Curso EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Disciplina
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Curso EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Disciplina
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Celso SANCHEZ Vilson CARVALHO
www.avm.edu.br
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CELSO SANCHEZ PEREIRA
Possui graduação em Licenciatura em Ciências Biologicas pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (1995), mestrado em
Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001) e Doutorado em
Educação Brasileira, com ênfase em Educação Ambiental pela
PUC-Rio (2008). Atualmente é professor da pós-graduação da
Universidade Cândido Mendes, no Instituto A Vez do Mestre,
professor na pós-graduação em educação ambiental da PUC-Rio e
professor da Universidade Veiga de Almeida. Tem experiência na
área de Ecologia, com ênfase em Ecologia Social, atuando
principalmente nos seguintes temas: educação ambiental, ensino
de ciências, meio ambiente e política ambiental.
VILSON SÉRGIO DE CARVALHO
Doutor em Ecologia Social pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (2005) e Mestre em Psicossociologia de Comunidades e
Ecologia Social pela mesma universidade (1997), graduado e
Licenciado em Psicologia, também pela UFRJ. No momento atua
como professor do Instituto A Vez do Mestre (IAVM) da
Universidade Candido Mendes (UCAM) no Rio de Janeiro atuando
nas áreas de docência, pesquisa e desenvolvimento nos âmbitos
de ensino presencial e a distância com ênfase nas seguintes
temáticas: Educação Ambiental, Psicologia Social, Didática,
Práticas de Ensino e Meio Ambiente. Já publicou alguns livros e
vários artigos nessa área, atuando em projetos de relevância
como o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG).
Fora do âmbito acadêmico tem prestado ainda serviços de
consultoria e pesquisa sobre questões relacionadas a temática
socioambiental em diferentes instituições.
Su
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07 Apresentação
09 Aula 1
A Dimensão Socioambiental da
Educação Ambiental
43 Aula 2
Contextualizando a Educação Ambiental
83 Aula 3
A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação
115 Aula 4
Comunidade e Meio Ambiente:
Examinando a Teia Sócio-Ambiental
147 Aula 5
Educação Ambiental nas Cidades
209
Aula 6
Comunidade e Meio Ambiente:
Examinando a Teoria Sócio-Ambiental
265
Aula 7
O papel Ético do Educador
Ambiental
301 AV1
Estudo dirigido da disciplina
304 AV2
Trabalho acadêmico de aprofundamento
307 Referências bibliográficas
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Trabalhar na área de Educação Ambiental implica uma
compreensão diferenciada da relação homem-meio pautada na
idéia de que a atual situação de degradação socioambiental é uma
grave realidade que só pode ser verdadeiramente enfrentada com
a participação de todos os que co-habitam esse planeta e um
comprometimento com o cuidado deste.
Neste caderno, você terá a chance de compreender melhor as
questões que fundamentam essa realidade através do estudo da
EA como um instrumento eficaz de conscientização ecológica que
visa levar o ser humano a se enxergar como parte integrante e
indissociável do meio ambiente. Estudando a história da EA em
seus diferentes momentos até sua consolidação atual em
diferentes esferas, você compreenderá melhor as aplicações,os
limites e as potencialidades dessa área que apenas enfatiza uma
dimensão implícita na Educação.
Que seu estudo seja tranqüilo, dedicado e sustentável. Sucesso!
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Este caderno de estudos tem como objetivos:
Introduzir e aprofundar conceitos e práticas na área de
Educação Ambiental, permitindo, assim, o conhecimento de sua
importância no atual momento de crise ambiental que o
planeta atravessa;
Favorecer a compreensão da história da Educação Ambiental
desde os grandes encontros e congressos internacionais até
sua atual legitimação na esfera governamental facultada pela
Lei 9795/99;
Analisar as diferentes esferas da educação ambiental e as
práticas diferenciadas associadas a estas no âmbito urbano e
no rural;
Refletir sobre a Educação Ambiental como uma filosofia de vida
que compactua com a idéia de que a crise socioambiental é um
reflexo direto de uma crise ética;
Analisar as inter-relações entre Educação e Sustentabilidade
nos planos local e global.
A Dimensão Sócio-Ambiental da
Educação Ambiental
Vilson Sérgio de Carvalho
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Nesta aula, você terá a chance de refletir sobre a Educação
Ambiental como uma dimensão essencial e inseparável da
Educação. Aprenderá um pouco mais sobre sua história e, de
modo especial, sobre seus âmbitos de atuação: Formal, Não
Formal e Informal, no que diz respeito a práticas e atividades
aplicadas a cada âmbito. Finalmente, estudaremos juntos sobre
algumas idéias caras à educação ambiental como sustentabilidade,
cuidado, ética e cidadania planetária, onde veremos o quanto
aquilo que somos se relaciona com o lugar em que vivemos e que
aquilo que fazemos a esse lugar acaba se refletindo em nós, tanto
no que diz respeito às ações positivas quanto às negativas que
destroem nosso habitat e, indiretamente, a nós mesmos.
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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Definir o que seja Educação Ambiental a partir da idéia de que
toda Educação não deixa de ser, também, ambiental;
Compreender os diferentes âmbitos de atuação da Educação
Ambiental, suas características e práticas a estes associadas;
Entender como a Educação Ambiental atua no sentido de
despertar no ser humano uma consciência ecológica que o
ajuda a se enxergar como parte integrante do ambiente que o
cerca;
Analisar o papel do ser humano como parte do meio ambiente
e sua responsabilidade junto à sua preservação e conservação; Entender o que seja cidadania planetária e suas implicações na
adoção de atitudes sustentáveis.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 10
Reconhecendo a Dimensão Sócio-
Ambiental da Educação
Para início de conversa, é preciso esclarecer
que, não apenas esta aula, mas todo o nosso curso
parte do pressuposto de que não pode existir Educação
que não seja também ambiental. Com isso queremos
chamar à atenção para o fato de que, desacompanhada
da dimensão ambiental, a "Educação perde parte de
sua essência e pouco pode contribuir para a
continuidade da vida humana" (Carvalho, 2002: 36),
em outras palavras, ela perde sentido e torna-se, no
mínimo, inútil.
Ao defender a posição de que a associação
"ambiental" à "Educação" apenas reforça uma das
modalidades da mesma entre tantas outras que a
mesma encerra, como "profissionalizante" ou
"permanente", e de que, portanto, não existe uma
modalidade de educação específica ou singular,
diferenciada de uma educação geral, denominada
Educação Ambiental, não ignoramos o fato de como a
Educação foi e continua sendo pensada pelas políticas
municipais e estaduais de ensino, onde mal se
consegue preparar o cidadão para o pleno exercício de
sua cidadania, quanto mais permitir que esse exercício
seja acompanhado de uma consciência ambiental.
Tanto a Educação Ambiental como a Educação Popular
são formas educativas que surgiram justamente pelos
inúmeros vazios deixados pelo sistema educacional
clássico em não conseguir cumprir esse papel básico
que lhe cabia.
Assim sendo, não se trata de fazer recortes, ou
assumir uma visão ingênua e compartimentalizada
referente a conteúdos ambientais (Brügger, 1994), mas
sim de enfatizar dimensões que já se encontram
presentes na Educação em geral, desde os tempos mais
Reconhecendo a Dimensão Sócio-Ambiental da Educação 10 O que é e para que serve a educação ambiental? 15 A responsabilidade pela vida 27 O Caminho para uma Cidadania Planetária 30
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 11
primitivos, onde a escola era a aldeia e a Educação
(embora essencialmente prática) era confiada a toda
comunidade em função da vida e para a vida (Gadotti,
1993: 23). Da mesma forma, entendemos que ao se
insistir nos referidos complementos, não se está
inventando ou criando dimensões novas para a
Educação, mas sim desvelando dimensões próprias da
mesma, que passaram a ser mais valorizadas não
somente em função da crise ambiental, mas da própria
crise da modernidade, onde o homem num processo de
individualismo, cada vez mais intenso, foi se isolando
do meio a sua volta, mantendo-se indiferente frente a
situações de extrema pobreza, marginalidade e
corrupção (Carvalho, 2003).
Não é possível ignorar que por ser,
simultaneamente, objeto e reflexo da sociedade
humana, onde se encontra inserida, a Educação - e por
conseguinte a Educação Ambiental - está sempre ligada
intimamente ao processo social através do qual o
homem adquire costumes, conhecimentos e valores
vigentes em seu grupo e em sua época, aos quais ele
pode simplesmente se adaptar ou intervir, modificando
o curso de sua história. Por isso, Paulo Freire defende
que “não há educação fora das sociedades humanas e
não há homens isolados (...) O homem é um ser de
raízes espaço-temporais. A instrumentação da
educação (...) depende da harmonia que se consiga
entre a vocação ontológica deste “ser situado e
temporalizado” e as condições especiais desta
temporalidade e desta situacionalidade” (Freire, 1997:
61).
A necessidade do complemento “ambiental”
junto à palavra Educação pode apontar, entretanto,
para a existência de uma práxis educacional tradicional
e tecnicista, que não seria sequer cidadã, que diria
ambiental (Grün, 1996); o que, infelizmente, é inegável
Quer saber mais?
Negando tais dimensões, é preferível usar termos como treinamento ou adestramento em vez de Educação, uma vez que os mesmos não possuem um compromisso mais amplo a não ser, estritamente, com as estratégias a que se propõem.
Vide obra de BRÜGGER, P. Educação ou Adestramento Ambiental. Santa Catarina: Letras Contemporâneas, 1994.
Importante
Considerar o que seja meio ambiente diz respeito a tratar de algo que foi produzido historicamente através de lutas e exploração. Em outras palavras, a natureza reflete a devastação de nossos sistemas econômicos e sociais e, principalmente, de nossa crise de
valores.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 12
no contexto brasileiro. O próprio sistema educacional,
como um todo na sociedade capitalista, é permeado
determinantemente por interesses que confirmam a
manutenção de um cristalizado sistema de classes, no
qual os ricos vão se tornando cada vez mais ricos e os
pobres cada vez mais miseráveis, se constituindo num
duro obstáculo para uma educação verdadeiramente
libertadora, onde são promovidas uma série de cisões
do tipo: escola e sociedade; trabalho intelectual e
trabalho manual; saber erudito e saber popular; ciência
e técnica; necessidade e liberdade; decisão e execução
ou, ainda, teoria e prática (Arruda, 1986: 7).
Todavia, reconhecer a existência e a
perversidade deste sistema utilitarista, dito
“educacional”, não anula a verdade de que a Educação
- enquanto um fator essencial para a plena realização
pessoal, assim como para o progresso e o
desenvolvimento da sociedade (Hochleitner, R., 1996:
11) - traz necessariamente, em seu âmago, uma
dimensão ambiental manifesta através de suas
múltiplas expressões (naturais, biológicas, mentais,
sociais, históricas, culturais, políticas, econômicas).
Pensar o processo educativo apenas num âmbito
pessoal e interpessoal corresponderia à suposição de
que a Educação se processa numa ilha isolada, não
recebendo impactos socioculturais e nem tendo
qualquer contribuição para a formação de uma
sociedade mais justa. Como aponta o professor Rolston
III (1984), a partir dessa linha de reflexão, “nenhuma
educação está completa até que se tenha um conceito
de natureza” (Rolston III (1984) apud Grün, M., 1994:
187).
Em minha maneira de pensar, não se pode
excluir a dimensão ambiental da Educação se a
considerarmos dentro dos princípios da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (9394). Uma vez que
Dica do professor
A necessidade da qualificação ambiental refere-se, basicamente, à constatação de que existe sim uma práxis educacional reprodutora que nega sua própria essência ambiental e reproduz os valores políticos e econômicos que alimentam o sistema capitalista. Tal constatação, no entanto, não nega a verdade de que não pode existir uma educação comprometida com a mudança social sem passar por uma ampla reflexão sobre a natureza e o lugar do homem na mesma.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 13
esta afirma, em seu artigo 2º, que a Educação tem por
finalidade “o pleno desenvolvimento do educando, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho", é possível se perguntar: Seria
possível a concretização desses objetivos,
desconsiderando essa dimensão? Ao meu ver, a
resposta é óbvia. Concordando com este raciocínio,
Marcos Reigota (1994) afirmou, em um de seus artigos,
que o momento atual exige que “não falemos mais em
Educação Ambiental, mas simplesmente em Educação,
como direito inalienável do homem, visando não só a
utilização racional dos recursos naturais, mas também
a participação nas decisões que lhe dizem respeito,
estabelecendo uma nova relação com a natureza,
desenvolvendo uma nova razão que não seja sinônimo
de autodestruição” (Reigota (1991) apud Rutwoski, E.,
1993: 55).
Fazendo coro a outros pesquisadores e
educadores ambientais, Loureiro (1996) é um dos que
chamam à atenção para o outro lado da questão, ou
seja, para a falta de uma percepção da Educação
Ambiental como sendo essencialmente Educação,
apontando esta ausência como um dos fatores mais
agravantes na produção de uma “prática
descontextualizada, voltada para problemas de ordem
física do ambiente, incapaz de discutir questões
político-sociais e teorias básicas da Educação”
(Loureiro, C., 1996: 82). O próprio relatório do CIMA,
preparatório para a Rio-92, declarou abertamente que
um dos maiores problemas para o desenvolvimento da
Educação Ambiental foi o fato dela ter sido sempre
enfocada como relativa à área da Ecologia física e
nunca à área de Educação, que é o seu lugar por
natureza, ficando restrita a um conjunto de explicações
sobre técnicas ambientais ou temas da Biologia
(Andrade, A., 1993: 55).
Importante
Essa nova relação com a natureza pode ser pensada a partir da tese do "igualismo
biosférico", onde os homens são considerados apenas como mais uma espécie viva de forma idêntica a tantas outras que existem na natureza.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 14
Para entender melhor o que este tipo de
concepção falsa pode vir a gerar, basta examinar, ao
longo de sua trajetória, como os programas e/ou
projetos de Educação Ambiental quase sempre se
justificaram frente a problemas ambientais do tipo:
desertificação, poluição, extermínio de algum recurso
natural e outros problemas do gênero; mas, raramente
por outros problemas igualmente de ordem ambiental
como a violência, a injustiça, o desrespeito ou a
ausência de solidariedade. Realidade que não se
justifica, já que “todo processo de Educação Ambiental
trabalha com os desequilíbrios biossociais” (Linhares,
M., 1995: 15), onde se enquadram tanto os problemas
relacionados à poluição (do ar, água e solo, por
exemplo) como também as questões referentes à fome,
ao desemprego e à doença. Como revela Grün (1994),
seu espaço de atuação se dá precisamente no
“encontro entre os valores de conservação das
comunidades bióticas e abióticas e os valores sociais
provenientes destes valores”.
Devido ao seu processo recente de ampliação
conceitual e temática, a Educação Ambiental, segundo
Muñoz (1996), tem hoje refletido sobre uma vastidão
de conteúdos que, anteriormente, não eram
vislumbrados como foco de sua análise, entre estes, a
importância da dimensão cultural dos povos, a
revitalização dos povos indígenas, o papel da mulher na
sociedade, a luta pelos direitos humanos e fim do
academicismo fechado e rigorista (Muñoz, M., 1996:
30; Andrade, A., 1993: 52). Na medida em que a EA
procura dar conta desse amplo universo biossocial,
integrando diferentes disciplinas e estratégias de
trabalho na busca por uma aproximação mais
equilibrada entre homem e meio ambiente, ela pode,
também, contribuir para um exercício mais consciente e
efetivo da cidadania, possibilitando ao educando utilizar
Quer saber mais?
A legislação nacional define meio ambiente como sendo "o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas" conforme art. 3º, inciso I, da Lei 6938/1981 (Lei da Política Nacional do meio ambiente).
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 15
os conteúdos aprendidos em seu cotidiano, visando
melhorar sua qualidade de vida.
Mesmo tomando o meio ambiente como base e
fator preponderante, essa consciência proposta pela
Educação Ambiental - buscando atualizar as
potencialidades humanas através de uma maior
conscientização de si mesmo e da realidade a sua volta
- serve igualmente ou, pelo menos, deveria servir a
toda e qualquer estratégia educativa, simplesmente
pelo fato de que o homem não só depende do meio
ambiente, mas dele faz parte. Ele é o componente
racional - embora muitas vezes parece demonstrar o
contrário - desse grande ecossistema global.
Se concordamos com a colocação de Paulo
Freire, no sentido de não ser possível fazer qualquer
tipo de reflexão sobre Educação sem uma reflexão
sobre o próprio homem, já que a Educação só é
possível para ele, enquanto um ser inacabado, em
busca de aperfeiçoamento (Freire, 1997); poderíamos,
também, dizer da mesma forma que não é possível
refletir sobre Educação sem refletirmos sobre o meio
ambiente do qual o homem é parte integrante.
O que é e para que serve a educação
ambiental?
A Educação Ambiental pode ser entendida como
um processo crítico transformador capaz de promover
um questionamento mais profundo sobre a realidade
ambiental na qual o homem se integra, levando-o a
assumir uma nova mentalidade ecológica, pautada no
respeito mútuo para com o meio ambiente e os que
dele fazem parte.
Tal definição encerra alguns termos chaves que
merecem ser problematizados para o entendimento da
Quer saber mais?
Essa proposta do inacabamento do ser pode ser encontrada, particularmente, em uma das últimas obras de Paulo Freire,
intitulada Pedagogia da Esperança.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 16
Educação Ambiental e seus desdobramentos. O
primeiro deles é o de processo. A idéia de processo
implica a realização de algo que demanda certo tempo
e envolve uma série de variáveis, muitas delas difíceis
de serem controladas. Muitas vezes, o trabalho dos
educadores ambientais é o de iniciar esse processo,
lento e gradual, sem certeza absoluta de seus
resultados. É como lançar sementes na terra. Não
sabemos se irão germinar e crescer. Podemos controlar
alguns fatores como preparar a terra, adubando-a ou
regando. Mas não conseguiremos controlar todas as
variáveis envolvidas em suas fases do crescimento da
mesma, ou as mudanças climáticas que certamente
irão afetá-la, acelerando ou retardando seu
crescimento.
O segundo diz respeito à palavra crítico. Este
termo se opõe ao termo "ingênuo". Ao aprendemos
mais sobre algo, passamos de uma consciência ingênua
- leiga ou parcialmente leiga - para uma consciência
crítica - conhecedora do objeto estudado. No caso da
EXEMPLIFICANDO
Se você deseja lutar pela conservação de um grupo
de árvores da sua rua que determinados moradores
desejam cortar. O que fazer?
a) Conheça mais sobre as árvores: Qual a espécie
das mesmas? Há quanto tempo estão lá? Que
vantagens e desvantagens trazem aos moradores
da rua em questão.
b) Conheça a legislação a respeito: Busque saber
tudo que é possível fazer legalmente para conservar
as árvores em questão. Procure informações nos
órgãos competentes como a FEEMA, por exemplo,
uma vez que estes podem vir a se tornarem
importantes aliados.
c) Conheça o argumento dos que querem que as
árvores sejam retiradas. Que motivações explícitas
e implícitas explicariam tal decisão.
d) Some forças: Procure se aliar a outros moradores
que pensam como você. Faça um abaixo assinado,
passeatas, quanto mais pessoas aderirem à causa,
mais força ela terá.
::Processo:
Termo que se refere ao modo de proceder, operar ou ensinar. Relaciona-se à técnica ou ao procedimento. No caso da Educação Ambiental ou em qualquer outro tipo de ação educativa, o autor chama à atenção para a dificuldade de se obter resultados a curto prazo e aponta a própria deflagração de um processo como uma vitória do educador.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 17
Educação Ambiental, é fundamental que aprendamos
mais sobre o meio ambiente e suas características. É
necessário conhecer os ciclos fundamentais da
natureza, os grandes biomas do planeta, os animais em
risco de extinção, o perigo dos agrotóxicos, dos
transgênicos, a degradação promovida pelo homem em
seu habitat; enfim, uma série de informações que
possam viabilizar um posicionamento critico
(consciente) frente a uma determinada situação.
São ingênuos os posicionamentos da
conservação ou proteção do ambiente natural
desligados de outros questionamentos inter-
relacionados a essa questão como as questões de foro
político e econômico. Para o educador ambiental que
deseja lutar por uma determinada causa, é
fundamental conhecer o problema ambiental pelo qual
se deseja enfrentar buscando, antes de mais nada,
conhecer suas causas e conseqüências, buscando
igualmente pesquisar ampla e profundamente todas as
informações pertinentes ao mesmo (extensão do
problema).
O terceiro refere-se à idéia de transformação
possibilitada através do aprendizado. O conhecimento
nos torna não apenas conscientes - o que por si só já
representa uma mudança de ótica, de postura, de
atuação frente a uma realidade sobre a qual nada ou
pouco se sabia - mas também nos torna mais
responsáveis sobre o objeto conhecido. Se eu não sabia
que meu comportamento prejudicava algo ou alguém e
o cometia, eu tenho uma parcela de culpa totalmente
diferente da que eu teria se fosse consciente do mal
que eu cometo em relação as suas conseqüências. A
consciência, muitas vezes, nos faz cúmplices e, no caso
da realidade socioambiental, pretende demonstrar o
quanto todos nós somos um pouco responsáveis pelo
processo de degradação ambiental que enfrentamos.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 18
Do mesmo modo, é essa consciência ecológica quem
nos desperta não apenas para a culpa, mas para a
certeza de que a possibilidade de transformação dessa
triste realidade não pode advir de outro modo se não
pela participação ativa de cada um de nós.
O quarto termo a destacar nos leva a entender
que não estamos apenas inseridos no meio ambiente.
Se eu integro algo, faço parte desse algo, ou melhor,
sou também esse algo. Se alguém faz mal a esse algo
é, também, a mim que o faz. Se eu faço mal a esse
algo é a mim mesmo que estou fazendo. A
compreensão de que todos nós, homens e mulheres,
adultos e crianças, pobres ou ricos, compomos juntos o
meio ambiente com seus ricos e complexos
ecossistemas é uma das lições mais valiosas da
Educação Ambiental. Através da sua mensagem,
entendemos que, ao destruir o planeta, não estamos
destruindo apenas o nosso lar, o único que conhecemos
com características específicas próprias à nossa
sobrevivência, mas a nós mesmos numa espécie de
suicídio lamentável (ecocídio).
A idéia de integrar algo remete-nos igualmente
ao pensamento de que não estamos sós. De que somos
tão somente mais uma espécie viva que juntamente
com centenas de outras têm vivido nesse planeta,
vencendo desafios e buscando sobreviver. De que tudo
o que acontece a um único ser vivo nessa grande teia,
que é esse grande ecossistema vital do qual ajudamos
a compor, nos afeta profundamente, ainda que de
maneira tardia. Não existe um ser vivo, animal ou
vegetal, que não esteja de algum modo interligado a
outros de uma forma equilibrada. Essa é uma das leis
mais importantes do cosmos.
Como último termo a destacar, poderíamos
sublinhar o vocábulo respeito, cuja reflexão mais
Para refletir
Sobre o Respeito: Se o homem não respeita nem mesmo seu próximo porque este tem uma cor, religião ou opção sexual diferente da dele, imagine o desafio de mostrar ao homem a importância de respeitar outras espécies diferentes da dele sobre as quais se sente superior. Esse respeito só é possível através de um sério trabalho de conscientização ambiental, onde todos se convençam que, apesar das diferenças, o que afeta a um na grande teia planetária afeta, direta ou indiretamente, a todos ainda que distintamente.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 19
apurada nos leva a nos aprofundarmos no conceito de
ética. A "ética do cuidado" que Leonardo Boff (1999)
tanto ressalta em suas obras. Respeitar algo é procurar
entendê-lo e aceitá-lo como ele é, ainda que não
concordemos com o mesmo. Infelizmente, não
respeitamos a lógica da natureza, comumente
ignoramos as necessidades de outros seres vivos além
de nós e desrespeitamos seus ciclos e sua existência
em nome de valores econômicos e antropocêntricos.
Estou convencido de que a crise socioambiental
com a qual o homem se depara em pleno século XXI é,
antes de tudo, um reflexo de uma grave crise de ética.
A ausência de uma postura ética técnico-científica que
pudesse ordenar as ações do homem sobre a natureza,
baseada no respeito mútuo entre esses dois elementos,
ajuda-nos a compreender melhor como a civilização
moderna pode alcançar um estágio prejudicial à própria
continuidade da vida no planeta. Não é por acaso, ao
meu ver, que a origem da palavra ética, advinda da raiz
grega ethos (costume), é a mesma, refere-se ao local
onde o homem vive, mora ou passa grande parte de
seu tempo. Não se trata aqui, de criticar o avanço da
ciência e da técnica como bode expiatório da crise
civilizatória, mas sim de destacar como o mesmo vem
sendo utilizado a serviço de um desenvolvimento
exclusivamente econômico, onde o lucro é sempre o
elemento prioritário.
Um claro exemplo disso é a dificuldade que os
educadores ambientais têm de enfrentar ao tentar
promover uma consciência ecológica junto a uma
população cujas aspirações, em grande parte, são
baseadas em valores de consumo material nas quais o
ter é mais importante do que o ser. Vale destacar que o
objetivo da Educação Ambiental não se resume a
disseminar informações sobre o meio ambiente, mas a
promover uma nova postura diante da vida, uma
Importante
Esta é uma questão importante no debate sobre educação ambiental a partir de uma ótica mais ampla. Voltaremos a conversar sobre este em diferentes momentos não apenas neste, mas em outras aulas afins ao tema.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 20
postura ética do viver que se dedica não apenas a
situações referentes ao esgotamento e deterioração dos
recursos naturais através da poluição ou da extinção de
espécies. Trata-se de uma nova postura diante das
injustiças sociais, o empobrecimento sociocultural, e a
desigual distribuição de renda promotora de
desigualdades (Carvalho, 2003).
Assim como qualquer processo educativo tem
como fim a aprendizagem, no seu sentido mais amplo,
ou seja, a percepção e adaptação mental de
impressões, informações e experiências no sentido de
ampliar, aprofundar e transformar os conhecimentos,
conceitos, atitudes e comportamentos tanto individuais
como grupais (Dohmen, G., 1981: 3; Gutiérrez (1978)
apud Gadotti, M., 1993c: 217); a Educação Ambiental,
da mesma maneira, também, assume como meta
principal uma determinada aprendizagem individual.
Entendida enquanto uma necessidade permanente, a
aprendizagem pretendida pela Educação Ambiental,
visa a que o indivíduo reconheça e compreenda melhor
o meio ambiente do qual faz parte, buscando novas
formas de relacionamento com o mesmo, pautadas nos
princípios de respeito e de integração ambiental.
Em um tempo onde a degradação ambiental se
globaliza e atinge níveis de grande risco a toda espécie
viva, a Educação Ambiental tem despontado como uma
importante ferramenta conscientizadora dos limites do
mundo natural, da corresponsabilidade que a
humanidade tem ao dividir o mesmo planeta e da busca
por modelos sustentáveis de relacionamento com a
natureza, onde o homem não precise destruir o meio
ambiente para satisfazer suas necessidades.
Não tenho aqui, a pretensão de apresentar a
Educação Ambiental como “tábua de salvação
ecológica” ou “remédio milagroso”, solucionador de
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 21
todos os problemas ambientais. Assim como a
Educação, de modo geral, pode vir a ser utilizada como
instrumento de controle, deturpação, seleção, exclusão
ou, como diria Brügger, de “adestramento”;
compreendo que também a Educação Ambiental possa
ser má utilizada, de acordo com os objetivos de quem a
promove e dos valores e ideologias sobre o qual estas
práticas estariam calcadas (Brügger, 1994), muitas
vezes, descompromissadas com um exercício mais
consciente da cidadania (através do desenvolvimento
do pensamento crítico) ou com uma reflexão ambiental
mais ampla e interdisciplinar. Nesse caso, assim como
me reservo o direito de duvidar que este tipo de prática
pedagógica seja qualificada como educação; chamo à
atenção para a necessidade de se desconfiar de uma
série de práticas educativas que, embora se intitulem
como educação ambiental, escondem na verdade
objetivos do tipo: incentivar o consumismo de produtos
naturais de uma “empresa x”; mostrar que o governo
do fulano de tal é o melhor por ter se preocupado em
construir um “número x” de praças para a comunidade,
ou ainda, como também é comum, favorecer a
importação de tecnologias estranhas, muitas vezes até
prejudiciais à realidade socioambiental onde estas
seriam implantadas.
Concordando, então, com os que defendem a
postura de que a Educação Ambiental é,
essencialmente, e antes de mais nada, Educação;
penso ser interessante refletir sobre algumas questões:
Se ambas se fundem numa única realidade educativa,
sendo, portanto em última análise a mesma coisa,
como seria possível reconhecê-la? Ou, ainda, que tipo
de contribuição diferenciada ela traria em relação a
outras práticas educativas que sempre existiram, que
pudesse justificar esse predicado “ambiental” aliado a
Educação? As respostas a essas indagações, embora
variadas, se concentram numa direção, isto é, para o
Para pensar
Adestramento Ambiental Este conceito de Paula Brügger é bastante interessante na medida em que nos faz pensar na própria prática do educador ambiental no que se refere a pressupostos éticos essenciais por vezes ignorados. Até que ponto nos pensamos estar educando e as vezes não estamos adestrando? O que você pensa sobre
isso? Já parou para se questionar sobre o assunto?
Para navegar
Para melhor responder à pergunta do parágrafo ao lado vale a pena visitar alguns sites de grupos que trabalham com o tema: http://www.grude.org.br (site da ONG GRUDE – Grupo de Defesa Ecológica); http://www.redea.org.br (site da Rede Brasileira de Educação
Ambiental):
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 22
fato de que a Educação Ambiental possui um conjunto
de características próprias e singulares. É sobre este
diferencial, portanto, que passo a tecer algumas
considerações. Em primeiro lugar, é possível perguntar:
Que diferencial seria este? Afinal, quais as
características específicas da Educação Ambiental?
Muitos estudos já tentaram defini-las; no entanto,
penso que a resposta a estas questões ainda se
encontra em aberto.
No meu entender, esse diferencial da Educação
Ambiental se define por um processo de despertar a
atenção de todos os povos e de todos os cidadãos do
mundo para problemas comuns, tanto no âmbito local
quanto no âmbito global, através de ações que
promovam uma tomada de consciência de que
“conviver e con-morrer já não é mais um fato restrito a
um espaço limitado, mas amplia-se na própria
dimensão do alcançável” (Zaragoza, F., 1990: 16-17),
alertando-os de que a destruição do meio ambiente
significa para a raça humana sua autodestruição.
Segundo a socióloga Anna Waehneldt (1996), a
especificidade da Educação Ambiental se dá na
viabilização do conhecimento do meio ambiente em sua
totalidade - através de seus diferentes aspectos e de
suas relações de interdependência - a partir do exame
da realidade local, com base nas situações vivenciadas
no cotidiano da população. Baseada no estudo de
problemas práticos do dia-a-dia, ela pretende a adoção
de “uma nova postura ética solidária”, em relação ao
meio ambiente, que valorize o exercício da cidadania e
se caracterize através de atitudes participativas e
adequadas à constituição de um meio ambiente
equilibrado e saudável (Waehneldt, A., 1996;
Rodrigues, 1997).
Quer saber mais?
Frederico Mayor Zaragoza, autor citado, foi o diretor geral da UNESCO e coordenador do movimento Ubuntu (que na antiga língua africana significa harmonia e solidariedade).
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 23
OS ÂMBITOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Refletindo em termos de uma pedagogia
ambiental, a Educação Ambiental possui três níveis
operacionais (Loureiro, 1992; Carvalho, 2001), que
correspondem aos diferentes âmbitos onde os
processos educativos são efetivados:
Um âmbito formal (ou institucional): onde
existe um currículo estruturado com uma
intenção particular bem definida, com
mecanismos avaliativos, seqüências
temporais, dentro de um processo geralmente
conduzido na instituição escolar, abrangendo
quatro níveis de ensino: Ensino Fundamental,
Ensino Médio a graduação e a pós-graduação
(Brügger, P., 1994: 32). No caso da Educação
Ambiental, o trabalho nesse âmbito é o mais
freqüente, e se efetiva juntamente com os
professores e alunos, dentro de uma postura
interdisciplinar que valoriza a participação do
alunado no processo de aprendizagem e cuja
orientação de seu foco pedagógico é voltada
para os problemas objetivos de sua realidade
(Oliveira, 1991: 18). De acordo com a
UNESCO, a Educação Ambiental pode ser
entendida nesse âmbito:
desde a simples introdução de
conceitos ambientais nas disciplinas
tradicionais, até a integração total em
torno de um projeto de ação
comunitária, passando pela
convergência de disciplinas que
possuem certas afinidades teóricas e
metodológicas
(UNESCO apud Bezerra, I. & Costa,
M., 1992: 39).
Importante
Âmbito formal: Nesse âmbito, a EA é promovida em instituições
diversas, mas com destaque à instituição escolar fortalecida por pareceres como o 819/85 do MEC e o 226/87 do Conselho Federal de Educação que juntamente com os PCNs (1997) reforçaram a necessidade e a importância da inclusão da EA no processo de formação dos alunos do ensino fundamental e médio.
Quer saber mais?
A necessidade de uma perspectiva interdisciplinar da EA ratifica a negação de um saber ambiental fragmentado e especializado, propondo sempre uma interação indispensável entre as diferentes disciplinas e áreas do conhecimento num processo de
diálogo, reciprocidade e complementarieda de.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 24
Não há dúvidas de que a promoção da Educação
Ambiental em todos os níveis de ensino deve ser um
imperativo se realmente se pretende desenvolver no
ser humano, desde seus primeiros anos de vida, uma
atitude de respeito e integração ambiental. A maior
parte dos projetos e/ou programas de Educação
Ambiental no Estado do Rio de Janeiro tem trabalhado
nesse âmbito de atuação, enxergando docentes e
discentes como agentes multiplicadores de opinião, e
revendo a própria unidade escolar como uma grande
agência de formação e desenvolvimento social.
Procura-se atuar não apenas sobre os conhecimentos
explícitos da escola, mas também os valores e as
ideologias que perpassam a instituição e são
transmitidos através da dinâmica de suas relações, do
currículo ativo e das metodologias empregadas (Garcia,
R., 1993: 35).
Recentemente, esse âmbito vem se dividindo em
Educação Ambiental Formal Presencial e Educação
Ambiental Formal Não-Presencial. No segundo caso, se
inserem as propostas de Educação Ambiental a
distância, onde o educando tem a oportunidade de
realizar uma série de cursos e se manter informado
sobre as últimas produções na área a distância através
de CD´s, livros, sites de computador e outros. Esta é
uma proposta ainda bastante discutida em função da
metodologia utilizada e da conscientização ambiental
que pode vir a produzir. O ideal é que esta seja
efetivada por uma equipe experiente que valorize os
encontros presenciais com os educandos como parte
integrante do funcionamento do mesmo de modo a
suprir o distanciamento entre professor e aluno, bem
como do aluno com a natureza em geral.
Dica do professor
Ecopedagogia: Nesse sentido, Moacir Gadotti fala de uma Ecopedagogia voltada para uma substituição da racionalidade da dominação por uma racionalidade da comunicação, através de uma reorientação curricular. Para saber mais, consulte a obra de Gadotti, M. (1996) destacada na bibliografia deste caderno.
Dica do professor
O último parágrafo ao lado chama à atenção para a necessidade de continuamente repensarmos as propostas na área de E.A. na modalidade de educação a distância. Dê suas sugestões a respeito.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 25
Um âmbito não-formal: onde se situam
também as chamadas educação libertadora e
popular, assumindo como principal espaço de
trabalho a comunidade e suas unidades vitais
(inclusive a escola). Nesse âmbito de
trabalho, os enfoques que privilegiam uma
precisão cronológica e um ritmo avaliativo
determinante são descartados e os fatores a
eles inerentes, relevados a segundo plano em
relação ao tempo de reação da comunidade
dentro de um processo mais amplo. Fora do
espaço curricular, existe uma série de
atividades desenvolvidas em termos de
Educação Ambiental não formal como a
promoção de campanhas, palestras,
encontros, congressos, reuniões e até a
aplicação de programas mais sistematizados
de trabalho com comunidades (Maciel et alii,
1994).
Por exigirem mais tempo, considerando a
comunidade como um todo, num trabalho conjunto com
as muitas unidades vitais que a compõem (comércio
local, associações diversas, clubes, escolas e outras);
os projetos de Educação Ambiental nesse âmbito,
infelizmente, são ainda bastante reduzidos.
Um âmbito informal: Que geralmente se
processa através de meios informais de
comunicação como jornais, panfletos, cartas,
cartazes, filmes, programas de rádio e TV e
outros; podendo se concretizar em qualquer
lugar. Apesar dos inegáveis resultados, o
problema do trabalho educativo nesse âmbito
refere-se ao fator avaliativo, de difícil
mensuração em termos do impacto real
obtido. Em programas realmente efetivos de
Educação Ambiental, esse âmbito de trabalho é
Importante
Âmbito Não-Formal: Esse tipo de trabalho envolve uma ou mais comunidades, cada uma reunindo diferentes instituições. Não apenas as legais como a escola, as associações, os clubes e as igrejas; mas também as ilegais como as redes de traficantes,
facções criminosas . Trata-se, portanto, de um trabalho mais complexo que a proposta anterior , necessitando de uma equipe experiente para que o trabalho dê certo.
Importante
Âmbito Informal: O trabalho de EA nesse âmbito, é importante e estratégico mas não deveria ocorrer sozinho, pois pode correr o risco de tornar-se apenas uma ação isolada. Ele deve ser mais estimulado, especialmente, para reforçar os efeitos de um trabalho de educação ambiental já iniciado.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 26
aliado a um dos dois anteriormente
apresentados. Ou seja, ele funciona como um
reforçador coadjuvante das estratégias
formais e não-formais de Educação
Ambiental.
Os motivos são óbvios, não se faz Educação
Ambiental distribuindo folhetos ou passando vídeos,
essas atividades fazem parte de algumas etapas com
finalidades e estratégias específicas dentro de uma
pedagogia educativa mais ampla. Nesse sentido, vale
sublinhar que a proposta que a EA traz é a formação de
uma consciência crítica, pautada na participação e na
responsabilidade social e não apenas de educar para a
ecologia ou fornecer aos educandos um conjunto de
informações ambientais.
Apesar de serem essencialmente diferentes
encerrando diretrizes variadas e formas de
concretização distintas, esses âmbitos não devem, em
absoluto, ser entendidos como manifestações
estratégicas isoladas de uma modalidade educativa,
mas sim como partes de um mesmo modelo,
pensamento e ação na luta por uma melhor qualidade
de vida. É extremamente comum num programa de
Educação Ambiental, como o que foi considerado nesta
dissertação, o emprego simultâneo de estratégias que
privilegiam um ou outro âmbito de atuação, de acordo
com um determinado momento da realização do
trabalho, não existindo restrições quanto ao espaço
pedagógico a ser utilizado. Conforme aponta Valverde
(1996), esse tipo de procedimento nem poderia ser de
outra maneira, já que “o meio ambiente é contextual à
vida em todas as suas formas e, portanto, oferece
multiplicidade de perspectivas complementárias para
aqueles que buscam conhecê-lo e nele intervir”
(Valverde, 1996: 93).
Dica de leitura
Para saber outras informações a respeito, não deixe de consultar a obra de FREDERICO, C. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. SP: Cortez, 2004.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 27
Independente do âmbito em que um determinado
projeto ou programa de Educação Ambiental esteja
inserido, o importante é que nele esta tenha
possibilidade de cumprir seu compromisso social, ou
seja, o de “informar, conscientizar, convocar,
questionar, denunciar, sensibilizar e contribuir para a
mudança de base do ser humano”, ou seja, uma
passagem da razão à solidariedade baseada em uma
nova ética socioambiental (Veiga-Neto, 1994; Grün,
1994). É por esse compromisso que o valor da
Educação Ambiental pode ser considerado tanto do
ponto de vista preventivo, atuando antes que o
problema ambiental venha a ocorrer (estando este na
iminência de acontecer ou não), quanto do ponto de
vista defensivo, agindo durante e depois do problema
ecológico já ter se manifestado, buscando maneiras de
saná-lo ou no mínimo atenuá-lo.
A responsabilidade pela vida
Considerando o fato de muitas de suas
propostas só poderem ser concretizadas a longo prazo,
e desta englobar diferentes paradigmas (como a
questão da preservação x desenvolvimento), a
Educação Ambiental tem uma conceituação bastante
definida encerrando propostas muito concisas de
atuação visando tornar o homem consciente de sua
responsabilidade pela vida no planeta. Como aponta
Mattos (1997), a Educação Ambiental busca
essencialmente “fazer um resgate do que é inerente ao
homem”, devolvendo-lhe “a consciência de sua unidade
com o meio ambiente ao mesmo tempo em que o
conscientiza, sensibilizando para o direito à vida”
(Mattos, 1997: 5).
Analisando como a relação entre o homem e
natureza foi se conformando ao longo da história, Erich
Fromm (1976) vai afirmar que a mesma foi marcada
Dica do professor
Talvez por isso mesmo seja possível dizer que dificilmente entenderemos o ambiente em toda a sua riqueza e complexidade. Por mais que o estudemos, pesquisemos e com ele nos relacionemos a partir de uma contextualização abrangente haverá sempre mais a saber sobre o mesmo.
Importante
Sobre a idéia de conscientização, vale lembrar as lições de Paulo Freire de que ninguém conscientiza ninguém, todos se conscientizam juntos no processo de aprendizagem. A conscientização é um processo que não se refere obrigatoriamente a uma tomada de
consciência, mas a uma passagem de uma consciência ingênua a uma consciência crítica.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 28
por um acontecimento ímpar ocorrido a certa altura da
evolução animal: a ação humana deixou de ser
essencialmente determinada pelo instinto. Neste
momento, o animal transcendeu a natureza deixando
de lado o papel passivo de criatura, dando lugar ao
surgimento do homem. Porém, ao transcender a
natureza, a “vida tornou-se cônscia em si mesma”. O
surgimento da autoconsciência, da razão, trazem
juntamente consigo o conflito, já que o equilíbrio
anterior entre existência animal e natureza se rompe. A
partir de sua transcendência, o homem passa a não ter
mais um lugar próprio na natureza, embora continue
sendo parte dela. Para Fromm, essa dicotomia
acompanhará o homem por toda a sua existência, que
se vê na obrigação de retomar a harmonia perdida com
o surgimento da razão, através do aprimoramento da
mesma.
Ajudar o homem a lidar com esse dilema de uma
forma responsável, auxiliando-o a perceber a
necessidade de reintegração à natureza é uma das
tarefas mais importantes da Educação Ambiental. É
preciso mostrar ao homem de que é possível viver no
ambiente sem ter necessariamente que se colocar
numa postura de senhor, de dono deste. Em outros
termos, de que é possível conciliar propostas de
desenvolvimento sem necessariamente termos de
destruir o ambiente para atingir tal objetivo.
A Educação Ambiental é um processo de
conscientização ambiental amplo que se concretiza
através de projetos e programas realizáveis de
Educação, visando aproximar o homem do meio
ambiente em busca de melhores condições de vida. Seu
desafio, sim, é grande e complexo, por encarar de
frente um conjunto de problemas ambientais que, como
ressalta Serres (1991), “foram causados por uma
civilização que já está aí há mais de um século, geradas
Dica do professor
Porque o homem se sente superior à natureza? Erich Fromm tenta responder a essa pergunta a partir de nossa evolução, analisando o dilema que o homem passou a ter após se tornar cônscio. Atente para a explicação desse renomado
psicanalista.
Importante
Como expôs Desmond Morris (1990), o homem desrespeitou o “contrato animal” vigente e passou a subjugar todos os animais, esquecendo-se de sua origem. Morris propõe que o homem volte a honrar esse contrato e reconheça os animais como sócios na partilha do planeta.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 29
pelas longas culturas que a precederam, infligindo
danos a um sistema físico de milhões de anos” (Serres,
1991: 42); e por promover um esforço constante de
reflexão sobre o destino do homem e o futuro do
planeta, envolvendo uma nova filosofia de vida e um
novo ideário comportamental, tanto em âmbito
individual quanto em escala coletiva que valorize as
práticas simbióticas e comunitárias em detrimento das
parasitárias.
Embora reconheça a grave crise ambiental que o
mundo atravessa, a Educação Ambiental não assume
uma postura conformista ou apocalíptica diante desta.
Muito ao contrário, ela surge sempre, mesmo no início
de sua trajetória - ainda quase exclusivamente de
cunho preservacionista - como uma forma de contestá-
la, de reagir a esta, não de uma forma “quixotesca”,
promovendo lutas contra “moinhos fantasiosos”, mas
sabiamente, através de um processo lento e profícuo de
formação de uma consciência ecológica, através da
participação de todos os envolvidos e do
desenvolvimento de novas atitudes e aptidões, gerando
tanto a possibilidade de mudanças de comportamento
como, também, a aprendizagem de novas habilidades
integradas ao meio ambiente. A eficiência das políticas
ambientais encontra-se diretamente ligada a essa
possibilidade de modificação comportamental dos
indivíduos voltada para uma redução dos impactos
ambientais e bloqueio do processo de degradação.
Algumas definições como a de Schoenfeld
(1978), destacando algumas características básicas da
Educação Ambiental e a de Garcia (1993), ressaltando
sua estreita relação com o desenvolvimento, por
exemplo, servem ao esclarecimento desse fato, na
medida em que evidenciam a abrangência da proposta
encerrada pela Educação Ambiental, e o quanto efetiva
Dica do professor
Desenvolvimento e Meio Ambiente: A conciliação desses dois elementos tem sido um dos maiores desafios para a Ecologia. Crescer sem destruir, desenvolver sem desequilibrar... são falas que têm marcado o discurso da sustentabilidade.
É importante que, desde já, você tenha um posicionamento sobre o tema.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 30
ela pode ser. Schoenfeld, por exemplo, afirma que a
Educação Ambiental possui cinco fatores elementares:
em primeiro lugar, ela trata do meio
ambiente do homem, especialmente
quando um número de pessoas
exercem pressões crescentes sobre
esse meio ambiente. Em segundo
lugar, ela se preocupa com o meio
ambiente total, quando afetado pela
ação do homem sobre o mundo em
que vive (...). Em terceiro lugar, é
interdisciplinar. Em quarto, busca
soluções a longo prazo para os
problemas humanos, ou seja, soluções
ecologicamente sadias (...).
Finalmente, ela deve lidar com uma
ética ambiental integrada.
(Schoenfeld apud Tanner, R., 1978:
42).
Tais características, aliadas aos princípios de
interatividade e de articulação destacados por Garcia,
explicam por que a Educação Ambiental tem sido
considerada por alguns educadores como sendo a
Educação do 3º milênio, promovendo uma revisão
pessoal de nossos valores e nos convidando à tomada
de uma nova postura frente ao mundo que nos rodeia.
Outros fatores poderiam ser igualmente
pensados nessa direção como o fato da Educação
Ambiental ser encarada como a educação da
sobrevivência planetária e sua necessidade em função
do risco que todo ser vivo tem passado diante do
alarmante quadro de destruição ambiental.
O Caminho para uma Cidadania
Planetária
Para Reigota (1994), a Educação Ambiental deve
ser compreendida fundamentalmente como "educação
política", uma vez que ela reivindica e prepara os
cidadãos para exigir justiça social, cidadania nacional e
planetária, além de autogestão e ética; devendo esta
Para
navegar
Para conhecer mais sobre sua história, acesse:
http://www.unesco.org.br/programas/meioamb/ma_educa.asp; http://www.mec.gov.br/sef/ambiental/pnea.shtm.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 31
se dirigir indistintamente a todos os níveis sociais.
Escrita em 1975, a Carta de Belgrado já declarava que
a principal meta da Educação Ambiental não é outra
senão a de desenvolver um cidadão consciente do
ambiente total e preocupado com os problemas
associados a esse ambiente. Assim sendo, a conquista
de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e fator essencial à qualidade de
vida do homem, conforme experiências
interdisciplinares de Educação Ambiental, defende a
atual constituição brasileira no seu artigo 225, implica
direta e/ou indiretamente a promoção de práticas tanto
em âmbito formal como no não-formal.
Tal necessidade, propagada por instituições
governamentais e não governamentais, se consolidou
particularmente no âmbito legal através da
promulgação da Lei 6938, de 31 de agosto de 1981,
criadora da Política Nacional de Meio Ambiente que
determina que Educação Ambiental seja adotada em
todos os níveis de ensino e, particularmente, através da
Lei 9795 em 27 de abril de 1999 que instituiu a Política
Nacional de Educação Ambiental (PNEA).
Apesar desta última salientar, em seu artigo 5º,
a necessidade do "estímulo e o fortalecimento de uma
consciência crítica sobre a problemática ambiental e
social", através da Educação Ambiental, sublinhando
seu valor para "a construção de uma sociedade
ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da
liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça
social, responsabilidade e sustentabilidade" (art. 5,
inciso V); ainda não existe um consenso claro sobre sua
natureza, conceitos-chave (como o de meio ambiente)
e sua definição (marcada por diferentes linhas de
compreensão), em função de sua complexidade e
heranças históricas que vão desde as heranças
apaixonadas dos primeiros movimentos ambientalistas
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 32
radicais até a disciplinarização formal da mesma
através dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN´s
(Saito, 2002), onde a temática ambiental foi trabalhada
através da inclusão do meio ambiente enquanto um dos
temas transversais do mesmo.
Assim sendo, é necessário esclarecer que apesar
dos muitos avanços conquistados e apresentados nas
grandes conferências internacionais, do
amadurecimento da legislação ambiental - destacando-
se o fato de que a constituição de 1988 é considerada
uma das mais modernas do mundo na área ambiental -
e do fortalecimento de diferentes organizações
governamentais e não-governamentais atuantes na
área ecológica com o crescimento do terceiro setor,
ainda existem muitas dificuldades para que a proposta
da Educação Ambiental, em termos da formação de
uma consciência ambiental e, conseqüentemente, de
uma nova postura de vida, venha a consolidar-se em
âmbito nacional. Alguns desses problemas, que se
constituem como verdadeiras barreiras a serem
superadas pela Educação Ambiental, precisam ser
encarados com seriedade, se efetivamente desejamos
que o respeito pelo meio ambiente e a aplicação de
práticas sustentáveis de utilização do mesmo,
fomentados através da educação, seja uma realidade
concreta e não apenas um ideal, expresso na forma de
lei.
Diferente de outras leis, a Política Nacional de
Meio Ambiente (9795/99) não estabelece regras ou
sanções no que se refere às questões ambientais, mas
aclara e estabelece responsabilidades e obrigações em
relação às mesmas, colaborando de forma ímpar para a
sua institucionalização e legalização. É importante que
a mesma esteja em sintonia com outras leis
importantes na área ambiental como a Política Nacional
de Meio Ambiente (Lei 9398/81), o Decreto n.
Importante
Os PCNs são um conjunto de orientações para melhorar a qualidade do ensino e contribuir para a formação de cidadãos mais conscientes, críticos, autônomos e participativos. Eles orientam sobre o que e como ensinar. Para sua implantação, são levados em
consideração estudos psicopedagógicos e experiências de currículos nacionais e internacionais.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 33
88.351/83 e o Parecer n.819/85 do MEC que juntos
reforçam a necessidade da inclusão de conteúdos
ecológicos ao longo do processo de formação dos
ensinos fundamental e médio (COEA, 2001).
Todos esses instrumentos e dispositivos legais
querem nos lembrar do compromisso que temos de
deixar como cidadãos planetários, como diz Morin, de
deixar para as gerações futuras uma situação
socioambiental melhor do que nos encontramos e não
uma situação ainda mais grave do que a mesma.
Sabemos que a Educação Ambiental tem muito a
oferecer nesse sentido, mas é preciso que diferentes
setores da sociedade, e isto se refere tanto à
universidade quanto ao terceiro setor, ao empresariado
e à mídia atuem em conjunto, entendo seu valor como
estratégia de sobrevivência e não como mais um alarde
de ambientalistas desinformados e fanáticos.
EXERCÍCIO 1
Que dilema é denunciado por Erich Fromm no que se
refere à relação homem–meio?
( A ) O dilema de pertencer à natureza e ao mesmo
tempo ter a razão que falta aos animais;
( B ) A crise de consciência humana frente à destruição
ambiental que vem promovendo;
( C ) A carência de metodologias de educação
ambiental apropriadas ao trabalho comunitário;
( D ) O dilema existente entre os valores econômicos e
ambientais;
( E ) A dificuldade de implementar projetos eficazes de
educação ambiental no meio urbano.
Para refletir
Somente quando somarmos forças em prol de um ambiente melhor respeitando suas leis e entendendo que todos nós fazemos parte do mesmo
indistintamente, haverá alguma esperança de uma ampla transformação no atual quadro de degradação planetária em que nos encontramos. Essa é a utopia da Educação Ambiental.
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 34
EXERCÍCIO 2
A temática ambiental foi incluída nos parâmetros
curriculares nacionais (PCNs):
( A ) Através de um texto que sugeria a abordagem do
meio ambiente enquanto filosofia naturalista;
( B ) Sugerindo a inclusão do meio ambiente nos
projetos políticos pedagógicos escolares;
( C ) Destituindo a separção cartesiana corpo x
mente; homem x ambiente;
( D ) Através da inclusão do meio ambiente enquanto
tema transversal;
( E ) Através da inclusão da temática ambiental nas
disciplinas de biologia e geografia.
EXERCÍCIO 3
O que é Educação Ambiental e quais seriam seus
principais âmbitos de atuação?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 4
Explique com suas palavras o termo “cidadania
planetária”.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 35
RESUMO
Vimos até agora:
Segundo Carvalho (2007), desacompanhada
da dimensão ambiental, a "Educação perde
parte de sua essência e pouco pode contribuir
para a continuidade da vida humana";
Tanto a Educação Ambiental como a
Educação Popular são formas educativas que
surgiram justamente pelos inúmeros vazios
deixados pelo sistema educacional clássico
em não conseguir cumprir esse papel básico
que lhe cabia;
Por ser, simultaneamente, objeto e reflexo da
sociedade humana, onde se encontra
inserida, a Educação - e por conseguinte a
Educação Ambiental - está sempre ligada
intimamente ao processo social através do
qual o homem adquire costumes,
conhecimentos e valores vigentes em seu
grupo e em sua época;
Paulo Freire (1997) defende que “não há
educação fora das sociedades humanas e não
há homens isolados (...) O homem é um ser
de raízes espaço-temporais;
A necessidade do complemento “ambiental”
junto à palavra Educação pode apontar,
entretanto, para a existência de uma práxis
educacional tradicional e tecnicista, que não
seria sequer cidadã, que diria ambiental
(Grün, 1996); o que, infelizmente, é inegável
no contexto brasileiro;
Reconhecer a existência e a perversidade
deste sistema utilitarista, dito “educacional”;
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 36
não anula a verdade de que a Educação traz
necessariamente, em seu âmago, uma
dimensão ambiental manifesta através de
suas múltiplas expressões;
Uma vez que a LDB afirma, em seu artigo 2º,
que a Educação tem por finalidade “o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho", não é possível
pensar a realização de tal propósito sem
considerarmos a Educação Ambiental;
Loureiro (1996) é um dos que chamam à
atenção para o outro lado da questão, ou
seja, para a falta de uma percepção da
Educação Ambiental como sendo
essencialmente Educação;
Relatório do CIMA, preparatório para a Rio-
92, declarou abertamente que um dos
maiores problemas para o desenvolvimento
da Educação Ambiental foi o fato dela ter sido
sempre enfocada como relativa à área da
Ecologia física e nunca à área de Educação;
“todo processo de Educação Ambiental
trabalha com os desequilíbrios biossociais”
(Linhares, M., 1995: 15), onde se enquadram
tanto os problemas relacionados à poluição
(do ar, água e solo, por exemplo) como
também as questões referentes a fome, ao
desemprego e à doença;
Como revela Grün (1994), seu espaço de
atuação se dá precisamente no “encontro
entre os valores de conservação das
comunidades bióticas e abióticas e os valores
sociais provenientes destes valores”;
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 37
Na medida em que a EA procura dar conta de
um amplo universo biossocial, integrando
diferentes disciplinas e estratégias de
trabalho na busca por uma aproximação mais
equilibrada entre homem e meio ambiente,
ela pode, também, contribuir para um
exercício mais consciente e efetivo da
cidadania, possibilitando ao educando utilizar
os conteúdos aprendidos em seu cotidiano,
visando melhorar sua qualidade de vida;
O homem não só depende do meio ambiente,
mas dele faz parte. Ele é o componente
racional - embora muitas vezes parece
demonstrar o contrário - desse grande
ecossistema global. Não é possível refletir
sobre educação sem refletirmos sobre o meio
ambiente do qual o homem é parte
integrante. A educação ambiental pode ser
entendida como um processo crítico
transformador capaz de promover um
questionamento mais profundo sobre a
realidade ambiental na qual o homem se
integra, levando-o a assumir uma nova
mentalidade ecológica, pautada no respeito
mútuo para com o meio ambiente e os que
dele fazem parte;
Tal definição encerra alguns termos chaves:
O primeiro deles é o de processo que implica
a realização de algo que demanda certo
tempo e envolve uma série de variáveis,
muitas delas difíceis de serem controladas; o
segundo diz respeito à palavra crítico que se
opõe ao termo "ingênuo"; o terceiro refere-se
à idéia de transformação possibilitada através
do aprendizado. O conhecimento nos torna
não apenas conscientes - o que por si só já re-
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 38
presenta uma mudança de ótica, de postura,
de atuação; O quarto termo a destacar nos
leva a entender que não estamos apenas
inseridos no meio ambiente. Se eu integro
algo, faço parte desse algo, ou melhor, sou
também esse algo. A idéia de integrar algo
remete-nos igualmente ao pensamento de
que não estamos sós. Como último termo a
destacar poderíamos sublinhar o vocábulo
respeito. Respeitar algo é procurar entendê-lo
e aceitá-lo como ele é, ainda que não
concordemos com o mesmo. Infelizmente,
não respeitamos a lógica da natureza;
Não existe um ser vivo, animal ou vegetal,
que não esteja de algum modo interligado a
outros de uma forma equilibrada. Essa é uma
das leis mais importantes do cosmos;
A crise socioambiental com a qual o homem
se depara em pleno século XXI é, antes de
tudo, um reflexo de uma grave crise de ética.
A ausência de uma postura ética técnico-
científica que pudesse ordenar as ações do
homem sobre a natureza, baseada no
respeito mútuo entre esses dois elementos,
ajuda-nos a compreender melhor como a
civilização moderna pode alcançar um estágio
prejudicial à própria continuidade da vida no
planeta;
Educação Ambiental não se resume a
disseminar informações sobre o meio
ambiente, mas a promover uma nova postura
diante da vida, uma postura ética do viver;
Educação Ambiental visa a que o indivíduo
reconheça e compreenda melhor o meio
ambiente do qual faz parte, buscando novas
formas de relacionamento com o mesmo,
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 39
pautadas nos princípios de respeito e de
integração ambiental;
Assim como a Educação de modo geral, a
Educação Ambiental também pode vir a ser
utilizada como instrumento de controle,
deturpação, seleção, exclusão ou, como diria
Brügger, de “adestramento”;
O diferencial da Educação Ambiental em
relação a outros âmbitos educativos se define
por um processo de despertar a atenção de
todos os povos e de todos os cidadãos do
mundo para problemas comuns, tanto no
âmbito local quanto no âmbito global, através
de ações que promovam uma tomada de
consciência de que a destruição do meio
ambiente significa para a raça humana sua
autodestruição;
Ela pretende a adoção de “uma nova postura
ética solidária”, em relação ao meio
ambiente, que valorize o exercício da
cidadania e se caracterize através de atitudes
participativas e adequadas à constituição de
um meio ambiente equilibrado e saudável;
A educação ambiental possui três níveis
operacionais: formal, não formal e informal;
O nível formal (institucional) funciona dentro
de uma formalização institucional;
tradicionalmente, se dá no âmbito de
instituições de ensino seja através do ensino
presencial ou a distância, o mesmo está
clarificado no art. 9 da lei 9795/99. Parte-se
de atividades no âmbito interno para atingir
também o âmbito externo;
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 40
O nível não formal parte de um projeto mais
complexo, envolvendo uma equipe mais
ampla e diversificada, exige mais tempo,
Maior possibilidade de sofrer mudanças como
alterações de prazos e estratégias. Encontra-
se definido no Art. 13 da lei, parte-se de
atividades no âmbito externo para atingir
também diferentes âmbitos internos.
O nível informal possui um caráter pontual e
muitas vezes temporário. Visa atingir a
população em geral e não uma organização
ou grupo específico. Geralmente, se processa
através de meios informais de comunicação
como jornais, panfletos, cartas, cartazes,
filmes, programas de rádio e TV e outros;
podendo se concretizar em qualquer lugar;
Independente do âmbito em que um
determinado projeto ou programa de
Educação Ambiental esteja inserido, o
importante é que nele esta tenha
possibilidade de cumprir seu compromisso
social, ou seja, a de favorecer uma passagem
da razão à solidariedade baseada em uma
nova ética socioambiental;
A Educação Ambiental busca essencialmente
“fazer um resgate do que é inerente ao
homem”, devolvendo-lhe “a consciência de
sua unidade com o meio ambiente ao mesmo
tempo em que o conscientiza, sensibilizando
para o direito à vida” (Mattos, 1997: 5).
Ajudar o homem a lidar com esse dilema
(pertence à natureza mas é diferente dos
demais seres vivos por possuir a razão) de
uma forma responsável, auxiliando-o a
perceber a necessidade de reintegração à natu
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 41
reza é uma das tarefas mais importantes da
Educação Ambiental;
A Educação Ambiental é um processo de
conscientização ambiental amplo que se
concretiza através de projetos e programas
realizáveis de Educação, visando aproximar o
homem do meio ambiente em busca de
melhores condições de vida;
Embora reconheça a grave crise ambiental
que o mundo atravessa, a Educação
Ambiental não assume uma postura
conformista ou apocalíptica diante desta.
Muito ao contrário, ela surge como uma
forma de contestá-la, de reagir a esta,
através de um processo lento e profícuo de
formação de uma consciência ecológica,
através da participação de todos os
envolvidos e do desenvolvimento de novas
atitudes e aptidões, gerando tanto a
possibilidade de mudanças de comportamento
como, também, a aprendizagem de novas
habilidades integradas ao meio ambiente;
Segundo Schoenfeld, a EA possui cinco
fatores elementares: trata do meio ambiente
do homem; se preocupa com o meio
ambiente total; é interdisciplinar; busca
soluções a longo prazo para os problemas
humanos, ou seja, soluções ecologicamente
sadias (Schoenfeld apud Tanner, R., 1978:
42);
A Educação Ambiental tem sido considerada
por alguns educadores como sendo a
Educação do 3º milênio, promovendo uma
revisão pessoal de nossos valores e nos convi
Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 42
dando à tomada de uma nova postura frente
ao mundo que nos rodeia;
Para Reigota (1994), a Educação Ambiental
deve ser compreendida fundamentalmente
como "educação política", uma vez que ela
reivindica e prepara os cidadãos para exigir
justiça social, cidadania nacional e planetária,
além de autogestão e ética; devendo esta se
dirigir indistintamente a todos os níveis
sociais. Assim sendo, a conquista de um meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e fator essencial à
qualidade de vida do homem, conforme
experiências interdisciplinares de Educação
Ambiental, defende a atual constituição
brasileira no seu artigo 225, implica direta
e/ou indiretamente a promoção de práticas
tanto em âmbito formal como no não-formal.
Daí a criação da Política Nacional de Educação
Ambiental – a lei 9795/99;
Apesar dos muitos avanços, ainda existem
muitas dificuldades para que a proposta da
Educação Ambiental, em termos da formação
de uma consciência ambiental e,
conseqüentemente, de uma nova postura de
vida, venha a consolidar-se em âmbito
nacional.
Contextualizando a
Educação Ambiental
Celso Sanchez
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LA
2
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ão
O objetivo central desta aula é auxiliá-lo a compreender melhor o
percurso de consolidação da Educação Ambiental desde os
primeiros grandes eventos e a atuação das ONGs até sua situação
atual legitimada através da Política Nacional de Educação
Ambiental (Lei 9795/99) e marcada pela presença das redes.
Aprenderemos, também, sobre algumas contradições entre o que
diz o texto legal e os relatórios das grandes conferências
internacionais e a prática que hoje se faz na área de EA e,
finalmente, analisaremos o quanto a EA ainda é uma área nova,
com muito a ser desenvolvido e um futuro promissor que deve
atrair muito mais profissionais do que o quadro atual,
considerando a gravidade da crise socioambiental vigente.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Entender melhor o contexto que favoreceu o surgimento da
Educação Ambiental enquanto uma área de atuação que
ressaltava uma das dimensões da Educação;
Analisar a história da Educação Ambiental e seus percalços até
o seu momento atual, onde a mesma se consolidou através da
Lei 9795/99; Compreender a Educação Ambiental como uma área jovem
ainda em expansão e com um futuro promissor para aqueles
que a ela se dedicarem; Entender com maior clareza o potencial transformador da
Educação Ambiental no sentido de suscitar no educando um
senso de responsabilidade ambiental fundamental para a
continuidade da vida no planeta.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 44
Introdução
Um curso de Educação Ambiental deve possuir
como objetivo não apenas uma discussão sobre a
Educação Ambiental, mas também o compromisso com
a fundamentação e a construção de uma visão crítica
sobre a intensa problemática ambiental que
atravessamos. Assim, temos um comprometimento
com a formação e a consolidação de uma ética com a
vida.
Um curso que traz, desde a sua concepção, a
necessidade de definir e discutir dois conceitos básicos
que emergem da própria idéia de Educação Ambiental.
Nesse sentido, é importante discutir o que significa o
“ambiental” na educação e o que pode ser mudado no
meio ambiente com a “educação”.
Para tentar responder a estas questões que nos
parecem por hora fundamentais, traremos nesta
segunda aula um debate, um convite à reflexão.
Propomos ao leitor, interessado no aprofundamento das
discussões sobre este interessante tema, que ao ler
elabore suas próprias concepções e críticas, que
construa o conhecimento através de sua ação reflexiva
ao longo das idéias que aqui forem apresentadas e
expostas.
Este exercício é extremamente necessário, pois
a Educação Ambiental se faz assim. Ela é produto de
um processo criativo e coletivo, produto e processo de
um mundo em constante revolução e transformação,
onde a problemática ambiental vem sendo, a cada dia,
uma questão central no cenário global e local.
Sobretudo quando o ser humano começa a se dar conta
de que a sua sobrevivência no planeta está sendo
seriamente ameaçada em virtude do agravamento
diário dos problemas ambientais que nos afetam a
Introdução 44 A Problemática Ambiental no Mundo Contemporâneo 47 Educação Ambiental: História e Relevância 54 Conclusão 69
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 45
todos como efeito estufa, violência urbana, fome,
desmatamentos, extinção de espécies.
A Educação Ambiental, portanto, surge como
uma ferramenta da esperança, como uma possibilidade
de transcendência do ser humano de seus conflitos com
seu meio ambiente. Problemas estes, de tal grandeza e
intensidade, que vêm acarretando sérios danos à
qualidade de vida de nossa espécie e das demais que
compartilham conosco nossa convivência neste planeta.
Por outro lado, as recentes descobertas
astronômicas sobre a dimensão do universo nos
ensinam e nos despertam sobre a aventura que
vivenciamos ao nos conscientizarmos sobre a finitude
de nossas dimensões vitais, ou seja, a Terra é um
planeta finito, com recursos limitados. Um ponto azul
perdido em sua órbita solar, despontando com sua
peculiaridade única e singular, um estilo de
perpetuação e de criação de vida. Em outras palavras,
a vida que existe em nosso planeta é uma expressão
única e completamente dependente das condições
ambientais da Terra. Condições estas que vêm sendo,
inconseqüentemente, alteradas por seres humanos
ainda não conscientes de sua dimensão planetária e
finita.
Mesmo que haja vida em outros planetas,
hipótese que vem sendo a cada dia mais evidenciada, a
maneira como a vida se expressa na Terra é singular.
Mesmo havendo outras formas de inteligência, nós
seremos sempre seres completamente dependentes de
nossa atmosfera, de nosso chão, de nossa cultura e de
nossas lembranças, memórias, enfim nossa vida se faz
e se realiza neste pequeno planeta azul. Tal como sua
lua que encanta e inspira os poetas e apaixonados,
estamos ligados a nossa Terra.
Importante
Essa consciência de que tudo é finito, até mesmo o ser humano com toda a sua arrogância, é um dos pontos mais importantes em relação ao esclarecimento que a Educação Ambiental promove.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 46
São por estas razões que se faz premente
visualizarmos a Terra como nossa pátria universal,
como nosso lar comum, com o qual temos o
compromisso de preservar a sua qualidade de vida para
que as gerações futuras tenham um mínimo de
qualidade de vida adequada a sua subsistência, um
mínimo de água potável, um mínimo de ar puro, de
praias limpas de paisagens belas.
Desta forma, falar em Educação Ambiental, ou
seja, de uma educação que possua uma sensibilidade e
uma subjetividade apurada para a questão ambiental,
significa trazer à tona um debate ético, político, social,
científico . É praticamente um exercício de revisão
profunda de valores e prioridades, significa, por muitas
vezes, uma “inversão de pauta”, uma realocação de
saberes e práticas preocupados com nosso futuro
comum e com a nossa sobrevivência saudável e
sustentável.
Podemos, então, vislumbrar a educação
ambiental, tentando já entender melhor a questão que
fazíamos, inicialmente, como um processo de
aprendizagem permanente baseado na ética, no
respeito a todas as formas de vida, visando gerar
mudanças na qualidade de vida e maior consciência de
conduta pessoal, assim como contribuir para uma
harmonia entre seres humanos e destes com outras
formas de vida. Ou seja, é como um exercício de uma
ecologia da solidariedade, onde assumimos o
compromisso ético com o próximo e com a natureza.
Podemos, ainda, entendê-la como processo de
formação do cidadão a partir da problematização da
realidade, propondo a construção de novos valores e
atitudes durante a aprendizagem. A Educação
Ambiental pode ser vista, também, como uma
educação política, com o objetivo nem sempre explícito
Quer saber mais?
Esse conceito de pátria universal foi bem explorado por Edgar Morin em sua conhecida obra feita em parceira com Bárbara Kern: Terra-Pátria. Porto Alegre: Sulina, 1995.
Importante
Essas são idéias importantes que podemos entender como norteadoras desse trabalho. Dispense toda atenção às mesmas.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 47
de criar novos hábitos e comportamentos, para
organizar populações e grupos sociais, formular
propostas de melhoria ambiental, conquistar espaços e
participação nas decisões políticas públicas e de
desenvolvimento visando melhores condições de vida
para todos. Portanto, trata-se de uma busca de
reformulações políticas através de uma base ético-
solidária com a Terra e seus habitantes.
Assim sendo, vejamos a seguir algumas
reflexões sobre a problemática ambiental como um
todo, tentaremos entender como se coloca a questão
ambiental em nosso conturbado cotidiano, onde o ser
humano é bombardeado por novas informações e novos
universos a serem explorados. A seguir, traçaremos um
panorama histórico da Educação Ambiental nas
conferências internacionais e na legislação brasileira.
A Problemática Ambiental no Mundo
Contemporâneo
No mundo contemporâneo, observa-se um
fenômeno novo para a humanidade, estamos de tal
forma interligados que construímos uma rede de
informações de tal forma elaborada, que esta circula
por todos os cantos do globo, de forma instantânea,
quase livre de barreiras, a velocidades cada vez
maiores, por medias cada vez mais espontâneos,
privados e pessoais.
Este fenômeno faz com que o sujeito comum
tenha que se deparar cotidianamente com questões que
exigem dele posicionamentos, opiniões, atitudes,
posturas; enfim, respostas que o permitam articular-se
neste mundo em profunda transformação.
O final de século evidencia que este cidadão
comum vive uma profunda crise que inclui, sobretudo,
Dica de leitura
Pesquise mais sobre essa relação entre Educação Ambiental, Cidadania e Política na obra organizada . LEIS Héctor: Ecologia e Política Mundial. Publicado no Rio de Janeiro pela FASE em parceria com a Vozes, AIRI e PUC-Rio em 1991.
Dica de leitura
Pierre Levy é um conhecido estudioso da sociedade da informação. Não deixe de ler algumas de suas obras. Aqui vai uma dica: LEVY, P. As Tecnologias da Inteligência. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 48
uma revisão na sua própria identidade. Sendo
necessário romper-se e estruturar-se diariamente em
função das novas e antigas questões que se
apresentam. Cercado por este emaranhado de
informações crescentes em complexidade, o sujeito
contemporâneo aparece para o observador, que
consegue um distanciamento transcendente, como um
ser fragmentado, com múltiplas identidades, amplas
possibilidades de ser e estar, agir e transformar o
mundo.
É neste universo que mantém suas relações,
tornando-o mais intrincado e complexo. O mundo em
intensa transformação estrutural desloca e fragmenta
identidades culturais de etnia, sexo. Antigas e sólidas
identidades se desbotam como identificou o
pesquisador britânico Stwart Hall, (1998) que estudou
a fragmentação da identidade do sujeito moderno. Um
dos resultados deste processo é o aparecimento de um
sujeito em crise, desterritorializado, com sua identidade
e subjetividades nômades. Aqui, no Brasil, temos como
exemplo deste processo “as tribos” de jovens da
geração “shopping center”, e seus modismos
passageiros que não permitem ao jovem a consolidação
de suas identidades em tradições ou saberes
consolidados como ocorrem em sociedades onde estão
presentes outros tipos de escolhas identitárias.
Meio atônito, o sujeito de hoje é praticamente
forçado a tomar decisões cotidianamente sobre os mais
diversos aspectos, assuntos e situações, influenciado
por um conjunto de fatores, que vão desde o âmbito
cultural, psicossocial, biológico até ao âmbito da ética e
da decisão política. É preciso estar informado e
enformado às “demandas” de atitudes, opiniões,
decisões, identidades e subjetividades exigidas pela
sociedade a todos nós diariamente.
Quer saber mais?
Identidades Híbridas: Na ótica de Stuart
Hall, todos nós possuímos identidades híbridas influenciadas por subjetividades nômades e cambiantes. Se quiser saber mais sobre este assunto, não deixe de consultar a obra de Hall citada pelo autor na bibliografia.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 49
É neste cenário que a questão ecológica tem
despontado como uma das principais exigências. Ela
incita um debate que inaugura um universo novo de
informações. Ao ser humano contemporâneo, a
ecologia se apresenta como um novo universo ao qual
suas atitudes, opiniões, posturas e valores têm que se
readequar. Ela refaz e obriga a rever e redefinir os
limites do desenvolvimento humano. Agora, é preciso
arquitetar suas ações à “sustentabilidade” de suas
transformações na natureza.
Tal como uma fronteira desbravada, o universo
que a questão ecológica nos abre, também, nos obriga
a reformular nossa identidade perante a natureza e a
nós próprios. Devido, sobretudo, à iminência visível de
um colapso sobre o próprio futuro e à qualidade de vida
humanas. Indagações fundamentais da condição
humana são revisitadas: onde estamos? De onde
viemos? Para onde vamos? São perguntas constantes
da preocupação ecológica.
Para o importante educador ambiental Marcos
Reigota (1994), a questão ecológica não se funda na
questão populacional, como se pensava no início dos
anos 70, quando o debate ecológico começava a se
espraiar mundialmente tomando os diversos setores da
sociedade. O autor defende que a problemática
ambiental está baseada no modelo de sociedade que
assumimos, em suas palavras:
é necessário entender que o problema
está no excessivo consumo desses
recursos por uma pequena parcela da
humanidade e no desperdício e
produção de artigos inúteis e nefastos
à qualidade de vida
(p.\9).
Desta forma, o que se propõe no debate
ambientalista é a revisão dos valores norteadores dos
Dica do professor
Note que tais questionamentos são feitos desde a antiguidade do homem; contudo, a crise ambiental acentuou a necessidade de responder aos mesmos de uma forma mais holística e urgente.
Para pensar
Procure pensar que soluções seriam possíveis, em termos de Educação Ambiental, para solucionar problemas como desperdício e consumismo exagerado?
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 50
caminhos e rumos dados à nossa civilização. O autor
completa seu raciocínio:
não se trata de garantir a preservação
de determinadas espécies animais e
vegetais e dos recursos naturais,
embora essas questões sejam
importantes. O que deve ser
considerado prioritário são as relações
econômicas e culturais entre a
humanidade e a natureza e entre os
homens
(p.\9).
Sendo assim, a questão se amplifica a uma
dimensão muito maior do que apenas as degradações
ambientais, a poluição, as queimadas na Amazônia, a
problemática ecológica, quer dizer respeito a toda uma
relação de interação entre humanidade e seu meio
ambiente. É por este motivo que o debate ecológico
inaugura um novo universo informacional, mesclando-
se com outros grandes temas contemporâneos tais
como fome, pobreza, reforma agrária, abastecimento
de água doce, transgênicos, questões de impactos
culturais sobre populações indígenas, biopirataria;
enfim, o debate está tão emaranhado a nosso cotidiano
que é praticamente impossível separá-lo dos grandes
temas e problemas da atualidade. Desta forma, todos
estes debates passam a ter a componente ecológica em
seu bojo, ou como interlocutora interferindo em algum
momento.
Concomitantemente, a ecologia nos traz à tona
uma nova problemática que apresenta à sociedade uma
de suas faces obscuras, a sua competente capacidade
de autodestruição. Carvalho (2002) analisa esta
questão desde a perspectiva da relação homem-
natureza:
Como é amplamente sabido, o homem
está envenenando a Terra. Constrói
sua autodestruição de forma bem
acelerada, bem rápida, nos dias de hoje.
Dica de leitura
Essa necessidade de repensar as diferentes relações que se processam entre a humanidade e a natureza e desta com os homens é o ponto chave de qualquer preocupação séria no âmbito da educação ambiental. Para se aprofundar no tema, sugerimos a leitura da obra:
LEFF, E. Epistemologia Ambiental. São Paulo: Cortez, 2002, 2ª. ed.
Importante
Essa seria a origem da Ecologia Social. Vemos hoje claramente que o debate ecológico está muito além das questões de ordem físico-química abarcando um universo cada vez maior de questões socioculturais.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 51
Parece lutar contra o tempo na
demolição de seu habitat, de sua casa.
A atual contaminação ambiental pela
poluição é tão extensa, tão profunda e
tão generalizada que atinge, a um só
tempo, a água, a terra, e o ar,
ocupando os mais distantes pontos do
planeta, desde as áreas terrestres
menos habitadas, até os mais perdidos
recantos oceânicos.
(p.\59)
Assim, a problemática ambiental se generaliza e
ganha todos os espaços e habitats do planeta,
evidenciando uma morte anunciada de um determinado
tipo de civilização. Poluição, questão atômica,
crescimento demográfico exponencial, fome e miséria,
perda da biodiversidade, lixo urbano, antigas doenças
que se reapresentam, enfim, as questões ambientais,
“de repente”, parecem estar presentes em grande parte
de nossos problemas contemporâneos. Parecem fazer
parte de nossas vidas e de nosso futuro, ao mesmo
tempo em que se encarregam de reestruturar nosso
passado, esclarecendo-nos a crise civilizacional pela
qual passamos e obrigando-nos a rever antigas
posturas e paradigmas.
A intensa circulação dessas “novas” informações
“ecológicas” expõe os contornos mais proeminentes dos
nossos limites, esquecidos e adormecidos durante
muito tempo. O ser humano reavalia a si próprio, seu
fazer, seu pensar sobre si, sobre o mundo que o cerca
e sobre o mundo que construiu. A ecologia procura
delimitar o lugar do humano, distinguir seu espaço da
natureza e, assim, refundar limites para o fazer
humano, outrora rompidos em parte pelo humanismo.
Assim, a questão ambiental institui novas alfândegas
que impõem fronteiras para o crescimento humano.
A grave crise ambiental a que o planeta assiste
hoje pode ser entendida como fruto de um processo
histórico de relações estabelecidas entre sociedade e
Quer saber mais?
O livro citado de autoria de Vilson Carvalho é na verdade sua dissertação de mestrado publicada com o título de “Educação Ambiental e Desenvolvimento Comunitário” no Rio de Janeiro pela Editora WAK.
::Habitat:
O termo habitat é utilizado para se referir ao local onde nasce, cresce e vive determinada espécie. Embora comumente utilizado para se referir ao ambiente natural – caatinga, mata atlântica, cerrado, etc. – também pode ser utilizado para se referir ao meio urbano como o habitat construído
ou habitat citadino.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 52
natureza. Tais relações vêm tecendo-se ao longo de
uma trajetória civilizacional, que traz em seu bojo uma
idéia unilateral de desenvolvimento. Estes caminhos,
historicamente esboçados, hoje começam a obrigar aos
mais variados segmentos sociais revisões profundas
nas suas formas de se relacionar com o meio em que
vivem.
Para Layrargues (1998), a problemática
ambiental é vista como sendo uma das expressões
oriundas dos conflitos gerados na relação sociedade
ocidental com a natureza. É a materialização do
desgaste de uma relação que se dá em bases
absolutamente desiguais, uma vez que se instaurou,
em vez do diálogo, um monólogo, onde uma das partes
- a natureza - é percebida apenas como um objeto a
ser dominado, apropriado e usufruído, como matéria-
prima e bem de consumo.
Para o autor, a questão ambiental não é
propriamente uma “crise ambiental”, e sim um dilema
civilizacional, pois a civilização ocidental encontra-se
claramente diante da escolha de qual princípio
organizativo da vida social lhe será mais adequado: a
racionalidade econômica ou ecológica, é neste intervalo
de racionalidades e de mundividências que se inscreve
o desafio de construir uma educação que acolha os
anseios de um novo modelo de sociedade, onde o
desenvolvimento seja ambientalmente sustentado.
A questão do meio ambiente hoje é pauta
essencial e cada vez mais central nos principais fóruns
de discussão global. Vem ocupando espaços essenciais
no cenário das questões contemporâneas, adquirindo, a
cada dia, cada vez mais importância e relevância na
gisa de problemas e debates planetários. Muito em
função desta característica, a inserção das discussões
sobre o desenvolvimento e meio ambiente em ações
Importante
É importante atentar para esse crescimento da preocupação ambiental retratada de várias formas: No aumento do número de organizações ambientalistas; na
sensibilidade empresarial para essa questão e o número de cursos, inclusive no âmbito universitário, particularmente na área de direito e gestão ambiental, que vem aumentando. Em termos políticos, a própria força de partidos como o PV em países como a Alemanha também retratam essa elevação da preocupação com as questões ambientais.
Dica do professor
Ocidente x Oriente Essa é realmente uma questão interessante de debate. Será que o ocidente desrespeitou mais o ambiente do que o oriente. Em termos culturais certamente há diferenças na relação
entre homem ocidental e oriental na relação com o ambiente. Contudo vale enfatizar que em menor ou maior grau ambos destruíram seu habitat.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 53
políticas torna-se hoje uma constante para as
plataformas de governo de vários países.
Corroboramos com a noção de meio ambiente
trazida à tona por D'Avila Neto e Maciel (1995), onde
as autoras delimitam as fronteiras deste conceito para
além dos limites desenhados pela ciência, sobretudo de
cunho naturalista. O meio ambiente, na visão das
autoras, ganha uma dimensão humana e, portanto,
cultural, assim:
O meio ambiente não pode ser
encarado como um dado isolado, mas
sim como um dado da cultura sobre o
meio ambiente, isto é, como um
processo de interação entre o
sociocultural - gerado pelo homem - e
a natureza. Não são possíveis ações
ditas de desenvolvimento, sejam de
preservação ou modificações sobre o
meio ambiente, dissociadas do homem
que o habita e, por conseguinte, de
sua dinâmica cultural.
(p.\245).
Neste sentido, o meio ambiente e a cultura são
elos inexoráveis de uma mesma realidade que impõem
seus desafios. Nestes novos meandros de problemas, a
Educação se projeta em importância estratégica. Neste
contexto, a Educação, agora Ambiental, ou
ambientalizada, vem sendo convocada para ser uma
aliada fundamental, uma alternativa para a complexa
problemática que é engendrada pela questão
ambiental.
Seguindo o caminho, percebe-se o
estabelecimento de um princípio em que toda a
educação é por si só ambiental, e que é através do
processo da educação que será possível construir uma
relação de harmonia entre natureza e cultura. Portanto
a chamada Educação Ambiental desponta como uma
importante intervenção já que permite ao ser humano:
Importante
Meio Ambiente e Cultura: É cada vez mais nítida a relação
existente entre meio ambiente físico, a história e a cultura que nele se produziu. Não há mais como entender um de forma desligada do outro. Conhecer um determinado local é conhecê-lo de forma total e não apenas seus detalhes físicos. Não basta saber as transformações químicas que o local sofreu, é preciso compreender sua evolução histórica e cultural. Caso contrário, as ações ambientais a serem promovidas correrão risco de serem ineficientes ou até inúteis.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 54
Compreender a natureza complexa do
meio ambiente resultado de aspectos
biológicos, físicos, sociais e culturais,
inserir-se nele de urna maneira
consciente, a utilização reflexiva e
prudente das possibilidades e recursos
do universo para satisfação das
necessidades materiais e espirituais
presentes e futuros da humanidade.
(Tbilisi, 1977 - In Dias, 1992).
Portanto, a educação, aqui ambiental, evoca
uma consciência que é subjacente a sua prática. Uma
consciência que se adjetiva de ecológica e que possui
um projeto de comprometimento político com o fazer
relativo às questões do meio ambiente e com o futuro.
Portanto, a Educação Ambiental é vista como um meio
para o desabrochar de uma consciência que permanece
dentro de nós e que precisa ser despertada.
Educação Ambiental: História e Relevância
O surgimento da educação ambiental se dá a
partir do final da década de 60, sob a influência da
contracultura e dos movimentos sociais que reivindicam
uma melhor qualidade de vida e questionam o padrão
de desenvolvimento da sociedade ocidental. A chamada
Educação Ambiental desponta como alternativa, mas
sobretudo como uma importante estratégia na procura
de saídas possíveis para a busca de novos rumos que
possam dar conta de nossa trajetória comum, que
deverá passar a ser sustentada, agora, desde a tomada
de consciência de que o planeta vive uma crise sem
precedentes em sua história. No cenário oficial, a
Educação Ambiental é lançada em 1972, na Conferência
das Nações Unidas para o Ambiente Humano, em
Estocolmo, Suécia. Assim, esta atividade passa, então,
a ser uma importante ferramenta na construção de um
futuro necessariamente sustentável e comum a todos.
Quer saber mais?
Conferência da Biosfera (1968): Antes da Conferência de Estocolmo em 1972, já havia ocorrido a Conferência da Biosfera em Paris, no ano de 1968. Essa conferência marcou a primeira vez que os povos e governos do mundo se reuniram para discutir a Biosfera como preocupação internacional. Nessa conferência já se percebia uma certa ênfase na aplicação e desenvolvimentos de Programas em Educação Ambiental.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 55
A partir deste pressuposto, o mundo observa a
importância premente de tratar a Educação Ambiental
como uma espécie de alvo de uma série de importantes
encontros de autoridades internacionais. Ainda na
conferência de Estocolmo, em 1968, a recomendação
96, resultante do documento final da conferência, dizia:
O desenvolvimento da Educação
Ambiental é o elemento crítico para o
combate à crise ambiental do mundo”
sendo de “ grande importância
estratégica dentro dos esforços de
busca de melhoria de qualidade de
vida.
(In: DIAS, 1992)
A partir deste momento, decidiu-se que se faria
um grande encontro internacional para se tratar da
implementação da Educação Ambiental no mundo, o
que ocorreu em Belgrado na ex–Iugoslávia, em 1975.
Na conferência de Belgrado, como ficou conhecido este
primeiro marco, foram formulados princípios e
orientações para o Programa Mundial de Educação
Ambiental, documento este conhecido como Carta de
Belgrado, que marca um passo importante trazendo
uma proposta ética alternativa para a crise global.
Três anos depois de Estocolmo, foi criado o PIEA
– Programa Internacional de Educação Ambiental, em
conjunto com a UNESCO, que atua promovendo cursos,
programas de capacitação e formação, eventos, além
de produzir informativos e publicações sobre o assunto
no mundo. O PIEA é também o responsável pela
importante publicação “Environmental Education
Series”, que relata experiências de todo o mundo, e do
boletim periódico “Contacto”, distribuído em várias
línguas para todos os continentes.
A partir daí, seguindo recomendações da
UNESCO e do PNUMA, foi organizada a Conferência de
Tbilisi (atual Geórgia, na ex – URSS) em 1977,
Importante
Sobre o PIEA:
O Programa Internacional de Educação Ambiental ressaltou que a Educação Ambiental deveria ser contínua, multidisciplinar e voltada para os interesses nacionais sem deixar de considerar as especificidades regionais (Carvalho, 2002).
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 56
conhecida como a “Primeira Conferência
Intergovernamental Sobre Educação Ambiental”, onde
foram traçados os principais fundamentos,
recomendações, objetivos e estratégias de ação.
Constitui-se em um dos principais documentos
produzidos, onde estão as principais orientações
pedagógicas e sugestões estratégicas para o
desenvolvimento da Educação Ambiental, sendo até
hoje considerado um importante instrumento,
indispensável para consulta.
Em Tbilisi, a Educação Ambiental foi definida
como sendo:
uma dimensão dada ao conteúdo e a
prática da Educação, orientada para a
resolução dos problemas concretos do
meio ambiente através de enfoques
interdisciplinares, e de uma
participação ativa e responsável de
cada indivíduo e da coletividade.
(In: Dias, 1992, p.\31).
Ou mais aprofundadamente:
uma educação permanente, geral, que
reaja às mudanças que se produzem
em um mundo em rápida evolução.
Essa educação deve preparar o
indivíduo, mediante a compreensão
dos principais problemas do mundo
contemporâneo, proporcionando-lhe
conhecimentos técnicos e qualidades
necessárias para desempenhar uma
função produtiva, com vistas à
melhoria da qualidade de vida e
proteger o meio ambiente, prestando a
devida atenção aos valores éticos.
(Dias, op.\cit p.\68).
Durante a década de 70, vários acordos serão
ratificados pelos governos de diversos países,
mostrando uma mobilização em quase todo o mundo
com a questão ambiental, sobretudo com a Educação
Ambiental, considerada primordial e de relevante
interesse nacional em vários países, que a incluíram em
seus planos e estratégias nacionais.
Importante
Conferência de Tbilisi: A primeira conferência intergovernamental voltada para Educação Ambiental congregou especialistas do mundo inteiro para discutir diferentes propostas de Educação Ambiental, contribuindo de forma decisiva para uma maior compreensão de sua natureza, funcionamento e
características básicas.
Você sabia?
Pouco citada, um ano antes da Conferência de Tbilisi, acontecia no Peru a Conferência de Chosica em 1976.
Apesar de não ter tido a repercussão internacional das conferências aqui citadas, ela é encarada como um dos referenciais para o desenvolvimento da Educação Ambiental nos países da América Latina, a partir de vivências e problemas em comum.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 57
No Brasil, o quadro, no entanto, era bastante
diferente. Refletindo a posição dos países ditos “em
desenvolvimento”, a preocupação com a questão
ambiental se fazia sentir como um freio para o franco
processo de desenvolvimento almejado pela política
militarista de então. Logo, a política brasileira desde
cedo mostrou-se avessa às tendências
preservacionistas mundiais, que eram percebidas, de
forma antagônica, como verdadeiras inimigas do
desenvolvimento.
Após quase duas décadas de atraso, depois de
difíceis negociações e pressões internacionais, o
governo brasileiro começa os primeiros movimentos de
aceitação das novas tendências mundiais e, apenas
durante a década de 80, o Brasil começa a promover
uma série de medidas a fim de regulamentar a Política
Nacional de Meio Ambiente. Através da lei federal no
6938, de agosto de 1981, aprova a criação do
SISNAMA, Sistema Nacional de Meio Ambiente, do
CONAMA, Conselho Nacional de Meio Ambiente e do
Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos
de Defesa Ambiental.
O CONAMA define a Educação Ambiental como
sendo:
um processo de formação e
informação, orientado para o
desenvolvimento da consciência crítica
sobre as questões ambientais, e de
atividades que levem à participação
das comunidades na preservação do
equilíbrio ambiental.
Na lei 6938/81, a Educação Ambiental aparece
no Artigo 2o, item X, onde se lê:
Educação Ambiental a todos os níveis
do ensino, inclusive a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la
para a participação ativa na defesa do
meio ambiente.
Importante
Apesar das falhas e dos interesses diversos, o valor da atuação de tais órgãos em termos
ambientais é inestimável. Procure conhecer mais sobre os mesmos.
Dica do professor
É óbvio que entre a letra da lei e seu cumprimento existe uma distância considerável. Mesmo hoje a Educação Ambiental ainda não é oferecida a todos, ficando muitos de fora dessa conscientização ecológica. Outra questão a considerar é a forma como a Educação se insere na Educação Formal através de uma disciplina, prática condenada, ou através do Projeto Político Pedagógico da Escola, o que muitas vezes conduz a uma dispersão do tema.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 58
Em 1986, é realizado o I Seminário sobre
Universidade e Meio Ambiente, na Universidade de
Brasília, onde surgem importantes resoluções e
sugestões, sendo considerado como um dos primeiros e
principais documentos gerados por experiências
brasileiras. Durante o ano seguinte, em 1987, é
realizado o II Seminário Sobre Universidade e Meio
Ambiente, em Belém, Pará, onde foram indicados
representantes das universidades para assessorar o
órgão federal de meio ambiente de então, a SEMA. Ao
mesmo tempo, acontecia a Conferência de Moscou, na
Rússia, para avaliar os dez anos pós-Tbilisi, que
reforçou os conceitos declarados em Tbilisi, e propôs
uma estrutura teórico-metodológica para a Educação
Ambiental.
Ainda durante o ano de 1987, a CETESB de São
Paulo, se destacou por seu pioneirismo na área da
Educação Ambiental e, em 1985, lança um livro
importante por sua já expressa perspectiva
interdisciplinar. De autoria de Kazue Matsushima, o
livro intitulado ”Educação Ambiental” foi referência nos
estudos e propostas técnicas da CETESB desde então.
O ano seguinte, 1988, é marcado pela
Assembléia Nacional Constituinte, a primeira após o
extenso período de regime militar autoritário. Os
constituintes começam a se preocupar com as questões
de meio ambiente e criam uma comissão parlamentar
para debater a questão com a participação popular. É
promulgada, então, a Constituição da República
Federativa do Brasil, contendo um capítulo para tratar a
questão ambiental, onde pode-se ler no capítulo VI
artigo 225 item VI:
Promover a Educação Ambiental em
todos os níveis e a conscientização
pública para a preservação do meio
ambiente.
Para pesquisar
Conheça o livro de Matsushima e busque entender melhor porque seu livro fez tanto sucesso.
Dica do professor
Nossa constituição é uma das mais avançadas do mundo no que concerne à questão ambiental. O que se precisa é buscar meios de garantir seu cumprimento.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 59
No ano seguinte, é criado o IBAMA, Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis, através da junção de outros órgãos
públicos. O IBAMA cria, então, a Divisão de Educação
Ambiental, DIED, que passa a ser responsável pelos
Núcleos de Educação Ambiental, NEAs, nos estados que
tem como função elaborar projetos, divulgar e
desenvolver atividades sobre o assunto.
A ONU declara 1990 o Ano Internacional do Meio
Ambiente e o Brasil se prepara para sediar o mais
importante evento governamental já ocorrido no país, a
RIO - 92, ou Conferência das Nações Unidas para o
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD),
oficialmente denominada “Conferência de Cúpula da
Terra”.
Ocorrida no Rio de Janeiro, em junho de 1992, a
reunião contou com representantes de 182 países e
103 chefes de estado estiveram presentes, aprovando
cinco acordos oficiais internacionais: A Declaração do
Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento ou Carta
do Rio; A Agenda 21; Declaração das Florestas;
Convenção – Quadro sobre Mudanças climáticas e a
Convenção sobre Biodiversidade.
FÓRUM GLOBAL
De forma paralela à Conferência Oficial (Rio-92), o
Fórum Internacional de ONGs conhecido como
Fórum Global ocorrido no Aterro do Flamengo (RJ)
se destacou pela elaboração de mais de 30 tratados
de ordem ambiental, dos quais se destaca o
“Tratado de Educação Ambiental para Sociedades
Sustentáveis e Responsabilidade Global”. Três
princípios básicos são defendidos nesse tratado para
a adoção de um modelo ideal e eficiente de
Educação Ambiental: 1º) Busca de meios inovadores
visando a transformação da sociedade e a elevação
da qualidade de vida; 2º) Formação de cidadãos
conscientes de sua cidadania planetária e 3º)
Perspectiva holística e interdisciplinar nas
considerações que envolvem as relações entre homem e natureza.
Você sabia?
O dia 05 de junho é oficialmente o dia mundial do Meio Ambiente, embora saibamos que todo dia é dia de se preocupar com o meio ambiente em intenso estado de degradação.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 60
Paralelamente ao evento oficial que ocorria
afastadamente, em local de acesso restrito, no Rio -
Centro, estava acontecendo um mega evento popular,
de proporções ainda maiores, o Fórum Global, como
ficou conhecido, reuniu cerca de 10.000 Organizações
Não Governamentais (ONGs), que se aglomeraram
debaixo de imensas tendas para discutirem os
problemas que atingiam o mundo de então. Foi o
primeiro encontro popular a reunir representantes de
todas as partes do mundo para discutirem seus
problemas. Durante 15 dias, o Rio de Janeiro
presenciou a deliberação de importantes tratados
aprovados pelas ONGs em discussões abertas ao
público.
Entre os tratados, destaca-se o “Tratado de
Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global”, resultante dos trabalhos da
Jornada Internacional de Educação Ambiental, um dos
documentos mais importantes produzidos para a área,
onde podem ser encontrados princípios, plano de ação,
sistema de coordenação, monitoramento e avaliação,
grupos a serem envolvidos e recursos. A elaboração do
tratado foi um esforço coletivo conseguido em função
da coordenação de Moema Viezzer e Omar Ovalles que
lançaram, em 1995, o “Manual Latino Americano de
Educ – Ação Ambiental”, um valioso livro contendo
sugestões metodológicas de ação. Segundo PEDRINI
(1998), este tratado:
enriquece os já existentes e difere
deles pelo fato de ter sido produzido
pelo homem comum, e ser fruto de
calorosas discussões entre educadores.
Em 1993, o IBAMA divulga uma cartilha básica
sobre a Educação Ambiental onde aparece a seguinte
definição oficial:
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 61
A Educação Ambiental é um processo
permanente no qual os indivíduos e a
comunidade tomam consciência de seu
meio ambiente e adquirem
conhecimentos, valores, habilidades,
experiências e determinação que os
tornam aptos a agir – individual e
coletivamente – e resolver problemas
ambientais presentes e futuros.
Durante o ano de 1994, o Rio de Janeiro sediou
o I Encontro Brasileiro de Ciências Ambientais, onde
foram apresentados vários trabalhos na área ambiental,
inclusive em Educação Ambiental. Este encontro
constituiu um marco inicial, fundando um foro de
debates acadêmicos, sendo seus anais uma rica fonte
de pesquisa e informação. Também, em 1994, o livro
“Educação Ambiental: Princípios e Práticas”, de
Genebaldo Freire Dias, entra em sua segunda edição,
complementando a primeira de 1992, tendo-se tornado
referência da literatura nacional e subsidiando
educadores de todo o país. Muito do histórico aqui
relatado está baseado na obra do autor. Seu livro reúne
a íntegra de importantes documentos internacionais e
nacionais, permitindo a acessibilidade da informação
sobre o assunto para um maior número de pessoas.
Ainda em 94, o IBAMA cria o Programa Nacional
de Educação Ambiental (PNEA), lançando em 95 as
“Diretrizes de Educação Ambiental” (DEA), que prevê a
criação do Programa de Estudos e Pesquisas em
Educação Ambiental (PEPEA), que ainda não foi
cumprido, assim como o PNEA e o DEA, que faltam ser
implementados plenamente.
Os anos de 1995 e 1996 assistem à mobilização
das ONGs brasileiras de uma forma mais eficaz e
madura. As ONGs se organizam, elaboram seus
estatutos e começam a funcionar através de projetos.
Vários destes projetos têm um caráter preparatório
Dica de leitura
A obra de Genebaldo Dias é uma das principais referências na área, particularmente no que se refere à história da Educação Ambiental. Vale a pena conhecer este livro publicado pela editora Gaia.
Quer saber mais?
Fim do modismo: Nos anos de 91 a 93, assistimos a um
modismo ambientalista que muito prejudicou a imagem de quem levava a sério esse trabalho. Como o meio ambiente estava em moda, atraindo a mídia e investimentos internacionais, muitos grupos viraram ambientalistas de uma hora para outra, sem assumir verdadeiramente tais questões.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 62
para implementação e desenvolvimento das Agenda 21
locais.
A realização da ECO – Aplicada 95, IV Encontro
Latino Americano de Educadores Ambientais, também
no Rio, dá indicações dos movimentos e articulações
das ONGs e o Poder Público para tornar realidade o
projeto Agenda 21. Neste ano fortalecem-se as redes
de Educação Ambiental, sendo São Paulo o ponto de
maior profusão das redes.
Assim, por esforços coletivos, algumas cidades
brasileiras, através de suas prefeituras e dos
movimentos sociais, já começavam, a passos largos,
implementar, em 1997, o programa da Agenda 21
local, em suas regiões. E durante a RIO+5, em março
de 97, conferência que visava debater os avanços
realizados nos cinco anos após a RIO 92, algumas
experiências já puderam ser mostradas. No Rio de
Janeiro, destacam-se as atuações das ONGs,
Defensores da Terra, GRUDE (Grupo de Defesa
Ecológica), ISER (Instituto de Estudos da Religião),
Roda Viva, entre outras.
No ano em que se completavam 20 anos do
encontro-marco de Tbilisi, houve um elevado número
de eventos por todo Brasil, incluindo o Encontro da
Rede Nacional de Educação Ambiental que ocorreu em
Brasília. O mais importante ocorrido no Rio de Janeiro
foi o Simpósio Brasileiro de Educação Ambiental,
promovido pela PUC/RJ, com a participação de
importantes educadores ambientais.
Em 97, também se celebrou a aprovação da
nova LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de
autoria do antropólogo, educador e senador, Darcy
Ribeiro, falecido no mesmo ano. A nova LDB, ou lei
Darcy Ribeiro, como ficou conhecida, coloca a Educação
Para pesquisar
Entre as redes de Educação Ambiental existentes merece destaque a REBEA – Rede Brasileira de Educação Ambiental. Acesse e confira como é bom saber de eventos e comunicados na área que estão acontecendo em todo Brasil.
Importante
Por outro lado, a inclusão do Meio Ambiente como um dos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais despertou vários debates na área da Ecologia e fez que com a percepção do mesmo mudasse radicalmente, tornando difícil a promoção da Educação Ambiental através de uma disciplina isolada.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 63
Ambiental no currículo básico escolar como disciplina
pedagógica complementar aos 20% adicionais de carga
horária adicionados por lei para o ensino básico. Para
alguns educadores, a Lei Darcy Ribeiro é considerada
um retrocesso por colocar a Educação Ambiental como
uma disciplina a mais, não correspondendo às
premissas sugeridas de interdisciplinaridade e
participação voluntária.
No entanto, a realidade do país evidencia a
necessidade de uma organização mais formal para que
a Educação Ambiental se torne viável e exeqüível, além
do mais a lei permite a flexibilidade deste ponto para as
situações onde é possível a interdisciplinaridade; por
outro lado, alguns educadores consideram a Educação
Ambiental a nova forma da Educação em si, devido às
suas características.
O ano de 1998 foi marcado pela grande
produção de importantes publicações na área, incluindo
trabalhos inéditos contando a trajetória da Educação
Ambiental no Brasil e reflexões sobre algumas
experiências práticas já desenvolvidas, como o
importante trabalho organizado por PEDRINI (1998),
que reúne textos de diversos autores da área. A
segunda é a pesquisa nacional “O Que o Brasileiro
Pensa do Meio Ambiente, do desenvolvimento e da
Sustentabilidade”, trazendo as análises quantitativas e
qualitativas das entrevistas realizadas com lideranças
atuantes da área ambiental, tais como empresários,
políticos, membros de movimentos sociais, cientistas,
entre outros.
Ainda em 98, em dezembro, ocorreu um grande
encontro internacional promovido pela UNESCO/PNUMA
em Thessaloniki, Grécia, que reafirmou os conceitos de
Tbilisi, destacando a importância de ações locais de
forma contextualizada às realidades de cada
Dica do professor
Agenda 21 Local: As chamadas Agenda 21 locais visavam a implementação das idéias da Agenda 21 - grande documento produzido na Eco 92,sendo traduzido como uma verdadeira carta de intenções dos governos do
mundo pela sustentabilidade ambiental – a nível local. Cada país, cada Estado, município e até bairro é chamado a elaborar a sua agenda 21 local a partir dos seus problemas ambientais particulares.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 64
comunidade e a importância da implementação das
Agenda 21 locais de forma conjugada aos processos de
Educação Ambiental, além de uma ampliação na rede
de comunicações entre educadores ambientais a fim de
aumentar o intercâmbio de experiências.
O ano de 1999 é um ano marcado pela
consolidação das redes e de encontros regionais, além
de uma intensa produção de coletâneas de artigos
publicados em livros. Conferências e encontros
científicos também marcam este ano que viu ser
sancionada a lei de educação ambiental, instituindo-a
como disciplina obrigatória em todos os níveis de
ensino e, também, como uma nova polêmica, ainda
sem consenso entre os educadores. Assim, a educação
ambiental, atualmente, está envolta em aflamadas
discussões e encontra-se em meio a uma saudável
polêmica.
A recente Lei de Educação Ambiental, que teve a
participação da sociedade civil em sua elaboração,
trouxe conseqüências no Estado do Rio de Janeiro
bastante interessantes no que diz respeito à
consolidação dos setores militantes na educação
ambiental regional. Grupos ambientalistas militantes
passaram a ter mais coesão e interação entre si,
buscando, via internet, uma articulação maior dos
esforços. Uma importante rede foi montada, chamada
EALatina, onde diariamente cerca de 70 pessoas estão
conectadas em rede, trocando informações sobre a
área de interesse.
Além desta rede podem ser encontrados hoje
mais de 100 sites sobre educação ambiental na
Internet, a maioria mantidos por ONGs, embora
também haja universidades, órgãos públicos e até
empresas especializadas em oferecer o serviço de
implementação de programas de educação ambiental
Para pensar
Se você fosse elaborar uma Agenda 21 local voltada para o seu bairro, que problemas destacaria como fundamentais para serem trabalhados no âmbito da EA?
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 65
para escolas. Sobre este tema, Da Mata (1999) tem
analisado a questão da terceirização da educação
ambiental na escola.
No que diz respeito à Lei de Educação
Ambiental, que regulamenta a Lei nº 9.795 de 27 de
abril de 1999, é destinada à instituição da Política
Nacional de Educação Ambiental. A nova legislação a
define no artigo 1º, Capítulo I, da seguinte forma:
Entende-se por educação ambiental os
processos por meios dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos e
habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do
povo, essencial à sadia qualidade de
vida e sustentabilidade.
Também foi criada, em 1999, a Sociedade
Brasileira de Educação Ambiental (SBEA), que tem
congregado importantes atores e grupos
ambientalistas. O objetivo da SBEA é promover eventos
e criar um centro de referência ambiental, para isso já
conta com importantes parcerias e de outras entidades
ambientalistas como o GRUDE (Grupo de Defesa
Lei 9795/99
A Política Nacional de Educação Ambiental
promulgada por esta lei deverá ser regulamentada
pelo CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente)
e pelo Conselho Nacional de Educação.
Esta lei reproduz concepções básicas discutidas por
educadores ambientais em diferentes artigos e
documentos. Entre estas desçam-se: o fato de que
a EA deve ser exercida como um prática integrada
em todos os níveis e modalidades de ensino; a
necessidade de que a EA seja um direito coletivo; a
importância de que esta seja trabalhada a partir de
um enfoque holístico por meio de uma prática
democrática e inclusiva; e, também, a necessidade
de que a sociedade como um todo assuma uma
responsabilidade coletiva pela promoção da EA.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 66
Ecológica) e um de seus descendentes o Cream (Centro
de Referência em Educação Ambiental).
O ano de 1999 arca a consolidação dos eventos
regionais e a entrada em cena dos militares, agora
discutindo a inserção da educação ambiental dentro de
suas instalações, para tanto sediam os dois últimos
seminários regionais no IME (Instituto Militar de
Engenharia), demonstrando o interesse em lançar-se
com programas de educação a distância em educação
ambiental.
Em dezembro de 1999, foi sancionada a lei
estadual de Educação Ambiental, a qual considero um
marco importante na consolidação do grupo social
“educadores ambientais”, garantindo uma espécie de
estatuto para este setor. A lei nº 3.325 complementa a
lei federal de nº 9795/99 e dispõe sobre a educação
ambiental, criando a política e o programa estadual de
educação ambiental.
Na legislação, a Educação Ambiental é definida
como sendo:
Os processos através dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos,
atitudes, habilidades, interesse ativo e
competência voltados para a
conservação do meio ambiente, bem
de uso comum do povo, essencial à
sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade.
Ainda na legislação, esta prática educativa é
colocada oficialmente em todos os níveis de ensino e
passa a ser implementada através de um “grupo
interdisciplinar de Educação Ambiental”, formado por
autoridades e profissionais de distintas áreas. Dois dos
objetivos estipulados desta prática que são
considerados no artigo 4º incisos, II e III, nos parecem
Dica do professor
Seminários Sobre os Encontros de Educação Ambiental ocorridos no IME, vale destacar a participação do GEA da UFRJ que, durante anos, ficou à frente do evento e nos últimos anos tinha como coordenadora a prof. Speranza França.
Importante
Grupo interdisciplinar Essa ênfase no grupo interdisciplinar é de fundamental importância não apenas por reafirmar o caráter holístico da EA, mas também por promover a integração de diferentes áreas e disciplinas em prol da qualidade de vida socioambiental sem exclusões.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 67
importantes ressaltar, pois a nosso ver corroboram com
os encaminhamentos de nossa investigação, são eles:
II - O estímulo ao fortalecimento de
uma consciência crítica sobre a
problemática ambiental e social;
III- O incentivo à participação
comunitária, ativa, permanente e
responsável, na preservação do
equilíbrio do meio ambiente,
entendendo-se a defesa da qualidade
ambiental como um valor inseparável
do exercício da cidadania.
Portanto, a lei, de certa forma, fornece o
estatuto exigido pelos educadores ambientais, no que
diz respeito às suas exigências de mudanças societais,
ou seja, a lei autoriza a transformação da sociedade e
garante esta possibilidade, reforçando a necessidade da
construção de uma consciência ecológica que dê conta
destas transformações. A questão que se coloca, afinal,
é esta consciência, que se corporeifica como um projeto
político claro de mudanças social.
Na esfera federal, também no final de 1999,
foram elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais,
em substituição aos currículos mínimos das disciplinas
do ensino médio; neste documento, a Educação
Ambiental é inserida como um tema transversal em
todas as disciplinas, indo no sentido oposto ao da lei
estadual.
Em 2000, a então criada Coordenação Geral de
Educação Ambiental (COEA) do Ministério da Educação
promove uma importante teleconferência sobre os
Parâmetros Curriculares em Ação sobre o Meio
Ambiente, o PAMA, onde participam mais de 1.500
escolas em todo o território nacional. Já em 2001, a
COEA promove o Seminário Nacional de Educação
Ambiental reunindo Secretarias de Educação Municipais
e Estaduais e instituições em todo país, investindo na
Para pensar
Lei x Educação É evidente que a conscientização é importante e deve ser
priorizada, mas em alguns casos não podemos deixar de negar o valor da cobrança legal através das multas e do seu retorno à área ambiental. O que você pensa sobre isso? Discuta com outros colegas essa questão.
Importante
Essa participação tem
de ser cada vez mais estimulada. É preciso divulgar os encontros e seminários na área, dando condições a que diferentes segmentos (universidade, mídia, empresas, ongs), enfim, mais e mais pessoas possam contribuir com sua experiência e recursos pela melhoria da qualidade de vida local e global.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 68
disseminação dos PCN’s que utilizam a problemática
ambiental como tema transversal.
Em 2002, ocorre em Joanesburg, na África do
Sul, a III Conferência Internacional sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como a
Rio+10. Este encontro foi o que obteve o maior quorum
entre fóruns de debates promovidos pela ONU, contou
com a presença de 226 chefes de Estado. Muitos
consideraram o encontro um fracasso por frustrar as
intenções dos ambientalistas, no que diz respeito à
consignação de importantes tratados como a
Convenção do Clima e da Biodiversidade, por parte das
nações mais ricas. Além disso, a Educação Ambiental
foi discutida minimamente num grupo de trabalho
liderado pela comitiva brasileira, as nossas 100
melhores experiências foram apresentadas e o Brasil
despontou como liderança e referência em questões
ambientais no ponto de vista jurídico e em Educação
Ambiental. Uma contradição que nos faz indagar se
estamos novamente fazendo, mais uma vez, a
conhecida "política para inglês ver".
Em 2003 ocorreram dois importantes eventos: o
I Congresso Mundial de Educação Ambiental em maio,
na cidade de Espinho, Portugal e a III Conferência
Ibero-americana de Meio Ambiente e Desenvolvimento,
Rio+10
Apesar das vitórias no que se refere a questões
relativas ao saneamento - Ou seja, chegou-se a um
consenso para reduzir pela metade, até 2015, o
número de pessoas sem acesso a saneamento
básico; e se conseguiu estabelecer um acordo sobre
patentes no âmbito da OMC, estabelecendo que
países pobres não podem ser impedidos de ter
acesso a medicamentos essenciais - o evento foi
marcado pelo cinismo das diplomacias que pouco
contribuíram para o avanço na conferência. Muitas
metas e prazos não foram estabelecidos, fazendo
com que muitos acordos acabassem tendo sua
validade questionada.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 69
em junho, em Cuba. Enfim, sob a visão panorâmica do
histórico desta atividade, percebe-se que estamos
diante de um campo em expansão, mas
paradoxalmente ainda sem consensos definitivos sobre
seus objetivos, práticas e diretrizes de ação.
Podemos, a partir daí, observar que o Brasil
reage a sua maneira a um movimento internacional,
constituindo aqui características e ações singulares que
podem estar se engendrando em novas configurações
desta prática educativa. Cabe também indagar se é
esta a razão que torna tão escassa a produção de
material sobre Educação Ambiental no âmbito
governamental, conhecendo-se pouco sobre o que é
produzido nestas instâncias executivas oficiais
notadamente o MMA e o MEC.
Conclusão
As contradições desta prática, portanto,
continuam e os debates, atualmente, têm a tendência
de se situarem nesta direção. Para entendermos os
caminhos das diferentes abordagens da Educação
Ambiental, analisaremos a seguir as principais
projeções de tendências a fim de nos situarmos diante
do quadro atual. Por enquanto, nos cabe ressaltar que
é um saber em construção e, portanto, cabe a cada um
de nós contribuir para fomentá-lo e estabelecer novas
abordagens e complementos a esta atividade que, em
breve, se tornará essencial para o ser humano.
O comprometimento ético se inicia agora, uma
vez que estamos nos dando conta de que esta
importante área de atividade e de conhecimento tem
no ser humano seu protagonista e antagonista. Onde
este ser tão paradoxal, que possui a habilidade de ser e
saber-se tão pequeno e tão grande ao mesmo tempo,
neste momento de sua curta trajetória, encontra-se
Dica de leitura
O que se percebe claramente é que, apesar dos avanços, ainda existe muita coisa a ser realizada na área para que a Educação Ambiental assuma o lugar que merece nas políticas mundiais e locais. Leia mais sobre o assunto na obra:
CARVALHO, V. (org.) – Educação Ambiental Consciente. RJ: WAK, 2003.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 70
diante de uma terrível e fundamental responsabilidade:
a de saber-se responsável por seu futuro, o futuro dos
seus e de seu planeta. Um lugar por hora solitário, cuja
vida é indelével de sua constituição.
Pela primeira vez em nossas trajetórias, tanto a
vida quanto nós mesmos possuímos um elo profundo e
forte originado a partir da tomada de consciência de
nossa própria condição humana, sobre nossa finitude,
sobre a fragilidade da vida que insiste em todos os
cantos do planeta, por mais ameaçada que esteja.
Assim, é na descoberta de suas implicações ecológicas
que se ergue uma nova razão, carregada de afetos
outros, emocionada, a qual nos conduz à nobre missão
de proteger a vida e o lugar de onde surgimos, que nos
constitui e para onde iremos.
EXERCÍCIO 1
Que instituição criou, em 1994, o programa Nacional de
Educação Ambiental (PNEA)?
( A ) PNUD;
( B ) CONAMA;
( C ) IBAMA;
( D ) SEMA;
( E ) MEC.
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 71
EXERCÍCIO 2
O tratado “educação ambiental para sociedades
sustentáveis e responsabilidade global” foi elaborado
em que ano e em que conferência?
( A ) Em 1977, na Conferência de Tbilisi;
( B ) Em 1972, na Conferência de Estocolmo;
( C ) Em 2002, em Johanesburgo na Rio+10;
( D ) Em 1992, no Forum Global das Ongs;
( E ) Em 1997, na Rio+5, no Rio de Janeiro.
EXERCÍCIO 3
Qual foi a importância da inclusão do Meio Ambiente
como um dos temas transversais dos PCNs para a
Educação Ambiental?
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EXERCÍCIO 4
Como a Educação Ambiental se beneficiou da Lei
97954/99?
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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 72
RESUMO
Vimos até agora:
A Educação Ambiental, portanto, surge como
uma ferramenta da esperança, como uma
possibilidade de transcendência do ser
humano de seus conflitos com seu meio
ambiente;
Recentes descobertas astronômicas sobre a
dimensão do universo nos ensinam e nos
despertam sobre a aventura que vivenciamos
ao nos conscientizarmos sobre a finitude de
nossas dimensões vitais, ou seja, a Terra é
um planeta finito, com recursos limitados;
Mesmo que haja vida em outros planetas,
hipótese que vem sendo a cada dia mais
evidenciada, a maneira como a vida se
expressa na Terra é singular. Por estas razões
que se faz premente visualizarmos a Terra
como nossa pátria universal, como nosso lar
comum, com o qual temos o compromisso de
preservar a sua qualidade de vida para que as
gerações futuras tenham um mínimo de
qualidade de vida adequada a sua
subsistência;
Falar em Educação Ambiental, ou seja, de
uma educação que possua uma sensibilidade
e uma subjetividade apurada para a questão
ambiental, significa em trazer à tona um
debate ético, político, social, científico. A EA é
um processo de aprendizagem permanente
baseado na ética, no respeito a todas as
formas de vida, visando gerar mudanças na
qualidade de vida e maior consciência de
conduta pessoal, assim como contribuir para u-
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 73
ma harmonia entre seres humanos e destes
com outras formas de vida. Ou seja, é como
um exercício de uma ecologia da
solidariedade, onde assumimos o
compromisso ético com o próximo e com a
natureza;
A EA pode ser vista, também, como uma
educação política, com o objetivo nem
sempre explícito de criar novos hábitos e
comportamentos, para organizar populações
e grupos sociais, formular propostas de
melhoria ambiental, conquistar espaços e
participação nas decisões políticas públicas e
de desenvolvimento visando melhores
condições de vida para todos;
No mundo contemporâneo, observa-se um
fenômeno novo para a humanidade, estamos
de tal forma interligados que construímos
uma rede de informações de tal forma
elaborada, que esta circula por todos os
cantos do globo, de forma instantânea, quase
livre de barreiras, a velocidades cada vez
maiores, por medias cada vez mais
espontâneos, privados e pessoais.
O final de século evidencia que este cidadão
comum vive uma profunda crise que inclui,
sobretudo, uma revisão na sua própria
identidade. Sendo necessário romper-se e
estruturar-se diariamente em função das
novas e antigas questões que se apresentam.
Cercado por este emaranhado de informações
crescentes em complexidade, o sujeito
contemporâneo aparece para o observador
que consegue um distanciamento
transcendente, como um ser fragmentado, com
múltiplas identidades, amplas possibilidades de
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 74
ser e estar, agir e transformar o mundo.
Um dos resultados deste processo é o
aparecimento de um sujeito em crise,
desterritorializado, com sua identidade e
subjetividades nômades. Ao ser humano
contemporâneo, a ecologia se apresenta
como um novo universo ao qual suas
atitudes, opiniões, posturas e valores têm que
se readequar. Ela refaz e obriga a rever e
redefinir os limites do desenvolvimento
humano. Agora, é preciso arquitetar suas
ações à “sustentabilidade” de suas
transformações na natureza. A questão
ecológica nos abre, também, nos obriga a
reformular nossa identidade perante a natureza
e a nós próprios. Devido, sobretudo, à
iminência visível de um colapso sobre o
próprio futuro e à qualidade de vida
humanas. Indagações fundamentais da
condição humana são revisitadas: onde
estamos? De onde viemos? Para onde vamos?
São perguntas constantes da preocupação
ecológica;
Para Marcos Reigota, a problemática
ambiental está baseada no modelo de
sociedade que assumimos. Desta forma, o
que se propõe no debate ambientalista é a
revisão dos valores norteadores dos caminhos
e rumos dados à nossa civilização;
O debate ecológico inaugura um novo
universo informacional, mesclando-se com
outros grandes temas contemporâneos, tais
como fome, pobreza, reforma agrária,
abastecimento de água doce, transgênicos,
questões de impactos culturais sobre populações
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 75
indígenas, biopirataria, enfim, o debate está
tão emaranhado a nosso cotidiano que é
praticamente impossível separá-lo dos
grandes temas e problemas da atualidade;
A ecologia nos traz à tona uma nova
problemática que apresenta à sociedade uma
de suas faces obscuras, a sua competente
capacidade de autodestruição;
A intensa circulação dessas “novas”
informações “ecológicas” expõe os contornos
mais proeminentes dos nossos limites. O ser
humano reavalia a si próprio, seu fazer, seu
pensar sobre si, sobre o mundo que o cerca e
sobre o mundo que construiu. A ecologia
procura delimitar o lugar do humano, distinguir
seu espaço da natureza e, assim, refundar
limites para o fazer humano, outrora
rompidos em parte pelo humanismo;
A grave crise ambiental a que o planeta
assiste hoje pode ser entendida como fruto de
um processo histórico de relações
estabelecidas entre sociedade e natureza.
Tais relações vêm tecendo-se ao longo de
uma trajetória civilizacional, que traz em seu
bojo uma idéia unilateral de
desenvolvimento;
Para Layrargues, questão ambiental não é
propriamente uma “crise ambiental”, e sim
um dilema civilizacional, pois a civilização
ocidental encontra-se claramente diante da
escolha de qual princípio organizativo da vida
social lhes será mais adequado: a
racionalidade econômica ou ecológica;
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 76
O meio ambiente e a cultura são elos
inexoráveis de uma mesma realidade que
impõem seus desafios; Educação Ambiental é
vista como um meio para o desabrochar de
uma consciência que permanece dentro de
nós e que precisa ser despertada;
O surgimento da educação ambiental se dá a
partir do final da década de 60, sob a
influência da contracultura e dos movimentos
sociais que reivindicam uma melhor qualidade
de vida e questionam o padrão de
desenvolvimento da sociedade ocidental;
No cenário oficial, a Educação Ambiental é
lançada em 1972, na Conferência das Nações
Unidas para o Ambiente Humano, em
Estocolmo, Suécia. Assim, esta atividade
passa então a ser uma importante ferramenta
na construção de um futuro necessariamente
sustentável e comum a todos;
Na conferência de Belgrado (1975), como
ficou conhecido este primeiro marco, foram
formulados princípios e orientações para o
Programa Mundial de Educação Ambiental,
documento este conhecido como Carta de
Belgrado, que marca um passo importante
trazendo uma proposta ética alternativa para
a crise global;
Três anos depois de Estocolmo, foi criado o
PIEA – Programa Internacional de Educação
Ambiental, em conjunto com a UNESCO, que
atua promovendo cursos, programas de
capacitação e formação, eventos, além de
produzir informativos e publicações sobre o
assunto no mundo;
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 77
A partir daí, seguindo recomendações da
UNESCO e do PNUMA, foi organizada a
Conferência de Tbilisi (atual Geórgia, na ex –
URSS) em 1977, conhecida como a “Primeira
Conferência Intergovernamental Sobre
Educação Ambiental”, onde foram traçados os
principais fundamentos, recomendações,
objetivos e estratégias de ação;
Em Tbilisi, a Educação Ambiental foi definida
como sendo: “uma dimensão dada ao
conteúdo e a prática da Educação, orientada
para a resolução dos problemas concretos do
meio ambiente através de enfoques
interdisciplinares, e de uma participação ativa
e responsável de cada indivíduo e da
coletividade”;
No Brasil, o quadro, no entanto, era bastante
diferente. , a política brasileira desde cedo
mostrou-se avessa às tendências
preservacionistas mundiais, que eram
percebidas de forma antagônica, como
verdadeiras inimigas do desenvolvimento;
Após quase duas décadas de atraso, depois
de difíceis negociações e pressões
internacionais, durante a década de 80, o
Brasil começa a promover uma série de
medidas a fim de regulamentar a Política
Nacional de Meio Ambiente. Através da lei
federal no 6938, de agosto de 1981, aprova a
criação do SISNAMA, Sistema Nacional de
Meio Ambiente, do CONAMA, Conselho
Nacional de Meio Ambiente e do Cadastro
Técnico Federal de Atividades e Instrumentos
de Defesa Ambiental. Na lei 6938/81, a
Educação Ambiental aparece no Artigo 2o, item
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 78
X, onde se lê: “Educação Ambiental a todos
os níveis do ensino, inclusive a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para a
participação ativa na defesa do meio
ambiente”;
Em 1986, é realizado o I Seminário Sobre
Universidade e Meio Ambiente, na
Universidade de Brasília, onde surgem
importantes resoluções e sugestões, sendo
considerado como um dos primeiros e
principais documentos gerados por
experiências brasileiras;
A Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988, contendo um capítulo para
tratar a questão ambiental, onde pode-se ler
no capítulo VI, artigo 225, item VI: “Promover
a Educação Ambiental em todos os níveis e a
conscientização pública para a preservação do
meio ambiente”;
Em 1989, é criado o IBAMA, Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis, através da junção de
outros órgãos públicos. O IBAMA cria, então,
a Divisão de Educação Ambiental;
A ONU declara 1990, o Ano Internacional do
Meio Ambiente e o Brasil se prepara para
sediar o mais importante evento
governamental já ocorrido no país, a RIO –
92; a reunião contou com representantes de
182 países e 103 chefes de estado estiveram
presentes, aprovando cinco acordos oficiais
internacionais: A Declaração do Rio sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento ou Carta do
Rio; A Agenda 21; Declaração das Florestas;
Convenção – Quadro sobre Mudanças climáticas
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 79
e a Convenção sobre Biodiversidade;
Paralelamente ao evento oficial que ocorria
afastadamente, em local de acesso restrito,
no Rio-Centro, ocorreu o Fórum Global, como
ficou conhecido, reuniu cerca de 10.000
Organizações Não Governamentais (ONGs).
Foi o primeiro encontro popular a reunir
representantes de todas as partes do mundo
para discutirem seus problemas. Entre os
tratados, destaca-se o “Tratado de Educação
Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global”;
O dia 05 de Junho é oficialmente o dia
mundial do Meio Ambiente, embora todos
saibamos que todo dia é dia de se preocupar
com o meio ambiente em intenso estado de
degradação;
Em 94, o IBAMA cria o Programa Nacional de
Educação Ambiental (PNEA), lançando em 95
as “Diretrizes de Educação Ambiental” (DEA),
que prevê a criação do Programa de Estudos
e Pesquisas em Educação Ambiental (PEPEA),
que ainda não foi cumprido, assim como o
PNEA e o DEA, que faltam ser implementados
plenamente;
A RIO+5, em março de 97, conferência que
visava debater os avanços realizados nos
cinco anos após a RIO 92;
Em 97, também se celebrou a aprovação da
nova LDB - Lei de Diretrizes e Bases da
Educação. Esta coloca a Educação Ambiental
no currículo básico escolar como disciplina
pedagógica complementar aos 20% adicionais
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 80
de carga horária adicionados por lei para o
ensino básico. Para alguns educadores, esta é
considerada um retrocesso por colocar a
Educação Ambiental como uma disciplina a
mais, não correspondendo às premissas
sugeridas de interdisciplinaridade e
participação voluntária;
Em 98, em dezembro, ocorreu um grande
encontro internacional promovido pela
UNESCO/PNUMA em Thessaloniki, Grécia, que
reafirmou os conceitos de Tbilisi, destacando
a importância de ações locais de forma
contextualizada às realidades de cada
comunidade e a importância da
implementação das Agenda 21 locais de
forma conjugada aos processos de Educação
Ambiental, além de uma ampliação na rede
de comunicações entre educadores ambientais
a fim de aumentar o intercâmbio de
experiências;
O ano de 1999 é um ano marcado pela
consolidação das redes e de encontros
regionais, além de uma intensa produção de
coletâneas de artigos publicados em livros;A
Lei de Educação Ambiental, que regulamenta
a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, é
destinada à instituição da Política Nacional de
Educação Ambiental. A nova legislação a
define no artigo 1º, Capítulo I, da seguinte
forma: “Entende-se por educação ambiental
os processos por meios dos quais o indivíduo
e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos e habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do
meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e
sustentabilidade”;
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 81
Sociedade Brasileira de Educação Ambiental
(SBEA) tem congregado importantes atores e
grupos ambientalistas. O objetivo da SBEA é
promover eventos e criar um centro de
referencia ambiental. A lei nº 3.325
complementa a lei federal de nº 9795/99 e
dispõe sobre a educação ambiental, criando a
política e o programa estadual de educação
ambiental. Na legislação, esta prática
educativa é colocada oficialmente em todos
os níveis de ensino e passa a ser
implementada através de um “grupo
interdisciplinar de Educação Ambiental”,
formado por autoridades e profissionais de
distintas áreas;
Na esfera federal, também no final de 1999,
foram elaborados os Parâmetros Curriculares
Nacionais, em substituição aos currículos
mínimos das disciplinas do ensino médio, neste
documento, a Educação Ambiental é inserida
como um tema transversal em todas as
disciplinas, indo no sentido oposto ao da lei
estadual;
Em 2002, ocorre em Joanesburg, na África do
Sul, a III Conferência Internacional sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida
como a Rio+10. Este encontro foi o que
obteve o maior quorum entre fóruns de
debates promovidos pela ONU, contou com a
presença de 226 chefes de Estado. Neste, a
Educação Ambiental foi discutida
minimamente num grupo de trabalho liderado
pela comitiva brasileira, as nossas 100
melhores experiências foram apresentadas e
o Brasil despontou como liderança e
referência em questões ambientais no ponto
de vista jurídico e em Educação Ambiental;
Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 82
Em 2003, ocorreram dois importantes
eventos: o I Congresso Mundial de Educação
Ambiental em maio, na cidade de Espinho,
Portugal, e a III Conferência Ibero-americana
de Meio Ambiente e Desenvolvimento, em
junho, em Cuba;
Pela primeira vez em nossas trajetórias, tanto
a vida quanto nós mesmos possuímos um elo
profundo e forte originado a partir da tomada
de consciência de nossa própria condição
humana sobre nossa finitude, sobre a
fragilidade da vida que insiste em todos os
cantos do planeta, por mais ameaçada que
esteja. Assim, é na descoberta de suas
implicações ecológicas, que se ergue uma
nova razão, carregada de afetos outros,
emocionada, a qual nos conduz à nobre missão
de proteger a vida e o lugar de onde
surgimos, que nos constitui e para onde
iremos.
A Educação Ambiental e seus
Âmbitos de Atuação
Vilson Sérgio de Carvalho
AU
LA
3
Ap
res
en
taç
ão
De um modo geral, esta aula quer auxiliá-lo a compreender
melhor os três âmbitos de atuação da Educação Ambiental,
aprofundando o estudo de suas diferenças e semelhanças e
analisando algumas das principais estratégias utilizadas em cada
um deles a saber: Formal, Não Formal e Informal, considerando a
Educação na esfera presencial e à distância.
Através de exemplos práticos e definições concisas, você terá a
chance de entender com clareza não apenas como a EA se
apresenta nestes âmbitos, mas também seu potencial e
importância na formação de uma consciência ecológica individual
e coletiva comprometida com a construção de uma
sustentabilidade planetária.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Compreender melhor o potencial e a importância da Educação
Ambiental através de seus diferentes âmbitos;
Estudar diferenças e semelhanças nos âmbitos da Educação
Ambiental Formal, Não Formal e Informal; Analisar e classificar projetos de EA a partir de seu âmbito de
atuação e das ferramentas utilizadas; Examinar questões éticas relacionadas à prática do educador
ambiental nos diferentes âmbitos citados, considerando
exemplos práticos de atuação.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 84
As Esferas de Atuação em Educação
Ambiental
Já sabemos que existem três níveis operacionais
da Educação Ambiental correspondentes a sua esfera
de atuação: A Educação Ambiental Formal, a Não
Formal e a Informal. Nesta aula, concentrar-nos-emos
no estudo das duas primeiras sem deixar de considerar
o quanto a Educação Ambiental Informal se faz
presente nos projetos da área voltados para essas duas
esferas. Antes de considerar as peculiaridades de cada
uma, é preciso que se ressalte que independente de
onde a mesma se aplica, ambas possuem o mesmo
objetivo: permitir um novo olhar sobre a realidade
ambiental, através do qual a humanidade assuma uma
postura de integração e não de submissão do ambiente
as suas necessidades. Não importa se estamos
promovendo a Educação Ambiental numa escola, numa
empresa, num centro comunitário ou mesmo numa
praça, o objetivo maior é o oferecer às pessoas,
através de diferentes meios, a possibilidade de se
entenderem como organismos vivos de uma grande
teia da vida cuja preservação, através de ações
conscientes e responsáveis, é fundamental. Através de
tal conscientização, pretende-se, de uma forma mais
ampla, a construção de uma nova sociedade pautada
em novos padrões civilizatórios ecologicamente
sustentáveis.
Assim sendo, pode haver mudanças no público
alvo, na linguagem adotada, nos recursos utilizados ou,
até mesmo, nas estratégias de educação ambiental
adotadas, mas nunca em seu objetivo maior. Tal
advertência é importante no sentido de lembrar que
muitas atividades que aparentam ser de educação
ambiental não o são de fato. Camufladas de um
discurso ambientalista, muitas ações - ditas de
educação ambiental - têm objetivos bastante adversos
Dica do professor
Existem três níveis de Educação Ambiental nos quais você poderá atuar: - Educação Ambiental Formal ou Institucional desenvolvida em organizações diversas; - Educação Ambiental Não-Formal desenvolvida em comunidades e
- Educação Ambiental Informal reunindo várias possibilidades de atuação dentro e fora de instituições.
Importante
Cada um desses âmbitos possui suas peculiaridades, procure conhecer bem cada um deles e se possível atue em projetos diferentes para entender melhor suas dinâmicas.
As Esferas de Atuação em Educação Ambiental 84 A educação ambiental formal ou institucional 85 A educação ambiental não-formal 96 A educação ambiental informal 101 Palavras finais 103
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 85
dos que foram aqui elucidados tais como favorecimento
de interesses pessoais, atividades de marketing político
ou empresarial, adestramento ambiental ou, até
mesmo, de enriquecimento ilícito estão presentes em
vários pseudotrabalhos de Educação Ambiental. É
preciso estar atento para não cair em armadilhas e se
deixar usar por um projeto na área cujas proposições
teóricas pouco têm a ver com uma prática ambiental
efetiva. Do mesmo modo, uma série de trabalhos que
aparentemente nada tem a ver com Educação
Ambiental assume, em suas propostas uma nítida
preocupação com a valorização da vida em sua
complexidade. Por isso, como diz o ditado, também na
área de Educação Ambiental, “nem sempre aquilo que
parece é”.
A educação ambiental formal ou
institucional
A chamada Educação Ambiental Formal se
processa no âmbito de uma instituição ou organização
com regras próprias a partir de uma cultura específica.
Conforme esclarece a Lei 9795/99 ela diz
respeito à educação ambiental efetivada na educação
escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das
instituições de ensino públicas e privadas englobando:
Educação Básica:
Educação infantil;
Ensino fundamental e
Ensino médio;
II - Educação superior;
III - Educação especial;
IV - Educação profissional;
V - Educação de jovens e adultos.
Para refletir
Note como todos os âmbitos de ensino, inclusive o que se refere à educação especial, são
considerados legalmente como devendo inserir a Educação Ambiental em seus currículos.
Dica do professor
Muitas vezes, inúmeros programas que se intitulam como sendo de Educação Ambiental escondem interesses particulares de fins eleitoreiros e comerciais. É preciso ficar atento para não se deixar enganar. É importante não apenas ler o programa na íntegra, como também entender o contexto de onde este emerge a fim de evitar equívocos desagradáveis.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 86
Durante bastante tempo, tal âmbito de atuação
se referia basicamente à instituição escolar, hoje,
porém, percebe-se que a Educação Ambiental tem sido
promovida nas mais diferentes instituições,
particularmente em relação àquelas que investem na
qualidade de vida de seus funcionários ou assumem
sua responsabilidade social.
Entretanto, as grandes discussões nessa área
têm se dado na escola em função da necessidade de
preparar as novas gerações para uma atuação
ambiental mais consciente e crítica. Além disso,
discute-se cada vez mais a importância de que a
formação de novos profissionais contemple noções
básicas de Educação Ambiental, destacando como cada
profissão pode contribuir na luta por uma ambiente
mais saudável. Dentro da própria academia,
especialmente nos idos de 1990, começaram a surgir
diferentes Grupos e Programas que tinham senão
diretamente, pelo menos enquanto linhas básicas de
ação, a inclusão de estudos e pesquisas sobre as
questões relacionadas à dinâmica homem x meio
ambiente, conferindo à Educação Ambiental um certo
lugar de destaque, existindo inclusive uma proposta
para inclusão da Ecologia como disciplina do currículo
básico de algumas universidades, como é o caso da
UFRJ. O que está em xeque é o papel do educador - tão
desvalorizado neste país - na reorganização da
sociedade baseada nos princípios da justiça social e
democracia. Na medida em que pretende garantir um
meio ambiente sadio para todos os tipos de vida
existente no planeta, inclusive o homem, a Educação
Ambiental se converte num apelo à seriedade do
conhecimento, através da busca de propostas concretas
e eficazes de aplicação das ciências, e da recriação de
valores perdidos ou jamais alcançados (Ab’Saber,
1993).
Quer saber mais?
Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por exemplo, além de dois grupos que se dedicam diretamente ao tema: o EICOS (Estudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social) no Instituto de Psicologia, e o GEA (Grupo de Estudos em Educação Ambiental) na Faculdade de Educação. A maior parte de seus diferentes cursos - tanto de graduação, como de pós-graduação – incorpora, em suas temáticas, linhas de pesquisa voltadas para a problemática ambiental; o que pode ser comprovado especialmente através do exame de disciplinas eletivas com enfoques específicos e das
diferentes pesquisas realizadas, que se dedicam ao estudo da relação entre o homem e seu meio ambiente.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 87
Existem, ainda, muitas discussões sobre como a
Educação Ambiental deve se inserir na instituição
escolar. Teme-se como foi o caso da proposta conjunta
do MEC e da CETESB expressa no documento: Ecologia:
Uma proposta para o ensino de 1º e 2º graus (1979) -
nitidamente reducionista e atrasada em relação aos
pressupostos internacionais sobre a questão (Dias,
1991) – que encarava a Ecologia como uma disciplina
compartimentalizada, relevando basicamente os
aspectos naturais e biológicos do meio ambiente que se
pretenda minimizar e desvirtuar o verdadeiro conteúdo
abrangido pela temática ambiental - em suas
dimensões social, política e cultural. Segundo a
comunidade ambientalista criticou e ainda critica,
propostas dessa natureza, em vez de contribuir para
um maior desenvolvimento da Educação Ambiental no
contexto nacional, acabavam se constituindo como um
dos maiores bloqueios à compreensão da mesma,
impedindo-a de sair da difundida concepção “verde pelo
verde”, para assumir outra de maior amplitude sócio-
ambiental, mais condizente com sua realidade.
É fato que a Educação Ambiental foi introduzida
no Brasil através do ensino de Ecologia em âmbito
curricular das ciências físicas e biológicas dentro de
uma postura mais conservacionista (Guevara, 1994);
no entanto, é preciso superar essa herança e
possibilitar uma compreensão mais ampla de sua
proposta à luz dos princípios e recomendações das
conferências internacionais, o que de certa forma,
inclusive, já se encontra assegurado pelo parecer
226/87 do Conselho Federal de Educação sobre a
necessidade de um enfoque interdisciplinar para a
Educação Ambiental. Conforme explicita Limoeiro
(1991): “a Educação Ambiental não é uma nova
disciplina para ser ensinada nas escolas, mas sim um
processo educativo que deve permear todas as
disciplinas e todos os projetos de desenvolvimento
Para pesquisar
Na sua escola ou na de seu filho, como a Educação Ambiental é trabalhada? Procure conhecer como se dá o processo de sensibilização ambiental ou até que ponto o mesmo é um tanto ausente.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 88
onde apareça a temática ambiental (...) busca informar
e formar uma nova mentalidade, no sentido de
despertar nos homens a responsabilidade que lhes cabe
individual e coletivamente na conservação do meio
ambiente” (Limoeiro, R., 1991: 18).
A Lei 9795/99, de 27 de abril de 1999, que
instituiu no país a Política Nacional de Educação
Ambiental, reafirmou o imperativo de que a Educação
Ambiental deva ser trabalhada de forma interdisciplinar
e integrada nos diferentes níveis e modalidades de
ensino; bem como o entendimento desta como um
direito coletivo e sua prática viabilizada através do
estímulo à participação coletiva e individual de todo
cidadão. Esta lei abafou a discussão anterior na medida
em que veta o tratamento da Educação Ambiental
enquanto uma disciplina (MEC/COEA, 2000), muito
embora, de vez em quando propostas com tal
concepção retrógrada ainda venham à tona.
Devido a sua abordagem holística e integradora,
a Educação Ambiental (EA) vem sendo trabalhada nas
escolas de maneira mais sensível nos PCNs, através da
concepção do meio ambiente como um tema
transversal (vol. 9), na verdade, um dos seis temas
transversais definidos em função de quatro critérios
básicos: urgência social; questões de abrangência
nacional; possibilidade de ensino/aprendizagem na
educação fundamental e, por fim, o favorecimento da
compreensão da realidade e da participação social
(tomada de posicionamento frente a questões que
interferem na vida coletiva). Os outros temas
selecionados foram Ética; pluralidade cultural; saúde;
orientação sexual e temáticas locais; sendo reservado a
cada um desses temas uma parte específica dos PCNs
(vol. 8).
Dica do professor
Sobre os PCNs: Segundo Lopes (1999), a primeira versão dos PCNs foi elaborada em 1995. No ano seguinte, ela foi encaminhada a 400 professores das áreas de conhecimento e especialistas da educação para análise e só posteriormente é que se produziu a segunda e atual versão ampliada dos PCNs.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 89
Levando em consideração os critérios acima, não
é difícil entender por que a temática ambiental foi
escolhida para integrar os temas transversais dos PCNs,
tendo em vista a gravidade da questão ambiental com
relação ao momento em que vivemos e a urgência de
formar uma consciência ecológica para garantir a
sobrevivência da humanidade. Criados pelo MEC, os
PCNs, tal como conhecemos hoje, tiveram sua versão
definitiva em 1998, podendo ser entendidos como um
conjunto de proposições elaboradas para servirem de
base não apenas para a elaboração e revisão das
políticas de currículo dos Estados e Municípios, mas
também para orientação dos próprios investimentos
que serão feitos no sistema educacional, propondo
princípios pedagógicos e metodológicos a serem
observados pelas instituições de ensino da rede pública.
O que se pretende nessa esfera, particularmente
na instituição escolar, é o reconhecimento tanto de que
toda Educação só é verdadeiramente completa se leva
em consideração a dimensão ambiental, assim como o
fato de que a Educação Ambiental é uma dimensão
essencial do processo pedagógico auxiliando na
construção de nossa identidade e alteridade (Loureiro,
2004; Sato, 2001).
Entre as diferentes ações implementadas nas
instituições de ensino com essa finalidade, podemos
citar:
Elaboração do Projeto Político Pedagógico da
Instituição sensível às questões de cunho
socioambiental;
Incentivo à elaboração de projetos
interdisciplinares onde a preocupação
ambiental esteja presente;
Realização de atividades variadas relacionadas
aos desafios socioambientais da área onde a
escola se situa tais como a questão do lixo, eco
Dica do professor
Procure consultar os PCNs, de forma particular o volume que trata do meio ambiente enquanto um dos temas transversais. Analise seu conteúdo e observe até que ponto o mesmo contribui para a consolidação da Educação Ambiental Formal.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 90
nomia de água, violência, desrespeito ao
patrimônio local, queimadas.
Promoção de cursos de formação e
aperfeiçoamento na área ambiental de modo
a sensibilizar professores e alunos para esta
temática;
Realização de palestras na instituição escolar
por parte de profissionais envolvidos na área;
Visitas guiadas a áreas de preservação
ambiental ou a projetos de Educação
Ambiental em andamento com alunos e
professores.
Estas são apenas algumas entre várias outras
idéias que poderiam ser desenvolvidas com o apoio da
equipe escolar. Aos professores em particular, vale
reforçar a idéia de que é fundamental saber cativar o
aluno para que ele seja receptivo às informações e
aprenda a transmiti-las posteriormente. Por isso,
qualquer estratégia que venha promover a integração
e a reflexão dos participantes sobre o tema
socioambiental são bem-vindas.
Entre estas, poderíamos destacar:
Desenvolver técnicas de teatro, jogos,
músicas e dinâmicas de grupo (brincadeiras);
Aplicar exercícios de ritmos, relaxamento e
respiração para despertar os sentidos de
observação e o desenvolvimento e equilíbrio
corporal;
Utilizar jogos verbais que trabalham com a
palavra - de gravuras, propagandas, jornais,
histórias em quadrinhos, música e livros;
Fazer atividades que envolvam o diálogo,
trabalhando a linguagem oral, a narração dos
fatos, nas mais diferentes formas de
construção tais como conto, poesia, texto
informativo e outros;
Dica do professor
Desenvolva atividades extracurriculares: Além das atividades desenvolvidas em sala de aula ou dentro da escola, vale a pena pensar em atividades extracurriculares como visitas guiadas a algum parque, área de proteção ambiental ou, ainda a um tipo de projeto de Educação Ambiental em andamento. Existem
profissionais treinados neste tipo de atividade. Se informe e leve a sua turma.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 91
Organizar grupos que gostem de plantar
árvores, hortas e jardins;
Promover concursos de poesias sobre o tema;
Elaboração de textos, cartazes e mesmo
músicas dando asas à imaginação para a
construção do conhecimento;
Formular perguntas que ajudem a escrever
sobre o assunto, que podem inclusive serem
aproveitadas sob a forma de um jogo;
Promover passeios ecológicos aprendendo
com a natureza.
Evidentemente que todas essas estratégias
podem ser aproveitadas no contexto ecológico voltadas
para o estímulo e desenvolvimento da Educação
Ambiental, de uma forma a promover, através da
integração do grupo e sensibilização para a causa
ecológica, uma responsabilização coletiva pela crise
ambiental que o ser humano atravessa. Cada uma
dessas estratégias possui vantagens e desvantagens e
devem ser adaptadas à realidade de cada escola, ou
ainda, de cada sala de aula, que por ser uma realidade
única, favorece mais a algumas do que outras.
Para obter novas idéias de trabalhos em grupo,
sugerimos que você consulte a tabela das páginas
seguintes divulgada pela UNESCO/ UNEP/IEEP (2000),
situando-as sob esse prisma:
Estratégia Ocasião para Uso Vantagens/Desvantagens
Discussão em
classe (grande
grupo).
Permite que os
estudantes exponham
suas opiniões
oralmente a respeito
de determinado
problema.
Ajuda o estudante a
compreender as questões;
Desenvolve autoconfiança
e expressão oral;
Podem ocorrer
dificuldades nos alunos de
discussão.
Importante
Analise a tabela das páginas seguintes e busque desenvolver, pelo menos, uma prática ou exercício na área ambiental a partir da mesma.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 92
Discussão em
grupo (pequenos
grupos com
supervisor-
professor).
Quando assuntos
polêmicos são
tratados.
Estímulo ao
desenvolvimento de
relações positivas entre
alunos e professores.
Mutirão de idéias
(atividades que
envolvam pequenos
grupos, 5-10
estudantes para
apresentar soluções
possíveis para um
dado problema,
todas as sugestões
são anotadas. Tempo
limite de 10 a 15
min.).
Deve ser usado como
recurso para encorajar
e estimular idéias
voltadas à solução de
um certo problema. O
tempo deve ser
utilizado para produzir
as idéias e não para
avaliá-las.
Estímulo à criatividade, à
liberdade;
Dificuldades em evitar
avaliações ou julgamentos
prematuros e em obter
idéias originais.
Trabalho em grupo:
envolve a
participação de
grupos de 4-8
membros que se
tornam responsáveis
pela execução de
uma tarefa.
Quando se necessita
executar várias tarefas
ao mesmo tempo.
Permite que os alunos se
responsabilizem por uma
tarefa por longos períodos
(2 a 5 semanas) e
exercitem a capacidade de
organização;
Deve ser monitorada de
modo que o trabalho não
envolva apenas alguns
membros do grupo.
Debate: requer a
participação de dois
grupos para
apresentar idéias e
argumentos de
pontos de vista
opostos.
Quando assuntos
extrovertidos estão
sendo discutidos e
existam propostas
diferentes de soluções.
Permite o
desenvolvimento das
habilidades de falar em
público e ordenar a
apresentação de fatos e
idéias;
Requer muito tempo de
preparação.
Questionário:
desenvolvimento de
um conjunto de
questões ordenadas
a ser submetido a
um determinado
público.
Usado para obter
informações e/ou
amostragem de
opinião das pessoas
em relação à dada
questão.
Aplicado de forma
adequada, produz
excelentes resultados;
Demanda muito tempo e
experiência para produzir
um conjunto ordenado de
questões que cubram as
informações requeridas.
Reflexão: o oposto
do mutirão de idéias.
É fixado um tempo
aos estudantes para
que sentem em
algum lugar e pensem
acerca de um
problema específico
Usado para encorajar
o desenvolvimento de
idéias em resposta a
um problema. Tempo
recomendado de 10 a
15 min.
Envolvimento de todos;
Não pode ser avaliado
diretamente.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 93
Imitação: estimula
o estudante a
produzir sua própria
versão dos jornais,
dos programas de
rádio e Tv.
Os estudantes podem
obter informações de
sua escolha e levá-las
para outros grupos.
Dependendo das
circunstâncias e do
assunto a ser
abordado, podem ser
distribuídos na escola,
aos pais e à
comunidade.
Forma efetiva de
aprendizagem e ação
social.
Projetos: os alunos,
supervisionados,
planejam, executam,
avaliam e
redirecionam um
projeto sobre um
tema específico.
Realização de tarefas
com objetivos a serem
alcançados a longo
prazo, com
envolvimento da
comunidade.
As pessoas recebem e
executam o próprio
trabalho, assim como
podem diagnosticar falhas
nos mesmos.
Exploração do
ambiente local:
prevê a
utilização/exploração
dos recursos locais
próximos para
estudos,
observações,
caminhadas.
Compreensão do
metabolismo local, ou
seja, da interação
complexa dos
processos ambientais
à sua volta.
Agradabilidade na
execução;
Grande participação de
pessoas envolvidas;
Vivência de situações
concretas;
Requer planejamento
minuncioso.
FONTE: UNESCO/UNEP/IEEP
No âmbito organizacional (englobando empresas
e outras instituições), por sua vez, muitas propostas
em Educação Ambiental se confundem com programas
de segurança no trabalho, de socialização (área de RH)
e até de ergonomia. Como já foi dito antes, vários
desses programas possuem necessariamente
componentes ambientais, mas isso não significa que os
mesmos são de Educação Ambiental. Para que um
projeto ou programa qualquer mereça tal rótulo, é
importante que algumas condições essenciais sejam
respeitadas.
Entre estas, o entendimento da Educação
Ambiental como elemento mediador de interesses e
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 94
conflitos dos atores que atuam no meio ambiente
através do diálogo e do questionamento; o estímulo a
uma compreensão do meio ambiente no sentido amplo,
considerando suas diferentes dimensões (culturais,
políticas, biológicas e sociais) assim como da dinâmica
entre elas; do entendimento crítico e histórico das
relações entre educação, sociedade, trabalho e meio
ambiente e, finalmente, na capacitação de pessoas
aptas a se organizarem e intervirem em diferentes
espaços pela promoção e valorização da vida dentro de
uma perspectiva ecológica (Quintas, 2000; Sato, 2001
e Loureiro, 2004).
Infelizmente, na maioria das vezes, a Educação
Ambiental, assim denominada, efetuada pelas
empresas, é praticada fora de seus limites, geralmente
nas escolas ou outras áreas da comunidade onde se
situa ou em outra área estrategicamente determinada,
como aquela de onde emerge a maior parte de seus
funcionários. Resultado da pressão de partes
interessadas – geralmente o poder público na figura
dos órgãos de controle ambiental – ou de estratégias
para fidelização do cliente, as ações de Educação
Ambiental viabilizadas pelas empresas nem sempre são
acompanhadas de um planejamento estratégico
essencial, onde a continuidade das mesmas, ou mesmo
o público interno, seja uma preocupação.
Dentro da empresa, um programa de Educação
Ambiental tanto não deveria ser desenvolvido
exclusivamente em seu entorno como também não
poderia ficar restrito a um programa de treinamento
visando a sensibilização e motivação dos funcionários, e
sim atuar de forma ativa no próprio posto de trabalho
dos operadores. Não devemos esquecer que qualquer
processo de mudança começa com a conscientização
individual. Todo funcionário tem que estar consciente
do por que, o que, quando, onde, quem e como em
Quer saber mais?
A participação das empresas: Durante a realização
da 5ª Conferência Latino-Americana Sobre Meio Ambiente (Ecolatina 2002), ficou claro que as empresas contribuem, cada vez mais, para a implementação de projetos de Educação Ambiental no país, destinando recursos para programas de preservação da natureza, capacitação de multiplicadores e ações junto às comunidades visando à formação de crianças e adolescentes.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 95
relação as suas tarefas, portanto um eficaz programa
de conscientização, e área ambiental não é uma
exceção, não pode ser apenas de caráter informativo e
sim ter uma postura construtiva, onde há o
envolvimento de todos na discussão das questões
ambientais da empresa, seu desempenho ambiental e o
próprio desempenho operacional Somente assim, de
forma dinâmica e participativa, serão maiores as
chances dos empregados identificarem as questões
ambientais no setor empresarial e proporem juntos
soluções para estas de modo não apenas corretivo, mas
também e, principalmente, preventivo.
Entre as estratégias para se trabalhar a
Educação Ambiental nas organizações, poderíamos
citar:
Promoção de dinâmicas de grupos e jogos
cooperativos, onde as questões
socioambientais sejam uma prioridade;
Análise de textos e vídeos que possibilitam a
integração, a motivação e a tomada de
atitude de forma crítica e participativa em
relação às questões ambientais;
Desenvolvimento de projetos de educação
ambiental;
Diagnóstico da percepção ambiental de
empregados;
Promoção de cursos e palestras de
sensibilização e mobilização ambiental;
Elaboração de boletins, jornais e folders,
assim como de apostilas e cartilhas sobre
Meio Ambiente e a responsabilidade social
empresarial;
Incentivo à participação dos funcionários em
atividades relacionadas ao ecoturismo, trilhas
ecológicas e outras que os aproximem da
natureza;
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 96
Estabelecimento de parcerias com
organizações governamentais e não
governamentais para o desenvolvimento
conjunto de atividades na área e outros.
Essas são, evidentemente, algumas idéias na
área que podem ser enriquecidas e como foi dito antes,
no que se refere ao contexto escolar, serem adaptadas
à realidade de cada instituição.
A educação ambiental não-formal
Esta modalidade de Educação Ambiental é
aquela que se volta para o espaço da rua, da
comunidade em geral, abrangendo não uma, mas
varias instituições como as igrejas, as escolas, as
associações de moradores, grupos de rua, enfim a
sociedade civil organizada em suas múltiplas
expressões. Uma vez que não se trabalha com uma
instituição em particular, como é o caso da proposta de
Educação Ambiental Formal, não existe nesse nível uma
organização e um planejamento fechado que se baseie
em regras definidas. No campo comunitário as
possibilidades do planejamento sofrer a ação de
intempéries é constante, sendo inclusive difícil cumprir
os prazos dos órgãos de fomento a trabalhos dessa
natureza sujeitos a dificuldades que vão da dificuldade
de encontrar uma linguagem comum ao aprendizado de
conviver com o poder paralelo do tráfico e outros.
O artigo 13 da Política Nacional de Educação
Ambiental (Lei 9795/99) define Educação Ambiental
Não-Formal como:
as ações e práticas educativas
voltadas à sensibilização da
coletividade sobre as questões
ambientais e à sua organização e
participação na defesa da qualidade do
meio ambiente.
Dica do professor
Na hora de optar pelo âmbito de Educação Ambiental onde você gostaria de se incluir, não se deixe levar por informações falsas do tipo: A educação ambiental formal é mais fácil de trabalhar do que a não-formal, Tal afirmativa, apesar de considerar a complexidade da educação ambiental não-formal, pode conduzir a equívocos uma vez que cada área tem seus desafios e problemas.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 97
Determinando ao poder público nos níveis
federal, estadual e municipal seu incentivo, esta inclui
em seu rol de atividades:
I - a difusão, por intermédio dos meios
de comunicação de massa, em espaços
nobres, de programas e campanhas
educativas, e de informações acerca
de temas relacionados ao meio
ambiente;
II - a ampla participação da escola, da
universidade e de organizações não-
governamentais na formulação e
execução de programas e atividades
vinculadas à educação ambiental não-
formal;
III - a participação de empresas
públicas e privadas no
desenvolvimento de programas de
educação ambiental em parceria com a
escola, a universidade e as
organizações não-governamentais;
IV - a sensibilização da sociedade para
a importância das unidades de
conservação;
V - a sensibilização ambiental das
populações tradicionais ligadas às
unidades de conservação;
VI - a sensibilização ambiental dos
agricultores;
VII - o ecoturismo.
Vale dizer que muitas das estratégias
anteriormente citadas no que se refere à Educação
Ambiental formal servem a este âmbito, desde que
entendidas numa visão comunitária.
Esse nível de atuação, normalmente, requer
uma equipe maior de trabalho e a humildade de que
não será possível resolver todos os problemas da
comunidade através da Educação Ambiental. É
fundamental definir junto com a comunidade, inclusive
com a inclusão de alguns de seus membros na equipe,
quais serão as prioridades de atuação e como serão
desenvolvidas as atividades mitigadoras dos problemas
encontrados.
Dica do professor
Observe cuidadosamente o artigo citado e perceba como esse âmbito é amplo, envolvendo as diferentes instituições de uma comunidade, inclusive as empresas e as escolas anteriormente citadas no âmbito formal.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 98
Pode se dizer que, de um modo geral, a
comunidade é o foco do trabalho de Educação
Ambiental não formal. Mais do que um mero
agrupamento de pessoas em uma localidade qualquer,
a comunidade representa um grupo de pessoas, mais
ou menos entrosado, que comungam do mesmo modo
das facilidades e desvantagens de residir em
determinada localidade tendo ali que sobreviver.
Através de instituições próprias como as associações,
clubes e grupos buscam resolver seus problemas,
particularmente no que se refere à qualidade de vida e
à subsistência econômica através de um maior
fortalecimento político. Segundo Souza (1993), existem
seis aspectos comunitários fundamentais a se
considerar e que entendo como fundamentais para
compreender os processos de interação entre a
comunidade humana e o meio ambiente: 1) os
aspectos físicos da área, englobando sua localização
espacial, comunicação com outras áreas, caracterização
territorial e sua população; 2) os aspectos históricos da
comunidade; 3) os aspectos econômicos, como as
condições de vida e de trabalho da população; 4) os
aspectos políticos, reunindo as relações de poder
existentes nos diferentes grupos e na própria
comunidade como um todo; 5) os aspectos culturais,
considerando as variadas formas de expressão cultural
e as visões de mundo da comunidade baseadas em
seus interesses e aspirações; 6) os aspectos sociais,
que envolvem os serviços sociais básicos como
educação, saúde, transporte, segurança e
comunicação. Todos esses aspectos pertinentes à
realidade comunitária estão intimamente ligados entre
si e com o meio ambiente onde se apresentam e se
constituem. Um projeto de Educação Ambiental
aplicado a uma comunidade precisa considerar estes
aspectos em sua totalidade de uma forma integrada, a
partir de uma abordagem interativa. É um grande erro
pensar a dimensão ambiental apenas do ponto de vista
Dica do professor
Tome a análise de Souza como uma espécie de roteiro para conhecer uma localidade em suas múltiplas dimensões: física, histórica, econômica, política, cultural e social. Consiga o máximo de informações que
puder sobre a localidade onde pretende atuar sobre essas dimensões e você verá o quanto isso auxiliará em seu trabalho.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 99
territorial ou geográfico, ignorando os fatores
psicossociais que estão indubitavelmente presentes e
são determinantes como já vimos em alguns processos
ecológicos. Como nos lembra D’Ávila & Maciel (1992), o
meio ambiente “é um processo de interação sócio-
cultural, gerado pelo homem e a natureza” (Maciel &
D’Ávila, -1992: 72). Neste contexto, os grupos, as
comunidades, e a própria sociedade em geral, poderiam
ser encarados como a materialização da dinâmica
homem x meio.
A parceria com as lideranças locais, moradores
antigos da área e comerciantes pode fortalecer o
projeto e, principalmente, ajudar o educador ambiental
e entender a história da comunidade onde as atividades
serão desenvolvidas. Do mesmo modo, é fundamental
conhecer previamente a história da localidade, seus
períodos de desenvolvimento e sua realidade atual do
ponto de vista econômico, político, biológico. Dados
podem ser obtidos não apenas na própria comunidade,
mas também nas prefeituras e subprefeituras onde
mapas locais podem ser acessados e copiados. No caso
do Rio de Janeiro, existe, na biblioteca do Estado, um
setor dedicado apenas à história dos bairros, procure
em sua região se existe algo dessa ordem, o que
poderá ajudar muito o trabalho de reconhecimento local
em termos históricos, assim como de seus potenciais e
dificuldades.
A Educação Ambiental pode ser entendida como
um elemento facilitador do desenvolvimento
comunitário, levando a comunidade a entender melhor
o ambiente onde vive e sua força comunitária rumo à
transformação gradual daquele ambiente no sentido de
preservá-lo ou recuperá-lo tanto no âmbito rural
quanto urbano. A partir de uma visão estratégica para
o Desenvolvimento Local, como um processo dinâmico
de transformação, a educação ambiental pode
Importante
É sempre bom lembrar que esta é a visão de meio ambiente com a qual estamos trabalhando nesse curso. Ou seja, o meio ambiente como resultado de um processo de interação sociocultural entre a humanidade e a natureza à sua volta, onde uma afeta mutuamente a
outra.
Dica do professor
Parcerias com lideranças e moradores locais, desde que mobilizadas para os ideais do projeto e não em função de interesses pessoais são bem-vindas, pois representam um diferencial positivo na realização do trabalho. Um último alerta se refere ao fato de cuidar para que dificuldades pessoais entre as lideranças escolhidas para integrar o projeto e a comunidade não atrapalhem o andamento das atividades. Nesse caso é melhor não misturar as coisas.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 100
incentivar práticas de autogestão comunitária, de modo
que as comunidades possam desenvolver seus
potenciais e competências, preservando seu patrimônio
ambiental, superando as limitações e assegurando uma
melhoria contínua de qualidade de vida dos seus
indivíduos.
Entre as atividades comunitárias de Educação
Ambientais, poderíamos citar:
Promoção de cursos e palestras
relacionadas à área ambiental em
instituições locais como igrejas e escolas
da comunidade;
Desenvolvimento em parceria com
empresas locais de projetos de
reciclagem, reflorestamento, economia
de água e outros;
Prática de atividades de sensibilização
ambiental em campo aberto (praças) ou
em instituições comunitárias tais como
dramatizações, exposição de filmes e
fotos, produção de textos.
Desenvolvimento de programas de rádio
e/ou TV local (comunitárias) de
programas com apelo socioambiental;
Estímulo a atividades lúdicas e de cunho
artístico que valorizem o ambiente do
entorno onde a comunidade está
inserida; criação de fóruns de
participação local, com ampla
participação comunitária para decidir
sobre seu processo de autogestão
ambiental;
Estímulo a reuniões com entidades
governamentais e não governamentais
sobre os problemas socioambientais
vividos, assim como de outras atividades
de fortalecimento político da comunidade.
Importante
Educação Ambiental e Desenvolvimento Por seu potencial mobilizador e
conscientizador dos valores humanos e ambientais que uma instituição em particular ou toda uma comunidade reúne, a Educação Ambiental pode ser entendida como um elemento de promoção do desenvolvimento local. Ao se unir para resolver problemas ambientais, a comunidade pode se fortalecer politicamente, redescobrir sua força e resolver outras questões pendentes na comunidade.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 101
E várias outras atividades cuja lista seria grande
demais para caber em uma apostila.
A educação ambiental informal
Esta modalidade de Educação Ambiental pode
ocorrer tanto no âmbito formal quanto no não formal. O
que a define como um âmbito particular é sua
temporalidade. Geralmente, diz respeito à prática de
atividades pontuais que não necessariamente estão
inclusas em um Programa de Educação maior tais
como:
Panfletagem;
Participação esporádica em programa de
rádio e tv;
Criação de um jornal/informativo ambiental;
Campanhas de conscientização ecológica;
Produção de uma cartilha de educação
ambiental.
Enfim, tratam-se de atividades esporádicas de
Educação Ambiental realizadas no âmbito formal e não
formal que tem resultado, mas não estão
necessariamente presas a um programa ou projeto
maior com o compromisso de continuidade.
Veja um exemplo do conteúdo de panfletos e/ou
cartazes que certamente você já recebeu nem sempre
com os resultados esperados.
Algo do tipo: “O que você pode fazer para ajudar
o meio ambiente?” ou “Um novo ambiente é minha
responsabilidade” seguido de algo assim:
EM CASA:
Evitar o desperdício (água, luz e papel);
Importante
A Educação Ambiental Informal não deve ser confundida como uma forma desorganizada de se promover a Educação Ambiental. Muito ao contrário. O que marca essa modalidade de Educação Ambiental é sua esporacidade, uma vez que ela tanto pode integrar programas desenvolvidos nos dois âmbitos já mencionados, como pode se resumir a alguma tentativa isolada e temporária de promover uma sensibilidade para as
questões ambientais. Independente disso não se pode negar o seu valor, uma vez que ainda que descompromissada de uma continuidade essa modalidade de Educação Ambiental lança sementes que podem dar frutos.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 102
Comprar produtos de empresas que investem
em ações sociais;
Jogar no lixo só o que não puder ser
aproveitado e separar para reciclagem;
Recuse embalagens desnecessárias e corte
um terço da montanha de lixo;
Comprar alimentos a granel (não levam
embalagens dispensáveis);
Comprar refil para seus produtos de higiene e
limpeza;
Só compre embalagens recicladas;
Use detergente biodegradável;
Use panos em vez de toalhas de papel;
Reduza o tempo do banho;
Feche as torneiras;
Não jogue lixo no vaso sanitário;
Não use esguicho quando limpar a calçada;
Leve pilhas usadas aos postos de coleta;
Não desperdice comida;
Deixe o carro em casa um dia por semana;
Não jogue produtos como tinta diretamente
no chão pois ele agride o solo.
NA RUA:
Cuidar para não poluir as ruas;
Examinar se os poluentes lançados por seu
automóvel estão de acordo com as normas
fixadas pelos órgãos competentes;
Fazer coleta seletiva do lixo;
Não jogar lixo em terrenos baldios;
Arborizar;
Cuidar dos terrenos baldios;
Preservar os monumentos;
Valorizar o ambiente construído através de
ações individuais e coletivas.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 103
NO BAIRRO:
Não faça poluição sonora e visual (Ex.: pichar
muros e paredes);
Não polua o ar;
Lute pela implantação da coleta seletiva;
Faça campanhas de conscientização
ambiental;
Cuidar das praças, parques e áreas de lazer;
Fazer abrigos nos pontos de ônibus;
Fazer campanhas anti-tabagismo;
Não queimar folhas e restos de gramas;
Não compre animais silvestres;
Não use produtos descartáveis.
Essas e outras mensagens são importantes, pois
deixam “o seu recado”. Contudo, podem ser ampliados
através de Programas mais consistentes de Educação
Ambiental Formal e Não Formal que os aprofunde e
auxilie a população em sua concretização. Não adianta
apenas jogar o lixo na lata de lixo, mas saber por que
isso é importante, o que isso significa e porque todos
devem fazê-lo e não apenas eu. Nem sempre essas
explicações estão presentes em ações desse âmbito.
Palavras finais
Como foi aqui salientado, para atuar com
segurança nessas esferas, é fundamental conhecer bem
a realidade na qual o trabalho será desenvolvido. Isso
implica conhecer sua história e desenvolvimento; suas
regras básicas de funcionamento e organização
relacional e funcional, sua administração atual e
principalmente o espaço da mesma. É importante saber
se já existiram projetos anteriores na área ambiental
desenvolvidos e, em caso positivo, ter consciência do
modo como estes foram implementados e quais foram
seus resultados. No caso de projetos malsucedidos, o
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 104
trabalho do educador ambiental será mais complicado
no sentido de romper com os ranços do trabalho
anterior.
Esse momento inicial referente à coleta de
dados, a fim de traçar o perfil da instituição a ser
trabalhada, deve ser feito com calma a fim de evitar
problemas futuros. Consultas a documentos antigos e
recentes, entrevistas com funcionários significativos e
acesso a todos os espaços físicos da organização são
ações fundamentais nesse primeiro momento. Se
possível, utilize instrumentos como gravadores,
máquinas de fotografia e filmadora. Caso esse material
não seja viável ou de utilização permitida, então, não
dispense um bom e velho caderno de anotações.
Antes de formular quaisquer estratégias, é
fundamental ter claro quais são as reais intenções e
limites da atuação do projeto de Educação Ambiental e
finalmente qual será o apoio financeiro para sua
realização. É fundamental adotar critérios éticos
durantes todas as fases do trabalho, desde o
planejamento até sua execução. A equipe precisa estar
bem integrada, consciente de sua responsabilidade e
limites de ação. O contato com a comunidade deve ser
intenso, inclusive com a participação de alguns de seus
integrantes nas equipe de trabalho e coordenação.
Todavia, é preciso tomar cuidado para que essa
proximidade com a comunidade não promova
dependência. A comunidade, ou os diferentes setores
da empresa ou escola, onde o trabalho será
desenvolvido, precisam ter a clareza de que são os
seus membros os principais mantenedores e
responsáveis pelo sucesso do projeto e não
necessariamente o grupo que iniciou os trabalhos e em
breve estará atuando em outra área ou local.
Por fim, é importante lembrar que a avaliação,
na qual eu incluo a auto-avaliação do trabalho, deve
Dica do professor
Consulte, além de livros, revistas, jornais antigos e outras publicações na área, as instituições governamentais. Nas prefeituras e subprefeituras, é possível ter acesso a mapas e projetos de desenvolvimento para a localidade. Os índices estatísticos podem auxiliá-lo na montagem de um perfil da comunidade. Demais dados devem ser buscados nos próprios relatos orais
dos moradores ou em centros culturais da comunidade onde o trabalho está sendo desenvolvido.
Dica do professor
Dedique tempo à avaliação. Esse é um item fundamental para o sucesso do projeto/programa em qualquer área de Educação. E já que estamos tocando nesse assunto, que tal realizar a auto-avaliação que vem a seguir. Antes, faça uma boa revisão dos pontos mais importantes daquilo que você aprendeu até agora.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 105
ser constante durante e após a realização do trabalho.
Se os erros forem percebidos a tempo, maiores
complicações poderão ser evitadas. Por isso, é preciso
não ter vergonha de reconhecer falhas e por vezes
recomeçar, sempre que isso for necessário.
EXERCÍCIO 1
O âmbito da educação ambiental que assume a
comunidade em sua complexidade como foco de
atuação é o da:
( A ) Educação ambiental não-formal;
( B ) Educação ambiental formal;
( C ) Educação ambientalista;
( D ) Educação libertadora freiriana;
( E ) Educação ambiental informal direta.
EXERCÍCIO 2
Assinale a alternativa correta no que se refere ao
trabalho de Educação Ambiental Não Formal.
( A ) É fundamental que o educador ambiental assuma
uma postura de aprendiz;
( B ) As parcerias com lideranças locais e moradores
antigos podem auxiliar muito o trabalho de
educação ambiental nas comunidades;
( C ) Antes de iniciar os trabalhos de educação
ambiental nas comunidades, é importante
conhecer o máximo possível de sua história;
( D ) A participação de alguns membros da
comunidade, inclusive nas equipes de
planejamento e coordenação, é bem-vinda ao
trabalho de educação ambiental;
( E ) Todas as respostas estão corretas.
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 106
EXERCÍCIO 3
Caracterize os três âmbitos da Educação Ambiental,
diferenciando-os através de exemplos: ____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 4
Em que esfera de Educação Ambiental se encaixaria a
Educação Ambiental a Distância? ____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
Existem três níveis operacionais da Educação
Ambiental correspondentes a sua esfera de
atuação: A Educação Ambiental Formal, Não
Formal e Informal;
Não importa o âmbito, local, ou instrumento
favorecedor da Educação, o objetivo maior é
o oferecer às pessoas a possibilidade de se
entenderem como organismos vivos de uma
grande teia da vida, cuja preservação através
de ações conscientes e responsáveis é
fundamental;
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 107
Camufladas de um discurso ambientalista,
muitas ações - ditas de educação ambiental -
têm objetivos distanciados desse objetivo
maior como o favorecimento de interesses
pessoais, atividades de marketing político ou
empresarial, adestramento ambiental ou, até
mesmo, de enriquecimento ilícito estão
presentes em vários pseudotrabalhos de
Educação Ambiental;
A chamada Educação Ambiental Formal é
aquela se processa no âmbito de uma
instituição ou organização com regras
próprias a partir de uma cultura específica.
Conforme esclarece a Lei 9795/99, ela diz
respeito a educação ambiental efetivada na
educação escolar a desenvolvida no âmbito
dos currículos das instituições de ensino
públicas e privadas;
Durante bastante tempo, tal âmbito de
atuação se referia basicamente à instituição
escolar, hoje, porém, percebe-se que a
Educação Ambiental tem sido promovida nas
mais diferentes instituições particularmente
em relação àquelas que investem na
qualidade de vida de seus funcionários ou
assumem sua responsabilidade social;
Entretanto, as grandes discussões nessa área
têm se dado na escola em função da
necessidade de preparar as novas gerações
para uma atuação ambiental mais consciente
e crítica;
Existem, ainda, muitas discussões sobre
como a Educação Ambiental deve se inserir na
instituição escolar, ora como uma disciplina iso-
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 108
lada, ora como parte de um projeto maior na
escola envolvendo diferentes disciplinas;
Pelo parecer 226/87 do Conselho Federal de
Educação, sobre a necessidade de um
enfoque interdisciplinar para a Educação
Ambiental. Conforme explicita Limoeiro
(1991): “a Educação Ambiental não é uma
nova disciplina para ser ensinada nas escolas,
mas sim um processo educativo que deve
permear todas as disciplinas e todos os projetos
de desenvolvimento onde apareça a temática
ambiental;
A Lei 9795/99, de 27 de abril de 1999, que
instituiu no país a Política Nacional de
Educação Ambiental reafirmou o imperativo
de que a Educação Ambiental deva ser
trabalhada de forma interdisciplinar e
integrada nos diferentes níveis e modalidades
de ensino;
Devido a sua abordagem holística e
integradora, a Educação Ambiental (EA) vem
sendo trabalhada nas escolas de maneira
mais sensível nos PCNs, através da concepção
do meio ambiente como um tema
transversal;
Os PCNs, atualmente, tiveram sua versão
definitiva em 1998, podendo ser entendidos
como um conjunto de proposições elaboradas
para servirem de base não apenas para a
elaboração e revisão das políticas de currículo
dos Estados e Municípios, mas também para
orientação dos próprios investimentos que
serão feitos no sistema educacional propondo
princípios pedagógicos e
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 109
metodológicos a serem observados pelas
instituições da rede pública;
O que se pretende nessa esfera,
particularmente na instituição escolar, é o
reconhecimento tanto de que toda Educação
só é verdadeiramente completa se leva em
consideração a dimensão ambiental; assim
como o fato de que a Educação Ambiental é
uma dimensão essencial do processo
pedagógico auxiliando na construção de nossa
identidade e alteridade;
Alguns exemplos de propostas de EA que
podem ser implementadas na esfera escolar:
Elaboração do Projeto Político Pedagógico da
instituição sensível às questões de cunho
socioambiental; incentivo à elaboração de
projetos interdisciplinares onde a
preocupação ambiental esteja presente;
realização de atividades variadas relacionadas
aos desafios socioambientais da área onde a
escola se situa tais como a questão do lixo,
economia de água, violência, desrespeito ao
patrimônio local, queimadas;
Exemplos de estratégias perfeitamente
aplicáveis a práticas de EA na escola:
discussão em classe, discussão em grupo,
mutirão de idéias, trabalho em grupo;
debate; questionário; reflexão; imitação;
exploração do ambiente local e
desenvolvimento de projetos;
No âmbito organizacional (englobando
empresas e outras instituições), por sua vez,
muitas propostas em Educação Ambiental se con
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 110
fundem com programas de segurança no
trabalho, de socialização (área de RH) e até
de ergonomia;
Dentro da empresa, um programa de
Educação Ambiental não deveria ser
desenvolvido exclusivamente em seu entorno,
como também não poderia ficar restrito a um
programa de treinamento visando a
sensibilização e motivação dos funcionários;
Entre as estratégias para se trabalhar a
Educação Ambiental nas organizações,
poderíamos citar: Promoção de dinâmicas de
grupos e jogos cooperativos, onde as
questões socioambientais sejam uma
prioridade; análise de textos e vídeos que
possibilitam a integração, a motivação e a
tomada de atitude de forma crítica e
participativa em relação às questões
ambientais e desenvolvimento de projetos de
educação ambiental;
A EA Não formal é aquela que se volta para o
espaço da rua, da comunidade em geral,
abrangendo não uma, mas várias instituições
como as igrejas, as escolas, as associações
de moradores, grupos de rua, enfim, a
sociedade civil organizada em suas múltiplas
expressões. Não se dá a partir de um
planejamento com regras rígidas uma vez
que este tem grande possibilidade de sofrer
alterações constantemente;
O artigo 13 da Política Nacional de Educação
Ambiental (Lei 9795/99) define Educação
Ambiental Não-Formal como: “as ações e
práticas educativas voltadas à sensibilização
da coletividade sobre as questões ambientais e
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 111
à sua organização e participação na defesa da
qualidade do meio ambiente”;
Inclui em seu rol de atividades: Difusão, por
intermédio dos meios de comunicação de
massa, em espaços nobres, de programas e
campanhas educativas, e de informações
acerca de temas relacionados ao meio
ambiente; a sensibilização da sociedade para
a importância das unidades de conservação;
a sensibilização ambiental das populações
tradicionais ligadas às unidades de
conservação; o ecoturismo;
Pode se dizer que, de um modo geral, a
comunidade é o foco do trabalho de Educação
Ambiental Não Formal. Mais do que um mero
agrupamento de pessoas em uma localidade
qualquer, a comunidade representa um grupo
de pessoas, mais ou menos entrosado, que
comunga do mesmo modo das facilidades e
desvantagens de residir em determinada
localidade tendo ali que sobreviver. Através
de instituições próprias como as associações,
clubes e grupos buscam resolver seus
problemas, particularmente no que se refere
a qualidade de vida e a subsistência
econômica através de um maior
fortalecimento político;
Existem seis aspectos comunitários
fundamentais a se considerar e que entendo
como fundamentais para compreender os
processos de interação entre a comunidade
humana e o meio ambiente: 1) os aspectos
físicos da área; 2) os aspectos históricos da
comunidade; 3) os aspectos econômicos; 4)
os aspectos políticos, reunindo as relações de
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 112
poder existentes nos diferentes grupos e na
própria comunidade como um todo; 5) os
aspectos culturais; 6) os aspectos sociais.
Todos esses aspectos pertinentes à realidade
comunitária estão intimamente ligados entre
si e com o meio ambiente onde se
apresentam e se constituem;
Parcerias com lideranças locais; busca de
informações sobre a história da comunidade e
suas informações não apenas na comunidade,
mas em órgãos governamentais como as
prefeituras e subprefeituras onde mapas
locais podem ser acessados e copiados são
importantes para o entendimento da mesma;
A Educação Ambiental pode atuar como um
elemento facilitador do desenvolvimento
comunitário, levando a comunidade a
entender melhor o ambiente onde vive e sua
força comunitária rumo a transformação
gradual de seu ambiente;
Entre as atividades comunitárias de Educação
Ambiental poderíamos citar: Promoção de
cursos e palestras relacionadas à área
ambiental em instituições locais como igrejas
e escolas da comunidade; prática de
atividades de sensibilização ambiental em
campo aberto (praças) ou em instituições
comunitárias tais como: dramatizações,
exposição de filmes e fotos, produção de
textos; desenvolvimento de programas de
rádio e/ou TV local (comunitárias) de
programas com apelo socioambiental; criação
de fóruns de participação local, com ampla
participação comunitária para decidir sobre seu
processo de autogestão ambiental, entre
outras;
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 113
A EA Informal pode ocorrer tanto no âmbito
formal quanto no não formal. O que a define
como um âmbito particular é sua
temporalidade. Geralmente, diz respeito à
prática de atividades pontuais que não
necessariamente estão inclusas em um
programa de educação maior tais como:
panfletagem e campanhas de preservação
local;
O conteúdo dos panfletos ou das campanhas
em geral é bem concreto como cuidado com a
torneira pingando (em casa); jogar no rio
apenas aquilo que o peixe pode comer (na
rua).
Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 114
Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia
Sócio-Ambiental
Vilson Sérgio de Carvalho
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LA
4
Ap
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ão
A integração do meio ambiente nos Parâmetros Curriculares
Nacionais foi de grande significado não apenas para a valorização
e legitimação da Educação Ambiental no âmbito formal, mas para
a causa ambiental como um todo. De uma forma clara, se
concordava e se estimulava a idéia de que o meio ambiente
deveria ser considerado em todas as disciplinas por se tratar de
uma temática que as atravessava indiscutivelmente. Falar de meio
ambiente hoje é falar de segurança, saúde, trânsito, bem-estar,
qualidade de vida, desenvolvimento, enfim não dá para não
considerar o mesmo nas diferentes disciplinas ensinadas na
escola. Mostrar como esse processo se deu e seus reflexos, de
modo especial para a EA é o propósito desta aula.
Ob
jeti
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s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Analisar o que sejam os PCNs, sua história e seu papel no
âmbito da Educação Brasileira; Entender a importância e o significado da inclusão do meio
ambiente como um dos temas transversais dos PCNs;
Compreender melhor a idéia de transversalidade e sua
aplicabilidade no campo do conhecimento; Analisar alguns dos principais reflexos da inclusão do meio
ambiente como temática transversal para o universo escolar
em termos do currículo, das atividades pedagógicas,
desenvolvimento de materiais didáticos e do próprio projeto
político-pedagógico (PPP).
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 116
A educação ambiental e os PCNs
Na perspectiva de contribuir para uma maior
compreensão das relações entre Educação e Meio
Ambiente, o objetivo desta aula é o de tecer algumas
considerações sobre como a Educação Ambiental (EA) é
enfocada nos PCNs (Parâmetros Curriculares
Nacionais), buscando entender o quanto este enfoque
pode vir a fortalecer a EA, seja pelo incentivo de sua
aplicabilidade na instituição escolar, seja pelo estímulo
a que diferentes profissionais da área educacional
percebam que não é possível conceber uma Educação
comprometida com a continuidade da vida humana
desacompanhada de sua dimensão ambiental.
Não se pretende, aqui, fazer uma avaliação
aprofundada dos PCNs. Este tipo de análise documental
exigiria um estudo complexo no contexto da política de
Educação vigente em nosso país, cuja realização fugiria
à natureza desta aula. Ao se ater aos PCNs como objeto
de investigação deste estudo, almeja-se discutir - a
partir de uma breve análise sobre o que são e o que
representam - a importância do meio ambiente ser
incluído nos mesmos como um dos temas transversais
e as possibilidades decorrentes desta inclusão para o
desenvolvimento da EA como um todo.
Criados pela Secretaria de Educação
Fundamental do MEC, os PCNs, tal como conhecemos
hoje, tiveram sua versão definitiva em 1998, podendo
ser entendidos como um conjunto de proposições
elaboradas para servirem de base não apenas para a
elaboração e revisão das políticas de currículo dos
Estados e Municípios, mas também para a orientação
dos próprios investimentos que serão feitos no sistema
educacional, propondo princípios pedagógicos e
metodológicos a serem observados pelas instituições de
ensino da rede pública. Apesar das muitas críticas e
Dica do professor
Cabe enfatizar que essa inclusão se deu desde a primeira versão dos PCNs, o que não acontece com outros temas transversais como, por exemplo, o que se refere à “pluralidade cultural”.
A educação ambiental
e os PCNs 116 Afinal o que são PCN´s? 118 Parâmetro e currículo: considerando os termos 122 Um olhar sobre a transversalidade 124 O meio ambiente como tema transversal 128 Considerações finais e interrogações 133
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 117
falhas que o documento apresenta - principalmente no
que se refere à manutenção de uma concepção
positivista do conhecimento (Macedo,1999) - é possível
que a inclusão da temática ambiental nesse processo,
considerada em sua transversalidade, venha a significar
uma conquista importante na forma de trabalhar a EA
nas escolas, desde que os profissionais da área saibam
tirar proveito desta situação.
A despeito das expectativas favoráveis, ainda
existem muitos questionamentos a serem respondidos
em relação a esta inclusão:
Será que, finalmente, após o reconhecimento
da transversalidade ambiental por parte do
MEC, a EA se traduzir à traduzirá em uma
prática transdisciplinar valorizada em nossas
escolas?
Será que, a partir de agora, serà mais fácil
conduzir um trabalho de conscientização
ecológica na instituição escolar?
Como responder a estas perguntas? É difícil e
temerário fazer afirmações sobre os rumos que os PCNs
seguirão em termos de mudanças a serem
implementadas na prática docente ou mesmo na
cultura escolar, todavia é um erro ignorar o valor dessa
inclusão como uma excelente oportunidade para que os
educadores enxerguem que, desacompanhada da
dimensão ambiental que encerra, a Educação perde
parte de sua essência. Essa percepção é fundamental
se pretendemos, como aponta Morin (2000), adotar um
modelo de Educação voltada para o futuro, que possa
vir a nos ajudar a esclarecer melhor sobre nossa
identidade terrena, através da formação de uma
consciência ecológica.
Dica de leitura
Sobre este conceito e sua distinção com os conceitos de cultura da escola, ver a obra “Escola e Cultura” de FORQUIN, J. C.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. França oferece alguns referenciais preciosos.
Dica do professor
Sobre o Pensamento de Morin: Sobre esse modelo apontado por Morin, vale a pena ler o Capítulo IV do seu livro: “Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro” (2000: 63-78).
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 118
Afinal o que são PCN´s?
Atentos às inúmeras e agudas mudanças pelas
quais a estrutura societária atual vem passando -
advindas principalmente da crise do paradigma
civilizatório (manifesta principalmente através das
várias formas de exploração da natureza e da
miserabilidade humana) e dos impactos do capitalismo
globalizado - os PCNs são apresentados como uma
reunião de propostas atuais e eficazes para analisar as
políticas curriculares nacionais - no que concerne à
elaboração de projetos educativos, ao planejamento
didático, ao material didático utilizado e,
principalmente, às reflexões sobre a prática pedagógica
em geral. Sua aplicabilidade está pautada em vários
fatores diferentes, mas intimamente relacionados, tais
como: a competência político-executiva dos órgãos
competentes na esfera estadual e municipal; a
diversidade sócio-cultural das diferentes regiões do país
e a autonomia de professores e equipes pedagógicas, o
que por si só já representa um enorme desafio.
Foram muitas as fontes geradoras dos PCNs,
destacando-se as diferentes propostas curriculares
adotadas nos Estados e Municípios, e as discussões em
âmbito nacional promovidas pelo MEC (PCNs vol. 1:
37). A definição de parâmetros claros no campo
curricular, visando orientar ações educativas mais
eficientes, já estava prevista inclusive no Plano Decenal
de Educação (1993-2003) e na própria Constituição de
1988 que insinuava essa estratégia. Entretanto, é
inegável que, desde a seleção do conteúdo até a
própria apresentação deste sob a forma de volumes
divididos por cores, a grande fonte inspiradora dos
PCNs foi a reforma educacional promovida na Espanha
em 1990, concretizada na LOGOSE. Nesse particular, é
no mínimo curioso e digno de nota o fato de que
buscando elaborar referenciais básicos e de qualidade
Quer saber mais?
Segundo Lopes (1999), a primeira versão dos PCNs foi elaborada em 1995. No ano seguinte, ela foi encaminhada a 400 professores das áreas de
conhecimento e especialistas da educação para análise antes que se produzisse a segunda e atual versão ampliada dos PCNs.
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 119
para organizar o sistema educacional do país, se tenha
tomado por base um modelo estrangeiro, mais
especificamente, europeu. Este é apenas um entre
outros motivos que justificam as intensas reflexões,
críticas e adaptações de conteúdo dirigidas aos PCNs.
Por isso é vital que os mesmos sejam alvo de intensas
reflexões, críticas, adaptações, aperfeiçoamentos e
contribuições de modo que seu conteúdo realmente
faça jus à proposta inicial básica, isto é, o de ser um
referencial de qualidade para a educação no país.
O olhar dirigido para o ensino do tipo
fundamental, sugerindo a divisão das séries em quatro
ciclos de ensino (1ª a 2ª série - 1º ciclo; 3ª a 4ª série -
2º ciclo; 5ª a 6ª série - 3º ciclo e 7ª a 8ª série - 4º
ciclo), pautou-se na Lei de Diretrizes e Bases
(9.394/96), que em seu artigo 22 assegurava o acesso
à educação e defendia a necessidade de uma formação
inicial comum, estruturada através de critérios e
diretrizes pedagógicas pré-definidas para cada ciclo.
Por outro lado, cabe assinalar que essa divisão favorece
a prática psicopedagógica de cunho construtivista.
Desse modo, apesar de existirem conteúdos
diferenciados para cada ciclo, é notória a intenção de
fazer com que estes sejam regidos pelo princípio da
interdependência do conhecimento e do “ensino
genético” no qual se parte simultaneamente das
referências gerais e compartilháveis do conhecimento
SOBRE A LOGOSE
LOGOSE é a sigla para Ley Orgánica de Ordenación
General del Sistema Educativo, referente ampla
reforma educacional feita na Espanha. Os PCNs
nacionais são profundamente influenciados pela
mesma inclusive em seu formato e organização. Sem
mencionar o fato de professores que ajudaram na
implementação da LOGOSE como César Coll também
ajudaram na implementação dos PCNs .
Para mais detalhes, consulte:
Lei Básica da Reforma Educativa Espanhola (1990)
Dica do professor
A Influência Construtivista: Em vários momentos, é possível notar o quanto a concepção construtivista da aprendizagem escolar e da intervenção psicopedagógica se faz presente nas entrelinhas do documento desde a seqüência dos conteúdos apresentados até os objetivos finais pretendidos em cada área (Coll, C., 1998: 161).
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 120
do sujeito (sujeito epistêmico) e daquilo que este
conhece de mais peculiar e específico (sujeito
psicológico). Isso facilitaria não apenas o diálogo aluno-
professor - mas também uma forma de aprendizado
histórico-crítico onde busca-se articular o particular e
atual com o geral e atemporal (Coll, C., 1998: 16-17).
Com essa inspiração, algumas de suas
características primordiais são “abertura, flexibilidade e
temporalidade” (PCNs volume 1: 34). Isso significa que
o mesmo se baseia no princípio adaptativo, defendendo
ajustes constantes em seu conteúdo tanto em âmbito
macro: na figura das avaliações e propostas do MEC e
nas proposições curriculares das Secretarias de
Educação; quanto em âmbito micro: referindo-se às
propostas curriculares admitidas em cada instituição e,
evidentemente, às práticas didáticas implementadas
em cada sala de aula. Daí ser um absoluto contra-senso
pensar a adoção dos PCNs como uma reunião de
normativas (modelo fechado e impositivo), em vez de
um conjunto de sugestões que precisam ser analisadas
criticamente à luz de cada realidade socioescolar. A
existência desse princípio orientador se faz
imprescindível a fim de se evitar que num país de
dimensões continentais como o Brasil, as diferenças
político-econômicas e sócio-culturais locais sejam
ignoradas, o que poderia promover disparidades e
distorções significativas a ponto de inviabilizar sua
proposta.
No que se refere à concretização propriamente
dita dos PCNs na escola são propostos 4 níveis
distintos: um primeiro nível tido como referencial para
a elaboração das políticas do MEC, subsidiando a
elaboração ou revisão curricular dos Estados e
Municípios; um segundo nível que diz respeito à
adaptação do mesmo como parâmetro para a
elaboração das propostas curriculares das Secretarias
Dica do professor
Princípios dos PCNs: Atenção: Tais princípios são fundamentais para a compreensão destes como parâmetros norteadores que precisam sofrer adaptações locais e não um conjunto de regras e padrões inquestionáveis a serem obedecidos.
Para navegar
Dowload dos PCNs: Existem vários sites onde você pode ter acesso aos PCNs na sua versão integral e comentada. Seguem abaixo dois desses sites, sendo o segundo do próprio MEC. Fonte: http://www.mec.gov.br/sef/sef/pcn.shtm
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 121
de Educação dos Estados e Municípios; um terceiro
concernente ao ajuste das propostas resultantes do
segundo nível como critério para a elaboração das
propostas curriculares de cada instituição escolar, e por
fim um quarto nível de concretização que se refere à
programação das atividades de ensino e aprendizagem
em cada sala de aula, a partir da adequação das
propostas elaboradas no nível anterior (id., ps. 36-38).
É explícita nessa seqüência a preocupação de que os
PCNs não sejam aplicados diretamente na sala de aula,
sem que antes venham a sofrer diferentes processos de
correção e ajustamento para melhor atender as
demandas de cada realidade escolar.
Após essas considerações, é preciso ressaltar o
que Juana Sancho (1998) salienta ao nos recordar que,
infelizmente, essa nova proposta curricular não veio
acompanhada de uma necessária “reforma social,
política, cultural e econômica que enfrente os
problemas básicos que perpetuam a situação do
sistema educativo público” (Sancho, J., 1998: 16). Não
podemos, em momento algum, ignorar o óbvio. A
escola não educa sozinha. Se não existir um pacto
social com as demais instituições sociais (inclusive a
familiar), somadas as reformas necessárias ao seu
desenvolvimento, não será possível formar o cidadão
nos valores propostos pelos PCNs, sobretudo em
relação à transversalidade ambiental.
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 122
EXERCÍCIO 1
Como você entende essa crítica de Sancho? Você
também concorda que, por vezes, é atribuída à escola
uma série de responsabilidades para os quais ela não é
capacitada?
Escreva aqui suas impressões sobre o tema:
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Parâmetro e currículo: considerando os
termos
Em uma primeira apreciação, é possível
entender a expressão parâmetro curricular como
redundante, já que qualquer currículo em última
instância pode ser também ser entendido como um
parâmetro. Todavia, existem diferenças a considerar, já
que, por sua vez, nem todo parâmetro é de ordem
curricular. O termo parâmetro encerra um duplo
sentido: o primeiro remete à idéia de uma proposição
consensual, isto é, de uma possível proposta a ser
aplicada, construída a partir da consideração de
diferentes opiniões e experiências. Nessa acepção,
quando associamos a este a expressão “curricular”,
estamos nos referindo a uma proposta de currículo que,
como tal, não se caracteriza pela obrigatoriedade legal
ou normativa, e sim propositiva (como um possível
caminho a ser seguido). Entretanto, existe um outro
sentido distinto que o termo parâmetro também abriga:
o de ser um padrão, uma medida, um modelo ideal a
ser adotado e a partir do qual poderíamos aferir a
qualidade, ou até a validade de alguma coisa, que
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 123
estaria sendo comparado ou avaliado em relação ao
mesmo.
No caso dos PCNs, essa tensão pode ser
claramente percebida, na medida em que, embora sua
observância não se configure como uma norma -
podendo cada escola seguir ou não os parâmetros
sugeridos para elaboração de suas propostas
pedagógicas ou de seu projeto político-pedagógico
(PPP) - existe uma forte tendência de que estes sejam
indiretamente obrigatórios para a elaboração dos
currículos - não apenas da rede pública, mas também
da rede particular de ensino, já que são tomados como
referenciais oficiais do MEC. Apenas a título de
exemplo, é possível citar que tanto os exames do
Sistema de Avaliação do Ensino Básico (SAEB) quanto a
classificação dos livros didáticos adotada pelo MEC
concedem aos PCNs um papel de destaque como
indicadores (Cordiolli, 1999). Segundo Leitinho (2000),
sempre existiu, desde sua origem, uma forte
associação entre os PCNs e os sistemas de avaliação
vigentes. Na opinião da professora, sua criação está
intimamente ligada à idéia de que a reafirmação da
base curricular comum é o início de um processo de se
estabelecer critérios qualitativos facilitadores do
processo de avaliação institucional em sintonia com que
o MEC já vem promovendo através de suas avaliações
nacionais.
A concepção de currículo, por sua vez, vai muito
além do seu aspecto puramente formal enquanto um
conjunto de disciplinas, objetivos e métodos de ensino
encadeados de uma forma X para promover um
resultado Y em termos de aprendizado e formação.
Alguns expoentes da Pedagogia Crítica, como Giroux e
Maclaren, entendem o currículo como uma forma de
política cultural, reforçando a dimensão sociocultural do
processo de escolarização (Moreira, 1999). Estudiosa
Quer saber mais?
Programa PCNs em Ação: O Programa PCNs em Ação Secretaria de Educação Fundamental do MEC tem por objetivo apoiar o desenvolvimento de propostas pedagógicas de qualidade, na perspectiva de uma educação para a cidadania, por meio da formação continuada de professores, com a implementação dos Parâmetros e Referenciais Curriculares.
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 124
na área, a professora Marisa Costa, também, pensa o
currículo escolar como “um campo em que estão em
jogo múltiplos elementos, implicados em relações de
poder, compondo um terreno privilegiado da política
cultural” (Costa, M., 1998: 39), chegando a defini-lo
como um “lugar de circulação de narrativas, mas,
sobretudo, um lugar privilegiado dos processos de
subjetivação, da socialização dirigida, controlada” (id.,
p.\51). Isso significa que o ato de elaborar um currículo
não é apenas um processo técnico, mecânico e formal;
ele envolve conflitos, interesses e estratégias de
socialização que podem interferir na própria
constituição da identidade dos alunos.
Em virtude desse panorama, as discussões sobre
a temática curricular ocupam um lugar central na
implementação de políticas educacionais no país. Nos
grandes encontros da área de Educação como a ANPEd
e o ENDIPE, onde esta temática é sempre um eixo
articulador de debates, é possível perceber sua
atualidade e valor para o debate acadêmico,
especialmente no que se refere às suas exclusões,
ocultamentos e o confronto entre diferentes culturas e
linguagens presentes em sua autoridade textual. Temas
como multiculturalismo, identidade social, pluralidade
cultural e currículo oculto também têm sido
amplamente discutidos no que se refere à produção
social do currículo (Silva e Moreira, 1999).
Um olhar sobre a transversalidade
Os objetivos fundamentais dos PCNs -
estruturados nas áreas de Língua Portuguesa,
Matemática, Ciências Naturais, História, Geografia,
Arte, Educação Física e Língua Estrangeira - não são
facilmente executados. De forma sintética, eles foram
elaborados com vistas a que os alunos que estão
Para navegar
A ANPEd e o ENDIPE são considerados dois dos mais importantes eventos na área de Educação. Percebemos nos dois que o espaço da Educação Ambiental tem crescido consideravelmente. Leia mais sobre os mesmos, consultando os sites oficiais destes eventos: www.anped.org.br/inicio.html www.endipe.org.br
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 125
concluindo o ensino fundamental sejam capazes
minimamente de:
a) compreender a cidadania como
participação social e política; b)
posicionar-se de maneira crítica e
responsável em diferentes situações
sociais, utilizando-se do diálogo; c)
conhecer as características
fundamentais do Brasil em suas
diferentes dimensões; d) conhecer e
valorizar a pluralidade do patrimônio
cultural brasileiro; e) perceber-se
integrante do meio ambiente e agente
transformador do mesmo, podendo
contribuir para sua melhoria; f)
desenvolver seu senso de confiança e
autocrítica; g) contribuir para o
conhecimento e valorização do próprio
corpo, através da adoção de hábitos
saudáveis; h) utilizar diferentes
linguagens (verbal, matemática,
corporal etc.) como meio para produzir
e expressar suas idéias; i) saber se
utilizar de diferentes fontes de
informação e os recursos tecnológicos
necessários para adquirir e construir
conhecimentos; e por fim, j)
questionar a realidade, formulando
problemas e buscando resolvê-los,
utilizando o pensamento lógico, a
criatividade, a intuição e a capacidade
de análise crítica.
(PCNs vol.1: 107)
O documento dos PCNs não aponta maneiras
para que a escola alcance esses objetivos junto aos
alunos, nem tampouco oferece instrumentos para que
estas possam cobrar das Secretarias de Educação e
demais órgãos competentes as medidas necessárias
para garantir a possibilidade de sua concretização; no
entanto, o mesmo traduz um importante
reconhecimento de impotência, o reconhecimento de
que as disciplinas clássicas representativas das áreas
de saber cientificamente aceitas, por si mesmas não
mais suficientes para responder aos desafios
necessários a esse alcance. A “solução-antídoto” para
contornar esses “problemas” é a apresentação de um
conjunto de temas denominados de transversais, nome
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 126
justificado em razão destes perpassarem todo o
conjunto de disciplinas que conhecemos sem se
configurarem como tais.
Ainda bastante controvertido, especialmente
quando comparado com a proposta da
interdisciplinaridade, o conceito de transversalidade
adotado nos PCNs não é novo. Ele remonta aos ideais
pedagógicos do início do século, quando já se falava em
ensino global, tendo assumido vários significados ao
longo do tempo que enriqueceram sua compreensão.
Se, inicialmente, ele se referia a uma série de
conteúdos fundamentais para serem abordados em
classe, mas que não pertenciam a nenhuma disciplina
em particular; posteriormente ele passou a significar
“um conjunto de valores, atitudes e comportamentos
essenciais e que precisam ser ensinados (...) símbolo
de inovação e de abertura da escola à sociedade”
(Gavídia, V., 1998: 52).
Uma diferença básica entre a proposta
interdisciplinar e a transversal é que a primeira rejeita
totalmente a disciplinaridade entendendo ser
indispensável a interdependência entre os diferentes
conhecimentos, seja na utilização de instrumentos de
outras disciplinas, seja na atuação conjunta de duas ou
mais disciplinas, ou ainda na opção de trabalho com um
tema gerador que pode ser analisado através de sua
interligação com diferentes disciplinas. A segunda, por
sua vez, não só aceita a disciplinaridade em alguns
momentos, como também defende a prática de que
algumas perguntas devam ser respondidas
disciplinarmente por área de conhecimento em
particular (Cordiolli, 1999). O principal critério da
transversalidade é o relacionamento destas
questões/temas com o cotidiano vivenciado no
momento em que o conhecimento está sendo
Para pesquisar
Pesquise mais em livros, revistas especializadas e sites da internet a idéia de “transversalidade”.
Dica do professor
Transdisciplinaridade: Rejeita a
disciplinaridade; Sugere que o
professor vá “além da disciplina”;
Valoriza a relação dos conteúdos com o cotidiano da sala de aula.
Transversalidade: Aceita a
disciplinaridade e trabalha a partir dela;
Entende a perspectiva pedagógica de forma ampla e com um caráter político.
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 127
construído em aula e suas respostas se fizerem
necessárias.
O caráter crítico da proposta transversal em
relação ao currículo do tipo disciplinar se revela se faz
mais claro através de sua preocupação de que a prática
pedagógica venha a expressar a perspectiva política,
social e cultural de nossa sociedade. Pautando-se na
premissa de que os temas contemplados nas diferentes
áreas não podem configurar um aprendizado à parte e
valorizando a compreensão integral de cada tema; a
transversalidade entende que, em função da extensão,
profundidade e complexidade desses temas, carregados
de valores e interesses em conflito (Sancho, 1998),
abre-se um espaço oportuno tanto para o
estabelecimento de um novo diálogo em sala de aula -
onde juntos professores e alunos, são incentivados a
discutirem e se posicionarem sobre os mesmo-, como
para a valorização dos saberes extra-escolares e suas
possíveis inter-relações com o currículo formal da
escola. Entretanto, essa complexidade mencionada
precisa ser melhor aclarada, inclusive através de uma
integração mais nítida e necessária entre os próprios
temas transversais.
Pelos motivos apresentados, é uma lástima ter
que concordar com Macedo (1999) quando esta se
questiona sobre o porquê - apesar do consenso de que
a proposição dos temas transversais nos PCNs
incentivaram a que as propostas pedagógicas e suas
realizações possam ser pautadas em eixos mais amplos
e interdisciplinares de análise mais próximos da
realidade que vivenciamos nesse terceiro milênio - o
núcleo central de estruturação curricular continue
sendo as disciplinas clássicas e não os próprios temas
transversais. Como resultado dessa incongruência,
nota-se que, apesar de reconhecer seu indiscutível
valor para a formação do sujeito crítico e cidadão ativo,
Importante
Essa é grande crítica feita à chamada reforma educacional trazida pelos PCNs, uma vez que o núcleo central de estruturação curricular permanece inalterado.
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 128
os temas transversais tendem a ocupar “um patamar
de importância inferior ao das disciplinas da grade
curricular” (Macedo, E., 1999: 57), como um conjunto
de temas que o professor pode incluir opcionalmente
em seu currículo caso “sobre” tempo para tal, o
reforçaria à manutenção do quadro atual.
O meio ambiente como tema transversal
De uma forma geral, a EA pode ser entendida
como “uma ferramenta privilegiada para o
estabelecimento de um novo contrato com a natureza
baseado em uma conscientização mais profunda, tanto
dos elementos que compõem o meio ambiente, onde o
homem passe a ser encarado como um elemento-chave
do contexto ambiental quanto da necessidade de ver o
meio ambiente como condição maior da vida”
(Carvalho,\V., 1997:19). Foi através da criação do
Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA),
aprovado na Conferência das Nações Unidas para o
Meio Ambiente Humano em Estocolmo (1972), que pela
primeira vez se reconheceu oficialmente a importância
da ação educativa para as questões ambientais. A partir
daí, as outras conferências que se seguiram como a de
Belgrado (1975), Tbilisi (1977) Moscou (1987) e Rio-92
ratificaram esse ideal, defendendo o ensino formal
como um dos eixos essenciais para que a Educação
Ambiental (EA) pudesse ser viabilizada; insistindo que
esta fosse incluída nos sistemas educativos de todos os
países.
A forma como a EA foi discutida e incentivada
nos PCNs, especificamente em seu volume 9, não
representa nada mais do que uma forma de viabilizar
essa inclusão, reconhecendo o que todos já sabíamos,
ou seja, que se a escola assume um papel fundamental
na formação de cidadãos responsáveis e ativos,
resgatando valores essenciais como ética, fraternidade
Dica do professor
Os Temas Transversais: Os outros temas
selecionados foram: Ética; pluralidade cultural; saúde; orientação sexual e temáticas locais; sendo reservado a cada um desses temas uma parte específica dos PCNs (vide PCNs, vol. 8).
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 129
e respeito para com a vida em geral, a EA não poderia
estar fora desta. Devido a sua abordagem holística e
integradora, ela é trabalhada de maneira mais sensível
nos PCNs, através da proposição do meio ambiente
como tema transversal (PCNs vol. 9). A legitimação
dessa transversalidade implícita na temática ambiental
representa um passo essencial para que a EA não
continue a ser erroneamente pensada e reduzida na
escola a mais uma disciplina da grade curricular
pertinente às Ciências Biológicas. Os problemas
ambientais não se restringem apenas à proteção da
vida, mas à qualidade da mesma. Desse modo a
distribuição desigual de renda e a injustiça social
generalizada decorrentes do modelo de
desenvolvimento adotado, a corrida tecnológica, o
individualismo crescente e os desafios da pluralidade
cultural que hoje caracterizam o mundo globalizado,
também, são encarados como ambientais.
A escolha do meio ambiente como um dos seis
temas transversais foi definida em função de quatro
critérios básicos: urgência social; questões de
abrangência nacional; possibilidade de
ensino/aprendizagem na educação fundamental e, por
fim, o favorecimento da compreensão da realidade e da
participação social (tomada de posicionamento frente a
questões que interferem na vida coletiva) (PCNs vol.
8). Levando em consideração esses critérios, não é
difícil entender por que essa inclusão ocorreu, tendo em
vista a gravidade das questões ecológicas com relação
ao momento em que vivemos e a urgência de formar
uma consciência sensível às mesmas para garantir a
sobrevivência da humanidade. Em vários momentos do
documento, a questão ambiental é trabalhada como um
conjunto de temáticas que “não dizem respeito apenas
à proteção da vida no planeta, mas também à melhoria
do meio ambiente e da qualidade de vida das diferentes
comunidades” (PCNs vol. 9: 23), enfatizando o papel
Para navegar
Projeto Educar: Existem vários sites onde você pode participar de listas de discussão sobre a temática dos temas transversais. Confira o do projeto educar no site abaixo: http://www.projetoeducar.com.br/temas-transversais/anel.htm
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 130
imprescindível da Educação e da participação popular
na resolução de boa parte dos problemas responsáveis
pela crise ambiental. De certa forma, este apelo acaba
se refletindo na necessidade de que as práticas em EA
sejam procedidas de forma espontânea e consciente
por parte daqueles que optam por realizá-las (o que
reforça o caráter político da mesma).
A apresentação do tema transversal meio
ambiente nos PCNs se dá em duas partes bem
definidas: num primeiro momento, procura-se traçar
um histórico resumido das grandes conferências e
reuniões mundiais sobre o tema, onde a EA é apontada
como elemento chave para promover novos pontos de
vista e deflagrar novas posturas diante da problemática
ambiental. Posteriormente, discute-se a pedagogia da
EA voltada para o ensino fundamental em termos de
conteúdo, critérios de avaliação, práticas e orientações
didáticas fundamentadas nas observações efetivadas na
primeira parte. Percebe-se, através das sugestões
teórico-práticas, uma tentativa de evidenciar a
necessidade de se educar os futuros cidadãos
brasileiros para que assumam suas responsabilidades e
cumpram sua parte na luta planetária por um ambiente
mais saudável para as gerações atuais e futuras.
Inspirado nos textos e documentos das
conferências de Estocolmo (1972); Tbilisi (1977) e a
Rio-92; a EA é definida nos PCNs como uma proposta
CRÍTICA AO MEIO AMBIENTE ENQUANTO TEMA
TRANSVERSAL
Nem todos os pensadores e profissionais da área
concordam que o meio ambiente ser incluído como
tema transversal nos PCNs tenha sido algo positivo
alegando tal idéia como um contra-senso, pois
enquanto tema transversal seu ensino não exigiria
alguém especializado dando aulas de uma disciplina
chamada meio ambiente.
Veja outros detalhes nesta entrevista com a
professora Tânia Moura Bueno no site Educabrasil
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 131
revolucionária, que se bem empregada pode levar “a
mudanças de comportamento pessoal e a atitudes e
valores de cidadania que podem ter fortes
conseqüências sociais”, sendo exigida pela constituição
e declarada como prioritária em todas as instância do
poder (PCNs vol. 9: 27). A interdisciplinaridade do meio
ambiente com outras áreas de conhecimento é
igualmente notória, não sendo mero acaso a reunião
dos temas “meio ambiente” e “saúde” num mesmo
volume, como os que tratam de questões relativas
diretamente à sobrevivência da espécie.
Embora seja elogiável o fato dos PCNs terem
reconhecido que a EA ainda está longe de ser “uma
atividade tranqüilamente aceita e desenvolvida” (id.); é
perceptível a ausência de um esclarecimento mais
explícito de que sem uma mudança real no quadro de
miserabilidade social, na falta de vontade política, no
capitalismo desumanizado e globalizado, no
consumismo desenfreado e no individualismo, a EA
sozinha não pode fazer milagres. Da mesma forma, é
lamentável que o papel da sociedade civil não esteja
suficientemente claro, não só em termos das iniciativas
de EA implementadas em diferentes partes do planeta -
através de associações, ONGs, grupos de ação e
instituições populares -, mas da própria contribuição
que estas ações trouxeram para a compreensão da
mesma. Embora seja mencionado que o Brasil é um
dos países que mais desenvolve “iniciativas originais”
nessa área (id. p.\26), maiores dados sobre estas, ou
seus realizadores - chamados em alguns momentos de
“agentes” (id. p. 43) e em outros de “ambientalistas”
(id. p. 45) - não são citados, ainda que
superficialmente, dando-se destaque, apenas, às
atuações governamentais a nível federal, estadual e
municipal (que por sua vez também são mais
enunciadas do que explicitadas).
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 132
No que se refere à consideração da amplitude de
temas pertinentes à EA, é possível afirmar que estes
encontram-se ricamente apresentados, priorizando
assuntos que vão desde a questão da mídia (ora aliada,
ora inimiga no trabalho de formação de uma
consciência ecológica), até o tratamento de questões
mais gerais tratadas no âmbito da legislação ambiental
como a proteção, a preservação, a conservação e a
recuperação ambiental (id., pp. 34-37). Da mesma
forma, destaques importantes são feitos em relação à
problemática da sustentabilidade, onde a sociedade
sustentável é definida como aquela que obedece a nove
princípios elementares:
respeita e cuida da comunidade dos
seres vivos; melhora a qualidade de
vida humana; conserva a vitalidade e
a diversidade do planeta; minimiza o
esgotamento de recursos; respeita os
limites do planeta; modifica atitudes e
práticas negativas para com o mesmo;
permite que comunidades cuidem do
meio ambiente; gera uma estrutura
nacional para a integração do
desenvolvimento e conservação e
favorece a construção de uma
sociedade global e da biodiversidade
ressaltando a importância de sua
conservação como um elemento
essencial à sustentabilidade planetária.
(id./ pp. 49-41)
Por sua vez, os destaques da segunda parte,
referentes à seleção de conteúdos e orientações
didáticas para o trabalho de E.A. no ensino
fundamental, ficam por conta dos objetivos a serem
alcançados tais como:
conhecimento e compreensão
integrada de noções básicas de meio
ambiente; adoção de posturas
sustentáveis em casa e na escola
compatíveis com esta compreensão;
observação e análise críticas de fatos e
situações ambientais pertinentes ao
tema; percepções de fenômenos de
causa e efeito na natureza importantes
Dica do professor
A partir dos pressupostos ao lado assinalados, observe quantos trabalhos, pesquisas, estudos e atividades pedagógicas de forma geral não poderiam ser viabilizadas pela inclusão do Meio Ambiente como tema transversal. Quer ler mais sobre o tema, então acesse o artigo de Jaime Oliva disponibilizado no site do MEC: http://www.mec.gov.br/se/educacaoamb
iental/salto62.shtm
Para navegar
A partir dos pressupostos ao lado assinalados observe quantos trabalhos, pesquisas, estudos e atividades pedagógicas de forma geral não poderiam ser viabilizadas pela inclusão do Meio Ambiente como tema transversal. Quer ler mais sobre o tema, então acesse o artigo de Jaime Oliva disponibilizado no site do MEC: http://www.mec.gov.br/se/educacaoambiental/salto62.shtm
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 133
para compreensão do meio ambiente e
seus diferentes ecossistemas; domínio
de procedimentos de conservação e
manejo de recursos naturais;
percepção e valorização da diversidade
natural e sociocultural e identificação
pessoal como parte integrante do meio
ambiente” (id. ps. 53-54); sendo
estes, pensados a partir de uma
estruturação cíclica que sugere uma
ampla compreensão de meio
ambiente. Os três ciclos onde foram
subdivididos os conteúdos relativos à
temática ambiental são ciclos da
natureza (enfocando o conjunto das
inter-relações e fluxos presentes na
natureza a partir de uma visão
sistêmica); sociedade e meio ambiente
(voltado para o estudo das inter-
relações entre grupos humanos e as
atividades que desenvolvem num
determinado espaço) e manejo e
conservação ambiental (de cunho mais
prático voltado para a análise e
incentivo de práticas que respeitem o
meio ambiente e evitem desperdícios).
Considerações finais e interrogações
Seria possível, a partir dessas análises, buscar
responder que contribuição os PCNs trazem para o
desenvolvimento da EA? Além da inclusão da temática
ambiental em si, enquanto tema transversal, me parece
bastante positivo o favorecimento da educação
ambiental em âmbito formal despertando o universo
escolar para a importância da temática e a
responsabilidade de todos para com a mesma. Dessa
forma, sublinha-se a necessidade de que toda
comunidade escolar (professores, funcionários, alunos e
pais) participe igualmente para que a EA consiga atingir
os objetivos anteriormente mencionados; sendo o
convívio escolar e a própria sala de aula elementos
decisivos na aprendizagem de valores socioambientais
(p. 75). Entretanto, me colocando do outro lado, ou
seja, no papel do diretor ou do professor que recebe
essas orientações, fico pensando em como trabalhar
Dica de leitura
Conheça melhor essas críticas lendo a obra “A Implantação da Educação Ambiental no Brasil” de autoria da Coordenação Geral de Educação Ambiental – COEA. http://www.mec.gov.br/se/educacaoambiental/salto62.shtm
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 134
melhor essas questões já que, apesar das pistas
oferecidas, os parâmetros, definitivamente, não
oferecem respostas concretas para trabalhos dessa
natureza.
A escola é apresentada não apenas como uma
instituição possuidora de poder e possibilidade de
intervenção na sociedade, mas também como aquela
que deve garantir meios de se colocar em prática esse
trabalho (id. p. 75). O que não é apresentado é a forma
de como a escola deve fazer tudo isso, se não for
capacitada e instrumentalizada (inclusive
economicamente) para tal. Minha experiência me diz
que não é apenas com vídeos ou com sugestões que
esse trabalho de capacitação se dá, sendo necessário
um treinamento mais didático na prática dos problemas
ambientais, o que exige um contato mais próximo com
os problemas que o mesmo vem enfrentando.
Embora atitudes criativas e individualizadas
sejam bem-vindas, haja visto o trabalho de muitas
escolas em relação à temática ecológica - antes mesmo
desta virar moda (década de 90) - é fundamental um
investimento sério nessa área, onde equipes
interdisciplinares de profissionais treinados possam
atuar junto às escolas trabalhando a partir de suas
realidades locais onde as mesmas estão inseridas e de
onde seus alunos se originam. Profissionais estes que,
igualmente, deveriam ser formados, já que são ainda
poucas as pós-graduações nesse campo.
O desenvolvimento de materiais pedagógicos na
área são igualmente deficientes, e a situação se
complica se levarmos em consideração a diversidade
cultural brasileira e a presença de uma tecnologia que
por vezes atrapalha mais do que ajuda, como é o caso
da mídia descompromissada. Na verdade, ainda são
poucos os “heróis” que optam por trabalhos nessa
Importante
Sem investimentos sérios na área e capacitação de profissionais, boa parte das sugestões dos PCNs corre o risco de não sair do papel.
Dica do professor
Materiais Pedagógicos: Hoje já existem mais materiais, a questão é que nem sempre os livros, cds, vídeos e outros estão disponíveis para os alunos e professores do Brasil como um todo.
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 135
temática na área de Educação, e, na maior parte das
vezes, estes não recebem o apoio necessário das
instituições em que trabalham, e/ou dos organismos de
fomento.
Muitos desafios expostos nos PCNs ainda
continuam sem respostas plausíveis, mas, talvez, o
maior de todos os desafios a vencer seja o de
concretizar o mínimo dos objetivos já expostos nos
PCNs, fazendo-os emergir do papel para a realidade. O
descrédito para com a questão ambiental na educação
ainda é vergonhosamente sentido em diferentes níveis.
São poucos os heróis que optam por trabalhos nessa
área em educação, e muitas vezes, estes não recebem
o apoio que mereciam das instituições em que
trabalham, ou dos organismos de fomento a que estão
ligados.
Certamente, algumas vitórias já foram
conseguidas, mas ainda há muito que se fazer.
Esperemos que a voz da razão e do bom senso se
originem da consciência do homem e não em
decorrência dos impactos ambientais na maior parte
das vezes irreversíveis. Se através dos PCNs for
possível chamar a atenção da Educação para a
temática, os esforços para sua elaboração já teriam
valido a pena, mesmo levando em consideração sua
aplicabilidade mais provável do que efetiva.
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 136
EXERCÍCIO 1
Assinale a única alternativa incorreta no que se refere
às características das comunidades rurais e urbanas:
( A ) Ao contrário do espaço urbano, o ambiente
rural, durante séculos, não era encarado com um
espaço comunitário;
( B ) Hoje é comum que, ao pensarmos em
comunidade, a primeira imagem que associemos seja a
de um ambiente rural;
( C ) A idéia de comunidade associada ao espaço
urbano ganhou força com o aparecimento das grandes
metrópoles;
( D ) Os vínculos sociais são mais facilmente
verificáveis nas comundades rurais;
( E ) As relações nas comunidades rurais são
caracterizadas pelo anonimato social.
EXERCÍCIO 2
Assinale a única alternativa incorreta no que se refere
às características das comunidades rurais e urbanas:
( A ) Ao contrário do espaço urbano, o ambiente rural,
durante séculos não era encarado com o um espaço
comunitário;
( B ) Hoje é comum que ao pensarmos em
comunidade a primeira imagem que associemos seja a
de um ambiente rural;
( C ) A idéia de comunidade associada ao espáço
urbano ganhou força com o aparecimento das grandes
metrópoles;
( D ) Os vínculos sociais são mais facilmente
verificáveis nas comundades rurais;
( E ) As relações nas comunidades rurais são
caracterizadas pelo anonimato social.
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 137
EXERCÍCIO 3
Quais seriam as principais características de uma
comunidade qualquer?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 4
Que fatores devem ser valorizados em um trabalho de
EA em uma comunidade?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
___________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
Criados pela Secretaria de Educação
Fundamental do MEC, os PCNs tiveram sua
versão definitiva em 1998, podendo ser
entendidos como um conjunto de proposições
elaboradas para servirem de base não apenas
para a elaboração e revisão das políticas de
currículo dos Estados e Municípios, mas
também para orientação dos próprios
investimentos que serão feitos no sistema
educacional, propondo princípios pedagógicos
e metodológicos a serem observados pelas
instituições de ensino da rede pública;
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 138
Os PCNs são apresentados como uma reunião
de propostas atuais e eficazes para analisar
as políticas curriculares nacionais - no que
concerne à elaboração de projetos
educativos, ao planejamento didático, o
material didático utilizado e principalmente as
reflexões sobre a prática pedagógica em
geral;
Sua aplicabilidade está pautada em vários
fatores diferentes, mas intimamente
relacionados, tais como: a competência
político-executiva dos órgãos competentes na
esfera estadual e municipal; a diversidade
sócio-cultural das diferentes regiões do país e
a autonomia de professores e equipes
pedagógicas;
É no mínimo curioso o fato de que buscando
elaborar referenciais básicos e de qualidade
para organizar o sistema educacional do país,
se tenha tomado por base um modelo
estrangeiro, mais especificamente, europeu;
O olhar dirigido para o ensino do tipo
fundamental, sugerindo a divisão das séries
em quatro ciclos de ensino (1ª a 2ª série - 1º
ciclo; 3ª a 4ª série - 2º ciclo; 5ª a 6ª série -
3º ciclo e 7ª a 8ª série - 4º ciclo), pautou-se
na Lei de Diretrizes e Bases (9.394/96), que
em seu artigo 22 assegurava o acesso à
educação e defendia a necessidade de uma
formação inicial comum, estruturada através
de critérios e diretrizes pedagógicas pré-
definidas para cada ciclo;
Algumas de suas características primordiais
são: “abertura, flexibilidade e temporalidade”
(PCNs volume 1: 34). Isso implica na possibili-
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 139
dade de ajustes constantes em seu conteúdo
tanto em âmbito macro: na figura das
avaliações e propostas do MEC e nas
proposições curriculares das Secretarias de
Educação; quanto em âmbito micro:
referindo-se as propostas curriculares
admitidas em cada instituição e as práticas
didáticas implementadas em cada sala de
aula;
No que se refere à concretização
propriamente dita dos PCNs na escola são
propostos 4 níveis distintos: um primeiro
nível subsidiando a elaboração ou revisão
curricular dos Estados e Municípios; um
segundo nível que diz respeito a adaptação
deste como parâmetro para a elaboração das
propostas curriculares das Secretarias de
Educação dos Estados e Municípios; um
terceiro concernente ao ajuste das propostas
resultantes do segundo nível como critério
para a elaboração das propostas curriculares
de cada instituição escolar, e por fim um
quarto nível de concretização que se refere a
programação das atividades de ensino e
aprendizagem em cada sala de aula;
Essa nova proposta curricular não veio
acompanhada de uma necessária “reforma
social, política, cultural e econômica que
enfrente os problemas básicos que perpetuam
a situação do sistema educativo público
(Sancho, 1998);
A escola não educa sozinha. Se não existir
um pacto social com as demais instituições
sociais (inclusive a familiar) somadas as
reformas necessárias ao seu desenvolvimento,
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 140
não será possível formar o cidadão nos
valores propostos pelos PCNs, sobretudo em
relação a transversalidade ambiental.
Embora a observância dos PCNs não se
configure como uma norma - podendo cada
escola seguir ou não os parâmetros sugeridos
para elaboração de suas propostas
pedagógicas ou de seu projeto político-
pedagógico (PPP) - existe uma forte
tendência de que estes sejam indiretamente
obrigatórios para a elaboração dos currículos
- não apenas da rede pública, mas também
da rede particular de ensino, já que são
tomados como referenciais oficiais do MEC;
A concepção de currículo vai muito além de
um conjunto de disciplinas, objetivos e
métodos de ensino encadeadas promover um
resultado Y. Expoentes da Pedagogia Crítica
como Giroux e Maclaren, entendem o
currículo como uma forma de política cultural,
reforçando a dimensão sócio-cultural do
processo de escolarização (Moreira, 1999);
O currículo é um campo em que estão em
jogo múltiplos elementos, implicados em
relações de poder, compondo um terreno
privilegiado da política cultural” (Costa, M.,
1998: 39). Trata-se de “lugar de circulação
de narrativas, mas sobretudo um lugar
privilegiado dos processos de subjetivação, da
socialização dirigida, controlada” (id., p.51);
Os objetivos fundamentais dos PCNs -
estruturados em áreas visam a que os alunos
concluintes do ensino fundamental sejam
capazes de: “a) compreender a cidadania
como participação social e política; b) posicio-
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 141
nar-se de maneira crítica e responsável em
diferentes situações sociais, utilizando-se do
diálogo; c) conhecer as características
fundamentais do Brasil em suas diferentes
dimensões; d) conhecer e valorizar a
pluralidade do patrimônio cultural brasileiro;
e) perceber-se integrante do meio ambiente e
agente transformador do mesmo, podendo
contribuir para sua melhoria; f) desenvolver
seu senso de confiança e autocrítica; g)
contribuir para o conhecimento e valorização
do próprio corpo, através da adoção de
hábitos saudáveis; h) utilizar diferentes
linguagens (verbal, matemática, corporal,
etc.) como meio para produzir e expressar
suas idéias; i) saber se utilizar de diferentes
fontes de informação e os recursos
tecnológicos necessários para adquirir e
construir conhecimentos; e por fim, j)
questionar a realidade, formulando problemas
e buscando resolvê-los, utilizando o
pensamento lógico, a criatividade, a intuição
e a capacidade de análise crítica (PCNs vol.1:
107).
O documento dos PCNs não aponta maneiras
para que a escola alcance esses objetivos
junto aos alunos, nem tampouco oferece
instrumentos para que estas possam cobrar
das Secretarias de Educação e demais órgãos
competentes as medidas necessárias para
garantir a possibilidade de sua concretização;
O conceito de transversalidade adotado nos
PCNs não é novo. Ele remonta aos ideais
pedagógicos do início do século, quando já se
falava em ensino global, tendo assumido
vários significados ao longo do tempo que en-
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 142
riqueceram sua compreensão atual como “um
conjunto de valores, atitudes e
comportamentos essenciais e que precisam
ser ensinados (...) símbolo de inovação e de
abertura da escola à sociedade”;
O principal critério da transversalidade é o
relacionamento de questões/temas com o
cotidiano vivenciado no momento em que o
conhecimento está sendo construído em aula
e suas respostas se fizerem necessárias;
A Transdisciplinaridade: Rejeita a
disciplinaridade; Sugere que o professor vá
“além da disciplina” e valoriza a relação dos
conteúdos com o cotidiano da sala de aula.Já
a Transversalidade: Aceita a disciplinaridade
e trabalha a partir dela e entende a
perspectiva pedagógica de forma ampla e
com um caráter político;
O caráter crítico da proposta transversal em
relação ao currículo do tipo disciplinar se
revela se faz mais claro através de sua
preocupação de que a prática pedagógica
venha a expressar a perspectiva política,
social e cultural de nossa sociedade;
Muitos concordam que uma grande revolução
educacional ocorreria se o núcleo central de
estruturação curricular não fosse as
disciplinas clássicas e sim os próprios temas
transversais;
A escolha do meio ambiente como um dos
seis temas transversais foi definida em função
de quatro critérios básicos: urgência social;
questões de abrangência nacional;
possibilidade de ensino/aprendizagem na edu-
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 143
cação fundamental e por fim, o favorecimento
da compreensão da realidade e da
participação social (tomada de
posicionamento frente à questões que
interferem na vida coletiva) (PCNs vol. 8);
Em vários momentos do documento, a
questão ambiental é trabalhada como um
conjunto de temáticas que “não dizem
respeito apenas a proteção da vida no
planeta, mas também a melhoria do meio
ambiente e da qualidade de vida das
diferentes comunidades” (PCNs vol. 9: 23);
A apresentação do tema transversal meio
ambiente nos PCNs, se dá em duas partes
bem definidas: num primeiro momento
procura-se traçar um histórico da E.A. através
do estudo dos grandes eventos onde ela é
apontada como elemento chave para
promover novos pontos de vista e deflagrar
novas posturas diante da problemática
ambiental. Posteriormente, discute-se a
pedagogia da E.A. voltada para o ensino
fundamental em termos de conteúdo,
critérios de avaliação, práticas e orientações
didáticas;
É perceptível a ausência de um
esclarecimento mais explícito de que sem
uma mudança real no quadro de
miserabilidade social, na falta de vontade
política, no capitalismo desumanizado e
globalizado, no consumismo desenfreado e no
individualismo, a E.A. sozinha não pode fazer
milagres. Da mesma forma, é lamentável que
o papel da sociedade civil não esteja
suficientemente claro, não só em termos das
iniciativas de E.A. implementadas em diferentes
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 144
partes do planeta - através de associações,
ONGs, grupos de ação e instituições
populares -, mas da própria contribuição que
estas ações trouxeram para a compreensão
da mesma;
No que se refere a consideração da amplitude
de temas pertinentes a E.A., estes
encontram-se ricamente apresentados,
priorizando assuntos que vão desde a questão
da mídia (ora aliada, ora inimiga no trabalho
de formação de uma consciência ecológica),
até o tratamento de questões mais gerais
tratadas no âmbito da legislação ambiental,
como a proteção, preservação, conservação e
recuperação ambiental (id., pp. 34-37);
A sociedade sustentável é definida como
aquela que obedece a nove princípios
elementares: respeita e cuida da comunidade
dos seres vivos; melhora a qualidade de vida
humana; conserva a vitalidade e a
diversidade do planeta; minimiza o
esgotamento de recursos; respeita os limites
do planeta; modifica atitudes e práticas
negativas para com o mesmo; permite que
comunidades cuidem do meio ambiente; gera
uma estrutura nacional para a integração do
desenvolvimento e conservação e favorece a
construção de uma sociedade global e da
biodiversidade;
Objetivos a serem alcançados por essa
temática seria: “conhecimento e compreensão
integrada de noções básicas de meio
ambiente; adoção de posturas sustentáveis
em casa e na escola compatíveis com esta
compreensão; observação e análise críticas de
fatos e situações ambientais pertinentes ao te-
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 145
ma; percepções de fenômenos de causa e
efeito na natureza importantes para
compreensão do meio ambiente e seus
diferentes ecossistemas; domínio de
procedimentos de conservação e manejo de
recursos naturais; percepção e valorização da
diversidade natural e sócio-cultural e
identificação pessoal como parte integrante
do meio ambiente”;
Os três ciclos onde foram subdivididos os
conteúdos relativos à temática ambiental são:
ciclos da natureza (enfocando o conjunto das
interrelações e fluxos presentes na natureza a
partir de uma visão sistêmica); sociedade e
meio ambiente (voltado para o estudo das
interrelações entre grupos humanos e as
atividades que desenvolvem num
determinado espaço) e manejo e conservação
ambiental (de cunho mais prático voltado
para a análise e incentivo de práticas que
respeitem o meio ambiente e evitem
desperdícios).
Uma das grandes contribuições dos PCNs
para a E.A é o favorecimento da educação
ambiental em âmbito formal despertando o
universo escolar para a importância da
temática e a responsabilidade de todos para
com a mesma;
Embora atitudes criativas e individualizadas
desenvolvido em muitas escolas em relação
ao temática ecológica deva ser elogiado é
fundamental um investimento sério nessa
área, onde equipes interdisciplinares de
profissionais treinados possam atuar junto às
escolas trabalhando a partir de suas realidades
Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 146
locais onde as mesmas estão inseridas e de
onde seus alunos se originam;
O desenvolvimento de materiais pedagógicos
na área são igualmente deficientes, e a
situação se complica se levarmos em
consideração a diversidade cultural brasileira
e a presença de uma tecnologia que por
vezes atrapalha mais do que ajuda, como é o
caso da mídia descompromissada;
Muitos desafios expostos nos PCNs ainda
continuam sem respostas plausíveis, mas
talvez, o maior de todos os desafios a vencer
seja o de concretizar o mínimo dos objetivos
já expostos nos PCNs, fazendo-os emergir do
papel para a realidade. Certamente algumas
vitórias já foram conseguidas, mas ainda há
muito que se fazer.
A Educação Ambiental nas
Cidades
Vilson Sérgio de Carvalho
AU
LA
5
Ap
res
en
taç
ão
Considerando que a maior parte da população do planeta escolheu
a cidade como lugar para viver, a presente aula se propõe a
pensar uma educação ambiental voltada para o âmbito urbano e
suas peculiaridades. Mesmo ocupando 2% da superfície terrestre,
as cidades promovem um consumo de 76% da madeira
industrializada e 60% da água doce sendo necessário que os
citadinos tenham uma maior consciência de sua responsabilidade
socioambiental. Essa é uma das tarefas da Educação Ambiental:
auxiliar o cidadão a repensar sua relação com o ambiente
construído através de ferramentas e estratégias específicas.
Discutir a possibilidade de uma Educação Ambiental Urbana e seus
desafios é o que pretende esta aula. Leia a mesma, reflita e tire
suas próprias conclusões.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Se posicionar sobre a possibilidade de uma Educação Ambiental
Urbana; Conhecer alguns dos principais problemas e desafios sócio-
ambientais daqueles que escolheram viver em cidades; Refletir sobre conceitos como Identidade Urbana, Patrimônio
Urbano e Cidadania Urbana; Analisar algumas das principais estratégias e objetivos de uma
Educação Ambiental voltada para o Espaço Urbano; Analisar similaridades e diferenças entre a cidade real e a
cidade ideal.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 148
Justificando esta aula
Atualmente, a maior parte da população do
planeta - cerca de dois bilhões de seres humanos - se
concentra em cidades. Em 1990, segundo dados
analisados por Fernández e Ramos (2003), as cem
maiores cidades do mundo reuniam um total
aproximado de 540 milhões de habitantes. Como se
isto não bastasse, nos últimos quarenta anos a
população mundial duplicou, em especial nas áreas
urbanas onde a expansão populacional foi da ordem de
cinco vezes seu número original. É previsto que, em
2007, pela primeira vez na história, o número de
pessoas vivendo nas cidades seja igual ao número de
habitantes residentes no campo (Crane, 2002). No
Brasil, por exemplo, entre 1970 e 1980, dos 119
milhões de pessoas que constituíam sua população
total, 80 milhões compunham a população urbana, o
que significava um percentual de 67,7 % (Santos, M.,
1985).
Dados recentes do IBGE indicam, segundo
estudos de Oliveira (2002), que mais de 80% da
população brasileira residem em cidades. Com o
redirecionamento econômico do país, que passou a
privilegiar a formação do mercado interno, a
industrialização e a urbanização, esses números
praticamente dobraram nas décadas posteriores,
promovendo um inchaço urbano de graves
conseqüências, cujos impactos vão desde os conhecidos
males do crescimento - como a falta de infra-estrutura,
a periferização de bairros e cidades “dormitórios” e o
aumento do desemprego -, até o incremento da
competição e do individualismo exacerbado por parte
de seus habitantes, responsável em grande parte pela
marginalização de enormes segmentos pobres da
população (Schmidt & Farret, 1986; Meier, 1979;
Dica do professor
Falar de Educação Ambiental no ambiente construído é falar de Educação Ambiental numa situação bastante particular caracterizada por relações em sua maioria superficiais e individualistas. Para promover uma Educação Ambiental verdadeira e profunda, é preciso, em primeiro lugar, romper com essa frieza e promover a alteridade. Nesta aula, você terá oportunidade de aprofundar esta e outras questões
sobre o tema.
Justificando esta aula 148 Por uma Educação Ambiental Urbana 151 Entre a cidade ideal e a cidade real 162 Considerações finais 188
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 149
Coelho, 1995; Sales e Baeninger, 2000 e Oliveira,
2002).
Compreendidas historicamente como
“concentrações de poder que controlam fluxos
econômicos, sociais e culturais, formando centros de
acumulação de riqueza e conhecimento” (Alva, 1997:
1), não são poucos os que se sentiram e ainda se
sentem atraídos pela vida nas cidades. As facilidades
divulgadas através da mídia, em termos do
oferecimento de melhores condições de trabalho e,
conseqüentemente, de vida, fizeram com que um
grande contingente de pessoas, em todo mundo,
deixasse a tranqüilidade do campo e optassem pela
pseudo-segurança e conforto relativo das grandes
cidades. Além da migração, o aumento natural da
população local (agravado pelo desconhecimento de
métodos anticonceptivos) foi outro motivo igualmente
responsável pela elevada concentração urbana nos
grandes centros, dificultando a promoção de sua
sustentabilidade socioambiental.
Enquanto um ambiente caracteristicamente
antrópico, a urbes tornou-se o símbolo exponencial do
processo civilizatório, servindo indubitavelmente para
exemplificar a capacidade de adaptação humana a uma
determinada realidade ambiental - por mais inóspita
que esta seja - de modo a satisfazer suas necessidades
e garantir sua existência. Todavia, a humanidade
pagou, e continua pagando, um alto preço para se
adaptar ao espaço que ela mesmo construiu. Foram
necessárias à implementação de uma série de
mudanças, não apenas físico-estruturais (onde o aço, o
ferro e o concreto substituíram o verde em larga
escala), mas também, socioculturais, tanto no plano
subjetivo (das idéias, concepções e sentimentos) como
intersubjetivo (dos relacionamentos). Para viver na
cidade, o ser humano teve que desenvolver uma série
Importante
O parágrafo ao lado é bastante importante, elucidando alguns dos principais desafios de quem vive na cidade. A limitação espacial, o convívio com o barulho urbano, o afastamento da natureza a adoção de táticas e regras
de convívio e segurança certamente fizeram do ser urbano um ser bastante peculiar. O que você pensa sobre isso?
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 150
de atitudes e hábitos sedentários típicos do citadino -
nem sempre favoráveis a ele próprio - inteiramente
diversos das posturas nômades e/ou rurais. Morar em
espaços reduzidos, restringir o contato com a natureza,
conviver com o barulho (poluição sonora), cumprir
normas e regulamentos urbanos, competir para
sobreviver financeiramente e adotar táticas de
segurança; são apenas algumas entre as muitas
modificações que o ser humano teve de criar, e depois
suportar, para viver como citadino.
Entre estas mudanças, talvez a mais sentida,
seja o fato de que, para lidar com a fluidez e o
contraste típicos do ambiente urbano, o habitante da
cidade criou para si uma estratégia de autodefesa,
através da qual passou a reagir em seu novo habitat
não com os sentimentos, mas com a razão, tornando-
se indiferente a qualquer realidade individual adversa
da sua, ou de maneira mais ampla, a quaisquer
relações e reações alheias. Essa forma de “escudo
contra a violação de nossa vida subjetiva pelas cidades”
(Simmel, 2000: 331) tem um considerável impacto nas
relações que se processam na tessitura urbana, tanto a
partir de um sentimento de “reserva” ou
“estranhamento” que passou a ser adotado como lógica
de inter-relacionamento quanto pela individualização de
traços particulares sem os quais, conforme esclarece
Simmel (2000), a existência urbana seria impossível.
A partir da premissa de que os citadinos são os
verdadeiros responsáveis por dar vida à cidade,
fazendo-a e refazendo-a, num contínuo movimento
constitutivo de sua essência; entende-se que seja
possível, então, analisar a contextura urbana e as
possibilidades de atuação/inserção da Educação
Ambiental na mesma a partir da análise das práticas
intersubjetivas e de conviviabilidade entre seus
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 151
membros (no sentido do reconhecimento e inter-
relacionamento com o outro).
A perspectiva de Educação Ambiental voltada
para o espaço urbano, que se busca caracterizar, nesta
aula, é a compreensão desta como um agente
catalisador de tais práticas, a partir de um programa de
metas definidas, entre as quais, a formação de uma
consciência ecológica; o estímulo à preservação
sociocultural do território urbano; a preocupação com a
qualidade de vida dos citadinos e o estímulo do
trabalho conjunto e solidário, onde todos tenham
chance de participar na luta por um ambiente melhor,
são consideradas como fundamentais e prioritárias.
Por uma Educação Ambiental Urbana
Problemas ambientais como a deterioração da
camada de ozônio, o devastamento de florestas, a
destruição do solo, a diminuição da biodiversidade e o
aumento da geração de resíduos perigosos estão
diretamente relacionados ao desenvolvimento da
sociedade industrial com suas modernas estruturas
urbanas. O último relatório do WorldWatch Institute é
apenas um entre muitos documentos a fazer um alerta
sobre a influência que a cidade exerce sobre o consumo
excessivo de recursos naturais. Segundo o mesmo: "as
cidades ocupam cerca de 2% da superfície terrestre,
mas contribuem para o consumo de 76% da madeira
industrializada e 60% da água doce". Tomando a
cidade de Londres como exemplo, o referido relatório
afirma que esta "requer uma área 58 vezes maior do
que a que ocupa para obter alimentos e madeira para
sustento de seus habitantes" (Relatório Worldwatch
Institute apud Jonh, 2002: 2). Isso significa que, se o
padrão dos londrinos fosse estendido ao resto das
populações urbanas do mundo, seriam necessários
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 152
mais de um planeta Terra para sustentar toda a
população mundial.
Como se não bastasse essa perigosa realidade
de destruição ambiental - que se agravou na sociedade
pós-industrial - justificada em função das demandas
dos que habitam a cidade; os estilos de vida urbana
ignoram elementos significativos e necessários do
comportamento humano como a necessidade de
interação e a constituição de vínculos. Por isso mesmo,
muitos autores que defendem a necessidade de uma
reestruturação urbana, como Ekhart Hahn (1996),
denunciam que, atualmente, as cidades têm se
constituído em um símbolo de desprezo às tradições
culturais e orgânicas, bem como de destruição das
identidades dos lugares.
Yi-fu Tuan (1980) faz coro com vários estudiosos
e pesquisadores da realidade urbana que se preocupam
com o fato de que nas grandes metrópoles nenhum
citadino pode sequer conhecer bem seu habitat, senão
pequenos fragmentos da cena urbana total. Existem
cantos mais conhecidos do que outros por hábito, ou
mesmo tempo de vida nos mesmos, mas dificilmente
alguém poderá dizer que conhece em profundidade
todos as áreas e subáreas do território das mesmas.
Esse desconhecimento, no entanto, não pode sufocar a
topofilia do citadino pelo local onde mora, isto é, o elo
afetivo entre si e a cidade da qual fazem parte. Isto
seria fatal para o destino da mesma em relação aos
valores, percepções e atitudes que os habitantes da
cidade teriam com aquilo que não o afeta. Afetar, no
sentido de sensibilizar, o citadino para a importância
do local onde vivem, sua história, suas riquezas, seus
contrastes e transformações contínuas é um dos
objetivos mais caros da Educação Ambiental Urbana.
Despertar-nos para uma topofilia natural que se
concretiza no respeito ao ambiente urbano e na
::Topofilia:
Esse termo, criado pelo geógrafo Yi-fu Tuan, refere-se ao elo de ligação afetiva dos citadinos, dos seres vivos entre si e do ambiente do qual fazem parte. Ela precisa ser estimula no caso das cidades por uma Educação Ambiental urbana sensível ao individualismo, no qual os citadinos encontram-se mergulhados, gerador de conflitos, preconceitos e destruição do ambiente natural.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 153
vontade de torná-lo cada dia melhor, priorizando o bem
estar dos elementos bióticos que constituem a cidade
em toda sua plenitude.
Para tal, se faz necessário entender que a
destruição gradativa da qualidade de vida urbana não
se refere apenas ao agravamento das condições do ar e
da crise iminente da água potável, mas também das
interações processadas no ambiente construído
marcadas pela impessoalidade e anonimato que
facilitam inclusive os processos de segregação sócio-
espacial de grupos minoritários. Trata-se, portanto,
para usar uma expressão da Psicologia Social, de uma
paisagem "enferma da alma", onde "a atrofia do mundo
interior ocorre paralelamente à destruição do ambiente
externo" (Hahn, 1994: 2). Se tal afirmativa é
verdadeira, a reestruturação urbana necessária à
produção de um ambiente mais solidário, através da
reversão do atual quadro de ruptura e desvinculação
entre os citadinos e destes com seu entorno urbano
(Barboza, 2003), exigiria a implementação de
programas/projetos que priorizassem o favorecimento e
a reconstrução de vínculos sociais através de um estilo
de vida mais harmônico e solidário em termos sócio-
ambientais.
A Educação Ambiental Urbana poderia ser
entendida como uma resposta plausível a esse desafio,
buscando, a partir de um paradigma holístico, a
construção de uma sociedade possível rumo a uma
sustentabilidade socioambiental. Trata-se de aproximar
pessoas pelo convívio em uma mesma dimensão local -
espaços de moradia, trabalho, lazer, escola; enfim, em
locais de reconhecido potencial de interferência citadina
organizada - com o objetivo de que possam ter a
chance de inscreverem suas perspectivas na otimização
das condições experimentadas cotidianamente no
espaço urbano. Para este tipo de operacionalização,
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 154
várias modalidades de ações podem ser repensadas e
adequadas à realidade local, tais como: a organização
de reuniões nas diferentes associações de bairro
mobilizadas para a temática socioambiental, onde
poderão ocorrer apresentações, mostras de vídeos,
fotografias e cartazes e palestras para esclarecer o
debate sobre um ou mais temas de interesse local; a
promoção de cursos, seminários, oficinas e
principalmente debates, onde a população urbana pode
dirimir suas dúvidas e inquietações sobre o valor de sua
atuação local; a elaboração de pequenos projetos
voltados para o cotidiano urbano que, gradativamente,
com o apoio de organizações governamentais ou ONGs,
poderão tornar-se projetos de desenvolvimento
comunitário concretizáveis; a formação de grupos
operativos como os Conselhos/Centros ambientais de
defesa e preservação sociourbana em instituições locais
tais como clubes, igrejas, agremiações, associações de
moradores e outros; a promoção de eventos públicos
de conscientização ambiental a céu aberto como
eventos musicais, teatro de fantoches, palestras, feiras
ecológicas e tantas outras atividades que, se não
solucionam a crise ambiental urbana, pelo menos
conscientizam e aproximam pessoas preocupadas com
a questão, favorecendo paulatinamente a diluição do
anonimato urbano.
Todos esses exemplos, relativos à dimensão
prática da Educação Ambiental Urbana, podem ser
concebidos como meios de inserção da questão
ambiental no domínio de experiências urbanas
coletivamente compartilhadas. Isso é possível a partir
de uma perspectiva comum que estreite as relações
entre os citadinos e facilite o entendimento de que
somente através da solidariedade e da participação
conjunta existem possibilidades, mesmo na selva de
pedra em que vivem, de se construir um ambiente mais
sustentável do ponto de vista socioambiental. Como
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 155
bem aponta Guattari (1999), tal proposta busca alertar
o cidadão para a triste realidade de que no meio em
que vivemos não só as espécies desaparecem, mas
também os gestos, as palavras, a solidariedade
cotidiana e a capacidade de indignação contra as
injustiças que deveriam caracterizar a nossa espécie.
É preciso reconhecer, entretanto, que a
Educação Ambiental Urbana enfocada nesse trabalho -
valorizando, em seus planos de atuação, elementos
característicos da cidade e práticas direcionadas à
esfera urbana - não é a única saída para a reconstrução
e a ressocialização do ambiente construído. É evidente
que outras ferramentas como as frentes de economia
popular, os projetos gerados pelos diferentes
agrupamentos de atuação político-cultural, formados
por organizações governamentais e não-
governamentais e até mesmo o trabalho produzido por
movimentos religiosos podem e devem servir ao
propósito de uma profunda reestruturação das cidades
em suas diferentes dimensões, entre as quais a inter-
relacional não é, em absoluto, uma exceção. Entre as
instituições da esfera governamental, deve merecer
destaque a recente criação, em dezembro de 2002, do
Ministério das Cidades que substituiu a antiga
Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano. A idéia
de sua criação, segundo explicações do próprio
MISSÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL URBANA
Partindo de uma conceituação de meio ambiente, na
qual não se separa ambiente-social de ambiente-
natural, a Educação Ambiental Urbana assume como
meta central, através de uma série de ferramentas
próprias, a promoção de ampla conscientização
ecológica dos citadinos geradora de uma nova
mentalidade pautada na idéia de que a terra é
nossa casa e que, portanto, os que nela habitam
fazem parte de um mesmo ecossistema, onde o que
afeta a um, na verdade, afeta direta ou
indiretamente todos os que dela fazem parte. Esse
tipo de lógica inclusiva é fundamental para superar algumas dificuldades anteriormente elencadas.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 156
presidente, está relacionada à necessidade crescente
de articular novas políticas públicas, onde a população
tenha uma participação mais ativa nas soluções dos
problemas urbanos.
Não obstante outras possibilidades, um dos
objetivos deste trabalho é valorizar a Educação
Ambiental como um instrumento privilegiado que, a
partir de uma proposta de atuação holística e
interdisciplinar - envolvendo a participação de
diferentes profissionais - engenheiros, arquitetos,
psicólogos, sociólogos, bem como leigos e
colaboradores -, traz elementos de grande potencial
para resolver problemas e dificuldades relacionados
àcrise ambiental urbana e reverter a errônea concepção
de que a cidade não representa nada mais do que "o
triunfo da humanidade sobre a natureza" em vez de
concebê-la como espaço complexo de sustentabilidade
sócio-ambiental.
Como defende Silveira (2001), a participação de
todos os envolvidos na luta pela qualidade de vida local
é a forma ideal para a resolução dos problemas
decorrentes do processo civilizatório. Entretanto, para
que tal participação seja efetivamente válida é
relevante salientar a necessidade de que a população
esteja bem informada sobre as temáticas a serem
debatidas, caso contrário seus integrantes não apenas
terão dificuldade de emitir juízos sobre a realidade
discutida, mas também serão mais facilmente
manipulados e induzidos pela opinião de outros. Para
tal, é necessário que os profissionais de Educação
Ambiental Urbana se mostrem sensíveis à utilização de
uma linguagem acessível à população citadina -
pautada na utilização de códigos, signos e símbolos
tipicamente urbanos - construída, sempre que possível,
a partir de uma contextualização local dos que a ela
terão acesso.
Dica de leitura
Para se aprofundar nas temáticas discutidas nas últimas páginas, não deixe de ler:
ORLANDI, E. (org.) - Cidade Atravessada: Os Sentidos Públicos no Espaço Urbano. São Paulo (Campinas): Pontes / Laboratório de Estudos Urbanos (LABEURB), 2001.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 157
Ao fazer uso de elementos que emergem da
experiência vivida, considerando as diferentes vozes e
pontos de vista envolvidos em sua maneira de
promover educação ambiental, o educador ambiental
pode favorecer o entendimento de questões e
contradições presentes no meio ambiente urbano,
proporcionando aos citadinos as condições necessárias
para uma reflexão aprofundada sobre a organização
social do ecossistema do qual fazem parte e os valores
fundamentais do ser e do existir sobre os quais têm se
pautado suas decisões e trajetórias urbanas. Essa
consciência socioambiental é o ponto de partida para
que a população urbana amplie suas possibilidades de
criar/recriar e preservar a cidade que deseje
respeitando os princípios ecologicamente sustentáveis;
sem perder de vista a necessidade do estabelecimento
de redes de parcerias, onde a união faz a força e todo
auxílio em benefício do bem comum é
democraticamente vantajoso.
Como orienta Dias, um dos estudiosos pioneiros
na área de Educação Ambiental, esta deveria sempre:
dirigir-se à comunidade. Deveria
interessar ao indivíduo em um processo
ativo para resolver os problemas no
contexto de realidades específicas e
deveria fomentar a iniciativa, o sentido
de responsabilidade e o empenho em
edificar um futuro melhor.
(Dias, 1994: 63)
Tal direcionamento deve ser observado por
aqueles que promovem a Educação Ambiental tanto
formal como não formal, uma vez que a aplicação desta
só tem sentido, na medida em que procura fornecer
em todos os âmbitos uma participação responsável e
eficaz da população na concepção e aplicação das
decisões que põem em jogo a qualidade do meio
natural, social e cultural, buscando modalidades de
desenvolvimento que não repercutiriam negativamente
Dica do professor
Elementos da experiência vivida: Independente do tipo de Educação Ambiental a que nos referimos, é fundamental
valorizarmos suas práticas e estratégias, se quisermos efetivamente sensibilizarnos educandos elementos que estejam próximos deles característicos de sua realidade sociocultural.
Importante
O conceito de comunidade aqui se refere à comunidade dos envolvidos na questão. Assim, esta se refere tanto a comunidades oficialmente constituídas como associações e ONGs quanto a uma comunidade escolar, ou mesmo a comunidade de moradores de um edifício, desde que os
envolvidos assumam uma responsabilidade coletiva com a transformação.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 158
sobre o ambiente. A elaboração e o cumprimento de
políticas ambientais destinadas à melhoria da qualidade
de vida urbana exigem por parte dos habitantes da
cidade uma forte dose de compromisso e reciprocidade
que pode ser estimulada através de trabalhos
promovidos por programas de Educação Ambiental
Urbana atravessados pelo ideal de formação de uma
nova mentalidade ecológica fundamentada em lógicas
de comportamento e intervenção urbanas não apenas
mais justas e ecologicamente corretas, mas também
mais funcionais e eficazes.
Para Viezzer (1998), qualquer decisão
estratégica voltada para a proteção do meio ambiente e
melhoria da qualidade de vida das populações envolve
conhecimentos, saberes, valores, atitudes e
habilidades, que envolvem direta ou indiretamente a
participação individual e coletiva, não apenas nas
decisões a serem tomadas, mas no seu processo de
implantação. Concordando com este, é possível afirmar
que quanto mais representativas forem as ações
implementadas com a participação dos órgãos do poder
público, grupos de poder econômico, comunidade
científica, responsáveis pelos meios de comunicação e,
de forma geral, a sociedade civil organizada através
dos diferentes movimentos sociais, grupos, entidades,
ONGs e demais associações representativas da
população urbana, mais chances terão os citadinos de
concretizar os sonhos de uma cidade onde todos
tenham chance de viver bem consigo mesmos e com os
outros.
PARTICIPAÇÃO
Sem a participação dos envolvidos - o que envolve
um trabalho de mobilização comunitária associado
ao de educação ambiental - é inútil pensar em
resultados eficientes. Ao contrário, quanto maior for
a participação destes, maiores são as chances da
proposta ser bem-sucedida. A necessidade de que
representantes das diferentes esferas da comunidade
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 159
Para isso, faz-se imprescindível questionar a
indiferença, enquanto uma atitude típica do citadino
perante o “outro”. A aproximação que se processa na
cidade com relação a coisas e pessoas, como aponta
Rabello (2002), tem se dado através da identidade
empática. Ou seja, via identificação momentânea e
solidariedade volátil, escapando, assim, a consciência.
Atenta a essa realidade, a Educação Ambiental Urbana
quer alertar para os riscos da negação da subjetividade
que impede que os indivíduos olhem para algo além de
si mesmos, sinalizando-os para os perigos da
indiferença que anula o "outro", negando sua
humanidade.
Ciente desse risco, ela apregoa, através de seus
postulados teóricos e intervenções práticas, que o
compromisso ético com o “outro” precede o
compromisso político, o que no caso das preocupações
socioambientais, volta-se para o questionamento do
modelo de desenvolvimento, da legislação ambiental e,
de maneira mais ampla, para as diferentes formas de
relacionamento sociedade-natureza que a cidade
agrega. Esse, sem dúvida, é um de seus grandes
desafios, difícil, mas, não impossível de ser vencido:
conseguir romper com a "de-socialização" (Raphael,
2000), isto é, com o estigma urbano do sentimento de
perda de familiaridade com o mundo e com o outro,
valorizando a necessidade de que os citadinos se
conscientizem para o fato de que não existem
fronteiras nos separando das outras pessoas, senão
aquelas que nós construímos, uma vez que, de algum
modo: “somos todos ligados em nossa humanidade, em
nossa luta por justiça, em nossa procura pela paz, em
participem do processo de implementação de um
projeto de Educação Ambiental pode fazer com que
sua execução seja mais demorada, mas os
resultados são mais animadores e de resultados
mais duradouros.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 160
nosso amor radical à vida” (Mclaren e Farahmandpur
2002: 109).
De modo geral, a Educação Ambiental Urbana
parte do pressuposto de que os diferentes sistemas
socioculturais que compõem o grande ecossistema
urbano são mutáveis; conseqüentemente, as inter-
relações que o território urbano abriga podem ser
igualmente mutáveis e repensadas dialeticamente com
os(as) que a produzem e as perpetuam. Nessa lógica, a
teia inter-relacional urbana, concebida como um
processo hipercomplexo, reúne comportamentos
interativos, negociados e mutáveis, onde independente
de seu tempo de duração - tradicionais ou provisórios –
promovem uma mútua transformação tanto do citadino
quanto da estrutura do qual faz parte. Deste modo,
questões como formação identitária ou a representação
social do “lugar onde vivo” ou do “outro que convivo”
buscam referenciais neste entrelaçamento
intersubjetivo urbano.
Apenas a título de exemplo, partindo desse viés
de análise da realidade urbana complexa, já não é mais
possível reproduzir, de forma ingênua e perversa, o que
sugere o conhecido Relatório Brudtland - traduzido em
português com o título de Nosso Futuro Comum - ao
analisar o círculo vicioso existente entre pobreza e
COMPROMISSO ÉTICO
A cidade não é formada apenas por complexos de
edifícios, avenidas, casas enfileiradas, sistemas de
subsistência como comércio, hospitais, ou de
administração como prefeituras e demais
instituições. Uma cidade é formada essencialmente
de pessoas que merecem ter uma qualidade de vida,
merece, portanto, serem ouvidas, respeitadas e ter
chance de participarem das decisões que
influenciarão em suas vidas.
Sem esse princípio ético vital, é perda de tempo
tentar mobilizar um determinado grupo para
qualquer questão, independente do foro a que
possamos nos referir.
Dica de leitura
Uma das obras atuais mais importantes para conhecer as
estratégias urbanas de convívio social e defesa na luta pela sobrevivência tecendo interessantes considerações sobre a esfera pública e a privada é a de: SENNET Richard
O Declínio do Homem Público. As tiranias da intimidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 8a. imp.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 161
deteriorização ambiental, uma vez que se faz
necessário pensar as causas socioculturais que
explicam determinados impactos sobre a ambiente. Se
as favelas existem e provocam impactos ambientais
como deslizamento de encostas, interrupção de
caminhos naturais de drenagem e acúmulo de lixo em
locais inadequados, faz-se necessário ir além da
simples constatação dos fatos e avaliar que tais favelas
nascem justamente de uma dura política de segregação
sócio-espacial, onde quem mais sofre com tais
problemas são os próprios pobres expostos
constantemente a doenças e ao deslizamento de suas
casas seguida de destruição e morte (Carvalho, 2002;
Souza, 2000).
A partir do que foi exposto, é possível afirmar
que a principal contribuição da Educação Ambiental
Urbana seja justamente a possibilidade de oferecer
uma visão mais rica, complexa e abrangente das
relações entre cidade, cultura, subjetividade,
participação, poder e sustentabilidade. Uma vez que
suas preocupações abrangem não apenas o espaço da
cidade, mas também as inter-relacionais que nele são
processadas, a mesma propicia a consideração de
diferentes elementos que servem à problematização
das bases que sustentam o ideal moderno de vida
urbana. Com esse horizonte de atuação, ela tem
chance de oferecer aos pesquisadores e estudiosos de
várias áreas, especialmente das áreas de ciências
humanas e sociais, assim como os demais interessados
na compreensão da temática urbana, uma série de
importantes insights que podem ser adotados como
parte de uma teoria mais ampla de ecologia social
crítica e libertadora.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 162
Entre a cidade ideal e a cidade real
Uma das definições mais clássicas do que seja
uma cidade é a de Robert Park (1967), renomado
pesquisador e sistematizador da Ecologia Urbana, que a
caracteriza como o "habitat do homem civilizado". A
cidade é, na verdade, fruto do processo civilizatório que
caracteriza as complexas relações processadas entre a
humanidade e a natureza. Trata-se, portanto, de um
espaço geográfico formado em decorrência da
consagração do modelo de desenvolvimento urbano-
industrial, onde a natureza foi inteiramente
transformada pelo ser humano construtor/destruidor/
reconstrutor de forma a atender suas necessidades
específicas.
Segundo as pesquisas de Sjoberg (1977), o
homem começou a viver em cidades há cerca de 5500
anos, entretanto a concentração populacional em
cidades só se iniciou por volta do século XIX com o
início da Revolução industrial, onde boa parte da
população rural foi se convertendo em urbana. Na
Europa, vilarejos murados e auto-administrados já
eram chamados de cidadelas ou burgos (Rybczynski,
1996), mas foi somente com o advento da Revolução
Industrial que a geografia das cidadelas se modificou,
ganhando contornos típicos das cidades que
conhecemos, se caracterizando "por maior fluidez no
sistema de classes, pelo aparecimento da educação e
comunicação em massa e pelo afastamento de parte da
elite dos centros para os subúrbios" (Sjoberg, 1977:
49). No Brasil em particular, ocorreu um processo de
formação urbana distinto do das cidades européias e
norte-americanas, pois enquanto nestas a Revolução
Industrial teve como conseqüência a formação de
proletariado consolidando a urbanização e ligando-a de
forma irreversível à a industrialização; em nosso país,
as cidades se desenvolveram basicamente em função
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 163
da exportação de recursos naturais. Só mais tarde, com
os avanços tecnológicos na área dos transportes - que
permitiram o comércio de mercadorias em longas
distâncias -, foi que se deu a deterioração da produção
manufatureira local e o enraizamento da
industrialização. De certo modo, isso fez com que os
primeiros grandes centros urbanos brasileiros
funcionassem como grupos intermediários entre as
economias locais de exportação e os centros de
consumo (Schmidt e Farret, 1986).
Historicamente, é válido considerar que, mesmo
quando a base econômica e política do país era agrária,
em meados do século XIX, a cidade nunca deixou de
ser um espaço de poder, uma vez que para elas
refluíam os senhores rurais constituindo, assim, uma
forte oligarquia urbana. Mais tarde, quando a base
agrária foi aos poucos perdendo sua força política, em
virtude do crescimento nos setores de serviços e na
indústria e da intervenção estatal, esse poder urbano
apenas se consolidou ainda mais, fazendo da cidade a
sede do poder local, regional e nacional (Brasileiro,
1976).
Com o tempo, o desenvolvimento de métodos
científicos foi se tornando cada vez mais preciso, não
apenas no campo das ciências exatas, mas todas as
áreas do conhecimento humano acabaram por deflagrar
uma corrida rumo à especialização, frente às novas
necessidades da produção automatizada que
FORMAÇÃO URBANA DIFERENCIADA
O Brasil não passou pela Revolução Industrial como a
Europa e os Estados Unidos. Somente mais tarde, em
função do aumento das exportações e
desenvolvimento da tecnologia, o Brasil foi acelerando
seu processo e urbanização. Portanto, é recente, no
Brasil, a realidade da cidade como um espaço de
poder, uma vez que nossa economia foi durante
séculos de base agrária.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 164
substituíram as atividades artesanais anteriores
(Blumenfeld, 1977). A nova modalidade de trabalho
trouxe consigo um binômio tensional presente até os
dias atuais, a dualidade entre cooperação e
competição. De um lado, a indústria exigiu o trabalho
cooperativo, onde trabalhadores provenientes de
diversas localidades e, conseqüentemente, de culturas
e habilidades diferentes devem agir em sinergia para
garantir a produção - o que acabou gerando uma onda
considerável de emigração do campo para a cidade. De
outro, a produção em massa de produtos passou a
gerar uma competição, clássica no modelo capitalista -
que vê no lucro o motivo de sua existência -, no que diz
respeito à conquista do mercado promovendo conflitos
variados no campo do trabalho como, por exemplo,
entre as empresas distintas; entre os diferentes
departamentos de uma mesma empresa; entre pessoas
de uma mesma seção, e até mesmo uma forma de
autocompetição, onde o empregado compete inclusive
consigo mesmo na ânsia de hoje fazer seu trabalho
render mais que ontem. Tal competição foi estimulada
pelo sistema capitalista selvagem através da guerra de
preços, dos conflitos internos e do empobrecimento das
relações sociais (uma vez que não devemos nos
confraternizar com concorrentes, ou melhor, com
inimigos), desde que o lucro esteja garantido no preço
de revenda de tais produtos ou ainda no pagamento de
salários cada vez mais baixos em virtude da própria
competição criada, configurando assim um perigoso
círculo vicioso.
Na opinião de Scully (1996), um elemento
histórico interessante a considerar na formação das
cidades foi o fato de que a moradia permanente, que
foi e é a base estável das cidades européias, sempre
faltou na América e isso teve um efeito na forma como
as cidades evoluíram e como foram alteradas. Citando
Lukács, ele aponta que essas transformações talvez se
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 165
devam a características espaciais como a própria
amplitude do continente. A partir dessa compreensão,
associa algumas alterações de conduta como
"intolerância com restrições públicas, violência urbana,
uma propensão a expandir novos horizontes, fantasias
de lucros rápidos, fantasias solitárias e mudanças
perpétuas" como uma forma de reagir a redução dos
espaços, como é o caso do confinamento a espaços
residenciais extremamente reduzidos ou espaços
institucionais com um grande número de regras
internas de funcionamento e padrões de
comportamento a serem obedecidos (Scully apud
Rybczynski,\1996:32).
As pequenas cidades foram, no decorrer do
século XX, dando origem às chamadas "metrópoles",
caracterizadas, segundo Blumenfeld (1977), como
aquelas que acumulam a função de prover a maior
parte da produção e serviços; possuem uma população
até dez vezes maior do que as maiores cidades pré-
industriais; graças à renovação dos meios de
transportes, seus raios de extensão são cerca de 10
vezes maiores do que as cidades pré-industriais;
envolvem um complexo de distritos urbanos e áreas
verdes; possuem zonas residenciais separadas dos
DUALIDADE COOPERAÇÃO X COMPETIÇÃO
O mercado hoje exige de uma mesma pessoa que
esta seja extremamente competitiva, que saiba
conquistar o cliente antes que outros o façam, o que
exige competir com outros o tempo todo. O lucro a
qualquer preço faz com que o nível de competição
venha a atingir, na realidade atual, seus maiores
índices. Contudo, o mesmo mercado exige dessa
mesma pessoa que ela saiba trabalhar em equipe,
ouvir seus companheiros, forme um time. Note a
incongruência interna caracterizada pela dualidade
cooperação e competição sob a qual esta pessoa
está exposta. Multiplique isso por milhares de
pessoas e as concentrem em cidades. Talvez assim
você obtenha uma boa idéia de como tem
funcionado o complexo sociourbano.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 166
locais de trabalho e, por fim, apresentam mais opções
de trabalho e ocupação dos trabalhadores que reúne.
Atualmente, o número de cidades com um milhão ou
mais de habitantes cresceu, segundo Craw (2002), de
80 em 1950 para mais de 300 em 1990, com uma
projeção estimativa de 500 em 2010 (Craw, 2002: 10).
Ao longo do tempo, vários métodos têm sido
utilizados sem sucesso para conter o crescimento das
grandes cidades. É conhecido o caso londrino, a
tentativa de criar uma espécie de "cinturão verde" que,
tentando evitar os problemas do crescimento urbano,
através da plantação e da renovação de um cerco verde
reunindo concentrações arbóreas e parques urbanos em
torno de áreas determinadas, acabou trazendo outras
dificuldades ainda mais graves relacionadas à
concentração populacional em áreas específicas. Outros
métodos, como a criação de pontos de crescimento em
áreas menos populosas, trouxeram alguns resultados,
mas também não chegaram a resolver o problema
(Blumenfeld, 1977). No caso brasileiro, os projetos de
favorecer a ocupação da Região Centro-Oeste do país,
que culminou com a mudança da capital da periferia
(Rio de Janeiro) para o centro do mesmo (Distrito
Federal), não foi igualmente suficiente para promover o
desenvolvimento necessário da região em foco.
POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO URBANO
DO MINISTÉRIO DAS
CIDADES
A elaboração da nova política de desenvolvimento
urbano no país pretende criar um novo paradigma de
planejamento e gestão urbana definindo, até o final do
ano, a política nacional de desenvolvimento urbano,
destacando as seguintes tarefas que estão em
implementação:
Novo Sistema Nacional de Saneamento Ambiental;
Novo Sistema Nacional de;
Nova Política de Mobilidade e Acessibilidade do
Transporte Urbano;
Implementação do Código Nacional de Trânsito; Capacitação das Cidades para o Planejamento, Infor
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 167
Ao contrário do que desejavam os responsáveis
pelo planejamento urbano ordenado e limitado, o
processo de urbanização se deu de maneira tão ampla,
que alguns pesquisadores como Roberto Monte-Môr
(1988), postulam a idéia de urbanização extensiva,
chamando à atenção para um processo de urbanização
que chegou mesmo a ultrapassar os limites da cidade
para alcançar, sob forma de rede, inúmeros espaços
regionais integrados através de malhas mundiais.
Segundo ele, a definição de tecido urbano deveria se
referir não apenas à realidade da cidade, mas a todo
conjunto de manifestações nas quais é possível
observar um predomínio da cidade sobre o campo.
Nesse sentido, poder-se-ia dizer e, talvez, até seria
mais correto falar em um modo de viver urbano - o
urbanismo - que alimenta, e é alimentado, de uma
cultura da metropolização, possível de ser encontrada
dentro ou fora do ambiente rotulado como zona
urbana. Esse é um dos motivos pelos quais, como
aponta Calvino (1990), as cidades deixaram de ser um
conceito meramente geográfico para se tornarem o
símbolo complexo e inesgotável da existência humana.
Para entender a cidade, é preciso concebê-la
como um espaço vivo, isto é, em constante
dinamicidade e mutação, numa tentativa de atender,
em seu tempo histórico, novas demandas surgidas por
aqueles que a constituem, bem como lidar com suas
conseqüências. Isso não significa que devemos
entender as constantes transformações do meio urbano
mação, Gestão e Modernização Administrativa;
Apoio à implementação do Estatuto das Cidades e
Reforma fundiária, envolvendo planos diretores e
regularização fundiária;
Participação social e construção federativa.
Veja outros detalhes no site do ministério:
http://www.cidades.gov.br/index.php?option=content&task=view&id=229&Itemid=0
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 168
como sendo tão somente formas reativas, um reflexo
da vontade humana, pois assim como a humanidade
continuamente transformou a cidade, a mesma tem
igualmente transformado a humanidade em sua forma
de interagir com o meio ambiente e aqueles que dele
fazem parte.
Nesse sentido, não seria exagero afirmar que
existem tantas cidades quanto os grupos sociais que as
caracterizam. A diversidade urbana pode ser analisada
tanto em função da variabilidade de estilos, gabaritos e
formas de suas construções, onde o novo -
representado pelo progresso urbano - e o velho -
caracterizado através do patrimônio histórico citadino -
caminham juntos, embora, nem sempre marcados por
uma relação de equilíbrio; quanto da população que
abriga reunindo diferentes classes sociais, etnias e
culturas em zonas diferenciadas. Muitas cidades de
ontem se transformaram nas atuais megacidades (com
mais de 10 milhões de habitantes). Segundo
estatísticas recentes, entre as 23 megacidades do ano
2000, duas delas ficam no Brasil: São Paulo, a segunda
maior concentração urbana do mundo, com 22,1
milhões de habitantes e Rio de Janeiro, ocupando o
décimo sexto lugar com 12,5 milhões de habitantes
(Coelho, 1995: 24-25).
Na ótica de Sjoberg (1977), só é possível
interpretar corretamente o curso de evolução urbana,
comparando-a com a evolução tecnológica e a evolução
da organização social, pré-requisitos de sua
constituição e desenvolvimento. Desde o seu início
"como residência de especialistas", ela tem sido
contínua fonte de inovação funcionando como incentivo
ao progresso. Como centros de inovação elas
forneceram um solo fértil para inovação, desde as
primeiras comunidades urbanas na Suméria até a
contemporaneidade atual. Entretanto, a cidade que era
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 169
símbolo do progresso, era igualmente baluarte das
tradições, uma vez que as mesmas foram e continuam
sendo fundamentais em seu processo constitutivo e na
continuidade dos sistemas que a formam no planos
socioeconômico e político-cultural.
Rybczynski (1996), por sua vez, sustenta que o
futuro urbano deveria se basear na moderação e num
contínuo aprendizado com os fracassos e sucessos do
passado. Em sua ótica, a tendência da metropolização
das cidades advém justamente da ignorância da
humanidade sobre seu passado urbano, correndo deste
modo o risco de cometer os mesmos erros do passado.
Para exemplificar tal idéia, o mesmo cita o caso da
Cidade-Luz comparando a mesma com a cidade de
Montreal no Canadá. Paris, com suas praças
tradicionais e parques imponentes, ruas arborizadas e
CONSELHO NACIONAL DAS CIDADES
Nos termos das MPs 2220/2001 e 103/2001, o CNC
tem por atribuições:
I – propor diretrizes, instrumentos, normas e
prioridades da política nacional de desenvolvimento
urbano;
II - acompanhar e avaliar a implementação da
política nacional de desenvolvimento urbano, em
especial as políticas de habitação, de saneamento
básico, de trânsito e de transportes urbanos, e
recomendar as providências necessárias ao
cumprimento de seus objetivos;
III - propor a edição de normas gerais de direito
urbanístico e manifestar-se sobre propostas de
alteração da legislação pertinente ao
desenvolvimento urbano;
IV - emitir orientações e recomendações sobre a
aplicação da Lei 10.257, de 10 de julho de 2001, e
dos demais atos normativos relacionados ao
desenvolvimento urbano;
V - promover a cooperação entre os governos da
União, Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
e a sociedade civil na formulação e execução da
política nacional de desenvolvimento urbano;
VI - elaborar o regimento interno;
VII –propor as diretrizes para a distribuição regional
e setorial do orçamento do Ministério das Cidades.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 170
lindas vistas intocadas é fruto de um planejamento
urbano que se processa, segundo Rybczynski, a partir
de uma visão estética cuja tradição já dura 400 anos.
Mesmo com a inclusão de vias expressas ao longo do
Sena, o aparecimento de shoppings de diferentes
estilos ou, ainda, a criação do moderno "Centre
Pompidou", seu traçado manteve o ar renascentista
original. Conforme relata em seu livro, quando as
autoridades perceberam que o Champs-Elysées estava
ficando muito "americano", declararam o boulevard um
símbolo nacional e obrigaram que o mesmo fosse
refeito no estilo europeu. Para ilustrar essa
preocupação com a preservação da memória urbana
em Paris, esse pesquisador cita o caso da criação de
um shopping center construído no lugar do mercado de
Les Halles, no centro de Paris, cujo projeto teve que ser
aprovado até pelo presidente Giscard d´Estaing na
época. Em Montreal, ao contrário, o mesmo
pesquisador transmite sua indignação ao relatar que
muitos prédios antigos foram simplesmente derrubados
em nome do progresso, o que, por si só, denota uma
total ausência de uma memória urbana (Rybczynski,
1996: 24).
Bresciani (2002) e Gonçalves (2002) ressaltam a
importância dessa memória ao apresentar a cidade
como um operador de memorização. Tal denominação
se justifica na idéia de que a "cidade coloca o mundo na
história e traz para o presente o legado das gerações
mortas e de suas heranças imortais" (Bresciani, 2002:
30). As memórias contidas em seus monumentos,
bibliotecas, estabelecimentos de ensino, edifícios,
nomeações de praças, becos e ruas são exemplos do
quanto a história está gravada e se perpetua no
contexto urbano, uma vez que esta história se constrói
e, simultaneamente, é construída pela cidade. Nem
sempre na forma de "olhar" a cidade representada
conceitualmente através de um mapa em escala, tal
Quer saber mais?
Champs-Elysées:
Vale reparar como todos os caminhos do Champs-Elysées conduzem ao Arco do Triunfo, monumento construído por Napoleão para comemorar as vitórias de 1805 que, por sua vez, serve de entrada ao Palais de las Tulleries. A Avenue de Champs-Elysées termina com a Place de la Concorde onde o rei Luis XVI e sua mulher, Maria Antonieta, foram guilhotinados.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 171
historicidade se faz notar, uma vez que a continuidade
histórica exige, além de tais documentos, a autorização
coletiva de seu valor por parte dos citadinos que
continuam fazendo a história acontecer. Dessa forma, a
preservação de determinados espaços históricos só
será possível se sua carga histórica for preservada e
reconhecida através de olhares que não vêem apenas
uma estátua, um prédio ou uma rua e sim objetos e
locais prenhes de sentido histórico, uma vez que a
memória e a identidade são materializadas através
destes.
Lamentavelmente, não é possível afirmar que a
realidade das cidades brasileiras, com raras exceções,
seja muito diferente do exemplo citado em Montreal.
Infelizmente, o desrespeito à memória urbana através
da desconsideração para com seu patrimônio tem sido
latente nas últimas décadas em nosso país. É
lastimável constatar que, dia a dia, grande parte de
nossa história venha sendo destruída, e porque não
dizer apagada, de forma irrecuperável das mais
diferentes formas. A cidade do Rio de Janeiro, por
exemplo, que reúne um passado glorioso, uma vez que
abrigou a família real portuguesa quando esta,
literalmente, fugiu de Napoleão Bonaparte em 1808 e,
posteriormente, foi sede da capital brasileira por várias
décadas; deveria receber mais atenção de entidades
responsáveis pelo patrimônio histórico e artístico como
o IPHAN, o que não vem acontecendo. O centro da
cidade do Rio de janeiro pode ser citado como um
exemplo clássico do quanto a história urbana vem
sendo negligenciada em nosso país. Parece
inacreditável que muitos cariocas ignorem o valor
inestimável de prédios como o Palácio Tiradentes, O
Paço Imperial, a Igreja da Terceira Ordem Franciscana
ou a Biblioteca Nacional (a maior da América Latina e
uma das maiores do mundo em número de obras
reunidas). Em várias ruas do centro, encontram-se
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 172
belíssimos exemplos de inspiração francesa Art Deco
nas janelas, grades, telhados e nos estilos
arquitetônicos de vários prédios. Detalhes como o fato
de que muitos prédios ainda possuem antigas telhas
portuguesas de cerâmica pintadas a mão que passam
despercebidos. A maior parte dessa riqueza histórica a
céu aberto encontra-se em péssimo estado de
conservação, sendo freqüentemente ignorada e
alterada para dar lugar a fachadas "mais modernas" de
aço e vidro.
É mesmo uma pena que, na cidade dita
maravilhosa, prédios lindíssimos e de inquestionável
valor histórico como o da Cruz Vermelha em vez de
serem reformados e revalorizados, se encontrem em
péssimo estado de conservação, apenas esperando sua
demolição iminente para que em seu lugar seja
construído um estacionamento ou coisa parecida. Seu
destino talvez seja o mesmo do "Palácio Monroe", um
lindo edifício no estilo arquitetônico do Teatro Municipal
- primeiro prédio construído na Avenida Rio Branco -
que foi demolido na década de 70, do século XX, para
andamento das obras do metrô e que hoje a prefeitura
do Rio de Janeiro deseja reconstruir. Apesar da
louvável iniciativa, não seria muito mais fácil e menos
oneroso ter evitado o crime de demolir um prédio de
tamanha beleza e importância histórica?
SOBRE O IPHAN
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, hoje vinculado ao Ministério da Cultura, foi
criado em 13 de janeiro de 1937 pela Lei nº 378, no
governo de Getúlio Vargas.
Em sua luta pela proteção do patrimônio cultural,
estendeu sua ação à proteção dos acidentes
geográficos notáveis e das paisagens agenciadas
pelo homem. Há mais de 60 anos, o Iphan vem
realizando um trabalho permanente e dedicado de
fiscalização, proteção, identificação, restauração,
preservação e revitalização dos monumentos,
Confira outros detalhes, acessando o site do IPHAN:
www.iphan.gov.br
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 173
Da mesma forma, outras cidades como Ouro
Preto, em Minas Gerais, reconhecida
internacionalmente como patrimônio mundial da
humanidade por seu valor histórico, têm sofrido com a
falta de preservação. A debilidade na fiscalização que
tem favorecido o crescimento de construções
irregulares e a falta de conservação de muitos prédios e
igrejas que reúnem obras de artistas como Antônio
Francisco Lisboa (o Aleijadinho) tem preocupado
representantes da UNESCO que estranham e lamentam
a situação. O trânsito de veículos pesados, por
exemplo, tem levado o Museu da Independência a
ceder entre um e dois centímetros por ano, sem falar
nos incêndios freqüentes a igrejas famosas. Tal
situação pode levar Ouro Preto a perder o título de
Patrimônio Mundial que recebeu há apenas 23 anos
atrás, um péssimo exemplo, uma vez que esta foi a
primeira localidade do Brasil a receber este título.
Fugindo excepcionalmente a essa realidade devem ser
destacados os casos de Paraty, na região da Costa
Verde (RJ) - com seus encantos naturais e um Centro
Histórico em excelente estado de preservação - e as
últimas reformas da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro, conseguidas através da criação de parcerias
com grandes empresas. É importante salientar que
existe toda uma legislação voltada para o cuidado com
PARA SABER MAIS
Localizado na Praça XV no Rio de Janeiro, o Paço
Imperial é hoje um Centro de Eventos e Exposições
aberto ao público.
Construído em 1743, foi usado primeiramente como
Casa dos Vice-Reis do Brasil. Com a chegada da corte
de D. João VI ao Rio de Janeiro, e a elevação da
colônia à condição de Reino Unido a Portugal e
Algarves, o Paço se transformou em sede dos
governos do Reinado e do Império. Foi nele que a
Princesa Isabel assinou a famosa Lei Áurea no dia 13
de maio de 1988. Após a Proclamação da República,
nele foram instalados os Correios e Telégrafos. Em
1938, foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 174
as questões patrimoniais, as chamadas Áreas de
Proteção do Patrimônio Cultural (APACs) estão
espalhadas por todo o território brasileiro, o problema
está, como na maioria de outros problemas ambientais,
no descumprimento das leis existentes e na ausência
de rigor por parte das autoridades competentes.
Estudiosos sobre o assunto, como o professor Gasparini
(2002), se preocupam com a decomposição de valores
vinculados ao patrimônio cultural, na medida em que
este seria um testemunho tangível da identidade,
história e cultura de um povo. Todavia, em sua opinião,
o mais grave e preocupante:
não seriam as cópias, as réplicas, as
vulgaridades e o ridículo. O que preocu
pa é a massa de gente sempre mais
numerosa, sem questionar, sem
analisar todo um mundo de engano
visual, de falso estético, de aceitar as
aparências e a mentira como realidade
cotidiana.
(Gasparini, 2002: 5)
O que Gasparini quer chamar à atenção é para a
necessidade de se mudarem as atitudes e os valores do
citadino que julga essas modificações como naturais,
ignorando que as mesmas podem trazer desordem,
degenerescência histórico-cultural e, em alguns casos,
até a inoperância ao território urbano. Mengozzi e
Barreto (2001) denunciam que se a cidade é
visualmente desagradável e cinzenta, não se trata de
uma fatalidade. A "feiúra urbana é construída" na
medida em que as interferências urbanas são realizadas
e experimentadas ao longo do tempo, desrespeitando a
memória arquitetônica local e principalmente sem a
participação da população. Os referidos autores citam a
realidade de São Paulo, como um típico exemplo, onde
lugares de beleza arquitetônica e paisagística
desaparecem sob postes de cimento, outdoors, sinais
de trânsito e má iluminação. Contudo, é sabido que a
Quer saber mais?
Sobre Ouro Preto: Localizada em Minas Gerais, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, Ouro Preto é uma das mais importantes cidades históricas do Brasil. Em 1988, completou 300 anos de fundação. Com seu conjunto urbano barroco conservado como no século XVIII, a cidade exibe entre suas ruas estreitas e ladeiras tortuosas magníficos exemplares da arquitetura religiosa e civil. Muitas de suas igrejas apresentam obras de Antônio Francisco Lisboa, o
Aleijadinho.
Dica do professor
Como bem diferencia Souza (2000), o conceito de qualidade de vida não pode ser confundido com o conceito de padrão de vida. Enquanto este último se refere exclusivamente ao poder aquisitivo de um indivíduo ou comunidade; o segundo é mais amplo e diz respeito à conquista de coisas ou situações que não podem ser adquiridas através de dinheiro como qualidade do ar, liberdade e autonomia.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 175
cidade de São Paulo não está sozinha, pois os mesmos
erros parecem se repetir em várias cidades brasileiras.
É válido enfatizar que o resgate da memória
urbana, valorizado pela Educação Ambiental urbana
como uma de suas principais metas de ação, não se
refere, apenas, à conservação de prédios e
monumentos, mas à necessidade de se preservar e
valorizar qualquer tipo de registro histórico urbano
daquilo que um dia fomos e fizemos. Tal definição
abrange, portanto, desde a perpetuação de tradições e
costumes da população urbana, até suas manifestações
materiais como documentos históricos que vão de
imagens e sons gravados até as imponentes
construções. É a memória urbana que nos ajuda não
apenas a entender melhor os citadinos e a qualidade de
vida que tinham nas cidades de outrora como também
a realidade dos citadinos de hoje e suas possibilidades
de viver em uma cidade melhor amanhã, seguindo
pistas de caminhos trilhados não muito distantes dos já
percorridos. Enquanto espaço vivido, a cidade está
relacionada com a história pessoal de cada um que
deseja não apenas reconhecer pontos importantes da
cidade inalterados mesmo com o passar dos anos, mas
também se reconhecer nos mesmos, a partir de suas
lembranças e recordações que o citadino faz questão de
guardar em sua memória. Trata-se, deste modo, de
valorizar a experiência pessoal e coletiva dos citadinos
em seu cotidiano urbano em relação à importância do
patrimônio cultural como um elemento histórico-
identitário.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 176
EXERCÍCIO 1
Existe algum patrimônio histórico em sua cidade? Ele
recebe algum tipo de proteção/conservação? Em caso
afirmativo, quem é o responsável pelo trabalho? O
IPHAN tem algum tipo de atuação em sua cidade?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Nesse sentido, vale retomar o relato de
Rybczynski (1996), onde merecem destaque suas
impressões pessoais de Paris, ao constatar que quase
30 depois de ter ido à cidade pela primeira vez, quando
ainda era estudante, ela continuava a mesma em
essência. Realidade oposta à do território urbano
americano no qual residia, onde algumas cidades se
assemelhavam a uma área cinematográfica, reunindo
uma mistura confusa de locações diversas para
produções diversas. Em outras palavras, ele conseguiu
não apenas reconhecer Paris a partir de vários pontos
geográficos, mas principalmente se reconhecer em
Paris, quando lá esteve enquanto estudante. A
insistência de Paris em valorizar seu patrimônio
histórico, através de políticas rígidas de preservação do
espaço, é absolutamente contrastante com a realidade
de uma cidade como Rio de Janeiro, onde esta parece
ter herdado hábitos no mínimo questionáveis do
passado, como a revisão geral dos logradouros do Rio
realizada pelos republicanos ao término do Regime de
Dom Pedro I, numa tentativa de remover os vestígios
do sistema de governo anterior (Magalhães, 2002).
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 177
É nesse contexto que a Educação Ambiental
Urbana assume um caráter de grande valia, uma vez
que se coloca atenta à promoção da valorização da
memória urbana, celebrando a diversidade do
patrimônio sócio-ambiental urbano, através do
incentivo de ações que visem despertar a população
urbana para a importância histórico-cultural dos
aparatos urbanos a sua volta, sejam estes os
monumentos e chafarizes de praças públicas de beleza
estética e contemplativa, sejam estes, a própria
habitação onde moram, o edifício em que trabalham ou
ruas e vielas em que costumam transitar. Pretende-se,
assim, que a transformação de áreas habitadas, no que
se refere à revitalização da mesma - como ampliação
de ruas, renovação da iluminação, adaptações voltadas
a portadores de deficiência especial -, aconteça sem
que o princípio básico da preservação da memória seja
desconsiderado ou reservado a locais específicos. O
projeto "Corredor Cultural" desenvolvido pela prefeitura
do Rio de Janeiro desde o início da década de 80, do
século passado, é um exemplo do que pode ser feito
em termos de preservação de um importante acervo
arquitetônico, histórico e ambiental de uma localidade,
no caso o centro da cidade carioca que já havia sido
conhecido como a "Paris dos Trópicos". O que
inicialmente foi movido pela preocupação do valor
SOBRE PARIS OU CIDADE LUZ
Paris, a capital da França, é uma das maiores e mais
importantes cidades européias.
Com uma população de mais de onze milhões de
habitantes, é conhecida no mundo inteiro por sua
beleza e influência cultural na história ocidental.
Concentra museus, igrejas e parques de deslumbrante
beleza e importância. Nenhuma outra capital européia
consegue evocar, mediante a simples menção de seu
nome, o encanto, o romantismo, a história e o luxo
como ela. Cidade planejada, ela está dividida em 20
"arrondissements" (bairros) ao longo das margens do
rio Sena. Cada um deles possui estilo próprio e
inconfundível.
Dica de leitura
Examine com mais cuidado essas questões lendo a obra de Case: CASE, P. - A Cidade Desvendada. Reflexões e polêmicas sobre o espaço urbano, seus mistérios e fascínios. Rio de Janeiro: Ed. Ouro, 2000.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 178
arquitetônico e artístico de determinados espaços que
estavam desaparecendo foi ganhando, com o tempo,
outras proporções que hoje melhor se explicitariam
com a preocupação da perda da identidade, das
referências e da memória carioca em geral (Pinheiro,
2002).
As tradições urbanas, definidas como o conjunto
sistemático de comportamentos historicamente
determinados ao longo do tempo, e traduzidas através
de suas danças, jogos, festas, canções (hinos),
símbolos como bandeiras, brasões, logotipos, formas
arquitetônicas e códigos como o sotaque lingüístico e o
gestual empregado na comunicação entre os habitantes
da cidade precisam igualmente ser preservadas.
Boussaa (2003) afirma e alerta que
a descontinuidade com as tradições
tem promovido uma crise de
identidade urbana, desorientando as
pessoas, desumanizando as cidades e
criando problemas de grande
proporção social, econômica, física e
ambiental.
(Boussaa, 2003: 55)
A identidade dos citadinos é profundamente
afetada por suas tradições, uma vez que estas
funcionam como um elo essencial que os liga a
determinada localidade urbana. No caso das inter-
relações entre os habitantes da cidade, os valores
culturais que dão vida às tradições são de capital
importância e seu desprezo está na raiz do anonimato
que este trabalho se propôs a enfocar.
Na opinião de Jean Ladrière (1973), as cidades
que não se deixam reconstruir no imaginário são
cidades inabitáveis. Em outras palavras, a singular
experiência de se viver e conviver em cidades exige
que tenham um mínimo de consciência do seu valor
simbólico, da riqueza de suas lembranças e memórias,
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 179
e do reconhecimento, do quanto estas incidem sobre o
momento atual que estamos vivenciando. A Educação
Ambiental Urbana, voltada para a preservação local e
fortalecimento dos laços afetivos entre os citadinos,
deve considerar a memória e as tradições urbanas
como eixos elementares de seu trabalho, a serem
resgatados e divulgados sempre que possível em uma
linguagem que possa falar tanto aos jovens como aos
(as) anciões(ãs) de uma área urbana qualquer. A
desconsideração de um desses elementos pode fadar
projetos/programas importantes de Educação
Ambiental ao fracasso.
Mesmo considerando a seriedade dos problemas
urbanos citados, a miséria urbana continua sendo entre
todos, indubitavelmente, um dos mais graves
problemas econômicos e políticos da atualidade; até
mesmo porque este possui reflexos diretos em outros
problemas de grande magnitude social como o aumento
da criminalidade e da violência. Projeções revelam
que, em fins da década de 80, do século XX, um quarto
da população urbana de todo o mundo vivia em
condições de extrema pobreza, fator que somado à
falta de perspectivas a curto prazo para essas mesmas
pessoas eleva consideravelmente o potencial agressivo
da sociedade. O desenraizamento de suas localidades
de origem, aliado à massa de desempregados ou
subempregados que, segundo dados da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), já somam mais de 1,1
bilhão de seres humanos com uma média de 12 mil
desempregados ano é um quadro não apenas
preocupante, mas também alarmante e de extrema
gravidade (Relatório da OIT citado em Coelho, 1995).
No Brasil, segundo Eliomar Coelho (1995),
levantamentos realizados pelo Banco Mundial mostram
que os 20% mais ricos ganham 26% mais que os 20%
mais pobres. Esse panorama configura uma dura
Dica de leitura
Desenraizamento: Sobre o tema do desenraizamento, é aconselhável a leitura da obra de WEILL Simone. Condição Operária e Outros Estudos sobre a Opressão. O desenraizamento (1979); onde o mesmo é analisado como uma das mais perigosas doenças
das sociedades humanas.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 180
realidade na qual aproximadamente 45 milhões vivem
abaixo da linha de pobreza com uma renda mensal de
até 1/4 do salário mínimo (Id.\1995, p. 25). Daí o
momento histórico que o país atravessa, onde o novo
governo brasileiro - representado democraticamente na
figura de seu presidente eleito: Luís Inácio Lula da Silva
- não teve dúvidas ao escolher a geração de novos
empregos e, principalmente, a fome como suas metas
centrais de erradicação e controle, mesmo com os
muitos desafios que tais medidas exigem, como a
necessidade das reformas previdenciária, política,
trabalhista e tributária e a implantação do Programa
"Fome Zero" - ora localizada em pontos estratégicos de
carência - a todos os pontos deste imenso país. No caso
das pequenas e médias assim como nas grandes
metrópoles, o Programa prevê ações que visam
estimular a agricultura urbana, estabelecer novas
parcerias com os varejistas e redes de supermercados,
criar bancos de alimentos e restaurantes populares,
além de modernizar os instrumentos de abastecimento.
Ações cuja operacionalidade só será garantida
plenamente com o apoio solidário do maior número
possível de pessoas comprometidas com uma sociedade
melhor.
Sobre esse problema em particular, existem
também questões de simples resolução e de grande
impacto na sociedade como é o caso do desperdício.
Atualmente, o país perde cerca de U$4 bilhões
anuais em função do desperdício de frutas, hortaliças,
verduras e grãos. O problema começa no plantio, segue
nas atuais formas de estocagem e comercialização e
termina na maneira em que são aproveitados nas
residências, quando muitas vezes se descarta
justamente a parte mais nutritiva do alimento
(Rodrigues e Cavinatto, 1997). Esse é o tipo do
processo cuja reversão é relativamente simples, barata
e passa muito mais pelas campanhas educativas
Para navegar
Para maiores detalhes sobre o referido programa do governo, é recomendável consultar o site: www,fomezero.gov.br, onde o mesmo se encontra detalhado em seus diferentes detalhes e prioridades.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 181
voltadas para conscientizar e sensibilizar a população
para o problema, do que o estabelecimento de grandes
parcerias e a liberação de grandes somas financeiras.
Atualmente são 175 milhões de brasileiros que
aspiram urgentemente o exercício digno de sua
cidadania e a solução desses cancros sociais como a
violência, a fome, a ausência de uma memória
ambiental e outros tão comuns na mídia quando se
refere ao espaço sociourbano. Problemas que
envergonham a todos e reforçam as fileiras dos que
traficam, dos que roubam, furtam, seqüestram; dos
que desistiram de viver. A mesma união coletiva que
elegeu o atual governo é a mesma que deve servir à
solução de problemas críticos de ordem sócio-
ambiental. As diferenças que hoje são encaradas como
problemas, devem, ao contrário, ser repensadas como
capital social importante a serviço do bem comum
citadino. Como bem aponta Alan Touraine: “a cidade é
um espaço de proteção e fomento das diferenças”
(Touraine, 1988: 6). Trata-se de uma organização
institucionalizada de comunicação entre grupos e
indivíduos diferentes, sendo uma das metas mais
importantes a promoção de políticas urbanas voltadas à
organização da heterogeneidade de modo que a cidade
diminua as distâncias sociais, presentes através de
segregações e exclusões sociais, suprima os guetos e
DESPERDÍCIO
A Educação Urbana deve combater o desperdício e
aproveitar campanhas que incentivem não apenas
uma redução do ímpeto consumista, mas a
importância de valorizar mais o que temos sem
desperdiçar.
É incrível como tantas coisas são desperdiçadas ainda
com grande chance de reutilização em todas as áreas,
seja numa roupa por falta de um botão ou um
pequeno ponto que resolveria o problema, seja nos
alimentos, onde a falta de planejamento faz com que
o nosso lixo seja considerado um dos mais orgânicos
do mundo.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 182
atue fundamentada na tolerância e na solidariedade, o
que só será possível através de uma grande rede social
urbana - governo, empresas, mídia e população, em
geral, “como coletividade, onde todos desejem dar a
cada um a possibilidade de construir seu projeto
pessoal de vida” (Id., 1998, p.\5).
A produção e o destino do lixo urbano é outro
problema de considerável gravidade sociourbana.
Conforme esclarece Wolman (1977), o denominado
"ciclo metabólico urbano" que envolve as necessidades
metabólicas dos habitantes da cidade - materiais
(suprimentos), serviços e comodidades indispensáveis
ao seu funcionamento - não se completa até que os
dejetos da vida urbana sejam removidos e eliminados.
Com o avanço da industrialização e o aumento da vida
média dos seres humanos, houve um sensível
crescimento demográfico e, a partir deste, um
significativo aumento na geração destes e os métodos
que, antes pareciam suficientes para lidar com os
resíduos, hoje apresentam uma série de deficiências.
A problemática do lixo pode ser explicada
através da análise da importância dos vários fatores e
LIXO E ENTROPIA
A entropia ou medida do grau de desorganização de
um sistema é um dos fatores que deve ser
considerado na produção de resíduos. Se
considerarmos o lixo como matéria e energia, pode-
se dizer que ele encerra um elevado grau de
desordem demonstrado pela diversidade de
materiais que compõe o lixo e pelo desperdício de
matéria-prima que representa. A forma como o lixo
é produzido, sem mencionar a forma como os
resíduos são lançados diretamente no meio
ambiente - sem manejo ou tratamento adequado -
reforçam o processo entrópico. Por isso, o
consumismo desenfreado e a falta de preocupação
com o destino final dos produtos sempre fizeram
parte do rol de questionamentos levantados pela
Educação Ambiental, especialmente no território
urbano, onde a situação é mais agravante
(Eigenheer e Serta, 1993).
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 183
mecanismos que influenciam no processo de produção,
manejo, tratamento e destino final de resíduos. O
conhecimento destes fatores é essencial para que o
citadino possa promover a busca de soluções e torná-lo
agente atuante no processo de manutenção da
qualidade de vida no meio urbano (Lima, 2002).
Infelizmente, somente a partir do final da Segunda
Guerra Mundial, com o advento do consumo de massa,
foi que a questão do lixo ganhou destaque em função
do aumento drástico da produção de detritos. Houve
uma época em que o lixo era biodegradável, contudo os
resíduos sofreram uma série de modificações,
especialmente a partir da década de 60, do século XX,
através da produção de plásticos e resíduos químicos
responsáveis por uma diminuição gradativa da matéria
orgânica. A decomposição extremamente demorada
destes pelo ambiente faz com que hoje o não
aproveitamento das embalagens práticas de diferentes
produtos seja um dos principais elementos de poluição
urbana perceptível em suas ruas, parques e rios.
A entropia ou medida do grau de desorganização
de um sistema é um dos fatores que deve ser
considerado na produção de resíduos. Se
considerarmos o lixo como matéria e energia, pode-se
dizer que ele encerra um elevado grau de desordem
demonstrado pela diversidade de materiais que compõe
o lixo e pelo desperdício de matéria-prima que
representa. A forma como o lixo é produzido, sem
mencionar a forma como os resíduos são lançados
diretamente no meio ambiente, sem manejo ou
tratamento adequado reforçam o processo entrópico.
Por isso, o consumismo desenfreado e a falta de
preocupação com o destino final dos produtos sempre
fizeram parte do rol de questionamentos levantados
pela Educação Ambiental, especialmente no território
urbano, onde a situação é mais agravante (Eigenheer
e Serta, 1993).
Você sabia?
Lixo Domiciliar: Dados do IBGE de 1995 revelam que 80% das 100.000 toneladas de lixo domiciliar coletado no Brasil são depositados em lixões a céu aberto (Rodrigues e Cavinatto, 2001).
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 184
Pela legislação vigente, cabem às prefeituras a
tarefa de gerenciar a coleta e a destinação dos
chamados resíduos sólidos. Entretanto, mais de 46
milhões de pessoas moram em locais onde não existe o
recolhimento de lixo domiciliar. Além disso, estima-se
que o Brasil perca mais de quatro bilhões de dólares
por ano em função de não aproveitar o material
reciclável. Mesmo com o crescimento do
aproveitamento da sucata de alumínio (especialmente
de latas recicladas) e o vidro, outros produtos como a
reciclagem de papéis ainda é praticamente
inexpressiva. O principal problema continua sendo a
falta de conscientização para o problema e a
inexistência ou funcionamento deficiente de programas
de coleta seletiva (Cozzeti, 2001).
Nas comunidades mais pobres, a situação se
complica ainda mais, assumindo um tom de gravidade
e precariedade ainda maior. A título de exemplo, a
Prefeitura do Rio de Janeiro registrava que, em 1992, a
população carioca que vivia em favelas atingia uma
média entre 1/5 e 1/4 da população total. Em 53%
dessas favelas não havia qualquer tipo de coleta de lixo
e, em cerca de 26 a coleta feita pela COMLURB mesmo
realizada era tida pelos moradores como precária e
deficiente (SOUZA, 2000). Não é preciso ser um grande
estudioso da problemática socioambiental para saber o
que isto significava em termos de destruição, doença e
morte. Problema que o comportamento demagógico
das autoridades competentes apenas agravou, através
de um paternalismo que acostumava mal a população
carente que em vez de se unir e cobrar seus direitos,
ampliando sua força de atuação e consciência política,
contava, pacientemente ou não, com a boa vontade das
administrações estaduais e municipais.
É preciso que os resíduos sejam vistos como
algo que pode e deve ser útil e não simplesmente como
algo a ser descartado ou uma constante ameaça à
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 185
população. A Educação Ambiental Urbana pretende,
ousadamente, transformar citadinos desconhecedores e
espectadores desse problema em protagonistas e
produtores de ações que visem a reversão deste
quadro. As conhecidas práticas envolvendo os "três Rs"
- Reduzir o consumo de produtos e o desperdício dos
mesmos; Reaproveitando e Reciclando-os, constituem a
tríade mais conhecida e eficaz para lidar com esse
problema.
É evidente que a fome, o desperdício, a
desvalorização da memória urbana e de suas tradições
e a produção excessiva de dejetos são apenas alguns
entre os muitos problemas responsáveis pela crise
urbana atual. É literalmente impossível a consideração
de todos as questões relativas à violência urbana atual,
à complexa governabilidade da cidade, às deficiências
de suas redes de serviço (esgoto, transporte, saúde e
outros). A opção pelos problemas aqui elencados se
deu principalmente em função do material disponível e
principalmente pela relação que os mesmos detêm com
a temática central desse trabalho voltado para a
sustentabilidade sociourbana e o papel da Educação
Ambiental na sua promoção.
Ao priorizar o espaço urbano no que concerne às
condições ambientais do citadino - seja o ambiente
doméstico e as condições habitacionais do mesmo; seja
o ambiente mais amplo em seus diferentes sistemas de
saúde, transporte, segurança, educação, cultura,
recreação, trabalho, sustentabilidade ambiental e
relacionamento interpessoal -; a Educação Ambiental
Urbana tem uma parcela de contribuição importante a
oferecer na direção de um aprofundado diagnóstico
sociourbano e da formação de uma complexa rede
social voltada para um planejamento efetivo da
resolução das principais dificuldades nele apontadas
rumo ao desenvolvimento sociourbano e a excelência
da qualidade de vida citadina. A construção de cidades
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 186
sustentáveis passa, como declara Boff (2000), por uma
alfabetização ambiental ecológica onde se faz
necessário repensar desde nossos hábitos de consumo
até os planos de desenvolvimento urbano, pautando-se
no que ele qualifica como Ética do Cuidado.
A Educação Ambiental Urbana defende como
condição sine qua non para a melhoria das cidades, a
mudança do ideário coletivo em relação à noção de
desenvolvimento associada exclusivamente ao
paradigma econômico, de modo que este possa incluir,
também, outras dimensões (referentes às
potencialidades citadas) associadas aos parâmetros de
sustentabilidade socioambiental e conscientização de
que todos fazemos parte de um espaço finito com
recursos igualmente finitos (Relatório Brundtland,
1991). Especialmente, quando o espaço em questão é o
ecossistema urbano marcado pela mudança,
instabilidade, heterogeneidade e complexidade e que,
portanto, exige "um cuidado" todo especial.
Assim sendo, concordando com a argumentação
de Jacobi (2000), um dos grandes desafios urbanos é
justamente o de promover e centrar ações "que
dinamizem a necessária consciência ambiental dos
cidadãos a partir de um intenso trabalho de educação"
(Jacobi, 2000: 388). Trabalho este, cujo suporte, a
Educação Ambiental aplicada ao ecossistema urbano
pode oferecer a todos os que dela necessitarem. Trata-
se de um processo que, na ótica de Ferrara (1997),
almeja como resultado permitir que os citadinos
compreendam: a) a cidade como um organismo vivo
que se transforma sem cessar e precisa ser
compreendida nas suas peculiaridades e dimensões de
suas transformações; b) que os sistemas ecológicos
urbanos são nutridos não apenas por variáveis físicas,
mas, sobretudo, econômicas, sociais, políticas e
culturais, mais contraditórias do que harmônicas; c)
Dica do professor
Entende-se neste estudo, o conceito de "cuidado" como o cuidado essencial fundador de uma ética solidária e matriz da sustentabilidade socioambiental. O desenvolvimento, por sua vez, é entendido como um processo contínuo de passagem de uma população, do nível de existência em que se encontre, para um nível mais humano, ou seja, para um nível onde a população possa realizar mais plenamente suas
potencialidades em diferentes âmbitos - político, cultural, econômico etc. (Ferreira, 1966).
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 187
que a participação urbana está muito além de
dispositivos legais ou, até mesmo, de um simples
programa político, mas é conseqüência de uma gestão
pública sem rígidas hierarquias, a fim de permitir
amplos canais de participação entre a população e seus
dirigentes; d) o valor da formação de indivíduos
capazes de uma percepção urbana que lhes permita
selecionar alternativas de ação, capacidade esta,
indispensável ao exercício cidadão (Ferrara, 1999: 79).
A compreensão de tais princípios, especialmente
aquele que se refere à consciência da participação do
citadino na busca de soluções dos problemas típicos do
ecossistema urbano, é apenas o primeiro passo para a
construção da cidade que queremos e da qualidade de
vida urbana que merecemos. Passo, todavia, que
implica uma reflexão aguda dos princípios que regem
as interações processadas entre os atores do entorno
urbano, de forma que condutas relativas ao anonimato
e ao receio ao diferente dêem lugar a alternativas
múltiplas de cooperação interpessoal, redução das
desigualdades sociais, e luta coletiva por uma cidade
cada dia melhor que se desenvolve a partir de um futuro
comum.
É evidente, como já foi dito, que o rol dos
problemas citados neste capítulo não esgotam o grande
conjunto de dificuldades de se viver em complexos
urbanos. Há questões agudas relativas, por exemplo, à
questão da saúde - onde é possível destacar, entre
outras, o péssimo estado da maioria das instituições
hospitalares públicas e os hábitos alimentares
prejudiciais de grande parte dos citadinos acostumados
a comer, sempre correndo, para chegar logo ao
trabalho -; ao sistema de transporte de massa, cujos
impactos ambientais causados e os vultuosos
investimentos necessários exigem dos que se dedicam
a sua implementação considerações que vão muito
Dica do professor
Gestão Pública sem hierarquias: Como exemplo, poderíamos considerar as Leis Orgânicas Municipais, os Planos Estratégicos e os Planos Diretores, todos fundamentados na participação do cidadão, através da sociedade civil organizada, e voltados para o estabelecimento de normas e diretrizes técnicas dirigidas ao desenvolvimento global e constante da localidade (no caso do município).
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 188
além da operacionalidade do fluxo de tráfego; ou,
ainda, outras questões relativas à violência urbana, à
rede do tráfego de drogas e o atual sistema carcerário,
cuja abordagem poderia conduzir a outras discussões
distanciadas do objetivo central desse estudo. Deve-se
ressaltar, entretanto, que tais assuntos
propositadamente excluídos, também, merecem
reflexões por suas conseqüências na tessitura urbana e
não devem ser ignorados por aqueles que desejam
entender a complexidade do ambiente construído
degradado e fragmentado.
A abordagem en passant de tais problemas
urbanos quis mostrar, ainda, a importância da inclusão
de Programas de Educação Ambiental nas políticas de
desenvolvimento e gestão urbana, uma vez que estes
atuariam como catalisadores da sustentabilidade
citadina. A partir dessa percepção, instrumentos como
o Plano Diretor e os Projetos de Estruturação Urbana
(PEUs), que têm por finalidade garantir o pleno
funcionamento dos sistemas urbanos e promover o
bem-estar dos citadinos através de reformas urbanas
de grande e pequeno porte, não deveriam deixar de
incluir o incentivo às práticas de Educação Ambiental
variadas e efetivas como estratégia básica de
atuação. Evidentemente que isso só seria possível com
um amplo apoio e participação não apenas das
autoridades competentes, mas de diferentes segmentos
da sociedade civil organizada, interessados na
construção de uma cidade mais digna e
ambientalmente saudável.
Considerações finais
A partir das discussões formuladas ao longo
desse trabalho, pode-se deduzir que, a não ser a
certeza de que a cidade é um território que ainda
precisa ser melhor compreendido, repensado e
Dica de leitura
Sobre o fluxo rodoviário nas cidades e seus impactos ambientais: Sobre os possíveis ambientais do fluxo rodoviário no sistema urbano, vale conferir a obra de Vilson Carvalho - Educação Ambiental e Desenvolvimento Comunitário (2002), onde a construção da Linha Amarela no Rio de Janeiro é tomada como exemplo.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 189
desafiado, muitos questionamentos sobre a temática
sociourbana permanecem sem resposta. Ainda há
muito a fazer para melhorar a qualidade de vida nas
cidades e romper com os mecanismos urbanos de
anonimato e impessoalidade que têm regido as inter-
relações entre citadinos. Algumas situações aqui
discutidas envolvem uma série de outras variáveis de
ordem política, cultural e econômica que tornam a
busca de sua resolução mais complexa e demorada.
Todavia, mesmo ciente dessas dificuldades,
existem outras situações nas quais um sério trabalho
de conscientização ecológica como o promovido pela
Educação Ambiental Urbana apresenta excelentes
resultados como, por exemplo, o problema das idéias
pré-concebidas, geralmente deturpadas sobre um
espaço qualquer. Um dos grandes desafios para a
reestruturação solidária do espaço urbano reside na
destruição de certos mitos persistentes que, como
fantasmas indesejáveis, apregoam e sustentam falácias
favoráveis à manutenção do atual quadro de
desterritorialização, desprestígios à memória urbana e
individualismo social. Divulgados tanto pela mídia como
pela força da história oral, estes mitos se infiltram no
contexto sociocultural local e tornam-se difíceis de
exterminar. Entre eles, apenas para destacar alguns, é
preciso esclarecer, por exemplo, que sedentarismo não
é, e nem precisa ser, sinônimo de individualismo ou
isolamento; que práticas coletivas não são prejudiciais
à organização social estabelecida, ao contrário as
enriquecem; que a preservação urbana não é e nem
deve ser confundida com o conservadorismo citadino e
que a opinião pública nem sempre é indigna de crédito.
As intervenções de Projetos/Programas de Educação
Ambiental Urbana - ainda que possuam uma
nomenclatura semelhante como é o caso do Projeto
“Corredor Cultural” desenvolvido pela prefeitura do Rio
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 190
de Janeiro - têm auxiliado a exterminar estes mitos
geradores de falsas concepções como as citadas.
Além denunciar tais falácias, é preciso estimular
o citadino a assumir e amadurecer a idéia de que a
estruturação espacial da cidade não deve se opor à
estruturação subjetiva da mesma. Os quarteirões, as
vilas, os bairros, os municípios, ou mesmo os Estados
territorialmente delimitados, não deveriam minimizar,
ou ir ao encontro do complexo relacional que emerge
das fronteiras entre esses diferentes locais. Sem negar
o valor dos espaços privados ou de intimidade, não se
pode, em função da manutenção dos mesmos, ignorar,
ou extinguir os espaços banalizados, onde a
coletividade urbana se promove de forma intensa e
concreta. É importante que os responsáveis pela
construção e organização das cidades tenham plena
consciência de que "o espaço construído assume um
papel ativo na dinâmica de construção das relações
sociais, influenciando na confluência ou dispersão entre
as pessoas" (Barboza, 2003: 60).
Há quem pense que a Educação Ambiental nada
tem a ver com questões de intersubjetividade ou
relacionamento interpessoal, contudo, várias
experiências na área têm mostrado justamente o
oposto. Visando evitar que a cidade, destinada a ser a
residência natural da humanidade, acabe por
converter-se em seu túmulo (Mitscherlich, 1972) ou,
como aponta Santos (1997), que a metrópole não se
transforme gradualmente em uma necrópole; a
Educação Ambiental Urbana tem mostrado que é
preciso combater formas ritualizadas de distanciamento
social que alienam o indivíduo não apenas do ambiente
onde se insere, mas de sua própria humanidade. Ao
fazer isso, ela pretende na verdade, esclarecer o valor
de se buscar e promover uma outra ética de
sobrevivência, onde a conscientização ecológica, por ela
Para pesquisar
Sobre o Plano Diretor e sua aplicabilidade, vale conhecer o art. 182
da Constituição Brasileira.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 191
promovida, assume uma importância sine qua non na
melhoria do ambiente urbano. É evidente que a
resolução de muitos dos problemas aqui tratados
exigem a consideração de uma série de medidas como
intervenções diretas nas áreas urbanas, sobretudo nas
áreas degradadas, com o objetivo de proteger sua
memória e renová-las de maneira que possam oferecer
novas possibilidades de socialização. Isso implica uma
profunda revisão das diretrizes adotadas nos projetos
de arquitetura e urbanismo, sem falar dos
instrumentos de gestão urbana em geral - como o
Plano Diretor e o Estatuto das Cidades -, através das
decisões que estes permitem tomar. No caso destas
últimas, vale destacar que elas estão voltadas para as
soluções técnicas a serem empregadas na minimização
de tais problemas, e que, por conseguinte, devem
valorizar algumas estratégias como a busca de
alternativas de baixo impacto socioambiental na área
citadina e o desenvolvimento de trabalhos educativos
junto à população, garantindo uma melhor gestão e
continuidade das propostas a serem coletivamente
implementadas.
A atuação de outros agentes formadores de
opinião, como a mídia escrita e televisiva, também
assumem um papel fundamental em termos de
esclarecimento e/ou conscientização, uma vez que
através das mesmas se torna possível uma
aproximação com a realidade do outro ainda que
indiretamente através das ondas do rádio ou da TV. A
maneira como o espaço é cooptado como notícia ora
como um espaço agradável e convidativo, ora como
sujo e perigoso, também tem igualmente o poder de
influenciar sensivelmente os citadinos no sentido de
aproximá-los ou afastá-los da realidade urbana, bem
como de tentar transformar sua realidade ou se
conformar a esta.
Dica do professor
Baixo ou alto impacto sócio-ambiental? Atenção: É difícil qualificar, principalmente para quem é de fora, se tal ação promoverá um baixo ou alto impacto sócio-ambiental. Ações
aparentemente simples podem ter um efeito desastroso, enquanto que ações que poderiam trazer conseqüências complicadas acabam sendo bem assimiladas por uma comunidade. Esse julgamento pode ser facilitado se os membros da comunidade participarem das decisões a serem tomadas.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 192
EXERCÍCIO 2
Dados recentes do IBGE indicam que, após o
redirecionamento econômico do país, mais de 80% da
população brasileira residem atualmente:
( A ) No campo;
( B ) Em regiões intermediárias entre o campo e a
cidade;
( C ) Em áreas desérticas;
( D ) Em áreas desabitadas;
( E ) Nas cidades.
EXERCÍCIO 3
Classifique as frases em falsa e verdadeira e depois
marque abaixo a opção correta.
- a educação ambiental urbana tem como pretensão o
estímulo à preservação sociocultural do território
urbano ( );
- a formação de uma consciência ecológica urbana é
um dos principais desafios da educação ambiental
urbana ( );
- uma das menores preocupações do educador
ambiental urbano diz respeito ao estímulo do trabalho
conjunto e participativo ( );
- a alteridade deve ser minimizada para acelerar os
programas de educação ambiental voltados para as
cidades ( ).
( A ) V, F, V, F;
( B ) F, F, V, V;
( C ) V, V, F, F;
( D ) V, V, V, F;
( E ) V, F, F, F.
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 193
EXERCÍCIO 4
Que tipo de adaptações o homem urbano teve que
fazer para viver em cidades?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 5
Como podemos entender a educação ambiental
urbana?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
___________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
Atualmente, a maior parte da população do
planeta - cerca de dois bilhões de seres
humanos - se concentra em cidades. Em
1990, segundo dados analisados por
Fernández e Ramos (2003), as cem maiores
cidades do mundo reuniam um total
aproximado de 540 milhões de habitantes;
Dados recentes do IBGE indicam que mais de
80% da população brasileira reside em
cidades. Com o redirecionamento econômico do
país, que passou a privilegiar a formação do mer
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 194
cado interno, a industrialização e a urbanização,
esses números praticamente dobraram nas
décadas posteriores, promovendo um inchaço
urbano de graves conseqüências, cujos
impactos vão desde os conhecidos males do
crescimento - como a falta de infra-estrutura,
a periferização de bairros e cidades
“dormitórios” e o aumento do desemprego -,
até o incremento da competição e do
individualismo exacerbado por parte de seus
habitantes responsável em grande parte pela
marginalização de enormes segmentos pobres
da população (Schmidt & Farret, 1986; Meier,
1979; Coelho, 1995; Sales e Baeninger, 2000
e Oliveira, 2002);
Podemos entender as cidades como
concentrações de poder que controlam fluxos
econômicos, sociais e culturais, formando
centros de acumulação de riqueza e
conhecimento”;
As facilidades divulgadas através da mídia,
em termos do oferecimento de melhores
condições de trabalho e conseqüentemente
de vida, fizeram com que um grande
contingente de pessoas em todo mundo
deixasse a tranqüilidade do campo e
optassem pela pseudo-segurança e conforto
relativo das grandes cidades;
A urbes tornou-se o símbolo exponencial do
processo civilizatório, servindo para
exemplificar a capacidade de adaptação
humana a uma determinada realidade
ambiental de modo a satisfazer suas
necessidades e garantir sua existência;
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 195
A humanidade pagou, e continua pagando,
um alto preço para se adaptar ao espaço que
ela mesmo construiu. Foram necessárias à
implementação de uma série de mudanças,
não apenas físico-estruturais (onde o aço, o
ferro e o concreto substituíram o verde em
larga escala), mas também, socioculturais,
tanto no plano subjetivo (das idéias,
concepções e sentimentos) como
intersubjetivo (dos relacionamentos);
Para lidar com a fluidez e o contraste típicos
do ambiente urbano, o habitante da cidade
criou para si uma estratégia de auto-defesa,
através da qual passou a reagir em seu novo
habitat não com os sentimentos, mas com a
razão, tornando-se indiferente a qualquer
realidade individual adversa da sua, ou de
maneira mais ampla, a quaisquer relações e
reações alheias;
Educação Ambiental Urbana visa à formação
de uma consciência ecológica; o estímulo à
preservação sociocultural do território
urbano; a preocupação com a qualidade de
vida dos citadinos e o estímulo do trabalho
conjunto e solidário, onde todos tenham
chance de participar na lutar por um
ambiente melhor, são consideradas como
fundamentais e prioritárias;
O último relatório do WorldWatch Institute
denuncia o consumo excessivo de recursos
naturais por parte das cidades. Segundo o
mesmo: "as cidades ocupam cerca de 2% da
superfície terrestre, mas contribuem para o
consumo de 76% da madeira industrializada e
60% da água doce";
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 196
Yi-fu Tuan (1980) preocupa-se com o fato de
que nenhum citadino pode sequer conhecer
bem seu habitat, senão a pequenos
fragmentos da cena urbana total. Contudo
segundo ele, esse desconhecimento não pode
sufocar a topofilia do citadino pelo local onde
moram, isto é o elo afetivo entre si e com a
cidade da qual fazem parte, pois isto seria
fatal para o destino da mesma em relação aos
valores, percepções e atitudes que os
habitantes da cidade teriam com aquilo que
não lhe afeta.
A destruição gradativa da qualidade de vida
urbana, não diz respeito apenas ao
agravamento das condições do ar e crise
eminente da água potável, mas também das
interações processadas no ambiente
construído marcadas pela impessoalidade e
anonimato que facilitam inclusive os
processos de segregação sócio-espacial de
grupos minoritários. Daí a expressão de que a
cidade encontra-se enferma na alma;
A Educação Ambiental Urbana poderia ser
entendida como uma resposta plausível a
esse desafio, buscando, a partir de um
paradigma holístico, a construção de uma
sociedade possível rumo a uma
sustentabilidade sócio-ambiental;
Para este tipo de operacionalização, várias
modalidades de ações podem ser pensadas
tais como: A organização de reuniões nas
diferentes associações de bairro mobilizadas
para a temática sócio-ambiental; a promoção
de cursos, seminários, oficinas e
principalmente debates; a formação de grupos
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 197
operativos como os Conselhos/Centros
ambientais de defesa e preservação sócio-
urbana em instituições locais; a promoção de
eventos públicos de conscientização
ambiental e outros meios de inserção da
questão ambiental no domínio de
experiências urbanas coletivamente
compartilhadas;
Além da E.A. Urbana é vevidente que existem
outras ferramentas como as frentes de
economia popular, os projetos gerados pelos
diferentes agrupamentos de atuação político-
cultural e até mesmo o trabalho produzido
por movimentos religiosos que podem e
devem servir ao propósito de uma profunda
reestruturação das cidades em suas
diferentes dimensões;
A participação de todos os envolvidos na luta
pela qualidade de vida local é a forma ideal
para a resolução dos problemas decorrentes
do processo civilizatório. Entretanto, para que
tal participação seja efetivamente válida é
relevante salientar a necessidade de que a
população esteja bem informada sobre as
temáticas a serem debatidas;
Ao fazer uso de elementos que emergem da
experiência vivida, considerando as diferentes
vozes e pontos de vista envolvidos em sua
maneira de promover educação ambiental, o
educador ambiental pode favorecer o
entendimento de questões e contradições
presentes no meio ambiente urbano;
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 198
A elaboração e o cumprimento de políticas
ambientais destinadas a melhoria da
qualidade de vida urbana exigem por parte
dos habitantes da cidade uma forte dose de
compromisso e reciprocidade que pode ser
estimulada através de trabalhos promovidos
por programas de Educação Ambiental
Urbana atravessados pelo ideal de formação
de uma nova mentalidade ecológica;
Quanto mais representativas forem as ações
implementadas com a participação dos órgãos
do poder público, grupos de poder econômica,
comunidade científica, responsáveis pelos
meios de comunicação e, de forma geral, a
sociedade civil organizada através dos
diferentes movimentos sociais, grupos,
entidades, ONG´s e demais associações
representativas da população urbana, mais
chances terão os citadinos de tornar possível
o sonho da sustentabilidade urbana;
A aproximação que se processa na cidade
com relação a coisas e pessoas, como aponta
Rabello (2002), tem se dado através da
identidade empática. Ou seja, via
identificação momentânea e solidariedade
volátil, escapando assim a consciência.
A E.A. Urbana pode auxliar a romper com o
estigma urbano do sentimento de perda de
familiaridade com o mundo e com o outro,
valorizando a necessidade de que os citadinos
se conscientizem para o fato de que não
existem fronteiras nos separando das outras
pessoas, senão aquelas que nós construímos;
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 199
Questões como formação identitária ou a
representação social do “lugar onde vivo” ou
do “outro que convivo” buscam referenciais
neste entrelaçamento intersubjetivo urbano;
É possível afirmar, que a principal
contribuição da Educação Ambiental Urbana
seja justamente a possibilidade de oferecer
uma visão mais rica, complexa e abrangente
das relações entre cidade, cultura,
subjetividade, participação, poder e
sustentabilidade. Uma vez que suas
preocupações abrangem não apenas o espaço
da cidade, mas também as inter-relacionais
que nele são processadas;
Robert Park (1967), caracteriza a cidade
como o "habitat do homem civilizado". Trata-
se de um espaço geográfico formado em
decorrência da consagração do modelo de
desenvolvimento urbano-industrial, onde a
natureza foi inteiramente transformada pelo
ser humano construtor/destruidor/ reconstrutor
de forma a atender suas necessidades
específicas.
O homem começou a viver em cidades há
cerca de 5500 anos, entretanto a
concentração populacional em cidades só se
iniciou por volta do século XIX com o início da
Revolução industrial, onde boa parte da
população rural foi se convertendo em
urbana;
No Brasil os primeiros grandes centros
urbanos brasileiros funcionaram como grupos
intermediários entre as economias locais de
exportação e os centros de consumo;
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 200
Historicamente é válido considerar, que
mesmo quando a base econômica e política
do país era agrária, em meados do século
XIX, a cidade nunca deixou de ser um espaço
de poder. Mais tarde, quando a base agrária
foi aos poucos perdendo sua força política,
em virtude do crescimento no setores de
serviços e na indústria e da intervenção
Estatal, esse poder urbano apenas se
consolidou ainda mais;
Na opinião de Scully (1996), um elemento
histórico interessante a considerar na
formação das cidades, foi o fato de que a
moradia permanente, que foi e é a base
estável das cidades européias, sempre faltou
na América e isso teve um efeito na forma
como as cidades evoluíram e como foram
alteradas;
As pequenas cidades foram, no decorrer do
século XX, dando origem as chamadas
"metrópoles", caracterizadas, segundo
Blumenfeld (1977), como aquelas que
acumulam a função de prover a maior parte
da produção e serviços; possuem uma
população até dez vezes maior do que as
maiores cidades pré-industriais; graças a
renovação dos meios de transportes seus
raios de extensão são cerca de 10 vezes
maior do que as cidades pré-industriais;
Ao longo do tempo, vários métodos têm sido
utilizados sem sucesso para conter o
crescimento das grandes cidades. É conhecido
o caso londrino a tentativa de criar uma
espécie de "cinturão verde";
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 201
Ao contrário do que desejavam os
responsáveis pelo planejamento urbano
ordenado e limitado, o processo de
urbanização se deu de maneira tão ampla,
que alguns postulam a idéia de urbanização
extensiva, chamando atenção para um
processo de urbanização que chegou mesmo
a ultrapassar os limites da cidade para
alcançar, sob forma de rede, inúmeros
espaços regionais integrados através de
malhas mundiais;
Para Monte-Môr a definição de tecido urbano
deveria se referir não apenas à realidade da
cidade, mas a todo conjunto de
manifestações nas quais é possível observar
um predomínio da cidade sobre o campo;
Não seria exagero afirmar que existem tantas
cidades quanto os grupos sociais que as
caracterizam. A diversidade urbana pode ser
analisada tanto em função da variabilidade de
estilos, gabaritos e formas de suas
construções, onde o novo - representando
pelo progresso urbano - e o velho -
caracterizado através do patrimônio histórico
citadino - caminham juntos;
As cidades como centros de inovação elas
forneceram um solo fértil para inovação
desde as primeiras comunidades urbanas na
Suméria até a contemporaneidade atual.
Entretanto, a cidade que era símbolo do
progresso, era igualmente baluarte das
tradições;
Na ótica de Rybczynski (1996) a tendência da
metropolização das cidades advém justamente
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 202
da ignorância da humanidade sobre seu
passado urbano, correndo deste modo o risco
de cometer os mesmos erros do passado;
Bresciani (2002) e Gonçalves (2002)
ressaltam a importância dessa memória ao
apresentar a cidade como um operador de
memorização. Para eles a "cidade coloca o
mundo na história e traz para o presente o
legado das gerações mortas e de suas
heranças imortais";
Infelizmente o desrespeito à memória urbana
brasileira através da desconsideração para
com seu patrimônio, tem sido latente nas
últimas décadas em nosso país;
É mesmo uma pena, que na cidade dita
maravilhosa, prédios lindíssimos e de
inquestionável valor histórico ao invés de
serem reformados e revalorizados, se
encontrem em péssimo estado de
conservação, apenas esperando sua
demolição iminente para que em seu lugar
seja construído um estacionamento ou coisa
parecida. Da mesma forma, outras cidades
como Ouro Preto em Minas Gerais,
reconhecida internacionalmente como
patrimônio mundial da humanidade por seu
valor histórico, tem sofrido com a falta de
preservação;
As chamadas Áreas de Proteção do
Patrimônio Cultural (APACs) estão espalhadas
por todo o território brasileiro, o problema
está, como na maioria de outros problemas
ambientais, no descumprimento das leis
existentes e na ausência de rigor por parte das
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 203
existentes e na ausência de rigor por parte
das autoridades competentes.
Estudiosos sobre o assunto, como o professor
Gasparini (2002), se preocupam com a
decomposição de valores vinculados ao
patrimônio cultural, na medida em que este
seria um testemunho tangível da identidade,
história e cultura de um povo;
A "feiúra urbana é construída" na medida em
que as interferências urbanas são realizadas e
experimentadas ao longo do tempo
desrespeitando a memória arquitetônica local
e principalmente sem a participação da
população;
É válido enfatizar, que o resgate da memória
urbana, valorizado pela Educação Ambiental
urbana não se refere apenas a conservação
de prédios e monumentos, mas a necessidade
de se preservar e valorizar qualquer tipo de
registro histórico urbano daquilo que um dia
fomos e fizemos. Tal definição abrange,
portanto, desde a perpetuação de tradições e
costumes da população urbana, até suas
manifestações materiais como documentos
históricos que vão de imagens e sons
gravados até as imponentes construções;
As tradições urbanas, definidas como o
conjunto sistemático de comportamentos
historicamente determinados ao longo do
tempo, e traduzidas através de suas danças,
jogos, festas, canções (hinos), símbolos como
bandeiras, brasões, logotipos, formas
arquitetônicas e códigos como o sotaque
lingüístico e o gestual empregado na comunica-
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 204
ção entre os habitantes da cidade; precisam
igualmente ser preservadas;
Na opinião de Jean Ladrière (1973), as
cidades que não se deixam reconstruir no
imaginário são cidades inabitáveis. Em outras
palavras, a singular experiência de se viver e
conviver em cidades exige que tenham um
mínimo de consciência do seu valor simbólico,
da riqueza de suas lembranças e memórias, e
do reconhecimento, do quanto estas incidem
sobre o momento atual que estamos
vivenciando;
A miséria urbana continua sendo dentre
todos, indubitavelmente, um dos mais graves
problemas econômicos e políticos da
atualidade; até mesmo porque este possui
reflexos diretos em outros problemas de
grande magnitude social como o aumento da
criminalidade e da violência;
Atualmente, o país perde cerca de U$4
bilhões anuais em função do desperdício de
frutas, hortaliças, verduras e grãos. O
problema começa no plantio, segue nas atuas
formas de estocagem e comercialização e
termina na maneira em que são aproveitados
nas residências, quando muitas vezes se
descarta justamente a parte mais nutritiva do
alimento (Rodrigues e Cavinatto, 1997);
Pensando a cidade como uma organização
institucionalizada de comunicação entre
grupos e indivíduos diferentes a E.A. Urbana
visa a promoção de políticas urbanas voltadas
organização da heterogeneidade de modo que a
cidade diminua as distancias sociais, presente a
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 205
través de segregações e exclusões sociais,
suprima os guetos e atue fundamentada na
tolerância e na solidariedade o que só será
possível através de uma grande rede social
urbana;
A produção e o destino do lixo urbano é outro
problema de considerável gravidade sócio-
urbana. Com o avanço da industrialização e
aumento da vida média dos seres humanos,
houve um sensível crescimento demográfico e
a partir deste um significativo aumento na
geração destes e os métodos que antes
pareciam suficientes para lidar com os
resíduos, hoje apresentam uma série de
deficiências.
Os resíduos sofreram uma série de
modificações, especialmente a partir da
década de 60 do século XX, através da
produção de plásticos e resíduos químicos
responsáveis por uma diminuição gradativa
da matéria orgânica. A decomposição
extremamente demorada destes pelo
ambiente, faz com que hoje o não
aproveitamento das embalagens práticas de
diferentes produtos seja um dos principais
elementos de poluição urbana perceptível em
suas ruas, parques e rios;
A forma como o lixo é produzido, sem
mencionar a forma como os resíduos são
lançados diretamente no meio ambiente, sem
manejo ou tratamento adequado reforçam o
processo entrópico. Por isso o consumismo
desenfreado e a falta de preocupação com o
destino final dos produtos sempre fizeram par-
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 206
te do rol de questionamentos levantados pela
Educação Ambiental, especialmente no
território urbano;
Pela legislação vigente, cabem as prefeituras
a tarefa de gerenciar a coleta e a destinação
dos chamados resíduos sólidos. Entretanto,
mais de 46 milhões de pessoas moram em
locais onde não existe o recolhimento de lixo
domiciliar;
O principal problema continua sendo a falta
de conscientização para o problema e a
inexistência ou funcionamento deficiente de
programas de coleta seletiva;
A Educação Ambiental Urbana pretende,
ousadamente, transformar citadinos
desconhecedores e espectadores desse
problema, em protagonistas e produtores de
ações que visem a reversão deste quadro. As
conhecidas práticas envolvendo os "três Rs" -
Reduzir o consumo de produtos e o
desperdício dos mesmos; Reaproveitando e
Reciclando-os, constituem a tríade mais
conhecida e eficaz para lidar com esse
problema;
A construção de cidades sustentáveis passa,
como declara Boff (2000), por uma
alfabetização ambiental ecológica onde se faz
necessário repensar desde nossos hábitos de
consumo até os planos de desenvolvimento
urbano, pautando-se no que ele qualifica
como Ética do Cuidado.
Um dos grandes desafios urbanos é o de
justamente o de promover e centrar ações "que
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 207
dinamizem a necessária consciência
ambiental dos cidadãos a partir de um intenso
trabalho de educação" (Jacobi, 2000: 388).
Trabalho este, cujo suporte, a Educação
Ambiental aplicada ao ecossistema urbano
pode oferecer a todos os que dela
necessitarem;
A E.A deveria favorecer a que os citadinos
compreendam: a) a cidade como um
organismo vivo que se transforma sem cessar
e precisa ser compreendida nas suas
peculiaridades e dimensões de suas
transformações; b) que os sistemas
ecológicos urbanos são nutridos não apenas
por variáveis físicas, mas, sobretudo,
econômicas, sociais, políticas e culturais, mais
contraditórias do que harmônicas; c) que a
participação urbana está muito além de
dispositivos legais ou, até mesmo, de um
simples programa político, mas é
conseqüência de uma gestão pública sem
rígidas hierarquias, a fim de permitir amplos
canais de participação entre a população e
seus dirigentes; d) o valor da formação de
indivíduos capazes de uma percepção urbana
que lhes permita selecionar alternativas de
ação, capacidade esta, indispensável ao
exercício cidadão (Ferrara, 1999: 79).
Com o objetivo de que a metrópole não se
transforme gradualmente em uma necrópole;
a Educação Ambiental Urbana tem mostrado
que é preciso combater formas ritualizadas de
distanciamento social que alienam o indivíduo
não apenas do ambiente onde se insere, mas
de sua própria humanidade;
Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 208
A atuação de outros agentes formadores de
opinião, como a mídia escrita e televisiva,
também assumem um papel fundamental em
termos de esclarecimento e/ou
conscientização, uma vez que através das
mesmas se torna possível uma aproximação
com a realidade do outro ainda que
indiretamente através das ondas do rádio ou
TV;
Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria
Socioambiental
Vilson Sérgio de Carvalho
AU
LA
6
Ap
res
en
taç
ão
Nesta interessante aula teremos a chance de entender melhor a
riqueza da dinâmica comunitária a partir de uma análise sócio-
ambiental de seus potenciais ecológicos. Através das contribuições
da Sociologia, veremos as principais características de uma
comunidade, suas diferenças em relação à sociedade e como a
Educação Ambiental pode ser inserida neste contexto.
De modo particular, examinaremos a partir de uma ótica sócio-
ambiental a dinâmica de uma comunidade considerando seus
diferentes processos mantenedores como assimilação,
acomodação, socialização e comunicação e seus processos
desagregatórios como a competição e o conflito. Ao considerar os
tais processos, veremos como o meio ambiente assume um papel
fundamental na dinâmica comunitária influenciando e modificando
esta enquanto dinâmica um ecossistema complexo.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Compreender as principais características de uma comunidade
e suas diferenças em relação à sociedade como um todo; Analisar a dinâmica comunitária a partir de seus principais
fatores mantenedores e desagregadores;
Refletir sobre a comunidade como um ecossistema complexo
influenciado por diferentes dimensões culturais, políticas,
econômicas, biológicas, psicológicas e outras; Analisar diferentes estratégias de atuação, instrumentos e
práticas de Educação Ambiental, no âmbito não formal,
considerando a comunidade como um espaço privilegiado para
a formação de uma consciência ecológica; Pensar caminhos favorecedores de uma sustentabilidade
comunitária.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 210
Introdução
Antes de tecer considerações mais aprofundadas
sobre a complexa teia socioambiental entre
comunidades e a realidade ambiental na qual se
inserem e da qual são partes integrantes, se faz
necessário entender em primeiro lugar o que seria
comunidade, suas características e sua dinâmica. Sem
uma reflexão maior sobre esta, enquanto uma
realidade específica permeada por uma série de
processos particulares, a discussão sobre a
possibilidade, ou não, de que esta venha a se
desenvolver, me parece um tanto quanto desprovida de
sentido.
A complexidade crescente dos problemas
sociais, agravados por um acelerado e, por vezes,
descontrolado desenvolvimento, acabou suscitando
uma grande variedade de trabalhos e pesquisas que
adotaram a comunidade como seu objeto central de
investigação. Nas últimas três décadas, a problemática
comunitária tem sido alvo constante de diversas
práticas sociais já consagradas como, por exemplo, a
ação comunitária, a ação social, a organização de
comunidade e o seu desenvolvimento.
DESENVOLVIMENTO URBANO
DESCONTROLADO
Tal descontrole refere-se principalmente à
estruturação espacial de dada localidade, muitas
vezes efetivada de forma rápida e sem nenhum tipo
de planejamento prévio, o que acaba gerando uma
série de problemas que, aliados a outros fatores,
representam um sensível déficit na qualidade de
vida de seus habitantes. Problemas, aliás, bastante
discutidos nas últimas conferências da ONU sobre
assentamentos humanos, urbanização e moradia
como: a Habitat I (realizada no Canadá, em 1976) e
a Habitat II (ocorrida em junho de 1996, na
Turquia).
Veja outros dados em: CHAYB, L. - Habitat II: A
Cúpula do Asfalto. In: Revista Eco-Rio. Ano V, nº
25. Agosto/Setembro de 1996. pp. 8-9.
Introdução 210 O Conceito de Comunidade: Considerações Históricas 211 Diferentes definições de comunidade 217 A dinâmica comunitária: examinando alguns processos 225 Comunidade e meio Ambiente 236
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 211
Segundo Sawaia (1996), o estudo de
comunidade tem “uma presença intermitente na
história das idéias” aparecendo ou desaparecendo “em
consonância às especificidades do movimento histórico”
desvelando, assim, a dimensão política que o conceito
de comunidade encerra (Sawaia, 1996). Por isso
mesmo, talvez nesse início do terceiro milênio, o
homem volvendo seu olhar para o passado e refletindo
sobre diferentes marcas caóticas deixadas em sua
passagem ao longo do tempo - como a guerra, a
depredação do meio ambiente, a fome e a miséria
generalizada - volte agora a se questionar sobre a vida
comunitária e o espírito de solidariedade que nela se
afigura, percebendo o quanto ela pode oferecer saídas
para as diferentes crises por ele provocadas, inclusive
as mais graves, como é o caso da crise de valores.
O Conceito de Comunidade: Considerações
Históricas
Quando o homem deteve sua marcha nômade e,
junto com outros semelhantes, partilhou uma forma de
viver coletiva (cultura), ele desenvolveu métodos e
habilidades que lhe permitiram uma melhor adaptação
ao mundo que o rodeava, passando a exercer um maior
controle da vida em geral através de atividades
cooperativas e organizadas. Na verdade, o homem vive
em comunidades desde o alvorecer da história humana
(Koenig, 1975), o papel que ela encerra foi e continua
sendo, de tal modo, importante para a humanidade,
que, ainda hoje, dois terços dos seres humanos que
povoam a terra são membros de comunidades (tribos,
famílias, clãs, comunas, vizinhanças, vilas ou aldeias),
e operam segundo princípios internos próprios
(congregações, instituições, empresas, agremiações,
clubes) ainda que inseridos numa economia mundial
(Chinoy, 1979).
Para pensar
Quem é mais antiga,
a comunidade ou a humanidade? Alguns autores levantam a hipótese de que a comunidade possa ser ainda mais antiga que a própria humanidade, baseando-se no fato de que nossos ancestrais subumanos provavelmente já partilhavam de uma vida de comunidade. Vide Horton, P. & Hunt (1980) p. 359.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 212
Um breve exame das origens históricas sobre o
termo comunidade, remete às concepções gregas sobre
a cidade. Nos séculos VII e VI a.C., os gregos já
concebiam a pólis como uma comunidade, ou seja,
como um âmbito de encontro interpessoal, dos diálogos
e das celebrações. A pólis não reunia pessoas apenas
pelo nascimento ou hábitos, mas principalmente pelo
anseio comum por uma vida melhor. Atenas, por
exemplo nos séculos V e IV a.C., não era uma cidade
colonizadora como Rodes e Mileto, seus habitantes
lutavam apenas pela manutenção de uma vida comum
e pacífica, as primeiras muralhas atenienses só
surgiram após a primeira invasão persa (Mumford,
1965). Diversos elementos valorizados na pólis, como a
identidade pessoal e o interesse coletivo, podem ser
encontrados ainda hoje nas definições mais recentes de
comunidade. A urbs romana, que mais tarde veio a
substituí-la, era inteiramente diferente da mesma. Uma
amostra clara dessa diferenciação é o fato de que, na
urbs, é o anonimato social, ou seja, a substituição da
identidade pessoal e concreta presente na pólis, pela
identidade jurídica, levando os cidadãos a não se
reconhecerem mais uns aos outros (Cox, 1971).
Por volta do século XI aproximadamente,
começam a aparecer as chamadas cidades medievais
que tiveram um grande impulso com o nascimento do
comércio. Uma grande muralha, cuja função era
proteger as cidades, cercando-as contra prováveis
invasões, passa a fazer parte do cenário cotidiano das
urbs, definindo-se assim um limite espacial (em termos
de território) e populacional - tendo em vista a
delimitação do número de habitantes nas cidades.
Todavia, embora essa configuração tenha contribuído
notoriamente para a formação do que hoje concebemos
como núcleos comunitários, é preciso ressaltar que o
ambiente da urbs, tal como era configurado, pode ser
entendido apenas como um lugar de transação e de
Para pensar
Como o texto elucida, 2/3 da humanidade vive em comunidades, como você vê essa realidade?
Quer saber mais?
Sobre as muralhas urbanas: Considerada um símbolo das cidades antigas, sendo aperfeiçoada no decorrer das gerações (passando de troncos a taipa e, finalmente, pedra) as muralhas sempre estiveram presentes para defender as cidades contra inimigos invasores. Vide outros dados em: MUNFORD, (1965) - A Cidade na História. Vol I. pp. 72-78.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 213
intercâmbio comercial, e não como o lugar privilegiado
de interação psicossocial, onde a vida se processa
intensamente.
Curiosamente, ao contrário do espaço urbano, o
ambiente rural, durante muitos séculos, não foi
encarado como um espaço comunitário. Só mais tarde -
com o aparecimento das metrópoles e a grande
concentração de habitantes por metro quadrado (m2)
nas cidades - esta concepção foi sendo invertida, de
forma que, atualmente, ao nos referirmos a uma
comunidade, a primeira imagem que nos vem à mente
é a de um local mais próximo do meio rural, por
oferecer maior tranqüilidade, menor povoamento e um
contato mais íntimo e direto com a natureza;
qualidades que o meio urbano geralmente não
proporciona. Criando-se a partir daí a célebre distinção
entre comunidade rural e urbana, onde apesar de não
existirem limites nítidos e precisos (Santos, 1969),
considera-se como principal divisor de águas o conjunto
dos fatores: densidade populacional, estratificação
social e contato com as pessoas, presentes com maior
intensidade nas comunidades urbanas do que nas
comunidades ditas rurais.
Durante séculos, não havia diferença funcional
entre cidade e campo, já que esta só ocorreu,
basicamente, a partir da grande urbanização do
Império Romano (Weber apud Brandão, 1968). A
cidade é na sua origem o produto de uma diferenciação
entre o camponês que cultivava a terra, e um grupo de
artesãos e comerciantes estabelecidos no centro desse
campo. Com o desenrolar dos tempos, essa
diferenciação vai sendo mais marcada com o
aparecimento dos grandes centros urbanos,
desenvolvidos pelo capitalismo comercial em fins da
Idade Média, aonde o camponês raramente ia,
aguardando na sua própria propriedade os compradores
Dica do professor
Elementos diferenciadores das comunidades rurais e urbanas: Densidade
populacional; Estratificação
social; Contato entre as
pessoas.
Dica do professor
Como diferenciar comunidades rurais de urbanas? Pesquisadores e estudiosos como Santos (1969);, Goés (1992) e Chinoy (1967) alertam que nenhuma sociedade ou comunidade é inteiramente rural ou urbana, uma vez que em sua grande maioria estas se situam em uma posição intermediária.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 214
e vendedores. No entanto, essa distinção entre o
campo e a cidade somente vai se solidificar com o
surgimento da cidade industrial, que gera um novo tipo
de população com uma cultura própria marcada pelo
capitalismo e, especificamente citadina, sendo essa,
bastante distinta da encontrada nas comunidades
agrícolas (Brandão, 1968).
Mais tarde, com o advento do Iluminismo, houve
uma forte hostilidade em relação à formação de
comunidades, especialmente devido à associação que
era comumente atribuída ao sistema feudal. Os grupos
intelectuais da época, pretendendo um combate severo
a todo e qualquer resquício de dominação e exploração
feudal injusta, acabaram criticando duramente a
manutenção de grupos e associações surgidas na Idade
Média, defendendo a concepção de uma sociedade
formada por homens livres. Deste modo, no século
XVIII, desenvolveu-se um sentimento anticomunitário,
que conseguiu fazer com que a comunidade perdesse
seu sentido original (encontrado na pólis), para ser
encarada como a grande vilã e inimiga do progresso,
ou seja, um terrível legado da Idade Média a ser
eliminado. Sentimento este que, de certa forma,
ganhou ainda mais força com as revoluções francesas e
industrial fazendo com que todos condenassem as
relações feudais, invocando a tradição nacional como o
verdadeiro ideal democrático (Szachi, 1972). Achava-se
que o “progresso”, de um modo geral, significaria a
substituição da ordem social local semifeudal, tida
como irracional, por uma ordem universalista encarada
como mais igualitária.
A defesa e aplicação deste ponto de vista que,
na verdade, reflete toda a mentalidade de uma época,
pode ser encontrada também no O Contrato Social de
Jean-Jacques Rousseau (1981), talvez a obra mais
importante desse filósofo iluminista. Nesta, o mesmo
Quer saber mais?
No caso da Revolução Industrial, esse movimento anticomunitário só teve impacto na sua primeira fase, mais tarde, entretanto, a comunidade retoma sua função inicial de mantenedora das relações sociais.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 215
desenvolve o pressuposto de que grupos locais
autônomos, associações ou cooperações inibiam o
desenvolvimento pleno tanto do indivíduo como da
sociedade. Deste modo, ele conclui que, para que o
livre desenvolvimento de ambos pudessem se dar, seria
melhor que tais grupos não existissem. Na concepção
rousseauniana, as associações extinguiam a liberdade
de seus integrantes, pois embora seus membros
permanecessem unidos, estes passavam não mais a
obedecer a si próprios, e sim aos seus dirigentes. A
partir desse tipo reflexão, Rousseau considerou-as
como as grandes responsáveis pela criação da
propriedade, da escravidão e, conseqüentemente, da
miséria (Rousseau, J., 1981).
Segundo Souza (1993), é especialmente a partir
da revolução urbano-industrial que a comunidade se
tornou um importante foco dos estudos sociais. Para a
pesquisadora, “a desintegração nas relações sociais
tradicionais dos aglomerados humanos das áreas
CONHEÇA ROUSSEAU
O pensador francês, Rousseau (17 12-1778),
distinguiu-se dos demais iluministas por criticar a
burguesia e a propriedade privada. Considerava os
homens bons por natureza e capazes de viver em
harmonia, não fosse alguns terem se apoderado da
terra, dando origem à desigualdade e aos conflitos
sociais. Propunha um governo no qual o povo
participasse politicamente e a vontade da maioria
determinasse as decisões políticas. Expôs suas
idéias principalmente em duas obras: “O contrato
social” e “Discurso sobre a origem da desigualdade.”
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 216
urbanas faz despertar a questão da comunidade (...) o
desenvolvimento das forças produtivas presentes à
Revolução Industrial cria a dissolução dos antigos laços
de autoridade e poder existentes na comunidade”
(Souza, 1993: 61). Essas rápidas transformações em
larga escala geraram uma série de dificuldades de
ordens variadas, que persistem ainda hoje. Estas vão
desde problemas físicos e psicológicos como os
cardiorrespiratórios e o estresse, a problemas de ordem
social, onde o desrespeito para com o semelhante e o
meio ambiente foi se tornando uma prática constante e
institucionalizada.
No bojo desses inúmeros problemas trazidos
pelo movimento anticomunitário do século XVIII,
reforçado na primeira fase da Revolução Industrial,
surge o que Nisbet destaca como a nostalgia da
comunidade, isto é, um sentimento referente às
lembranças e sonhos com um lugar maravilhoso que
representava tudo de bom que foi totalmente destruído
pelo progresso gerador do caos. Para Nisbet, essa
nostalgia comunitária vai marcar sensivelmente todo o
pensamento social do século XIX, e eu acrescentaria
também o século XX, encontrando expressões variadas
na religião, na filosofia, na política e outras esferas do
pensar humano (Nisbet, 1973). Segundo ele, existe
uma busca incessante pela comunidade, enquanto um
sistema impessoal, secular e individual, fazendo com
que o homem busque a comunidade no casamento, nos
consultórios de psiquiatria, no culto, na religião fácil e
em várias outras oportunidades de distração que
aliviem seu esgotamento nervoso (Nisbet, 1953).
Existe uma conceituação extremamente
multifacetada do que seja uma comunidade em função
de fatores diversos. Apenas para se ter uma idéia do
universo de possibilidades existentes para definir
comunidade, gostaria de citar, a título de
Importante
É somente a partir da revolução urbano-industrial que os estudos de comunidade começam a ganhar força.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 217
exemplificação, a estatística apresentada pelo professor
Hillery em seu artigo “Definitions of Community: Areas
of Agreement”, onde este já detectava, em junho de
1955, noventa e quatro definições de comunidade
(Hillery, 1955). Por isso mesmo, ele e outros autores
como Lehran (1973) defendiam a teoria de que uma
comunidade não pode ser resumida a um conceito
único e definitivo, mas sim a uma família de conceitos
com traços coincidentes. Nesta aula, procurei não me
deter em nenhuma delas em especial, optando por
apresentar, de forma crítica e abrangente, algumas das
mais importantes definições que tentaram, através do
estabelecimento de diferentes tipologias (envolvendo
estruturas, níveis e conexões distintas), explicar o que
se convencionou chamar de comunidade.
Diferentes definições de comunidade
A compreensão que o professor João Pinto - por
exemplo - tem de uma comunidade é extremamente
simples e operacional. Segundo ele: “a palavra
comunidade denota, operacionalmente, uma população
que habita uma determinada porção de território, com
cujo nome se identifica e, que por viver e conviver nele,
desenvolve alguma coisa em comum” (apud Souza,
1993: 67). Urrutia (1985), por sua vez, faz questão de
valorizar a dimensão do cotidiano comunitário, pois,
para ele, a comunidade nada mais é do que “o
cotidiano dos indivíduos e grupos que partilham de
condições sociais comuns e, face a elas, organizam seu
ambiente de relações dentro de uma dinâmica própria”
(Urrutia, 1985: 37). Hillman (1974) prefere destacar o
aspecto da diversidade que o termo comunidade
encerra, definindo a mesma, a partir “das relações
entre seres humanos, com tudo mais que representa,
quanto à diversidade de reações individuais e a forma
pela qual se manifesta a interação social” (Hillman,
1974: 22). Para este sociólogo, a área de uma
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 218
comunidade tem limites, mas estes não podem de
modo algum ultrapassar a interdependência econômica
e social das pessoas que nela vivem.
Algumas definições de comunidade valorizam
sua estrutura física, ou melhor, seu espaço
geograficamente determinado. Outras preferem
destacar suas funções básicas, principalmente as de
cunho interativo. No tocante à visão estrutural,
poderíamos citar como exemplos a definição da
Enciclopédia de Ciências Sociais - onde a comunidade é
definida como “um agregado conscientemente
organizado de indivíduos que residem numa área ou
localidade específica, dotada de autonomia política,
mantendo instituições primárias como escola, igrejas,
entre as quais se reconhecem certos graus de
interdependência” (apud Ferreira, 1968) e a de Osborn,
L. & Neymeyer (1936), entendendo-a como uma “área
geográfica de partes contíguas, com centros comuns de
interesse e atividade, funcionando juntos em volta das
preocupações mais elementares da existência” (Osborn
& Neymeyer, 1936: 21). Já na linha interativa, a meu
ver, mais ampla que a anterior, poderíamos citar a
concepção de Robert MacIver (1944), um dos
sociólogos que mais se dedicaram ao estudo deste
tema.
Para ele, a comunidade pode ser entendida
como “qualquer área de vida comum, vila ou cidade,
distrito ou município, ou mesmo uma área maior” ou
SOBRE ROBERT MACIVER
Ex-professor das Universidades de Toronto e
Columbia, o sociólogo escocês Robert MacIver, se
empenhou consideravelmente em caracterizar e
melhor definir o que seria comunidade. Seus livros
Comunidade: um estudo sociológico e Sociologia
(esse último em co-autoria) são considerados
fundamentais para um estudo mais aprofundado nessa temática.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 219
ainda como “o viver comum de seres sociais” (MacIver,
R., 1944: 42). As fronteiras de determinada área, para
MacIver, só irão assumir um nível de significação se
conseguirem demarcar o espaço comum onde a vida se
processa. Os elementos-chave em sua definição, para
caracterizar uma comunidade - como teremos
oportunidade de enfocar nesta aula - são os processos
de interação social envolvidos, ou, como ele faz
questão de dizer, a vida comum que nela se processa
(coesão social), englobando práticas de
interdependência, colaboração, unificação e oposição
(este último referindo-se aos conceitos de competição e
conflito). Segundo ele, na comunidade, ao contrário de
qualquer outro grupo ou associação, a vida de seus
componentes pode ser vivida exclusivamente dentro
dela, daí inclusive o fato de algumas comunidades se
encerrarem em si mesmas (MacIver & Page, 1972;
Smith, 1946).
Outras conceituações mais complexas sobre
comunidade preferem conferir o título de comunidade a
uma determinada área, de acordo com o nível de
intensidade da vida em comum que nela é processada.
A concepção de Georges Gurvitch bem poderia se
enquadrar como uma dessas teorias entende a
comunidade como uma forma específica de
sociabilidade. Defendendo que o indivíduo só existe por
oposição à sociedade, ele define uma metodologia
tipológica própria para explicá-la baseada em três
diferentes pólos sob constante tensão: “os eus”, “os
nós” e “os outros”.
Quanto mais ampla for uma determinada
definição de comunidade, mais conciliadora esta será
com relação a outras teorias e, conseqüentemente,
maior será sua possibilidade de aceitação por teóricos
de diferentes posições sobre a temática em questão.
Contudo, apesar de toda essa discussão terminológica
Quer saber mais?
Para alguns estudiosos como MacIver (1944), toda comunidade faz parte de uma comunidade mais ampla, mais geral onde a mesma encontra-se incluída, fazendo parte de um todo maior, sem perder suas peculiaridades e diferenças. O que não significa que a comunidade, enquanto microcosmo, possa vir a servir de base para a compreensão
da sociedade em geral (macrocosmo).
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 220
apresentada, é possível identificar, nas diferentes
teorias, alguns elementos comuns que estão presentes
na maioria das definições de comunidade que pude
pesquisar. Estes seriam: 1) uma unidade social
(geralmente pequena, como bairros, aldeias); 2) área
geográfica determinada (locus onde a comunidade vive
e se desenvolve); 3) membros com algum tipo de
interesse comum (tradição, trabalho, compromissos);
4) interatividade social constante (maior com a
comunidade do que com demais agrupamentos) e 5)
consciência do “ser comunitário” (não apenas participar
ou ser ativo, mas sim pertencer, ser parte da
comunidade). A consideração desses elementos pode,
sem dúvida alguma, fornecer pistas consideráveis para
a formulação de algumas respostas, ainda que de
forma ampla, para as elucubrações anteriores com
relação ao que seria comunidade e como esta, de fato,
se caracterizaria.
COMUNIDADE E SOCIEDADE
Para alguns teóricos, como veremos, existem
diferenças profundas entre comunidade e sociedade;
para outros, as diferenças são mínimas, flexíveis e, por
vezes, imperceptíveis.
Para tratar desta discussão, é primordial
considerar alguns autores que se preocuparam com
esse impasse. Entre eles, um se destaca por ter sido
um dos primeiros na sociologia alemã a estabelecer
essa diferenciação, hoje considerada clássica:
Ferdinand Tönnies (1887). Para ele, comunidade
(Gemeinschaft) e sociedade (Gesellschaft) são
conceitos marcadamente distintos. A esfera da
comunidade englobaria tudo que é orgânico, real e
instintivo, ao contrário da esfera da sociedade que, por
vez, reuniria tudo o que é ideal, artificial e mecânico. A
comunidade se fundamentaria num querer profundo,
Dica do professor
Elementos fundamentais de uma comunidade qualquer: Consciência do
ser comunitário; Membros com
interesses comuns;
Unidade social; Área geográfica
determinada.
Quer saber mais?
Discussões teóricas: Existe uma discussão, na Sociologia, sobre uma possível tradução inadequada desses vocábulos, que em vez de “comunidade” e “sociedade” melhor se refeririam a “comunhão” e “associação”. Evitando esse tipo de dissonância, Charles Cooley prefere se utilizar dos termos grupo primário (para as comunidades) e secundário (os demais como as
associações). Cooley apud Giner (1979) p. 98.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 221
inerente ao ser (Wesenville), de maneira que as
relações nela estabelecidas são íntimas e primárias. O
controle na comunidade, mais do que através do
sistema de leis, vai se fundamentar no que Tönnies
chama de “folkways e mores”. A sociedade, por sua
vez, resultaria de uma criação individual, de um
produto da inteligência racional, desenvolvendo-se
graças à vontade de escolha. Ela seria compreendida
“como uma pura justaposição de indivíduos
independentes” (Tönnies, 1957; Id., 1973).
Tönnies defende, ainda, como um de seus
principais postulados, a idéia de que a comunidade foi
sendo historicamente substituída pela sociedade; desse
modo, as relações desenvolvidas pelos homens entre si
assumiram a forma de uma relação entre artigos de
consumo, baseada em interesses individuais e marcada
pela competição. Em suas palavras, o “querer orgânico”
foi dando lugar a “vontade refletida” ou, como diria
posteriormente Durkheim, foi havendo uma passagem
da “solidariedade mecânica” para uma “solidariedade
orgânica” onde se configura a divisão do trabalho
(Durkheim, 1976; Durkheim, 1940; Olmsted, 1979 e
Aron, 1987). A função do dinheiro (base monetária) e a
FOLKWAYS E MORES
Estes conceitos foram cunhados pelo sociólogo Willian
Sumner. “Folkways” é o nome dado aos costumes
mais elementares, seguidos quase que
irrefletidamente, e que definem como o indivíduo se
comportará em relação ao outro no cotidiano social. A
inobservância dos folkways não resulta em qualquer
tipo de punição.
Já os “Mores” (plural de “Mos”) são os costumes
sociais que o consenso geral acredita favoráveis para
manter a boa ordem social. A não conformidade aos
mesmos provoca a desaprovação moral, havendo
punições para os que os infringem e recompensas para
os que os observam. Os romanos usavam a expressão
mores maiorum para designar os costumes dos
antepassados. Os mores tendem a ir se sistematizando
através de códigos, regras e prescrições de modo a
originar as instituições.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 222
partir deste o consumismo desenfreado é um exemplo
crasso da impessoalidade e intercambialidade das
relações humanas na sociedade moderna (Lakatos,
1989). Realidade inversa à encontrada na comunidade
onde seria possível encontrar um tipo de vivência de
conjunto, íntima e possuidora de exclusividade, onde,
apesar dos diferentes e constantes fatores
desagregatórios, os indivíduos se manteriam
essencialmente unidos (solidariedade) através do
trabalho, da fé comum e dos folkways e mores.
Convém ressaltar que ao editar Comunidade e
Sociedade, Tönnies não estava preocupado apenas em
distinguir uma da outra, ressaltando suas
particularidades. Bem mais do que isso, ele procurava
ressaltar as trágicas conseqüências do excesso de
individualismo humano, temendo que se a sociedade
não se voltasse de novo para as comunidades, ou seja,
para uma forma mais solidária de vida em comum,
dificilmente essa onda individualista e os processos de
exclusão dela resultantes seriam freados (Alphandery
et alii, 1992), realidade a que hoje assistimos e que,
infelizmente, alcançou um grau de intensidade de tal
SOLIDARIEDADE ORGÂNICA E MECÂNICA
Se utilizando de uma analogia com o movimento das
moléculas de um corpo, Durkheim importa os
conceitos mecânico e orgânico da Física, chamando de
solidariedade mecânica, aquela que se dá em
dependência direta com o plano coletivo, sem
iniciativa própria, se processando através da
semelhança, reforçando a consciência coletiva (tal
como as moléculas que se movem nos corpos brutos).
A solidariedade orgânica, por sua vez, seria a que se
dá quando essa iniciativa se faz presente (como é o
caso do movimento molecular dos corpos orgânicos).
Regida por consenso (unidade coerente da
coletividade), ela acaba levando a diferenciação entre
os indivíduos e reforçando a consciência individual. A
solidariedade mecânica predominava nas sociedades
pré-capitalistas, enquanto que a solidariedade
orgânica seria típica das sociedades moderna.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 223
ordem, que chegou a gerar a perda do estranhamento
pela desvalorização da vida como um todo.
A discriminação entre comunidade e sociedade,
também, é ratificada em alguns momentos por Max
Weber, ao pensar a comunidade como uma relação
social construída sobre fundamentos afetivos, emotivos
e tradicionais, enquanto que a sociedade, embora
também sendo um tipo de relação social, estaria
pautada na compensação de interesses por motivos
racionais, numa espécie de acordo estabelecido entre
seus integrantes por meio de manifestações recíprocas
(Weber, 1973). Weber, no entanto, de maneira menos
rígida que Tönnies, chega a concordar que “a imensa
maioria das relações sociais participam em parte da
comunidade e em parte da sociedade” (Id., p. 141)
reconhecendo, assim, ainda que de maneira indireta, o
fato de que uma sociedade pode ter a possibilidade de
exceder a mera união formal de seus membros, para
dar lugar a valores afetivos típicos da realidade
comunitária, ou como ele mesmo afirmava de uma
comunalização.
Assumindo uma posição mais conciliatória sobre
a discussão comunidade x sociedade, Louis Wirth
(1973), em vez de reconhecer as mesmas como
entidades antagônicas - como o faz Tönnies -
prefereentendê-las como aspectos complementares de
toda forma de vida em grupo, mesmo concordando que
a sociedade, em relação à comunidade, encerraria uma
população bem maior com uma organização mais
complexa. Para Wirth, “o que torna toda comunidade
uma sociedade é, aparentemente, o fato de a vida
social humana envolver invariavelmente certo grau de
comunicação” (Wirth, 1973: 85). Fato que inclusive, até
mesmo pelos diferentes processos simbólicos
envolvidos, distinguiria as comunidades humanas das
demais. A comunicação para Wirth é valorizada como
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 224
uma forma de oficializar o que a comunidade tem em
comum, criando um consenso básico para existência da
comunidade e da sociedade. Osborn & Neymeyer
(1933) já haviam atentado para a importância da
comunicação como um fator básico de interação social,
pois, para eles, a comunicação condicionaria a
interação. Em suas palavras: “a interação emerge pela
comunicação e sem ela perece” (Osborn, L. &
Neymeyer, 1933: 193).
Simmel enfatiza a interação pessoal, que se
processaria, segundo Wirth (1973), através da
comunicação, com um elemento primordial na própria
formação da sociedade, já que, segundo ele, “a
sociedade é formada primeiramente pelo complexo de
indivíduos sociados, o material humano societariamente
formado (...) e em segundo lugar, através da soma das
diferentes formas de relações em virtude das quais os
indivíduos são transformados exatamente em sociedade
no seu primeiro sentido” (Wirth, L. apud Strasser,
1978).
No entanto, é Donald Pierson (1977) quem
adota uma posição mais ampla sobre essa discussão,
ele enxerga comunidade e sociedade como “dois
aspectos da associação humana indissoluvelmente
ligados entre si e, raramente ou nunca, existem
separados” (Pierson, 1977: 121), devendo ser
diferenciados um do outro apenas para fins de análise e
pesquisa.
Essa breve digressão sobre as diferentes
posições citadas nos conduz, certamente, mais a
dúvidas e perguntas do que a certezas e respostas
sobre a existência ou não de uma diferenciação entre
comunidade e sociedade, a não ser em relação ao
tamanho e complexidade relacional, obviamente maior
na segunda do que na primeira. Contudo, seja qual for
Quer saber mais?
Louis Wirth pode ser considerado como um dos grandes expoentes da Escola de Chicago, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da Ecologia Humana com inúmeros trabalhos. Ver em Pierson, D. (org.) Estudos de Ecologia Humana. e ainda Estudos de Organização Social. Ambos da Biblioteca de Ciências Sociais - Vols. VI e IX de 1970.
Para pensar
Sociedade: Protótipo de comunidades? Na linha de raciocínio de Wirth, é possível se pensar que as sociedades mais simples poderiam ser consideradas como protótipos de comunidades ou que as comunidades seriam unidades constitutivas da sociedade.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 225
a resposta a ser dada a essas questões, o papel da
Educação Ambiental nesse processo de
desenvolvimento - seja este comunitário ou social - é
de fundamental importância, na medida em que seus
princípios básicos encerram uma maior interação entre
homem e meio ambiente, o que por sua vez se reflete
num melhor relacionamento do homem consigo mesmo
(autodesenvolvimento) e com a sociedade em geral
(desenvolvimento social).
São inegáveis as inúmeras contribuições que um
projeto de Educação Ambiental bem concebido e
aplicado pode promover, junto à comunidade ou à
sociedade, no que concerne ao processo de tomada de
consciência, não só de suas condições locais, mas
também dos mecanismos que estimulam e perpetuam
o subdesenvolvimento, procurando apoiar e
instrumentalizar seus membros na busca de possíveis
soluções a partir da própria realidade socioambiental
onde estão inseridos. O problema maior talvez seja o
fato de que, para muitos, especialmente para aqueles
que produziram e têm interesse em manter o estado de
miséria social - mais expressivo nos países de terceiro
mundo - essa “libertação”, além de não estar
relacionada com desenvolvimento (já que não
necessariamente é acompanhada de um incremento de
renda per capita), é totalmente contrária a seus
interesses e, conseqüentemente, desvalorizada.
A dinâmica comunitária: examinando
alguns processos
Cada comunidade compreende uma realidade
única, possuindo significados diferentes e vivências
ímpares. Não se trata aqui de caracterizá-la como um
locus fictício, teórico e/ou irreal, mas sim de situar a
comunidade enquanto um lugar onde pessoas crescem
juntas, se relacionam, se confraternizam. É na
Dica do professor
A importância da Educação Ambiental em comunidades: Não há como valorizar e promover uma interação mais e harmônica entre homem e meio ambiente sem considerar o relacionamento do homem consigo mesmo, com seu semelhante e com a sociedade em geral. Este é um dos princípios básicos da Educação Ambiental.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 226
comunidade que as pessoas se organizam e agem em
função de seus interesses e ideais, buscando algum tipo
de melhoria nas condições de vida a que são obrigadas
a se submeter. Comunidade é o lugar onde as pessoas
vivem, ganham seu sustento, formam suas famílias,
adquirem conhecimento e produzem cultura, aí esta
sua riqueza. É este tipo de comunidade, real e orgânica
- onde diversos projetos de cunho social e político estão
sendo aplicados - que eu me propus a pesquisar nesta
aula, visando entender de que forma a Educação
Ambiental pode intervir na mesma promovendo um
amplo Desenvolvimento Comunitário.
Considerar uma comunidade real, implica
repensá-la não como um lugar paradisíaco, tranqüilo,
onde todos cooperam e vivem em plena harmonia. Mas
sim, ao contrário, enxergá-la como um lugar onde se
desenvolve uma série de processos, promovendo
contínuas tensões acompanhadas de constantes
desequilíbrios. É precisamente este jogo da interação
social, processado no interior da comunidade, que
caracterizará o que intitulo nesse subcapítulo como
dinâmica comunitária, procurando avançar de uma
dimensão conceitual de comunidade para a dimensão
do sentir e do agir comunitário, já que a mesma implica
necessariamente uma troca de ações, idéias, opiniões,
influências e sentimentos entre os seus membros
(Moreira, 1994). A dinâmica comunitária vai se referir a
toda classe de processos ativos e naturais na vida
comunitária, tanto aqueles relacionados com
fenômenos construtivos e mantenedores da
comunidade, quanto os que se referem aos fenômenos
desagregatórios da mesma. Pierson (1977), ao estudar
a temática da interação social, lista uma série desses
fenômenos, especialmente os mais freqüentes neste
tipo de enfoque. Entre estes poderíamos citar como
mantenedores:
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 227
A socialização pela qual o recém-nato vai se
incorporando ao grupo;
A comunicação cuja função é a manutenção
da unidade e integridade do grupo social,
permitindo que as relações humanas se
constituam;
A acomodação que, mesmo sendo um mero
ajuste externo da situação diante de um
conflito iminente, tem efeitos importantes na
redução ou cessação do mesmo e na
alteração do modus vivendi da comunidade,
produzindo novas formas de interação,
ajustamento e organização comunitária,
abrindo caminho para a assimilação
(Brandão, 1968; Lenhard, 1973; Sedeh, 1976
e Neto. & Neto, 1976);
E a assimilação que apazigua integralmente o
conflito, seja ele pessoal ou grupal, na
medida em que sugere mudanças de ordem
psíquica no indivíduo, levando-o a adquirir
vivências, objetivos e sentimentos próprios do
grupo, de outras culturas ou mesmo da
própria situação conflitante. Antigas formas
de agir, pensar e sentir podem, via
assimilação, ser substituídas por novas
(Sedeh, 1976). É importante ressaltar que a
assimilação pode se dar de forma
inconsciente, mas nunca de forma imposta. A
assimilação de valores e representações é
considerada como sendo a última etapa num
processo de adaptação (Coulon, 1995;
Brandão, 1968).
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 228
E como fatores desagregatórios:
A competição vista como um processo
inconsciente, impessoal e não premeditado,
que produz a distribuição no espaço
(configuração espacial da população) e nas
ocupações (como a especialização de
funções). Considerada como princípio
regulador que produz a ordem no reino dos
seres vivos e tem como objetivo final a
sobrevivência da espécie, ela seria a forma de
interação mais elementar e fundamental
existente. Segundo Sedeh (1976), em
conseqüência dela processa-se uma divisão
do trabalho, desenvolve-se uma ordem
econômica, distribuem-se as instituições no
espaço e, finalmente, configuram-se
espacialmente as populações;
E o conflito que é tido como um processo
consciente e pessoal caracterizado através da
luta pelo status, ou seja, a luta por uma
posição que o indivíduo ou grupo acredite
corresponder ao seu papel. Ele pode ser
basicamente resumido na tomada de
consciência da competição acompanhada de
uma tensão que vai aumentando
gradativamente de tal modo que sua
resolução possibilite um tipo de descarga (Id.,
p.\118).
PARA SE APROFUNDAR
Park chega a estabelecer, para cada um dos
processos considerados acima, uma ordem social
determinada, como um objetivo específico a ser
cumprido pelos mesmos. Deste modo, os processos
de competição teriam por fim o equilíbrio
econômico; os de conflito deveriam contribuir para
a manutenção da ordem política; os de assimilação
para a constituição e transmissão da herança
cultural e os de adaptação (incluindo a
acomodação) para a organização social como um todo (Park, apud Coulon, 1992).
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 229
As influências ambientais são determinantes na
dinâmica comunitária, na medida em que os diferentes
fenômenos e processos sociais que a constituem são
afetados, direta e indiretamente, pelo contexto
ambiental onde os mesmos se processam. Para Chinoy
(1979), a natureza territorial possui uma influência
decisiva na estrutura social local e nos modos de viver
de uma comunidade. As condições geográficas, aliadas
aos recursos e ao clima da região, suscitam problemas,
impõem limites e criam oportunidades. Considerando
essa interdependência, um dos objetivos dessa aula, foi
o de, justamente, explicitar a contribuição que a
Educação Ambiental tem a oferecer em termos da
dinâmica comunitária a partir de um reexame das
práticas de interação entre comunidade e meio
ambiente, em prol de uma elevação da qualidade de
vida e bem estar-social.
Para esclarecer como essa articulação
comunidade x meio ambiente se processa, é pertinente
examinar, aqui, alguns processos ecológicos que
promovem o equilíbrio biótico através da formação,
reestruturação ou até mesmo o desaparecimento de
agrupamentos sociais em geral. Muitos desses
processos foram estudados pela Escola de Chicago,
entre os quais se pode destacar: a concentração, a
centralização, a especialização, a dominância ou a
dominação, a migração, a dispersão, a segregação, a
invasão, a resistência, a mobilidade, a densidade social
e a sucessão, entre outros menos comuns na realidade
comunitária, alvo deste estudo.
A concentração refere-se à tendência de um
número crescente de pessoas para se fixarem numa
determinada área ou região, constituindo-se num dos
fatores básicos para a constituição de comunidades
urbanas (Young & Mack, 1967). A concentração é, em
última instância, a aglomeração de seres humanos e
Dica do professor
A escolha locacional de uma indústria é pensada em termos de um sítio que seja agradável à vida e ao trabalho de seu quadro de pessoal, tanto para mantê-los como para atraí-los; o que por sua vez implica, segundo Benko (1993) um
certo grau de urbanização, infra-estrutura de transporte e amenidade local. Para um maior aprofundamento, ver artigo de BENKO, Os Novos Espaços Industriais: A Lógica Locacional. In: Cadernos do IPPUR, abril de 1993.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 230
instituições em áreas favoráveis a sua persistência.
Uma vez ocorrida a concentração em uma área, a
centralização segue-se a essa como uma tendência das
pessoas em adotarem uma determinada parte desta
área (ponto central) sob concentração, podendo ocorrer
também pela simples adição de atividades em uma
determinada zona comum (Ginst & Fava, 1973). Os
mapas de densidade da população mundial refletem
claramente a importância dos fatores geográficos e
climáticos na distribuição dos seres humanos. A própria
extensão geográfica da comunidade depende da
habilidade de seus integrantes em utilizar os recursos
ambientais e enfrentar as dificuldades que o meio
apresenta (Chinoy, 1979). Após a revolução industrial,
os limites de concentração, antes definidos pelas
condições de abastecimento de uma área, foram
praticamente abolidos. Hoje o que vem determinando o
fator concentração de uma localidade como o Japão,
por exemplo, é a importância estratégica do lugar em
relação ao comércio e à indústria (Mckenzie, 1970b).
No que concerne às comunidades, a situação não é
diferente. Quanto mais próxima dos centros comerciais
(no meio urbano) ou das fazendas e cooperativas (no
meio rural), maior será o número de pessoas que
desejarão fazer parte da mesma. A concretização desse
desejo, no entanto, é, na maior parte das vezes,
impedida pelo alto custo de vida que esses lugares
estrategicamente valorizados exigem.
O processo de concentração acaba levando
direta ou indiretamente à especialização da
comunidade, que pode evoluir de agrupamento a vila,
de vila a bairro, de bairro a cidade e assim por diante.
À proporção que a concentração de uma localidade se
eleva, vai tendendo a uma especialização territorial em
torno da satisfação dos interesses da comunidade,
passando esta a ser guarnecida de centros, escolas,
igrejas, hospitais, comércios diversos e outros. O grau
Você sabia?
Sobre a Diferenciação Segundo Wirth (1967), populações grandes e densas, como as que estão presentes no meio urbano, geram diversificação e especialização de áreas tais como as plantas e a vida social. Essa diferenciação permite que um número maior de indivíduos
convivam numa mesma área de forma integrada (Wirth, 1967: 14).
Dica do
professor
Regiões dominantes Certamente, você conhece várias
regiões assim. Vale destacar que situações particulares também podem gerar centros de dominação como a dominação religiosa de Roma e Meca ou a dominação da moda em Paris e outros.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 231
de especialização, aliado a outros aspectos culturais e a
uma certa adaptação aos limites impostos pela
topografia local, irão determinar a dominância de uma
localidade sobre outras, gerando as chamadas regiões
dominantes. O processo de especialização baseia-se na
capacidade de adaptação do homem a determinadas
condições do ambiente em questão e na possibilidade
de que este tem, ao contrário dos demais animais, de
modificar as condições do meio natural, como é o caso
da transplantação de plantas e animais, urbanização,
enriquecimento do solo e etc. (Leão, 1963).
A migração, por sua vez, está intrinsecamente
relacionada com os processos de concentração e
especialização vistos anteriormente. Segundo
Hollingshead (1970b), ela é definida como o movimento
dos povos, indivíduos ou grupos de uma localidade para
outra que se dão basicamente através de duas
condições: mudanças no meio físico (como algum tipo
de cataclismo), e mudanças no meio sociocultural em
termos de desenvolvimento ou desintegração.
Atualmente, as grandes migrações têm-se dado
principalmente em duas direções: a expansão de novos
centros inexplorados de uma área qualquer do mercado
e a concentração nas cidades por oferecer melhores
condições de emprego e escolarização. No entanto,
migrações de pequeno porte podem-se dar por motivos
diversos, que vão desde uma melhor satisfação das
necessidades familiares até mesmo à fuga de uma
situação-limite, como é o caso da violência presente
nos grandes centros urbanos.
O processo de dispersão é caracterizado pelo
inverso do processo de concentração, ou seja, na
desvalorização e desestímulo local seguido de um
processo de dispersão populacional (Mckenzie, R.,
1970b), chamando a atenção para o fato de que,
muitas vezes, a própria concentração de determinada
Dica do professor
Exemplo de Dispersão No caso de comunidades comerciais e industriais, é comum que em função da falência de grandes empresas ou indústrias acabem abalando seriamente a subsitência local, podendo, de acordo com o grau de organizanização ou desorganização da mesa, gerar um processo de dispersão que, em curto prazo, acabe conduzindo ao fim da comunidade.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 232
área pode promover dispersão em outras mais
próximas. A segregação, por sua vez, é um processo
que ocorre através da seleção de certos tipos sociais e
da tendência do agrupamento e estabelecimento de
populações semelhantes em algumas áreas de certa
localidade. Ela pode se basear em fatores econômicos,
étnicos, culturais, lingüísticos e, ainda, outros como
padrões de inteligência e ambição pessoal. A
segregação acaba gerando o isolamento de alguns
grupos e definindo os grupos naturais (dominantes) de
uma comunidade (Maciel, 1993). Aqui não se está
considerando apenas as formas radicais de segregação
como o apartheid, mas a todo um processo que, em
termos espaciais, é claramente manifestado como uma
tendência que os indivíduos têm de residirem próximos
a seus companheiros (entendidos como grupos de
pertença formado por pessoas que comungam de um
mesmo ideal e afinidades), como o bairro do Bexiga em
São Paulo, ou os conhecidos Bairro Chinês e a Pequena
Itália nos EUA. Essas áreas segregadas recebem o
nome de áreas naturais, justamente por se
constituírem naturalmente, não resultando de nenhum
planejamento preconcebido (Gist & Fava, 1973: 144).
Devem-se ressaltar, ainda, três características
importantes da segregação: a primeira é que ela pode
ser motivada por diferentes fatores, como os espaciais,
no caso das barreiras naturais como montanhas,
florestas, desertos que também promovem o
O QUE É APARTHEID?
O apartheid foi um dos regimes de discriminação mais
cruéis de que se tem notícia no mundo. Ele vigorou na
África do Sul de 1948 até 1990 e, durante todo esse
tempo, esteve ligado à política do país. A antiga
Constituição sul-africana incluía artigos onde era clara
a discriminação racial entre os cidadãos, mesmo os
negros sendo maioria na população. O apartheid, que
quer dizer separação na língua africâner dos
imigrantes europeus, atingia a habitação, o emprego, a educação e os serviços públicos.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 233
isolamento social, embora hoje cada vez mais superado
pelo desenvolvimento de novas tecnologias,
especialmente as de cunho comunicacional, vencendo
as barreiras naturais e chegando a todas as partes do
globo. Por fatores biológicos (diferenças de cor,
doenças, características físicas), fisiológicos (deficiência
de sentidos: surdez, gagueira) e até psicológicos, no
caso da formação de grupos de indivíduos introvertidos
ou neuróticos (Fontoura, 1955: 52). A segunda refere-
se a que, na maior parte das vezes, ela não se dá de
forma completa, ou seja, ela é limitada, existindo
sempre uma mistura de populações distintas
principalmente ao redor da área dita isolada. E a
terceira diz respeito ao fato de que ela pode ser
voluntária quando os nativos da região concordam com
a invasão e a ela não criam nenhum tipo de reação, ou
involuntária, quando esta ocorre através da força, seja
por fatores culturais, legais ou, ainda, econômicos, já
que não se vive onde se deseja, mas onde o custo de
vida permite (Young & Mack, 1967; Gist, N. & Fava,
1973). Muito embora esse não seja o objetivo principal
da Educação Ambiental, a conscientização de que todos
os diferentes grupos estão situados num mesmo
planeta, onde a elevação da qualidade de vida do
mesmo depende não só da relação que desenvolvem
com o meio ambiente, mas também com aqueles que
dele comungam, pode contribuir para um refreamento
dos processos de segregação, através da promoção de
atividades pautadas na integração, reciprocidade e
abolição de preconceitos.
A invasão refere-se ao processo grupal de
ocupação não controlado de uma área segregada por
uma população diferente da que a ocupava, bem como
as mudanças resultantes dessa ocupação quanto ao
tipo de população e do terreno em si. Esta pode ser
efetivada tanto por grupos mais fortes (mais
organizados) quanto por grupos economicamente mais
Dica do professor
O isolamento aqui referido diz respeito a uma forma de conduta com fim à
preservação das diferenças culturais reforçando mentalidades, tradições e costumes. A rigor, ele é definido como a ausência ou uma acentuada infreqüência de contatos. O sentimento religioso e determinadas ideologias podem ser evocadas como exemplos de ideais que conduzem à segregação ou ao isolamento.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 234
poderosos que o grupo de origem, quanto por grupos
mais fracos, o que levaria à segregação dos mesmos.
Quando os ocupantes primitivos são expulsos em sua
totalidade por seus invasores, pode se falar que
ocorreu uma sucessão (Ginst & Fava, 1973: 203). Isso,
porém, não significa que a invasão não possa ocorrer
em territórios desocupados, pois embora não ocorra
desocupação de residentes, uma nova forma de
utilização e ocupação da terra pode vir a existir.
A mobilidade, segundo Park (1970), diz respeito
ao movimento de indivíduos ou grupos de uma posição
social para outra, acompanhada da circulação de
valores e traços culturais do seu grupo de origem. Essa
mobilidade social altera significativamente a posição
ecológica do indivíduo ou grupo em relação à
comunidade (em termos de ascensão ou
empobrecimento), servindo, inclusive, como um
instrumento para verificar o grau de mudança e de
desorganização social da mesma, sem esquecer, no
AINDA SOBRE A INVASÃO
Mckenzie (1970b) cita alguns dos fatores mais
comuns vistos em processos de invasão como a
construção de importantes estruturas públicas ou
particulares (a construção de Brasília, no Planalto
Central, por exemplo); introdução de novos tipos de
indústrias ou remodelação das já existentes, e
outras mudanças de base econômica, como a
redistribuição de renda, mudança da moeda,
desenvolvimento imobiliário local. Tal como a
segregação, a invasão pode ser também voluntária
quando não há evacuação forçada por parte da
população de origem (por exemplo a infiltração de
indivíduos ou famílias em determinado lugar
movidos pela busca de melhores condições
ambientais, de trabalho) ou involuntária, quando os
ocupantes iniciais são obrigados a se retirar (como
no caso de áreas residenciais invadidas pelo
comércio ou indústria), podendo nesse caso ocorrer
reações da parte dos mesmos, defendendo a área
invadida (Ginst & Fava, 1973) como as que se
deram em diferentes momentos da história mundial,
com os índios no Brasil, com os povos maias no
México e diversos outros.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 235
entanto, que todo “progresso” representa, também,
necessariamente algum tipo de desorganização social.
Compreende-se por densidade social a
quantidade de relações estabelecidas no espaço
habitado (Maciel, 1993), podendo ser considerada um
indicador do grau de interação social em uma
determinada área geográfica. A densidade social é
favorecida em uma comunidade através dos meios de
comunicação em geral, pontos de encontro, locais de
recreação, instituições educativas, centros comunitários
e outros. Esse é um processo importante a se levar em
consideração no planejamento de projetos comunitários
de Educação Ambiental, particularmente no momento
de se optar pelo tipo de comunicação a ser utilizado em
uma comunidade visando alcançar resultados mais
rápidos e eficazes junto à mesma.
O processo de sucessão, por fim, compreende a
seqüência ordenada de fatos, ou melhor, a trajetória
histórica das mudanças ocorridas na comunidade no
decorrer do seu processo de desenvolvimento em
direção a um equilíbrio mais estável (Park, R., 1970). A
análise de um processo de sucessão e seus diferentes
estádios envolve necessariamente todos os outros
processos que aconteceram na comunidade, desde sua
implantação, envolvendo períodos de crescimento e
retração populacional, até o seu momento atual. O
estudo deste processo é fundamental em termos de um
registro histórico que o pesquisador precisa ter para o
desenvolvimento de qualquer trabalho de base
comunitária. A consideração de todos esses processos
por si mesmos, se exercendo ora conjuntamente, ora
de forma separada, já poderia fornecer uma idéia
considerável de como o meio ambiente, onde a
comunidade está situada, não pode ser considerado
apenas um lugar estático, mas sim como uma área de
intensa interação psicossocial, onde homem e natureza
Dica do professor
Rotinização Ao contrário, qualquer tipo de movimento sem mudança real de “posição ecológica” é caracterizado como um processo de rotinização. Como exemplo de processos rotineiros, encontramos o movimento diário de idas e vindas do lugar de residência para o trabalho, os passeios para compras e lazer, e outros movimentos mais, extremamente comuns da vida social comunitária.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 236
se relacionam continuamente, deflagrando uma
complexa série de reações, cujos efeitos irão variar de
comunidade para comunidade em termos de
apresentação, intensidade, tempo e extensão. Assim
sendo, é possível afirmar que a preocupação máxima
da Educação Ambiental consiste em que essas reações
venham a se processar sempre voltadas para uma
humanização da natureza e nunca para sua destruição.
Comunidade e meio ambiente
Após refletir sobre o que seja comunidade, e
considerar a importância que o papel do meio ambiente
assume junto a ela passando, então, a integrar um
complexo ecossistema local; seria interessante refletir
como têm sido processadas, ou mesmo como poderiam
ser processadas as diferentes formas de interação entre
uma comunidade e seu meio ambiente, partindo do
entendimento de que a comunidade é parte integrante
do mesmo. Kurt Lewin (1935) foi um dos primeiros a
afirmar, de forma categórica, que o comportamento
humano evolui em função da interação com o meio
ambiente, expressando seu pensamento através da
fórmula C = f (P. ME), donde C representa o
comportamento, P a pessoa e ME o meio (Lewin, 1935).
É evidente que a fórmula de Lewin também se aplica à
realidade comunitária, podendo até mesmo gerar
resultados mais eficazes em termos de uma
reestruturação comportamental, do que em uma
sociedade maior e mais complexa, tendo em vista o
número reduzido de influências externas.
SOBRE KURT LEWIN
Kurt Lewin (1890-1947) foi um psicólogo alemão
que por bom tempo trabalhou associado a Max
Wertheimer e Wolfgang Köhler, expoentes da
Psicologia da Gestalt. À semelhança de Goldstein,
teve carreira meteórica e também imigrou para os
Estados Unidos devido ao nazismo, ocupando
rapidamente importantes cargos em Universidades.
Importante
Começar a execução de um projeto comunitário, sem conhecer, ainda que superficialmente, a sucessão de processos envolvidos na sua constituição e manutenção, é uma tarefa arriscada, podendo ser o grande responsável pelo seu fracasso ou
ainda a criação de outros problemas de difícil resolução.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 237
Segundo Souza (1993), existem seis aspectos
comunitários fundamentais a se considerar e que
entendo como fundamentais para compreender os
processos de interação entre a comunidade humana e o
meio ambiente: 1) os aspectos físicos da área,
englobando sua localização espacial, comunicação com
outras áreas, caracterização territorial e sua população;
2) os aspectos históricos da comunidade; 3) os
aspectos econômicos, como as condições de vida e de
trabalho da população; 4) os aspectos políticos,
reunindo as relações de poder existentes nos diferentes
grupos e na própria comunidade como um todo; 5) os
aspectos culturais, considerando as variadas formas de
expressão cultural e as visões de mundo da
comunidade baseadas em seus interesses e aspirações;
6) os aspectos sociais, que envolvem os serviços sociais
básicos como educação, saúde, transporte, segurança e
comunicação. Todos esses aspectos pertinentes à
realidade comunitária estão intimamente ligados entre
si e com o meio ambiente, onde se apresentam e se
constituem. Um projeto de Educação Ambiental
aplicada a uma comunidade precisa considerar estes
aspectos em sua totalidade de uma forma integrada, a
partir de uma abordagem interativa. É um grande erro
pensar a dimensão ambiental apenas do ponto de vista
territorial ou geográfico, ignorando os fatores
psicossociais que estão indubitavelmente presentes e
são determinantes como já vimos em alguns processos
ecológicos. Como nos lembra D’Ávila & Maciel (1992), o
meio ambiente “é um processo de interação
sociocultural, gerado pelo homem e a natureza”
(D’Ávila & Maciel, 1992: 72). Neste contexto, os
Sustentou a aplicação de sua Teoria de Campo a
todos os ramos da Psicologia: questões relativas ao
comportamento infantil, adolescência, deficiência
mental, problemas de grupos minoritários,
diferenças caracteriológicas dos povos e dinâmica de
grupo.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 238
grupos, as comunidades, e a própria sociedade em
geral, poderiam ser encarados como a materialização
da dinâmica homem x meio.
Partindo dessa visão mais ampla de meio
ambiente, caberiam aqui os seguintes
questionamentos: será que as comunidades têm
interagido com o meio ambiente de modo a se
perceberem como parte integrante do mesmo? Isto é,
estariam as comunidades conscientes do importante
papel que o meio ambiente assume no que se refere ao
próprio desenvolvimento de suas atividades? Ou
melhor, saberiam estas do valor que o meio ambiente
representa, ou do que uma relação mais integrada com
o mesmo poderia vir a proporcionar? A resposta a todas
estas perguntas indicariam um conjunto bastante vasto
de possibilidades em termos de interação ambiental
(especialmente através de um trabalho de Educação
Ambiental) a serem desenvolvidas entre comunidade e
meio ambiente, mas que, entretanto, são ignoradas por
aqueles que compõem as comunidades, especialmente
quando se tratam de comunidades de baixa renda. O
conhecimento de como as forças naturais atuam, por
exemplo, ou de como se tirar vantagem da aclimatação
e solo local, poderiam não só evitar problemas como
desabamentos ou deslizamentos de casas; mas
colaborar na auto-sustentação financeira da
comunidade através da efetivação de hortas locais ou
montagem de uma estrutura comercial adequada às
condições que o meio oferece.
Nunca é demais lembrar que o meio ambiente
natural proporciona à comunidade humana as
condições básicas para sua sobrevivência. O
ecossistema formado pela fauna, flora, clima,
topografia, recursos naturais e as diversas formas de
como a comunidade interage e trabalha esse meio,
possibilita o atendimento às necessidades locais
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 239
elementares, no que concerne à alimentação, trabalho,
segurança, transporte e lazer. O papel da Educação
Ambiental se insere justamente aí, ou seja, na
formação de uma nova mentalidade ecológica, num
trabalho contínuo, junto com a população de uma
comunidade, despertando-a para o papel fundamental
que o ambiente pode desempenhar em suas vidas,
oferecendo um imenso número de possibilidades de
atuação e oportunidades para seu desenvolvimento
local, desde que certos cuidados ambientais sejam
tomados.
Na acepção de alguns autores, uma comunidade
que desenvolve suas práticas de interação social
pautadas no respeito e na valorização do meio
ambiente é chamada de comunidade sustentável. Estas
seriam definidas, em linhas gerais, por algumas
características comuns, como a redução da poluição
interna e do lixo (optando-se pela reciclagem);
igualdade de oportunidade de trabalho, cultura e lazer
para todos; proteção da saúde de seus integrantes
enfatizando medidas de prevenção e higiene; luta por
meios de transportes acessíveis a sua população;
valorização do trabalho doméstico (interno) e ampla
participação da comunidade nos processos decisórios
locais. Isto é, ela encerra uma modalidade de
funcionamento comunitário, onde homem e meio
procuram uma relação mais equilibrada em prol de
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM COMUNIDADES
A implantação de ações de Educação Ambiental junto
à comunidade é fundamental, pois promove a
disseminação do conhecimento sobre o ambiente, e é
essencial para a inserção política, social e econômica
da população. Deve ser incorporada como parte do
aprendizado, contribuindo decisivamente para ampliar
a consciência ambiental e ética consoantes com o
desenvolvimento em bases sustentáveis, favorecendo,
inclusive, a participação popular nas tomadas de
decisão.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 240
melhores condições de vida e de bem-estar para
comunidade.
Uma sociedade sustentável é o desafio cuja
concretização requer a necessidade de ir “além das
considerações ecológicas expressas em termos de sua
capacidade para utilizar eficientemente seus recursos
naturais sem violar a capacidade de carga dos
ecossistemas. A sustentabilidade encerra, também,
dimensões econômicas e sociais orientadas a satisfazer
necessidades e aspirações humanas essenciais. Esta
tridimensionalidade requer uma nova ética de
desenvolvimento que nos conduza a construir novas
sociedades mais humanas, mais justas e mais
eqüitativas” (Tarté, R., 1995). Sociedades conscientes
de que os problemas ambientais não dizem respeito
apenas à natureza em si, mas geram situações de
pobreza, baixa produtividade, doenças, vulnerabilidade
a desastres naturais, poluição e inospitalidade;
devendo, portanto, serem tratados com a seriedade
que merecem.
É precisamente na busca de uma
sustentabilidade comunitária ampla e irrestrita, que se
concentram, ou pelo menos deveriam se concentrar os
esforços do trabalho de Educação Ambiental efetivado
em comunidades, em direção a uma elevação da
qualidade de vida das populações que delas fazem
parte, no sentido, portanto, de um desenvolvimento
comunitário. No entanto, para que esta meta seja
alcançada, se faz necessário procurar por novas formas
de relacionamento entre comunidade e meio ambiente.
É preciso substituir a relação de parasitas, de
dominadores pelo direito de simbiose que se expressar
através da reciprocidade (Serres, 1991). Isto
significaria restituir à natureza, de uma forma
resiliente, tudo o que a mesma fornece ao homem, o
Dica do professor
O que é Resiliência? Resiliência é um conceito da Física, que significa a capacidade de um corpo de, após ter sofrido uma pressão, devolver toda a energia nele depositada quando cessada a força. Dentro de uma abordagem mais ampla, o princípio da resiliência refere-se à aptidão de cada um para se adaptar a diferentes mudanças reagindo positivamente a elas, ou seja, de recuperar seu equilíbrio afetado pelas mesmas.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 241
que, sinceramente, não acredito como uma realidade
possível.
É desnecessário apontar aqui o quanto a
Educação é uma força motriz do crescimento
econômico, mas também e, principalmente, como
instrumento essencial à elevação dos níveis de vida.
Apesar das dificuldades de mensurar “a rentabilidade”
da Educação, autores como Adisesiah (1973)
mostraram com extrema simplicidade o quanto a
relação bilateral entre Educação e Desenvolvimento é
um fato incontestável. Para citar um único exemplo,
basta refletir sobre as condições do Brasil, Congo e
muitos outros países em relação as suas riquezas
naturais, o que lhes garantiria uma posição de
destaque em relação aos países europeus, e a real
posição que ocupam em termos de desenvolvimento
quando comparado a estes (Adiseshiah, 1973: 35).
O pedagogo alemão Ernest Krieck já afirmava,
desde 1926, que “a educação é uma função essencial e
permanente da vida em comunidade” (Krieck (1926)
apud Mantovani, 1952: 31). Segundo Krieck, ela
nasceria precisamente do continuum de relações que os
homens desenvolvem entre si, ou melhor, dos fluxos e
intercâmbios recíprocos do indivíduo para com a
comunidade e vice-versa. O fato de entender a
Educação dessa forma, o leva a afirmar que a mesma é
anterior à pedagogia e não sua criação, cabendo
àinstituição escolar apenas o mérito de aprimorá-la,
enfatizando ainda que: “quando se contempla a vida e
ação da comunidade se descobre o segredo de toda
educação” (Id., p.32), já que esta não seria nada mais
do que uma função básica da comunidade.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 242
Essa contribuição de Krieck é importante para
que se compreenda, em primeiro lugar, que o educador
não traz algo novo ou estranho para a comunidade
denominado Educação, seja ela ambiental ou não. O
processo educativo já existe em qualquer comunidade,
ele já está em funcionamento desde a concepção da
mesma, mantendo-a viva. Cabe ao educador (agente),
antes de mais nada, tentar perceber, entender e,
principalmente, aprender como este se desenvolve,
antes de qualquer tentativa ou pretensão de aplicar
determinado programa de ensino. A partir dessa
compreensão inicial, este buscará literalmente
“encaixar” seu programa, projeto ou estratégia à
realidade educativa já presente na comunidade, via
participação da mesma em todas as fases desse
encadeamento, inclusive as que se referem a uma
aplicação prática. E, em segundo lugar, que o educador
é, acima de tudo, um aprendiz, especialmente o
educador que tem na comunidade seu campo de
atuação; devendo este buscar “ver, ouvir e acolher”
demoradamente a realidade comunitária antes de nela
“agir”.
Conquistar estas metas exige, por parte do
educador, um envolvimento maior com a comunidade
que pretende trabalhar, procurando sair do anonimato
pedagógico formal e buscar incluir-se em sua dinâmica
relacional. A Educação Ambiental não se apresenta
como uma exceção a essas pontuações, muito ao
contrário, essas devem e precisam ser tomadas como
diretrizes, para que os processos por elas deflagrados
cheguem a sua plenitude e promovam algum tipo de
A CONTRIBUIÇÃO DE KRIECK
Para Ernest Krieck, a comunidade é definida não
apenas “como uma coexistência de indivíduos, mas
como uma convivência entre eles, ou seja, o gênero
de vida onde se estabeleceriam relações de
colaboração e compreensão recíprocas.
Dica do
professor
Sobre a capacitação: A capacitação pode ser definida como uma espécie de empoderamento (empowerment) através de um processo pedagógico que permite à população uma compreensão mais profunda de seus problemas, captando as contradições a que se encontra submetida, possibilitando assim que esta venha a
encontrar novas formas de ação que possam responder aos mesmos de forma mais direta e objetiva. Vide outros dados em Souza (1993) pp. 95-96.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 243
resultado na comunidade, ainda que este seja apenas
ao nível de conscientização.
O que se pretende aqui, ao revelar alguns
aportes entre Educação Ambiental e Desenvolvimento
Comunitário, é, antes de mais nada, confirmar o quanto
este é passível de ser atingido, desde os processos
educativos que se desenvolvem na comunidade que o
almeje, sejam direcionados no sentido de capacitar
seus membros a interpretar, de forma crítica, os
problemas que lhe são inerentes, possibilitando a estes
buscarem novas soluções que possam responder
melhor aos mesmos. A Educação Ambiental se insere,
nesse propósito, como uma educação para a vida,
despertando a comunidade para esses problemas
(especialmente os que se referem ao meio ambiente),
conduzindo-a a uma melhor leitura destes;
promovendo uma consciência mais objetiva da situação
em que se encontra e oferecendo-lhes alguns
elementos básicos para o delineamento de respostas
mais eficazes a fim de superá-los. Essa tomada de
consciência permite que seus membros se identifiquem
com um propósito de mudança e busquem, aprendendo
com seus próprios erros e tentativas, desenvolver suas
capacidades de organizarem-se, integrarem-se e se
auto-ajudarem para dobrar os obstáculos que se opõem
a seus processos particulares de desenvolvimento.
A importância de uma Educação Ambiental
voltada para o Desenvolvimento Comunitário se faz
sentir com maior intensidade - enquanto um
equipamento básico primordial a qualquer trabalho
dessa natureza - a partir do fato de que a concretização
da realidade, acima descrita, somente pode se dar
através de um amplo processo democrático que amplie
as possibilidades decisórias, comporte a criação de uma
ética coletiva do homem e permita a formulação de
novos paradigmas que dêem conta das novas
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 244
tendências presentes na relação homem x meio
ambiente. Assim, mesmo consciente de que a Educação
como um todo não é única atividade responsável pela
reconstrução social em direção a uma sociedade mais
justa e igualitária (Costa, 1995); defendo que por ser a
Educação Ambiental uma das que mais sistematiza e se
envolve com as relações sociais, nas suas diferentes
esferas e dinâmicas, ela deve ser particularmente
destacada, entre outras estratégias, como um meio de
se chegar a esse resultado.
Como aponta Meyer (1991), a Educação
Ambiental não é a “solução mágica para todos os
problemas ambientais” (Meyer, 1991: 41), assim como
também não é solução para todos os problemas
relativos ao desenvolvimento. No entanto, enquanto
um processo contínuo de aprendizagem, ela contribui
pouco a pouco para a ampliação da consciência dos
membros da comunidade, sobre os potenciais e os
limites que esta apresenta. Conscientização essa, que é
construída, não apenas através da mera transmissão de
informações e conhecimentos, mas também e
principalmente, a partir da reflexão da própria
comunidade sobre seu cotidiano, através de
constatações práticas de “como é” a realidade em que
se encontram e “do como melhor poderia ser”.
Retomando aqui o pensamento de Gramsci
(1978), no que concerne às “relações orgânicas”: Ao
enxergar o homem como uma série de relações ativas,
isto é um processo; Gramsci percebe o indivíduo
sempre em relação com outros homens e com a
natureza, sendo estas relações estabelecidas
organicamente de forma ativa (através do trabalho, da
técnica e do diálogo), dependendo do grau de
consciência que delas tem o homem em interação; daí
o papel fundamental da conscientização da realidade
para que possamos vivenciá-la de uma forma mais
intensa e produtiva. Ampliando a consciência, o
Dica do professor
Como já dissemos em outras ocasiões, nunca é demais destacar que a Educação Ambiental é um dos caminhos para vencer desafios ambientais frutos da dinâmica relacional homem x meio, mas sem dúvida esta não é a única e seus resultados podem muito bem ser ampliados caso esta seja associada a outras ferramentas.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 245
processo educativo, seja ele qual for, promove
mudanças consideráveis tanto internamente (auto-
transformação e diferenciação conquistada) quanto
externamente, já que os reflexos das mesmas vão se
irradiar em todo conjunto de relações desenvolvidas
por quem a sofre. A complexidade desse processo leva
Gramsci a reconhecer que não basta entender o
homem “como uma síntese de relações existentes, mas
também a história dessas relações” (Id., p. 49), ou
seja, como estas se construíram ao longo do tempo,
podendo este aprender com os erros passados e
construir uma nova história.
A manutenção de um desenvolvimento
comunitário sustentável requer, em última instância, a
coexistências de dois fatores chave: a conservação do
nível de auto-sustentação e de diferenciação
conquistado pela comunidade, e o desenvolvimento
irrestrito de suas possibilidades. Ambos fatores são
contemplados na Educação Ambiental, seja através da
conscientização do potencial ambiental da comunidade
muitas vezes ignorado por esta e que pode ser utilizado
em benefício da mesma, numa relação de respeito e
intercâmbio; seja através do despertar de potenciais
latentes de organização comunitária, ora reivindicando
seus direitos, ora cobrindo falhas e lacunas deixadas
pelos órgãos competentes.
SOBRE GRAMSCI
Co-fundador do Partido Comunista Italiano, Antonio
Gramsci (1891-1937) foi uma das referências
essenciais do pensamento de esquerda no século
20. Embora comprometido com um projeto político
que deveria culminar com uma revolução proletária,
Gramsci se distinguia de seus pares por desacreditar
de uma tomada do poder que não fosse precedida
por mudanças de mentalidade. Para ele, os agentes
principais dessas mudanças seriam os intelectuais e
um dos seus instrumentos mais importantes, a
escola. Alguns conceitos criados ou valorizados por
Gramsci hoje são de uso corrente em várias partes
do mundo. Um deles é o de cidadania.
Dica do professor
Um programa completo de Educação Ambiental deve lidar com estratégias que visem os objetivos citados no parágrafo ao lado. Para tal, seria necessário,trabalhar não apenas a conscientização
ambiental como fim, mas como uma etapa, seguida de perto por outras como, por exemplo, a adoção de medidas que visem, a partir desta, um maior equilíbrio do ecossistema comunitário e a implantação das mesmas junto com a comunidade.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 246
Sabe-se que, no Brasil, as regiões não se
desenvolveram de modo homogêneo, variando de
estado para estado, uns mais e outros menos
desenvolvidos. A situação das microrregiões e
comunidades não difere muito dessa realidade,
havendo enormes discrepâncias de um lugar para
outro. Munidos dessa certeza, devem-se buscar
estratégias que priorizem a dinâmica particular de cada
localidade para se atingir o desenvolvimento
comunitário em cada uma delas. Uma determinada
população com poucos recursos econômicos e culturais
requer serviços elementares de saúde, trabalho,
alimentação, habitação e educação. Mesmo não tendo
como foco a resolução da carência ou insuficiência
desses serviços, a Educação Ambiental pode estimular
a comunidade a trabalhar conjuntamente, na busca de
soluções práticas a partir da próprio ambiente onde
vivem.
Dessa participação, entendida a partir de um
processo complexo de interações entre diferentes
pessoas, como aponta Grzybowski (1972), depende “o
êxito ou fracasso de um programa de educação
comunitária, “já que o mesmo é condicionado pelas
características e amplitude dessa participação”
(Grzybowski, 1972: 2). O desafio é justamente a luta
para conseguir viabilizar a chamada mobilização
comunitária, já que esta implica, necessariamente, um
estado de constante interação. Interação essa que será
marcada por uma série de fatores de ordem
psicossocial como os valores, as atitudes e a disposição
das pessoas interagentes (Krech et alii., 1969) tanto
por parte dos educadores como também pelos
membros da comunidade.
Esse estado interativo possibilita não só um
melhor esclarecimento dos motivos que levaram o
trabalho e, em conseqüência, a presença de um grupo
de trabalho estranho à comunidade, mas permite
Importante
A Teia de Relações e Dependências: Desse modo, cabe ressaltar a relação de dependência em que o educador ou o agente comunitário se encontra com relação a essa participação, tendo em vista que a própria atividade educacional é definida pelo tipo de participação obtida no trabalho com as comunidades. Quanto mais intensas forem essas relações, mais profundas e numerosas poderão ser as atividades pedagógicas a serem trabalhadas.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 247
estabelecer, também, um grau mínimo de confiança,
base sobre a qual o trabalho terá condições de ser
iniciado. A partir dessa primeira conquista, onde
comunidade e educadores sabem bem qual o seu papel
e seus limites, é possível iniciar um trabalho de
conscientização mais amplo. Somente com o
envolvimento de todos os atores envolvidos numa
prática social coletiva e transformadora, haverá
possibilidade de garantir uma possível mudança nas
atitudes e nos modos de pensar e agir dentro da
comunidade. Por trabalhar justamente os processos
envolvidos na relação homem x meio ambiente,
enfocando tudo que diz respeito à vida na comunidade
e, portanto, a todos os membros que a compõem, a
Educação Ambiental pode, sem dúvida, ser utilizada
como um agente catalisador desses processos, na
medida em que a comunidade se sinta valorizada e
entenda que, de uma forma geral, o que ela pretende é
dar-lhes a oportunidade de uma vida mais digna, mais
humana e mais sadia.
Entendido como “meio e contexto da vida
individual e comunitária” (Valverde, 1996: 99), o meio
ambiente deve ser pensado de forma heterogênea,
sendo percebido de diferentes formas para categorias
sociais, comunidades e grupos diversos. Assim sendo,
mesmo se configurando como uma unidade global ou
um grande ecossistema no qual a comunidade se
SERIA A PARTICIPAÇÃO UMA HABILIDADE?
Como nos lembra Bordenave (1983), a participação é
uma habilidade que se aprende e se aperfeiçoa; isto é,
não nascemos de posse dela, ela não é dada
geneticamente e sim construída socialmente. Através
de programas como o acima citado, que estimula a
participação comunitária num nível micro
(comunidade, associações), as pessoas vão
aperfeiçoando seu grau de participação local e se
preparando para um exercício mais maduro em
termos de sua macroparticipação, consubstanciando
as orientações político-ideológicas da sociedade em geral.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 248
insere, é importante entender que cada comunidade é
única, percebendo e atuando sobre o mesmo de uma
forma particular, de acordo com a tradição político-
sócio-cultural que varia de comunidade para
comunidade.
Se um programa de Educação Ambiental
pretende ser realmente efetivo numa comunidade, ele
deve direcionar suas estratégias partindo da noção de
meio ambiente defendida por essa comunidade que,
por sua vez, só será atingida através da possibilidade
de uma ampla participação nas diversas fases do
mesmo, por parte de seus membros. A valorização do
trabalho conjunto, concretizada através de ações co-
participativas, apenas ratifica o pensamento de Paulo
Freire (1992) na direção de que “educadores e
educandos (...) co-intencionados à realidade se
encontram numa tarefa em que ambos são sujeitos no
ato, não só de desvelá-la (a realidade) e, assim
criticamente conhecê-la, mas também de recriar este
conhecimento” (Freire, 1992: 61). Recriação esta que
pode se dar a partir dos problemas comuns da
comunidade, tendo como objetivo seu
desenvolvimento.
A partir destas considerações, parece estar claro
que os resultados obtidos pela aplicação de programas
de Educação Ambiental em comunidades, em termos do
desenvolvimento de uma consciência crítico-ambiental
e estímulo de potenciais comunitários latentes de
participação, contribuem significativamente para o
desenvolvimento destas, dotando-as de maiores
possibilidades de organizar melhor seu espaço e sua
própria vida social. No entanto, deve-se reconhecer que
outras práticas, aqui consideradas, de cunho político-
econômico, também, precisam ser levadas em conta
para que o processo de desenvolvimento comunitário
consiga se processar com maior eficiência e em menor
Dica do professor
Esta é uma aula rica, com muitas informações interessantes que devem servir para consulta sempre que você precisar entender melhor como se dão as relações entre comunidade e meio ambiente. Assim sendo, não deixe de ler a mesma outras vezes. Parabéns por ter chegado até aqui. Siga em frente com confiança!
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 249
tempo, de acordo com as especificidades de cada
localidade.
EXERCÍCIO 1
Assinale a única informação incorreta sobre os PCNs:
( A ) Os PCNs foram criados pela secretaria de
educação fundamental;
( B ) Os PCNs tiveram sua versão definitiva no ano de
1988;
( C ) Os PCNs servem de base para elaboração e
revisão das políticas de currículo dos estados e
municípios;
( D ) Os PCNs auxiliam na orientação dos próprios
investimentos do sistema educacional;
( E ) A cultura não pode ser considerada como um dos
temas transversais trabalhados nos PCNs.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 250
EXERCÍCIO 2
Sobre os problemas e desafios da educação ambiental
destacados nos PCNs, é correto afirmar que estes são
abordados na maior parte das alternativas abaixo com
exceção de uma. Assinale qual seria esta:
( A ) Reconhecimento de que a educação ambiental
está longe de ser uma atividade tranqüilamente aceita
e desenvolvida;
( B ) Esclarecimento de que sem uma mudança real
no quadro de miserabilidade social pouco é possível
fazer;
( C ) Esclarecimento dos males do consumismo
desenfreado para o meio ambiente;
( D ) Destaque ainda que superficial para o papel e
valor dos agentes ambientais e ambientalistas na área;
( E ) Valorização da originalidade brasileira no que se
refere à busca de saídas ambientais sustentáveis.
EXERCÍCIO 3
Qual foi a importância da inclusão do Meio Ambiente
nos PCNs como um dos temas trasnversais para a
Educação Ambiental?
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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 251
EXERCÍCIO 4
Como a Educação Ambiental Formal pode se beneficiar
da idéia de transversalidade onde o M.A. se inclui?
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RESUMO
Vimos até agora:
Nas últimas três décadas, a problemática
comunitária tem sido alvo constante de
diversas práticas sociais já consagradas -
como, por exemplo, a ação comunitária, a
ação social, a organização de comunidade e o
desenvolvimento de comunidade;
O homem vive em comunidades desde o
alvorecer da história humana (Koenig, 1975),
o papel que ela encerra foi, e continua sendo,
de tal modo, importante para a humanidade,
que ainda hoje, dois terços dos seres humanos
que povoam a terra são membros de
comunidades (tribos, famílias, clãs, comunas,
vizinhanças, vilas ou aldeias), e operam
segundo princípios internos próprios
(congregações, instituições, empresas,
agremiações, clubes) ainda que inseridos
numa economia mundial (Chinoy, 1979);
Nos séculos VI e VII A.C., os gregos já
concebiam a pólis como uma comunidade, ou
seja, como um âmbito de encontro interpessoal,
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 252
dos diálogos e das celebrações. A pólis não
reunia pessoas apenas pelo nascimento ou
hábitos, mas principalmente pelo anseio
comum por uma vida melhor. Diversos
elementos valorizados na pólis, como a
identidade pessoal e o interesse coletivo,
podem ser encontrados ainda hoje nas
definições mais recentes de comunidade. Na
urbs romana, que mais tarde veio a substituí-
la é o anonimato social, ou seja, a
substituição identidade pessoal e concreta
presente na pólis, pela identidade jurídica,
levando os cidadãos a não se reconhecerem
mais uns aos outros (Cox, 1971).
Por volta do século XI aproximadamente,
começam a aparecer as chamadas cidades
medievais que tiveram um grande impulso
com o nascimento do comércio. Embora essa
configuração tenha contribuído notoriamente
para a formação de núcleos comunitários, é
preciso ressaltar que o ambiente da urbs,
pode ser entendido apenas como um lugar de
transação e de intercâmbio comercial, e não
como o lugar onde a vida se processa
intensamente.
Ao contrário do espaço urbano, o ambiente
rural, durante muitos séculos, não foi
encarado como um espaço comunitário. Só
mais tarde - com o aparecimento das
metrópoles e a grande concentração de
habitantes por metro quadrado (m2) nas
cidades - esta concepção foi sendo invertida,
de forma que atualmente, ao nos referirmos a
uma comunidade, a primeira imagem que nos
vem à mente é a de um local mais próximo
do meio rural;
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 253
A célebre distinção entre comunidade rural e
urbana, não possui limites precisos.
Considera-se como principal divisor de águas
o conjunto dos fatores: densidade
populacional, estratificação social e contato
com as pessoas;
Com o advento do Iluminismo, houve uma
forte hostilidade em relação à formação de
comunidades, especialmente devido a
associação que lhe era comumente atribuída
ao sistema feudal. Deste modo, no século
XVIII, desenvolveu-se um sentimento anti-
comunitário, que conseguiu fazer com que a
comunidade perdesse seu sentido original
para ser encarada como a grande vilã e
inimiga do progresso;
Na concepção Rosseauniana, as associações
extinguiam a liberdade de seus integrantes,
pois embora seus membros permanecessem
unidos, estes passavam não mais a obedecer
a si próprios, e sim aos seus dirigentes;
A revolução urbano-industrial trouxe consigo
a desintegração nas relações sociais
tradicionais dos aglomerados humanos das
áreas urbanas faz despertar a questão da
comunidade, pois o desenvolvimento das
forças produtivas presentes à Revolução
Industrial cria a dissolução dos antigos laços
de autoridade e poder existentes na
comunidade;
Nisbet destaca como a nostalgia da
comunidade, isto é, um sentimento referente
às lembranças e sonhos com um lugar
maravilhoso que representava tudo de bom que
foi totalmente destruído pelo progresso gerador
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 254
do caos. Para Nisbet essa nostalgia
comunitária vai marcar sensivelmente todo o
pensamento social do século XIX. Segundo
ele existe uma busca incessante pela
comunidade, enquanto um sistema
impessoal, secular e individual, fazendo com
que o homem busque a comunidade no
casamento, nos consultórios de psiquiatria,
no culto, na religião fácil e em várias outras
oportunidades de distração que aliviem seu
esgotamento nervoso;
Hillery em seu artigo “Definitions of
Community: Areas of Agreement”, onde este
já detectava, em junho de 1955, noventa e
quatro definições de comunidade (Hillery,
1955). Por isso mesmo, ele e outros autores
como Lehran (1973), defendiam a teoria de
que uma comunidade não pode ser resumida
a um conceito único e definitivo, mas sim a
uma família de conceitos com traços
coincidentes;
Algumas definições de comunidade valorizam
sua estrutura física, ou melhor, seu espaço
geograficamente determinado. Outras
preferem destacar suas funções básicas,
principalmente as de cunho interativo;
Para MacIver a comunidade pode ser
entendida como “qualquer área de vida
comum, vila ou cidade, distrito ou município,
ou mesmo uma área maior” ou ainda como “o
viver comum de seres sociais”;
Segundo Gurvitich o indivíduo só existe por
oposição a sociedade, ele define uma
metodologia tipológica própria para explicá-la
baseada em três diferentes pólos sob constan-
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 255
te tensão: “os eus”, “os nós” e “os outros”;
Nas diferentes teorias, alguns elementos
comuns estão presentes na maioria das
definições de comunidade tais como: 1) uma
unidade social 2) uma área geográfica
determinada (locus onde a comunidade vive e
se desenvolve); 3) membros com algum tipo
de interesse comum (tradição, trabalho,
compromissos); 4) interatividade social
constante (maior com a comunidade do que
com demais agrupamentos) e 5) consciência
do “ser comunitário” (pertencer, ser parte da
comunidade);
O sociólogo Ferdinand Tönnies (1887)
defende que comunidade (Gemeinschaft) e
sociedade (Gesellschaft) são conceitos
distintos. A esfera da comunidade englobaria
tudo que é orgânico, real e instintivo, ao
contrário da esfera da sociedade que, por
vez, reuniria tudo o que é ideal, artificial e
mecânico. A comunidade se fundamentaria
num querer profundo, inerente ao ser
(Wesenville), de maneira que as relações nela
estabelecidas são íntimas e primárias. Seu
controle se fundamentaria nos folkways e
mores”.
A sociedade por sua vez, resultaria de uma
criação individual, de um produto da
inteligência racional, desenvolvendo-se
graças à vontade de escolha. Ela seria
compreendida “como uma pura justaposição
de indivíduos independentes;
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 256
Para Tonniës a comunidade foi sendo
historicamente substituída pela sociedade,
desse modo, as relações desenvolvidas pelos
homens entre si assumiram a forma de uma
relação entre artigos de consumo, baseada
em interesses individuais e marcada pela
competição. Em suas palavras, o “querer
orgânico” foi dando lugar a “vontade
refletida”, ou como diria posteriormente
Durkheim, foi havendo uma passagem da
“solidariedade mecânica” para uma
“solidariedade orgânica”;
Max Weber, ao pensar a comunidade como
uma relação social construída sobre
fundamentos afetivos, emotivos e
tradicionais, enquanto que a sociedade,
embora também sendo um tipo de relação
social, estaria pautada na compensação de
interesses por motivos racionais, numa
espécie de acordo estabelecido entre seus
integrantes por meio de manifestações
recíprocas;
Louis Wirth (1973) preferem entendê-las
(sociedade e comunidade) como aspectos
complementares de toda forma de vida em
grupo, mesmo concordando que a sociedade,
em relação à comunidade, encerraria uma
população bem maior com uma organização
mais complexa;
A comunicação para Wirth é valorizada como
uma forma de oficializar o que a comunidade
tem em comum, criando um consenso básico
para existência da comunidade e da
sociedade; Do mesmo modo Pierson (1977)
enxerga comunidade e sociedade como “dois
aspectos da associação humana indissoluvelmen
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 257
te ligados entre si e raramente, ou nunca,
existem separados”;
São inúmeras as contribuições que um
projeto de Educação Ambiental bem
concebido e aplicado pode promover, junto à
comunidade ou à sociedade, no que concerne
ao processo de tomada de consciência, não só
de suas condições locais, mas também dos
mecanismos que estimulam e perpetuam o
subdesenvolvimento, procurando apoiar e
instrumentalizar seus membros na busca de
possíveis soluções a partir da própria
realidade sócio-ambiental onde estão
inseridos;
Cada comunidade compreende uma realidade
única, possuindo significados diferentes e
vivências ímpares. É na comunidade que as
pessoas se organizam e agem em função de
seus interesses e ideais, buscando algum tipo
de melhoria nas condições de vida a que são
obrigadas a se submeter. Comunidade é o
lugar onde as pessoas vivem, ganham seu
sustento, formam suas famílias, adquirem
conhecimento e produzem cultura, aí esta sua
riqueza;
Considerar uma comunidade real, implica
enxergá-la como um lugar onde se
desenvolvem uma série de processos,
promovendo contínuas tensões
acompanhadas de constantes desequilíbrios;
A dinâmica comunitária vai se referir a toda
classe de processos ativos e naturais na vida
comunitária, tanto aqueles relacionados com
fenômenos construtivos e mantenedores da co
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 258
munidade, quanto os que se referem aos
fenômenos desagregatórios da mesma;
Pierson (1977), ao estudar a temática da
interação social, lista uma série desses
fenômenos: a socialização pela qual o recém-
nato vai se incorporando ao grupo; a
comunicação cuja função é a manutenção da
unidade e integridade do grupo social, a
acomodação produzindo novas formas de
interação, ajustamento e organização
comunitária, abrindo caminho para a
assimilação e a assimilação que apazigua
integralmente o conflito seja ele pessoal ou
grupal, na medida em que sugere mudanças
de ordem psíquica no indivíduo levando-o a
de adquirir vivências, objetivos e sentimentos
próprios do grupo, de outras culturas ou
mesmo da própria situação conflitante;
A competição considerada como um processo
inconsciente e um princípio regulador que
produz a ordem no reino dos seres vivos e
tem como objetivo final a sobrevivência da
espécie, ela seria a forma de interação mais
elementar e fundamental existente e o
conflito que é tido como um processo
consciente e pessoal caracterizado através da
luta pelo status, ou seja, a luta por uma
posição que o indivíduo ou grupo acredite
corresponder ao seu papel. Ele pode ser
basicamente resumido na tomada de
consciência da competição acompanhada de
uma tensão que vai aumentando
gradativamente de tal modo que sua
resolução possibilite um tipo de descarga;
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 259
A natureza territorial possui uma influência
decisiva na estrutura social local e nos modos
de viver de uma comunidade. As condições
geográficas, aliada aos recursos e ao clima da
região suscitam problemas, impõem limites e
criam oportunidades (chinoy, 1979); estar
social.
Dentre os processos ecológicos que
promovem o equilíbrio biótico através da
formação, reestruturação ou até mesmo o
desaparecimento de agrupamentos sociais em
geral destacam-se: a concentração -
tendência de um número crescente de
pessoas para se fixarem numa determinada
área ou região, constituindo-se num dos
fatores básicos para a constituição de
comunidades urbanas; centralização,
especialização, dominância ou dominação,
migração, dispersão - caracterizado pelo
inverso do processo de concentração-,
segregação, invasão, resistência, mobilidade,
densidade social e sucessão;
A segregação pode ser motivada por
diferentes fatores, como os espaciais, no caso
das barreiras naturais como montanhas,
florestas, desertos que também promovem o
isolamento social, embora hoje cada vez mais
superado pelo desenvolvimento de novas
tecnologias, especialmente as de cunho
comunicacional, vencendo as barreiras naturais
e chegando a todas as partes do globo. Por
fatores biológicos (diferenças de cor,
doenças, características físicas), fisiológicos
(deficiência de sentidos: surdez, gagueira), e
até psicológicos no caso da formação de
grupos de indivíduos introvertidos ou
neuróticos;
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 260
Na maior parte das vezes, a segregação não
se dá de forma completa, ou seja, ela é
limitada, existindo sempre uma mistura de
populações distintas principalmente ao redor
da área dita isolada. Além disso ela pode ser
voluntária, quando os nativos da região
concordam com a invasão e a ela não criam
nenhum tipo de reação, ou involuntária,
quando esta ocorre através da força, seja por
fatores culturais, legais ou ainda econômicos,
já que não se vive aonde se deseja, mas
aonde o custo de vida permite;
A invasão refere-se ao processo grupal de
ocupação não controlado de uma área
segregada, por uma população diferente da
que a ocupava, bem como, as mudanças
resultantes dessa ocupação quanto ao tipo de
população e do terreno em si;
A mobilidade, segundo Park (1970), diz
respeito ao movimento de indivíduos ou
grupos de uma posição social para outra,
acompanhada da circulação de valores e
traços culturais do seu grupo de origem;
Compreende-se por densidade social, a
quantidade de relações estabelecidas no
espaço habitado (Maciel, 1993), podendo ser
considerada um indicador do grau de interação
social em uma determinada área geográfica.
Pode ser favorecida em uma comunidade
através dos meios de comunicação em geral,
pontos de encontro, locais de recreação,
instituições educativas, centros comunitários
e outros;
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 261
O processo de sucessão por fim, compreende
a seqüência ordenada de fatos, ou melhor, a
trajetória histórica das mudanças ocorridas na
comunidade no decorrer do seu processo de
desenvolvimento em direção a um equilíbrio
mais estável;
. Kurt Lewin (1935), foi um dos primeiros a
afirmar que o comportamento humano evolui
em função da interação com o meio
ambiente, expressando seu pensamento
através da fórmula C = f (P. ME), donde C
representa o comportamento, P a pessoa e
ME o meio;
Existem seis aspectos comunitários
fundamentais a se considerar e que entendo
como fundamentais para compreender os
processos de interação entre a comunidade
humana e o meio ambiente: 1) os aspectos
físicos da área,; 2) os aspectos históricos da
comunidade; 3) os aspectos econômicos; 4)
os aspectos políticos; 5) os aspectos
culturais, 6) os aspectos sociais, que
envolvem os serviços sociais básicos como
educação, saúde, transporte, segurança e
comunicação. Todos esses aspectos
pertinentes à realidade comunitária estão
intimamente ligados entre si e com o meio
ambiente onde se apresentam e se
constituem;
As chamadas de comunidades sustentáveis.
que encerram uma modalidade de
funcionamento comunitário, onde homem e
meio procuram uma relação mais equilibrada
em prol de melhores condições de vida e
bem-estar para comunidade.
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 262
É precisamente na busca de uma
sustentabilidade comunitária ampla e
irrestrita, que se concentra, ou pelo menos
deveria se concentrar, os esforços do trabalho
de Educação Ambiental efetivado em
comunidades;
“A educação é uma função essencial e
permanente da vida em comunidade” (krieck
(1926) apud mantovani, 1952: 31). Segundo
krieck, ela nasceria precisamente do
continuum de relações que os homens
desenvolvem entre si, ou melhor, dos fluxos e
intercâmbios recíprocos do indivíduo para
com a comunidade e vice-versa;
Cabe ao educador (agente), antes de mais
nada, tentar perceber, entender e
principalmente aprender, como se dá os
processos de desenvolvimento de uma
comunidade, antes de qualquer tentativa ou
pretensão de aplicar determinado programa
de ensino;
Como aponta Meyer (1991), a Educação
Ambiental não é a “solução mágica para todos
os problemas ambientais” (Meyer, 1991: 41),
assim como também não é solução para
todos os problemas relativos ao
desenvolvimento. No entanto, enquanto um
processo contínuo de aprendizagem, ela
contribui pouco a pouco para a ampliação da
consciência dos membros da comunidade,
sobre os potenciais e os limites que esta
apresenta;
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 263
”Ao enxergar o homem como uma série de
relações ativas, isto é um processo; Gramsci
percebe o indivíduo sempre em relação com
outros homens e com a natureza, sendo estas
relações, estabelecidas organicamente de
forma ativa (através do trabalho, da técnica e
do diálogo) dependendo do grau de
consciência que delas tem o homem em
interação; daí o papel fundamental da
conscientização da realidade para que
possamos vivenciá-la de uma forma mais
intensa e produtiva;
A manutenção de um Desenvolvimento
Comunitário sustentável requer em última
instância a coexistências de dois fatores
chave: a conservação do nível de auto-
sustentação e de diferenciação conquistado
pela comunidade, e o desenvolvimento
irrestrito de suas possibilidades. Ambos,
fatores que são contemplados na Educação
Ambiental;
A Educação Ambiental pode estimular a
comunidade a trabalhar conjuntamente, na
busca de soluções práticas a partir da próprio
ambiente onde vivem. O desafio, é
justamente a luta para conseguir viabilizar a
chamada mobilização comunitária, já que
esta, implica necessariamente num estado de
constante interação;
Entendido como “meio e contexto da vida
individual e comunitária” (Valverde, 1996:
99), o meio ambiente deve ser pensado de
forma heterogênea, sendo percebido
diferentes formas para categorias sociais,
comunidades e grupos diversos. Não se pode i
Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 264
gnorar que cada comunidade é única,
percebendo e atuando sobre o mesmo de
uma forma particular, de acordo com a
tradição político-sócio-cultural que varia de
comunidade para comunidade.
O Papel Ético do
Educador Ambiental
Vilson Sérgio de Carvalho
AU
LA
7
Ap
res
en
taç
ão
Analisaremos aqui algumas considerações éticas presentes no
campo da Educação Ambiental tanto de ordem teórica como
prática. Para isso conversaremos primeiro sobre os conceitos de
ética e moral relacionando estes com a temática ambiental, uma
vez que a crise ecológica está profundamente enraizada em uma
crise ética. Posteriormente, enfocaremos duas dimensões éticas
associadas à área de Educação Ambiental: A Ética “da” EA
associada aos princípios defendidos pela EA através de seus
principais tratados, acordos e definições a partir de sua legislação;
e a Ética “na” EA relacionada à práxis dos diferentes profissionais
promotores da EA, em seus diferentes âmbitos, que muitas vezes
se guiam por uma ética que se conflitua com a ética “da” EA
anteriormente citada. Por fim, questionaremos a necessidade de
um código de ética da EA e seus reflexos no dia-a-dia do educador
ambiental.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Aprender mais sobre alguns conceitos-chave como ética e
moral e sua importância na análise do existir humano; Entender a atual crise socioambiental como uma crise
essencialmente ética;
Compreender as implicações éticas envolvidas no pensar e no
fazer da Educação Ambiental através da análise das éticas “da”
e “na” EA; Analisar alguns dos principais reflexos dos conflitos entre as
éticas “da” e “na” EA; Tecer considerações sobre a elaboração de um código de ética
da educação ambiental e suas implicações.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 266
Para ser educador ambiental, é preciso...
O que é preciso para ser ou atuar como um
educador ambiental? De todas as respostas possíveis a
esta questão como um conhecimento aprofundado da
realidade socioambiental onde pretende atuar ou uma
boa facilidade de relacionamento – nenhuma é tão
importante e imprescindível como uma postura ética
adequada a sua realidade. Infelizmente, essa não é
uma das características mais citadas nas listas para
definir o perfil dos educadores ambientais. No entanto,
não resta dúvida que se trata de sua característica mais
essencial e imprescindível. O motivo dessa ausência
talvez esteja na obviedade relacional que esta encerra,
já que, a priori, nas parece absurdo pensar a atuação
de um educador ambiental - que trabalha em prol da
formação de uma consciência ecológica - desligada de
uma atuação ética dirigida a questões ambientais,
agindo como se a mesma inexistisse.
Entretanto, faz-se necessário problematizar essa
obviedade e se perguntar: Até que ponto os
profissionais de Educação Ambiental, estão ou não
agindo eticamente em sua maneira de fazer, ministrar,
aplicar, enfim de trabalhar com Educação Ambiental em
seus locus de atuação; isto é, se perguntar até que
ponto nós educadores estamos ou não agindo
eticamente na Educação Ambiental que temos
proporcionado ao público-alvo (comunidades,
educandos, associações e etc.) com o qual temos
trabalhado? Nesse contexto, caberiam outras reflexões,
como a de que se existiria de fato, e não apenas de
direito, uma ética relativa à Educação Ambiental? Estas
e outras questões constituirão o foco desta aula.
Para tal esta aula se propõe a entender a
relação entre Ética e Educação Ambiental em dois
âmbitos distintos, porem intimamente
Dica do professor
Fique de Olho: O autor irá trabalhar a relação entre Ética e Educação Ambiental a partir de duas dimensões a Ética “na” Educação
Ambiental relativa aos valores, crenças e atitudes dos educadores ambientais e a Ética “da” Educação Ambiental relacionada a ética que a Educação Ambiental enquanto discurso ou legislação pretende instaurar no planeta.
Para ser educador ambiental, é preciso... 266 Porque a Crise Ambiental é uma Crise Ética 267 Ética e moral: semelhanças e diferenças 270 A ética “da” educação ambiental 271 A ética “na” educação ambiental 277
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 267
interrelacionados: A Ética da Educação Ambiental,
referindo-me a constituição da nova ética ecológica que
a Educação Ambiental se propõe a instaurar; e a Ética
na Educação Ambiental, que por sua vez, diz respeito a
ética, ou mais especificamente, ao conjunto de valores
sobre o qual esta se sustenta, relacionada a práxis do
Educador Ambiental que atua em seus diferentes
âmbitos – formal, não-formal e informal. A análise
destes âmbitos (referindo-me a ética enquanto fim e a
ética enquanto meio) - construída a partir de
interrogações, e a tentativa de respondê-las através de
algumas reflexões e contribuições teóricas - constitui o
fio condutor dessa aula.
Porque a Crise Ambiental é uma Crise
Ética
Em um de seus últimos livros - A Mudança de
Sentido e o Sentido da Mudança (2000), Pierre Weil
define ética como sendo o "conjunto de valores que
levam o homem a se comportar de modo construtivo e
harmonioso, pois são os valores que determinam as
opiniões, atitudes e comportamentos das pessoas"
(Weil, 2000:133). Nesse sentido, não é exagero afirmar
que a ética exerce uma profunda influência na
qualidade de vida, no desenvolvimento sócio-cultural,
assim como nas relações que a humanidade desenvolve
com a natureza da qual faz parte.
Uma das mais duras constatações percebidas
por cientistas e pesquisadores no final do século XX
refere-se ao distanciamento existente entre os avanços
conquistados no plano da ciência e da técnica, e o
desejável avanço no terreno da ética, que não chegou a
ocorrer na mesma proporção, intensidade e velocidade.
Esse abismo na verdade, é um velho conhecido da
grande maioria dos estudiosos que se debruçaram
sobre a temática da ética e da moral no meio tecno-
Você sabia?
Esse tem sido um dos maiores desafios contemporâneos: Favorecer a que as proporções entre o desenvolvimento ético e o desenvolvimento tecnológico possam um dia se equilibrar.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 268
científico, uma vez que se trata de uma realidade que
tem sua origem já há algumas centenas de anos, tendo
seu ápice na lógica cartesiana e no utilitarismo
baconiano. A maior parte das questões recentes de
ordem ética com as quais temos nos defrontado - que
incluem desde os problemas relativos à bioética
(clonagem, transplante e venda de órgãos, produção de
organismos geneticamente modificados) até os testes
de bombas atômicas na China, Índia e Paquistão - tem
raízes nesses preceitos onde o homem foi e continua
sendo iludido para se enxergar como “medida de todas
as coisas”.
Há praticamente 50 anos atrás, em sua obra
“The New Regional Pattern”, o arquiteto alemão
Hilberseiner defendia, de forma quase previsionária,
que “o futuro parece freqüentemente depender de
soluções técnicas e econômicas, mas os problemas que
temos de resolver são essencialmente éticos. As
técnicas e economias mudam sempre, e muitos
problemas sociais mudam com eles. Não os problemas
éticos, estes permaneceriam os mesmos” (Hilberseiner,
1949: 87). Cinco décadas depois, o raciocínio de
Hilberseiner continua sendo válido, pois, mesmo no
limiar de um novo milênio, é verdade que enquanto as
ciências da técnica e da economia são continuamente
atualizadas e reformuladas para responder novas
exigências sociais; as questões éticas fundamentais
relativas ao bem-estar social e própria qualidade da
vida humana permanecem inalteradas e sem respostas
satisfatórias. A máquina poderia servir como exemplo
clássico para ilustrar essa realidade. Cada vez mais
sofisticada, rápida, digital, compacta e eficiente, ela foi
sendo progressivamente mais aperfeiçoada - do ponto
de vista científico - para cumprir sua função que, direta
ou indiretamente, se voltava para a obtenção de lucro,
através da aceleração da produção; otimização de
serviços rentáveis ou mesmo de sua própria
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 269
comercialização. Perguntas como A quem a máquina
serve? Quem tem acesso à mesma? Quem pode
usufruir de seus benefícios? Ou, ainda, quem tem
responsabilidade pelos possíveis malefícios que possa
vir a causar? se tornaram na verdade, um conjunto de
questões secundárias e, como tais, desmerecedoras de
maior importância em nome de uma entidade
misteriosa qualificada de progresso.
Numa busca desenfreada pela acumulação de
riquezas, representada através dos ícones do lucro e da
mais-valia, a dimensão social do desenvolvimento
técnico-científico foi durante anos e anos secundarizada
e descartada, só vindo a ser recuperada, muito
recentemente, na segunda metade de nosso século,
pela pressão de grupos internacionais; de uma minoria
de cientistas e pesquisadores conscientes; e da própria
população civil organizada (onde as ONGs vão assumir
um papel fundamental); que começaram a pressionar a
própria razão científica quando em nome desta era
permitido explorar, oprimir e destruir. A apropriação e
uso dos recursos ambientais não escaparam a essa
lógica mercadológica, consumista e destrutiva, onde
possuir e dominar sempre foram palavras de ordem,
marcando de forma profunda as relações entre homem
e meio ambiente através da história. Como aponta Boff
(1996), explicitando o engodo, o sonho do crescimento
ilimitado produziu o subdesenvolvimento de 2/3 da
humanidade, a exaustão dos sistemas vitais e a
desintegração progressiva do equilíbrio ambiental (Boff,
1996: 25).
Por isso, não temo afirmar, de forma convicta,
que a crise socioambiental, reflexo da própria crise
civilizatória com a qual nos deparamos, foi antecipada,
sem dúvida alguma, por uma grave crise de ética. A
ausência de uma postura ética técnico-científica que
pudesse ordenar as ações do homem sobre a natureza,
Dica do professor
Denúncia: O sonho do crescimento ilimitado teve como um de seus resultados mais concretos a destruição ambiental em larga escala. Pesquise mais sobre as diferenças entre progresso e desenvolvimento.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 270
baseada no respeito mútuo entre esses dois elementos
- no reconhecimento tanto da dignidade humana
quanto do valor da natureza - ajuda-nos a
compreender melhor como o caos supracitado pode
alcançar níveis de tal ordem prejudiciais à própria
continuidade da vida no planeta. Não é por acaso que a
origem da palavra ética, advinda da raiz grega ethos
(costume), é a mesma, refere-se ao local onde o
homem vive, mora ou passa grande parte de seu
tempo.
Ética e moral: semelhanças e diferenças
Existe uma discussão, que acho conveniente
explicitar, referente às diferenças entre os conceitos de
ética e moral. Embora tradicionalmente utilizados como
termos sinônimos, muitas vezes até de forma aleatória,
ética e moral possuem nítidas distinções. Enquanto a
moral é concreta e diz respeito ao nível individual,
prático e prescritivo; a ética é mais social, teórica e
virtual, se constituindo como um campo de análise
filosófica voltada para o estudo dos fundamentos e
validação de comportamentos socialmente reconhecidos
e estimulados (Krüger,1998). Nesse sentido, a moral se
referiria ao conjunto de prescrições admitidas numa
época e sociedade determinada, e o esforço devido
para se conformar a estas prescrições e segui-las; ao
passo que a ética seria a doutrina dos costumes, tendo
como objeto de estudo a qualificação de condutas em
termos do que é bom ou mau (Lalande, 1996; Mora,
1998; Abbagnano, 1998).
Muitos autores concordam com esta
diferenciação, definindo moral como “um conjunto de
prescrições destinadas a assegurar uma vida em
comum de forma harmoniosa”, e ética como “a
avaliação normativa das ações e do caráter de
indivíduos e grupos” (Japiassu & Marcondes, 1996: 93).
Importante
Não se trata, aqui, de criticar a tecnologia ou mesmo a ciência como bodes expiatórios da crise civilizatória, mas sim de destacar como estas têm sido utilizadas a serviço
de um desenvolvimento exclusivamente econômico, onde o lucro é sempre a prioridade-mor.
Dica do professor
Confusão conceitual: Basta tomarmos como exemplo as questões de justiça e moralidade para entender o quanto a prática usual desses conceitos é indiferenciada e de difícil precisão quanto ao uso acertado de uma ou outra. De qualquer forma, é interessante saber que a Filosofia tem uma reflexão diversa para cada uma delas.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 271
Todavia, mesmo aceitando com reservas essa distinção
no plano teórico, é necessário entender que, na prática,
as questões concernentes à moral e à ética estão
inteiramente imbricadas, sendo, portanto, difícil
precisar uma separação mais rígida entre os dois
conceitos. A moral fornece o conteúdo a ser avaliado
pela ética que, por sua vez, a alimenta estabelecendo,
através de seu julgamento, que tipo de ação ou
pensamento seria moral ou amoral. Reforçando essa
mesclagem conceitual, Kremer-Marketti (1989) nos
recorda, ainda, que, na concepção anglo-saxã, a ética
tem sido definida como a ciência da moral, e a moral,
por sua vez, como uma espécie de ética-normativa
(Kremer-Marketti, A., 1989: 7-8).
Pretendendo não me estender nessa discussão,
faço uma opção consciente pelo uso do termo ética, até
porque, mais do que se voltar para problemas de
normatização, ou mesmo um conjunto de prescrições
morais juridicamente firmadas, as questões que aqui
pretendo enfocar e desenvolver sobre Educação
Ambiental referem-se mais propriamente à temática
dos valores, tanto dos que esta se propõe a disseminar
e enraizar (ética da Educação Ambiental) quanto dos
valores fundamentais que os agentes de Educação
Ambiental (ética na Educação Ambiental) devem
considerar em seu cotidiano de trabalho. Isso não
significa que, em dado momento, o texto não venha a
tecer comentários sobre algumas prescrições mais
estimuladas na prática da Educação Ambiental e/ou que
possam servir para a constituição da chamada ética
ecológica.
A ética “da” educação ambiental
Desde que a Educação Ambiental começa a
despontar no cenário mundial, já nas primeiras
conferências de que temos registro, como a
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 272
Conferência de Estocolmo (1972) - onde ela é elevada
ao estatus de “assunto oficial” por possuir uma
“importância estratégica” - e a Conferência de Tbilisi
(1977) - onde fora destacado como um de seus
objetivos principais a criação de “uma consciência de
interdependência econômica, política e ecológica do
mundo moderno, com a finalidade de acentuar o
espírito de responsabilidade e de solidariedade entre as
nações” (Assis, 1991: 62); a dimensão ética da
Educação Ambiental sempre esteve presente tanto no
âmbito formal (institucional), quanto no âmbito não-
formal (sociocomunitário) (Carvalho, 2002). Neste
item, procuro compreender que tipo de ética é
estimulada e sugerida pela Educação Ambiental, e em
que princípios ela se baseia.
Em diferentes trabalhos que escrevi, tive a
oportunidade de esclarecer que entendo a Educação
Ambiental como “um processo crítico-transformador
capaz de promover no indivíduo um questionamento
mais profundo sobre a realidade ambiental onde este se
encontra inserido, levando-o a assumir uma nova
mentalidade ecológica, pautada no respeito mútuo para
com o meio ambiente e os que nele convivem”
(Carvalho, 2002: 4-5). Esse questionamento mais
profundo diria respeito ao nível mais básico do que
denominei como a Ética “da” Educação Ambiental.
Inspirado em Edgard Morin (1997), podemos chamar
esse nível primário da ética da Educação Ambiental de
uma “auto-ética” que se fundamenta na própria
consciência moral de cada indivíduo.
Note que, a partir da definição de Educação
Ambiental adotada, tudo começa a partir de um
questionamento interior, que, por conseguinte, é
dirigido aos nossos valores e critérios pessoais de agir
no mundo que nos cerca. É fundamental que essa
moral íntima e pessoal do público-alvo, a quem a
Importante
A chamada “auto-ética” que se fundamenta na própria consciência moral do indivíduo
seria o nível primário e essencial da ética. Na Educação Ambiental, este nível seria despertado em relação a uma postura eticamente correta com relação ao ecossistema vital.
Dica do professor
Para recordar A Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental (Conferência de Tbilisi) foi realizada em Tbilisi, capital da Georgia,CEI (Ex-URSS), de l4 a 26 de outubro de l977, organizada pela UNESCO, em cooperação com o PNUMA e constituiu-se num marco histórico para a evolução da EA. Nessa conferência, foram definidos os conceitos da EA, seus objetivos, princípios orientadores e estratégias para o seu desenvolvimento.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 273
Educação ambiental se dirige, venha a ser calcada em
valores ecologicamente prudentes de se viver no meio
ambiente. É a partir do conjunto de interrogantes,
suscitado pelo processo de Educação Ambiental, que o
homem vai se questionar sobre sua atuação e papel no
habitat onde se insere, percebendo que é possível
aproveitar todos os benefícios que este tem a nos
oferecer, sem necessariamente destruí-lo. Fornecer e
provocar estas interrogações deve fazer parte das
estratégias de qualquer programa de Educação
Ambiental que pretenda alguma eficácia, servindo
inclusive como um analisador de seu sucesso ou
fracasso.
Parar e refletir sobre sua maneira de interagir
com o meio ambiente que a cerca é o primeiro passo
para o desenvolvimento de uma “auto-ética ecológica”.
Platão utiliza um termo interessante, que ora me
aproprio para entender melhor esta idéia: o de “auto-
reforma”. Ou seja, uma reforma interior promovida
pelo próprio indivíduo a partir do grau de
conscientização sobre a realidade a sua volta e o
desenvolvimento de valores ambientais essenciais,
como o direito a vida, o reconhecimento da relação
dependência/interdependência para com o meio
ambiente e o respeito concretizado na conservação e
utilização racional de seus recursos para as gerações
futuras. Sem o desenvolvimento dessa auto-ética
ecológica e a partir desta, sem uma reflexão moral
sobre sua conduta, promovendo a instauração de um
processo de auto-reforma, é praticamente impossível
que exista qualquer tipo de comprometimento mais
profundo com a questão socioambiental. O “fazer pelo
fazer” em vez do “fazer consciente” não tem
sustentação e acaba esmorecendo diante das primeiras
dificuldades. É preciso trabalhar os valores do
educando, dar-lhe motivos e, posteriormente, oferecer
condições para que este entenda seu papel diante da
Dica do professor
Resumindo: Questionamento interior (mudança de valores). Reflexo exterior (mudança de comportamento).
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 274
grave situação ambiental ao seu redor e possa, então,
optar pela defesa de sua causa, assumindo de forma
consciente as responsabilidades decorrentes desta
escolha.
O objetivo central da ética que a Educação
Ambiental pretende disseminar é o de devolver ao
homem sua condição de membro da vida, participante
ativo da teia de inter-relações do ecossistema do qual
faz parte. Ela é a base para a promoção de um novo
contrato natural, a que Michel Serres (1991) faz
referência, onde o homem deve abandonar a relação de
parasitismo para com a natureza e passar a encará-la
como algo mais do que mero pano de fundo, para
desenvolvimento de sua espécie. É ainda essa ética da
Educação Ambiental a responsável por oferecer a
sustentação necessária para que o homem perceba,
como aponta Morin (1998), a íntima interligação de
todo organismo a um ecossistema qualquer, numa
relação básica e fundamental de
dependência/interdependência. Bressan (1980), se
utilizando de um modelo complexo, descreve essa
relação a partir de um processo simultâneo de
“humanização da natureza” e “naturalização do
homem”, tendo em vista que, de forma recíproca, “a
natureza sofre as leis do desenvolvimento e o homem
as leis naturais” (Bressan, 1980: 33).
SOBRE CONSCIENTIZAÇÃO
O termo “conscientização” muito utilizado no
discurso educacional é criticado por diversos
autores, inclusive por Paulo Freire que entende que
ninguém conscientiza ninguém. O que ocorre é uma
passagem da consciência ingênua – que não
significa consciência zero – para uma consciência
crítica. Assim, vale esclarecer que o termo é aqui
utilizado no sentido de uma tomada de consciência
da realidade e/ou do universo que nos rodeia,
possibilitando ao homem se descobrir melhor a si
mesmo e aos outros com quem interage (Barros,
1971, pp. 44-45).
Para pensar
O convite de Serres Em sua conhecida obra “O Contrato Natural”, Serres faz um convite ao ser humano de que abandone uma relação negativa para com a natureza e passe a adotar uma postura mais equilibrada onde a
mudança se faz de parasita a parte integrante. Como você vê esse convite e como entende que a educação ambiental facilitaria uma resposta positiva da população a este.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 275
O fato de o homem não ser passivo - como
grande parte dos animais irracionais - diante da ação
que a natureza exerce sobre ele, agindo,
transformando, adaptando o meio em que vive, não
significa que este tenha necessariamente que assumir
uma postura de dominador ou de plena independência
para com o mesmo. Seja num nível mais micro como o
metabólico, seja num nível mais macro, como o
planetário, o homem depende diretamente do meio em
que vive; bastando imaginar que, se não fosse a
presença de elementos naturais como a hidrosfera, que
resfria o planeta, e a litosfera que filtra os raios solares,
a vida seria inimaginável. O reconhecimento desta
realidade, a partir da formação de uma consciência
ambiental mais ampla, implica a adoção de uma nova
lógica de conduta para com a natureza, que só assume
um significado mais amplo, se fundamenta numa ética
ambiental com profundos reflexos no cotidiano da
sociedade em geral, criando assim uma possibilidade de
se inserir no arcabouço cultural da mesma. Estimulada
e sugerida pela Educação Ambiental, a instauração de
uma ética ecológica vem questionar ainda dois
absurdos: o primeiro, de se pensar uma ética apenas
para o homem; e o segundo, de se pensar uma ética
para o homem e outra para a natureza de maneira
diferenciada. O que se pretende, além de denunciar
esses absurdos, é a implantação de uma “ética
integradora entre todos os seres viventes e suas
relações bioecológicas” (Siqueira, 1991: 17). Ou seja,
uma ética essencialmente da vida em sua plenitude,
enterrando definitivamente o mito da independência
plena e/ou da “autonomia da razão”, amargas heranças
do cartesianismo.
Como analisa Grün (1994), é justamente no
encontro do homo sapiens, agente moral, dotado de
direitos, com a natureza, amoral e sem direitos, que
surge o espaço da ética ecológica. Esta se volta para
Quer saber mais?
É interessante consultar o texto de Grün, M. (1994) – Uma discussão sobre valores éticos em Educaçào Ambiental, para um maior aprofundamento dessa discussão. Leia e faça um resumo, o que poderá ser útil no desenvolvimento de sua monografia.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 276
uma questão elementar, a de que, mesmo sem direitos
legalmente adquiridos, a natureza é dotada de valor, o
que requer que as relações com ela estabelecidas
estejam pautadas em pressupostos éticos de
responsabilidade. O valor a que me refiro não é apenas
o valor financeiro, como quer fazer crer o materialismo
dialético e o capitalismo selvagem, mas sim, seu valor
essencial, enquanto fator básico para o
desenvolvimento do ciclo vital, do qual dependem
milhares de espécies de seres vivos, entre os quais o
homem é apenas um deles (Carvalho, 2002). Com
muita propriedade, Siqueira (1998) vai direto ao ponto
fundamental desta discussão: A percepção de que “a
interdependência do homem e da natureza exige uma
ética que não sobreponha o racional ao irracional, mas
uma igualdade naquilo que é essencial para ambos: a
sobrevivência” (Siqueira, 1991:17).
Entendida como um fator-chave para a própria
sobrevivência dos seres vivos, tendo como razão
axiológica os valores intrínsecos do homem e do meio
ambiente, a proposição dessa ética - denominada aqui
de ética da ecologia - visa superar a permissiva moral
socioambiental vigente (utilizada para justificar erros
crassos de gestão ambiental), em direção a uma ética
verdadeiramente libertadora e comprometida com o
direito à vida, cada vez mais fragilizado no contexto
atual. É precisamente esta ética que entendo como
passível de ser reforçada e alimentada, a partir de um
sério, amplo e honesto trabalho de Educação
Ambiental, onde seja possível fornecer a cada cidadão
uma espécie de “bússola moral” dirigida a todo e
qualquer modo de interagir do homem com o meio
ambiente, revelando-lhe senão o rumo ideal a seguir,
pelo menos o mais apropriado.
Dica do professor
Como a natureza não tem voz ela fala através do homem, dotado de direitos.
Nesse espaço entre o sujeito moral, e a natureza amoral, surge a ética ecológica.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 277
A ética “na” educação ambiental
Com E. Kant, aprendemos que uma decisão
ética só pode ser resultado de um ato racional, fruto da
evolução humana, pois supõe um discernimento sobre
o bem e mal. Apoiado nesta linha de pensamento
kantiana, é possível apontar a ausência de ética como
prova de irracionalidade (Lalande, 1996: 348-349).
Kant vai afirmar, ainda, e esse é ponto de partida que
gostaria de sublinhar, antes de tratar da ética relativa
ao modus-operandi dos que trabalham com Educação
Ambiental, que o núcleo da ética é descoberto pela
investigação da razão prática, assim distinta da razão
que ele qualifica como pura e teórica. Esse caráter
prático da razão se manifestaria, segundo Kant, na
própria possibilidade de ordenar o mundo dos
fenômenos, através do pensamento, facultando ao
homem decidir sobre o que fazer eticamente, de modo
que coincida com ação livre e não venha a
impossibilitá-la.
Seguindo esse percurso kantiano, e
considerando as idéias anteriormente expostas, é
possível perceber que, enquanto um processo
educativo, o grande desafio da Educação Ambiental,
sem dúvida alguma, é aquele que se passa eticamente,
tanto da ética que ela pretende instaurar, como
elemento catalisador de uma nova lógica de
relacionamento entre o homem e a natureza, quanto do
conjunto de valores dos profissionais que, embora
atuando nessa área, muitas vezes se isolam, evitando
interagir com outras entidades de propósitos
semelhantes; não se desvencilham de viéses político-
partidários mais voltados para a efetivação de
campanhas eleitoreiras do que para a realização de um
trabalho profícuo de Educação Ambiental; ou mesmo
dos que buscam apenas um espaço na imprensa para
autopromoção.
Dica do professor
Aprender com os erros: Mesmo com todo planejamento é evidente que existirão falhas durante a execução dos processos relativos a práxis da educação ambiental. Contudo se a prática da avaliação fosse mais freqüente poderíamos humildemente aprender mais com os erros e futuramente acertar
mais em projetos futuros.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 278
Deve-se levar, também, em consideração que,
independente da prática de trabalho em Educação
Ambiental - tanto o nível micro como dentro de um
internato, através de oficinas de trabalho (Pedrini, A.,
1998); como a nível macro junto a diferentes
comunidades de sete bairros do Rio de Janeiro, vide
Subprojeto de Mobilização Social/Participação
Comunitária do Programa de Educação Ambiental do
PDBG - as pretensões implícitas e explícitas da maior
parte dos objetivos a serem alcançados são sempre de
caráter ético. Isso ocorre, simplesmente, porque o
processo de Educação Ambiental encontra-se a serviço
de uma ética integradora, sendo, portanto, inadmissível
que os meios a serem utilizados para sua aplicação
também não fossem escolhidos e administrados
segundo critérios éticos. A dimensão ética da Educação
Ambiental está presente em qualquer projeto de
atuação na área, desde a sua elaboração inicial, onde
se faz necessário ouvir as demandas da população onde
ela será ministrada e permitir que esta participe do seu
processo de elaboração e adaptação; até o
acompanhamento final dos resultados do trabalho,
onde é preciso aprender com erros, em vez de ignorá-
los, para que estes não se repitam num trabalho
posterior. A questão é que poucos atentam para a
mesma, não lhe assegurando a devida importância.
Movido pelo ideal de que esta venha a ser mais
valorizada, entendo que algumas práticas
metodológicas são fundamentais e devem ser
ressaltadas na práxis do agente de Educação Ambiental
como incentivar a participação, favorecendo o exercício
de cidadania da população envolvida; promover o
diálogo e a solidariedade; manter uma postura de
aprendiz e uma transparência no que concerne ao
desenvolvimento das diferentes fases do trabalho
realizado e dos resultados obtidos com o mesmo. Essas
práticas, por sua vez, estão inevitavelmente calcadas
Dica do professor
Aprender com os erros: Mesmo com todo planejamento é evidente que existirão falhas durante a execução dos processos relativos à práxis da educação ambiental. Contudo, se a prática da avaliação fosse mais freqüente, poderíamos humildemente aprender mais com os erros e futuramente acertar mais em projetos futuros.
Dica de leitura
Vale a pena ler a obra de ENCINAS Crisitiane intitulada Possibilidades de Futuro – Educação Ambiental, Cidadania e Projetos de Transformação e ver como a autora aborda essa temática a partir do trabalho com o lixo.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 279
em valores éticos mais amplos como a igualdade, a
honra, a integridade, a justiça, a liberdade, a
fraternidade e a paz. O que denominei nesta aula de
ética na dimensão ambiental (ética dos meios) refere-
se, de modo particular, à ética dirigida aos valores e
critérios fundamentais, norteadores da práxis do
profissional de Educação Ambiental consciente de seu
papel enquanto agente de transformação de uma
realidade extremamente crítica. São esses valores os
responsáveis pela manutenção corajosa de uma
postura ética diante “dos parcos recursos, da infra-
estrutura desmontada e salários ridículos” (Pedrini,
1998: 70) com os quais o profissional da área é
obrigado a viver.
O fato de reservar especial atenção à dimensão
ética do fazer Educação Ambiental, mais dirigida a sua
prática, advém igualmente do fato de não querer
apresentá-la como uma espécie de “remédio milagroso”
solucionador de todos os problemas ambientais. Assim
como a Educação, de modo geral, pode vir a ser
utilizada como instrumento de controle, deturpação,
seleção, exclusão ou, como diria Brügger, de
“adestramento”; é preciso ter certo cuidado com a
maneira pela qual a Educação Ambiental pode ser
utilizada, a partir das intenções de quem a promove e
das ideologias sobre as quais suas práticas estariam
calcadas (Brügger, 1994), muitas vezes
descompromissadas com um exercício mais consciente
da cidadania (através do desenvolvimento do
pensamento crítico) ou com uma reflexão ética-
ambiental mais ampla e interdisciplinar (Carvalho,
2002). Além disso, deve-se ter muito claro o fato de
que a Educação Ambiental se constitui em uma das
formas de lutar contra a crise ambiental, uma
estratégia a ser utilizada contra a mesma, mas
evidentemente não é a única. Mesmo reconhecendo a
sua importância, enquanto promotora de uma nova
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 280
consciência ecológica, é inegável que desligada de uma
política ambiental mais efetiva acompanhada de uma
legislação rígida; ou de ações voltadas para uma
distribuição de renda mais igualitária, ou ainda para a
construção e manutenção de um contexto político-
cultural favorável, estaremos agindo no “vazio” e longe
de vislumbrar um futuro socioambiental menos
desolador. O trabalho com comunidades carentes tem
revelado essa complexidade, pois é extremamente
complicado se falar em ética ambiental, ou de
prioridade para as questões ambientais, quando não se
tem sequer o que se alimentar.
Para a socióloga Anna Waehneldt (1996), a
especificidade da Educação Ambiental se dá na
viabilização do conhecimento do meio ambiente em sua
totalidade - através de seus diferentes aspectos e de
suas relações de interdependência - a partir do exame
da realidade local, com base nas situações vivenciadas
no cotidiano da população. Assim, baseada no estudo
de problemas práticos do dia-a-dia, ela pretende a
adoção de “uma nova postura ética solidária” em
relação ao meio ambiente. Pela definição de Waehneldt,
fica explícito o motivo pelo qual o processo de Educação
Ambiental deve estar calcado sobre princípios éticos
que despertem a responsabilidade ambiental, pois, caso
contrário, dificilmente este poderá favorecer ao
indivíduo um exercício mais amplo de cidadania, que se
caracterize através de atitudes participativas e
ecologicamente conscientes, ou seja, atitudes
Educação ou Adestramento? A Educação Ambiental promovida sem o devido cuidado ético pode ser entendida como adestramento segundo Paula Brügger. A dimensão ética, portanto, não apenas amplia a Educação Ambiental sob esse ponto de vista, mas sim dá sentido a mesma, uma vez que diante de sua ausência ela sequer pode ser assim qualificada.
EDUCAÇÃO OU ADESTRAMENTO?
A Educação Ambiental promovida sem o devido
cuidado ético pode ser entendida como adestramento,
segundo Paula Brügger.
A dimensão ética, portanto, não apenas amplia a
Educação Ambiental sob esse ponto de vista, mas sim
dá sentido à mesma, uma vez que diante de sua
ausência ela sequer pode ser assim qualificada.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 281
adequadas à constituição de um meio ambiente
equilibrado e saudável. É preciso estar muito atento às
práticas de trabalho - estratégias de aproximação,
atuação e mobilização - que temos utilizado no campo;
refletindo, entre outras questões, se existe um
distanciamento entre o discurso ético e democrático e
uma prática anti-ética e autoritária.
É essencial que o educador ambiental procure se
questionar não uma, mas quantas vezes forem
necessárias, se realmente ele está assumindo uma
postura de aprendiz, daquele que está na comunidade
e/ou instituição em primeiro lugar para ouvir e
aprender sobre a realidade onde pretende atuar, e não
daquele que vem apenas para ensinar, pois já sabe
tudo; se realmente ele está favorecendo uma atitude
de diálogo com a população, ou simplesmente traz
soluções prontas, desconsiderando as sugestões da
comunidade em relação a um projeto já elaborado por
sua equipe; lembrando que este tipo de atitude sugere
uma comunicação de igual para igual e nunca de quem
vem de fora para dizer o que é certo ou errado, se
dizendo “o dono da verdade”. Qualquer falta nos
pontos assinalados é, no mínimo, comprometedora, se
não for fatal, para o trabalho com Educação Ambiental.
Querer ser ouvido e respeitado implica, em
primeiro lugar, ouvir e respeitar o outro. Isto parece
uma afirmação banal para alguns, mas é estranho
comprovar como práticas elementares são inteiramente
dispensadas. Surge daí a necessidade, em minha forma
de entender a questão, cada vez mais urgente, de que
sejam estabelecidas as bases para um código de ética
do educador ambiental, isto é, de um conjunto de
procedimentos básicos fundamentais para garantir a
dimensão ética do processo de Educação Ambiental na
práxis de seus agentes promotores. Manifestada, por
exemplo, no respeito fundamental aos valores culturais,
Dica de leitura
O Desafio da Ética Ambiental: Para explorar mais as
discussões dessa página é interessante a leitura da obra de GRÜN Mauro– Ética e Educação Ambiental ,publicado pela Papirus, São Paulo: 1996.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 282
sociais, morais e religiosos do locus de atuação onde o
processo de Educação Ambiental está sendo
implementado. Ou, ainda, na garantia de que a
população tenha a possibilidade de participar do
processo de Educação Ambiental em suas diferentes
fases, podendo se defender ou mesmo lutar pelos
benefícios que o projeto e/ou programa de Educação
Ambiental se propôs a gerar; além de uma série de
outras disposições relativas ao próprio trabalho de
pesquisa e implementação de políticas nessa área.
O estabelecimento desse código, que deveria ser
pensado, repensado e efetivado com a participação dos
diferentes setores envolvidos (órgãos ambientais,
associações, ONGs, universidade, conselhos e outros)
permitiria explicitar melhor o próprio cunho
interdisciplinar e político da Educação Ambiental, que
envolve, sem dúvida alguma, uma complexidade de
processos relativos à participação social,
representatividade, legitimidade e tomada de decisão;
muitos destes insinuados nas entrelinhas do artigo 225
da Constituição Federal ou na Lei 9795 referente à
Política Nacional da Educação Ambiental. Sabemos que
a Educação Ambiental tem uma história recente e que a
mesma ainda está amadurecendo, sendo pertinente
uma série de críticas em relação à mesma. Entretanto,
defendo que, enquanto não iniciarmos esse processo de
regulamentação ética - adiando esse processo -
estaremos contribuindo para que a Educação Ambiental
continue sendo desacreditada nesse país, em vez de
buscarmos aperfeiçoá-la, para a dignificação do próprio
trabalho que temos realizado.
OUTROS DESAFIOS...
Segundo Léon Olivé (1997), o grande desafio
ético desse novo século será a tentativa de conciliar
direitos grupais locais - relacionados ao grupo no qual
os indivíduos estão inseridos, como uma comunidade
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 283
ética que luta pela preservação de sua língua, por
exemplo, com direitos globais e coletivos - que dizem
respeito aos direitos do indivíduo, tendo por base seu
pertencimento a uma coletividade, como o direito de
um cidadão votar em uma autoridade de seu país
(Olivé, 1997: 2). Essa dificuldade de conciliação, em
termos de direitos culturais, tem sido motivo de
preocupação de cientistas e pesquisadores sociais,
chegando-se a aventar a hipótese de que, cada vez
mais, os conflitos internacionais sejam baseados
fundamentalmente em contradições culturais e não em
conflitos ideológicos e econômicos como se previa. De
fato, temos presenciado em diferentes partes do globo
– como a África, a Região dos Bálcãs (Albânia e
Sérvia), e mais recentemente na Índia - uma
multiplicação de conflitos étnico-culturais de graves
proporções, apoiados pela ambição política e pela
indústria armamentícia.
Como aponta Latouche (1994), em função de
um modelo avassalador de desenvolvimento que
pretendeu a substituição de toda cultura tradicional
pela industrialização, a cultura “tornou-se, no fundo,
sinônimo de atraso, de retardamento mental” (id.,
p.75). Tentativas de preservação da biodiversidade
cultural são encaradas como barreiras inúteis e
retrógradas contra a força do progresso globalizador,
imposição de novos tempos, onde globalizar é preciso,
e viver é mera conseqüência. O que era proposta se
torna então axioma símbolo de modernização. Daí
originam-se os questionamentos típicos, no caso da
América Latina, onde essa resistência cultural se faz
sentir de forma pujante, se esta atingiu ou chegará um
dia a atingir o tão almejado estágio da modernidade
(Ibañez, J., 1996). Sob essa lógica, não importam os
avanços democráticos, as inovações tecnológicas, a
redução do analfabetismo e a aceleração dos processos
de urbanização e industrialização latino-americana, mas
sim o fato de que a mesma nunca pode se globalizar
Dica do professor
Como esclarece Touraine, a distância entre uma economia globalizada e culturas isoladas acabam gerando frutos extremamente negativos que vão da destruição de culturas à violência social. Entretanto, como veremos nas páginas seguintes, existem alternativas e a Educação Ambiental tem um papel importante
nessa direção (Touraine, 1998: 202).
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 284
completamente, ou melhor, pensar unicamente de
forma global para atuar localmente, sem lhe opor a
idéia de um pensar local culturalmente enraizado.
O fato é que a temida pressão
globalizante/ocidentalizante não conseguiu atingir seu
objetivo dominador em termos culturais como se
imaginava. Sim, os latino-americanos usam jeans, os
japoneses dominam cada vez mais o sotaque inglês, e
os grandes shoppings invadiram quase todos os
recantos do planeta. Entretanto, se essas
manifestações características de um pensar globalizado
nos fazem questionar sobre onde estaria nossa
identidade cultural, a tão temida “pasteurização
cultural” não aconteceu, o pensar e o agir local ainda
possuem sua força influenciando e impondo padrões de
comportamento. O choque entre a torrente globalizante
versus as barreiras da identidade local parece resultar
numa espécie de fusão entre local e global, onde ambos
são ressignificados, tanto na figura do local globalizado
quanto do global localizado, relativizando ações
uniformizadoras.
Por trás de toda essa conjunção cultural -
movida não apenas por um pensar global imposto, mas
também simultaneamente pela resistência que a ela se
faz, se traduz através de diferentes processos de
mesclagem cultural, geradores de novas identidades
mestiças e territorializações interculturalmente
determinadas, onde as ambivalências local x global,
particular x geral, convivem num cenário multifacetado
de culturas híbridas (Canclini, 1997) - o que está em
jogo, na verdade, é a conquista de eqüidade e justiça
social, onde os desiguais não sejam igualados, mas que
as diferenças sejam consideradas, proporcionando aos
mais diferentes grupos a possibilidade de exercerem
sua cidadania local com igualdade de condições (apesar
da existência de fronteiras). Entre as várias
Quer saber mais?
Por mais forte que sejam as forças globalizantes, sempre haverá resistências diretas e indiretas à hegemonia cultural única. É interessante para o educador ambiental, ou não, conhecer os focos de resistência de uma comunidade, uma vez que neles residem a força local.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 285
possibilidades de responder a esse desafio no campo
dos direitos sociais, três propostas se consolidaram
com o passar do tempo: o universalismo, o relativismo
e o pluriculturalismo. A primeira delas, o universalismo,
é pautada em concepções universais construídas com
base em conceitos gerais tais como autonomia,
liberdade, dignidade e necessidades básicas. O critério
para aceitação de uma norma qualquer na proposta
universalista é o de aceitá-la como universal, isto é,
entendê-la como aceitável para qualquer sujeito
racional independente de sua língua ou nacionalidade, o
que, em outras palavras, implicaria uma imposição
hegemonicamente definida de um mesmo sentido
dominante para diferentes culturas. Seria como a
utilização de qualquer um desses conceitos, como o de
“autonomia”, por exemplo, como se este
correspondesse, na lógica do pensar global, a um único
entendimento do que ele significa ou poderia vir a
significar em termos de conceituação e aplicabilidade
local.
Contrária a essa postura universalista, surge em
cena o relativismo, que enxerga o princípio da
universalidade como insuficiente para resolver alguns
problemas sociais mais concretos, já que situações
desenvolvidas do ponto de vista ético e moral
envolveriam valores e normas específicas dos
diferentes grupos envolvidos. A posição relativista,
portanto, entende que a moral deva ser baseada em
valores específicos, do ponto de vista do sistema
relevante para os indivíduos que participam da mesma;
como se o local fosse indubitavelmente mais
importante que o global. Para Olivé (1997), a aceitação
da proposta relativista, sem maiores reservas,
apresenta sérios riscos como a justificativa de qualquer
tipo de ação, desde que se conte com valores locais
adequados à mesma (tudo é válido); a vinculação de
questões de direitos humanos apenas em contextos
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 286
particulares e específicos e, principalmente, a
obstaculização de políticas de cooperação mútua, já
que se salientam-se as diferenças, e não as
semelhanças entre membros de culturas diferentes.
Buscando um caminho mais equilibrado entre
um relativismo que exacerba o pensar e o agir local
ignorando a vontade geral; e o universalismo, que
ignora as particularidades locais; a proposta do
pluriculturalismo tem encontrado grande aceitação no
campo do direito internacional, por entender a lógica
das sociedades compostas de comunidades e culturas
diversas, garantindo o reconhecimento de direitos tanto
das entidades coletivas como dos direitos de grupo,
sem anular a possibilidade de que sejam estabelecidos
direitos básicos invioláveis entre grupos diferentes.
Buscando fugir ao antagonismo criado por ilusões
universalistas e obsessões identitárias (Touraine, 1998:
197), a postura pluricultural se utiliza dos termos
respeito e o diálogo aparecem como forças motrizes de
suas estratégias, procurando valorizar o
reconhecimento de membros de culturas diferentes
como sujeitos capazes de construir acordos sobre as
condições mínimas para uma interação intercultural,
que envolveriam, por sua vez, a constituição de limites
que ninguém poderia ultrapassar (nem mesmo o
Estado), como em uma democracia de fato.
O pluralismo cultural alimenta, ainda, a idéia de
uma interpretabilidade cultural de grupos diferentes, a
partir de sua teia cultural própria. A interpretabilidade,
como parte dos processos de adaptação cultural, já
vistos anteriormente, tem por fim o favorecimento de
interações transculturais, onde a resolução de
problemas comuns entre membros de culturas
diferentes se baseia em discussões acordadas levando
em consideração as perspectivas dos diferentes
participantes envolvidos e não em conceitos universais
Quer saber mais?
Democracia: Helsen a define, identificando-a como “uma sociedade em que a ordem social é realizada por quem está submetido a esta ordem, isto é, o povo. Significa identidade entre governantes e governados, entre sujeito e objeto do poder, governo do povo sobre o povo” (Kelsen, H., 1993: 35).
Importante
Pluralismo Cultural:
A interpretabilidade cultural baseada no respeito à cultura alheia talvez seja uma das grandes vantagens do pluralismo cultural. Proposta que vem ganhando cada vez mais adeptos.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 287
preestabelecidos. Certamente, esses mecanismos de
adaptação, favorecidos por acionamentos
interpretativos, ajudam a explicar a presença das
descontinuidades culturais e a possibilidade da
coexistência, em diferentes graus, de múltiplos
reconhecimentos e pertencimentos culturais em uma
mesma cultura local (Velho, 1996). É bem possível que
esses acionamentos interpretativos possam favorecer,
ainda, o que Touraine sugere como solução para
reduções dos conflitos entre o global e o local, ou seja,
uma comunicação intercultural que impeça possíveis
auto-segregações e a adoção de políticas autoritárias
(Touraine, 1998).
Defendo a idéia de que a manutenção de um
ambiente equilibrado, fator essencial à sobrevivência, o
educador ambiental também assume um papel
fundamental no sentido de garantir esses
reconhecimentos interculturais sem ignorar a
importância de preservar a cultura local. Através dos
diferentes processos de conscientização ambiental,
trabalhados nos mais diferentes projetos de Educação
Ambiental, é possível não apenas desenvolver políticas
de valorização do espaço local, mas entender a
urgência de problemáticas globais e até planetárias,
buscando um caminho de conciliamento e adaptação
necessária entre agendas globais e práticas locais de
atuação, onde o meio ambiente é entendido como elo
comum de interligação.
O QUE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL TEM A VER COM
A QUESTÃO DA DIVERSIDADE CULTURAL?
Não há como assumir uma postura ambiental ética se
a cultura local não for preservada e valorizada. Além
disso, a promoção de intercâmbios culturais favorece
a troca de experiências e ajuda a entender como
pessoas de diferentes localidades têm lidado com a
questão ambiental.
O meio ambiente é entendido no campo dos conflitos
culturais como um elo fundamental de interligação.
Não importam as diferenças, uma vez que o meio
ambiente é o elo comum.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 288
Existe uma clássica parábola, contada e
recontada por educadores e ambientalistas, que serve
bem para fundamentar esse argumento final, e revelar
que há mais do que paixão temática, no que ele deixa
transparecer. A metáfora em questão, que tem nas
ovelhas e leões - ambientalmente situados - seus
personagens centrais, também, poderia servir para
explicitar a lógica de nosso bordão inicial, em termos
de quando ele se faz necessário e em que sentido deve
ser questionado e readaptado em função das demandas
socioculturais.
As ovelhas sempre tiveram medo de leões por
razões óbvias, elas são devoradas por eles. Entretanto,
responda com sinceridade, seria possível uma
negociação entre ovelhas e leões? O que tornaria os
leões sensíveis a ponto de deitar-se ao lado de uma
ovelha, fazer um acordo com ela e depois respeitá-lo. A
resposta ambiental é muito clara: tanto o leão como a
ovelha não querem que a floresta pegue fogo, tanto um
quanto o outro não querem que as águas de uma
grande enchente inundem suas casas, tanto um quanto
o outro querem proteger seus filhotes.
Esta lista interminável de seres vivos que lutam
pela vida reflete não só como no âmbito ecológico
interdepender não significa necessariamente depender,
mas também como as diferenças podem ser
respeitadas em favor da continuidade da vida. Em
outras palavras, por maior que seja a diversidade e a
estratificação social, ecologicamente estamos
interligados pela existência comum num mesmo planeta,
nosso único lar.
Para refletir
O que sugere a metáfora? Todos somos diferentes, fazemos partes de culturas diferentes, temos valores diversos, mas o importante é que todos precisamos lutar pela nossa única casa, o planeta terra. E isso será feito a partir do diálogo entre essas
diferenças pautado numa postura ética através da qual diferentes lados sejam respeitados e valorizados.
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 289
EXERCÍCIO 1
A palavra “ética” é oriunda da raiz grega “ethos” que
significa costume, mas também se refere a:
( A ) Ambiente;
( B ) Etnia;
( C ) Trabalho;
( D ) Desvio;
( E ) Representação.
EXERCÍCIO 2
Proposta de valorização da diversidade cultural que
defende a interpretabilidade cultural de grupos
diferentes a partir de elementos de sua própria teia
cultural:
( A ) Ecumenismo;
( B ) Culturalismo;
( C ) Pluriculturalismo;
( D ) Relativismo;
( E ) Universalismo.
EXERCÍCIO 3
Diferencie a Ética “da” e a Ética “na” Educação
Ambiental.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 290
EXERCÍCIO 4
Como você vê a possibilidade da elaboração de um
Código de Ética do Educador Ambiental?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
O que é preciso para ser ou atuar como um
educador ambiental? De todas as respostas
nenhuma é tão importante e imprescindível
como uma postura ética adequada a sua
realidade;
A Ética da Educação Ambiental refere-se a
constituição da nova ética ecológica que a
Educação Ambiental se propõe a instaurar; e
a Ética na Educação Ambiental, que por sua
vez, diz respeito a ética, ou mais
especificamente, ao conjunto de valores sobre
o qual esta se sustenta, relacionada a práxis
do Educador Ambiental que atua em seus
diferentes âmbitos – formal, não-formal e
informal;
Pierre Weil define ética como sendo o
"conjunto de valores que levam o homem a
se comportar de modo construtivo e
harmonioso, pois são os valores que
determinam as opiniões, atitudes e
comportamentos das pessoas" (Weil,
2000:133). Nesse sentido, não é exagero afir-
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 291
mar que a ética exerce uma profunda
influência na qualidade de vida, no
desenvolvimento sócio-cultural, assim como
nas relações que a humanidade desenvolve
com a natureza da qual faz parte.
Uma das mais duras constatações percebidas
por cientistas e pesquisadores no final do
século XX refere-se ao distanciamento existente
entre os avanços conquistados no plano da
ciência e da técnica, e o desejável avanço no
terreno da ética, que não chegou a ocorrer na
mesma proporção, intensidade e velocidade.
As técnicas e economias mudam sempre, e
muitos problemas sociais mudam com eles.
Não os problemas éticos, estes
permaneceriam os mesmos” (Hilberseiner,
1949: 87);
O sonho do crescimento ilimitado produziu o
subdesenvolvimento de 2/3 da humanidade, a
exaustão dos sistemas vitais e a
desintegração progressiva do equilíbrio
ambiental (Boff, 1996: 25).
A crise sócio-ambiental, reflexo da própria
crise civilizatória com a qual nos deparamos,
foi antecipada, sem dúvida alguma, por uma
grave crise de ética;
Enquanto a moral é concreta e diz respeito ao
nível individual, prático e prescritivo; a ética é
mais social, teórica e virtual, se constituindo
como um campo de análise filosófica voltada
para o estudo dos fundamentos e validação
de comportamentos socialmente reconhecidos
e estimulados (Krüger,1998);
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 292
Muitos autores definem moral como “um
conjunto de prescrições destinadas a
assegurar uma vida em comum de forma
harmoniosa”, e ética como “a avaliação
normativa das ações e do caráter de
indivíduos e grupos” (Japiassu & Marcondes,
1996: 93);
Mesmo aceitando com reservas essa distinção
no plano teórico, é necessário entender que
na prática, as questões concernentes a moral
e a ética estão inteiramente imbricadas,
sendo, portanto difícil precisar uma separação
mais rígida entre os dois conceitos. A moral
fornece o conteúdo a ser avaliado pela ética,
que por sua vez a alimenta estabelecendo,
através de seu julgamento, que tipo de ação
ou pensamento seria moral ou amoral;
Esse questionamento mais profundo, diria
respeito ao nível mais básico do que
denominei como a Ética “da” Educação
Ambiental pode ser chamado ainda de nível
primário da ética da Educação Ambiental, de
uma “auto-ética” que se fundamenta na
própria consciência moral de cada indivíduo.
Parar e refletir sobre sua maneira de interagir
com o meio ambiente que a cerca é o
primeiro passo para o desenvolvimento de
uma “auto-ética ecológica”;
Sem o desenvolvimento dessa auto-ética
ecológica e a partir desta, sem uma reflexão
moral sobre sua conduta, promovendo a
instauração de um processo de auto-reforma,
é praticamente impossível que exista qualquer
tipo de comprometimento mais profundo com a
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 293
questão sócio-ambiental. O “fazer pelo fazer”
ao invés do “fazer consciente” não tem
sustentação e acaba esmorecendo diante das
primeiras dificuldades;
O objetivo central da ética que a Educação
Ambiental pretende disseminar é o de
devolver ao homem sua condição de membro
da vida, participante ativo da teia de
interrelações do ecossistema do qual faz
parte;
Estimulada e sugerida pela Educação
Ambiental, a instauração de uma ética
ecológica vem questionar ainda dois
absurdos: o primeiro, de se pensar uma ética
apenas para o homem; e o segundo, de se
pensar uma ética para o homem e outra para
a natureza de maneira diferenciada. O que se
pretende, além de denunciar esses absurdos,
é a implantação de uma “ética integradora
entre todos os seres viventes e suas relações
bioecológicas” (Siqueira, 1991: 17). Ou seja,
uma ética essencialmente da vida em sua
plenitude, enterrando definitivamente o mito
da independência plena e/ou da “autonomia
da razão”, amargas heranças do
cartesianismo.
Como analisa Grün (1994), é justamente no
encontro do homo sapiens, agente moral,
dotado de direitos, com a natureza, amoral e
sem direitos, que surge o espaço da ética
ecológica. Esta se volta para uma questão
elementar, a de que, mesmo sem direitos
legalmente adquiridos, a natureza é dotada
de valor, o que requer que as relações com ela
estabelecidas estejam pautadas em pressupos-
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 294
tos éticos de responsabilidade;
Entendida como um fator-chave para a
própria sobrevivência dos seres vivos, tendo
como razão axiológica os valores intrínsecos
do homem e do meio ambiente, a proposição
dessa ética - denominada aqui de ética da
ecologia - visa superar a permissiva moral
sócio-ambiental vigente (utilizada para
justificar erros crassos de gestão ambiental),
em direção a uma ética verdadeiramente
libertadora e comprometida com o direito a
vida;
enquanto um processo eminentemente
educativo o grande desafio da Educação
Ambiental, sem dúvida alguma, é aquele que
se passa a nível ético, tanto da ética que ela
pretende instaurar, como elemento
catalisador de uma nova lógica de
relacionamento entre o homem e a natureza;
quanto do conjunto de valores dos
profissionais que embora atuando nessa área,
muitas vezes se isolam; não se desvencilham
de viéses político-partidários, mais voltados
para a efetivação de campanhas eleitoreiras
do que para a realização de um trabalho
profícuo de Educação Ambiental; ou mesmo
dos que buscam apenas um espaço na
imprensa para auto-promoção.
A dimensão ética da Educação Ambiental está
presente em qualquer projeto de atuação na
área, desde a sua elaboração inicial, onde se
faz necessário ouvir as demandas da
população onde ela será ministrada e permitir
que esta participe do seu processo de
elaboração e adaptação; até o acompanhamento
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 295
final dos resultados do trabalho, onde é
preciso aprender com erros, ao invés de ignorá-
los, para que estes não se repitam num
trabalho posterior;
A ética na dimensão ambiental (ética dos
meios), refere-se, de modo particular, a ética
dirigida aos valores e critérios fundamentais,
norteadores da práxis do profissional de
Educação Ambiental consciente de seu papel
enquanto agente de transformação de uma
realidade extremamente crítica;
O fato de reservar especial atenção à
dimensão ética do fazer Educação Ambiental,
mais dirigida a sua prática, advém igualmente
do fato de não querer apresentá-la como uma
espécie de “remédio milagroso” solucionador
de todos os problemas ambientais. Assim
como a Educação de modo geral, pode vir a
ser utilizada como instrumento de controle,
deturpação, seleção, exclusão, ou de
adestramento;
Mesmo reconhecendo a importância da EA,
enquanto promotora de uma nova consciência
ecológica, é inegável que desligada de uma
política ambiental mais efetiva acompanhada
de uma legislação rígida; ou de ações
voltadas para uma distribuição de renda mais
igualitária, ou ainda para a construção e
manutenção de um contexto político-cultural
favorável, estaremos agindo no “vazio” e
longe de vislumbrar um futuro sócio-
ambiental menos desolador;
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 296
Ela pretende a adoção de “uma nova postura
ética solidária” em relação ao meio ambiente.
Pela definição de Waehneldt fica explícito o
motivo pelo qual o processo de Educação
Ambiental deve estar calcado sobre princípios
éticos que despertem a responsabilidade
ambiental, pois caso contrário, dificilmente
este poderá favorecer ao indivíduo um
exercício mais amplo de cidadania;
É essencial que o educador ambiental procure
se questionar não uma, mas quantas vezes
forem necessárias, se realmente ele está
assumindo uma postura de aprendiz, daquele
que está na comunidade e/ou instituição em
primeiro lugar para ouvir e aprender sobre a
realidade onde pretende atuar, e não daquele
que vem apenas para ensinar. Querer ser
ouvido e respeitado implica em primeiro lugar
ouvir e respeitar o outro;
É cada vez mais urgente o estabelecimento
das bases para um código de ética do
educador ambiental, isto é de um conjunto
procedimentos básicos fundamentais para
garantir a dimensão ética do processo de
Educação Ambiental na práxis de seus
agentes promotores. Manifestada por
exemplo, no respeito fundamental aos valores
culturais, sociais, morais e religiosos da locus
de atuação onde o processo de Educação
Ambiental está sendo implementado;
Segundo Léon Olivé (1997), o grande desafio
ético desse novo século será a tentativa de
conciliar direitos grupais locais - relacionados
ao grupo no qual os indivíduos estão inseridos,
como uma comunidade ética que luta pela pre-
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 297
servação de sua língua por exemplo -; com
direitos globais e coletivos - que dizem respeito
aos direitos do indivíduo, tendo por base seu
pertencimento a uma coletividade, como o
direito de um cidadão votar em uma
autoridade de seu país (Olivé, 1997: 2);
Como aponta Latouche (1994), em função de
um modelo avassalador de desenvolvimento
que pretendeu a substituição de toda cultura
tradicional pela industrialização, a cultura
“tornou-se no fundo, sinônimo de atraso, de
retardamento mental” (id., p.75). Tentativas
de preservação da biodiversidade cultural são
encaradas como barreiras inúteis e
retrógradas contra a força do progresso
globalizador, imposição de novos tempos;
Por trás de toda essa conjunção cultural -
movida não apenas por um pensar global
imposto, mas também simultaneamente pela
resistência que a ela se faz, se traduz através
de diferentes processos de mesclagem
cultural, geradores de novas identidades
mestiças e territorializações
interculturalmente determinadas, onde as
ambivalências local x global, particular x
geral, convivem num cenário multifacetado
de culturas híbridas (Canclini, 1997);
Dentre as várias possibilidades de responder
a esse desafio no campo dos direitos sociais,
três propostas se consolidaram com o passar
do tempo: o universalismo, o relativismo e o
pluriculturalismo. A primeira delas, o
universalismo, é pautada em concepções
universais construídas com base em conceitos
gerais tais como: autonomia, liberdade,
dignidade e necessidades básicas;
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 298
Contrária a essa postura universalista, surge
em cena o relativismo, que enxerga o
princípio da universalidade como insuficiente
para resolver alguns problemas sociais mais
concretos, já que situações desenvolvidas do
ponto de vista ético e moral envolveriam
valores e normas específicas dos diferentes
grupos envolvidos;
Buscando um caminho mais equilibrado entre
um relativismo que exacerba o pensar e o
agir local ignorando a vontade geral; e o
universalismo, que ignora as particularidades
locais; a proposta do pluriculturalismo tem
encontrado grande aceitação no campo do
direito internacional, por entender a lógica
das sociedades compostas de comunidades e
culturas diversas, garantindo o
reconhecimento de direitos tanto das
entidades coletivas como dos direitos de
grupo, sem anular a possibilidade de que
sejam estabelecidos direitos básicos
invioláveis entre grupos diferentes;
O pluralismo cultural alimenta, ainda, a idéia
de uma interpretabilidade cultural de grupos
diferentes, a partir de sua teia cultural
própria. A interpretabilidade tem por fim o
favorecimento interações transculturais, onde
a resolução de problemas comuns entre
membros de culturas diferentes se baseia em
discussões acordadas levando em
consideração as perspectivas dos diferentes
participantes envolvidos, e não em conceitos
universais pré-estabelecidos;
Defendo a idéia de que a manutenção de um
ambiente equilibrado, fator essencial à
sobrevivência, o educador ambiental também
Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 299
assume um papel fundamental no sentido de
garantir esses reconhecimentos interculturais
sem ignorar a importância de preservar a
cultura local;
GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS: AULA 1 – 1A; 2D. AULA 2 – 1C; 2D. AULA 3 – 1A; 2E. AULA 4 – 1E; 2E. AULA 5 – 2E; 3C. AULA 6 – 1E; 2B. AULA 7 – 1A; 2C.
AV1 – Estudo Dirigido da Disciplina
CURSO: Educação Ambiental
DISCIPLINA: Educação Ambiental
ALUNO(A): MATRÍCULA:
NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________
QUESTÃO 1: O que é Educação Ambiental e quais seriam seus principais âmbitos
de atuação? Diferencie-os através de exemplos.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
QUESTÃO 2: Explique com suas palavras o termo “cidadania planetária”: Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
QUESTÃO 3: Qual foi a importância da inclusão do Meio Ambiente como um dos
temas transversais dos PCNs para a Educação Ambiental?
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
QUESTÃO 4: Como você vê a possibilidade da elaboração de um Código de Ética
do Educador Ambiental?
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
ATENÇÃO:
Na realização das avaliações (AV1 e AV2), procure desenvolver uma
argumentação com suas próprias palavras.
Observe que é importante você realizar uma pesquisa aprofundada para atender
aos objetivos propostos consultando diferentes autores. No entanto, é
fundamental diferenciar o que é texto próprio de textos que possuem
outras autorias, inserindo corretamente as referências bibliográficas
(citações), quando este for o caso.
Vale lembrar que essa regra serve inclusive para os nossos módulos, utilizados
com freqüência para as respostas das avaliações.
Em caso de dúvidas, consulte o material sobre como realizar as citações diretas
e indiretas ou entre em contato com o tutor de sua disciplina.
AS AVALIAÇÕES QUE DESCONSIDERAREM ESTE PROCEDIMENTO ESTARÃO
SEVERAMENTE COMPROMETIDAS.
304
AV2 – Trabalho Acadêmico de Aprofundamento
CURSO: Educação Ambiental
DISCIPLINA: Educação Ambiental
ALUNO(A): MATRÍCULA:
NÚCLEO REGIONAL: DATA:
_____/_____/___________
Atividade Sugerida: Coleta de dados: entrevista, relatório da entrevista e
redação.
Realizar uma entrevista com um profissional da área ou alguém que atue
diretamente com E.A. segundo modelo sugerido pelo IAVM.
INSTRUÇÕES:
Uma vez selecionada a pessoa, pegue seu roteiro (ABAIXO) e siga rumo à
entrevista. Após a entrevista, elabore um relatório composto por 1 (uma) lauda.
Atenção: é fundamental que você não só realize a entrevista como também
desenvolva um relatório ao final, inserindo suas reflexões, comentários e
observações críticas sobre a entrevista, correlacionando-a aos conteúdos estudados
até aqui.
Para facilitar sua aplicação veja as dicas a seguir.
ALGUMAS DICAS:
Adapte a linguagem ao perfil do entrevistado;
Evite alongar-se demais nas questões;
Esteja bem informado sobre o assunto objeto da entrevista;
Seja imparcial perante o entrevistado e mantenha autocontrole emocional;
Estabeleça uma relação amistosa e não trave um debate de idéias;
Não demonstre insegurança ou admiração excessiva diante do entrevistado para
que isto não venha prejudicar a relação entre entrevistador e entrevistado;
Seja objetivo, já que entrevistas muito longas podem se tornar cansativas para o
entrevistado;
Vá gravando ou anotando as informações do entrevistado, sem deixar que ele
fique esperando sua próxima indagação, enquanto você escreve.
Caso use um gravador, não deixe de pedir sua permissão para tal. Lembramos que
o uso do gravador pode inibir o entrevistado.
ROTEIRO DE ENTREVISTA
ENTREVISTADOR(A) : __________________________________
MATRÍCULA: ____________
BASE: ______________________ CIDADE: __________________
DATA: __________________
- Nome completo do entrevistado:
- Tempo de trabalho na área:
- Local da entrevista:
- Sugestão de perguntas:
305
1) Desde quando atua/trabalha com Educação Ambiental?
2) Como você tem atuado em sua prática profissional com E.A.?
3) Comente sobre um projeto/programa de E.A no qual você atuou recentemente?
4) O que é Educação Ambiental para você?
5) Quais seriam os limites e potencialidades da E.A. em sua opinião?
6) Como você vê a importância da E.A. no enfrentamento dos principais problemas
ambientais de sua cidade ou região?
7) Em sua cidade você poderia dizer que E.A. é estimulada no âmbito
governamental?
8) E no âmbito não governamental, você conhece alguma instituição, entidade,
como ONGs, que atuam em sua cidade com E.A.?
9) Como você vê os principais desafios da Educação Ambiental hoje?
Roteiro / Relatório
Nome / Idade:
Formação:
Especialidade:
Tempo de Atuação:
1 - Pergunta
Resposta:
2 – Pergunta:
Resposta:
3 – Pergunta:
Resposta:
4 – Pergunta:
Resposta:
5 – Pergunta:
Resposta:
6 – Pergunta:
Resposta:
7 – Pergunta:
Resposta:
8 – Pergunta:
306
Resposta:
10 – Pergunta:
Resposta:
Relatório (Análise crítica das respostas):
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