DiSTRIBUIÇAo DIFERENCIAL DE INSETOS GALHADORES ENTREHABITATS E SEU POSSIVEL USO COMO BIOINDICADORES
G. WILSON FERNANDES, ALEXANDRE SILVA DE PAULA1 e RAIMUNDO LOYOLA, JR. Ecologia Evolutlva deHerblvoros Tropicais/DBS, CP 486. ICB/Universidade Federal de Minas Gerais, 30161-970 Belo Horizonte MG -
BrasIl. Tel: 55-31-446-1314; FAX: 55-31-441-1412; E-mail: [email protected]
riqueza de Ias 8gallas fue signilicativ8mente mayor en los hAbilats
secos compar8das con los hâbitats húmedo8 en arnbas ~as. E8tos
datos corrobor8n 18s hip6tesis de que los insecto8 que forrnan 88.l\as
son especie. ricas en hâbilats estTes8dos en térrnioos hidro",,6pico..Los datos sobre Ia composici6n y divenidad de insecto. que fonnan
a8al\8s pueden ofrecer infonn8ci6n impor1ante sobre los e8tado.
lisiol6gico y nutricional de Ias planlas y su hAbilat. y asi servir como
e.Decies bioindic8dor8s.
RESUMONeste estudo descrevemos a distribuição e riqueza de es~cies de
insetos galhadores em dois habitats distintos de um empreendimento
hidrelétrico no sudeste brasileiro, durante as estações seca e chuvosa.Os habitats co1etados foram separados por diferenças em umidade e
tempcratura. Foram amostradas ga1has ao longo de transectos durante
urna hora de caminhada aleat6ria, posteriormente separadas em morfo-
cspccies. Não houve difercnças estatísticas entre a riqueza média total
dc cspécies de galhas nas cstações. chuvosa e seca para ambo~ os
habitats. O número de espécies de galhas foi significativamcnte maior
nos habitats secos do que nos habitats úmido~ em ambas as estaçõcs
chuvosa e seca. Estes dado~ corroboram a hipótese de que insetos
galhadores são mais ricos em espccies em habitats estre~sados
nulricional c higrotcrmicamente. Dlldo~ sobre II composição c
diversidade dc galhas podem fornecer informações dc relevincia para
o conhccimento do status fisiológico c nutricional das plantas
hospedeiras c do habitat, c IISsim serem de impol1Ancia como espécies
bioindiclldoras.
PALABRAS CLA VE: adaptJlciones, bioindicadores, especificidad.
agallos de inseclos, impacto ambienta!,
preferencia de hibilau
ABSTRACTIn thi. .ludy wc dc.cribc thc dislribution and richncs. of gall-fonningin.ecto il\ two di.lincl habilato of a hydroeleclric power planl in
.oulhe..lcm Brazil. Gall. werc .amplcd during Ihc dry and rainy
5ea.on. in I:YCI and dry habilat... Galls wcrc collcclcd in IlBnsect5
dunng a I-hour walk. and Ihcn scparalcd inlo morpho-spccies. There
wa5 no 5IAli5tical difTcrence in the mcan tolAl number of ga115 betwcen
thc dry and rainy se.sons in both habilAls sampled. Gall richnc.. wu
significantly grcater in dry habilA15 comparcd 10 mesic habilal5 in both
scasons. The5c dala corroboratc Ihc hypolhcsis thal galling in5ecto ~
more 5pccics-rich in hygrothcrmally slres5ed habitato. Dala on the
composition and diversity of gall-forming insecls may provideimportant inform.lion on the phy5iological and nulritional 5latU5 of
olants and habilat. and Ihus .erve a5 bioindicalor 5pccies.
PALAVRAS.CIIAVE: adaptações. bioindicadores. especificidade.galhas de insetos. impacto ambiental.
preferencia por habitats
RESUMEN
En este estudio describimos y analisamos Ia distribución y riqueza deespecies de insectos que fonnan agallas entre dos hábitats distintos deuna planta hidroeléctrica en el sureste de Brazil. Las agallas fueronmuestradas durante Ias épocas húmeda y seca. tanto en hábitats húmedoy scco. Ll1s agl1l1as fueron colectadas en transectos durante unacaminata de una hora, y después separadas en morfo-especies. No seenconlró diferencia estadistica en el número medio total de agallasentre Ias épocas seca y lIuviosa en !os dos hâbftats muestrados. La
$:
A distribuição de espéc,ies de animais e plantas tem sido
mais detalhadamente estudada a partir dõ século XIX.Desde então. não apenas padrões de distribuição ediversidade. mas também diversas variáveis bióticas e
abióticas que influenciam estes padrões. vem sendo
descritos para as regiões temperadas e tropicais (Femandes
e Price 1991. Pianka 1966. Rhode 1992).De maneira geral. observa-se que o número de espécies
(riqueza) da flora e fauna diminui com o aumento da
latitude e/ou altitude (e.g. Pianka 1966), embora trabalhos
recentes tenham documentado tendências inversas (e.g.
Price 1991 ). Por exemplo. a riqueza de insetos galhadores
'Endcrcço atual. Dcpl1rtl1mento de Biologia Animal, Universidl1ddFederal de Viçosa, 36570-000 Viçosa MO. Brasil.
KEY WORDS: adaptations, bioindicators, specificity. insect galls,
environmental impact, habitat preferencc
133
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1 ~Y'IC> l'jlj S
VIDA SIL;VESTRE NEOTROPICAL 4(2):133-139
,~ ' b . â ' d 'd dparece se. maior em am lentes rI os, In epen entemente
da latítude e altitude (Fernandes e Price 1988, 1991).Assím, ~Ies são maís numerosos nos desertos e nasvegetaçõ~~ xeromórficas quando comparados às matas
ciliares ~ florestas úmídas tropícaís. Esta distribuíçãodíferencí~1 ê devída à Intima adaptação dos ínsetosgalhadores a condíçõcs fisiológicas e fenológícas das suas
plantas hospedeiras e a seus habítats, além da mortalídade
e, sobrevívência díferenciais entre habitats (Femandes 1992,
Fernandes e Price 1992).As galhas de ínsetos são sésseis e esta condição favorece
as coletas e observações de campo, tornando-se assim umaferramenta de importância para estudos ecológicos. Além
disso, asgalhas podcm scr um bom indicador das condiçõesambíentais, princípalmente onde existe um mosaico de
~
animais (Collins c Thomns 1991, Wil:;oi1 1987).
METODOLOGIA
Locais de Estudo
As coletas foram realizadas em diversas localidades do
norte de Minas Gerais: Soberbo (Municlpio de Cristâlia),
Fazenda Cabra! (Município de Cristália), Lamarão (Eixo)
(Municípios de Berilo e Grão Mogo!), Posses (Município deMinas Novas) e Peixe cru (Municlpio de Turmalina) (Fig.I). Para a escolha dos locais de coleta foram utilizadas
aerofotografias na escala de I :30.000 e mapas do InstitutoBrasileiro de Geografia na escala I: 100.000.
Posteriormente, efetuou-se um reconhecimento da área apartir do qual foram selecionados locais para amostragem
habitli[s definidos pelo estresse hidrico, ténnico e até
distúrbios antrópicos (e.g. lavouras, florestas de eucaliptos,áreas de mineração, etc). Galhas de~iÍ1setos têm sido
amplamente utilizadas também para o monitoramento deáreas poluidas por metais pesados (Femandes 1987,
Heliõvaara 1986, Heliõvaara el a/. 1987)..Este estudo descreve a distribuição e a riqueza de
c:spécies de insetos galhadores em dois habitats distintos, naárea de implantação de um futuro empreendimento
hidrelctrico. Este é o primeiro estudo no qual insetos
galhadores são utilizados na avaliação de qualidade dehabitats na rcgião tropical. De modo geral, insetosterrestres são raramente coletados em projetos de avaliação
ambiel1tal não obstante sua importância central na
manulcnção e funcionamento de comunidades de plantas e
134 DISTRIBUIÇAo OE INSETOS GALHADORES .Fernendes. Silva e Loyo/a VIDA SILVESTRE NEOTROPICAL 4(2):1995
~
municlpios de Berilo e Grão Mogol. Trata-se de umaregião sem distúrbios antrópicos com ocorrência de litossoloeutrófico. Nas altitudes mais elevadas ocorrem cerrado,
campo sujo e campo rupestre, com predomlnio de floresta
mesófila decldua e semidecldua ao longo das vertentes enos terraços fluviais. São poucos os elementos da floresta
pluvial ripária nas margens do rio Jequitinhonha, sendo umalocalidade seca com solos bastante rasos que não
condicionam a retenção de água. A deciduidade da florestaestacional é quase total durante o periodo seco do ano, o
que não ocorre com tanta intensidade no campo cerrado e
campo rupestre.Posses .-Localizada na margem direita do rio
]equitinhonha, a 42°47'W e 17°02'S no municlpio de MinasNovas. A região amostrada compreende várias áreas de
lavoura em litossolo distrófico onde ocorre cerrado e uma
associação de litossolo + cambissolo sob floresta estacional.
Peixe Crú.- Localizado na margem direita do rio
]equitinhonha, a 42°57'W e 17°S, no município deTurmalina. A área está constituida por floresta estacional
nos terraços fluviais e em solos compostos por umaassociação de litossolo + cnmbissolo. O cerrado ocorresobre litossolo localizado em maiores altitudes.
An:'Qstragem
Para a avaliáção da riqueza de espécies de galhas nasáreas e habitats estudados, foram realizadas três coletas
(caminhadas aleatórias) de uma hora cada (Price 1991).Durante este período, todas as espécies de galhas e plantas
hospedeiras encontradas nas vegetações foram coletadas earmazenadas em um saco plástico para posteríor
identificação. Nós usamos a forma das galhas, cor,
pilosidade, distribuição, órgão hospedeiro, e famllia dosinsetos galhadores e plantas hospedeiras para separar as
morfo-espécies de galha~. As descríções das galhas e
identificação das plantas hospedeiras foram realizadasconforme descrito por Femnndes el al. (1988). Logo apóso término das coletas, plantas e galhas foram prensadas e
herborízadas. As galhas foram depositadas na Coleção deGalhas de Insetos do Herbárío do Departamento deBotânica da Universidade Federal de Minas Gerais. Uma
listagem das galhas, plantas hospedeiras e insetos
galhadores encontrados está sendo preparada e será
posteríormente publicada.Um ponto controverso nos estudos da distríbuição de
insetos é a sazonal idade das comunidades de insetos, e em
alguns casos os métodos utilizados (McCoy 1990). O usode insetos galhadores é apropríado devido à conspicuidadee persistência das galhas nas plantas hospedeiras,
diminuindo assim os problemas de sazonal idade
características de insetos herblvoros de vida livre (Lara e
Femandes, inprenta). Devido à alta diversidade de formase enorme grau de especificidade com suas plantas
da riqueza de espécies de insetos galhadores em função da
distribuição da vegetação, áreas de cultivo agricolas,
pastagens, composição da rede hidrográfica, vias de acessoe concentrações populacionais. Em todas as áreas foram
arnostrados habitats secos e úmidos nas estações chuvosa eseca. Habitats secos foram aqueles distantes de corpos
d'água em vegetações de cerrado ("sensu stricto", Coutinho
1978). ao contrário, os habitats úmidos foram habitats
próximos a rios, ribeirões e córregos em áreas de matasciliares. Esta mesma metodologia foi utilizada por
Fernandes e Price ( 1988) nas regiões temperada e tropical.As principais formações vegetais nativas das localidades
amostradas e suas correlações com as principais unidades de
solo são as seguintes: a) vegetação campestre e campos
limpos quatz(ticos em afloramentos rochosos com baixa
fertilidade e formação de solos; h) campo cerrado em
litossolos com baixa fertilidade; c) cerrado "strictu sensu"e cerradão em latossolos com baixa fertilidade; d) floresta
estacional (florestas mesófilas decidua e "semidecidua) em
cambissolos com baixos teores de nutrientes e em
podzólicos com maior fertilidade; e) florcsta pluvial ripária
(mata ciliar), principalmente em terraços fluviais dostributários de menor porte da rede hidrográfiica; e I)veredas em solos hidromórficos com relativa fertilidade.
O clima regional, condicionado pela topografia muitoacidentada da região, sofre a influência das frentes polarese do sistema de circulação do anticiclone do Atlântico Sul
que se opoem em equilibrio dinâmico. Segundo a
classificação de Kõppen, a região apresenta um predomíniodo clima A W , representado pelo clima tropical úmido de
savanas (Antunes 1986, Nimer 1979). Este tipo de clima é
caracterizado por inverno seco e verão chuvoso. A
temperatura média do mes mais frio é superior a 18°C. Aprecipitação do mês mais seco é inferior a 60mm e também
inferior a IOO-P/25, sendo P a precipitação média anual
(Antunes 1986). A seguir são descritos os ambientes dos
locais amostrados.
Soberbo.- Localiza-se próximo à cor'tfluência do ribcirão
Soberbo com o rio Jequitinhonha, a 4:t:-40'W e 17"08'S, no
município de Cristália. Apresenta vegetaÇão constituída por
campo cerrado sobre afloramentos de rocha e litossolo
álico; floresta mesófila decidua e semidecídua sobre soloeutrófico e floresta pluvial ripária nos terraços fluviais.
Fazenda Cobra/.- Localiza-se a 42°47'W e 16°34'S, nomunicipio de Cristália, apresentando pouco afloramento derocha e predomínio de assocíação lítossolo + cambissolo.
A vegetação é constituida por floresta pluvial ripária
descontinua às margens do rio 1tacambiruçu, ocorrendo
floresta estaciona! nos terraços fluviais e nas encostas emcotas altimétricas mais baixas; campo cerrado e cerrados
degradados nas regiões mais altas.
Lamarão (Eixo).- Localizado em uma região encaixadano vale do rio Jequitinhonha, a 42°36W e 16°44'S, nos
VIDA SILVESTRE NEOTROPICAL 4(2):1995 DISTRIBUIÇÃO DE INSETOS GALHADORES .Fern8ndes, SI/V8 e Loyol8 135
FIQura 2. Riqueza média 1;;;:;1 de .ap'cle. da galha. na.
e.~çOe. chuvo.a e seCa em habltats úmido. seco.Figur. 3. O número It!jdlo d. ..pjclea d. Ina.toa galhadoree
'01 m.lor noa h.bltata a.coa do qu. noe habltat.úmldoa na ..taçlo chuvo.. n.. loc.lldade..moltr.d.a.
de espécies galhadof1lS foi de 20.9 :!: 2.3 na estaçao
chuvosae de 24.4:!:3.5 na estaçao seca (t=O.882, n=27,
P<O.4, Fig. 2).O número de espécies de galhas diferiu
significativamente entre habitats secos e úmidos nasestações chuvosa e seca. Na estaçao chuvosa o númeromédio de espécies de galhas foi estatisticamente superiorem habitats secos do que em habitats úmidos em todas as
localidades amostradas (Wilcoxon=3.411, n=15, P<O.OOI,Fig. 3). O mesmo padrao de riqueza de espécies de insetos
galhadores foi observada na estnçao seca .(Wilcoxon~3.063,
n~12. P<O.OOI, Fig. 4).
hospedeiras (eg. MacArthur et ai. 1979, Mani 1964,Shorthouse 1993), as galhas formadas por diferentesespécies de insetos podem ser facilmente separadas e usadaspara estimar a riqueza e abundância de espécies de
galhadores em uma área (Femandes ePrice 1988, Lnra e
Femandes, in prenta). O grau de especificidade com suasplantas é dos mais altos, o que tem propiciado scu uso aténa taxonomia de plantas (Floate e Whitham, in prent~
Floate et ai. 1996, Roskam e Zandee 1992). Além disso,
métodos sólidos foram descnvolvidos para amostrar
comunidades de insetos galhadorcs (Femandes c Price 1988,
1991).Duas coletas foram realizadas durante o pcrlodo de
estudo, sendo a primeira durantc a estaç~o chuvosa (abril de1991) e a segunda duranie o período' ge seca (julho/agostode 1991 ). Estas duas coletas forant necessárias diante da
possibilidade de variação na composiçno e riqueza deespécics de insetos herblvoros com as mudanças estacionais.As comparações da riqueza de espécies entre estações e
.'labitats foram realizadas através de testc t de Student e de
Wilcoxon (Zar 1984).
DISCUSSÃO
Uma coleta durante uma estaçao climâtica teria sido
suficiente para a avaliaçao do número de espécies de galhas
por habitat dada a nao diferença estatlstica entre este
parâmetro no presente estudo. Esta observaçao reforça aimportância do uso de galhas como bioindicadores pois sIlosésseis e permanecem aderidas às plantas hospedeiras apósa emergência dos adultos, podendo ser realizado~ sensoscom facilidade. Entretanto, o simples número de galhas
presente no habitat durante uma estação pode não retratara composiçaototal de espécies. Espécies encontradas na
estaçao chuvosa podem não ser as mesmas encontradas naestação seca e vice-versa. Devido à natureza preliminardeste estudo, poSições sólidas sobre este fato precisam ser
apoiadas em mais exemplos emplricos. Portanto, as duascoletas serão anaJisadas ainda em separado neste estudo.
RESULTADOS
Não houve diferenças estatisticamer.te significativas entrea riqueza média total de espécies de galhas nas estações
chuvosa e seca dos habitats úmido e seco. O número médiode espécies galhadoras em habitats úmidos foi de 7.8:!: 1.2
na estação chuvosa e de 8.5:!:1.6 na estaçao seca (t=0.355,
n=27, P<0.9. Fig. 2). Em habitats secos, o número médio
136 DISTRIBUIÇÃO DE INSETOS GALHADORES .FemBnde.s. SllvB e LoyolB VIDA SILVESTRE NEOTROPICAL 4(2):1995
3~
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oF. CASRAL EJKO. POSSES PEJKE CRU
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Figura 4. O núm.ro m'dlo d. ..p'cl.a d. Ina.toa galhador.afoi maior noa habitata a.coa do qu. noa habltataúmldoa na .ataçlo a.ca n.a localldad.a amoatradaa.
insetos galhadores, diminui consideravelmente com o
aumento do estresse nutricional e, hldrico das planta...
(Femandes 1990). Além disso, a preferência das fêmeasdos insetos galhadores por plantas hospedeiras em habitats
seco$ durante o perfodo de oviposiç&o reforçam o padr&o de
distribuiç!o diferencial das galhas (Femandes 1992).Estudos sobre a mortalidade e sobreviv~ncia de espécies degalhadores em habitats tropicais distintos s&o necessarlos
para o conhecimento dos mecanismos que moldam ospadrões de distribuiç~o diferencial entre habitats. Neste
sentido, fazem-se necessários estudos de campo nos quaisas taxas de sobrevivência e mortalidade de espécies-chavesao avaliadas antes de um empreendimento, para que
modificações futuras sejam adequadamente avaliadas.
A listagem simples de espécies por habitats sem
informacões ecológicas que visem a preservaçao e manejo
nao fornece as bases necessárias para uma avaliaçao precisa
dos mecanismos ecológicos e processos evolutivos quemoldam os padrões de biodiversidade. Uma visllo funcional
da distribuiçAo de espécies ao longo de gradient~biogeográficos e de distúrbios antrópicos é vital para oentendimento de padrõcs ecológicos.
A correlaçao entre estresse do habitat e número de
insetos galhadores fornece um importante cenário de estudopara o entendimento das relações parasita/hospedeiro,resistência dé plantas, biodiversidàde e monitoramento
.ambiental. Por serem sésseis, as galhas podem serfacilmente visualizadas, coletadas e estudadas através detabelas de vida (Femandes e Price 1992, Price et aI. 1990).
A preparaçAo de curvas de mortalidade e sobrevivência para
insetos galhadores em \)abitats distintos é importante paraa elaboraç&o de medidas que auxiliem no entendimento das
caracterlsticas do habitat que influenciam as dinâmicaspopulacionais e cont!"ole populacional de insetos galhadores.
Por estarem intimamente associadas às suas plantas
hospedeiras. o estudo das galhas fornece dados de enorme
relevância para o conhecimento do status fisiológico e
nutricional das plantas e do habitat (Femandes 1992).
Insetos galhadores sao polenciais indicadores dadiversidade e qualidade do habitat. Os melhores
indicadores biológicos sao aqueles que facilitam o programade conservaçao e monitoramento (Collins e Thomas 1991).Insetos galhadores apresentam valores iguais ou superioresaos grupos mais importantes de insetos utilizados como
bioindicadores (térmitas, formigas e lepidópteros das
subfamllias Heliconiini e lthomiinae) (veja Brown 1991 ).
Os insetos galhadores sao taxonomicamente eecologicamente diversificados. apresentam alta fidelidadeecológica, s~o sedentários na sua fase larval, sIlo de fácilidentificaç~o através de suas galhas (morfoespécies), saoabundantes e facilmente detectadas no campo, podem sercoletados em abundância, s~o importantes no funcionamento
de ecosistemas, apresentam respostas previslveis a variações
Diferenças na riqueza de galhas de insetos tropicais entrehabitats secos e úmidos foram descritas por Femandes e
Price ( 1988). O padr!o de uma maior riqueza de galhas em
habitats estressados nutricional e higrotermicamente foiencontrado tanto para a regi ao tropical como para a
temperada. Estudos mais detalhados realizados na Serra do
Cipó, MO (Femandes et ai. 1994, Lara e Femandes 1994)juntamente com o presente estudo reforçam a hipótese de
que insetos galhadores sno comuns em habitats áridos
(Fcmandes e Price 1988). ~A maior riqueza de galhas em habitats secos pode estar
relacionada a diversos mecanismos ecológicos e processoscvolutivos. Estudos recentes (Femandes e Price 1992)indicam que insetos galhadores sofrem maiores pressõesseletivas exercidas por inimigos naturais e resist!ncia de
plantas em habitats úmidos comparados a habitats secos. A
maior susceptibilidade de plantas que ocupam habitats secospode ser devido à escassez de água e nutrientes relevantes
nos processos de defesa contra herbivoria (Femandes 1992).Modificações na disponibilidade de nutrientes e/ou águaalteram os balanços hormonais e fisiológicos de plantaslFitter e Hay 1987). Respostas de hipersensitividade, um
mecanismo eficiente na defesa contra microrganismos e
VIDA SiLVESTRE NEOTROPICAL 4(2):1995 DISTRIBUIÇAO DE INSETOS GALHADORES .Femandes. Silve e Loyo/a 137
/
AGRADECIMENTOS "
Agradecemos a K. Ribeiro, A. C. F. Lara, R. P. Martins,L. C. 8edê e a dois revisores pelas criticas e comentários.
Agradeçemos a CEMIG e ENERCONSUL T pelacredibilidade sem os quais este trabalho não poderia ter sidorealizado. Também agradeçemos ao CNPq pela bolsa de
pesquisador a GWF (521772/95-8) e FAPEMIG (078/91).
ambiel::ais e estão associadas a espécies e recursos
especJ ;:cos (Femandes 1992, Femandes e Price 1988, 1991,
1992, ;'cmandes el ai. 1989, Floate el ai. 1996, Gagné 1989,MacA::.lur el ai. 1979, Mani 1964, Price el ai. 1990).Além ,:isso, a ecologia de insetos galhadores é bastante
conhcc;ua e enonnes avanços têm sido obtidos em estudos
biogcc:,ráficos e comportamentais (e.g. Craig el a/. 1989,1990' ::ernandes 1987, 1992, Femandes y Price 1991,Fero(.. .:es el a/. 1994).
Pr.,;:lemas taxonômicos dificultam o desenvolvimento deestrnl;' ,;ias efetivas de conservação. Este problema é
resoiv:\:o quando se usa insetos galhadores pois suas galhassão () ,~sultado de interações específicas com suas plantas
hosp\...~iras; em geral cada espécie de inseto galhador fonnauma ,:.;Ia diferente (Floate el a/. 1996, Mani 1964). Por
serer.. .;c fácil identificação e visualização, pode-se definir
morl\..::spécies para comparações da diversidade e fatoresde 11.i.;:alidade e sobrevivência entre regiões sujeitas a
divc; ;'.'. tipos de estruturas e/ou interferência antrópica. A
colc:::. ;:c insetos galhadores é também barata e fácil, aoI=onl;:. : .'J de outros grupos de insetos e vertebrados.
'rod...:.., a melhor estratégia é o uso c.ombinado de diversosgrup.- "e insetos e ver1cbrados dada a relevância especificade c;:,. l.m nos ecossistemas-
co --USOES
c o primeiro estudo em um empreendimento
'co que teve como objetivo principal a descrição e
.iimento de um padrão. São pouquissimos osda diversidade de insetos em projetos e
,;imentos de pequeno ou grande porte. A escassez
',;s da entomofauna em Relatórios de Impacto do
,oiente (RIMA) negligencia a relevância de insetos..os na estruturação de comunidades e sua
"idade total, Insetos são partes vitais tia produção;a (biomassa), ciclagem de nutrientes, polinização,
c parasitismo de plantas e animais e transmissão
"S, dentre outros. Neste sentido. as galhas são um:;:to de estudo dado às características ~ facilidades
.; neste cstudo. Além disso. deve-se dcstacar que
cmpreendimentos hidrelétricot alteram.:vamente o regime hídrico de uma região, as,ii grande potencial como bioindicadoras por serem
.à mudanças na umidade e temperatura. Tanto a
';,Ianto a abundância de insetos galhadores são
.~.Jos por mudanças de umidade e temperatura.
facilidades são também observadas no
,lento pois avaliações dos mecanismos e processos~os. a sobrevivência de insetos podem ser
.: obtidos antes e pós interferência antrópica.
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