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É possivel gerar mais vida nos vazios existentes na cidade?
A seguinte proposta de ação-performance é uma tentativa de despertar o olhar dos moradores do bairro Buritis para a possibilidade da vida urbana coexistir com a produção de alimentos.
ecof i t a S
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programa
Ecofi ta é a ocupação do vazio através da agrofl oresta, neste caso, o cultivo em menor escala de espécies que geram alimento. O sistema agrofl orestal tem potencial de suprir a demanda do condomínio e gerar produção excedente de alimento.
Para testar sua aplicação, desenvolvemos uma forma de engajamento da vizinhança no plantio coletivo de uma agrofl oresta na palafi ta-pomar. O processo, com duração de três semanas, proporcionará aos moradores uma experiência de plantio em pequena escala acompanhada por aulas técnicas e discussões sobre as técnicas, diferentes espécies, o solo, entre outras coisas.
Um mês após o plantio, faremos a colheita de alguns alimentos e o preparo de comidas, baseadas nos ingredientes disponíveis, para compartilhamento em um lanche coletivo na rua.
Esta ação, de caráter experimental e possivelmente efêmero, tensiona a estrutura existente, revelando novas possibilidades para o local. O estímulo ao uso coletivo – e autogestionado – desses vazios fortalece redes existentes, vislumbrando novas repercussões.
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objetivos e justifi cativa
Como contraponto às palafi tas existentes no edifícios do Buritis encontramos palafi tas ribeirinhas amazônicas, construídas em madeira, executadas pelos próprios moradores – na escala de suas casas – onde se integram tempo, espaço e cultura locais. Tendo as palafi tas amazônicas como ponto de partida, surge a questão: é possível trazer ao bairro belo-horizontino uma relação similar? Seria possível integrar às palafi tas de concreto e aço comportamentos e hábitos criados a partir da força da natureza e de seu movimento?
A agrofl oresta é uma prática inspirada pela forma cíclica na qual a natureza funciona. É um sistema de plantio de alimentos que prevê a recuperação de uma fl oresta, possibilitando o aumento da produção em relação à área. Ela também amplia a fertilidade do solo com base na decomposição natural, reduzindo despesas de cultivo. Ecofi tas são uma ocupação dos vazios através da agrofl oresta, neste caso, no cultivo em menor escala de espécies que geram alimento. O sistema agrofl orestal
tem potencial de suprir a demanda alimentar do condomínio e ainda gerar alguma produção excedente.
As palafi tas encontradas no Bairro Buritis são métodos construtivos para garantir o maior aproveitamento demográfi co em terrenos em declive, gerando uma área inóspita e, atualmente, impossível de se utilizar, segundo mecanismos de legislação urbana. Essas áreas residuais agridem sua região ambientalmente pelo risco e alteração nas linhas hidrográfi cas – essenciais para fi ltrar e conduzir as águas das chuvas antes de chegarem aos córregos que permeiam os vales –; social e culturalmente, pela especulação imobiliária que mantém uma alta densidade demográfi ca, e ainda visualmente, com a estrutura crua de concreto inserida no solo descoberto, acompanhada de prédios altos disputando as poucas vistas e raios de sol disponíveis, enquanto eles mesmos bloqueiam a paisagem natural da cidade.
Todavia, a estranheza estética causada por essa estrutura pode ser vista, também, como um potencial. O que de melhor ela pode nos oferecer? Sendo atualmente
um espaço indefi nido, é ideal para testar ações variadas, visto que não se tem um imaginário já solidifi cado das funções que poderiam se desenvolver lá. É importante não esquecer que o modelo de produção de cidades focado em girar capital é muitas vezes responsável pela construção desses espaços inóspitos, sem qualidade para convivência e fruição, que estimula ainda mais hábitos individualistas como o uso constante do carro e experiências de lazer também mediadas pelo capital; ignorando o potencial de espaços públicos como espaços de lazer e convívio cidadão.
Contando com o demonstrado interesse dos moradores dos edifícios em construir ou ao menos experimentar novas vivências nesse espaço que é comum, consideramos potencial o experimento de um cultivo partilhado na construção de novas formas de viver o bairro – e, em maior escala – a cidade.
Desta forma, a proposta quer enaltecer o potencial da palafi ta-pomar através do plantio e trazer à tona essa discussão na escala do bairro, da cidade e da lei, através
de conversas, conscientização, debates e aulões. Vislumbramos a recuperação e ressignifi cação do ecossistema como um exemplo interessante para ilustrar diferentes possibilidades de uso desse espaço no que tange as leis de uso e ocupação.
As Ecofi tas serão uma cápsula verde, um experimento com temporalidade e espacialidade defi nidas, um primeiro estudo na ideia de se implantarem pequenos cultivos de alimento pela cidade. Engajar a vizinhança a partir de técnicas de plantio agroecológicas traz, inevitavelmente, um questionamento acerca de nossa relação com as plantas, nosso papel diante delas, nossa relação um com os outros e, mesmo, se é possível resgatar memórias de tempos não tão distantes em que a vida aproximava com mais gentileza da natureza. A vivência com foco em agrofl oresta traz à tona um processo de reconstrução do ser, de dentro pra fora, com valores de comunhão e entrega, permeando o autoconhecimento e o instinto de comunidade.
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agrofl oresta
palafi tas urbanas
palafi tas amazônicas
agricultura familiar
cooperação
relações de vizinhança
mutirões
comidariapública
permacultura
diagrama síntese:
conceitos, potenciais
aulas
uso não previsto
vazios
bairro Buritis
exemplos possíveis
manutenção
discussões em escala urbana
compartilhamento do espaço
moradores
novos usos
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eventos, ações e
cronograma
Evento 01:Troca de Mudas
Evento 02:Preparação do terreno
Evento 03:Plantio
Evento 04:Comidaria
Esta ação será o início do diálogo com a vizinhança, a
fi m de entender melhor seus interesses e conhecimentos
sobre cultivo e plantas. Contaremos da proposta que
se segue e convidaremos todos a participarem dos
próximos eventos.
Evento aberto para, junto com a vizinhança, preparar o terreno para o plantio. O dia começa com uma aula
aberta que cobrirá princípios básicos da agrofl oresta,
entre eles o tratamento da terra, o funcionamento dos consórcios, componentes
e desenvolvimento do solo, etc. Em seguida, serão
removidas plantas e matos e colocaremos a nova
matéria orgânica no solo: cada participante fará uma
quantidade de canteiros.
O dia começa com outra aula curta, dessa vez abrangendo a estratifi cação das espécies,
ciclo de vida, plano de manejo, etc. Em seguida realizaremos uma grande ofi cina de plantio
com todos os presentes. Ao fi nal, entregaremos para cada
participante um pequeno manual (impresso) de
manutenção da agrofl oresta, para que, coletivamente, possam mantê-la viva.
Ao fi nal do primeiro mês após o plantio realizaremos uma
colheita dos ingredientes disponíveis e o preparo
de pratos e lanches tendo ele como base. A comida
será ofertada à vizinhança, previamente convidada, para
que possam compartilhar, na rua, o produto de seu trabalho. Esse momento
servirá para conversarmos sobre o processo, como
um todo, bem como suas possibilidades futuras.
Duração: uma tarde
Duração: dois dias (um fi nal de semana)
Duração: dois dias (um fi nal de semana)
Duração: um dia
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consórcios
Camomila, Capuchinha
Bananeira, Abacate, Limão,
Laranja, Mexerica, Pêssego, Cacau,
Graveola, Acerola, Mamão, Amora,
Margaridão
Mandioca, Berinjela, Quiabo,
Milho
Taioba, Inhame, Batata Doce,
Couve
Pepino, Chuchu, Maracujá
Alface, Tomate, Cenoura,
Beterraba, Alho, Cebola, Rúcula
Pimenta, Cebolinha, Salsinha,
Manjericão, Alecrim, Orégano,
Tomilho, Hortelã
Na lógica agrofl orestal os legumes, verduras e frutas que estamos acostumadas a comer cotidianamente são plantas originárias da fl oresta, que foram ao longo da história sendo adaptadas a diferentes condições de solo e de luminosidade. Nas condições de fl orestas preservadas, tais espécies encontram a fertilidade que precisam para seu pleno desenvolvimento, incluindo umidade, nutrientes, vitaminas e vida. A escolha de quais
plantas usar são feitas com base na estratifi cação, fenômeno observado nas fl orestas, onde as plantas ocupam todo o espaço aéreo e subsolo - rasteiras, médias e altas e suas respectivas raízes - de modo que uma cria condições de solo e luminosidade umas para as outras.
Assim, implantar um sistema agrofl orestal agroecológico em um local onde as condições naturais já deixaram de existir, implica sobretudo em potencializar novos
processos naturais que recriam as condições fl orestais. Por isso se fala em recuperação do solo através da cobertura com matéria orgânica. Em casos extremos, como o do solo no Bairro Buritis, é imprescindivel usar ao mesmo tempo energia, trabalho, técnicas e recursos desenvolvidos no âmbito da agricultura artifi cial, no início do sistema. Para tal, incluímos a adubação e preparo do solo nos moldes normalmente usados na agricultura orgânica.
A intenção do plantio consorciado é que as plantas e o manejo garantam sua capacidade de ir substituindo o trabalho artifi cial pelo organicamente realizado pela vida e intensifi cado pelo manejo, ou seja, criar um ecossistema praticamente autônomo. Com conscientização, planejamento e objetivo, buscamos garantir que os trabalhos sejam realizados pela própria vida do Organismo Lavoura e pelo discernimento das pessoas.
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trabalho com a vizinhança
Entendendo os limites que balizam este trabalho, como o tempo de execução, os parâmetros restritos de legislação e o orçamento do projeto, consideramos que seu grande potencial está ligado à sensibilização da vizinhança para a facilidade e os benefícios ligados ao plantio nas palafi tas.
O caráter efêmero da ação proposta não limita suas repercussões, o uso temporário do espaço tensiona sua estrutura e revela novas possibilidades.
Na partilha do urbano e na atuação direta da sociedade sobre ele se fazem presentes diversos indivíduos, criando e possibilitando novas formas de expressão de suas subjetividades. Estratégia essa comum ao urbanismo tático, que transforma as relações
das pessoas com o território de baixo para cima, empoderando o cidadão para que ele mesmo reconfi gure o seu habitat. Deste modo, projetamos, além da própria ação de plantio, alguns dispositivos que cumprem com uma função tática de mobilização dos vizinhos.
Tais dispositivos são formados, principalmente, pelos eventos, mas também se completam com a comunicação visual a ser espalhada pelo bairro – cartazes, panfl etos –, pelo manual de plantio a ser entregue no terceiro evento, deixando cada participante com um guia para dar continuidade às atividades, e também pela ação de colher e cozinhar os alimentos cultivados após o primeiro mês de plantio, compartilhando-os em um lanche coletivo na rua.
Cada um desses dispositivos complementa a consolidação, no imaginário dos moradores, da possibilidade de se cultivar no espaço das palafi tas, e modos distintos de experimentar essa ideia esteticamente servem para reiterar o valor coletivo de se produzir o alimento e também o espaço.
O coletivo irá acompanhar o processo para registro e diálogos, mediando a situação e enxergando potenciais locais.
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orçamento Descrição Quantidade Valor Unidade Valor total
Evento 01:Troca de Mudas
Evento 02:Preparação do terreno
Evento 03:Plantio
Evento 04:Comidaria
Panfl etosCartazes
Pré-preparo terrenoMudas
Panfl etosCartazes
Matéria OrgânicaCaminhão de terra
Aula 01Ferramentas
Preparo almoçoLanche
Panfl etosCartazes
Aula 02Mudas
Preparo AlmoçoLanche
Manual
Panfl etosCartazes
Mão de obraIngredientes
20020
140
20020
21
11
31
12500
31
100
R$0,30R$3,00
R$500,00R$5,00
R$0,30R$3,00
R$420,00R$420,00
R$500,00R$900,00
R$250,00R$400,00
R$500,00R$4,00
R$250,00R$400,00
R$10,00
20020
R$0,30R$3,00
61
R$250,00R$800,00
20020
R$0,30R$3,00
R$60,00R$60,00
R$500,00R$200,00
R$60,00R$60,00
R$840,00R$420,00
R$500,00R$900,00
R$750,00R$400,00
R$500,00R$10.000,00
R$750,00R$400,00
R$1.000,00
R$60,00R$60,00
R$1500,00R$800,00
R$0,30R$3,00
TOTAL:
R$19.940,00
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possíveis desdobramentos
Legislação: A legislação vigente difi culta a implantação deste projeto por não permitir o uso dos espaços vazios gerados pelas palafi tas, sem que este seja incluído como área construída. Outro parâmetro urbanístico que difi culta a princípio essa operação, é garantir a acessibilidade ao vazio pois toda área de uso comum das edifi cações deve assegurar o acesso de pessoas com necessidades especiais (PNE), o que requer uma intervenção na edifi cação de alto custo além de re-aprovação do projeto perante o orgão público.
Caso seja de interesse dos moradores a implantação do projeto, levaríamos a discussão até a câmara municipal apresentando a intervenção como exemplo. Com isso é possível rever os aspectos relativos à possibilidade de uso desses espaços quanto aos parâmetros urbanísticos se tratarmos eles com as práticas de permacultura e agroecologia. Desta forma, o experimento Ecofi tas pode frutifi car na futura elaboração de um projeto de lei.
Relações de vizinhança
Além de ser gratifi cante ser responsável por replantar uma fl oresta, esta ainda produz alimento saudável, trazendo benefícios mentais, emocionais e espirituais para quem a cultiva.
Além disso, a prática de plantio coletiva pode alterar também a relação existente entre vizinhos, bem como sua relação com o espaço em que vivem, trazendo novas sensibilidades para seu cotidiano.
Produção para o condomínio + excedente:O cultivo agroecológico tem como característica a maior produtividade em relação à área utilizada para plantio. A quantidade que se pode produzir a partir dessa técnica é algo impressionante, que só se pode mensurar após o contato com a colheita.
Caso o plantio seja continuado, existe a possibilidade real de que haja produção sufi ciente para todos os condôminos e, ainda, que se gere um excedente.
Também, se for do interesse do condomínio, o excedente comercializado pode gerar renda para sustentar o plantio continuado, subsidiando mudas e sementes novas, irrigação e mão de obra. Portanto existe aqui a possibilidade de uma sustentabilidade fi nanceira e circular, pois a própria atividade se fi nancia em uma escala local.
Replicação em outros vazios:
Nossa proposta tem como futuro objetivo a elaboração de um plano de negócios para a ocupação de vazios urbanos como o das palafi tas. A partir da primeira experiência com as Ecofi tas, pretendemos aprimorar a metodologia para atender às demandas de condomínios, habitações e moradores que demonstrem vontade de alguma mudança signifi cativa no planeta através da alimentação.
Acreditamos na simbiose cidade-cultivo como pontencial para renovar a vida nas cidades, trazendo saúde e sustentabilidade efetiva. Queremos que as ecofi tas sejam semente para outros plantios.
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referências
1. Habitar/Habitat: Palafi tas e casas fl utuantes; documentário SescTV
2. Jardins Comestíveis; texto de Fritz Haeg em PISEAGRAMA 06
3. Jardim Produtivo; texto de Fernanda Regaldo em
PISEAGRAMA 06
4. Troca de mudas; ação da Brotos Ofi cina no Festival Eletrônika
5. Fazenda Gameleira; projeto do coletivo Micrópolis
6. Banquetes Públicos; ações diversas de Patrícia Brito
7. Agroecologia na Periferia; projeto belorizontino
8. Planapo; Plano Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica, 2013
9. Atlas do Agronegócio; Fundação Heirich Boll, 2018
10. Plante você mesmo; texto de Cristina Müller em PISEAGRAMA 09
11. Cooperafl oresta; associação dos agricultores agrofl orestais de Barra
do Turvo e Adrianópolis
12. Agrofl orestando o mundo de facão a trator; livro publicado pela
Cooperafl oresta
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