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David Graeber narra Revolução de KobanePOR DAVID GRAEBER
– ON 28/01/2015
CATEGORIAS: ALTERNATIVAS, MUNDO, PÓS-CAPITALISMO, POSTS
ntropólogo anarquista conta experiência em territórios curdos
libertados, onde partido marxista aderiu a práticas de autonomia e
exército composto por mulheres expulsou ultra-fundamentalistas
Por David Graeber, entrevistado por Pinar Öğünç’s| Tradução
Jornal Mapa
Os milicianos armados do Estado Islâmico (ISIS), terão que
reformular uma de suas canções: “O Estado Islâmico permanece, o
Estado Islâmico cresce”. Reconhecidos hoje como a maior ameaçaundamentalista do Oriente Médio, o ISIS acaba de sofrer um
inesperado revés, depois de triunfar em consecutivas batalhas contra
orças iraquianas e síria. Nesta segunda-feira (26/01), depois de 134
dias de resistência, a guerrilha curda, reunida nas Unidades de
Proteção do Povo (Yekîneyên Parastina Gel – YPG), surpreendeu o
mundo, expulsando as tropas do ISIS da cidade de Kobane, em
território curdo situado no norte da Síria, junto à fronteira com a
Turquia. Trata-se da derrota mais importante imposta sobre o ISIS na
Síria desde sua aparição.
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Desde o inicio da ofensiva contra Kobani, em 16 de setembro de 2014,
mais de 600 combatentes curdos e 1000 jihadistas morreram. A vitória
oi comemorada nas redes sociais após anúncio feito pelo porta-voz
oficial do YPG, Polat Can, via Twitter. Assim como o ISIS, os
combatentes curdos articulam-se na rede mundial de computadores.
Nas paginas do Facebook Kurdish Resistance & Liberation e
Solidariedade à Resistência Popular Curda pode-se acompanhar
as fotos e vídeos dos últimos confrontos e a festa de comemoração
após a vitória. Nem o mais otimista analista político, nem a
oderosa coalizão encabeçada pelos EUA para derrotar o ISIS,
esperavam tamanha proeza. Como é possível que uma guerrilha
ormada por homens e mulheres, desamparados militarmente pela
alta de um Estado oficial, consiga derrotar a tropa mais sanguinária
dos últimos tempos?
David Graeber, professor de Antropologia (London School of
Economics), passou 10 dias em Cizire – um dos acampamentos em
Rojava, zona ocupada pelo curdos ao norte da Síria. Junto com
estudantes, ativistas e acadêmicos, ele teve a oportunidade de
observar a democracia confederalista curda.
O que motivou a ida de Graeber, foi uma pergunta feita em artigo
ublicado em Outubro passado no “The Guardian”, durante a
rimeira semana dos ataques do ISIS a Kobane: por que é que o
mundo estava ignorando os Kurdos Sírios revolucionários?
Mencionando o seu pai, que se voluntariou para lutar nas Brigadas
Internacionais na república espanhola em 1937, perguntou:
“Se existe hoje um paralelo com os assassinos falangistas,
superficialmente devotos de Franco, quem será senão o ISIS? Se existe
hoje um paralelo com as Mujeres Libres de Espanha, quem será senão
as corajosas mulheres que defendem as barricadas de Kobane? Vai omundo – e desta vez mais escandalosamente, a esquerda internacional
— ser condescendente em deixar que a história se repita?”
De acordo com Graeber, a zona de Rojava é fundamentalmente
anti-estado, anti-capitalista e radicalmente democrática. Uma notável
experiência revolucionária na região, que separa o poder coercitivo
da administração pública e obriga aulas de feminismo para toda
opulação. Leia a seguir, as impressões políticas que Graeber
concedeu a Pinar Öğünç’s. ( Cauê Seignemartin Ameni )
No artigo para o Guardian
perguntaste por que é que omundo ignora a “experiencia
democrática” dos curdos sírios.
Depois da experiência de 10 dias,
tens uma nova questão ou talvez
uma resposta para isso?
Bem, se alguém tinha dúvidas se
isto era uma verdadeira revolução,
ou só alguma “sombra”, diria que
esta visita tira todas as dúvidas.
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Ainda existem pessoas a dizer: “Isto
é só uma frente do PKK (Partido
dos Trabalhadores do Curdistão), na verdade são só uma organização
autoritária stalinista, que apenas finge ter adotado uma democracia
radical”. Não. Isto é mesmo a sério. É uma revolução genuína. Mas de
certa maneira, é exatamente esse o problema. Os grandes poderes
têm-se entregado a uma ideologia que diz que as verdadeiras
revoluções já não podem acontecer. Entretanto, muita da esquerda,
mesmo a radical, parece taticamente ter adotado a política que assume
o mesmo, apesar de parecerem superficialmente revolucionários.
Assumem um tipo de “anti-imperialismo” puritano que assume que os
únicos jogadores importantes são os governos e capitalistas, e que esse
é o único jogo que vale a pena discutir. O jogo onde se batalha, se
criam vilões míticos, se agarra petróleo e outros recursos, montam-se
redes de patrocínios; é o único jogo da cidade. O povo de Rojava diz:
“Nós não queremos jogar esse jogo. Queremos criar um novo”. Muita
gente acha isto confuso e perturbador, então escolhem acreditar que
não está acontecendo nada, ou que essas pessoas estão iludidas, são
desonestas ou ingênuas.
Desde Outubro que vemos uma crescente solidariedade vinda de váriosmovimentos políticos de todo o mundo. Houve uma grande e
entusiástica cobertura da resistência em Kobane pelos média
mainstream internacionais. A posição política perante Rojava mudou
no Ocidente, de certa forma. Existem sinais significativos mas
estariam discutindo suficientemente a autonomia democrática e as
experiências nos cantões de Rojava? Que parte de “algumas pessoas
corajosas a lutar contra o grande mal desta era, o ISIS” não estará a
dominar esta aprovação e este fascínio? Acho que é notável que tanta
gente no Ocidente olhe para estes quadros de feministas armadas, por
exemplo, e nem sequer pense nas ideias por trás delas. Apenas se
apercebem que assim aconteceu, por algum motivo. “Penso que é uma
tradição curda”. De certo modo, claro que se trata de orientalismo, ousimplesmente racismo. Nunca lhe ocorreu que as pessoas no Curdistão
também possam ler Judith Butler. Na melhor das hipóteses pensam:
“Oh, estão tentando alcançar os padrões ocidentais da democracia e
dos direitos das mulheres. Será que é a sério ou será que é só para os
estrangeiros verem?”. Não lhes ocorre que eles podem estar levando as
coisas bem mais longe que os “padrões ocidentais” alguma vez
levaram; que acreditam genuinamente nos princípios que os Estados
ocidentais apenas professam.
Mencionaste a aproximação da esquerda sobre Rojava. Como isso
é recebido nas comunidades anarquistas internacionais?
A reação da comunidade anarquista internacional tem sido
decididamente diversa. De certa maneira, acho difícil de entender.
Existe um grupo substancial de anarquistas – normalmente os
elementos mais sectários – que insiste que o PKK ainda é um grupo
nacionalista autoritário stalinista, que adotou as teoria do Murray
Bookchin, e outros partidários da esquerda libertária, para cortejar a
esquerda anti-autoritária na Europa e América. Parece-me uma das
ideias mais parvas e narcisistas que já ouvi. Mesmo que a premissa
estivesse correta, e que um grupo marxista-leninista decidisse fingir
uma ideologia para obter apoio estrangeiro, por que raio é que iriam
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Noam Chom sk y - Fabricação doConsenso 1992 ( legendas em português
)
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escolher ideias anarquistas desenvolvidas por Murray Bookchin? Isso
seria a jogada mais estúpida de sempre. Obviamente fingiriam ser
islamitas ou liberais, já que são esses que conseguem armas e apoio
material. De qualquer maneira, penso que muita gente na esquerda
internacional, incluindo a esquerda anarquista, não quer basicamente
ganhar. Não conseguem imaginar que uma revolução realmente
acontecesse, e, secretamente, nem sequer a querem, uma vez que isso
significaria partilhar o seu clube “cult” com pessoas comuns; já não
seriam especiais. Assim, até é útil para separar os verdadeiros
revolucionários dos “posers”. Mas os verdadeiros revolucionários
têm-se mantido firmes.
Qual foi a coisa mais impressionante que testemunhaste em
Rojava nos termos práticos desta autonomia democrática?
Existem tantas coisas impressionantes. Acho que nunca ouvi falar de
nenhum outro lado do mundo onde tenha existido uma situação de
dualidade de poder, onde as mesmas forças políticas criaram ambos os
lados. Existe a “auto-administração democrática”, onde existem todas
as formas e armadilhas de um Estado – Parlamento, ministros, e por aí
–, mas criada para ser cuidadosamente separada dos meios do poder
coercivo. Depois há o TEV-DEM (o Movimento da Sociedade
Democrática), raiz das instituições, dirigido via democracia direta. No
final – e isto é fulcral – as forças de segurança respondem perante as
estruturas que seguem uma abordagem de baixo para cima, e não de
cima para baixo. Um dos primeiros locais que visitamos foi a
academia de polícia (Asayis). Todos tiveram que frequentar cursos de
resolução de conflitos não violenta e de teoria feminista antes de serem
autorizados a pegar numa arma. Os co-diretores explicaram-nos que o
seu objectivo final é dar seis semanas de treino policial a toda a gente
no país, para que em última análise se possa eliminar a polícia.
O que responderias às várias críticas em torno de Rojava? Por
exemplo: “Eles nunca fariam isto em tempos de paz. É por causa
do estado de guerra”…
Bem, penso que a maioria dos movimentos, perante as condições
horrendas da guerra, não iria no entanto abolir imediatamente a pena
capital, dissolver a polícia secreta e democratizar o exército. As
unidades militares, por exemplo, elegem os seus oficiais.
E existe outra crítica, bastante popular nos círculos pro-governo
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aqui na Turquia: “O modelo que os Curdos – na linha do PKK e
PYD (o Partido Curdo de União Democrática, na Síria) – estão
tentando promover não é na verdade seguido por todas as pessoas
que lá vivem. Essa multi-estrutura existe apenas à superfície, nos
símbolos”…
Bem, o presidente do cantão de Cizire é árabe, é de fato o chefe da
maior tribo local. Suponho que se possa dizer que ele é só uma figura.
No sentido que todo o governo o é. Mas ao olhar para as estruturas
organizadas de baixo para cima, é certo que não são só os curdos que
estão participando. Disseram-me que o único problema sério é com
algumas aldeias do “cinto árabe”, pessoas trazidas de outras partes da
Síria pelos Baathistas nos anos 50 e 60, como parte de uma política de
marginalização e assimilação dos curdos. Algumas dessas
comunidades afirmaram-se bastante hostis à revolução. Mas os árabes
cujas famílias já estão lá há várias gerações, ou os assírios, quirguizes,
arménios, chechenos, mostram-se entusiasmados. Os assírios com
quem falámos disseram que, após uma longa e difícil relação com o
regime, sentiram que finalmente lhes era permitida autonomia cultural
e religiosa. Provavelmente, o maior problema pode ser o da libertação
das mulheres. O PYD e o TEV-DEM vêem isso como absolutamentecentral na sua ideia de revolução, mas também enfrentam o problema
de lidar com alianças maiores, com comunidades árabes que sentem
que isto viola princípios religiosos básicos. Por exemplo, enquanto
aqueles que falam siríaco têm a sua própria união de mulheres, os
árabes não, e as raparigas árabes interessadas em organizar-se em
torno de questões de gênero ou até assistir a seminários feministas têm
de se juntar com os assírios ou mesmo com os curdos.
Não é necessário estar preso no “quadro anti-imperialista
uritano” que mencionaste antes, mas o que dirias em relação ao
comentário que o Ocidente/imperialismo irá um dia exigir aos
curdos sírios um pagamento pelo seu apoio? O que é que oOcidente pensa exatamente sobre este modelo anti-estado e
anti-capitalista? É apenas uma experiência que pode ser ignorada
durante um estado de guerra, enquanto os curdos aceitam
oluntariamente combater um inimigo criado pelo Ocidente?
É absolutamente verdade que os EUA e a Europa irão fazer o que
poderem para subverter a revolução. Nem é preciso dizer nada. As
pessoas com quem falei estão bem cientes disso. Mas não fazem
grande diferenciação entre a liderança de poderes regionais como na
Turquia, Irã ou Arábia Saudita, e poderes Euro-americanos como por
exemplo França ou EUA. Assumem que são todos capitalistas e
estadistas e portanto anti-revolucionários, que podem no melhor doscasos ser convencidos a apoiarem-nos mas que, em última análise, não
estão do seu lado. Depois existem questões ainda mais complicadas da
estrutura da chamada comunidade internacional, o sistema global de
instituições como a ONU ou FMI, corporações, ONG’s, organizações
humanitárias, em que todas presumem uma organização estadista, um
governo que pode passar leis e detém o monopólio da aplicação
coerciva dessas leis. Só existe um aeroporto em Cizire e está sobre o
controlo do governo Sírio. Podem tomá-lo a qualquer altura, dizem. E
há uma razão para não o fazerem: como iria um não-Estado dirigir um
aeroporto? Tudo o que se faz num aeroporto é sujeito a regulamentos
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internacionais, o que presume um Estado.
Tens uma resposta para o porquê da obsessão do ISIS com
Kobane?
Bem, eles não podem ser vistos perdendo. Toda a sua estratégia de
recrutamento é baseada na ideia que eles são imparáveis, e que a sua
contínua vitória é a prova que representam a vontade de Deus. Serem
derrotados por um monte de feministas seria a humilhação final.
Enquanto estiverem lutando em Kobane, podem dizer que a mídia
mente e que estão avançando verdadeiramente. Quem pode provar o
contrário? Se recuassem seria admitir a derrota.
Tens resposta para o que Tayyip Erdogan e o seu partido estão
tentando fazer na Síria e o Médio Oriente em geral?
Posso apenas imaginar. Parece que Erdogan passou de uma política
anti-Assad e anti-curda para uma estratégia quase puramente
anti-curda. Repetidamente tem mostrado vontade de se aliar com
fascistas pseudo-religiosos para atacar qualquer experiência de
democracia radical inspirada no PKK. Ele vê claramente, como o
próprio Daesh (ISIS), que o que está sendo feito é uma ameaça
ideológica, talvez a única alternativa ideológica viável face ao
islamismo de direita que se avizinha, e tudo fará para a eliminar.
De um lado existem os curdos iraquianos com uma ideologia bem
diferente em termos de capitalismo e noção de independência. Por
outro lado, existe este exemplo alternativo em Rojava. E existem os
curdos da Turquia que tentam manter um processo de paz com o
governo… Pessoalmente, como vês o futuro do Curdistão a curto e
a longo prazo?
Quem pode dizer? Neste momento as coisas parecem
surpreendentemente boas para as forças revolucionárias. O KDG até
desistiu da enorme vala que estava construindo através da fronteira de
Rojava, após o PKK intervir e salvar Erbil e outras cidades dos
avanços ISIS, em Agosto. Um membro do KNK me disse que isso teve
um grande impacto na consciência popular; que um mês criou tanta
consciência como 20 anos. Os jovens estavam particularmente
impressionados pelo fato d seus próprios Peshmerga abandonarem o
campo de batalha mas as mulheres do PKK não. Mas é difícil de
imaginar como é que o território de KRG será contudo revolucionado
num futuro próximo. Nem o poder internacional o permitiria.
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Apesar da autonomia democrática não parecer estar em cima da
mesa de negociações na Turquia, o Movimento Político Curdo está
trabalhando nisso, especialmente a nível social. Tentam encontrar
soluções em termos legais e económicos para possíveis modelos.
Quando comparamos, digamos, a estrutura de classes e o nível de
capitalismo no Curdistão Ocidental (Rojava) e no Norte (Turquia),
o que pensas sobre as diferenças destas duas lutas para uma
sociedade anti-capitalista – ou para um capitalismo minimizado,
como o descrevem?
Penso que a luta curda é explicitamente anti-capitalista em ambos os
países. É o seu ponto de partida. Conseguiram uma espécie de fórmula:
não eliminar o capitalismo sem eliminar o Estado, e não podemos
eliminar o Estado sem eliminar o patriarcado. No entanto, o povo de
Rojava tem a questão simplificada em termos de classes porque a
verdadeira burguesia, tal como existia numa região maioritariamente
agrícola, desapareceu com o colapso do regime de Baath. Enfrentarão
um problema a longo prazo se não trabalharem no sistema educativo,
para assegurar que um estrato tecnocrata de desenvolvimento não tente
eventualmente tomar poder, entretanto, é compreensível que se foquem
de imediato nas questões de gênero. Na Turquia não sei tanto, mastenho a sensação que as coisas são muito mais complicadas.
Durante os dias em que as pessoas do mundo não podiam respirar
or razões óbvias, a tua viagem a Rojava inspirou-te sobre o
futuro? Qual achas que é o “remédio” para as pessoas respirarem?
Foi extraordinário. Passei a minha vida pensando em como
poderíamos fazer coisas como estas num futuro remoto e a maioria das
pessoas pensa que sou louco por imaginar que isto alguma vez vai
acontecer. Estas pessoas estão fazendo agora. Se eles provarem que
pode ser feito, que uma sociedade genuinamente igualitária e
democrática é possível, isto irá transformar completamente a noção de possibilidades humanas. Pessoalmente, sinto-me dez anos mais novo
só de ter lá passado dez dias.
Com que cena te irás recordar da tua viajem a Cizire?
Existem tantas imagens impressionantes, tantas ideias. Gostei da
disparidade entre o aspecto das pessoas e as coisas que diziam.
Conhece-se alguém, um médico, que parece um militar sírio,
vagamente assustador, de casaco de cabedal e expressão austera.
Depois fala-se com ele e ele explica: “Bem, sentimos que a melhor
abordagem à saúde pública é a prevenção, a maioria das doenças
ocorre devido ao stress. Sentimos que se reduzirmos o stress, os níveisde doenças de coração, diabetes, e mesmo o cancro irão diminuir.
Assim, o nosso plano final é reorganizar as cidades para terem 70% de
espaços verdes…” Existem todos estes planos loucos e brilhantes. Mas
depois vai-se ao médico ao lado e explica-nos que, graças ao embargo
turco, não conseguem sequer obter equipamento ou medicamentos
básicos, que todos os pacientes para diálise que não foram levados dali
morreram… Esta disjunção entre as ambições e as incríveis e difíceis
circunstâncias. A mulher que era efetivamente a nossa guia era uma
vice-chanceler chamada Amina. A certa altura, pedimos desculpa por
não termos trazido presentes melhores e ajudado a população de
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Rojava, que sofrer sob o embargo. E ela disse: “No final, isso pouco
importa. Temos a única coisa que ninguém nos pode dar. Temos a
nossa liberdade. Vocês não. Quem me dera que houvesse uma maneira
de poder dá-la”.
É as vezes criticado por seres demasiado otimista e entusiasta
sobre o que está acontecendo em Rojava. Achas que és? Ou há
alguma coisa que não entendem?
Sou otimista de
temperamento,
procuro situações
que carreguem
alguma promessa.
Não acho que
existam garantias
que isto resultará no
final, que não será
esmagado, mas certamente que não será se toda a gente decidir que
nenhuma revolução é possível e se recusar a dar-lhe apoio ativamente,
ou até dedicar esforços a atacá-la ou aumentar o seu isolamento, comomuitos fazem. Se existem alguma coisa da qual tenho consciência e os
outros não, talvez seja o fato da história não estar terminada. Os
capitalistas têm feito um esforço enorme nos últimos 30 ou 40 anos em
convencer as pessoas que os atuais acordos econômicos – nem sequer
o capitalismo, mas a forma de capitalismo semi-feudal, financializada,
peculiar que temos hoje em dia – são o único sistema econômico
possível. Puserem mais esforços nisto do que em criar um sistema
capitalista global viável. Como resultado, o sistema está a
despedaçar-se à nossa volta no preciso momento em que toda a gente
perdeu a capacidade de imaginar outra coisa. Bem, é bastante óbvio
que em 50 anos, o capitalismo sob qualquer forma que conheçamos, e
provavelmente sob qualquer outra forma, já não existirá. Terá sidosubstituído por outra coisa. Essa coisa pode não ser melhor. Pode até
ser pior. Por esse mesmo motivo, parece-me que é nossa
responsabilidade, enquanto intelectuais, ou simplesmente seres
humanos pensantes, de pelo menos pensar como será uma coisa
melhor. E se existem pessoas que estão verdadeiramente tentando criar
essa coisa melhor, é nossa responsabilidade ajudá-las.
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David Graeber
Anarquista, antropólogo e professor no Colégio
Goldsmith da Universidade de Londres .
Anteriormente foi professor associado na
Universidade de Yale. Graeber participa ativamente
em movimentos sociais e políticos, protestanto
contra o Fórum Econômico Mundial de 2002 e o
movimento Occupy Wall Street. Ele é membro do
Industrial Workers of the World e faz parte docomite da Organização Internacional para uma
Sociedade Participativa (em inglês: International
Organization for a Participatory Society)
TAGS: curdos, David Graeber, EUA, França, isis, Oriente Médio,kk , Síria, Turquia, Yekîneyên Parastina Gel, YPG
4 Comments
Júlio César
Posted janeiro 29, 2015 at 9:32 AM
Que história f antástica!!!
Jucenira M onteiro
Posted janeiro 29, 2015 at 1:50 PM
que experiência fantástica desse povo ! eu creio q é possível, sim!
António Costa
Posted janeiro 29, 2015 at 10:32 PM
Paraf raseando o Poeta Ruy Belo, tudo é possív el é só querer… temos a
responsabilidade de apoiar esta v erdadeira revolução. A única f orma de apoioreal e capaz de contribuir para que não seja derrotada é lutarmos contra o
capitalismo e o imperialismo, no país e no continente europeu. Por uma
comunidade em que as culturas de todo o mundo se possam desenv olv er
livremente….
Luiz Fernando
Posted fevereiro 1, 2015 at 4:10 PM
Guevara dizia que não existem libertadores, é o pov o que se liberta e esta
comunidade está provando isto
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