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    1. Spiritua/itat Haute und Morgen, Geist und Leben, nov. 1966.

    Roma, 8 de maio de 1979.L.P.

    Finalmente, alguern poderia perguntar porque sao citados taopoucos nomes dos que estao atualmente comprometidos com asCVX. Certamente se podera mencionar urn grande numero de sa-cerdotes, de homens, de mulheres, de jovens, de jesuitas; mas alista seria demasiado longa e nestes casos existe sempre 0 peri-go da omissao.

    Entender-se-a porque, com profundo agradecimento, recordoapenas cinco leigos, que de maneira muito pessoal, contribuiramgenerosamente para inaugural' a realidade do movimento CVX talcomo existe hoje. Seus nomes sao: Jose Lasaga (CUba), prirnei-1'0 presidente da F.M. (1954-59); seus tres sucessores: Antonio San-tacruz, do Mexico (1959-64); Eric Mathias, da India (1964-70); Ro-land Calcat, da Franca (1970-76) e Edithe Westenhaver, dos EUA,primeira secreta ria Executiva (1965-70).

    Os delegados da F.M., que em 1967 aprovaram POl' voto 0 no-vo nome e os Principios Gerais, tambem estiveram de acordo, pe-10 que parece, com esta opiniao. Efetivamente, a carta de con-firmacao da Santa Se menciona: "Com 0 desejo de urn melhorservice, os participantes da Assembleia Geral resolveram adotaro nome de Federacao Mundial das Comunidades de Vida Crista,pensando que este titulo expressava melber a realidade e 0 di-namismo interno de sua associacao, sem se esquecer de nenhumde seus elementos especificos".

    Se 0 leitor tiver paciencia de ler ate 0 fim, vera que estouplenamente de acordo com 0 Pe. Karl Rahner que, pouco depoisdo encerramento do Concilio Vaticano II, escrevia: "Na espiritua-lidade crista, faz-se impossivel separar 0 antigo do novo. Istoporque 0 novo nao e autentico se nao conserva 0 antigo e por-que 0 antigo nao conserva sua vitalidade se nao e vindo de urnnovo". 1

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    Este suplemento e a resposta a inumeras perguntas. Ja fazanos, alguns amigos expressavam 0 desejo de serem informadosespecialmente sobre as origens da Federacao Mundial (F.M.). Recentemente, em ocasi6es divers as, alguns me comunicaram seudesejo de saber porque e como a Congregacao Mariana (C.M.) setranstormou em Comunidade de Vida Crista (CVX). No ana pas-sado 0 Conselho Executivo da F.M. convidou-me para escrever urnsuplemento sobre este assunto.

    Dada a impossibilidade de se entender 0 assunto sem 0 conhe-cimento das linhas principais de uma longa hist6ria, e necessarioque se remonte as origens da Companhia de Jesus, ate sua suopressao em 1773. 0 primeiro capitulo fornece a tnrormacao es-sencial sobre a C.M. no periodo que vai da fundacao da Compa-nhia ate sua supressao em 1773. 0 segundo capitulo exp6e bre-vemente os maio res acontecimentos dos anos seguintes ate a pro-mulgacao da Constituicao "Bis Saeculari" (1948). A luz destahist6ria, todos os novos desenvolvimentos se fazem inteligiveis eclaros: tal e 0 conteudo do terceiro capitulo. Nele narro os fatoscomo os vivi.

    I - INTRODU

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    o fogo se comunica espontaneamente. Nao nos surpreende,pois, a descricao que 0 Pe. Villaret faz no primeiro capitulo de seulivro sobre a primeira etapa da hist6ria das C.M. Da exemplos

    Iniciadores

    o primeiro que se pas em contato com 0 fogo de Santo Ina-cio foi urn sacerdote diocesano, Ferdinand Sassen. Especialistana hist6ria da filosofia, ele era professor de hist6ria (internacio-nal nacional e eclesiastica) no colegio onde eu era interno. Suarnaneira de dar aula era fascinante, porque extremamente inteli-gente, vibrava de entusiasmo e era mestre na arte da educacao.Todo 0 colegio conhecia sua admiracao, quase exagerada, pelos je-suitas. Consagrava-Ihes urn tempo que parecia desproporciona-do durante os cursos de hist6ria da Igreja. Mas todos achava-mos aquilo maravilhoso e foi inesquecivel, para 0 bern dos alunos.Tambem em mim ele causou uma impressao profunda. Tomeiate a decisao de que, se fosse sacerdote, seria jesuita.

    Como todos os bons colegios desta epooa, nos Paises Baixos,tinhamos uma oongregacao Mariana. Minha surpresa foi grandequando ao sair do colegio fiquei sabendo que esta associacao foifundada pelos jesuitas. Isso mudou a modesta opiniao que eutinha a respeito dela. Como prefeito da divisao dos alunos maio-res, tive que redigir urn relat6rio sobre a oongregacao Marianano anuario do Colegio. Este foi 0 meu primeiro artigo sobre anecessidade de uma renovacao.

    Na universidade, encontrei de novo uma C.M. Estava berndistante do fogo de Santo rnacto. Encontrei tambem urn antigoprofessor, que no momenta era professor de hist6ria da filosofia.Colaboramos no desenvolvimento da formacao filos6fica em to-das as faculdades. Embora meu interesse pela CM. e ate pelosjesuitas houvesse se tornado marginal, no fundo do coraeao mi-

    o Fogo de Inacio

    1540- 1773

    nha decisao secreta permanecia intacta, e ainda se retorcava mi-nha primeira conviccao: a Ordem dos jesuitas s6 convem a ho-mens excepcionais. Para mim e impossivel.

    Urn dia de 1932, durante 0 meu terceiro ano, 0 capelao dauniversidade me pediu que recrutasse participantes para 0 reti-ro anual dos estudantes. Fiz 0 maximo que pude e fui para 0 re-tiro em companhia de quinze companheiros excelentes. 0 con-junto das outras universidades enviou mais ou menos 0 mesmonumero. Foi entao que ocorreu 0 acontecimento. Sem procurarnada encontrei tudo. Foi como a graca mais pura de toda a mi-nha vida: uma surpresa repentina e inacreditavel, Foi-me dadatanta luz, tanta paz, tanta consolacao e liberdade que desapare-ceu ate a menor dtivida. A certeza da autenticidade da experien-cia permaneceu: Deus me chamava para a Companhia de Jesus.Eu havia estado em contato com 0 fogo, com 0 fogo de Jesus,com 0 fogo de Inacio e este contato duraria para sempre.

    Conto esta pequena hist6ria porque minha vocacao de jesui-ta praticamente se identifica com a vocacao de uma restauracaodas C.M. Mas os projetos de meus Superiores eram diferentes.Pelo menos por tres vezes me confiaram outros cargos. Mas es-tes pIanos foram modificados pelas circunstancias. Deus traba-lha assim.

    No noviciado fiquei sabendo a verdade sobre as Congrega-

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    3. J. Wicky, S.J., com a colaboracao de R. Dendal, S.J., 0 Pe. JeanLeunis 1532-1584 Fundador das Congregar;6es Marianas, Roma 1951,lnst. Hlst., S.J., 136 pp.

    2. Emile Villaret, S.J., As Congregar;6es Marianas 1, Das Origensa Supressao da Companhia de Jesus, 1540-1773, Beauchesne Paris 1947,607 pp.

    Outro volume deste tipo, tratando do segundo perfodo 1773-1948,estava em preparacao, mas a autor nao pode terrnina-lo antes de suamorte em 1952. Ap6s sua marte, encontrou-se um manuscrlto de umahist6ria abrevlada dos dais periodas juntos. Foi publicado em 1953pelo Centro Leunis de Montreal: Petit Abrege de I'Histoire, 309 pp.o Secretariado Nacional dos Estados Unidos, The Queen's Work, pu-bllcou a traducao inglesa: Abridged History of the Sodalities of OurLady, S. Louis Mo. 1957, 181 pp.

    E interessante notar como os jesuitas nao so iniciavam gru-pos novos, mas tambem com frequencta, eram convidados parareformas de confrarias de varias inspiracoes que haviam perdidoseu espirito original. Algumas vezes esses grupos se transrorma-ram em novas associacoes que adotavam a espiritualidade dosjesuitas,

    No dia 3 de maio de 1556,urn jovem de 24 anos, vestido deoperario, apresentava-se a casa dos jesuitas proxima a pequenaIgreja de Nossa Senhora da Estrada. Veio a pe desde a Ion-ginqtia Liege, na Belgica e queria ingressar na Nova Companhiade Jesus. Provavelmente ja conheceria alguns jesuitas em sua ter-ra natal. 0 proprio Inacio, juntamente com Polanco, seu secre-tario, examinaram 0 novo candidato e depois de alguns dias ini-ciou seu noviciado. rnacio faleceu tres meses mais tarde. Ele re-cebera em sua Companhia a John Leunis, com muita raeao consi-derado 0 fundador das CM. 8

    A historia e muito conhecida. No colsgio Romano, 0 centroeuropeu de formacao, fundado por Inacio em 1551,Leunis reuniuurn grupo de estudantes e os preparou para 0 apostolado na ci-dade de Roma. Fez exatamente 0 que outros jesuitas estavam fa-zendo em outros lugares. Desde 1563, seu nome e sempre lem-brado.

    Existia uma rede completa de comunicacoes entre os mem-bros da Companhia. 0 compartilhar e 0 comunicar sao caracte-rfsticas prdprias de uma comunidade feita por Inacio, como Com-panhia de amor. Leunis, portanto, conhecia os grupos leigos exis-tentes. 0 que ele comecou nao foi original. Oracaa a seus ex-cepcionais talentos de educador, ele 0 realizou de maneira origi-nal. Pelos documentos, sabemos que ele tinha urn carisma espe-cial para trabalhar com jovens.

    Ja em 1540, ana de fundacao da Companhia, Pedro Fabro di-rigia urn famoso grupo em Parma, tarnbem chamado Companhiade Jesus. Outro companheiro de Inacio, Pascoal Broet, escreve aFrancisco Xavier uma carta no dia 1. de margo de 1545, na quallhe fala de urn florescente grupo em Faenza. Antes, Francisco Xa-vier havia escrito aRoma contando a ajuda que the dava em suadificil missao urn seleto grupo de jovens, cheios de amor e de ze-10. Em 1547, 0 proprio tnacto comecou a Companhia dos 12Apostolos em Roma e um ana mais tarde, Nadal iniciou urn gru-po na Calabria. Ele comunica isso a Inacio numa carta do dia10 de abril de 1548.

    Fundaeao

    Colocou-se 0 problema sobre se as C.M. neste primeiro perio-do podiam ser consideradas como uma Terceira Ordem da Com-panhia de Jesus. E verdade que nessa epcca existia uma intimauniao entre as assoctacoes. As CM. tinham 0 espirito dos je-suitas e somente eles poderiam ser seus assistentes. Mas, as C.M.nunca foram uma Terceira Ordem. Isto ficou claro em 1773,quando se suprimiu a Companhia e as C.M. continuaram por con-ta propria. 0 que Clemente XIV fez pode ser criticado, mas 0fato foi juridicamente correto.

    de como varios grupos leigos se reuniam ao redor dos primeirosjesuitas. Cooperavam com os padres no apcstolado.> Estes gru-pos tinham diferentes nomes mas um mesmo Espirito os inspira-va. Percebe-se freqtientemente nas fontes historioas, que 0 traceinaciano era uma caracteristica de todos eles. Urn escritor contemporaneo afirma: "Se voce ve estes homens, percebera imedia-tamente que estao compenetrados do espirito da Companhia deJesus". Mencionam-se varias vezes 0 que isto significa: membrosmuito selecionados, formacao solida, meditacao e trequencia aossacramentos, flexibilidade e adaptacao a todo tipo de necessida-des.

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    4. Wicky, p. 127.5. Wicyk, p. 131.6. Wicky, p. 134.7. Elder Mullan, S.J., La Congregazione Mariana Studiata nei

    documenti, Roma, 1911, 512, p. 25.8. Mullan, pp. 146 e 277.

    Evidentemente, Leunis e seus colaboradores consideravam 0fim das C.M. como unidimensional, nao bidimensional. Eles naopensaram (como ja se afirmou) em animar a vida crista e tam-bern a vida cientifica. Eles se propuseram uma unidade de vida,reunindo todos os aspectos da existencia human a numa formade vida crista. .

    Ja que abcrdamos um dos elementos mats fundamentais dosPrincipios Gerais, gostaria de citar as quatro diferentes fontes notexto original.

    o firn

    Leunis foi original pelo menos tres aspectos. Antes de tudo,na maneira tao extraordinaria de formular 0 fim das C.M. Se-gundo, em seu estorco para promover a responsabilidade e a ati-vidade dos leigos. Terceiro, em sua maneira pratica de formarcomunidade e de desenvolver a vida oomunitaria.

    As primeiras regras comuns do Pe. Aquaviva que regeram du-rante quase tres seculos (1587-1855) expressam em term os diferen-tes 0 mesmo ideal. 0 texto original esta em Italiano: "Perche ilfine e... l'acquisto delle virtu e della pieta cristiana insieme colprofitto delle lettere" (ja que 0 fim e 0 crescimento na virtude ena vida crista juntamente com 0 progresso cientiricoj .r

    E quase incrivel que esta longa tradicao de integracao, sim-plesmente desaparec,;a quase por completo nas regras de 1855 e tam-bern mats tarde nas ultimas regras comuns de 1910." Os Princi-pios Gerais de 1967, estabe1eceram de novo 0 contato com a au-tentica inspiracao de Inacio: "nossos grupos sao para aqueles quesintam a necessidade mais urgente de unir sua vida humana, emtodas as dimensoes, com a plenitude de sua fe crista".

    Originalidade de Leunis

    Temos ainda outro texto (Iatim) escrito em 1582, pelo mesmogrupo de Paris. Diz 0 preambulo: "Primum unicuique propositumesse debet ut studia litterarum pietatemque copulet" (A principalintencao de cada urn devera ser a unidade da vida cientffica coma vida crista). G

    A expressao francesa, nas regras de 1575, e ainda mais clara.Aqui os membros do grupo do Colegio de Clermont (Paris) ondeLeunis traba1hava, escrevem assim: "Pource donne que le fin de no-tre congregation est de conjoindre les 1ettres a la piete chretienne"(ja que 0 fim de nossa congregacao e conjugar a formacao cien-tifica com a vida crista). G

    mais tarde, Gregorio XIII estabelecia canonicamente a Congre-gao do Colegio Romano. Alem disso, declarou 0 grupo de Leuniscomo "mater et caput" (Mae e cabeca) de todos os grupos seme-lhantes. Em termos canontcos: converteu-se em Primaria (grupopr'imarto) com direito a congregar outros grupos de sua mesmanatureza. Atraves desta filiacao todos os grupos participavarn dasindulgencias e privilegios da "Prirnaria".

    Depois a Primaria se dividiu, por idade, em tres grupos: pri-meira, segunda e terceira primaria. Ja que a Primeira Primariaestava sob a jurisdicao da Companhia de Jesus so 0 Superior Ge-ral podia conceder uma filiacao. Tentava-se nao sornente trans-mitir dons espirituais, mas tambem forrnar uma unidade e ga-rantir a autenticidade.

    Os membros das C.M. do Colegio Romano escrevem em suasregras de 1574 (as mais antigas que conhecemos) "desiderosi difar profitto si ne11e lettere come nello spirito ... " (querendo pro-gredir tanto em nossa formacao cientifica como espiritual). Maisadiante, no mesmo documento: "Essendo il fine di questa nostracongregazione congiungere Ie lettere con la pieta cristiana ... " (jaque 0 fim de nossa congregacao e unir a formacao cientifica co-mo a vida crista). 4

    Poucos diasJohn Leunis morreu a 19 de novembro de 1584.

    Em poucos anos 0 Colegio Romano se tornou famoso. Indi-cava nao so doutrina e espiritualidade solidas, mas tambem altacultura e ciencias humanas. Urn ambiente ideal para prepararhomens cultos, artistas, santos, martires e missionarios. Nesteambience, Leunis, fiel discipulo de Inacio, quis fazer algo mais.

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    Em nossos dias, um dos textos biblicos mais usados a 0 deMt 18,20 "Onde dois ou tres estiverem reunidos em meu nome, aliestou eu no meio deles". E 0 melbor e 0 mais belo texto no qualse pode fundamentar e justificar a vida comunitaria, Leunis e osprimeiros membros das C.M. nao so usavam este texto, mas 0 in-

    Vida Comunitaria

    Foi Leunis tambem 0 iniciador do carater mariana das C.M.?Temos alguns fatos: muitos dos primeiros grupos que se reuniamao redor dos jesuitas nao tinham explicitamente carater mariano.Claro que, como fieis catolicos, eles eram formados na escola dosExercicios e tinham um grande amor a Nossa Senhora, mas nemsempre uma especial devocao como 0 grupo de Leunis lbe dedi-cava. 'I'ambem a certo que antes de ingressar na Companhia, Leu-nis era conhecido por seu profundo amor a Mae de Deus.

    Outra resposta e dada no preambulo das primeiras regras, jamencionadas. "Ja que e costume que tais congregacoes se enco-mendem elas proprias, a urn patrono celeste para protecao e guia,e do qual tomam 0 nome, e, visto que temos uma devocao especial

    Urn quadro inspirador

    Aquaviva e seus conselheiros, pouco preocupados com consi-deracoes juridicas, tentaram, sobretudo, animar os jovens cristaosa criar urn ambiente espiritual coerente com 0 fim das C.M.: a for-macae dos leigos, conscientes de sua vocacao pessoal na Igrejade seu tempo. Uma palavra como "diretor", introduzida depoisde mais de 300 anos, nas regras de 1910, parece nao estar de acor-do com este ambiente. A concepcao de urn diretor e alheia aopensamento de Leunis e de Aquaviva e a lamentavel que se ate-nha usado em traducoes e explicag5es. Todas as regras locais e 0texto original de 1587, usam invariavelmente a palavra "padre"quase sempre junto com "prefecto" (presidente), tambem chama-do "il capo" (0 chefe) ou "superior". A combinacao "padre-pre-fecto" aparece 40 vezes e mostra a consciencia de eniatizar suaresponsabilidade comum, mais que sua diferenga hierarquica.

    As regras comuns de 1587, elaboradas pelo Pe. Aquaviva, saomenos radicais que as de Leunis, mais suficientemente impregna-das do espirito do fundador, para inspirar urn leitor atual. De fa-to, elas foram uma grande ajuda para a composicao dos Princi-pios Gerais.

    Surpreende-nos 0 tato de que os primeiros documentos do sa-culo XVI estejam muito mais de acordo com os ensinamentosdo Vaticano II sobre 0 apostolado dos leigos, que 0 docurnentodo seculo XX, responsavel pela imagem tipica das CM.: as regrasde 1910. Para Leunis era natural que os estudantes de seu pri-meiro grupo decidissem sobre suas proprias regras, tomando elesproprios as principais decis5es. Deviam escolher nao so os llde-res do grupo e os oficiais, mas tambem 0 jesuita responsavel einclusive 0 cardeal protetor (no tempo em que ele tinha este car-go). Em outras palavras, ele lhes deu plena responsabilidade.

    corporavam no proprio nome. 0 texto latino diz: "Ubi duo vel trescongregati sunt ... " Dai 0 nome "congregatio". Portanto, nao nossurpreende que este texto apareca na prime ira pagina da copramais antiga das regras das C.M., redigidas por Leunis e os mem-bros do grupo Clermont, em Paris. 0 folheto e de 1575 e atual-mente se encontra na Biblioteca Nacional Francesa de Paris.

    As regras do Colegio de Clermont sao semelhantes as de 1574,do Colegio Romano. Para ambas 0 prearnbulo e identico, deixan-do transparecer urn forte vinculo comunitario: "de comum acor-do entre nos, decidimos redigir algumas regras que possam nosajudar na integracao de nossos estudos com a vida espiritual, pa-ra podermos viver plenamente em uniao com Deus, em paz entrenos, dando desta forma testemunho aos outros enos dispondomelhor para receber luz, graca e dons de sua divina bondade".

    Todos os dias estes "irrnaos" iam juntos a missa. Faziamjuntos a meditacao, Reuniam-se para cantar parte do Oficio deNossa Senhora e faziam juntos 0 exame de oonsoiencia e prepa-ravam a meditacao do dia seguinte. Os oficiais eram responsa-veis pela participacao dos membros na troca de opini5es nas reu-moes semanais. Havia uma regra especial que recomendava 0amor e a uniao mutuos: "todos sao membros de uma mesma fa-milia e irmaos em Cristo". As palavras "cada irmao" sao usadascom rreqtiencia. Nurna verdadeira comunidade tudo e feito detal maneira que todas as pessoas sao igualmente valorizadas.

    Responsabilidade dos leigos

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    Mais de 20,000 jesuitas foram expulsos de suas obras e 0 Geral rotencarcerado. Os Bispos locals tiveram que ler a Bula em todasas casas da Companhia. Esta prornulgacao, fundamental, para suavalidez, foi proibida na Russia. A Imperatriz Catarina II que em1772,havia ocupado uma parte da Po16nia, nao quis preocupar os.catolicos de seu pais. Portanto, a Companhia de Jesus e todos osseus trabalhos, incluindo urn, florescente movtmento de C.M., con-tinuou existindo.

    Em outros lugares, a Companhia e;' conseqtientemente, tam"hem as C,M.desapareceram. Esta foi a consequencia l6gica da de-cisao papal. Mas Clemente XIV surpreendeu novamente 0 povocom sua atuacao, No dia 14 de novembro do mesmo ano, decidiuque as C.M. podiam continual' em todos os lugares independente-mente dos jesuitas! Foi, uma excecao surpreendente na aplicacaoda Bula de supressao:" As C.M. em vez de serem suprimidas adqui-riram. uma nova dimensao . -,: De,urn trabalho privilegiado dos je-suitas, de repente, as C.M; passaram a ser urn dos trabalhos nor-mais daTgreja Universal. Subtamente foi arrancada de sua inspt-ragao original e, ao mesmo. tempo, se expos a urn crescirnento ir-regular: todos os Bispos podiam estabelecer as C.M. em qualquerparte do mundo. Muitos 0 fizeram. Durante 0 primeiro periodc(1540-1773)estavam Iiliados uns 2,500 grupos. Este numero che-gou a 80,000 no segundo periodo (1773-1948). Teria sido urn mila-gre se essa evolucao nao tivesse afetado. negativamente ,0 espiritoautentico etas C.M. Roje sabemos que no decurso dos arios, 0 mo-vimento como tal;"simplesmente mudou porqueperdeu a' tradigao;bIide estava 0 fogo de In~Cio? '. '", " ",,' .

    Nao ' fO~ a ~upressa~ da ' Comp~rihia ~u~ causou a ;er~a doespirtto do movimento C.M., mas a decisao de 14 de novembro de1773.' Sem esta decisao, as C.M. teriam sido suprimidas, para se-rem restabelecfdas em 1814,juntamente com a Companhia. Teriasido umavantagem no caso de' se tornar urn movimento da Igre-[a UriiversaI; trias 0 rnovimento mudou multo em suas caracteristi-Cas rnais essenciais. Chegou a ser ~' pelo menos na maioria doscasas ~ urn movtmento piedoso massificante, diferente daqueleque Inacio ou Leunis ou Aquaviva haviam fundado.

    , Claro que isto e so uma face da moeda, Grupos multo bonSatuavarn em muitos paises, mas' 0 movimento como tal; havia per-dido 0 contato com 0 espfrito, 0 espfrito de seus fundadores. :Res-

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    Num tormentoso periodo de inquietude e conrusao, a supremaautoridade da Igreja, forcada par poderes politicos, agiu de umaforma que, realmente, ninguem poderia imaginal'. No dia 21 dejulho de 1773,Clemente XIV assinou a Bula que suprimia a Com-panhia de Jesus, todos os seus trabalhos, mmisterios e atividades.

    Declsfies Estranhas

    III - ENFRAQUECIMENTO DO ESPfRITO AUTENTICO

    1773- 1948

    No programa da primeira reumao da Federa

  • Em 1922, 0 Pe. Led6chowski, Geral da Companhia convocouos jesuitas que trabalhavam nas C.M. para uma reuniao. Foi 0primeiro passe para a renovacao. Quarenta padres de 19 nacoes,impulsionados por urn forte sentido de responsabilidade, queriamresultados praticos e concretos. A reuniao foi muito boa. Nenhu-ma resolucao a mais; s6 urna decisao: comeca em Roma urn se-cretariado central, um centro de service, nao so para os gruposjesuftas, mas para todos os outros. Foi 0 primeiro secretariadodeste tipo na curia dos jesuftas. Nao porque as C.M. fossem 0 tra-balho mais importante da Companhia mas simplesmente porqueelas eram 0 trabalho rnais descuidado e 0 que pedia maier ajudae inspiracao. Hoje a curia conta com 8 secretariados sernelhan-tes para outros trabalhos.

    o principal argumento para a fundacao do secretariado inter-nacional foi a experiencia positiva de alguns secretariados nacio-nais ja existentes. Os Padres dos EE.UU. e dos Pafses Baixos in-

    formaram que seus respectivos centros nacionais de service, tra-balhavam muito bern. Por que nao aplicar a mesma experienciaem nivel internacional?

    E interessante notal' que nesse mesmo ana (1922), pelo menosem tres paises, ja existiam tederacoes nacionais. Os delegados ex-plicaram claramente as diferengas entre urna rederacao (meio nor-mal de organizacao das C.M.) e urn secretariado (rneio extraor-dinaric exigido por circunstancias especiais). A formacao de fe-deracoes regionais era uma pratica comum antes de 1773. As re-gras de 1910 confirmam esta pratica e dizem que uma rederacaoe sempre para a maior gloria de Deus. Se um grupo tern 0 ver-dadeiro espirrto, querera compartilha-lo com outros grupos. Se is-to se faz de forma permanente, ja se tern uma tederacao. E a li-nha natural de desenvolvimento das comunidades pequenas. 0 prin-cipal trabalho do secretariado sera portanto: a promocao de fede-racoes. Se a federacao esta madura, 0 centro de service - geral-mente falando - pode desaparecer. Ja curnpriu 0 seu papel.

    E evidente que a decisao de 1922 foi sensata. Nao s6 porque 0novo secretariado foi a primeira tentative internacional para a re-novacao. Mas porque a luz do que se acaba de dizer, foi inclusive 0primeiro passo para a Iederacao mundial.

    Os delegados de 1922 nao puderam prever as consequencias desua reurnao. Olhando para tras, podemos dizer que foi uma reu-niao extremamente proveitosa. 0 secretariado central viu que eranecessario urn documento oficial e fundamental da Igreja. 0 Pa-pa decidiu escreve-lo. Preparou-se a "Bis Saeculari". Viram tam-bern que se fazia necessaria uma Iederacao mundial. E foi cria-da. Por sua vez, a federacao mundial notou a urgencia de umatransrormacao energica, e comecaram a trabalhar neste sentido.A tederacao mundial nos deu os Princfpios Gerais e as Comunida-des de Vida Crista.

    Tudo isto nao significa que 0 novo secretariado foi uma insti-tuicao sem defeito. Longe de se-lol Mas demonstrou que se podetrabalhar com meios simples e insuficientes. Esta oficina interna-cional que servia a urn movimento mundial, cujos membros erammuIheres, em sua maio ria, nao era nem sequer acessfvel as pes-soas de fora, muito menos a presenca feminina. Era uma insti-tuicao privada dos jesuitas, dentro da clausura, estrita e severanaquela epoca. Alem disso, como reformar uma organizacao sem

    Decisoes Favoraveis

    ta dizer que, inclusive em sua nova forma 0 movimento fez mui-to bern, respondendo as necessidades em muitos lugares.

    Principalmente depois da promulgacao dogmatica da Imacula-da Conceicao (1854) as C.M. se tornaram ainda mais populares,Segundo muitos sacerdotes, foi urn meio infalivel para protegera juventude do mal. Conheco pessoalmente urn Bispo que resol-veu iniciar, em todas as suas paroquias, duas Congregacoes Maria-nas, urna para rapazes e outra para moeas. Sistematicamente seorganizavam e se impunham. Exigia-se para todas filiagao comRoma, 0 que se conseguia com facilidade. Indubitavelmente, esteBispo nao foi uma excecao, Aurnentou 0 numero de C.M. e nestesentido esta epoca se distinguiu como urn "periodo florescente"da hist6ria C.M.

    Qual foi a reacao dos jesuitas? Muitos pensaram: podemosaceitar que se perca 0 autentico espfrito sem fazer alguma coisapara restabelece-lo? A C.M. nao foi uma fiIha da Companhia? Naoe uma parte de nossa vocacao, inspirar 0 movimento com 0 ca-risma especffico do "homem de Igreja", Inacio de Loyola, princi-palmente desde 0 momenta em que as C.M. se converteram ematividade da Igreja Universal?

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    A nova constituicao promulgada POl' lei, para toda a zgreja,foi de modo especial enderecada as C.M. Nao a urn ou alguns

    Fundaeao da Federaclio Mundial

    Depois de 1948

    IV - A TRANSFORMAQAOEM COMUNIDADE DE VIDA CRISTA

    Hoje tudo isso pertence a hist6ria e ja nao tern tanto interes-se. Existem outros aspectos do documento que sao mais importantes, como por exemplo: 0 desafio a vivencia conforme 0 antigoideal; 0 apelo a reforma e a renovacao; a urgencia de urna res-posta de um movimento mundial. Mas 0 aspecto mais essenciaJe a enfase que se da ao carater inaciano, ressaltando a prioridadeabsoluta dos Exercicios Espirituais.

    Termina urn periodo marcado por estranhas e forrnidaveis decisoes. Estranhas decisoes: obriga-se a Companhia de Jesus a desaparecer enquanto se obriga as C.M. a continuarem sem as je-suitas. Decisoes ravoraveis: a rundacao do secretariado central emRoma, seguida da promulgacao do docurnento fundamental daIgreja.

    Deus trabalha assim.

    o texto oficial latino da "Bis Saeculari". Estavamos aguardan-do algo de Roma, mas nunca urn docurnento tao born e tao clarocomo este. Imediatamente decidimos preparar urn comunicado,tentando traduzir as compactas palavras latinas para 0 holandesmoderno. 0 diretor da KNP (Agencia Nacional de Imprensa) estavamulto contente por ser 0 primeiro a publicar a noticia. No dia se-guinte, ocupou a primeira pagina em nossos tres principais dia-rios cat6licos e em mais de trinta diarios regionais. Dai em diante os telefones da Agencia nao paravam de tocar.

    A principal razao deste choque foi a declaracao papal de quea C.M. era "uma forma especial e sobressalente de Agao Catolica",derrubando assim urn solido sistema de pensamento uniforme so-bre 0 apostolado dos leigos e abrindo 0 caminho a uma nova emultiforme evolucao,

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    Foi enorme 0 impacto deste docurnento. Nao e exagerado di-zer que em algumas nacoes produziu 0 efeito de urna bomba. E ver-clade tambem que eu estava nos Paises Baixos e me encontravanuma posicao privilegiada para observar as reacoes. Nessa epo-ca eu era encarregado do secretariado nacional das C.M. e aeon-teceu que tambem me cabia 0 papel de capelao da imprensa ca-t6lica. No dia 2 de setembro de 1948, recebi por correia especial(formidavel service do secretariado de Roma ... sem grevesl) urnac6pia da Acta Apostolicae Sedis da mesma data, juntamente com

    Novos Desafios

    autoridade? Desde 1773, como vimos, as CM. estavam sob a juris-digao dos Bispos. S6 5% dos grupos estavam estabelecidos em casas jesuitas. E, como trabalhar com a cooperacao de leigos com-petentes? Sobretudo: como "converter" milhares e milhares delideres espirituais espalbados por to do 0 mundo? Ate entre osjesuitas era pouco conhecido e apreciado 0 verdadeiro significa-do de sua propria criacao. Nao podiam acreditar que a Associa-gao Mariana, chamada CM., tivesse algurna coisa a ver com Com-panhia de Jesus.

    Urn Papa provocou a perda do espirito; outro Papa iniciou seuressurgimento. Pio XII, conhecendo por experiencia pessoal a es-piritualidade inaciana, e 0 impacto original das C.M., acompanhoucom interesse os esrorcos do secretariado central. No ana de suaeleiQao (1939) 0 encarregado do secretariado era 0 Pe. Emile Vil-laret. Ravia entre os dois amizade e mutua apreco. Em 1953, de-pois da morte do Pe. Villaret, 0 Papa me disse que, para ele, 0Padre era urn santo. Pio XII e, sem duvida, 0 maior promotordas C.M. Ele fez tudo que estava ao seu alcance para apoiar arenovacao, com todo tipo de reterencias, cartas, mensagens e ou-tras provas de sua predilecao. Finalmente, ele decidiu dar urnpasso extraordinario, ou seja: proclamar urn novo estatuto paratoda a Igreja. Realizou-o da maneira mais solene e oficial, comurna Constttuicao Apost6lica, obrigat6ria para toda a Igreja e semnecessidade de promulgacao especial. "Bis Saeculari" era exata-mente 0 que se fazia necessario: uma declaracao clara da autori-dade sobre a identidade propria das C.M., urn chamado urgentea reforma, orientacoes para 0 futuro e algumas explicacoes sobreo apostolado dos leigos em geral.

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    De volta a Haia, estive m:uito ocupado com 0 trabalho do cen-tro nacional. Uns 2.000 grupos queriam ajuda e Inspiracao. Naohavia lugar para problemas inte,rnacionais ...

    Uns meses mats tarde, meu Provincial me chamou. Ele aca-bava de chegar de uma visita de algumas semanas aRoma. Ti-nha que me dizer algo "da parte do Pe. Geral". Nao me surpreendi.Finalmente uma observacao, 0 Provincial, geralmente muito aber-to, estava bastante timido: "fiz todo 0 passivel para te salvar,mas nao consegui". Disse-lhe que estava bem. Acrescentou: 0 Pe.Geral quer, insistentemente, que voce va a Roma para se encar-regar do Secretariado Central". Eu? Nao podia acreditar. No dia19 de fevereiro de 1951,cheguei aRoma.

    No dia seguinte 0 Pe. Janssens me recebeu. Nenhuma pala-vra sobre nossa discussao. Apenas cordialidade e total connanca:"Por favor, viaje 0 mais que puder, 0 tempo de ficar em casaterrninou". Pediu-me tambem que preparasse uma instrucao so-bre as C.M. para todos os jesuitas.

    Urn rnes mais tarde a Instrucao estava pronta, Antes de fa-zer minha primeira viagem, senti que havia urgente necessidadede se escrever, antes de tudo, um memorandum relativo a opor-tunidade de se preparar uma tederacao mundial, Raz6es: 0 secre-tariado nao e suficiente. Nao podera representar todas as C.M. emnivel mundial. Necessitamos de urn corpo representativo de lei-gos competentes (ha suftcientes) juntamente com sacerdotes.Os leigos devem assumir a responsabilidade em suas propriasrnaos. Que se chame uniao mundial, Iederacao mundial, comuni-dade mundial, 0 nome nao tern importancia. 0 essencial e queo pessoal se reuna. Que possam trabalhar, discernir e rezar jun-tos, que possam cooperar com os outros e servir a Igreja em ni-vel mundial. Sem esta simples estrutura nova, as C.M.existentes emmuitos paises nao sao consideradas e nao estao presentes em ni-vel mundial. Sem esta nova uniao, as C.M. nao podem viver deacordo com sua vocacao, Sem esta comunicacao permanente en-tre os responsaveis, parecia irnpossfvel a restauracao das C.M., de-sejada por Pio XII. Finalmente, uma tederaeao mundial era 0 maisadequado numa epoca em que a comunicacao internacional esta-

    em nivel mundial? Qual a opinifio dos leigos sobre a "Bis Saecu-lari", a renovacao, as novas regras, as novas estruturas?

    __ -

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    Ainda mas, surgiram perguntas novas. Os jesuitas tiveramsua reuntao internacional, mas, e os leigos? Os jesuitas sozinhospodem representar uma associacao de leigos? Onde estao os re-present antes dos leigos? Onde entra a responsabilidade dos leigos

    Depois da reuniao de 1950,grande parte da pergunta "e agora,que se deve fazer?" ficou sem resposta. Todos estavam de acor-do que se devia implantar a nova Constituicao (isso todos ja sa-biamos antes da reuniao) , Mas nao perguntamos sobre 0 comofaze-lo? Com que meios eficazes contamos? Necessitamos de no-vos caminhos?

    Depois de uma longa conferencia sobre "as formas externasdas C.M.", eu perguntei porque dedicar tanto tempo as formas ex-ternas, lima vez que todos nos sabiamos que, na reaIidade, nenhu-ma forma externa era essencial as C.M. Uma de suas caracterfs-ticas especificas e exatamente sua flexibilidade e adaptabilidade.Realmente, nao fiquei sabendo se "todos nos" estavamos de acor-do neste ponto. 0 certo foi que ninguem reagin, exceto 0 Pe. Ge-ral. Sua intervencao foi sumamente amavel, mas precisa, pelo me-nos ate certo ponto: eu havia menosprezado as normas juridicas.Obviamente a ideia do Pe. Janssens com relacao as C.M. era dife-rente da minha.

    A primeira resposta vem dos jesuitas. 0 sucessor do Pe. Le-dochowski, 0 Pe. Janssens fez 0 mesmo que seu predecessor em1922. Convocou uma reunijio internacional. de jesuitas, organiza-da pelo secretariado central. As sess6es foram reaIizadas na curiados jesuitas, do dia 15 a 22 de abril de 1950. Vieram, desta vez,11 padres de 40 nacoes, Eu estava la, juntamente com outro Pa-dre, representando os Paises Baixos. Foi uma reuniao muito pe-sada, muitas conterencias e longas discuss6es sobre diversos as-pectos e elementos das C.M.; uma reuniao extremamente srlencio-sa com relacao as fontes originais. Tudo foi vista a luz das re-gras de 1910.

    Reuniae em Roma - 1950

    paises, mas as C.M. como movimento mundial. Em todos os lu-gares a mesma pergunta: e agora, que se deve fazer? Que temosque fazer?

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    "A Federacao Mundial nao foi criada de maneira artificial.Ao contrario, nasceu naturalmente. Deve-se considera-la, sobretu-do, como organismo em lugar de organizacao, Deveria atingir seufim com urn minima de estruturas, inspirado por urn maximo deespirito cat6lico. Vivemos urn periodo de problemas series, mascom frequencia os complicamos com 0 excesso de organizacao.A P.M. deve ser simples, 0 espirito de Nossa Senhora e muitosimples." (Reflexao sobre a F.M.", Assernbleia Geral, Roma 1954).

    Com esta carta foi fundada oficialmente a Federacao Mundial.

    A Federacao foi 0 resultado de urn processo de crescimentonatural, a unificacao de realidades existentes: federag6es e comu-nidades.

    Foi enviado urn projeto de Estatutos a todas as federag6es esecretariados nacionais. Recebemos muitas express6es de adesaoe multo poucas correcoes, No inicio de 1953,0 projeto foi apre-sentado a Pio XII, sua primeira reacao foi rapida, Manifestousua satistacao e prometeu enviar uma carta de aprovacao na qualinsistiria sobre alguns pontos de importancia geral. Esta cartadatada de 2 de julho de 1953,corneca com esta frase: "todos osque conhecem a nossa atitude para com 0 apostolado moderno,sabem tambem quanta apreciamos as C.M. e quanta nos interes-samos por urn continuo crescimento espiritual".

    Em Barcelona nao so todos estiveram de acordo, mas tam-bern pediram ao Secretariado de Roma que preparasse alguns Es-tatutos "tao logo fosse possivel" e que fosse entregue a Pio XIIpara a aprovacso. Estudantes universitarios, membros da famo-sa C.M. do Pe. Verges, constituiam a maioria desta reuniao, Em1947, eles haviam organizado urn congresso internacional. Estivepresente, entao, com uma delegacao holandesa e todos ficamosmuito bern impressionados com 0 dinamismo destes jovens. Comrazao, para eles era 6bvio estabelecer - finalmente - urn conta-to internacional permanente entre os grupos de todo 0 mundo.

    niao, enfatizando a necessidade de maior selecao, segundo 0 es-pirito da "Bis Saeculari". Uma proposta foi aprovada por unani-midade: realizar uma reuniao dos membros das CM. por ocasiaodo Congresso Eucaristico do ana seguinte, 1952,em Barcelona. La,se voltara a discutir 0 assunto da rederacao mundial.

    \'I

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    o primeiro congresso mundial de apostolado dos leigos quese realizou em outubro de 1951,em Roma, proporcionou uma 6ti-rna oportunidade para mostrar a necessidade de uma uniao mun-dial. As C.M.,urn dos movimentos mais antigos de apostolado dosleigos, nao puder am ser convidadas porque nao existiam em nivelmundial! Gracas a amabilidade e compreensao dos organizadores,puderam convidar dez membros para formar uma delegacao inter-nacional. 0 congresso tambern foi uma boa oportunidade para seorganizar uma reuniao com todos os membros de C.M. presentes.Descobrimos entao, que 15 deles pertenciam a diversas delegag6esnacionais. Diante de urn grupo de 25 (2 sacerdotes diocesanos, 4jesuitas e 19 leigos) expliquei a urgencia da cooperacao sobre urnabase internacional permanente. Todos estiveram de acordo, masapenas urn ou dois aceitaram a forma de federacao mundial.A ideia era multo nova para eles e desejavam mais tempo pararefletir.

    Alguns dias depois tivemos outra reuniao. Desta vez estavamcomigo 40 de 16 paises diferentes. 0 Cardeal Gracias de Bom-bairn havia acompanbado os delegados da India. Ele falou na reu-

    V - REUNI6ES EM ROMA - 1951E EM BARCELONA- 1952

    va crescendo rapidamente em todos os lugares. Por que, comrrequencia, chegamos tarde demais?

    OPe. Janssens estudara com muito cuidado 0 memorandum,mas ainda nao estava convencido. Haviamos discutido sobre es-tes temas em varias ocasi6es, mas era dificil chegar a urn acordo.A principal dificuldade para 0 Pe. Geral era: como conciliar a "cen-tralizacao" proposta com a "autonomia" tradicional da C.M. Po-dia-se responder que cada federacao, longe de ser uma centraliza-gao, era uma unificacao, livremente escolhida, com elementos dedescentralizacao e que cada autonomia era sempre limitada e rela-tiva.

    Nessa epoca, 0 Pe. Janssens recebeu urn longo e forte memo-randum contra a federacao mundial. Mas as raz6es eram tao sempeso que ele nem as levou em consideracao. Pelo contrario, esti-mulou-me a continuar buscando, mas me disse: "nao vejo muitoclaro".

  • - 45-

    o que Newark desejou era mais que justificado. Duas guer-ras mundiais haviam transformado fundamentalmente a sociedadehumana enos ainda estavamos trabalhando com as regras de 1910.De 1951 1952 eu havia viajado muito e conhecia perfeitamente osdesejos da base. Mas isto era mais que urn mere desejo: 0 man-dato dado por urn corpo oficial.

    Voltei a Roma com este mandato mas tambem com urn pro-blema. Ate entao so 0 Superior-geral da Companhia tinha a fa-culdade de fazer novas regras comuns. Esta norma ja estava su-perada depois da rundacao da FM., mas ainda era juridicamen-te valida,

    Informei 0 Pe. Janssens sobre 0 mandato. Nao falamos doproblema pots, ele, perito eminente em direito canonimo, 0 conhe-cia melhor que ninguem. Mas sua reacao (como eu havia pensa-do) foi: "se tais estao de acordo, continue". Desta forma 0 Pe.

    Newark 1959, tambem foi a uniao de urn grande congresso coma reuniao do Conselho Geral. Mas Newark marcou urn avancoconsideravel, A maioria dos participantes se hospedou no enor-me campus de "Seton Hall University". Existiam maiores pos-sibilidades de relacionamento mutuo, comunicacao e troca que emRoma. Os 5 grupos lingtiisticos do Congresso, subdivididos em uns70 grupos menores, procuraram encontrar caminhos para melho-rar e adaptar as C.M.

    o ambiente do Congresso Geral foi muito promissor. Urn es-pirito empreendedor se manifestou em muitas interveng5es. To-dos queriam uma renovacao seria e rapida, Os delegados respon-saveis trabalharam em todos os tipos de sess5es informais paraconquistar 0 fim que se propunham. Nurna destas reuni5es, espe-cialmente representativa, todos manifestaram sua plena confian-ca no Secretariado de Roma e se encarregaram de comecar a pre-parar, sem perda de tempo, novas regras comuns. Este foi 0 pri-meiro passo para os Principios Gerais.

    fazer. Plenamente conscientes de sua independencia responsabi-lidade deixaram de aceitar instrucoes do Secretariado. No auge dadesordem e da improvisacao, fizeram 0 programa e organizaramas eleicces para 0 Conselho Executivo. Devia-se comecar. Istoconstituiu apenas 0 inicio, formulado no programa como urn pon-to de partida para a renovacao em escala mundial".

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    Este qualificativo corresponde ainda melhor a singela reuniaona Universidade Gregoriana onde se reuniu pela primeira vez 0Conselho Geral. Esta universidade e a continuacao direta do Co-legio Romano, onde ha 400 anos, Leunis havia comecado. Podiaexisttr no mundo urn lugar mais apropriado que este para se ini-ciar a F.M.? Foi interessante e motivador vel' como estes primei-ros delegados compreenderam imediatamente 0 que tinham que

    o Congresso, organizado com a ajuda de nossos amigos ita-lianos, foi verdadeiramente maravilhoso. Uma explosao de vita-lidade e entusiasmo. Uma magnifica manifestacao religiosa e ar-tistica, possivel apenas em Roma. Foi uma surpresa para muitaspessoas. Os jornais falaram de urna "assembleia historica",

    Reuniao em Roma e em Newark

    E agora, qual seria 0 passe seguinte? Como reunir as pessoas?

    A resposta nao foi dificil. Varies paises haviam solicitado aoSecretariado de Roma a organizacao de urn "Congresso Mundial"por ocasiao do Ano Mariano (1954). A proposta pareceu muito boae facilmente pode conciliar com a primeira reuniao da nova F.M.

    Nossos Principios Gerais

    No dia 17 de junho de 1965, Paulo VI nomeou como seu suces-sor, 0 Bispo Rene Audet, do Canada.

    No dia 13 de abril de 1954, Pio XII nomeou Assistente Ecle-siastico da F.M. 0 Arcebispo Jose Gawlina. Dom Gawlina tinhaside capelao-chete da armada polonesa durante a ultima guerramundial e vivia exilado em Roma. Morreu repentinamente na noi-te de 21 de setembro de 1964, enquanto preparava urn trabalho pa-ra 0 Vaticano II sobre os deveres dos Bispos. Dom Gawlina foiurn grande amigo, sempre pronto a nos ajudar. Tinha urna gran-de personalidade, firme e corajoso, mas ao mesmo tempo era ex-celente exemplo de adaptalidade simples e de humildade como decrianca. Nossa Federacao nao lhe deu muitas sattsracoes, certa-mente nenhuma honra. Antes, muito trabalho, preocupacoes e so-frimentos.

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    de vida; e nao so de uma longa tradicao, mas tambem de novosgrupos em todo 0 mundo. Todos estes grupos seguiram a orien-tacao de Pio XII, e desta forma inauguraram, no centro do movi-mento das C.M., urna renovacao total dos Exercicios, fonte origi-nal da autentica C.M.

    Nos EE.UU. esta renovacao comecou com a corajosa expe-riencia das C.M. na John Carroll University, em Cleveland. Em1951, apesar de grande oposicao, roram convidados os estudantese os profissionais jovens para 0 retire em silencio, de oito dias.Ate esse memento, fazer urn Iongo retiro era privilegio exclusivode sacerdotes e religiosos. Os resultados foram tao positivos queos retiros foram repetidos cada ano. 0 exemplo foi seguido emtodos os Estados Unidos e 0 numero de participantes aumentousem altos e baixos. Em 1959, este grupo de Cleveland propos pe-la primeira vez os Exercicios de 30 dias. De novo resultados rna-ravilhosos.

    Na Europa, 0 ressurgir dos Exercicios comecou sobretudoatraves do estudo e da reflexao. Em 1951, 0 Pe. Hugo Rahner,famoso especialista, deu uma serie de conterencias sobre os Exer-cicios e sobre as C.M. aos responsaveis da Austria. Traduzidasem varies idiornas, suas profundas reflex6es produziram grandeinfluencia sobre a ranovacao das C.M. Urn de seus resultados foia expansao na Europa da pratica de longos retiros.

    Em minhas viagens, nos ultimos anos, constatei a existenciade centres de renovaeao nao somente nos EE.UU. mas tambemna Belgica, na Alemanha, na Espanha, no Mexico, no Japao e naIndia. A Franca contava ainda com urn novo movimento nacional:Grupos de Vida Crista. Na Inglaterra existia 0 movimento Celu-la; No Canada 0 Centro Leunis; e na Europa, em nivel continen-tal, a Equipe Europeia que fez urn trabalho importante e original.

    o Congresso Europeu de 1963, POI' ocasiao do 4. centenario daC.M. foi util e inspirador. 0 Pe. Giuliani expos sua visao sobreos "Exercicios Espirituais, fundamento da espirituaUdade da C.M.",e 0 Pe. Karl Rahner fascinou seu auditorio abordando em profun-didade a consagracao a Nossa Senhora.

    No fim de 1959, 0 Secretariado de Roma enviou sua primeiracarta a todas as federag6es, secretariados e centros. Foi 0 iniciode urn dialogo epistolar com urn movimento plenamente consagra-

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    Pode-se dizer 0 mesmo dos Principios Gerais. Nao forampre-fabricados num escrit6rio. Sao 0 fruto de urna experiencia

    Os historiadores e os docurnentos pontificios nos dizem queas regras das C.M. sao 0 resultado de experiencias previas, Os pri-meiros grupos nao comecaram com regras, comecaram com a vi-da. Encontraram sua inspiracao nao num sistema, mas no espi-rito dinamico de uma nova Ordem religiosa. Comecaram em1540. A primeira serie de regras data de 1574.

    Nada de Pre-fabrica{:ao

    Janssens reconhecia a autonomia da F.M. oito anos antes daaprovacao das novas estruturas juridicas.

    Podiamos agora comecar a preparar os Principios Gerais, gra-gas a reunifio de Newark e a grande intutcao criativa do Pe. Geral.

    OPe. Janssen havia se convertido nurn entusiasta promotor daF.M., especialmente a partir do Congresso de Roma, em 1954. Sem-pre estimulando, sem nunca por dificuldades, constantemente aju-dando em tudo. Isto ficou claro em 1962. 0 titulo 1.0 do Estatu-tos diz que a F.M. tent sua sede em Roma. Para garantir a dese-jada uniao entre a F.M. e a Companhia de Jesus, os pr6prios Es-tatutos dizem que a pessoa encarregada do secretariado jesuitasera 0 vice-assistente da F.M. Foi pois muito normal que a sededa F.M. fosse bern recebida no Secretariado jesuita. Por outrolado, esta nao foi urna solucao pratica: 0 problema era a clausu-ra. Tivemos entao que procurar urn lugar, mas foi muito dificil.De repente, sem ninguem esperar, ficou livre urn grande aparta-mento com entrada especial na curia jesuita. Muitos 0 queriampara seu respectivo escrit6rio, mas 0 Pe. Janssens decidiu: "estee para a F.M.... " gracas a generosa ajuda de urn born amigo, to-do 0 seu interior foi arrumado sob a direcao artistica do Pe.Noyons. Era urn lugar ideal: perto do Vaticano e da cidade; con-tato pleno com a curia jesuita e seus numerosos visitantes e todotipo de services e facilidades a disposicao da F.M.

    OPe. Janssens morreu no dia 5 de outubro de 1964. Seu su-cessor, 0 Pe. Arrupe, eleito em 1965, confirmou esta acomodacao.:If: a ideal nao apenas 0 lugar mas tambem a relacao entre os [e-suitas e a F.M.

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    9. Anexo deste suplemento, p. 57.

    Urn mes depois da contirmacao pela Santa Se, uma das prin-cipais revistas de espiritualidade da Alemanha publicava urn ar-tigo onde os Principios Gerais recebiam urn grande elogio, comomodelo de "aggiornamento". Inconscientemente, 0 autor formu-lara de maneira nova a razao principal da mudanca do nomeC.M. por CVX. Escrevia: "todos os que leram os Principios Ge-rais, recentemente publicados, dificilmente acreditarao que pottras deles se encontra a C.M. Nfio sao apenas a forma externa ea nomenclatura deste documento, mas tarnbem as ideias, as que

    Urn nome novo

    No dia 25 de margo de 1968, 0 Papa Paulo VI confirmou a re-novacao "ad experimentum" por tres anos. No dia 31 de maiode 1971, a renovacao foi definitivamente contirmada.v

    De fato, Roma - 67 marcou 0 inicio de uma nova evolucao:novos Principios Gerais, novos Estatutos, urn novo nome ao mo-vimento e urn novo titulo para a revista internacional, novas nor-mas juridicas, reconhecendo a autonomia da F.M., que de agoraem diante e ela propria, em lugar da Prima Primaria, 0 vinculode unidade e a garantia de sua autenticidade.

    Na reumao da Assembleia Geral que se realizou na "DomusPacis", 140 delegados de 38 paises votaram. Dentre eles, figuravam62 participantes do Congresso do Apostolado dos Leigos. Foi denovo urn acontecimento historlco. Pela primeira vez na historisda C.M., uma comunidade de escala mundial formulava seus pro-prios documentos. Foram propostas e discutidas 33 emendas aotexto, mas somente 10 foram aprovadas e incorporadas na redacaofinal. 0 n." 7 que trata do service, foi quase totalmente mudado.Depois da votacao de cada artigo dos Principios dos Estatutos, aAssernbleia, no fim do 3. dia, aprovou toda a redacao, por unanimi-dade. Momento inesquecivel, emocionante e cheio de felicidade.Uma renovacao bern preparada e esperada por multo tempo, es-tava completa - 0 renascimento de urn movimento, "quase urnnovo inicio".

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    Se a redacao, completada em 1967, resultou de uma permanen-te consulta, a ultima versao foi escrita em Roma. E esta a razaopela qual a Conselha Executivo decidiu convidar urn delegado decada nacao para uma reuniao previa a Assernbleia Geral. 0 textofoi estudado linha por linha e revisto de acordo com os desejasdos presentes. No fim de dois dias estava preparada a redacaoa ser apresentada a Assembleia Geral.

    o periodo entre 1964 e 1967 foi muito bern aproveitado. Novasconsult as a varies paises produziram novas sugestoes e propostas.A redacao dos Principios melhorou ainda mais: breve, simples eclara. Ao longo destes anos chegamos a urn consenso no que serefere a composicao e it divisao em preambulo e tres partes.

    Bern mais do que uma simples introducao, 0 preambulo e 0centro, 0 coracao do conjunto, a alma de tudo. Tudo que deviaser dito de maneira concisa. A primeira parte e a primeira abor-dagem, em forma de circulo concentrico em torno do preambulo,A segunda parte e mais concreta e detalhada: forma urn novo cir-culo concentrico em torno do preambulo e da primeira parte.Quanto a terceira parte, que contem as normas juridicas, e a ul-tima concretizacao, a ultimo circulo. Assim, as normas juridicasdevem ser vividas no espirita do preambulo, espirito de amor.

    Depois da Assembleia de Bombaim em 1964, se decidiu que aproxima Assembleia Geral seria na America Latina. Mas ap6s 0encerramento do Vaticano II, e como 0 Terceiro Congresso Mun-dial do Apostolado dos Leigos ia se realizar em outubro de 1967,o Conselho Executivo decidiu que nossa Assembleia se concreti-zaria em Roma logo apes esse Congresso. Considerava-se tam-bern 0 interesse dos delegados que participariam das duas reu-nioes.

    do a causa da renovacao. Esta consulta em escala mundial du-rou ate 1964. Houve uma troca continua de experienclas, suges-toes e propostas entre Roma e a base. Pouco a pouco foram sevislumbrando os aspectos principals de nossos Principios Gerais.Em 1964, estavam praticamente prontos e poderiam ser submeti-dos it Assembleia Geral de Bombaim em dezembro de 1964. Masera evidente que convinha esperar 0 encerramento do Vaticano IIpara apresentar os novos Principios em sua forma definitiva.

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    As orientacoes dadas par Pia XII em 1948 se revelaram ex-trernamente praticas e eficazes. Em sua constttuicao, ele Insisti-ra fortemente sobre 0 carisma mariana e sabre a prioridade absoluta dos Exercicios Espirituais.

    Vinte anos antes, por ocasiao da Assembleia de Newark, e17havia escrito: "0 acontecimento mais importante que n6s percpbemos atualmente( ... ) e que a C.M. e considerada como a quetomou a iniciativa de voltar a ser a que ela foi no inicio: a continuagao e aplicagao pratica dos Exercicios Inacianos na vida cotidiana.

    Novas evolucdes depois de 1967

    enche de tristeza. E duro ouvir dizer: "voce nao ama sua mae detodo 0 coracao". Deixa-me dizer aqui, de novo, 0 que ja escrevie disse em outras ocasioes, Se fosse verdade que 0 novo nomepudesse diminuir nosso amor a Nossa Senhora, ou que nos naosomos mais fi!~is ao carater marial de nosso movimento, todo nos-so estorco de renovacao seria um erro terrivel. Ninguern querque diminua 0 amor a Virgem Maria. 0 que todos os delegadosem Roma quiseram foi urn amor mais profundo e mais interiora Maria. Durante a preparacao dos Principios Gerais, muitos pediram uma tnspiracao nova, uma orientacao mais s6lida. Eles que-rem urn amor pessoal mais profundo e mais fervoroso a sua Mae,um amor que nunea decaia, mas cresca juntamente com 0 amora seu Filho. Todos os nossos estorcos visavam 0 progresso duespirito autentico e original de nossa associacao, que e essencial-mente martal, Os novos Principios expressos pelo novo nome cor-respondem exatamente ao desejo da maior parte de nossos mem-bros. Nos Principios, Nossa Senhora esta multo mais presenteque em todas as regras comuns precedentes. Ela esta presenteem tudo, inseparavelmente unida a Cristo, que e 0 centro dasC.V.X. Ela esta presente como 0 esta nos Exercicios Inacianos.que sao a fonte especifica do estilo de vida C.V.X. Ela esta pre-sente como esta nos documentos do Vaticano II, nao isolada auseparada do contexto, mas integrada na totalidade da Hist6ria daSalvacao. Ela esta presente como 0 esta no Evangelho, dandoprioridade a seu Filho.

    - 50-

    10~' George 'Muhlenbrock, S.J., Auf cler SeeM naeh WeW SpifitJa-litat, Geist und leben, junho de 1968,

    . .

    Na Assembleia Gera! de Roma (196'7), a mesm~ qU~~t'o~Oltoua ser incluida na agenda. Desta vez, foram propostos diversos no,mes novos, mas nenhum obteve a maiori~~DentrEi OS nornes pro-postos tres erarrr versoes de "Vida Crista", 'nome. adotado na Fran~(::1 ha dez aries e empregado tambem em, outros paises .. ':Antes de1967, 0 nome de CVX nunea tinha side) uti1i:iado~;Surgiti espontaneamente da Assembleia e obteve imediatamente uma maioria de-cisiva. A seguir, a Assembleia aprovou explicitamente que 0 novonome era 0 nome da F.M:, mas nao devla serimpost6 a nenhumatederacao ou grupo. Na reuniao de Roma, 13 pa.isesvotaram con-tra a mudanca de nome; atualmente todos, exceto urn, adotam 0nome de CVX.

    Com freqiiencia se raz a seguinte objecao: nests nome novonao ha nada de espeolttco, porque toda comunfdade crista podese chamar CVX. E verdade que os niembros da CVX nao terniritencao de praticar qualquer especie dep!utiCulatidades. Vivemsingelamente 0 Evangelho, mas de urna maneira multo especial:total e radicalmente dentro do espfrito dos ExerCfcios inactanos:Indubitavelmente esta e uma caracteristica espectnca.". Outra objegao e mais seria: alguns IlOS ci'itic~fu por. se terdirmnuido o' amor a Nossa Senhora. Tal ifirm'agao" sempre me

    se op6em diametralmente a conhecida imagem da C.M. Realizou--se entao, uma renovacao capital". 10

    . Se a irnagern da C.M.. sugere uma realidade t~~ dif~r~~te dados melhores grupos que se renovaram de acordo com a inspira-gao original, .a partir de agora 0 nome de C~M.j!\ nao tS mais ade-quado. Cda ralsas ideias, equfvocos e confusao. Em lugar de aju-dar a iim melhor servtco, torna-se urn obstaculo, Faz-se necessarioentao,' inudaio pelo menos onde cria contusao.

    E por este motivo que, nos ultimos 30 anos muitos grupos mu-daram seu nome.. Inclusive os movimentos nacionais fizeram isso.Apos a rundacao da F.M., a questao foi colocada em discussao emnfvel internacional: em Newark (1959), em Roma (Congresso Eu-ropeu, 1963), multo fortemente em Bombaim (1964) e durante areuniao europeia de profissionais (l965).

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    da Companhia de Jesus. Os jesuitas assistem, ajudam e esrorcampor dar alguma inspiracao.

    Mas a verdade tambern que atualmente, e mais que outrora,os leigos inspirarn os jesuitas. Eles compreenderam (algumas ve-zes melhor que nos, jesuitas) a experiencia de Santo Inacio, co-mo tao bern compreenderam a atitude de entrega total de NossaSenhora. Eles so tern uma aspiracao: crescer na fa e no amor.Eles querem crescer na visao da realidade: a Presenca divina queatua, ama e se revela em todas as coisas, que nos convida conti-nuamente a viver e a viver em abundanoia. Eles aceitaram seuconvite para receber no momenta presente 0 fogo de Jesus e acomunicar incessantemente esse fogo, aos outros.

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    Esta evolucao tem feito continuamente novos progressos. Coma elaboracao dos Principios Gerais apos 1967, ela alcancou novasdimensfies, Gragas aos Exercicios dirigidos pessoalmente, e aoscursos de formacao, foi redescoberta a pedagogia especifica dosExercicios. Chegou a ser evidente que os membros e as Comuni-dades C.V.X. tern uma vocacao muito especial: sao chamados a urnestilo de vida peculiar, que os abre e os dispoe a tudo aquilo queDeus quer em cada situacao de sua existencia cotidiana. No pla-no pessoal e comunitario, este estilo de vida implica urn perma-nente discernimento, disponibilidade continua, total integracao,Todo aquele que tern alguma experiencia sabe que as consequen-cias desta vocacao sao extremamente exigentes. Aqui e impossivelentrar em detalhes. No numero de "Progressio" de margo de1979,Jose Gsell aprofunda este ponto: Ninguem mais competentepara escrever este artigo.

    Outros fatos importantes poderiam ser mencionados. 0 pri-meiro a a maior presenca e atividade no plano internacional. Is-so comecou em 1957quando a F.M. se tornou membro da Confe-rencia das Organizacoes Cat6licas Internacionais. Todas elas per-tencem as organizacoes nao governamentais (NGO), que podemter voz consultiva numa ou em diversas tnstttuicoes das NacoesUnidas em Nova York, Genebra, Paris e Roma. No dia 24 de abrilde 1975,a F.M. obteve voz consultiva na ECOSOC (Conselho Eco-nornico e Social).

    Outra realidade muito estimulante e a presenca crescente dajuventude. Na Assembleia de Roma em 1967,praticamente todosos delegados eram adultos. Foi surpreendente em Augsburgo 1973o numero de jovens em pleno dinamismo. Em Manila 1976,elescaracterizaram toda a Assembleia: quase todas as delegaeoes nacio-nais contavam com delegados jovens, entre 18 e 25 anos. Estes jo-vens pediram um assistente especial da juventude na F.M. Esteassistente foi nomeado no ana passado.

    Como observacao final, notamos 0 interesse e a presenga ati-va de muitos jesuitas em todos os niveis: local, nacional e inter-nacional. Eles apreciam a C.V.X. bern mais do que haviam esti-mado a C.M. Isso nao a surpreendente, pois eles reconhecem cla-ramente nas C.v.X. seu proprio estilo de vida, que quase nao erapossivel nas C.M. Essa presenca crescente dos jesuitas nao signi-fica que eles dirigem 0 movimento C.V.X. A F.M. e independente