O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
ANÁLISE DAS INTERFERÊNCIAS SOCIAIS NO ENSINO DE
MATEMÁTICA (ENSINO MÉDIO)
Professor PDE: Sergio Brasil Professor Orientador IES: Adriano Machado
RESUMO Buscou-se com este trabalho destacar as possíveis interferências sociais no ensino de matemática no Ensino Médio, no Colégio Estadual de Segredo, localizado no município de Foz do Jordão, estado do Paraná, o qual possui apenas 14 anos de emancipação política, com 5.832 habitantes, conforme o último censo demográfico, carecendo de infra-estrutura em diversos sentidos, fato este que pode interferir no bom desenvolvimento das atividades do processo ensino-aprendizagem. Para tanto destacou-se as possíveis intervenções pedagógicas para superar a dificuldade de aprendizagem na disciplina de Matemática. De posse disto optou-se por enfatizar os problemas sociais, tendo em vista que o objeto deste trabalho reside em demonstrar que as interferências sociais do meio em que as crianças vivem incidem no resultado da aprendizagem da disciplina, ocasião em que foi destacado a disparidade em relação à distribuição da renda, o nível baixo de escolaridade dos pais ou do próprio aluno que desiste da escola, condições precárias de moradia do público alvo da pesquisa, problemas relacionados à saúde, a fatores psicológicos, ao transporte escolar, de ordem familiar, além da falta de alimentação adequada que formam um conjunto de fatores que têm contribuído de maneira negativa vindo a prejudicar a aprendizagem da Matemática, disciplina esta importante que serve de base para inúmeras atividades no decorrer da vida do aluno. Palavras-Chave: Matemática, Dificuldades de Aprendizagem, Problemas Sociais e Intervenções Pedagógicas.
ANALYSIS OF THE SOCIAL INTERFERENCES IN THE
MATHEMATICS TEACHING (HIGH SCHOOL)
PDE Teacher's: Sergio Brasil Educational Guidance IES: Adriano Machado
ABSTRACT Search with this work emphasize the possibles social interferences in the Mathematics teaching in the High School, in the “State School of Secret”, situated in the municipal by “Foz do Jordão”, state by “Parana”, in which hold only 14 years of political emancipation, with 5,832 inhabitants, according to the last demographic census, a need for of infrastructure in many senses, in fact it that could interfere in the good development of the activities from the process teaching and learning. For this stood out the possible pedagogic' s interventions to overcome the difficulties of the learning in the discipline of Ma thematic. Armed with this, we decided to emphasize the social problems, given that the object of this work is to demonstrate that the interference of the social environment in which children live affect the result of learning the discipline when he was highlighting the disparity in income distribution, the low level of education of parents or of the student who drops out of school, poor housing conditions of the target audience research, problems relates of health, the psicologics factors, the school tranportation, of familiar order, Besides the lack of adequate food to form a whole of factors that have contributed od negative manner Welcome to hinder the learning of Mathematics, this important discipline that underpins many activities during the student's life. Keywords: Mathematics, Learning difficulties, Social Problems and Pedagogical Interventions
INTRODUÇÃO
Considerando que a etnomatemática é a agregação das relações existentes
no meio social e no meio da Matemática, percebemos que o cotidiano envolve a
relação dos sujeitos com o mundo e também poderá estar proporcionando através
desta relação, o ensino-aprendizagem, uma vez que ao observarmos as simples
resoluções de problemas cotidianos que envolvam a utilização da Matemática
podemos constatar esta interferência.
Desta forma, tentamos apresentar um olhar reflexivo sobre o aprendizado do
educando, e suas reais diversidades, realizado em meio a um cotidiano constituído a
cada dia pelos sujeitos, contribuindo para entendermos o cotidiano como dinâmico e
em constante movimento, o que exige de nós pesquisadores “mergulhar” na
realidade, possibilitando mostrar quais as necessidades de cada educando seja ela
cultural, socioeconômica ou psicológica.
O cotidiano escolar, entendido como movimento, por isso, flexível e
dinâmico, permite compreender que os sujeitos nele envolvidos são os que
conferem tais características ao mesmo. São as relações sociais externas, isso é
fora da escola, que constituem a tessituras do cotidiano escolar, o que, por sua vez,
também constitui os sujeitos. Entre grupo, subgrupos e sujeitos, há uma relação de
mútua e variada influência. É nesse sentido que buscamos pesquisar fatores
externos que possam influenciar a relação de diferentes sujeitos com suas histórias
e construindo a própria história. Desta forma, falar em interação e concepção é
buscar compreender a maneira pela qual os sujeitos entram em relação e
influenciam-se mutuamente. Como nos traz Penin (1994). “A construção do
conhecimento pelo professor passa pela relação que ele estabelece com os alunos e
que esta está permeada pelas experiências destes sujeitos.”1 Sendo assim, o
professor constrói e reconstrói o seu próprio conhecimento a partir da interação
social.
Sabendo que o sujeito aprende na interação com o outro, o processo do
aprendizado torna-se social. Tal construção perpassa por nossas ações cotidianas e
1 PENIN, Sonia T. de S. Cotidiano e escola: a obra em construção. São Paulo: Cortez, 1989.
envolvem diretamente o educando. Desta forma, almejamos contribuir com a
discussão do aprendizado e suas relações sócio-culturais do individuo, com a
Matemática, com o intuito de problematizar o desenvolvimento dos alunos nesta
disciplina.
Tal trabalho se justifica pelos fatores externos que interferem no processo de
ensino-aprendizado da disciplina de Matemática, onde se pode perceber que os
alunos estão apresentando dificuldades, possivelmente ocasionadas pelos fatores
sociais, resultando assim em notas baixas, desmotivação ou até mesmo chegando a
uma evasão escolar. Os fatores externos são os responsáveis por gerar parte das
condições necessárias para o aluno aprender. A escola tem dificuldades em
trabalhar com a diversidade de elementos que a realidade produz em cada
indivíduo.
A Matemática faz parte da vida de todas as pessoas e desempenha um
papel decisivo pelo fato de nos permitir resolver problemas do nosso cotidiano, além
de ser um instrumento de comunicação e desempenhar um papel fundamental na
formação do pensamento lógico matemático a partir do desenvolvimento de
habilidades de raciocínio específicas.
Segundo os PCN’s “A Matemática é componente importante na construção
da cidadania”2 (BRASIL, 1997) e poderá contribuir a partir do momento em que for
apresentada através de uma metodologia que favoreça a criatividade, o trabalho
coletivo, a iniciativa, a autonomia, a autoconfiança na própria capacidade de
conhecer, enfrentar e vencer desafios.
Buscou-se então analisar as interferências sócio-educativas, ocorrentes nas
1ª Séries do Ensino Médio do Colégio Estadual de Segredo e demonstrar de que
forma, ou até que ponto as questões sociais interferem diretamente na qualidade do
aprendizado. Propomos analisar dentro da disciplina de Matemática quais os
principais fatores sociais que interferem no ensino-aprendizagem.
Com base na pratica pedagógica desenvolvida na disciplina de matemática e
ao observarmos as dificuldades apresentadas pelos alunos nesta disciplina é que
pudemos aprofundar nossos estudos acerca do processo de aprendizado e fomos
2 PCN - Parâmetros curriculares nacionais: Matemática/ Secretaria de Educação Fundamental
– Brasília: MEC/ SEF. 1998. 148p.
instigados a pesquisar e analisar a prática cotidiana de uma sala de aula de alunos
do 1º ano do Ensino Médio e, após levantarmos tais dados buscaremos como se dá
esta interação também fora do âmbito da sala de aula e do ambiente escolar, visto
que tais fatores poderão ser decisivos até mesmo neste sentido, uma vez que o
indivíduo sofre influências externas em seu cotidiano.
Quando se trata de dificuldade de aprendizagem, notas baixas, desinteresse
na sala de aula fazem com que percebamos que existe algum tipo de problema que
vem do âmbito social, econômico, cultural e que prejudica o desenvolvimento do
aluno na disciplina de Matemática.
As estruturas sociais e culturais que envolvem os alunos influenciam
diretamente na sua aprendizagem. Sob esse aspecto, pretendemos estudar os
fatores que estão abrangidos neste contexto, com a finalidade de traçar o perfil
destes alunos e a melhor forma de buscarmos refletir sobre suas dificuldades.
Avaliaremos assim a “matemática social” dos alunos, ou seja, quais os
fatores internos e externos, que impactam na qualidade do ensino de matemática na
sala de aula. Nossa preocupação é o fato de que, em vez da superação dessas
dificuldades, os estudantes vão acumulando outros problemas, à medida que novos
conceitos são apresentados. Como conseqüência, eles passam a ser estigmatizados
como incapazes para o aprendizado da matemática, engrossando as estatísticas da
reprovação e exclusão escolar. Tal concepção é predominante nos meios escolares.
Isso significa dizer, também, que o tratamento dado às dificuldades de
aprendizagem depende da concepção e percepção do professor, mas sem esquecer
o meio em que o indivíduo vive.
Através de questionamentos para levantamento de informações em reuniões
realizadas no período compreendido entre agosto a novembro de 2010, com
docentes da disciplina em questão, atuantes no Ensino Médio, equipe pedagógica,
equipe técnica, direção e pais dos alunos, desenvolvemos nossa pesquisa.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS PARA SUPERAR DIFICULDA DE DE
APRENDIZAGEM NA DISCIPLINA DE MATEMÁTICA
Compreender as múltiplas relações que envolvem as questões sobre
dificuldades de aprendizagem matemática relacionadas a fatores externos é o
objetivo principal de nosso estudo, bem como analisar suas evidências em
atividades desenvolvidas pelos alunos do ensino médio. As evidências, para nós,
não significam apenas fazer observações e registro de alguns pontos de vista dos
alunos, mas o fundamental é analisá-las à luz de pressupostos teóricos e
metodológicos que as contextualizam.
Nesse sentido, faremos uma abordagem para elencar algumas categorias
que pressupomos serem as geradoras das dificuldades de aprendizagem dos
alunos, tais como: falta de alimentação adequada antes de virem à escola,
dificuldade de transporte, saúde, trabalho intenso no campo, falta de motivação.
Assim, neste projeto, procuramos fazer algumas reflexões da pesquisa cuja maior
preocupação relaciona-se diretamente com as dificuldades de aprendizagem em
Matemática, o que nos levou a investigar quais seriam as maiores dificuldades de
aprendizagem nesta disciplina.
O Estatuto da Criança e do Adolescente foi criado em 1990 com a finalidade
de garantir proteção integral à criança e ao adolescente. É um documento
importante, pois a partir dele a criança passou a ser preocupação principal da
sociedade. Segundo a Psicóloga Paula Dely,
criado em 13 de julho de 1990, o ECA instituiu-se como Lei Federal n.º 8.069 (obedecendo ao artigo 227 da Constituição Federal), adotando a chamada Doutrina da Proteção Integral, cujo pressuposto básico afirma que crianças e adolescentes devem ser vistos como pessoas em desenvolvimento, sujeitos de direitos e destinatários de proteção integral.O Estatuto, em seus 267 artigos, garante os direitos e deveres de cidadania a crianças e adolescentes, determinando ainda a responsabilidade dessa garantia aos setores que compõem a sociedade, sejam estes a família, o Estado ou a comunidade(DELY, P. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): por que devemos conhecê-lo? Disponível em:
http://www.educacional.com.br/falecom/psicologa_bd.asp?codtexto=590 acesso em 21 de junho de 2011).
Este Estatuto aborda que é direito da criança o acesso à educação, à cultura
ao esporte e ao lazer, mas com qualidade, onde se possa realmente aprender. No
Capitulo IV Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, encontra-se;
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes:igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;direito de ser respeitado por seus educadores; direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias Escolares superiores; direito de organização e participação em entidades estudantis; acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Considerando ainda parte dos direitos da criança e do adolescente podemos
ressaltar o Parágrafo único do art. 53 da referida lei que salienta que é direito dos
pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da
definição das propostas educacionais.
art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador; VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
Apesar de estar na Lei, de sabermos que o aluno tem seus direitos bem
colocados e presentes, na verdade falta atuação dos governantes, pois pouco é
cobrado dos mesmos sobre fazer valer os direitos do indivíduo perante sua
educação. Muitas vezes não há transporte adequado ao aluno, onde o mesmo tem
que levantar muito cedo, tem que caminhar quilômetros até chegar à escola, não
nos esquecendo das pavimentações que são extremamente precárias, e em dias de
chuva não há como chegar à escola, e sabemos que transporte adequado é direito
dos alunos.
E educação é um direito de todos, e é dever do Estado garantir sua
qualidade, mas para tanto é necessário que o governo e os governantes priorizem a
educação e tracem metas para que este direito seja efetivamente respeitado, e tais
planos não permaneçam apenas no papel.
2.2 PROBLEMAS SOCIAIS
“Os problemas sociais provocados pela desigualdade de renda e o
desemprego têm aumentado ao passo que cresce o intenso processo de
globalização da economia e dos meios de produção no mundo. Uma explicação
simples seria dizer que os indivíduos de classes menos privilegiadas têm menos
acesso à informação e à cultura”3.
As condições sociais influenciam na aprendizagem dos alunos, pois nas
comunidades escolares mais carentes podemos perceber que alguns alunos têm
maior dificuldade na aprendizagem devido às condições sociais em que eles vivem
com suas famílias, notando-se que devido a estas condições muitos alunos têm
seus índices de presença na escola diminuídos prejudicando o desenvolvimento dos
seus estudos.
Dificuldade de aprendizagem é somente um reflexo dos problemas sociais
que enfrentamos em nosso meio. Existem muitos problemas sociais que agravam a
aprendizagem, os quais estão relacionados a fatores externos como: a falta de
políticas públicas voltadas para a educação, a prioridade de transporte, a saúde, a
família, gravidez na adolescência, dificuldades financeiras.
3 SAVIANI, Demerval, Problemas Sociais e Problemas de Aprendizagem – Ano 10, São Paulo, Autores Associados.
primeiramente temos que resolver os problemas sociais que abalam a aprendizagem e só assim poderemos almejar melhorar a educação. “Neste sentido os problemas da aprendizagem só serão resolvidos a partir do momento em que forem resolvidos os problemas sociais dos quais estes problemas são meros reflexos.” (SAVIANI, Dermeval. 1991)4.
É muito fácil jogar a culpa nos professores ou na falta de dedicação dos
próprios alunos. Porém, é preciso considerar também que esses alunos já entram no
sistema em desvantagem, por mais dedicados que sejam acabam sendo atingidos
por estes fatores. De acordo com informações do Portal do MEC, as desigualdades
sociais e econômicas estão presentes em todos os países, independentemente de
serem ricos ou pobres, embora seja comprovadamente mais efetivo em nações
subdesenvolvidas os quais herdaram conseqüências oriundas da sociedade
capitalista. São várias as causas que contribuem para a condição de
subdesenvolvimento em que se encontram muitos países5. Dentre as principais
dificuldades encontradas, destacam-se:
a) Disparidade em relação à distribuição da renda
Uma grande parcela da população recebe baixos rendimentos, o que
contribui para o agravamento da pobreza. Geralmente a riqueza permanece nas
mãos de uma minoria enquanto a maioria vive com sérios problemas sociais.
b) Nível baixo de escolaridade dos pais ou do própr io aluno que
desiste da escola :
Muitos alunos em idade escolar são forçados a deixar os estudos para
desenvolverem algum tipo de trabalho, com a finalidade de contribuir com a renda
familiar, ficando os estudos em segundo plano.
c) Condições extremamente precárias para morar :
4 PCN - Parâmetros curriculares nacionais: Matemática/ Secretaria de Educação Fundamental
– Brasília: MEC/ SEF. 1998. 148p.
5 Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=27216 acesso em 03/07/2011.( Resultado das Desigualdades Sociais)
O modo de moradia das pessoas reflete diretamente sobre seus hábitos. Os
bairros da periferia são desprovidos de serviços públicos básicos (água tratada,
esgoto, iluminação, entre outros6, e o resultado disto, infelizmente se dá na
educação. Os alunos dormem mal durante à noite, não têm em casa o que é
necessário para uma qualidade de vida e por conseqüência abandonam os estudos.
d) Problemas relacionados à saúde :
Segundo o autor já citado, em nações com populações que vivem na faixa
de extrema pobreza o acesso aos cuidados médicos é bastante restrito e condições
precárias de saúde em que se encontram milhões de pessoas espalhadas pelo
mundo, são provenientes da falta de alimentação equilibrada, de médicos, de
saneamento básico, água tratada entre muitos outros motivos. Saúde precária
ocasiona um elevado índice de mortalidade infantil e uma baixa expectativa de vida
e reflete em um rendimento inadequado na aprendizagem do aluno, onde ele vive
desmotivado, falta à escola, perde o conteúdo e fica desta forma sendo alvo de
evasão escolar.
Em nossa sociedade, caracterizada por situações de injustiça e
desigualdade, criam famílias que lutam “com mil e uma” dificuldades para sobreviver.
Esses problemas atingem nossos alunos, que enfrentam inúmeras dificuldades para
aprender. A educação acaba sendo uma das mais atingidas, podendo influenciar no
aprendizado e no desenvolvimento do aluno na escola.
e) Problemas relacionados a fatores psicológicos :
Sobre os fatores de que depende a aprendizagem Scoz se refere:
a aprendizagem depende: da articulação de fatores internos e externos ao sujeito (os internos referem-se ao funcionamento do corpo como um instrumento responsável pelos automatismos, coordenações e articulações); do organismo: a infra-estrutura que leva o indivíduo a registrar, gravar, reconhecer tudo que o cerca através dos sistemas sensoriais, permitindo regular o funcionamento total; do desejo; entendido como o que se refere às estruturas inconscientes, representa o motor da aprendizagem e deve ser trabalhada a partir da relação que com ela estabelece; das estruturas
6 Disponível em: http://www.brasilescola.com/geografia/subdesenvolvimento-os-problemas-sociais.htm acesso em 03/07/2011 (Subdesenvolvimento e os Problemas Sociais).
cognitivas, representando aquilo que está na base da inteligência, considerando-se os níveis de pensamento propostos por Piaget, da dinâmica do comportamento, que diz respeito à realidade que o cerca. Os fatores externos são aqueles que dependem das condições do meio que circunda o indivíduo (SCOZ, 1996.p 29 e 30)7.
Os fatores externos podem influenciar na aprendizagem do individuo, visto
que o aluno necessita de um conjunto de estrutura e base dada na família e na
sociedade. Muitos dos alunos necessitam de afetividade, considerando que o afeto é
de fundamental importância na construção da inteligência, isto é, a afetividade
corresponde aos sentimentos, às emoções, aos desejos, às vontades e aos valores,
que dão o suporte às ações.
À medida que a aluno estiver afetivamente perturbado por qualquer razão e,
por isso, encontrar-se ansioso, triste, desanimado, com baixa auto-estima etc., o
desenvolvimento geral na disciplina de Matemática, poderá ser atrasado, já que
suas preocupações canalizam as suas energias.
f) Problemas relacionados ao transporte escolar
A região em que se localiza o município de Foz do Jordão é de cultura
tipicamente agrícola e na sede estão centralizadas todas as atividades educacionais:
Rede Municipal de Ensino e Rede Estadual de Ensino. A rede Estadual possui
aproximadamente 636 alunos dentre os quais 170 utilizam-se do transporte escolar
municipalizado para terem acesso ao saber, pois residem na zona rural.
É comum ao aluno ter que levantar muito cedo para pegar o ônibus, sendo
que muitos deles não tomam café antes de vir porque não têm condições
econômicas ou porque saem muito cedo e não têm tempo para fazê-lo. Muitas vezes
os ônibus não encontram boas condições para trafegarem, devido à má
conservação das estradas, fazendo apenas parte do trajeto, visto que na maioria das
estradas não há nem calçamentos, nem cascalho.
Por estas razões, muitas vezes o aluno chega desmotivado na sala de aula,
o que o impede de exercer o raciocínio lógico e o aprendizado não somente na
disciplina de Matemática, mas também nas demais disciplinas, fica comprometido.
7 SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e Realidade Escolar, O Problema Escolar e de
Aprendizagem. 3ª ed. ,Petrópolis, Vozes, 1996.
g) Família e problemas sociais
A necessidade de enfocar a questão da desestrutura familiar é um dos
componentes que contribui para a não aprendizagem e o principal motivo que nos
levou a investigar e tecer considerações, uma vez que, em contato com a dinâmica
do Colégio Estadual de Segredo podemos perceber que possuem pais
desempregados e sem perspectiva de futuro, pais com vida independente, pais com
desestrutura emocional, pais que apenas são os genitores, mas que estão ausentes
durante todo o período escolar dos filhos e que passam esta responsabilidade para
os avós, os tios ou os padrinhos, entre outros, pais que devido à vida desregrada
estão impedidos do convívio com a sociedade e incapazes de serem referência para
seus filhos.
A aprendizagem humana é um processamento complexo de informações,
sendo que os processos centrais são modificações e combinações que ocorrem nas
estruturas cognitivas8.
A dificuldade na aprendizagem que certos alunos apresentam em sala de
aula é uma questão que sempre nos causou preocupações, enquanto profissionais
da educação. Ainda segundo a mesma fonte, “Todo indivíduo possui uma família,
independente de ser ela a desejável ou não. A importância da família na vida do ser
humano é indispensável e, é certo que é a partir dela que o 'homem' adquire os seus
primeiros conceitos que formarão, ao longo do tempo, as pilastras de seu caráter,
servindo de orientação para os inúmeros caminhos que a vida imporá durante sua
trajetória. Todavia mudanças ocorreram muito mais no campo fático que jurídico”. O
crescente número de relações pouco duradouras entre os casais têm gerado uma
conseqüência drástica no que diz respeito à estrutura da família.
Segundo Maira Haydeé, em seu artigo sobre Dificuldades de
Aprendizagem versus Desestrutura Familiar,
no entanto, alguns especialistas afirmam que este termo deve ser revisto, pois, desestrutura familiar, por exemplo, não quer dizer, necessariamente, ausência de pai ou de mãe; ou modelo familiar alternativo. O conceito
8 Disponível em: http://www.artigos.com/artigos/humanas/educacao/dificuldades-de-aprendizagem-x-desestrutura-familiar-8206/artigo/ acesso em 03/07/2011.
também tem a ver com as condições mínimas de afeto e convivência dentro da família, o que pode ocorrer em qualquer modelo familiar.Vários foram os fatores que ao longo da história abalaram e até os dias atuais continuam abalando as estruturas familiares. Desde mudanças climáticas, guerras, transição de governos, recessões, separações, disputas por terras e heranças, mortes, álcool, drogas, doenças, misérias, religiões, modismos e até mesmo disparidades culturais entre cônjuges causaram e ainda causam, de alguma forma, impacto negativo na estrutura das famílias (Disponível em: http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_31516/artigo_sobre_dificuldades_de_aprendizagem_x_desestrutura_familiar acesso em 03/07/2011).
Conseqüentemente esses fatores influenciam na falta de desenvolvimento e
aprendizagem do educando. Também sem falarmos nos pais analfabetos, que
pouco auxiliam a aprendizagem do aluno na escola, onde o mesmo tem que
caminhar sozinho, isto também gera um ponto negativo no nosso trajeto, pois pais
que têm uma noção dos conteúdos, podem influenciar no desenvolvimento dos seus
filhos.
Há pais que não têm expectativas de futuro promissor, não dão importância
para a vida escolar do filho, não auxiliam e não são presentes na escola, não se
importam se o aluno vai bem à escola ou se as notas estão baixas e, isso é de
extrema importância para o crescimento e para o desenvolvimento do aluno na
disciplina de Matemática, ou mesmo em qualquer outra disciplina no âmbito escolar.
h) Falta de alimentação desenvolve dificuldade de a prendizagem na
Matemática
estudos demonstraram que as deficiências nutricionais estão freqüentemente associadas às perturbações de aprendizagem e aos problemas cognitivos do aluno. Uma criança bem alimentada chega à escola alegre, disposta, aprende com facilidade; uma com fome, ao contrário, não consegue se concentrar, fica inquieta, nervosa, sonolenta, apática e tem dificuldades de aprendizagem, pois estão mais interessadas na comida servida na merenda que na disciplina dada. Isso determina alterações, por vezes graves, no rendimento escolar e no comportamento da criança. (Disponível em: http://www.ima.matrix.com.br/mariabene/aprendizadoedesnutricao.htm acesso em 03/07/2011).
A fome e desnutrição são causas de problemas sérios que refletem na
escola, no desempenho, no desenvolvimento do educando, que segundo os padrões
de aprendizagem esperamos, sejam rápidos e lógicos. Percebemos que a falta de
alimentação adequada influencia para que o aluno chegue desnutrido, com ânimo
baixo, e que não consiga acompanhar o aprendizado, sendo que a falta de
alimentação adequada reflete em todo o desenvolvimento do ser humano,
retardando o seu aprendizado ou desmotivando e gerando a evasão.
Nossos alunos vivem em regiões onde as condições sociais muitas vezes
são precárias. Alguns acabam evadindo-se da escola, e ainda há outros fatores que
são gerados e que refletem uma conduta não adequada no seu modo de se
comportar no estabelecimento de ensino, e este comportamento muitas vezes acaba
prejudicando outros alunos na sala de aula, vindo a influenciar também no
aprendizado dos mesmos.
O Índice de Desenvolvimento (IDH) do Município de Foz do Jordão está
abaixo da média, sendo ele 0.689, ao ser comparado com o índice do Estado do
Paraná que é de 0, 7879.
2.3 ESTRATEGIAS DE AÇÃO
Produziu-se o projeto para demonstrar os fatores existentes fora da escola
que prejudicam o desenvolvimento do aluno na disciplina de Matemática, através da
construção de um material didático pedagógico na escola, com o objetivo de auxiliar
os professores na reflexão quanto à aprendizagem dos seus alunos.
Neste propósito, através de reuniões com a equipe pedagógica da escola,
com os pais dos alunos da 1ª série do ensino médio, e com a comunidade abordou-
se tais problemas, e assim, obteve-se os parâmetros para reconhecermos esses
fatores, buscando as possíveis soluções para interferir no processo de ensino
9 O IDH Índice de Desenvolvimento Humano é uma medida comparativa que engloba três
dimensões: Riqueza, Educação e Esperança média de vida. IDH-( 0 á 0, 499 baixo), (0, 500 a 0, 799 médio), (0, 800 a 0, 899 elevado), (0, 900 a 1 muito elevado) Fonte: Secretaria de Educação do Município de Foz do Jordão/PR-2010.
aprendizagem da disciplina de Matemática e conseqüentemente nas demais
disciplinas.
Nestas atividades, buscou-se a proposição de idéias levando em conta os
fatores que estão agregados à aprendizagem fora da escola e que muito prejudicam
o desenvolvimento do aluno, possibilitando assim compreender e interpretar as
interferências sociais no ensino da Matemática.
O universo da pesquisa delimitou-se no Colégio Estadual de Segredo, o qual
conta com um total de 636 alunos que estudam nos períodos da manhã, tarde e
noite, sendo que 318 alunos estudam no período da manhã, correspondendo a um
total de 50%, do total de alunos, e 252 estudam no período da tarde, resultando em
39,62% do total de alunos, e à noite com 66 alunos, correspondendo a 10,38% do
total de alunos.
Na pesquisa desenvolvida, dos 62 alunos matriculados na 1ª série em 2009,
42 alunos estão freqüentando, ou seja, 67,74%, sendo que 20 alunos são
desistentes ou remanejados, um índice de 32,26%.
Do total de alunos que estão freqüentando as aulas no Ensino Médio, no
Colégio Estadual de Segredo, temos as seguintes porcentagens:
30 alunos não necessitam de transporte que é referente a 71,43% do total
de alunos que estão freqüentando as aulas, e 12 alunos que necessitam de
transporte, referente a 28,57% do total de alunos que freqüentam as aulas.
O projeto foi desenvolvido com a finalidade de demonstrar fatores existentes
fora do âmbito escolar que prejudicam diretamente o ensino da disciplina de
Matemática; bem como demonstrar mecanismos possíveis de serem aplicados e que
podem ser utilizados para interagir e amenizar este quadro nada satisfatório.
De posse disto foi elaborado o material didático, conforme segue.
2.3.1 MATERIAL DIDÁTICO
O material didático elaborado é composto por textos de diferentes autores
como: D’AMBROSIO, LEVY, POMPEO, ROHDEN, SCANDIUZZI, WERNECK, os
quais contemplam através de seus estudos, um aprofundamento teórico sobre a
etnomatemática, com ênfase na análise das interferências sociais no ensino da
Matemática.
Este serviu como base para a realização de entrevistas, questionários,
pesquisas e encontros no âmbito escolar, com os docentes da disciplina de
Matemática que atuam nas séries do ensino médio, no Colégio Estadual de
Segredo, pedagogos, equipe técnica e direção escolar objetivando a intervenção no
processo do ensino aprendizagem.
Todo o material coletado a partir das informações levantadas serviu de
embasamento para serem traçadas estratégias de ação, sendo tais informações de
ordem sociais, econômicas, motivacionais, físicas ou pessoais.
Segundo o autor D’Ambrósio, ao considerarmos a etnomatemática devemos
levar em consideração a diversidade cultural em que o indivíduo está inserido, uma
vez que a maioria das situações problemas formuladas pelo educando, partem de
situações geradas em seus contextos sócio-culturais.
E, partindo do princípio de que o conhecimento é gerado pela interação
comum, resultante da comunicação social e cultural os saberes/fazeres, nesta
concepção constroem-se como resultantes de comportamentos partilhados por
grupos, comunidade, povo, sociedade.
Assim, ao buscarmos um maior conhecimento e entendimento da realidade
sócio-cultural de nosso educando, podemos direcionar os conteúdos necessários no
currículo da disciplina de Matemática contemplando um maior conhecimento e
aprendizado no universo da realização, a fim de que nosso educando encontre
sentido e aplicabilidade prática naquilo que vem sendo ministrado em sala de aula.
Para tanto, o material foi elaborado de forma dirigida com base em dados
coletados a partir dos problemas cotidianos dos alunos, influenciados também pela
comunidade em que estão inseridos, tendo na sua construção a colaboração de
profissionais que atuam na área de proteção social e políticas públicas em nosso
município.
Por meio do caderno pedagógico, trabalhou-se com o tema que engloba a
etnomatemática, suas especificações, seus conceitos, que resultam de um
entendimento do conhecimento e comportamentos existentes, para que o docente
tenha subsídios a fim de aplicar outras técnicas de ensinar, entender, explicar e lidar
com o ambiente natural de cada indivíduo.
2.3.2 O PAPEL DO PROFESSOR NO ENSINO APRENDIZAGEM
O papel do professor muitas vezes é observar o grupo e estar sempre atento
a indícios que revelam que o aluno tem algum tipo de problema de valores sócio-
culturais e se isso traz ou possa influenciar o aprendizado e o desenvolvimento dele.
Estes sinais, ou “sintomas”, são outras tantas expressões (significantes) do seu
terreno de significações (conteúdos-entendidos no sentido de crenças as quais
aderem). Daí decorre a importância que o professor deve atribuir a estas formas de
não-ditos a fim de saber interpretar, por exemplo, as maneiras de vestir, de comer ,
de se divertir, de se expressar dos seus educandos.
O educador etnomatemático situa-se num plano semiótico quando por
exemplo, toma decisões à escolha de temas ou de atividades propostas aos alunos.
Ao estabelecer uma relação intencional/significativa entre um conjunto de partida (a
matemática) e um conjunto de chegada (grupo de alunos) – ou vice-versa, procura
dar sentido a um determinado percurso fractal validado pelo contexto da classe e
referido à Matemática.
Nas aulas onde o professor se utiliza da pesquisa da etnomatemática para
beneficiar os educandos é importante lembrar que tem de haver harmonia entre o
professor, o aluno e o mundo do aluno que está envolvido neste processo. A própria
existência da etnomatemática é (em si mesma) um símbolo atual e atuante na
sociedade presente: ela é o “significante” (ou expressão analógica) de uma nova
“significação”, já não resignadamente submetida às normas convencionais, mas
corajosamente consensual – consenso partilhado no universo das mais autênticas
aspirações (trans)formativas da educação (matemática) escolar.
Uma das missões do educador através da etnomatemática é a de conectar o
passado (culturalmente fractal, diversificando em alteridades) com o presente
(planetariamente globalizante, que tende para uma nova forma “geral” de
identidade). Exige que o educador matemático possua uma clara visão crítica do
conjunto de significados implícitos nos rumos tecnológicos, mediáticos e virtuais que
o processo de mundialização tem vindo a tomar e, através de sua sensibilidade,
apropriar-se destes recursos para melhoria da qualidade de suas atividades
docentes.
2.3.3 UMA PROPOSTA PARA A SALA DE AULA
Partindo da idéia de que cada indivíduo carrega consigo raízes culturais
próprias, o momento de encontro dessas raízes, na sala tende a uma dinâmica
muito complexa, que pode ser positiva ou negativa, considerando que
inevitavelmente, durante esse processo ocorre aprimoramento, transformação ou
substituição de raízes. Consideramos positiva a aproximação entre culturas que
resulta em um processo criativo, onde o indivíduo poderá sentir-se independente,
fortalecendo suas raízes sem suprimir as raízes dos outros.
O conhecimento matemático adquirido no meio cultural de cada um deveria
servir de ponte facilitadora para a introdução do conhecimento em sala de aula.
Porém, devido à supervalorização atribuída ao pensamento formal, pelo atual
sistema de ensino, esse conhecimento acaba por não ser trabalhado em sala de
aula, amputando, dessa forma, os valores sócio culturais do aluno, criando assim
uma relação de desconforto com a Matemática.
Para D’Ambrósio, as aulas de Matemática devem ter por base os
conhecimentos matemáticos transportados de fora para dentro da escola. Este
conhecimento deve ser desenvolvido a partir da própria experiência de vida do
aluno.
É necessário respeitar, entender e aceitar a cultura dos alunos, interpretar as
realidades externas em termos matemáticos para associá-las às experiências
trazidas.
Como educadores devemos buscar entender o cotidiano, investigar a
realidade social, cultural e intelectual do educando.
A proposta da etnomatemática consiste em aceitar a cultura dos alunos,
interpretando a realidade externa e termos matemáticos para associar a experiência
trazida de casa. Assim, ao apresentarmos esta proposta buscaremos fazer com que
através de um diálogo professor-aluno haja a observância da problemática com
relação à aprendizagem da disciplina de Matemática, sendo analisado e revisto o
processo e a metodologia que melhor poderá ser adequado à realidade de
determinada turma.
É fundamental através de diálogos, diagnosticar quais os possíveis fatores
sócio-econômicos que interferem no processo ensino aprendizagem e até que ponto
há comprometimento neste aprendizado.
Através de questões objetivas e individuais, os alunos puderam relatar com
total liberdade de expressão, o que consideram de relevância para a melhoria da
aprendizagem desta disciplina. Tais questões foram elaboradas enfocando
principalmente os problemas sociais de maior relevância, que encontramos em
nossa realidade, já observados por profissionais da área de assistência social,
psicólogos e pedagogos, bem como: disparidade em relação à distribuição de renda,
nível baixo de escolaridade dos pais ou do próprio aluno, problemas de saúde,
problemas relacionados a fatores psicológicos, problemas relacionados ao
transporte escolar, problemas de convivência e desestrutura familiar, além da falta
de alimentação adequada.
Após ser diagnosticado através de questionários, as possíveis causas que
interferem no ensino aprendizagem desta disciplina, foram repassados aos docentes
e equipe pedagógica, os resultados desta abordagem e, com o estudo de um
caderno temático propusemos redirecionar o trabalho dos docentes com foco nos
problemas sociais, buscando alternativas em conjunto com profissionais de diversas
áreas como: psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, advogados, profissionais
da área de saúde e, é claro, com o apoio da comunidade em que os pais estão
inseridos de forma mais direta, visando a melhoria do processo de aprendizagem na
sua tonalidade, não apenas de forma específica na Matemática, mas das demais
áreas do conhecimento.
Na realidade trata-se de um processo coletivo que envolve a comunidade
escolar no seu sentido mais amplo. Desta forma entendemos que os fatores
externos são os maiores responsáveis por gerar as condições necessárias para o
aluno aprender e o professor é quem constrói e reconstrói este conhecimento a
partir da interação social.
2.3.4. ESCOLA: ESPERANÇA DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
Ao analisarmos os resultados dos questionários respondidos pelos alunos do
ensino médio, no Colégio Estadual de Segredo, assim como a partir de estudos com
os pais dos alunos entrevistados, percebemos que grande parte dos grupos deixam
evidente a possibilidade de transformação da atual condição para a melhoria da
qualidade de vida (melhores moradias e salários) através da educação. A maioria
sente-se inferior por não ter tido as mesmas condições que atualmente os filhos
possuem para estudar e por isso valorizam e consideram a importância do papel da
escola como fonte de transformação de sua condição sócio-político-econômica. Até
mesmo pudemos constatar que muitos se envergonham e se consideram em
desvantagem aos demais, pois vivenciaram a modernização e o capitalismo e, pela
falta de informação e formação sentem-se excluídos. Percebemos com isso, que os
pais são os nossos maiores aliados, uma vez que consideram fundamental a
aquisição de conhecimentos (ler, escrever, calcular), para a entrada no mercado de
trabalho.
A maioria dos grupos entrevistados vêem nos professores a “autoridade a
ser respeitada”, a “imagem do conhecimento”, mas criticam severamente aqueles
que não estão devidamente preparados para o exercício da função,
excepcionalmente para ministrar as disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa,
consideradas pelos mesmos as mais importantes. Os pais almejam para seus filhos
uma escola “com conteúdo”.
Percebemos que os pais valorizam o vínculo afetivo, em que os professores
se dedicam e se interessam pelos seus filhos e muitas vezes medem a qualidade de
ensino por este vínculo, daí a importância dos docentes perceberem a realidade em
que estão inseridos seus alunos para que possam ir de encontro a essa expectativa.
Notamos através das ações aplicadas a partir das respostas dadas nos
questionários que o aluno corresponde mais e melhor quando percebe que há uma
maior abertura da parte dos educadores. Sentem-se importantes e correspondem
dando o melhor de si.
Assim notamos que o ensino poderá se tornar cada vez mais eficaz, se
houver ações compartilhadas, em que os alunos, os professores, a equipe
pedagógica, a direção, os pais, interagirem.
CONCLUSÃO
Partindo do ponto de vista que boa parte das dificuldades de aprendizagem
na disciplina de Matemática advém da falta de base de conteúdos ministrados em
séries anteriores, além dos inúmeros problemas de ordem social que interferem
diretamente como mencionados no decorrer do trabalho, acredita-se então que,
como produto social, o aluno tem, dentre outras, a necessidade de se relacionar com
espaço, formas, quantidades, que possam ser fonte de problematização,
representação e de sistematização das apreensões por ele feitas para construção do
conhecimento. Para isso deve ser levado a desenvolver sua capacidade de
estabelecer relações, de lidar com grandezas, de calcular, de encaminhar
raciocínios e procedimentos lógicos os quais possuem relação direta com seu dia a
dia.
Sabendo que se trata de público alvo com necessidades específicas,
advindas de sua realidade cotidiana, nós professores devemos, pois proporcionar
experiências interativas, a fim de que os alunos visualizem a necessidade de
aprender, através da percepção do lado prático e sua utilização na vida em
sociedade, propondo atividades que sirvam como desafios tendo como objetivo
principal encontrar soluções utilizando a lógica inerente ao raciocínio.
Ao analisarmos o cotidiano dos alunos e suas dificuldades em relação à
aprendizagem da Matemática, no Ensino Médio, constatamos após observações que
as relações interpessoais, tais como: aspectos psicológicos, estados afetivos e
motivacionais, falta de estrutura familiar, saúde, ausência de políticas públicas
comprometidas com a educação, cultura da região em que se localiza a escola,
estrutura física do prédio escolar, transporte escolar, falta de condições econômicas
são alguns fatores externos que dificultam o ensino e o aprendizado nesta disciplina.
Almejou-se então um intercâmbio entre Matemática e sociedade.
De acordo com a pesquisa realizada através dos sujeitos estudados, denota-
se a necessidade de inovar, partir para o lado prático, ensinar o aluno a gostar de
aprender, transformando informação em conhecimento e construindo uma escola
para todos onde todos aprendam. Garantindo uma aprendizagem significativa e
contextualizada, a qual todos tenham acesso.
Evidentemente que não se trata de uma tarefa fácil tendo em vista a
complexidade e a abrangência dos fatores sócio-econômicos e psicológicos que
envolvem o universo educacional. Porém faz-se necessário conhecer para melhor
interagir e para fazer acontecer o aprendizado de modo mais coerente, mas é um
desafio que precisamos enfrentar na busca de que mais alunos ao saírem da escola
tenham consciência de seu papel nesse mundo, do exercício da cidadania plena.
Notamos que o professor não sabendo o que ocorre no cotidiano do aluno,
não possui discernimento para intervir e acaba algumas vezes, por contribuir com
este quadro. É por isso que o professor tem por obrigação fazer esta relação de
conhecer o meio em que o aluno está inserido, a fim de que possa influenciar no
sentido de modificar este quadro, fazendo com que haja o maior proveito no que foi
ensinado, possibilitando condições para que efetivamente haja aprendizado.
Com a intervenção proposta após o levantamento e constatação dos
principais problemas que fazem parte do universo escolar dos alunos do Ensino
Médio, do Colégio Estadual de Segredo, durante o segundo semestre do ano letivo
de 2010, em reuniões com a comunidade escolar ( pais, docentes da disciplina de
Matemática, equipe pedagógica, psicóloga, membros do conselho tutelar local,
assistente social, representantes do poder legislativo e do executivo municipal,
advogado, equipe técnica e direção escolar), obtivemos algumas reflexões valiosas.
A partir do momento em que nos reunimos e apuramos as repostas advindas de um
questionário aplicado aos alunos do Ensino Médio, o qual nos deu condições de
mapear as principais dificuldades vivenciadas pelos nossos alunos, pudemos
compreender melhor a realidade vivenciada pelos mesmos, e tentamos interagir
buscando possíveis soluções. Neste momento observamos uma proximidade maior
entre professores e alunos, a partir da preocupação demonstrada com o aspecto
social, dando a impressão de um fortalecimento neste relacionamento e
oportunizando maior abertura de ambos os lados, resultando num diálogo franco,
proporcionando até mesmo ao aluno que apresenta mais dificuldade em se
comunicar, uma abertura sem ter o receio de ser criticado pelos demais, pois todos
estão envolvidos no processo e abertos a ajudarem-se mutuamente.
Com relação ao colégio e à comunidade em geral, observamos uma
presença maior dos pais e outros membros da comunidade ao participarem mais
ativamente em reuniões e outras atividades escolares como feiras e festas
tradicionais, com sugestões de melhorias para serem realizadas, principalmente no
que se refere à qualidade do ensino, apoiando as decisões do colegiado. Também
com reivindicações junto ao poder executivo e legislativo municipal propondo
melhores condições para o transporte escolar, com melhorias na conservação de
estradas, auxílio na conservação e melhoria das benfeitorias já existentes no prédio
escolar.
No entanto percebemos que este trabalho deve ser constantemente
enfatizado, pois ao realizarmos as interferências obtivemos resistências até mesmo
de docentes acostumados com sua prática pedagógica, mas notamos que não
somos ilhas, precisamos trabalhar em redes, e deixar claro a todos que o processo
ensino-aprendizagem é uma prática recíproca tanto para professores quanto para
alunos.
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