interna e na
superação de suas dificuldades.
Com o advento da Lei 12.010/99, equivocadamente denominada pela imprensa
como “nova lei da adoção”, vez que se trata, antes de tudo de uma lei cujo propósito,
enunciado em seu artigo primeiro é o de aperfeiçoar a garantia do direito à convivência
familiar (a adoção sendo uma das possibilidades de se garantir esse direito), mas
ressaltando no parágrafo único daquele mesmo artigo que: “a intervenção estatal será
prioritariamente voltada para a orientação, apoio e promoção social da família natural”,
vemos surgir no horizonte uma nova designação para os antigos “orfanatos” ou, mais
recentemene, “abrigos”. Para além de uma simples mudança de nomes, que implicações
práticas poderão advir deste fato? Esta a reflexão que gostaria de propor no presente
texto.
Tenho sempre procurado trazer ao debate minha preocupação quanto à
construção do espaço institucional como espaço de proteção e tenho defendido em todos
os momentos que a proteção preconizada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente para
ser efetiva, apóia-se na qualidade do vínculo estabelecido entre profissional e criança.
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Proponho-me, então, a demonstrar que a mudança do termo abrigo para entidade
de acolhimento, com ênfase no segundo elemento do termo, qual seja, no
acolhimento, poderá nos servir como ponto de partida para mudanças concretas na
qualidade do atendimento ofertado por essas instituições.
Ao se utilizar o termo abrigo, a primeira noção que nos vêm à mente refere-se à
dimensão física deste espaço. De acordo com Antônio Houaiss, a primeira acepção do
termo é “local que serve para abrigar”. Apenas por extensão ou figurativamente, o termo
assume a acepção de “tudo aquilo que possa significar amparo ou acolhimento”.
Já em referência ao termo acolhimento, que é o ato ou efeito de acolher e
proteger, a ênfase recai imediatamente no reconhecimento da existência de dois sujeitos:
um que acolhe e ou outro que é acolhido. Portanto, saímos da dimensão espacial, para
valorizarmos a dimensão relacional que se estabelece entre os sujeitos.
Para que um ser venha a se constituir como humano é imprescindível que um
outro ser humano dele se ocupe. É sabido que, de todos os animais, somos nós, os
humanos, os mais dependentes e frágeis. Dependemos de um outro que cuide de nós e
não apenas no que se refere às nossas necessidades básicas para sobrevivência, como na
alimentação. Precisamos de um outro que nos ame, que conosco estabeleça um forte
vínculo. Esse vínculo é como um fio que nos mantém firmemente atados à vida. Para
todos nós, humanos, em qualquer idade, essa é uma realidade. Mas é uma realidade ainda
mais significativa e verdadeira nos primeiros anos de vida. Quanto mais nova a criança,
tanto mais esse fato se impõe, pois, do ponto de vista emocional e psíquico, os primeiros
anos de vida são o fundamento para todo o desenvolvimento posterior. Será pelas
experiências nesses primeiros tempos e em estreita relação com um adulto que a criança
configurará uma auto-imagem, estabelecerá as bases para futuras vinculações afetivas,
definirá seus mecanismos de defesa preferenciais, enfim se organizará psiquicamente.
Se temos a sorte de contar com esse forte vínculo nos primeiros tempos da vida,
isso nos capacita a suportar melhor as dificuldades e percalços que a vida nos impõe.
Tecnicamente denominamos essa capacidade de resiliência, ou capacidade de resistir.
Ora, a realidade das entidades de acolhimento nos coloca a tarefa de lidarmos com
crianças que, ou muito cedo perderam essa vinculação primária, ou se tratava de vínculo
marcado pela fragilidade ou inadequação.
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A garantia de que a entidade de acolhimento, em suas várias modalidades (casa
de passagem; casa-lar; abrigo institucional para pequenos grupos;) opere
efetivamente como um espaço de proteção, requer que se dê especial atenção à qualidade
do vínculo entre profissional e criança. Uma das tarefas fundamentais no âmbito da
entidade de acolhimento, senão a mais fundamental delas, é a de possibilitar o
estabelecimento desse vínculo que permitirá à criança aumentar a sua resiliência.
Para que se possa compreender a riqueza e complexidade das operações psíquicas
que estão na base desse vínculo, será preciso que recuemos um pouco e possamos atentar
para os processos de maturação e desenvolvimento presentes a partir do primeiro dia de
vida. Após esse breve passeio por algumas noções básicas sobre o desenvolvimento
infantil e a importância do adulto nesse processo, retomaremos a especificidade de nosso
tema para pensarmos nos procedimentos a serem adotados nas entidades de acolhimento
de modo a garantir a qualidade dos cuidados nesses espaços institucionais. Diversos
pesquisadores contribuíram para nossa compreensão acerca desse tema, mas creio que
cabe destacar as contribuições que René Spitz e John Bowlby trouxeram a este tema.
A CONTRIBUIÇÃO DE RENÉ SPITZ1
“O primeiro ano de vida é o período mais plástico no desenvolvimento humano. Nunca
mais na vida tanto será aprendido em tão pouco tempo.”2
René Spitz, cujas observações do comportamento infantil antecedem a teorização de
Bowlby, ao descrever como o recém-nascido tem êxito na extraordinária tarefa de dar
sentido ao universo caótico de impressões sensoriais às quais se encontra submetido,
apresenta fatores que são de âmbito interno ao bebê e fatores que são ambientais.
1 René Spitz (1887-1974), foi, talvez, o pioneiro na utilização da observação direta como modo de
investigação em psicanálise. Suas refinadas observações que se tornam sistemáticas a partir de
1935, permitiram-lhe demonstrar “como o crescimento e o desenvolvimento do setor psicológico
são essencialmente dependentes do estabelecimento e progressivo desdodramento das relações
objetais, cada vez mais significativas, isto é das relações sociais” (O primeiro ano de vida, São
Paulo- Martins Fontes, 2ª Ed. 1998)
2 2 Spitz, R. op.cit- pg 109
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Os fatores internos relacionam-se, fundamentalmente, à existência de uma
barreira de estímulo que, por si, protege o recém-nascido da maior parte dos
estímulos aos quais estamos submetidos. O processo mental de entrada de estímulos
desenvolve-se gradualmente, em relação direta com a capacidade de maturação da criança
para a ação voluntária
Os fatores ambientais relacionam-se, essencialmente, ao adulto de referência que
promove os cuidados primários (em geral, mas não necessariamente, a mãe). Por um lado,
esse cuidador primário, cria um ambiente que protege o bebê fisicamente para que este
não seja sobrecarregado com estímulos de qualquer espécie. Por outro, em acréscimo à
proteção oferecida contra os estímulos externos, a mãe permite também a descarga dos
estímulos internos representados pela fome, frio, desconforto por estar molhado, por meio
de ações eficazes (alimentar, cobrir para proteger do frio, trocar a fralda, etc).
Spitz, em conclusão a este tópico, afirma:
“ Sem dúvida, o fator mais importante para tornar a criança capaz de construir
gradualmente uma imagem coerente de seu mundo advém da reciprocidade entre mãe e
filho. [..] Esta forma muito especial de interação cria para o bebê um mundo exclusivo
que é bem dele, com um clima emocional específico. É este ciclo de ação e reação que
torna o bebê capaz de transformar gradualmente os estímulos sem significado em signos
significativos”3
O apaziguamento das tensões- provocadas tanto pelos estímulos internos quanto
pelos externos- é condição essencial para a expansão das fronteiras de ação do bebê.
Gradualmente o bebê torna-se cada vez menos reativo e mais ativo. Spitz distingue
diferentes estágios no desenvolvimento psíquico e social, cada um representando um
estágio superior ao do estágio antecedente. Sem nos alongarmos demasiado na descrição
desses estágios4, podemos dizer que o bebê evolui de uma condição na qual termos como
eu e outro não fazem qualquer sentido, pois não há diferenciação entre o mundo interno e
o externo e que é designado por estágio pré-objetal, para um estágio onde o outro, como
3 Spitz, R. op.cit- pg 43
4 Para aprofundamento sobre o tema, imprescindível a leitura da obra básica de Spitz
anteriormente citada.
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alguém externo e independente do bebê se encontra inteiramente consolidado -
estágio objetal.
Embora a idade com que a criança passa pelas diferentes etapas de
desenvolvimento varie, a sequência de aparecimento dessas diversas etapas ou estágios
não varia e cada estágio apresenta uma série especifica de problemas e desafios para a
criança. É importante levar em conta que os momentos de transição de um estágio a outro
são especialmente delicados, pois nessas transições o bebê está começando a exercer
novas competências que ainda não estão de todo consolidadas, sua organização psíquica
ainda é instável e a exposição a condições adversas nesses momentos pode trazer
conseqüências permanentes.
No ambiente familiar, onde a mãe ocupa-se de um bebê a cada vez e as
condições para a adequada sintonia entre os dois são mais favoráveis, torna-se mais fácil
ao adulto reagir de modo sensível às mudanças apresentadas pelo bebê à medida de seu
desenvolvimento. No ambiente de cuidados coletivos, como é o caso das entidades de
acolhimento, os profissionais deverão apoiar sua sensibilidade no conhecimento sobre os
diferentes estágios- levando em conta não apenas as manifestações típicas dos mesmos-
mas também os desafios com os quais o bebê está lidando e as possíveis conseqüências
negativas que mudanças ambientais aleatórias e arbitrárias podem ter sobre o bem-estar e
desenvolvimento da criança. Por essa razão, é importante levar em conta que:
“Modificações no ambiente que, para o adulto são pouco importantes, podem exercer
profunda influência no bebê, com sérias conseqüências que podem levar até a
patologia”5.
Conhecedor dessas características do desenvolvimento infantil, o profissional
responsável pelos cuidados à criança em medida protetiva, deverá buscar uma relativa
padronização dos cuidados que permita ao bebê desenvolver a noção de continuidade de
seu ser6, que lhe será dada na interação com o adulto. É por esta razão que nos casos em
que diferentes profissionais se ocuparão do bebê, o ideal é que se fixem turnos de
5 Spitz, R. op cit.pg 117
6 Aqui temos em referência os trabalhos de Donald Winnicott sobre a experiência de si como um
ser em continuidade
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trabalho de modo a reduzir os efeitos da variação de estilos entre os
profissionais e permitir que a criança vá estabelecendo ritmos e padrões de
acordo com o profissional. Desta forma, se na entidade de acolhimento a educadora X
sempre está pelas manhãs, respondendo pelos cuidados que são dispensados nesse
período do dia e a educadora Y responde pelo turno da tarde com as suas rotinas
específicas, torna-se mais fácil para o bebê prever e organizar os estímulos que recebe
dessas diferentes profissionais. Em ponto posterior deste texto, no qual abordaremos a
contribuição de Emmi Pikler para a provisão de cuidados de qualidade nas entidades de
acolhimento, este e outros aspectos serão apreciados.
Spitz foi o primeiro a dar importância aos efeitos, que podem ser desvastadores
e irreversíveis, da ausência ou insuficiência de cuidados de qualidade nos primeiros anos
de vida. No que se refere à inadequação da relação mãe-bebê, ele distingue seis
categorias:
1. Rejeição primária manifesta;
2. Superpermissividade ansiosa primária;
3. Hostilidade disfarçada em ansiedade;
4. Oscilação entre mimo e hostilidade;
5. Oscilação cíclica de humor da mãe;
6. Hostilidade conscientemente compensada
De modo bastante aguçado, Spitz relaciona reações físicas e distúrbios comuns
do bebê (cólicas, alergias, inapetência, distúrbios do sono) às modalidades de relação
estabelecidas pela mãe7.
7 O que nos permite colocar Spitz como um dos precursores da abordagem psicossomática. Para
citar apenas um dos autores contemporâneos mais destacados no campo das desordens
psicossomáticas- Léon Kreisler-, vemos em sua obra , a seguinte declaração ao falar das crianças
mais afetadas por graves distúrbios psicossomáticos: “ Essas personalidades mal-organizadas
resultam quer de condições afetivas defeituosas, contínuas e prolongadas- a permanência de
uma relação vazia- quer de circunstâncias marcadas pela descontinuidade. Esta remete às
rupturas reiteradas da relação entre a criança e sua família”- in A nova criança da desordem
psicossomática , São Paulo, Casa do Psicólogo, 1999- (pg. 17),
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Embora o autor tenha feito referência à possibilidade de inadequação relacional
da mãe com seu bebê, tornou-se muito mais conhecida a sua análise sobre os
efeitos da institucionalização ou, de modo específico, da hospitalização prolongada de
bebês, onde estes eram afastados da mãe e recebiam cuidados de uma profissional. Spitz
descreveu os efeitos sobre as crianças submetidas a cuidados impessoais que deixam a
criança na condição de privação ou carência afetiva, pelo termo hospitalismo. Foi a partir
da observação de 91 bebês criados em uma instituição (A Casa da Criança Abandonada)
que Spitz pôde descrever os efeitos da privação de cuidados de qualidade- vale dizer, com
tonalidade afetiva positiva e em quantidade adequada às necessidades do bebê. Nessa
instituição os bebês eram amamentados até o 3º mês de vida por suas próprias mães ou,
na impossibilidade destas, por mães substitutas. O desenvolvimento físico e emocional
desses bebês, até os 3 meses, era compatível com o da população em geral. Mas, após
esses 3 meses, o cenário de cuidados mudava dramaticamente. A descrição que nos faz
Spitz é desoladora:
A Casa da Criança Abandonada era fria e deserta, com exceção do momento em que
as enfermeiras vinham alimentar os bebês. A esse quadro, deve-se acrescentar uma
prática peculiar: para manter as crianças quietas, as enfermeiras penduravam
lençois ou cobertas sobre as grades dos pés e dos lados de cada berço, ocultando
efetivamente a criança do mundo e de todos os outros cubículos, confinando-a,
deixando visível apenas o teto. Como consequência, os bebês permaneciam deitados
de costas por muitos meses. Formava-se uma concavidade nos colchões e essas
crianças eram incapazes de se virar para fora delas, enquanto bebês normais se
viram para os lados por volta dos seis meses (op cit pp 31)
Acrescenta-se a esse quadro, a quase total ausência de contato físico mesmo nos
momentos da alimentação, pois:
Inevitavelmente, usava-se o recurso da mamadeira fixada no berço e que permitia
que a criança se alimentasse privada do contato físico com a cuidadora (op.cit pp
30)
Depois de separadas de suas mães, as crianças passavam por uma fase de
retraimento, perda de peso, insônia e maior susceptibilidade a resfriados. O choro
presente no início desse quadro era substituído pela rigidez da expressão facial, o rosto
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frio e imóvel e um olhar distante como se estivessem em estado de estupor e
com acentuada dificuldade de contato. Com o decorrer dos meses, esse quadro
agravava-se e as crianças apresentavam atraso motor evidente, tornando-se inteiramente
passivas. Todas as crianças apresentaram declínio progressivo do desenvolvimento e ao
fim do segundo ano, a média de seus quocientes ficava em torno de 45% do normal.
As observações de Spitz constituíram-se em base firme sobre a qual outros pesquisadores
puderam prosseguir e aprofundar nossa compreensão sobre os efeitos da qualidade da
vinculação. Dentre esses autores, destaca-se John Bowlby, do qual falaremos a seguir
CONTRIBUIÇÕES DE JOHN BOWLBY
Interessado particularmente nas conseqüências das rupturas do vínculo entre bebê e seus
pais nos casos de hospitalização prolongada, morte ou institucionalizações, John Bowlby
identifica em suas obras dedicadas ao apego8 a criança como ser social, cuja necessidade
primordial é estar em relação com o outro. De acordo com Bowlby, o apego é decorrente
de um programa inato presente em todos os primatas e que tem por função aumentar as
chances de proteção e de sobrevivência do recém-nascido. Essa proteção baseia-se
essencialmente na proximidade física e no contato entre mãe (ou a figura que ocupe essa
função materna) e bebê nos primeiros anos de vida.
Se esse esquema de proteção- cuja base é o apego, ou vínculo- não se desenvolve bem,
graus variados de distúrbios psíquicos e mesmo físicos podem advir. A característica
principal das crianças que sofreram carência ou privação nesse vínculo primordial, é de
ter uma capacidade muito reduzida de respostas adequadas, tanto no plano social quanto
no plano emocional.
Em 1950 John Bowlby coordenou uma pesquisa de alcance mundial, a pedido a
Organização Mundial de Saúde, sobre as necessidades das crianças sem lar. A relevância
do tema ressalta-se quando consideramos a condição dramática de centenas de milhares
de crianças órfãs em decorrência da II Guerra Mundial. O sofrimento dessas pequenas
vítimas da guerra exige que se adotem procedimentos visando minorar os danos que os
8 Bowlby, J. – Apego e perda: vol 1- A natureza do vínculo; vol 2: Angústia e raiva; vol 3: luto – São
Paulo- Ed.Martins Fontes, 3ª Ed. 2002
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conflitos dos adultos lhes impõem. Como um desdobramento daquela pesquisa
inicial, decidiu-se investigar também aspectos do problema relacionado à saúde
mental.
Diversos países participaram da pesquisa: França, Holanda, Suécia, Suiça, Reino Unido e
os Estados Unidos. A despeito da ampla variedade de pesquisadores e da independência
com que conduziam suas pesquisas, foi notável o grau de concordância em seus
resultados que deixaram claro que, “quando uma criança é privada dos cuidados
maternos, seu desenvolvimento sempre é retardado- física, intelectual e socialmente- e
podem aparecer sintomas de doença física e mental”9 E, ainda mais grave, os estudos de
acompanhamento longitudinal demonstraram que em alguns casos os danos mostraram-se
irreversíveis. Fatores como a idade da criança, a duração da separação e, especialmente, o
grau de privação, são determinantes nos efeitos sobre a criança, tanto em grau, quanto em
sua persistência. Como regra geral, Bowlby nos adverte que “em primeiro lugar, temos
que reconhecer que separar da mãe uma criança de menos de três anos é coisa muito
séria, que só deve ser empreendida por boas e sólidas razões e, quando realizada, deve ser
planejada com grande cuidado” (op.cit pp 8).
Perturbações no vínculo de apego nos primeiros anos de vida têm sido relacionadas,
desde o final dos anos 30, ao desenvolvimento de crianças com baixa capacidade de
resposta social adequada, trazendo implicações no que concerne à aceitação das regras e
princípios morais. Em outros termos, constatou-se com freqüência que: “ crianças que
cometeram diversos crimes, que pareciam não ter nenhum sentimento por ninguém e com
as quais eram muito difícil lidar, tinham tido um relacionamento profundamente
perturbado com a mãe nos primeiros anos de vida. O roubo contumaz, a violência, o
egotismo e a má conduta sexual, são algumas das características menos agradáveis”
(op.cit. p.27)
Em observação realizada diretamente por John Bowlby, este conclui que:
Nos últimos anos, examinei cerca de dezesseis casos de delinqüentes
reincidentes, incapazes de afetividade, e apenas dois deles não tinham uma história de
separação prolongada. Em todos os demais casos havia ocorrido uma grave cisão nas
9 Bowlby, J.- Cuidados maternos e saúde mental- São Paulo, Ed. Martins Fontes, 2002, pg. 12
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relações mãe-filho durante os primeiros três anos de vida, e esta tinha se
tornado um ladrão contumaz (op. cit p. 31)
Toda a literatura científica sobre o tema nos leva a concluir, sem qualquer dúvida, sobre
os efeitos negativos de longa duração, talvez mesmo irreversíveis, da privação ou
carência em relação aos cuidados maternos. Contudo, o que fazer naqueles casos em que,
precisamente aquela ou aqueles que deveriam ser fonte de segurança se tornam o
principal fator de ameaça à criança? Como suprir a função estruturante que, em geral, se
encontra associada à mãe? Essa resposta, será no modelo de atendimento promovido pelo
Instituto Lóczy, em Budapeste, que a encontraremos.
EMMI PIKLER E O INSTITUTO LÓCZY
Diante do quadro descrito acima, não há que se duvidar quanto à importância de se
investir toda nossa atenção à qualidade do vínculo que se estabelece na instituição, pois
será a partir desse que os traumas porventura já sofridos poderão ser elaborados ou,
lamentavelmente, agravados.
Em 1946 foi criado em Budapeste uma instituição para cuidados a crianças afastadas de
suas famílias que se tornou modelo para o mundo, graças à qualidade dos cuidados que
ali se alcançou. Sua idealizadora foi a pediatra Emmi Pikler, cuja profunda confiança na
capacidade e no potencial criativo da criança, desde que lhe fossem dadas as condições
adequadas ao seu pleno desenvolvimento, norteou toda a concepção de funcionamento da
instituição10.
10 Em 1968 a OMS realizou pesquisa com 100 jovens (entre 13 e 22 anos) que foram acolhidos em
Lóczy no primeiro ano de vida. Em nenhum dos indicadores (nível de escolaridade; sucesso
profissional; autonomia; capacidade de estabelecer relações afetivas duradouras; capacidade de
exercerem papéis parentais) esses adultos tiveram resultados significativamente diferentes que
adultos criados exclusivamente em suas famílias. No Brasil, não temos pesquisa com este escopo.
As trajetórias de vida que temos acompanhado nos levariam a arriscar que os resultados dos ex-
abrigados mostrariam dramáticas diferenças. Essa a dura realidade que cabe a todos nós
procurar modificar!
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As condições essenciais ao bom desenvolvimento da criança são (1)
estabelecimento de uma relação afetiva de qualidade com a criança e (2)
propiciar-lhe as condições para explorar livremente, tanto o mundo como a si mesmo, de
acordo com seus interesses e seu ritmo. Essas duas condições se conjugam e se
complementam. A criança, para poder explorar o mundo de forma criativa e autônoma,
deve experimentar uma relação afetiva com um adulto de referência. É isso que lhe
possibilitará uma disponibilidade interna para explorar o mundo. Havendo atenção para
essas condições, as chances de que a criança venha a se organizar de forma autônoma,
confiante e saudável são maiores.
Embora se devam reconhecer especificidades culturais da realidade da Hungria, a
experiência desenvolvida naquela instituição desde 1946 pode nos ser muito valiosa para
transformarmos nossas instituições de acolhimento em verdadeiros espaços de proteção.
O que a experiência de Lóczy nos ensina é que é possível um abrigo ser organizado de
uma forma tal que, apesar da ausência da mãe, a criança possa desenvolver-se física e
psiquicamente de modo saudável.
Apesar do abrigo de Lóczy se destinar apenas a crianças até seis anos de idade, podemos
estender os seus princípios para os cuidados em qualquer faixa etária. Talvez o primeiro
desses princípios, o mais fundamental deles, seja o forte e profundo respeito que se tem à
criança, movidos pela convicção de que mesmo um bebê é um sujeito, não um objeto a
ser manipulado.
Deve-se levam em conta, que não se obtém a necessária qualidade dos cuidados sem
muito método e determinação. Não se trata, portanto, de um cuidado que possa ficar na
dependência da simples intuição do profissional educador. Para se garantir a qualidade
dos cuidados, é necessário refletir sobre cada pequeno detalhe na instituição: a estrutura
física, os móveis, os utensílios, os brinquedos, etc. Mas, muito especialmente, a
capacitação de todos os profissionais envolvidos nos cuidados diários na instituição.
Garantir o respeito à singularidade encontra-se na dependência não apenas de armários,
pertences e brinquedos individualizados, mas, especialmente da existência de uma relação
na qual a educadora se encontre psiquicamente disponível à criança da qual cuida.
Com os bebês, por exemplo, deve-se reconhecer que os momentos das trocas de fralda,
banho e alimentação são especialmente propícios para o estabelecimento de um vínculo
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caloroso e singularizado. Nesses momentos, a profissional deve envolver o bebê
com sua voz, seu olhar, suas mãos. Deve descrever para a criança tudo o que lhe
é feito. Da mesma forma, tudo que a própria criança faz, qualquer gesto, sorriso ou olhar,
deve ser valorizado pela educadora. Ao tocar a criança, deve fazê-lo de modo delicado e
suave criando um ambiente estável, tranqüilo, pacificador. Nesses momentos, o que
importa não é o ritmo do adulto, mas sim o ritmo da criança.
Winnicott dizia que uma das sensações mais angustiantes para um bebê se traduz pela
sensação de estar caindo. Para dar à criança a sensação de segurança e continência, nunca
deve deixá-la “solta”. Pode-se evitar isso mantendo sempre pelo menos uma das mãos
apoiando o corpo do bebê. Agindo assim, favorece-se que o bebê fique alerta, atento,
ativo, pronto para a interação.
Os momentos de cuidados, tal como o banho, as trocas de fralda, a alimentação, são
momentos em que não apenas a dimensão corporal encontra-se assistida. É importante
que se tenha em mente que os cuidados corporais são também cuidados psíquicos. Isso
em qualquer idade, mas muito especialmente nos primeiros tempos de vida. Um corpo
tratado de maneira desqualificada e degradada desumaniza o ser.
O banho não é apenas uma limpeza do corpo. Deve ser também um banho de linguagem e
uma experiência de prazer. Os bebês vivem, aprendem, sentem e se expressam, por meio
de seus corpos. Nos primeiros anos de vida, as necessidades fisiológicas e psicológicas
não estão separadas. Guiar-se por essa compreensão nos cuidados diários com a criança
faz uma profunda diferença na qualidade da relação e previne que essa relação venha a
ficar automatizada.
Uma função, para além da higienização corporal, está presente no momento do banho:
este pode ser uma oportunidade para o desenvolvimento de operações psíquicas que
permitirão a previsão e a organização dos estímulos. E como a educadora participa desse
processo tão fundamental? De modo tão banal, que precisamente por essa banalidade,
corre o risco de não ser suficientemente valorizado: em primeiro lugar, a educadora deve
permitir que a criança registre o que vai acontecer no momento seguinte, mostrando-lhe
os utensílios de que se vale para banhar a criança, (sabonete, shampoo, etc); em segundo
lugar, descrevendo o que está fazendo naquele momento e que diz respeito à criança. É a
repetição desses gestos que irá possibilitar à criança fazer o registro do que lhe ocorre e se
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organizar a partir disso. É preciso regularidade nos cuidados para que se criem
ritmos de funcionamento, se eles forem aleatórios dificultarão para a criança a
sua organização interna. Por isso a importância de pouco a pouco se estabelecerem
rotinas nos cuidados (hora do banho, hora da papinha, etc) É assim que o bebê vai
gradualmente diferenciando os momentos do dia e à essa organização externa vai se
configurando igualmente uma organização interna, vale dizer, uma organização psíquica.
A regularidade e previsibilidade nos cuidados finda por ter um efeito terapêutico para
crianças que sofreram, muito precocemente em suas vidas, experiências de ruptura e de
perda que introduziram em suas vidas a angústia diante do imprevisto e incontrolável.
O fato de a criança ficar sob os cuidados de diferentes pessoas, impõe que sejam tomadas
condutas para minimizar as mudanças de estilo entre as diversas profissionais, senão será
o caos na sua vida. Será a reflexão permanente quanto ao modo de funcionamento do
abrigo que permitirá definir os procedimentos e regras que deverão ser adotados por
todos, garantindo-se, assim, a relativa uniformidade tão necessária à segurança emocional
da criança. A capacitação continuada das profissionais que lidam no dia-a-dia com as
crianças, como, também, o acompanhamento e observação atenta de todas as
manifestações da criança serão essenciais nesse processo.
Ao se apontar a necessidade de regularidade, constância e previsibilidade nos cuidados,
não se pretende defender a noção de que o ideal será que a criança fique com apenas um
único profissional, no sistema do educador residente (ou, em uma denominação que,
felizmente, encontra-se quase que abolida, mães sociais). É que a essas necessidades de
regularidade e previsibilidade deve-se adicionar outra: a disponibilidade psíquica e
emocional por parte do educador. A capacidade de manter essa disponibilidade, mesmo
residindo no local de trabalho, é para bem poucos. Não se deve tomar a exceção pela
regra.
Outra condição para organização do abrigo de acordo com a pedagogia de Emmi Pikler
refere-se a propiciar à criança a descoberta do mundo de acordo com seu ritmo e
interesse, sem interferência direta do adulto, ainda que este tenha a responsabilidade de
prover as condições adequadas para que a criança possa exercer sua criatividade e
autonomia e adquirir autoconfiança. Esse princípio, que é o da atividade livre e
autônoma, ocasião na qual a educadora evita interferir diretamente no brincar da criança,
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não deve ser confundido com a atitude de “abandono”. Na verdade, a educadora
deve ter a capacidade de estar atenta e disponível à criança de tal forma que esta
pode perceber a presença não-intrusa da educadora e sentir-se protegida.
A criança deve dispor de espaço adequado para mover-se livremente e com segurança. Os
brinquedos, que não precisam e nem devem ser caros e complexos, mas que devem ser
cuidadosamente escolhidos em função do nível de desenvolvimento da criança, devem
estar disponíveis. O brincar tem uma função estruturante e organizadora para a criança,
daí a sua importância. Evidentemente, essa dimensão lúdica é essencial em todas as
etapas da vida, não apenas nos primeiros anos de vida. Mudam as formas de expressão,
mas não a necessidade de se contemplar essa dimensão nas diversas fases da vida. O
importante a ser destacado é o respeito ao ritmo e aos interesses individuais, permitindo
que cada criança ou adolescente possa expressar-se de modo criativo, genuíno e
autoconfiante. Encontra-se aí a base para a construção da autonomia tão desejada e,
contudo, tão limitada nos jovens institucionalizados. É importante considerar que a
autonomia decorre de um longo processo que se inicia já nos primeiros dias de vida.
Evidentemente, os graus de autonomia são amplamente variados em função do ponto de
desenvolvimento em que a criança se encontra, mas em qualquer tempo da vida a atitude
do adulto poderá favorecer ou, ao contrário, inibir esse processo.
Esses, portanto, os dois princípios organizadores da rotina institucional e que, para serem
assegurados, exigem atenção de todos os profissionais que lidam com a criança, ainda que
indiretamente, como auxiliares de serviços, porteiro, diretores, etc.
É tempo, contudo, de retomarmos nosso ponto de partida para refletirmos sobre as
condições a serem atendidas em nossas instituições, notadamente a partir da aprovação
pelo CONANDA e CNAS das Orientações Técnicas para os Serviços de Acolhimento
para Crianças e Adolescentes em junho de 2009 e da Lei 12.010/99. Terei razão ao
pretender que a mudança de designação de nossas instituições, de abrigo para entidades
de acolhimento, possa representar mais que simples alteração na terminologia?
NOVOS PARÂMETROS NO ATENDIMENTO: as Orientações Técnicas e a Lei
12.010/99
Uma das ações previstas no Plano Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária era
o elaboração de parâmetros de funcionamento das entidades de acolhimento (ação 5.3, no
Do abrigo ao acolhimento: importância do vínculo nos cuidados institucionais
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âmbito do reordenamento dos serviços de acolhimento institucional). Em 18 de
junho de 2009, em Resolução Conjunta do CONANDA/ CNAS, foi aprovado o
documento Orientações Técnicas: Serviços de acolhimento para crianças e adolescentes.
Fruto de amplo debate e acolhendo contribuições de diversos atores, dos quais se ressalta
o Grupo de Trabalho Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária (GT Nacional,
como carinhosamente é chamado), esse documento responde à necessidade histórica de
que fossem estabelecidas orientações e parâmetros para o funcionamento das entidades de
acolhimento.
As Orientações são um marco importante no movimento de mudança de concepção dessa
modalidade de serviço, pois enfatiza o aspecto técnico, a necessidade de reflexão e a
formação profissional requeridas em um trabalho que, historicamente, era guiado apenas
pelo senso humanitário, em uma perspectiva assistencialista.
“Nas Orientações Técnicas: serviços de acolhimento para crianças e adolescentes” são
abordados diversos princípios e indicados procedimentos que, uma vez adotados,
mudarão radicalmente a qualidade daqueles serviços. Cada um de nós, profissionais que
laboramos nessa área, deve se empenhar para que os parâmetros ali contidos ganhem vida
nas instituições de acolhimento deste país. Vamos, a seguir, destacar alguns desses
princípios e parâmetros que assegurarão que haja efetiva mudança na realidade das
instituições e não apenas na forma de designá-las.
Os princípios da excepcionalidade e da provisoriedade, velhos conhecidos do Estatuto da
Criança e do Adolescente, encontram nas Orientações ( e também na Lei 12.010/99)
indicações de procedimentos concretos que contribuirão para torná-los realidade no dia-a-
dia de nossas instituições. Dentre esses procedimentos, destacamos: indicação de aspectos
a serem considerados por ocasião do diagnóstico pelo Conselho Tutelar (para a
excepcionalidade da medida); obrigatoriedade de elaboração de relatório técnico
semestralmente, com indicação das medidas de apoio à família; limitação do tempo de
permanência para 2 anos, necessitando de justificativas bem fundamentadas para os casos
excepcionais de permanência superior a 2 anos; indicação dos elementos a serem
considerados para estratégia de acompanhamento da criança/adolescente e sua família,
por meio dos planos individual e familiar.
Do abrigo ao acolhimento: importância do vínculo nos cuidados institucionais
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O princípio do atendimento singularizado poderá ser concretizado à medida que
se atendam o que preconizam tanto a Lei 12.010, quanto as Orientações
Técnicas, no que tange à elaboração de Plano Individual de Atendimento. Para sua
elaboração, técnicos e demais profissionais das entidades serão convidados a observar
mais atentamente a criança; serão convidados a conhecer cada criança; serão convidados
a refletir, sozinhos ou em equipe, sobre o modo muito particular de cada criança lidar com
suas dificuldades, seus sonhos, talentos, etc. Impossível atender a esta orientação sem
estabelecer com a criança um vínculo humanizado.
Ainda na perspectiva de valorização das relações humanas no âmbito da entidade, as
“Orientações...” enfatizam a importância do momento de chegada, indicando algumas
atitudes por parte da equipe: o respeito, o acolhimento afetuoso, etc. Dessa forma, desde o
primeiro momento deve-se procurar tornar o ambiente institucional um ambiente de
acolhimento no qual a criança/adolescente possa se sentir seguro e confiante.
Portanto, já não basta o atendimento limitado às necessidades básicas de sobrevivência!
Precisamos de um atendimento fundamentado no olhar atento para a complexidade e
riqueza do ser do qual nos ocupamos. Somente assim teremos verdadeiro acolhimento e
não um simples abrigo!
Brasília, 02 de setembro de 2010