1 Professora PDE com Especialização em Psicopedagogia e em Ensino da Língua Portuguesa.
Graduação em Letras. Docente do Colégio Est. Dr. Xavier da Silva, Curitiba - PR.
2 Professora orientadora do PDE - FAFIPAR
DESPERTANDO O GOSTO PELA LEITURA ATRAVÉS DO USO DE
METÁFORAS EM SALA DE AULA.
Autora: Ana Maria Luchesi Kawai1
Orientadora: Ms. Daniela Machado Zimmermann2
Resumo
A metáfora faz parte da comunicação coloquial das pessoas, e está presente nas fábulas, parábolas, músicas, poemas e histórias infantis. A propaganda e o marketing fazem uso frequente de metáforas devido ao seu poder de persuasão. Na verdade, o que fica gravado como aprendizado em nossa mente não é o sentido literal da história, mas o sentido figurado e metafórico captado pelo nosso inconsciente. Uma vez que a metáfora faz ligação com o que para nós é conhecido, ela se torna fundamental à aprendizagem de algo novo, visto que não se pode aprender algo totalmente desconhecido sem ancorar o novo no conhecimento pré-construído (SOUZA, 2004). Ao professor, não espere inspirar o gosto pela leitura e pela escrita ensinando orações subordinadas e coordenadas, mas sim fazendo uso de símbolos que despertem interesse e curiosidade na interpretação. Este artigo, apresentado como requisito final do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE pretende apresentar um trabalho realizado sobre a metáfora vista como um processo natural da linguagem humana em uso, despertando maior interpretação pela história em si e pelo gosto da leitura. Os alunos aprenderam conteúdos ocultos entre as frases, que até então eram invisíveis ou passava-se despercebidos pela forma de interpretar. Em toda a implementação deste trabalho, foram usadas metáforas como ponte entre o conceito e a explicação, que não seria simples com palavras ou expressões literais o que, consequentemente, desenvolveu a linguagem oral e escrita dos estudantes, ampliando seu vocabulário, seu repertório linguístico, além de incentivar a reflexão e o posicionamento crítico perante a leitura, gerando o que se pode chamar, segundo Ausubel (2001), de aprendizagem significativa, ou seja, só é possível aprender algo a partir da ancoragem realizada entre o novo e algo que já se sabe.
Palavras chaves: metáfora; interpretação; leitura; PDE.
1 Introdução
A busca por alternativas para compreender, favorecer e facilitar o processo de
ensino-aprendizagem, em especial da leitura, tem sido uma constante preocupação
dos docentes e dos pesquisadores da área de educação. Particularizando, a
linguagem metafórica vem firmando-se como um importante objeto de pesquisa,
devido ao seu uso neste processo, no entanto, pouco explorado.
A aprendizagem da leitura começa antes da aprendizagem das letras: quando
alguém lê e a criança escuta com prazer (SOUZA, 2004). Tudo começa quando a
criança fica fascinada com as coisas maravilhosas que existem dentro de um livro.
Esse gosto pela leitura é pressuposto de tudo o mais. Quem gosta de ler tem nas
mãos “as chaves do mundo”, ou seja, tem acesso às informações importantes para
seu desenvolvimento intelectual e emocional. Já que é algo tão presente na
linguagem, importa enfocar o que estimula essa sensação prazerosa. Uma boa
leitura possibilita ao leitor compreender o mundo em que habita. Os professores são
mediadores essencias para que os alunos desenvolvam o prazer pela leitura.
Como recurso didático, o uso de metáforas em sala de aula possibilita a
comparação entre as similaridades do que é familiar para os alunos, estimula a
formação de hipóteses e a solução de problemas e torna as aulas mais variadas e
motivadoras. As metáforas são comumente utilizadas com diferentes campos do
conhecimento e podem funcionar como método de enriquecimento e ampliação aos
significados, levando conceitos de um campo do conhecimento para o outro e vice-
versa.
É esse enriquecimento que se buscou ao utilizar metáforas em sala de aula,
servindo, neste caso, como estratégias de persuasão e incentivo à leitura, fazendo-
se como atividades desenvolvidas com o apoio do PDE- Programa de
Desenvolvimento Educacional, no ano de 2010/2011.
Os trabalhos com metáforas, realizados durante o processo de
implementação, alcançaram todos os objetivos propostos em projeto, incluindo o seu
principal, que era a análise de trabalhos com metáforas como estímulo para
despertar o gosto pela leitura, e isso pode ser notado pelas atividades desenvolvidas
em sala durante e após esse recurso. Este artigo tem como propósito relatar e
discutir acerca dessa aplicação desenvolvida, servindo-se também como
contribuição para trabalhos com outros docentes da Língua Portuguesa.
2 Fundamentos teóricos
2.1 Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.
O PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional é uma política pública
do Estado do Paraná, regulamentado pela Lei 130 de 14 de julho de 2010 que
estabelece o diálogo entre os professores do ensino superior e os da educação
básica, através de atividades teórico-práticas orientadas, tendo como resultado a
produção de conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da escola
pública paranaense (BRASIL, 2012). Seu maior objetivo está em proporcionar, aos
professores da rede pública estadual, subsídios teórico-metodológicos para o
desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas, e que resultem em
redimensionamento de sua prática (BRASIL, 2012).
A estrutura organizacional do Programa de Desenvolvimento Educacional
está representada, para fins didáticos, no Plano Integrado de Formação Continuada,
o qual se constitui a partir de três eixos de atividades: atividades de integração
teórico-práticas, atividades de aprofundamento teórico e atividades didático-
pedagógicas com utilização de suporte tecnológico. Essas atividades são realizadas
no decorrer do Programa, composto de quatro períodos semestrais, distribuídos em
dois anos, inclusive para os professores titulados (SEED, 2012).
Seu trabalho consiste em cursos de formação e aperfeiçoamento pessoal e
profissional, elaboração e implementação de um projeto de intervenção para a
escola de rede pública estadual em que o professor faz parte (específico para um
tema abrangente de sua área de trabalho e que esteja de acordo com a relevância
docente) e encontros de orientações a esse respeito. Também inclui no Programa
de Desenvolvimento Educacional, como atividades do professor PDE, um sistema
de EaD – Educação a Distância, através de uma plataforma Moddle, em que o
professor é responsável pelas tutorias, desenvolvimento teórico e níveis de
aproveitamento, criando um GTR – Grupo de trabalhos em Rede.
Os Grupos de Trabalho em Rede constituem-se em uma atividade do
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, que se caracteriza pela
interação virtual entre os Professores PDE e os demais professores da Rede Pública
Estadual. Nesse sentido, o GTR tem como objetivos: possibilitar novas alternativas
de formação continuada para os professores da Rede Pública Estadual; incentivar o
aprofundamento teórico-metodológico, nas áreas de conhecimento, através da troca
de ideias e experiências sobre as áreas curriculares; viabilizar mais um espaço de
estudo e discussão sobre as especificidades da realidade escolar; socializar o
Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola elaborado pelo professor PDE com os
demais professores da Rede.
Vale destacar que o GTR também promove a inclusão virtual dos Professores
como forma de democratizar o acesso da Educação Básica aos conhecimentos
teórico-práticos específico das áreas/ disciplinas trabalhados no Programa. Para
o desenvolvimento dessa atividade são ofertados aos professores cursos de
Informática Básica, Tutoria em EAD e ambientação em SACIR e MOODLE. (SEED,
2012).
Construído a partir das ideias e experiência do Ambiente Pedagógico
Colaborativo (APC/OAC), desenvolvido pelo Portal da Educação/SEED, o Sistema
de Acompanhamento e Integração em Rede - SACIR - registra e faz o
acompanhamento de todas as ações desenvolvidas pelos Professores PDE no
âmbito do Programa.
Ao final e já com a retomada às aulas pelo professor PDE, conclui-se todo o
trabalho conquistado pelo tempo afora em PDE com um artigo final, apontando
conceitos teóricos e práticos, desenvolvimento dos trabalhos e aproveitamento, tanto
pelo GTR como pela intervenção docente realizada na escola. Lembrando que todo
esse desenvolvimento foi submetido às orientações e aos suportes técnicos, com
seus devidos prazos, pareceres e normas. Assim, o Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE instaura uma nova concepção de Formação Continuada que
integra a política de valorização dos professores que atuam na Rede Pública
Estadual de Ensino do Estado do Paraná. (SEED, 2012).
Ainda, o PDE considera os princípios pedagógicos de: estabelecer relações,
em diferentes níveis, dominando termos, convenções, o significado de tendências, a
utilização de critérios, o uso de princípios e generalizações, a prática de análise em
quaisquer momentos de aprendizagem, em quaisquer disciplinas, ao longo da
Educação Básica; examinar as diferentes culturas, sem apologias preconceituosas,
apresentando-as sempre em seu contexto histórico; o PDE é entendido pela
Secretaria de Estado da Educação como uma forma educativa capaz de encaminhar
a verdadeira prática da cidadania, a qual não assume a busca da formação do
cidadão como mero participante de um determinado grupo ou segmento, mas como
sujeito capaz de pensar a sua própria formação e participar ativa e criticamente de
um projeto social de interesse coletivo; levar o professor a reconhecer as diferentes
correntes pedagógicas em suas diversas formas de pensar o conhecimento e a
aprendizagem, suas ênfases sobre o sujeito (professor ou aluno), ou o objeto (o
fato), ou sobre a relação (entre os componentes educativos); ou, ainda, sobre o
relativismo da ciência sugerido pela nova perspectiva do neopragmatismo.
Todos esses princípios se tornam fundamentais para serem discutidos e
aprofundados no processo de formação continuada de professores, visto que, ao
dominarem as razões pelas quais tantas correntes pedagógicas se distanciam,
aproximam-se e se opõem entre si, os professores poderão responder em sua
prática cotidiana, com mais propriedade às demandas da educação pública.
Este artigo vem ao encontro do cumprimento da última exigência do
programa, finalizando os trabalhos relativos ao PDE – Programa de
Desenvolvimento Educacional 2010, que se iniciaram em 22/09/10 com um
Seminário de Integração e finalizou em 28/11/11com o término da implementação da
intervenção pedagógica na escola.
2.2 Leitura
Ler é familiarizar-se com diferentes textos produzidos em diversas esferas
sociais: jornalística, ciências, artes, publicidade e no próprio cotidiano. Mas no
processo de leitura, segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2006),
é preciso considerar também as formas de leituras não-verbais, como imagens,
fotos, e outros. “Somente uma leitura aprofundada, em que o aluno é capaz de
enxergar os implícitos, permite que ele depreenda as reais intenções que cada texto
traz”. (DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇAO BASICA, 2008, p. 71).
A formação de um leitor crítico envolve o conhecimento das relações sociais,
formas de conhecimento veiculadas por meio de textos em diferentes situações, a
interação escritor-texto-leitor, a pluralidade de discursos e as possibilidades de
organização do universo. É muito importante o desenvolvimento do processo de
leitura por meio de estratégias, para que os alunos tornem-se leitores críticos e
cidadãos atuantes. Uma boa estratégia é o uso de metáforas, que segundo
Marcuschi (2008) formam dois grupos de paradigmas: 1- Compreender é decodificar
(metáfora do conduto) e 2- compreender é inferir (metáfora da planta baixa).
2.3 Texto e Gênero textuais.
Uma das habilidades relacionadas à leitura refere-se ao conhecimento do
texto e do gênero textual. Entende-se, por texto, de acordo com Souza (2004), uma
ocorrência linguística, escrita ou falada de qualquer extensão, dotada de unidade
sociocomunicativa, semântica e formal. Uma sequência verbal, oral ou escrita, que
forma um todo que tem sentido para um determinado grupo de pessoas em uma
determinada situação. O texto pode ter uma extensão variável, uma palavra, uma
frase ou um conjunto maior de enunciados, mas ele obrigatoriamente necessita de
um contexto significativo para existir. Tal contexto inclui a subjetividade do leitor.
Ainda, para Souza (2004), um texto metafórico é aquele que usa figuras de imagem
para que a pessoa faça associações.
Segundo Sarmento (2004), gênero de texto refere-se às diferentes formas de
expressão textual, englobam todos os textos produzidos por usuários de uma língua.
Assim, ao lado da crônica, do conto, também se identifica a carta pessoal, a
conversa telefônica, o e-mail, e tantos outros exemplares de gêneros que circulam
em nossa sociedade, como piadas, anúncios, poemas, romance, biografia,
requerimento, editorial, palestra, receita, e outros. E são as situações que definem
qual utilizar e como fazer isso. E, dependendo da esfera social e do gênero, as
possibilidades de leitura são diversas. Neste trabalho, foram utilizados gêneros
textuais como contos e ditos populares, que além de despertar para o sentido real
da língua escrita também estimularam para novas leituras.
Para Schneuwly e Dolz (2004), gêneros são utilizados como meio de
articulação entre práticas sociais e os objetos escolares, principalmente no domínio
do ensino da produção de textos orais e escritos. São instrumentos que fundam a
possibilidade de comunicação, como por exemplo, um debate. Todos os gêneros, de
todas as esferas sociais, têm determinadas intenções, propósitos e objetivos.
De acordo com Machado (2005, p. 157) apud DIRETRIZES CURRICULARES
DA EDUCAÇÃO BÁSICA (2008) “gêneros são formas comunicativas que não são
adquiridas em manuais, mas sim nos processos interativos” (p.53). O trabalho com
os gêneros deve levar em conta que a língua é um instrumento de poder e que o
acesso ao poder é um direito de todos os cidadãos.
Sabendo disso, o trabalho com gêneros de texto se amplifica, visto sua
abrangência e riqueza de interação, que segundo Bock (1999) “a relação do
individuo com o mundo está sempre medida pelo outro. Não há como aprender se
não tivermos o outro, aquele que nos fornece os significados que permitem pensar o
mundo a nossa volta” (p.124). Com isso entende-se que o desenvolvimento do
individuo é um processo que se dá de fora para dentro, e que o meio influencia o
processo de ensino-aprendizagem.
2.3.1 O uso de gêneros textuais em sala de aula.
Muito se tem discutido sobre como trabalhar textos e gêneros em sala de
aula, por encontrar resistência dos alunos em relação à leitura e a sua produção.
Porém esse trabalho requer muita habilidade com relação à linguagem. Compartilha-
se a idéia apresentada pelas Diretrizes Curriculares de que o texto é a base do
ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa que vem sendo aceita no Brasil há
muitos anos. Durante muito tempo, esta abordagem textual foi aplicada ao ensino de
maneiras diferentes. Trabalhar os gêneros textuais em sala de aula é uma excelente
oportunidade de lidar com a língua nos seus mais diversos usos do cotidiano, pois o
aluno pode reconhecer e interpretar diversos tipos de textos como a bula de
remédio, a propaganda, os manuais, a piada, entre outros.
Na sala de aula, é necessário analisar, nas atividades de interpretação e compreensão de um texto: os conhecimentos de mundo do aluno, os conhecimentos lingüísticos, o conhecimento da situação comunicativa, dos interlocutores envolvidos, dos gêneros e suas esferas, do suporte em que o gênero está publicado, de outros textos – intertextualidades. É preciso considerar ainda que o grau de familiaridade do leitor com o conteúdo veiculado pelo texto interfere, também, no modo de realizar a leitura. (DIRETRIZES CURRICULARES DE EDUCAÇÃO BASICA, 2008, p. 73)
Para Marcuschi (2008), a língua é um sistema simbólico ligado a práticas
sócio-históricas e não funciona no vácuo. Pode significar muitas coisas, mas não
tem uma semântica imanente pronta nem plena autonomia significativa. A língua é
opaca e permite produzir pluralidade de significações e as pessoas podem entender
o que não foi pretendido pelo falante ou o autor do texto. Por isso as significações e
os sentidos textuais e discursivos não podem estar aprisionados no interior dos
textos pelas estruturas linguísticas, nem podem ser confundidos com conteúdos
informacionais. Ex: o burro do meu vizinho. (meu vizinho tem um burro ou ele é um
burro?). Ainda segundo o autor, assim como compreender não é extrair conteúdos
de textos, por isso há as divergências na compreensão de textos por parte dos
leitores, os gêneros textuais operam como formas discursivas de enquadre
poderosas para guiar o sentido.
Compreender exige habilidade, interação e trabalho. Na realidade, sempre que ouvimos alguém ou lemos um texto, entendemos algo, mas nem sempre essa compreensão é bem-sucedida. Compreender não é apenas uma ação linguistica ou cognitiva, é muito mais uma forma de inserção no mundo e um modo de agir sobre o mundo na relação com o outro dentro de uma cultura e uma sociedade. (MARCUSCHI, 2008, p. 230).
Desta forma, a compreensão deixa de ser um simples ato de identificação de
informações e passa a ser uma construção de sentidos com base em atividades
inferenciais. Para se compreender bem um texto tem-se que “sair dele”, buscar uma
interpretação nas entrelinhas, pois o texto sempre monitora o seu leitor para além de
si próprio e esse é um aspecto notável quanto à produção de sentido. “Entender é
produzir sentidos e não extrair conteúdos prontos” (MARCUSCHI, 2008, p. 233).
Compreender uma expressão linguística ou um texto em uso é entendê-lo em seus
diversos contextos, como sociais, culturais, familiar, entre outros.
Os sentidos são parcialmente produzidos pelo texto e parcialmente completados pelo leitor. Nesta maneira de ver o funcionamento da língua, não é justificável buscar todos os sentidos, do texto no texto, como se eles estivessem ali postos de modo objetivo. (MARCUSCHI, 2008 p. 241).
2.4 Metáfora.
Segundo Souza (2004), é a partir dos primeiros meses de vida que a criança
começa a associar ritmos e estímulos visuais, o que aponta que a metáfora seja
inata à inteligência humana. Por essa razão, seu uso é tão comum e frequente que,
muitas vezes, nem o percebemos. É um processo cuja aplicação pode ser
considerada rara, de forma consciente ou intencional, enquanto recurso didático-
mediador no processo ensino-aprendizagem a ser utilizado pelo professor. Nas
palavras de Souza (2004) “a metáfora é fundamental à aprendizagem de algo
completamente novo, visto que não se pode aprender algo totalmente desconhecido
sem ancorar o novo no conhecimento pré-construído” (p.55).
A ideia de se trabalhar com a leitura através do uso de metáforas vem ao
encontro desse conceito. Acredita-se que a leitura pode ser muito mais prazerosa
quando associada a conteúdos encobertos ou já aprendidos em outros contextos.
Por exemplo, uma fábula que menciona personagens inanimados, no lugar de seres
humanos, pode nos fornecer uma leitura sobre comportamentos e atitudes comuns,
mas que não nos damos conta até esse encontro. Assim, feita a associação do
conteúdo real com o conteúdo inconsciente, facilita-se a assimilação, discussão e
compreensão do texto fornecido, e, uma vez compreendido o sentido, instiga-se o
prazer pela leitura de novos textos.
A palavra metáfora é derivada do grego "meta" (além) mais "phorein"
(transportar de um lugar para outro) segundo Sakurai (2011). Tem a conotação de
transportar o sentido literal de uma palavra ou frase, dando-lhe um sentido figurado.
Utiliza-se de uma linguagem simbólica que é característica da linguagem
primária do inconsciente, induzindo a um processo natural de mudança (LAKOFF E
JOHNSON, 2002). Alguns exemplos de metáfora são as clássicas frases: “A
Amazônia é o pulmão do mundo” (campanha em defesa ao Meio Ambiente); “A
cerveja que desce redondo” (propaganda da skol); “O banco da sua vida” (Banco do
Brasil). Isso mostra como a redação publicitária é hábil em criar metáforas para
fisgar o público, pois metáforas são comparações, são analogias. Outras expressões
também conhecidas são: “cheque-borracha”, “cheque-planador”, “liso feito quiabo”,
“doce mel”, “voto-minerva”, “manga-espada”, “manga-coração-de-boi”, entre outras.
A metáfora induz a um processo natural de mudança na compreensão do texto. Ao
contrário de uma ordem ou sugestão, ela permite à pessoa perceber,
inconscientemente, alternativas que não eram visualizadas antes. A metáfora é um
constructo cultural, mas é também um pressuposto da linguagem, ou seja, temos
cognitivamente condições de construir e compreender metáforas.
Muitos verbos também são utilizados no sentido metafórico. Quando dizemos
que determinada pessoa "é difícil de engolir", não estamos cogitando a possibilidade
de colocar essa pessoa estômago adentro, associamos o ato de engolir (ingerir algo,
colocar algo para dentro) ao ato de aceitar, suportar, aguentar, em suma, conviver
com determinada pessoa. Existem também frases inteiras com sentido metafórico,
são alguns exemplos: “ter o rei na barriga”, “saltar de banda”, “pôr minhocas na
cabeça”, “dar um sorriso amarelo”, “tudo azul”, “ir para o olho da rua”.
O estudo primário sobre metáfora em nossa vida inicia na escola, quando a
conceituam como uma alteração de significado baseada em traços de similaridade
entre dois conceitos (LAKOFF E JOHNSON, 2002); uma palavra que designa uma
coisa passa a designar outra, por haver entre elas traços de semelhança; é, pois,
uma comparação implícita, isto é, sem conectivo comparativo. Lakoff e Johnson
(2002) afirmam que a metáfora não é apenas uma questão de linguagem ou de
palavra, ao contrário, os processos do pensamento humano é que são em grande
parte metafóricos, ou seja, o sistema conceitual humano é estruturado e definido
metaforicamente, possibilitando assim metáforas também na linguagem que
utilizamos.
No filme O Carteiro e o Poeta (1994), por exemplo, o personagem que
representa o poeta Pablo Neruda dialoga com um carteiro, Mário Ruoppolo, durante
diversas cenas do filme, sobre o uso de metáfora. O carteiro gostaria de aprender a
fazer metáforas para conquistar as mulheres (depois somente à Beatrice) e pede ao
mestre Neruda que o ajude. Este poeticamente lhe pede que observe a baía, o
movimento do mar etc. E, em um dos diálogos, Mário Ruoppolo conclui: “Não sei se
consigo explicar, mas... quer dizer que todas as coisas, o mar, o céu, as nuvens, etc,
etc, o mundo inteiro é uma metáfora de alguma coisa?”. Este foi utilizado na
implementação do trabalho, facilitando a compreensão dos alunos com relação ao
uso de metáforas, sua definição e estimulando-os criativamente ao conteúdo
administrado.
De fato, tudo o que está em nossa volta serve-nos como metáfora para
explicarmos sentimentos, ações, estados. Inclusive o campo da ciência, o qual se
espera explicações literais, diretas, vê-se envolvido por diversas metáforas, tais
como as “redes”, a placa “mãe”, na ciência da informática, as células “mãe”, “órfãs”,
“tronco”, nas ciências biológicas, dentre outros (SOUZA, 2004).
Ao discutir a possibilidade da utilização de metáforas como recursos de
mediação didática do processo de aprendizagem fazem-se necessário entender
como o processo metafórico ocorre, a nível cognitivo. Segundo a fisiologia humana
de Guyton (1988):
O próprio córtex cerebral possui camadas responsáveis pela comparação entre os estímulos novos e os antigos, gerando a possibilidade imediata de se identificar novas informações. O efeito da identificação de uma experiência nova com uma já existente pode gerar efeitos tanto cognitivos quanto emocionais, o que é fácil constatar, já que é extremamente agradável, por exemplo, sentir um aroma que lembre a infância ou reconhecer um rosto familiar em um ambiente estranho. (GUYTON, 1988, p.165)
O autor ainda lembra que a importância da influência modeladora é gerada
tanto pelas analogias quanto pelas metáforas. Segundo sua teoria, os seres
humanos nascem em grande desvantagem de conhecimentos inatos em relação aos
outros animais, ou seja, necessitam adaptar-se ao ambiente, experimentando-o.
Mas, em compensação, têm a capacidade de armazenar as informações para
relacioná-las com experiências futuras. Dessa forma, é possível identificar
imediatamente a nova informação com algo já vivido anteriormente, ou seja, é
possível utilizar uma experiência anterior como um modelo que servirá como
parâmetro para experiências futuras.
2.4.1 A metáfora em sala de aula.
Em um ambiente pedagógico, o professor pode facilitar o processo,
organizando e sistematizando a abordagem, com recursos motivadores e exemplos
práticos e cotidianos, de forma a direcionar a atenção do aprendiz para aspectos
mais relevantes. Dessa forma, uma prática educativa baseada no processo
analógico trabalha diretamente com um processo de aprendizagem segundo os
princípios da teoria construtivista de Piaget. Segundo a Teoria da Aprendizagem
Significativa de Ausubel (2001), só é possível aprender algo a partir da ancoragem
realizada entre o novo e aquilo que já se sabe. A aprendizagem significativa ocorre
quando a tarefa de aprendizagem implica relacionar, de forma não arbitrária e
substantiva (não literal), uma nova informação a outras com as quais o aluno já
esteja familiarizado e quando o aluno adota uma estratégia correspondente para
assim proceder. (AUSUBEL, 2001).
Ausubel se preocupou em tratar a forma como as representações já formadas
atuam sobre o processo de instrução formal. O processo de ancoragem ocorre à
medida que há a integração do objeto representado no sistema de representações
existente. É exatamente esse processo o responsável pelas possibilidades de
modificações estruturais. Tais modificações poderão ser identificadas tanto nas
representações já existentes quanto nas novas. E é nesse sentido que se propõe o
uso de metáforas como mediadoras das relações entre as representações existentes
e os conceitos veiculados pelo ambiente escolar.
A metáfora quando usada como recurso didático possibilita a comparação
entre as similaridades do que é familiar para os alunos, estimula a formação de
hipóteses e a solução de problemas e torna as aulas mais variadas e motivadoras.
Utilizadas com diferentes campos do conhecimento, podem funcionar como método
de enriquecimento e ampliação aos significados, levando conceitos de um campo do
conhecimento para o outro e vice-versa, através da aprendizagem significativa,
proposta por Ausubel.
3. Métodos e Procedimentos.
3.1 Da implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na escola.
Os trabalhos de PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional 2010,
foram criteriosamente elaborados e implementados, sob orientação e fontes de
estudos, a fim de que se garantissem os resultados previstos inicialmente no projeto
de intervenção.
Durante os cursos de aperfeiçoamento pessoal e profissional, intencionou-se
a pesquisar sobre o uso de metáforas em sala de aula, por carregarem uma grande
quantidade de informações abstratas e intangíveis num pacote conciso e
memorável. Este projeto de intervenção intitulado “Despertando o gosto pela leitura
através do uso de metáforas em sala de aula” foi implementado com alunos das 6ª
séries do Colégio Estadual Dr. Xavier da Silva, em Curitiba – PR, com o objetivo de
analisar o processo de aprendizagem e o gosto pela leitura (habilidade de leitura). E,
conjugada a esse projeto de intervenção, houve a produção de material didático
específico, com seus procedimentos, em forma de Unidade Didática, entregues ao
NRE e escola, como exposto na fundamentação teórica deste trabalho, o uso de
metáforas, textos e gêneros textuais fazem parte das preocupações dos professores
de Língua Portuguesa.
Os trabalhos em sala iniciaram-se em 22/08/11 e encerraram em 28/11/11,
em um ambiente dinâmico. O professor iniciou o processo de implementação com
atividades sobre textos e gêneros textuais, um em cada momento diferente. Ambos
com exemplos reais e de cotidiano, para que os alunos se interessassem e se
motivassem pelo trabalho proposto, para então trabalhar com metáforas.
Foram usados, no decorrer do trabalho, textos com metáforas, atividades
dinâmicas e recursos audiovisuais (músicas, anúncios, propagandas, entre outros)
que estimularam a interpretação dos alunos ao conteúdo fornecido, despertando
neles maior motivação e favorecendo o bom vínculo com a matéria, a compreensão
e o entrosamento com os diferentes gêneros textuais. Sendo todas essas atividades
apresentadas em caderno pedagógico, conforme estabelecido no PDE – Programa
de Desenvolvimento Educacional.
3.1.1 Procedimento da implementação pedagógica na escola
Aula
Data
Procedimentos
Aula 1
22/08/11
Objetivo: fazer com que os alunos compreendam a noção de texto.
Procedimento: o professor colheu opiniões dos alunos sobre o que é
um texto e sua importância. As informações foram transcritas no
quadro e discutidas com os alunos. O professor forneceu o conceito
de texto de acordo com a tese de Souza, intitulada Leitura, metáfora e
memória de trabalho: três eixos imbricados. Após a explicação do
tema, o professor fez menção sobre textos verbais e não verbais e
encerrou a aula solicitando aos alunos que trouxessem recortes de
textos para próxima aula. Foram aplicadas questões como: o que é
um texto? O que entendemos por texto? Quais as formas de texto?
Aula 2
30/08/11
Objetivo: Compreensão, por parte dos alunos, acerca dos tipos de
linguagem – verbal e não verbal.
Procedimento: o professor recolheu os recortes que os alunos
trouxeram e fez explicações com exemplos práticos sobre textos
verbais e não verbais. Para isso, utilizou textos ilustrativos/não verbais
como sinalização de trânsito e figuras que expressavam alguma
mensagem. Também enfatizou a importância e a riqueza que um texto
contém através de uma dinâmica de grupo que consistiu em: pedir
para que três alunos ficassem de fora da sala enquanto ele (o
professor) contou para a classe uma história cheia de detalhes e
informações. Em seguida solicitou para que um aluno contasse a
mesma história para um dos alunos que estava de fora, este aluno ao
ouvir a história teve a função de repassá-la ao colega e assim por
diante, até que todos tivessem ouvido.
Aula 3
05/09/11
Objetivo: apontar a importância da leitura.
Procedimento: o professor, através de exemplos reais, mostrou para
os alunos a importância da leitura e sua abrangência (visor de ônibus,
fachadas de comércio, preços de supermercados, passagens,
ingressos, roupas, encartes, livros, adesivos em carros, entre outros)
enfatizando que a mesma está além dos bancos escolares.
Aula 4
12/09/11
Objetivo: conceituar gêneros textuais.
Procedimento: o professor conceituou gênero textual e apresentou
exemplos práticos como bula de remédio, regras de jogo, manuais,
propagandas, etc. Para isso, utilizou-se dos estudos de Marcuschi
(2008), na obra Produção textual. Análise de gêneros e compreensão;
e de Schneuwly, Dolz (2004) Gêneros Orais e Escritos na Escola.
Neste encontro também apresentou um gênero textual em forma de
receita culinária, que foi entregue aos alunos e solicitou a leitura em
silêncio. Após todos terminarem, explicou que um gênero pode ser
escrito na linguagem popular ou culta e que toda comunicação exige
boa leitura. Encerrou a aula solicitando aos alunos que trouxessem
recortes de gêneros textuais para a próxima aula.
Aula 5
26/09/11
Objetivo: estimular os alunos a fazerem um texto caracterizado por um
gênero em estilo de propaganda de um produto.
Procedimento: com os recortes que os alunos trouxeram, o professor
fez uma dinâmica de grupo, colocando os alunos em círculos (2 sub
grupos) e solicitou que os mesmos fizessem um texto caracterizado
por um gênero (cada grupo fez uma propaganda de algum produto –
escolhido por eles – com informações em forma de panfletos e/ou
manuais). A aula encerrou com a apresentação dos grupos, em forma
de debate (ou tentativa de vender o seu produto), fechando o tema
enfocando a importância da comunicação.
Aula 6
03/10/11
Objetivo: apresentar e conceituar metáforas.
Procedimento: o professor apresentou aos alunos o assunto
Metáforas, através de frases do dia a dia que costumamos ouvir e
falar e seguindo do conceito de metáfora apresentado por Mafra, no
texto Analogias, Metáforas e Ensino: A sala de aula em foco; e de
George Lakoff & Johnson, na obra Metáforas da vida cotidiana.
Utilizou perguntas que estimulassem os alunos a pensar onde estão
as metáforas nas frases fornecidas. Após isso, mostrou-se aos alunos
a importância da interpretação de um texto metafórico (que o
entendemos a partir dos conhecimentos que já possuímos em nossa
mente, por ex: mandar lamber sabão, eu posso entender que devo
lamber sabão ou que é para ficar longe, depende de meu estado
emocional). Outros exemplos foram: vai ver se estou na esquina, ou o
burro do meu vizinho. Deixou que os alunos fornecessem exemplos e
solicitou que trouxessem para a próxima aula exemplos de ditos
metafóricos.
Aula 7
11/10/11
Objetivo: explorar o tema metáforas através do filme O carteiro e o
Poeta.
Procedimento: O professor levou ao conhecimento de seus alunos o
filme O carteiro e o Poeta, dirigido por Michael Radford, baseado no
livro homônimo de Antonio Skármeta em interface com o artigo de
Elena Godoy de título: Sobre a poesia política de Pablo Neruda. E
após exposição, encerrou a aula com um trecho de uma história
metafórica, que traz uma lição dos gansos selvagens e recolheu os
trabalhos dos alunos.
SSiittee:: http://www.terapiadosgansos.com.br/porque.html
Aula 8
25/10/11
Objetivo: exploração do tema metáforas através da música Gita, de
Raul Seixas.
Procedimento: O professor apresentou aos seus alunos a música Gita
de Raul Seixas, fazendo relação com metáforas e sua interpretação.
Aula 9
07/11/11
Objetivo: exploração do tema metáforas através do vídeo Quem
mexeu no meu queijo?
Procedimento: apresentou-se o vídeo Quem mexeu no meu queijo?
Do livro: JOHNSON, Spencer, M. D. Quem mexeu no meu queijo?
32ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2002; e discutiu-se com os
alunos a relação de labirinto com a vida real.
Aula 10
28/11/11
Objetivo: revisão de conceitos sobre texto, metáforas e gêneros
textuais.
Procedimento: Fechou-se o trabalho com uma revisão de conceitos
sobre texto, metáforas e gêneros textuais, a partir de exemplos dados
em sala. Junto com os alunos, o professor confeccionou um mural em
que os alunos escreveram frases metafóricas e colaram até formar um
grande texto (uma história). Juntou-se com todo o material que os
alunos trouxeram durante os encontros e deixou-se em exposição na
escola.
Tabela 1: Implementação do projeto de intervenção pedagógica no Colégio Est. Dr. Xavier da Silva,
em Curitiba – PR, pela Profª. Ana Maria Luchesi Kawai, PDE, 2010.
Os estudantes, por sua vez, aprenderam a identificar uma metáfora em sala e
no cotidiano (em propagandas, filmes, sinalizações de trânsito, músicas, entre
outros) fazendo uso dessas para melhorar sua interpretação de texto, postura crítica,
melhora na aprendizagem e, consequentemente, no desenvolvimento do gosto pela
leitura. Pois um texto com conteúdos ocultos e nas entrelinhas desperta maior
interesse, curiosidade e cativa o leitor, criando neste o hábito de não somente ler
como o de ler com prazer.
3.2 Do GTR – Grupo de Trabalho em Rede.
Ao intencionar um projeto sobre metáforas e sua importância para a leitura e
o gosto por ler, houve preocupação em como implementar recursos e ações
referentes ao tema em sala de aula. Muito rápido pode-se perceber que as
metáforas estão por toda a parte e isso também foi visto pelos cursistas inscritos no
GTR. Muitas foram as ideias, dicas e posições com relação ao seu uso e
aplicações. A turma foi participativa, motivadora e, de um jeito especial, também
envolvida e comprometida com o curso e com o conteúdo.
As atividades de GTR iniciaram-se em 10-10-2010 e foram enceradas em 06-
12-2010, dividindo-se em três etapas, todas fundamentadas no Material Didático
Pedagógico. A primeira sendo de apresentação e de um fórum contendo uma
introdução sobre o assunto Metáforas. Também houve atividades como elaboração
de diário e interações sobre o assunto, através da explanação do Material Didático
fornecido. Na segunda etapa houve muita criatividade por parte dos cursistas
quando solicitados a fornecer exemplos de metáforas. Vários foram os citados, como
figuras metafóricas, propagandas e comerciais, músicas, entre outros, sempre
atendendo aos direitos autorais e relacionando-os a Aprendizagem Significativa de
Ausubel, detalhada no projeto. Também houve críticas construtivas sobre textos e
gêneros textuais, bem como o despertar o gosto pelo ato de ler dos alunos. E, na
última etapa, continuando com os exemplos de metáforas, concluiu-se junto aos
cursistas que: como recurso didático, o uso de metáforas em sala de aula possibilita
a comparação entre as similaridades do que é familiar para os alunos, estimula a
formação de hipóteses e a solução de problemas, e além de que tornam as aulas
mais variadas e motivadoras.
As metáforas são comumente utilizadas em diferentes campos do
conhecimento e podem funcionar como método de enriquecimento e ampliação dos
significados, levando conceitos de um campo do conhecimento para o outro e vice-
versa. É esse enriquecimento que se busca ao utilizar metáforas em sala de aula,
servindo, neste caso, como estratégias de persuasão e incentivo à leitura.
Cabeça de vento Encher linguiça
Pão duro Fazer tempestade em copo d’água
Enfiar o pé na jaca Passar a bola
Chutar o balde Quebrar um galho
Dar uma mãozinha Pagar o pato
Ter minhocas na cabeça Sentir como carta fora do baralho
Procurar pelo em ovo Balaio de gatos
Pisar em ovos Carne de vaca
Nó cego Tem boi na linha
A cobra vai fumar Ter um parafuso a menos ou a mais
Matar dois coelhos com uma cajadada só Cada macaco no seu galho
Matar a cobra e mostrar o pau A vaca foi pro brejo
Aqui tem café no bule Falar pelos cotovelos
Bicho de sete cabeças Mar de rosas
Show de bola Comer bola
Colcha de retalhos Estar com a bola toda
Sem querer querendo Dar mole ou dar bandeira
Rasgar seda Escorregar na maionese
Falar mais que o homem da cobra Estar ruim da bola
Ser fera Fazer sala
Uma mão lava a outra Melhor um pássaro na mão do que
dois voando
Tabela 2: Alguns dos exemplos de frases com sentido metafórico fornecidos pelos cursistas, durante
os fóruns do GTR, que podem ser trabalhados em sala de aula.
3.2.1 Procedimento GTR
- Fórum 1, Temática I, realizado no período de 10-10-2011 a 24-11-2011.
Atividade: Caros cursistas, o objetivo desta atividade é promover uma discussão
sobre o meu Projeto de Intervenção Pedagógica (que se encontra no link acima do
fórum) para que haja interação entre os participantes e para que os mesmos
contribuam na ampliação das ideias relacionadas à temática proposta. Após a
leitura do projeto, respondam: Vocês acham que o uso de textos metafóricos
(fábulas, parábolas, músicas, mensagens bíblicas, histórias infantis, piadas,
propagandas...) podem despertar e incentivar a interpretação e o gosto por ler?
Além do texto sugerido (o projeto) onde mais podemos encontrar o sentido
metafórico? É comum usar no seu dia a dia? Após você responder, analise o
comentário de, pelo menos um colega, e faça uma observação acrescentando
conhecimentos na discussão. Bom trabalho!!
05
1015202530
Interações entre cursistas
Interações com o professor tutor
Respostas de atividades com
sugestões
Fórum 1 Temática I
Gráfico 1: Interações e participações dos cursistas GTR, no fórum 1.
- Fórum 2 - Temática II, realizada no período de 24-10-2011 a 24-11-2011.
Atividade: Uma das habilidades relacionadas à leitura refere-se ao conhecimento de
texto e de gênero textual. Após ler o material didático “Despertando o gosto pela
leitura através do uso de metáforas em sala de aula” de minha autoria, defina o que
é texto e cite, em média, uns cinco exemplos de gêneros textuais. Em seguida
interaja com mais dois colegas.
0102030
Interações entre cursistas
Interações com o professor
tutor
Respostas de atividades com
sugestões
Fórum 2 Temática IITexto e Gênero textual
Gráfico 2: Interações e participações dos cursistas GTR, no fórum 2.
- Fórum 3 - Temática III, realizada no período de 07-11-2011 a 24-11-2011.
Atividade: A busca de alternativas para compreender, favorecer e facilitar o processo
de ensino-aprendizagem, em especial da leitura, tem sido uma constante
preocupação dos docentes e dos pesquisadores da área de educação.
Particularizando, a linguagem metafórica vem firmando-se como uma importante
linha de pesquisa, devido ao seu uso neste processo. Você professor, acredita ser
possível despertar maior aprendizagem em alunos através do uso de metáforas?
Justifique sua resposta usando de 5 a 10 linhas e interaja com mais dois colegas.
0
5
10
Interações entre cursistas
Interações com o professor tutor
Respostas de atividades com
sugestões
Fórum 3 Temática III Compartilhando experiências
Gráfico 3: Interações e participações dos cursistas GTR, no fórum 3.
- Fórum Vivenciando a prática - Temática III, realizada no período de 07-11-2011 a
24-11-2011.
Atividade: Após entender a implementação deste projeto “Despertando o gosto pela
leitura através do uso de metáforas em sala de aula”, na escola, é possível que
muitos de vocês tenham se lembrado de frases, figuras, textos metafóricos que
estão presentes em nosso cotidiano. Para finalizar nosso trabalho, vamos trocar
experiências: mencione pelo menos dois exemplos (que não estejam neste MD) de
metáforas que estão presentes em nosso dia a dia, fora da sala de aula (podendo
ser textos, frases ou figuras) e argumente sobre seu significado (use de 5 a 8
linhas). Não se esqueça de interagir com duas pessoas.
Gráfico 4: Interações e participações dos cursistas GTR, no fórum Vivenciando a prática.
Gráfico 5: Nível de aproveitamento dos cursistas GTR 2010.
05
101520
Interações entre cursistas
Interações com o professor tutor
Respostas de atividades com
sugestões
Fórum: Vivenciando a prática Temática III
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 Média geral
Temática I
Temática II
Temática III
Avaliação final
Total
Aproveitamento Curso GTR
Cursistas
Após toda a implementação dos trabalhos na escola e também no GTR, ficou
clara a importância e a gratificação em se trabalhar com metáforas em sala de aula.
Por ser um recurso comum, por mais que às vezes não nos damos conta, as
metáforas podem auxiliar na compreensão de conteúdos tanto por analogias como
por semelhanças ao conhecido (GUYTON,1988). Este trabalho também contribuiu
para docentes da área, no que diz respeito à compreensão de textos e por ser uma
estratégia de persuasão e incentivo à leitura, podendo-se servir de dados e base
para trabalhos futuros.
4. Conclusão
É convencional o uso de metáforas em sala de aula por serem comum e
familiar aos estudantes, o que a torna aliada na construção de significados novos,
em textos e histórias, pois são criadas a partir de situações próprias de seu contexto
histórico.
Vivemos numa época em que é preciso saber ouvir, ler e meditar. As
metáforas podem estimular essa interpretação, análise e o gosto pela leitura,
gerando aprendizado e motivação pela disciplina. Exemplos práticos seriam: “ter o
rei na barriga”, “manga coração-de-boi”, “cheque planador”, “liso feito quiabo”, “como
um bagre ensaboado”, entre outros. Dessa forma, caracterizam-se por tratar de
formas de linguagem mais complexas, fruto de alto poder de abstração da razão,
contribuindo para leitura de textos.
As metáforas carregam uma grande quantidade de informações abstratas e
intangíveis num pacote conciso e memorável. Como descrevem uma experiência em
termos de outra, elas especificam e restringem o modo de pensar dos alunos sobre
a experiência original. Quando os mesmos se tornam conscientes das suas próprias
metáforas para o aprendizado, podem reconhecer como elas os limitam ou os
liberam. Dessa maneira, aprendem com maior facilidade, pois atividades que
incluem a reflexão metafórica estimulam o hábito de ler decodificando significados.
Além de ensinar o assunto em questão, o professor pode treinar seus alunos
para processar a informação por meio de uma variedade de significados,
despertando assim o gosto pela leitura, a facilidade na interpretação e maior
capacidade de pensar com criatividade. Fazendo isso, o aluno também interage
melhor com a disciplina, com o professor e com o colégio que estuda.
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princípios e programas. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ index. php? Option
=com content&view=article&id=176:apresentacao&catid=137:pde-plano-de-desenvol
vimento-da-educacao. Acesso em: Fev. 2012.
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Psicologia. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
GUYTON, A.C. Fisiologia humana. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.1998.
LAKOFF, George & JOHNSON, Mark. Metáforas da vida cotidiana. São Paulo:
educ/ Mercado das Letras, 2002.
MAFRA, Adriano. Analogias, Metáforas e Ensino: A sala de aula em foco. 2008.
Disponível:http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/scientia/article/view/12999/12103.
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significativa: A teoria de David Ausubel. São Paulo: Centauro, 2001.
SAKURAI, Sakaizen. Metáforas. Portal CMC. Comunicação e Comportamento.
Disponível em: http://www.portalcmc.com.br/pnl16.htm. Acesso em 09 Mar 2011.
SARMENTO, Leila Lauar; TUFANO, Douglas. Português: literatura, gramática,
produção de texto. São Paulo: Moderna. 2004.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇAO DO PARANÁ. Diretrizes Curriculares
da Educação Básica. Língua Portuguesa. Paraná, 2008.
_______________. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Língua
Portuguesa. Curitiba- PR, 2006.
SEED - PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE. Curitiba, 2012. Disponível em:
http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/pde_documento_sintese
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SOUZA, A.C. Leitura, metáfora e memória de trabalho: três eixos imbricados.
2004. 321 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Pós-graduação em Linguística,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
Correspondência:
Profª Ana Maria Luchesi Kawaii
E-mail: [email protected]
i Ana Maria Luchesi Kawai, graduada em Letras pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de
Umuarama – PR, 1985. Especialização em Estrutura do Ensino da Língua Portuguesa pela Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão, 1989. Especialização em Psicopedagogia pela Faculdades Curitiba em 2004. Docente do Colégio Estadual Dr. Xavier da Silva em Curitiba – PR há 18 anos. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná – PDE 2010, em parceria com a UEPR/FAFIPAR - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá – PR.
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