CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI
APOSTILA HABILIDADES METALINGUÍSTICAS E
ALFABETIZAÇÃO
ESPÍRITO SANTO
2
LINGUAGEM
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O termo linguagem durante muito tempo, pensou-se que ela era uma invenção
cultural, o que diferenciava o homem dos outros animais. Mesmo sendo considerado ainda
um diferencial entre homens e animais a linguagem não é exatamente um produto da cultura,
é uma habilidade que desenvolvemos por instintos. Mesmo sem instrução formal ou esforço
consciente, ainda bebês aprendemos a falar. Com o passar do tempo, essa habilidade vai
se desenvolvendo e, sem percebermos, logo passamos da produção de palavras soltas à
produção de textos cada vez mais complexos.
Nosso universo social é repleto de símbolos. São placas, textos, objetos, gestos,
imagens, etc. É por meio da linguagem que conseguimos relacionar esses símbolos para
interagir com nossos semelhantes, refletir sobre a realidade, transmitir valores,
conhecimento... Enfim, relacionando símbolos, produzimos sentido.
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ALGUMAS DEFINIÇÕES DE LINGUAGEM
Herculano de Carvalho (Teoria da Linguagem): Uma atividade simultaneamente
cognoscitiva e manifestativa, realizada pela manifestação de um sistema de duplos sinais,
que apresentam fisicamente como objetos sonoros produzidos pelo aparelho fonador do
homem.
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Sapir (Lenguaje): Um método exclusivamente humano e não-instintivo de comunicar
ideias, emoções e desejos por meio de um sistema de símbolos produzidos de maneira
deliberada. Estes símbolos são antes de tudo auditivos, e são produzidos pelos chamados
“órgãos da fala”.
Marouzeau (Lexique de la terminologie linguistique): Tout système de signes apte à
servir de moyen de communication entre les individus. (...) Le langage auditif, fondé
essentiellement sur l’usage de la voix (...).
L. Carreter (Dicionário de términos filológicos): 1. Facultad que el hombre posee de
poder comunicar sus pensamientos. 2. Cualquier sistema que sirve al hombre para el
ejercicio de dicha facultad. (...) El lenguaje auditivo, correlativo de la facultad de hablar (por
lo que se llama también lenguaje hablado o articulado) (...)
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Mattoso Câmara (Dicionário de Filologia e Gramática): Faculdade que tem o homem
de exprimir seus estados mentais por meio de um sistema de sons vocais chamado língua
José Oiticica (Manual de análise léxica e sintática):
Linguagem é a manifestação do pensamento ou do sentimento.
Fala é a linguagem por sinais auditivos fisiológicos (voz e consonâncias).
Mímica é a linguagem por sinais visuais gesticulados.
Semafórica é a linguagem por sinais auditivos ou visuais, mecânicos (apito,
corneta, poste semafórico, etc.).
Língua é um sistema de linguagem.
Linguística é o estudo dos fatos da linguagem.
Gramática é a exposição dos fatos de uma língua.
A linguagem se divide em não verbal e verbal.
LINGUAGEM NÃO VERBAL
Utiliza imagens para realizar a comunicação.
Exemplos: sinais de trânsito, placas de sinalização, gestos, etc. Observe que uma placa de
transito comunica algo mesmo sem utilizar palavras. Assim, essa placa de trânsito é um
exemplo de texto não verbal.
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NOÇÕES CONCEITUAIS, CARACTERÍSTICAS E TIPOLOGIA DA
COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL
Muito antes de aprenderem a comunicar com as palavras, os nossos ancestrais
recorriam à linguagem corporal como forma de expressão. Os seres humanos primitivos
comunicavam através dos seus corpos, gestos e sons, meios que dispunham para um
entendimento mútuo, portanto a comunicação ocorria através de canais não-verbais.
Antes disso, a linguagem corporal e os sons produzidos pela garganta eram as
principais formas de transmissão de emoções e sentimentos humanos – e continuam sendo
até hoje, embora a excessiva atenção dada às palavras faça com que sejamos
profundamente desinformados a respeito da linguagem do corpo e da importância que ela
tem em nossas vidas (Allan e Pease 2004: 16 e 17).
Henry H.Calero, na sua obra “The Power of Non verbal Communication” também faz
referência à extrema importância atribuída à comunicação verbal, em detrimento da
comunicação não-verbal referindo que “we are excessively sensitized to words and have
very few terms for characterizing nonverbal behavior” (Calero 2005: 3). Tal como as nuvens
que cobrem o sol, também a comunicação verbal faz o mesmo à linguagem do corpo.
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Tal é o facto que a preocupação científica pela comunicação não-verbal é ainda muito
recente. Apenas em 1950 é que se começou a aprofundar verdadeiramente este campo. No
entanto, existem alguns autores e obras anteriores a esta data que estabelecem conexões
entre a cultura e a comunicação não-verbal (Darwin, 1872; Efron, 1941) ou entre a
personalidade e as formas do corpo (Kretschmer, 1925; Sheldon, 1940). Entre 1950 e 1960
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surgem as primeiras tipologias: Birdwhishtell (1952) introduziu a cinésica, área que estuda
os movimentos corporais e os gestos, Hall (1952) batizou como “proxémica” a investigação
sobre o uso do espaço.
Só a partir de 1960 é que o interesse pela comunicação não-verbal aumenta de forma
considerável. Hess (1975), Argyle e Cook (1976) dão início a um novo campo de estudo: o
comportamento e a comunicação do olhar; Roach e Eicher (1969) investigam a comunicação
não-verbal do vestuário e dos artefatos; Montagu (1971) aborda o estudo da conduta táctil;
Hall (1972) e Weiner (1966, 1967) analisam o valor comunicativo dos odores; Ekman e
Friesen (1969) aprofundam o estudo acerca das origens e natureza da comunicação não-
verbal; por sua vez Mehrabian (1971) investiga como os indivíduos interpretam os sinais
não-verbais da comunicação.
De considerar ainda que, se tivermos presentes os estudos de Mehrabian e
Birdwhistell – que defendem que numa comunicação normal entre duas pessoas apenas 7%
da mensagem é verbal (apenas palavras), enquanto os restantes 93% é não verbal (Ver
figura 1) – podemos constatar que, de facto, se tem deixado um pouco de lado os estudos
de uma linguagem também amplamente significativa. Verifica-se assim, que a comunicação
não-verbal é fortemente responsável pela eficácia de um determinado ato comunicativo.
Ilustração1: A importância das mensagens não-verbais na percepção de Mehrabian (Monteiro et al. 2008: 59)
© Produção Gráfica Pessoal
Entende-se por comunicação não-verbal toda a comunicação que é realizada com a
ausência das palavras, nomeadamente através de sinais que produzimos, de gestos que
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fazemos, de imagens que criamos, etc. Segundo Calero, “our senses of touch, taste, seeing,
hearing, smells, signs, symbols, colors, facial expression, gestures, and intuition are the
primary sources of the nonverbal messages we receive” (Calero 2005:1).
Na visão de Lusting e Koester “a comunicação não-verbal é um processo de
multicanais que é, usualmente, realizado espontaneamente. Envolve um conjunto sutil de
comportamentos não linguísticos que são representados subconscientemente” (Lusting e
Koester citado por Ribeiro e Guimarães 2009: 6).
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Wynxe3XTiUKufSKGW56eEyPSVODTQTBA
Sendo inconsciente e espontânea a comunicação não-verbal pode assim estar
presente em todos os momentos das relações pessoais, até a decisão de não falar, por
exemplo numa conversa, é uma mensagem, e considerada não-verbal. Como explica
Gaiarsa “cada modo de estar em silêncio pode significar tanto quanto uma declaração verbal”
(Gaiarsa 2002: 1).
Por outro lado, para além de ser usada, em grande parte, involuntariamente, ela pode
também ser usada de forma propositada e estratégica. Conforme os estudos realizados por
Allan e Barbara Pease, por detrás dos sorrisos, gestos, expressões faciais é possível
identificar a verdadeira intenção de uma pessoa, uma vez que detectamos muitas das vezes
incoerência entre a mensagem verbal e não-verbal. Portanto, todo o nosso corpo fala. Ele
manifesta e expressa diversas mensagens, não apenas à base de palavras, mas através de
expressões faciais (olhos, lábios), gestos com as mãos, postura física, ritmo do corpo
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(caminhar, correr), transparecendo e comunicando, muitas das vezes informações
importantes sobre um determinado indivíduo sem sequer recorrer ao uso das palavras. “A
expressão verbal nem sempre possui a clareza das palavras, mas é carregada de
significado” (Beirão et al. 2008: 21).
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De facto, os sinais não-verbais tornam a comunicação verbal mais autêntica, mais
rica e significativa. Eles são os principais meios de expressão e comunicação das emoções,
atuando como uma bomba de escape para os nossos sentimentos - “Not only do people
unconsciously use words to conceal their feelings, they also unknowingly reveal what they
feel through their body language - especially during times when they are under stress” (Calero
2005: 4).
Allan e Barbara Pease na obra “Linguagem corporal” apresentam alguns exemplos
acerca de como a linguagem corporal transmite para o exterior o estado emocional de uma
pessoa, e de como um simples gesto pode ser um indicador valioso de uma emoção que se
esteja a experimentar no momento.
Um homem preocupado com o facto de estar a ganhar peso poderá beliscar uma
prega de pele sob o queixo; uma mulher que se apercebeu de ter ganho uns quilinhos
nas coxas poderá alisar o vestido ao longo das pernas; a pessoa que se sente
receosa ou defensiva poderá cruzar os braços, as pernas, ou ambos (Allan e Pease
2009: 3).
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A comunicação não-verbal também aumenta o feedback, dado que ela pode ser
usada para acentuar, complementar, contradizer, regular ou substituir a comunicação verbal.
De acordo com Lusting e Koester “as expressões não-verbais são usadas para acentuar
uma mensagem verbal ao destacar uma palavra ou frase em específico, do mesmo modo,
como na adição dos itálicos nos discursos escritos” (Lusting e Koester citado por Ribeiro e
Guimarães 2009: 4).
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Benitez acrescenta que ela também é usada para esclarecer, explicar, reforçar e
repetir as mensagens orais, complementando-as, ao confirmar, por exemplo, o conteúdo de
enunciado verbal. É o caso de mover a cabeça para a direita e para a esquerda quando
queremos expressar negação acompanhando o enunciado “Não, não, não é nada disso”
(Benitez 2009: 5).
Substituir a comunicação verbal pode também ser uma das funcionalidades da
comunicação não-verbal. Isto acontece mediante gestos manuais como, por exemplo, pedir
a alguém que se aproxime, que nos traga a conta ou até para indicar o agrado/desagrado
perante alguma coisa. “Uma mulher pode lançar a um homem um “olhar à matadora”, que
lhe transmitirá uma mensagem muito clara, sem ela ter sequer de abrir a boca” (Allan e
Pease 2009: 31).
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Portanto, a comunicação não-verbal assume, de facto, extrema importância para
enriquecer as mensagens orais, complementando-as. Ela é até considerada, segundo
alguns especialistas, mais sincera do que as palavras. “Body language is an outlet for your
feelings is more reliable than verbal communication and may even contradict verbal
expressions” (Alessandra 2006: 2).
LINGUAGEM VERBAL
Comunica por meio de palavras escritas ou faladas.
Exemplos: uma carta, um relatório, uma conversa pelo telefone, etc. Nesse exemplo,
mesmo sendo uma placa de trânsito, observamos o uso da linguagem verbal. A informação
foi passada por meio de palavras.
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ALGUNS TERMOS NECESSÁRIOS: A CONTRIBUIÇÃO
PRIMEIRA DE KARL BÜHLER OUTRAS ESCOLAS
Em conformidade com os estudos de Hjelmslev sobre as funções da linguagem,
podemos entender que haja uma “dependência” intrínseca entre duas unidades linguísticas,
de tal sorte que, se se estabelecer, em uma delas, determinada “mudança” (cf. Mattoso),
provocar-se-á mudança de similar envergadura na outra. Assim, se variamos o centro de
enfoque de uma certa mensagem, há de variar, consequentemente, o significado (daí
podermos chamar as funções de “covariações significativas”, cf. Dinneen) daquela
mensagem.
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Karl Bühler - Teoria da Linguagem -, antes baseado na parole do que na langue,
supõe a existência de um “Organon”, depreendido, assim digamos, do circuito emissor-
receptor, concluindo pelas três funções básicas, expressas pela substância fônica, de que
se serviria o falante:
1- Expressão
2- Apelo (atuação social) e
3- Representação mental.
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A função de apelo é decorrência natural do fato de o emissor estar-se dirigindo
obrigatoriamente a outra(s) pessoa(s) - como demonstramos, não nos parece ser esta a
função primordial da linguagem. O Autor ressalta a importância, para isso, dos
demonstrativos (al. Zeigend, “gestos verbais”, cf. Kainz, ou também denominados index,
elementos de espacialização), cuja função é “mostrativa” (cf. Mattoso), em cotejo com os
signos de nomeação (al. Nennend ou também ícones, elementos de definição; os conectivos
seriam, em tal nomenclatura, elementos índice-icônicos - menção ao memorável artigo de
Mônica Rector Toledo Silva, de onde retiramos a nomenclatura, e seus conceitos, acima
exposta, “Classes de palavras e categorias semânticas”, Estudo de Linguística e língua
portuguesa, Série Letras e Artes, 05/74, Cadernos da PUC/RJ), além dos imperativos, e
mesmo das orações optativas etc.
Seria uma forma exclusiva de manifestação humana a função representativa (na
medida em que o apelo e a expressividade cabem igualmente às demais espécies), que,
portanto, exerce inequívocas influências sobre as demais funções. É o que Conseguiu
chamou de “saber extralinguístico”, isto é, uma “competência” que abarcaria, além dos
mecanismos próprios para a formulação de uma língua, também a capacidade de um recorte
necessário, - e mais ou menos amplo, - do ambiente biossocial, ou, de acordo com Cassirer,
do “mundo dos objetos” (seria interessante comparar-se, aqui, este trabalho às
Investigações Filosóficas de Wittgenstein, onde o objeto e seu nome ganham, ao
comparar-se este com aquele, matizes de todo novos).
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Linguistas como Lyons veem na reflexividade da língua, isto é, na faculdade de poder
falar sobre si mesma - i.é., a função metalinguística - o fator de supremacia da linguagem
(humana). Por fim, tanto para Mattoso Câmara quanto para Cassirer e Bühler, estaria ali, na
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função representativa, a diferença capital entre a linguagem dos homens e as formas de
comunicação dos animais: há, naquela, por meio de duas articulações (cf. Martinet), um
signo linguístico (cf. Saussure) que apresenta caracteres de permanência em relação ao
significado e à divisibilidade (q.v. também nosso capítulo II).
O campo da normatividade gramatical estudaria a língua enquanto veículo
representativo, ao passo que à estilística caberia a perquirição dos “valores” (na acepção de
Guiraud e Bréal, não na de Saussure e Bally) psíquicos (expressivos e emotivos) e apelativos
do signo. Em nosso capítulo V, mostramos como se unem, para a consecução de um ideal
artístico, essas duas vertentes, por assim dizer, complementares.
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Dessa forma, em síntese, assim dispôs Bühler:
Função representativa (representação mental): engloba a forma como
transmitiremos a outrem a nossa compreensão (nosso recorte particular) do mundo.
Função de exteriorização psíquica (manifestação): expedientes de que dispomos a
fim de veicularmos nossos estados emocionais ou psíquicos.
Função apelativa (apelo): como atuamos sobre o próximo na vida que
compartilhamos linguisticamente.
O próprio Bühler alteraria, mais tarde, conforme leciona Antônio Gomes Penna
(“Comunicação e Linguagem”, Rio de janeiro/Lisboa, Fundo de Cultura, 1970), assim:
funções simbólica, de sintoma e de sinal.
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Roman Jakobson parte dos enfoques de Bühler, adotando, todavia, denominações
diferentes; quais sejam: 1) função referencial, denotativa ou cognitiva (a representativa), 2)
função emotiva ou expressiva (a de manifestação) e 3) função conativa (ou apelativa).
Acrescenta: 4) função fática, 5) função metalinguística e 6) função poética. Estas três
últimas, estaremos abordando-as melhor no capítulo IV. Faremos, em tal capítulo, arrazoado
das funções segundo Jakobson, sendo nossos exemplos, - posto que um tanto ou quanto
incipientes e acanhados, - bastantes à ilustração do quanto nos dispusemos abordar.
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Convém ressaltar outros esquemas apresentados, como o de Ogden e Richards - O
significado de significado -, assim disposto quanto às funções:
a) Simbolização da referência;
b) Expressão de atitude em face do ouvinte;
c) Expressão de atitude em face do referente;
d) Promoção dos efeitos pretendidos;
e) Apoio de referência.
Halliday contribui com a seguinte nomenclatura:
Ideacional: relação com experiências que o indivíduo tem do mundo;
Interpessoal: manutenção das relações pessoais;
Textual: estabelecimento de vínculos da linguagem com ela própria.
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Martinet propõe a função comunicativa como o topo das demais de que se municia a
língua. Quanto aos grupos que, de propósito ou não, restringem seus campos comunicativos
a seus membros, utilizando, para tanto, jargões ou calões, Martinet aponta a função críptica,
com este fito, além de mencionar outras como a mágica (de ritos secretos ou envolvendo
tabus) e a lúdica etc.
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A COMPLEMENTAÇÃO DE JAKOBSON A BÜHLER
EXEMPLÁRIO DA LITERATURA
José Lemos Monteiro, em artigo intitulado “O percurso da estilística” (in Língua,
Linguística e Literatura. Eduerj, RJ, 1998, Org. André Valente), assim nos diz:
Ao analisar as funções da linguagem, Jakobson ampliou o modelo proposto por
Bühler, estabelecendo a mais três funções, uma das quais denominou de poética.
Mas para Jakobson, “o estudo linguístico da função poética deve ultrapassar os
limites da poesia e, por outro lado, a análise linguística da poesia não pode
circunscrever-se à função poética”. Daí porque os recursos ou procedimentos que
divisa nas mensagens literárias aparecem também na linguagem da publicidade ou
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em qualquer manifestação linguística em que, de uma forma ou de outra, o usuário
exerça um domínio sobre a língua quando a emprega para fins expressivos.
Vamos, agora, passar à síntese orgânica das funções da linguagem segundo Roman
Jakobson, abordando aquelas em que Bühler, em princípio, não tocou: a fática, a
metalinguística e a poética.
FUNÇÕES DA LINGUAGEM
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Para melhor compreensão das funções de linguagem, torna-se necessário o estudo
dos elementos da comunicação.
ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO
Emissor - emite, codifica a mensagem;
Receptor - recebe, decodifica a mensagem;
Mensagem - conteúdo transmitido pelo emissor;
Código - conjunto de signos usados na transmissão e recepção da mensagem;
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Referente - contexto relacionado a emissor e receptor;
Canal - meio pelo qual circula a mensagem;
Obs.: as atitudes e reações dos comunicantes são também referentes e exercem influência
sobre a comunicação.
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Função emotiva (ou expressiva)
Centralizada no emissor, revelando sua opinião, sua emoção. Nela prevalece a 1ª
pessoa do singular, interjeições e exclamações. É a linguagem das biografias, memórias,
poesias líricas e cartas de amor.
Função referencial (ou denotativa)
Centralizada no referente, quando o emissor procura oferecer informações da
realidade. Objetiva, direta, denotativa, prevalecendo a 3ª pessoa do singular. Linguagem
usada nas notícias de jornal e livros científicos.
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Função apelativa (ou conativa)
Centraliza-se no receptor; o emissor procura influenciar o comportamento do receptor.
Como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso de tu e você, ou o nome da pessoa,
além dos vocativos e imperativos. Usada nos discursos, sermões e propagandas que se
dirigem diretamente ao consumidor.
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Função fática
Centralizada no canal, tendo como objetivo prolongar ou não o contato com o
receptor, ou testar a eficiência do canal. Linguagem das falas telefônicas, saudações e
similares.
Esta função tem como escopo o estabelecimento de contato - geralmente o primeiro
- entre interlocutores. O termo foi proposto por Malinowski. Faz, grosso modo, que
permaneçam abertas as possibilidades de manutenção do intercâmbio comunicativo, quer
seja abrindo-o, quer seja encerrando-o. O estudo da função fática surgiu com a observação
da linguagem dos deficientes, sendo também de proveniência da investigação da linguagem
infantil. É muito encontrada na literatura, sobretudo na dramaturgia, em que, por
necessidade, não raro, de se porem à frente do texto situações plausíveis de contatos do
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dia-a-dia, põem-se, pois, aquelas fórmulas - às vezes fossilizadas - de manejo hábil do
estabelecimento do contato de que há pouco falamos.
Sinal Fechado
Paulinho da Viola
Olá, como vai? Eu vou indo, e você, tudo bem? Tudo bem, eu vou indo, correndo, pegar meu lugar no futuro, e você? Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono
tranquilo, quem sabe? Quanto tempo... Pois é, quanto tempo... Me perdoe a pressa é a alma dos nossos negócios... Oh! não tem de quê. Eu também só ando a cem, Quando é que você telefona, Precisamos nos ver por aí. Pra semana, prometo, talvez nos vejamos, quem sabe? Quanto tempo... Pois é, quanto tempo...
Função poética
Centralizada na mensagem, revelando recursos imaginativos criados pelo emissor.
Afetiva, sugestiva, conotativa, ela é metafórica. Valorizam-se as palavras, suas
combinações. É a linguagem figurada apresentada em obras literárias, letras de música, em
algumas propagandas etc.
Situa-se na mensagem, fazendo com que esta como que se volte para si mesma.
Passa-se a ter em vista cada signo daí retirado, lidando-se, portanto, não apenas com a
transmissão pura e simples daquela mensagem, senão que, também, com a arrumação
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daqueles signos, com uma escolha mais cuidada, mesmo em termos fônicos: visa à
integralidade da dicotomia significante-significado.
Passamos a exegese estilística de poema de João Cabral de Melo Neto, por cuja
habilidade se deram inúmeros recursos expressivos - sendo evidenciados os “valores” (cf.
Saussure) assumidos pelo signo linguístico, tanto no eixo paradigmático quanto no
sintagmático.
Intitulamos tal capítulo com o próprio título do poema por nós colimado.
É ele, como dito algumas vezes, a tentativa de argumentarmos que a estilística
depende da gramática, tanto quanto, num processo anterior de análise, a gramática
dependeu da estilística (ainda que então não definida às claras como disciplina) para firmar
as bases sobre as quais se sustém.
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Função metalinguística
Centralizada no código, usando a linguagem para falar dela mesma. A poesia que fala
da poesia, da sua função e do poeta, um texto que comenta outro texto. Principalmente os
dicionários são repositórios de metalinguagem. Obs.: Em um mesmo texto podem aparecer
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várias funções da linguagem. O importante é saber qual a função predominante no texto,
para então defini-lo.
Centra-se no código, buscando decifrá-lo. Sua ocorrência maior é quando se faz
menção a uma palavra, seja para saber-lhe o significado, seja para utilizá-la no discurso
direto (ou indireto livre) etc. Tudo o que serve para dar explicações a respeito de um código
proferido é função metalinguística.
Ao Conde de Ericeira D. Luiz de Menezes, Pedindo Louvores ao Poeta não lhe Achando ele Préstimo Algum
Gregório de Matos
Um soneto começo em vosso gabo; Contemos esta regra por primeira, Já lá vão duas, e esta é a terceira, Já este quartetinho está no cabo. Na quinta torce agora a porca o rabo: A sexta vá também desta maneira, Na sétima entro já com grã canseira, E saio dos quartetos muito brabo.
Agora nos tercetos que direi? Direi que vós, Senhor, a mim me honrais, Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei. Nesta vida um soneto já ditei, Se desta agora
escapo, nunca mais; Louvado seja Deus que
o acabei.
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EXPRESSÃO ORAL
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A Expressão Oral é uma das formas pelas quais se opera a transmissão de ideias,
aliás, sendo a mais comum. É também a forma em que as pessoas mais erram em termos
de eficiência da comunicação. Trata-se da mensagem falada. Podemos dividir a palavra
falada, ou expressão oral, em alguns tópicos principais, os quais estudaremos com mais
detalhes em seguida.
DICÇÃO
A dicção, que consiste na “maneira de dizer ou falar com a articulação e modulação
corretas” é algo que deve receber especial dedicação por parte daqueles que desejam se
expressar melhor, pois a dicção, quando alcançada pelo Orador, torna a sua expressão oral
mais compreensível, e:
a) Aumenta a eficiência da argumentação do orador (pelo simples fato de que ele será bem
mais compreendido);
b) Cansa menos a plateia;
c) Melhora a imagem do orador perante seus ouvintes.
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No que diz respeito ao último item (“c”), não é preciso muito para explicá-lo, vez que
há aqueles cuja dicção é tão deficiente que passam, muitas vezes, como despreparados, o
que nem sempre corresponde à realidade, pois existem pessoas que, a despeito de muito
cultas, possuem problemas terríveis de dicção.
A questão é, enquanto cultura é algo que pode levar muito tempo para ser percebida
(na convivência profissional, política etc.), a má dicção leva apenas alguns segundos. Ora,
e o que os ouvintes associam a uma expressão oral má, em geral, é uma formação cultural
deficiente ou inferioridade intelectual.
Portanto, uma pessoa com má dicção terá, consequentemente, problemas no que
respeita à sua argumentação, pois encontrará barreiras à persuasão da plateia a que se
dirige. E isto se dá em razão de ter a sua autoridade diminuída em face da associação que,
como dito acima, os ouvintes fazem entre o intelecto e a expressão oral.
http://www.convictiva.com.br/2015/wp-content/uploads/2013/12/linguagem.jpg
ERROS MAIS COMUNS
a) troca de “pr” por “p + vogal + r”. Ex.: precisa por “percisa”.
b) omissão do “r” final ou vogal final. Ex.: Ao invés de vou buscar, usar “Vô buscá”.
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c) supressão de vogais internas: Ex.: leiteiro por “leitero”.
d) erro de colocação de consoantes. Ex.: iogurte por “iorgute”.
e) troca de consoantes. Ex.: Salsicha por “chalsicha” ou “chalchicha”.
VÍCIOS
Existem diversos vícios relativos ao vocabulário que, se não evitados, podem
comprometer a mensagem do orador e, até, sua própria imagem.
http://www.robertoavila.com.br/arquivos/images/elementos.gif
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Dentre os principais há que destacar-se:
Uso de palavrão ou gíria
Um dos mais tolos enganos que um orador pode cometer é imaginar que, ao usar
gírias ou palavrões irá se aproximar, ganhar intimidade com seus ouvintes. Pelo contrário, a
experiência demonstra que o uso de tal “recurso” apenas diminui o respeito e a credibilidade
em relação ao orador.
Obscuridade
Trata-se do uso inapropriado de termos (geralmente por não se saber o real
significado da palavra empregada) ou má colocação das palavras.
Cacofonia
Diz respeito à construção frasal de má sonoridade.
Ex.: “..um por cada...”, “...na boca dela”, “...gosto da cor vinho”, “...da vez passada”.
Vejamos um belo exemplo: “O Sr. Oscar Neiro irritou-se por ver na bocadela a cor vinho
na vez passada”.
Pleonasmo
É a redundância dos termos. Ex.: “subir para cima”, “descer para baixo”.
Chavões
O uso de chavões serve apenas como indicativo da falta de preparo do orador. É
necessário evitá-los ao máximo.
Ex.: “...o futebol é uma caixinha de surpresas...”
26
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRNIglrtTM0PgLiQqkgCUfTA8M232Uakuoo6ud_raYfFFuC8Ye5Hw
Interpretar um texto não é simplesmente saber o que se passa na cabeça do autor
quando ele escreve seu texto. É antes inferir. Se eu disser: “Levei minha filha caçula ao
parque.”, pode-se inferir que tenho mais de uma filha. Ou seja, inferir é retirar informações
implícitas e explícitas do texto. Há de se tomar cuidado, entretanto, como o que chamamos
de “conhecimento de mundo”, que nada mais é do que aquilo que todos carregamos
conosco, fruto do que aprendemos na escola, com os amigos, vendo televisão, enfim,
vivendo. Isso porque, muitas vezes, uma questão leva o candidato a responder não o que
está no texto, mas exatamente aquilo em que ele acredita.
Contudo não basta retirar informações de um texto para responder corretamente as
questões ou entendimento do texto. É necessário saber de onde tirá-las. Para tanto, temos
que ter conhecimento da estrutura textual e por quais processos se passa um texto até seu
formato final de dissertação, narração ou descrição.
Tudo o que dizemos ou escrevemos em uma situação comunicativa é chamado de
enunciado. Na fala, os enunciados são delimitados pela entonação e, na escrita, pela
pontuação. Podemos identificar três tipos de enunciados a frase, a oração e o período.
27
FRASE
O enunciado “Você de novo! ” está repleto de sentido, por isso é chamado de frase.
Para construir uma frase, o enunciado não precisa ser extenso. Desde que tenha sentido
completo em um contexto específico, uma simples palavra pode funcionar como frase.
Assim, as frases podem apresentar verbo ou não.
ORAÇÃO
Chama-se oração o enunciado construído necessariamente com um ou mais verbos.
Veja alguns exemplos:
Fiquem parados!
Estamos esperando a hora do almoço.
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28
PERÍODO
Período é um enunciado construído de uma ou mais orações. Se o período apresenta
apenas uma oração, é chamado simples. O período é composto quando é formado por mais
de uma oração.
Exemplo: Chegamos / todavia estava muito cedo.
http://1.bp.blogspot.com/-xpNL9sQK6eo/T81FM4IW-JI/AAAAAAAACIQ/47y0SELDEyI/s1600/capoliglota.jpg
PARÁGRAFO
Os períodos se organizam em parágrafos. Mas, diferente do período, o parágrafo não
é uma organização essencialmente sintática. Ele tem uma função estética e também
estrutural.
O parágrafo é identificado no texto pelo seu início afastado da margem do papel, o
que facilita tanto ao escritor como ao leitor, percebê-lo de forma isolada para que de modo
analítico, capte as ideias principais do texto e posteriormente, sintetizá-las compreendendo
então o texto num todo. Ele avisa o leitor de que está começando outro bloco de ideias,
relacionado com o anterior e o posterior, se houver.
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O parágrafo é recurso visual, pois o nosso pensamento não é organizado na forma
de parágrafos. Mas na hora de redigir, precisamos organizá-lo numa linguagem comum a
nós e ao nosso leitor.
PARÁGRAFO NARRATIVO
O parágrafo narrativo deve transmitir fielmente a intenção da narração. Ele tem como
matéria o fato, ou seja, qualquer acontecimento de que o homem participe direta ou
indiretamente. O relato de um episódio é composto por elementos como, enredo,
personagens, ação, tempo, espaço, causa, consequência, foco narrativo, clímax e desfecho.
Estes podem aparecer em sua totalidade ou parcialmente dentro de um parágrafo narrativo.
É certo que todos os elementos nem sempre estarão contidos em um só parágrafo,
sendo assim presentes em outras unidades da narração, contudo há a possibilidade de estes
serem observados num mesmo parágrafo, devido a capacidade do autor e sua perícia na
utilização dos recursos de linguagem a ele disponibilizados.
O parágrafo narrativo tem como núcleo o incidente, o fato ocorrido, nele também,
geralmente, não se tem o tópico frasal explicito, pois este está diluído implicitamente no
ordenamento da narração.
30
https://santiagopaes.files.wordpress.com/2015/02/charge-portugues.jpg
PARÁGRAFO DESCRITIVO
É aquele que descreve o objeto, ser, paisagem ou até mesmo um sentimento. Tal
descrição se dá pela apresentação das características predominantes e pelo detalhamento
destas. É, portanto o objeto matéria da descrição.
Uma descrição perfeitamente realizada, não se mostra pelas minúcias descritivas do
objeto. A descrição deve apresentar o ângulo do qual será feita a descrição, não só o físico,
mas também a atitude da observação.
QUALIDADE DO TEXTO
COESÃO
Um texto não é uma unidade construída por uma soma de sentenças, mas pelo
encadeamento semântico delas, criando, assim, uma trama semântica a que damos o nome
31
de textualidade. O encadeamento semântico que produz a textualidade chama-se coesão,
mais especificamente, dizendo que se trata de uma maneira de recuperar, em uma sentença
B, um termo presente em uma sentença A.
Damos o nome de coesão a todos aqueles processos que permitem, no texto, retomar
explicitamente a informação anterior e articulá-la com a que se segue. Temos vários
mecanismos de coesão:
Coesão gramatical
Coesão temporoaspetual
TIPOS DE COESÃO:
1- COESÃO GRAMATICAL
1.1. COESÃO FRÁSICA: envolve os mecanismos que unem os diversos constituintes
de uma frase simples, de modo torná-la coesa:
Ordenação das palavras e das funções sintáticas na frase;
Concordância em género e número das palavras;
Coesão interfrásica
Coesão referencial :
cadeia de refer ê ncia
Coesão frásica
Coesão lexical
COESÃO
32
Observância das regências de nomes, verbos, …
Presença dos complementos exigidos pelo verbo ou pelo nome.
E: A adoção de políticas educativas conducentes ao sucesso dos alunos é a
principal preocupação da Escola.
(Note-se a correta ordenação das palavras na frase, tendo em conta as funções que
elas desempenham; o respeito pelas regras de concordância em número entre o sujeito e o
verbo e em género e número entre nomes e adjetivos/ determinantes; o respeito pela
regência do nome adoção (preposição de), do adjetivo conducente (preposição a)).
https://profstellerdepaula.files.wordpress.com/2015/01/conotac3a7c3a3o.jpg
1.2. COESÃO INTERFRÁSICA: designa os mecanismos de sequencialização que
marcam diversos tipos de interdependência semântica entre as frases que ocorrem num
texto. Basicamente, a conexão interfrásica é assegurada pelos conectores, que podem ser
conjunções ou advérbios conectivos, ou pela pontuação.
Exemplo:
a) Madalena estava pensativa, quer dizer, meditava profundamente sobre os
versos de Camões. (quer dizer – articulador explicativo)
b) Resumidamente, a coesão é fundamental à construção do texto.
(resumidamente – articulador ou conector de confirmação/ resumo)
33
1.3. COESÃO TEMPOROASPETUAL: designa os processos que asseguram
compatibilidade semântica ao nível da localização temporal e da ordenação temporal relativa
das situações textualmente representadas.
A utilização correlativa dos tempos verbais é um dos mecanismos que
garante a coesão temporal: se se pretende representar uma situação passada
que se sobrepõe temporalmente a uma outra, também ela pertencente à
esfera do passado, é necessário recorrer a uma forma de Imperfeito do
Indicativo e a uma forma de Pretérito Perfeito Simples:
a) Quando o João nasceu, a Ana tinha cinco anos.
a’) * Quando o João nasceu, a Ana teve cinco anos. (inaceitável)
http://2.bp.blogspot.com/-d-
qqzheUSVU/UHNqWzx_OgI/AAAAAAAAAC0/5Ppvb8XSQAo/s1600/Polissemia.GIF
Os advérbios adjuntos de tempo devem igualmente ser compatíveis com os
tempos verbais selecionados:
a) Amanhã, vou ao cinema.
a’) *Amanhã, fui ao cinema. (inaceitável)
34
Para que a coesão temporal seja assegurada, é ainda necessário
compatibilizar os valores aspectuais das expressões predicativas com o
valor semântico dos conectores de valor temporal utilizados.
a) Enquanto o João arrumava a cozinha, a irmã atendeu cinco telefonemas.
a’) *Enquanto o João atingiu a meta, a irmã desmaiou. (inaceitável)
Saliente-se, por fim, que a ordenação textual linear dos eventos
representados deve corresponder à ordem pela qual ocorreram no mundo, ou
seja, a descrição de eventos anteriores deve preceder a descrição de eventos
posteriores:
a) Entrou na livraria e comprou o último Saramago.
a’) * Comprou o último Saramago e entrou na livraria. (inaceitável)
http://3.bp.blogspot.com/-ZI--0Y2IntY/Toc8Pyz7k6I/AAAAAAAAAac/Hk6Q8laxeH4/s1600/desenho.png
1.4. COESÃO REFERENCIAL: cadeia de referência: quando num texto há um ou
mais fragmentos textuais sem referência autónoma, cuja interpretação depende do valor
35
referencial de uma expressão presente no discurso anterior (anáfora) ou subsequente
(catáfora) estamos perante uma cadeia de referência.
Exemplo:
a) O Pedro lidera a turma. Os colegas apoiam-no incondicionalmente e estão do
lado dele em todas as situações.
(Aqui, a expressão nominal O Pedro e os pronomes pessoais o e ele formam uma
cadeia de referência, dado que o referente das formas pronominais é estabelecido pela
expressão nominal, presente no contexto verbal. As três estruturas sublinhadas reenviam
para o mesmo referente, ou seja, para a mesma entidade do mundo, logo, são cor
referentes.)
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/galerias/imagem/0000000442/md.0000003181.jpg
COESÃO COM RECURSO À ANÁFORA
Fala-se de anáfora quando a interpretação de uma expressão (habitualmente
designada por termo anafórico) depende da interpretação de uma outra expressão
presente no contexto verbal (o antecedente) - mais concretamente, o termo anafórico
retoma, total ou parcialmente, o valor referencial do antecedente.
36
Ex.
O Pedro lidera a turma. Os colegas apoiam-no incondicionalmente e estão do lado
dele em todas as situações.
COESÃO COM RECURSO À CATÁFORA
Processo semelhante à anáfora, mas em que os termos cor referentes aparecem
antes do elemento linguístico que indica o referente do discurso
Ex.
Quando o começamos a ler, encontramos algumas dificuldades, mas depois
prendemo-nos ao Sermão de Santo António aos Peixes.
https://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcT6G5njoElFhZ5qgrlYnoFIKlBFuCXjPh7zVWI1vnlvvjr_4PSgGw
ELIPSE
Numa cadeia de referência, o termo anafórico pode não estar lexicalmente realizado.
Fala-se de elipse para designar essa categoria vazia referencialmente dependente, cuja
interpretação convoca necessariamente um antecedente.
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a) Maria chegou junto da mãe e [ ]deu-lhe um beijo.
(Verifica-se, aqui, a elipse do sujeito da segunda frase, mas esse sujeito continua a
ser interpretado anaforicamente, por retoma do valor referencial do antecedente Maria.)
CORREFERÊNCIA NÃO ANAFÓRICA
Quando duas expressões remetem para a mesma referência, sem que uma fique
dependente da outra do ponto de vista referencial.
Ex.
O Padre António Vieira escreveu muitos e belos sermões, mas a Inquisição
conseguiu calar este “Imperador da Língua Portuguesa”. (Embora os dois segmentos
sublinhados sejam cor referentes, porque designam a mesma entidade, são autónomos no
sentido que assumem.)
2. COESÃO LEXICAL
Mecanismo de coesão textual que envolve:
A repetição da mesma unidade lexical ao longo do texto - repetição/
reiteração
Ex. “…e falei muito de responsabilidade. Falei da responsabilidade dos
vossos professores de vos motivarem. Falei da responsabilidade dos vossos
pais de vos manterem no bom caminho… Falei da responsabilidade do vosso
governo… na responsabilidade de cada um de vocês…”
A substituição de uma unidade lexical por outras que com ela mantém
relações semânticas de:
1- Hierarquia (hiponímia, hiperonímia)
38
Ex. A escola, a autarquia, o governo, as famílias são instituições
responsáveis pela educação.
2- Inclusão (holonímia, meronímia)
Ex. A escola é um espaço de aprendizagem; as salas de aula estão
bem equipadas.
3- Equivalência (sinonímia)
Ex. Os alunos participaram ativamente na campanha para a
Associação de Estudantes, o que mostra a capacidade de entrega dos
discentes.
4- Oposição (antonímia)
Ex. O sucesso de cada um depende da sua capacidade de assumir as
suas responsabilidades, caso contrário, será condenado ao fracasso.
DOCUMENTOS OFICIAIS
Além dos critérios exigidos numa boa redação, a correspondência oficial traz
particularidades que mostraremos dentro de cada modelo.
OFÍCIO
É a correspondência trocada entre órgãos públicos e outros organismos de governo
ou entre eles e os cidadãos ou entidades civis. Suas características são:
O papel utilizado: ofício (de 22 cm x 32 cm), em geral com timbre. Abaixo do timbre
vem a indicação do número do ofício seguido de uma barra oblíqua e dos algarismos finais
do ano em curso. Na mesma linha de numeração, à direita, localidade e data, abaixo, à
esquerda do papel, depois do espaço de separação, vem à indicação do remetente, do
destinatário e do assunto (ementa). A invocação vem depois do espaço de separação e é
sempre impessoal, o texto do ofício vem a seguir, o fecho do ofício vem a seguir. O fecho do
ofício vem separado do texto por espaço. Contém a despedida com votos de amizade e
respeito, deixando-se espaço de separação, coloca-se sob uma linha o nome do remetente,
indicando-se embaixo o cargo que ocupa com letras maiúsculas. A assinatura será feita
39
sobre a linha. Na parte inferior do papel, à esquerda, são escritos o nome e o endereço do
destinatário. Ao pé da folha, à esquerda, aparecem às iniciais do redator e as do datilógrafo
ou digitador, separadas por uma barra. Os ofícios são digitados com cópia para os arquivos
da entidade que expede. O ofício quando posto em envelope, deverá ser dobrado em forma
de z.
REQUERIMENTO
Petição por escrito, segundo as formalidades legais. É uma solicitação que se faz a
uma autoridade. Constam do requerimento: invocação (cargo da autoridade a que se
destina, precedido do tratamento conveniente, por extenso); nome e identificação do
requerente (nacionalidade, estado civil, endereço, número da Cédula de Identidade e do
CPF, além daqueles que o assunto exija); exposição do que se deseja e justificativa; fecho;
data; assinatura.
Observação: Entre o endereço e o texto – 14 espaços, quando digitados, 7 linhas, quando
manuscritos em papel pautado, ou 7 centímetros, quando manuscrito em papel sem pauta.
O fecho ou a conclusão, geralmente é imutável e se faz em duas linhas: Nestes
termos, Pede deferimento.
MEMORANDO
Definição e finalidade o Memorando é a modalidade de comunicação entre unidades
administrativas de um mesmo órgão, que podem estar hierarquicamente em mesmo nível
ou em nível diferente. Trata-se, portanto, de uma forma de comunicação eminente interna.
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https://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQqMd_oIp-iQ_z2Tl0YLREHnGNh5LdXKi9T8wUZS18UhKfqFH3-
Pode ter caráter meramente administrativo, ou ser empregado para a exposição de
projetos, ideias, diretrizes etc. a serem adotados por determinado setor do serviço público.
Sua característica principal é a agilidade. A tramitação do memorando em qualquer órgão
deve pautar-se pela rapidez e pela simplicidade de procedimentos burocráticos. Para evitar
desnecessário aumento do número de comunicações, os despachos ao memorando devem
ser dados no próprio documento e, no caso de falta de espaço, em folha de continuação.
Esse procedimento permite formar uma espécie de processo simplificado, assegurando
maior transparência à tomada de decisões, e permitindo que se historie o andamento da
matéria tratada no memorando.
HABILIDADES METALINGÜÍSTICAS E ALFABETIZAÇÃO
Tfouni (1988) distingue dois termos envolvidos no processo da aquisição a leitura e
da escrita: Alfabetização e Letramento: “Enquanto a alfabetização ocupa-se da aquisição da
escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-
históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade” (Tfouni, 1988 apud
Soares, 2002, P.3).
41
A alfabetização compreende a aprendizagem da leitura e escrita, e é um importante
objeto do conhecimento humano. A criança que não aprende a ler e escrever, desde cedo
fica excluída do sistema escolar e posteriormente tem suas possibilidades de entrada no
mercado de trabalho, limitadas. No entanto, tem se argumentado que a mera aprendizagem
do código escrito, ou alfabetização, sem que o aprendiz se torne letrado não permite que
este indivíduo se insira verdadeiramente em uma sociedade letrada como a nossa (Soares,
2002). Assim, discussões que permearam o ensino da língua escrita na década de 80 e 90
tenderam a desvalorizar o papel da alfabetização e dissociá-lo do processo de letramento.
Nossa posição é que este tipo de abordagem pouco contribui para a melhoria do
ensino da língua escrita e precisa ser revista. Soares (1998, 2005) nos lembra que “o ideal
seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais
da leitura e escrita, de forma que o indivíduo se torne ao mesmo tempo, alfabetizado e
letrado” (Soares, 2005, P.47).
O domínio da alfabetização acontece de forma gradual. O sistema de representações
fonológicas e ortográficas da língua é construída de forma dinâmica pelo aprendiz (Ferreiro,
1985; Read, 1986). Entender os processos de aquisição da alfabetização é importante para
que possamos pensar em práticas pedagógicas mais eficazes que possam prevenir os
problemas escolares, e em última análise possam alfabetizar letrando.
Nas últimas três décadas a atenção dos pesquisadores interessados na alfabetização
se voltou para o papel das habilidades metalinguísticas na alfabetização. Consciência
metalinguística pode ser definida como a cognição sobre a linguagem e a auto regulação
das atividades psicolinguísticas. Isso implica que o sujeito reflita sobre a linguagem como
um objeto independente do significado que veicula; e também que o sujeito manipule
intencionalmente as estrutura da linguagem (Correa, 2004).
Gombert (2003) e Gombert e Demont (2004) defendem que algum grau de
consciência metalinguística é necessário para que se possa aprender a ler e a escrever, no
entanto a habilidade verdadeiramente metalinguística dependeria de aprendizagens
explícitas, principalmente da aprendizagem da leitura e da escrita, mais frequentemente de
natureza escolar.
42
Vários estudos mostraram que as capacidades metalinguísticas se instalam
paralelamente à aprendizagem da leitura e escrita. De fato, para que a criança aprenda
tarefas linguísticas formais, é preciso que ela desenvolva uma consciência explícita das
estruturas linguísticas, para que assim possam manipulá-las intencionalmente.
Dentre as habilidades metalinguísticas três são identificadas como facilitadoras da
alfabetização: a consciência fonológica, a consciência sintática e a consciência morfológica.
CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E ALFABETIZAÇÃO
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A consciência fonológica é a capacidade de refletir e manipular os sons que compõem
as palavras (Cardoso-Martins, 1995). Ela ajuda na alfabetização, pois facilita a aquisição das
correspondências letra-som, que são utilizadas na decodificação, e que assim são
necessárias à aquisição do princípio alfabético. A decodificação facilita o reconhecimento de
palavras que por sua vez facilita o processo de compreensão do texto (Tunmer, 1990; Rego,
1995).
O papel facilitador da consciência fonológica na aprendizagem da leitura e da escrita
vem sendo confirmado por numerosas pesquisas realizadas com indivíduos de diversas
idades, diversos níveis de instrução e falantes de diferentes ortografias. (Goswami & Bryant,
1990, para uma revisão).
43
A consciência fonológica e a escrita se desenvolvem paralelamente, a consciência
fonológica contribuindo nos estágios iniciais do processo de alfabetização e por outro lado,
a alfabetização levando ao processamento de aspectos fonológicos mais complexos como
a análise fonêmica, que deriva do domínio da alfabetização.
CONSCIÊNCIA SINTÁTICA E ALFABETIZAÇÃO
https://ericasitta.files.wordpress.com/2015/08/dic3a1logo.jpg
A consciência sintática é a capacidade de refletir sobre os aspectos sintáticos das
sentenças, e envolve o controle deliberado da aplicação dos aspectos sintático-semântico
da língua, também chamada de informação contextual. Ajudaria na leitura e na escrita
porque ao reconhecer e controlar deliberadamente tais aspectos, a criança usa estas
informações contextuais como pistas, tanto na leitura para reconhecer as palavras no texto
que não conseguem decifrar ou compreender, como na escrita. No caso da escrita as pistas
contextuais parecem ajudar a criança a decidir sobre a grafia das palavras com ortografia
ambígua ou com mesma origem semântica. Um exemplo, seria a de palavras como
44
“conserto” e “concerto”. Estas palavras serão grafadas corretamente pela criança somente
se esta usar as pistas contextuais (Rego & Buarque, 1997; Mota, 1996; Correa, 2005; Rego,
1995).
Ao contrário do que acontece na consciência fonológica poucos estudos têm
investigado o desenvolvimento da consciência sintática e sua relação com a alfabetização.
Rego & Bryant (1993) acharam uma relação causal entre a consciência sintática e a leitura
de crianças inglesas em processo de alfabetização. Plaza & Cohen (2003) investigaram a
contribuição da consciência fonológica, consciência sintática e velocidade de nomeação
para a alfabetização de crianças em processo de alfabetização falantes do francês. O
resultado deste estudo mostrou que as medidas de consciência sintática contribuíram de
forma independente para as medias de leitura e escrita, mesmo depois de controlarem o
efeito da consciência fonológica e velocidade e nomeação.
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No português o papel da consciência sintática na alfabetização precisa ser mais bem
explorado. Em um estudo com crianças brasileiras, Rego (1995) identificou a consciência
sintática como facilitador da leitura das crianças entrevistadas. Em um outro estudo,
Guimarães (2003) investigou a relação entre consciência sintática e consciência fonológica
e o desenvolvimento da leitura e escrita em crianças com dificuldades de aprendizagem
cursando a terceira e quarta série do ensino fundamental. A autora não achou diferença
entre a performance de crianças com dificuldades de alfabetização e os controles de mesma
habilidade de escrita, mas mais jovens em idade. No entanto, as crianças de terceira e quarta
45
série sem dificuldades de leitura tiveram performance superior à das crianças com
dificuldade e a das mais jovens. Estes resultados sugerem que embora não pareça haver
um déficit específico da leitura das crianças com dificuldades de aprendizagem no que diz
respeito à consciência sintática, a escolarização tem um papel no desenvolvimento desta
habilidade.
No entanto, Mota e cols. (em preparação) acharam correlações significativas e
positivas entre as tarefas de consciência sintática realizadas por crianças de primeira e
segunda série do ensino fundamental e medidas de leitura e escrita. Estes resultados
apontam para importância de conhecermos melhor como a consciência sintática contribui
para a alfabetização numa língua regular como o português.
CONSCIÊNCIA MORFOLÓGICA E ALFABETIZAÇÃO
Além da consciência sintática e fonológica uma terceira habilidade que tem sido
investigada em relação a sua contribuição com a alfabetização é a consciência morfológica.
A consciência morfológica diz respeito à reflexão e manipulação intencional da
estrutura morfológica da língua (Carlisle, 2000). Dessa forma, a consciência morfológica se
refere à reflexão sobre o processo de formação das palavras. A investigação sobre o
desenvolvimento da consciência morfológica tem incidido sobre a sensibilidade da criança
aos processos de derivação lexical (morfologia derivacional) ou aos processos de flexão das
palavras (morfologia flexional) de forma separada. De fato Deacon & Bryant (2005)
mostraram que as crianças reagem de forma diferente a estes dois tipos de morfema.
Na morfologia derivacional, investiga-se a habilidade para a manipulação do
acréscimo de prefixos e/ou sufixos na formação de palavras, ou ainda, na decomposição de
palavras derivadas em palavras primitivas. De particular importância aqui é a criança
entender que apesar de possíveis extensões de sentido (Laroca 2005), em geral, as palavras
derivadas mantêm sua relação semântica e a grafia das palavras que a originaram.
46
A morfologia flexional investiga a sensibilidade às flexões de gênero e de número dos
substantivos e adjetivos e as flexões de modo-tempo e número-pessoa dos verbos. Neste
caso, informações semânticas e sintáticas interagem. Existem regras claras para grafar as
flexões. Por exemplo, no caso da palavra “cobrisse”, que é escrita com “ss” e não “c” pois se
trata de um morfema que indica o tempo condicional.
Uma série de estudos que visavam explorar a relação entre a consciência morfológica
e a alfabetização demonstram que a consciência Morfológica está associada ao
desempenho na leitura de palavras isoladas e na compreensão de leitura (Carlisle, 1995,
2000; Carlisle & Fleming, 2003; Deacon & Kirby, 2004; Nagy, Berninger & Abbot, 2006), e
também ao desempenho da escrita (Carlisle, 1988; 1996; Deacon & Bryant, 2005; Nunes,
Bindman & Bryant, 1997).
https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSaDxVAvOd1F4jbABE_je5mBn1S59MOPZvORaFSbaK_kClraJVV
Os estudos citados foram realizados em crianças de língua inglesa. A argumentação
principal para explicar a relação encontrada entre o processamento morfológico e a
alfabetização no inglês diz respeito à natureza da ortografia inglesa. O princípio alfabético é
o de que letras devem ser mapeadas perfeitamente aos sons das palavras, mas as línguas
alfabéticas variam quando ao grau de correspondência entre as letras e os sons da fala. No
inglês essas relações são mais opacas do que em ortografias como o português ou
espanhol. Muitas das irregularidades encontradas no inglês podem ser explicadas pela
47
estrutura morfológica das palavras. Por isso o processamento das palavras ao nível do
morfema pode ajudar as crianças a ler e escrever.
No entanto, não é só no inglês que tem se observado um efeito facilitador da estrutura
morfológica no desenvolvimento da leitura. No francês, Colé, Marec-Breton, Royer e
Gombert (2003) investigaram o papel da consciência morfológica na leitura e encontraram
resultados semelhantes aos estudos de língua inglesa. Embora o francês seja uma língua
mais regular que o inglês ainda assim, em muitos casos, sobre tudo no caso das flexões, há
muita ambigüidade. È possível que em línguas com ortografias mais regulares como o
português ou o espanhol o mesmo fenômeno não ocorra.
Alguma evidência de que o processamento morfológico influencia a escrita no
português foi encontrada por Mota (1996). Em um estudo com crianças de segunda a quarta
série, a autora mostrou que a partir da segunda série as crianças são capazes de utilizar
regras gramaticais para decidir a grafia de palavras flexionadas. Em um outro estudo, Mota
& cols. (2000) mostraram que adolescentes com baixa escolaridade demonstravam a
capacidade de processar os morfemas das palavras. Mota & cols (2002) também
observaram que as crianças de primeira série com os melhores escores nos testes de
Consciência Morfológica eram as crianças que escreviam melhor pseudo-palavras com
ortografia ambígua (ex., “muge”-“mugidor”).
Um problema metodológico que vem sendo levantado quando se estuda Consciência
Morfológica é até que ponto a consciência morfológica contribui de forma independente da
consciência fonológica para aquisição da leitura. Palavras morfologicamente semelhantes
são também fonologicamente semelhantes e, portanto, é possível que a contribuição
encontrada em estudos como de Carlisle (2000), que não controlou para o efeito da
Consciência Fonológica, seja parte de uma habilidade metalinguística geral e não específica.
Para investigar se a Consciência Morfológica contribui para a leitura
independentemente da Consciência Fonológica, Deacon & Kirby (2004) realizaram um
estudo longitudinal que durou quatro anos. Os autores investigando a morfologia flexional
mostraram que a Consciência Morfológica contribui para os escores de leitura em todas as
tarefas apresentadas (leitura de palavras simples, pseudo-palavras e compreensão da
48
leitura) independente da contribuição da Consciência Fonológica. Resultados semelhantes
foram encontrados por Naggy, Abbot & Berninger (2006).
Em conclusão, como no caso a consciência sintática mais estudos precisam ser
realizados para investigar a relação da consciência morfológica e a leitura e escrita no
português. Sendo o português uma língua com correspondências letra e som transparentes
é de fundamental importância que essa relação seja estudada independentemente da
contribuição a consciência fonológica.
a) atividade epilinguística – é o exercício de reflexão sobre o texto lido/escrito e da
operação sobre ele a fim de explorá-lo em suas diferentes possibilidades. Dizendo em outras
palavras, é a reflexão que quem escreve ou lê faz enquanto escreve ou lê, para compreender
ou atribuir sentidos ao texto, verificar sua lógica, coesão, coerência, adequação das
categorias gramaticais e ortografia, seja como leitor que precisa entender o que lê, seja como
autor que deseja que seu leitor entenda o que escreve;
b) atividade linguística – o próprio ato de ler e escrever;
c) atividade metalinguística – capacidade de falar sobre a linguagem, descrevê-la
e analisá-la como objeto de estudo (a gramática convencional).
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