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Devemos amar a Verdade
Um extracto do novo livro do Padre Gruner
S. Paulo diz-nos que o amor da verdade é essencial, é condição necessária, para
a vida espiritual. A sedução do erro e do pecado, acrescenta, obtém todo o seu poder
sobre as almas devido a esta causa, que não têm amor pela verdade:
“E é a sedução da iniquidade que há nos que perecem; porque não
recebem o amor da verdade, para poderem ser salvos.”1
Aqui está algo que cada um de nós deve considerar. Todos nós temos os nossos
pontos cegos, especialmente no modo como nos vemos a nós próprios. Todos temos
predisposições emocionais sobre que tendemos a actuar, em vez de pensar a sério, a não
ser que consigamos distinguir os nossos sentimentos dos verdadeiros julgamentos.
Pensar a sério é mais difícil do que apenas actuar espontaneamente sobre as
nossas respostas emocionais. Mas essa é a nossa tarefa, como “animais racionais” neste
mundo. Devemos pensar bem nas coisas, e devemos ter uma atitude de “a Verdade em
primeiro lugar.”
Estava na Praça de S. Pedro em 13 de Outubro de 2013, esperando ver o Papa
Francisco consagrar o mundo ao Imaculado Coração de Maria, como ele tinha
anunciado em Agosto anterior. Porém, desde o momento quando a cerimónia iniciou-se,
comecei a suspeitar que os planos para a Consagração tinham sido mudados.
Quem estava suficientemente perto para ver a expressão abatida e sombria do
Santo Padre – completamente fora do que lhe é característico – compreendeu que
alguma coisa tinha acontecido. Foi como se alguém no Vaticano, que o Papa não ousava
enfrentar, o tivesse “ensaiado” sobre correcção política com respeito às devoções
marianas.
Ter-lhe-iam acabado de dizer que a Consagração ao Imaculado Coração de
Maria não era permitida?
A cerimónia foi muito breve, e o Imaculado Coração de Maria nem sequer foi
mencionado. De facto, o Santo Padre não consagrou coisa nenhuma.2
1 2 Tessalonicenses 2:10.
2 “Santíssima Virgem Maria de Fátima, com gratidão renovada pela Vossa presença maternal, unimos a
nossa voz às de todas as gerações que Vos chamam Bem-Aventurada. Celebramos em Vós as grandes
obras de Deus, Que nunca se cansa de Se inclinar com misericórdia sobre a humanidade, afligida pelo
mal e ferida pelo pecado, para a curar e a salvar”.
“Aceitai com a compaixão de uma Mãe o acto de entrega que hoje fazemos com confiança,
perante a Vossa imagem, que para nós é tão querida.
“Estamos certos de que cada um de nós é precioso a Vossos olhos, e que nada do que habita nos
nossos corações Vos é desconhecido. Deixai-nos ver o Vosso doce olhar e receber a carícia consoladora
do Vosso sorriso. (Continuou)
http://www.fatima.org/port/news/devemos_amar_a_verdade.pdf
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Mas aquela cerimónia que desapontou não foi a única infelicidade do dia.
Quando me preparava para deixar a Praça de S. Pedro, uma certa mulher (que nunca
tinha visto antes) reconheceu-me e avançou pelo meio da multidão até onde eu estava, e
começou a moer-me o juízo com a sua opinião sobre o meu trabalho no Fatima Center.
Apresentou-se como representante do Apostolado Mundial de Fátima (a que a
maior parte das pessoas continua a chamar Exército Azul), e repreendeu-me em
pormenor por todos os esforços “mal orientados” do meu Apostolado para se fazer a
Consagração da Rússia como tinha sido pedido especificamente por Jesus e Maria. Na
sua opinião, difundir a verdade de que a Consagração não tinha sido feita serve apenas
para “magoar o Papa.”
Parece que ela pensava – e há muita gente que concorda com ela – que eu estava
a ser desleal para com a Igreja ao insistir nos pedidos de Nossa Senhora de Fátima,
quando hoje só as devoções a Nossa Senhora de Fátima são relevantes. Estas pessoas
acusam-me frequentemente: porque é que hei-de continuar a falar sobre a revelação do
que falta do Terceiro Segredo? Quem sou eu para insistir numa Consagração explícita
da Rússia ao Imaculado Coração de Maria pelo Papa e por todos os Bispos Católicos do
mundo?
Estas pessoas têm um raciocínio muito simplista (e profundamente não-
Católico!) para justificar a sua posição. Dizem-nos que 1) a Visão do “Bispo vestido de
branco” é a totalidade do Terceiro Segredo, e que 2) a Consagração foi feita em 1984. E
portanto, que devemos agora concentrar-nos na oração, na penitência e na nossa
conversão mais completa.
A mulher do “Apostolado Mundial” estava basicamente a exigir que eu entrasse
na formatura e dissesse, como toda a gente, que a Consagração estava feita e que o
Terceiro Segredo tinha sido inteiramente revelado. Se assim fizesse, também podia ter a
satisfação de ser verdadeiramente “devoto” de Nossa Senhora, porque passaria a “amar”
o Papa e a promover a “unidade” da Igreja.
Bem, S. Luís de Monforte escreveu um belo livro sobre a verdadeira devoção a
Nossa Senhora, e não se refere em parte nenhuma a servi-La servindo uma falsidade!
Estaria eu a mostrar alguma devoção autêntica a Nossa Senhora, indo contra a
Sua vontade expressa de que a Sua Mensagem de Fátima devia ser dada a conhecer e os
Seus pedidos atendidos? Estaria eu a amar o Papa se me deixasse estar quieto, sabendo
que ele podia ir perder a vida se não se arrependesse e atendesse as ordens de Nossa
Senhora? Haverá algum valor no género de unidade que Pilatos e Herodes conseguiram,
ao pôr de lado as suas antigas inimizades e a unir-se para crucificar Jesus Cristo?!
“Guardai a nossa vida nos Vossos braços: abençoai e fortalecei todos os bons desejos; fazei
reviver e apoiar a fé, sustentar e iluminar a esperança, criar e revitalizar a caridade; guiai-nos a todos
pelo caminho da santidade.
“Ensinai-nos o Vosso amor preferencial pelos pequenos e pelos pobres, pelos excluídos e pelos
que sofrem, pelos pecadores e pelos perdidos: recolhei a todos sob a Vossa protecção e dai-nos a todos
ao Vosso amado Filho, Nosso Senhor Jesus.” Cf. “A oração do Papa Francisco confiando-nos a todos a
Nossa Senhora de Fátima”, The Fatima Crusader, Nº 107, Outono de 2013, página 12
(http://www.fatima.org/port/crusader/cr107/cr107p12.pdf).
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Se a suposta devoção de uma pessoa a Nossa Senhora não se baseia na verdade,
então não é uma devoção autêntica. Se o amor de uma pessoa pelo Papa não se baseia
na verdade, então este “amor” é uma ilusão. Se os esforços de uma pessoa para
conseguir a “unidade” da Igreja não se baseiam na verdade, então está a construir um
castelo de cartas. Nosso Senhor não construiu a Sua casa num campo de mentiras, e não
precisa de mentiras para apoiar a Sua Santa Igreja.
Havia tanto que eu queria dizer, mas no fim não houve uma grande discussão.
Esta mulher essencialmente bloqueou os ouvidos e dizia “Não quero discutir consigo”
de cada vez que eu tentava dizer alguma coisa. Na cabeça dela, eu estava a perturbar o
equilíbrio da Igreja e a romper a unidade nas mentes dos fiéis; portanto, eu estava
errado. Ponto final. Não havia lugar para mais discussões. A não ser para ela repetir o
seu palavreado insolente.
Gostava de lhe ter dito: “Desculpe, minha Senhora, e se a ‘linha partidária’ do
Cardeal Bertone sobre o Terceiro Segredo e a Consagração da Rússia não for
verdadeira? Deveríamos ignorar os avisos e pedidos de Nossa Senhora, só para dar uma
aparência de unidade entre nós? Arriscando as nossas vidas e almas?!”
Mas as poucas palavras que consegui dizer simplesmente ecoaram de volta para
mim, por terem batido num muro de tijolo.
Mesmo se tivesse podido dizer mais, soube que não conseguiria mudar a opinião
desta mulher, porque a preocupação dela, acima de tudo, era dar uma aparência de
unidade e obediência. Simplesmente, a verdade da nossa posição não era nada com ela.
De facto, o facto de não colocar o amor da verdade em primeiro lugar, e acima
de todas as outras considerações é a essência de muitos dos problemas do nosso tempo.
Este é o distúrbio fundamental que está na raiz da desobediência da Igreja às ordens da
Rainha do Céu durante mais de oitenta anos.
“Quem é da verdade,
ouve a Minha voz”
Desde 1988 que certos funcionários do Vaticano têm estado a propagar a ideia
de que devemos separar os aspectos devocionais da Mensagem de Fátima das partes
proféticas da Mensagem. É uma campanha organizada,3 em que se tem imposto aos
fiéis a ideia desta separação. Com efeito, a mensagem tem sido: “A Consagração pedida
por Nossa Senhora foi feita em 1984. Deixem de aborrecer o Santo Padre sobre a
Consagração da Rússia!” A ideia (que eles querem estabelecer claramente) é que seria,
3 O historiador de Fátima Frère François escreveu: “[Em 1988] veio uma ordem do Vaticano, dirigida às
autoridades de Fátima, à Irmã Lúcia, a diversos eclesiásticos, incluindo o Padre Messias Coelho, e um
sacerdote francês muito devoto de Nossa Senhora [evidentemente o Padre Pierre Caillon], ordenando a
todos que deixassem de incomodar o Santo Padre com a Consagração da Rússia.” (Frère François de
Marie des Anges, Fatima: Tragedy and Triumph, Immaculate Heart Publications, 1994, páginas 189-
190.) No mesmo sítio, Frère François cita esta declaração a partir da sua correspondência pessoal com o
Padre Pierre Caillon, Presidente do Exército Azul em França: “Veio uma ordem de Roma, obrigando a
todos que dissessem e pensassem: ‘A Consagração está feita. Tendo o Papa feito tudo o que podia, o
Céu dignou-se aceitar este gesto.’” (Carta de Março de 1990).
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de algum modo, desleal ou divisionista pedirmos ao Papa que fizesse a Consagração ou
que divulgasse o texto completo do Terceiro Segredo.
Assim, não é raro encontrar pessoas (como esta mulher do Apostolado Mundial
de Fátima) que pensam que a Mensagem profética de Fátima, que pede a Consagração
da Rússia e a divulgação de todo o Terceiro Segredo, se opõe de alguma maneira à
devoção ao Imaculado Coração de Nossa Senhora, como foi pedido por Nossa Senhora
de Fátima.
É evidente que não há nenhuma oposição verdadeira entre a lealdade à Igreja e a
obediência a Nossa Senhora. Mas como é que uma tal oposição poderia parecer que
existe?
A resposta a essa pergunta é muito simples. É porque as pessoas não
compreendem o dever essencial, que cada um de nós tem, de amar a verdade.
De facto, quanto mais amamos verdadeiramente a Nossa Senhora, tanto mais
amamos a verdade. Jesus disse que Ele é o Caminho, e a Verdade, e a Vida.4 Nosso
Senhor também disse, quando estava perante Pilatos, que quem for da verdade ouve a
Sua voz. 5
Porque é que ser “da verdade” é a condição essencial para se ser capaz de
responder à voz de Deus? Nosso Senhor explica isto numa bela parábola, dada no
Sermão da Montanha:
“A luz do corpo é o teu olho. Se o teu olho for puro, todo o teu
corpo terá a luz. Mas se o teu olho for mau, todo o corpo ficará nas trevas.
Ora, se a luz em ti passa a escuridão, quão grande será a própria
escuridão!”6
S. Tomás de Aquino pode ajudar-nos a compreender esta parábola. Disse 7 que a
luz da razão desempenha nas nossas almas o mesmo papel dos olhos em relação aos
nossos corpos. Isto é, as nossas mãos e pés mão podem ver. Só por si, não lhes é
possível conhecer o que os rodeia. A “luz” para todas as diversas partes do nosso corpo
é simplesmente ter um par de olhos saudáveis no mesmo corpo.
Os nossos olhos, a receberem a luz do dia, possibilitam a todos os membros do
corpo serem devidamente dirigidos nas suas tarefas. As nossas mãos trabalham com
confiança e precisão, e os nossos pés caminham em segurança, quando são esclarecidos
pelos bons olhos. Por outro lado, se os olhos de uma pessoa não são saudáveis, todos os
membros do corpo ficam reduzidos a actuar como se estivessem na escuridão, mesmo
que o corpo esteja à luz do dia.
A situação é a mesma em relação às nossas almas, diz S. Tomás. Se as nossas
mentes estão orientadas para a luz da verdade, então todos os nossos julgamentos da
4 João 14:6. 5 João 18:37. 6 Mateus 6:22-23. 7 Cf. S. Tomas de Aquino, Commentary on the Gospel of St. Matthew, trad. do Rev. Paul Kimball,
Dolorosa Press, 2012, página 273.
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mente e os movimentos da vontade poderão ser iluminados. Mas se a nossa razão se
extravia – se inverte, dando o lugar mais alto às coisas terrenas – todas as nossas
faculdades mentais também se extraviam e passam à escuridão.
Amar a verdade é a coisa mais importante
Fátima é sobre a verdade. Nossa Senhora veio a Fátima para pôr fim ao domínio
do demónio sobre este mundo, domínio esse que se baseia na mentira. As mentiras são
o fundamento do seu reino na terra, porque é mentindo aos homens e mulheres que ele
consegue escravizá-los à sua vontade (se eles acreditarem nas mentiras).
Jesus disse-nos que a verdade não cabe no demónio. As mentiras no demónio
procedem naturalmente deste facto – ou seja, que ele não está na verdade, e a verdade
não está nele:
“Ele foi um assassino desde o início, e não esteve na verdade,
porque a verdade não é dele. Quando ele diz uma mentira, diz o que é seu;
porque ele é um mentiroso e pai da mentira.” 8
Quem não puser o amor da verdade acima de todos os bens terrenos, coloca-se
na mesma grande escuridão em que o demónio reina. Se não “estivermos na verdade,”
também não somos “de Deus.” As palavras de Nosso Senhor não produzem fruto
quando caem nos ouvidos de pessoas assim.
“Porque não reconheceis a Minha fala? Porque não podeis ouvir
as Minhas palavras. Sois do vosso pai, o demónio…. Se vos digo a
verdade, porque não acreditais em Mim? Quem é de Deus, ouve as
palavras de Deus. Vós, porém, não as ouvis, porque não sois de Deus.” 9
Mais uma vez, Fátima é sobre a verdade. Sempre que Nosso Senhor e Nossa
Senhora vêm até nós, é para dar testemunho da verdade, 10 que nos libertará.11 O
demónio vem para nos escravizar com as suas mentiras, por vezes até mesmo disfarçado
como um anjo de luz.12 Sabe-se que até personificou Nossa Senhora em aparições
falsas, para desviar a atenção das pessoas da verdadeira Mensagem de Nossa Senhora
nas Suas aparições verdadeiras. (O demónio apareceu pelo menos em 16 locais
diferentes. não muito longe da cidade de Lourdes em 1858, sob a aparência da
Santíssima Virgem, quando Nossa Senhora estava a aparecer na gruta de Lourdes a
Santa Bernadette.)
Lembremo-nos sempre de que as mentiras escravizam-nos, e que a verdade vem
de Deus para a salvação das nossas almas. As mentiras que hoje se dizem sobre a
Mensagem de Fátima vêm, em última análise, do demónio, que quer impedir-nos de
ouvir a verdade da Mensagem de Nossa Senhora, que – se respondermos devidamente a
ela – pode salvar vidas e almas sem conta.
8 João 8:44. 9 João 8:43-44, 46-47, ênfase acrescentado. 10 João 18:37. “Foi para isto que nasci, e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade.” 11 João 8:32. “E conhecereis a verdade; e a verdade libertar-vos-á.” 12 2 Coríntios 11:14.
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Quando Nossa Senhora disse: “Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão
muitas almas e terão paz,”13 estava a dizer-nos a verdade. Quando Ela disse: “Só Eu vos
poderá valer,”14 estava a dizer a verdade absoluta e literal. Quando Ela disse: “Participa
ao Santo Padre que ainda estou à espera da Consagração da Rússia ao Meu
Imaculado Coração. Sem esta Consagração, a Rússia não se poderá converter, nem o
mundo terá paz,” 15 estava a dizer, na linguagem mais simples possível, o que
precisamos de saber e fazer para evitar o aniquilamento de nações e a escravidão da
humanidade ao demónio sob a Nova Ordem Mundial maçónica.
Não devemos deixar-nos enganar sobre a Mensagem de Nossa Senhora, e não
devemos enganar-nos a nós próprios.
“A Caridade exulta na Verdade”
Há uma hierarquia das virtudes, uma ordem que classifica cada uma das virtudes
em relação às outras. A caridade é a maior de todas as virtudes, como nos diz S. Paulo,
mas ele também sublinha que a caridade exulta na verdade.16 De facto, se não amarmos
primeiro a verdade, não podemos realmente amar a Deus ou o nosso próximo, ou até
mesmo nós próprios.
É certo que pode haver um falso zelo pela verdade, que está cheio de orgulho e
tem falta de caridade, mas, mesmo assim, não podemos ter uma verdadeira caridade sem
o amor à verdade. E a virtude de amar a verdade está a perder-se cada vez mais no
nosso tempo. Devemos compreender a relação entre verdade e caridade.
Simplificando, o conhecimento e a verdade devem vir antes do amor. Não
podemos amar uma coisa a não ser que a conheçamos primeiro, pelo menos em alguma
medida. E não podemos amar devidamente alguma coisa ou alguém enquanto não a
compreendermos.
Amar uma pessoa é desejar-lhe o bem. Mas não podemos desejar o bem se não
soubermos o que é o bem. E não podemos desejar o bem ao nosso próximo devidamente
se tivermos uma ideia errada do que é melhor para ele.
Além disso, se estamos errados sobre quem é o nosso próximo, então não
podemos de modo nenhum amá-lo. E se não compreendemos o que é verdadeiramente
bom para ele, então, apesar de toda a nossa boa vontade, não podemos amá-lo
devidamente. Mesmo em relação a Deus, não podemos amá-Lo devidamente (ou
simplesmente amá-Lo) se não conhecemos alguma verdade sobre Ele.
Há pessoas que me criticam por ser (segundo dizem) desleal ao Santo Padre ou à
Santa Sé ou ao Secretário de Estado. O próprio Cardeal Bertone acusou-me, e aos meus
associados, 17 de o odiarmos, 18 simplesmente porque o instei a agir, para o seu próprio
13 Aparição de 13 de Julho de 1917. 14 Aparição de 13 de Julho de 1917. 15 Relatado na publicação dos Bispos italianos, Il pellegrinaggio delle meraviglie, 1960, página 440. Cf.
Frère Michel, The Whole Truth About Fatima, Vol. III, página 327. Ênfase acrescentado. 16 1 Coríntios 13:6, 13. 17 Eu e outros que ajudaram a publicar O Segredo por revelar, escrito por Christopher A. Ferrara.
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bem e para o bem de muitas almas que dependem da obediência da Igreja a Nossa
Senhora de Fátima.
Ao contrário do que estas pessoas pensam, eu amo o Papa. Até ouso dizer que o
amo mais do que a maior parte, se não todos, dos seus conselheiros. Francamente, até
penso que estou a mostrar mais amor pelo Cardeal Bertone do que ele por si próprio.
Não digo isto de ânimo leve. Nem digo isto para me gabar; mas se me acusam
de odiar, então tenho de responder à acusação. É o meu amor por Deus e pelo próximo
que me tem conduzido nos últimos trinta e seis anos. Sei a verdade sobre Fátima, e
sobre o que acontecerá ao Papa e aos Bispos e a todos nós, se não obedecerem muito
depressa a Nossa Senhora de Fátima. Como podia eu justificar-me se não falasse?
A nossa obrigação de amar a verdade
sobre a Mensagem profética de Fátima
Há pessoas que são muito industriosas em relação ao trabalho físico ou em
vencer na vida em assuntos temporais, mas quando se trata de procurar a verdade, são
um pouco preguiçosas.
As nossas vidas (e muito provavelmente até as nossas almas) dependem de
conhecermos a verdade sobre a Mensagem de Nossa Senhora de Fátima. Se tivermos
um verdadeiro amor pelo próximo, ele mostrar-se-á pela nossa aplicação em aprender e
divulgar a verdade que precisamos de conhecer pelos nossos melhores interesses
verdadeiros.
É porque há hoje tão pouco amor da verdade no mundo e na Igreja que a
Mensagem de Fátima é tão pouco conhecida e tão mal compreendida. É porque há hoje
tão pouco amor da verdade no mundo e na Igreja que a Mensagem de Nossa Senhora for
reduzida ao silêncio e, na prática, Nossa Senhora foi rejeitada.
Se houvesse maior amor pela verdade entre os Católicos de hoje, veríamos
muito mais pessoas a procurar a verdade sobre a Mensagem de Fátima, e em seguida a
defendê-la e a divulgá-la.
Mas que resposta recebeu Nossa Senhora de Fátima? Não lhe têm dado a
atenção que merece. Não agimos de acordo com a Sua Mensagem. Não a divulgámos.
Em resumo, não a amámos. Pusemos de lado a verdade, porque estava em conflito com
outras coisas que tinham um lugar mais importante nos nossos corações – coisas mais
baixas, como o respeito humano, e uma complacência que não quer incomodar-se com
controvérsias.
Quando digo “nós” não estou necessariamente a referir-me a todas e cada uma
das pessoas, mas estou a dizer que, em geral, em linhas gerais, é assim que os Católicos
têm respondido à Mensagem de Fátima.
18 Cf. “Resposta às afirmações falsas do Cardeal Bertone contra o Fatima Center, The Fatima Crusader,
Nº 90, Inverno de 2008, páginas 21ff (http://www.fatimacrusader.com/cr90/cr90pg21.pdf). Cf. também
The Fatima Crusader, Nº 101, Primavera de 2012, páginas 66ff
(http://www.fatima.org/port/crusader/cr101/cr101pg03.pdf).
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Há actualmente um grande silêncio em grande parte da Igreja sobre os pedidos
de Fátima. Segundo muitos, seria desleal contradizer o que o Cardeal Bertone disse, ou
embaraçá-lo ou aborrecê-lo, ou a outros eclesiásticos. Mas o facto é que, se amamos a
verdade, não podemos tomar essa atitude.
Se virmos uma criança em perigo e pudermos impedi-la de se magoar ou se
atingir alguém pela sua falta de conhecimento ou de experiência, temos obrigação, em
caridade, de lhe explicar a situação. Temos obrigação de lho dizer uma e outra vez até
conseguirmos maneira de fazer compreender à criança que lhe estamos a dizer algo de
sério, com consequências importantes para a sua segurança.
Esta é a posição em que nos encontramos. Todos nós, que compreendemos a
Mensagem de Nossa Senhora, temos a obrigação de falar dela uma e outra vez, para
todos os que nos ouvirem. Não há Mensagem mais importante para o nosso tempo –
não há nada que se possa comparar à Mensagem de Fátima, tanto em termos da sua
abrangência na abordagem das nossas necessidades actuais como em termos da
gravidade das consequências de a negligenciar.
O Papa João Paulo II explicou toda a Mensagem de Fátima como resposta do
amor da nossa Mãe do Céu. Porque veio Ela a Fátima? O Santo Padre responde a esta
pergunta com outra pergunta:
“Pode a Mãe, Que, com toda a força do amor que tem no Espírito
Santo e Que deseja a salvação de todos, pode Ela manter-se em silêncio
quando vê minadas as próprias bases da salvação dos Seus filhos? Não,
não pode.” 19
Quando esta Mãe viu os filhos em perigo, não podia manter-se em silêncio. A
salvação eterna das almas dos Seus filhos estava em risco, e esta situação ainda hoje se
mantém. Bastava uma só alma para o justificar, mas estamos a falar de milhões ou
milhares de milhões de almas, cuja salvação dependerá, em última análise, da nossa
resposta à Mensagem de Nossa Senhora:
“Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas….”
A verdade antes das lealdades pessoais
Fátima é atacada por pessoas que dizem amar a Nossa Senhora. Só Deus
conhece os seus corações – não pretendo ser capaz de os julgar. O que digo é que é
impossível amar correctamente a Nossa Senhora e ao mesmo tempo desprezar a
plenitude da verdade que Ela veio dar-nos.
Estas pessoas dizem que eu estou contra o Papa. Como pode ser assim, se estou,
literalmente, a tentar salvar o Papa? O Papa recebeu uma Mensagem 20 através da Irmã
19 Sermão em Fátima, 13 de Maio de 1982. Cf. Padre Paul Kramer, O derradeiro combate do demónio, 2ª
Edição, The Missionary Association, Terryville, Connecticut, 2010, páginas 199, 216. 20 Revelação de Agosto de 1931 à Irmã Lúcia (dois anos e dois meses depois do pedido formal de Nossa
Senhora para a Consagração da Rússia em 13 de Junho de 1929), contada ao seu Bispo numa carta de 29
de Agosto de 1931: “Participa aos Meus ministros que, dado seguirem o exemplo do rei de França, na
demora em executar o Meu mandado, tal como a ele aconteceu, assim o seguirão na aflição.” (Padre
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Lúcia, 21 vinda de Nosso Senhor, avisando-o de que, por atrasar a execução da Sua
ordem para consagrar a Rússia, o Papa seguiria o Rei de França na aflição.
Nosso Senhor estava a referir-se ao Rei Luís XVI, que foi Rei de França quando
começou a Revolução Francesa em 1789. O Rei foi executado na guilhotina, como se
fosse um criminoso. Da mesma maneira, na Visão do Terceiro Segredo 22 publicada
pelo Vaticano em Junho de 2000, vemos um Papa a ser executado. Em ambos os casos,
diz Nosso Senhor, estes sofrimentos são o resultado de não obedecerem à Sua ordem.
Desde a altura em que foram transmitidas estas profecias, nenhum Papa
consagrou a Rússia, juntamente com os Bispos Católicos, e nenhum Papa foi executado.
Sabemos, portanto, que a visão profética do Terceiro Segredo não se refere a coisas no
passado. A realização destas profecias terríveis está a aproximar-se cada vez mais.
A clara verdade da Mensagem de Fátima é que as nossas vidas e almas estão no
maior dos perigos. Todo o mundo será escravizado por um regime satânico, e nações
inteiras serão aniquiladas, 23 a não ser que obedeçamos aos pedidos de Nossa Senhora
de Fátima.
A verdade é mais importante do que as aparências ou as lealdades pessoais. A
verdade deve ser defendida e propagada. Devemos fazê-lo em caridade, é um facto, e
espero que eu actue com caridade. Deus sabe que serei julgado por isto como qualquer
outra pessoa. Mas devemos, a todo o custo, em primeiro lugar, amar e defender e
propagar a verdade.
Joaquín Alonso, Fátima ante la Esfinge, Imprensa “Sol de Fátima”, Madrid, 1979, página 97.) Cinco
anos mais tarde, a Irmã Lúcia contou mais coisas sobre esta revelação numa carta de 1936 ao seu
confessor, Padre José Gonçalves. Depois de dar os pormenores do pedido formal de Nossa Senhora para
a Consagração em 1929, Lúcia acrescentou: “Mais tarde, por meio de uma comunicação interior, Nosso
Senhor, queixando-Se, disse-me: ‘Não quiseram atender ao Meu pedido! Como o rei de França,
arrepender-se-ão e fá-la-ão, mas será tarde. A Rússia terá já espalhado os seus erros pelo Mundo,
provocando guerras e perseguições à Igreja: o Santo Padre terá muito que sofrer!’” (Padre António
Martins, Documentos de Fátima, Porto, 1976, página 465.) Ambos os textos são citados em Frère Michel
de la Sainte Trinité, The Whole Truth About Fatima, Vol. II, Immaculate Heart Publications, Buffalo,
Nova Iorque, 1989, páginas 543-544.
21 Lúcia dos Santos era uma das três crianças a quem Nossa Senhora de Fátima apareceu em 1917.
22 “Vários outros Bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas subiam uma escabrosa montanha, no cimo da
qual estava uma grande Cruz de troncos toscos, como se fora de sobreiro com a casca; o Santo Padre,
antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo, com andar vacilante,
acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado
ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz, foi morto por um grupo de soldados,
que lhe disparavam vários tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo, uns trás outros, Bispos,
sacerdotes, religiosos e religiosas e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e
posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos, cada um com um regador de cristal em a
mão; neles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de
Deus.” (Congregação para a Doutrina da Fé, A Mensagem de Fátima, 26 de Junho de 2000,
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20000626_mes
sage-fatima_po.html).
23 Nossa Senhora de Fátima disse na Sua aparição de 13 de Julho de 1917: “Se atenderem a Meus
pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo
guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados; o Santo Padre terá muito que sofrer;
várias nações serão aniquiladas.”
http://www.fatima.org/port/news/devemos_amar_a_verdade.pdf
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Como disse muitas vezes, não odeio o Cardeal Bertone. Rezo por ele todos os
dias. O nosso amor da verdade força-nos a opormo-nos publicamente ao Cardeal
Bertone, porque ele assumiu uma posição pública que não é verdadeira. A nossa defesa
da verdade não é motivada por ódio pessoal – de modo nenhum. Tomámos a nossa
posição simplesmente porque a verdade é um bem mais elevado que a deferência que
desejarmos mostrar a um funcionário do Vaticano.
Precisamos de ter a atitude certa com respeito à nossa lealdade ao cargo e às
pessoas dos funcionários da Igreja. Seja qual for a sua categoria – o Papa, os Cardeais e
os Patriarcas, os Bispos e os padres – não há autoridade na Igreja que possa enganar
legitimamente os fiéis, seja de que maneira for, e especialmente num assunto que pode
pôr em risco a suas salvação eterna.
Isto é exactamente o que tem acontecido nos últimos cinquenta anos, e não só
relativamente a Fátima. A própria Fé está sob ataque de dentro da Igreja, como Nossa
Senhora avisou (falaremos disto mais adiante neste livro).
A nossa obrigação de nos informarmos
e de defendermos a verdade
Deus deu-nos a nossa inteligência por uma razão, e precisamos de a usar. É por
isso que é tão importante aprender o Catecismo, porque Deus quer que conheçamos a Fé
– cada um de nós. Nosso Senhor não se limita a dizer: “Baptizem-se, recebam os
Sacramentos, e aceitem como verdade evangélica tudo o que vier da boca de um padre,
de um Bispo, de um Cardeal ou de um Papa!”
Até Andrea Tornielli, um Vaticanista do jornal secular Il Giornale, que falou na
nossa Conferência de 2011, Consagração Já!, disse: “Se o Papa pregasse uma heresia –
o que é concebível, segundo a doutrina da Igreja – então não devemos segui-lo nesse
particular.” 24 Ora bem, como podemos saber se o Papa está a pregar uma heresia se
primeiro não examinarmos o que ele diz e tentarmos compreendê-lo? Por outro lado,
não há nada na Fé Católica, ou nas práticas e Tradição Católicas, ou na Teologia
Católica que justifique uma atitude vergonhosa como esta: “O Papa disse ou fez esta ou
aquela coisa escandalosa, mas devemos aceitá-la à mesma!”
Temos que fazer um trabalho intelectual, temos que pensar por nós próprios,
temos que procurar a verdade! A preguiça intelectual é um vício, mesmo quando se
esconde atrás de palavras como “obediência” e “lealdade” para salvar as consciências.
Não há desculpa para a maneira como tantos Católicos se fizeram
voluntariamente cegos à verdade da Mensagem de Fátima. Nossa Senhora falou nos
termos mais simples que se podem imaginar: “Se atenderem a Meus pedidos, a Rússia
se converterá e terão paz.” 25 Daquele momento até à actualidade, não houve a
conversão da Rússia nem paz no mundo, mas aparece o Secretário de Estado do
Vaticano a dizer: “A Consagração foi feita em 1984. Foi pena não terem dado por ela.
24 Citado em The Fatima Crusader, Nº 101, página 68
(http://www.fatima.org/port/crusader/cr101/cr101pg03.pdf). 25 Aparição de 13 de Julho de 1917.
http://www.fatima.org/port/news/devemos_amar_a_verdade.pdf
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Não houve uma menção da Rússia nem participaram todos os Bispos, 26 mas a vida é
assim.” E as pessoas respondem, “Tudo bem, obrigado, já posso voltar a adormecer.”
26 Nossa Senhora fez o Seu pedido formal de Consagração da Rússia numa aparição na capela do
convento da Irmã Lúcia, em Tuy, Espanha, em 13 de Junho de 1929. Lúcia contou o pedido de Nossa
Senhora num apontamento manuscrito no seu diário, com data de 6 de Novembro do mesmo ano:
“Nossa Senhora disse:, ‘É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer e ordenar
que em união com Ele e ao mesmo tempo o façam todos os Bispos do mundo, a consagração da Rússia
ao Meu Imaculado Coração’, prometendo por este dia de oração e reparação mundial, convertê-la”
(Padre António Martins, Fátima e o Coração de Maria, Editorial Franciscana, Braga, 1985, páginas 78-
79, citado por Frère Michel, The Whole Truth About Fatima, Vol. II, página 555.)
Com respeito à participação de todos os Bispos, a Irmã Lúcia clarificou-a para o Papa João Paulo
II, através do seu emissário, o Arcebispo Sante Portalupi (Núncio Apostólico em Lisboa), que,
juntamente com o assessor pessoal do Núncio, o Dr. Francisco Lacerda, e o Bispo de Leiria, D. Alberto
Cosme do Amaral, se encontrou com ela no parlatório do seu convento em 21 de Março de 1982 (os
pormenores deste encontro foram contados pelo Dr. Lacerda ao Padre Pierre Caillon, chefe do Exército
Azul em França): “Para que os Bispos de todo o mundo estejam unidos ao Papa nesta Consagração da
Rússia ao Imaculado Coração de Maria, o Papa deve ou convocar todos os Bispos para Roma, ou
para outro lugar – Tuy, por exemplo – ou então ordenar aos Bispos do mundo inteiro que organizem,
cada um na sua catedral, uma cerimónia solene e pública de Reparação e de Consagração da Rússia
aos Sagrados Corações de Jesus e Maria.” (Pierre Caillon, La Consécration de la Russie aux Très
Saints Coeurs de Jésus et de Marie, ed. Téqui, 1983, página 31, ênfase acrescentado. Citado por Frère
Franҫois de Marie des Anges, Fatima: Tragedy and Triumph, Immaculate Heart Publications, Buffalo,
Nova Iorque, 1994, página 156.)
Aparentemente, esta informação não foi transmitida correctamente ao Santo Padre. Dois meses
mais tarde, em 13 de Maio de 1982, João Paulo II fez uma Consagração solene, não da Rússia mas do
mundo, e sem ter ordenado aos Bispos Católicos de todo o mundo que se lhe associassem. Mais
adiante, quando lhe perguntaram qual era o significado desta tentativa, à luz do pedido de Fátima, a
Irmã Lúcia respondeu: “A Consagração da Rússia, a que Nossa Senhora pediu, ainda não foi feita.”
(Carta de 11 de Agosto de 1982 à sua prima Maria do Fetal, publicada pelo Padre Pierre Caillon em La
Consecration de la Russie aux Très Saints Coeurs de Jésus et de Marie, páginas 45-46, citado por Frère
Franҫois, Fátima: Tragedy and Triumph, página 164.) No ano seguinte, o Papa enviou mais uma vez o Arcebispo Portalupi para falar com a Irmã
Lúcia, em preparação para outra cerimónia de Consagração que teria lugar em 1984. Esta entrevista
deu-se em 19 de Março de 1983. O Dr. Lacerda foi mais uma vez convidado a estar presente, assim
como o Padre Messias Coelho (um especialista português de Fátima e amigo de longa data da Irmã
Lúcia). A Irmã Lúcia leu em voz alta aos três esta declaração preparada: “No Acto de oferta de 13 de
Maio de 1982, a Rússia não aparecia claramente como objecto da Consagração. E cada Bispo não
organizou na sua diocese uma cerimónia pública e solene de reparação e Consagração da Rússia. O
Papa João Paulo II renovou simplesmente a Consagração do mundo feita pelo Papa Pio XII em 31 de
Outubro de 1942. Desta Consagração do mundo poderão esperar-se alguns bons efeitos, mas não a
conversão da Rússia.” (Relatado pelo Padre Pierre Caillon no periódico mensal Fidélité Catholique,
B.P. 217-56402. Auray Cedex, França; citado por Frère Franҫois, Fatima: Tragedy and Triumph,
página 165.)
O Santo Padre (aparentemente incapaz de vencer a resistência dentro da Cúria contra uma
Consagração específica da Rússia) avançou com os seus planos para fazer outra Consagração, mais,
mais uma vez, uma simples Consagração do mundo. Desta vez, porém, pelo menos convidou (não
ordenou) os Bispos a associarem-se a ele.
Em 22 de Março de 1984, três dias antes de a cerimónia ter lugar, a Irmã Lúcia visitou a sua
velha amiga, Maria Eugénia Pestana. Maria perguntou-lhe: “Então, Lúcia, a Consagração é no
Domingo?” E Lúcia respondeu (tendo já recebido uma cópia do texto que o Santo Padre iria usar):
“Esta Consagração não pode ter um carácter decisivo. … A Rússia não aparece como o único objecto
da Consagração.” (Frère François, Fatima: Tragedy and Triumph, páginas 167-168. A resposta foi
contada pela D. Eugénia Pestana no dia seguinte, numa conversa telefónica com o Padre Caillon, e este
contou depois o incidente a Frère Michel numa carta datada de 30 de Março de 1984.)
A cerimónia teve lugar segundo o que estava combinado, em 25 de Março de 1984, com a
presença de muito poucos dos 3000+ Bispos Católicos do mundo. Mais de um ano depois, a Irmã Lúcia
foi entrevistada por um representante da secção espanhola do Exército Azul, para um artigo a ser
publicado no seu periódico oficial, Sol de Fátima. Ao ser perguntada se, depois do acto de 1984 de
João Paulo II, a Consagração tinha finalmente sido feita como Nossa Senhora pedira, Lúcia respondeu:
http://www.fatima.org/port/news/devemos_amar_a_verdade.pdf
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Esta espécie de preguiça é um dos grandes pecados do nosso tempo, e está a
conduzir muita gente para o inferno.
O amor da verdade requer que procuremos a verdade e aceitemos a verdade.
Devemos também defender a verdade e insistir nela. Não podemos afirmar que amamos
mesmo a verdade se não a aceitarmos e defendermos. Não podemos afirmar que
amamos mesmo os homens deste mundo se não tentarmos ajudá-los a adquirir o que
sabemos que é para seu bem.
Precisamos de ter uma compreensão clara do que são as nossas obrigações, aos
olhos de Deus e de Nossa Senhora. A nossa primeira obrigação relativa a Nossa
Senhora de Fátima é procurar e aceitar – amar – a verdade da Sua Mensagem.
As profecias de Fátima não se opõem às devoções de Fátima. Não devia ser
necessário dizer isto. Como é que se podiam opor umas às outras? É impossível. Mas
nos últimos vinte anos, e mais, alguns homens sem escrúpulos, ocupando altos cargos
na Igreja, têm apresentado estes dois aspectos da Mensagem como se estivessem em
oposição.
Estes homens abusaram da sua autoridade na Igreja e da confiança que os fiéis
instintivamente lhes dão. Vemos isto pela carta que veio do Vaticano em Julho de 1988
– ao que parece, do Cardeal Casaroli – dizendo que devemos todos pensar e dizer que a
Consagração da Rússia está feita.
A santa obediência nunca pode exigir-nos que mintamos. Ninguém, seja ele um
padre, um Bispo, um Cardeal, ou o Papa, ninguém pode ordenar-nos que mintamos. É
claro que podem dar voz a essa ordem, mas não têm autoridade para darem, de facto,
uma tal ordem.
Não tenho problemas de consciência em contradizer um Cardeal, ou até mesmo
o Secretário de Estado do Vaticano, se souber que o que ele diz é falso. Toda a gente
devia ter a mesma convicção e a mesma facilidade de decisão, mas, por qualquer razão,
não é esse o caso. A maio parte das pessoas parece pensar – devido a uma visão
distorcida da lealdade e da obediência – que têm que aceitar uma falsidade. Isto não é de
Deus. É do demónio.
Ora bem, pode alguém dizer que é preciso estarmos certos de nós próprios antes
de resistirmos publicamente a um prelado da Igreja; e sim, temos mesmo de estar certos
de nós próprios. É como diz S. Tomás 27 sobre fazer uma defesa pública da Fé contra
ataques públicos à mesma Fé. Ele sublinha que só alguém que tem bons conhecimentos
de estudos teológicos deve entrar numa defesa pública da Fé, como, por exemplo, um
debate com um não-crente, porque se uma pessoa não for capaz de fazer devidamente
essa tarefa, pode dar a ideia de que a Fé não tem uma explicação satisfatória.
“Não. Muitos Bispos não deram importância a este acto.” O entrevistador insistiu com a Irmã Lúcia:
“João Paulo II convidou todos os Bispos a associarem-se à Consagração da Rússia, que ele iria fazer
em Fátima em 13 de Maio de 1982, e que veio renovar no fim do Ano Santo, em Roma, em 25 de
Março de 1984, perante a imagem original de Nossa Senhora de Fátima. Não teria feito o que foi
pedido em Tuy?” A isto, a Irmã Lúcia respondeu secamente: “Não houve a participação de todos os
Bispos e não houve uma menção da Rússia.” (Sol de Fátima, Setembro de 1985.) 27 S. Tomás de Aquino, Summa Theologica, II-II, Q. 10, A. 7.
http://www.fatima.org/port/news/devemos_amar_a_verdade.pdf
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Mas o contrário também é válido. Para quem tiver instrução e conhecimento e
capacidade para defender publicamente a Fé, há uma obrigação de o fazer. E S. Tomás
sublinha-o também, citando S. Gregório o Grande:
“Assim como palavras ditas sem pensar produzem o erro, assim
um silêncio indiscreto deixa no erro aqueles que podiam ter sido
instruídos.” 28
Mesmo os que não estejam qualificados para representar a Fé num fórum
público podem também defender a verdade, em conversação privada, e têm também a
obrigação de o fazer.
Posso, desde já, dizer-lhes que, ao assumir esta posição, não estou a apoiar-me
nalgum conhecimento especial que tenha aprendido durante o meu curso de estudos
doutorais em Teologia Sagrada. Este assunto é tal que até as crianças o podem
compreender. Não podemos ir atrás das mentiras que estão a ser propagadas contra a
Mensagem de Fátima, venham elas de onde vierem.
Na medida em que o Papa, os Bispos e os sacerdotes são por Cristo, é neles que
deve residir a nossa lealdade. Muitas vezes estão alinhados com a Fé, mas por vezes não
estão. Nesse caso, temos de escolher entre lealdades em conflito. Como devemos
escolher? Em primeiro lugar, Cristo e a Verdade. Cristo identifica-Se como a Verdade, e
é aqui que a nossa primeira lealdade tem de estar.
A verdadeira Consagração da Rússia
acabará com todas as guerras
Tomei sobre mim o encargo de defender a verdade sobre a Mensagem de
Fátima, com um Apostolado a tempo completo, dedicado inteiramente a promover e a
defender esta Mensagem. Mas muitos outros padres estão a minar de propósito os
esforços do Fatima Center, dizendo: “Não ouçam o Padre Gruner. É desobediente. Nem
sequer leiam The Fatima Crusader. Ponham-na no lixo.”
Alguém no Vaticano pediu ao Padre Robert Fox que organizasse o seu próprio
Apostolado de Fátima, e ele “obedientemente” começou a anunciar por toda a parte que
a Consagração está feita, e que não se devia dar ouvidos ao Padre Gruner. Respondemos
em pormenor às afirmações do Padre Fox, num artigo intitulado “O ataque modernista
do Padre Fox contra Fátima,” por Christopher Ferrara. 29 É um artigo importante, e
recomendo a quem tiver dúvidas sobre este assunto que o leia.
Temos também uma gravação em vídeo de uma entrevista do Padre Fox, em que
foi perguntado: “A Consagração da Rússia já foi feita?” Respondeu ele: “Sim, foi.” Mas
mais adiante, para o fim da entrevista, perguntaram-lhe: “Está preocupado com alguma
coisa?” E o Padre Fox respondeu: “Sim, estou preocupado com a guerra.”
28 Papa S. Gregório o Grande, Liber Regulae Pastoralis, ii, 4. 29 Este longo artigo (publicado num folheto de 28 páginas) está disponível na Internet em três partes.
começando com http://www.fatima.org/port/essentials/opposed/pdf/062504frfox1.pdf
http://www.fatima.org/port/news/devemos_amar_a_verdade.pdf
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Eis aqui um homem que passou os últimos vinte anos da sua vida a promover a
ideia de que a Consagração da Rússia já tinha sido feita, e ao mesmo tempo dizendo-nos
que receia que haverá outra guerra terrível – que, de facto, havia de haver sempre
guerras.
Mas Nossa Senhora de Fátima disse que seria concedido à humanidade um
tempo de paz quando a Rússia fosse devidamente consagrada ao Seu Imaculado
Coração!
O Padre Stefano Gobbi, do Movimento Sacerdotal Mariano, perguntou-me em
particular, em 1989, na altura em que o Padre Fox andava em pé de guerra sobre a
Consagração ter sido feita: “O Padre Fox está a tentar chamar mentirosa à Santíssima
Virgem?”
Talvez o Padre Fox não tivesse a intenção de ver as suas declarações
interpretadas assim, mas, de facto, era exactamente o que estava a fazer, quando dizia,
por um lado: “A Consagração está feita,” e por outro lado: “Mas havemos sempre de ter
guerras.”
Ora bem, não se pode ter razão das duas maneiras. A verdade é a verdade, e o
primeiro princípio da verdade é o princípio da não-contradição. Não se pode ter Nossa
Senhora a prometer um tempo de paz quando fossem atendidos os Seus pedidos, e
depois dizer que havemos sempre de recear mais guerras, mesmo depois de os pedidos
de Nossa Senhora terem sido atendidos, sem Lhe chamar mentirosa. Que Deus tenha
piedade nele.
Não devemos iludir-nos Não quero estar a concentrar-me no Padre Fox ou nos Cardeais Casaroli e
Bertone, como se fossem os únicos eclesiásticos a fazer estas coisas. Este programa tem
sido constante, praticamente de cima a baixo, entre demasiados eclesiásticos nos
últimos 25 anos, começando com a Secretaria de Estado do Vaticano e imposto até à
mais ínfima paróquia católica ou escola diocesana ou jornal católico. É uma campanha
blasfema para distorcer e deturpar a Mensagem de Fátima, ou pelo menos para silenciar
quem tente dar a conhecer a verdadeira Mensagem.
Usam todas as tácticas nefastas de uma sociedade secreta para o fazer, mas a
Igreja não é uma sociedade secreta. Como disse o Papa Leão XIII na sua encíclica sobre
a filosofia cristã, Deus não só é verdadeiro como a própria Verdade. Portanto, a Igreja
nada tem a temer da verdade. Pelo contrário, é só procurando e aceitando e defendendo
e insistindo na verdade que conservaremos a nossa sociedade e até mesmo as nossas
almas:
“O Filho unigénito do Pai Eterno, que veio à terra para trazer a
salvação e a luz da sabedoria divina aos homens, conferiu uma grande e
maravilhosa bênção ao mundo quando, prestes a ascender de novo ao
Céu, ordenou aos Apóstolos que fossem ensinar todas as nações, e deixou
a Igreja que tinha fundado para ser a mestra suprema e comum dos povos.
http://www.fatima.org/port/news/devemos_amar_a_verdade.pdf
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Porque os homens a quem a verdade tinha libertado seriam conservados
pela verdade.” 30
Não temos esperança, a não ser na verdade!
Vi-me forçado a reflectir uma e outra vez sobre as palavras que o Papa Bento
XVI usou, quando foi a Fátima em 13 de Maio de 2010:
“Ilude-se quem pensar que a missão profética de Fátima está
concluída.” 31
Todos devemos fazer por não julgar os outros. A verdade, como já disse, é
fundamental; mas o que é claro para uma pessoa não é necessariamente claro para
todos. Não podemos presumir que uma pessoa tem má vontade, simplesmente porque
não concorda connosco. Só Nosso Senhor conhece os corações dos homens.
Mesmo assim, o Papa Bento XVI pôde dizer sem reservas, perante 500.000
pessoas em Fátima, que os eclesiásticos que têm gasto tanto tempo e energia a tentar
propagar esta grande mentira, dizendo que “os acontecimentos a que faz referência a
terceira parte do “segredo” de Fátima parecem pertencer já ao passado,”32 iludiram-se a
si próprios se acreditam de facto nessa mentira! A verdade da Mensagem e da nossa
situação é tão clara, diz ele, que só bloqueando deliberadamente a verdade se pode
acreditar numa tal mentira.
E isto aplica-se também a todas as pessoas que aceitam a mentira com base em
noções falsas de “obediência” ou de lealdade ou de submissão que possam ter. Ele não
disse, ‘enganar-se-ia’ – disse que se estaria a iludir a si próprio quem pensasse assim.
Há quem discorde do que estou a dizer, que afirmam que são mais Católicos do
que eu, que afirmam ser mais leais e mais fiéis à Igreja do que eu, que afirmam que
amam o Papa mais do que eu, e só Deus sabe se assim é ou não. Mas foi o próprio Santo
Padre que disse que estas pessoas estão a iludir-se a si próprias sobre a Mensagem de
Fátima.
Eles estão a iludir-se quando dizem que o pedido de Nossa Senhora para a
Consagração da Rússia já foi satisfeito. Estão a iludir-se quando dizem que todo o
Terceiro Segredo foi dado a conhecer. Estão a iludir-se quando dizem que as horríveis
profecias do Terceiro Segredo fazem parte do passado. E esta mentira custará a milhões,
ou até mesmo milhares de milhões de pessoas as suas vidas e a sua salvação eterna, se
não ultrapassarmos a tempo este engano.
30 Papa Leão XIII, Encíclica Aeterni Patris, “Sobre a restauração da Filosofia Cristã,” 1879, §1, 5. 31 http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/homilies/2010/documents/hf_ben-
xvi_hom_20100513_fatima_ en.html. A tradução para inglês, feita pelo Vaticano, enfraquecia
dramaticamente a afirmação do Papa, dizendo: “Estaríamos enganados se pensássemos que…” Mas o
original do Papa, em italiano, era muito forte e bastante claro: “Si illuderebbe chi pensasse che la
missione profetica di Fátima sia conclusa.” 32 Congregação para a Doutrina da Fé, A Mensagem de Fátima, “Anúncio” do Cardeal Angelo Sodano, 26
de Junho de 2000;
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20000626_mes
sage-fatima_po.html
http://www.fatima.org/port/news/devemos_amar_a_verdade.pdf
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Um autêntico amor à verdade significa necessariamente defender a verdade, e
denunciar os mestres indignos de confiança e falsos que estão a desencaminhar os fiéis.
Não é desobediência nem ‘divisão’ errada estar a defender a verdade perante estas
mentiras. As mentiras é que são divisivas. Seguir estes enganos, seguir estas mentiras é
que é perigoso. Se as deixamos estabelecer, estas mentiras poderão matar milhões e
milhões de almas. Estas mentiras vêm do pai das mentiras – o demónio. Estas mentiras
têm de ser desmascaradas. Os mentirosos devem ser parados antes que destruam todo o
mundo.
http://www.fatima.org/port/news/devemos_amar_a_verdade.pdf
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