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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE MEIO AMBIENTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS E

DESENVOLVIMENTO LOCAL NA AMAZÔNIA

YNGRETH DA SILVA MORAES

BRINQUEDO DE MIRITI E O DESENVOLVIMENTO LOCAL NO MUNICIPIO DE ABAETETUBA/PA

BELÉM 2013

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YNGRETH DA SILVA MORAES

BRINQUEDO DE MIRITI E O DESENVOLVIMENTO LOCAL NO MUNICIPIO DE ABAETETUBA/PA

Dissertação apresentada para o Programa de Pós-graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia. Núcleo de Meio Ambiente, Universidade Federal do Pará. Área de concentração: Gestão dos Recursos Naturais Orientador: Prof. Dr. Sérgio Cardoso de Moraes

BELÉM 2013

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) – Biblioteca do Núcleo de Meio Ambiente da UFPA

Moraes, Yngreth da Silva. Brinquedo de miriti e o desenvolvimento local no município de Abaetetuba/Pa / Yngreth da Silva Moraes. - 2013 114 f.: il.; 30 cm

Orientador: Prof. Dr. Sergio Cardoso de Moraes. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Pará, Núcleo de Meio Ambiente, Pós–Graduação em Gestão dos Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia, Belém, 2013.

1. Desenvolvimento econômico. 2. Buriti. 3 Brinquedos – Confecção. I. Moraes, Sérgio Cardoso de, orient. II. Título.

CDD: 23. ed. 338. 98115

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YNGRETH DA SILVA MORAES

BRINQUEDO DE MIRITI E O DESENVOLVIMENTO LOCAL

NO MUNICIPIO DE ABAETETUBA/PA

Dissertação apresentada para o Programa de Pós-graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia. Núcleo de Meio Ambiente, Universidade Federal do Pará. Área de concentração: Gestão dos Recursos Naturais

Defendido e aprovado em: _____/_____/_____ Conceito: _____________________

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________ Prof. Dr. Sérgio Cardoso de Moraes Universidade Federal do Pará/Núcleo de Meio Ambiente/Programa de Pós-Graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia (PPGEDAM) Orientador _________________________________________ Prof. Dr. Thomas Adalbert Mitschein Universidade Federal do Pará/ Núcleo de Meio Ambiente (Avaliador Interno) __________________________________________ Prof. Dr. Agenor Sarraf Pacheco Universidade Federal do Pará/ Instituto de Ciências da Arte (Avaliador Externo)

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AGRADECIMENTOS

Ao Núcleo de Meio Ambiente (NUMA) da UFPA, ao Programa de Pós-

Graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia

(PPGEDAM), e às pessoas com quem convivi nesse espaço ao longo desses anos. A

experiência de uma produção compartilhada na comunhão com amigos nesses espaços foram

a melhor experiência da minha formação acadêmica.

Gostaria de agradecer ao meu orientador, o prof. Dr. Sérgio Cardoso de Moraes

por todo o apoio e também por ter me ajudado durante todo o processo.

Ao professor Dr. Thomas Adalbert Mitschein, por seus ensinamentos, paciência e

confiança ao longo do trabalho.

Ao coordenador do Curso, Professor Dr. Mario Vasconcellos, sempre solícito e

compreensivo às nossas dificuldades.

Aos professores do programa que por aqui passaram e dividiram seu

conhecimento conosco, multiplicação é isso.

Em especial à Renata Pamplona, que me pegou pela mão e levou a UFPA, para

fazer a inscrição neste processo seletivo quando nem eu mesmo acreditava que queria.

À turma PPGEDAM 2011, aos meninos pela amizade, companheirismo e risadas

e as meninas por tudo, em especial, “as maricotas” (Adriana, Andrea, Marcele, Nélia, Roberta

e as Elis) com vocês as pausas entre um parágrafo e outro de produção melhorou tudo o que

estava sendo produzido não só academicamente como também na vida.

Aqueles meus amigos que estão a mais de 10 anos dividindo vida, amizade,

cumplicidade, companheirismo, alegrias, tristezas e dores, nos últimos meses eles foram

essenciais (Adalton, Adelly, Alessandro, Alice, Anderson, André, Breno, Bruno, Felipe,

Fernando, Jefferson, Ketrynne, Lee, Luis, Rejane, Sérgio, Thierry, Wellyn). Só vocês

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entendem o objetivo, o sumiço, a falta de tempo, o cansaço, a necessidade de isolamento que

a escrita exige.

Rafael Vilar quem induziu-me a esse sonho que hoje se materializa, com quem eu

adoro partilhar meus momentos e minhas experiências.

Diogo, dinheiro não pagará o que você fez por mim e por este trabalho, muito

obrigada querido amigo, Dayanne pelo mesmo motivo, muito obrigado!

À minha família, por sua capacidade de acreditar em mim e investir em mim.

Mãe, seu cuidado e dedicação foi que deram, em alguns momentos, a esperança para seguir.

Pai, sua presença significou segurança e certeza de que não estou sozinho nessa

caminhada e assim ela se tornou mais leve, característica própria sua. Irmão a sua confiança

me trouxe até aqui, foi o maior combustível da estrada.

Allan Candido, Hebert Nunes e Tatiana Carvalho, o que dizer? Meus cúmplices,

companheiros com quem eu adoro dividir a vida. Muito Obrigada mais uma vez.

Andrea Barata e Adriana Dias – “A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que

eles são capazes de pensar” (Dom Hélder Câmara). Obrigada por estarem lá quando eu

duvidei.

Às irmãs espirituais Lana e Cris, as orações de vocês foram sustento para o corpo

e para alma.

À Deus, que a cada dia se mostra criador, seu fôlego de vida em mim, me foi

sustento e me deu coragem, me dando sempre um novo mundo de possibilidades.

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"No começo eram apenas brinquedos"

(Autor desconhecido)

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RESUMO

Este trabalho apresenta uma pesquisa acerca da atividade de produção sustentável dos

brinquedos de miriti, entendendo-se o desenvolvimento sustentável como a maneira de

alcançar um determinado crescimento econômico sem a degradação do meio ambiente e seus

recursos naturais. Os brinquedos derivam da palmeira Mauritia flexuosa L. f. (miriti),

tipicamente encontrada na região do baixo Tocantins, município de Abaetetuba-Pará,

principal pólo de confecção deste brinquedo. Este estudo teve como objetivo analisar a

apropriação e uso do Miriti e identificar como o Miriti tem contribuído para o

desenvolvimento local e sustentável do município de Abaetetuba. O local não entendido

apenas como uma conotação física, mas representação de um conjunto de relações: ecológica,

espacial, social, cultural e econômica que conferem características individuais e diferenciam

um local do outro. Utilizou-se a pesquisa bibliográfica e de campo como bases metodológicas

para caracterizar o artesanato de miriti. As entrevistas foram realizadas, em duas associações

– ASAMAB e MIRITONG, com 33 artesãos informantes e ainda o Serviço Brasileiro de

Apoio à Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), parceiras em projetos que envolvem o

artesanato. Nos últimos anos a comercialização dos brinquedos de miriti vem ganhando maior

expressividade, com ápice de produção em outubro, durante a festividade do Círio de Nossa

Senhora de Nazaré, porém se expandido para além deste período e do estado. Portanto,

identificou-se um artesanato secular tipicamente amazônico, por conter em suas formas

elementos representativos do cotidiano. Compreendendo-se as dimensões da sustentabilidade

as quais expressam a condição real do artesanato e também a expressiva importância dos

brinquedos de miriti uma vez que sua comercialização contribui para a geração de renda,

qualidade de vida e cultura dos sujeitos envolvidos.

Palavras-chave: Desenvolvimento. Sustentabilidade. Artesanato. Miriti. Abaetetuba.

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ABSTRACT

This paper presents a survey about the activity of producing sustainable miriti toys

understanding sustainable development as a way to achieve a certain economic growth

without environment degradation and its natural resources. Toys derived from palm of

Mauritia flexuosa L. f. (miriti), typically found in the lower Tocantins, Abaetetuba city – Pará

- pole of making this toy. This study aimed to analyze the appropriation and use of Miriti and

identify how Miriti has contributed to a local development in Abaetetuba. The site not only

understood as a physical connotation , but representation for a set of ecologic, spatial, social,

cultural and economical than factors that confer individual characteristics that differentiate

one from another site . We used the literature and field aiming at presenting the craft miriti.

The interviews were conducted in two associations - ASAMAB and MIRITONG with 33

artisans informants and even the Brazilian Service of Support for Micro and Small Enterprises

(SEBRAE) partner in projects involving crafts. In recent years the marketing of Miriti toys

gaining greater expressiveness, with peak production in October, during the festivity of “Cirio

de Nazare”, but expanded beyond this period and state. Therefore identified a secular craft

typically Amazonian, which contain in their ways representative daily elements.

Understanding the dimensions of sustainability which expression the actual condition of the

craft and also the significant importance of Miriti toys once your marketing contributes to the

generation of income, quality of life and culture of this people.

Keyword: Development. Sustainability. Craftsmanship. Miriti. Abaetetuba.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ASAMAB - Associação dos Artesãos de Brinquedos de Miriti de Abaetetuba

CAN – Centro Arquitetônico de Nazaré

CIFOR - Centro Internacional de Pesquisa Florestal

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica

IDH - Índice de desenvolvimento humano

IUCN - Internacional Union Conservation of Nature

MIRITONG - Associação Arte Miriti de Abaetetuba

ONG- Organização Não Governamental

ONU - Organização das Nações Unidas

PIB - Produto Interno Bruto.

PNB - Produto nacional bruto

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

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LISTA DE FOTOGRAFIA

Fotografia 1. Frente da cidade de Abaetetuba. .........................................................................41

Fotografia 2. Feira livre em Abaetetuba...................................................................................42

Fotografia 3. Fruto do Miriti.....................................................................................................59

Fotografia 4. Artesão na atividade, com criança observando o ofício. ....................................64

Fotografia 5. Barco de brinquedo confeccionado em miriti por artesão, sendo este o modelo

geralmente utilizado pelas crianças, para a confecção dos próprios brinquedos......................67

Fotografia 6. Comercialização de brinquedos de miriti durante a Trasladação 2013. .............68

Fotografia 7. Pagadora de promessa com objeto feito em miriti..............................................72

Fotografia 8. Brinquedo de miriti enquanto arte, como objeto decorativo...............................74

Fotografia 9. Folder do 10º MiritiFest......................................................................................78

Fotografia 10. Feixes de buchas de miriti.................................................................................83

Fotografia 11. O Girandeiro. ....................................................................................................88

Fotografia 12. Oficina seu Pirias. ...........................................................................................105

Fotografia 13. Detalhes da parede de Seu Pirias com visão, missão e valores. .....................106

Fotografia 14. Cartão e crachá do “Miriti da Amazônia”.......................................................107

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Especialidades dos artesãos em brinquedos tradicionais........................................96

Gráfico 2 .Formas de sustento................................................................................................102

Gráfico 3. Especialidades dos artesãos em brinquedos “inovações”......................................103

Gráfico 4. Situação de venda do artesanato para outros estados............................................104

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LISTA DE MAPAS

MAPA 1 – Localização do Município de Abaetetuba ....................................................24

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Ocupação nos setores de atividades. ......................................................................27

Quadro 2. Posição na ocupação de trabalho. ............................................................................27

Quadro 3. Situação de unidades escolares em Abaetetuba.......................................................35

Quadro 4. Distribuição de informantes, entre representantes e artesãos. .................................43

Quadro 5. Atuação do SEBRAE sobre os incentivos à valorização do miriti..........................45

Quadro 6. Associações e atuação das mesmas junto aos artesãos............................................45

Quadro 7. Caracterização dos artesãos. ....................................................................................46

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Caracterização das Instituições envolvidas........................................................81

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 18

2 HIPÓTESE, OBJETIVOS E ÁREA DE ESTUDO ................................ 23

2.1 Hipótese ...................................................................................................... 23

2.2 Objetivos ..................................................................................................... 23

2.2.1 Geral ............................................................................................................. 23

2.2.2 Específicos ................................................................................................... 23

2.3 Caracterização da área de estudo. O município de Abaetetuba-

Capital Mundial do brinquedo de Miriti .................................................

23

2.3.1 População ..................................................................................................... 25

2.3.2 Principais Atividades Econômicas .............................................................. 25

2.3.3 Ocupação ..................................................................................................... 26

2.3.4 Emprego e Renda ......................................................................................... 28

2.3.5 Presença e Influencias de Grandes Projetos ................................................. 28

2.3.6 Problemas Socioambientais ........................................................................ 30

2.3.7 Capacidade Institucional Municipal na Área de Gestão Ambiental ............ 34

2.3.8 Condições de Vida da População ................................................................. 35

2.3.9 Cultura e Turismo ........................................................................................ 37

3 METODOLOGIA ..................................................................................... 39

3.1 Delimitação da área de estudo ................................................................. 40

3.2 Coleta e analise de dados ........................................................................... 42

3.3 Identificação e descrição dos elementos utilizados nas técnicas de

pesquisas ......................................................................................................

44

4 QUADRO CONCEITUAL ....................................................................... 47

4.1 Desenvolvimento Local ............................................................................. 47

4.1.1 Desenvolvimento Sustentável – A sustentabilidade como fator do

desenvolvimento local .................................................................................

51

4.2 O Miriti ....................................................................................................... 56

4.2.1 O brinquedo de Miriti – A atividade ........................................................... 63

4.2.2 Do Pará ao Mercado exterior – A evolução dos brinquedos de miriti ....... 66

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................ 80

5.1 Caracterização dos Artesãos ..................................................................... 80

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5.2 Caracterização das Instituições envolvidas ............................................. 80

5.3 Uso e apropriação do Miriti da fabricação a comercialização dos

brinquedos ..................................................................................................

82

5.4 O brinquedo de Miriti como desenvolvimento local em Abaetetuba .... 89

5.4.1 Dimensão Ecológica .................................................................................... 90

5.4.2 Dimensão Espacial....................................................................................... 92

5.4.3 Dimensão Social .......................................................................................... 93

5.4.4 Dimensão Cultural ...................................................................................... 95

5.4.5 Dimensão Econômica .................................................................................. 98

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 109

REFERÊNCIAS.......................................................................................... 112

ANEXOS...................................................................................................... 115

ANEXO A – Questionário com os parceiros – SEBRAE ...................... 116

ANEXO B – Questionário com as associações ....................................... 117

ANEXO C - Questionário com os artesãos ..........................................

ANEXO D - Esquema de utilização do miriti ..............................................

ANEXO E - Esquema da cadeia produtiva do brinquedo de miriti .............

118

119

120

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18

1 INTRODUÇÃO

Na Amazônia, uma oficina de inúmeras possibilidades expressivas encontra-se o

tempo inteiro ativada: a oficina da arte popular, onde o talento de inúmeros artistas anônimos

é processado a cada dia, com os instrumentos que dispõem do lugar em que vivem. Em

Abaetetuba, os artistas buscam em sua própria vivência a inspiração para criar, originando

uma produção que acaba por retratar as diversas faces da cultura amazônica.

A criatividade do artista local não encontra limitações na geografia e na falta de

recursos. A riqueza cultural faz com que eles transformem elementos da natureza, cores e

paisagens, em arte. Assim o miriti se transforma em barcos, pássaros, cobras e muitas outras

formas esculpidas e pintadas pelas mãos dos artistas de Abaeté, como a cidade é

carinhosamente chamada, e os seus artesanatos sensibilizam com a singeleza e simplicidade

características.

Loureiro (2005) caracteriza a cultura amazônica como uma “diversidade diversa”,

graças à variedade cultural que compõe o espaço amazônico e identifica o caboclo amazônida.

De norte a sul, de leste a oeste, as expressões artístico-culturais da região são carregadas de

signos e símbolos do cotidiano, a exemplo das lendas do boto e da cobra grande, entre tantas

outras contadas e recontadas em cada canto deste lugar.

Homens e mulheres amazônidas − caboclos ribeirinhos1, constroem e reconstroem

dia a dia suas vidas. Eles convivem numa relação direta com todos os elementos participantes

da natureza, produzem sua subsistência. Extraem da mata e do rio o alimento para o sustento

de suas famílias; a matéria-prima para a construção das moradias e dos principais meios de

transporte − canoas e barcos − bem como dos remédios para a cura das doenças; e, ainda, a

inspiração para a criação artístico-cultural que se expressa através da música, do teatro, da

dança, da poesia, do artesanato, dos brinquedos, enfim, de muitas formas simbólicas de

expressão.

Nos estados amazônicos, cujos habitantes mantêm uma forte relação de

dependência com os recursos naturais, Mauritia flexuosa L. f. (Arecaceae) é uma palmeira de

destaque na cultura regional, especificamente empregada na alimentação, construção de casas

e confecção de utensílios de trabalho e artesanato. Popularmente, é conhecida como ‘miriti’

ou ‘buriti’. Seus frutos são consumidos in natura ou em forma de sucos, mingaus, sorvetes e

1 Ribeirinhos é uma população tradicional que residem nas proximidades dos rios e têm a pesca artesanal como principal atividade de sobrevivência. Cultivam pequenos roçados para consumo próprio e também podem praticar atividades extrativistas.

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doces (BALICK, 1986). Utilizadas na cobertura de casas, suas folhas são amplamente

exploradas para a produção de cestarias e brinquedos, confeccionados pelos artesãos locais e

admirados por sua beleza e originalidade (SANTOS et al., 2005; CYNERYS; FERNANDES;

RIGEAMONTE, 2005). A maioria dos artesãos envolvidos nessas atividades encontra-se no

município de Abaetetuba (Pará), onde os miritizais são abundantes.

Em estudo etnobotânico sobre M. flexuosa L. f. neste município, Santos (2009)

identificou 26 artefatos manufaturados a partir de suas folhas, entre os quais se destacaram os

paneiros e os brinquedos, cuja comercialização nos dias atuais garante renda a muitas

famílias.

Conhecido como “isopor natural” da Amazônia, a fibra de miriti é a base de

sustento de muitas famílias e, além de ser um produto de alto valor agregado, sua utilização

não agride o meio ambiente, é biodegradável. Da sua árvore tudo se aproveita, desde o fruto

utilizado na culinária às palmeiras que servem para cobertura de casas, o que mostra que o

miriti é uma árvore providencial na vida do homem ribeirinho, que mistura o lúdico com a

necessidade de sobrevivência de suas famílias.

A realidade de muitas pessoas que vivem da produção artesanal se faz cada vez

mais presente na medida em que crescem os apoios institucionais para o incentivo dessa

atividade.

O brinquedo de miriti representa um dos símbolos de maior destaque na mais

importante manifestação religiosa e patrimônio cultural do Estado: o Círio de Nazaré. Com o

Círio, o artesanato em miriti de Abaetetuba se transformou em uma das marcas de atração do

Estado do Pará. Além da procissão de domingo, o Círio congrega várias outras manifestações

culturais e de devoção religiosa, tais como: a trasladação, a romaria fluvial, o arraial, o

comércio de brinquedos de miriti e diversas outras peregrinações, romarias e festejos que

ocorrem na quadra nazarena nas quais sempre encontra-se o brinquedo.

Assim, Loureiro (1995, p. 388) reafirma que “o caráter lúdico convive com a

beleza [...]”, expressando que o brinquedo de miriti extrapola a fase da infância, encantando

adolescentes, jovens, adultos, ganha vida e utilidade de acordo com o desejo de cada um.

Com isso, este estudo buscou a compreensão de como se dá a participação das

pessoas das comunidades na elaboração de brinquedos de miriti e de que forma esta

participação pode influenciar no desenvolvimento local do município de Abaetetuba.

Localizado a 120 km da capital Belém, conta com 76 ilhas, situadas na confluência do rio

Tocantins com o rio Pará, no estuário do rio Amazonas, onde vivem 35.000 habitantes,

denominados de ‘moradores das ilhas’ ou ‘ribeirinhos’ (HIRAOKA, 1993).

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O município tem como principal fonte de renda o comércio, além da agricultura,

da pecuária e do extrativismo, notadamente de madeira, fibras, palmito e frutos de açaí e

miriti (IBGE, 2010). Historicamente, este município é reconhecido pelas várias mudanças que

ocorreram em sua economia. No decorrer dessas transformações, na época dos grandes

canaviais e valorizados engenhos que caracterizavam a paisagem das ilhas, Abaetetuba foi

conhecida como a ‘terra da cachaça’. Assim como mais tarde foi chamada de ‘terra das

cestarias’, tendo em vista a grande produção de cestas (‘paneiros’) confeccionadas pelos

ribeirinhos locais. Hoje, o município é designado como ‘terra dos brinquedos de miriti’.

Importante ressaltar que as mudanças ocorridas ao longo dos anos e que denotam as

particularidades de Abaetetuba, são atividades que ocorreram principalmente nas ilhas,

diferentemente dos brinquedos.

Atualmente, a relevância do brinquedo de miriti é tanta, que a cidade ganhou a

alcunha de “capital mundial do brinquedo de miriti”. Esta denominação se encontra no portal

de entrada da cidade, inaugurado em 6 de junho de 2008. Um sinal claro de que, mesmo

sendo utilizado tradicionalmente pelas comunidades ribeirinhas, o brinquedo também é feito

na zona urbana de Abaetetuba, ainda que no centro urbano o brinquedo assuma uma

importância maior no aspecto da comercialização.

Estratégias de organização conjunta da produção e comercialização dos

brinquedos entre os produtores do baixo Tocantins pode se tornar uma grande vantagem para

os mesmos, no sentido de lhes garantir melhores condições de competitividade para o seu

produto e, principalmente, melhores condições de inclusão social e cidadania.

Dependendo da forma como se obtém o fruto nas áreas de várzea no baixo

Tocantins, podemos identificar vários tipos de trabalhadores rurais que vivem da produção,

extração ou comercialização do miriti, como por exemplo: o ribeirinho independente, o

atravessador; o trabalhador cooperado (podendo ser um ribeirinho ou não), o artesão dentre

outros. Feitos só no Pará, o artesanato de miriti é base de sustento de centenas de

abaetetubenses.

Nos últimos anos, os brinquedos de miriti ganharam visibilidade e produção em

maior escala a partir da organização e fundação da “Associação dos Artesãos de Brinquedos e

Artesanatos de Miriti de Abaetetuba” (ASAMAB), em fevereiro de 2003. Este fato favoreceu

o fomento da atividade por parte do poder público estadual e municipal, por meio de vários

projetos. A título de exemplo, o projeto desenvolvido pelo Serviço Brasileiro de Apoio as

Micros e Pequenas Empresas (SEBRAE/PA), Unidade Tocantins, na área de arranjos

produtivos locais, inserido no setor de artesanato. A possibilidade de renda e trabalho em

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21

torno do artesanato de miriti despertou o interesse de gerações mais novas que se uniram e

fundaram, em dezembro de 2005, a Associação Arte Miriti de Abaetetuba (Miritong),

desenvolvendo novos produtos e novas atividades

A década de 1970 que teve como marco as discussões ambientais desencadeou

uma série de ações que culminaram, entre outras, na formação de Organizações Não

Governamentais (ONG’s) e políticas ambientalistas. Além disso, possibilitou à sociedade

civil, perceber o preço que seria pago pelo crescimento desenfreado em que o mundo

encontrava-se. Nesse contexto, surgem as alternativas em prol de um desenvolvimento sócio-

econômico sustentável.

Dentre as diversas alternativas, destaca-se a desenvolvimento local e sustentável

por ser entendida como a proposta que desenvolve a economia e respeita as limitações do

meio ambiente. Ao dar esta visão à sustentabilidade, o autor Ignacy Sachs deixa escancarado

que se deve ter uma visão dos problemas da sociedade, e não focar apenas na gestão dos

recursos naturais. É pensar em algo muito mais profundo, que visa uma verdadeira

metamorfose do modelo civilizatório atual, para ele cinco são as dimensões para que se

alcance a sustentabilidade (social, econômico, ambiental, cultural e espacial).

Nesse sentido esta pesquisa tem como objetivo analisar a importância dos

brinquedos de miriti para o desenvolvimento local do município de Abaetetuba, e para isto,

usou-se como base as cinco dimensões de uma atividade sustentável descritas por Sachs.

Diante do exposto, é notória a importância do manuseio e uso do miriti no

cotidiano abaetetubense como expressão artística, fonte alimentícia e de renda e a

expressividade cultural desta palmeira, como parte integrante da identidade desse povo,

instiga-nos a investigar a hipótese desse trabalho; o brinquedo de miriti enquanto produto

regional, passando a ter grande importância, favorece mudanças no nível local, ajudando

assim no desenvolvimento local do município de Abaetetuba.

Para tanto este estudo foi dividido em: introdução; caracterização da área de

estudo intitulada Abaetetuba- capital mundial dos brinquedos de miriti; metodologia que

apresenta as características da abordagem teórico-metodológica escolhida para fundamentar o

trajeto percorrido nas diferentes etapas desta pesquisa; quadro conceitual que está subdividido

em duas seções: desenvolvimento local e o miriti que são os dois temas fundamentais deste

trabalho, esta última seção se subdivide em duas subseções, são elas: o brinquedo de miriti e a

última intitulada do Pará ao mercado exterior, que mostra a evolução pela qual passou o

brinquedo de miriti ao longo dos anos, no esforço de dinamizar esta subseção estruturou-se o

título com o objeto desse trabalho e no decorrer da seção foi se agregando termos que

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exemplificam os valores agregados ao artesanato no decorrer dos anos até o momento que ele

se torna lei.

Na última parte desta dissertação procura-se responder aos questionamentos deste

estudo e concretizar os objetivos propostos. Para isso desenvolveu-se duas seções

denominadas: “Uso e apropriação do miriti, da fabricação à comercialização dos brinquedos e

o brinquedo de miriti como desenvolvimento local em Abaetetuba” relacionadas diretamente

com os objetivos propostos. No último ponto, cruzando com as dimensões de sustentabilidade

propostas por Sachs, tendo cada dimensão como subseção.

Nas considerações finais, tecemos nossas ponderações a respeito do assunto

pesquisado. Evidenciamos os achados relacionados ao desenvolvimento local nos brinquedos

de miriti e sua importância para o município que há anos traz para o mundo um artesanato

único.

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23

2 HIPÓTESES, OBJETIVOS E ÁREA DE ESTUDO

2.1 Hipótese

Este trabalho traz a seguinte hipótese como norteadora deste trabalho: “O

brinquedo de miriti enquanto produto regional, ao assumir grande importância e por seu

caráter sustentável, favorece mudanças no nível local e ajuda no desenvolvimento local do

município de Abaetetuba”.

2.2 Objetivos

A fim de ratificar o argumento trazido na hipótese, tem-se como objetivos dessa

pesquisa.

2.2.1 Geral

Analisar a importância dos brinquedos de miriti para o desenvolvimento local e

sustentável do município de Abaetetuba.

2.2.2 Especifico

• Analisar o uso e apropriação do Miriti na fabricação dos brinquedos;

• Identificar como os Brinquedos de Miriti têm contribuído para o

desenvolvimento local do município de Abaetetuba.

2.3 Caracterização da área de estudo - Abaetetuba a capital mundial do brinquedo de

miriti

Município que já foi conhecido por ser a terra da cachaça, e ate hoje por vezes

ainda recebe benefícios dessa fama, hoje é mais conhecido por ser a capital mundial dos

brinquedos de Miriti (mapa 1). Para efeitos de estudo o município foi dividido em 3 áreas: a

sede cidade, a estrada e a região das ilhas que este ultimo compreende um total de 76 ilhas,

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essa divisão foi feita pela paróquia de Abaeté para que podessem facilitar o trabalho de

evangelização.

Mapa 1: Localização do Município de Abaetetuba

Fonte: Google Earth, 2013, adaptado pela autora.

O distrito de Beja foi o berço da colonização de Abaetetuba. Por volta de 1635,

padres capuchos vindos do Convento do Una em Belém, após percorrerem os rios da região,

juntaram-se a uma aldeia de tribos nômades. O aglomerado foi chamado de Samaúma e

depois batizado de Beja pelo governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, embora

Francisco de Azevedo Monteiro seja considerado no imaginário popular, o fundador, pois

chegou para tomar posse desse território como proprietário de uma sesmaria. Na beira do rio

Maratauíra, num local protegido das marés pela ilha de Sirituba e nas proximidades do sítio

Campompema e da Ilha da Pacoca, fundou um pequeno povoado, em 1724.

O município de Abaetetuba foi desmembrado do território da capital do Estado

em 1880 e atualmente é composto pelos distritos de Abaetetuba (sede) e Beja. Abaetetuba

representa uma encantadora surpresa para quem a visita pela primeira vez. Simples em seu

traçado e nas construções urbanas, a cidade cresceu às margens do Rio Maratauíra (ou

Meruú), um dos afluentes do Rio Tocantins. Seu povo é alegre, hospitaleiro e, sobretudo,

apaixonado por sua terra. A vida dos abaetetubenses guarda tantas peculiaridades, que a soma

delas acaba gerando uma cultura peculiar.

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2.3.1 População

O Município de Abaeté possui uma população total de 141.100 habitantes

(IBGE). Apesar de ser uma das áreas de ocupação mais antigas demograficamente, a cidade

teve um crescimento associado a implantação de grandes projetos industriais como é o caso

da Albrás –Alunorte.

Apresenta um grande crescimento em população tanto na população da cidade

como a do campo. Na situação de domicílios: urbana tem-se 83.248 e na rural 57.852.

Em sua maioria trata-se de uma população jovem, há uma maior concentração de

mulheres, principalmente na fase adulta, e ativa.

2.3.2 Principais atividades econômicas

Cidade pólo de uma região que abrange os municípios de Moju, Igarapé-Miri e

Barcarena (somando uma população de mais de 350 mil habitantes), Abaetetuba é a sexta

maior cidade do estado e atualmente passa por um momento de crescimento econômico

acelerado, principalmente nos ramos do comércio e serviços. A cidade proporciona fácil

acesso aos Portos de Belém, Vila do Conde e ao sul do Pará, além da proximidade do Pólo

Industrial na Vila dos Cabanos que fica a 30 km. Diversas empresas estão se instalando no

município, aproveitando também a grande rede de serviços da cidade, fato refletido no PIB

municipal, que triplicou em quatro anos.

A atividade econômica predominante no município é o setor terciário (comércio e

serviços), que conta com uma ampla rede de estabelecimentos das mais diversas atividades.

A atividade industrial tem pequena participação na economia abaetetubense,

porém vem apresentando grande crescimento nos últimos anos, sobretudo nos ramos

alimentício e de beneficiamento de produtos agro-florestais. De um modo geral as indústrias

da cidade são de médio e pequeno portes, e distribuem, principalmente nos ramos de bebidas,

moveleiro, madeireiro, e oleiro-cerâmico. A cidade conta também com metalúrgicas e

estaleiros, estes famosos pela primorosa carpintaria naval.

Abaetetuba é um daqueles típicos municípios em que sua produção de hortaliças

atende perfeitamente à sua demanda, através da significativa produção das hortas familiares,

sobretudo na localidade Colônia Nova, km 07 da rodovia PA-151. Como destaque temos as

culturas da mandioca, cana de açúcar e laranja.

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O município destaca-se como o 2º maior produtor de açaí do Pará, como 3º maior

produtor de bacuri e cupuaçu, e como o maior produtor de manga do estado. Outras culturas

também marcam fortemente a cadeia vegetal abaetetubense, como mandioca, coco, miriti e

bacaba, que apresentam grande produção.

O município de Abaetetuba tem na produção de lenha e extração da madeira em

tora sua principal atividade de extrativismo vegetal, esta produção tem registrado variação

positiva nos últimos anos.

Na pecuária, o município conta com bovinos, suínos e caprinos, além de possuir

um abatedouro público. Destacando-se a avicultura (codornas, galos, frangos, frangas e

pintos). Outras criações também são existentes porém não possuem produções expressivas, o

que indica a sua utilização para fins familiares. Na piscicultura o município caracteriza-se

como pólo pesqueiro do estado, apresentando grande produção de camarão.

2.3.3 Ocupação

Conforme se observa (quadros: 1,2) as atividades do setor agroextrativista são as

que mais absorvem mão de obra, dado importante se olhado em relação à matéria prima de

fabricação do objeto de estudo desde trabalho. A indústria de transformação e a construção

civil em conjunto são responsáveis por 19, 87% da ocupação. Além destes os setores de

educação e ao serviços domésticos merecem citação, embora com taxas bem inferiores, de

7,0% e 5,29% respectivamente.

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Quadro 1. Ocupação nos setores de atividades.

Setores de atividades População Participação

(%)

Extrativa mineral/agricultura 11.334 28,54

Indústria 6.278 15,81

Construção 1.612 4,06

Comércio 7.510 18,91

Serviços 2.920 7,35

Administração Pública 1.184 2,98

Educação 2.779 7,00

Saúde e serviços sociais 351 0,88

Outros serviços sociais coletivos 880 2,22

Serviços domésticos 2.099 5.29

Intermediações financeiras 1.007 2,54

Atividades mal definidas 1.752 4,41

FONTE: FIBGE ELABORAÇÃO: Equipe de consultoria Quadro 2. Posição na ocupação de trabalho.

Posição na ocupação do trabalho População Participação

(%)

Empregados assalariados do setor público 3.248 8,18

Empregados assalariados do setor privado 15.217 38,32

Com carteira de trabalho assinada 3.658 24,04

Sem carteira de trabalho assinada 11.599 75,96

Empregadores 545 1,37

Conta própria 14.101 35,51

Não remun. em ajuda a membro do domicilio 4.420 11,13

Trabalhadores na produção para próprio consumo 2.176 5,48

FONTE: FIBGE ELABORAÇÃO: Equipe de consultoria

Quanto à posição que ocupam os dados apresentados, no quadro 2 mostram que

46,44% encontravam se na condição de empregados assalariados, dos quais 8,18%

provenientes do setor público e 38,32% do setor privado.

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A segunda maior expressividade é decorrente dos que trabalham na condição de

conta própria com 35,51% seguido-se os que trabalham na condição de não remunerados em

ajuda a membros do domicilio 11,13% e dos que trabalham na produção para o próprio

consumo 5,48%. Os empregadores aparecem como o grupo de menor expressão com uma

participação de 1,37%.

2.3.4 Emprego e Renda

O desemprego coexiste com a falta de trabalhadores qualificados para preencher

vagas em determinados setores e funções.

Jovens vão em busca do primeiro emprego sem experiência nem treinamento

adequado. Trabalhadores dispensados pela indústria não têm as aptidões requeridas para se

empregar no comércio e em serviços. Fazer convênios com entidades da sociedade para

promover a profissionalização de jovens e adultos deficientes e encaminhá-los ao mercado de

trabalho.

Estabelecer uma política de incentivos fiscais para atrair a instalação de empresas

em Abaetetuba, para que assim possa se buscar desenvolvimento de renda para o município.

Conciliar as atividades produtivas com a preservação do meio ambiente também

pode ser um grande destaque para o município uma vez que muito se fala em

desenvolvimento local com recursos financeiros aliados a preservação do meio ambiente. E se

tratando de uma localidade que tem associado ao seu nome um artesanato fabricado com a

matéria prima de uma palmeira estabelecer esta relação torna-se essencial para que ambas as

partes sejam beneficiadas.

2.3.5 Presença e Influência de Grandes Projetos

Na Amazônia, os empreendimentos econômicos (Grandes Projetos) que se

implantaram, em grande parte beneficiados por uma política pautada em incentivos fiscais e

financeiros, privilegiaram a extração mineral e agropastoris. Dessa forma, os recursos naturais

da Região foram vistos como fonte de solução para os problemas econômicos do país,

considerando-se a política de aumento das exportações e de geração de saldos expressivos da

balança comercial implementada a partir de então (LOURENÇO, 2001). Nesse sentido, para

o município de Abaetetuba destaca se com relevância os seguintes projetos:

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a) O complexo Álbrás-Alunorte, pode-se identificar o uso de tecnologias

intensivas em capital. Externalizava os territórios produtivos das municipalidades, à

medida que não absorveram a população de seu entorno e nem agregaram valor à

localidade, considerados, pois enclaves, produzindo efeitos longe dos prometidos

quando se adotou o modelo de desenvolvimento regional polarizado;

b) Alça Viária do Pará, complexo de pontes e estradas que totalizam mais de

74Km de rodovias e 4,5 Km de pontes, construída para integrar a Região

Metropolitana de Belém;

c) Programa destinado à expansão do cultivo do dendê (óleo de palma) nas áreas

degradadas da Amazônia com a implicação parcial da agricultura familiar e na

perspectiva de produção de biodiesel.

As externalidades começam a acontecer no 1º ponto quando o desenvolvimento

não se propaga de forma igualitária, pois não envolve o todo simultaneamente concentrando-

se em certos pontos (regiões) e difundindo-se a partir desses pólos para as circunvizinhanças,

o problema é que nem todos os municípios vizinhos tiveram resultados positivos, ocorreu um

processo de proletarização e assentamentos informais, assim o intenso êxodo rural gerou

conseqüências no município de Abaetetuba, com tantas famílias que tiveram que abandonar

suas moradias.

No ponto 2, nota-se a externalidades por meio de uma nova ligação que a capital

passa a ter com outros municípios, e ainda com esta nova rota cresce a possibilidade de novos

negócios para estas regiões, Abaetetuba é beneficiada uma vez que a viagem com destino a

capital passa a ter apenas 2h e não é feita mais apenas por barcos.

O projeto Biodiesel Pará: nesta perspectiva, a Petrobras Biocombustível assinou o

dia 22 de setembro de 2010 em Tailândia, estado do Pará, contratos para implantação do 1°

Pólo de Produção para plantio de 6 000 hectares com mais de um milhão de mudas de palma a

serem plantadas em parceira com agricultores do município. A ampliação do programa nos

municípios de Tomé-Açú, Moju, Acará, Concórdia do Pará, Bujarú, Abaetetuba deve

envolver 1.000 agricultores familiares e gerar um total de 5.000 empregos diretos

(PETROBRAS, 2010).

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2.3.6 Problemas Socioambientais.

A maioria das cidades tem se desenvolvido de forma desordenada2 e o problema

está em apresentarem problemas de caráter social e ambiental, boa parte desses problemas

encontra-se vinculado há vários outros problemas e também a uma má distribuição de renda e

contradições sociais, dentre estes apresentaremos em seguida alguns encontrados no

município de Abaetetuba.

� Uso da Terra e Renovação da Cobertura Vegetal

Muitos Abaetetubenses moram precariamente em invasões, áreas de alto risco,

como encostas e margens de rios, rodovias, e loteamentos irregulares. Alguns dos principais

problemas urbanos de Abaetetuba estão relacionados à degradação do meio ambiente – ilhas

de calor, poluição do ar, sonora e visual, baixo índice de áreas verdes, ocupação desordenada

de mananciais, entre outros.

Precisa-se destacar também a importância do miriti para algumas áreas, este

acabou também por contribuir de forma direta para o povoamento e desenvolvimento de

alguns bairros, como o de São Sebastião, com a construção das pontes nas áreas de baixadas.

As necessidades habitacionais do município de Abaetetuba se caracterizam como

déficit e inadequação. Déficit é a deficiência de estoque de moradia e se compõe de déficit por

reposição de estoque e por incremento de estoque. A Inadequação é quando os domicílios não

proporcionam a seus moradores condições desejáveis de habitabilidade e pode ocorrer por

carência de infra-estrutura, adensamento excessivo, problemas fundiários, alto grau de

depreciação ou falta de banheiro privado.

A inadequação é bem mais excessiva que o déficit e a principal e mais freqüente

razão de inadequação é a carência de infraestrutura (coleta de lixo domiciliar, abastecimento

de água potável, esgotamento sanitário e energia elétrica) vindo respectivamente à ausência de

banheiros privativos familiares, adensamento excessivo e inadequação fundiária.

É perfeitamente perceptível que o problema habitacional no município de

Abaetetuba, assim como no resto do país, vai muito além do déficit. Acrescenta-se à falta de

2 O termo “desordenado” quanto às cidades, refere-se ao que Silva (1997) trata como um enorme problema para a urbanização, que deteriora o ambiente urbano, provoca a desorganização social, gerando carência de habitação, empregos e saneamento básico, modificando a utilização do solo e transformando negativamente a paisagem urbana.

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habitações, as precárias condições de habitabilidade em grande parte dos domicílios

permanentes existentes.

A questão do desenvolvimento urbano deve ser considerada em função da região.

Algumas questões estão sendo tratadas no âmbito municipal, entretanto devem ser

consideradas de âmbito regional.

Ações no âmbito municipal:

• ZONEAMENTO URBANO – adequação do zoneamento urbano à ocupação e uso que

permitam o desenvolvimento integrado da cidade, com atenção especial para as áreas

de expansão, sobretudo nos eixos das PA’s.

• GESTÃO DE SOLO URBANO – reestruturação da gestão do solo urbano,

qualificando ações de fiscalização e decisão, criando mecanismos de participação da

sociedade.

� Acesso/Transporte

A oferta de bens de consumo e serviços básicos são funções de importância cabal

para o atendimento das necessidades econômicas e sociais dos habitantes locais; serviços

como: médicos-hospitalares, educacionais, informação, comércio e bancos.

Porém, um grande problema vem crescendo cada dia mais no município; a

excessiva dependência econômica, social e cultural dos bairros em relação à região central da

cidade deixou o centro saturado e uma imensidão de bairros-dormitório segregados,

deficientes de serviços, sem vida própria nem pontos de encontro para os moradores.

A atividade econômica não seguiu a expansão das áreas residenciais para longe do

centro, aumenta a dificuldade dos moradores das áreas novas, para conseguir emprego na

própria região, fazendo-os gastar mais tempo e dinheiro com transporte, e até mesmo a

educação fica comprometida, os alunos, por vezes, não dispõem de recursos financeiros para

pagar a condução e ficam na dependência de ônibus que na cidade é inexistente.

� Lixo e Resíduos Sólidos

Pelas informações contidas no censo demográfico de 2010, dos domicílios

existentes em Abaetetuba, 48,73% possuíam serviços de coleta de lixo domiciliar. Esse

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percentual situa-se um pouco abaixo da média de atendimento no Estado que é de 53,44%

dos domicílios. O restante que não tinha acesso a esse tipo de serviço, enterrava, queimava ou

jogava o lixo em terrenos baldios localizados próximos aos domicílios ou, até mesmo, em

rios e igarapés, trazendo riscos à saúde dessa população. Dificilmente são encontradas

estatísticas sobre o volume de lixo coletado, na ausência desse dado no município de

Abaetetuba, a equipe utilizou a seguinte metodologia, considerou o indicador universamente

aceito de produção diária de 600 gramas de lixo doméstico por pessoa, e considerando que a

população atendida pela coleta domiciliar no município pode ser obtida, multiplicando-se o

total de residências beneficiadas pelo serviço, pelo número de habitantes por domicilio,

chega-se a um volume aproximado de 1.127 toneladas recolhidas mensalmente.

� Solos

Predominam no município o Latossolo Amarelo distrófico, textura média,

associado ao Podzol Hidromórfico e Solos Concrecionários Lateríticos Indiscriminados

distróficos, textura indiscriminada, em relevo plano. Nas ilhas, acham-se presentes, em

manchas, os solos Gleys eutróficos e distróficos e Aluviais eutróficos e distróficos, textura

indiscriminada.

� Vegetação

A composição e estrutura da vegetação nativa adaptadas a um solo de baixa

fertilidade e regime de marés são também caracterizadas por número limitado de espécies.

Denominada de floresta oligárquica esta vegetação de várzea é muito útil aos

ribeirinhos (HIRAOKA, 1993). Esse tipo de floresta apresenta uma vegetação característica,

com espécies ombrófilas latifoliadas, intercaladas com palmeiras, dentre as quais despontam o

açaí (Euterpe oleracea Mart.) e o miriti (Mauritia flexuosa L.f.), de grande importância para

as populações locais.

A vegetação é composta, ainda, por árvores de grande porte, podendo ser

encontrado o acapu, a copiuba, o pau-amarelo, a sucupira, o frejó (madeiras de lei), bem como

por matas de várzea, que são ricas em seringueiras, cimbauba e andirobas. Há também os

campos, cerrados, com a presença de palmeiras como inajá, tucumã, mucajá, sem deixar de

mencionar a abundância de cipós e trepadeiras, miritizeiros, açaizeiros, jupatizeiros, palheiros,

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patuazeiros, bacabeiras, ananinzeiros, piquiazeiros, castanheiras, uxizeiros, marizeiros, entre

outros.

� Patrimônio Natural

A alteração da cobertura vegetal, observada em imagens de satélite LANDSAT-

TM, somou 88,40%. Os acidentes geográficos mais importantes são os rios Pará, Abaeté

(com uma pequena cachoeira com esse nome), Jarumã, Arapiranga de Beja, Arienga,

Itanambuca e Itacuruçá. O Município contém cerca de setenta e seis ilhas, com destaque para

as ilhas do Capim (com 944,7 ha), Sirituba e Campopema. A praia de Beja é considerada a

mais bonita e atrativa do Município.

� Topografia

Os acidentes topográficos do Município são inexpressivos, com terrenos

localizados na margem direita do trecho baixo do rio Tocantins, com cotas que oscilam entre

5 a 20 metros.

� Geologia e Relevo

Constituídos por terrenos sedimentares do Terciário (Formação Barreiras) e do

Quaternário Antigo e Recente, a estrutura geológica de Abaetetuba reflete, não só em sua

porção continental, mas, também, na insular, grande simplicidade nas suas formas de relevo.

Apresenta, ora amplos tabuleiros pediplanados, que formam os terrenos mais recentes,

inseridos na unidade morfoestrutural do Planalto Rebaixado do Baixo Amazonas.

� Hidrografia

Abaetetuba possui uma extensa rede hidrográfica, com rios navegáveis em quase

toda a sua extensão, além de furos e igarapés. O principal rio é o Tocantins, que em terras de

municípios recebe pela margem direita as águas do Rio Meruú, que separa a zona de terra

firme, situada a Leste do município, da zona das ilhas, que se situa a oeste e recebe, por sua

vez, as águas de vários rios, destacando-se pela margem direita os rios Piquiarana, Arapapu,

Acaraqui, Genipaúba, Ipixuna, Jaurá, Jaruná, Traína-Miri, Guajará, Arapiranga e Uruaiga

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(RODRIGUES, 2005); pela margem esquerda os rios Tucumanduba, Quianduba, Maracapuai,

Arumanduba, Paranjó e Caripetuba.

Importante, também, é o rio Abaeté que banha a sede do Município e deságua na

baía do Capim. Outros rios que deságuam na baía do Capim são: Guajará de Beja, Arapiranga

de Beja e o Arienga, este último fazendo limite com Barcarena, a nordeste. Município de

Abaetetuba.

Destaca-se, ainda, o rio Itanambuca, que serve de limite natural, a sudoeste, com o

município de Igarapé-Miri.

O município de Abaetetuba é um verdadeiro arquipélago, formando a “Zona das

Ilhas”, das quais, segundo Rodrigues (2005), são as mais importantes: Capim, Sirituba,

Campompema, Paçoca, Cururu, São Bento, São Francisco, Santo Antônio e Coelho.

� Clima

O clima no município de Abaetetuba é do tipo Am, segundo a classificação de

Köppen, que corresponde à categoria de super úmido. Apresenta altas temperaturas,

inexpressiva amplitude térmica, e precipitações. O predomínio deste tipo de clima favorece as

condições ideais para o desenvolvimento do miritizeiro.

2.3.7 Capacidade Institucional Municipal na Área de Gestão Ambiental

Abaetetuba dispõe de uma secretaria de Meio Ambiente, porém quando procurada

para esclarecer qualquer que seja a situação ou tirar qualquer duvida, ninguém sabe informar

ao certo a quem devemos nos reportar. O próprio site da prefeitura não dispõe de nenhuma

informação em relação a atual secretaria.

Existem em vigor no município atualmente duas leis em relação ao meio

ambiente, são elas:

a) Dispõe sobre a coleta seletiva e triagem do lixo no município de Abaetetuba.

b) Institui Taxas decorrentes das atividades de licenciamento, fiscalização e

monitoramento das ações que exercem impactos sobre o Meio Ambiente no âmbito do

município de Abaetetuba-Pa.

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2.3.8 Condições de Vida da População

� Educação

O município necessita de construção de creches e pré-escola, melhoria na

qualidade do ensino.

A educação infantil é um dos principais pilares do processo de desenvolvimento

das crianças. Deixar de priorizá-la é desperdiçar um imenso potencial humano. Faltam

investimentos no ensino fundamental. A ausência de espaços escolares que valorizem o

lúdico, como brinquedotecas e a falta de merenda escolar nas escolas de ensino básico, são

segundo o IBGE algumas das principais reclamações em relação a unidades escolares

existentes hoje no município (quadro 3).

Quadro 3. Situação de unidades escolares em Abaetetuba.

Unidades escolares Quantidade Matriculas por série

Pré – escola 156 6.254

Fundamental 189 31.379

Médio 18 7.201

Superior3 06 Sem dados

Fonte: IBGE, 2010, adaptado pela autora.

Desenvolver mais políticas especifica para ampliar as oportunidades de

participação e reduzir a vulnerabilidade dos adolescentes; implementar políticas públicas de

qualificação e geração de emprego e renda, oferecendo cursos profissionalizantes articulados

com a conclusão do ensino fundamental e do acesso ao ensino médio, sintonizados com o

mundo de trabalho da região, preparando os adolescentes para o primeiro emprego, o

empreendedorismo e a sua realização profissional.

Neste sentido Silva (2012), chama atenção para o fato de que: [...] as oficinas de confecção de brinquedos de miriti são espaços de aprendizagem onde circulam saberes e fazeres que são compartilhados entre todos que participam deste espaço, da criança ao idoso. E não somente nas oficinas, mas, também, em outros espaços como no “Centro de Cultura e Artesanato de Miriti” e nas feiras de

3 Unidades de Ensino Superior existentes em Abaetetuba: Universidade Federal do Pará; Universidade do Estado

do Pará, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, EADCON, Universidade Vale do Acaraú, FATEP. (IBGE, 2010).

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comercialização onde circula o brinquedo de miriti e, com ele, as pessoas interagem entre si, trocam experiências e se educam (SILVA, 2012, p.139).

Chama-se atenção pelo fato de ver nesta atividade não somente a vida profissional

do jovem, porém também o conhecimento apreendido dos mais experientes em relação a

técnicas e conhecimentos de vida.

Poucas são as discussões em relação a apoio ao estudante, muitos reclamam que a

ajuda podia ser dada de forma pequena, como com o asfaltamento de ruas que ligam às

escolas, ou até mesmo com transporte coletivo, visto que a cidade atende demanda da sede, da

região das ilhas, da estrada ou sítios e de municípios arredores.

Saúde/Saneamento.

Para serviços hospitalares o município conta com: 44 unidades municipais e 13

privados. A falta de acesso a serviços públicos básicos, como água encanada, esgoto e coleta

de lixo – determinantes para as condições de saúde de qualquer indivíduo, aliada à

desestruturação e a baixa taxa de serviços de saúde de Abaetetuba contribuem para o índice de

adoecimento.

Não há programas e políticas específicas para grupos populacionais mais

vulneráveis, como crianças, grávidas e idosos e os moradores da região das ilhas.

A prefeitura de Abaetetuba é historicamente responsável pelos sistemas de lixo

que por sua peculiaridade topográficas, geológicas, socioeconômicas e climáticas tem

soluções complexas.

Torna-se fundamental conceber de forma integrada, sistemas de abastecimento de

água, esgoto sanitários, limpeza urbana (lixo) e manejo das águas pluviais (drenagem urbana),

com objetivo da real recuperação das áreas alagadas / degradadas, como é o caso das

baixadas.

� Desigualdade e Vulnerabilidade Social

O município apresenta um dos mais baixos IDH 0,706 – Índice de

Desenvolvimento Humano do Estado do Pará. Por outro lado as áreas de pior qualidade de

vida – bairros mais perigosos são justamente as que apresentam as maiores concentrações de

crianças e adolescentes; nesses locais, as mulheres chefes de domicílio têm escolaridade mais

baixa – 97,8% delas têm menos de oito anos na escola. Estes fatos geram vulnerabilidade e

risco para crianças, adolescentes e jovens. Precisa-se de políticas públicas sérias e articuladas

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para amenizar problemas como o trabalho infantil, a violência contra mulheres, crianças e

adolescentes, o abandono de idosos, a fome e a violência em geral.

A maioria das vítimas e autores de homicídios são homens, entre 18 anos e 26

anos, sem antecedentes criminais, com primeiro grau incompleto. Também é jovem a maioria

esmagadora dos autores de roubo (assalto a mão armada). A maior parte dos assassinatos

ocorre em locais mais afastados, principalmente nos mais carentes de infraestrutura e serviços

públicos, onde se concentrou o crescimento da cidade nos últimos anos. A impunidade

perpetua o ciclo vicioso de morte-retaliação.

Grande parte dos bairros não conhece nenhuma infra-estrutura para esporte,

cultura e lazer, deixando muitas pessoas sem alternativas e praticamente sem apoio do poder

público. Também na região das ilhas e nos ramais faltam oportunidades de esporte, cultura e

lazer, o que poderia ser visto como uma alternativa para tirar essas crianças e adolescentes das

ruas, oferecendo a eles um bairro com mais qualidade de vida e no qual eles tivessem

entretenimento e atividades a desenvolver.

Multiplicar as ruas e praças de lazer, dando a elas iluminação adequada e

segurança nos finais de semana, organizando-as como um ponto de encontro e um espaço

adaptado às necessidades de cada comunidade revela-se como o mínimo a ser feito por tais

comunidades.

2.3.9 Cultura e Turismo

Abaetetuba é um município tradicional em vários aspectos da vida social, cultural,

econômica, política. Precisa retomar a sua luta em favor do seu desenvolvimento, apresentar

para o Pará, o Brasil e o Mundo as suas potencialidades, as capacidades de seu povo em

produzir cultura, artesanato, suas belezas naturais, sua história de conquistas e respeito, sua

gente alegre e hospitaleira, sua vocação incontestável para o comércio como poucos

municípios do Estado do Pará. É preciso remover para longe o rotulo de o município dos

escalpelados, da menina presa com 20 homens na delegacia de policia local, enfim de tudo

aquilo que afeta a dignidade de homens e mulheres que amam e trabalham por esta querida

terra, para tanto torna-se necessário algumas ações de governo.

A prefeitura vem trabalhando políticas culturais e as desenvolve em diversos

setores, por isso precisa adquirir uma estrutura mais estável e consistente, buscando novas

formas de organização e de financiamento sustentável como forma de viabilizar, aperfeiçoar e

respaldar as diversas manifestações culturais que identificam e caracterizam o patrimônio

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cultural desse povo. São propostos o desenvolvimento dos diversos aspectos que compõem a

forma de produção cultural construída no município, além de incentivos ao intercâmbio

cultural, uma vez que a cultura é passível da inter-relação entre os povos, facilitando com isso

o acesso de produtores, artistas e grupos culturais aos recursos públicos juntamente com a

iniciativa privada, de incentivo à cultura, visando a continuidade das ações já efetivadas.

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3 METODOLOGIA

Para detalhar esta busca de entendimento, o estudo apoiar-se-á numa pesquisa do

tipo qualitativa com elementos etnográficos, por enfatizar o objeto de estudo, brinquedos de

miriti, como produto da cultura local a partir das experiências práticas dos sujeitos em seus

ambientes socioculturais. Neste sentido, os elementos que caracterizam e norteiam a pesquisa

qualitativa nos possibilitaram desenvolver, nesta dissertação, o tipo de análise pretendida

acerca do objeto de estudo.

A expressão "pesquisa qualitativa" assume diferentes significados no campo das

ciências sociais. Compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam

descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Godoy

(1995, p. 62) ressalta a diversidade existente entre os trabalhos qualitativos e enumera um

conjunto de características essenciais capazes de identificar uma pesquisa desse tipo, a saber:

(a) o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento

fundamental; (b) o caráter descritivo; (c) o significado que as pessoas dão às coisas e à sua

vida como preocupação do investigador; (d) enfoque indutivo. Dessa forma dispomos

nosso olhar sobre o brinquedo de miriti.

Quanto às técnicas de coleta de dados, o caminho para responder aos

questionamentos e atingir aos objetivos propostos neste estudo, foi realizado em dois

momentos complementares e não necessariamente distintos, mas intercalados, oscilando de

acordo com a necessidade da pesquisa.

No primeiro momento os dados foram coletados por meio de pesquisa

bibliográfica - que para Chizzotti (1991) é um tipo de pesquisa que investiga idéias, conceitos,

que compara as posições de diversos autores em relação a temas específicos, buscando

encontrar publicações (livros, artigos, periódicos, dissertações e teses) e documentos legais a

respeito do objeto de estudo. Utilizamos como fontes de informações: a Biblioteca do

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - Campus Abaetetuba; o Museu

do Círio de Nazaré, Museu Histórico do Estado do Pará e sites oficiais dos governos federal e

estadual.

Ainda em relação à literatura deste trabalho, juntamente com a pesquisa

bibliográfica foi se construindo o aporte teórico, e cabe salientar que isso se deu no decorrer

de toda essa pesquisa.

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Para conseguir informações acerca do objeto de estudo, foi feita visita em campo,

para conhecer melhor os brinquedos de miriti em sua totalidade e todas as suas vertentes.

Como afirma Chizzotti (1991) a pesquisa de campo procede à observação de fatos e

fenômenos exatamente como ocorrem no real, à coleta de dados referentes aos mesmos e,

finalmente, à análise e interpretação desses dados, com base numa fundamentação teórica

consistente, objetivando compreender e explicar o problema pesquisado. Ainda segundo

Chizzotti (1991) numa pesquisa em que a abordagem é basicamente quantitativa, o

pesquisador se limita à descrição factual deste ou daquele evento, ignorando a complexidade

da realidade social local, o que não ocorre na qualitativa. Minayo (2004, p. 53) fala do trabalho

de campo como descoberta e criação, explicitando sua concepção de “campo de pesquisa

como o recorte que o pesquisador faz em termos de espaço, representando uma realidade

empírica a ser estudada a partir das concepções teóricas que fundamentam o objeto de

investigação”. Por assim entendermos desenvolvemos a coleta de dados em algumas oficinas

de artesanato de miriti, na Associação dos Artesãos de Brinquedos de Miriti de Abaetetuba

(ASAMAB), Associação Arte Miriti de Abaetetuba (MIRITONG) e em parceiros como

SEBRAE através das técnicas de observação direta e entrevistas semiestruturadas (como

descritas mais a frente).

No que concerne às imagens fotográficas capturadas no desenvolver deste

trabalho presentes no corpo do texto, elas estão não como uma simples ilustração do não

verbal das palavras, mas sim como a materialização de um olhar. Segundo Martins (2008), a

fotografia é um elemento que constitui a realidade contemporânea, sendo objeto de pesquisa

ou até mesmo podendo tornar-se sujeito na medida em que se reconhece a imagem como

documento do imaginário social e não como registro factual de uma realidade social.

Neste sentido, a fotografia facilita o registro das múltiplas dimensões e dinâmica

de uma comunidade, não revelando apenas a imagem do real, mas também as intenções,

saberes, ideologias, emoções, sensibilidade, preocupações humanas e sociais do fotógrafo

pesquisador. Esta concepção de imagem fotográfica norteou a análise iconográfica realizada

neste trabalho.

3.1 Delimitação da Área de Estudo

O município de Abaetetuba foi desmembrado do território da capital do Estado

em 1880, de acordo com a Lei nº 973, de 23 de março que também constituiu o município

como autônomo. Um ano depois, em 1881, o presidente interino da Câmara em Belém, José

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Cardoso da Cunha Coimbra instalou no município a Câmara Municipal de Abaeté. Por meio

do Decreto Lei nº 4.505, de 30 de dezembro de 1943, foi instituído o nome Abaetetuba. O

nome primitivo do município era Abaeté que, na língua tupi, significa “homem verdadeiro”,

através da junção dos termos abá (“homem”) e eté (“verdadeiro”). Por meio do Decreto-lei 4

505, de 30 de dezembro de 1943, foi-lhe acrescentado o sufixo tuba, oriundo do termo tupi

tyba (“ajuntamento”), para diferenciá-lo do município homônimo no estado de Minas Gerais.

Portanto, Abaetetuba significa, na língua tupi, “ajuntamento de homens verdadeiros” e é uma

cidade essencialmente ribeirinha (fotografia 1).

Fotografia 1. Frente da cidade de Abaetetuba.

Fonte: Site da prefeitura do município, 2013.

Abaetetuba que hoje é conhecida como “a capital mundial dos brinquedos de

miriti” já foi conhecida também pela alcunha de “terra das cestarias” e ainda por ser a “terra

da cachaça”. Hoje apenas um engenho ainda existe, e este por sua vez para atividade

totalmente turística.

Cidade pólo de uma região que abrange os municípios de Moju, Igarapé-Miri e

Barcarena (somando uma população de mais de 350 mil habitantes), Abaetetuba é a sexta

maior cidade do estado. A cidade proporciona fácil acesso aos Portos de Belém, Vila do

Conde e ao sul do Pará, além da proximidade do Pólo Industrial na Vila dos Cabanos que fica

a 30 km de distância. Diversas empresas estão se instalando no município aproveitando

também a grande rede de serviços da cidade, fato refletido no PIB municipal, que triplicou em

quatro anos.

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A atividade econômica predominante no município é o setor terciário (comércio e

serviços), que conta com uma ampla rede de estabelecimentos das mais diversas atividades

(fotografia 2).

Fotografia 2. Feira livre em Abaetetuba.

Fonte: site da prefeitura do município, 2013.

Para Silva (2012) a exemplo dos estaleiros navais, das olarias, dos engenhos de

fabricação de aguardente, as oficinas de brinquedo de miriti, contam com conhecimentos

tradicionais e perfazem vários aspectos da vida cotidiana cabocla abaetetubense. São saberes

não escolares sobre o meio ambiente, a ética, o respeito, a solidariedade, as relações de

trabalho, a saúde entre outros, que são compartilhados, por meio da oralidade e da

observação, dos mais velhos para os mais novos, nestes ambientes de educação não oficiais.

As oficinas de confecção de brinquedos de miriti geralmente são localizadas nos

fundos das residências dos artesãos, em salas simples, com boa ventilação e iluminação

natural. É o lugar do trabalho familiar, do encontro de gerações – pais, filhos e netos, que por

meio da habilidade artística ensinam, aprendem e se educam mutuamente. É, também, o local

de trocar experiências com amigos, vizinhos, clientes, pesquisadores e outros visitantes.

3.2 Coleta e análise de dados

Para Silva e Menezes (2005) nesta etapa é feita a pesquisa de campo propriamente

dita e para obter êxito neste processo, duas qualidades são fundamentais: a paciência e a

persistência.

André (2004), ao discorrer acerca da pesquisa qualitativa do tipo etnográfica,

ressalta a importância do pesquisador como agente principal de coleta e análise de dados, ele

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precisa estar próximo das pessoas, locais, eventos, para observá-los em sua manifestação

natural. Assim, o envolvimento constante entre pesquisador e objeto pesquisado é um fator

que facilita o discorrer da pesquisa.

As informações foram coletadas no período de junho a agosto de 2013. A

pesquisa envolveu 36 informantes, distribuídos em 4 grupos (quadro 4):

Quadro 4. Distribuição de informantes, entre representantes e artesãos.

Representantes Artesãos

ASAMAB 1 32

MIRITONG 1 ----

Individual --- 1

SEBRAE 1 ----

Fonte: Autora (2013).

Vale ressaltar que a ASAMAB apresenta um total de 60 associados, se levarmos

em conta os ativos e não ativos (com mensalidades em aberto até três meses);

Foi utilizada a técnica ‘bola de neve’ para a seleção dos informantes, uma

estratégia de seleção intencional, sugerida por Albuquerque et al. (2010) em casos de pesquisa

cujo tempo em campo é limitado. Esta técnica permite que cada entrevistado indique outro

possível informante, reconhecido(a) como detentor(a) do conhecimento em questão. Porém

torna-se necessário mencionar que como referencias para este trabalho utilizou-se no que

tange ao histórico dos brinquedos de miriti as considerações e falas de artesãos tidos como

referencia para uma abordagem histórica, o fato deste trabalho não ter os entrevistados

justifica-se por este não ser o contexto principal abordado neste trabalho. A escolha dos

artesãos de brinquedos associados para responder os questionários não se deu de maneira

intencional; pelo fato de estarem organizados em associação local, consideraram-se a

presença e a disponibilidade desses atores quando das visitas feitas às associações locais.

Esses compõem o grupo de trinta e dois (32) filiados na Associação dos Artesãos de

Brinquedos de Miriti de Abaetetuba (ASAMAB). Foram usados com este grupo

questionários: 14 perguntas com respostas fechadas.

O outro artesão individual tido como referência, este sim foi entrevistado de

forma intencional dada a importância do seu trabalho, pois foi indicado mais de uma vez por

outros participantes da pesquisa. A entrevista se deu no próprio ambiente de trabalho, seu

atelier. Josias Plácido, mais conhecido como “Pirias” disse que era associado da ASAMAB,

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mas que se afastou a tanto tempo das atividades e deixou de pagar as mensalidades que hoje já

nem se considera mais associado.

Sobre a escolha do SEBRAE, fez-se por ser o responsável pela assistência às

micro e pequenas empresas, empreendedores individuais, produtores rurais e potenciais

empresários e ainda por desenvolver cinco projetos: setorial de agronegócio, setorial de

comércio, setorial de indústria, capacitação empresarial e território da cidadania. O contato

com o SEBRAE foi estabelecido após conversas, onde obteve-se como indicação a Sra. Bruna

Rocha, gerente do escritório regional Tocantins para que pudesse nos receber e responder a

entrevista.

No grupo das associações onde temos ASAMAB e MIRITONG, foram

conduzidas junto aos dois representante de ambas associações entrevistas semiestruturadas

para coletar dados, que se deu pela interação entre pesquisador e pesquisado que esta técnica

proporciona e, também, pela flexibilidade que o roteiro pré-estabelecido permite ao

entrevistador, pois no ato da execução da entrevista, o entrevistador pode acrescentar novas

perguntas, fazer correções, esclarecimentos e adaptações de acordo com o diálogo

estabelecido e o teor da narrativa do entrevistado (ALBUQUERQUE et al., 2010).

Em todos os universos amostrais foram buscadas informações a respeito da

produção e da comercialização dos respectivos artefatos. É necessário ressaltar que os

questionários não foram realizados com os artesãos desta última associação, por esta ter um

caráter totalmente social, o que não se aplicaria ao trabalho. Foi feita uma análise qualitativa

e quantitativa dos dados, neste caso apenas nos questionários aplicados aos artesãos com

intuito de se responder a questão da melhoria de vida destes, tabulados em planilhas e,

posteriormente, organizados em tabelas e gráficos.

3.3 Identificação e descrição dos elementos utilizados nas técnicas de pesquisas.

Feitas as entrevistas e questionários durante as três visitas aos quatro grupos - aqui

simplificados em três grupos, por entendermos que “Seu Pirias”, também é artesão mas

trabalha de maneira independente e desvinculada das associações.

Foram elaborados três quadros explicativos sobre: a atuação do SEBRAE e os

incentivos à valorização do miriti (quadro 5); sobre as associações e atuação das mesmas

junto aos artesãos (quadro 6); sobre a caracterização dos artesãos (quadro 7).

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Quadro 5. Atuação do SEBRAE sobre os incentivos à valorização do miriti.

ANALISE ELEMENTOS INDICADORES IMPORTANCIA Surgimento da parceria

Tipo de parceria Objetivos Parcerias

Projetos

Alavancar a atividade junto às associações e

artesãos individuais.

Feiras

SEBRAE

Contrapartida Individualmente

Forma de fomentar a atividade.

Fonte: Autora (2013). Quadro 6. Associações e atuação das mesmas junto aos artesãos.

ANALISE ELEMENTOS INDICADORES IMPORTANCIA Quantidade

Associados Custo

Ligação de interesses comuns a

um grupo. Eleição

Representantes Periodo

Determina quem assumirá a

representação do todo e assim sendo

todas as suas ânsias.

Projeto que desenvolve

Atuação Projeto participa

Indica, se está desenvolvendo,

onde está desenvolvendo e de

que forma está desenvolvendo a

atividade Surgimento Objetivos

Associações (MIRITONG E

ASAMAB)

Associação Parceria

Desenvolver a atividade

Fonte: Autora (2013).

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Quadro 7. Caracterização dos artesãos.

ANALISE ELEMENTOS INDICADORES IMPORTANCIA Renda media mensal

Único sustento Exerce (ia) outra atividade

Aumentou a renda Renda

Familiares na atividade

Indicador de melhoria e

qualidade de vida.

Como aprendeu Técnica

Há quanto tempo trabalha

Experiência e conhecimento da

atividade. Comercialização

Revenda Mercado Miritifest

Produção o ano todo Origem da mat. Prima

Parentesco com o fornecedor

Artesãos

Produção

Especialidade

Indica o nível de abrangência do

artesão com essa atividade

Fonte: Autora (2013).

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4 QUADRO CONCEITUAL

Neste capítulo será tratado o conceito de desenvolvimento local, desde os

pressupostos de desenvolvimento até a alternativa de desenvolvimento sustentável

objetivando a melhoria da qualidade de vida de uma região; será apresentado também a fruta

de miriti desde a palmeira de onde se obtém o fruto perpassando pelo seu uso e fabricação até

a comercialização do produto.

4.1 Desenvolvimento local

A partir dos anos 1990, o conhecimento sobre o desenvolvimento local passam

por profunda transformação: o universalismo do desenvolvimento é seriamente questionado; é

desafiada a imposição a realidades tão diversas (principalmente nos países menos

desenvolvidos) de normas e técnicas uniformes e universalizantes definidas, sobretudo, nas

grandes capitais dos países ocidentais; fracassam os esforços teóricos de legitimar o

desenvolvimento econômico independentemente de suas dimensões sociais e culturais.

O relatório mundial do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

(PNUD) de 1990 é um marco importante nesse momento histórico: o índice de

desenvolvimento humano (IDH) passa a relativizar o PNB/habitante enquanto medida

universal do desenvolvimento e tem forte significado simbólico. As desigualdades sociais e

econômicas ocupam definitivamente o centro das atenções das correntes dominantes da teoria

do desenvolvimento e do discurso da cooperação internacional. Concomitantemente à

tentativa de renovação da cooperação internacional por algumas agências e a aceitação quase

unânime dos temas sociais e institucionais no chamado mainstream da economia, o

desenvolvimento é igualmente criticado em seus fundamentos, em suas práticas

frequentemente contraditórias e em seus mitos fundadores.

A dificuldade de responder rigorosamente a alguns questionamentos, trazidos ao

debate internacional por intelectuais, movimentos sociais, acadêmicos, pela mídia e por

ONGs nacionais e internacionais, leva muitos pensadores a proclamar o fim do

desenvolvimento e a pensar no chamado pós-desenvolvimento. Ainda que não expliquem

como substituir o conceito e a prática do desenvolvimento, sobretudo nos contextos em que as

desigualdades e as carências são ainda muito flagrantes, esses grupos contestatórios

denunciam com veemência as práticas incoerentes do desenvolvimento e seus resultados

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nefastos sobre as culturas locais: o Fórum Social Mundial, em suas diferentes edições a partir

de janeiro de 2001, pode ser considerado como um dos espaços privilegiados de encontro

dessas expressões da contestação.

O reconhecimento dos erros cometidos, as distorções causadas e, sobretudo, a

permanência das desigualdades estão no bojo da crise que conhece o desenvolvimento nos

anos 1990, marcada pela crítica acirrada e, ao mesmo tempo, pela tentativa de renovação do

Estado. Este não seria grande o suficiente para tratar de problemas globais, nem tão pequeno

assim para estar próximo do cidadão e acompanhar de perto as relações que, gradualmente,

complexificam o desenvolvimento local.

O desenvolvimento local não se restringe a planejamentos sociais e econômicos

setoriais de desenvolvimento. Este deve ser adaptado às necessidades e características

particulares exigindo, consequentemente, um planejamento territorial que considere não

somente o crescimento econômico, mas também a melhoria da qualidade de vida de uma

região e a conservação do meio ambiente, sendo estes fatores interrelacionados e

interdependentes.

Todo aspecto do desenvolvimento local perpassa pelas comunidades locais que

precisam estabelecer relações de confiança em prol dos objetivos comuns. Estas relações

pressupõem aspectos de inter-relação entre as pessoas. O local representa o agrupamento das

relações pessoais, ele é também o lugar onde a cultura e outros caracteres não transferíveis

têm sido apresentados. Quanto ao desenvolvimento local, Bava (1996, p.58) enfatiza que ele

é: “[...] endógeno, nasce das forças internas da sociedade; constitui um todo, com dimensões

ecológicas, culturais, sociais, econômicas, institucionais e políticas, sendo que a ação a seu

serviço deve integrar todas essas dimensões”.

O desenvolvimento local deve ser acima de tudo um processo de reconstrução

social que deve se dar de baixo para cima, pois a base dessa pirâmide é a comunidade que está

organizada com interesses comuns e afins, num processo em que não existe fórmula feita, mas

alguns atores e critérios devem ser respeitados para garantir o seu sucesso.

Vários países do mundo têm concentrado seus esforços visando crescimento do

PIB, deixando a qualidade de vida de lado. Este debate tem sido tão intenso e rico quando diz

respeito à distinção entre desenvolvimento e crescimento econômico, pois muitos autores

atribuem apenas os incrementos constantes no nível de renda como condição para se chegar

ao desenvolvimento, sem, no entanto, se preocupar como tais incrementos são distribuídos.

Deve se acrescentar que “apesar das divergências existentes entre as concepções de

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49

desenvolvimento, elas não são excludentes. Na verdade, em alguns pontos, elas se

completam” (SCATOLIN, 1989, p. 24).

O desenvolvimento em qualquer concepção deve resultar do crescimento

econômico acompanhado de melhoria de qualidade de vida, ou seja, deve incluir segundo

Vasconcelos e Garcia (1998):

[...] as alterações da composição do produto e a alocação de recursos pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições de saúde, alimentação, educação e moradia).

Amaro (1993) relata que a partir de 1980 alguns novos contextos que priorizam o

desenvolvimento social e o desenvolvimento econômico foram introduzidos ao conceito de

desenvolvimento. Dentre esses novos contextos, podem ser destacados o desenvolvimento

local, que tem sua vitalidade na autonomia econômica de sociedades não industrializadas que

possuem como base as pessoas. Deste modo, valoriza o aspecto social e espaços locais de

desenvolvimento (comunidades locais) a partir da participação e implicação dos indivíduos.

Com o passar dos anos e o acréscimo de novas experiências, o desenvolvimento

local vem sendo criticado e renovado por muitos autores. Um marco importante passa a ser

em 1990 com a publicação do relatório mundial do PNUD. Esse relatório coloca o PNB por

habitantes enquanto medida universal do desenvolvimento.

Logo o desenvolvimento local passa a ser entendido levando-se em conta

características locais, características essas que vão ter representatividade dentro de um

território específico. O global assim como em outras dimensões tem importância, porém é

associado ao local, não podendo esquecer que o contrario também é válido já que um sofre

interferência do outro.

O desenvolvimento local pressupõe uma transformação consciente da realidade

local. Isso implica uma preocupação não apenas com a geração presente, mas também com as

gerações futuras. E é neste aspecto que o fator ambiental assume fundamental importância,

pois pode ser que a geração atual não tenha e nem sequer perceba o desgaste ambiental, mas o

hoje trará grandes conseqüências para o amanhã.

O processo de desenvolvimento local é um dialogo constante entre os residentes

de um local – as autoridades, as organizações cívicas, os grupos comunitários, os dirigentes

empresariais e outras pessoas com interesses e objetivos comuns, procurando sistematizar

uma melhor qualidade de vida para todos.

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50

Atualmente é quase unânime entender que o desenvolvimento local não está

relacionado unicamente com crescimento econômico, mas também com a melhoria da

qualidade de vida das pessoas e com a conservação do meio ambiente, pensando assim nos

riscos de degradação da natureza e limitação dos elementos naturais. Estes três fatores estão

inter-relacionados e são interdependentes: econômico, ambiental e social.

Em tal perspectiva, o desenvolvimento local corresponde a um processo de

melhoramento geral da qualidade de vida e do bem-estar de uma comunidade, com profundo

respeito e consideração pelas reais necessidades e aspirações desse povo, assim como pela sua

própria capacidade criativa, seus próprios valores e potencialidades, suas próprias formas de

expressão cultural. Lima, Marinho e Brand (2007) afirma que:

[...] se a participação é, por um lado uma das necessidades fundamentais do ser humano e, por outro lado é também a chave pra o desenvolvimento local, sua essência encontra-se na tomada de consciência, na formação de um senso crítico, de uma sensibilidade e uma identidade comunitária..

O surgimento do conceito de desenvolvimento local apresenta uma dupla

perspectiva: a primeira como sustentabilidade do desenvolvimento, a segunda como recurso

advindo deste, tendo como conseqüência o aumento da qualidade de vida das comunidades

locais (PETITINGA, 2008).

O processo de desenvolvimento local torna-se um diálogo constante entre a

comunidade local, as organizações governamentais, as empresas e universidades como

unidades de capacitação.

Em discurso quase unânime entendeu-se que o desenvolvimento local não está

ligado somente ao crescimento econômico, mas também com a melhoria da qualidade de vida

de uma região e com a conservação do meio ambiente sendo este fator inter-relacionado e

interdependente.

Dessa forma todo aspecto do desenvolvimento local perpassa pelas comunidades

locais que precisam estabelecer relações de confiança em prol de objetivos comuns, desta

forma estas relações pressupõem aspectos de inter-relação entre as pessoas onde surge a

necessidade de se tratar o associativismo como objeto para o desenvolvimento local. O poder

do associativismo vem sendo resgatado através das relações econômicas da ação coletiva

formando a solidariedade social (PINTO, 2006).

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4.1.1 O Desenvolvimento Sustentável - A Sustentabilidade como fator de Desenvolvimento

Local

A partir de meados do século XX surgem novas definições que nos permitem

repensar o conceito de desenvolvimento, dessa vez como uma possibilidade de equilíbrio

entre recursos naturais e sociais e não apenas como sinônimo de crescimento econômico.

O termo “desenvolvimento sustentável” foi utilizado pela primeira vez no ano de

1950 pela Internacional Union Conservation of Nature (IUCN), porém só foi amplamente

difundido na Reunião de Founeux em 1971 com o nome de ecodesenvolvimento, formulado

pela escola francesa, o qual propunha uma possível alternativa de inter-relação entre os

sistemas econômicos e ambientais.

Em 1972 ainda pensando na relação desenvolvimento e meio ambiente, o Clube

de Roma, publicou o relatório Os Limites do Crescimento, mais conhecido como relatório

Meadows, que apontou problemas que afetam a qualidade de vida de todo o planeta:

aceleração da industrialização, aumento dos indicadores de desnutrição, rápido crescimento

populacional, deploração dos recursos naturais não renováveis e deterioração do meio

ambiente.

As discussões sobre a deploração dos recursos naturais não renováveis e a

deterioração do meio ambiente promoveram uma nova lógica de desenvolvimento: o

desenvolvimento sustentável, que foi criada com a intenção de se obter um campo de estudo

que se fundamentava no princípio de que a atividade econômica deve ser entendida, tendo em

vista os limites ambientais do mundo, uma vez que é deste ambiente que derivam as fontes da

manutenção da economia.

Por isso diz-se que o desenvolvimento sustentável foca na tríade economia-

sociedade-meio ambiente, alicerçando-se na idéia de que a população que hoje habita o

planeta terra deve atender suas necessidades sem, contudo, impedir que as populações futuras

também atendam suas próprias necessidades.

Debates iniciados nas décadas de 60/70, e intensificados no Brasil com a

Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (RIO-92), acerca da interação entre economia e ecologia aliado a grande

devastação da Amazônia, possibilitou a busca por novas ações aplicadas de forma planejada,

reconhecendo que os recursos naturais são finitos e priorizando a qualidade em detrimento da

quantidade, com a redução da exploração irracional de matérias-primas.

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Assim, a interdependência entre o desenvolvimento socioeconômico e as

transformações no meio ambiente, durante décadas ignorada, entrou tanto no discurso como

na agenda de grande parte dos governos do mundo com a criação da Agenda 21, um plano de

ação para ser adotado global, nacional e localmente, por organizações do sistema das Nações

Unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que a ação humana impacta o

meio ambiente. Constitui-se na mais abrangente tentativa já realizada de orientar para um

novo padrão de desenvolvimento para o século XXI, cujo alicerce é a sinergia da

sustentabilidade ambiental, social e econômica.

A Agenda 21 apresenta um conjunto de recomendações para orientar cidades,

regiões e países no processo de construção do desenvolvimento local sustentável. Nos seus

quarenta capítulos distribuídos em quatro seções encontram-se os principais aspectos para

uma política de desenvolvimento:

� Seção 1 – aspectos sociais e econômicos do desenvolvimento: erradicação da

pobreza, mudanças do padrão de consumo, assentamentos humanos, promoção da

saúde e integração entre meio ambiente e desenvolvimento na tomada de decisão,

etc.;

� Seção 2 – aspectos ambientais e a gestão dos recursos naturais: combate ao

desmatamento, proteção da atmosfera, controle de ecossistemas frágeis, promoção

do desenvolvimento dos resíduos sólidos, etc.;

� Seção 3 – fortalecimento do papel dos principais grupos sociais, entre eles: os

trabalhadores, a indústria e o comércio, a comunidade científica e tecnológica, as

ONGs , as autoridades locais, os jovens, etc.;

� Seção 4 – os meios de implementação, relacionando recursos financeiros,

sistema de informações para o processo de tomada de decisão, arranjos

institucionais, promoção do ensino, etc.;

Ao dar esta visão à sustentabilidade, o autor Ignacy Sachs (1927), economista

polonês, naturalizado francês) deixa escancarado que se deve ter uma visão holística dos

problemas da sociedade, e não focar apenas na gestão dos recursos naturais. É pensar em algo

muito mais profundo, que visa uma verdadeira metamorfose do modelo civilizatório atual.

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53

Todo o planejamento de desenvolvimento precisa levar em conta,

simultaneamente, as seguintes cinco dimensões de sustentabilidade:

a) Social, que se entende como a criação de um processo de desenvolvimento

que seja sustentado por um outro crescimento e subsidiado por uma outra

visão do que seja uma sociedade boa. A meta é construir uma civilização

com maior equidade na distribuição de renda e de bens, de modo a reduzir

o abismo entre os padrões de vida dos ricos e dos pobres.

b) Econômica, que deve ser tornada possível através da alocação e do

gerenciamento mais eficiente dos recursos e de um fluxo constante de

investimentos públicos e privados. Uma condição importante é a de

ultrapassar as configurações externas negativas resultantes do ônus do

serviço da dívida e da saída líquida de recursos financeiros do sul, dos

termos de troca desfavoráveis, das barreiras protecionistas ainda existentes

no Norte e do acesso limitado à ciência e tecnologia. A eficiência

econômica deve ser avaliada em termos macrossociais, e não apenas

através do critério da rentabilidade empresarial de caráter

microeconômico.

c) Ecológica, que pode ser melhorada utilizando-se das seguintes

ferramentas:

• Ampliar a capacidade de carga da espaçonave Terra, através da criatividade,

isto é, intensificando o uso do potencial de recursos dos diversos ecossistemas,

com um mínimo de danos aos sistemas de sustentação da vida;

• Limitar o consumo de combustíveis fósseis e de outro recursos e produtos que

são facilmente esgotáveis ou danosos ao meio ambiente, substituindo-os por

recursos ou produtos renováveis e/ou abundantes, usados de forma não agressiva

ao meio ambiente;

• Reduzir o volume de resíduos e de poluição, através da conservação de energia

e de recursos e da reciclagem;

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• Promover a autolimitação no consumo de materiais por parte dos países ricos e

dos indivíduos em todo o planeta;

• Intensifica a pesquisa para a obtenção de tecnologias de baixo teor de resíduos

e eficientes no uso de recursos para o desenvolvimento urbano, rural e industrial;

• Definir normas para uma adequada proteção ambiental, desenhando a máquina

institucional e selecionando o composto de instrumentos econômicos, legais e

administrativos necessários para o seu cumprimento.

4. Espacial, que de ser dirigida para a obtenção de uma configuração rural-urbana

mais equilibrada e uma melhor distribuição territorial de assentamentos urbanos e atividades

econômicas, com ênfase no que segue:

• Reduzir a concentração excessiva nas áreas metropolitanas;

• Frear a destruição de ecossistemas frágeis, mas de importância vital, através de

processos de colonização sem controle;

• Promover a agricultura e a exploração agrícola das florestas através de técnicas

modernas, regenerativas, por pequenos agricultores, notadamente através do uso

de pacotes tecnológicos adequados, do crédito e do acesso a mercados;

• Explorar o potencial da industrialização descentralizada, acoplada à nova

geração de tecnologias, com referência especial às indústrias de biomassa e do seu

papel na criação de oportunidades de emprego não-agrícolas nas áreas rurais: nas

sua palavras “uma nova forma de civilização baseada no uso sustentável de

recursos não é apenas possível, mas essencial”;

• Criar uma rede de reservas naturais e de biosfera, para proteger a

biodiversidade.

5. Cutural , incluindo a procura de raízes endógenas de processos de

modernização e de sistemas agrícolas integrados, processos que busquem mudanças dentro da

continuidade cultural e que traduzam o conceito normativo de ecodesenvolvimento em um

conjunto de soluções específicas para o local, o ecossistema, a cultura e a área.

Essa realidade vem despertando uma nova consciência e a compreensão de que

essa transformação passa pela mudança do modelo de desenvolvimento, baseado na

compreensão de que para que o desenvolvimento se concretize, não basta crescer a economia,

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55

a produção de riqueza ou o Produto Interno Bruto (PIB). Para ser consistente e sustentável, o

desenvolvimento local deve mobilizar e explorar as potencialidades locais e contribuir para

elevar as oportunidades sociais, a viabilidade e competitividade da economia local.

Simultaneamente, deve assegurar a conservação dos recursos naturais existentes e condição

para a qualidade de vida da população local. O desenvolvimento local sustentável resulta da

interação e sinergia entre a qualidade de vida da população local, da eficiência econômica e

da conservação ambientais eficientes (BUARQUE, 2004).

O desenvolvimento local sustentável é um processo de mudança social e elevação

das oportunidades da sociedade, compatibilizando, no tempo e no espaço, o crescimento e a

eficiência econômica, a conservação ambiental, a qualidade de vida e a eqüidade social,

partindo de um claro compromisso com o futuro e a solidariedade entre gerações. O

desenvolvimento local sustentável resulta desta forma, da interação e sinergia entre três

conjuntos (BUARQUE, 2004):

a) a elevação da qualidade de vida e a eqüidade social constituem objetivos

centrais do modelo de desenvolvimento, orientação e propósito final de todo

esforço de desenvolvimento a curto, médio e longo prazos;

b) a eficiência e o crescimento econômicos constituem pré-requisitos

fundamentais, sem os quais não é possível elevar a qualidade de vida com

eqüidade – de forma sustentável e continuada -, representando uma condição

necessária, embora não suficiente, do desenvolvimento sustentável;

c) a conservação ambiental é um condicionante decisivo da sustentabilidade do

desenvolvimento e da manutenção em longo prazo, sem o qual não é possível

assegurar qualidade de vida para as gerações futuras e a eqüidade social de forma

sustentável e contínua no tempo e no espaço.

O desenvolvimento local sustentável é, portanto, um processo e uma meta a ser

alcançada em médio e longo prazos, gerando uma (re)orientação do estilo de

desenvolvimento, redefinindo a base estrutural de organização da economia, da sociedade e

das suas relações com o meio ambiente natural (BUARQUE, 2004).

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4.2 O miriti

O miritizeiro, cientificamente conhecido por Mauritia flexuosa L. f., pertence à

família botânica Arecaceae Palmea, foi considerada pelos europeus que aqui chegaram como

a mais bela palmeira existente. A palmeira de grande porte tem seu nome derivado do tupi-

guarani e significa “o que contem a água”. Ao lado do açaizeiro, o miriti é uma das palmeiras

mais típicas da região amazônica e centro do Brasil.

O buritizeiro é uma das maiores palmeiras da Amazônia, possuindo de 30 a 50

centímetros de diâmetro e de 20 a 35 metros de altura. Oferece um fruto nutritivo importante

para as pessoas e animais da região. A distribuição geográfica do buritizeiro abrange toda a

região amazônica, o Norte da América do Sul e estende-se pelo Nordeste e Centro-Sul do

Brasil, atingindo o Peru, Colômbia, Venezuela e Guianas. Recebendo as mais diversas

denominações de cunho popular de acordo com o local de sua utilização, sendo popularmente

conhecido como:

• Brasil – miriti, buriti, miritizeiro, carandá-guaçu, carandaiguaçu, coqueiro

buruti, buriti-do-brejo;

• Bolívia - kikyura e palmeira real;

• Peru – aguaje-achmol;

• Venezuela – moriche, palma de moriche;

• Colômbia - carangucha, moriche e nain;

• Hispano Americanos – palma real;

• Guiana Francesa – awura e boche;

• Colonos Franceses – bâche, palmier bâche;

• Rep. Da Guiana e Suriname – mauritia.

Essa palmeira prefere áreas alagadas, igapós, beira de igarapés e rios, onde é

encontrada em grandes concentrações. A água ajuda na dispersão das sementes, formando

populações extensas de buritizais. Os frutos, folhas, óleo, pecíolo e tronco são utilizados para

muitos fins (CYNERYS, FERNANDES, RIGEAMONT, 2005).

O buriti é uma espécie dióica, isto é, apresenta indivíduos masculinos e femininos.

As plantas masculinas florescem nos mesmos meses que as femininas, porém nunca

produzem frutos. Na área de Belém, o buritizeiro floresce de setembro a dezembro e frutifica

de janeiro a julho e, por vezes, a partir de novembro ou dezembro. Os buritizais do Acre

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florescem entre abril e outubro. A maturação dos frutos pode ser bem heterogênea dentro de

um mesmo buritizal, variando de 7 a 11 meses. Os frutos maduros podem ser encontrados

entre março e outubro

Segundo a densidade o buritizeiro ocorre naturalmente com mais frequência em

áreas inundadas. É comum encontrar 60 a 70 buritizeiros femininos e 75 a 85 buritizeiros

masculinos por hectare.

Uma palmeira de buriti produz de 40 a 360 quilos de fruto. Em 1 hectare

manejado podem ser produzidas de 2,5 a 23 toneladas de fruto por ano. Com base em

levantamentos, no Acre, estima-se que 1 palmeira feminina de buriti produz de 1 a 9 cachos e,

cada cacho, de 600 a 1.200 frutos. Considerando uma média de 64 palmeiras femininas por

hectare e uma produção média de 200 quilos de frutos, é possível obter 384 quilos de óleo da

polpa por hectare. A produção das palmeiras declina somente após 40 a 60 anos.

Para o CIFOR quanto ao valor econômico o buriti é muito importante para o

mercado formal e informal da Amazônia. Muitas mulheres trabalham nas ruas de Iquitos, no

Peru, vendendo picolés de buriti. A população de Iquitos gosta de buriti tanto quanto o

paraense gosta de açaí. Em 1985, estimou-se que essas vendedoras ganharam cerca de 11

dólares por dia. No final do mês, o salário delas era 8 vezes maior que o salário mínimo. Em

2004, em Belém, 100 mililitros de óleo de buriti foram vendidos por R$ 5; o quilo da polpa

atingiu R$ 8; e um paneiro com 15 frutos custou R$ 1. Entre 1997 e 1998, 20 frutos custavam

R$ 0,50.

No Acre, políticas de incentivos ao aproveitamento da espécie vêm sendo

efetivadas. No Vale do Juruá, os extrativistas processam a polpa de buriti para a obtenção de

óleo. O objetivo dessa experiência pioneira é a comercialização em grande escala

O miriti pode ser utilizado de diversas formas e em sua totalidade (ver anexo D)

como:

• Polpa: “vinho”, doce, chopp (geladinho), sorvete e picolé.

• Semente: botões, artesanato, semi-jóias e jóias (com prata ou ouro) e para

produção de álcool combustível.

• Óleo: para fritar peixe, fabricar sabão e cosméticos e como combustível para

lamparina.

• Folhas novas (ainda fechadas, conhecidas como “olhos”): corda, cestas, cintos,

bolsas, esteiras, chapéus, sandálias, capas de agendas e redes. Na Região de

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Bragança, no Pará, extraem-se muitas folhas para fazer as sogas do tabaco. As

folhas também são usadas como adubo orgânico.

• Folhas adultas: no Acre, os talos da folha do buritizeiro são os mais procurados

para fazer “papagaios” (pipas). No Pará, as folhas são muito usadas para tecer

tipiti e paneiros. No passado, os índios Tupinambá ferviam as folhas de buritizeiro

para obter um pó de cor castanha que era usado como sal.

• Pecíolo (ou “braço”): fornece material leve e macio utilizado em artesanato. O

“braço” tem uma parte interna esponjosa usada para a confecção de brinquedos,

rolha de garrafa, papel higiênico e gaiola de passarinho.

• Estipe: construção de pontes e, por causa de sua propriedade flutuante, o tronco

é utilizado para transportar madeira nos rios. Nesse caso, geralmente, escolhem-se

os buritizeiros masculinos. É no estipe de buritizeiros apodrecidos na água que se

desenvolvem os turus. Os turus são grandes larvas e representam uma fonte de

alto valor protéico, além de serem deliciosos crus ou cozidos.

• Caça: o buriti é consumido por muitas espécies de caça. É importante para a

nutrição das antas, queixadas e catitus.

O buriti possui uma das maiores quantidades de caroteno ou vitamina A, entre

todas as plantas do mundo. São 30 miligramas por 100 gramas de polpa - 20 vezes mais que a

cenoura. A deficiência de vitamina A é um problema freqüente na população brasileira. Por

isso, as pessoas desenvolvem certas doenças como infecção na boca, dor de dentes, infecção

nos olhos e cegueira noturna. No Nordeste, o doce de buriti está sendo usado para suprir essa

deficiência. Um grupo de crianças comeu doce de buriti durante 20 dias, e depois disso, os

sintomas causados pela falta de vitamina A desapareceram (CYNERYS, FERNANDES,

RIGEAMONT, 2005).

Além disso, o buriti pode fornecer uma boa quantidade de proteína na dieta

humana. A polpa possui 11% de proteínas, quase igual ao milho. A fruta também é usada na

prevenção e recuperação de crianças desnutridas. Além disso, o óleo de buriti tem ação

purificante e desintoxicante. O buriti é um componente importante na dieta dos índios

Apinayé. É comum ver os indígenas caminhando com paneiros cheios de buritis. Eles tiram a

casca da fruta e chupam a polpa.

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Fotografia 3. Fruto do Miriti.

Fonte: A autora, 2013.

Os pesquisadores da palmeira descobriram que o fruto de buriti pode produzir 2

tipos de óleo vegetal, amplamente usados nas indústrias química e alimentícia. Da polpa dos

frutos são extraídos óleos oléicos (similares aos óleos vegetais obtidos da maioria das culturas

anuais). Das sementes, obtêm-se os óleos láuricos. Estima-se que com a densidade de 150

plantas femininas por hectare, o buriti pode produzir 3,6 toneladas por hectare de óleos

oléicos. Essa quantidade é bem superior à produção dos óleos muito utilizados no mundo, tais

como soja, girassol e amendoim, porém é inferior à do dendê.

O óleo da polpa do fruto de buriti também pode ser usado para fabricar protetor

solar, pois absorve completamente as radiações eletromagnéticas de comprimento entre 519

nanômetros (cor verde) e 350 nanômetros (ultravioleta), que são prejudiciais à pele humana.

Atualmente, empresas de cosméticos vêm industrializando e comercializando, em larga

escala, desodorantes corporais com óleo de buriti.

O óleo de buriti também pode representar uma fonte de energia elétrica alternativa

para comunidades isoladas da Amazônia. Em Rondônia, o óleo de buriti foi utilizado na

produção de energia elétrica eficiente e de baixo custo em um projeto piloto desenvolvido

pelas universidades federais de Brasília e Rio de Janeiro.

Culturalmente o buriti tem uma relação muito grande com os índios, como no

casamento dos índios Apinayé na região amazônica, o buriti apresenta importância muito

grande para algumas tribos indígenas. As tribos esperam e saúdam alegremente a aparição dos

frutos maduros dessa palmeira, realizando, nessa época, suas melhores festas e os casamentos

ajustados.

Quando um homem da tribo Apinayé de Goiás quer casar, ele precisa passar por

uma prova: carregar uma tora de buriti com 1 metro ou mais da floresta para o centro da vila.

Assim, ele pode demonstrar sua força. Quando ele chega na vila com a tora, a irmã e a

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madrinha da noiva o levam até ela. O casal divide uma refeição para que o casamento seja

consumado.

Já o jacu e o aracuã comem as flores do buritizeiro, enquanto os frutos são

procurados por uma multidão de outros animais silvestres. Os caçadores colocam mutás

embaixo das árvores de buriti para pegar veado, queixada, catitu, quati, anta e paca. O buriti

também alimenta macacos, jabutis e até peixes. Um estudo no Peru mostrou a importância do

buriti na dieta dos animais. Na ordem das frutas mais consumidas, o buriti tomou a 1ª posição

para a anta, 5ª para a queixada, 10ª para o caititu, 16ª para o veado branco e 18ª para o veado

vermelho. As pessoas que moram nas áreas de várzea no rio Amazonas capinam as plantas em

volta da árvore e colocam matéria orgânica no seu pé, assim, melhoram a produção de buriti

para atrair a caça.

A muda de buriti pode ser plantada em solo alagado, porém não sobreviverá se

permanecer sempre dentro da água. Além disso, o buritizeiro precisa de luz; no início, a muda

usa os nutrientes das sementes para crescer, agüentando a sombra, mas ela precisa de sol para

virar adulta. Para se desenvolver, o buritizeiro precisa de adubos orgânicos que podem ser

obtidos do próprio buritizal.

Perto de Iquitos, no Peru, a maioria dos pés de buriti foi derrubada. Atualmente,

os frutos vêm de longas distâncias, levando 2 a 3 dias de canoa. Como o seu valor doméstico

e de mercado são excelentes; não faz sentido derrubar os buritizeiros. Colher os frutos sem

derrubar as árvores é garantir a sua produção ano após ano. A solução seria capinar as plantas

sem valor econômico para oferecer mais espaço aberto e sol para o buritizeiro crescer. Além

disso, as palmeiras masculinas do buriti aproveitam a seiva e deixam de 15% a 20% para

polinização das plantas femininas. Para melhorar a qualidade do fruto precisa-se colher

sementes dos melhores pés e semear nas áreas abertas dos buritizais. (CYNERYS,

FERNANDES,RIGEAMONT, 2005).

Não existe uma data exata que comprove a origem da utilização do miriti, sabe-se

apenas que os índios no século XVIII utilizavam para a fabricação de utensílios, mas segundo

Freyre (1963) pode estar associada à chegada dos colonizadores e a mistura das raças, o que

deu origem ao povo brasileiro. A necessidade de produzir objetos para serem usados em

diferentes atividades foi determinante para que as populações indígenas desenvolvessem

técnicas de manufatura de uma diversidade de artefatos, as crianças construíam miniaturas de

embarcações, animais e bancos para suas brincadeiras, alguns voltados para o uso doméstico,

outros para auxiliar na caça e na pesca, outros ainda para o vestuário e dotados também de

natureza estética e ritual (OLIVEIRA et al., 1991; SAHAGÚN; CODEX, 2000; LEONI;

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MARQUES, 2008). Alguns destes saberes foram transmitidos e apropriados por populações

ribeirinhas da região, que perpetuaram esse aprendizado, bem como o conhecimento sobre os

recursos florestais usados nesta produção.

Em se tratando de cadeia de comercialização de produtos de origem extrativista

feita por populações tradicionais na Amazônia, as cestarias compreendem todos os produtos

que recebem um trançado e que são confeccionados há muitas gerações pelos ribeirinhos de

Abaetetuba. As cestarias de Abaetetuba eram vendidas para muitos municípios do estado do

Pará, e principalmente para a capital, Belém, onde até hoje abastecem as feiras das Centrais

de Abastecimento do Pará (Ceasa) e do Mercado Ver-o-Peso, dois polos importantes para a

distribuição de produtos oriundos de outras regiões do país e da Amazônia, respectivamente.

A confecção de cestos, embora ainda muito praticada nas comunidades ribeirinhas, já não é

mais tão significativa do ponto de vista econômico. Sua importância cultural para o município

tem também sido colocada em xeque, haja vista que muitos desses utensílios foram

gradativamente substituídos por produtos industrializados, como sacolas, caixas de madeira e

de papelão.

Para os ribeirinhos que os utilizam intensamente, e sobrevivem de sua

comercialização, essa é, porém, uma atividade muito presente e necessária. Nas comunidades

ribeirinhas das ilhas, muitos jovens, de ambos os sexos, desenvolvem a arte de confeccionar

esses objetos e fazem disso uma fonte de renda, ajudando a manter viva a tradição dos

trançados. Os paneiros, utilizados no transporte de frutas e verduras, são atualmente o produto

cesteiro mais representativo, pois alguns moradores ainda vivem de sua confecção. A queda

na produção de paneiros resultou da substituição desses produtos por caixotes de madeira

certificada, produzidos por empresas madeireiras e preferidos pelos comerciantes, por serem

considerados mais duradouros que os paneiros.

Por outro lado, conforme dados do Center for International Forestry Research

(CIFOR), a continuidade dessa atividade é possível por ainda haver preferência pelo uso do

paneiro na hora de entregar a mercadoria, por ser uma embalagem mais barata que os caixotes

de madeira, por exemplo, que chegam a custar o dobro dos paneiros. Ademais, estes são

essenciais no acondicionamento de determinados produtos que demandam aeração apropriada

para sua conservação, como é o caso da manga, uma das frutíferas mais importantes no estado

do Pará. Entre os meses de setembro a março, há um aumento de pelo menos 10% na

produção de paneiros, especificamente devido à safra desta frutífera na região.

O miriti é uma palmeira de destaque na cultura regional, especificamente

empregada na alimentação, construção de casas e confecção de utensílios de trabalho e

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artesanato como os brinquedos, confeccionados pelos artesãos locais e admirados por sua

beleza e originalidade. A maioria dos artesãos envolvidos nessas atividades encontra-se no

município de Abaetetuba (Pará), localizado no baixo curso do rio Tocantins, onde os

miritizais são abundantes. Também conhecida pela alcunha de ‘terra das cestarias’, nos dias

atuais, Abaetetuba passou a acumular a denominação de ‘terra dos brinquedos de miriti’, dada

a relevância da produção desta modalidade de artesanato.

Desta forma, o brinquedo de Miriti tem sua origem perdida no tempo, embora

alguns historiadores associem sua primeira aparição ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré,

maior festa religiosa dos paraenses, que acontece no segundo domingo de outubro, conta-se

que, um dia, um pescador perdeu a canoa na beira do rio e precisando a qualquer custo

reencontrar o meio de trabalho e sustento, fez uma promessa à Nossa Senhora de Nazaré. A

graça foi alcançada e o pescador construiu um lindo e colorido barco de miriti. Para agradecer

o milagre, carregou a miniatura na cabeça por todo percurso do Círio de Nazaré, no segundo

domingo de outubro em Belém.

E é “o pagador de promessas de Abaetetuba”, município conhecido hoje como

“Capital mundial do brinquedo de miriti”, localizado a 70 quilômetros de Belém que pode ter

sido o início da tradição. Hoje, cobras, tatus, pássaros e barcos de miriti estão entre os

principais símbolos da maior procissão religiosa do Brasil, que entrelaça lúdico, identidade

cultural, imaginário amazônico e manifestação de fé. Inicialmente esses objetos e brinquedos

de miriti não eram fabricados para comercialização, com o tempo tornaram-se um meio de

sobrevivência para muitas famílias e artesãos.

Registros históricos indicam que o processo de comercialização deu-se por volta

do século XVIII, por ocasião do primeiro arraial onde funcionou a Feira de Produtos

Regionais da Lavoura e da Indústria. Para essa feira, cada vila ou cidade do interior enviou

produtos como cacau, baunilha, guaraná, mandioca, arroz, cerâmica, tabaco, redes de pesca,

pirarucu salgado, cesto, esteira e outros bens, estando, possivelmente, aí incluídos os

brinquedos feitos no município paraense de Abaetetuba (MORAIS, 1989).

No início, a atividade era ligada apenas ao Círio de Nazaré. Os artesãos

produziam brinquedos somente para atender à demanda do mês de outubro em Belém. Mas,

na última década, devido a demanda houve a profissionalização da cadeia produtiva e o

artesanato de miriti se tornou o meio de vida de muitas famílias durante o ano inteiro.

Os brinquedos de miriti são uma forma de expressão da vida e do cotidiano do

universo ribeirinho da região Amazônica. Animais, meios de transportes, atividades regionais,

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objetos domésticos, e novos elementos como símbolos natalinos e peças decorativas, tudo isto

está representado na arte do miriti.

4.2.1 Brinquedo de Miriti : A atividade

Para os moradores da cidade, o miriti sempre foi utilizado por crianças da região,

que faziam seus brinquedos - pequenas montarias e vigilengas - para usar em competições nos

rios, igarapés e furos, ou ainda para as próprias brincadeiras.

Começou por vontade própria, criando os próprios brinquedos, já que não tinha muitas opções para brincar, não existiam essas bonecas de plástico de hoje em dia, só umas bonecas de pano feiosas. Então eu comecei a fazer as minhas próprias e depois fui fazendo as suas famílias. Ficavam atrás da minha rede, cada uma com uma roupa diferente. Depois eu comecei a fazer as famílias tradicionais daqui de Abaetetuba. Uma vez encostou um homem preto lindo e fiz um boneco igualzinho a ele. Esse eu não vendo, está há 10 anos comigo”, afirma com bom humor D. Nina Abreu.

Esta arte, na maioria das vezes, é repassada de pai para filho, porém a

aprendizagem da prática de confecção de brinquedos pode se dar tanto por meio da

transmissão de uma geração à outra, como por meio de cursos e oficinas ministrados nas

associações pelos artesãos. Em geral, estes eventos são oferecidos para o grande público,

inclusive alunos das escolas da sede do município e das ilhas.

Desde que nasceu Josias vive da lida do miriti. Para muitas crianças de

Abaetetuba, na infância é só mais uma brincadeira. Quando adulto, fonte de renda para a

família. “Bastava cair uma chuvinha, pra gente talhar um barco e soltar nas poças de água”,

relembra. Ele aprendeu a técnica com os tios, como muitos dos artesãos da cidade, que

reúnem esposas, primos, cunhados e irmãos nos ateliês.

Enquanto os artesãos lixam os barcos de miriti, os sobrinhos, filhos e netos

constroem o próprio brinquedo sentado no chão (fotografia 4). “Eu aprendi assim, vendo a

família fazer e brincando”, afirma seu Josias, apontando para o menino. “Quando eu tinha

quatro anos, o meu pai construiu uma canoa de miriti que cabia eu e meu irmão dentro”,

rememora. Ele sempre leva peças para Belém no mês de outubro e, para isso, conta com a

ajuda da esposa e da cunhada.

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Fotografia 4. Artesão na atividade, com criança observando o ofício.

Fonte: A autora, 2013.

O Círio foi somente um dos eventos que despontaram o trabalho com miriti para o

mundo, o que desperta em novas gerações o interesse pela atividade e incentiva o

desenvolvimento de novos produtos. Hoje somado a este encontra-se o Miritifest em

Abaetetuba, ambos atraem grande número de visitantes, nos períodos de suas realizações

tornam-se vitrines dos artesanatos de miriti para o mundo; e oportunidades são oferecidas aos

artesãos de expor e comercializar seus produtos em outros estados do Brasil e países do

mundo. A partir do aumento da divulgação do artesanato de miriti, os artesãos sentiram a

necessidade de se organizar e buscar aperfeiçoamento em sua arte foi então que a ASAMAB

procurou o SEBRAE que desenvolveu projetos para auxiliar os artesãos com a arte do miriti.

É o que afirma Desidério dos Santos Neto, de 50 anos, na obra Miriti

das Águas que até 2011 foi presidente da Asamab;

[...] os artesãos organizam o escoamento da produção, o manejo da palmeira e o fortalecimento da atividade com a realização de eventos, como o MiritiFest, em maio, e a participação em feiras. Nesses últimos anos, os brinquedos de miriti viajaram todos os estados brasileiros e outros países como Japão, França, Alemanha e Portugal. São cerca de doze feiras por ano, quase uma por mês.

Com as oficinas de capacitação e design, os artigos também foram diversificados.

Além dos tradicionais modelos de brinquedos, criaram-se também quadros, móbiles, flores,

presépios, carros, embalagens e peças de decoração. Outro projeto também trabalhado pelas

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parcerias são as sobras de materiais, com a finalidade de diminuir as sobras, a Asamab já

dispõe do maquinário para começar a produzir papel dos restos de fibra que se acumulam nos

ateliês. Será mais um incremento para a economia da cidade, onde vários homens e mulheres

preferem largar o comércio, principal atividade do núcleo urbano, para viver somente de

artesanato.

Uma das preocupações dos artesãos de Abaetetuba é que a tradição do artesanato

de miriti permaneça no cotidiano das próximas gerações. Mesmo que muitos aprendam a

técnica dentro de casa, no seio familiar, são poucos os que escolhem a atividade como

profissão. “Muitos jovens preferem fazer faculdade e ter outro tipo de trabalho” afirma

Valdeli Alves, 42 anos, um dos fundadores da Associação Arte Miriti de Abaetetuba, a

MIRITONG. A Associação foi criada em 2005 para promover oficinas e cursos que

incentivassem jovens e adolescentes a se tornarem artesãos profissionais de miriti. Para que

seja sempre uma alternativa de trabalho e renda, as atividades percorrem toda a região das

ilhas e centenas de pessoas já participaram das capacitações.

A história de Valdeli é um exemplo de redescoberta do artesanato. Ele já brincava

com o miriti quando criança, mas antes de se tornar um artesão, foi padeiro, ajudante de

pedreiro e pintor. Desempregado, ele encontrou no miriti a solução. “Fiz algumas peças com

a minha esposa e vendemos tudo no Círio de Nossa Senhora da Conceição, aqui em

Abaetetuba”, conta. Produziu mais para vender no Círio de Nazaré, em Belém, e deu certo.

Conheceu outros artesãos, participou de várias capacitações e decidiu seguir o caminho do

artesanato para sustentar a família. “Pensei comigo: ‘nunca mais vou fazer outra coisa”,

afirma Valdeli. Hoje, ele também ministra oficinas para adolescentes. É uma das formas de

garantir que o colorido das girândolas de miriti persevere ainda por muitos e muitos círios de

Nazaré.

O brinquedo hoje tomou uma dimensão universal, porém, a população local ainda

não o valoriza como uma das riquezas artesanais do Estado. Já existem trabalhos de resgate

cultural para reverter essa realidade, como a tentativa de inserir em algumas escolas cursos de

fabricação dos brinquedos; e ainda, promove-se o treinamento de artesãos, com cursos de

renovação dos brinquedos em novos "designs", para inclusão dos brinquedos no mercado

como peças representativas de uma região, através da originalidade e qualidade dos produtos

A despeito de se pensar a arte popular como algo tradicional de menor valor e

sujeita à extinção com os avanços da modernidade, os artistas populares demonstram o

dinamismo da cultura e a importância dessa atividade como expressão do patrimônio imaterial

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brasileiro, geradora de valores e bens culturais, que transmitidos de geração em geração

revelam a sabedoria e respeito dos ribeirinhos pela natureza.

Os brinquedos de miriti são a expressão da sensibilidade e da representação

ingênua do universo ribeirinho da região de Abaetetuba.

4.2.2 Do Pará ao Mercado Exterior - A Evolução do Brinquedo de Miriti.

� O brinquedo como brinquedo.

Abaetetuba e suas paisagens apresentam múltiplos e diversos olhares sobre a

diversidade sociocultural paraense em que o centro da narrativa é a paisagem dos

abaetetubenses. As cenas interiores das casas-oficinas, cenários do saber-fazer relativo ao

ofício do artesanato em miriti, as janelas abertas das casas, as pessoas circulando nas ruas, nos

bairros de grande concentração de moradia dos artesãos e artesãs, o Cristo Redentor e

Algodoal. Há também as paisagens que apresentam o espetáculo da natureza local: os barcos

regionais navegando no rio, a exuberância dos miritizeiros na região das ilhas. Enfim, essas

memórias visuais são um relato documental da experiência vivida pelos abaetetubense,

revelando o ato criativo a partir de um olhar pousado sobre o viver do outro e seu, portanto,

com a expressão autoral e esses retratos do cotidiano, tentamos descobrir onde se dá a

descoberta do brinquedo de miriti na vida desses artesãos.

O brinquedo é importante para a formação pessoal, por isso torna-se um

acompanhante de valores culturais na vida do ser humano ele faz parte da cultura de um povo

marcado pelo movimento dos corpos nos esforços cotidianos que marcam as rotinas em busca

de sobrevivência – o que nos leva ao ofício do trabalho de miriti, que se iniciam quando ainda

são crianças, nas primeiras experiências e na observação dos mais velhos.

A história do brinquedo está diretamente ligada ao caboclo abaetetubense, para

melhor explicitar esta história, apropriamo-nos de fragmentos de histórias de vida de alguns

artesãos encontrados na obra Miriti das Águas (fotografia 5).

Brincadeira de menino em Abaeté é fazer barco, ainda garoto fiz meu primeiro barco, de lá pra cá, já fiz muitos outros barcos, trabalhando em um estaleiro, procuro fazer direitinho, já quis fazer um curso de construção naval, não passei porque não tinha tempo de estudar e muita coisa que eu conhecia tinha outro nome na prova, nas horas vagas no domingo faço barcos de brinquedos de miriti e meu maior incentivador é o amigo Dedé que não sabe fazer brinquedos mas pinta com muito esmero as vigilengas que eu faço. Um rapaz aqui da rua me mostrou um barco que ele próprio fez e disse: “só de olhar”. A casa fica cheia de meninos mexendo nos barcos enquanto a gente tá lá.

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Fotografia 5. Barco de brinquedo confeccionado em miriti por artesão, sendo este o modelo geralmente utilizado pelas crianças, para a confecção dos próprios brinquedos.

Fonte: A autora, 2013.

Seu Jarumã lembra os bons tempos de menino em que ele e os amigos faziam

brinquedos, “ixi agente fazia era muito pra ficar brincando no terreno”. Seu Jarumã foi de

tudo pra sobreviver, começou no motor de barco, virou cozinheiro com um Chileno, mais

tarde se tornou pratico, hoje nas festas da cidade vende churrasquinho, e anda pescando

camarão. O Jarumã abriu um sorriso quando perguntado se ele preferia fazer brinquedos como

meio de vida, “se desse, não é?” e acrescentou “é um trabalho que se faz na sombra,

tranqüilo”, diz ter uma grande encomenda de brinquedo que o dono ainda não foi buscar.

Jarumã ficou contente com a encomenda que fizeram para uma exposição, com sorrisos nos

lábios disse fazer a cobra coral mais bonita que já viram: “preta e vermelha, as cores do

flamengo, iguais as que eu fazia pra brincar”.

� O brinquedo como brinquedo do círio.

Fabricar brinquedos de miriti e vende-los no Círio, frequentemente, é um

pagamento de promessas feito à Virgem. Assim as belas e coloridas girândolas de miriti

transcendem os aspectos puramente profanos da Festa de Nazaré, como em um rio – rio de

gente – essa cultura se manifesta de maneira espetacular; no Círio de Nazaré que reúne mais

de um milhão de pessoas nas principais ruas da capital.

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Fora a procissão, há tantos elementos que compõem o Círio de Nazaré que, de

manifestação religiosa, o acontecimento se transforma em muitos mais: num verdadeiro

painel da cultura do povo do Estado do Pará.

Os brinquedos de miriti estão entre as mais típicas representações dessa cultura

que surge em Belém, todos os anos, em outubro na capital paraense sua matéria prima, macia,

leve, impossibilita a vibração que gera som, que é característico de outros brinquedos, e

marcam presença no Círio mas são eles que dão maior colorido à procissão, os brinquedos são

vendidos por homens conhecidos como “girandeiro” por portarem “girândolas”, a cruz que

também é feita de miriti na qual penduram dezenas de brinquedos prontos para cair nas mãos

de crianças e adultos, turistas e colecionadores, erguidas acima da cabeça do vendedor e dos

participantes do cortejo, assim mais que um simples comércio, os brinquedos de miriti tornam

se parte no cenário do Círio de Nossa Senhora de Nazaré (fotografia 6).

Fotografia 6. Comercialização de brinquedos de miriti durante a Trasladação 2013.

Fonte: A autora, 2013.

O círio de Nazaré figura como uma das mais fortes expressões culturais do Para,

além da procissão de domingo, o Círio reúne várias outras manifestações e devoção religiosa,

tais como: a trasladação, a romaria fluvial, o arraial, o comércio de brinquedos de miriti e

diversas outras peregrinações, romarias e festejos que ocorrem na quadra nazarena. Por sua

grandeza e significabilidade religiosa, histórica e cultural, o Círio foi registrado como

patrimônio cultural imaterial, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

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(IPHAN), como patrimônio imaterial do Brasil no ano de 2004. Na certidão de registro, assim

aparece a relevância do brinquedo para o Círio:

Assim foram destacados os seus elementos estruturantes − aqueles sem os quais o Círio não existiria − e identificadas às expressões associadas à festa, em sua versão contemporânea. Foram considerados elementos estruturantes dessa celebração: as procissões da Transladação e do Círio, as imagens da santa, a original e a peregrina; a corda e a berlinda; o almoço do círio; o arraial; as alegorias do círio; a feira e os brinquedos de miriti; a cerimônia e a procissão do recírio (IPHAN, 2004, p. 2).

Houve modificações processadas de acordo com o contexto histórico vivenciado

pelas gerações, mas os brinquedos de miriti continuam a peregrinar no Círio, da criança ao

idoso, seja nas mãos de um promesseiro, nas girândolas dos artesãos ou nas mãos cuidadosas

dos que querem brincar ou adornar sua moradia. De qualquer modo, é a nostalgia de sua

leveza e o encantamento de suas cores que emprestam alegria e poesia à procissão:

Para os paraenses, miriti é um nome familiar. E a bucha do miritizeiro, uma palmeira de grande importância na Região Amazônica, sua utilização como recurso natural, oferece meios de subsistência e para as populações que habitam as áreas de várzeas e ribeirinhos, onde cresce a árvore. (Informação verbal).

Essa aula é dada pelo artesão de brinquedos, Olival da Silva Ferreira, o seu

Abaeté, um artesão que mora em Belém, como o próprio apelido revela, ele aprendeu a arte de

trabalhar o miriti em Abaetetuba, principal pólo de produção desses brinquedos, “seu Abaeté”

aprendeu sem que ninguém a ele ensinasse, como à maioria dos artesãos – a arte que nesse

caso, começa de brincadeira. O pai construía barcos e brinquedos e ele começou a imitar o

pai, construindo pequenos barcos de miriti, com os quais brincava nos rios e igarapés de

Abaetetuba, mais tarde também aprendeu a construir barcos de verdade.

Seu Abaeté chegou a Belém, até ai ele nunca tinha pensado em fazer da sua

brincadeira de infância um meio de sobrevivência. Foi no Círio do ano em que chegou à

capital, que seu Abaeté viu as girândolas de miriti e teve a idéia de também ser um fabricante

de brinquedos “é um dinheiro certo e eu acho bonito”, com o passar do tempo virou tradição

fazer os brinquedos. Além do dinheiro e da tradição, a criatividade move a fabricação dos

brinquedos: “Pra mim é uma arte porque tem gente que faz aquilo que vê, eu crio”. São as

experiências que fazem com que ele só construa brinquedos pequenos, “porque aí eu ponho na

girândola e da porta de casa eu já saio vendendo”. Seu Abaeté faz questão de vender ele

próprio os brinquedos que constrói e sai, todos os anos, a pé da sua casa até a Presidente

Vargas, onde se incorpora à procissão. Além de vender, ele próprio os seus brinquedos, monta

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uma pequena empresa, durante o Círio. São vizinhos, filhos, e amigos para quem o restante da

produção é repassada com o compromisso de, no final do Círio de Nazaré prestar conta e

tomar uma cervejinha. Só mais tarde, os parentes se reúnem para o almoço do Círio. “Seu

Abaeté” para melhorar o orçamento nos meses que antecedem o Círio também fabrica outros

objetos de miriti, sob encomenda, para promesseiros, que todos os anos batem à sua porta

pedindo um barco ou mesmo uma casinha, para pagar suas promessas.

O brinquedo de miriti se apresenta como arte representativa de cunho religioso,

com características essencialmente da Amazônia. Um dado é certo a época que se realizou o

primeiro Círio coincidiu com a estação propicia para a fabricação do brinquedo (verão)

quando as chuvas são menos freqüentes e a polpa do miriti seca com maior facilidade.

O fabricante normalmente sente prazer em fazer o brinquedo e vir vender em Belém. Às vezes é até uma promessa. A maioria da velha guarda de fabricante faz isso como promessa, afirma seu Abaeté.

Testemunhos da rica visibilidade do homem da Amazônia, nos dias de hoje os

brinquedos encantam turistas e romeiros e são objetos do desejo de colecionadores de arte

popular, sendo assim situa o olhar deste, àquela cidade – centro criativo e produtor de um

artesanato único – em direção ao Círio de Nazaré, em Belém.

O artesanato de miriti certamente é uma referência importante para a memória

coletiva relacionada a um saber-fazer que tem parcela significativa de suas raízes situadas no

contexto de Abaetetuba, mas que florescem nas memórias dos moradores de Belém, uma vez

que não é possível pensar no Círio de Nazaré enquanto patrimônio cultural paraense e

brasileiro, sem considerar os diversos artefatos de miriti produzidos em Abaeté – e que se

fazem presentes desde os primórdios do Círio como acontecimento religioso e festivo de

enorme importância para a cidade de Belém.

Em outubro, o sentimento religioso exala no ar, um grande evento da cultura

popular a religião. Começa a brotar mudanças no espaço que se aconchega com a chegada dos

romeiros do interior do Estado e os da capital.

Chegam os vendedores de brinquedos das girândolas, alegoricamente do colorido

hilariante, verdadeira exposição ambulante da arte plástica popular, cercada pela galeria

humana do povo em sua trajetória de fé. O artista popular do brinquedo emprega seu tempo

disponível, na feitura dos brinquedos, ao tempo que antecede ao Círio e a safra da matéria

prima, quem produz este bem cultural não brinca com o mesmo em serviço, brinca com o

processo de fabricação para cultura infantil e até mesmo a adulta, somente faz experimentar o

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resultado de sua criação, porque o tempo é curto demais. Brinca com seu trabalho e brinda a

vida na sua fé, com sua promessa de inventar, criar os modelos a cada Círio, deposita sua

habilidade nos talhos da polpa ou bucha do miriti quando esculpe.

Historicamente na trasladação da Virgem de Nazaré, no segundo sábado de

outubro à noite, que vai ate à igreja metropolitana de Santa Maria de Belém Do Grão Pará, no

largo da Sé, os brinquedos começam a serem desembarcados no Porto do Sal e vindo com eles

os vendedores de brinquedos ou o próprio artista que os confeccionou. Começam a montagem

das girândolas e em seguida colocam os brinquedos, isto tudo na Praça do Carmo, onde ficam

concentrados para o domingo de manhã, segundo relatos durante algum tempo; crianças

presentes na praça a denominaram de “Praça dos Brinquedos”.

Os vendedores das girândolas começam a se espalhar carregados de brinquedos,

passando pela Igreja da Sé e Santo Alexandre; no Ver-o-Peso encontram com valores naturais

da terra, e na zona comercial se destaca sublimando seu caráter cultural- coisa da terra, um

modo de produção da região diante do produto manufaturado pela indústria, como se

estivessem vindo à tona pequenos projetos de construção de uma cultura, que manifestam um

tipo de arte que chegou de repente, porém na sua hora exata, falando do homem e da terra.

Surgem mexendo com a atenção dos que trafegam não importa a idade, desperta a sensação

de algo que já começou acontecer em cada um dos paraenses – o Círio de Nazaré.

O brinquedo tem sua função sócio-educativa, do lazer a religião, como adorno,

objeto decorativo para os turistas ou coisa de agrado para uma pequena parcela de

admiradores. Na religião como voto do promesseiro (fotografia 7) que conseguiu adquirir sua

própria embarcação pelo sacrifício, suor e fé, do náufrago que sobreviveu ao acidente.

Miniatura que tem na sua forma a representação simbólica do naval e são denominados de

canoa, barco, navio, passando a ser objeto de promessa, estes são vendidos durante a trajetória

do círio, ou antes, encomendados pelo romeiro pagador de promessa. Quanto a sua função

utilitária que lhe dava significado é deixado de lado, para adornar toma corpo de souvenir,

passando a enfeitar o desejo estético dos turistas que os adquirem, seja de qualquer brinquedo

popular, transformando em puro objeto de adorno.

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Fotografia 7. Pagadora de promessa com objeto feito em miriti.

Fonte: A autora, 2013.

� O brinquedo como brinquedo do Círio para decoração

De pai pra filho, há dezenas de anos os artesanatos de miriti vêm sendo tecidos

pela magia dos alquimistas de Abaetetuba, na dose certa tradição e modernidade preservam a

memória dos primeiros objetos e inventam o novo, este último inspirado pelos costumes e

fazeres da modernidade.

Todavia, projeta-se para outras regiões, porque os objetos de miriti já não

conhecem mais fronteiras que limitem o seu trânsito por outras partes do planeta.

Obviamente, o uso da palmeira para a produção de coisa vai muito além de tais construtos,

pois como já visto há um número representativo de usos para a planta no contexto que aqui

chamaríamos de caboclo, assim como no indígena, que passa pela produção de licores e

alimentos, até a construção de casas, especialmente na cobertura e na separação dos cômodos.

Além disso, receber um objeto de miriti significa acolher o paciencioso ofício da

pessoa que o esculpiu, lixou e pintou, como uma dádiva oferecida a outrem. E a sua força

segue de mão em mão ao seu destino aberto. Circula pelas ruas em girândolas, sobre as

cabeças como oferendas, gira e sacode nas mãos da criança, resguarda-se como imagem

representativa daquilo que se convencionou chamar de cultura popular. Nas moradias, adorna

e seduz. Viaja pelo mundo nas mãos daqueles que sabem que o seu valor estético ultrapassa as

fronteiras geopolíticas

O artífice do miriti trabalha a matéria devaneando sobre ela, porque a sonha e a

idealiza em alto som, diante da manifestação de sentimentos: mantém viva a tradição, imita,

cria, inova e redefine a herança em seu devir no tempo.

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O artesanato de miriti exprime, sob tantas formas, um saber-fazer que não se

reduz a bucha, mas inclui a planta em sua totalidade. Folhas, estipe, flores e frutos são

trabalhados por mãos oficiosas, gerando diversos produtos utilizados amplamente nas tantas

localidades de Abaetetuba, demonstrando que a palmeira – na totalidade do seu corpo vivo – é

transformada pelo gênio humano mediante técnicas distintas. Do ir e vir da estiva ao lúdico

presente nos brinquedos, passando pelo saboroso licor de sua florada, há os saberes e fazeres

locais em pleno processo de perdurância e de transformação nas temporalidades amazônicas.

Simples e coloridos, confeccionados em pequenos núcleos familiares, segundo

técnica tradicional repassada de geração a geração, os brinquedos são o ganha pão de artesãos

daquela região do Pará, que, nos últimos anos vem investindo na diversificação da produção e

alcançando novos consumidores. Atualmente, esses objetos ultrapassam fronteiras e

conquistam o país, adquirindo, nesse processo, novos usos e significados

Nos últimos anos começaram a surgir mudanças, principalmente no material

utilizado na fabricação dos brinquedos, aqui e ali já se nota um pormenor de plástico, um

novo modelo para os aviões, uma nova forma. São as novas gerações que chegam e que

começam introduzir mudanças na arte do miriti. Porém essas mudanças não preocupam, a

concepção do brinquedo está se renovando. Mas o essencial é mantido, isso não significa o

fim do brinquedo, Paes Loureiro diz: “existindo crianças, existe o brinquedo, mesmo que

morram todos os artesãos, o brinquedo só vai desaparecer no dia em que acabar o Círio”.

Se por um lado, a revolução tecnológica encurtou a distância e aproximou

pessoas, por outro gerou profundas mudanças nos modos de produção. O artesanato de raiz

constitui um contraponto à esse processo na medida em que ressalta identidades locais ligadas

à experiência de cada um e de sua comunidade, no espaço que lhe cabe viver.

No passado, o artesanato muitas vezes era a única forma de refletir a cultura de

uma determinada comunidade. Com o passar do tempo, grande parte desse tipo de produção

artística foi perdendo sua identidade. A proposta é revitalizar a produção nos padrões do

modo de vida do lugar, sempre utilizando as matérias- primas disponíveis. Os padrões

estéticos são aprendidos com os mais idosos, e o desenvolvimento e a finalização da obra se

dá a partir da vivência da própria comunidade.

Nos últimos anos, graças a um esforço coletivo empreendido pelo SEBRAE Pará

e os artesãos do município de Abaetetuba, o artesanato em miriti ganhou novo formato neste

estado. Em vez de priorizar a produção e comercialização dos artigos apenas no período do

Círio de Nazaré, quando Belém recebe turistas nacionais e estrangeiros para a maior festa

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religiosa brasileira, os artesãos passaram a atentar para as oportunidades de negócios

propiciadas pelo artesanato em miriti ao longo do ano.

Uma vez que o artesanato enaltece a iniciativa do artesanato como fonte de renda

e cultura para os brasileiros em regiões diferenciadas, a produção de peças em miriti ganha

respaldo no país inteiro inclusive com a exposição nos museus e ainda a oportunidade de

ganhar espaço no exterior

Essa mudança de referencial foi adotado a partir da miriti design, promovido pelo

SEBRAE em Abaetetuba, no ano de 2000, objetivando diversificar a produção do artesanato

ate então restrita a brinquedos e elementos da fauna e flora amazônica para venda aos

romeiros e observadores do Círio de Nazaré. Ainda segundo o SEBRAE, com esse evento, os

artesãos passaram a apostar na qualificação das suas atividades e produtos, para ganhar novos

mercados. Desse modo, a tradição dos brinquedos para venda no Círio foi mantida, mas

surgiram em miniatura elementos do cotidiano das 70 famílias – que congregam 327 artesãos

– envolvidas no projeto de aperfeiçoamento da produção (fotografia 8): botos, barcos, aves,

casas, de ribeirinhos, objetos domestico e outros.

Fotografia 8. Brinquedo de miriti enquanto arte, como objeto decorativo.

Fonte: ARTESÃOS ..., 2013.

Essas novas peças incentivaram os artesãos e os técnicos do SEBRAE a

continuarem as pesquisas temáticas e de mercado, o que se confirma com seu Abaeté; “a

gente tem que fazer uma inovação porque de miniatura também eu faço tudo, ai eu fico

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pensando que eu queria que todo mundo também tivesse essa idéia de ficar pensando numa

hora numa inovação um novo brinquedo. Eu acho que só assim isso vai progredindo cada vez

mais. O público de modo geral gosta muito de brinquedo de miriti e dificilmente não compra

uma peça quando a gente vai pra Belém”.

A ASAMAB e a MIRITONG são duas instituições importantes no contexto

urbano abaetetubense. Ambas congregam aqueles artesãos que buscam, mediante o trabalho

coletivo ou associado, formas coletivas de realizar e empreender projetos comuns de defender

direitos e conquistar espaços de atuação e divulgação do artesanato com base na palmeira de

miriti e vem junto com o SEBRAE desempenhando esse processo. A primeira mais antiga

tem sua sede no centro da cidade, enquanto a segunda localiza-se no bairro do Cristo

Redentor, a sua sede possui o nome poético de “Fábrica de Sonhos.

Ambas também trabalham com seus associados a ampliação dos seus produtos,

pois entendem a necessidade de valorização daqueles que fabricam objetos lúdicos no sentido

de garantir-lhes meios de produzir estímulos a um mercado que lhe assegura a continuidade

do trabalho e dar-lhes à condição do real, para que possam sonhar.

O que nos é confirmado por Joana Martins que abriu uma loja virtual de artigos

tipicamente paraense para atender o mercado de outros estados;

Sou apaixonada por miriti. Para decoração, então, é algo muito versátil, depois do tucupi, e da polpa de açaí, que já ganhou o Brasil e o mundo, os produtos mais vendidos pela internet são a perfumaria artesanal e os brinquedos de miriti, eu vejo o encantamento que as pessoas têm com esses produtos. São muito originais e ainda tem o apelo da sustentabilidade, conta a empresária.

Além dessas, outras transformações podem ser notadas com relação ao repertório

de peças fabricadas. Começa a se delinear em meio a alguns artesãos a formação de uma

nítida preferência por representações mais vivas da vida e da cultura local e amazônica. Essa

inclinação, que não significa o abandono dos modelos imaginários mais antigos e já

tradicionais, traduz-se na atual confecção, por exemplo, de séries de diferentes espécies da

fauna (peixe, pássaros, jacarés e botos) com evidente preocupação realista; de registros do

Círio (como a miniatura do pato no paneiro, tal como a ave é encontrada à venda nas ruas e

feiras de Belém, para o preparo do prato principal do almoço da festa – o pato no tucupi) e de

cenas e personagens típicos da vida cabocla (casinhas sobre palafitas, pescadores, canoas

transportando frutas e casais de ribeirinhos).

O brinquedo é uma feitura de atos que expressa de todas as maneiras a forma dada

pelo brincante que transforma o jogo através de conteúdo estampados nas cores da alegria,

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entretenimento, como instrumento da escola natural. É capaz de mudanças com suas bases

culturais, ou seja, do objeto material de uma plástica dotada de elementos abrangentes,

crescentes de influências de uma cultura que exala em decorrência de suas raízes todo o

sistema ecológico amazônico, pois o que vem da terra manifesta-se em produtos da terra, e

nesta, o consumo dos bens representativos do artista popular junto à sua coletividade.

Podemos situá-los nas artes plásticas, transportando os valores de uma arte

popular; nas artes cênicas através do teatro, dança, jogo de improvisação, cinema e ainda na

arte musical pela sensibilidade, no caso do brinquedo de miriti é considerado silencioso,

quanto à vibração sonora, no ritmo e sons naturais que despertem nossa percepção auditiva.

Estas perspectivas somente serão atingidas quando forem vistas não como

brinquedos ou simplesmente coisa de brincar, porém, como um acervo cultural que envolve a

arte, a religião, festas tradicionais e populares.

Como podemos citar o rio Tocantins que espalha seus afluentes, braços, igarapés e

por ocasião das enchentes, transbordam resultando nas áreas de várzeas, por onde floram as

palmeiras dos miritizeiros. As áreas de florestas de várzeas são periodicamente inundáveis por

ocasião das cheias. Sendo uma região cortada por rios, igarapés e furos onde encontramos a

matéria prima para a cultura material do brinquedo popular como miriti, mais um valor de arte

plástica popular e sua aplicação nos diferentes campos de ação do homem, mantendo suas

funções essenciais como elementos de expressão plástica dentro dos critérios objetivos e

subjetivos: “a relação entre o homem e a dimensão cultural é de ordem a permitir que o

homem e seu meio ambiente participem da formação um do outro”

Um mundo sensível incapaz de ser mensurado por ser arte do povo, acima de

tudo, pelo tamanho dos valores que estão arraigados no seu humanismo.

Para o artista popular, levado pela influência dos tempos vai se adaptando,

considerando como meios que aceleram o processo de fabricação dos brinquedos, deixando

conhecimentos técnicos anteriores de lado para assumir uma nova consumação de produtos da

indústria.

A passagem de conhecimentos técnicos, habilidades, resultam da convivência

com experiência práticas que passam de geração à geração, que cada vez mais, assume a

continuidade do brinquedo como forma de expressão coletiva. Começa da criação do próprio

brinquedo que surge ao fabricante, e este se relaciona com o meio ambiente, por meio dos

recursos naturais que podem ser oferecidos. Na sua arte imita o que percebe, transformando

em miniaturas conceituadas e representações de significância expressiva que são

demonstradas desde a infância, como dito por alguns fabricante de brinquedos.

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Existem muitas possibilidades para criação do brinquedo, depende muito da

imaginação e invenção relativa dos artistas populares. Na sua mecanização são adaptados

outros recursos materiais de complementação como: a argila para movimentar o brinquedo

através do desequilíbrio; tecidos de algodão; morim e outros retalhos; goma de tapioca;

barbante; tala de garumã; jupati e outros tipos de fibras vegetais; liga de câmara de bicicleta,

os corantes ou tintas já fabricados pela indústria. Com o decorrer dos tempos, vão se

adaptando com os produtos “prontos” da indústria, deixando de lado as técnicas provenientes

da tradição em retirar da própria natureza.

Com os recursos técnicos obtidos através da relação com a matéria-prima e os

brinquedos prontos, vêm proporcionar um vasto campo para novas experiências em termo de

criatividade na construção de formas, que vai depender muito dos objetos de quem aplica o

brinquedo popular.

O brinquedo como material de trabalho tem que ser colocado na sua posição como

elementos importantes de formação e expressividade cultural, de interação com a natureza do

homem e seu relacionamento com o meio ambiente, “somente o que é popular é folclórico,

entende-se por popular o que emana direta ou indiretamente do povo, dos trabalhadores das

camadas inferiores da população, dos grupos sem a possibilidade de comando na sociedade,

ou o que, não sendo de origem popular é, entretanto conhecido e aceito por todo o povo e nele

encontra ressonância.

� O brinquedo como Lei

Os brinquedos de miriti ganharam visibilidade e produção em maior escala. Hoje,

eles são a estrela principal do Miritifest, festival que ocorre anualmente na cidade de

Abaetetuba. Divulgar e comercializar peças de artesanato, além de demonstrar a versatilidade

da matéria prima, que permite sua utilização também para fins culinários, estão entre os

objetivos do evento. O evento ganhou reconhecimento estadual.

A lei nº 7.282, declarou o Miritifest patrimônio cultural do Estado do Pará.

Reconhecido como evento de divulgação das culturas regionais e representante das tradições

populares do município de Abaetetuba, a lei garante apoio anual do governo para a realização

do evento. Esta lei partiu da iniciativa do Deputado Miriquinho Batista (PT), através do

Projeto de Lei n˚ 204/2008. A lei, publicada no Diário Oficial do Estado, prevê ainda a

inclusão da festividade no calendário oficial de eventos do Pará e a possibilidade das

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associações organizadoras do Miritifest firmarem convênios que viabilizem o patrocínio da

festa pelo Estado, segue texto da devida publicação;

[...] declara patrimônio cultural do Estado do Pará o “Miritifest” - Festival de Miriti de Abaetetuba, como evento de divulgação das culturas regionais, representando as tradições populares do Município de Abaetetuba/PA. De acordo com a lei, esta declaração assegura apoio à realização anual do Miritifest através da política estadual e cultural, bem como sua inclusão no calendário oficial de eventos culturais do Estado do Pará. A lei faculta apoio técnico e cultural do Estado por meio de seus órgãos afins, podendo firmar convênios, contratos ou outro instrumento que viabilize o patrocínio do Estado às Associações no Miritifest.”

O evento disporá, agora, das prerrogativas legais inerentes ao patrimônio cultural,

tal qual a inclusão na política estadual de cultura e a inclusão no calendário oficial de eventos

do Estado. Um dos objetivos do Miritifest é resgatar a cultura do artesanato do município e

preparar os profissionais para o mercado, além de transformar a atividade na principal fonte

de renda do artesão da região.

O Miritifest (fotografia 9) tem duração de três dias, onde são expostos e vendidos

artesanatos de miriti, abrindo espaços nas agendas culturais em âmbito estadual e nacional.

Como já dito os objetos fabricados de miriti representam um dos muitos símbolos de grande

destaque na maior manifestação religiosa do Pará: O Círio de Nazaré, e foi devido a essa

forma de expressão pública que o artesanato em miriti de Abaetetuba se transformou em uma

das marcas de atração do Estado do Pará.

Fotografia 9. Folder do 10º MiritiFest.

Fonte: ASCOM IFPA Abaeté, 2013.

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Através do aprimoramento dos artesãos em suas produções, os artesanatos de

miriti ficaram conhecidos internacionalmente e foi dessa forma que o Miritifest começou a ser

realizado, com o objetivo de fortificar a atividade artesanal como fonte de renda para os

artesãos, valorizando a cultura local, em um processo que acontece desde 2004. As pessoas de

Abaetetuba que vivem dessa produção artesanal têm seus trabalhos elevados de acordo com o

crescimento de apoios institucionais, dentre os quais o Governo do Estado. À frente da

organização do Miritifest inicialmente estavam a Associação dos Artesãos de Miriti de

Abaetetuba (ASAMAB) e a Associação Comercial e Empresarial de Abaetetuba, porém nos

últimos anos esta ultima já não encontrasse mais na organização do evento. Ressalta-se que

este projeto vem desenvolvendo um trabalho de suma importância não só para a população de

Abaetetuba, mas para todo o Estado do Pará.

Visando a valorização de investimento no turismo local e aproveitando todos os

potenciais existentes no município, a coordenação do miritifest convidou este ano a

Associação Comercial e Empresarial de Abaetetuba para coordenar o I SEMINÁRIO DE

TURISMO tendo como público alvo o próprio empresariado do município que receberá

palestras de técnicos e empresários da área e as experiências de quem já está integrado ao

ramo. O objetivo é alertar para a importância de investimentos no Turismo para atrair

visitantes ao município, em eventos culturais e em outras ocasiões.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capitulo abordar-se a os resultados obtidos no decorrer deste trabalho tanto

nas fases bibliográficas quanto de campo, no intuito de melhor esclarecer ao leitor faz se isto

de forma articulada as discussões para que assim o leitor reflita sobre os temas abordados e

relacionados ao Miriti.

5.1 Caracterização dos Artesãos

A amostra foi de 33 informantes, cuja faixa etária variou entre 20 e 79 anos.

Sendo que 70 % do sexo masculino e 30% do sexo feminino. A faixa etária correspondente às

idades entre 40 e 49 anos apresentou o maior número de informantes, demonstrando que essa

atividade é dominada pelos mais experientes. Vale ressaltar que 90% dos artesãos de

Abaetetuba trabalham com o brinquedo de miriti a mais de 10 anos, apenas 3 disseram

trabalhar a mais de cinco anos e se enquadraram em outra categoria.

Dos entrevistados, trinta e um informaram terem aprendido as técnicas com a

família e apenas 02 sozinhos. Na maioria moradores da própria comunidade desde seu

nascimento, se autodenominam “filhos da terra”. Não é comum encontrar nas comunidades

ribeirinhas, principalmente nas ilhas, moradores vindos da sede do município, normalmente,

ocorre o contrário, mas de forma não muito intensa, alguns, por terem parentes que possuem

residências na sede do município, muitos deles, durante algum período já residiram ali ou tem

parentes ainda, nas ilhas. Fato este confirmado nos questionários, onde afirmam ter parentes

que trabalham com o fornecimento da matéria prima, esta advinda integralmente da região das

ilhas. Esta saída das ilhas para a sede do município, é uma característica principalmente dos

jovens, por não terem responsabilidade com a família e pelo fato da vida pacata das ilhas não

oferecer atrativos que despertem o interesse e motivem a fixação definitiva nelas, como

emprego e maiores estudos. Este fato pode ser observado em relação aos artesãos de

brinquedos, muitos dos quais são antigos moradores das ilhas que se mudaram para o centro

urbano, em busca de uma melhoria de vida.

5.2 Caracterização das Instituições envolvidas.

A partir da grande visibilidade que os brinquedos de miriti ganharam nos últimos

anos e a produção em maior escala, os artesãos sentiram a necessidade de se organizar e

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buscar melhorias na sua arte fundaram assim a “Associação dos Artesãos de Brinquedos e

Artesanatos de Miriti de Abaetetuba” (ASAMAB), em fevereiro de 2003. Este fato favoreceu

o fomento da atividade por parte do poder público estadual e municipal, por meio de vários

projetos. A título de exemplo, o projeto desenvolvido pelo SEBRAE/PA, Unidade Tocantins,

na área de arranjos produtivos locais, inserido no setor de artesanato. A possibilidade de renda

e trabalho em torno do artesanato de miriti despertou o interesse de gerações mais novas que

se uniram e fundaram, em dezembro de 2005, a Associação Arte Miriti de Abaetetuba

(Miritong), desenvolvendo novos produtos e novas atividades.

Tais entidades se diferem por suas características (tabela 1), tendo em vista que a

ASAMAB tem predominância comercial trabalha a desenvolver a atividade econômica dos

artesãos. Já a Miritong apresenta características educacionais, trabalhando o miriti como

agente social que visa estabelecer melhorias na sociedade a começar pelos projetos com

jovens que a associação desenvolve. E como parceiras ambas contam com o SEBRAE que

desenvolve atividades para: melhoria da qualidade dos brinquedos e como incentivadora de

micro empresários.

Tabela 1. Caracterização das Instituições envolvidas

Caracterização das Associações

Associados Caráter Objetivos Projetos Parceiros

ASAMAB 60 Comercial Atender a

necessidade do artesão

Miritifest Feira do Círio (Belém) Feiras fora do estado

Prefeitura Municipal

MIRITONG 80 Educacional

Social

Repasse de técnica e Conscientização do manejo sustentável

Oficinas de artesanato Ponto de Cultura Projeto mais cultura na escola

Ministério da Cultura e Secretaria

Estadual de Cultura

SEBRAE 02 Empreendedor Desenvolver a visão

empreendedora

Feira de artesanato do Círio Feiras em âmbito nacional.

Não se aplica.

Fonte: A autora, 2013.

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5.3 Uso e Apropriação do Miriti da Fabricação a Comercialização dos Brinquedos.

Canoas, pássaros, cobras, vaquinhas, aviões, radio de pilhas, televisões, casal de

ribeirinhos, são muitas as opções de brinquedos de miriti que se pode encontrar. Há muitas

gerações, estes brinquedos encantam as crianças com o seu mundo mágico que recria em

miniaturas, a fauna, a flora e as lendas amazônicas.

O miritizeiro é conhecido entre os ribeirinhos como “árvore santa”, pois além das

várias utilidades já citadas, destacam-se também a utilização do caule como ponte que vai da

porta da casa até o rio, do fruto na produção de sabonetes, perfumes e velas, e das raízes na

composição de remédios e da bucha na fabricação dos tradicionais brinquedos e artesanatos.

Segundo o poeta Abaetetubense João de Jesus Paes Loureiro, cada um dos objetos

representa uma singularidade artística individualizadora, todos tem uma forma, mas nunca

uma fôrma, como citado por Loureiro em seu livro “Da Cor do Norte”, o artesão Miranda tem

como característica do seu artesanato a fabricação, de todos os tipos de barco, “eu trabalho

com barcos, canoas e o que as pessoas pedirem, elas podem dizer como querem a porta, por

exemplo, ai eu construo todo o resto a partir da porta” A característica dos artesanatos de seu

Jê são os brinquedos, “eu faço qualquer tipo de brinquedo, cobrinha, casinha e o que mais

pedirem”.

A extração da matéria-prima não é feita de forma predatória, o miritizeiro é uma

alta palmeira típica de áreas de várzeas da Amazônia, muito recorrente nas ilhas do entorno

do município de Abaetetuba. Dele, tudo é aproveitado. O fruto, também conhecido como

buriti, é ingrediente de várias receitas da região. A palma vira boa palha usada para cobrir

telhados. A madeira serve de sustentação para casas de pescadores. E a fibra, matéria-prima

dos brinquedos, é usada também para tecer cestos, paneiros e matapis.

O processo, de fabricação do brinquedo é lento e para melhor entendimento faz-se

necessário esclarecer sobre a nomenclatura das partes vegetais utilizadas e sua

correspondência na linguagem local. Ambos os artefatos têm como matéria-prima o pecíolo,

localmente denominado de ‘braço’. As fibras, que são a parte mais externa do pecíolo, são

conhecidas como ‘talas’ e utilizadas na confecção das cestarias em geral e dos paneiros, em

particular. A medula do pecíolo, parte mais interna deste e que consiste em um material

esponjoso chamado de ‘bucha’, é empregada na produção dos brinquedos. Começa com a

coleta dos talos (braços) da palmeira. O miriti escolhido é de preferência jovem. Da planta se

colhe apenas os braços, onde estão as folhagens. Com isso, não é uma atividade predatória e

sim sustentável, uma vez que a arvore é mantida viva e crescendo, a matéria prima é retirada

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pelo ribeirinho (que vive nas localidades vizinhas da cidade de Abaetetuba), que corta a

folhagem da palmeira, retirada a tala pondo a polpa para secar nos seus barracões. Este

fabricante se dedica com exclusividade na confecção de montarias (canoas) e outros tipos de

locomoções fluviais, ao mesmo tempo, fornecem para os artistas a matéria prima para que se

trabalhem as formas variadas de brinquedos na cidade de Abaetetuba, por ocasião que

antecede o Círio de Nazaré.

Para se obter a matéria prima dos brinquedos os braços do miriti são descascados

e se aproveita apenas o miolo (bucha), esses braços têm em media três metros de

comprimento cada, são descascados e postos para secar. Assim tratados são levados de barco

para a cidade e vendidos aos artesãos em feixe de 100 unidades, que ainda deverão secar por

mais alguns dias, dessa vez ao abrigo do tempo, para então dar-se início à feitura sãs peças

A polpa é retirada dos braços das folhagens, encontra-se revestida pela tala

(fotografia 10). Possui a forma cilíndrica de espessura aproximadamente de 0,5 a 0,10 cm de

diâmetro, podendo chegar até a 4 metros de comprimentos. O miriti que apanha chuva fica

“fofo” e não serve para a fabricação do brinquedo, pois nele não se pode fixar a tala usada

também para juntar as partes do brinquedo.

Fotografia 10. Feixes de buchas de miriti.

Fonte: A Autora, 2013.

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A primeira etapa dá confecção dos brinquedos consiste no corte de pedaços da

polpa do miriti. Por ser matéria macia e porosa, como um “isopor natural” apresenta pouca

resistência às facas afiadas dos artesãos, podendo assim talhar com facilidade as mais diversas

formas de brinquedos e outros objetos, conhecida por apresentar características próprias em

suas peças e ser a mais antiga artesã em atividade no município, D. Nina Abreu em Miriti das

Águas, apresenta de forma resumida a utilização da árvore de miriti, os “braços” da palmeira,

de onde se extrai a bucha - fibra vegetal conhecida como isopor da Amazônia - são retirados

por meio de cortes precisos para que a palmeira forneça frutos gerando sementes.

Os braços cortados verdes possuem um invólucro que é a tala, parecem verdes, mas estão maduros, estes logo tenderão a cair, então automaticamente a árvore é benevolente em oferecer uma matéria-prima, que ela vai descartar futuramente. Por aí já se percebe que é algo sustentável.

Enfatiza ainda as várias utilidades que tem a palmeira do miriti conforme trecho

abaixo:

O miriti é bom porque tudo serve dele, do miritizeiro. Começa da folha, o grelo da folha que vem nascendo. Eles tiram o grelo, deixam secar e fazem a envira. Essa envira tece as cordas pra rede. De uma tala, eles fazem o rabo do foguete – esses foguetes que soltam e sobem. E também eles tecem rede. O miriti é o braço da folha do miriti, esse miriti que a gente faz os brinquedos. Da tala, tece os peneiros, cestos, essas coisas. Da bucha, a gente faz os brinquedos. Da fruta faz o vinho, faz o suco, faz licor , faz o doce, faz o mingau.

As cascas que são bem flexíveis, depois de secas, transformam-se em cestos,

paneiros, pipas. A bucha trabalhada com facões é alisada e transportado em feixes para os

produtores de brinquedos. Os artesãos com ferramentas rústicas (normalmente facas e facões)

esculpem e montam peças, segundo suas referências pessoais, como consequência, cortar o

miriti torna-se a tarefa mais importante de todo o processo de confecção de brinquedos. Numa

unidade de produção percebe-se a hierarquia existente entre os artesãos: o responsável pelo

corte exerce certa ascendência sobre os demais, podendo ser identificado como o artesão

principal. É ele quem, geralmente, organiza o grupo e ostenta com orgulho as cicatrizes que o

ofício de longos anos deixou em suas mãos, sendo assim a organização do trabalho pode

envolver toda a família e agregados do artesão em pequenos núcleos de produção, nos quais

as tarefas são divididas de acordo com as habilidades individuais.

A cadeia de produção (anexo E) dos brinquedos depende do bom preparo da

matéria-prima, adquirida junto aos extratores das folhas de miriti, geralmente, moradores das

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ilhas. Alguns preferem comprar as ‘braças’ ainda verdes e secá-las em casa. Neste caso,

alegam que a técnica tradicional de secagem ao sol, utilizada pelos extratores, deixam as

‘buchas’ manchadas e escurecidas, dando um aspecto envelhecido aos brinquedos. Assim, os

artesãos recomendam que depois de retiradas as ‘talas’, as ‘buchas’ sejam imediatamente

protegidas dos raios solares, para garantir uma matéria-prima de qualidade. Outros artesãos,

porém, compram-nas já secas e prontas a serem manuseadas, cujo preço pode variar devido

grandes procura. Cortar, lixar, pintar e envernizar faz parte da confecção do brinquedo, como

a polpa é roliça, para fazer certos brinquedos ela necessita até ser prensada em uma máquina.

O brinquedo pode ser cortado inteiriço ou em partes separadas, neste ultimo caso,

a montagem só é feita após as partes terem sido lixadas, aplica-se uma lixa grossa a cada peça

cortada de modo a eliminar farpas e ranhuras próprias do miriti, o procedimento visa facilitar

a pintura final e pode ser executado pelos ajudantes do artesão que faz o corte, dispensando-o

dessa tarefa, considerada menos especializada, especialmente em ocasiões de intensificação

do ritmo da produção.

As partes são encaixadas e fixadas umas às outras, com cola branca e palitos

feitos da própria casca do miriti, denominada tala, dando forma inicial as peças. A modelagem

final é obtida com a realização de novos cortes e aparas, a fim de fazer o acabamento na

forma do brinquedo recém – criado.

A montagem e modelagem das peças, assim como o corte do miriti, constituem

etapas determinantes da quantidade e qualidade dos produtos fabricados em cada núcleo de

produção. Como requerem habilidades específicas, que nem todos têm, acabam recaindo

sobre apenas alguns artesãos, mais jeitosos talvez, considerados os que, de fato, “fazem

brinquedos”, a despeito da colaboração dos demais em tarefas que podem ser percebidas

como secundárias, lixar e pintar por exemplo.

A especialização é um traço característico da divisão do trabalho nas oficinas de

brinquedos de miriti, como já foi dito, alguns se especializam em barcos, outros em

brinquedos em geral e assim por diante, a escolha deste ou daquele motivo é parte da crônica

individual de cada autor ou família de autores, no que diz respeito ainda à forma, outro

aspecto muito importante é chamado de “mecanização”, que pode ser a mecanização natural

ou de criação próprio de cada artesão.

Embora haja artesãos- que realizem ou, ao menos saibam fazer - todas as etapas

da produção, é comum encontrá-los dedicados a apenas uma etapa do processo. Assim, numa

mesma oficina, há aqueles que apenas cortam, enquanto outros lixam ou pintam o brinquedo.

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Em outra oficina é possível que os artesãos optem por vender os brinquedos sem pintura,

“brancos”, como dizem, a outros que se especializam em pintá-los.

Eu entrego em branco, eles pintam e vendem lá em Belém. Tem muitos que fazem isso, eles não fazem, só vendem. A maior parte eu entrego, é mais vantagem porque eu fabrico mais e livro meu compromisso, porque a pintura, você tem que ter uma pessoa só pra pintar, mas não compensa pintar pra outro, você pinta pra outra pessoa, ele desfaz, você entrega em branco ele não tem do que reclamar, tem gente especializada em pintar ai não vale a pena. (Artesão Diabinho)

Em cada núcleo de produção diversas pessoas podem estar envolvidas na pintura

de brinquedo: homens, mulheres e jovens encarregados de dar vidas às peças que lhes

chegam, ainda “brancas”, às mãos. A preparação para a pintura propriamente dita se faz com

a aplicação de uma camada de selador ou base d’água nas peças que, em seguida, são

novamente lixadas, dessa vez com uma lixa mais fina do que a primeira, a fim de se

eliminarem possíveis defeitos na superfície. “... passa uma massa, se tiver muito furo no

miriti, lixa bem ela, passa cal ou alguma coisa branca, base d’água, e aí uma outra tinta

colorida.” (Artesão Desidério)

Para melhor fixação das tintas, as peças devem estar tão lisas quanto possível, mas

nunca a ponto de se esconder a natureza da matéria com que são feitas. O miriti tem uma

textura própria que o distingue de outros tipos de matéria vegetal, como a madeira, e os

artesãos zelando pela qualidade de seu produto entendem que essa marca deve sempre

permanecer visível nos brinquedos, mesmo depois de pintados. Assim, no acabamento, é

comum deixarem pedaços brancos, isto é, sem pintura, em que o miriti pode ser reconhecido

em seu estado natural.

Com isso, depois de prontas, com as partes coladas e secas, é aplicado ao desenho,

base à pintura final a cor pela sua essência é nos passada através das linhas, traços e

pontilhados, bastante usada as cores primárias, assim como as secundárias. É a representação

do real retirado da fauna (natureza) proveniente da observação do artista popular que resulta

numa policromia, alegre, muitos colorido que diz presente aos efeitos visuais da região

amazônico, é feita por membros das famílias (homens, mulheres e crianças) que repetem em

cada peça o padrão estabelecido, o tempo médio para a fabricação de cada brinquedo é em

média 2h.

É na pintura das peças que se notam as maiores modificações no artesanato dos

brinquedos de miriti, sobretudo nos últimos 30 anos. A atual disponibilidade no mercado local

de produtos como tintas e pincéis industrializados tem levado à substituição de antigos

materiais e instrumentos de trabalho improvisados:

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[...] até o pincel hoje em dia é diferente, porque antigamente nós pegávamos tala, apontava, colocava algodão, amarrava, era esse o nosso pincel. Quando não, a gente ia na rua, apanhava lá um mato que tem, agente batia amarrava dois ou três cabos e fazia o pincel. Ficava tipo esses pincéis de agora. (Seu Valdeli).

Também a anilina em pó que, dissolvida em água, dava cor aos brinquedos de

antigamente, hoje em dia foi trocada por tintas industrializadas. As mais usadas são as não

tóxicas para tecido, embora alguns artesãos prefiram aquelas à base de óleo e os vernizes, a

fim de dar mais brilho às peças. Cores fortes e vibrantes, normalmente obtidas a partir de

misturas de azul, amarelo e vermelho, são as mais encontradas em qualquer oficina de

trabalho. Nada de tons pastéis, pois os artesãos gostam mesmo é de ver seus brinquedos bem

colorido. Branco e preto, por exemplo, só aparecem em detalhes e acabamentos

Para o paraense já não é mais possível dissociar o Círio do brinquedo de miriti.

Eles fazem parte da memória dos festejos e refletem a alegria e a face profana das festividades

em torno da Virgem. Durante a festa arte se une a fé e os brinquedos dão um colorido especial

a procissão.

Dessa forma até algum tempo atrás a produção de brinquedos destinava-se à

venda por ocasião dos festejos do círio, portanto era de caráter sazonal, concentrando-se nos

meses de agosto a setembro. Hoje, embora a comercialização dos brinquedos continue sendo

maior no mês de outubro em virtude vinda dos romeiros e turistas que estimulam o comercio

na capital, a organização dos artistas populares possibilitou a extensão das vendas durante o

ano todo;

[...] aqui a gente sempre faz brinquedos porque a gente recebe muita encomenda e também porque a gente vende em feiras e festivais que têm durante o ano não só aqui mas como também em Belém e outros lugares- relata seu Rivaildo.

Os brinquedos durante o Círio de Nazaré são expostos e comercializados desde a

Praça da Sé (bairro da Cidade Velha) até o Centro Arquitetônico de Belém - CAN (bairro de

Nazaré). Ao longo do trajeto da procissão, os produtos ficam expostos em girândolas

(fotografia 11), erguidas nos ombros dos vendedores, girândolas é uma estrutura que forma

uma cruz de braço duplo, sobre esta utilização os artesãos dizem que “é para acompanhar os

promesseiros e dá uma colorida no Círio” muitos citam o lado econômico das girândolas,

afirma ele:

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[...] é para espalhar as vendas enquanto eu fico num ponto vendendo meu sobrinho anda com a girândola vendendo em outros lugares, assim é uma forma que nós tem de ganhar um dinheirinho a mais.

Fotografia 11. O Girandeiro.

Fonte: Rafael Nascimento, 2013.

Os artesanatos ganharam tão grande importância que atualmente os artesãos

contam com um espaço próprio no período do Círio para comercialização do artesanato – a

feira do Miriti. Mas até colorir a procissão, o miriti movimenta uma ampla cadeia de

produção, envolvendo desde as famílias ribeirinhas, que coletam a matéria-prima; as famílias

de artesãos de Abaetetuba, que beneficiam e vendem os produtos; até empresários que

comercializam o artesanato paraense para outros estados brasileiros.

Porém precisamos lembrar que estes os brinquedos de miriti não são prerrogativas

dos ribeirinhos, apesar de muitos artesãos de brinquedos pertencerem a essa categoria. Esta

prática artesanal em Abaetetuba é de natureza comercial e os artesãos que a ela se dedicam

estão, normalmente, organizados em duas associações: ASAMAB e MIRITONG, ambas estão

envolvidas com a produção e a venda destes artefatos em feiras e lojas regionais e nacionais,

atendendo também a encomendas internacionais ao longo do ano.

No entanto existem artesãos que não se encontram vinculados a nenhuma destas

organizações, alguns destes não associados, mantêm em suas próprias casas uma oficina, o

que os tornam produtores em menor escala, alimentando mais a produção local e contribuindo

ainda mais para tornar o município pólo nessa arte. Existem ainda os brinquedos fabricados

em Belém por artesãos vindos de Abaetetuba e que moram na periferia da cidade, estes

artesãos são pessoas humildes e que têm alguma profissão, mas, no período de fabricação dos

produtos, eles dividem seu tempo, para que as centenas de brinquedos sejam confeccionados à

tempo para o Círio. Neste caso esses artesão trabalham na fabricação dos brinquedos apenas

para o Círio e se apresentam como uma minoria na procissão religiosa.

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Abaetetuba proporciona para muitos desses artesãos inspirações para produção

dos brinquedos por ser uma cidade com características tipicamente ribeirinha, e vasta fauna e

flora amazônica. Além disso, proporciona também oportunidades de promoção e

comercialização dos artesanatos de miriti, no Festival de Miriti que objetiva o

desenvolvimento do município através da atividade artesanal de miriti possibilitando a

ampliação do mercado consumidor e a promoção comercial das novas tendências de

funcionalidades do miriti, no que afirma Diabinho:

[...] a partir do brinquedo começou a surgir outros produtos derivados da palmeira que de aderiram ao festival, as pessoas começaram a trabalhar a riqueza que o produto tem , como exemplo, nós temos uma culinária a base do fruto e a biojóia a partir da fibra do miriti.

Afirma ainda que muitos artesãos já sobrevivem exclusivamente da venda do

artesanato de miriti, no Círio de Nazaré em Belém incluindo a feira do Miriti , no festival do

miriti em Abaetetuba, e em exposições em outras cidades do Brasil e sem países como:

França, Alemanha e Estados Unidos.

O custo de produção de cada brinquedo varia de acordo com o tamanho, tipo e

complexidade da peça que, muitas vezes, pode também ser encomendada. Alguns artesãos

chegam a dizer que diariamente são procurados por alguém que deseja comprar ou

encomendar alguma peça. Assim como acontece com outros produtos, tanto os homens como

as mulheres se dedicam à confecção e ao beneficiamento dos brinquedos, porém, em se

tratando da comercialização, essa fica delegada à responsabilidade de cada artesão, sendo ele

homem ou mulher.

5.4 O brinquedo de Miriti como desenvolvimento local em Abaetetuba.

O desenvolvimento sustentado pode ser entendido como o esforço para que haja

desenvolvimento econômico e consequentemente uma alternativa para o desenvolvimento

local, sem a degradação do meio ambiente e de seus recursos naturais. Oliveira (1998) que

estuda novas oportunidades para o desenvolvimento regional que não a exploração

madeireira, afirma que uma das alternativas para o desenvolvimento sustentado do Pará, é a

“identificação e o aproveitamento dos produtos nobres da floresta, que vão além da madeira, e

que possam receber no próprio local, agregação de tecnologia e obter um valor de

comercialização razoável para manter a comunidade com um nível de renda adequado”.

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No exemplo mostrado neste trabalho, sobre a atividade artesanal praticada com o

miriti tipo de matéria-prima não-lenhosa da floresta, pode-se observar características de

sustentabilidade, visto o baixo impacto que causam ao meio ambiente:

§ A coleta de matérias-primas pode ser feita através do manejo das áreas de ocorrência das

espécies em questão;

§ A atividade artesanal utiliza mão-de-obra do próprio local, favorecendo as comunidades que

dela se ocupam e classificando-se como socialmente justa;

§ A viabilidade econômica de tal atividade é verificada pela fonte potencial de geração de

renda.

A seguir apresenta-se detalhadamente as dimensões da sustentabilidade avaliada

no objeto de estudo desse trabalho, o brinquedo de miriti.

5.4.1 Dimensão Ecológica

A sustentabilidade ambiental está ligada, à preservação ou aprimoramento da base

de recursos produtiva, principalmente para as gerações futuras. Na sustentabilidade local, para

este trabalho a questão seria entender a atividade e verificar as vertentes de acordo com os

recursos naturais; aqui entendido como a palmeira fornecedora da matéria- prima para os

brinquedos.

A confecção de brinquedos, ao contrário de outras atividades que utilizam o

miriti, não é prerrogativa dos ribeirinhos; sua produção voltada para o mercado é realizada

pelas associações existentes no centro urbano. Porém o aumento da popularidade e venda dos

brinquedos reflete no dia-a-dia dos moradores da ilha, pois mesmo não fazendo parte de suas

atividades cotidianas, são frequentemente associados a ela.

Para o uso no artesanato são extraídas as folhas da palmeira jovem, medindo de 3

a 8 metros de altura. Para isso utilizam os pecíolos, localmente denominados de “braça”,

como já dito no decorrer deste trabalho, a matéria-prima é oriunda da região das ilhas, dos

pesquisados neste trabalho 100% afirmaram comprar as buchas de extratores residentes nas

próprias ilhas. Os artesãos podem comprar as fibras já prontas para a utilização ou as braças

ainda verdes, devendo submetê-las ao beneficiamento.

As ilhas do entorno do município de Abaetetuba, entretanto, possuem

particularidades quanto à forma de subsistência, o que as tornam diferentes entre si apesar de

estarem próximas, apresentam diferenças marcantes no que diz respeito à forma de

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exploração. O que significa dizer que esses braças não vêem de uma única comunidade

ribeirinha, desta forma não seria uma única ilha a fornecedora de matéria prima.

Entretanto, a M. flexuosa L. f. é o segundo produto extrativista que rege a

economia local, perdendo apenas para Euterpe oleracea (açaí) que é o produto mais

importante para esses moradores, tendo em vista os financiamentos bancários facilitados pelo

governo para que sejam mantidos os plantios de açaizais nestas áreas, investimentos esses

inexistentes para plantio de miritizais.

Diferença aqui apontada por representantes das associações segundo a forma de

uso da palmeira e que dá a este trabalho a dimensão da importância do uso da palmeira;

[...] a gente não precisa comprar a matéria quando o miriti tá adulto a gente diz que ele ta próprio para tirar a bucha, e essa atividade não agride a natureza, o meio ambiente, a palmeira, a gente colhe só as folhas na verdade a gente faz uma podagem, e se a palmeira tem 10 folhas agente tira 5 e deixa 5 pra ela continuar crescendo desse modo agente consegue fazer 2 podas durante o ano (Valdeli – Representante Miritong)

Reafirmado pelo representante da ASAMAB

A gente aproveita tudo dessa árvore as folhas são pra fazer paneiros e matapis; o tronco serve ate pra residências, como pontes ou portos na entrada das casas, servem como jangadas, sem falar na parte da comida que dá pra fazer, mingau, vinho e muitas outras coisas. O melhor de tudo é que a gente usa tudo isso e não precisa matar a árvore ela continua viva e produzindo mais pra gente (Rivaildo, Presidente da Asamab).

Rivaildo lembra ainda que há anos atrás os brinquedos de miriti não existiam e

essa parte do miriti era desprezado, jogado fora por não ter importância aos artesãos dos

cestos e paneiro e diz “agora até isso, se aproveita”. Outrora considerados subprodutos por

serem confeccionados com descartes das buchas deixados pela atividade cesteira, os

brinquedos são vistos hoje como um dos principais produtos de miriti.

Pensando no descarte e aproveitamento da matéria-prima outro projeto que está

em andamento pela ASAMAB é o da “Usina de Reciclagem”, projeto que tem por objetivo a

utilização dos resíduos de miriti para a produção de papel, e que pode ser usado como

embalagem para os próprios brinquedos, agregando além da beleza valor ao produto, a

associação já conta com todo o maquinário porém ainda não começou efetivamente o projeto

pois está sem instrutor.

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5.4.2 Dimensão Espacial

Esta dimensão refere-se a configurações urbanas e rurais balanceadas, melhoria do

ambiente urbano e rural, superação das disparidades inter-regionais e estratégias de

desenvolvimento ambientalmente seguras para áreas ecologicamente frágeis.

As comunidades ribeirinhas do município de Abaetetuba frequentemente recebem

o nome do rio à margem do qual se estabelecem, apresentando características que são

peculiares às demais comunidades de várzea do estuário amazônico: suas atividades

econômicas baseiam-se na agricultura e no extrativismo de produtos florestais,

complementados pela pesca, além de pequenas criações de animais (galinhas, patos e porcos)

para o consumo doméstico. Essas atividades também foram comentadas por Hiraoka (1993)

em estudo feito nessa mesma localidade. As comunidades do município de Abaetetuba,

entretanto, possuem particularidades quanto à forma de subsistência até no que diz respeito ao

mesmo produto, o que as tornam diferentes entre si.

Um ponto comum e que chamou atenção dessa pesquisa e já descritas

anteriormente, é a presença marcante de M.flexuosa L. f. no cotidiano de seus moradores. Seus

frutos são bastante consumidos, todos utilizam utensílios feitos das folhas desta palmeira,

entretanto, a M. flexuosa L. f. é o segundo produto extrativista que rege a economia local,

enquanto Euterpe oleracea (açaí) é o produto mais importante para os moradores da região

das ilhas, tendo em vista os financiamentos bancários facilitados pelo governo para que sejam

mantidos os plantios de açaizais nestas áreas, coisa que não acontece com os miritizais.

Seu Valdeli relata pra gente o que tem ocorrido nessas áreas

A nossa palmeira miriti concorre com o açaí, ai o pessoal acaba cortando o miriti pra deixar o açaí e a gente tá conscientizando eles que os dois produtos se dão muito bem, a gente planta com 1 m de distância uma da outra, elas se dão muito bem elas crescem junto, a floresta da muita coisa boa mais uma em especial o miritizeiro temos que saber aproveitar (Seu Valdeli).

Outro entrevistado relata a importância desses dois produtos para as comunidades:

Quando não tem o açaí, tem o miriti. Quando não tem o miriti, tem açaí. É assim que funciona, às vezes temos os dois, isso vai depender da safra do miriti. Tem ano que dá muito e outro dá pouco, não sei por que isso acontece, mas é assim (Seu Rivaildo).

Seu Valdeli diz ainda: “é por isso que a Miritong faz trabalho de chamar a

comunidade a preservar a matéria, plantar e cuidar porque até mesmo a natureza através da

maré grande, semeia e ajuda a manter os miritizais. Os ribeirinhos tiravam a tala para fazer

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paneiro, cesta, tipiti. Essa bucha não tinha serventia, agora não, agente vai lá e eles já põem

pra secar, já ganham para além da cestaria ganham também da bucha”.

Como comentado anteriormente, a região das ilhas não fez parte de fato do

universo amostral da pesquisa, sendo realizada apenas uma breve visita na mesma, por

ocasião de uma disciplina deste programa e conversas informais com moradores que

reafirmaram a fala dos dois representantes entrevistados. Foi diagnosticado também durante

as entrevistas realizadas que ao contrário de outras comunidades Cutininga, na região das

ilhas, não recebe financiamentos bancários do governo, consequentemente, não existem

grandes açaizais nessa área talvez por isso os frutos do miriti e sua utilização na área sejam

maiores do que em outras comunidades. Outro fato relevante a se destacar em relação

dimensão espacial é a forma de fornecimento da matéria prima dos brinquedos e a sua

produção tendo em vista que um encontra-se na zona rural e outro na zona urbana, notando-se

assim uma divisão de trabalho dentro da localidade.

5.4.3 Dimensão Social – Institucional

Durante o desenvolvimento desse trabalho e os estudos acerca dos temas aqui

abordados, perpassamos por outra dimensão considerada por Sachs, a institucional, mesmo

não sendo uma das cinco aqui abordadas, optou-se por fazer referência a ela por entender que

se tratando dos brinquedos de miriti estas dimensões estão entrelaçadas e não teria como falar

de uma sem mencionar a outra.

Dessa forma em termos institucionais, o desenvolvimento sustentável avalia o

grau de participação e controle da sociedade sobre as instituições públicas e privadas, o

aparelhamento do estado para lidar com as questões ambientais, o envolvimento em acordos

internacionais, o montante de investimento em proteção ao meio ambiente, ciência e

tecnologia e o acesso a novas tecnologias. A dimensão institucional trata da orientação

política, da capacidade e do esforço despendido pela sociedade para que sejam realizadas as

mudanças necessárias a efetiva implementação deste novo paradigma de desenvolvimento.

Nesse caso, dimensão social, segundo a Agenda 21 considera-se, melhorar os

níveis de distribuição de renda com a finalidade de diminuir a exclusão social e a distância

(econômica) que separa as classes sociais, uma maior equidade de oportunidades,

combatendo-se as práticas de exclusão, discriminação e reprodução da pobreza e respeitando-

se a diversidade e todas as suas formas de expressão

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Neste sentido, vale destacar que, assim como nas oficinas se sobrepõe o caráter

coletivo ao individual, esta visão se expande ao grupo social.

Para o SEBRAE a principal dificuldade que tiveram para trabalhar os artesãos, era

fazê-los acredita no potencial que eles têm, porque ele sendo artesão trabalha

individualmente, precisavam trazê-los para um grupo em que eles conseguissem juntos

atender o mercado.

A partir deste momento começou-se a valorização dos artesãos e do artesanato,

consequentemente eles se valorizando e se mostrando para o povo de Abaetetuba, pois para

estes sim ele são anônimos não do mundo porque para o mundo eles já são conhecidos, a

população abaetetubense começaria a lhes enxergar com outros olhos.

Empreendedor, seu Valdeli após voltar de uma viagem ao Rio de Janeiro na qual

foi como expositor dos brinquedos de miriti tomou a decisão de criar a Miritong uma

associação para ensinar o que aprendeu aos jovens de Abaetetuba, na época ele não tinha

quem trabalhasse com ele e chamou os meninos da sua rua para poder ensinar a arte e

trabalhar com ele. A Miritong, cujo objetivo é fomentar o desenvolvimento econômico e

social da comunidade local, desenvolve um trabalho social, sobretudo entre os jovens com

projetos de resgatar os adolescentes, através da exploração do artesanato de miriti e incentivar

toda e qualquer política ou ação de preservação, plantio e manejo de miritizais da

microrregião do Baixo Tocantins

Hoje em um trabalho de multiplicação muitos desses jovens já fazem parte da

equipe administrativa da associação, seu Valdeli afirma ainda, que alguns estão saindo para

realizar seus estudos em outros municípios, mas não abandonam suas atividades “eles vão

passam um tempo fora, mas sempre que dá vêem vê como ta, ajudam em alguma coisa e

depois voltam”. Notamos na fala de seu Valdeli que há uma espécie de gratidão por parte

daqueles jovens que outrora foram ajudados e beneficiados com o trabalho da associação e

que mesmo que suas vidas continuem progredindo eles não deixam de lado a associação.

É no núcleo familiar que se inicia a cooperação e estende-se ao grupo social, as associações.

São saberes voltados para o fortalecimento de um estilo de vida que prima pela solidariedade

coletiva, pelo crescimento do grupo e não apenas o individual.

É diferente ser associado, é muito importante, porque é através dela (refere-se associação) que a gente consegue encomendas. O nome ASAMAB tem hoje um grande peso em todo o Pará, até fora daqui, falou em ASAMAB já sabe que é relacionado ao brinquedo de miriti (Rivaildo, presidente ASAMAB).

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Reconhece-se que o estabelecimento de uma entidade jurídica representativa do

grupo facilita o processo de luta, conquista de melhorias nas condições de trabalho e em

outros aspectos para o grupo como um todo.

Nas conversas realizadas com os representantes das associações, notou-se que as

melhorias ocorridas nos últimos anos são atribuídos as duas associações representativas aqui

descritas- ASAMAB e Miritong- contando ainda com a parceria do SEBRAE, que os

possibilitou firmarem parcerias com o poder público em várias esferas e com empresas

privadas. Todas as ações destes estão voltadas para o pleno desenvolvimento do artesanato de

miriti de Abaetetuba, o que favorece a preservação e a valorização deste bem cultural em seu

aspecto patrimonial, contribuindo para o registro e divulgação dos saberes e do fazer cultural

abaetetubense.

Salienta-se ainda que apesar de ambas as associações trabalharem o artesanato de

miriti, diferenciam-se pelos os objetivos dos seus grupos como descritos abaixo; um voltado

ao comércio e outro voltado à atividades sociais, como relatado por seus representantes:

Atender a necessidade dos artesãos, visando este resultado na qualidade de vida dos artesãos através da grande significância do miriti. (Rivaildo- ASAMAB)

E ainda segundo o outro representante:

Repasse de técnicas para jovens e adolescentes do artesanato de miriti e conscientização de manejo sustentável da palmeira que fornece a matéria prima para produção dos brinquedos. Com foco em jovens e adolescentes onde fornecemos aos mesmos oficinas e cursos como forma de inclusão e sociabilidade (Valdeli- Miritong).

5.4.4 Dimensão cultural

O conceito de cultura foi incorporado aos estudos antropológicos e sociais

passando a ser concebido como um conjunto de conhecimentos, crenças, artes, objetos,

símbolos e significações construídos por seres humanos em suas interações sociais. Silva e

Shimbo (2001) acrescentam na estrutura teórica e conceitual para a sustentabilidade, a

dimensão cultural como a promoção da diversidade e identidade cultural em todas as suas

formas de expressão e representação, especialmente daquelas que identifiquem as raízes

endógenas, propiciando também a conservação do patrimônio urbanístico, paisagístico e

ambiental, que referenciem a história e a memória das comunidades.

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96

Esta visão de cultura nos possibilita compreender o brinquedo de miriti envolto

em uma simbologia peculiar do cotidiano amazônico que é caracterizada por Loureiro (1995,

p. 42) como: “dinâmica, original e criativa, que revela, interpreta e cria sua realidade. Uma

cultura que, por meio do imaginário, situa o homem numa grandeza proporcional e

ultrapassadora da natureza que o circunda”.

A dinâmica das negociações cotidianas oriundas das relações sociais desses

sujeitos que inspira o ato artístico criador e dá sentido a vida, tornando-a possível. A

originalidade está no fato de serem objetos únicos, isto é, não possuem uma forma para

produção em série, e, também, na matéria-prima utilizada, bem como do tipo de sociedade

que expressam

No brinquedo de miriti, homens e mulheres amazônidas representam a si mesmos

e a seus pares, suas crenças, devoção, seus valores, suas experiências, seus sentimentos,

sonhos, suas lutas, conquistas, esperanças, sua capacidade constante de se reinventar,

acompanhar o contexto histórico presente e solidificar sua identidade cultural e, sobretudo,

seus saberes e a forma de socialização de conhecimentos entre as gerações.

Pode-se comprovar tal afirmação, pois durante os questionários 12 artesãos

afirmaram ter especialidades em barcos e 6 em pássaros e o restante em outros brinquedos que

também fazem parte do cotidiano e são tidos como tradicionais (gráfico 1), no total de 55%

dos pesquisados o que significa dizer que os brinquedos produzidos por eles, representam as

experiências vividas diariamente, um olhar sobre suas relações, seu espaço de vivência e sua

cultura.

Gráfico 1. Especialidades dos artesãos em brinquedos tradicionais.

Fonte: A autora, 2013

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97

O artesão que procura traduzir as lendas e cultura locais através da produção dos

brinquedos expressa todo o seu olhar da relação que os seres humanos estabelecem entre si e

com a natureza através da sua criatividade, homens e mulheres transformam a natureza, da

qual são partes integrantes, em objetos, instrumentos e técnicas, e, com a capacidade reflexiva

e imaginária, que os distingue dos outros seres vivos, atribuem significados, codificam, criam

sentidos a todas as coisas, reproduzem e divulgam sua cultura à outros através da

comercialização do produto que vem ganhando destaque no mercado exterior

Nesse contexto, Loureiro (1995), diz que “o artesanato paraense espelha o

contexto cultural de seu povo, do homem da região amazônica _ índio, caboclo, amazônida, e

do seu meio ambiente: floresta, rio, animais, lendas, mitos...”.

Os brinquedos de miriti do município de Abaetetuba são influências de uma

cultura que demonstra em conseqüência de suas raízes, todo o cenário amazônico, pois, o

consumo dos bens representativos aponta a arte plástica popular junto à sua coletividade e traz

valores ligados a sua autenticidade e identidade. Estão sujeito as transformações, porém,

mantém sua integridade diante da evolução tecnológica, buscando expressar de todas as

maneiras a forma dada pelo brincante que transforma a matéria-prima em conteúdo,

mostrando o cotidiano de seu povo nas suas interações sociais onde (re) criam formas de

expressar, através da arte, sua existência no mundo.

Vera de Vives 1983 apud Lima 1987 em “A Beleza do Cotidiano” diz em relação

a esses artesãos: é aquele que emprega e transmite, em seu trabalho, valores, técnicas e signos

amadurecidos e aceitos no sistema cultural a que ele pertence, reproduzindo padrões que

foram recebidos da cultura a que pertence, respondendo a uma determinada necessidade do

meio no qual surgiram, tornando-se então intérprete dessas técnicas tradicionalmente

conservadas.

Bosi (1992) ao definir cultura, ressalta o dever de se transmitir às novas gerações,

as práticas, os valores, os símbolos e tudo mais, como forma de garantir a coexistência social.

Os artesãos do brinquedo de miriti aprendem olhando o fazer dos irmãos, cunhados, vizinhos

e amigos, 98% dos entrevistados afirmaram que aprenderam as técnicas no próprio ambiente

familiar, ou seja, é um conhecimento que pode ser caracterizado como tradicional haja vista

que há séculos passa de pais para filhos.

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Outro aspecto que se percebe sobre o aprendizado dos artesãos está na localização

do município, a dificuldade de acesso a qual foi resolvida com a construção da alça viária4, o

que trouxe a facilidade de deslocamento. Assim, a preservação do fazer tradicional foi

possível graças à baixa influência dos centros comerciais mais desenvolvidos. E ainda a

condição econômica que não permitia comprar os brinquedos convencionais, impulsionou a

confecção dos brinquedos, no caso de miriti, principalmente os barquinhos e canoas, para a

diversão das crianças

Essas características culturais somadas ao identitário abaetetubense, a interlocução

com o brinquedo de miriti e a idéia de pertencimento a uma dada cultura. fez o município ser

conhecido nacional e internacionalmente como a “Capital Mundial do Brinquedo de Miriti”

que tem atravessado gerações e pela variedade de artesanato de miriti que são exportados,

contribuindo para a geração de emprego e renda. O que para “seu Valdeli” é de tanta

importância que se tornou um dos pilares da Miritong “fortalecer a identidade, imagem da

cidade”.

Além disso, todo esse trajeto levou o brinquedo de miriti a se apresentar como

arte representativa de uma festividade tradicional de cunho religioso, tornando o também o

brinquedo de um peregrino do Círio, seja como promesseiro, adorno, ou brinquedos que

ganharam não só as ruas de Belém mas também as do Brasil e o Mundo

Dessa forma o brinquedo alcançou a dimensão que Magalhães (1997) via para o

que ele definiu como patrimônio cultural, sendo este plural abrangente, inclusivo e, de certo

modo, “antropológico”, em nome de uma identidade nacional – a expressão de diferentes

segmentos da sociedade brasileira, através da cultura popular.

Quando olhamos ao nosso redor, percebemos que nos rodeamos freqüentemente de objetos utilitários ou decorativos, produzidos por pessoas do povo. São objetos resultantes de nossas tradições, que exploram matérias-primas as mais diversas e nos mostram soluções engenhosas (MAGALHÃES, 1997).

5.4.5 Dimensão Econômica

Na fala do seu Valdelir percebe se a importância do brinquedo enquanto produto comercial:

Fazia isso quando criança sem imaginar que um dia ia conseguir tirar o sustento da minha família disso, to há 12 anos trabalhando com isso e não consigo me ver fazendo outra coisa nessa vida. (Valdeli, representante da Miritong).

4 Alça- Viária: complexo de três pontes sobre distintos rios, interligando a capital ao interior do Estado. Antes

das pontes a viagem para Abaetetuba era feita apenas por barcos o que aumentava o tempo de viagem do município a capital.

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Nesta fala de seu Valdeli percebe-se a importância do brinquedo enquanto produto

comercial, algo que quando criança era brincadeira passa a ser o sustento financeiro. Como

produto comercial, conforme já mencionado neste trabalho, há o registro do brinquedo de

miriti no primeiro Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, por ocasião da realização de

uma feira de produtos dos municípios do Estado do Pará. Os brinquedos começaram a ganhar

mercado com a venda em Belém, principalmente na época da festividade do Círio de Nossa

Senhora de Nazaré. A feira do brinquedo de miriti permanece atrelada aos festejos da Santa

até hoje correndo anualmente na semana do Círio.

A produção dos brinquedos é uma prática artesanal com fins comerciais, e os

artesãos que a ela se dedicam estão, normalmente, organizados nas duas associações já

mencionadas no decorrer deste trabalho, as quais são: ASAMAB e MIRITONG. Muitas das

melhorias ocorridas e necessidades sanadas nesses últimos anos são atribuídas às essas

organizações, o que os possibilitou firmarem parcerias com o poder público em várias esferas

e com empresas privadas.

Porém torna-se necessário esclarecer que onde percebe-se a Miritong como

característica própria da dimensão social deste trabalho, enxerga-se a Asamab como

característica da dimensão econômica. Diante disso pensa-se nos brinquedos como

organizações e consensos possíveis que aliam escolhas pessoais a objetivos comuns,

constituindo grupos heterogêneos num destino comum, neste caso, o de produzir artefatos que

esteticamente traduzam dimensões do saber viver local apartir do artesanato de miriti.

É o próprio seu Rivaildo que diz:

[...] a ASAMAB está aqui pra atender a necessidade dos artesãos, visando este resultado na qualidade de vida dos artesãos através da grande significância do miriti”. Entende-se que o estabelecimento de uma entidade jurídica representando o grupo facilita o processo de luta, conquista de melhorias nas condições de trabalho e em outros aspectos para o grupo como um todo. Segundo o próprio estatuto da Asamab tem como objetivo primeiro “contribuir para o estímulo e racionalização das explorações artesanais de brinquedos e artesanatos de miriti e para melhorar as condições de vida de seus associados” (ESTATUTO ASAMAB, 2003, p. 1).

O sucesso das vendas dos brinquedos fez com que o SEBRAE o visse como

produto potencial e organizasse a feira dos Brinquedos de Miriti em Belém, no período do

Círio, realizada desde o ano de 2000.

Ao percebermos o potencial de mercado, que é único e peculiar, nenhum outro local do Brasil tinha, com uma grande aceitação no mercado, eles não se apercebiam disso então precisava mostrar que através de um trabalho coletivo, que primeiramente juntos eles teriam volume de produção para atender a demanda que

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com certeza ia aparecer, o mais difícil era você fazer eles acreditarem que precisavam se ajudar para as demandas (Representante SEBRAE).

Esta parceria que se iniciou no ano 2000 já rendeu bons frutos, muitos artesãos

participaram de cursos de capacitação que objetivava promover o aumento da comercialização

do artesanato de miriti e era desenvolvido pelo SEBRAE/PA – Regional Tocantins, em

parceria com a ASAMAB. As ações deste projeto estavam voltadas para a assessoria técnica

aos artesãos no sentido de possibilitar o maior acesso ao mercado e, consequentemente, o

aumento nas vendas de seus produtos. Entre estas ações, estava o incentivo e o apoio na

organização e participação dos artesãos em feiras; a realização de cursos de capacitação

voltados para a melhoria da qualidade dos brinquedos; e, a gestão da unidade produtiva.

Apartir deste ano devido a uma normativa nacional o SEBRAE não poderá mais trabalhar

com associações, mas apenas com o artesão individual.

Além disso, foi através desta parceria que foi idealizado o Miritifest, evento

realizado em Abaetetuba, desde 2004. Ambos favoreceram a expressividade e

representatividade dos artesãos junto aos poderes instituídos, facilitando a captação de

recursos financeiros ou não, para o desenvolvimento de projetos

O “Miritifest” em 2013 teve sua décima edição recebeu apoio, parceria e

patrocínio de entidades públicas governamentais e não governamentais e do setor privado. Os

objetivos deste festival são: promover o festival divulgando o artesanato de miriti, a cultura

local, as belezas naturais do município, com o objetivo de atrair investimentos relacionados ao

artesanato e ao turismo; potencializar o turismo do município e uma maior divulgação do

artesanato local; ampliar as possibilidades de geração de trabalho e renda em vários setores

produtivos, bem como proporcionar o fortalecimento do comercio e da indústria, através de

suas entidades representativas; estimular a população a valorizar a palmeira do Miriti,

contribuindo para a internalização da consciência preservacionalista e o uso ecologicamente

correto e economicamente eficaz dos Miritizeiros. (PROJETO 10º “MIRITIFEST”, 2013,

p.4).

Em 2009, o “Miritifest” passou a ser considerado Patrimônio Cultural do Estado

do Pará por representar as tradições populares, conforme abordamos na primeira parte do

trabalho. Com o Festival, ampliou-se o potencial mercadológico e turístico dos brinquedos de

miriti, o festival tem contribuído para o desenvolvimento cultural, econômico e social do

município de Abaetetuba, através do fortalecimento sustentável e desenvolvimento

econômico em relação ao comércio, turismo, cultura e artesanato. Além disso, precisa-se

mencionar o valor deste evento para os artesãos, quando perguntados se notavam alguma

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diferença após a implantação do Miritifest, 100% dos questionados afirmaram ter notado o

crescimento da renda, produção e mais visibilidade no mercado. Assim o Miritifest em âmbito

estadual é a segunda maior demanda de venda perdendo apenas para a festividade do Círio

Ainda com o intuito de estimular o aspecto comercial e turístico do brinquedo de

miriti, destaca-se a inauguração do “Centro de Artesanato e Cultura do Miriti”, espaço que

funciona desde abril de 2010, com atendimento ao público durante o horário comercial.

Os cursos de capacitação oferecidos aos artesãos realizados pelo SEBRAE, a

ASAMAB, a realização do “Miritifest”, a abertura do centro de referência comercial do

artesanato de miriti em Abaetetuba, a participação em feiras nacionais e internacionais que

somados a outros fatores, destacam-se como fatores essenciais e criaram um cenário

favorecedor à produção regular deste objeto, deixando de ser esporádica e eventual, como

vinha ocorrendo.

Ocorre que se tais práticas são artesanais e são também laborais visto que algumas

pessoas passam a “viver do miriti”. O seu oficio-labor paulatinamente começa a ser

reconhecido junto ao mercado de bens simbólicos ligados ao mundo da arte e ao comercio de

souvenirs. Ao perguntar para os artesãos desta pesquisa a respeito de sua renda desde quando

começaram a comercializar os brinquedos de miriti, todos são unânimes em responder que

houve sim aumento na renda.

O artesanato de miriti tem ganhado sua importância econômica fundamental, hoje muitos trabalham com a atividade e o ponto culminante é em outubro no Círio, porém hoje com o trabalho que foi desenvolvido no SEBRAE o artesanato já tem seu espaço ocupado em Abaetetuba com postos de trabalho e geração de renda. (Representante SEBRAE)

Na fala do representante do SEBRAE e nos resultados mencionados visualiza-se o

processo de expansão da comercialização do brinquedo de miriti nos últimos anos, fato que

está ocasionando uma mudança gradativa no processo de produção ao tornar-se regular, o que

se identifica por 100 % dos pesquisados informarem que produzem os brinquedos durante o

ano todo e não mais simplesmente para a quadra nazarena.

Produzido principalmente no município de Abaetetuba, e não somente na zona

rural ou nas ilhas ele se torna a principal fonte econômica de sustento de 97% dos artesãos

que dizem ter outros familiares trabalhando no artesanato e assim formam núcleos familiares

na produção da atividade e continua sendo um complemento de renda para outros. “É uma

característica do artesanato ser familiar, reduz os custos, é um trabalho que faz com que a

família seja mais valorizada, há o respeito entre os pais e filhos”, explica seu Valdeli, “meu

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trabalho é cortar, fazer o brinquedo a mulher trabalha mais na parte de selar e lixar e meus

filhos trabalham mais na pintura e cada um faz uma parte. É bom porque uni todo mundo, tá

todos juntos”.

Cerca de 100% dos pesquisados informaram ter alguma outra atividade quando

começaram a trabalhar o brinquedo de miriti, ao se reportar acerca de sua renda familiar, 82

% afirmam trabalhar apenas com o brinquedo de miriti e que esta seria hoje sua única renda

atual (gráfico 2).

Gráfico 2.Formas de sustento.

Fonte: A autora, 2013.

O aperfeiçoamento na produção de peças e a valorização cultural do trabalho

fizeram com que muitos artesãos se afirmassem na atividade. A popularidade e a

representatividade que os brinquedos alcançaram trouxeram juntamente uma melhoria de vida

o que os fez optar por tal atividade. Do total de 33 pesquisados; 6% afirmam esta ganhando

menos que um salário mínimo, 88% estão ganhando de 1-5 salários mínimos e 3% estão

ganhando de 5 -10 salários mínimos, um caso em especial será tratado mais a frente.

A comercialização do brinquedo vem ganhando maior expressividade a cada ano,

em 2004, ao representar o tema de destaque da escola de samba Viradouro, no carnaval do

Rio de Janeiro, o brinquedo de miriti ganhou projeção nacional e internacional.

Este aumento considerável na produção foi constatado na festividade do Círio de

Nossa Senhora de Nazaré onde se tem uma alta produção, para atender à demanda das

festividades locais e regionais com: vendas nas praças Waldemar Henrique e Felipe Patroni;

são mandados artefatos para pontos fixos para exposições, como: Mangal das Garças, Museu

Emílio Goeldi, São José Liberto, Estação das Docas, shoppings da Cidade; peças para enfeites

e decoração de prédios públicos como: o Tribunal de Contas do Estado (TCE), Tribunal de

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Justiça do Estado do Pará (TJE-PA); e ainda peças para decoração de lojas de departamento

em Shopping da cidade. Os artesãos ainda contam com encomendas para todo o Estado e para

todo o país, principalmente pela participação em feiras, fato esse que foi facilitado após a

atuação do SEBRAE/Pará.

Dentre as variedades de brinquedos de miriti, encontram-se os “tradicionais” e as

denominadas “inovações” (entendem-se como inovações temas novos a serem trabalhados

como peças, temas que podem ser tanto regionais quanto nacionais e até internacionais,

gráfico 3) peças estas que hoje em dia estão longe de ser apenas brinquedos e se tornaram

objetos decorativos e tem grande visibilidade principalmente fora do país.

Gráfico 3. Especialidades dos artesãos em brinquedos “inovações”

Fonte: A autora, 2013.

Em um contexto geográfico mais amplo, de acordo com as pesquisas 91 % dos

artesãos já venderam para feiras ou lojas fora do estado (gráfico 4), há vendas constantes para

São Paulo, Rio de Janeiro e para o exterior, principalmente para a França. Seu Valdeli

reafirma a importância sobre exposição, “tem lugares que tem pontos fixos de exposições de

brinquedos fora do estado, eu mesmo acabei de voltar da expo-católica que teve agora no Rio

porque o Papa veio né e me pediram pra fazer o círio todinho em miriti pra levar pra expor”.

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Gráfico 4. Situação de venda do artesanato para outros estados.

Fonte: A autora, 2013.

No decorrer das entrevistas em muitos momentos falou-se, da renovação que vem

ocorrendo na fabricação dos brinquedos e notou-se que existe uma relação muito grande dessa

com a venda do brinquedo para fora do Brasil, pois como já dito anteriormente ele passa a ser

visto como um objeto de decoração. O que tem agregado valor e aumentado sua demanda.

� O caso do seu Pírias

No decorrer das entrevistas realizadas na fase da pesquisa de campo desse

trabalho, por várias vezes foram citadas seu Pirias, o artesão que teria um trabalho realizado

com o miriti e é reconhecido fora do estado por tal atividade. Hoje ele é um dos únicos

artesãos que trabalham com o apoio do SEBRAE.

Após uma normativa nacional que o SEBRAE não poderia mais trabalhar com

associações, está hoje trabalhando apenas com dois artesãos especificamente Ivan e Josias

(Seu Pirias), esse último já esta montando uma rede de negócios e com ele trabalham outros

artesãos estão tentando trabalhar em cima de linhas de montagem, fabricação em grande

escala para que possam produzir mais, ele já foi orientado a passar para grande empresa, pois

seu faturamento anual já passa de R$ 60.000,00, distribui para Rio, São Paulo, Minas e

França. É o único representante paraense que esteve no “TOP 100” 5 de artesanato do

SEBRAE, ele tem um grupo de artesãos que trabalham pra ele e esta ampliando este grupo.

Seu Pirias, como Josias ficou conhecido é um artesão cujo cunho empreendedor

faz com que agregue em torno de si um grupo de pessoas – “um núcleo de produção”, como 5 O Prêmio SEBRAE TOP 100 de Artesanato – tem como objetivo reconhecer e valorizar o trabalho realizado

por artesãos de todo o País, selecionando as 100 unidades produtivas mais competitivas do Brasil.

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diz, buscando certo padrão de qualidade que alcance uma fatia do mercado de artesanato,

estando preocupado com o design das peças que produz.

Em visita a oficina de seu Pirias, nota-se várias diferenças em relação a postura,

fala e estrutura de espaço físico se tomarmos como referências outros entrevistados.

A primeira diferença encontrada é a localização da oficina ao contrario de outros

está localizada na frente do seu terreno e não nos fundos da sua casa tem uma fachada grande

identificando o local com a sua marca “Miriti da Amazônia”, no interior da oficina chama

nossa atenção prateleiras nas paredes separando materiais (fotografia 12), cores fortes e

diversas pintam e alegram o lugar.

Fotografia 12. Oficina seu Pirias.

Fonte: A autora, 2013.

No decorrer da entrevista o posicionamento e fala do referido artesão chama

atenção, ao nos referirmos ao apelido ele diz não ser um apelido e sim um nome artístico que

ele teve que obter, disse ainda não ser um artesão e sim artista que ali onde estávamos era o

seu atelier e não oficina, “isso aqui é uma empresa, temos missão, visão, valores” (fotografia

13), a fala característica de um empreendedor que sabe muito bem o que quer e aonde quer

chegar.

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Fotografia 13. Detalhes da parede de Seu Pirias com visão, missão e valores.

Fonte: A autora, 2013.

Ao falar sobre isso disse está com muitos projetos e que não está só nesse projeto

maior que é o “Miriti da Amazônia”, ele explicou que hoje já não tem mais como produzir

muito como antes e que devido a isso chamou mais três artesãos para trabalharem com ele e

assim formarem esta marca, “é difícil achar pessoas que pensem como você, mas estes já

entenderam o que fazer e como fazer”. A função deles seria basicamente produzirem, já que

ele não tem como, pois está viajando muito e participa de feiras para vender a produção, “mas

isso não quer dizer que eu não faça mais brinquedos eu faço, mas a quantidade que eu faço

não está mais sendo suficiente preciso de mais e é ai que eles entram como sócios”. Um dos

outros objetivos da equipe – como seu Pirias gosta que os chamem – é o término das obras de

seu atelier que assim se tornará uma loja, “agente queria uma loja onde as pessoas podessem

encontrar brinquedos quando viessem a Abaetetuba a cidade não tem um lugar assim, mas um

ponto ali na avenida é de R$ 300,00 a R$ 400,00 então não é mais lucro ir guardando e fazer

algo nosso?”, questiona.

Tem para o futuro alguns projetos, ambiciosos para alguns, mas ele disse já saber

que é possível são eles:

• Uma placa na esquina da rua identificando a loja;

• Displays em lugares estratégicos para venda da produção dos seus brinquedos,

primeiramente em Abaetetuba e posteriormente em Belém;

• Novas técnicas de miriti para outros projetos como: embalagens, caixas de

trecos, molduras, caixas de artesanatos em parceria com Associação Paraense de

Artesanato.

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Seu Pirias foi vencedor do premio “Top 100” um concurso que premia o

artesanato brasileiro, ele foi o único paraense premiado concorrendo com artesanatos

reconhecidos regionalmente como o marajoara e outros nacionais, o que já agregou muitos

valores a sua marca (fotografia 14). Todos os produtos do “Miriti da Amazônia” têm o selo

com a logo da empresa nas embalagens, embalagens essas produzidas pela própria empresa

com maquina adquirida após o concurso “Top 100”, próximo passo agora é o código de barras

que seu Pirias quer fazer para colocar nos seus brinquedos.

Fotografia 14. Cartão e crachá do “Miriti da Amazônia”.

Fonte: A autora, 2013.

Como todo bom empreendedor seu Pirias diz ter também metas para médio e

longo prazo, como projeto para transformar seu atelier em ponto turístico futuramente, pensa

ate em quem saber ter sua própria área de produção do miriti já que este está escasso nas áreas

mais próximas de Abaetetuba e isso o preocupa.

Seu Pirias tem envolvimento também com outros fatores culturais como a festa

junina, e diz ter vistos muitos grupos se acabarem, assim como outras características do

município como, por exemplo: cidade da bicicleta, terra da cachaça e assim também percebe

está acabando os brinquedos de miriti “as crianças e jovens não querem nem saber, nem pra

brincar eles querem, que dirá fazer, as pessoas aqui não valorizam”. Como essa é uma arte

passada de pai pra filho, a tradição esta ameaçada, pois os artesãos não querem mais que seus

filhos os acompanhe na atividade, “se é de pai pra filho, e os filhos não tão mais indo, quem

vai fazer lá na frente”. Seu Pirias diz esta preparando o filho dele pra vir a trabalhar com o

miriti, mas não pra ser artesão, mesmo porque segundo ele, ate lá já vai ter conseguido firmar

o seu nome no mercado é só o filho saber manter.

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Para ele muitos dos artesãos não desenvolvem na atividade, pois não conseguem

vê isso como uma atividade pra vida, trabalho, eles vêem a atividade como passatempo só

para o Círio e os poucos que vivem disso vêem como sobrevivência e não é isso esse é um

trabalho, temos que ter horários, obrigações como qualquer empregado. Seu Pirias diz que ele

é o único da região que sabe calcular o valor e não o preço dos seus produtos, pois os seus

brinquedos têm valor e não preço, “eu sei que não são a mesma coisa”, completa. Ele diz que

sabe que tem que tirar uma porcentagem do ganho para ele e a outra parte é da empresa, se

não ela não vai pra frente nunca.

Assim seu Pirias se despede dizendo que se Deus quiser ele vai conseguir ser a

referencia de brinquedo de miriti de Abaetetuba.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Encontramos nas lembranças dos caboclos abaetetubenses uma intrínseca relação

entre a palmeira Mauritia flexuosa e seus derivados, é a história de vida desses sujeitos, dos

suprimentos das necessidades básicas, tais como alimento e complemento das moradias, à

fonte da matéria-prima para os brinquedos da infância e o trabalho artístico da fase adulta.

Assim, estas vidas e tempos se entrecruzam e se confundem, na medida em que do contato

homem/natureza emerge transformação e criação e, portanto, cultura, em que estabelecem

laços, saberes e registram sua marca na história da região.

Os artesãos de Abaetetuba são exemplos de moradores que aprenderam a buscar

na natureza o que precisavam pra sobreviver através desta riqueza da natureza do

empreendedorismo dos moradores da riqueza da região foi que Abaetetuba tornou-se cidade

dos brinquedos de miriti.

Este trabalho abordou o brinquedo de miriti desde a sua origem, a relação com a

infância da criança e do povo paraense, o que ele representa no contexto da festividade do

Círio de Nazaré, além de analisar o processo artesanal de produção da população local.

Aspectos sócio-econômicos, a sustentabilidade da comunidade local e a sua cadeia de

produção são outros aspectos abordados.

Nesta dissertação, procuramos analisar o brinquedo de miriti sob as diferentes

dimensões da sustentabilidade: ecológica, espacial, social, cultural e econômica; muito além

do tripé da sustentabilidade como dito por vezes, mas onde já poderíamos classificar os

brinquedos.

O desenvolvimento sustentável procura integrar e harmonizar as idéias e conceitos

relacionados ao crescimento econômico, a justiça e ao bem estar social, a conservação

ambiental e a utilização racional dos recursos naturais e ao abordar as dimensões da

sustentabilidade foi possível concluir que as dimensões da sustentabilidade estão

extremamente interligadas e convergem no produto brinquedo de miriti.

A comercialização do brinquedo vem ganhando maior expressividade a cada ano e

podemos dizer que este é resultado sim de um esforço das organizações sociais presente nas

distintas fases da atividade onde enfatizamos a atuação da ASAMAB, Miritong e SEBRAE,

foram cursos de capacitações, participações em feiras, ampliação de divulgação e cursos

educacionais sobre o manejo da palmeira que criaram um cenário favorecedor à produção

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110

regular deste objeto, deixando de ser esporádica e eventual, como vinha ocorrendo

anteriormente.

Daí entende- se o processo que reforce os argumentos para a construção de uma

sociedade sustentável, a partir de premissas centradas no exercício de uma cidadania ativa e

na mudança de valores individuais para coletivos. Neste sentido, a sociedade pode e deve, se

organizar para transformar esse crescimento econômico tímido, geralmente desencadeado por

forças externas à região, em desenvolvimento, ou seja, em melhores níveis de qualidade de

vida para todos e contando com forças internas inerentes a comunidade.

Sem perder de vista esse complexo conjunto que contempla o brinquedo de miriti,

focaliza-se principalmente a sua alternativa como desenvolvimento local, neste trabalho

representado por “Seu Pirias” o simples artesão que hoje é a referencia no município e fora

dele, seu Pírias é a clara afirmação da hipótese norteadora desse trabalho;“ O brinquedo de

miriti enquanto produto regional, passando a ter grande importância e visto como uma

atividade sustentável favorece mudanças no nível local, ajudando assim no desenvolvimento

local do município de Abaetetuba” e mostra ainda o potencial de desenvolvimento do produto

estudado.

Processo esse de desenvolvimento local que se aproveitado e planejado de forma a

usufruir esse potencial poderá trazer consigo perspectivas de adequação de políticas publicas

as peculiaridades regionais, e dos espaços urbanos e rurais.

No que diz respeito ainda à sustentabilidade da produção artesanal, esta produção

assume mais que o caráter de uma atividade socioeconômica com traços culturais, devera ser

abordado como instrumento e indicador de sustentabilidade da qualidade local, sendo

valorizada como identidade e diferencial, agregarão valor a estes produtos. Por agregar valor,

nesse caso, entende-se identificar os novos significados que o produto pode ter dentro do

contexto da região Amazônica. Dentro desse contexto e referindo-se a algo que poderia

fomentar e melhorar a produção e a visibilidade dos brinquedos de Miriti, todas as

organizações apontaram ao final das suas entrevistas a Indicação Geográfica.

O SEBRAE/Abaetetuba informou que foi feito o relatório técnico de subsidio para

o Registro de Indicação Geográfica do Artesanato de Miriti de Abaetetuba no Pará, porém não

sabem informar sobre o andamento de tal processo. O documento trata do artesanato, da

origem, da relação com Círio de Nazaré e das populações locais. O relatório é responsável por

comprovar a singularidade do brinquedo de Miriti.

A Indicação de Procedência estabelece uma qualidade a um produto regional e

analisa a particularidade da sua forma de produção que, no caso dos brinquedos, está na

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111

singularidade do uso do miriti e na conexão com a cultura local, destaca Bruna Rocha,

lembrando que a indicação é um modelo de proteção industrial de valores particulares de

determinada região e forma de produção.

O Registro de Indicação Geográfica é emitido pelo Instituto Nacional de Proteção

Industrial (INPI), e indica a procedência e denominação de origem de determinado produto,

garantindo a segurança de tais produtos e proteger os seus produtores. Os selos de indicação

de procedência são de alto valor para o marketing de produtos, para a potencialização de suas

vendas, de acordo com o Instituto.

A concessão do registro é feita com base em um recorte geográfico onde é

produzido o artesanato e leva em consideração o padrão de qualidade a partir dos conceitos

dos próprios artesãos com o auxilio de pesquisadores. A certificação só é dada a objetos que

atendam essas exigências. E é esse procedimento, que agrega valor ao produto, já que nele

reconhece um padrão de qualidade e remete ao conjunto de elementos culturais que envolvem

a sua criação, o que abre maior possibilidade de mercado

Assim, a Indicação Geográfica dos brinquedos atuaria na ampliação da

visibilidade e do interesse sobre o brinquedo, ao mesmo tempo em que poderia haver uma

melhoria no preço - já que o selo demanda uma série de exigências e também haverá um

aumento da procura, já que o produto estará vinculado à cultura amazônica, o que agrega

ainda mais valor ao brinquedo nacional e internacionalmente

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REFERÊNCIAS

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ANEXOS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

NÚCLEO DE MEIO AMBIENTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE

RECURSOS NATURAIS E DESENVOLVIMENTO LOCAL NA AMAZÔNIA – PPGEDAM

ANEXO A - QUESTIONÁRIO COM PARCEIROS - SEBRAE 1 Identificação: 2 Qual a parceria da empresa com os brinquedos de miriti? 3 Em que momento surge a parceria ou o interesse pela mesma? 4 Qual o objetivo? 5 Quais os projetos/eventos desenvolve ou participa? 6 Quais são as contrapartidas?

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

NÚCLEO DE MEIO AMBIENTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE

RECURSOS NATURAIS E DESENVOLVIMENTO LOCAL NA AMAZÔNIA – PPGEDAM

ANEXO B - QUESTIONÁRIO COM ASSOCIAÇÃO 1 Identificação: 2 Quantos associados? 3 Tem custo pra ser associado? 4 Como é eleito o presidente, de quanto em quanto tempo? 5 Quais os projetos/eventos desenvolve ou participa? 6 Qual o objetivo da associação? 7 Quando surge a associação, há quantos anos? 8 Quais os parceiros da associação hoje?

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

NÚCLEO DE MEIO AMBIENTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE

RECURSOS NATURAIS E DESENVOLVIMENTO LOCAL NA AMAZÔNIA – PPGEDAM

ANEXO C – QUESTIONÁRIOS COM ARTESÕES

Nome: Idade: Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 1 - A quanto tempo trabalha com os brinquedos de miriti? ( ) ate 5 anos ( ) de 5 a 10 anos ( ) mais de 10 ano 2 - Como aprendeu as técnicas? ( ) família ( ) cursos ( ) sozinho 3 - O artesanato de Miriti é a sua única forma de sustento? ( ) Sim ( ) Não Qual? _________________ 4 - Qual sua renda media mensal? ( ) Menos de um salário mínimo ( ) De 1 a 5 salários mínimos ( ) De 5 a 10 salários ( ) Acima de 10 5 - Antes de Trabalhar com miriti tinha alguma outra atividade? ( ) Sim ( ) Não Qual? ___________________ 6 - Sua renda aumentou? ( ) Sim ( ) Não 7 – Produz os brinquedos durante o ano todo? ( ) Sim ( ) Não 8 - Alguém mais da família trabalha com a fabricação do brinquedo de miriti? ( ) Sim ( ) Não

9 - Os seus brinquedos são ou já foram comercializados para fora do Estado? Localidades ou empresas? ( ) Sim Onde? ______________ ( ) Não ( ) Desconhece 10 - Vende para revenda? ( ) Sim ( ) Não 11 - A matéria prima fornecida vem da região das ilhas? ( ) Sim ( ) Não 12 - Algum grau de parentesco com o fornecedor da matéria prima? ( ) Sim ( ) Não 13 - Tem especialidade em algum brinquedo? ( ) Sim Qual? __________________ ( ) Não 14 - Nota alguma diferença após a implantação do Miriti Fest? ( ) Sim Qual? ____________________ ( ) Não

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ANEXO D: Utilização do Miritizeiro

FONTE: A autora 2013

FRUTO TRONCO

BRAÇA

FOLHA

- Fabricação de cordas e redes; - Fabricação de soga de tabaco; - Cobertura de casas.

Tala - (parte externa) utilizada na produção de cestarias; Bucha – (Parte interna) utilizada na fabricação dos brinquedos de miriti.

Construção de trapiches, estivas e pontes flutuantes.

- Fabricação de vinhos, sucos, licores, doces,

sorvetes geléias, bolos e

mingaus.

MIOLO DA FRUTA

Extração de óleo para indústria cosmética

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ANEXO E: Cadeia Produtiva do Brinquedo de Miriti

FONTE: A autora 2013

Miritizal – Região das Ilhas

Ribeirinho

Cidade de Abaetetuba - Artesãos que fabricam os

brinquedos. Atravessador

Só fabrica/ vende para outros pintarem e venderem

Fabrica/ pinta, mas não vende

Fabrica/pinta e vende

Comércio

Compradores Individuais

Empresas Lojas

Regional Nacional Internacional