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CRIAÇÃO DE UM MDT PARA A IDENTIFICAÇÃO DAS ÁREAS SUSCEPTÍVEIS A ENCHENTES NA BACIA DO ALTO JAGUARIBE – JOÃO PESSOA (PB)
Saulo Roberto de Oliveira Vital
Estudante do Programa de Pós-graduação em Geografia, UFPE - [email protected] Bartolomeu Israel de Souza,
Prof. Adjunto do Departamento de Geociências, UFPB - [email protected] Thyago de Almeida Silveira,
Estudante do Programa de Pós-graduação em Engenharia Cartográfica, UFPE - [email protected] RESUMO Nos países subdesenvolvidos, os riscos tornam-se fruto da intensa urbanização acelerada e da conseqüente ocupação desordenada do solo urbano. Este fenômeno é capaz de desencadear uma série de processos ambientais prejudiciais à população e ao próprio meio ambiente, dentre eles as enchentes. Levando em consideração este panorama, desenvolveu-se neste trabalho uma proposta de mapeamento para as áreas susceptíveis a inundação na Bacia do Alto Jaguaribe, no trecho que compreende o Bairro de Cruz das Armas, João Pessoa - PB. O principal objetivo foi à identificação das moradias que estão em processo de risco mediante o avanço da malha urbana. Para tanto, nos procedimentos metodológicos foram utilizadas informações altimétricas (pontos cotados) empregadas na elaboração de um MDT (Modelo Digital do Terreno) a partir do qual foi possível visualizar quais moradias estão sendo afetadas em caso da elevação do nível do Rio Jaguaribe. Isto foi possível através MDT e da sobreposição da malha urbana representando as principais áreas susceptíveis a enchentes. Além da ocorrência de enchentes foi possível observar diversos pontos de erosão hídrica acelerada ao longo de toda a vertente. A origem deste fenômeno está ligada a inadequada destinação das águas pluviais e dos esgotos domiciliares, corroborado pela disposição das moradias que seguem o mergulho de inclinação da vertente (W-E), divergindo para o interior da bacia.
Palavras-chave: Modelo Digital do Terreno, Enchentes, Bacia do Alto Jaguaribe, João Pessoa – PB. ABSTRACT In the underdeveloped countries, the risks become fruit of the intense accelerated urbanization and of the consequent occupation disordered of the urban soil. This phenomenon is able to unchain a series of harmful environmental processes to the population and to the own environment, among them the floods. Carrying in consideration this panorama, it developed in this work a plotting proposal for the areas subject the flood in the Basin of the High Jaguaribe, in the extract that comprehends Cruz's Guns District, João Pessoa - PB. The main goal went to the dwellings identification that are in risk process by means of the advance of the urban mesh. For so much, in the methodological procedures were used information altimétricas (quoted points) employed in the elaboration of a MDT (Digital Model of the Terrain) from which was possible to visualize which ones dwellings are being affected in level elevation case of Rio Jaguaribe. That was possible through MDT and of about position of the urban mesh representing the main areas subject the floods. Besides the floods occurrence was possible to observe several points of hydric erosion accelerated along all the slope. The origin of this phenomenon is linked the waters of the rain inadequate destination and of the sewages domicile, corroborated by the disposition to the dwellings that follow the slope inclination dive (W-E), diverging for the basin inside.
Words-key: Digital model of the Terrain, Floods, Basin of the High Jaguaribe, João Pessoa – PB.
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1 INTRODUÇÃO
Os vales fluviais são parcelas do relevo terrestre que vem sofrendo significativa ocupação
desde os primórdios da humanidade. Nas sociedades antigas este tipo de ocupação tornou-se bastante
viável considerando que oferecia condições ao desenvolvimento da agricultura por causa da fertilidade
dos solos. Na atualidade, esta ocupação tem-se constituído como um problema, ao passo que oferece
riscos para as populações, sobretudo nos grandes centros urbanos através da ocorrência de enchentes
em virtude do processo de assoreamento (TUCCI, 1997).
Nos países subdesenvolvidos, os riscos são fruto da intensa urbanização acelerada e da
conseqüente ocupação desordenada do solo urbano. Este fenômeno é capaz de desencadear uma série
de processos ambientais prejudiciais à população e ao próprio meio ambiente, dentre eles as enchentes.
Oliveira (2004) define todos os vales fluviais que passaram por algum processo de
assoreamento ou alteração, como planícies antrópicas, representando áreas potenciais de risco. Neste
contexto, um dos processos que mais tem atingido as calhas fluviais1 tem sido o assoreamento ou
obstrução das vias naturais do rio.
Para Lacerda (2005), as cidades são construídas sobre substratos geológico/geomorfológicos
com características próprias, que por vezes irão afetar o sitio urbano. É o caso de cidades construídas
sobre leques aluviais e são afetadas por inundações, e cidades construídas sobre carstes, possibilitando
processos de colapso e subsidência.
Na visão de Reckziegel e Robaina (2005), as situações de riscos geológicos e geomorfológicos
são originadas pela soma de vários fatores, associados às características geotécnicas, a remoção da
cobertura vegetal, as características da vertente, a forma desordenada da ocupação, entre outros.
Fujimoto (2004) classifica as formas produzidas por este tipo de processo como terraços ou
planícies tecnogênicos e/ou formas deposicionais nas éreas urbanas, classificadas como planícies
fluvio-lacustres tecnogênicos.
Basicamente, a interferência do uso e ocupação do solo na deflagração dos riscos ocorre através
da ocupação de encostas e morros, além de áreas cársticas e ribeirinhas. Este tipo de ocupação revela-
se preocupante, pois se estabelece em áreas impróprias do ponto de vista ambiental, deflagrando a
degradação do meio ambiente e oferecendo riscos a população que aí reside (VEYRET, 2007).
Para isso, torna-se necessário um adequado planejamento ambiental, tendo em vista a locação
de moradias em áreas adequadas, buscando evitar problemas futuros em virtude da ausência de
planejamento urbano (SANTOS, 2004).
1 Segundo Guerra (1989) é uma expressão que pode ser utilizada como sinônimo de álveo, vale, etc.
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Em se tratando de zonas de risco, a ocupação do solo urbano, juntando-se aos demais fatores
apresentados, é de tamanha importância para avaliação do grau de risco em que se encontra qualquer
localidade do globo submetida a processos agressivos de ocupação.
Levando em consideração este panorama, desenvolveu-se neste trabalho uma proposta de
mapeamento para as áreas susceptíveis a inundação na Bacia do Alto Jaguaribe, na área que
compreende o Bairro de Cruz das Armas, João Pessoa - PB. O principal objetivo foi à identificação das
moradias que estão em processo de risco mediante o avanço da malha urbana.
2 MATERIAL E MÉTODO
2.1 Caracterização da área de estudo
A porção do Alto Jaguaribe, compreende o segmento que vai desde a Avenida Cel. Stevão
D’avila Lins até as proximidades da Rua Gustavo Feitosa, entre as coordenadas geográficas
7008’32.29”S e 34052’56.33”O até 7009’23.79”S e 34053’13.00”O, aproximadamente.
Neste trecho da área de estudo foram detectados diversos pontos com ocorrência de erosão
hídrica acelerada, manifestadas através da formação de ravinas e voçorocas, além da ocorrência de
susceptibilidade a enchentes (Fig. 1).
Figura 1 – Localização da Bacia do Alto Jaguaribe, trecho Cruz das Armas, João Pessoa – PB.
De acordo com Melo et al. (2001), a geologia da área do Rio Jaguaribe é constituída
predominantemente por sedimentos mesozóicos, do Grupo Paraíba (Formação Gramame e Beberibe);
sedimentos terciários da Formação Barreiras e; sedimentos holocênicos, englobando aluviões.
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As rochas que fazem parte da bacia sedimentar costeira Pernambuco-Paraíba – Grupo Paraíba – constituem o substrato sobre o qual se assentam as rochas do Grupo Barreiras. Seus afloramentos são raros na área em estudo (vale do Jaguaribe), mas desempenham um papel importante para o desenvolvimento de algumas formas cársticas enterradas e/ou subsuperficiais (dolinas, ressurgências, depressões fechadas, grotões) [...] Do ponto de vista estratigráfico seu desenvolvimento transcorreu entre o Cretáceo superior e o Terciário inferior [...].
Deste modo, os sedimentos Barreiras encontram-se bem visíveis nas encostas do vale do
Jaguaribe através de “[...] argilas coloridas, arenitos avermelhados, com níveis de argilitos e níveis
conglomeráticos, de matriz arenosa e reunida por cimento ferruginoso (MELO et al., 2001, p.53).
Estes sinais atestam a ocorrência de períodos de intensa atividade erosiva no interior do continente,
evidenciadas pela presença de níveis conglomeráticos ferruginosos e da ocorrência de cascalhos e
seixos de quartzo.
O relevo da área é constituído por baixos planaltos sub-horizontais que se inclinam suavemente
ao litoral e apresentam pontos de dissecação através de vertentes íngremes e vales encaixados,
chegando a apresentar acentuado declive nas cabeceiras; além de baixos e médios vales formados pela
planície do Rio Jaguaribe (MELO et al., 2001).
2.2 Metodologia
Para a elaboração do mapeamento de enchentes foram utilizadas informações altimétricas do
terreno extraídas da carta topográfica 1:25.000 da SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento
do Nordeste).
Com estas informações e o seu processamento através de um SIG (Sistema de Informação
Geográfica), possibilitou a elaboração de um MDT (Modelo Digital do Terreno) como produto inicial
para geração de modelos de previsão de enchentes.
Este processo ocorreu através da importação de pontos cotados, onde foram extraídas curvas de
nível a partir do MDT, além da curva de nível inteira de menor valor de cota, igual a 20 metros.
Pretendendo-se simular uma possível enchente, estipulou-se para esta cota, de 20 metros, a
altura normal do rio, a partir da qual foram elaboradas as feições tridimensionais simulando como o rio
se apresenta ao percorrer o Bairro de Cruz das Armas; como os lotes estão espacializados de acordo
com o relevo da área; e quais são os lotes que estão sendo interceptados na altura do nível do rio, tanto
para o bairro de Cruz das Armas, quanto para o Bairro do Cristo (bairro vizinho).
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Este procedimento possibilitou a criação de um produto cartográfico final representando as
áreas susceptíveis a enchentes e estipulando as casas que ocupam o leito do rio e conseqüentemente as
que estão susceptíveis a enchentes (Figura 3).
Além disto, foi possível gerar através do MDT uma visualização tridimensional das áreas
susceptíveis a enchentes, com o intuito de melhor visualizar o processo (Figura 4).
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com a criação do Modelo Digital do Terreno foi possível identificar que o tipo de risco mais
expressivo na Bacia do Alto Jaguaribe ocorre basicamente através das enchentes. Também foi possível
constatar através de averiguações in loco que o desenvolvimento deste problema ambiental ocorre
devido a expansão da malha urbana que invade o interior do leito maior da bacia, ocasionando
enchentes nos períodos com maiores picos pluviométricos (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Pluviometria na área da Bacia do Jaguaribe abrangendo os meses de 1999-2001
9,4
208,9
39,4 59,3
174,3143,7
119,5
52,9
284,4
210,4245,8
393,9
144,3
466
153,8
379,3
92,7
182,3
J F M A M J J A
Índices pluviométricos de 1999-2001 considerando os meses de janeiro a agosto
P(mm) 1999 P(mm) 2000 P(mm) 2001
Fonte: AESA
A partir deste gráfico, observa-se que os meses mais chuvosos (maio a julho), podem
justamente coincidir com os momentos de maior pico de enchentes na área de estudo, tendo como fator
agravante o assoreamento do canal fluvial em virtude do adensamento urbano.
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A visualização de áreas susceptíveis a enchentes através de ferramentas do Geoprocessamento
auxiliam na análise de campo e dos dados disponíveis, ao passo que são aplicações úteis para
representar a realidade espacial, possibilitando análises mais seguras e rápidas que permitam a tomada
de decisão e o planejamento, além de diminuir os custos de campo.
Seguindo este pensamento, a aplicação do Modelo Digital do Terreno, tornou possível estipular
pontos vulneráveis a inundação, evidenciando a existência de processos de riscos de enchentes a
enchente na Bacia do Alto Jaguaribe, além de tornar-se uma excelente ferramenta para o futuro
planejamento e gestão da área em questão.
Também foi possível notar que, a ocorrência de enchentes se encerra através de pontos de
erosão que se distribuem ao longo de toda a vertente do Jaguaribe, ao passo que o avanço desordenado
das moradias, obedecendo ao eixo de inclinação da vertente (W-E), também tem corroborado para a
formação de pontos críticos de erosão hídrica acelerada, manifestadas através da ocorrência de ravinas
e voçorocas, fruto da inadequada destinação do esgoto urbano e das galerias pluviais.
De acordo com Melo et al. (2001), alguns pontos onde ocorre este fenômeno não dispõem de
pavimentação até a inflexão do topo, onde, a partir de então passa a se formar uma descontinuidade do
material e do terreno, dando início aos processos erosivos ocasionados pela concentração e aumento da
energia do escoamento das águas pluviais, agravado pela ausência ou ineficiência das galerias pluviais
e de sistemas de águas servidas (Figura 2a e 2b).
Figura 2a – Processo formação de voçoroca em estado avançado nas imediações da Avenida Buenos Aires
Figura 2b – Processo de formação de voçoroca no termino da Avenida Alcides Bezerra
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Figura 3 – Modelo Digital do Terreno representando as áreas susceptíveis a enchentes na Bacia do Alto Jaguaribe, trecho Cruz das Armas, João Pessoa – PB.
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Figura 4 – Visualização dos lotes atingidos pelo Rio Jaguaribe em dimensão tridimensional
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4 CONCLUSÕES
A partir da criação do Modelo Digital do Terreno tornou-se possível estipular pontos
vulneráveis a inundação, evidenciando a existência de processos de risco a enchente na Bacia do Alto
Jaguaribe.
Entende-se que deve ser dada uma atenção especial a ocupação dos vales e terraços fluviais,
pois sua ocupação tem sido intensa ao longo de muitos anos, acarretando em inúmeras conseqüências
para o próprio sistema fluvial e para as populações que se estabelecem em suas proximidades. Não
sendo diferente para o caso da área estudada.
Além disto, foi possível observar que o processo de erosão ocorrido na área de estudo está
intimamente ligado as questões de inadequada destinação das galerias pluviais e do esgoto domiciliar.
A aquisição destes resultados pretende ainda mais reforçar o reconhecimento das principais
zonas de risco do Bairro de Cruz das Armas, João Pessoa - PB, propondo assim o desenvolvimento de
estudos futuros que possam tomar como ponto de partida a análise destes dados, a fim de proporcionar
aos órgãos gestores uma fonte de informação confiável e precisa para intervenções posteriores nesta
área.
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TUCCI, C. E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. Porto Alegre: Editora da Universidade: ABRH, 1997 – (Coleção ABRH de Recursos Hídricos; v.4). VEYRET, Y. Os riscos – o homem como agressor e vítima do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 2007.
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