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Marcelo Braga
Curso de Redação
Capítulo 1
Estudo da Tipologia e dos Gêneros Textuais
O Padeiro
Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e
abro a porta do apartamento – mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante,
lembro-me de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão
dormido”. De resto, não é bem uma greve, é o lockout, greve dos patrões, que
suspenderam o trabalho noturno; acham que, obrigando o povo a tomar seu café da
manhã com pão dormido, conseguirão não sei bem o que do governo.
Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto
tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando
vinha deixar o pão à porta do apartamento, ele apertava a campainha, mas, para não
incomodar os moradores, avisava gritando:
– Não é ninguém, é o padeiro!
Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?
“Então você não é ninguém?”
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes
lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou
outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era: e
ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém não, senhora, é o
padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém...
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis
detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante.
Naquele tempo, eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela
madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela
oficina – e muitas vezes saía levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o
jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.
Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E, às vezes, me julgava importante
porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera
sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem
cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade
daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!”.
E assobiava pelas escadas.
(Rubem Braga)
Ao lermos o texto de Rubem Braga, verificamos que estamos diante de um texto
narrativo. Isso se constata com a presença de elementos próprios dessa tipologia como o
enredo, as personagens, as formas verbais no passado e a sequência das ações.
O conhecimento da tipologia textual torna-se essencial para quem está iniciando
o seu processo de escrita. Isso porque cada tipologia possui especificidades distintas. As
características de um texto narrativo, por exemplo, não se assemelham às de um texto
dissertativo-argumentativo. Daí o motivo pelo qual estudaremos cada tipologia
individualmente.
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Os textos, em prosa, podem pertencer a quatro tipologias:
Narrativa – Consiste num relato de um fato, ocorrido em um determinado lugar e
tempo, envolvendo personagens em uma trama.
“De acordo com sua paixão dominante, Quaresma estivera muito tempo a
meditar qual seria a expressão poético-musical característica da alma nacional.
Consultou historiadores, cronistas e filósofos e adquiriu certeza que era a modinha
acompanhada pelo violão. Seguro desta verdade, não teve dúvidas: tratou de aprender o
instrumento genuinamente brasileiro e entrar nos segredos da modinha. Estava nisso
tudo a quo, mas procurou saber quem era o primeiro executor e cantor da cidade e tomou
lições com ele. O seu fim era disciplinar a modinha e tirar dela um forte motivo original
de arte.”
Descritiva – Consiste no ato de descrever algo ou alguém detalhadamente.
“Os reposteiros de veludo verde-musgo criam sombras mais fundas. Os mortes dos
retratos de moldura bronzeada parecem mais mortos. O grande lustre de vidrilhos que
pende do centro do teto tem um brilho frio de ossadas.”
Dissertativa – Consiste no ato de o produtor tecer comentários pessoais ou não acerca
de um determinado assunto.
“Os casos de corrupção, especialmente na esfera pública, causam sérios danos a
instituições privadas e à sociedade. Além de prejudicarem o ambiente de negócios,
afetam a competitividade do setor produtivo e impactam diretamente no bem-estar social
por reduzir investimentos em setores básicos como saúde e educação, impedindo o
desenvolvimento econômico e social do país.”
Injuntiva – Consiste no ato de instruir o interlocutor acerca de um determinado
procedimento.
“Para o bom funcionamento de sua máquina, siga as seguintes recomendações:
sempre que a máquina não estiver em funcionamento, retire o plug a tomada; não utilize
a máquina se você não estiver treinado; antes de fazer uso, verifique a posição correta
do Ralador; após a utilização, limpe o aparelho e, no memento de realizar a limpe,
certifique-se de que a máquina está desconectada da tomada.”
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Gêneros Textuais
O quadro, a caneta e o papel
Depois de uma aula qualquer, em um colégio que não importa dizer o nome, uma
caneta, esquecida no chão, lamentava a sua sorte a um imponente quadro branco.
— Ah... senhor quadro, nada me dói mais que a ingratidão. Veja o que são estas
crianças. Usam-nos a tempo e a hora e, depois, quando não somos mais úteis, deixam-
nos em qualquer lugar, esquecem-nos ou, o que é pior, jogam-nos fora sem a menor
piedade. Não se lembram esses ingratos de que, desde os primeiros anos de suas vidas,
nós os acompanhamos, desenhando, em suas mãos relapsas, os primeiros barquinhos, as
primeiras letras, os primeiros corações...
Vendo a caneta tão chorosa, o quadro não sabia o que dizer para animá-la.
Resolveu falar de si, de sua filosofia de vida.
— Pois eu, minha querida, a mim pouco me importa o que fazem, como fazem ou
para que fazem. Cumpro a minha missão e pronto. Minha tarefa: ser branco, para melhor
refletir as letras. Faço-o sem discutir. Fico o tempo todo em silêncio para não atrapalhar
a aula. Não digo nem que sim nem que não. Precisam de mim, e eu aqui estou. Tenho
consciência de que alguns me maltratam, me chutam e escrevem em mim coisas obscenas,
mas... fazer o quê? São ossos do oficio, como bem dizem os professores. No meu silêncio,
penso no futuro das escolas e temo pelos novos quadros que virão.
A caneta, parecendo pior que antes, redarguiu:
— Meu grande problema é que eu não consigo ficar indiferente, muito menos
calada, em relação às injustiças. Vejo acomodação e mágoa em suas palavras, senhor
quadro, mas não me sinto à vontade para censurá-lo. No fundo, talvez o senhor tenha
razão...
Nesse instante, passou voando, em direção à porta, uma folha de papel. Com voz
sumida, disse o seguinte, enquanto o vento permitia:
— Nunca devemos reclamar da vida que temos por achá-la ruim ou indigna.
Lembremos sempre que, em algum lugar, às vezes perto de nós, há sempre alguém em
condição pior. Eu, por exemplo, fui Carta de Descobrimento, Tratado de Tordesilhas,
Teoria da Relatividade, Bilhete de Suicida, Certidão de Nascimento, Boletim de Notas,
Soneto de Fidelidade... já fui até a Bíblia... Agora, o vento me leva, e eu nem sei onde
vou parar... Espero que não seja no banheiii...
A última frase não foi mais ouvida. O silêncio reinou na sala. O quadro e a
caneta, se cabeça tivessem, estariam com ela abaixada, pensando...
(Vicente Júnior)
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O texto que inicia o segundo capítulo deste material se apresenta como narrativo
e pertence ao gênero apólogo. No capítulo anterior, estudamos a tipologia textual. Neste
capítulo, dedicar-nos-emos ao estudo dos gêneros textuais.
A Crônica
É uma narrativa breve, com um número reduzido de personagens e registra um
flagrante do cotidiano, além de apresentar, em sua maioria, um tom humorístico.
O Milagre
Naquela pequena cidade as romarias começaram quando correu o boato do
milagre. É sempre assim. Começa com um simples boato, mas logo o povo – sofredor,
coitadinho e pronto a acreditar em algo capaz de minorar sua perene chateação – passa
a torcer para que o boato se transforme numa realidade, para poder fazer do milagre a
sua esperança.
Dizia-se que ali vivera um vigário muito piedoso, homem bom, tranquilo, amigo
da gente simples, que fora em vida um misto de sacerdote, conselheiro, médico,
financiador dos necessitados e até advogado dos pobres, nas suas eternas questões com
os poderosos. Fora, enfim, um sacerdote na expressão do termo: fizera de sua vida um
apostolado.
Um dia o vigário morreu. Ficou a saudade morando com a gente do lugar. E era
em sinal de reconhecimento que conservavam o quarto onde ele vivera, tal e qual o
deixara. Era um quartinho modesto, atrás da venda. Um catre (porque em histórias
assim, a cama do personagem chama-se catre), uma cadeira, um armário tosco, alguns
livros. O quarto do vigário ficou sendo uma espécie de monumento à sua memória, já
que a Prefeitura local não tinha verba para erguer sua estátua.
E foi quando um dia… ou melhor, uma noite, deu-se o milagre. No quarto dos
fundos da venda, no quarto que fora do padre, na mesma hora em que o padre costumava
acender uma vela para ler seu breviário, apareceu uma vela acesa. –
Milagre!!! – quiseram todos.
E milagre ficou sendo, porque uma senhora que tinha o filho doente, logo se
ajoelhou do lado de fora do quarto, junto à janela, e pediu pela criança. Ao chegar em
casa, depois do pedido – conta-se – a senhora encontrou o filho brincando, fagueiro.
– Milagre!!! – repetiram todos. E o grito de “Milagre!!!” reboou por sobre
montes e rios, vales e florestas, indo soar no ouvido de outras gentes, de outros povoados.
E logo começaram as romarias.
Vinha gente de longe pedir! Chegava povo de tudo quanto é canto e ficava ali
plantado, junto à janela, aguardando a luz da vela. Outros padres, coronéis, até
deputados, para oficializar o milagre. E quando eram mais ou menos seis da tarde, hora
em que o bondoso sacerdote costumava acender sua vela… a vela se acendia e
começavam as orações. Ricos e pobres, doentes e saudáveis, homens e mulheres caíam
de joelhos, pedindo.
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Com o passar do tempo a coisa arrefeceu. Muitos foram os casos de doenças
curadas, de heranças conseguidas, de triunfos os mais diversos. Mas, como tudo passa,
depois de alguns anos passaram também as romarias. Foi diminuindo a fama do milagre
e ficou, apenas, mais folclore na lembrança do povo.
O lugarejo não mudou nada. Continua igualzinho como era, e ainda existe, atrás
da venda, o quarto que fora do padre. Passamos outro dia por lá. Entramos e pedimos
ao português, seu dono, que vive há muitos anos atrás do balcão, a roubar no peso, que
nos servisse uma cerveja. O português, então, berrou para um pretinho, que arrumava
latas de goiabada numa prateleira:
– Ó Milagre, sirva uma cerveja ao freguês!
Achamos o nome engraçado. Qual o padrinho que pusera o nome de Milagre
naquele afilhado? E o português explicou que não, que o nome do pretinha era Sebastião.
Milagre era apelido.
– E por quê? – perguntamos.
– Porque era ele quem acendia a vela, no quarto do padre.
(Stanislaw Ponte Preta)
O Conto
É uma narrativa breve, com número reduzido de personagens e registra um
conflito único com desfecho inesperado.
O Anônimo
Tão logo o carteiro entregou a correspondência, Eduardo foi em busca daquilo
que a experiência já lhe ensinara. Certamente estaria ali: a carta anônima. De fato, não
tardou a encontrar o envelope, àquela altura familiar: o seu nome e endereço escritos
em neutra letra de imprensa, e nenhuma indicação de remetente (alguns missivistas
anônimos usam pseudônimo. Aquele não fazia concessões: nada fornecia que pudesse
alim entar especulações com respeito à identidade).
Com dedos um pouco trêmulos – a previsibilidade nem sempre é o antídoto da
emoção – Eduardo abriu o envelope. Continha, como de outras vezes, uma única folha
de papel ofício manuscrita em letra de imprensa. Como de hábito, começava afirmando:
“Descobri teu segredo.” Nova linha, parágrafo, e aí vinha a acusação.
No presente caso: desonestidade. “Todos acham que você é um homem sério,
correto”, dizia a carta, “mas nós dois sabemos que você não passa de um refinado patife.
Você está roubando seu sócio, Eduardo. Há muito tempo, você vem desviando dinheiro
da firma para a sua própria conta bancária. Você disfarça o rombo com supostos
prejuízos nos negócios. Seu sócio, que é um homem bom, acredita em você. Mas a mim
você não engana, Eduardo. Eu sei de tudo que você está fazendo. Conheço suas trapaças
tão bem como você.”
Eduardo não pôde deixar de sorrir. Boa tentativa, aquela, do missivista anônimo.
Desonestidade na firma, isto não é tão incomum. Com um sócio tão crédulo como era o
Ênio, Eduardo de fato não teria qualquer dificuldade em subtrair dinheiro da empresa.
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Só que ele não estava fazendo isso. Em termos de negócios, era escrupulosamente
honesto. Mais que isso, muitas vezes repassara dinheiro para a conta de Ênio – um
trapalhão em matéria de finanças – sem que este soubesse. Honesto e generoso. Contudo,
como certos caçadores tão pertinazes quanto incompetentes, o autor da carta anônima
atirara no que vira e acertara no que não vira.
Eduardo enganava Ênio, sim. Mas não na firma. Há meses – em realidade, desde
que aquela história das cartas anônimas começara – tinha um caso com a mulher do
sócio, Vera: grande mulher. Claro, não poderia garantir que não sentia um certo prazer
em passar para trás o amigo que sempre fora mais brilhante e mais bem-sucedido do que
ele, mas, de qualquer forma, isso nada tinha a ver com a empresa. Desonestidade nos
negócios? Não. Tente outra, missivista. Quem sabe na próxima você acerta. Tente. Tente
já.
Sentou à mesa, tomou uma folha de papel ofício e escreveu, numa bela, mas
inconspícua letra de imprensa: “Descobri teu segredo.”
(Moacyr Scliar)
A Fábula e o Apólogo
São textos inverossímeis, cujas personagens podem ser animais (fábula) e objetos
(apólogos) devem trazer uma moral da estória.
O Agricultor e a Serpente
Um agricultor, homem simples do campo, caminhava pela sua pequena
propriedade numa bucólica manhã de inverno a examinar seu plantio, quando, sobre o
chão ainda coberto pela neve da noite anterior, viu uma Serpente que jazia
completamente enrijecida e congelada pelo intenso frio.
E embora soubesse o quanto aquela Serpente poderia ser mortal, ainda assim, ele
a pegou com cuidado, e com a intenção de aquecê-la e salvar sua vida, colocou-a no
bolso do seu casaco.
E em pouco tempo, a Serpente, aquecida naquele confortável ambiente que a
protegia do frio, foi recuperando suas forças. Ao sentir-se viva outra vez, colocou a
cabeça para fora do bolso do sobretudo daquele homem que lhe salvara a vida e mordeu
seu braço. E ao sentir a inesperada picada, o lavrador logo se deu conta da gravidade
daquele ferimento. E caindo desfalecido pelo efeito do mortal veneno, sabia que apenas
poucos minutos de vida lhe restavam.
E em seu último suspiro, ergueu com dificuldade a cabeça, e disse: “Aprendi com
o meu trágico destino, que nunca deveria apiedar-me de alguém que por natureza é um
malfeitor...”
(Esopo)
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Recordações
No varal, o calção espirrava sequencialmente. Olhava para os lados, estava só.
Quanta tristeza. Molhado, resfriado, preso e sozinho. A solidão o deixava triste. Por
alguns instantes, pensou em sua antiga companheira, a saia da vizinha. Como era
formosa, atrevida e pequenina.
Naquele momento, desejava mais do que ninguém que ela estivesse ali com ele.
Lembrava-se de sua abertura ao meio. Em vez de zipper, botões. As alças serviam apenas
de enfeite, era moda, cinto nunca usara. Sua cintura era tão fina que dispensava qualquer
aperto. Ficava na medida. Quando a vizinha a vestia, tornava-se mais sensual. Que saia
aquela. Quanto tempo.
Se pudesse, voltaria no tempo, permaneceria do lado dela. Jamais a abandonaria.
Como foi bom. Dividiram juntos momentos inesquecíveis. Namoravam como loucos
fossem. E eram. Um amor igual àquele nunca se viu.
Recordou o dia em que estava vindo da praia. Meio molhado, meio sujo de areia.
Ela aproximou-se com um sorriso, abrindo o botão do meio e mostrando a casa aberta.
Ficou maluco. Aproximou-se, juntou-se a ela. Aos poucos, a areia despregava de seu
corpo.
Por onde andavas agora. Esperava que não estivesse como ele. Velho, surrado,
abandonado. Nem para recordações servia. Ninguém o guardou. Dentre em pouco,
voltaria para o chão. Por enquanto, servia só como pano de chão.
(Peri Rosacampos)
Memórias
Texto produzido em primeira pessoa, autobiográfico. Relata-se a vida de uma
personagem (ser, objeto, animal...).
Memórias de um sapato
Há um mês, aproximadamente, vivencio uma solidão a qual jamais imaginei.
Estou velho e abandonado. Meu outro par, coitado, deve também estar por aí, sofrendo
como eu.
Vejo-me no meio de uma estrada, praticamente, deserta, exposto ao sol e à chuva.
Quem por aqui passa nem olha para mim, às vezes, percebo que estou sendo observado
por uma ou outra vaca que caminha por um lado e outro, atravessa a estrada e vai à
busca do que comer.
Recordo-me de quando era moço, bonito e cheio de brilho. Os poucos dias que
passei na vitrine de uma loja, era enamorado por muitas pessoas. Algumas ficavam
tristes por não poderem me adquirir. Quando fui comprado por um cavalheiro, senti-me
feliz, embora já estivesse com saudades das sandálias que me paqueravam e me
desejavam. Uma delas até muito pranteou com a minha partida.
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Nova vida teria dali em diante. Meu dono adorava festas e mantinha-me sempre
no brilho. Era elegante. As moças que se aproximavam dele eram bonitas e bem vestidas,
e as suas sandálias elegantes gostavam da minha companhia. Como foi bom aquele
tempo. Após dois anos de festas e namoros, tudo acabou. Meu dono, por achar-me velho
e sem brilho, entregou-me a um senhor muito necessitado que a festas nunca fora, vivia
na rua, assim como hoje estou.
(Peri Rosacampos)
O Artigo
Texto de caráter reflexivo, cujo objetivo é apresentar a opinião de quem o
produz.
País desenvolvido: equilíbrio entre trabalho e distribuição de renda
O desenvolvimento de um país depende primordialmente de uma distribuição de
renda eficaz, visto que, com a riqueza concentrada, o desemprego tende a aumentar, e as
oportunidades às pessoas mais pobres se reduzem, acentuando as desigualdades sociais.
Diante dessa realidade, o crescimento econômico de um país, se for levado em
consideração apenas o PIB per capita, torna-se ilusório. A distribuição desigual de
riqueza eleva o PIB, mas não traduz, com fidelidade, a situação econômica real da
maioria da sua população.
Em vista disso, o Índice de Desenvolvimento Humano, adotado pela ONU em
1990 com o objetivo de ter um processo avaliativo mais preciso acerca do crescimento
econômico de um país, procura espelhar, além da renda, a longevidade da população e
o grau de maturidade educacional. Países, como o Brasil, por exemplo, mesmo com uma
economia ascendente, não pode ser considerado desenvolvido, pois a desigualdade ainda
se faz muito presente.
Para se atingir um grau satisfatório de desenvolvimento, deverá investir bem mais
no social, especialmente na educação e na saúde da população. Além disso, a
concentração de renda existente no país impede o nosso crescimento. O desemprego
ainda perpetua em nossa população. Se não houver uma política eficaz na geração de
emprego, a fim de a população poder gozar de poucos privilégios como educação de
qualidade e saúde, o Brasil não conseguirá se desenvolver. Mesmo ciente do fato de a
má distribuição ser um óbice para esse crescimento, investimentos nas áreas sociais
diminuirão o índice de pobreza nacional.
Por conseguinte, a fim de reduzir a grande disparidade econômica e social
existente no país, responsável por travar todo o nosso crescimento, torna-se
imprescindível que o Governo Federal priorize investimentos na educação de qualidade,
por meio de incentivos, com práticas esportivas e artísticas, procurando despertar nos
jovens o interesse de se manterem na escola, deverá ainda promover a geração de
emprego, ampliando os postos de trabalho existentes e, com incentivos fiscais, permitir
a abertura e expansão de novos postos de trabalho.
(Peri Rosacampos)
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O Editorial
Texto de caráter reflexivo, no qual se apresenta a opinião de um jornal ou revista.
Morte sobre duas rodas
As mortes por acidentes com motos, no Ceará, tiveram um aumento de 116% em
relação ao mesmo período observado no ano passado. O alerta foi dado pelo Instituto
Médico Legal (IML). A estatística levou a Secretaria de Segurança Pública e Cidadania
(SSPDC) a propor uma campanha de conscientização dos motociclistas sobre as causas
que estão provocando tantos óbitos.
O período observado foi o de 1o de janeiro a 15 de maio deste ano. O número de
mortos soma 67, o que dá uma média de 13,4 mortes por mês. No ano passado, a média
tinha ficado em 6,1, ou seja, 31 mortes, no total do período correspondente. São quase
quatro pessoas mortas por semana, em média. Isso é inadmissível e sinaliza necessidade
de maior atenção ao problema por parte das autoridades do trânsito.
Dos mortos contabilizados, 91% situam-se na faixa etária até vinte e cinco anos.
O Instituto Dr. José Frota também tem levantamento de acidentes com mortos, e o
resultado é parecido: as vítimas estão em torno de 29 anos de idade. Entre 1997 e 1998,
o hospital detectou um incremento de 200% nesse tipo de acidente. Como se vê, são
vítimas produtivas decepadas quando estão na fase mais promissora. Quando não
morrem, as vítimas, geralmente, apresentam sequelas muito graves devido ao
politraumatismo.
As causas dos acidentes são variadas e envolvem desde o aumento da frota de
motos, mobiletes e similares, os buracos nas pistas, ou a falta de manutenção dos
veículos. Mas o principal fator continua sendo o humano: a falta de uso do capacete, a
condução irresponsável (uso de bebidas alcoólicas) e o desconhecimento das normas do
trânsito. Beber, conduzindo um veículo de duas rodas, é fatal. No entanto, as necropsias
continuam revelando a presença de álcool nos estômagos das vítimas, em grande parte
dos acidentes. Em outras, é a imprudência no guidom. Qual o motorista de automóvel,
ônibus, caminhonete ou caminhão que já não se assustou com as manobras altamente
imprudentes dos motoqueiros em pistas congestionadas ou de trânsito veloz? Eles surgem
de repente como se fossem criados do nada, e, no afã de cumprirem suas tarefas –
sobretudo os motoqueiros que fazem entregas –, realizam acrobacias inimagináveis.
A fiscalização – o clamor é geral – é deficiente. Os motociclistas sentem-se livres
para fazer o que bem querem. É precisa uma ação mais vigilante dos órgãos
responsáveis. Ela deve incluir maior pressão sobre as empresas que contratam serviços
de motoqueiros para entregas. É possível verificar a qualidade dos profissionais
contratados, se houver empenho dos órgãos encarregados da fiscalização.
O mesmo se diga dos serviços de mototáxis. Aqui, a exigência deve ser ainda
maior, tendo em vista a característica do serviço: o transporte de pessoas. Não é apenas
a vida do motoqueiro que está em jogo, mas também a do passageiro conduzido, que deve
ter todas as garantias de estar pagando um serviço monitorado pelo poder público.
(Diário do Nordeste)
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O Manifesto
É uma declaração pública dos fins que justificam um ato. Texto dissertativo-
-argumentativo de caráter reivindicatório.
Manifesto pela criação de novas áreas verdes em Fortaleza
Senhor Prefeito, nós estudantes de Arquitetura, por meio deste manifesto,
solicitamos que, com certa urgência, trabalhemos em conjunto com um só objetivo:
melhorar as condições de vida da nossa cidade, tornando-a mais sustentável e
arborizada. Isso poderá ser realizado com a construção de áreas verdes.
Observa-se, com muita frequência, que os espaços da cidade de Fortaleza estão
tomados por veículos particulares, os quais se encontram estacionados em locais que
impedem, por exemplo, o tráfego de pessoas, além de se constatar ainda que
determinados espaços, os quais poderiam ser utilizados para a construção de áreas
verdes, como os canteiros, deixam de existir, pois se ampliam as pistas e os retiram, o
que é um agravante à sustentabilidade ambiental.
Estamos cientes de que, se houvesse, um pouco mais de empenho da Prefeitura,
na urbanização de nossa cidade, Fortaleza, certamente, seria uma das melhores capitais
do Nordeste para se viver. Verifica-se que o problema não está na ausência de espaço,
mas no seu mau aproveitamento e na má vontade dos gestores municipais. Os binários,
com o objetivo de escoar o trânsito, apenas comprovam que a política de mobilidade está
equivocada, porquanto uma cidade ativa prima pelos espaços urbanos de forma
sustentável com mais áreas verdes e com a possibilidade de as pessoas se deslocarem a
pé.
Sabemos que, no quesito mobilidade urbana, ainda temos muito a fazer. No
entanto, mesmo ciente de que estamos longe de tornar Fortaleza uma cidade ativa, pelo
menos, busquemos oferecer à população fortalezense um pouco de bem-estar com a
construção planejada de áreas verdes. Para tanto, basta substituir os entornos de
determinados espaços públicos, como praças e prédios, os quais são utilizados para zona
azul, por plantas. Essa atitude mínima e realizável permitirá à população um
deslocamento mais seguro, pois transitar-se-á livremente sem a necessidade de disputar
espaços com os automóveis.
Por isso, senhor Prefeito, sem que haja a necessidade de maiores manifestações
da sociedade fortalezense, ante um direito que lhe apraz, seria de muito bom grado uma
rápida atitude nesse sentido com o propósito de permitir bem-estar à população e de
transformar nossa cidade em um ambiente mais agradável. Os estudantes de Arquitetura
estarão ao seu dispor para que juntos possamos transformar cidade em um ambiente
mais saudável.
Fortaleza, 25 de janeiro de 2020.
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O Verbete
Texto conceitual, produzido em bloco formal único (um só parágrafo), mesmo
tendo introdução (conceito do vocábulo), desenvolvimento (relações de causa e efeito,
manifestações, alusões históricas...) e conclusão.
Saudade
É um sentimento que prende o homem ao seu passado, rebuscando, no presente,
as recordações memoráveis que o fizeram feliz em uma determinada época, trazendo
para si as imagens nostálgicas que se manifestam, normalmente, quando se está mais
sensível aos acontecimentos do cotidiano.
Essa manifestação faz que se perceba a importância de sentir-se amado, apreciador e
orgulhoso do que foi, sem se entregar ao acúmulo de tarefas que não permitem reviver
tempos gloriosos. Por vezes, busca reconstituí-los a fim de se tornarem mais felizes, já
que foram inesquecíveis e prazerosos. A distância que separa o homem de seu passado é
primordial para o saudosismo que lhe é intrínseco. Ninguém é capaz de esquecer o que
fora e o que vivera. Momentos marcantes enaltecem o íntimo e fortalecem o indivíduo
para seguir o seu destino. A saudade, privilégio dos brasileiros enquanto vocábulo,
ameniza a angústia causada pelo tão conturbado e caótico momento em que se vive, e é
capaz de transportar o homem a um instante particular, proporcionando-lhe a satisfação
do que realmente fora.
(Peri Rosacampos)
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A Carta
É um texto escrito em prosa, cuja característica principal é a existência de um
emissor e de um receptor. Pode ser produzido tanto na forma narrativa quanto dissertativa.
O texto reflete as intenções do remetente ao destinatário. Possui uma estrutura específica.
Fortaleza, 28 de abril de 2005.
Prezado amigo,
Recordo-me que, no ano de 2004, precisamente no mês novembro, convidei-o
para vir passar o carnaval deste ano conosco. O meu objetivo e de alguns amigos era
irmos a Aracati. Fiquei deveras triste por ter escolhido visitar seu avô em Campos do
Jordão. Repassei a sua decisão a dois amigos nossos. Eles até ficaram decepcionados,
pois contavam com a sua presença. Em todo caso, compreenderam.
O carnaval deste ano, no entanto, amigo, ficará em minha memória por muito
tempo. Um acidente de trânsito modificou a vida de muitas famílias. Estávamos nos
dirigindo ao local da folia. Passamos por uma churrascaria. Bebemos um pouco, e, pelo
caminho, como a CE 040 estava muito congestionada, unimo-nos a outros foliões e
dividimos bebidas. O congestionamento, do trecho da cidade de Aquiraz ao Iguape,
durou pouco mais de duas horas. Havia muitos carros. Ao passarmos pelo Iguape, não
mais havia engarrafamento. No veículo, em ritmo de festa, ao som do Chiclete com
Banana, nós quatro dançávamos e brincávamos uns com os outros.
Naquela ocasião, tudo era alegria. Não nos demos conta do perigo iminente. A
velocidade era um grande estímulo. A bebida não nos deixava preocupados. O fato é que,
ao nos aproximarmos de Beberibe, Marlon, que guiava o veículo em alta velocidade,
perdeu o controle do automóvel, colidiu com um poste e despencou em um barranco,
capotando por várias vezes. Ele e a namora, a qual estava no banco carona, tiveram
morte imediata, o nosso amigo Célio ficou internado, mas infelizmente veio a óbito duas
semanas depois. Já eu fui lançado para fora do veículo e tive comprometimento na coluna
e algumas costelas quebradas. Encontro-me impossibilitado de andar. Segundo o
médico, pode ser que venha a me recuperar.
O carnaval deste ano foi marcado por acidentes automobilísticos jamais
registrados. As pessoas, assim como nós, não sabem ao certo o que é realmente divertir-
se. Se estivesse conosco, certamente teria sido uma vítima também.
Gostaria, amigo, de agradecê-lo por não ter honrado o nosso compromisso de
passarmos o carnaval de 2005 juntos.
Cordialmente,
,
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A Carta Aberta
É um texto de caráter argumentativo e tem como objetivo transmitir informações
de interesse coletivo. Normalmente utilizado como forma de protesto, de reivindicação
em benefício a uma comunidade ou grupo social.
Carta aberta à Secretaria de Agricultura do Estado do Ceará
A comunidade agrícola de Barreirinha vem demonstrar sua indignação diante da
falta de compromisso da Secretaria de Agricultura em não pôr em prática o que ficou
acordado entre os agricultores e a diretoria desta secretaria. Os recursos financeiros
para a aquisição de maquinaria e o incentivo à produção de mamona não são suficientes
para os agricultores assegurarem a produção.
Na reunião, datada de 20/06/2018, ficou a Secretária disponível a liberar, via
Bando do Nordeste, a quantia de 2 milhões de reais. O presidente da comunidade
agrícola de Barreira, ao verificar o repasse, achou por bem convocar-nos e apresentar
o valor disponibilizado, em torno de 800 mil reais. Todos os membros concordaram em
não fazer uso do valor, o qual foi bem inferior ao combinado.
No nosso entendimento, ao usarmos a quantia, não mais teríamos argumentos
para reivindicar outros valores. Acreditamos que o ideal seja a devolução da verba, pois
não atende às nossas necessidades.
Além disso, o objetivo da comunidade é produzir de forma significativa.
Queremos exportar mamona. Não nos cabe uma produção apenas para manter a
comunidade e a família de cada agricultor. A Secretaria está ciente disso. O Estado não
pode se omitir a tal investimento, considerado mínimo por nós, no entanto muito
significativo para o desenvolvimento do Ceará.
Esperamos que a Secretaria repense a nossa proposta, compreenda a nossa
atitude e possa realmente garantir o seu papel social. O que queremos é, tão somente, o
cumprimento do acordo.
Secretário da comunidade agrícola de Ribeirinha
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Marcelo Braga
Curso de Redação
Capítulo 2
Estudo do Texto Dissertativo
As causas da violência urbana
Se a violência é urbana, pode-se concluir que uma de suas causas é o próprio
espaço urbano? Os especialistas na questão afirmam que sim: nas periferias das cidades,
sejam grandes, médias ou pequenas, nas quais a presença do Poder Público é fraca, o
crime consegue instalar-se mais facilmente. São os chamados espaços segregados, áreas
urbanas em que a infraestrutura urbana de equipamentos e serviços (saneamento básico,
sistema viário, energia elétrica e iluminação pública, transporte, lazer, equipamentos
culturais, segurança pública e acesso à justiça) é precária ou insuficiente, e há baixa
oferta de postos de trabalho.
Esse e os demais fatores apontados pelos especialistas não são exclusivos do
Brasil, mas ocorrem em toda a América Latina, em intensidades diferentes. Não é a
pobreza que causa a violência. Se assim fosse, áreas extremamente pobres do Nordeste
não apresentariam, como apresentam, índices de violência muito menores do que aqueles
verificados em áreas como São Paulo, Rio de Janeiro e outras grandes cidades. E o país
estaria completamente desestruturado, caso toda a população de baixa renda ou que está
abaixo da linha de pobreza começasse a cometer crimes.
Outros dois fatores para o crescimento do crime são a impessoalidade das
relações nas grandes metrópoles e a desestruturação familiar. Esta última é causa
e também efeito. É causa porque sem laços familiares fortes, a probabilidade de uma
criança vir a cometer um crime na adolescência é maior. Mas a desestruturação de sua
família pode ter sido iniciada pelo assassinato do pai ou da mãe, ou de ambos.
No entanto, alguns especialistas afirmam que essa causa deve ser vista com
cautela. Desestrutura familiar, por exemplo, não quer dizer, necessariamente, ausência
de pai ou de mãe; ou modelo familiar alternativo. A desestrutura tem a ver com as
condições mínimas de afeto e convivência dentro da família, o que pode ocorrer em
qualquer modelo familiar.
Também não é o desemprego. Mas o desemprego de ingresso – quando o jovem
procura o primeiro emprego, objetivando sua inserção no mercado formal de trabalho,
e não obtém sucesso – tem relação direta com o aumento da violência, porque torna o
jovem mais vulnerável ao ingresso na criminalidade. Na verdade, o desemprego, ou o
subemprego, mexe com a autoestima do jovem e o faz pensar em outras formas de
conseguir espaço na sociedade, de ser, enfim, reconhecido.
Sem conseguir entrar no mercado de trabalho, recebendo um estímulo forte para
o consumo, sem modelos próximos que se contraponham ao que o crime organizado
oferece (o apoio, o sentimento de pertencer a um grupo, o poder que uma arma
representa, o prestígio), um indivíduo em formação torna-se mais vulnerável.
O crescimento do tráfico de drogas, por si só, é também fator relevante no
aumento de crimes violentos. As taxas de homicídio, por exemplo, são elevadas pelos
“acertos de conta”, chacinas e outras disputas entre traficantes rivais.
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Marcelo Braga
Curso de Redação
E, ainda, outro fator que infla o número de homicídios no Brasil é a disseminação
das armas de fogo, principalmente das armas leves. Discussões banais, como brigas
familiares, de bar e de trânsito, terminam em assassinato porque há uma arma de fogo
envolvida.
(Luís Antonio Francisco de Souza – sociólogo)
Ao lermos o texto acima, constatamos que estamos diante de um texto
dissertativo-argumentativo, porquanto se evidencia o posicionamento do autor acerca de
uma determinada temática. Para convencer o leitor de que seu ponto de vista se apresenta
lógico e coerente, utilizou-se de argumentos, com o propósito de oferecer ao leitor
credibilidade no que se afirma.
Entende-se por dissertação todo e qualquer texto, escrito em prosa, em que se
apresente uma análise acerca de uma determinada temática de forma parcial ou imparcial.
O Discurso dissertativo
O discurso dissertativo pode ser argumentativo ou expositivo.
a) Dissertativo-argumentativo – com a utilização de argumentos, de forma
parcial, o autor se propõe a defender um ponto de vista e a convencer o leitor
acerca de uma determinada temática.
b) Dissertativo-expositivo – de forma imparcial, sem apresentar posicionamentos
pessoais, o autor se propõe apenas a informar o leitor acerca de um
determinado assunto.
Dissertativo-argumentativo
A obsolescência programada
Em meados de 1920, a indústria de lâmpadas passou a perceber a necessidade de
reduzir o tempo de durabilidade de seus produtos, com a alegação de que, com essa
atitude, haveria uma redução do desemprego, porquanto as vendas aumentariam. Além
disso, movimentaria o capital, e todos ganhariam. Nesse sentido, surge a obsolescência
programada, cuja finalidade, nos dias atuais, se distancia da geração de emprego. Seu
foco se resume a incentivar o consumismo e garantir lucros a grandes empresas.
Com o propósito de alcançar seus objetivos: vender mais e lucrar mais ainda, a
indústria aliou-se à mídia e buscou adotar uma política de consumo baseada,
especialmente, na vulnerabilidade da população em relação à aquisição de produtos,
tornando-a dependente do consumo. Na maioria das vezes, a substituição de um produto
por outro se dá pelo simples fato de se querer adquirir um modelo mais novo, e não por
necessidade. Isso ocorre, com mais notoriedade, com eletrônicos e com automóveis, por
exemplo.
Esse ato, diferentemente da obsolescência programada, a qual se constitui por
uma limitação predeterminada do tempo de duração de mercadorias, faz surgir um novo
tipo de obsolescência: a psicológica, a qual conta com o apoio da mídia para incentivar
o consumidor a comprar um novo produto, mesmo que o anterior ainda esteja em perfeito
estado de funcionamento. Como afirmava George Orwell, “A massa mantém a marca, a
marca mantém a mídia e a mídia controla a massa.”
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Marcelo Braga
Curso de Redação
Com essa prática recorrente, é correto afirmar que as empresas ampliam os seus
negócios, a economia fica mais aquecida e as ofertas de emprego se acentuam. Em
contraposição, não se pode olvidar de seus malefícios como a dependência ao
consumismo, amplamente incentivado pela mídia, a qual compactua com a lógica
capitalista, idealizada sob a égide de que a felicidade do indivíduo está
proporcionalmente ligada ao seu poder de consumo.
Por conseguinte, percebe-se objetivamente que a finalidade da obsolescência
programada não é a geração de empregos, consequência apenas da ampliação de
indústrias e grandes empresas, as quais se beneficiam com essa prática, mas incentivar
o consumismo e poder auferir mais lucros.
(Peri Rosacampos)
Dissertativo-expositivo
O surgimento da chikungunya
A chikungunya é uma doença febril aguda, causada pelo vírus chikungunya
(CHIKV), que pode ser transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus.
Chikungunya significa “aqueles que se dobram” em um dos idiomas da Tanzânia. Trata-
se de uma referência à aparência curvada dos pacientes que foram atendidos na primeira
epidemia documentada no país, localizado no leste da África, entre 1952 e 1953.
Casos humanos com febre, erupção cutânea e artrite aparentando ser CHIKV
foram relatados no início de 1770, mas o vírus não havia sido isolado do soro humano
ou de mosquitos até a epidemia na Tanzânia.
Outros surtos ocorreram na África e na Ásia, muitos em pequenas comunidades
ou comunidades rurais. Na Ásia, cepas de CHIKV foram isoladas durante grandes surtos
urbanos em Bangkok e Tailândia em 1960 e em Calcutá e Vellore, na Índia, durante as
décadas de 60 e 70.
A atual epidemia se iniciou em 2004 na Ilha de Lamu, no Quênia, e desde então
está se espalhando pelas regiões do mundo onde se encontram os mosquitos vetores
competentes.
Com uma simples leitura dos dois textos, fica muito clara a diferença entre o texto
dissertativo-argumentativo e o texto dissertativo-expositivo. No primeiro, o autor se
propõe a apresentar ao leitor o seu posicionamento diante da obsolescência programada
e utiliza-se de argumentos com o objetivo de deixar claro que a obsolescência programada
acentua o consumismo e surge como uma característica do capitalismo, negando a ideia
inicial de geração de emprego. No segundo texto, a preocupação do autor é apenas
informar o surgimento da chikungunya (sua origem) e como se deu a sua epidemia.
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Marcelo Braga
Curso de Redação
O Dissertativo-argumentativo
Neste trabalho, priorizaremos o texto dissertativo-argumentativo, cuja estrutura assim
se apresenta:
a) Introdução – apresentação do tema proposto em que o autor expõe o seu ponto
de vista.
b) Desenvolvimento – explanação detalhada em defesa do ponto de vista, em relação
ao tema tratado, com argumentos convincentes capazes de convencer o leitor
acerca do que se afirma.
c) Conclusão – fechamento do texto com reforço ao processo argumentativo em
defesa do ponto de vista apresentado ou sugestões que possam ser viáveis à
solução de um determinado problema se assim for de desejo do produtor.
Posicione-se acerca do tema: para combater a violência infanto-juvenil, algumas
cidades adotaram o toque de recolher.
Introdução
O toque de recolher, medida judicial, aplicada em algumas cidades interioranas,
configura ato ilegal do Poder Público, porquanto fere princípios constitucionais e invade
liberdades individuais, materializando atuação abusiva da administração pública.
Desenvolvimento
Essa atuação excessiva é verificada em razão de que o ato do juiz, decretando o
recolhimento de crianças e adolescentes, a partir de determinado período noturno,
caracteriza afronta ao princípio constitucional da separação dos poderes, idealizado por
Montesquieu, os quais se apresentam harmônicos e independentes entre si. Essa atitude
imiscui o Poder Judiciário, ilicitamente, na atividade legislativa, a qual é exclusiva do
Poder Legislativo.
Tal ingerência se confirma, porque a decisão judicial, em comento, configura-se
pela abstração e generalidade, características dos atos legislativos. Além disso, inova na
ordem jurídica, prevendo limitação a direitos individuais, como a liberdade de
locomoção, insculpidos no artigo 5º da Constituição Federal. É correto afirmar que há
defensores do toque de recolher, os quais procuram justificar a decisão com dados
estatísticos que apontam a diminuição da delinquência nas cidades onde a medida foi
implementada. Isso, todavia, não é o bastante para tornar a decisão legítima.
Conclusão
Por conseguinte, percebe-se que essa medida está em descompasso com nosso
ordenamento jurídico. O que se deve fazer, para reduzir a violência infanto-juvenil, é o
Poder Judiciário, de acordo com as suas atribuições, elaborar projetos de leis, cujo
objetivo seja a obrigatoriedade de todas as crianças e adolescentes frequentarem a
escola em tempo integral, na qual se trabalhe o lado acadêmico e social, com atividades
esportivas, musicais, teatrais e cursos específicos, os quais possam despertar neles o
interesse pela escola.
(Ana Gabriela)
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Marcelo Braga
Curso de Redação
Exercitando a produção
1. Utilizando-se do parágrafo introdutório, responda ao que se pede:
a) Reescreva a passagem em que o autor expõe o seu ponto de vista
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b) Reescreva a passagem em que o autor apresenta o tema proposto
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2. Utilizando-se do desenvolvimento, responda ao que se pede:
a) Retire do segundo e do terceiro parágrafos do texto, pelo menos, uma
passagem que reforça o ponto de vista do autor.
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b) Retire do segundo e do terceiro parágrafo do texto, pelo menos, uma passagem
que possa oferecer ao leitor credibilidade em defesa do ponto de vista do autor.
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3. Utilizando-se do parágrafo conclusivo, responda ao que se pede:
a) O autor optou por reforçar o processo argumentativo ou por apresentar
sugestões que possam amenizar o problema? Retire passagens do parágrafo
conclusivo que possam embasar a sua afirmação.
b) O autor faz uso de determinados elementos para ligar os parágrafos de forma
a manter uma dependência entre eles. Reescreva as passagens em que se
registra a ligação entre os parágrafos.
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Marcelo Braga
Curso de Redação
Capítulo 3
Estudo do Texto Dissertativo-argumentativo no Enem
Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet
O atual estágio da globalização, tão defendido pelo geólogo Milton Santos, como
sendo o da revolução técnico-científico-informacional, é caracterizado pela expansão
dos meios de comunicação. Dentre esses, destaca-se a internet que, nas últimas décadas,
vem se tornando cada vez mais presente no cotidiano dos brasileiros. Das redes sociais
às plataformas digitais de serviços, o que o usuário vê e ouve é determinado por análises
prévias de seus dados pessoais. Nesse contexto, o crescente controle do indivíduo por tal
processo é uma discussão ainda pouco feita no Brasil.
Para ilustrar tal quadro, podem-se citar dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) que mostram que, em 2016, mais da metade da população
brasileira, com idade acima de 10 anos, já havia usado a internet. Nota-se assim a
crescente presença da rede virtual nas ações e nas escolhas individuais do povo. A
manipulação, nesse caso, ocorre através da análise de dados de perfis online ou de
entrevistas feitas previamente por prestadoras de serviços, como a Netflix e o Youtube,
que conseguem assim personalizar suas funções. Apesar da facilidade, concedida nesse
processo, ao acesso ao conteúdo desejado, tal personalização forçada acaba limitando
a escolha dos usuários, tirando-lhes as possibilidades de novas experiências e, por
conseguinte, criarem um gosto próprio.
Dessa maneira, pode-se dizer que há uma quebra do princípio de livre expressão
prescrito pela Constituição de 88, haja vista as escolhas dos indivíduos não mais serem
feitas conscientemente, passando a ser determinadas por algoritmos utilizados pela
internet para a escolha do conteúdo analisado. Cria-se assim uma “ilusão de liberdade”,
tal como citado no livro “O gosto na era do algoritmo” de Daniel Verdú.
Dessa forma, cabe ao Governo Federal exigir uma maior transparência dos meios
usados pelas plataformas de serviços para a individualização dos conteúdos
disponibilizados com o fito de tornar mais evidente tal influência nas escolhas e ações
pessoais dos usuários e, assim, tornar mais fácil uma resistência à tão sutil e danosa
manipulação da livre expressão. Isso poderá ser feito através da aplicação das normas
de integridade psicológica, já prevista no Marco Civil da Internet bem como pela
exigência de explicação sobre a necessidade de coleta de dados pessoais com avisos
prévios aos compradores dos serviços.
(Aluno Bruno Henrique Alcântara)
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Marcelo Braga
Curso de Redação
O texto que inicia o capítulo 4 foi tema da redação do Enem de 2018. O nosso
aluno Bruno Henrique, autor do texto, conquistou, nesta prova, 960 pontos, recendo a
pontuação máxima, coerentemente, nas Competências 2, 3, 4 e 5, sendo apenado apenas
na Competência 1, pois cometeu alguns erros de ordem gramatical. Esses erros foram
corrigidos, mas passarei a vocês. Vamos a eles: na primeira linha do segundo parágrafo,
erro de concordância “pode-se citar os dados” (podem-se citar os dados); na penúltima
linha, erro de regência em “tirando-os”, o correto seria tirando-lhes e erro de acento em
“experiencia” (experiência). No terceiro parágrafo, na segunda linha, fez uso indevido da
expressão “haja vista que” (essa forma não existe), o correto seria haja vista ou então
substituir a expressão pela locução conjuntiva visto que. No parágrafo conclusivo, na
quarta linha, acentuou indevidamente o vocábulo “sútil” (sutil), a escrita correta seria sem
acento sutil.
A Dissertação e as Competências
O Exame Nacional do Ensino Médio exige dos vestibulandos um conhecimento
do texto dissertativo-argumentativo, no qual o candidato irá se posicionar diante de uma
temática e organizar o seu processo argumentativo em defesa de um ponto de vista. Além
disso, deverá ainda apresentar soluções viáveis para a proposta apresentada. Como
critério de correção, a instituição faz uso de cinco Competências.
As Competências
A Prova de Redação do Enem será avaliada consoante as exigências presentes nas
cinco competências, norteadoras para a pontuação do candidato.
Competência 1
Nessa competência, deverá o estudante ter um amplo conhecimento acerca do
código linguístico (domínio idiomático e vocabular)
Competência 2
Nessa competência, dois aspectos serão analisados: um de ordem estrutural, o qual
exigirá do estudante o conhecimento acerca da tipologia dissertativo-argumentativo;
outro de ordem conteudística, o qual exigirá do estudante um desenvolvimento adequado,
direcionado ao eixo temático, demonstrando um amplo conhecimento, por meio de um
repertório sociocultural produtivo. Para isso, é imprescindível que o produtor aborde
várias áreas do conhecimento com o objetivo de garantir um bom processo argumentativo
em defesa do ponto de vista.
Competência 3
Nessa competência, caberá ao estudante, por meio de uma seleção adequada de
informações, selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões
e argumentos em defesa de um ponto de vista.
Competência 4
Nessa competência, o produtor deverá demonstrar um amplo conhecimento dos
mecanismos linguísticos (recursos de coesão), necessários para a articulação do processo
argumentativo. A articulação torna-se essencial para um bom entendimento do texto.
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Marcelo Braga
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Competência 5
Nessa competência, o estudante deverá apresentar uma proposta de solução
(proposta de intervenção), a qual seja viável. É importante que a proposta esteja bem
relacionada com a discussão desenvolvida no texto.
A Estrutura da Dissertação no Enem
O texto dissertativo assim deve ser estruturado:
• Introdução
• Desenvolvimento
• Conclusão
a) Introdução - Consiste na apresentação adequada da temática, preparando o produtor
para o desenvolvimento do texto. Em textos argumentativos, torna-se essencial a presença
do ponto de vista (tese) já no parágrafo introdutório.
b) Desenvolvimento - Consiste na explanação, de forma concisa e contextualizada, da
temática abordada, por meio de argumentos convincentes, os quais, para se atingir a
defesa do ponto de vista de forma satisfatória, devem vir sempre bem fundamentados.
c) Conclusão - No parágrafo conclusivo, poderá o produtor reforçar o seu
posicionamento diante da temática, como uma retomada ao processo argumentativo;
elaborar sugestões; ou apenas apresentar mais uma informação, a qual considere relevante
para assim concluir o seu pensamento.
Observação - Na redação do ENEM, normalmente usa-se o parágrafo conclusivo para
apresentar a proposta de intervenção.
A proposta de intervenção deve ser composta por:
a) ação interventiva – o que fazer
b) agente(s) – quem fazer
c) a maneira de execução (modo / meio) – como fazer
d) objetivo da ação – para que fazer
e) detalhamento – acréscimo de informação à ação interativa, ao agente ou ao modo de
execução.
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Marcelo Braga
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Texto para análise
Democratização do acesso ao cinema no Brasil
O acesso ao cinema no Brasil, como forma de lazer ou de engrandecimento
cultural e intelectual, apresenta-se como fundamental, uma vez que esse tipo de arte
possibilita, inclusive para as camadas sociais menos favorecidas, a maior compreensão
do mundo como um todo, haja vista abranger temas incontáveis, os quais podem, até
mesmo, ter um caráter conscientizador. Entretanto, grande parte da população,
especialmente os indivíduos residentes das áreas interioranas e os pertencentes às
classes sociais mais baixas, ainda não tem contato com essa realidade artística, o que
suscita a necessidade de sua maior democratização.
Esse ponto de vista pode ser confirmado se observada a incidência de cinemas
nas cidades brasileiras. É nítida a concentração dessa plataforma artística nos grandes
centros urbanos em detrimento das cidades do interior, as quais raramente possuem
acesso a salas de projeção. Isso faz com que a parcela dos cidadãos que residem nessas
áreas seja impedida de conhecer esse “universo” cinematográfico, que é tão grande e
repleto de histórias, as quais possuem tanto caráter de lazer, como os romances e as
comédias, quanto fins educativos e conscientizadores, o que é o caso dos documentários
de ciências. Diante disso, é perceptível que a massificação cultural, proposta pela Escola
de Frankfurt, que proporcionaria a democratização da arte, segundo Walter Benjamin,
na verdade é só uma ilusão, já que nem todos os indivíduos foram inseridos nesse
processo.
Além disso, é visível que, até mesmo nos centros urbanos, essa forma de arte ainda
possui características segregacionistas, porquanto, se analisados os preços dos
ingressos nos cinemas brasileiros, será fácil perceber que os valores são altos e, por
conta disso, as camadas menos favorecidas da população raramente poderão ter acesso
a sessões de filmes. Essa situação é realmente preocupante, visto que limita e elitiza uma
plataforma artística, consagrando, ainda mais, os problemas sociais brasileiros, haja
vista favorecer a criação de uma “barreira” intransponível entre os setores da
sociedade, permitindo apenas a alguns o alcance do conhecimento oriundo dessa fonte.
Tal contexto pode, também, ser sintetizado pelo que afirmava o sociólogo Jean-Paul
Sartre, o qual acreditava que qualquer forma de violência, independente da maneira com
a qual ela se manifestasse, seria sempre uma derrota. Logo, não contribuir com essa
democratização é concretizar uma realidade desigual e injusta.
Por conseguinte, com o propósito de favorecer a democratização do acesso ao
cinema no Brasil, faz-se necessário que o Estado promova a criação de projetos os quais
tenham como objetivo efetivar o contato da população com essa forma de arte. Isso
poderá ser feito por meio da construção de salas de cinema, tanto em cidades do interior
quanto em bairros de maior incidência de indivíduos pobres, as quais serão feitas de
modo acessível, com um preço baixo. Dessa forma, os conhecimentos culturais e
intelectuais, além do lazer proporcionado por essa plataforma artística, serão efetivos,
com sucesso, no contexto social.
(Aluna Larissa Ciarlini)
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Curso de Redação
Exercitando a produção
Para responder às questões que seguem, utilizaremos o texto da aluna Larissa Ciarlini.
1. O parágrafo introdutório deve conter informações que induzam o leitor a perceber
qual o assunto será abordado e deve também conter o ponto de vista do autor.
Diante dessa afirmação, responda aos itens abaixo:
a) Retire do parágrafo passagens que possibilitem o leitor a compreender o
assunto a ser tratado.
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b) Reescreva a passagem em que se verifica o posicionamento do autor.
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2. Utilizando os parágrafos de desenvolvimento, responda ao que se pede.
a) No segundo e no terceiro parágrafos do texto, verifica-se que há, por parte do
autor, passagens de caráter autoral, utilizadas para a defesa do ponto de vista,
retire de cada parágrafo, pelo menos, duas passagens.
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b) Com o objetivo de oferecer maior credibilidade ao leitor, a autora se utilizou
de recursos argumentativos, dentre eles o de autoridade ao mencionar
determinados teóricos. Reescreva as passagens em que há essa menção.
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3. No parágrafo conclusivo, a autora atendeu a exigência da instituição apresentando
os quatro elementos (agente, ação, modo/meio, resultado – finalidade) além do
detalhamento. Diante disso, responda ao que se pede.
a) Reescreva a passagem em que se visualizem o agente e a ação
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Curso de Redação
b) Reescreva a passagem em que se visualiza o modo/meio
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c) Reescreva a passagem em que se visualiza a finalidade como resultado da ação
interventiva
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d) Reescreva a passagem em que se comprova o detalhamento
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4. Quanto ao uso dos recursos de coesão, responda aos itens a seguir:
a) Destaque os elementos utilizados para ligar um parágrafo ao outro
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b) Utilizando-se dos parágrafos de desenvolvimento, retire passagens com a
presença de pronomes que substituem o termo anterior ou que fazem
referência a uma ideia anterior.
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c) Ainda, fazendo uso dos parágrafos de desenvolvimento, destaque três
conectores que ligam uma oração a outra. Reescreva-as.
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Curso de Redação
Capítulo 4
Estudo da Introdução
Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil
Nas décadas de 80 e 90, a proposta de inclusão de alunos com necessidades
educacionais especiais surge como um avanço social e inovador, no entanto o número
de alunos com deficiência nas escolas, especialmente os que possuíam restrição auditiva,
era insignificante em relação à demanda. Na maioria das vezes, não frequentavam a
escola, e, quando a frequentavam, não recebiam uma atenção especial, haja vista não
haver uma preparação das instituições de ensino para recebê-los e garantir-lhes uma
educação de qualidade. Tinham, na verdade, que frequentar escolas específicas para
surdos-mudos, as quais não atendiam a demanda.
Nos dias atuais, embora a Constituição Federal estabeleça que todo cidadão tem
o direito ao acesso à educação, independentemente de sua condição física ou mental, o
processo de inclusão se apresenta ainda como um grande desafio, porquanto boa parte
das escolas brasileiras, por serem tradicionais, não dispõe de professores e gestores
capacitados para lidar com portadores de deficiência auditiva. Isso é facilmente
comprovado quando se verifica o ínfimo número de profissionais com conhecimento em
Libras. Em geral, os que têm esse domínio trabalham em escolas específicas para surdos-
mudos.
Em virtude disso, a exclusão se acentua. Pelo fato de as escolas não estarem
munidas de recursos humanos para lidar com essas pessoas, o que constitui uma afronta
aos direitos constitucionais, a possibilidade de ter acesso a uma universidade se reduz.
Como consequência, o ingresso no mercado de trabalho, com um emprego digno, se
torna quase impossível. Os que conseguem uma formação universitária são
considerados heróis. Infelizmente no Brasil constitui-se ato de heroísmo um deficiente
auditivo concluir o nível superior.
Como se não bastasse, há ainda o preconceito do qual são vítimas. Não é
incomum, em supermercados, por exemplo, ficarmos sem saber o que fazer quando
estamos diante de um funcionário com deficiência auditiva. De imediato, fugimos de um
possível diálogo gestual do qual não temos domínio. Além disso, pode-se também
verificar o descaso a que estão submetidos, quando procuram um atendimento em bancos
ou em qualquer outra instituição, pois não dispõem de pessoas qualificadas para prestar-
lhes um atendimento adequado. Isso ocorre porque não há uma preocupação em difundir
a língua dos sinais.
Essa situação, portanto, deixa muito clara a ideia de que a inclusão social, para
poder se concretizar, precisa percorrer um imenso caminho. Daí a necessidade de o
Governo Federal, por meio de cursos de extensão, promover a capacitação de
professores, pedagogos e gestores no ensino de Libras, cujo objetivo não se restrinja
somente à facilitação em repassar um determinado conteúdo, mas a propagá-la aos
demais alunos, tornando-a acessível a todos.
(Peri Rosacampos)
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Marcelo Braga
Curso de Redação
Introdução
Compreendamos a introdução de um texto dissertativo-argumentativo como uma
apresentação do tema abordado e como uma preparação do leitor para o desenvolvimento,
em que o produtor, de forma clara e concisa, expõe o seu ponto de vista acerca do assunto
tratado. A introdução deve nortear o leitor e atraí-lo para uma leitura satisfatória.
Não se deve imaginá-la como um resumo ou como um amontoado de argumentos
os quais serão sequencialmente desenvolvidos nos parágrafos de posteriores, mas como
uma apresentação. O parágrafo introdutório deve ter início, meio e fim.
No Enem, é fundamental o produtor apresentar, no parágrafo introdutório, o seu
ponto de vista (tese).
Possibilidades de introdução
O produtor de um texto deve ter o conhecimento das diversas maneiras de elaborar
o parágrafo introdutório. É imprescindível a compreensão de que a introdução dependerá
do tema proposto, logo, de acordo com o tema, caberá ao produtor verificar o melhor
caminho para preparar o seu parágrafo introdutório.
Dentre as diversas maneiras de introduzir um texto, apresentarei quatro
possibilidades distintas:
a) Alusão história
b) Citação
c) Declaração
d) Palavra-chave (afirmação + justificativa + conclusão)
a) Alusão histórica
O autor se utiliza de um fato histórico o qual possa ser relacionado com a
ideia temática a ser bordada
Camarotização da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a
democracia
Com a redemocratização do país, após o fim da Ditatura Militar em 1984,
acreditou-se no fim das desigualdades sociais, econômicas e culturais, ideia
reforçada com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a qual preconiza
direitos iguais a todos os cidadãos brasileiros. No entanto, nos dias atuais,
percebe-se claramente que a segregação das classes não só se mantém como
também acentuou especialmente quando a população mais carente passou a ter
acesso a bens e consumo e a ocupar determinados espaços antes inacessíveis.
29
Marcelo Braga
Curso de Redação
b) Citação
O produto, diante da temática apresentada, se utiliza do pensamento de um
teórico, filósofo, escritor, ou até mesmo de uma obra literária.
O altruísmo e o pensamento a longo prazo ainda têm lugar no
mundo contemporâneo?
Segundo o pensamento de Augusto Comte, filósofo francês, o homem
altruísta age de modo a conciliar sua satisfação com o bem-estar de seus
semelhantes. Na verdade, essa ideia positivista se contrapõe ao egoísmo, o qual,
na sociedade contemporânea, se faz tão presente, a ponto de não se valorizar o
pensamento a longo prazo, já que não se visualize o ideal futuro, mas apenas o
presente e seus possíveis benefícios que dele se pode tirar proveito.
c) Declaração
O produtor se utiliza de uma afirmação de caráter geral a qual possa ser
relacionada com a ideia presente na temática abordada.
As utopias: indispensáveis, inúteis ou nocivas?
Imaginar a utopia como inútil e nociva é abdicar da realização de anseios
e sonhos. Na verdade, as pessoas devem cultuá-la com o propósito de conduzirem
suas vidas na certeza de que conquistarão seus objetivos independentemente dos
óbices a serem enfrentados. O inacessível jamais será imaginado, por
conseguinte toda e qualquer ideia poderá ser concretizada.
d) Palavra-chave
Para combater a violência infanto-juvenil, algumas cidades adotaram o
toque de recolher. Posicione-se acerca da temática
O toque de recolher, medida judicial, aplicada em algumas cidades
interioranas, configura ato ilegal do Poder Público, porquanto fere princípios
constitucionais e invade liberdades individuais, materializando atuação abusiva
da administração pública.
e) Palavra-chave (segunda possibilidade)
O toque de recolher, medida judicial, aplicada em algumas cidades
interioranas, configura ato ilegal do Poder Público. Isso se comprova por ferir
princípios constitucionais e invadir liberdades individuais. Na verdade, essa
prática materializa uma atuação abusiva da administração pública.
30
Marcelo Braga
Curso de Redação
Exercitando o parágrafo introdutório
1. De acordo com os temas abaixo, produza introduções para cada tema:
Tema 1
O sistema prisional brasileiro e o desafio de ressocialização do preso
a) Introdução por meio de da palavra-chave
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b) Introdução por meio de alusão histórica
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c) Introdução por meio de citação
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d) Introdução por meio de declaração
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Marcelo Braga
Curso de Redação
Tema 2
A preservação do patrimônio imaterial: respeito à cultura nacional
a) Introdução por meio da palavra-chave
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b) Introdução por meio de alusão histórica
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c) Introdução por meio de citação
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d) Introdução por meio de declaração
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Curso de Redação
Capítulo 5
Estudo do Desenvolvimento
Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet
Dentre os princípios constitucionais invioláveis, há três que merecem destaque,
quando se põem em questão os direitos individuais como a dignidade da pessoa humana,
o direito à liberdade de expressão e o respeito à privacidade. A despeito de todo avanço
tecnológico, o que não se contesta a sua importância no dia a dia da sociedade
contemporânea, o processo democrático jamais poderá ser tolhido por aplicativos cuja
função primeira seja a de coletar dados de quem faz uso da internet para, por exemplo,
realizar uma pesquisa, para postar em uma rede social um comentário, uma foto ou tão
somente compartilhar uma publicação.
Essas práticas corriqueiras, aparentemente inofensivas, do ponto de vista de
quem acessa a internet, apresentam-se, na atualidade, como um grande risco ao qual
todos nós, usuários da rede mundial de computadores, estamos sujeito. Isso porque
algumas empresas do ramo da tecnologia gastam horas e horas estudando e criando
algoritmos capazes de detectar, além de códigos utilizados no momento de acesso a uma
determinada plataforma, os nossos anseios, gostos, opções e opiniões. Doa-se a elas, sem
saber, o direito de utilizarem as informações colhidas da maneira como melhor lhes
convier. Isso nos faz crer na necessidade de haver punições por parte das instituições
para não incorrer na passividade diante de tais atos. O erro, por vezes, não deve, como
dizia o Imperador Marco Aurélio, ser atribuído somente a quem o faz, mas a quem deixa
de fazer alguma coisa.
Diante dessa afirmação, analisando por um prisma diferente do que acreditam
ou defendem empresas como Facebook, Instagram e outras tantas, as quais afirmam não
ter o domínio sobre os internautas, fica apenas a certeza de que o usuário, caso nada
seja feito, estará sempre em grande desvantagem e sem ter a quem reclamar os seus
direitos violados. Do ponto de vista legal, qualquer pessoa que desrespeite um direito
constitucional, seja ele individual, seja ele coletivo, sofrerá sanções por tal afronta. Não
se compreende por qual motivo empresas que violam direitos como a livre expressão e a
privacidade não são apenadas com o rigor da lei. Pior que desrespeitarem tais direitos
é ferir o princípio maior: a dignidade da pessoa humana.
Por conseguinte, para se evitar a continuidade do controle de dados na internet
e a afronta aos princípios constitucionais, torna-se imprescindível que o Poder
Judiciário, órgão responsável pela proteção e defesa do cidadão, com o apoio do serviço
de inteligência da Polícia Federal, identifique e puna empresas que, erroneamente, se
utilizam de dados pessoais em benefício próprio. Isso poderá ser facilmente concretizado
por meio da criação de algoritmos, os quais possam bloquear o acesso aos dados dos
usuários sem que haja autorização.
(Peri Rosacampos)
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Marcelo Braga
Curso de Redação
Desenvolvimento
O desenvolvimento de um texto dissertativo-argumentativo consiste no
detalhamento das informações com o uso adequado de argumentos convincentes,
essenciais para reforçar o posicionamento diante da temática apresentada, cujo objetivo é
a defesa do ponto de vista. Ao desenvolvermos um texto, devemos estar cientes de que a
coerência (manutenção da ideia de sentido, sequência lógica de pensamento), a
informatividade, a progressão textual e temática, a capacidade argumentativa e a
fundamentação teórica são componentes indispensáveis para um bom desenvolvimento.
Na redação do Enem, para um bom desenvolvimento do texto, devemos nos ater,
especialmente, às competências 2 e 3, as quais exigem do candidato, além do
conhecimento da tipologia dissertativo-argumentativa, um bom processo argumentativo
e uma visão ampla do tema em questão.
Competências 2 e 3
Para se conseguir a nota máxima de 200 pontos na competência 2, torna-se
essencial que o produtor:
a) Atenda ao tema e à tipologia textual.
b) Demonstre conhecimentos de outras áreas (repertório sociocultural
produtivo).
c) Prime por uma argumentação consistente capaz de oferecer ao leitor uma
garantia do que se afirma.
Para conseguir se a nota máxima de 200 pontos na competência 3, torna-se
essencial que o produtor:
a) Saiba relacionar adequadamente os fatos e opiniões ao tema proposto, sem
tangenciar.
b) Selecione corretamente as informações conforme o tema proposto.
c) Ofereça ao texto um caráter autoral.
d) Prime pela informatividade, fugindo do senso comum.
É importante percebermos que as Competências 2 e 3, embora se complementem,
são distintas. Isso quer dizer que poderá o candidato conseguir, por exemplo, 200 pontos
na Competência 2 e 160 pontos na Competência 3 ou vice-versa. Qual, então, a principal
diferença? A Competência 2 atenderá ao processo argumentativo, à informatividade, ao
uso de outras áreas do conhecimento. A Competência 3 atenderá à ampliação da
fundamentação, a qual se dará com informações de caráter autoral, estabelecendo uma
relação com o processo argumentativo e com as diversas áreas do conhecimento.
Não deve o candidato, na tentativa de demonstrar o conhecimento de outras áreas,
desprezar o caráter autoral. O texto dissertativo-argumentativo exige do candidato um
ponto de vista definido acerca de uma determinada temática e a defesa desse
posicionamento. Para que se possa defender o ponto de vista de forma satisfatória, há a
necessidade de o produtor convencer o leitor quanto às suas afirmações. Isso se dará com
a utilização de um bom processo argumentativo.
34
Marcelo Braga
Curso de Redação
Para uma melhor compreensão das Competências 2 e 3, leiamos o texto do nosso
aluno Gabriel, o qual conquistou, na prova de Redação do Enem de 2018, 960 pontos. Eis
a distribuição dos pontos: Competência 180; Competência 2 200; Competência 3 200,
Competência 4 200 e Competência 5 180.
Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na
internet
Com o advento da Terceira Revolução Industrial – a qual ampliou o acesso aos
meios de comunicação –, o envolvimento com o ambiente digital foi possibilitado,
sobretudo após a criação das redes sociais. Entretanto, hodiernamente, esse
desenvolvimento tem levado inúmeros civis a se expor em demasia e, com isso, a
manipulação do comportamento deles tem sido facilitada, visto que, com o controle dos
dados dos usuários, os meios informacionais limitam e alienam as pessoas, fato que
revela a urgência de ações sociais governamentais a fim de arrefecer essa situação
inoportuna.
Diante dessa afirmação, convém enaltecer que, consoante as ideias dos
pensadores da escola de Frankfurt – Theodor Adorno e Max Horkheimer –, o
desenvolvimento da mídia digital, associado à escassez de senso crítico de vários
indivíduos, é deveras prejudicial ao seio social, porquanto o comportamento, bem como
os pensamentos e as ações das pessoas serão manipulados, tendendo a formar uma
sociedade insipiente e padrões que hão de suprir a diversidade cultural e sociocultural
da nação. Isso se tornou explícito, a título de ilustração, no processo eleitoral brasileiro
de 2018, uma vez que, em virtude da expressividade das redes sociais, notadamente do
“Facebook” e do “WhatsApp”, no tocante à difusão de opiniões e de notícias, as quais,
normalmente, se limitavam alguns extremos ideológicos, ocorreu uma polarização e uma
atenuação do acesso a todas as informações, culminando em um quadro de pura
alienação e de intolerância.
Além disso, é pertinente destacar que a manipulação das ações dos usuários da
rede mundial de computadores não só deixa os indivíduos absortos ao meio, como
também potencializa comportamentos egocêntricos e consumistas, os quais ampliam, por
exemplo, a produção de um lixo eletrônico e a disseminação de padrões sociais. Então,
tal realidade ratifica os pensamentos do sociólogo Zygmunt Bauman, haja vista esse
teórico afirmar que as marcas da sociedade pós-moderna são o individualismo e
consumismo, comportamentos, cujo resultado é a manipulação dos atos e dos desejos
individuais e a formação de um povo submisso às normas da internet.
Urge, portanto, que ações sejam efetivadas, visando a limitar a manipulação dos
usuários do meio digital. Para tanto, faz-se mister que a União aumente os investimentos
no Ministério da Educação para que este amplie o número de aulas de filosofia – com o
fito de potencializar as capacidades críticas dos infantes –, com o escopo de formar uma
cultura indagadora e, assim, prevenir aquilo que Adorno e Horkheimer preconizaram.
Ademais, seria proveitoso que as famílias mitigassem a exposição no âmbito digital, por
meio do cuidado com seus dados e da minoração do uso de aplicativos virtuais.
(Gabriel Mesquita – aluno)
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Marcelo Braga
Curso de Redação
Ao lermos o texto do aluno Gabriel, verificamos que se utilizou de alguns recursos
essenciais para tornar o texto agradável ao leitor. As informações apresentadas no texto
mantêm uma sequência lógica de pensamento e asseguram uma argumentação coerente
em relação ao que se afirma. Verifica-se ainda uma excelente progressão textual e um
bom grau de informatividade. Em nenhum momento, observou-se, no texto, passagens
desconexas. Todas as informações se apresentam bem entrelaçadas, mantendo a ideia de
sentido e sempre relacionada com o tema proposto.
Vamos agora compreender alguns desses recursos essenciais para uma boa
produção textual.
Tipos de Argumentos
Vejamos alguns argumentos que possam oferecer ao leitor uma credibilidade
acerca do que se afirma.
a) Argumento de autoridade – citação de um teórico, filósofo, obra literária ...
b) Argumento de comprovação – dados estatísticos, percentuais, citação de artigos de
leis, apresentação de fatos concretos ...
c) Argumento por exemplificação – apresentar exemplos que possam ilustrar o que se
afirma.
d) Argumento por analogia – apresentar comparações de situações hipotéticas ou
verdadeiras com a realidade atual.
e) Argumento por causa e efeito – apresentar relações de causa e efeito.
Argumento de autoridade
Diante dessa afirmação, o interesse coletivo parece não fazer a menor diferença.
A preocupação da sociedade hodierna concentra-se apenas em possíveis ganhos ou
perdas individuais, sendo cada um responsável por si. Contrariando o contexto atual,
Augusto Comte afirma que toda educação humana deve levar cada um a viver pelos
outros. Como seria importante se vivenciássemos esse pensamento altruísta. Certamente,
o Estado não se apresentaria como um elemento neutro, de cujas responsabilidades se
exime.
Argumento de comprovação
Vale salientar que, segundo o Mapa da Exclusão Educacional, 1,4 milhão de
crianças brasileiras, na faixa etária de 7 a 14 anos, encontra-se fora da escola. Isso se
dá por diversos fatores como a discriminação racial, a gravidez na adolescência, a
pobreza, o trabalho infantil, o conteúdo distante da realidade do aluno e até mesmo a
desvalorização do profissional da educação.
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Marcelo Braga
Curso de Redação
Argumento por exemplificação
Baseados nesse desrespeito, não foram isolados os casos em que as pessoas
tiveram suas vidas ceifadas devido a boatos e a exposições íntimas na internet. Como
exemplo, pode-se citar o caso de uma senhora, em Guarujá, vítima de espancamento,
indo a óbito dois dias depois, por ter sido confundida com uma outra mulher que, segundo
comentários, praticava magia negra com crianças. Tal fato ocorreu após a exposição de
uma foto nas redes sociais. Além disso, há ainda relatos de jovens terem praticado o
suicídio, por não conseguirem conviver com a humilhação, ocasionada por difamações
e exposição de fotos íntimas.
Argumento por analogia
No Brasil, esse sentimento aflora de forma muito diferente do que ocorreu, por
exemplo, na Alemanha nazista e na África do Sul, embora o processo de segregação seja
o mesmo. Nesses países, a separação se dava por uma questão étnica. Aqui o motivo para
a existência da segregação é simplesmente o poder aquisitivo e a ocupação de espaço
urbano, o qual se apresenta, atualmente, dividido em dois blocos, sendo o primeiro
representado pela classe mais abastada; o segundo, por pessoas que conseguiram
melhorar um pouco a sua condição financeira e vislumbrar uma possível ascensão social.
Argumento por causa e efeito
O sentimento de superioridade, a ausência de uma educação sólida e o
desrespeito ao próximo são fatores, os quais contribuem, sobremaneira, para a prática
de atos de intolerância, tão presentes na sociedade brasileira. Daí, surgem o crescimento
da violência, a banalização da vida e as constantes desavenças étnicas e religiosas.
Coerência
A coerência deve ser entendida como uma unidade do texto. Um texto coerente é
um conjunto harmônico, em que todas as partes se encaixam de maneira complementar
de modo que não haja nada destoante, ilógico, contraditório, desconexo. Em um texto
coerente, não há nenhuma parte que não se solidarize com as demais. Diz-se que um
texto é coerente quando se observa, além da sequência lógica do pensamento, a
manutenção da ideia de sentido.
Exemplo de texto incoerente
A cultura machista e a ideia de superioridade masculina impedem a percepção
de que, no contexto atual, homens e mulheres se encontram no mesmo patamar de
igualdade, o que evidencia a necessidade de respeito mútuo.
Deve-se levar em consideração que o princípio maior de nossa Constituição é a
proteção à vida. Diante disso, fica clara a ideia de que qualquer ato de intolerância
religiosa, por exemplo, fere princípios constitucionais, sendo, pois, necessária uma
punição mais rigorosa.
A informação apresentada no segundo parágrafo não condiz com a do primeiro. Em um
primeiro momento, fica clara a ideia de violência contra a mulher; em um segundo
momento, o que se tem a intolerância religiosa.
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Marcelo Braga
Curso de Redação
Informatividade
Consiste na seleção adequada das informações para proposta temática
apresentada. Torna-se essencial que o produtor compreenda que informatividade se
contrapõe ao senso comum. Na verdade, consiste no fato de o produtor buscar sempre
apresentar informações as quais ultrapassem a linha da previsibilidade. Isso quer dizer
que deve o produtor valorizar informações novas e essenciais, despertando no leitor o
interesse pelo texto. O nível de informatividade de um texto dependerá do público a que
ele se destina.
Exemplo de senso comum
É notório que o cigarro prejudica a saúde das pessoas, especialmente, dos
adolescentes, pois causam várias doenças. Fumar traz também dependência química, por
isso devemos evitar o primeiro contato com o cigarro.
Exemplo de informatividade
O ato de fumar, há algumas décadas, representava para muita gente,
especialmente para os jovens, uma sensação de liberdade e de independência. Com o
decorrer dos anos, passou-se a perceber os malefícios ocasionados pelas substâncias
presentes no cigarro, as quais eram responsáveis por diversas enfermidades como câncer
de pulmão, problemas respiratórias, doenças cardíacas e outras tantas. Dessa forma,
torna-se evidente, no século XXI, que o combate ao uso de cigarros se intensifique cada
vez mais.
As informações contidas no primeiro texto não ultrapassam a linha da previsibilidade.
Pertencem ao senso comum, ou seja, não acrescentou nada ao leitor. Já no segundo texto,
percebe-se que as informações, além de serem ampliadas, oferecem novas informações,
as quais vão além da previsibilidade.
Progressão (temática e textual)
Consiste no acréscimo de informações novas aos enunciados anteriores de forma
sequenciada. Daí a necessidade de se perceber a relação de dependência entre as
informações contidas no período, no parágrafo e na totalidade do texto. Progredir é
compreender que cada segmento deverá apresentar informações relevantes e ascendentes,
sem que haja a redundância.
Enquanto a progressão textual está ligada aos recursos utilizados para bem
articular os períodos, os quais compõem o enunciado, a progressão temática se apresenta
aliada ao assunto, à sequência de ideias, apresentando informações novas, mas
pertencentes a uma mesma relação de sentido.
Diz-se que um texto não apresenta uma boa progressão quando as informações
são redundantes, quando há a repetição constante de vocábulos e expressões, os quais
retiram a expressividade do texto.
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Marcelo Braga
Curso de Redação
Exemplo de progressão
A principal demonstração de respeito à cultura de um povo dar-se-á pela
preservação do patrimônio imaterial, pois manterá viva a memória de seus ancestrais,
de suas crenças, de seu folclore e, acima de tudo, de suas origens. Isso permitirá a
gerações futuras a continuidade da tradição local.
No entanto, devido à modernidade e ao processo de globalização, a manutenção
de certos hábitos e costumes tornou-se muito restrita a pequenos grupos os quais, com
certa dificuldade, buscam preservá-los com algumas poucas manifestações. Como
exemplo, citam-se o bumba-meu-boi, o coco, o maxixe, o maracatu, o reisado e outros
tantos. É correto afirmar que, embora as novas mídias eletrônicas e os avanços
tecnológicos tenham contribuído para um certo distanciamento das manifestações
artísticas e culturais, poderiam também ser utilizados para a revitalização de culturas
tradicionais, as quais foram responsáveis pela formação da identidade de um povo ou de
uma região.
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Marcelo Braga
Curso de Redação
Exercitando a produção
Intolerância Religiosa
A formação religiosa do nosso país iniciou-se no Período Colonial, com a vinda
dos Jesuítas, cuja missão era catequizar o índio nativo. Nesse período, institui-se no
Brasil o catolicismo. Da mesma forma, surgiram outras religiões como o candomblé,
oriunda da África, e a protestante, a qual se firmou no país anos depois. Dada essa
mistura, entende-se que práticas de intolerância religiosa configuram uma afronta aos
preceitos constitucionais e também sociais.
Para um melhor entendimento dessa afirmação, há de se ter em mente que o Brasil
é um país laico, cuja Constituição garante a todos o direito de optar por qual religião ou
credo seguir sem incorrer em possíveis perseguições advindas de praticantes de outras
religiões. Vale ainda salientar que, segundo a Carta Magna, é dever do Estado
proporcionar aos seus cidadãos um clima de perfeita compreensão religiosa,
proscrevendo a intolerância e o fanatismo.
No entanto, mesmo sob a égide das leis vigentes, não são incomuns casos de
intolerância religiosa, direcionados especialmente às de origem africana como o
candomblé e a umbanda. Em virtude disso, o medo se instala nos seus seguidores. Casos
de invasão a terreiros de umbanda, manifestações, por parte de alguns evangélicos, com
palavras de ordem, não são raros. Essas atitudes de intolerância, além de se apresentar
contrária a nossa formação histórica, demonstram desrespeito à religiosidade
afrobrasileira e reforçam o preconceito racial, do qual ainda são vítimas. Segundo
Mahatma Gandhi, a raiva e a intolerância são inimigas gêmeas da compreensão correta.
Essa frase ilustra a atual situação vivenciada pela sociedade brasileira, pelo fato de
algumas pessoas não compreenderem que as diferenças religiosas não constituem um
mal, mas um benefício em nome da diversidade.
Por conseguinte, para se evitar a continuidade de atos intolerantes, é de
responsabilidade do Ministério da Educação, junto às escolas, adotar, de forma
imediata, uma nova sistemática de ensino religioso, na qual não se priorize uma única
religião, mas todas, desenvolvendo aulas em que se focalizem características de cada
religião existente no país, nem que, para isso, se amplie a carga horária. Com essa
atitude, registros de intolerância religiosa não mais comporão os noticiários diários.
Farão parte apenas de uma estatística do passado.
(Peri Rosacampos)
1. De acordo com o texto, responda aos itens abaixo:
a) Retire do parágrafo introdutório uma passagem que apresenta o ponto de vista
do autor.
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Curso de Redação
b) Dos parágrafos de desenvolvimento, reescreva dois argumentos utilizados
pelo autor para oferecer ao leitor uma maior credibilidade em relação ao que
se afirma.
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c) Retire dos parágrafos de desenvolvimentos, três passagens de caráter autoral.
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d) Com o objetivo de interligar os parágrafos, o autor se utilizou da coesão
textual, reescreva as passagens que utilizadas para ligar um parágrafo ao outro.
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e) Embora o autor tenha se utilizado de elementos de coesão interligando os
parágrafos, as informações entre eles se apresentam de forma dependente.
Retire passagens do segundo parágrafo, em relação ao primeiro, e do terceiro
parágrafo em relação ao segundo.
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Curso de Redação
Capítulo 7
Estudo da Conclusão
Trabalho informal no Brasil: causas e efeitos
O trabalho informal caracteriza-se pela prática de uma determinada atividade
econômica sem que haja registros oficiais, como assinatura da carteira de trabalho e
emissão de notas fiscais. Essa atividade causa sérios prejuízos ao Estado, ao próprio
trabalhador e à sociedade em geral. No Brasil, verificam-se atualmente um pouco mais
de 30 milhões de trabalhadores informais.
A principal causa dessa informalidade, no contexto atual brasileiro, está na
ausência de uma qualificação profissional, especialmente da população mais carente, a
qual, por não ser agraciada pelo mercado de trabalho, se vê obrigada a montar o seu
próprio negócio ou viver de bicos. Outra causa, não menos importante, a qual impede
que camelôs e pequenos comerciantes, por exemplo, atuem na legalidade, está
relacionada à burocracia, quando se deseja abrir uma empresa, e ao excesso de tributos,
destinados à pessoa jurídica.
Como consequência, o Estado, os trabalhadores e a sociedade, em geral, são
afetados diretamente. Embora a economia informal aqueça o mercado, o
desenvolvimento econômico e empresarial do país será bem mais lento. Os prejuízos à
sociedade advirão com a redução de investimentos em áreas sociais, já que o governo
não arrecada impostos com a informalidade. O trabalhador autônomo, por não gozar
das garantias trabalhistas, asseguradas pela Constituição Federal, como Previdência
Social, FGTS, piso salarial, férias, décimo terceiro salário e outros benefícios, ficará à
margem das políticas públicas de assistência técnica e profissional.
Por conseguinte, para se reduzir a quantidade de trabalhadores informais e
ascender a economia formal, o Estado deverá, por meio de iniciativas governamentais
direcionadas à capacitação profissional da população mais necessitada e à formalização
de pequenos comércios, os quais garantirão a essa população melhores condições de
vida, promover a geração de novos postos de trabalho, desburocratizar a legalização de
pequenos comerciantes e destinar, junto a bancos públicos, empréstimos com um prazo
de carência às recentes empresas. Só assim poderão se manter dentro da legalidade,
gerar empregos e contribuir com o desenvolvimento econômico e social do país.
(Peri Rosacampos)
Neste texto, o autor fez uso do parágrafo conclusivo para apresentar sugestões
viáveis, capazes de minimizar os efeitos da informalidade no Brasil. Isso não quer dizer
o parágrafo conclusivo de um texto dissertativo-argumentativo sempre seja construído
com sugestões. Na verdade, trata-se de uma exigência do Enem (proposta de intervenção).
Entende-se por conclusão o parágrafo que apresenta a informação derradeira, ou
seja, a informação que consegue fechar a ideia do texto. No parágrafo conclusivo, poderá
o produtor oferecer sugestões, reforçar o seu posicionamento ou ainda apresentar mais
uma informação a qual seja essencial para o leitor.
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Marcelo Braga
Curso de Redação
A Conclusão no Enem
Na redação do Enem, normalmente utiliza-se o parágrafo conclusivo, assim como
fez o autor do texto de abertura deste capítulo, para apresentar a proposta de intervenção
(proposta de solução), exigência da Competência 5.
Competência 5
Para que se consiga a pontuação máxima nessa competência, deverá o produtor
elaborar uma proposta de intervenção (soluções viáveis), primar pelo respeito aos Direitos
Humanos e relacionar a proposta com a discussão desenvolvida ao longo do texto. A
proposta de intervenção deverá conter os seguintes elementos:
a) Ação(ões) interventiva(s) – (o que fazer?)
b) Agente(s) – (quem executar?)
c) Modo / meio de executar – (como fazer?)
d) Resultado da ação – (para que fazer?)
e) Detalhamento – acréscimo da informação à ação interventiva, ao(s) agente(s)
ou à execução (modo).
Exemplos
Portanto, para se erradicar a corrupção e tornar o país próspero e igualitário, o
Ministério Público tem o dever de investigar os agentes ímprobos e puni-los com o rigor
da lei, sem a concessão de privilégios. Isso poderá ser realizado com a retirada, por meio
de Emenda Constitucional, do foro privilegiado, o qual surge aos nossos políticos como
uma ferramenta da impunidade, haja vista se tornarem intocáveis pela justiça comum;
com a devolução do dinheiro desviado, oriundo de falcatruas; com o bloqueio de todas
as contas e com a prisão preventiva.
• Ação – investigar os agentes ímprobos e puni-los com o rigor da lei
• Agente – Ministério Público
• Modo / meio – a retirada do foro privilegiado, a devolução do dinheiro desviado, o
bloqueio das contas e a prisão preventiva (meio – Emenda Constitucional)
• Finalidade – erradicar a corrupção e tornar o país próspero e igualitário
• Detalhamento – sem concessão de privilégios / o qual surge aos políticos como uma
ferramenta da impunidade, haja vista se tornarem intocáveis pela justiça comum.
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Marcelo Braga
Curso de Redação
Por conseguinte, para se evitar a continuidade de atos intolerantes, é de
responsabilidade do Ministério da Educação, junto às escolas, adotar, de forma
imediata, uma nova sistemática de ensino religioso, na qual não se priorize uma única
religião, mas todas. Isso poderá ser concretizado com o desenvolvimento de aulas em
que se focalizem características de cada religião existente no país, nem que, para isso,
se amplie a carga horária. Com essa atitude, registros de intolerância religiosa não mais
comporão os noticiários diários. Farão parte apenas de uma estatística do passado.
• Ação –adotar, de forma imediata, uma nova sistemática de ensino religioso
• Agente – Ministério da Educação
• Modo, meio – com o desenvolvimento de aulas em que se focalizem
características de cada religião existente nem que, para isso, se amplie a carga
horária
• Finalidade – evitar a continuidade de atos intolerantes
• Detalhamento – na qual não se priorize uma única religião, mas todas.
Exercitando a conclusão
1. Leia o parágrafo conclusivo abaixo, identifique cada elemento e reescreva-os
Por conseguinte, para se reduzir a quantidade de trabalhadores informais e ascender
a economia formal, o Estado deverá, por meio de iniciativas governamentais
direcionadas à capacitação profissional da população mais necessitada e à formalização
de pequenos comércios, os quais garantirão a essa população melhores condições de
vida, promover a geração de novos postos de trabalho, desburocratizar a legalização de
pequenos comerciantes e destinar, junto a bancos públicos, empréstimos com um prazo
de carência às recentes empresas. Só assim poderão se manter dentro da legalidade,
gerar empregos e contribuir com o desenvolvimento econômico e social do país.
a) Ação(ões)________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
b) Agente(s)________________________________________________________
c) Modo/meio_______________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
d) Finalidade________________________________________________________
________________________________________________________________
e) Detalhamento_____________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
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Curso de Redação
Capítulo 8
Estudo da Coesão Textual
A permanência da violência contra a mulher na sociedade brasileira
A cultura machista, ainda presente em parte da sociedade brasileira, contribui,
sobremaneira, para a permanência da violência contra a mulher, porquanto a ideia de
superioridade masculina impede a percepção de que, no contexto atual, homens e
mulheres se encontram no mesmo patamar de igualdade, evidenciando a necessidade de
respeito mútuo.
Como prova disso, cita-se a Constituição Federal de 1988, a qual afirma que
todos somos iguais perante as leis independentemente de sexo, raça ou credo. Prioriza,
ainda, os direitos individuais como a dignidade da pessoa humana e o respeito à
privacidade. É importante levar em consideração que o princípio maior de nossa
Constituição é a proteção à vida. Tais conceitos evidenciam que a violência e os abusos,
dos quais as mulheres são vítimas, ferem princípios constitucionais. Como
consequência, atos de violência devem ser punidos com rigor. Não se devem buscar
justificativas, para crimes dessa natureza, na formação cultural e tradicional de nossa
população, que expõe a mulher como subserviente ao homem.
Na tentativa de se combater esse tipo de violência, de tornar a punição mais
rígida aos agressores e de se evitar disparidade de gêneros, leis, como a Lei Maria da
Penha e a Lei do Feminicídio, foram elaboradas e outorgadas. Ainda assim, mesmo em
total vigência, a violência contra o sexo feminino persiste de várias formas: agressões
físicas e psicológicas no lar; preconceito e desrespeito no ambiente de trabalho;
tratamento diferenciado e salários desiguais. Segundo dados, embora as mulheres
exerçam as mesmas funções laborais, recebem menos que os homens, o que caracteriza
uma forma de preconceito.
Por conseguinte, para se pôr fim à violência contra as mulheres, torna-se
essencial que a escola e a família, as quais possuem um papel de extrema importância
na mudança de conceitos, primem por uma reestruturação cultural, em que se possa
banir, de uma vez por todas, o predomínio do machismo e do preconceito. Isso poderá
ser realizado pela escola por meio de atividades cujo objetivo sejam a promoção e a
propagação do respeito mútuo entre os colegas. Já a família, célula maior de uma
sociedade, deve repassar aos mais jovens a importância de se praticar valores
humanitários.
(Peri Rosacampos)
O texto de abertura apresenta vários vocábulos e expressões em destaque. Todos
esses elementos exercem uma função primordial: torná-lo coeso e coerente. Sem a
presença deles, teríamos um amontado de frases desconexas, sem relação entre as
informações e, consequentemente, sem sentido. Os vocábulos e expressões destacados
funcionam como recurso de coesão, cuja finalidade é permitir que as informações se
apresentam coesas e harmônicas.
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Curso de Redação
A Competência 4
No Enem, a Competência VI compreende a articulação correta entre os períodos
que compõem o parágrafo e entre os parágrafos que compõem o texto a fim de manter
uma relação de dependência entre as informações apresentadas. Para tanto, a utilização
adequada e diversificada dos recursos de coesão faz-se essencial.
A Coesão
A coesão consiste na ligação harmônica entre os elementos que compõem um
texto. Os recursos de coesão podem assim ser classificados:
1. Referencial
2. Lexical
3. sequencial
Coesão Referencial
Ocorre quando se utilizam elementos, os quais retomam ou remetem a um termo
anterior ou a uma ideia anterior ou posterior. A coesão Referencial pode ser assim
dividida:
Anafórica – retoma o termo ou a ideia anterior. A anáfora pode ocorrer com:
a) Pronomes
A população brasileira, a qual se apresenta de forma muito diversificada,
é composta essencialmente por três grupos étnicos: o indígena, o branco e o
negro. Os indígenas constituem a população nativa do país, os portugueses foram
os povos colonizadores da nação e os negros africanos foram trazidos para o
trabalho escravo. (O pronome qual retoma o termo população brasileira)
Esse contexto proporcionou a miscigenação dos habitantes,
caracterizados como mulato (branco + negro); caboclo ou mameluco (branco +
índio) e cafuzo (negro + índio). Com o prosseguimento da miscigenação,
originaram-se os inúmeros tipos que hoje compõem a população brasileira.
Somos, pois, um povo diversificado étnica e culturalmente, não havendo motivo
para qualquer tipo de preconceito racial. Mantê-lo é negar a nossa própria
existência. (Esse contexto retoma a ideia do último período sintático do
parágrafo anterior – o pronome relativo que substitui o termo inúmeros tipos –
o pronome oblíquo átono lo substitui o termo preconceito racial).
b) Advérbios
Vários imigrantes, advindos especialmente da Bolívia e do Haiti,
buscavam no Brasil condições propícias de vida, já que aqui havia uma excelente
oferta de trabalho. À medida que eram absorvidos pelo mercado, visualizavam
perspectivas de se instalarem definitivamente. Quando perdiam um emprego,
facilmente conseguiam outro. Mantiveram-se assim durante alguns anos. (aqui
se refere a Brasil; assim se refere à ideia perder um emprego e conseguir outro).
c) Numerais
O fato de o secretário e o diretor defenderem um ponto de vista favorável
à empresa não me causa estranheza, mas os dois afirmarem que não há uma crise
interna é um pouco absurdo. (O numeral dois refere-se a secretário e diretor).
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Catafórica – consiste na antecipação de um termo ou de uma ideia posterior.
A catáfora pode ocorrer por meio de:
a) Pronomes
Mesmo que se vislumbrem novos rumos para a política brasileira, é
sempre bom lembrar isto: a democracia se fragiliza a cada decisão
equivocada. E se, por ventura, à frente, a população responsabilizá-los pelos
atos praticados, comprovar-se-á que os nobres deputados e senadores
cometeram um grande erro. (O pronome isto remete à ideia posterior a
democracia se fragiliza a cada decisão equivocada; o pronome oblíquo átono
los refere-se aos termos nobres deputados e senadores.)
b) Advérbios
Aqui, o número de alfabetos funcionais só aumentou nesses últimos anos.
Aiocó se apresenta como a cidade com maior índice de analfabetos em
relação a outras cidades da região. (aqui remete ao termo Aiocó)
c) Elipse (omissão de um termo já expresso)
A luta constante por uma nova forma de se fazer política deveria permear
a mente de todos os brasileiros. Alguns grandes homens, aguerridos e
munidos pelo desejo de transformar o país, doaram-se em prol de um objetivo
comum a todos; outros tantos, em benefício próprio. (elipse da forma verbal
doaram-se)
Coesão Lexical
Mecanismo que envolve a repetição da mesma unidade lexical ao longo do texto
ou a sua substituição por outras unidades lexicais as quais com ela mantêm relações
semânticas. A coesão lexical pode ocorrer por meio de:
Reiteração – consiste na repetição do mesmo vocábulo ou na substituição por outro de
mesmo valor semântico.
Afirmar que o preconceito racial no Brasil não existe é não querer aceitar a
realidade dos fatos. Trata-se, na verdade, do pior tipo de preconceito.
Substituição lexical – consiste na substituição de uma unidade lexical por outra que, com
ela, mantém a mesma ideia de sentido. Pode ocorrer por meio de:
a) Pronomes
Há quem acredite que o sistema de cotas apenas contribui para acentuar
o preconceito; há quem afirme que se trata de uma política de governo, cuja
manutenção dependerá da boa vontade do próximo governante, o qual deverá
pautar a sua política na expansão de programas sociais. (O pronome cujo
substitui política de governo; pronome qual substitui o termo próximo
governante e o possessivo sua substitui também o termo próximo governante)
b) Sinônimos
Houve época, nas tradições hebraicas, em que se associava a figura do
juiz à do criador do universo, quando o magistrado obrava, fosse por uma hora,
com inteireza sua sentença. (O substantivo magistrado surge como sinônimo de
juiz).
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c) Quase Sinônimo – substituição de um vocábulo por outro que, embora não seja
sinônimo, contextualmente passa a expressar o mesmo sentido.
Os jornalistas protestaram após a decisão do STF quanto à não
necessidade de diploma para o exercício da profissão. Segundo o sindicado da
categoria, essa decisão é afronta à prática de um jornalismo profissional e
eficiente. (O substantivo categoria substitui o termo jornalista. Embora não seja
sinônimo, contextualmente há uma relação de sentido entre eles)
d) Hiperônimo e Hipônimo – relação existente entre um vocábulo de sentido
genérico (hiperônimo) e um de sentido mais específico.
O texto narrativo exige do produtor muita criatividade, haja vista a
produção de uma crônica, por exemplo. (O termo crônica funciona como
hipônimo do termo texto narrativo, o qual surge como hiperônimo do substantivo
crônica)
Coesão Sequencial
Ocorre quando se utilizam elementos essenciais para ligação de frases ou períodos
em uma estrutura oracional, podendo apontar uma ideia de sentido entre os enunciados
apresentados. Os elementos gramaticais utilizados são: conjunções, locuções conjuntivas,
preposições, locuções prepositivas, advérbios, locuções adverbiais, expressões
adverbiais, denotativas.
De há muito, percebe-se um desejo, por parte de alguns segmentos da sociedade,
de se reduzir a maioridade penal, acreditando que, com a redução, o problema da
violência estará resolvido. Na verdade, isso é uma ilusão. O problema da violência
urbana não está apenas relacionado aos menores infratores. Mesmo que os noticiários,
diuturnamente, relatem crimes bárbaros praticados por menores, o que induz algumas
pessoas a exigirem a redução da idade penal, não se deve atribuí-los exclusivamente a
eles, sob pena de se cometer uma grande injustiça. Há sempre alguém por trás de toda
essa violência. É importante compreendermos que, nem sempre, o agente é o principal
responsável. Vive-se em um país no qual as oportunidades e condições não são
concedidas, de forma igualitária, a todas as pessoas, conforme preveem os regimes
democráticos. Ademais, a impunidade não se apresenta como um privilégio aos menores,
mas a todos aqueles que comentem ilícitos, haja vista a corrupção política premente em
nosso país. Todos eles, além de gozarem de direitos exclusivos, como foro privilegiado,
contam também com a ciência da impunidade.
No texto, pode-se observar que todos os elementos destacados auxiliam a
sequência lógica e contribuem para a sua tessitura. Verifica-se que alguns possuem uma
relação semântica com a ideia apresentada enquanto outros apenas têm a função de ligar
um termo a outro ou uma oração à outra.
Observação
Os elementos sequenciais, via de regra, não funcionam como referenciais. Apenas
dão continuidade a um determinado enunciado, estabelecendo, em alguns casos, ideia de
sentido como adição, contraste, explicação, conclusão, causa, consequência, concessão,
condição, hipótese, tempo, finalidade, lugar, prioridade, intensidade, exclusão, inclusão,
modo, referência...
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As Conjunções coordenativas e as subordinativas adverbiais
1. Conjunções coordenativas
Conjunções Ideia de Sentido Principais conjunções
Aditivas Estabelecem ideia de adição e, nem, não só ... como também, não
apenas....mas também ...
Alternativas Estabelecem ideia de
alternância
ou, ou...ou, ora...ora, seja...seja,
quer...quer ...
Adversativas Estabelecem ideia de
oposição
mas, porém, no entanto, entretanto,
todavia, contudo ...
Explicativas Estabelecem ideia de
explicação
pois, porque, porquanto, que ...
Conclusivas Estabelecem ideia de
conclusão
portanto, logo, por conseguinte ...
2. Conjunções subordinativas adverbiais e as conjunções integrantes
Conjunções Ideia de sentido Principais conjunções
Causais Exprimem ideia de causa em
relação ao efeito
visto que, já que, uma vez que,
porquanto, como, na medida em que,
Consecutivas Exprimem ideia de efeito em
relação à causa
que, de modo que, de sorte que, de
forma que, tão ... que
Concessivas Exprimem ideia de contraste embora, mesmo que, apesar de que,
posto que, conquanto, ainda que, se
bem que, posto que...
Conformativas Exprimem ideia de
conformidade
conforme, consoante, como, segundo
Condicionais Exprimem ideia de condição se, caso, desde que, salvo se,
contanto que, a não ser que
Comparativas Exprimem ideia de
comparação
como, tal qual, assim como, (mais)
que ... do que, (menos) que... do que
Finais Exprimem ideia de finalidade para que, a fim de que ...
Proporcionais Exprimem ideia de
proporcionalidade (ações
simultâneas)
à proporção que, à medida que, ao
passo que, enquanto, tanto ... quanto,
quanto mais ... mais
Temporais Exprimem ideia de tempo quando, assim que, logo que, mal,
logo que, sempre que
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Preposições, locuções prepositivas, advérbios, locuções adverbiais e denotativas
Relação de adição e
continuidade
também, ainda, ademais, além de, ainda por cima, além
disso, além do mais, bem como, assim como ...
Relação de causa e
efeito
em virtude de, devido a (ao), como consequência,
graças a (ao), por tudo isso, por isso ...
Relação de finalidade Para, a fim de, com o propósito de, com o objetivo de, com
o fito de, com o intuito de ...
Ideia de exclusão senão, exceto, salvo, apenas, só, tirante,
exclusive, fora, salvo
Ideia de inclusão também, inclusive, até, mesmo, até mesmo ...
Ideia de retificação e
esclarecimento
aliás, ou melhor, ou seja, a saber, isto é, por exemplo, ...
Ideia de constatação na verdade, de fato, evidentemente, com efeito...
Ideia de concussão destarte, assim, então, em suma, dessa forma, desse modo,
por isso ...
Ideia de oposição e de
contraste
senão, e, em contrapartida, por outro lado, pelo contrário,
apesar de, mesmo ...
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