DIAGNÓSTICO DE SINTOMAS
MUSCULOESQUELÉTICOS EM
ELETRICISTAS DE UMA
CONCESSIONÁRIA DE DISTRIBUIÇÃO
DE ENERGIA ELÉTRICA
Victor Manuel de Almeida Seabra de Vasconcelos
(UFSC)
Elaine Cristina Casagrande Zanette
(UDESC)
José Luiz Fonseca da Silva FIlho
(UDESC)
Eugenio Andres Diaz Merino
(UFSC)
Resumo Este artigo tem por objetivo estudar os sintomas musculoesqueléticos
dos eletricistas de uma concessionária de distribuição de energia
elétrica de Santa Catarina. O trabalho muscular em situações
ocupacionais pode causar fadigas e dores, deevido a esforços
prolongados e repetitivos, ocasionando distúrbios
musculoesqueléticos. Como comportamento preventivo para manter a
saúde do trabalhador é necessário diagnosticar previamente os
sintomas corporais. Buscou-se identificar onde ocorre a maior
proporção de dores, desconfortos e formigamentos em diferentes
regiões do corpo. Neste trabalho foi aplicado o questionário nórdico
padronizado de sintomas músculo-esqueléticos, em sua versão em
português, um instrumento de avaliação validado internacionalmente,
com uma amostra de 19 eletricistas da unidade operacional que atende
o município de Florianópolis/SC e regiões próximas. O instrumento
avalia dores e suas interferências na vida do trabalhador em nove
regiões anatômicas: região cervical, ombros, região torácica,
cotovelos, punhos/mãos, região lombar, quadril/coxas, joelhos,
tornozelos/pés. A pesquisa tem um enfoque bibliográfico-exploratório,
aliada a uma abordagem quantitativa e qualitativa. Os resultados
indicaram que os ombros, o pescoço a parte superior das costas são
identificados com as regiões anatômicas com maior incidência de
sintomas musculoesqueléticos.
Palavras-chaves: sintomas musculoesqueléticos; questionário nórdico
padronizado; ergonomia
12 e 13 de agosto de 2011
ISSN 1984-9354
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1. INTRODUÇÃO
A Ergonomia, que trata das interações entre os seres humanos e os outros elementos de
um sistema, estuda a adaptação do trabalho ao homem. Tanto nos aspectos do ambiente físico
do trabalho, como nos fatores psicológicos e sociais. Esses estudos procuram desenvolver o
bem–estar do trabalhador e, por conseqüência, melhores resultados ao ser humano e às
organizações (IIDA, 1997; IEA, 2000; KROEMER, GRANDJEAN, 2005).
Os estudos ergonômicos em diversos tipos de trabalho possibilitam atender aos
pesquisadores em seus anseios de melhorar o desempenho dos trabalhadores, juntamente com
melhorias na sua saúde e segurança, pois o uso do corpo de maneira ergonomicamente
incorreta pode trazer diversos prejuízos à saúde dos seres humanos. Assim se visualizam os
benefícios de conhecer e analisar o trabalho em suas diversas dimensões.
A ergonomia contribui para solucionar grande número de problemas sociais envolvendo
saúde, segurança, conforto e eficiência dos trabalhadores. Desta forma, é possível obter uma
redução da ocorrência de acidentes com os trabalhadores quando consideradas
adequadamente suas capacidades e limitações nas etapas de projeto do trabalho e de seu
ambiente, obtendo-se ganhos de eficiência na produção. (DUL et al, 1995).
A energia elétrica é um bem vital para a sociedade. Para garantir a continuidade do
fornecimento desse bem é necessário o trabalho de muitos profissionais, entre eles o
eletricista. A operação e manutenção do sistema elétrico brasileiro dependem intensivamente
do trabalho dos eletricistas. É grande a importância do trabalho destes profissionais para a
sociedade. As condições ambientais em que trabalha, em geral, são muito difíceis.
Nesta pesquisa pretende-se identificar os problemas no trabalho que podem interferir na
saúde do eletricista de forma a auxiliar na busca por uma gestão do seu trabalho de modo mais
seguro.
Considerando o diagnóstico de índices elevados de acidentes do trabalho (Funcoge,
2008), apresenta-se uma emergente necessidade de estudos dos fatores que podem prejudicar
a saúde, a segurança e o bem-estar do eletricista, em seu ambiente de trabalho. Os eletricistas
exercem atividades em postos de trabalho que exigem a utilização de equipamentos e
materiais específicos, com constrangimentos ergonômicos nos esforços físicos, no manuseio
de materiais, no enfrentamento de grandes alturas e na necessidade, freqüente, de manter-se
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em pé estaticamente ou na condição dinâmica, como corroboram Guimarães, Fischer e
Bittencourt (2004).
Diante de todos esses fatores, motivou-se o presente estudo, buscando a investigação de
sintomas relacionados a dores e desconfortos musculoesqueléticos nos eletricista, que podem
incutir sobre sua saúde.
2. OBJETIVOS
O objetivo geral deste estudo é identificar os sintomas musculoesqueléticos dos
eletricistas em nove regiões anatômicas do seu corpo: região cervical, ombros, região torácica,
cotovelos, punhos/mãos, região lombar, quadril/coxas, joelhos e tornozelos/pés.
Como objetivo específico pretende-se verificar as dores e os desconfortos por diferentes
regiões do corpo e associar com o perfil do trabalho do eletricista.
3. JUSTIFICATIVA
A busca de meios para proporcionar o máximo de conforto, segurança que garantam as
condições para um desempenho eficiente dos trabalhadores, adequando as condições de
trabalho às características dos trabalhadores é estabelecida em regulamentos e normas, como a
NR17 (Ministério do Trabalho e Emprego, 1990)
O trabalho e a produção nas organizações são importantes para o desenvolvimento
individual e da sociedade. A abordagem da ergonomia possibilita a melhoria das condições de
trabalho e a preservação da saúde dos trabalhadores levando a uma transformação da relação
homem-trabalho.
Uma ação ergonômica não se limita simplesmente a oferecer conforto: sua importância
está também nos métodos que transformam essas considerações sobre as técnicas de aplicação
e uso, colocando a saúde do trabalhador em primeiro plano (GUÉRIN et al, 2001).
O setor elétrico brasileiro apresenta um índice elevado de acidentes com consequências
graves e fatais. No relatório estatístico de acidentes de trabalho do setor elétrico brasileiro de
2008, o número total de acidentes do trabalho registrados ocorridos em empresas do setor
elétrico foi de 851 acidentes com afastamento de empregados próprios, 1.589 acidentes com
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afastamentos de empresas contratadas, num total de 77 empresas do setor (FUNDAÇÃO
COGE, 2008).
As posturas assumidas na realização das tarefas, o levantamento e o transporte de
cargas, além de outros fatores, evidenciados no ambiente de trabalho, muitas vezes expõem o
trabalhador a uma carga bem acima de sua capacidade. Associado às condições desfavoráveis
do trabalho, está o perfil deste trabalhador quem, em sua maioria, desconhece as normas de
segurança previstas em lei. Além disso, as condições inseguras e desconfortáveis na execução
de tarefas funcionam como fatores de pressão e aumento da carga de trabalho estando,
invariavelmente, associadas a acidentes e doenças ocupacionais (AGUIAR, 1996).
As condições relatadas acima reforçam a necessidade do desenvolvimento de pesquisas
e estudos ergonômicos do setor elétrico que possam diagnosticar a realidade do trabalho e da
situação dos eletricistas, de modo a colaborar com relatos científicos na busca de ferramentas
para aprimoramento e desenvolvimento pessoal e profissional desta área ocupacional.
A função do trabalho do eletricista é complexa, pois conforme deliberação 187 de 1997
(Celesc, 1997) as atividades dos eletricistas são diversas, entre elas: fazer inspeção visual da
rede de distribuição para localizar falhas; identificar falhas em componentes do sistema de
distribuição até 34,5 KV, em componentes da entrada de energia em locais aéreos e
subterrâneos; testar transformadores de distribuição com rede energizada; efetuar medições
instantâneas de corrente e tensão, entre várias outras.
Poucos eletricistas exercem a função durante todo período de sua vida de trabalho. Um
grande número deles apresenta lesões musculoesqueléticas após alguns anos de exposição à
atividade, principalmente devido ao uso excessivo de força. A atividade dos eletricistas
apresenta também riscos associados ao desenvolvimento de distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho (DORT) devido à exposição a tarefas pesadas, posturas inadequadas,
manuseio de materiais e às condições climáticas variáveis por realizarem trabalho de campo
(SLEELEY, MARKLIN apud MORIGUCHI, 2008).
Esta pesquisa vem colaborar para os estudos sobre sintomas musculoesqueléticos em
eletricistas, subsidiando informações para a redução de acidentes e afastamentos do trabalho.
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
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Este estudo é caracterizado por ser bibliográfico e exploratório. Utiliza-se ainda de uma
amostragem representativa dos eletricistas de uma unidade operacional da Celesc,
concessionária de distribuição de energia elétrica em SC. Assume-se uma abordagem
quantitativa e qualitativa sobre as características do perfil e a percepção dos eletricistas.
O instrumento de coleta utilizado é o Questionário Nórdico Padronizado, validado
internacionalmente na versão em português, apresentado por Barros, Alexandre (2003).
5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Há vários critérios para avaliar a adequação de um posto de trabalho. Entre eles se
incluem o tempo gasto na operação e o índice de erros e acidentes. Portanto, o melhor critério,
do ponto de vista ergonômico é a postura e o esforço físico exigido dos trabalhadores,
identificando-se os principais pontos de concentração de tensões, que tendem a provocar
dores nos músculos e tendões (IIDA, 1993).
Assim neste trabalho, serão verificados quais os principais pontos de concentração de
tensão muscular nas regiões anatômicas do corpo do eletricista.
A postura de trabalho do eletricista, quando no poste, em pé, implica em um trabalho
estático da musculatura dos membros inferiores, fonte de desconforto e dor, sendo as costas a
região mais sobrecarregada. Os eletricistas se posicionam semi-sentados para executar o
trabalho nas redes e, assim, apresentam problemas de acomodação dos membros inferiores,
dos pés principalmente, resultantes das características do poste e, em particular, dos sistemas
de subida por espora ou escada. As tarefas dos eletricistas caracterizam-se por adotarem
posturas desconfortáveis, e até de risco, tais como adução e abdução de braços e desvio do
tronco, descrevem Guimarães, Fischer e Bittencourt (2004).
A descrição na posição do trabalho do eletricista no poste identifica fortes cargas na
coluna e desconfortos posturais, que podem estabelecer sofrimento corporal e psicológico. As
melhorias na gestão do trabalho podem ser alcançadas adequando as ferramentas no posto de
trabalho, de modo a criar uma melhor condição para a sua execução. As melhorias nas
condições de saúde e segurança do trabalhador favorecem o desempenho profissional de da
organização.
5.1. A importância da postura de trabalho do eletricista
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Devido à importância dos esforços físicos realizados nas atividades dos eletricistas, o
conhecimento sobre postura contribui para um melhor desempenho ocupacional.
A postura é definida como a maneira de permitir o melhor funcionamento das estruturas
corporais, com o melhor aproveitamento das forças e o mínimo desgaste, seja na posição
ereta, sentada ou em decúbito (AGUIAR, 1996).
Para se definir postura, de acordo com Langlade (1975), devem-se levar em conta
fatores multivariados como: problemas de conservação de um equilíbrio total ou equilíbrios
parciais; luta contra a força da gravidade; e interação psicossomática (hábitos, meio ambiente,
atitudes e movimentos), para constituir o que se denomina postura (MORO, 2000).
Não existe uma postura ideal, mas sim várias posições que podem ser assumidas, desde
que se preserve o equilíbrio corporal com a manutenção das partes componentes do corpo
posicionadas e alinhadas entre si, de forma a contrariar a ação da força da gravidade e exigir
uma menor ação muscular do corpo do indivíduo (MORO, 2000).
As posições assumidas pelos eletricistas durante o trabalho dependem de vários fatores,
e são estas que farão o eletricista buscar, permanentemente, o equilíbrio corporal.
5.2. Esforço físico: sistema de subida e descida do poste
O trabalho dos eletricistas requer esforços físicos quando da subida e descida do poste,
os quais são executados com o auxílio de esporas, escadas de madeira ou escadas giratórias
acopladas a veículos.
Os problemas identificados com eletricistas relacionam-se com o esforço físico, trabalho
estático de membros superiores associados a uso de força, a postura de trabalho e as posturas
resultantes dos gestos de manipulação e preensão de componentes e/ou por dificuldades do
campo de visão (GUIMARÃES, FISCHER E BITTENCOURT, 2004; FISCHER, 2005)
As esporas são adequadas somente aos postes de madeira e a escada tanto aos de
madeira quanto os de concreto. A utilização de esporas cria uma situação de desconforto,
extenuante, principalmente para os mais velhos e que impõe um risco maior. A escada
também exige esforço principalmente devido às posturas assimétricas adotadas na subida e
descida. O transporte manual da escada singela até o local do trabalho é desgastante para os
eletricistas (GUIMARÃES, FISCHER E BITTENCOURT, 2004; FISCHER, 2005).
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Estas descrições demonstram a necessidade de conhecer o quanto de esforços físicos os
eletricistas estão submetidos para desempenhar as suas funções de maneira eficaz no trabalho.
5.3. Trabalho muscular estático e dinâmico – influências para o eletricista
Existem dois tipos de trabalho muscular: o dinâmico (com movimentos) e o estático
(sem movimentos). O trabalho dinâmico caracteriza-se pela alternância de contração e
extensão muscular, portanto, por tensão e relaxamento. O trabalho estático, ao contrário,
caracteriza-se por um estado de contração prolongada da musculatura, o que geralmente
implica um trabalho de manutenção de postura (KROEME, GRANDJEAN, 2005).
Durante um esforço estático grande, os vasos sanguíneos são pressionados pela pressão
interna do tecido muscular, de forma a promover uma forte redução do fluxo sanguíneo pelo
músculo. Por outro lado, durante esforço dinâmico (como quando se caminha), o músculo age
como uma bomba sobre a circulação sanguínea: a contração expulsa o sangue dos músculos,
enquanto que o relaxamento subseqüente favorece o influxo de sangue renovado. Por este
mecanismo, a circulação do sangue é aumentada em várias vezes. No trabalho dinâmico, o
músculo recebe um grande afluxo de sangue, obtendo, assim, o açúcar de alta energia e o
oxigênio, enquanto que os resíduos formados são removidos. Em contraste, o músculo que
está realizando trabalho estático sofre uma grande redução das quantidades de açúcares e
oxigênio, além do que, talvez, seja o maior prejuízo, os resíduos não são retirados. Assim, os
dois tipos de esforço muscular afetam de modo diferenciado o suprimento de sangue para a
musculatura em trabalho. Por esta razão, não é possível manter esforço estático por um longo
período. A dor obriga a interromper o trabalho. Por outro lado, o trabalho dinâmico, desde que
realizado com um ritmo adequado, pode ser realizado por um longo período, sem fadiga
(KROEME, GRANDJEAN, 2005).
A fadiga muscular aparece em trabalho estático tão mais rapidamente quanto maior for a
força exercida, ou seja, quão maior for a tensão no músculo. Isto pode ser expresso em termos
de relação entre a duração máxima de uma contração muscular e a força empregada, conforme
foi sistematicamente estudado por Moltech (1963), Rohmert (1960) e Monod (1967).
Muitos especialistas acreditam que um trabalho pode ser mantido por várias horas por
dia, sem sintomas de fadiga, se a força exercida não exceder 10% da força máxima do
músculo envolvido. O componente estático do esforço combinado assume maior importância
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para a fadiga postural, ao passo que os músculos e tendões movendo os dedos podem
experienciar esforços repetitivos. Existe um componente estático em quase todas as formas de
trabalho físico (KROEME, GRANDJEAN, 2005).
5.4. Fadiga localizada e problemas musculoesqueléticos: reversíveis e
persistentes
Mesmo o trabalho muscular estático moderado pode provocar fadiga localizada nos
músculos envolvidos, e pode evoluir para um quadro de dores insuportáveis. Se os esforços
excessivos, tanto estáticos quanto dinâmicos, forem repetidos durante períodos mais longos,
pode ocorrer um quadro de dores também nas articulações, nos tendões e em outros tecidos.
Em suma, os esforços prolongados e repetitivos podem gerar desgastes e lesões das
articulações, ligamentos e tendões.
Hoje, o conjunto de informações disponíveis, permite concluir que esforços estáticos
excessivos e repetitivos estão associados ao aumento do risco de:
inflamação nas articulações devido ao estresse mecânico;
inflamação nos tendões ou nas extremidades dos tendões (tendinites ou tenossinovite);
inflamação nas bainhas dos tendões;
processos crônicos degenerativos, do tipo artrose nas articulações;
espasmos musculares dolorosos (cãibras);
doenças dos discos intervertebrais (KROEME, GRANDJEAN, 2005).
Estes sintomas de sobrecarga podem ser divididos em dois grupos: problemas
reversíveis e persistentes. Os sintomas reversíveis são de curta duração. As dores são
predominantemente localizadas na musculatura e nos tendões e desaparecem assim que a
carga é retirada. Trata-se de dores de fadiga. Os problemas persistentes também são
localizados nos músculos e tendões, mas também afetam as articulações e os tecidos
adjacentes. As dores não desaparecem, continuam após o trabalho ser interrompido. Os
sintomas persistentes são atribuídos aos processos inflamatórios e degenerativos nos tecidos
sobrecarregados. Os trabalhadores mais velhos estão mais propensos a tais problemas. Se os
problemas musculoesqueléticos persistem durante vários anos, podem piorar e levar a
inflamações crônicas, especialmente dos tendões e das bainhas dos tendões, e até à
deformação das articulações (KROEME, GRANDJEAN, 2005).
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As exposições levam a compreensão do processo de desenvolvimentos de problemas
reversíveis e persistentes no sistema musculoesquelético que podem ocorrer com
trabalhadores que executam trabalhos musculares, como os eletricistas. Por isto deve-se
oferecer atenção aos sintomas de dores, desconfortos e formigamentos nas diferentes regiões
anatômicas do indivíduo.
6. INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO UTILIZADO
Para que se possa garantir a qualidade dos instrumentos de avaliação adaptados,
recomenda-se que normas internacionais sejam seguidas quando da realização desse processo.
O emprego de uma metodologia aceita pela literatura científica permite a comparação dos
dados obtidos em diferentes idiomas quando da utilização desses instrumentos.
Neste trabalho foi adotado como instrumento de avaliação na sua versão para o
português brasileiro do Questionário Nórdico Padronizado, que permite a identificação de
distúrbios musculoesqueléticos em estudos epidemiológicos e que também pode ser utilizada
como um instrumento para a análise ergonômica do ambiente de trabalho e de equipamentos.
A utilização consagrada que este questionário vem tendo em diferentes contextos de
saúde ocupacional para uma variedade de populações o recomenda como adequado na área de
saúde ocupacional para avaliar amplos ambientes de trabalho de uma forma confiável, rápida
e econômica.
A utilização desta versão para o português brasileiro do Questionário Nórdico
Padronizado também foi escolhida por ser facilmente compreendida e aplicada rapidamente,
oferecendo confiabilidade substancial (BARROS, ALEXANDRE, 2003).
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QUESTIONÁRIO NÓRDICO PADRONIZADO
VERSÃO EM PORTUGUÊS
F
Fonte: BARROS, ALEXANDRE (2003).
6.1. Caracterização dos Sujeitos
A pesquisa, com uma abordagem quantitativa e qualitativa, utilizou como amostra
representativa 19 trabalhadores eletricistas de um universo de 40 eletricistas de uma unidade
operacional da concessionária de distribuição de energia elétrica que atendem o município de
Florianópolis – SC e regiões próximas.
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Em relação à função dos trabalhadores eletricistas, diante da diferenciação das
atividades e movimentos que estes executam, os mesmos agrupam-se em diferentes equipes
de trabalho:
a) Eletricista de Plantão-Emergência (EP), 12 eletricistas, 63,2%: eletricistas que atuam
em atendimento de emergência em redes de alta e baixa tensão, como abalroamentos,
troca de transformadores, reparos em redes e todas as atividades necessárias a serem
executadas para atender a emergência;
b) Eletricista Comercial (EC), 1 eletricista, 5,3%: eletricistas responsáveis pela ligação
e/ou desligamento do fornecimento de energia a consumidores, medição em
consumidores dos Grupos A (indivíduos e grandes empresas) e do Grupo B
(consumidores residenciais), incluindo manutenção e/ou retirada de medidores de
consumo de energia;
c) Eletricista Geral (EG), 6 eletricistas, 31,6%: eletricistas que atuam em atendimento de
emergência em redes de alta e baixa tensão bem como em montagens de serviços
programados, montando e desmontando redes por programação ou para melhorias,
como a construção da rede ou sua manutenção, dentro das funções para as quais o
eletricista foi treinado, podendo exercer como exemplo a função de eletricista
comercial ou programada de montador.
Os 19 eletricistas entrevistados eram do sexo masculino com a seguinte distribuição de
faixa etária:
37% de 40 - 49 anos;
21,05% de 30 a 39 anos;
15,79% de 20 - 29 anos;
15,79% possuem acima de 50 anos.
O grau de instrução dos eletricistas entrevistados era:
42,10% possuem o 2º grau completo;
26,32% possuem o 3º grau completo;
21,05% possuem o 1º grau completo;
10, 53% possuem o 3º grau incompleto.
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Com relação à prática de atividades físicas durante a semana 57,90% praticam atividade
física e 42, 10% não pratica nenhuma atividade física.
Em relação à predominância de horário 10,53 % tem horário fixo e 89,47% trabalham
em turno de revezamento, sendo que 94,74% dos entrevistados trabalham nos turnos:
matutino/vespertino/noturno devido ao sistema de trabalho de turno revezamento/escala. Em
relação à carga horária de trabalho: 73,68% trabalham 8 horas, e os demais trabalham 9, 10 ou
12 horas.
6.2. Exemplos de atividades do Eletricista de Plantão-Emergência
Foto 1 Foto 2
(Fotos: Celesc Distribuição - 2010)
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7. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
Com relação aos sintomas nos últimos 12 meses, em sentir problemas como dor,
formigamento/dormência, as regiões com maior incidência foram:
I - Parte Superior das Costas: 57,09%;
II – Ombros: 47,37%;
III – Pescoço: 42,10%;
IV – Parte inferior das costas: 36,84%;
V - Cotovelos, punhos/mãos e tornozelos/pés: 31,58%;
VI – Quadril/coxas e joelhos: 26,32%.
No período dos últimos 12 meses, os eletricistas expuseram que foram impedidos de
realizar atividades normais (por exemplo: trabalho, atividades domésticas e de lazer) por
problemas em:
I – Pescoço e ombros: 15,79%;
II – Parte superior das costas, cotovelos e joelhos: 10,53%;
III – Parte inferior das costas e quadril/coxas: 5,26%.
Em relação à consulta a algum profissional da área da saúde (médico, fisioterapeuta) por
causa desta condição, nos últimos 12 meses, a incidência foi:
I – Ombros: 21,05%;
II – Pescoço e Parte Inferior das Costas: 15,79%;
III – Punhos/mãos e quadril/coxas: 10,53%;
IV – Parte superior das costas, cotovelos e joelhos: 5,26%;
V – Tornozelos/pés: 0%.
Quanto a problemas nos últimos 07 dias, foi relatado:
I – Ombros: 15,79%;
II – Pescoço: 10,53%;
III – Parte Inferior das costas, quadril/coxas, joelhos e tornozelos/pés: 5,26%;
IV – Parte superior das costas, cotovelos, punhos/mãos: 0%.
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Com a apresentação dos dados verifica-se que 52,79% dos eletricistas estão na faixa
etária de mais de 40 anos, 78,95% possuem acima do 2º grau completo e 57,90% praticam
algum esporte uma vez por semana.
Quanto aos sintomas musculoesqueléticas verifica-se que no último ano, as regiões que
os eletricistas mais sentiram dores, dormência/formigamento foram ordinariamente em 1º
lugar – a parte superior das costas, em 2º lugar – os ombros; e em 3º lugar – o pescoço.
Em relação ao impedimento de realizar atividades normais por problemas nas nove
diferentes regiões anatômicas apresentadas, foram classificadas em 1º lugar - pescoço e
ombros e seguindo em 2º lugar - parte superior das costas, cotovelos e joelhos.
Quanto à procura de profissional da área de saúde por problemas nestas áreas do corpo,
foram assim apresentadas: 1º lugar – ombros e 2º lugar - parte inferior das costas.
Com relação aos problemas apresentados por estas regiões nos últimos 07 dias,
verificou-se em ordem: 1º lugar - ombros e em 2º lugar - pescoço.
Com essas informações verifica-se que os ombros e pescoço são identificados com as
regiões anatômicas com maior incidência de sintomas musculoesqueléticas, seguindo com
parte superior das costas e a parte inferior das costas. Esta última causou dúvidas e necessita
ser mais bem analisada, pois não apareceu como maior índice de dores, mas foi alvo de
consulta de profissional de saúde, o que poderia ser indicação de um caso específico.
Uma pergunta aberta foi apresentada aos eletricistas sobre o que é sentir-se bem
corporalmente, ou seja, ter um corpo sem problemas para desenvolver bem o seu trabalho. Os
treze trabalhadores que responderam a esta pergunta atrelam o sentir-se bem corporalmente a
não sentir dores durante e após o trabalho, como dito por um dos entrevistados: “é ter
disposição para realizar as atividades sem dores que atrapalham a execução do serviço”.
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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES
A análise dos dados obtidos na pesquisa realizada junto aos eletricistas, conforme já
caracterizado, apresenta claramente que as regiões, que mais foram motivos de destaque nas
perguntas sobre “dores / dormência / formigamento”, “impedimento de tarefas normais”,
“procura pelo profissional” e “problemas nos últimos sete dias”, são os ombros e o pescoço
seguido pela parte superior das costas.
Confrontando-se esses dados com as atividades desenvolvidas pelos eletricistas, pode-se
concluir que a causa desses sintomas esteja relacionada à sua posição de trabalho nessas
atividades. Nessas condições, toda a musculatura do pescoço é muito exigida para a sua
sustentação, também como resultado das posições que são frequentemente assumidas pelo
corpo, além das constantes flexões que este realiza. Todos esses esforços são decorrentes do
posicionamento necessário da cabeça para melhor proteção e visão dos equipamentos e
ferramentas, como também pela utilização dos braços em extensão, o que promove uma
grande carga e tensão nos músculos e articulações dos ombros, pescoço e costas.
As informações obtidas também indicam a necessidade de uma melhor preparação física
dos trabalhadores, de forma a propiciar a elevação da sua capacidade física nessas regiões
(fortalecimentos e alongamentos).
Os resultados obtidos e as posições assumidas pelos eletricistas no exercício de suas
atividades no trabalho indicam a necessidade de continuação das pesquisas, para que possam
ser analisadas em maior detalhe. Essa análise pode ser efetuada por meio de filmagem e
utilizando-se de protocolos de avaliação mais específicos, como RULA, que verifica os
movimentos e posições os membros superiores (MCATAMNEY, CORLETT 1993) e outros
aplicáveis.
Este estudo colaborou para o conhecimento do trabalho dos eletricistas da
concessionaria analisada, desenvolvido conforme caracterizado no inicio deste artigo. A
avaliação dos sintomas musculoesqueléticos nas regiões anatômicas do corpo dos
trabalhadores é importante para o desenvolvimento de estudos focados na prevenção de
doenças e acidentes relacionados ao trabalho.
Sugere-se para ser dada continuidade a esses estudos:
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investigar outras variáveis não abordadas neste estudo como condições
ambientais e aspectos psicológicos que interferem no desconforto
musculoesquelético,
efetuar análises para as diferentes funções dos eletricistas (comercial, linha-viva,
programada, emergência),
analisar as posições assumidas pelos eletricistas em suas atividades utilizando-se
de protocolos de avaliação mais específicos, como RULA.
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REFERÊNCIAS
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multi-casos. 1996. 124 p. Dissertação em Engenharia de Produção. Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Florianópolis: UFSC, 1996.
BARROS, E. N. C.; ALEXANDRE, N. M. C. Cross-cultural adaptation of the Nordic
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eletricistas. Florianópolis: Celesc, 1997.
FISCHER, D. Um modelo sistêmico de segurança do trabalho. 2005. 263 p. Tese de
Doutorado em Engenharia de Produção. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
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