UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
DANIEL LOPES DE LUNA FREIRE
CAPELA SANTA RITA DE CUITEZEIRAS: ANTEPROJETO
DE RESTAURO PARA A CAPELA NO MUNICÍPIO DE PEDRO
VELHO
NATAL
2019
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - CT
Freire, Daniel Lopes de Luna.
Capela Santa Rita de Cuitezeiras: anteprojeto de restauro
para capela no município de Pedro Velho / Daniel Lopes de Luna Freire. - Natal, 2019.
74f.: il.
Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e
Urbanismo.
Orientador: José Clewton do Nascimento.
Coorientador: Paulo Heider Forte Feijó.
1. Restauro - Monografia. 2. Capela de Santa Rita de Cássia -
Monografia. 3. Pedro Velho - Monografia. I. Nascimento, José
Clewton do. II. Feijó, Paulo Heider Forte. III. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título.
RN/UF/BSE15 CDU 72.02
Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CAPELA SANTA RITA DE CUITEZEIRAS: ANTEPROJETO
DE RESTAURO PARA A CAPELA NO MUNICÍPIO DE PEDRO
VELHO
Trabalho Final de Graduação como requisito
para a conclusão do curso de Bacharelado em
Arquitetura e Urbanismo
Discente: Daniel Lopes de Luna Freire
Orientador: José Clewton do Nascimento
Coorientador: Paulo Heider Forte Feijó
NATAL
2019
DANIEL LOPES DE LUNA FREIRE
Aprovação em 17 de junho de 2019
Banca Examinadora
_____________________________________
Prof. José Clewton do Nascimento
Orientador
Arquiteto e Urbanista, professor na Universidade Federal do Rio Grande
do Norte - UFRN
_____________________________________
Prof.º George Alexandre Ferreira Dantas,
Convidado interno
Arquiteto e Urbanista, professor na Universidade Federal do Rio Grande
do Norte - UFRN
___________________________________________________
Profª Mônica Rosário Alves
Convidada externa
Arquiteta e Urbanista, professora na Universidade Potiguar - UnP
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Maria Jacqueline e Clésio que sempre me apoiaram em todas
as dificuldades por terem me incentivado a seguir meus sonhos;
À minha noiva Ana Kadja por estar sempre ao meu lado e por ter me ajudado,
mesmo em dia chuvoso, no processo de levantamento;
Aos professores da instituição que me auxiliaram na formação profissional,
em particular aos que me orientaram nesse trabalho: Paulo Heider, o qual foi
fundamental para a escolha do tema e para a obtenção de dados que auxiliaram
no levantamento da Capela Santa Rita de Cássia; Clewton, que se fez presente
em vários momentos na minha graduação.
A Padre Josenildo e à Arquidiocese de Natal e suas valorosas contribuições
a esse trabalho.
A todas as universidades públicas do Brasil, em particular à Universidade
Federal do Rio Grande do Norte.
RESUMO
A Capela de Santa Rita de Cássia, situada no município de Pedro Velho, foi edificada ainda em 1863 na, então, Vila de Cuitezeiras. No começo do século XX, devido a uma enchente, a antiga vila foi inundada, restando apenas a capela, o cemitério desta e o Cruzeiro. A nova cidade edificada deu origem à cidade de Pedro Velho. Assim sendo, Capela de Santa Rita de Cássia, juntamente com o Cemitério pertencente a esta e o Cruzeiro são vestígios dessa narrativa que constitui a história de Pedro Velho sendo estes, tombados pelo Estado do Rio Grande do Norte em 29 de julho de 2002 através do Decreto nº 16.216. A arquitetura assume, assim, o papel de registro histórico, o qual é corriqueiro em edifícios históricos. Porém, como a cidade, historicamente, assentou-se numa região mais afastada da antiga vila, a capela apresenta um distanciamento físico do centro urbano da atual cidade de Pedro Velho, fato que pode comprometer seu usufruto. O presente trabalho busca, assim, desenvolver um anteprojeto de restauro para a Capela Santa Rita de Cássia e entorno imediato, situada no município de Pedro Velho, RN visando o usufruto da população através dos usos cultural e religioso. Para isso, o trabalho aborda teorias de restauro e intervenção em patrimônio histórico-arquitetônico visando sua aplicação. Tais teorias serão exemplificadas através de referências de obras de restauro visando a aplicação de diretrizes que auxiliem na intervenção para a Capela de Santa Rita de Cássia e, por fim, serão consideradas condicionantes históricas legais e naturais visando o a adequação destas durante a prática de projeto. Palavras-Chave: Capela de Santa Rita de Cássia/ Restauro/ Pedro Velho. ABSTRACT
The Chapel of Santa Rita de Cassia, located in the municipality of Pedro Velho, was built in 1863 in the then town of Cuitezeiras. In the early twentieth century, the old village was flooded, leaving only the chapel, the cemetery and a cross mark. The new built city became, later, the city of Pedro Velho. Thus, Chapel of Santa Rita de Cassia, together with the Cemetery belonging to it and the cross mark are vestiges of this narrative that constitutes the story of Pedro Velho being these, registered by the State of Rio Grande do Norte on July 29, 2002 through the Decree nº 16.216. Architecture thus assumes the role of historical record, which is commonplace in historical buildings. However, as the city has historically settled in a region more remote from the old town, the chapel presents a physical distance from the urban center of the present city of Pedro Velho, fact that may compromise its usufruct. The present work seeks to develop a restoration project for the Santa Rita de Cassia Chapel and immediate surroundings, located in the municipality of Pedro Velho, RN aiming at the usufruct of the population through cultural and religious uses. For this, the work approaches theories of restoration and intervention in historical-architectural patrimony aiming its application. Such theories will be exemplified through references of restoration works aiming at the application of guidelines that will aid in the intervention for the Chapel of Santa Rita de Cassia and, finally, will be considered legal and natural historical factors aiming at the adequacy of these during the project practice. Key words: Chapel of Santa Rita de Cassia / Restoration/ Pedro Velho
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Iluminura presente no livro Les trés riches heures du duc de Berry, Folio 51, verso: La Rencontre des mages. No fundo, observa-se a Catedral de Notre Dame com uma pináculo central. ........................................................... 11 Figura 2 Catedral de Notre Dame durante restauro, sem pináculo .................. 12 Figura 3 Foto de 1860: construção da pináculo de Notre Dame de Paris, projetada por Viollet Le Duc ............................................................................. 12 Figura 4: Fachada Lateral Direita - Observa-se rachaduras na alvenaria e nos arcos além da fachada estar inclinando-se para fora do eixo vertical .............. 15 Figura 5 Edificação restaurada do Parque das Ruínas .................................... 17 Figura 6 Torre Medieval do Castelo de Mastrera. À esquerda, edificação antes do restauro, à direita, edificação após restauro................................................ 18 Figura 7 Detalhe de arcada da Torre do Castelo de Matrera ........................... 19 Figura 8 Projeto original de fachada frontal do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo ................................................................................................................ 20 Figura 9 Interior da Pinacoteca do Estado de São Paulo ................................. 21 Figura 10 Altar da Igreja de São Domingos após restauro ............................... 22 Figura 11 Igreja de São Domingos após restauro ............................................ 23 Figura 12 Município de Pedro Velho em destaque ........................................... 24 Figura 13 Imagem da Capela de Santa Rita de Cássia presente em documento de 1966 ............................................................................................................ 25 Figura 14 Simulação realizada no programa Solar Tool .................................. 27 Figura 15 Simulação realizada no programa Solar Tool .................................. 27 Figura 16 Trecho de fachada lateral direita onde pode-se observar a presença de tijolos de queimado com reboco .................................................................. 31 Figura 17 Nave central da capela de Santa Rita inda com arco cruzeiro e piso pré-existente ..................................................................................................... 32 Figura 18 Capela de Santa Rita em 2019, sem arco cruzeiro e sem piso ........ 32 Figura 19 Arcos ornamentais no altar mor ....................................................... 33 Figura 20 Altar mor em 2019, sem os arcos ornamentais ................................ 33 Figura 21 Vista interna da fachada frontal. Na empena, vestígio de tesoura de linha alta. Sob as janelas, vestígios de oito cachorros para a sustentação de um coreto. .............................................................................................................. 34 Figura 22 Painel conceito ................................................................................. 37 Figura 23 Estudo de massas: reconstruções em concreto aparente ................ 38 Figura 24 Reestabelecimento de coreto ........................................................... 39 Figura 25 Estudo de massas: cobertura ........................................................... 39 Figura 26 Inserção de escadaria e esquadrias................................................. 40 Figura 27 Estudo de massas: inserção de memorial, banheiros e reservatório 40 Figura 28 Estudo de massas: inserção de elemento de proteção solar ........... 41 Figura 29 Forma obtida em um primeiro momento do estudo de massas ....... 41 Figura 30 Forma obtida através do estudo de massas .................................... 42 Figura 31 Perspectiva aérea da proposta ........................................................ 43 Figura 32 Representação de assentamento de piso de tijoleira com junta seca ......................................................................................................................... 45
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 Pré-dimentionamento de pilares ........................................................ 44 Tabela 2 Quadro de vegetação ........................................................................ 46
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 7
2. TEORIAS E DIRETRIZES DE RESTAURO E INTERVENÇÃO EM
PATRIMÔNIO HISTÓRICO .............................................................................. 10
3. EXEMPLOS E REFERÊNCIAS DE OBRAS DE RESTAURO COM
CONCEITO DE DISTINGUIBILIDADE ............................................................ 16
4. CENÁRIO E CONTEXTOS DA CAPELA DE SANTA RITA DE CÁSSIA . 24
4.1. ENREDO DA CAPELA DE SANTA RITA DE CÁSSIA ......................... 24
4.2. CONDICIONANTES NATURAIS DA CAPELA SANTA RITA DE
CÁSSIA ............................................................................................................ 26
5. DIRETRIZES LEGAIS DE PROJETO ....................................................... 28
5.1. LEGISLAÇÃO URBANA LOCAL .......................................................... 28
6. LEVANTAMENTO ARQUITETÔNICO ...................................................... 30
7. VESTÍGIOS E COMPARATIVO COM DADOS PRÉ-EXISTENTES ......... 31
8. ELABORAÇÃO DE PROJETO ................................................................. 34
8.1. DEMANDAS PARA A CAPELA DE SANTA RITA DE CÁSSIA ........ 34
8.2. PROGRAMA DE NECESSIDADES; ................................................... 35
8.3. CONCEITO ARQUITETÔNICO; ......................................................... 36
8.4. ESTUDO DE MASSAS; ...................................................................... 37
9. MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO ......................................... 43
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 46
11. REFERÊNCIAS ...................................................................................... 47
12. APÊNDICE A ......................................................................................... 52
13. APÊNDICE B ......................................................................................... 74
7
1. INTRODUÇÃO
A escolha do tema de restauro se deu devido ao interesse pessoal na
arquitetura como uma forma de documentação histórica com a capacidade de
usufruto direto por parte da população. Para trabalhar o restauro em um trabalho
de finalização de graduação, procurei alguma obra arquitetônica potiguar que
esteja em estado de abandono e ruína para que eu pudesse haver um processo
de restauro que trouxesse a edificação à tona.
Assim sendo, chegou-se à Capela de Santa Rita de Cássia, situada no
município de Pedro Velho, na região Leste Potiguar. A história do município de
Pedro Velho tem origem ainda no século XIX. Cláudio José da Piedade adquiriria
o Sítio Cuitezeiras, dando o surgimento, assim, da Vila das Cuitezeiras
(CASCUDO, 1968). Então, foi erigida na região a Capela de Santa Rita de
Cássia, benta em 1862. Fazendo parte de uma rota ferroviária conectava a
capital até Nova Cruz, a região começava a prosperar com a presença de um
mercado, arruamentos. No entanto, na madrugada entre 13 e 14 de maio de
1901, a vila sofreu uma enchente ocasionada por uma cheia do rio Curimataú.
Restaram, assim, de bens construídos apenas a Capela de Santa Rita e alguns
túmulos do cemitério, além do cruzeiro, assim sendo, para se proteger da
enchente, a população abrigou-se na capela (FONSECA, 2006, p. 49-50).
Com a destruição da antiga vila, a população migrou para uma região mais
alta nas redondezas onde, posteriormente viria a ser o município de Pedro Velho
(CASCUDO, 1968), abandonando, então, a antiga Capela de Santa Rita. A
capela mantém, então, seu aspecto de 1901 apresentando, em ruínas,
características da arquitetura maneirista brasileira. Devido ao abandono a longo
prazo, a edificação apresenta algumas patologias estruturais que, se não forem
tratadas podem trazer consequências prejudiciais ao edifício o qual preserva
parte de história da cidade de Pedro Velho. Além disso, a capela sofre
constantes vilipêndios e pichações. Segundo o Padre Josenildo Bezerra dos
Santos, pároco da Paróquia São Francisco de Assis (matriz de Pedro Velho),
algumas vedações laterais foram derrubadas por vândalos e, os túmulos
localizados na parte posterior do terreno foram violados (entrevista dada dia 05
de janeiro de 2019). A capela, em conjunto com o cemitério nas suas imediações,
8
a Samoeira (conhecida popularmente como “Pau Grande”) e o Cruzeiro da Vila
das Cuitezeiras, foi tombada pelo Estado do Rio Grande do Norte em 29 de julho
de 2002, contudo, a Capela de Santa Rita de Cássia continua em estado de
abandono e sua estrutura tem se deteriorando ao longo dos anos: elementos
como arco cruzeiro e sacristia já não existem e a fachada lateral direita está
pendendo para fora do eixo vertical. Assim sendo, o presente trabalho final de
graduação, através do projeto de restauro e da previsão de espaços que
promovam atividades culturais, visa a necessidade de prevenir degradações
futuras e, para incentivar manutenções constantes, dar condições de uso à
Capela de Santa Rita de Cássia.
Desta forma, o presente trabalho, cujo objeto de estudo uma obra de restauro
aplicada à Capela de Santa Rita de Cássia, apresenta como objetivo geral
desenvolver um anteprojeto de restauro para a Capela Santa Rita de Cássia e
entorno imediato, localizada no município de Pedro Velho, RN visando o usufruto
da população através dos usos cultural e religioso.
Para se alcançar tal objetivo, foram definidos três objetivos específicos: 1)
compreender teorias de restauro arquitetônico e intervenção em patrimônio
histórico; 2) Analisar referências de obras de restauro visando a compreensão
de diretrizes que auxiliem na intervenção para a Capela de Santa Rita de Cássia;
3) Caracterizar a Capela de Santa Rita de Cássia conforme suas condicionantes
históricas, legais e naturais e adaptá-las às suas demandas atuais;
A justificativa do trabalho se dá pela relevância histórica da Capela de
Santa Rita de Cássia para a cidade de Pedro Velho. Conforme já relatado, da
antiga Vila das Cuitezeiras que originou Pedro Velho, só restaram a capela, o
cemitério atrás da capela e uma antiga Samoeira, sendo estes tombados pela
Fundação José Augusto. Esses elementos são, assim, vestígios dessa narrativa
que constitui a história de Pedro Velho. A arquitetura assume, assim, o papel de
registro histórico, o qual é corriqueiro em edifícios históricos. Essa ideia é
reforçada por John Ruskin, é possível viver sem arquitetura, porém, não é
possível memorar sem ela, apontando assim, a importância da arquitetura como
autêntico registro histórico (RUSKIN, 2013, p. 54).
O historiador da arte Max Dvořák complementa tal raciocínio afirmando
que monumentos históricos vão além da lembrança do passado; mas, ainda,
corroboram para a construção de sentimento de pertencimento social transmitido
9
hereditariamente através do bem edificado (DVOŘÁK, 2008, p.69-70). Dvořák,
coloca, então, o ato de preservar monumentos como um dever moral o qual deve
ser transmitido ao longo de gerações e que a demolição desses significa destruir
legados transmitidos através de gerações.
Desta forma, a Capela de Santa Rita trata-se de um edifício com valor
histórico para o município de Pedro Velho sendo reconhecido como patrimônio
pelo estado ao ser tombada pelo Estado do Rio Grande do Norte em 29 de julho
de 2002 através do Decreto nº 16.216.
Porém, como a cidade, historicamente, assentou-se numa região mais
afastada da antiga vila, a capela apresenta um distanciamento físico do centro
urbano da atual cidade de Pedro Velho, fato que pode comprometer seu usufruto.
O presente trabalho busca, assim, através do restauro do edifício e da criação
de espaços de espaços de praça destinado a atividades culturais, promover o
usufruto da Capela e do seu entorno imediato pela população e incentivar, assim,
sua manutenção.
Para se delimitar o método a ser abordado durante o processo projetual,
serão adotados princípios de distinguibilidade abordados por Cesare Brandi de
modo a evitar-se falsidades históricas. Assim sendo, no primeiro capítulo dessa
monografia, a partir de revisão bibliográfica, será feita uma contextualização de
teorias e diretrizes de restauro e intervenção em patrimônio histórico
arquitetônico. Para se exemplificar esses métodos, o segundo capítulo conterá
referências de obras que tenham passado por restauro cujo método se aproxime
da abordagem seguida no presente trabalho. Também serão abordados edifícios
religiosos que tenham passado por restauros observando seus programas de
necessidade e particularidades desse tipo de edifício. O terceiro capítulo
abordará a área de estudo propriamente dita: a Capela de Santa Rita de Cássia
em seu contexto histórico, climático, geográfico. O quarto capítulo conterá uma
revisão das diretrizes legais para se elaborar o anteprojeto de restauro em
questão. Em seguida, o quinto capítulo apresentará levantamento arquitetônico
da Capela de Santa Rita de Cássia e se destacará problemas estruturais e
vestígios de elementos arquitetônicos que não existem mais. O sétimo capítulo
trata da elaboração do projeto tendo em vista as demandas da paróquia de São
Francisco de Assis a partir de entrevistas, diante dessas demandas, será
elaborado um programa de necessidades e um estudo de massas visando
10
sempre a preservação e ênfase dos elementos originais da Capela de Santa Rita
de Cássia. O oitavo capitulo será um memorial descritivo e justificativo do
anteprojeto realizado. Por fim, na conclusão, retoma-se o trabalho elaborado e
faz-se uma análise crítica do processo projetual.
2. TEORIAS E DIRETRIZES DE RESTAURO E INTERVENÇÃO EM
PATRIMÔNIO HISTÓRICO
Neste capítulo será traçado um panorama sobre teorias e diretrizes de
restauro e intervenção em património histórico arquitetônico. Segundo Ignasi de
Solà-Morales Rubió (2008, p.254), a relação entre uma intervenção arquitetônica
e a arquitetura preexistente muda de acordo com significados e valores culturais
do contexto o qual abrange a intervenção em questão. Assim sendo, Solà-
Morales Rubió põe como um erro afirmar categoricamente a existência de um
método permanente de intervenção arquitetônica. Pois “o projeto de uma nova
obra de arquitetura não somente se aproxima fisicamente da que já existe [...]
como cria uma interpretação genuína do material histórico com o qual tem de
lidar”. Assim sendo, será traçada uma análise acerca dos principais métodos de
restauro utilizados no ocidente para que o projeto apresentado nesta monografia
possa se adequar em diretrizes.
Em sua obra "Catecismo da Preservação de Monumentos", Max Dvořák
(2008, p. 61-64) apresenta um relato pessoal em uma cidade cujo edifício central
era uma igreja gótica, porém, com torre e interior barrocos. Contudo, a igreja
passou entre o final do século XIX e início do século XX por um restauro. Sob o
pretexto de que não trazia harmonia para o estilo gótico da igreja, a torre barroca
foi demolida para dar lugar a uma nova sob um estilo neogótico. Os altares foram
substituídos por peças manufaturadas pretensamente góticas e, nas paredes,
foram postos ornamentos que não existiam.
Provavelmente, o restauro pelo qual a igreja referida por Dvořák passou
seguiu o método romântico de restauro, difundido na época por Eugène
Emmanuel Viollet-le-Duc. Em sua obra “Dictionnaire Raisonné de l'Architecture
Française du XV ͤ au XVI ͤ siècle” (cujo verbete "Restauração" foi publicado em
um livro isolado pela editora Ateliê Editorial), Viollet-le-Duc apresenta um
conceito de restauro o qual não tem obrigações com a veracidade histórica do
edifício:
11
Restaurar um edifício não é mantê-lo, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo em um estado completo que pode não ter existido nunca em um dado momento (VIOLLET-LE-DUC, 2006, p.29)
O conceito de Viollet-le-Duc refere-se, então, a alterações no edifício pois o
famoso restaurador francês acreditava que o arquiteto encarregado de restauros
deveria ter um domínio sobre os estilos arquitetônicos e ter noções de
arqueologia (OLIVEIRA, 2009) assim, buscar a pureza de estilo mesmo que isso
trouxesse ao edifício elementos novos que nunca houvessem existido outrora.
Uma das obras de restauro mais conhecidas de Viollet-le-Duc foi a da Catedral
de Notre Dame de Paris em 1844 (OLIVEIRA, 2009). Como exemplo do método
de restauro adotado por Viollet-le-Duc, pode-se tomar a construção de um
pináculo sob a referida catedral no lugar onde houvera outra até o século XVIII
(NOTRE DAME DE PARIS, 2019). Como vestígio de que a torre realmente
existiu há o livro das horas “Les trés riches heures du duc de Berry”
encomendado no século XV. Em uma de suas gravuras (figura 3), há a Catedral
de Notre Dame com um pináculo central, observada entre as duas torres da
fachada frontal.
Figura 1 Iluminura presente no livro Les trés riches heures du duc de Berry, Folio 51, verso: La Rencontre des mages. No fundo, observa-se a Catedral de Notre Dame com uma pináculo
central.
Fonte: disponível em <https://fr.m.wikipedia.org/wiki/Fichier:Folio_51v_-
_The_Meeting_of_the_Magi.jpg> acesso em 15.01.19
12
No entanto, não existindo mais tal elemento(figura 4), Viollet-le-Duc
erigiu uma nova com aspectos góticos, porém, carecendo de fontes de como
seria tal pináculo.
Figura 2 Catedral de Notre Dame durante restauro, sem pináculo
Fonte: foto de H. Bayard. Disponível em <http://www.paris-unplugged.fr/1840-notre-dame-
avant-restauration/> acesso em 15.01.19
Figura 3 Foto de 1860: construção da pináculo de Notre Dame de Paris, projetada por Viollet Le Duc
Fonte: Ministère de la Culture -Médiathèque de l'architecture et du patrimoine, Dist. RMN-Grand
Palais / Frères Bisson. Disponível em < https://www.photo.rmn.fr/archive/12-543199-2C6NU088P7WD.html> acesso 15.01.19
13
Tendo Viollet-le-Duc reconstruído a pináculo da catedral de Notre Dame
de Paris, ele adota seu conceito de restauro o qual afirma que se deve restituir
o edifício a um estado o qual ele pode nunca ter existido. Assim sendo, percebe-
se que a metodologia de Eugène Viollet-le-Duc não é compartilhada por Dvořák
e que, este, ao longo de sua obra, se posiciona contrário a reconstruções em
nome da pureza de estilo:
“É [...] um erro acreditar que através das ditas reformas e reconstruções realizadas em nome da fidelidade ao estilo podemos devolver às construções sua forma original. [...] Via de regra, não sabemos como era a forma original e precisamos nos contentar em tentar reproduzi-la de acordo com aquilo que ela poderia, aproximadamente, ter sido” (DVOŘÁK, 2008, p.95).
Contudo, Dvořák ressalta que as reconstruções aproximativas não
substituem o objeto original por ser confeccionada em contexto diferente. Para
reforçar-se a visão de Dvořák, pode-se recorrer ao exemplo de experiência de
releitura apresentada por Maurice Halbwachs (1925, apud BOSI, 2001, p.56-57):
o de um adulto relendo um livro de narrativas cuja primeira leitura fora realizada
na sua juventude. Inicialmente, o indivíduo teria a lembrança do momento
despertada pelo contato com o livro, porém, ao longo da leitura, suas sensações
não serão as mesmas da primeira experiência e não será possível revivê-la. Isso
se dá pois a leitura será relacionada a novas vivências e percepções que não
puderam aflorar outrora. Assim sendo, embora as partes do livro possam ser
reconhecidas, não permanecerão as mesmas (1925, apud BOSI, 2001, p.56-57).
Esse exemplo pode ser aplicado a edificações e às reconstruções
aproximativas de Dvořák: embora exibam a aparência da edificação de outrora,
trata-se de uma interpretação fora de contexto e, como o próprio Dvořák afirma,
“jamais poderão substituir aquilo que realmente existiu” (DVOŘÁK, 2008, p.95).
Essa concepção de não substituição é compartilhada por outros teóricos
de restauro como Camillo Boito. Em uma conferência realizada em Turim ainda
em 1884, ao discursar sobre o restauro de obras de arte, Boito (2008) aponta a
necessidade de não repor uma parte ausente da obra de modo a falsificar a
original. Boito cita como exemplo um baixo relevo o qual levava a crer que os
povos greco-romanos ferravam os cavalos, porém, descobriu-se, mais tarde, que
as patas dos cavalos haviam sido remendadas e não eram as originais, o que
14
gerou dúvida da veracidade histórica da informação de que os gregos e os
romanos ferravam ou não seus cavalos (BOITO, 2008, p.39).
A concepção de Boito de que não se deve disfarçar os restauros fazendo com
que eles se passem pela obra original sem distinção foi aprofundada no século
XX por Cesare Brandi ao longo de sua obra “Teoria da Restauração” (BRANDI,
2004). Brandi opõe-se a inautenticidades históricas desde seu conceito de
restauração:
“A restauração deve visar ao reestabelecimento da unidade potencial1 da obra de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo” (BRADI, 2004, p. 33)
Porém, Brandi vai além das reconstruções aproximativas de Dvořák e
complementa que, para evitar essa falsidade histórica, em caso de necessidade
de estrutura nova não constituinte da obra original, recomenda-se que o
acréscimo deve apresente aspecto diferente do antigo:
A matéria não será de modo algum a mesma, mas, sendo historicizada pela obra atual do homem, pertencerá a esta época e não àquela mais longínqua, e por mais que seja quimicamente a mesma, será diversa e acabará, do mesmo modo, por constituir um falso histórico e estético (BRANDI, 2004, p.38)
Assim sendo, por omitirem marcas próprias do tempo na obra, reconstruções
de ruínas como intervenção paradoxal, as quais anulam as percepções de
marcas impressas pelo tempo para criar uma ambiência abstrata e lúdica para o
turismo conforme afirmam Baeta e Neri (2017, p. 227):
“Paradoxalmente, essas intervenções anulam a possibilidade de percepção e experimentação no corpo arruinado do tempo e do trauma, que se tornam apenas memória abstrata para alimentar a curiosidade lúdica dos circuitos turísticos. Tempo, memória e trauma são reduzidos à debilidade de rastros desarticulados e quase imperceptíveis, esporadicamente encontrados no corpo novo de expressão antiga e aspecto plastificado das obras reconstruídas, que não são propriamente novas nem exatamente antigas.” (BAETA, NERI, p. 227)
1 Para Brandi, a obra de arte apresenta um caráter unitário o qual não pode ser considerado
como composto por partes, ou uma antologia de obras de arte individuais, mas apresenta caráter qualitativo de “unidade do inteiro” (BRANDI, 2004, p. 46). Porém, não apresentando a obra uma de suas partes, estas subsistem-se potencialmente (idem), isso pois a imagem concretizada na obra de arte apresenta uma função semântica a qual não restringe-se ao que se vê, mas ao contexto figurativo em que a imagem de desenvolve , assim, o observador retrocede a observação da arte à reprodução do objeto natural e aos arquétipos deste estabelecidos pelo observador (ibidem, p. 44).
15
Essa preocupação com a distinguibilidade está presente também na Carta de
Veneza, escrita em maio de 1964 e cujo tema é conservação e restauração de
monumentos e sítios:
Artigo 9º: A restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional. Tem por objetivo conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento e fundamenta-se no respeito ao material original e aos documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese; no plano das reconstituições conjeturais, todo trabalho complementar reconhecido como indispensável por razões estéticas ou técnicas destacar-se-á da composição arquitetônica e deverá ostentar a marca do nosso tempo [...] (Carta de Veneza de maio de 1964, destaques do autor)
Tal orientação será útil ao longo do presente trabalho pois, tendo em vista os
problemas estruturais identificados preliminarmente em visita à área de estudo
realizada dia 5 de janeiro de 2019 (figura 3).
Figura 4: Fachada Lateral Direita - Observa-se rachaduras na alvenaria e nos arcos além da fachada estar inclinando-se para fora do eixo vertical
Fonte: foto registrada pelo autor 05.01.19
Tais problemas estruturais deverão ser previstos ao longo do trabalho e
sanados utilizando-se sempre do princípio da distinguibilidade apresentada por
Brandi.
16
3. EXEMPLOS E REFERÊNCIAS DE OBRAS DE RESTAURO COM
CONCEITO DE DISTINGUIBILIDADE
Para que possamos observar exemplos de restauros elaborados de acordo
com a distinguibilidade, analisaremos algumas obras de restauro que foram
executadas. A primeira a tratarmos será o parque das ruínas no Rio de Janeiro.
A residência que deu origem ao parque foi propriedade de Joaquim Murtinho um
dos ministros do governo de Campos Sales (AU, 1998). Com a morte de
Murtinho, a casa passou para herdeiros, porém, com a morte desses, ficou em
estado de abandono a partir 1946 chegando, assim, ao estado de ruína. Na
década de 90, contudo, a região passa a ser um parque municipal, adotando o
nome de “Parque das Ruínas” (AU, 1998). Para a elaboração de um projeto,
integrar-se-ia a casa com o entorno. A equipe dos arquitetos Ernani Freire e
Sônia Lopes, então, elaboraram em 1995 um projeto o qual tomou a ruína como
partido.
O conceito de intervenção buscou tratar a ruína tal como ela estava, sem pretender recuperar ou restaurar sua arquitetura original. Procurou-se, na medida das possibilidades, preservar o clima, a atmosfera, o mistério, enfim, não espantar os fantasmas. (AU, 1998)
Assim sendo, a ruína manteve-se ao longo do restauro, havendo
reestabelecimentos da antiga volumetria com materiais que se diferem da
construção original como metal e vidro (figura 5)
17
Figura 5 Edificação restaurada do Parque das Ruínas
Fonte: Foto de Alexandre Macieira. Flicker. Disponível em <
https://www.flickr.com/photos/riotur/24452000177> acesso em 23.01.2019
Dessa forma, tendo em vista o contraste do vidro em meio à pátina do
edifício, é possível traçar-se um paralelo do projeto de restauro do Parque das
Ruínas com o método preconizado por Cesare Brandi o qual recomenda a
distinguibilidade das adições realizadas.
Ao tomarem ruínas como conceito, os autores valorizam o aspecto antigo da
edificação afirmando que, com o projeto, buscaram enfatizar “a dignidade da
ruína, que como ruína era melhor que a obra que a produziu”. A apreciação pela
ruína não é uma prática recente. Alois Riegl (2014, p. 51) aponta diversos valores
da memória dentre os quais está o valor da antiguidade. Tal valor chama atenção
das grandes massas a medida em que, através de marcas do tempo, reconhece-
se que o monumento não tem origem recente e, não necessariamente, uma
decodificação histórica. Riegl afirma que novas gêneses nesses monumentos,
ou seja, intervenções que os dê aspecto de novos, é uma transgressão à
natureza do tempo (RIEGL, 2014, p.52). Segundo Ignasi de Solà-Morales Rubió,
tomando como base ideias de Alois Riegl, a dicotomia entre valor de antiguidade
e valor de novidade como algo que define o Kunstwollen2 do século XX sendo,
assim, o contraste entre velho e novo uma característica valorizada (RUBIÓ,
2 Kunstwollen: termo alemão utilizado para descrever o “querer da arte”, “pulsão da arte” ou ainda o “devir da arte”. Diz respeito a diversos fatores sociais, culturais de cada época os quais exercem influência sobre a visão de mundo dos artistas e, consequentemente, sobre o fazer artístico daquele momento histórico (RIEGL, 2014, P. 10-11).
18
2008, p.256). Rubió chega a afirmar que tal contraste restringia-se a uma
arquitetura moderna de meados do século XX, contudo, conforme pode ser
observado nos exemplos apresentados nesta monografia — como o Parque das
Ruínas, restaurado em 1995 — o uso de contraste em obras contemporâneas
ainda é corriqueiro.
Outro exemplo que segue a linha de diferenciação da edificação antiga para
a nova é a Torre Medieval do Castelo de Mastrera datada do século IX d.C.
(FRANCO, 2016), situada em Vila Martin, na Espanha.
Figura 6 Torre Medieval do Castelo de Mastrera. À esquerda, edificação antes do restauro, à direita, edificação após restauro
Fonte: Architizer. Disponível em <https://architizer.com/projects/restoration-of-matrera-
castle/media/1533886/> acesso em 05.02.19
Apresentando um valor histórico e de antiguidade, parte do volume da torre
caiu em 2013 e o restante estava ameaçado (Architizer, 2019). Assim sendo, a
encargo do escritório do arquiteto Carlos Quevedo Rojas (Carquero
Arquitectura), a torre passou por uma obra de restauro. O projeto foi pensado de
modo a respeitar-se a arquitetura pré-existente, fazendo uma diferenciação entre
as novas adições e a estrutura original, evitando pastiche mimético. Segundo
Carlos Quevedo Rojas, adotou-se um método Brandiano:
Com referência brandiana, este projeto pretende contemplar o
restabelecimento da unidade potencial do monumento sem acometer
um falso histórico nem cancelar cada traçado de passagem da obra no
tempo. Se intenta abordar a obra como reconhecimento do monumento
(memória) em sua consistência física e em sua polaridade dupla,
estética e histórica, tendo em vista sua transmissão para o futuro.
(CARQUEIRO, 2019, tradução livre)
19
Rojas adotou a diferenciação preconizada pela metodologia de restauro de
Brandi através da textura de tijolos proveniente das ruínas mantidas com a
textura lisa do novo revestimento. Tal decisão projetual manteve a ruína
conforme a intenção do arquiteto. Assim, pode-se observar, no projeto, o valor
de antiguidade, já apontado por Riegl no início do século XX, como conceito
adotado por Rojas no seu projeto o qual foi edificado entre os anos de 2014 e
2015.
Para a recuperação da estrutura danificada, utilizaram-se as pedras originais
da antiga edificação. Buscou-se recuperar a volumetria mantendo detalhes como
a arcada incompleta (devido ao colapso) e vestígios do piso de madeira
preexistente (figura 7).
Figura 7 Detalhe de arcada da Torre do Castelo de Matrera
Fonte: CARQUERO. Disponível em <http://www.carquero.com/proyectos/consolidacion-
restauracion-del-castillo-matrera-cadiz/> acesso em 05.02.19
20
Rojas, sem embargo, não deixou de sofrer críticas, colocado como obra
“desastrosa” por jornais espanhóis como La Vanguardia e “lamentável” pela
organização Hispania Nostra (BBC MUNDO, 2016) contudo, o projeto foi
vencedor do prêmio Architizer A+ no critério de conservação, além de estar
embasado de acordo com diretrizes de restauro as quais evitam o pastiche
histórico — conforme discutido no primeiro capítulo desta monografia.
Outro exemplo de projeto de restauro baseado no Restauro Crítico é a
Pinacoteca de São Paulo, realizado por Paulo Mendes da Rocha. Inicialmente,
o edifício abrigava o Liceu de Artes e Ofícios projetado pelo escritório do
arquiteto Ramos de Azevedo inaugurado, ainda inacabado, em 1900 (DINIZ,
2014, p.9).
Figura 8 Projeto original de fachada frontal do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo
Fonte: SP da Garoa, disponível em < http://spdagaroa.com.br/liceu-de-artes-e-oficios-
comemora-145-anos-e-reinaugura-como-novo-centro-cultural/> acesso em 29,01,19
Na década de 30, enquanto estava cedido para alojar soldados feridos, o
edifício passa por um incêndio, o que ocasionou a perda de registros históricos
do liceu (DINIZ, 2014, p. 9). O prédio sofreu, então, diversas situações adversas
e problemas de infraestrutura como infiltrações em consequência de danos na
cobertura (ARCHDAILY, 2015). O projeto original previa uma cúpula na região
central, contudo, nunca foi construída, assim sendo, no local onde era prevista
tal cúpula, havia um pátio interno em forma octogonal tendo esquadrias voltadas
21
para seu interior (MÜLLER, 2000). A edificação, assim, contava com vazios
internos. Com a elaboração do projeto de restauro por Paulo Mendes da Rocha,
Eduardo Colonelli e Weliton Ricoy Torres, esses vazios foram cobertos por
claraboias em vidro estruturadas com perfis de aço. Esses pátios centrais
também tiveram as esquadrias retiradas para adaptação de uso e seus vãos
foram vencidos por passarelas metálicas. Essas adições foram realizadas com
materiais e aspectos que contrastam com a edificação pré-existente sendo
possível, assim, distinguir a edificação histórica das adições contemporâneas
(figura 7).
Figura 9 Interior da Pinacoteca do Estado de São Paulo
Fonte: Archdaily: disponível em <https://www.archdaily.com.br/br/787997/pinacoteca-do-
estado-de-sao-paulo-paulo-mendes-da-rocha> acesso em 29.01.19
Desta forma, o projeto não buscou um retrofit do prédio, tampouco a
construção de elementos inspirados no projeto original como a cúpula observada
na figura 6 (como preconizaria o método romântico de Viollet-le-Duc), mas se
enfatizar as intervenções atuais de modo a evitar falsidade histórica.
No século XX, as edificações, em nome da corrida por novas tecnologias e materiais construtivos, têm sobrevivido muito menos tempo, pelas próprias condições da modernidade. Toda a ruína excita o corpo para explorar seus escombros e arredores em busca de um achado. Nas atuais ruínas, já não há nada para explorar, somente para ser explodido. Essa ruína moderna se diferencia de outras. Um edifício antigo sem uso e com fragmentos esparramados no solo é um belo e
22
nostálgico monumento, ao contrário, é um edifício moderno com placas de concreto celular caídas, é simplesmente um deplorável abandono (ROCHA, 2008, apud DINIZ, 2014, p.11)
Apesar de Rocha não considerar seu projeto como um restauro, pode-se
enquadrá-lo como um restauro segundo o método sugerido por Cesare Brandi
utilizando a distinguibilidade e respeitando-se a edificação original.
Por fim, outro projeto a ser utilizado como referência é a Igreja de São
Domingos de Lisboa. A igreja foi criada no século XIII e passou por modificações
ao longo dos anos, além de momentos históricos como a execução de judeus no
século XVI e casamentos reais. A igreja dominicana passou por diversas
catástrofes ao longo dos anos como terremotos e, mais recentemente, um
incêndio em 1959, o qual a deixou em ruínas. A igreja passou por um restauro
entre os anos de 1992 e 1996, sob projeto de José Fernando Canas.
Figura 10 Altar da Igreja de São Domingos após restauro
Fonte: disponível em <https://iremviagem.com/2018/02/12/um-virar-da-esquina-pouco-
provavel-a-igreja-de-sao-domingos-em-lisboa/> acesso em 16.03.19
23
Afirmando que o patrimônio resulta do fazer do tempo, Canas tomou a
unidade potencial da edificação no estado em que se encontrava como partido,
não anulando a passagem da obra no tempo e distinguindo-a das reconstruções
mais recentes conforme recomenda a metodologia de Restauro Crítico. O
incêndio de 1959 comprometeu a cobertura com abóbadas em madeira e
danificou as superfícies das paredes em pedra. Canas conseguiu recuperar a
ambiência barroca da igreja ao utilizar a ruína como partido. O arquiteto fez uma
nova abóbada baseada na antiga, porém, despojando-se dos detalhamentos
próprios da anterior
Figura 11 Igreja de São Domingos após restauro
Fonte: disponível em < http://portugalemfotos.blogspot.com/2012/03/igreja-de-sao-
domingos.html> acesso 16.03.19
As características que se compartilham nesses quatro projetos
apresentados — como respeito à pátina, ao aspecto antigo e contraste com as
reconstruções — serão adotadas como conceito para o anteprojeto a ser
apresentado nesse trabalho final de graduação. Como a Capela de Santa Rita
de Cássia, área de estudo desse trabalho, encontra-se em estado de ruína
devido a condições naturais e, como tal estado trata-se de um vestígio de sua
história, será mantida a pátina natural da edificação e, em casos de adição ou
alusão à volumetria original, utilizar contrastes de aspecto seguindo a linha de
Cesare Brandi conforme apresentada.
Contudo, para que compreendamos a pátina como aspecto eloquente e
significativo para a história da Capela de Santa Rita de Cássia e para a cidade
24
de Pedro Velho, o próximo capítulo apresentará a história e aspectos da Capela
e do seu entorno.
4. CENÁRIO E CONTEXTOS DA CAPELA DE SANTA RITA DE CÁSSIA
4.1. ENREDO DA CAPELA DE SANTA RITA DE CÁSSIA
A história da Capela de Santa Rita de Cássia mescla-se com a história da
própria cidade de Pedro Velho. O município de Pedro Velho situa-se no sudoeste
do estado do Rio Grande do Norte, margeado por Canguaretama, Espírito Santo,
Montanhas, Goianinha e estado da Paraíba. Situa-se nas coordenadas 6° 26′
23″ Sul, 35° 13′ 19″ Oeste e a 78 Km de Natal (figura 12) (IDEMA, 2008). A capela
situa-se no prolongamento da rua José Augusto de Lima.
Figura 12 Município de Pedro Velho em destaque
Fonte: Wikipédia. Disponível em
<https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=69577535> acesso em 31.12.2018
Antes pertencente ao município de Canguaretama, a origem de Pedro Velho
está ligada ao advento da estrada férrea que conectava Natal a Nova Cruz. A
estrada passava às margens do rio Curimataú e, assim, em território outrora
habitado pelos índios paiaguaias. Na região, Cláudio José da Piedade adquiriria
o Sítio Cuitezeiras, erigiu-se a Capela de Santa Rita de Cássia, fundando-se,
então, o povoado das Cuitezeiras (CASCUDO, 1968). O nome do povoado se
25
deu devido à grande quantidade de coités — árvores das quais são retiradas
cabaças, usadas em utensílios domésticos (COSTA, 2004).
Figura 13 Imagem da Capela de Santa Rita de Cássia presente em documento de 1966
Fonte: Disponível em Biblioteca IBGE: <
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/114/col_mono_b_n68_pedrovelho.pdf> acesso 14.01.19
A região começava a prosperar com a presença de um mercado,
arruamentos, contava-se com 30 fazendas de gado, dois engenhos de açúcar e
dois descaroçadores de algodão (COSTA,2004). No entanto, na madrugada
entre 13 e 14 de maio de 1901, a vila passou por uma enchente ocasionada por
uma cheia do rio Curimataú. Restaram, assim, de bens construídos apenas a
Capela de Santa Rita e alguns túmulos do cemitério, além do cruzeiro, assim
sendo, para se proteger da enchente, a população abrigou-se na capela
(FONSECA, 2006, p. 49-50). Novas enchentes voltaram a acontecer nos anos
de 1917 e 1924 (CIDADES IBGE, 2019), não havendo, no entanto, ocorrências
recentes.
Ainda assim, com a destruição da antiga vila, temendo novos alagamentos
na região, a população migrou para uma região mais alta nas redondezas em
terras doadas por Fabrício de Albuquerque Maranhão, irmão do governador
26
Pedro Velho. Surgiu, assim, a Vila Nova das Cuitezeiras a qual, posteriormente,
viria a ser o município de Pedro Velho (CASCUDO, 1968).
Segundo o Padre Josenildo Bezerra dos Santos, pároco da Paróquia São
Francisco de Assis (matriz de Pedro Velho), na década de 1950, nas
proximidades da antiga vila, foi construída uma nova capela em homenagem a
Santa Rita de Cássia. As imagens da antiga capela foram encaminhadas para a
nova. Assim sendo, a Capela de Santa Rita de Cássia foi abandonada (assim
estando até hoje). A capela mantém, então, seu aspecto em 1901 — ainda que
em ruínas.
Apesar de existir uma nova capela na mesma cidade, a Capela de Santa Rita
de Cássia, como podemos observar, apresenta um apelo histórico para Pedro
Velho sendo a edificação mais antiga do município e carregando, em suas
ruínas, vestígios da origem da cidade.
4.2. CONDICIONANTES NATURAIS DA CAPELA SANTA RITA DE
CÁSSIA
Para se avaliar as condicionantes naturais da Capela de Santa Rita de Cássia,
considerou-se a Capela de Pedro Velho como inserida na Zona Bioclimática 7.
A Norma Brasileira (NBR) 15220-3 — Desempenho térmico de edificações, parte
3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações
unifamiliares de interesse social — apresenta como diretrizes para tal zona
bioclimática o uso de pequenas aberturas (entre 10% e 15% da área do piso do
recinto) e sombreadas, além de vedações externas pesadas (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS E TÉCNICAS, 2003, p. 8). Assim sendo, tal solução
será utilizada para o projeto do memorial. Nas paredes externas do memorial,
será prezada uma maior massa térmica, já as paredes voltadas para a capela,
terão baixa inércia térmica para que não se retenha o calor do dia, assim sendo,
tal vedação será sombreada por uma marquise dimensionada a partir do
programa Solar Tool de modo a proporcionar sombra durante todo o dia
conforme apresentado nas figuras 14 e15.
27
Figura 14 Simulação realizada no programa Solar Tool
Fonte: Elaborado pelo autor (Solar Tool)
Figura 15 Simulação realizada no programa Solar Tool
Fonte: Elaborado pelo autor (Solar Tool)
28
5. DIRETRIZES LEGAIS DE PROJETO
5.1. LEGISLAÇÃO URBANA LOCAL
Foi constado que o município de Pedro Velho não apresenta Plano Diretor
tampouco Código de Obras, assim sendo, será utilizado como referência o
Plano Diretor de Canguaretama — Lei Municipal Nº 314/2006, de 09 de
outubro de 2006 — seguindo suas diretrizes e índices.
Já no capítulo II do Plano Diretor, aborda-se a função social das
propriedades a qual deve ser cumprida através seguindo, simultaneamente,
exigências de:
I – aproveitamento e utilização para atividades inerentes ao
cumprimento da função social da cidade, em intensidade compatível
com a capacidade de atendimento dos equipamentos e serviços
públicos;
II – aproveitamento e utilização compatíveis com a preservação da
qualidade do meio ambiente e do patrimônio cultural e paisagístico;
III – aproveitamento e utilização compatíveis com a segurança, saúde
e conforto de seus usuários e da vizinhança (CANGUARETAMA, Lei
Municipal Nº 314/2006, de 09 de outubro de 2006)
Assim sendo, seguindo o Plano Diretor de Canguaretama, a restauração
da Capela de Santa Rita de Cássia faz-se necessária ao trazer utilização e
aproveitamento da edificação (hoje abandonada e em ruínas), promover a
preservação da qualidade do patrimônio cultural da cidade e segurança e
conforto para seus usuários. Além disso, no artigo 9º, afirma-se que o poder
executivo pode exigir do proprietário do terreno não utilizado ou subutilizado a
promoção de aproveitamento adequado.
O Plano Diretor de Canguaretama prevê potencial construtivo o Potencial
Básico de Aproveitamento o qual corresponde a uma vez a área do terreno, e o
Potencial Máximo de Aproveitamento com três vezes a área do terreno. Como o
caso da Capela de Santa Rita de Cássia encontra-se numa zona rural, além de
apresentar interesse histórico, será enquadrada no Potencial Básico de
Aproveitamento.
29
Para vias locais, os recuos frontais devem ser correspondentes a 2,50 m
(dois metros e cinquenta centímetros) medido a partir do meio fio. Caso a rua
não seja pavimentada, considera-se o leito carroçável com largura de 7,00 m
(sete metros).
“Art. 142 – Para o primeiro e segundo pavimentos de edificações
situadas em vias locais será exigido um recuo frontal correspondente
a 2,50m (dois metros e cinquenta centímetros), medidos a partir do
alinhamento da guia do meio-fio, quando a largura do passeio público
for inferior a 2,50m (dois metros e cinquenta centímetros). § 1º. Os
recuos estabelecidos no caput deste artigo serão dispensados quando
o passeio público apresentar largura igual ou superior a 2,50m. § 2º.
Quando a via local não for pavimentada, em toda sua extensão, será
considerada uma faixa carroçável com largura de 7,00m (sete metros).”
(CANGUARETAMA, Lei Municipal Nº 314/2006, de 09 de outubro de
2006)
Assim sendo, deverá ser considerado como leito carroçável da Rua José
Augusto de Lima (a qual não é pavimentada), 7,00 m (sete metros) para, então,
iniciar 2,50m de calçada e, então, prever o trato paisagístico de dentro do
terreno.
Nessa porção do terreno devem ser previstas, também, vagas de
estacionamento que atendam a população que visite a capela seja para cultos
ou para turismo religioso. Segundo o artigo 162 do Plano Diretor de
Canguaretama, devem ser consideradas uma vaga para cada 50 metros
quadrados em edificações não residenciais que não se enquadrem como
atividades geradoras de impacto no sistema viário, contudo, para edifícios
caracterizados como atividade de impacto no sistema viário, deve-se apresentar
cálculos referentes à demanda de vagas gerado pela atividade e a capacidade
de absorção da malha viária num raio de 150,00m (cento e cinquenta metros)
(CANGUARETAMA, Lei Municipal Nº 314/2006, de 09 de outubro de 2006, Art.
162).
Segundo o artigo 153, igrejas (edifícios de uso religioso) qualificam-se
como atividades causadora de impacto abrangendo, assim, o projeto realizado
nessa monografia:
30
III – atividades que concentrem mais de duzentas pessoas, ao mesmo
tempo, ou que promovam concentração de fluxo e trânsito em horário
específico. Parágrafo único. Consideram-se impactantes as
instalações que comportam as atividades ambulatoriais e hospitalares,
de ensino, cinemas, marcenarias, depósitos de materiais de
construção, serralharias, olarias, casas de recepções, shows e
eventos, igrejas ou templos religiosos, ginásios esportivos, agências
bancárias, empresas de transportes ou que trabalhem com frotas de
veículos de qualquer porte e oficinas mecânicas
A caracterização do edifício como atividade de impacto acarreta
responsabilidades para com o Poder Executivo, um exemplo disso é o podem
receber eventos, manifestações culturais e atividades turísticas estimuladas pelo
Poder Executivo desde que estejam agendadas no calendário cultural do
município (anual).
6. LEVANTAMENTO ARQUITETÔNICO
Para avaliar-se a Capela de Santa Rita de Cássia, deve-se contar com
referências que revelem a história local. Iniciou-se então pelo livro “Os Nomes
da Terra” de Câmara Cascudo (1968). Cascudo faz um apanhado histórico sobre
a história da cidade de Pedro Velho e, consequentemente, da Vila das
Cuitezeiras. O relato de Cascudo será complementado, no entanto, pela
dissertação de mestrado de Marcos Fonseca (2006) intitulada “Memória e
história da antiga Vila de Cuitezeiras Pedro Velho/RN (1861 e 1936)” o qual conta
com relatos orais e entrevistas do que ele descreve como portadores da memória
do lugar. Fonseca estabelece, assim, paralelos entre os relatos de seis
entrevistados e entre referências bibliográficas para, assim, trabalhar o resgate
da memória coletiva de Pedro Velho.
A Capela de Santa Rita encontra-se em ruínas, mantendo aspectos de sua
história e das técnicas construtivas utilizadas para sua edificação. Como o
restauro buscará o respeito às técnicas apresentadas outrora utilizando-se do
princípio da distinguibilidade apresentado por Cesare Brandi, deve-se buscar
conhecer os métodos utilizados a partir de vestígios locais e com o auxílio de
bibliografia. Em uma visita preliminar à área de estudo, realizada no dia 5 de
31
janeiro de 2019, observou-se alguns vestígios de métodos construtivos como o
uso de tijolos queimado (figura 16)
Figura 16 Trecho de fachada lateral direita onde pode-se observar a presença de tijolos de queimado com reboco
Fonte: foto registrada pelo autor 05.01.19
Esses dados foram utilizados para a análise de desempenho térmico da
capela os quais, por sua vez, servirão como base para decisões projetuais que
ajudem a adaptar a edificação a obter Nível A de acordo com as diretrizes para
o critério de envoltória apresentado no Regulamento Técnico da Qualidade para
o Nível de Eficiência Energética de Edificações Comerciais, de Serviço e
Públicas (RTQ-C) (ELETROBRÁS et al., 2010).
A visita realizada dia 05 de janeiro de 2019 também iniciou o levantamento
da Capela de Santa Rita apresentado no apêndice 1.
7. VESTÍGIOS E COMPARATIVO COM DADOS PRÉ-EXISTENTES
Contou-se com fotografias registradas por Paulo Heider F. Feijó desde a
década de 1980. Apesar de a capela já encontrar-se em abandono e ruínas à
época dos registros, é possível observar-se algumas características as quais não
existem mais, seja pela abrasão do tempo, a ação de insetos xilófagos ou até
mesmo intervenção humana.
Um dos elementos construtivos ruído foi o arco cruzeiro, presente antes do
altar (figura 17). Na fotografia, observam-se as fissuras estruturais no elemento
o qual, posteriormente, veio a ruir.
32
Figura 17 Nave central da capela de Santa Rita inda com arco cruzeiro e piso pré-existente
Fonte: foto registrada por Paulo Heider Feijó (data desconhecida). Fornecida por Paulo
Heider Feijó.
Na visita técnica realizada em 05 de janeiro de 2019, observou-se que,
apesar da inexistência do arco fechado, é possível inferir sua dimensão, uma
vez que as colunas que o apoiavam permaneceram assim como pequenos
vestígios de sua curvatura (figura 18).
Figura 18 Capela de Santa Rita em 2019, sem arco cruzeiro e sem piso
Fonte: foto registrada pelo autor 18.03.19
As imagens acima (figuras 17 e 18) também mostram a retirada do piso em
tijoleira sentados no sentido transversal à nave. Vestígios de tais pisos,
conforme observado na figura 23 do Apêndice A, podem ser observados ainda
33
no local. Mais ao fundo, o altar apresentava três pequenos arcos um ao lado do
outro. Esses arcos caíram restando apenas fração dos laterais (figuras 19 e 20)
Figura 19 Arcos ornamentais no altar mor
Fonte: foto registrada por Paulo Heider Feijó (data desconhecida). Fornecida por Paulo
Heider Feijó.
Figura 20 Altar mor em 2019, sem os arcos ornamentais
Fonte: foto registrada pelo autor 05.01.19
34
Outra característica perceptível através de vestígios locais é a presença
de tesouras de linha alta e cachorros os quais sustentavam um possível coreto
que se estendia até uma provável terça localizada nas pilastras ainda existentes.
Figura 21 Vista interna da fachada frontal. Na empena, vestígio de tesoura de linha alta. Sob as janelas, vestígios de oito cachorros para a sustentação de um coreto.
Fonte: foto registrada pelo autor 05.01.19
Apesar de observar-se a presença de cachorro, não há indícios de
circulação vertical para a subida ao coreto, assim sendo, a instalação de uma
nova escadaria para a parte superior do coreto deve ter material destacando que
esta trata-se de elemento adicionado recentemente.
8. ELABORAÇÃO DE PROJETO
8.1. DEMANDAS PARA A CAPELA DE SANTA RITA DE CÁSSIA
A capela apresentará o uso de culto religioso católico, tendo, então,
especificidades deste uso em seu programa de necessidades — como coro,
nave principal da assembleia, presbitério, pia batismal, sacrário, entre outros
(os quais serão listados no próximo subitem do capítulo). Para esse uso, é
necessário estar atento aos seus símbolos e rituais litúrgicos3
3 Será utilizada liturgia segundo o entendimento de “ação simbólica plena de realidade”, um dos significados apresentados por Manfred Lurker (1997, p.393), refere-se, assim, aos símbolos ritualísticos do culto católico romano.
35
8.2. PROGRAMA DE NECESSIDADES;
O programa de necessidades do interior da Capela de Santa Rita de Cássia
deve contemplar itens próprios da liturgia católica romana. Para isso, utilizou-se
como base, os espaços pré-existentes na capela além de algumas adaptações
devido a mudanças na liturgia dos ritos católicos romanos em meados do século
XX com o Concílio Vaticano II. Para se tomar como referência das necessidades
do rito contemporâneo católico, utilizou-se o livro “Orientações para projeto e
construção de igrejas e disposição do espaço celebrativo” (CNBB, 2013). Assim
sendo, o projeto contemplará:
1) Presbitério: Local onde que circunda o altar e se situam nele os
presbíteros e ministros que participam da celebração. Nela também será
situado um novo ambão (espaço destinado a leituras e avisos da igreja).
Apesar da capela apresentar espaços para ambão lateral, essa solução
não será utilizada devido a acessibilidade (para se acessar, é necessário
subir escadas), além de existir, hoje, equipamentos de som que
amplificam a voz do locutor, não necessitando mais que este encontre-se
num ponto central à assembleia. Assim sendo, os ambões geralmente são
situados ao lado do presbitério facilitando o acesso ao celebrante e aos
membros da assembleia que tenham dificuldades motoras. Os ambões
antigos serão enfatizados com material que tenha um destaque do
aspecto original da capela (seguindo o princípio da distinguibilidade),
porém, sua função será apenas alegórica (CNBB, 2013, p.64-71);
2) Sacrário: também chamado de tabernáculo, trata-se de um recinto
destinado para o armazenamento de hóstias consagrada. Deve-se
apresentar um ponto de luz próximo para indicar a presença da Eucaristia
(CNBB, 2013, p.72). Sua localização geralmente está em uma posição
arquitetonicamente importante e de fácil identificação (LITTLEFIELD et.
al, p.521);
3) Coreto: espaço destinado aos músicos das celebrações. Há um vestígio
de coreto na Capela de Santa Rita de Cássia, porém, não há vestígios de
circulação vertical. Deve ser pensada a forma de acesso a esse espaço.
4) Nave principal da assembleia: local onde há a concentração de fieis.
36
5) Sacristia: espaço destinado para o armazenamento de “paramentos e
alfaias litúrgicas”, além disso, a sacristia também contém o vestiário para
o sacerdote e os acólitos, depósito de limpeza e uma pequena cozinha
(LITTLEFIELD et. al, p.524);
6) Banheiros masculino e feminino para uso geral;
7) Memorial: será realizado o projeto na região lateral à capela deverá
comportar exposições e artefatos que lembrem a memória da cidade de
Pedro Velho e Cuitezeiras.
8.3. CONCEITO ARQUITETÔNICO;
Tendo em vista a discussão levantada no capítulo 2 dessa monografia, foi
adotada como metodologia de Restauro Crítico segundo diretrizes apontadas
por Cesare Brandi. Tal metodologia aponta o restauro como o
reestabelecimento da unidade potencial da obra de arte (no caso, as ruínas
da Capela de Santa Rita de Cássia) mas alerta que não se deve cometer
falso artístico ou histórico (BRANDI, 2004, p. 33), buscando, assim, a
diferenciação entre elementos adicionados ou reconstruídos. Para
reconstruções e adições, prezou-se por uma hierarquia que enfatizasse a
importância histórica do edifício principal. Segundo Francis Ching (1998, p.
338), a hierarquia demonstra a forma como são reveladas as diferenças
simbólicas. Essa hierarquia dar-se-á tanto em aspectos de escala quanto, de
forma e materiais.
A hierarquia simbólica presente na intervenção ainda buscará a conexão
com o restauro crítico. Brandi alerta para não se cancelar o traço da
passagem do tempo na obra de arte. Desta forma, a capela manterá marcas
próprias da ruína como tijolos aparentes (desde que devidamente
protegidos). Esse aspecto de ruína deverá contrastar com adições ou
reconstruções.
Assim sendo, sintetiza-se o conceito arquitetônico adotado como “ruína
reestabelecida”. Para sintetizar-se o conceito almejado, fez-se um painel
conceito somando-se os métodos de restauro a serem adotados com ideias
a serem adotadas (figura 22)
37
Figura 22 Painel conceito
Fonte: elaborado pelo autor
Deste modo, o painel conceito trabalhou a relação entre teoria, metodologia
e estudo de massas, assim sendo, o próximo subitem do presente capítulo
tratará de estudos realizados para se atingir o partido arquitetônico final.
8.4. ESTUDO DE MASSAS;
O estudo de massa do presente projeto buscou contemplar a adição do uso
de memorial e de banheiros com seu reservatório. No entanto, como se está
tratando de uma intervenção em um edifício histórico, a concepção de tal adição
precisou respeitar os princípios teóricos apontados anteriormente nessa
monografia como o restauro crítico.
Houve, a princípio, a reconstrução de elementos faltosos (observados no
capítulo 7 e na prancha 4 do Apêndice A) necessários para o reestabelecimento
da edificação e seu uso de modo a garantir a segurança do usuário. Foi utilizado
o concreto aparente por ser um elemento que confere distinguibilidade com o
pré-existente e por ser um elemento neutro. Entre os elementos reconstruídos
está o arco cruzeiro, empenas, arcos trincados com risco de ruir, escadaria do
presbitério, altar.
38
Fonte: elaborado pelo autor (SketchUp 2016)
Outra reconstrução realizada no projeto foi a do coreto, feito em steel
deck. Não há vestígios de escada para o acesso do coreto, provavelmente, o
acesso ao coreto se dava através de escadaria interna, porém para que esta
atendesse a NBR 9050 (acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e
equipamentos urbanos) estabelecida no ano de 2015 visando “utilização de
maneira autônoma, independente e segura do ambiente” (ABNT, 2015, p.1) os
espelhos da escada devem medir entre 16 e 18 cm (ABNT, 2015, p. 62). Buscou-
se, então, atender a norma pois, apesar de haver registros de diversas igrejas
com escadas com espelhos maiores que 18 cm, trabalhar essa solução partiria
de uma suposição por não haver vestígios concretos da escada tal qual ela era,
assim sendo, haveria um conflito com nono artigo da Carta de Veneza a qual
afirma que o restauro “termina onde começa a hipótese” (Carta de Veneza de
maio de 1964), seria constituído, assim, um falso-histórico.
Porém, como uma escadaria interna que atendesse a norma técnica
ocuparia muito espaço, optou-se por construir uma escada externa à edificação.
Contudo, as janelas do coreto não possibilitam a passagem de uma pessoa,
assim sendo, ampliou-se na janela da fachada lateral direita (onde se encontrará
a escada), deixando, no entanto, a moldura da janela como vestígio do seu
aspecto inicial.
Figura 23 Estudo de massas: reconstruções em concreto aparente
39
Figura 24 Reestabelecimento de coreto
Fonte: Elaborado pelo autor (SketchUp)
Como também apontado no capítulo 7, a fachada lateral direita encontra-se
fora de prumo. Esse problema estrutural será solucionado com ao escoramento
destas em pilares metálicos os quais estarão, também, presentes na fachada
lateral esquerda, amarrando, então, as duas fachadas através de tirantes. Os
pilares metálicos também sustentarão tesouras metálicas as quais apresentam
uma forma alusiva à das tesouras originais — conforme vestígios observados na
figura 25 —
Fonte: elaborado pelo autor (SketchUp)
Figura 25 Estudo de massas: cobertura
40
Na fachada direita também será inserida a escada (figura 26) que conduz
ao coreto, essa escada é prevista em estrutura metálica aproveitando os pilares
de sustentação da fachada. Os batentes serão em aço patinável.
Figura 26 Inserção de escadaria e esquadrias
Fonte: elaborado pelo autor (SketchUp)
A figura 26 também apresenta algumas esquadrias utilizadas no projeto. As
esquadrias da fachada frontal serão em duas folhas de giro e serão em aço
patinável com tratamento de condicionamento acústico. Já as esquadrias laterais
serão em vidro temperado incolor, possibilitando a entrada do sol e enfatizando
os vazios nos arcos, ocasionados pelo tempo.
Figura 27 Estudo de massas: inserção de memorial, banheiros e reservatório
Fonte: elaborado pelo autor (SketchUp)
41
Para a proteção solar das aberturas em vidro, foi concebido um elemento de
proteção solar com brises em aço patinável. Esse elemento apresenta uma
forma orgânica a qual tem como objetivo diferenciar-se da forma da edificação
histórica, aproximar-se de formas naturais e mimetizar a relação entre ruína e
natureza. O material escolhido para esse elemento foi o aço patinável por ser
um elemento característico da contemporaneidade ao passo que apresenta um
aspecto gasto o qual dialoga com a ruína pré-existente.
Figura 28 Estudo de massas: inserção de elemento de proteção solar
Fonte: elaborado pelo autor (SketchUp)
Assim sendo, preliminarmente, chegou-se ao estudo de massas sintetizado
pela figura 29, buscando, ao longo do processo, através de escala, forma e
materiais, uma hierarquia que enfatizasse a importância histórico-simbólica da
massa edificada no século XIX.
Figura 29 Forma obtida em um primeiro momento do estudo de massas
Fonte: elaborado pelo autor (SketchUp, VRay, Adobe Photoshop)
42
Posteriormente, buscou-se trabalhar na forma atingida para que os
contrastes sobre a edificação fossem atenuados, assim sendo, pôs-se o volume
do memorial na porção posterior da volumetria, unindo-o com os banheiros
conforme apresentam as figuras 30 e 31. A estrutura metálica foi minimizada
através de cálculos preliminares, havendo, dois pilares em cada lado da nave
principal que sustentam uma viga:
Figura 30 Forma obtida através do estudo de massas
Fonte: elaborado pelo autor (SketchUp, VRay, Adobe Photoshop)
Após o detalhamento de materiais e detalhes especificados nas
pranchas disponíveis no apêndice B desta monografia, a volumetria final
adotada foi sintetizada na figura 31. Nessa figura, pode observar-se a relação
que o projeto manteve com o cemitério, mantendo-o conforme seu estado
atual.
43
Figura 31 Perspectiva aérea da proposta
Fonte: elaborado pelo autor (SketchUp, Lumion)
É possível observar detalhes da proposta no apêndice B, contudo, para
fins de esclarecimentos extras, foi elaborado um breve memorial descritivo
e justificativo o qual será tratado no próximo capítulo.
9. MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO
O presente capítulo buscará descrever o projeto e reforçar justificativas
adotadas. Primeiramente, preocupou-se em reestabelecer uma cobertura para a
capela, porém, para não danificar a edificação pré-existente e conter paredes e
fora de prumo, foi utilizada uma estrutura nova estrutura em alumínio. Para seu
pré-dimensionamento, elaborou-se uma tabela no Microsoft Excel. Calculou-se
a área de cada pilar utilizando a área de influência (Ai) de cada pilar, a carga
total a ser sustentada (Qt), a qual considerou-se o a carga das tesouras (10
tesouras com 13 metros lineares de alumínio com massa linear de 66 Kg/m, ou
seja, 8580 Kg), a carga total das telhas (3720 Kg), a massa das vigas a serem
sustentadas (cada uma com 18,2m e uma massa linear de 66 Kg/m, logo cada
viga terá 1201,2Kg, assim, as duas juntas apresentarão 2402,4 Kg). Desta forma,
a carga total prevista é de 147.024,00Kg, ou seja, Qt = 147,024 KN. A área de
cada pilar foi obtida pela expressão A=Ai*(Qt)/12. Obteve-se, então, os
resultados expressos na tabela 1, aplicando, os perfis disponíveis na tabela de
bitolas da Gerdau (GERDAU, 2019).
44
Tabela 1 Pré-dimensionamento de pilares
PILARES
d (mm) bt (mm)
PILAR Ai A PERFIL n h
P1 36 44,11 W 200 x 35,9 (H) 1 7,1 201 165
P2 35 42,88 W 200 x 35,9 (H) 1 7,1 201 165
P3 36 44,11 W 200 x 35,9 (H) 1 7,1 201 165
P4 35 42,88 W 200 x 35,9 (H) 1 7,1 201 165 Fonte: elaborado pelo autor (Microsoft Excel, Autodesk AutoCAD 2019)
Tal estrutura metálica terá tirantes de amarração os quais auxiliarão na
sustentação das paredes laterais da igreja as quais estão fora de prumo. A
estrutura metálica também irá apoiar a cobertura composta por 3360 telhas
coloniais 588 telhas translúcidas através de tesouras metálicas foram espaçadas
com 2 metros entre si.
Serão postos 92 brises em aço patinável na porção lateral da edificação,
protegendo esta da incidência solar direta. Dentre esses brises, 24 apresentam
o perfil 1 (discriminado em projeto) e 68, o perfil 2 (discriminado em projeto). Tais
brises protegerão a edificação de insolação direta.
A escada foi projetada de modo a atender as determinações do item 6.8 da
NRB 9050 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS E TÉCNICAS, 2015, p.
62) apresentando degraus com 28,5 cm de comprimento e espelhos com
17,35cm. O corrimão obedece ao item 6.9 da mesma norma (Idem, p. 63) sendo
este duplo com alturas de 70 e 92 cm do piso acabado.
Nos arcos da edificação onde faltam vedações serão postas esquadrias de
giro em duas folhas feitas em alumínio da cor branca (de modo a diferenciar-se
das demais esquadrias pois, originalmente, esses arcos não eram esquadrias, e
sim vedações que foram abertas ao longo dos anos de abandono da capela). Já
as janelas do memorial foram dimensionadas de acordo com a NBR 15220
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS E TÉCNICAS, 2003), a qual
recomenda para edificações na Zona Bioclimática 7 (a qual se situa a área de
estudo), esquadrias pequenas (com a área entre 10% e 15% da área do piso) e
sombreadas. O memorial também apresenta um beiral com vegetação o qual
proporciona sombreamento de uma das suas fachadas (fachada leste),
enquanto a fachada oeste apresenta uma parede mais espessa.
45
O piso interno da capela (exceto no altar principal) será em tijoleira com
dimensões 20x17 sendo a maior dimensão disposta no sentido transversal e as
peças dispostas de maneira alteranada conforme apresentado na figura 32:
Figura 32 Representação de assentamento de piso de tijoleira com junta seca
Fonte: elaborado pelo autor (AutoCAD 2019)
A escolha de tal piso foi realizada devido a vestígios do piso pré-existente no
local (conforme a figura 23 do Apêndice A). Já o piso do altar principal será em
cimento e inicia-se com três degraus de escada conforme vestígios
apresentados no local (conforme a figura 37 do Apêndice A).
O piso da área externa o qual formará percursos que levem à capela será
em piso cimentício antiderrapante do tipo Fulget nas cores bege e cinza. Essas
circulações partirão da área do estacionamento a qual prevê 6 vagas para carros.
Ao longo dessas circulações, houve um agenciamento paisagístico. Desta forma,
a vegetação proposta (discriminada na tabela X) foi escolhida de modo que
suportasse condições climáticas do semiárido.
46
Tabela 2 Quadro de vegetação
Fonte: elaborado pelo autor (Microsoft Excel, Autodesk AutoCAD 2019)
Assim sendo, utilizou-se como forração grama-bermuda (Cynodon
dactylon), indicada para pleno sol e não necessitando de constante irrigação por
ser resistente à seca (LORENZZI, 2015, p.913). Foram utilizadas, também,
espécies como trapoeraba-roxa (Tradescantia pallida), Agave azul (Agave
americana subsp. protoamericana) em regiões que não têm acesso de pessoas
por ser uma planta que pode ferir transeuntes, cacto candelabro (Euphorbia
ingens E. Mey. ex Boiss) sendo utilizado em regiões que não haja contato físico
de pessoas como no caso dos agaves, duas espécies de grama azul (Festuca
glauca e a variegata Festuca glauca ´Elijah Blue´). Não será proposta vegetação
na porção do cemitério para que não haja movimento de terra nessa porção e
para que a vegetação não oculte possíveis túmulos que possam ser encontrados
posteriormente.
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho trouxe, um anteprojeto de restauro para a Capela Santa
Rita de Cássia e entorno imediato, situada no município de Pedro Velho, RN
visando o usufruto da população através dos usos cultural e religioso. Para isso,
47
aplicou-se como teoria de restauro norteadora o Restauro Crítico, apresentando
como figura norteadora Cesare Brandi. Tomou-se, a partir de tal metodologia de
restauro, premissas como o reestabelecimento da unidade potencial da obra
arquitetônica sem, no entanto, não cometer falso histórico.
Para se exemplificar as diretrizes tomadas, foram utilizados projetos como
referência tais quais a igreja de São Domingos em Lisboa, a Pinacoteca do
Estado de São Paulo na cidade de São Paulo, a Torre Medieval do Castelo de
Mastrera na Espanha e o Parque das Ruínas localizado na cidade do Rio de
Janeiro.
Para exemplificar e sintetizar tais metodologias e diretrizes foram exploradas
referências como o Parque das Ruínas, Pinacoteca do Estado de São Paulo, a
Torre do Castelo de Mastrera e a Igreja de São Domingos, todos restaurados
com princípios consoantes ao método de Restauro Crítico.
Esse apanhado teórico e referencial foi, então, aplicado durante o estudo na
capela de Santa Rita a partir do seu contexto e situação, levantada em duas
visitas realizadas ao longo do primeiro semestre do ano de 2019. Prezou-se,
então, pela preservação da estrutura: paredes que estavam fora de prumo foram
sustentadas por pilares metálicos externos os quais, por sua vez, sustentam
tesouras metálicas alusivas às tesouras originais (identificadas a partir de
vestígios observados in loco). Os pilares metálicos também apresentam
amarração feita a partir de tirantes.
A cobertura trata-se de telha colonial. As águas pluviais captadas pelas
telhas são direcionadas para calhas laterais as quais impedirão que a chuva
danifique as paredes da capela. As paredes que fiquem expostas passarão por
um trato com impermeabilizantes à base de silicone.
Assim sendo, buscou-se valorizar aspectos históricos da Capela de Santa
Rita ao passo que não se trouxe idealismos durante o processo de projeto.
11. REFERÊNCIAS
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Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
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48
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(1965-1995). São Paulo: CosacNaify, 2006.
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12. APÊNDICE A
Este apêndice contém imagens da Capela de Santa Rita registradas pelo
autor no dia 18 de março de 2019.
Apêndice A - Figura 1
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Apêndice A - Figura 2
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53
Apêndice A - Figura 3
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