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ISABEL KOPKE GARCIA DE FREITAS
O TOQUE LÚDICO AJUDANDO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL E
DESENVOLVIMENTO
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
RIO DE JANEIRO, 1º SEMESTRE DE 2010
.
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ISABEL KOPKE GARCIA DE FREITAS
O TOQUE LÚDICO AJUDANDO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Monografia apresentada a professora Mary
Sue como requisito para conclusão da
disciplina .
CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL E
DESENVOLVIMENTO
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
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RIO DE JANEIRO, 1º SEMESTRE DE 2010
Dedico essa monografia a todos aqueles que
fazem do trabalho um momento de prazer, lazer
e satisfação.
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Em primeiro lugar quero agradecer a Deus,
por colocar anjos na minha vida que me
ajudaram durante a faculdade, e agora a pós
graduação, fazendo com que eu não
desistisse tão fácil e seguisse meu caminho
em busca da tão sonhada vitória.
Agradeço a minha amiga , Fernanda, que
sem ela seria impossível ter concluído o
curso, até mesmo começado, pois foi ela
que me deu a brilhante idéia de fazer
pós(valeu cabeça) .
Agradeço aos meus amigos que me
ajudaram a crescer, me dando a mão até o
fim. e minha orientadora, , que me ajudou a
fazer esse novo e definitivo trabalho.Muito
Obrigada!
Agradeço aos pacientes, e a meus avós que
contribuíram sempre com que precisei.
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SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 7
2 – EFEITOS FISIOLÓGICOS DO TOCAR ................................................................... 9
3 – A IMPORTÂNCIA DO TOQUE NO DESENVOLVIMENTO .............................. 14
4 – SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO .................................................................................. 19
5 – APRENDIZAGEM ESTIMULADA POR VIAS SENSORIAIS , TÁTEIS. ........... 33
6 –. OBJETIVOS ............................................................................................................ 40
6.1 – OBJETIVO GERAL .......................................................................................... 40
6.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................ 40 7 – METODOLOGIA ..................................................................................................... 41
8 – CONCLUSÃO .......................................................................................................... 42
9 – BIBLIOGRAFIA....................................................................................................... 43
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Epígrafe
“Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta, que hoje eu me
gosto muito mais por que me entendo muito mais também, e que atitude de
recomeçar é todo dia é toda hora”(Gonzaguinha)
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1 – INTRODUÇÃO
“O indivíduo se constrói a cada dia sua evolução intelectual tem interação
constante e ininterrupta entre os processos internos e influencias do mundo social”
(Vygotsky). Este Autor acredita que as pessoas nascem como um copo vazio e são
formadas de acordo com as experiências às quais são submetidas”
A criança se desenvolve a partir da interação com o meio mediada por alguém.
Neste trabalho gostaria de abordar o toque lúdico e sua importância na vida das
pessoas e principalmente em bebês.
O uso de diversas texturas como cola colorida, tinta, sementes, areia traz
resultados surpreendentes.
Com cada paciente há um objetivo diferente a ser atingido com o mesmo
material, e assim também há uma reação diferenciada.
Surgiram durante meus atendimentos vários questionamentos sobre o porquê da
utilização desses materiais, com qual objetivo? O uso da tinta que em especial além de
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sujar a roupa chamava a atenção de todos, era o mais questionado, pois era ainda
necessário lavar a criança, passar pelos pais, pedir fraldas, outras roupas e etc.
O uso de jaleco limita os movimentos dificultando a atividade, pois sujar,
brincar experimentar nessas atividades lúdicas se fazia primordial e resolvi que só seria
usado em último caso.
A aceitação dos pais era boa e todos começaram a entender como isso ajudaria
seu filho.
Apesar de haver principalmente por parte dos funcionários da limpeza certa
rejeição, o desafio para mim se tornava maior.Numa procura incansável por provas e
resultados positivos ajudara-me a persistir naquilo que eu acreditava que daria um bom
resultado.
Outros motivos que me incentivaram nessa busca foram os questionamentos dos
pais, quanto ao porquê de pintar seus filhos. Quando fui buscar a resposta percebi que
essa atividade trazia a meus pacientes um grande bem estar e estaria facilitando seu
conhecimento corporal, gnósico, sensorial em amplo espectro. A partir daí foi
necessário me aprofundar na atuação lúdica no trabalho terapêutico.
É pela brincadeira que as coisas são mais aceitas, mais fáceis de melhor fixação.
Uma criança que experimenta corporalmente um monte de barro brincando tem menor
possibilidade de estranhar e não aceitar o material.
Estou em busca de um esclarecimento científico, fisiológico, sobre a ajuda que
esses materiais fornecem ao desenvolvimento da criança e o quanto podem ser
importante.
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2 – EFEITOS FISIOLÓGICOS DO TOCAR
A epiderme, camada mais externa do corpo produz uma substancia que é
indistinguível imunoquimicamente da temopoietina, hormônio da glândula timo que
está ativa na diferenciação de linfócitos T, que são responsáveis pela imunidade celular.
A estimulação tátil tem efeito profundo sobre o organismo tanto fisiológico
quanto comportamental. A pele reage a todo tipo de estímulo, ela é capaz de mudar,
adaptar-se a diferentes sensações. Ela não pensa, mas sua sensibilidade é tão grande que
combinada a sua capacidade de apreensão e transmissão de uma imensa variedade de
sinais tem uma enorme gama de resposta que excede as que são emitidas por outros
órgãos do sentido. Ela representa o sistema nervoso externo do organismo. Sua
sensibilidade estando prejudicada produzirá alterações importantes. É necessário a
estimulação tátil para que o organismo obtenha um bom crescimento e
desenvolvimento.
Acariciar promove uma maturação mais rápida do eixo pituitária- adrenais, quer
dizer o sistema de alarme, reação do corpo.
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Ao serem feitas pesquisas sobre respostas humanas e animais ao toque
descobriu-se que em relação à saúde, estado de atenção e responsabilidade mostrada
pelo os que foram carregados no colo, comparados com os que não foram, estes
apresentaram diminuição da percepção tátil.
Alguns bebês que foram pesquisados e que tinham recebido carinho nas costas,
aos seis meses, apresentavam uma incidência menor de resfriado, vômito diarréia,... Ao
contrário dos bebês do grupo cuja mãe não tinha sido instruída a acaricia-los.
Fica cada vez mais evidente a importância do tocar e seu favorecimento no
amadurecimento de estruturas neurológicas e imunológicas.
A pele pode ser considerada como porção exposta do sistema nervoso.
Na qualidade de órgão do sentido mais antigo e extenso do corpo, a pele permite
que o organismo aprenda o que é seu ambiente. A pele e todas as suas partes
diferenciadas é o meio pelo qual o mundo externo é percebido.
Em diferentes partes do corpo a pele varia quanto à textura, flexibilidade, cor,
odor, temperatura, inervação... O rosto em especial, registra as tentativas e os triunfos
de toda uma vida e com isso transporta a própria memória de suas experiências. A pele
possui cerca de cinco milhões de células sensoriais.É mais espessa nas superfícies
extensoras que nas flexoras.O tato é considerado fonte organizadora e processadora de
informações, mediador de diferenciação de células protetoras, reguladora da pressão e
do fluxo sanguíneo, temperatura, órgão da respiração e facilitadora da entrada e saída de
gases através da mesma, sintetizador da vitamina D responsável pelo controle do
raquitismo... Ao falar do toque acho importante falar das alterações fisiológicas da pele,
para tentar demonstrar quantas coisas a pele é responsável sendo assim capaz de
registrar coisas que não percebemos conscientemente, e que futuramente será usado.
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A sensação de uma coisa é importante por diversos motivos. Qualquer coisa
viscosa, adesiva ou grudenta é para algumas pessoas repugnante. Nossa sensação dos
outros incorpora grande parte das experiências que nós mesmos vivemos a nível de
pele.Uma experiência profundamente sentida é tocante. Uma experiência tocante é
pungente (poignant), palavra que herdamos, no inglês médio, diretamente do francês
arcaico poindre por intermédio do latim pungere que significa picar, tocar.
Como expressou André Virél, a pele é um espelho bifásico que desempenha uma
tripla função. Sua superfície externa reflete o mundo da realidade objetiva, assim como
o mundo vivo que existe no interior do corpo. Sua superfície interna reflete o mundo
externo de modo tal a comunicar sua realidade as multivariadas células que compõe
nossos órgãos. Nossa pele recebe não só os sinais que nos chegam desde o meio
ambiente, transmitindo-os ao centro do sistema nervoso para a etapa de decifração,
como ainda capta sinais de nosso mundo interno; todos esses são em seguida traduzidos
em termos quantificáveis. A pele é o espelho do funcionamento do organismo, sua cor,
textura, umidade, secura, e cada um dos seus demais aspectos refletem nosso estado de
ser psicológico e também fisiológico.
As fibras nervosas que conduzem os impulsos táteis são em geral de tamanho
maior que as associadas aos outros órgãos dos sentidos.
Enquanto sistema sensorial a pele é em grande medida o sistema de órgão mais
importante do corpo. O ser humano pode passar sua vida toda cego, surdo e
completamente desprovido dos sentidos do olfato e do paladar, mas não poderá
sobreviver de modo algum sem as funções desempenhadas pela pele. Uma pessoa que
ficou surda e cega ainda na infância e cuja mente foi literalmente criada através da
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estimulação de sua pele, pois os outros sentidos estão prejudicados pode compensar
suas deficiências num grau extraordinário.
A estimulação contínua da pele pode pelo ambiente externo servir para manter
tanto o tônus sensorial quanto o motor. O cérebro precisa ser realimentado por
informações oriundas da pele, a fim de efetuar os ajustamentos necessários em resposta
aos dados captados. Quando a perna “dorme” ou fica amortecida, a interrupção do fluxo
sensorial resulta na dificuldade de iniciar um movimento com a mesma, por que os
impulsos que vem da pele, dos músculos e das e das articulações não estão alcançando
adequadamente o gira pós-central do cérebro. O feedback da pele para o cérebro é
contínuo, mesmo durante o sono.
Que influência tem sobre o desenvolvimento do organismo os vários tipos de
experiências cutâneas que o mesmo vive principalmente no início da vida? Que tipo de
estimulação da pele são necessários ao desenvolvimento saudável do organismo, tanto
física quanto comportamental? Quais são os efeitos se é que existem da falta ou
insuficiência de certos tipos especiais de estimulação da pele?
Constatou-se que estimulação cutânea em bebês recém nascidos exercem uma
influência altamente benéfica sobre seu sistema imunológico, o que tem importantes
conseqüências para a resistência contra doenças infecciosas e outras.
Essa competência imunológica pode ser produzida por intermédio da atuação de
substâncias e hormônios condutores que afetam a glândula timo, estrutura essa que tem
uma importância crítica na organização da função imunológica, assim como por meio
da atuação daquela parte do cérebro conhecida como hipotálamo.
A manipulação ou carinhos dados nos bebês, em seus primeiro dias de vida,
resultam num significativo aumento de peso, ritmo de sua atividade na presença de
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menor temerosidade, em maior capacidade para suportar o estresse e numa maior
resistência a lesões de nível fisiológico. É sugerido que a estimulação cutânea é uma
importante necessidade biológica tanto para desenvolvimento físico quanto para o
comportamental. Praticamente todo animal aprecia ser acariciado ou ter sua pele
estimulada de algum modo agradável.
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3 – A IMPORTÂNCIA DO TOQUE NO DESENVOLVIMENTO
É a partir de repetidas experiências sensoriais que a criança aprende a se
comportar segundo as estimulações advindas de seu meio.
O bebê esquimó que vive em constante contato com a pele da mãe se comunica
com ela através da pele, dando–lhe sinais de suas necessidades e permitindo esta lhe
atenda com antecipação. O contato com o corpo da mãe, faz com que ele se submeta a
todos os movimentos, e posturas locomotoras desencadeando uma inter- relação mãe-
bebê, especial.
O potencial do humano de desenvolver, conquistar conceitos, cultura e etc,
dependerá da interação que fizer dentro de seu grupo cultural.
Os seres humanos nascem em estado de tal imaturidade que são necessários de
oito a dez meses para que o bebê consiga apenas engatinhar e mais quatro ou seis antes
de poderem falar ou andar, temos de proteger nossos filhos e cuidar deles depois que
nascem.
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Os que gozam de experiências táteis adequadas responderão muito diversamente
do que os que deixarem de passar pelas mesmas. Não há dúvida de que a estimulação
tátil é necessária ao desenvolvimento saudável.
A pele é um órgão sensorial primário para o bebê e que durante seu período de
ligação afetiva reflexa é a experiência tátil o elemento crítico para o prosseguimento do
crescimento e do desenvolvimento. É vigorosa a necessidade que o bebê tem de contato
corporal, se não for suprida o bebê sofrerá.
Nos órgãos do sentido se inicia toda formação conceitual. O contorno, a forma e
o espaço do mundo exterior, da realidade, figura e fundo dos quais elas emergem, são
gradualmente construídos pelos bebês a partir dos elementos básicos de suas
experiências, que entram por todos seus sentidos sempre contingentes, correlacionados
mensurados e avaliados pelo critério do tato.
Dados que os diversos sentidos são na realidade receptores de pele de diferente
tipos, os olhos, ouvidos, nariz, e certamente a língua sentem mais do que vêem ouvem
ou degustam. Assim que tem condição o bebê testa tudo que pode colocando objetos na
boca, e o que ele sente ali com a mão e a boca irá informa-lo do que deseja saber. Aos
poucos partirá para aumentar a distância entre o que sente a nível tátil e o que
experimenta por intermédio dos outros sentidos, até chegar a ser capaz de reconhecer
cada experiência ou objeto como algo separado e distinto de tudo o mais, dotados de
atributos que lhe são específicos ao invés de valer-se apenas do veredito da pele.
Nos estágios iniciais, a segurança do bebê é uma questão de contato epidérmico
e de sensações cinestésicas, que ocorrem quando ele é levado ao colo e apoiado. Mais
tarde a segurança deriva também da orientação fornecida pela visão e pelo som e
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também pela capacidade de o bebê manter contato com sua mãe por intermédio das
modalidades perceptivas.
O bebê devolve uma sensação de desconfiança, dependendo de suas impressões
sensoriais recebidas principalmente através da pele, sejam elas gratificantes ou não.A
sensação de espaço, tempo e realidade do bebê é uma coisa só, inicialmente vivida
como algo que é duradouramente gratificante, depois como algo que é perceptivamente
significativo e, mais tarde como acontecimentos que podem ser antecipados.
No início, o mundo da criança é uma sucessão de sensações e estados sensoriais
diferentes. O que varia é a qualidade, a distribuição e a intensidade das sensações.
Com um ritmo definido e uma qualidade permanente de estímulos, as
importantes experiências como a da alimentação e a do banho, podem permitir aos
bebês alcançarem uma sensação de si próprio como uma entidade em relação às quais
acontecem coisas, e que são dotadas da possibilidade de fazerem acontecerem coisas.
No começo de sua vida o bebê não é só destituído de estruturas psíquicas como
também de limites corporais e psíquicos. Ele é incapaz de distinguir entre dentro e fora,
entre eu e não eu, as identificações primárias que ele efetua são dirigidas para suas
necessidades de gratificação enquanto parte do seu corpo.
As mães restringem extensamente as oportunidades para identificação primária
quando privam a ocorrência de experiência táteis. Para que o bebê possa diferenciar-se
de sua mãe, essas identificações primárias, de natureza tátil e outras, precisam se
enfrentadas, separadas e dominadas.
Crescendo o bebê absorve muito aprendendo o uso do eu e do mim, e descobre
que não é o que vê, que é outro que não as coisas que toca. Vai assim delineando uma
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mente distinta de onde pode originar-se a memória clara, enquanto pela moldura que o
cerca, sua isolação cresce em definição.
Nos primeiros seis meses, as experiências táteis são fundamentais ao
desenvolvimento do estágio da identificação primária e ao mecanismo da identificação
secundária.
Muitos órgãos de sentido estão confinados a uma parte pequena do corpo, como
as narinas, o ouvido, os olhos, ao passo que o sentido do tato é disperso por toda a pele,
existindo, porém num grau mais intenso de delicadeza nas pontas dos dedos, sendo por
esta razão que põem todos os objetos novos dentro de sua boca, quando são saciados
com comida, e também o fazem quando estão com fome.
No primeiro caso aprendemos o comprimento e a largura dos objetos pela
manutenção desta pressão contra nosso órgão do tato em movimento.
É por isso que somos tão lentos na aquisição de nossas idéias tangíveis e tão
lentos para recorda-las, pois se eu agora pensar na idéia tangível de um cubo, quer dizer,
se pensar em seu contorno e na solidez de cada parte dessa figura, devo conceber a mim
mesmo passando meus dedos por ele, e até certo ponto recuperando a sensação dessa
idéia como da primeira vez em que a impressão desse cubo se formou nas pontas de
seus dedos, portanto levo muito tempo para recorda-me distintamente.
A modalidade de espaço tempo e realidade, contorno, forma, profundidade,
qualidade, textura, a tridimensionalidade de nossa visão e outras, são quase que
certamente desenvolvidas, em grande medida, com base nas experiências táteis do bebê.
Daí a importância do tratamento através do toque. O toque serve para acalmar e
estimular.
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Com a idade, as várias terminações nervosas táteis submetem-se a mudanças
significativas. As estruturas das terminações nervosas dentro do corpúsculo organizados
da pele sofre ruptura das neurofribilas. Diminuem o número dos corpúsculos de
Meisser.
Isto se reflete numa menor acuidade do sentido do tato, da capacidade de
localizar com exatidão os estímulos, da velocidade de reação aos estímulos táteis e da
velocidade de reação aos estímulos de dor. Uma das mais acentuadas mudanças que a
idade determina, em muitos casos, é a perda aparente da grande sensibilidade existente
nas superfícies palmares das mãos. Os dedos e as palmas em que estão localizados em
maior número os elementos neurotáteis, parece por assim dizer ter-se endurecido, como
se a pele calejada tivesse perdido sua capacidade de transmitir e de receber suas antigas
comunicações.
O idoso geralmente tem problema de audição, visual, de se deslocar, podendo
deixa-lo sentir-se desamparados e vulneráveis.
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4 – SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO
PERCEPÇÃO
Ainda que dois seres humanos dividam a mesma arquitetura biológica e
genética, talvez aquilo que um deles percebe como uma cor ou cheiro, não seja
exatamente igual à cor e cheiro que o outro percebe. Nós damos o mesmo nome a esta
percepção, mas, com certeza, não sabemos se elas relacionam à realidade do mundo
externo exatamente da mesma maneira que a realidade percebida por nosso semelhante.
Talvez nunca saberemos.
O termo percepção designa o ato pelo qual tomamos conhecimento de um objeto
do meio exterior. A maior parte de nossas percepções conscientes provém do meio
externo, pois as sensações dos órgãos internos não são conscientes na maioria das vezes
e desempenham papel limitado na elaboração do conhecimento do mundo. Trata-se, a
percepção, da apreensão de uma situação objetiva baseada em sensações, acompanhada
de representações e freqüentemente de juízos.
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A percepção, ao contrário da sensação, não é uma fotografia dos objetos do
mundo determinada exclusivamente pelas qualidades objetivas do estímulo. Na
percepção, acrescentamos aos estímulos elementos da memória, do raciocínio, do juízo
e do afeto, portanto, acoplamos às qualidades objetivas dos sentidos outros elementos
subjetivos e próprios de cada indivíduo.
A sensação visual de um objeto arredondado, vermelho e com parte de seu corpo
enegrecido, somente será percebido como uma maçã podre se a pessoa souber,
antecipadamente, o que é uma maçã, e, dentro deste conhecimento, souber ainda que
maçãs apodrecem e, quando apodrecem, adquirem certas características perfeitamente
compatíveis com o estímulo sentido.
Poderíamos, a título de simplificação e a grosso modo, considerar que as
sensações seriam determinadas por fatores exclusivamente neurofisiológicos, enquanto
as percepções seriam determinadas por fatores psicológicos.
Entretanto, nem isso podemos dizer. Ocorre que, em determinados estados
emocionais, até as sensações podem estar comprometidas. É o que acontece, por
exemplo, nos estados hístero-ansiosos com profundas alterações nas sensações
corpóreas: anestesias, parestesias, hipoestesias, etc. Desta forma o mais correto seria
considerar que as sensações, nas pessoas normais, envolvem predominantemente
elementos neurofisiológicos e as percepções,envolvem predominantemente elementos
psicológicos.
A percepção consiste na apreensão de uma totalidade e sua organização
consciente não é uma simples adição de estímulos locais e temporais captados pelos
órgãos dos sentidos. Nossa experiência (consciência) do mundo revela que não temos
apenas sensações isoladas dele, ao contrário, o que chega à consciência são
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configurações globais, dinâmicas e perfeitamente integradas de sensações. Embora as
sensações não nos ofereçam, em si mesmas, o conhecimento do mundo, elas
representam os elementos necessários ao conhecimento sem os quais não existiriam
percepções.
A percepção se relaciona diretamente com a forma da realidade apreendida,
enquanto a sensação se relacionaria à fragmentos esparsos dessa mesma realidade. Ao
ouvirmos notas musicais, por exemplo, estaríamos captando fragmentos mas, à partir do
momento em que captamos uma sucessão e seqüência dessas notas ao longo de uma
melodia, estaríamos captando a forma musical.
Há na verdade três percepções: a percepção anterior à realidade consciente; a
percepção que se transforma na realidade consciente; a percepção posterior à realidade
consciente.
A percepção anterior à realidade consciente é a percepção despojada de toda e
qualquer subjetividade, é a objetividade pura. Ela é anterior a toda e qualquer
interpretação, anterior a toda e qualquer compreensão e anterior a toda e qualquer
significação.
A percepção anterior à realidade permite a experiência da própria percepção em
estado puro. Ela é radicalmente exterior ao sujeito, é a percepção do mundo exterior
objetivo por excelência. É uma sensação vazia de subjetividade.
A percepção que se transforma na realidade consciente é a percepção cuja
objetividade já remete à uma subjetividade ou à um significado consciente real. Ela não
se permite circunscrever apenas ao mundo exterior e passa a pertencer ao mundo
interior do sujeito. Trata-se da ponte que une o objeto ao sujeito (o mundo objectual ao
sujeito), tal como uma porta que introduz o mundo exterior para dentro da
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subjetividade. Entretanto, esta percepção que se transforma na realidade consciente é
somente uma porta de entrada, e é sempre ao mesmo tempo uma passagem do objeto ao
sujeito, é tanto a porta quanto o trânsito através dela, e sempre no sentido que conduz da
percepção à subjetividade. A percepção posterior à realidade consciente é a percepção
que não contém propriamente uma nova subjetividade mas toca nela à partir de
estímulos atuais. Ela reforça a subjetividade pré-existente e, à partir dela, constrói novos
elementos subjetivos.
Digamos que, enquanto a sensação oferece à pessoa o fundamental da realidade,
na percepção esse fundamental se organiza de acordo com estruturas específicas,
conferindo originalidade pessoal à realidade apreendida. A partir da percepção que se
transforma na realidade consciente, o sujeito passa a oferecer às suas sensações um
determinado fundo pessoal sobre o qual se assentarão as demais futuras sensações.
Dessa forma, o objeto sensível está sempre se relacionando com esse fundo perceptivo
individual e existirá sempre uma apreciável diferença subjetiva entre o objeto em si e o
fundo pessoal sobre o qual ele se faz representar.
As formações psíquicas advindas do ato perceptivo compõem as configurações
conscientes da realidade e essas configurações contém mais do que a simples soma do
fundamental sentido. A percepção proporciona dados sobre o fisicamente sentido,
porém esses dados variam de acordo com as condições do fundo pessoal e a forma
percebida passa a transcender o objeto simplesmente sentido.
Como veremos adiante, a percepção transcendente, ou seja, a forma da realidade
apreendida, pode ser modificada em conseqüência de condições pessoais momentâneas.
Dependendo da fadiga, da ansiedade ou do afeto, por exemplo, os estímulos externos
podem ser captados como sensações agradáveis ou desagradáveis, assim como também
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se alteram pela ação de determinadas substâncias químicas ou em determinadas doenças
orgânicas.
Em toda percepção existe um componente afetivo que contribui para a imagem
representada. Algumas impressões podem ser captadas mais intensamente que outras,
dependendo da atenção (interesse afetivo), dependendo da atitude pensada, do estado de
ânimo e da situação emocional de quem percebe. A seleção das impressões sensoriais
apreendidas depende de uma série de processos ativos que transforma a percepção numa
função anímica por excelência.
No ato perceptivo se distinguem dois componentes fundamentais: a captação
sensorial e a integração significativa, a qual nos permite o conhecimento consciente do
objeto captado. Portanto, as percepções serão subjetivas por existirem em nossa
consciência, e objetivas pelo conteúdo que estimula a sensação.
SENSAÇÃO
Em seu significado preciso, a sensação é um fenômeno psíquico elementar que
resulta da ação de estímulos externos sobre os nossos órgãos dos sentidos.
Entre o estado psicológico atual e o estímulo exterior há um fator causal e
determinante ao qual designamos sensação, portanto, deve haver uma concordância
entre as sensações e os estímulos que as produzem.
As sensações podem ser classificadas em três grupos principais: externas,
internas e especiais. As sensações externas são aquelas que refletem as propriedades e
aspectos de tudo, humanamente perceptível, que se encontra no mundo exterior. Para tal
nos valemos dos órgãos dos sentidos; sensações visuais, auditivas, gustativas, olfativas
e táteis. A resposta específica (sensação) de cada órgão dos sentidos aos estímulos que
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agem sobre eles é conseqüência da adaptação desse órgão a esse tipo determinado de
estímulo.
As sensações internas refletem os movimentos de partes isoladas do nosso corpo
e o estado dos órgãos internos. Ao conjunto dessas sensações se denomina sensibilidade
geral. Discretos receptores sensitivos captam estímulos proprioceptivos, que indicam a
posição do corpo e de suas partes, enquanto outros, que recebem estímulos
denominados cinestésicos, são responsáveis pela monitorização dos movimentos,
auxiliando-nos a realizar outras atividades cinéticas, segura e coordenadamente. Os
receptores dessas sensações se acham localizados nos músculos, nos tendões e na
superfície dos diferentes órgãos internos. Portanto, esse grupo engloba três tipos de
sensações: motoras, de equilíbrio e orgânicas.
As sensações motoras nos orientam sobre os movimentos dos membros e do
nosso corpo. As sensações de equilíbrio provêm da parte interna do ouvido e indicam a
posição do corpo e da cabeça. As sensações orgânicas são, de fato, as proprioceptivas, e
se originam nos órgãos internos: estômago, intestinos, pulmões etc. Seus receptores
estão localizados na face interna desses órgãos. Outros sensores sutis são capazes de
captar informações mais refinadas, tais como temperatura, excitação sexual e volume
sanguíneo.
A sensação especial se manifesta sob a forma de sensibilidade para a fome, sede,
fadiga, de mal-estar ou bem-estar. Essas sensações internas vagas e indiferenciadas que
nos dão a sensibilidade de bem-estar, mal-estar, etc., têm o nome de cenestesia. No
processo do conhecimento e do auto-conhecimento objetivo as sensações ocupam o
primeiro grau. São as sensações que nos relacionam com nosso próprio organismo, com
o mundo exterior e com as coisas que nos rodeiam. O conhecimento do mundo exterior
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resulta das sensações dele captadas e quanto mais desenvolvidos forem os órgãos dos
sentidos e o sistema nervoso do animal, mais delicadas e mais variadas serão as suas
sensações.
Movimento gera sensação, que gera percepção que gera aprendizagem.
Experiência sensível e suas formas principais são a sensação e a percepção.
A tradição filosófica, até o século XX, distinguia sensação de percepção pelo
grau de complexidade. A sensação nos dá as qualidades exteriores e interiores, isto é, as
qualidades dos objetos e os efeitos internos dessas qualidades sobre nós. Na sensação
vemos, tocamos, sentimos, ouvimos qualidades puras e diretas: cores, odores, sabores,
texturas. Sentimos o quente e o frio, o doce e o amargo, o liso e o rugoso, o vermelho e
o verde, etc.
Sentir é algo ambíguo, pois o sensível é, ao mesmo tempo, a qualidade que está
no objeto e o sentimento interno que nosso corpo possui das qualidades sentidas. Por
isso, a tradição costuma dizer que a sensação é uma reação corporal imediata a um
estímulo ou excitação externa, sem que seja possível distinguir, no ato da sensação, o
estímulo exterior e o sentimento interior.
Essa distinção só poderia ser feita num laboratório, com análise de nossa
Anatomia, fisiologia e sistema nervoso.
Quando examinamos a sensação, notamos que ninguém diz que sente o quente,
vê o azul e engole o amargo. Pelo contrário, dizemos que a água está quente, que o céu
é azul e que o alimento está amargo. Isto é, sentimos as qualidades como integrantes de
seres mais amplos e complexos do que a sensação isolada de cada qualidade. Por isso,
se diz que, na realidade, só temos sensações sob a forma de percepções, isto é, de
sínteses de sensações.
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Duas grandes concepções sobre a sensação e a percepção fazem parte da
tradição filosófica: a empirista e a intelectualista.
Para os empiristas, a sensação e a percepção dependem das coisas exteriores, isto
é, são causadas por estímulos externos que agem sobre nossos sentidos e sobre o nosso
sistema nervoso, recebendo uma resposta que parte de nosso cérebro, volta a percorrer
nosso sistema nervoso e chega aos nossos sentidos sob a forma de uma sensação (uma
cor, um sabor, um odor), ou de uma associação de sensações numa percepção (vejo um
objeto vermelho, sinto o sabor de uma carne, sinto o cheiro da rosa, etc.).
A sensação seria pontual, isto é, um ponto do objeto externo toca um de meus
órgãos dos sentidos e faz um percurso no interior do meu corpo, indo ao cérebro e
voltando às extremidades sensoriais. Cada sensação é independente das outras e cabe à
percepção unificá-las e organizá-las numa síntese. A causa do conhecimento sensível é
a coisa externa, de modo que a sensação e a percepção são efeitos passivos de uma
atividade dos corpos exteriores sobre o nosso corpo. O conhecimento é obtido por soma
e associação das sensações na percepção e tal soma e associação dependem da
freqüência, da repetição e da sucessão dos estímulos externos e de nossos hábitos.
Para os intelectualistas, a sensação e a percepção dependem do sujeito do
conhecimento e a coisa exterior é apenas a ocasião para que tenhamos a sensação ou a
percepção. Nesse caso, o sujeito é ativo e a coisa externa é passiva, ou seja, sentir e
perceber são fenômenos que dependem da capacidade do sujeito para decompor um
objeto em suas qualidades simples (a sensação) e de recompor o objeto como um todo,
dando-lhe organização e interpretação (a percepção).
A passagem da sensação para a percepção é, neste caso, um ato realizado pelo
intelecto do sujeito do conhecimento, que confere organização e sentido às sensações.
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Não haveria algo propriamente chamado percepção, mas sensações dispersas ou
elementares; sua organização ou síntese seria feita pela inteligência e receberia o nome
de percepção. Assim, na sensação, “sentimos” qualidades pontuais, dispersas,
elementares e, na percepção, “sabemos” que estamos tendo sensação de um objeto que
possui as qualidades sentidas por nós. Como disse um filósofo, perceber é “saber que
percebo”; ver é “pensamento de ver”; ouvir é “pensamento de ouvir”, e assim por
diante.
Para os empiristas, a sensação conduz à percepção como uma síntese passiva,
isto é, que depende do objeto exterior. Para os intelectualistas, a sensação conduz à
percepção como síntese ativa, isto é, que depende da atividade do entendimento.
Para os empiristas, as idéias são provenientes das percepções. Para os
intelectualistas, a sensação e a percepção são sempre confusas e devem ser abandonadas
quando o pensamento formula as idéias puras.
Empiristas e intelectualistas, apesar de suas diferenças, concordavam num
aspecto julgavam que a sensação era uma relação de causa e efeito entre pontos das
coisas e pontos de nosso corpo. As coisas seriam como mosaicos de qualidades isoladas
justapostas e nosso aparelho sensorial (órgãos dos sentidos, sistema nervoso e cérebro)
também seria um mosaico de receptores isolados e justapostos. Por isso, a percepção era
considerada a atividade que “somava” ou “juntava” as partes numa síntese que seria o
objeto percebido.
Fenomenologia e Gestalt, porém, mostram que não há diferença entre sensação e
percepção porque nunca temos sensações parciais, pontuais ou elementares, isto é,
sensações separadas de cada qualidade, que depois o espírito juntaria e organizaria
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como percepção de um único objeto. Sentimos e percebemos formas, isto é, totalidades
estruturadas dotadas de sentido ou de significação.
As experiências conhecidas como figura-e-fundo mostram que não temos
sensações parciais, mas percepções globais de uma forma ou de uma estrutura.
As experiências com formas “incompletas” mostram que a percepção sempre
percebe uma totalidade completa, o que seria impossível se tivéssemos sensações
elementares que o pensamento unificaria numa percepção.
“A percepção é o processo de decodificar os estímulos que recebemos. Se as
necessidades e motivações de um indivíduo, analisadas anteriormente, se concretizam,
por vezes, na compra e no consumo, não se deve concluir daí que as forças internas do
ser humano são suficientes para explicar o seu comportamento”.
A razão é simples: o que um consumidor compra depende, para além das suas
necessidades mais profundas, dos produtos e serviços disponíveis no seu meio
envolvente e do modo como os percebe. Além disso, o conceito da "utilidade" da
compra parece afastar-se cada vez mais da racionalidade.
Em termos gerais, a percepção pode ser descrita como a forma como vemos o
mundo à nossa volta, o modo segundo o qual o indivíduo constrói em si a representação
e o conhecimento que possui das coisas, pessoas e situações, ainda que, por vezes, seja
induzido em erro. Percepcionar algo ou alguém é captá-lo através dos sentidos e
também fixar essa imagem.
As relações entre o indivíduo e o mundo que o rodeia são assim regidas pelo
mecanismo perceptivo e todo o conhecimento é necessariamente adquirido através da
percepção. Dois indivíduos, da mesma faixa etária, que sejam sujeitos ao mesmo
estímulo, nas mesmas condições, captam-no, selecionam-no, organizam-no e
29
interpretam-no com base num processo perceptivo individual segundo as suas
necessidades, valores e expectativas.
É fundamental, por isso, estudar e tentar perceber este processo, com vista ao
conhecimento dos principais fatores que determinam a captação de um estímulo e a sua
interpretação.
O processo perceptivo inicia-se com a captação, através dos órgãos dos sentidos,
de um estímulo que, em seguida, é enviado ao cérebro. A percepção pode então ser
definida como a recepção, por parte do cérebro, da chegada de um estímulo, ou como o
processo através do qual um indivíduo seleciona, organiza e interpreta estímulos. Este
processo pode ser decomposto em duas fases distintas: a sensação, mecanismo
fisiológico através do qual os órgãos sensoriais registram e transmitem os estímulos
externos; e a interpretação que permite organizar e dar um significado aos estímulos
recebidos.
A sensação corresponde a uma resposta direta e imediata dos órgãos sensoriais a
um estímulo básico como a luz, a cor, o som ou o tacto. A sensibilidade ao estímulo
varia consoante a qualidade sensorial dos órgãos receptores e a quantidade e a
intensidade dos estímulos aos quais estamos expostos. Por exemplo, uma pessoa cega
tem a percepção auditiva e táctil mais desenvolvida que a maioria das pessoas e como
tal é capaz de ouvir sons que normalmente as pessoas não ouvem conscientemente.
A sensação é por natureza diferencial, ou seja, as pessoas só reparam naquilo
que se distingue do geral, naquilo que é diferente, nos desvios, nas irregularidades. À
medida que o nível de estímulos sensoriais diminui, a capacidade de detecção das
diferenças ou da intensidade dos estímulos aumenta. É em condições mínimas de
estimulação que se atinge a máxima sensibilidade. É por esta razão que a atenção
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aumenta quando um anúncio aparece sozinho num intervalo de um programa, ou
quando, no meio de vários anúncios a cores, surge um em preto e branco. Esta
capacidade que o organismo tem de alterar os níveis de sensibilidade consoante a
variação das condições externas não só permite ter maior sensibilidade quando é
necessário como também serve de proteção quando o nível de estimulação é muito
elevado.
Só a partir de uma determinada intensidade/diferenciação de um estímulo é que
o ser humano é capaz de percebê-lo, podendo variar de indivíduo para indivíduo, em
função de intensidade, duração de exposição e sensibilidade.
Este processo encerra em si dois conceitos fundamentais para a compreensão da
noção de sensibilidade a um determinado estímulo.
Quando se define a mais baixa intensidade que um estímulo pode registrar num
canal sensorial, fazemos referência ao limiar do receptor. O limiar absoluto refere-se à
energia mínima do estímulo necessária para produzir uma sensação: a luz mais fraca
que é possível ver, o som mais débil que é possível ouvir. A pesquisa sobre os limiares
absolutos permitiu constatar que, existe, para cada sentido, um limiar mínimo de
sensação situado a um nível bastante baixo: na ordem de 1/25 de segundo de exposição
para a visão, por exemplo; e que o ser humano tem a possibilidade de ajustar esse limiar
em função das circunstâncias. Quando, por exemplo, um indivíduo entra numa sala
escura, não vê nada de princípio, mas à medida que os seus olhos se vão habituando,
começa a distinguir formas e depois objetos.
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Caso Clinico
O relato a seguir ilustra minha experiência , confirma que o trabalho baseado no
tocar associado ao uso de material que promovam a estimulação sensorial com: alpiste,
areia cola colorida, tinta provocam nos pacientes uma reação sensorial que conduz uma
melhor integração para a aprendizagem.
O paciente L.V.B. no início do atendimento apresentava como únicas reações o
choro e o riso mantinha-se isolado não buscando os objetos e sem falar. Paciente
apresenta déficit sensorial com redução da audição e visão. Após visita domiciliar
costatamos que sua mãe não promove novas experiências impedindo de executar várias
ações motoras pois permanece a maior parte do tempo no colo de alguém.
Não há estimulação durante a alimentação e o banho, passando a maior parte do
tempo no colo ou no berço com um leão de pelúcia.
O trabalho de estimulação sensorial inicialmente buscou dar a ele sua própria
noção de corpo, corpo que não é a extensão de sua mãe, muito menos um objeto.
O trabalho foi de estímulos constantes, diversificados, repetidos e demorado.
A partir daí L passou a ter reações de euforia e começou a me imitar em algumas
atitudes motoras como por exemplo bater o pandeiro. Inicialmente chegou a ter reações
de náuseas devido a intensidade dos contatos com areia, não apresentando mais essa
reação após essa estimulação continuada.
Paciência foi o aprendizado mais importante durante este estágio, o tempo do
paciente internalizar esses estímulos tornando-o aprendizagem é inerente a cada um.
Hoje L. já brinca com a cortina do setor, se olha no espelho, ri de brincadeiras, como
bater na bola para fazer barulho mantém o riso e inicia a comunicação oral ainda com
sons isolados.
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Há muito ainda para acontecer com L. seu prognóstico é preservado e dependerá
da estimulação e interação que houver em seu meio ambiente.Acredito que este
caminho é o mais adequado para iniciar a formação de todo o seu desenvolvimento.
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5 – APRENDIZAGEM ESTIMULADA POR VIAS SENSORIAIS ,
TÁTEIS.
Até sete anos a estimulação do desenvolvimento psicomotor fundamental para
que haja consciência dos movimentos corporais integrados com a sua emoção
expressados por esses movimentos.
É importante trabalhar com todos os aspectos do desenvolvimento(motor,
intelectual e socioemocional).
Nesse período instalam-se as principais dificuldades nas áreas de relação com o
meio. Explorar e trabalhar a tempo evitará dificuldades na escrita, na leitura, na fala e na
sociabilização.
Em seguida há um refinamento das capacidades básicas, possível somente com a
integridade das condutas motoras, intelectuais e emocionais.
A atividade sensorial é indispensável para prevenir as dificuldades e também
para propiciar exploração do potencial ativo de cada um, pois cada ser tem um potencial
ativo.
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A coordenação dinâmica global torna possível o controle dos movimentos
amplos de nosso corpo, possibilita contrair grupos musculares diferentes de forma
independente, impedindo as paratonias e as sincinesias que são movimentos parasitas.
Essa coordenação exige harmonia de grupos musculares, colocados em
movimento ou em repouso. Sua função permite movimentos que interessam a vários
segmentos corporais que se referem a um gesto ou atitudes.
“A criança progressivamente se descobre através de uma atividade corporal
global ou instintiva a princípio, diferenciada e intencional depois, a esta atividade lhe
permite descobrir o mundo que a rodeia”.(Jocian B)
A coordenação que se realiza em repouso, e um dos aspectos da coordenação
geral, é chamado estática e é com conseqüência do equilíbrio entre grupos musculares
antagonistas e é fruto da função do tônus, permite conservação voluntária de atitudes; o
segundo aspecto da coordenação é a coordenação dinâmica que consiste em colocar
simultaneamente a ação de grupos musculares diferentes que executam movimentos
voluntários mais ou menos complexos. Assim movimentos inferiores seriam executados
junto com membros superiores (correr, saltar, andar, marchar).
Segundo Alves a coordenação seria regida por vias neurocerebelosas as quais
dominam os movimentos de equilíbrio.
É através de uma coordenação dinâmica adequada que se estabelecem as
relações de ação e movimento a que subordinam a motricidade da criança.
A Terapia Ocupacional atua durante esse período levando a criança a descoberta
e ao prazer de realizar e agir por si mesma.
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A coordenação estática depende de um bom controle postural e o automatismo
depende de uma adequada coordenação dinâmica. Cabe a Terapia Ocupacional obter
entre outros fatores a integridade desse objeto.
Postura
As atividades de Terapia Ocupacional devem ser tal como é recomendado,
partindo do mais simples para o mais complexo.
Deve ser observada a unidade tônico- postural, indispensável para realizar
gestos, prolongar uma ação ou levar ao corpo uma posição determinada.
Quando percebida uma anormalidade ou um atraso cabe a Terapia Ocupacional
estimular precocemente para possibilitar o melhor desenvolvimento corrigindo ou
melhorando tal situação.
Através do lúdico a Terapia Ocupacional age facilitando a percepção da
estruturação espacial (brincando em frente ao espelho, sentada observando o corpo com
o auxilio de tinta, e cola colorida) induzindo a uma melhor postura melhor postura.
Tônus
Refere-se a firmeza, a palpação e está presente tanto nos músculos em repouso
como em movimento.
Um músculo hipertônico ou espástico, a resistência, a distenção é elevada,
quando ocorre o oposto a flacidez é elevada ocorrendo à hipertonia.
O desenvolvimento do tônus, condição básica para a obtenção dos movimentos
manuais coordenados podem ser adequados através da bola suíça no método Bobath
usado pela Terapia Ocupacional, ou de outros meios. O Tônus está relacionado com a
emoção, sendo assim o toque é um instrumento importante nesta estabilização.
Cabe ao terapeuta observar e proporcionar a atividade adequada.
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O equilíbrio
É a base de toda organização dinâmica global. Depende essencialmente do
sistema labiríntico e do sistema plantar.
O equilíbrio é relacionado ao peso, distribuído em relação a um espaço e a um
tempo rompendo a gravidade.
O equilíbrio pode ser estático ou dinâmico, o primeiro exigindo muita
concentração e é importantíssimo no que diz respeito a aquisição da aprendizagem. Sua
ação refere-se a capacidade de sustentar-se.
Quando o equilíbrio é defeituoso requer maior atenção e energia. Em
desequilíbrio a criança não consegue libertar as mãos.
Influem também no equilíbrio o esquema corporal estruturado, é uma integração
e perfeição dos mecanismos neuropsicomotores.
O equilíbrio está relacionado com a área temporal, daí os estímulos vestibulares
serem utilíssimos a manutenção do equilíbrio, bem como os auditivos.
A posição ereta é mantida em função do aparelho vestibular que é o órgão
sensorial que percebe o equilíbrio as sensações relacionadas com o equilíbrio.
No desenvolvimento da criança é indispensável que ela sinta o contato com o
solo e com a mobilidade da articulação do pé e do tornozelo.
Entre outros recursos a Terapia Ocupacional oferece para o fim dessa
consciência o contato de todo o corpo, incluindo os pés e os tornozelos, com o toque de
diversas texturas como o alpiste, feijão, sagu, milho, luvas manuseadas pelo terapeuta
não só nos pés, mas no corpo inteiro.
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Esquema Corporal
Falemos um pouco de esquema corporal pois é o elemento básico da
personalidade da criança, estabelecendo o equilíbrio entre as funções psicomotoras e
sua maturidade.
A consciência do corpo é alcançada pela percepção do mundo exterior, assim
como a consciência do mundo exterior acontece por meio do corpo.
Entre os atendimentos que pudemos realizar em nosso estágio, constatamos que o
paciente referido anteriormente no caso clínico, após ser estimulado durante um ano, tomou
conhecimento de que não era extensão do corpo de sua mãe, muito menos um objeto.
“A criança ao nascer não tem esquema nem imagem corporal.
Este depende do amadurecimento neurológico para receber os estímulos e entender o corpo como um todo, e as partes que o compõem. A imagem corporal por sua vez está ligada ao afeto.”
A estruturação do esquema corporal depende da relação com o mundo e acontece por meio de sensopercepção, que apresenta três vias: interocepção, propriocepção e exterocepção ( Fonseca, 2002).
Temos assim três caminhos nos quais os estímulos podem ser levados a registrar a sensações corporais recebidas e que são responsáveis pelo desenvolvimento do esquema corporal.”(Marcus Vinícius)”.
Estamos aqui tomando a rede neural como exemplo primordial para a
imaturidade e organização do corpo, mas todo corpo apresenta esta imaturidade, que
possibilita grande capacidade adaptativa e mutacional do sujeito. A criança assim nasce
sem corpo, pois o interpreta, não o reconhece, não o domina, não tem memória dele, e
começa a receber estímulos diversos que vão impregnando seu corpo. Seus estes
diversos estímulos que organizam o esquema corporal e nele produzem mudanças o
resto da vida.
Esquema Corporal é neurológico é um entendimento das partes e do corpo como
um todo, (verbo ter- eu tenho, eu tenho um corpo) Formados nas experiências corporais
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diversas, trabalhando através de atividades que forneçam estímulos sensoperceptívos e
consciência corporal, uso também de calha de repouso.
Organização espacial
“Aquele que não é capaz de identificar o espaço dimensional que o cerca não conseguirá se localizar nem se fixar nesse mesmo espaço”(Velasco, 1994). “Toda nossa percepção do mundo é uma percepção espacial na qual o corpo é o termo de referência.”
Temos dois sistemas receptores sensoriais para levar a cabo a informação sobre
as propriedades espaciais de seu meio. Um sistema visual situado na retina do olho
humano e um sistema tátil cinestésico dispersado por todo o corpo e que proporciona
três tipos de informação: postura do observador que mostra a posição relativa das
diversas partes do corpo; desenvolvimento do observador, superfícies físicas
encontradas pelo observador, e todas as propriedades da mesma rigidez, resistência,
pressão, velocidade dos deslocamentos do observador.
A criança é solicitada a falar do espaço que ocupa quando, senta numa
cadeira,quando situa os objetos em relação uns aos outros, quando se organizem em
função do espaço de que dispõe, ela é capaz de desenhar uma figura no meio da folha,
uma casa e ao lado uma arvore.
Dessa forma observamos que a estruturação espacial faz parte de nossa
existência e obedecem a três elementos, espaço, corpo e tempo.
Sendo assim o espaço é o compreendido como força universal de conexão que o
homem aprende através de seu corpo que é o elemento que estabelece a percepção do
mundo. A localização de um objeto no espaço é difícil pois começa no início da vida,
continua durante a idade adulta por meio de revisão dos nossos próprios conceitos
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espaciais. As informações e esses conceitos justificam as dificuldades de uma criança
em idade escolar aprender a lidar com elas.
A percepção de espaço constitui uma necessidade para a criança se situar em sua
casa em sua escola, em sua rua e nas demais situações da vida, precisando ter não só
capacidade motora, mas também percepção espacial.
Nos primeiros meses de vida o espaço é restrito, limita-se ao campo visual e a
sua capacidade motora.
Depois a criança começa a andar amplia e multiplicam-se suas experiências,
aprende a deslocar-se, captar as distancias, direção e a outras estruturas espaciais. Com
o passar dos anos amplia-se o seu espaço que se torna geral compreende os demais
espaços, apreende as relações dos objetos, incluindo o próprio corpo. Torna-se
necessário para isso que coordene seus movimentos estabelecendo desse modo a relação
existente entre a inteligência e seu desenvolvimento.
Os conceitos da criança vão se formando a proporção que ela cresce e se
consolida seu esquema corporal, e se organizam as relações espaciais com as pessoas e
os objetos.
O eixo corporal ocupa um lugar importante na construção do espaço, a criança
apreende as noções de em cima, em baixo, direita, esquerda, frente, atrás, através de
suas próprias experiências.
O espaço deve ser organizado primeiro em relação ao próprio corpo e a seguir
em relação as demais noções de espaço. A carência espacial compromete a
aprendizagem, a leitura, lateralidade, motricidade.
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6 –. OBJETIVOS
6.1 – OBJETIVO GERAL
Pesquisar sobre: o toque lúdico na terapia ocupacional
6.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Pesquisar os efeitos fisiológicos do tocar
• A importância do toque no desenvolvimento
• Escrever sobre sensação e percepção
• Falar sobre a aprendizagem estimulada por vias sensoriais
• Caso clínico
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7 – METODOLOGIA
Serão coletadas informações referentes à importância do toque lúdico através de
pesquisa bibliográfica.
Observação da prática
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8 – CONCLUSÃO
Podemos concluir que não resta dúvida da importância do toque, seja ele qual
for.
Sendo vários os resultados positivos encontrados após a estimulação sensorial
através do toque.
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9 – BIBLIOGRAFIA
BUENO , Josivan Machado- Psicomotricidade Teoria e Prática:Estimulação,
Educação e Reeducação, psicomotora com atividades aquáticas, São Paulo, 1998, ed
Lovise.
MONTAGU, Ashley - Tocar o Significado Humano da Pele , São Paulo, 1988
ed Summus, Tradução Marian Silva Mourão.
DE ALMEID, Marcus Vinícius Machado –Corpo e Arte em Terapia
Ocupacional, Rio de janeiro, 2004 Ed Enelivros.
FONSECA, V – Psicomotricidade: Filogênese, Ontogênese, e Retrogênese – 2º
edição- Porto Alegre, 1998, ed Artes Médicas.
VAZ, Lisete Ribeiro –DA SILVA, Omar Luis Rocha- ARAÙJO, Rogéria
Pimentel- Terapia Ocupacional- A paixão de imaginar com as mãos – ed: cultura
médica.
BERENICE, Rosa Francisco-Terapia Ocupacional-2ºedição. rev. e atual-
Campinas, SP, 2001- ed Papirus.
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