1
São Paulo 2014
2
Índice Os heróis dos campos
Capítulo 1 Pág. 5
Os bruxos em plena selva amazônica
Capítulo 2 Pág. 7
Coração de sertanejo
Capítulo 3 Pág. 15
Dá um chazinho para ele
Capítulo 4 Pág. 23
Impossível impedir o motorista falar contigo
Capítulo 5 Pág. 24
Seu Marcos a Lenda
Capítulo 6 Pág. 25
Bem ou mal só o tempo dirá
Capítulo 7 Pág. 26
Os pássaros que sobrevoam nossas selvas
Capítulo 8 Pág. 28
Impossível não viver do passado
Capítulo 9 Pág. 29
Um bêbado no coletivo
Capítulo 10 Pág. 31
3
“Quem julga que sabe tudo, priva-se de um dos maiores prazeres da vida que é aprender”
4
Dedico com esmero carinho aos meus alunos e todos aqueles que sempre acreditou em meu trabalho e está ao meu lado sempre me motivando.
5
Capítulo 1.
Os heróis dos campos A cidade de Indiaporã , bem pequenina, fundada na região centro oeste do grande
Estado de São Paulo, fica distante de São Paulo 650 quilômetros. Em Maio, a
pequenina cidade era agitada por grandes movimentos de boias frias. Os boias frias eram pessoas acostumadas à árdua vida, de acordar de madrugada
quando os galos saudavam o novo dia, os fogões a lenha são acesos pelas heroínas dos
lares, isto era após de muito choro por causa da fumaça que toldavam as pequeninas
casinhas de barro. O forte cheiro de gordura de suínos a aquecer os dentes de alhos,
atraiam os gatos e cachorros, que se assentavam próximo ao fogão a olhar suas donas.
Ao término do “almoço” que era feito nas madrugadas, o alimento era colocado nos
caldeirões que juntamente com os talheres são embalados nos embornais de pano.
Pronto está pronto o “moleque”, apelido que os boias frias davam ao almoço que serão
levado às roças.! O tempo neste mês de Maio é frio e as mãos enrijecem, o orvalho
tinge de branco as ervas e as plantas dos quintais das casas, a tina com água,
acumula-se pequenos flocos de gelo na superfície das águas, as flores exalam seu
adocicado olor enchendo-o o ar desta fragrância. Mamãe, com meus irmãos, Arcênio,
Ataydes e eu já com nossos chapéus mexicanos de abas largas, caminham para a
praça da matriz à aguardar o “pau de arara” nome que é dado ao caminhão, com uma tora de madeira de um
extremo ao outro na carroceria que serve de sustento aos bóias frias. Mamãe com
meus irmão se ajuntam à outras pessoas e picando fumo de corda que é enrolado em
palha de milho, enchem o lugar com o forte cheiro, ficam a conversar enquanto
aguardam a chegada do motorista José Pinheiro. Enfim chega o motorista com o seu
caminhão soltando um grande tufo de fumaça de óleo diesel queimado. Todos sobem
pelos pneus e se acomodam na carroceira e ficam segurando os grande chapéus,
algumas mulheres, queridinhas do motorista, vão na boleia do caminhão, e assim
começa a viagem até a lavoura de algodão, cujo local era do outro lado do rio grande.
O rio grande, como o próprio nome diz é grande mesmo e divido os dois Estados, Minas
e São Paulo. A fazenda da qual íamos trabalhar ficava próximo a esse rio. Na viagem, o
olor de capim gordura, misturado a poeira empreguinam as roupas, cortante vento faz
tremer os boias frias, e a única alternativa é se proteger abaixando a cabeça até o fim
da viagem. Muitos acidentes aconteciam nesta época, devido a imprudência dos
motorista, pois em alta velocidade, nestas estradas esburacadas, muitos caminhões
tombavam nas curvas, ceifando muitas vidas destes humildes trabalhadores. Há uma
curva na estrada que recebeu um cômico
6
nome de “curva da morte” porque lá muitos boias frias perderam a vida. Até nos
dias de hoje as pessoas passam neste fatídico local e tiram os seus chapéus e
fazem o sinal da cruz em reverencia às pessoas que perderam a vida. As seis horas da manhã, o nosso caminhão chega no grande rio, e aguarda a
chegada da balsa que fará a travessia para a outra margem, no Estado de Minhas
Gerais, o caminhão sobe na plataforma da balsa e nós os boias frias ficamos
dentro da balsa contemplar as águas a correr, pois o tempo de travessia era de
vinte minutos. O tempo ainda está frio e os fortes ventos obrigam alguns dos bóias
frias a buscarem refugio na frente do caminhão ao calor do motor já desligado.
Pela correnteza do rio, observa-se madeiras, folhas e alguns peixinhos como
lambaris nas águas turvas a correr. Faltando uns duzentos metros para a balsa
chegar nas margens do grande rio, por imprudência o motorista José Pinheiro
entra no caminhão e dá partida, esquecendo que o caminhão estava engrenado,
acontece o imprevisto, o veículo dá um arrancada para frente e retorna, e com o
impacto projeta para as águas gélidas quatro bóias frias. desespero total das
histéricas mães, que pulam na embarcação aos gritos de “salvem meu filho por
amor de Deus”, eles com suas pesadas botinas, embornais pendurados, grossas
roupas de frio são levados pelas fortes correntezas, junto com eles vão também
pãezinhos levados com a correnteza. Alguns barqueiros num gesto de civilidade
consegue trazer para a balsa alguns náufragos enquanto outros num forte instinto
de se salvarem, nadam e retornam à balsa. O dia inicia-se com este fato marcante na vida dos bóias frias, e o motorista quase
apanha das mulheres revoltosas. Chegamos à lavoura de algodão e tudo volta a
rotina, apesar das murmurações gerais. Mamãe e meus irmãos penduram os
embornais nas frondosas árvores e começamos a colher algodão, as nove horas
da manhã o sol começa a lançar seus fortes raios na terra bronzeando os bóias
frias. Os mosquitos borrachudos atacam sem parar, calor torna-se forte e as
quatro horas da tarde vários moleques e entre eles eu também vamos a pé até o
rio para aguardar a chegada do caminhão. Aproveitamos estas horas de lazer para
se refrescar no rio. Agora sim um nado voluntário e não forçado. Mais uma vez em casa com mamãe e meus irmãos a alegria invade nosso humilde lar.
O banho era tomada em uma bacia de alumínio, com sabão de soda, à noitinha as
lamparinas à querosene eram acesas e íamos ao quintal contar alguns “causos.” Os bóias frias são realmente uns heróis dos campos, pois mesmo enfrentando
esta árdua vida, nas colheitas de algodão são felizes e ainda sobra tempo a
noitinha para irem à praça da matriz para conversarem e gargalhar dos seus
problemas e desgraças dos outros. Sim são felizes porque estão ajudando a
construir este próspero país.
7
Capítulo 2.
Bruxos em plena selva amazônica
Hortolândia, uma maravilhosa cidade da região metropolitana de Campinas,
clima seco, ar puro e isento das muitas poluições que afetam cidades grandes,
Amanda II um bairro tranquilo que abriga quase cinquenta mil habitantes. Três
amigos de escola que tinham muitas coisas em comum:
Alberto, um jovem ávido pelo conhecimento, cursava o 1º ano do
ensino médio, seus óculos (estilo intelectual) destacava dos
demais alunos, passava maior parte do tempo na biblioteca
pesquisando livros sobre lugares exóticos.
Bernardo, cursava o 3º ano do ensino médio, era assinante de uma
das melhores revistas de circulação periódica a revista “reader
digest” na escola vivia sonhado com passeio pelas regiões pitorescas
do Brasil, afinal ele dizia sempre:
— Nós brasileiros devemos conhecer primeiro nosso país que é rico em lugares
bonitos, prá que se preocupar em conhecer outros lugares se aqui temos tudo de bom e bonito? Na sala de aula adorava as aulas de geografia e se deleitava
com as informações passadas pela professora Mary!
Nos intervalos, seu amigo preferido era o Alberto, e sempre trocava palavras amigas e discutiam seus sonhos em conhecer outros lugares. Carla colega de classe do Bernardo possuía o dom de fazer novas amizades,
dizia que quando terminasse o ensino médio, faria uma faculdade voltada para
a área de astronomia, queria ser cientista! A noite sempre olhava para o céu
estrelado de Hortolândia, admirava a constelação do cruzeiro do sul!
Tarde de uma sexta-feira, Bernardo abre sua caixinha de coleta dos
correios, em meio a várias contas para pagar, encontrou uma, vinda
de sua revista preferida, dentro, um aviso do diretor da revista
informando que ele havia sido sorteado com três passagens de ida e
volta, para uma viagem para Manaus!
Alegria tomou conta do seu ser, e espalhou as boas novas entre seus
amigos, a euforia tomou conta deles, na cantina da escola
combinaram que distribuiriam as passagens somente para seus
amigos íntimos. Como se aproximavam as férias de dezembro, os
jovens se prepararam para a viagem, fizeram suas malas e incluíram
nelas: repelentes para mosquitos, varas e apetrechos para pesca,
espingarda para caça, lanternas, roupas camufladas, carnes em
conserva, bonés e muitas coisas que poderiam ser úteis, como a
8
viagem de ida e volta poderia ser longa, encheram suas
malas com vários livros e entre eles um almanaque do pensamento que registrava alguns fenômenos e algumas coisas úteis.
Dia tão esperado chegou! No aeroporto de Viracopos os três
despediram de suas famílias no saguão do aeroporto, e o avião
tomou as alturas com os jovens aventureiros. Suas mãos suavam, e
tentavam se tranquilizar falando de coisas banais. Carla puxou
conversa com o Alberto:
— Sabe Alberto, eu li no almanaque que está previsto um eclipse total do sol, e você não imagina que só será visto na região norte!
—Duvido! — disse o incrédulo Alberto!
—Último eclipse que se tem notícias foi a vinte anos atrás e eu era
apenas um menino.- disse o jovem aproximando suas mão da mão
da moça,e sentindo seu perfume adocicado da boticário, seu
coração batia forte sempre que se aproximava de Carla.
— Pois é, teremos um privilégio, que ninguém de Hortolândia terá!
— Ver este fenômeno de um único lugar! — Minhas amigas ficarão
com muita inveja.
Suas mãos se tocaram mais uma vez e aproveitaram para trocar um “selinho” deixando Bernardo de olhos arregalados.- Bernardo também tinha uma forte atração por Carla!
Numa manhã ensolarada de sábado, o avião taxia na pista do
aeroporto de Manaus e os três amigos descem e se dirigem para um
hotel da cidade. Antes de chegar ao hotel foram pegos de surpresas
por uma forte chuva, porque o tempo da Amazonas é muito
instável!
Chegam em um pequeno hotel da grande capital Manaus, pedem
dois quartos um para a Carla e outro para os dois amigos. Tomam
um delicioso banho e se reúnem na sala de descanso do hotel,
enquanto uma forte chuva cai. Conversam até tarde quando todos
bocejando vão para seus quartos descansarem.
Quase duas da manhã, enquanto Alberto já dormia um pesado sono,
Bernardo sai devagarzinho e se dirige ao quarto de Carla, a porta
não estava trancada, sobre o fino lençol Carla deixava aparecer suas
belas pernas, sua pequena calcinha estava a mostra, Bernardo
9
chegou, e deu um pequeno beijo nas rosadas faces dela, se remexeu
e fingiu dormir, as mãos de Bernardo tocaram suavemente em suas
pernas, e logo se abraçaram arduamente. Ambos sedentos de paixão
se entregaram um ao outro até as cinco da manhã quando ele voltou
para seu quarto. Alberto ainda dormia exausto em sua cama de
solteiro.
Amanhece o dia e os três saem do hotel e vão conhecer a grande Manaus, um anúncio publicava um telefone de um guia para viagens à selva,
4
10
prometia ser um exímio conhecedor do lugar. Ligam para ele e atende o Zé do Brejo como era chamado:
- Alô – disse Carla ao telefone.- Precisamos de seu serviço para um
passeio em plena selva, queremos conhecer tudo que for belo e
exótico que exista nesse lugar. Concordaram o preço e marcaram
para o dia seguinte, o embarque no seu belo barco. Iriam por água
porque por terra era bem difícil o transporte.
Malas, mochilas e apetrechos de turistas estavam prontos e
embarcaram no barco do Zé do Brejo. O barco era de tamanho
mediano com dois compartimentos em um dos lugares havia redes
para os turistas descansarem enquanto o barco singrava as belas
águas do rio Amazônia, águas profundas, turvas.
Em uma pequena curva do rio, os três amigos acham que é o melhor
local para permanecerem algum tempo e armarem suas barracas. O
barco pára enquanto os três descem e começam seu passeio, árvores
são fotografadas, pássaros de diferentes espécies, dão um verdadeiro
show com seus cantos, doce cheiro de flores, é como um alucinógeno
às narinas dos jovens hortolandenses.
Armam as barracas e curtem os bons momentos enquanto o
barqueiro fica na beira do rio à esperar o chamado para prosseguir e
guia-los à selva mais densa. Carla e Bernardo não puderam nem se
tocar, um pouco de medo os dominava nesse ambiente exótico e
hostil as visitas indesejáveis, rugido de feras ecoavam na noite,
cantos de pássaros noctívagos davam um ar tétrico. Barulhos de
chocalho indicavam que havia algumas cobras venenosas nesse
lugar. Atiçaram a fogueira e conseguiram passar suas primeiras
noites.
Amanhece, e ao som dos pássaros matinais, chamam o guia e se
embrenham pela selva adentro, o guia vai à frente com seu facão
cortando os obstáculos que dificultam a passagem. Um grito de
dor:- Ai... Sangue mancha a camisa do Zé do Brejo, sobre seu
pescoço um forte jato de sangue corre violentamente enquanto ele
cai.
Os três desesperados não sabem o que aconteceu e correm
desnorteados pela mata adentro, Carla tropeça em um cipó e cai.
Sobre ela um ser estranho agarra suas costas e sua boca é fechada
por uma mão toda manchada de barro, Carla vê que Bernardo e
Alberto estão vindo próximo dela, as mão dos jovens estão
11
amarradas e atrás deles um grupo de índios da raça dos
Amambiquaras.
Os Amambiquaras é uma raça de índios quase extinta na região
norte do Brasil, os pesquisadores dizem que deveriam haver poucos
índios dessa raça. Eram antropófagos, andavam praticamente nus,
usavam um pequeno enduape que cobriam as regiões glúteas, suas
extensas cabeleiras eram
5
12
presas por penas de aves principalmente de faisão, era um povo
ignoto para os pesquisadores, mas exerciam extrema violência
para com os intrusos.
Nossos amigos foram levados até a taba na presença do cacique,
seus gritos de guerra e seus falares eram totalmente
incompreendidos por Carla, Bernardo e Alberto.
O cacique era um velho de feição austera, tinha um pouco de
conhecimento das línguas dos brancos e disse numa mistura de sua
língua e a nossa: - O que os brancos querem aqui?- Carla foi a
primeira a falar tremendo de medo:
- Não queremos nada, apenas ir embora.
Sem ser atendida, todos foram amarrados com cipó embira em um
tronco de árvore que estava defronte da taba. Começaram as danças,
em sua volta via passar alguns índios a dançar ao som de uns
batuques de tambores. Havia algumas meninas índias, com seus
seios à mostra, pequenas tangas cobriam seus sexos, os índios quase
nus gritavam uma cantiga estranha, causando terror aos olhos dos
hortolandenses.
Mais ou menos duas horas durou a dança, quando apareceram
algumas índias, tiraram totalmente as roupas de Carla, Bernardo
e do Alberto, usaram urucum, pintaram seus corpos, com uma
ferramenta rústica, cortaram os seus cabelos.
Alguns índios trouxeram folhas de coqueiros e alguns gravetos e
cercaram os jovens! Terror estava estampado aos seus olhos,
sabiam que seriam devorados vivos após serem totalmente
queimados.
Nessa hora, Carla lembrou das aulas de literatura que tivera com
seu professor Ferreira, principalmente o texto que havia lido sobre
o índio tupi sendo prisioneiro das tribos dos Aimorés! Agora
vivenciava essa história real sendo a própria personagem.
Carla não havia perdido o senso de data, teve uma lembrança de
seu livro, lembrou que nesse dia haveria um eclipse solar, visto
totalmente na região norte, acreditava que seria em torno de
12h45min, lembrando que havia a diferença de fuso horário.
Quando tudo parecia perdido, Carla ficou histérica e começou a
gritar, causando horror aos jovens prisioneiros. Gritava, enrolava a
língua e olhava para o sol, os índios não compreendiam nada. De
13
repente uma pequena mancha no Sol apareceu, a mancha crescia
mais e mais até que começou a escurecer em pleno meio dia. Índios
gritavam, olhavam para o Sol, alguns caiam com as mãos ao sol,
logo toda a aldeia estava em prantos.
6
14
O cacique supondo que os prisioneiros eram bruxos mandou que os soltassem e disse:
- Fujam daqui vocês são protegidos pelo deus Sol.
Carla, Bernardo e Alberto receberam suas roupas e suas sacolas.
Vestiram-se e ganharam algumas oferendas e um prato de uma
comida que não sabiam o que eram, devido a fome, comeram
avidamente, comeram algumas frutas.
Ao saírem da aldeia, Alberto lembrou que tinha um litro de álcool,
alguns índios os escoltaram guiando pela selva. Ao passarem por um
pequeno riacho Alberto despejou o álcool no leito do riacho e riscou
fósforo, houve uma combustão e a água pegou fogo. Os índios
desesperados voltaram em fuga gritando para suas aldeias.
Rindo e chorando os três perguntam a Carla se ela sabia do
eclipse:- Acho que fomos salvos pelas leituras e nossos
conhecimentos adquiridos na escola. É verdade sua bruxa, disse
rindo o Alberto. Acho que eu também sou um bruxo.
Andando, chorando de alegria, tropeçando nos cipós, conseguem
chegar até o rio de onde avistam algumas aves voando em círculo,
olhando com mais atenção descobrem o corpo do barqueiro em
estado de decomposição, pois havia sido devorado pelas aves.
Avistam o barco e não foi difícil por em funcionamento, motores são
ligados, e sobem o rio e após três horas de viagem chegam a um
ancoradouro em Manaus. Dirigem-se ao hotel e caem exaustos no
chão do quarto.
Amanhece o dia e verificam que suas passagens ainda eram validadas, na hora marcada vão até o aeroporto e tomam o avião rumo à Campinas.
Seus nomes ficarão para sempre na história, pois aprenderam que muitas vezes a astúcia é melhor do que a força.
Brasil um lugar belo, porém todo passeio deve ser antes de tudo bem planejado para não sofrer consequências desastrosas.
15
Capítulo 3.
Coração de sertanejo
O forte cheiro de capim gordura, o frufru das revoadas vespertinas
dos pássaros em busca de um lugar para repouso, o último brilho do
sol, invade este ambiente bucólico com as tribos rubras da tarde.
Bem distante visível apenas uma silhueta, está um caboclo dando as
suas últimas enxadadas limpando as ervas dadinhas da plantação de
arroz, ergue as mãos e retira o chapéu, dando um gostosa coçada na
cabeça, olha para os raios do Sol que já se foram. Apanha no bolso
roto de sua camisa um restinho de cigarro de palha, tira do bolso sua
“binga” e acende o cigarro de palha tirando uma baforada,
espantando os mosquitos borrachudos que teimavam rodear sua
vasta cabeleira.
Nesta serra conhecida como “Serra do rola moça” vive este
sertanejo, dedicando todos os dias no trabalho da terra para retirar
seu sustento. Vivem com ele seus pais. Sua mãe todos os dias
prepara sua marmitinha de alimentos. Seu pai devido a idade
permanece em casa.
Ao vê-lo chegar próximo de casa com sua enxada nos ombros sua
mamãe corre ao encontro dando-lhe um maravilhoso beijo em suas
faces poentas e disse:
-José, tudo bem? Como foi seu dia? Não teve nenhum problema com
cobras? – Era assim com essas perguntas e outras que dona Maria
Terra conversava com seu filho querido. O pai um pouco mais
macambúzio, devido suas doenças apenas dizia um “Deus te
abençoes filho”. Eram felizes apesar da distância e dos barulhos das
cidades grandes. Uns dois quilômetros dali vivia num sítio vizinho,
sua namoradinha que era o motivo de sua vida, a Tereza. Moça linda
com sua tez bronzeada devido os raios do Sol, cabelos negros
comprido escorriam pelos ombros.
José amava profundamente Tereza e sempre tinha seus sonhos em ter uma boa colheita e tirar sua amada deste antro de abandono.
Cada vez que seu rádio de ondas curtas anunciava a “voz do Brasil”
às dezenove horas, com a famosa música do guarani, José colado os
ouvidos no rádio ouvia embevecido as notícias de Brasília e as
principais cidades como Rio e de São Paulo. José tinha um sonho: -
Ainda vou morar no Sul, ganhar muito dinheiro e voltar para casar
16
com Tereza. Partia o coração de sua velha mamãe, filho único ele era
o arrimo da casa. Porém como diziam os antigos: - Criamos filhos e
eles criam asas e desaparecem de nossos olhos. Nos programas
sertanejos da rádio nacional José ouvia muitas músicas sobre
pessoas que foram para o sul em busca de uma vida melhor.
8
17
Numa fazendinha poucos quilômetros dali, havia muitos bailinhos
com sanfoneiros da região, muitas vezes bois eram abatidos, e
churrasquinhos eram servidos aos vizinhos. José e sua amada iam
sempre e dançavam felizes da vida, beijos eram trocados, promessas
eram feitas, juras de amor não faltavam para estes jovens.
-- Tereza, você me ama? Dizia apaixonadamente com seu rosto colado ao da Tereza, seu calor a incendiava, com seu rosto colado ao dele dizia:
-Claro José! Meu sonho e é ser sua esposa e juntos cuidarmos de
seus pais, e manter nossa rocinha, criar galinhas, porcos, vacas, te
farei muito feliz.
José vivia nesse conflito, entre o amor e a busca de seu sonho no sul.
Aproxima o final de ano e José toma uma decisão: Vou viajar
para o Sul em busca de uma vida melhor e voltar para buscar
Tereza. Avisa sua namorada, que partiria no próximo Domingo, e
umas nuvens escuras pairam sobre seus velhos pais que choram
amargamente já prevendo perder seu filho para a cidade grande.
No Domingo, numa tarde ensolarada, ao seu lado estão suas poucas
roupas dentro de uma mala de couro. Tereza estava ao seu lado
chorosa, com suas faces coradas. Ele feliz, impassível, mas feliz
porque ia em busca de seu sonho. Num beijo apaixonado despede de
seu amor e embarca no ônibus que o levaria ao sul de onde ele dizia
que voltaria logo para casar com seu amor. Nos céus um bando de
patos passam em grande alvoroço, um bem te vi solta um canto, um
casal de João de Barros traz seus cantos. José dentro do ônibus dava
um adeus a sua amada.
Num forte barulho de motor traz a realidade o José, estava
deixando a Tereza, que sonhava que seria sua. O ônibus sai, e em
cada parada, um forte suspiro saia da boca de José, a saudade já
começava a apertar. Como machuca a saudade, se estamos juntos
com a pessoa amada, às vezes poucas coisas é motivo para brigas,
mas se estamos nos separando, queremos com urgência voltar ao
lado da pessoa querida. O homem não foi feito para ficar só, precisa
de alguém para sentir seguro, parece uma criancinha que sente falta
de sua mamãe querida, de sua caminha, das cantigas de ninar.
Mesmo já adulto encontramos no amor a figura da mulher que traz
18
um conforto além de seus beijos e afagos.
Em uma curvinha, lança o olhar perdido em direção à sua
cidadezinha que fica para traz, sua amada também passou a ser
apenas uma vago pensamento. Após três dias de longa viagem,
sente um cheiro estranho, do rio mais poluído da cidade de São
Paulo, sente uma friozinho da grande
9
19
cidade, edifícios tomam sua visão, já estava chegando no “Sul” como sempre dizia!
Desce no terminal Tietê, meio tonto ainda da viagem, tudo era
estranho, cheiro, edifícios que suntuosamente estava em seu
caminho, agitação dos ambulantes a anunciar seus produtos, cheiro
forte de carne assada dos churrasquinhos, forte cheiro de urina dos
mendigos que infestam as pracinhas. José não se preocupa com
isso e com seu olhar devora a cidade sem perder nenhum detalhe.
Procura algum amigo para dar algumas informações. Que amigo?
Todos eram estranhos! Bem diferente de seu velho sertão onde
todos eram queridos e tratados com dignidade, todos tinhas seus
nomes, todos eram conhecidos.
Um terror toma conta dele, não conhece ninguém, não tem amigos,
é mais um que foi lançado nos antros desta velha metrópole, mais
um que se não lutar irá moram debaixo dos viadutos, mais um que
irá infectar as praças com cheiro forte de urina e fezes. José para e
pensa:
- Aqui tem um filho do sertão! Sou bravo sou forte, sou filho do
norte!
Avista um “ser humano” de cócoras na calçada e em seu jeito simples pede um favor:
- Moço me ajuda, preciso de um emprego. O moço olha com um
olhar de desprezo e aponta para uma placas de uma construtora que
pedia servente de pedreiro. Pela primeira vez na vida, sente ser um
ninguém, uma escória da sociedade. Pessoas da cidade não
conhecem nem um pé de arroz, não dão valor ao homem do sertão
que com suas mãos calejadas, puxando o cabo do guatambu limpam
os arrozais, colhem e mandam para as grandes cidades para matar a
fome das pessoas. Frutas que encontramos por aqui com fartura, no
Ceasa, muitas são desperdiçadas jogadas fora, na roça elas são
tratadas com carinhos. Pessoas da cidade dão pouco valor às frutas
e todos os alimentos.
Ao pedir um emprego encontra seus primeiros problemas, precisa tirar a
“carteira de trabalho” e tirar a chapa dos pulmões. Com sua barriga
a roncar parte em busca dos documentos. Seu local de dormir era
junto com várias pessoas como ele. Cada um precisava lutar por si
só. Esta força de vontade José tinha! Ah se tinha! Era bravo era
20
forte era filho do norte este grande sertanejo.
A vida no canteiro de obra não era fácil! Aliás, onde que a vida é fácil?
Conseguiu emprego de servente de pedreiro, uma salário bem irrisório, mas já
era um começo. Dormia em colchonetes junto com mais pessoas como ele, ao
lado do canteiro podia-se ouvir da vida da cidade e uma cantiga de crianças
vinha ao seus ouvidos. : “ Ciranda cirandinha vamos todos
10
21
cirandar..” havia várias famílias que moravam perto da obra e as
crianças ao lado do tapume cantavam suas músicas.” Sete, sete
são quatorze três vezes sete vinte e um..”
Trabalha todos os dias inclusive feriados, não tem tempo para
passear, chega ao dormitório tarde e sem forças para sair e passear.
Descobre um curso por correspondência conhecido por “Madureza”
Escreve, faz sua matrícula e começa o curso ginasial, sempre
desejoso de prosseguir os estudos e ganhar uma nova profissão!
“Escravos de Jó jogavam, cachangá, tira põe...” As cantigas vinham
até a noitinha. Crianças que em brinquedo de roda passavam estes
momentos infantis felizes.
Ao término do curso de madureza, é orientado pelos seus chefes
que havia universidade que davam a tal da bolsa de estudos. Estuda
com afinco e se prepara para o vestibular, desejava cursar
engenharia. Manda suas cartinhas para a Tereza dando as boas
novas. As respostas de sua amada começam a ser escassas.
A vida começa a melhorar, consegue o tão sonhado curso de engenharia,
forma-se e abandona seu emprego e consegue alguns trabalhadores e se
torna empreiteiro construindo casas e fazendo reformas.
É feliz, ganha muito dinheiro, mas um vazio ainda permanece em
si, sente saudades da pessoa amada da sua Tereza. Manda várias
cartas e sem resposta. Resolve viajar de volta ao seu lar no sertão.
Prepara de surpresa sua viagem. Antes de chegar à rodoviária,
passa perto de um grupo de crianças, e tinha certeza que elas
cantavam uma música que falava de uma tal de Terezinha. Não
entendeu muito bem a melodia e a letra.
Ao findar sua longa viagem, chegando próximo da casa de sua amada, avista de longe e tem uma triste surpresa:
“Tereza é de Jesus”
Somente agora recorda as cantigas das crianças quando chegava
próximo da rodoviária. “Terezinha de Jesus, deu uma queda foi ao
chão, acudiram três cavaleiros, todos os três chapéus nas mãos..” A
cantiga trouxe uma triste verdade ao coração do José o Sertanejo.
Agradecimentos:
Agradeço ao Professor Ananias de Albuquerque, pelo seu poema:
"O Sertanejo", através dele pude fazer este conto com algumas
22
adaptações, sem, contudo deixar de seguir sua originalidade.
23
Capítulo 4.
Dá um chazinho para ele que resolve Como é mesmo o nome daquele chazinho que a gente toma para ficar calminho,
calminho? -Chá de calmomila. Peraí, não seria camomila?
- Dá na mesma! O chá é fantástico! Feito à base de flores que tem o poder de deixar o sujeito
anestesiado de todas as mazelas que perturbam seu ser. Raiva porque não pode
pagar sua fatura do cartão de crédito, Raiva porque foi terrivelmente ofendido em
sua moral, raiva por ter sido humilhado diante de todos, raiva porque seu
pagamento veio a menos e deixou uma boa parte no banco do Brasil e toda sorte
de motivos para deixar com ojeriza de tudo e de todos. Às vezes estamos suportando uma dor e não temos humor para responder bem
para as pessoas e somos um pouco grosseiro. Lá vem a receitinha milagrosa: - Toma um chazinho de camomila! Sexta – feira estava cruzando um corredor da escola e tive que passar diante de
várias crianças que vinham como sempre agitadas do intervalo, parece que tomam
alguma substância energética e voltam à mil, passei por eles e na minha frente
meus colegas de docência não gostamos nada nada da gritaria infernal . Ouvimos uma piadinha de um “pestinha”: -Toma chá de calmomila professora!
_ Quase infartei!
24
Capítulo 5.
Impossível impedir o motorista de falar contigo
Logo pela manhã, tomei um coletivo em direção à uma escola na região da mooca.
Sentei-me nos primeiros bancos e passo a observar a rotina diária dos passageiros,
cobrador e motorista. Sonolento, desejoso de tirar uma cochiladinha para reaproveitar o tempo ocioso e
recuperar um pouco do sono que ainda teimava em fechar meus olhos num halo
de paz e tranquilidade. A motorista do coletivo, toda feliz atrás da direção do
grande veículo, conversava com todos que adentravam ao ônibus, reclamava dos
passageiros que eram “folgados” pois queriam que houvesse mais paciência, entre
um crítica e outra, olhava para mim, gesticulando muito e deixando muitas vezes
de prestar atenção à frente. Nos tempo idos! (Lá pelos anos 70) havia nos coletivos alguns avisos como: Não
fume! Proibido aparelhos sonoros, Não fale com o motorista e outros recados. Me
lembrei de uma piada sobre essa frase A frase: não fale com o motorista
Vaticano : É pecado falar com o motorista Israel : O que você ganha falando com o motorista ? Itália : Se você falar com o motorista, com que mãos ele vai dirigir ?
Alemanha : Não fale com o motorista, nem no ônibus, nem na casa dele, em
nenhum lugar Antiga URSS: Cuidado com o que fala ao motorista
USA: Cale a boca Japão: Falar com motorista, só com hora marcada
Brasil: Não deixe o motorista falar com você
Muito engraçado!
25
Capítulo 6.
Seu Marcos a lenda
Alguns o odeiam, outros ignoram, e ainda outros colocam vários
alcunhas como: O patrono do Astrogildo, A lenda, Smeágol, Seu
Madruga, algumas boas línguas acham que nossa colega de Artes
deveria fazer um quadro dele e colocar ao lado do patrono!
Difícil imaginar a escola sem a presença de nosso ilustre colega na
portaria e nos corredores sempre arguindo com os pupilos em uma
troca de aula e outra. Já tive informações que em sua casa ele tem
o “Chico doce” que é um facão para enfrentar seus desafetos.
Mesmo assim a maioria de nós professores, funcionários e alunos
gostamos demais dele por sua simpatia, bom humor (às vezes) e
sua atenção quando solicitamos algum tipo de material, pode dizer
que não, mas logo ele vem em nosso socorro.
“Seu Marcos” como é conhecido, sobrenome, não sabemos, família
menos ainda, mas o que vale é sua presença conosco nos dias
letivos. Não dá para imaginar nossa escola sem ele pelos
corredores, portarias e secretarias.
Parabéns “Seus Marcos” o Senhor integra essa grande empresa do
“SABER” que é a escola, somos partes dessa engrenagem, na sala de
aula, secretaria, diretoria, corredores etc. cada um parte
hiperimportante. Escola é assim, se cada um fizer apenas sua parte,
sucesso virá com seus frutos. A Lide é dura, muitos de nós
professores estamos em linha de frente que é sala de aula, lutando
contra a desmotivação, mas um ou outro tem nos trazido os louros
desta peleja, como por exemplo algumas do 8º ano A e outros que
nosso queridos docentes poderiam nomear nessa crônica
assertivamente.
Seu Marcos, o senhor merece nossa homenagem, juntamente com
nosso patrono Professor Astrogildo. Ele já passou por aqui, cumpriu
sua missão e o senhor já nos ajudou muito com sua presteza,
gentileza, e ainda tem muito a compartilhar conosco.
Quiçá, cada um de nós possamos deixar nossas evidências no labor do dia a dia nessa escola!
26
Capítulo 7.
Bem ou mal só o tempo dirá
Tarde de Domingo, enquanto aguardava o jogo do Brasil e Equador,
procurei em casa algo que me fizesse ocupar o tempo, (quão triste é
o ócio, viver sozinho, não ter ninguém para conversar, reclamar da
vida e simplesmente jogar conversa fora)
Encontrei meus livros literários que eu ganhei do Sergio nosso
bibliotecário da escola, todos os alunos ganharam da secretaria da
educação vários exemplares maravilhosos de livros literários, não sei
se nossos alunos estão lendo, mas eu confesso, em todos os meus
momentos de ócio, estou devorando as páginas de nossos escritores
brasileiros.
Hoje estava lendo, as crônicas de Rubem Alves, fiquei encantado
quando li um relato, e eu refleti muito, parece que o autor estava ao
meu lado dando conselhos.
Veja o que eu li:
Um homem muito rico, ao morrer, deixou suas terras para seus
filhos. Todos eles receberam terras férteis e belas, com exceção do
mais novo, para quem sobrou um charco inútil para a agricultura.
Seus amigos se entristeceram com isso e o visitaram, lamentando a
injustiça que lhe havia sido feita. Mas ele só lhes disse uma coisa: “
Se é bom ou se é mal, só o futuro dirá”.
No ano seguinte, uma seca terrível se abateu sobre o país, e as
terras dos seus irmãos foram devastadas: Mas o charco do irmão
mais novo se transformou em um oásis fértil e belo. Ele ficou rico e
comprou um lindo cavalo branco por um preço altíssimo. Seus
amigos organizaram uma festa porque coisa tão maravilhosa tinha
acontecido. Mas dele só ouviram uma coisa: “ Se é bom ou se é
mal, só o futuro dirá”.
No dia seguinte seu cavalo de raça fugiu e foi grande tristeza. Seus
amigos vieram e lamentaram o acontecido. Mas o que o homem lhes
disse foi: “ Se é bom ou se é mal, só o futuro dirá”.
Passado sete dias o cavalo voltou trazendo consigo dez lindos
cavalos selvagens. Vieram os amigos celebrar essa nova riqueza,
mas o que ouviram foram as palavras de sempre: “ Se é bom ou se
27
é mal, só o futuro dirá”.
No dia seguinte seu filho sem juízo montou um cavalo selvagem. O
cavalo corcoveou e o lançou longe. O moço quebrou uma perna.
Voltaram os amigos para lamentar as desgraças: “Se é bom ou se é
mal, só o futuro dirá”, o pai o repetiu. Passado poucos dias, vieram
os soldados o rei para levar os jovens para a guerra. Todos os moços
tiveram de partir, menos o seu filho de perna quebrada, os amigos se
alegraram e vieram festejar. O pai viu tudo e só disse uma coisa: “Se
é bom ou se é mal, só o futuro dirá”.
Assim termina a história, sem fim e com reticências (...) Ela poderá ser continuada, indefinidamente.
Somos personagens dessa história também, aquilo de bom ou ruim que acontece conosco, devemos ser sábios para aceitar com resignação.
Lembre-se: “Se é bom ou se é mal, só o futuro dirá”.
28
Capítulo 8.
Os pássaros que sobrevoam nossas selvas edênicas Há milhares de espécies de pássaros que são catalogados pelos nossos
ornitólogos, todos são belos em sua natureza! Quero destacar apenas dois para
dar início a essa crônica. Objetivo? Bem algumas linhas abaixo deixarei o leitor
ciente do que se trata. Os falconiformes ou comumente conhecidas como o nome vulgar de “Abutres” Os
mesmos têm hábitos necrófagos, tem sido os lixeiros do mundo pois fazem limpeza
retirando dos campos animais mortos, e seus cheiros terríveis. Segundo a ciência,
esses pássaros em cativeiros chegam a viver até 30 anos. Outros pássaros bem diferente são os colibris, os nossos beija-flores, com nomes
até então desconhecidos como: cuitelo, chupa-flor, pica-flor,chupa-mel, binga,
guanambi. Existem mais de 300 espécies. Com seus bicos alongados sua
alimentação é a base de néctar. “Pois é” como dizem nossos amigos do interior de São Paulo, Os abutres
sobrevoam nossas matas com belas flores, cheiros exuberantes, uma vista
maravilhosa, águas cristalinas, não percebem as belezas, pois está focado em
encontrar apenas sua refeição “animais mortos” “carniça” Seu foco é apenas isso,
não quer beleza, pois a beleza não importa, o que para nós é agradável para
eles, desagradável. Beija-flores são diferentes! Sobrevoam as matas e não se importa com as feiuras
pois está focado nas flores para retirar os néctares. Mesmo usufruindo do seu alimento, nos deixam sua beleza, com seus voos lindos.
Deveríamos ser com os beija-flores, não focar nossa atenção na feiura e sim no
que é belo, após sermos nutridos deixar nossa beleza, nossa gratidão, isso é muito
importante Sei que abutres cumprem seus papeis na natureza, mas essa comparação serve
apenas de exemplo. Tenho visto meu blog, muitos internautas acessam para suas pesquisas e
conhecimentos, poucos deixam uma mensagem de gratidão ou mesmo apenas
seu nome. Para quem agradece, pode parecer simples, mas para mim é de grande valor.
Sejamos todos como beija-flores deixando nossa beleza onde “voarmos”
29
Capítulo 9.
Impossível não viver do passado! Muitos estufam o peito e dizem: - Quem gosta de passado é museu! Os mais
poéticos citam frases que tem um forte impacto nas pessoas “ Ontem é
passado, hoje é presente e é por isso que tem esse nome presente” É
gratificante mesmo nos cinquentas e alguns anos trazer à baila os momentos
que marcaram profundamente minha profícua existência, quero e desejo mais
anos de vida porém nosso criador sabe melhor de nós! As boas lembranças são
como combustível para inflamar o ego e deixar a mente viajar um pouco. Na pequenina cidade de Indiaporã Estado de São Paulo, décadas de 60 e 70,
pobre de marre de si, mas havia uma alegria em viver, No pátio escolar as
deliciosas sopas de trigo, bolachas e leite com chocolate preparados pelas
merendeiras, hinos escolares cantados pelos coleguinhas” De manhã já bem cedinho pego o lápis vou escrever...” broncas dos diretores, as professoras severas,
reguadas na cabeça, final das aulas era aquela correria para jogar “biroca” jogo de
mata-mata e banca era os melhores. Cada época tínhamos um brinquedo diferente.
Papagaio, pião, arquinho, pega-pega. Nas tardes finais de semanas íamos aos “córregos” refrescar quando a fome apertava o estômago passávamos nos pastos
e recolhíamos cocos que os animais regurgitavam e quebrávamos nas pedras e
saciávamos a fome. Em todas as épocas tínhamos frutas: Angá, gabiroba, mangas,
jenipapos etc. A cidade nessa época era poeirenta, caminhões pipas molhavam as ruas e nós os
moleque corríamos atrás cheirando o forte cheiro de terra molhada e
aproveitávamos para refrescar. Hoje ao lembrar como conseguíamos mistura sinto um aperto no coração! Íamos
aos córregos e amassávamos saibro um barro branco, fazíamos bolinhas e colocava
para secar. Quando secas caçávamos passarinhos nos matos. Inhambus e
codornas eram os preferidos, também armávamos arapucas para prender os
pássaros maiores como pombos do mato. Eram carnes deliciosas. A velha caixa de engraxar, os pedidos aos fregueses: - Quer engraxar? Os trocados
recebidos, os picolés de abacaxi, limão, creme, e os maços de cigarros que muitos
males já me trouxeram. Já aos oito anos ia as roças de algodão, debaixo de um sol
escaldante e sofria com os mosquitos que chupavam o sangue sem parar. Como não viver de passado se os capítulos da história registram momentos
magníficos? As privações não macularam o viver feliz, foram partes de
aprendizagem, nosso velho e bom mestre o tempo muito nos ensina, erros
cometidos no passado, hoje são cobrados com juros e dividendos. Não podemos
voltar ao passado, porém podemos fazer dele um aliado para nutrir nossas mentes
de boas lembranças.
30
“Viva” Machado de Assis com suas citações: - Os adjetivos passam, os
substantivos ficam!
31
Capítulo 10
Um bêbado no coletivo
Tarde de Sábado do dia 19 de janeiro de 2001, como muitos brasileiros, saio do
trabalho apressado com a sacola a pender sobre os meus ombros e dirijo-me ao
ponto de ônibus para aguardar o transporte que me conduzirá ao "lar doce lar".
Na viagem de ônibus, fico a observar o motorista, o cobrador e demais passageiros,
cada um absorto em seus pensamentos. Também me acho concentrado e
monologando, a respeito das pressões externas que de tão perto me sufocam.
De repente muda a atenção de todos para um bêbado que entra no coletivo,
falando alto e xingando uma pessoa que ele havia encontrado alguns minutos
atrás, ele paga sua passagem com uma nota de um real e algumas moedas,
continua a praguejar sem parar!. Passageiros se mexem em seus assentos,
outro passageiro toma as dores e parte para cima do "bêbado" e começa a
xingá-lo também, agora são dois, e mais vozes, tumulto no coletivo, alguém
esbraveja:-- Motorista, quando ver uma viatura, pare-a para que este sujeito
desça!. Outros passageiros se revoltam contra o bêbado e contra o agressor do
bêbado. – Jogue os dois do coletivo gritou alguém!
Enfim, desce o bêbado e alguns pontos depois o agressor, a calma volta a reinar
no coletivo. Começo a refletir: " será que também não somos como este bêbado?" o que nos
diferencia desta pessoa é que ele ingeriu bebidas e nós podemos estar sóbrios, nós
não externamos o que está no íntimo por causa da vergonha e o caráter. No
alcoolizado é diferente a bebida o torna valente e "sem vergonha".
Há uma “poderosa força que nos inibe a agirmos como o bêbado é o autocontrole” Também queremos externar nossa raiva, mas engolimos "à seco", mas o mal cria raízes
no nosso âmago, raiva dos políticos, baixos salários que foram retidos pelos patrões,
familiares ou alguém que feriu nosso ego. Nosso hálito não fede como o do bêbado,
mas muitas vezes as mazelas que estão no nosso íntimo exala algum odor
fétido!. Estamos no coletivo da vida, e os que estão em contatos conosco, muitas vezes descem em
pontos que nunca mais os veremos, outro ficam conosco mais alguns instantes no coletivo da
vida, às vezes quem nós pensávamos que iria até o fim nesta viagem, desembarcam e nos
deixam só!.
Onde estará o bêbado do coletivo? Meu companheiro de viagem que tanto transtorno trouxe
aos passageiros. Talvez nunca mais o veja, mas deixou uma lição que me fez reconsiderar
muito. Será que às vezes não estou a incomodar os passageiros neste coletivo da vida?. Amanhã ele
será apenas um "ex-bêbado" e os meus atos que perturbam meus semelhantes poderão
causar sérios danos!
E a viagem continua...
São Paulo Setembro de 2014
Top Related