Walter Benjamin (1892-1940)
• Ensaísta e crítico berlinense avesso a rótulos, a definições peremptórias, a conceitos estagnados.
• Judaísmo• Marxismo• Idealismo• Amizade com Brecht, Adorno, Horkheimer.• Vida atribulada.• Suicídio em Portbou em 1940.
A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução
• Texto polêmico de 1935, realizado quando de seu exílio em Paris.
• Trata-se, segundo Benjamin, de primeira tentativa de se fundar uma análise materialista da arte, dos signficados dos condicionantes técnicos aprofundados pela conjuntura superestrutural do capitalismo em seu pleno desenvolvimento, e de se ensaiar a apreensão das possibilidades de emancipação congregadas nas novas formas artísticas.
Teses
• O texto divide-se em quinze teses, nas quais Benjamin desfilará seus argumentos de modo a iluminar paulatinamente e muitas vezes de forma aparentemente contraditória o fato de que há possibilidades tanto de emancipação quanto de regressão política adormecidas no seio dos novos modos pelos quais a arte se insere na sociedade capitalista.
Preâmbulo
• Renúncia a tratar a arte de modo extemporâneo. Trata-se de enquadrá-la como efeito da totalidade superestrutural.
• Conceitos como poder criativo, genialidade, valor de eternidade e mistério eram apropriados pelo nazismo para justificar a estetização da política em marcha àquela altura.
• Tenciona “formular exigências revolucionárias dentro da política da arte”. P. 5.
I – Princípio de reprodução.
• Técnicas de reprodução são distintas da mera possibilidade de reprodução das obras artísticas. Elas se impuseram como formas originais de arte no Século XX (Cinema e fotografia).
• Litografia prenuncia o advento do jornal ilustrado.• Fotografia prenuncia o advento do cinema falado.• “Com ela [fotografia], a mão encontrou-se demitida
das tarefas artísticas essenciais que, a partir daí, foram reservadas ao olho fixo sobre a objetiva”. p. 6.
II – Autenticidade
• Aqui e agora: unidade da presença da obra de arte original no local em que se encontra (duração material e testemunho histórico).
• Autenticidade: conceito que perde seu sentido quando confrontado com a reprodução técnica porque:
1 – Reprodução técnica se distancia do original (fotografia e aspectos novos, ignorados pela visão)2 – Reprodução inaugura novas situações, como a aproximação da obra ao ouvinte ou ao espectador.
II - Autenticidade
• Atinge-se a aura na época da reprodução, pois objetos artísticos são afastados de seu âmbito de tradição.
• Objeto reproduzido oferece-se à visão e à audição, sendo permanentemente atual a partir de então.
• Tal modo de apropriação correlaciona-se com movimentos de massa (liquidação geral da tradição).
III - Aura
• Aura: única aparição de uma realidade longínqua, por mais próxima que esteja (montanhas, véu).
• Decadência da aura: 1 – Massas exigem que as coisas se tornem humanas e mais próximas (perdem função social).2 – Massas tendem a depreciar o caráter de unicidade das coisas.• Ao passo que imagem associa unidade e duração da obra de
arte, reprodução associa realidade fugidia e acessível ao infinito (repetição idêntica pelo mundo).
• Alinhamento da realidade pelas massas é contrapartida do alinhamento das massas pela realidade.
IV - Tradição
• Aura provém da função primordial da obra de arte: o culto ritualístico mágico-religioso (Vênus de Milo).
• Passa-se ao culto à beleza, quando processo social seculariza a função ritualística da obra. Conceito de autenticidade substituiu valor de culto.
• Surgimento da fotografia levou artistas à reação da arte pela arte, ou seja, religiosificação explícita do domínio artístico.
• Aspecto positivo da reprodução técnica: arte se libera da existência parasitária como função ritualística. Ela se baseia não mais sobre ritual e noção de autenticidade, mas sobre a política.
V – Valor de Culto e Valor de Exibição
• Arte se inicia como objeto mágico, se prestando ao culto, não à exibição (cavernas, igrejas góticas).
• Com o tempo, arte passa a ser exibível.• Com a reprodução técnica, valor de exibição
suplanta de longe o de culto, outorgando à arte funções jamais vistas, conforme podem ser entendidas a partir da fotografia e do cinema.
VI - Fotografia
• Valor de culto passa a ser secundário, residindo apenas no rosto humano (culto ao retrato, fotografias substituem a aura).
• Clichês e fotografias de Eugène Atget esvaziam esse valor, pois se trata de ruas vazias, que requerem itinerário (legendas).
• Textos orientam a visão, preparando o advento do filme, ou seja, para a linguagem de sucessão de imagens.
VII – Fotografia é arte?
• Questão equivocada, assentada em pressupostos antiquados de uma velha estética que não capta o sentido dessa invenção com respeito ao caráter geral da arte.
• Benjamin dá exemplos de avaliações estetizantes transpostas ao cinema que tencionavam atá-lo às grandes artes, à Tradição.
VIII - Performance
• Performance do ator no teatro difere frontalmente da do cinema pelo fato de não necessitar de mediação de conjunto de aparelhos.
• No filme, a realidade a ser reproduzida é sempre de segunda ordem, pois depende de série de intermediários entre o ato representacional e o público.
• Público se posta como perito que julga, sem contato pessoal com intérprete, mas com aparelho. É como se examinasse um teste, o que encerra de vez com o valor de culto artístico.
IX – Cinema e privação da aura
• Pirandello: Homem atua com sua personalidade viva, mas privado de sua aura, do aqui e agora, pois público é substituído pelo aparelho.
• Ator é acessório no filme: não pode encarnar personagem de fato, como no teatro, pois tomadas são interrompidas, ajustadas, recortadas e montadas.
• Arte, definitivamente, abandona terreno da “bela aparência”, o que é revolucionário para Benjamin.
X- Princípios de Alienação
• Imagem é transportada para o público. Ator vende não só força de trabalho, mas todo seu corpo, tornando-se um produto fabricado.
• Por um lado restringe aura; por outro, constrói “personalidade” vendável.
• Por enquanto, cinema tem como positivo crítica radical do antigo conceito de arte.
• Técnica do cinema requer semi-especialistas, como no esporte: todos querem falar sobre e participar (exemplo dos escritores e da internet).
XI – Cinema e teatro
• Aparato necessário para o filme falado torna inconcebível comparação com teatro, forma que necessita apenas de um local.
• No cinema, aparelho técnico essencialmente cria uma nova realidade, a do cinema (variação de ângulos, montagens etc.).
• Comparação entre operador e pintor (cirurgião - interventor mecânico, e curandeiro - autoridade de homem para homem).
• Imagem do cinema é mais significativa do que pintura na modernidade, pois atinge aspectos que penetram na realidade.
XII – Massa e arte
• Diminuindo importância social da arte, há divórcio na massa entre espírito crítico e sentimento de fruição. Desfruta-se o convencional, o próximo, sem criticar.
• No cinema não ocorreu tal dissociação. Caráter coletivo do julgamento é novo na história da arte.
• Reprodução destina-se à exibição às massas, ao contrário da pintura, por exemplo.
• Pintura, por mais progressista fosse, não poderia ser controlada nem consumida, atraindo o ódio das massas (surrealismo e comédia).
XIII – Cinema e Psicanálise
• Psicanálise prestou-se a esclarecer a realidade individual através de aspectos aparentemente irrelevantes (ato falho).
• Cinema permanece na esteira do aprofundamento da percepção. “Ela [câmera] nos abre, pela primeira vez, a experiência do inconsciente visual, assim como a psicanálise nos abre a experiência do inconsciente instintivo”. P. 23.
• Em relação à pintura, proporciona um levantamento da realidade mais preciso. Em relação ao teatro, isola número maior de elementos constituintes da realidade.
• Cinema congrega a identidade entre arte e ciência. • Primeiro plano e ralenti.
XIV – Suscitar a realidade
• Arte deve suscitar realidades que ainda não estão maduras, que só se concretizarão a partir do desenvolvimento material (técnica).
• “Cada vez que surge uma indagação fundamentalmente nova abrindo o futuro aos nossos olhos, ela ultrapassa seu propósito”. P. 24.
• Dadaístas: obra de arte como escândalo, como choque. Benjamin traça paralelo com o cinema, que trabalha por meio do choque no espectador.
• Contemplação (associação de idéias) X Esforço maior de atenção (idéias já vêm associadas).
XV - Diversão
• Denúncia das massas: diversão X concentração. Para Benjamin, problema é mal posto.
• “Diversão é a obra de arte que penetra na massa”. P. 26.• Exemplo da arquitetura para ilustrar seu argumento.
Contemplação tátil (uso) e visual (culto). Tátil se dirige pelo hábito.
• Distração opera por meio de hábitos que a modernidade nos infundiu. Modo de percepção hodierno corresponde à atitude de diversão instigado pela nova arte, capaz da mobilização das massas por meio da diversão implícita que contém.
• Aficionado não necessita de esforço de atenção – é um examinador que se distrai.
Epílogo
• Massas, propriedade e estetização da vida política como sucedâneos de mudanças reais nas relações de propriedade.
• Culto de um chefe, aparelhos técnicos a serviço da religião nazista.
• Guerra é o cume da estetização da política (Marinetti).• Forças produtivas e relações de produção: técnica é órgão
de destruição, não de humanização.• Fiat ars, pereat mundus. Satisfação artística de uma
percepção sensível modificada pela técnica. • Arte pela arte. Solução é politizar a arte.
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