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DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS EM CIDADESMÉDIAS DO AGRONEGÓCIO
Bianca Simoneli de Oliveira
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFU.
Beatriz Ribeiro Soares
Profa. Dra. do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFU e Orientadora.
CIDADE MÉDIA DO AGRONEGÓCIO?
Neste texto nos propomos apresentar uma breve discussão conceitual sobre as
cidades médias inseridas em regiões agrícolas, tendo como respaldo teórico Milton Santos,
Beatriz R. Soares e Denise Elias. Em seguida contextualizaremos a cidade de Rio Verde/GO
do ponto de vista de sua refuncionalização agrícola e agroindustrial, no sentido de pensá-la
enquanto uma cidade média, redefinida funcionalmente para atender o agronegócio.
Dentre vários autores que tem contribuído na discussão das cidades médias,
destacamos Milton Santos, que iniciou sua reflexão sobre as cidades médias no final dos
anos de 1970, tentando sistematizar a hierarquia urbana em quatro níveis: cidades
embrionárias, cidades regionais, metrópoles incompletas e metrópoles completas; uma
classificação apoiada em numa dimensão demográfica.
A terminologia “cidade intermediária” vai aparecer nos estudos de Milton Santos
em 1988, associada à noção de “cidade regional” e “cidade média”. Uma intermediação cujo
sentido se refere aos centros que comandam a produção regional em seus aspectos
técnicos, e até certo ponto, dos aspectos políticos.
Os centros urbanos inseridos nas áreas agrícolas estão cada vez mais se
refuncionalizando em atender as demandas do campo moderno. Nessas cidades, ocorrem
mudanças no conteúdo socioeconômico e espacial, a fim de criarem novas funções e
atividades, conforme as demandas do campo.
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Enquanto cidades funcionais de comando da produção regional, Santos (1979,
1994, 1996, 2005) e Santos e Silveira (2001), se referem a elas como “cidades do campo”;
centros voltados para a moderna agricultura praticada em sua hinterlândia, deixando de ser
uma “cidade no campo”, sem expressividade econômica e social, cuja função era
unicamente reservatório de mão de obra.
Esse termo é mais amplo, sendo estendido a todas as cidades que estejam
vinculadas com as atividades modernas do campo, cidades que se reafirmam em novas
atividades implantadas para atender a demanda do consumo produtivo da agricultura, da
pecuária e da agroindústria.
Esses lugares representam estoques dos meios de consumo, estoques de
sementes, implementos, estoque de capital de giro, estoque de mão de obra nos
mais diversos níveis, centros de transporte e de comunicação, polos de difusão
de mensagem e ordens (SANTOS, 2005, p. 56).
As características das “cidades do campo” podem se estender às pequenas e
médias cidades dessas regiões agrícolas. A centralidade que ocorre em maior ou menor
grau irá estabelecer uma nova rota de contatos.
No contexto das cidades inseridas nas regiões agrícolas, destacam-se as
pesquisas da Profa. Beatriz R. Soares, que analisa o desenvolvimento das cidades médias
dos Cerrados e as novas configurações na rede urbana. As cidades inseridas nas áreas do
cerrado estão cada vez mais se refuncionalizando para a agricultura capitalista e esses
novos arranjos territoriais produtivos fortalecem a economia urbana de vários municípios,
gerando mudanças de papéis urbanos e regionais.
Soares (2007) aponta que para os estudo das cidades médias do Cerrado,
diversas características precisam ser consideradas em conjunto, dentre elas o tamanho
demográfico, suas funções, sua dinâmica intraurbana, as intensidades das relações
interurbanas com o campo, os indicadores de qualidade de vida e de infraestrutura, as
relações externas e seu comando regional.
Segundo a autora, esses fatores identificam vários padrões de cidades médias,
portanto, “é imprescindível, nesse sentido, analisar contextos territoriais concretos e
definidos, existentes em diferentes realidades socioespaciais” (SOARES, 2007, p. 463).
A autora enfatiza que as cidades médias não constituem um bloco homogêneo
de funcionalidades em nenhum período ou recorte espacial considerado. Uma afirmação
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que permeia todos os autores que abordaram essa temática.
Denise Elias é outra autora que tem contribuído muito para a discussão das
cidades com funções de atender a produção agrícola e o consumo globalizado nas regiões
agrícolas modernas.
Seus trabalhos relacionam a reestruturação produtiva da agropecuária com a
formação das cidades do campo, que ela denomina de “cidades do agronegócio”. A
mudança de termo faz jus às novas funções ligadas ao processo produtivo agropecuário e
ao agronegócio que essas cidades estão associadas. Elias (2007) afirma que elas se
transformam em lugares de todas as formas de cooperação erigidas pelo agronegócio
globalizado.
No contexto das cidades médias, inseridas nas regiões agrícolas, a autora busca
entendê-las a partir do processo da reestruturação produtiva agrícola e agroindustrial que
refuncionaliza essas cidades sob seus comandos, possibilitando a diversificação do setor
terciário e consequentemente da economia urbana.
Santos (2005) e Elias (2006 e 2007) mostram que essas cidades, desenvolvidas no
contexto de reestruturação produtiva da agropecuária, vão se equipar com o que há de
mais moderno e funcional para atender a demanda da produção da agropecuária capitalista
e agroindustrial, estabelecendo um papel de dependência entre campo e cidade, uma vez
que essas últimas fornecem aportes técnicos, financeiros, jurídicos, mão de obra, pesquisa e
acessoria, sistema de armazenagem e de todos os demais produtos e serviços necessários à
sua realização.
A ampliação e diversificação de atividades do setor terciário não atende apenas
os “consumidores do campo”; mas todos aqueles ligados ao agronegócio, seja campo ou
cidade. Isso, porque o capital provindo do agronegócio faz criar um efeito multiplicador na
economia, ou seja, o crescimento das atividades impulsiona crescimento de outros setores,
tais como o setor de comércio e prestação de serviços.
Assim, numa cidade do agronegócio, o aumento de emprego e de renda gerado
pela agroindústria ou pela produção agrícola estimula a venda nas lojas de implementos e
maquinário, nas concessionárias, nos supermercados, nas lojas de eletroeletrônicos.
Consequentemente as indústrias vendem mais para suprir os estoques e empregam mais
pessoas. Com dinheiro circulando, as pessoas criam novas necessidades, consomem mais
produtos e demandam novos, tais como serviços especializados (saúde, estética, cursos
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profissionalizantes, etc.) ou ampliação do lazer, como viagens, livrarias, boates, clubes,
bares.
Nesse sentido, as cidades que se formam no entorno desse campo inteligente,
passa a servir de maneira inteligente, mais racional, ligada cada vez mais ao circuito superior
e ao setor terciário; por isso o termo cidade do agronegócio seria mais apropriado do que
cidade do campo, uma vez que essas cidades ganham novas funções, direcionadas cada vez
mais ao agronegócio.
Elias (2006 e 2007) toma como orientação metodológica em seus estudos sobre
as cidades do agronegócio, a escolha de temas e processos que possibilite a compreensão
da produção dos espaços urbanos não metropolitanos, destacando-se: a) a formação das
redes agroindustriais e as novas relações campo-cidade; b) o mercado de trabalho
agropecuário e dinâmicas populacionais; e c) desigualdades socioespaciais.
Soares (2007) e Elias (2006, 2007) direcionam seus trabalhos buscando
compreender as transformações nos espaços produtivos agrícolas e as refuncionalizações
das cidades e das redes urbanas que são estabelecidas, contribuindo, portanto, na
caracterização das cidades médias das regiões agrícolas.
E são esses estudos que nos orientam no entendimento de Rio Verde enquanto
uma cidade média, inserida numa região agrícola, e que se refuncionaliza para o
agronegócio, sofrendo transformações de ordem funcional, econômica, social e urbana
impostas pela reestruturação da agropecuária e agroindustrial.
Nesse artigo, iremos apresentar as mudanças de ordem socioespacial vinculadas
à habitação, numa cidade média do agronegócio.
A FUNCIONALIZAÇÃO DE RIO VERDE PARA O AGRONEGÓCIO E AS DICOTOMIAS SOCIOESPACIAIS
A partir da capitalização dos Cerrados nos anos de 1970/80, houve uma
mudança singular no cenário rural/urbano do Centro-Oeste, especialmente em Goiás. O
campo se tornou a mola propulsora da economia regional, contudo, o processo de
reestruturação produtiva aliado ao capital monopolista, irá torná-lo extremamente
dependente do consumo produtivo da cidade.
Em função dessa dependência, novas funções de comando e novas
especializações foram criadas nas cidades localizadas nessas áreas e elas precisaram se
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equipar para atender as novas necessidades da agricultura científica, tais como tecnologia,
produtos, capital e mão de obra qualificada.
Segundo Elias (2006), as cidades que se desenvolvem atreladas às atividades
agrícolas e agroindustriais circundantes, dependem em graus diversos dessas atividades, de
maneira que sua produção e consumo se dão de forma globalizada. Representam um papel
fundamental para a expansão da urbanização e para o crescimento de cidades
intermediárias e locais, fortalecendo-as em termos demográficos, econômicos e funcionais.
A gestão do processo produtivo agrícola e agroindustrial necessita da
sociabilidade e dos espaços urbanos. Ao mesmo tempo em que esses processos dinamizam
a economia urbana, evidenciam também que é na cidade que se realiza a regulação, a
gestão e a normatização das transformações do espaço agrícola.
Assim, numa cidade voltada para o agronegócio, como Rio Verde, o aumento de
emprego e de renda gerado pela agroindústria ou pela produção agrícola estimula a venda
nas lojas de implementos e maquinário, nas concessionárias, nos supermercados, nas lojas
de eletroeletrônicos. Consequentemente as indústrias vendem mais para suprir os estoques
e empregam mais pessoas.
O processo de transformação pelo qual o setor agrícola se submete refletiu
diretamente no êxodo rural. O crescimento populacional junto as transformações do campo
foi causa e consequência das novas funções adquiridas pelas cidades. Em Rio Verde, o
crescimento está ligado a períodos distintos da economia local/regional. Até 1970, o
município, assim como o estado, não havia inserido na era da modernização agrícola, sua
economia se baseava numa agropecuária de baixa produtividade.
O período pós 1980 configurou-se na reestruturação produtiva da agropecuária,
em que a inserção do Meio técnico, científico e informacional estruturou uma agricultura
científica capaz de produzir em alta escala, visando o mercado internacional.
Nesse período, o campo exige uma especialização das atividades nas cidades
próximas para melhor atendê-lo em inovações e soluções técnicas, científicas e financeiras.
Além disso, ocorre uma diminuição da população rural e o crescimento da urbana.
Como podemos verificar nos dados da tabela abaixo, o setor rural de Rio Verde,
que apresentava em 1970 uma população superior a da cidade, sofre redução nas décadas
seguintes. E a cidade, passa a receber parcela desse fluxo, assim como novos imigrantes,
saltando de 26 mil habitantes no início da década de 1970 para 163 mil em 2010.
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Tabela 1: população urbana e rural de Rio Verde, entre 1970 – 2010.
Local1970 1980 1991 2000 2010
urbana Rural Urbana rural urbana rural Urbana Rural urbana ruralRio
Verde 26.927 28.770 55.541 19.158 84.142 12.167 106.079 10.473 163.540 12.884
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1970 - 2010. Secretaria de Planejamento de Goiás/ Seplan.
Essas mudanças retratam a nova divisão social e territorial do trabalho. No setor
rural, gradativamente, leis são implantadas, novos equipamentos são inseridos, novas
funções surgem e o homem do campo vai sendo expulso para as cidades.
Nesse sentido as cidades do cerrado, onde imperam o agronegócio, também
estão se tornando um espaço de reprodução do capital, notado especialmente, nos tipos de
habitações, nas localizações dos bairros de status ou de baixa renda, nos altos edifícios, na
inserção de infraestrutura dentre outros fatores. Assim o homem do campo, que, expulso
por não oferecer nada que o capital aproveite, sem qualificação e sem bens, também será
expulso no interior das cidades para suas periferias pobres.
Entre 1970/90, predominou regionalmente uma fase de implantação dos
programas Governamentais voltados a agropecuária, base da economia Goiana.
Gradativamente indústrias foram se alocando para o estado, e muitas delas se direcionando
para o Sudoeste Goiano.
A consolidação do Complexo Agroindustrial aconteceu após os anos 2000, com a
implantação da empresa BRFoods (Perdigão), que estimulou a produção de frangos e suínos
nas pequenas propriedades rurais da região, contribuindo também na cadeia produtiva
entre o campo (agricultura e pecuária) e a cidade (armazenamento, processamento,
transporte, venda).
A formação do agronegócio fortaleceu os setores secundários e terciários da
economia regional/ local e estimulou a imigração interestadual, atraídos pelo emprego nas
agroindústrias. Uma parcela originada dos estados da região Nordeste e outra parcela do
Sudeste e Sul. Em apenas uma década, 2000/2010, houve um crescimento urbano de 57 mil
habitantes, sem considerar migração pendular que outras pequenas cidades da região
mantêm com Rio Verde.
Diante disso fazemos algumas indagações: diante do crescimento populacional e
da refuncionalização voltada para o agronegócio, como se estrutura o espaço urbano
habitacional de Rio Verde? As famílias excluídas do “sucesso” do agronegócio dividem o
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mesmo espaço de moradia? Quais as formas de moradias e quais agentes estão envolvidos
nesse processo?
As cidades que atendem o agronegócio, tal qual Rio Verde, revelam no processo
de produção do espaço urbano o dinamismo econômico e social originado dessa atividade;
nelas, os empreendedores imobiliários e o Poder Público tem o papel de construir e gerir a
cidade de maneira planejada, o que nem sempre acontece.
A cidade é o palco de ações sociais, de trabalho humano e de reprodução do
capital. No espaço urbano existe uma grande quantidade de trabalho e capital aplicado em
determinados pontos. A diversidade do uso em diferentes localizações faz com que o
espaço seja suplantado pelos novos atributos criando diversos tipos de renda.
Harvey (1980) e Corrêa (2003) ao analisarem o espaço urbano, nos mostram a
dinâmica interna conforme a localização e as funções, as rendas e os agentes. Dentre esses
fatores, a localização de determinada parcela do solo permite uma série de vantagens,
segundo suas funções de uso (residencial, comercial, industrial); pode elevar ou baixar
custos, pode atender uma parcela mais restrita de status, pode gerar renda.
Em Rio Verde, o agronegócio também estimulou o mercado de solo urbano,
delimitando espaços para uma parcela da população de alta renda, tais como os
loteamentos fechados e os edifícios. E para a parcela da população de classe média ou
baixa, a divisão do solo foi realizada em forma de loteamentos abertos e conjuntos
habitacionais.
No processo de reprodução da cidade, diferentes promotores urbanos atuam
dando uma forma especifica para o desenho urbano. De acordo com Corrêa (2003) eles são
agentes que transformam, dão forma e manipulam o espaço urbano. Esses agentes sociais
são responsáveis pela (re) modelação e (re) funcionalização do espaço urbano.
A demanda de terras e habitações é fundamental para que haja um crescimento
horizontal da cidade, bem como da formação de uma nova camada social, que se origina
parcialmente dos fluxos migratórios que detêm renda, e com isso, as torna capacitadas a
consumir o mercado de terras e habitações. Em Rio Verde, o crescimento horizontal atende
não apenas uma classe solvável, ou seja, aquela que tem necessidade e capital para pagar,
mas também uma camada subjugada, fruto da imigração para atender o Complexo
Agroindustrial com mão de obra barata.
Em Rio Verde, o crescimento populacional nas duas últimas décadas gerou uma
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grande demanda de habitação. O déficit por moradia exigiu e estimulou esses agentes
sociais a resolverem essa questão de interesse social.
Nesse contexto, o papel dos promotores imobiliários no processo de
horizontalização e verticalização, em parceria com o Estado, foi notável. Em 2000 o Censo
Demográfico revelou um total de 29.735 domicílios particulares permanentes no setor
urbano, sendo que, 19.245 eram próprios e 7.825 eram alugados. Uma década depois, o
Censo contabilizou 51.407 domicílios particulares permanentes, elevando para 31.776
domicílios de caráter próprio e outros 17.600 de aluguéis.
A ação dos promotores imobiliários foi intensa entre 2000 e 2012, favorecendo o
crescimento da cidade. Somente nessa última década, foram construídos 48 novos bairros,
sendo eles loteamentos novos ou de segunda etapa, além de e conjuntos habitacionais,
como podem ser vistos na tabela a seguir.
Tabela 2: Rio Verde: loteamentos abertos entre o ano 2000 e 2012.
ANO BAIRROS ANO BAIRROS2000 Residencial Lausanne (Loteamento
fechado)2005 Recanto do Bosque
2000 Residencial Gameleira 2005 Residencial Atalaia2000 Parque dos Jatobás 2006 Bairro Dom Miguel2000 Bairro Campos Elíseos 2006 Bairro Mauricio Arantes2000 Setor Industrial de Rio Verde 2006 Bairro Valdeci Pires2001 Residencial Tocantins 2006 Residencial Maranata (Cohab)2001 Residencial Araguaia 2006 Residencial Gameleira II2001 Parque dos Ipês (Loteamento fechado) 2007 Residencial Jardim Helena (Cohab)2002 Residencial Vilaggio Terracotta
(Loteamento fechado)2007 Parque Solar do Agreste B
2002 Residencial Canaã 2007 Residencial Por do Sol2002 Setor Industrial de Rio Verde I 2007 Residencial Villa Miafiori (Loteamento
fechado)2003 Bairro Bandeirantes 2007 Vila Mafiori2003 Residencial Veneza 2007 Bairro Setor Funcionários (Cohab)2003 Vila Santa Cruz II 2008 Cidade Empresarial Nova Aliança2003 Parque dos Girassóis 2008 Residencial Moradas Rio Verde2003 Bairro Serra Dourada 2008 Residencial Solar Monte Sião (Cohab)2003 Bairro Lindolfina 2009 Loteamento Jardim Campestre2004 Setor Industrial de Rio Verde II 2010 Residencial Monte Sião (Cohab)2004 Setor Municipal de Pequenas Empresas 2010 Residencial Solar dos Ataídes2004 Residencial Água Santa 2010 Vila Santa Cruz I e II2004 Bairro Arco Íris 2010 Condomínio Jardim Paineiras (Cohab)
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2004 Residencial Dona Ilza 2011 Conjunto Habitacional Nilson Veloso(Cohab)
2005 Residencial Interlagos 2012 Vila Moreira Ataídes II2005 Residencial Engracia Vaz 2012 Residencial Greenpark
Fonte: Prefeitura Municipal de Rio Verde, 2012. (Org. autora).
De acordo com o material fornecido pela Secretaria Municipal de Habitação, a
partir de 2000, houve loteamentos durante todos os anos subsequentes; contudo o período
entre 2000 e 2006 foi o de maior expressividade. Esse processo estava revelando o impacto
do acelerado crescimento populacional em detrimento da carência por moradias e da ação
dos agentes imobiliários.
Além dos promotores, é relevante salientar o papel do Estado. Este, também tem
uma função ligada ao setor imobiliário, atuando na organização espacial da cidade; uma
atuação considerada complexa e variável, visto que ele atua diretamente como proprietário
de terras, consumidor de grandes espaços e de localizações específicas e promotor
imobiliário, quando participa parcial ou totalmente como incorporador.
Não é do interesse dos incorporadores criarem solo urbano para população de
baixa renda, uma vez que eles não tem capital para consumir. Portanto, o Estado assume
esse papel para facilitar a construção e financiamento a longo prazo. Nas palavras de Corrêa
(2003, p.17),
a demanda de terras também depende das possibilidades de remuneração do
capital investido em terras e operações imobiliárias além da política que o
Estado adota para permitir a reprodução do capital, muitas vezes utilizando a
ideologia da casa própria.
Corrêa (2003, p. 26) enfatiza sobre a ação do Estado, dizendo que,
[...] ela é marcada pelos conflitos de interesses dos membros da sociedade de
classes, bem como das alianças entre eles. Tende a privilegiar os interesses
daquele segmento ou segmentos da classe dominante que, a cada momento
estão no poder.
Destacaremos a ação do Estado na moradia tipo Conjunto Habitacional; em Rio
Verde eles se originaram de programas Municipais e Federais e tentam sanar a demanda
por moradia, ainda que sem sucesso. Em 1995 foi lançado o Conjunto Habitacional Céu Azul,
com 700 casas, por meio da parceria do Poder Público Municipal e Governo Estadual. É
comum, durante as eleições, a população ser usada como massa de manobra para eleger
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candidatos “interessados” em trazer benesses; tanto no nível municipal, quanto estadual,
mas na prática, as mudanças demoram muito para chegam. Sua localização periférica, falta
de infraestrutura e saneamento viraram um estigma no bairro.
Em 2007 foram construídas duas novas cohabs em parceria com Governo
Federal, buscando sanar a falta de moradia de baixa renda, entretanto continuou
insuficiente, como nos mostra uma nota do jornal “O espaço”, publicada em abril de 2007
sobre a nova cohab denominada Maranata; “o Governo Federal constrói 547 casas, mas não
ameniza a demanda de uma cidade que cresce em ritmo acelerado”. Tanto este
empreendimento, quanto um outro, construído na mesma época, denominado Conjunto
Habitacional Setor Funcionários, com 400 casas, foram direcionadas para funcionários
públicos municipais e da agroindústria, contendo infraestruturas tais como energia elétrica,
água encanada, asfalto e meio fio.
Ainda em parceria com o Governo Federal, a prefeitura aprovou o Conjunto
Habitacional Jardim Helena, com mais 274 casas e o Conjunto Habitacional Monte Sião, com
496 casas. (Secretaria da Habitação).
O discurso da casa própria estimula a população de baixa renda a assumir
dívidas de 25 a 30 anos para quitar o débito dos pequenos embriões que adquiriram,
geralmente sem infraestrutura necessária. As baixas possibilidades de mobilidade social,
muitas vezes cria uma paisagem inóspita, de casas padronizadas, pequenas, às vezes
inacabadas.
Ao todo, já foram construídas mais de 2.600 moradias para pessoas de baixa
renda após 1995. Se multiplicarmos esse valor por três moradores, teremos
aproximadamente moradia garantida para mais de 8.000 pessoas. Contudo, se analisarmos
que o crescimento populacional entre 2000 e 2010 foi de 57 mil habitantes no setor urbano,
ainda teremos déficit de moradia na cidade. Uma forte ocasião em que os promotores
imobiliários promovem mais loteamentos urbanos.
Podemos visualizar a distribuição desses loteamentos por meio da planta da
cidade (figura 1); ela nos revela um processo de loteamento que está se dispersando,
crescendo de maneira espraiada, pois são abertos em áreas onde não há continuidade do
tecido urbano. A integração ocorre por conta do Poder Público para levar infraestrutura e
equipamentos urbanos.
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Figura 1: Planta de Rio Verde, 2014.
Fonte: Secretaria de Obras, Prefeitura Municipal de Rio Verde.
A cidade possui um Plano Diretor, refeito em 2008/2009, que divide a cidade em
setores funcionais, e delimita um perímetro urbano, que até a ocasião não existia. Contudo,
o crescimento na prática, tem sido orientado pelos incorporadores na tentativa de uma
setorização urbana tendo como viés, a renda. Ou seja, a especulação imobiliária ocorre mais
intensamente em algumas áreas do que outras, gerando setores mais homogêneos, tanto
para alta ou baixa renda, tendo como respaldo amenidades tais como a localização e os
equipamentos públicos existentes.
Podemos visualizar isso na planta, levando em consideração o conhecimento de
campo, que no setor norte-noroeste, muitos loteamentos realizados após o ano 2000, foram
direcionados para as classes de maior poder aquisitivo, dentre eles destaca-se o Residencial
Interlagos, que após ser loteado, recebeu a instalação da nova Câmara Municipal de Rio
Verde, além da implantação de um lago urbano, como maneira de gerar status e
valorização.
Observando a planta, e se dirigindo para a outra direção Leste-Nordeste, iremos
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verificar uma grande concentração de bairros de baixa renda, salvo exceção para uma “ilha”,
o loteamento Residencial Veneza (figura 2). Os demais loteamentos vão tornar o conteúdo
socioeconômico cada vez mais homogêneo, incluindo nesses, as cohabs Maranata e Céu
Azul e loteamentos de autoconstrução tais como Bairro Dom Miguel, Maurício Arantes e
Valdeci Pires, que apresentando alto índice de criminalidade.
Figura 2: Rio Verde - Residencial Veneza (esquerda) e Conjunto Habitacional Céu Azul, 2013.
Autor: OLIVEIRA, B. S. de, 2014.
Harvey (1980) nos mostra que a propriedade do solo baseia-se no monopólio de
determinada classe social. O poder de uso do solo depende diretamente de condições
econômicas específicas que independe da vontade de decisão. Em toda forma de renda a
sua apropriação é a forma econômica da realidade de posse de determinada parcela do
solo.
Segundo esse autor, a renda diferencial, que surge do excedente de lucro de
certas propriedades em situação de vantagem que são embolsadas pelo proprietário sob
forma de renda, assume seu significado em um espaço relativo que é estruturado por
diferenciais em capacidade produtiva, em localizações diferentes e que é integrado,
espacialmente, através das relações de custo de transporte e amenidades.
Podemos verificar o crescimento da renda diferencial no solo de Rio Verde por
meio do processo de verticalização. O acelerado crescimento da cidade em função do
agronegócio pode ser visto e lido por meio da transformação vertical da paisagem urbana;
cada vez mais, amplia-se o número de prédios de luxo com mais de 10 andares. Os
empreendedores atentos a uma parcela da sociedade capaz de consumir moradias de alto
custo, buscaram investir nesse ramo.
Apesar desse tipo de moradia não ser uma necessidade numa cidade do porte
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de Rio Verde, em função de terras disponíveis e equipadas no perímetro urbano, ainda
assim, o discurso da segurança, comodidade e status garantem as vendas para
consumidores de rendas elevadas, ligados as atividades da agropecuária e aos nexos do
terciário, tais como empresários, diretores, profissionais liberais. São esses empresários
rurais e industriais que investem na verticalização, estimulando o mercado de habitações de
luxo.
A localização central, proximidade com serviços bancários, comércio,
alimentação lazer, além do status representativo, segurança e conforto, são fatores que
favorecem o consumo por esse tipo de investimento.
Esse processo estimulou e alavancou a economia local ligada a construção civil.
Entre jan./2003 e set./2010, o SINE local registrou 3.727 ofertas de empregos no setor da
construção civil, a maioria das vagas direcionadas para serventes e pedreiros. Desses, 2.064
funcionários foram contratados. Segundo informações do coordenador dessa instituição, o
setor de construção civil tem atualmente uma imensa carência por mão de obra qualificada,
faltam pessoas na cidade para realizar esse trabalho.
Em 2008, Rio Verde apresentava 25 edifícios acima de quatro andares
construídos e outros em construção (com mais de 10 andares). Além desse tipo de moradia
demandar renda e muitas taxas sobre o solo criado, a procura por esses imóveis elevou
mais o preço final, estimulando o novo processo de especulação imobiliária.
Outro tipo de moradia que destacamos são os loteamentos fechados. Comuns
nas metrópoles, esse novo conceito de moradia também chegam às cidades médias do
agronegócio.
Estes loteamentos apresentam alguns elementos que os distinguem dos
loteamentos abertos. Segundo pesquisa de Sobarzo e Sposito (2003), esses loteamento se
caracterizam pela exclusividade social, sistemas de segurança, qualidade ambiental,
funcionalidade e autonomia administrativa, além disso, distinguem dos loteamentos abertos
pelo muro, que será a separação visível da segregação social e econômica na cidade.
Sposito (2006, p. 176), analisando os loteamentos fechados das cidades
paulistas, nos informa que essas edificações não são tão recentes na história da
humanidade, mas que podem ser compreendidas como novos habitats urbanos, “porque
rompem com os princípios de unidade e de integração socioespaciais que sempre
marcaram a cidade [...]”.
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Em Rio Verde, os loteamentos fechados são empreendimentos recentes,
surgindo a partir do ano 2000. Neles, o empreendedor direciona o empreendimento
excepcionalmente para os grupos de renda solvável, inseridos no agronegócio, tais como os
profissionais liberais, empresários, funcionários de alto padrão e agropecuaristas.
Em 2001 a empresa Perdigão foi corresponsável pela construção de 50 casas no
loteamento fechado denominado “Parque dos Ypês” (figura 3), buscando suprir a carência
de moradias de luxo para seus funcionários de alto escalão que vieram transferidos de
outra unidade da região Sul. Nele, a estrutura de isolamento também é regra: guarita
vigiada, portões, segurança, muros altos, residências de luxo, infraestrutura e área de lazer
(quadras e playgrond). Sua localização também é pertinente: localizada em avenida
duplicada que dá acesso ao setor universitário, onde se localizam faculdades e Fórum, ou
acesso rápido ao centro.
Figura 3: Rio Verde - Loteamento fechado “Parque dos Ypês” (Guarita e Muros), 2013.
Autor: OLIVEIRA, B. S. de, 2014.
De acordo com Cabrales Barajas (2002), esses novos habitats urbanos,
verticalização ou loteamento fechado representam um “ostracismo residencial”. Os grupos
mais elitizados desejam se separar do resto da cidade e fecharem-se em seus mundos;
buscam ignorar contradições e as desigualdades socioeconômicas presentes no Brasil e
bem representadas no espaço urbano de Rio Verde. Ignoram as “várias cidades” existentes
numa única: a dos pobres sem bens, em contraste com a dos ricos empreendedores, mas
ambas as classes, mantenedoras do agronegócio regional.
PARA NÃO FINALIZAR
A consolidação do agronegócio nas terras do Cerrado Goiano tem nos revelado
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uma reestruturação no espaço urbano das cidades médias, inseridas nessa lógica. Essas
cidades, entendidas como cidades médias do agronegócio, se refuncionalizam para o campo
produtivo e sofrem mudanças de ordem funcional, econômica, social e urbana.
O acelerado crescimento populacional presente em Rio Verde, fruto do êxodo
rural e da migração interestadual, tem contribuído significativamente no mercado de terras
urbanas, provocando mudanças nas formas urbanas, nas suas funções e nos preços.
Trata-se de um processo em que o solo urbano, entendido apenas como mercadoria, deixa
de cumprir com a sua função social, garantindo a todo o direito à cidade. Com isso, a cidade
do agronegócio tem intensificado a segregação socioespacial, cujos muros, visíveis ou não,
limita as possibilidades de mobilidade social, agravando a contradição capitalista que faz do
mesmo espaço o local de geração de riqueza e reprodução da pobreza.
Presenciamos uma cidade rica, cuja arrecadação de ICMS, a coloca como a
terceira cidade que mais arrecada em Goiás (Secretaria Estadual da Fazenda, 2013), no
entanto, as desigualdades socioresidenciais são evidentes e revelam uma forte
concentração de renda, verificada na configuração espacial, onde há espaços de pobreza e
espaços concentrados de riqueza. A lógica capitalista que permeia o acesso a terra é
perverso, e é mascarada pela fama do agronegócio, sob o discurso de “terra de
oportunidades, terra de riquezas”. O solo se tornou moeda cara, e a moradia tem se e
tornado um sonho distante para muitos que vivem ou vem para essa cidade, atrás do sonho
de oportunidades.
REFERÊNCIAS
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DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS EM CIDADES MÉDIAS DO AGRONEGÓCIO
EIXO 3 – Desigualdades urbano-regionais: agentes, políticas e perspectivas
RESUMO
A inserção do capitalismo nos Cerrados brasileiros a partir de 1970 modificaram a paisagem e a
função de uma das regiões mais desvalorizadas economicamente no país. Resultado de
investimentos Estatais por meio das Políticas Públicas voltadas à agricultura, o Cerrado tornou-se
o espaço agrícola de maior produção no Brasil. Aos poucos, as áreas rurais do Centro-Oeste
foram gradativamente incorporadas à produção agropecuária globalizada, atendendo as
exigências da agricultura científica e do agronegócio.
O estado de Goiás foi palco dessas mudanças agrícolas, uma vez que recebeu investimentos
governamentais. A substituição dos Cerrados por uma agricultura de exportação está
reestruturando as velhas formas/funções e incorporando novas exigências capitalistas no campo.
Uma singular representante dessa refuncionalização é a cidade de Rio Verde, localizada na
Microrregião do Sudoeste de Goiás, cuja economia, até a década de 1980, era
predominantemente voltada à pecuária. A partir da capitalização do campo, o Sudoeste Goiano,
irá incorporar mudanças técnicas, sociais e econômicas, e junto a isso, também será palco da
formação de um complexo agroindustrial de grãos (soja) e carnes (frigoríficos), onde boa parte da
estrutura está instalada na cidade de cidade de Rio Verde, tais como a COMIGO, a BRFoods, o
Frigorífico Margem dentre outras, ou seja, grandes agroindústrias que possuem relações diretas
com o campo e modificam diretamente a estrutura socioespacial da cidade.
Nesse sentido, considerando a complexidade de transformações pelas quais a cidade se
submeteu em função do campo moderno e do agronegócio, nos propomos nesse trabalho
mostrar o reflexo do agronegócio em cidades que o sustentam, especificamente em relação a
moradia, como é o caso de Rio Verde.
Os procedimentos metodológicos desenvolvidos para o desenvolvimento dessa pesquisa foram
leituras teóricas para a compreensão das mudanças socioeconômicas do espaço agrário
brasileiro, cidades médias, cidades do campo, agronegócio e habitação, para tanto, destacamos
autores tais como Corrêa (2003), Elias (2006, 2007), Harvey (1980), Santos (2005), Santos e
Silveira (2001), Soares (2007), dentre outros.
Trata-se de um trabalho de Doutorado em andamento, que busca contribuir na discussão recente
sobre as cidades médias que estão inseridas em áreas do agronegócio, entender sua
refuncionalização e as novas dinâmicas intraurbanas a que se submetem.
Por meio dessa pesquisa, já podemos constatar que Rio Verde, passa por uma reestrutração
urbana, em que as mudanças no setor urbano são evidentes. No entanto as desigualdades
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socioespaciais vão se associando ao desenrolar do agronegócio. A lógica capitalista que permeia
o acesso a terra é perverso, e é mascarada pela fama do agronegócio, sob o discurso de “terra de
oportunidades, terra de riquezas”. O solo se tornou moeda cara, e a moradia tem se e tornado um
sonho distante para muitos que vivem ou vem para essa cidade, atrás do sonho de oportunidades.
Palavras-chave: Desigualdades socioespaciais – agronegócio – habitação
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