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COMO ORGANIZAR A ROTINA EM CRECHES E PRÉ-ESCOLAS
Propostas simultâneas otimizam o dia a dia das crianças e evitam momentos de
espera
Noêmia Lopes ([email protected])
Para acessar pode entrar pelo link:
http://gestaoescolar.abril.com.br/aprendizagem/como-organizar-rotina-creches-pre-
escolas-organizacao-gestao-tempo-propostas-simultaneas-momentos-espera-
544865.shtml
Ambientes lotados, horários de entrada e saída conturbados e filas imensas no
refeitório, no banheiro e no parque. Em uma escola de Educação Infantil, esses
são alguns dos indícios de que a organização da rotina não vai bem. Uma das
maneiras de solucionar esses problemas é propor atividades que ocorram
simultaneamente - em espaços diferentes - e o escalonamento dos horários das
turmas, dos funcionários e dos educadores.
"A gestão do tempo em Educação Infantil requer flexibilidade e planejamento
constantes. A prioridade é o atendimento às crianças, com necessidades de
cuidados e aprendizagem próprias, que devem ser sempre respeitadas", diz Ana
Paula Yazbek, pedagoga e formadora de professores do Centro de Estudos da Escola
da Vila, em São Paulo. Veja nesta reportagem como três gestoras repensaram a
organização da escola, o escalonamento de atividades e os horários dos
professores e funcionários.
Tempo bem planejado para desenvolver a autonomia
Como cada faixa etária requer uma dinâmica diferente, não cabe organizar uma rotina
igual para todas as turmas. Crianças de até 3 anos, por exemplo, demandam mais
atenção dos adultos - principalmente nos momentos de alimentação, higiene e
descanso - do que os maiores.
Para que seja possível dar atenção aos cuidados pessoais e à aprendizagem, cabe
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aos gestores elaborar projetos institucionais para que o tempo seja usado a favor da
garotada. Pensando nisso, a diretora Dorocleide Franco Faria de Brito, do CMEI Santa
Efigênia, em Curitiba, optou pelo sistema de merenda self service para crianças a
partir dos 3 anos, com o qual elas aprendem a almoçar sozinhas.
Nem sempre foi assim. "Antes, as crianças esperavam para serem servidas. O
processo era mais prático, mas não oferecia nenhuma oportunidade para elas
escolherem o que e quanto comer e desenvolver a habilidade de se servir. Ou seja,
não adquiriam autonomia, um dos objetivos da Educação Infantil." No início, os
funcionários resistiram um pouco. Afinal, para que o modelo funcionasse, era preciso
exercitar a paciência e administrar melhor o tempo da merenda - que certamente seria
mais longo.
A primeira barreira Dorocleide resolveu promovendo um trabalho de conscientização,
explicando a todos que os mais novos só poderiam aprender por meio da prática (leia
uma sugestão de pauta de reunião na última página). O segundo, mudando a rotina da
merenda e criando um esquema de trabalho por grupos: em vez de todos ficarem na
fila para receber a comida da merendeira, uma ou duas mesas por vez se dirigem ao
balcão onde estão as travessas. As crianças são incentivadas a colocar no prato
apenas os itens que serão consumidos, levá-lo à mesa sem ajuda e manusear os
talheres. "O tempo de aprendizagem varia para cada um e, se não conseguimos
resultados em um dia, tentaremos novamente nos dias seguintes. Se no início há mais
demora, com o tempo os procedimentos são realizados com agilidade", afirma a
diretora.
Na escola de Dorocleide, não existem problemas de espaço e há dois refeitórios, um
para os mais novos e outro para os maiores. Porém os gestores que não dispõem
de estrutura semelhante têm a opção de implantar um rodízio de horários para que
as turmas não estejam no refeitório ao mesmo tempo e, com isso, seja possível
dispensar a mesma atenção a todos. Em ambos os casos, é preciso implantar também
o revezamento para o almoço dos educadores e professores, garantindo a assistência
às crianças na hora da refeição. Esse planejamento é fundamental, pois, como explica
Elza Corsi de Oliveira, formadora do Instituto Avisa Lá, de São Paulo, "quando as
crianças comem, pelo menos uma parte da equipe deve estar disponível para ajudar
no que for preciso".
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O mesmo vale para o horário de descanso de professores e auxiliares. Eles não
podem coincidir com os momentos de brincadeira da garotada. "Pensar que
quando as turmas estão no parque ou no pátio é hora de descansar e relaxar é
um engano que deve ser corrigido pelo gestor", diz Ana Paula. É justamente
nesses momentos que os educadores precisam redobrar a atenção e o envolvimento
com as crianças para suprir as demandas de espaço, tempo, material e,
principalmente, segurança física e emocional.
Onde antes havia tumulto, agora tem aprendizagem
Na saída da Creche Casa do Aprender, as crianças brincam com autonomia. Fotos: Marcelo
Min
video:Educação Infantil: Cuidar, Educar e Brincar
entre no link:http://www.youtube.com/watch?v=RiFXduOjRUI
Programa da disciplina Fundamentos e Princípios da Educação Infantil. As especialistas em educação infantil Beatriz Ferraz e Tizuko Morchida analisam situações de cuidado, educação e brincadeira com crianças pequenas em creches e pré-escolas. Fomos a algumas escolas para mostrar na prática que o educar está associado em diversas atividades realizadas na educação infantil - no banho, na troca de fraldas, na alimentação e higiene. Mostramos também que a brincadeira é o eixo da educação infantil e que a partir dela a criança também aprende.
Agora veja o vídeo acessando: (clic com botão direito do seu mouse e abra em abrir hiperlink- precisa estar conectado a net)
http://www.youtube.com/watch?v=Gdg2j_Y-BsQ
Organizacao do Espaço e do Tempo 16’
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Programa do Curso de Pedagogia Unesp/Univesp, integrante da disciplina de
Educação Infantil D13 -- Abordagens Curriculares. A organização do espaço e do tempo faz parte dos Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (MEC) e é responsável pela rotina das crianças. A equipe da UnivespTV visitou duas escolas, em São Caetano do Sul (SP) e Brasília (DF), onde este conceito é bem aplicado. A visão de especialistas no assunto reforça sua importância para o desenvolvimento infantil.
ESCOLHA CERTEIRA
Com a rotina reorganizada e os horários escalonados, é hora de pensar na melhoria
do atendimento às crianças e na otimização do tempo delas e dos professores. O
gestor, então, deve se perguntar: o que os funcionários podem fazer para tornar
o dia a dia dos pequenos mais agradável e produtivo? O que eles já são capazes
de fazer sozinhos e em que situações necessitam de auxílio? Quais habilidades
ainda precisam ser desenvolvidas?
Os horários de entrada e de saída, quando bem organizados, afastam o tumulto e se
tornam momentos de aprendizagem. Irene Longhi, diretora da Creche Casa do
Aprender, em Osasco, na Grande São Paulo, conta que depois que foram instalados
os cantos de atividades diversificadas (leitura, desenho, casinha, consultório), as
professoras conseguem atender os pais que querem conversar sobre a aprendizagem
dos filhos. É possível ainda, em vez de ficar mandando as crianças esperarem de
braços cruzados a hora de ir para casa, incentivar ações como colocar e fechar o
agasalho e calçar os sapatos. É preciso pensar nas propostas para cada turma -
nem difíceis demais que não possam ser aprendidas, nem muito fáceis que não
representem um desafio. Limpar o nariz sem ajuda pode ser uma tarefa frustrante
para quem tem 2 anos, mas bastante banal para quem tem mais de 4. Fazer essa
previsão e programação é função dos gestores. "Se a instituição considerar uma
perda de tempo o desenvolvimento dessas habilidades simples, quem sai prejudicada
é a criança", diz Elza Corsi.
BEATRIZ FERRAZ FALA SOBRE CUIDADOS E CONTEÚDOS NA CRECHE
"Unir cuidados e conteúdos é oferecer ao mesmo tempo afeto e Educação desde os
primeiros anos de vida", diz a professora e pesquisadora Beatriz Ferraz
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Cristiane Marangon
Beatriz Ferraz já foi dona de escola de Educação Infantil e criou o centro de
estudos Escola de Educadores, em São Paulo. Há cinco anos, trabalha com o
Projeto Didática, Informação, Cultura e Arte, de formação continuada, em São
Caetano do Sul, na Grande São Paulo (nos últimos três, atuando como
coordenadora). Em sua tese de doutorado, estuda o conhecimento profissional
de educadoras de creche com o objetivo de compreender o que aconteceu
quando o foco mudou do bem-estar para a Educação. "Ao pensar em cuidados
de cunho pedagógico, muitos deixaram para trás o colo e o afeto, quesão
essenciais à constituição saudável do bebê", diz. Nesta entrevista, Beatriz fala
sobre essa polarização e o perfil ideal do profissional para esse segmento.
Como funcionam as creches hoje?
BEATRIZ FERRAZ Há dois modelos mais comuns. Um com foco nos cuidados
(o bem-estar físico e as questões biológicas) e outro que usa a pré-escola
como referência (foco nos conteúdos curriculares). E ambos têm problemas.
No primeiro, a creche se organiza em torno das refeições e da higiene. A troca
de fralda não é feita de acordo com a necessidade. Ela tem hora marcada.
Como sempre, há muitos bebês e crianças pequenas sendo trocados e
ninguém dá conta de todos ao mesmo tempo. Alguns ficam esperando, sem
nada para fazer. Já o segundo exagera na escolarização. Professores não
propõem atividades de Matemática para que os pequenos explorem materiais
relacionados ao assunto, mas para aprender a contar. Na hora do banho,
muitos querem ensinar sobre as partes do corpo, quando o correto é estimular
os pequenos a participar desses momentos com mais autonomia, fazê-los
entender a importância da higiene e ajudar com pequenas ações, como lavar
as mãos e levantar os braços.
Qual o modelo mais indicado, então?
BEATRIZ O ideal é encontrar o meio-termo entre os cuidados e a
escolarização. Há muitos benefícios no primeiro modelo porque os professores
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são sensíveis ao carinho, ao acolhimento e ao vínculo, fundamentais nessa
época da vida. No segundo, o bacana é entender que as crianças são
competentes, ativas e produtoras de cultura. Mesclar isso é a chave.
Os pais entendem essas diferenças?
BEATRIZ Sim. E sofrem com a polarização. A referência que eles têm é a da
escola regular. Mas, quando encontram essa escolarização na creche, sentem
falta do colo, do afeto, da emoção. Ao mesmo tempo, muitas famílias acham
que as crianças, desde cedo, devem ter cadernos e atividades de linguagem. É
papel do profissional de Educação Infantil explicar essa dupla função da escola
para os pequenos.
Quais são os ingredientes de uma boa proposta pedagógica?
BEATRIZ É fundamental inteirar-se sobre a concepção de bebê e criança
pequena. Existe um discurso mais difundido sobre a pré-escola: os meninos e
as meninas são ativos, construtores de cultura, fazem escolhas e tomam
decisões. Para a creche, é essencial definir os grandes marcos do
desenvolvimento: sentar, engatinhar, andar, falar, desfraldar etc. Da mesma
forma, a boa proposta pedagógica deve contemplar que esses sujeitos tenham
possibilidades de interação (e não sejam tratados como passivos,
completamente dependentes dos adultos, sem outra necessidade além das
básicas). Estudar o que os teóricos deixaram é outro ponto. O que Jean Piaget
(1896-1980) queria dizer com o período sensório-motor? E Lev Vygotsky
(1896-1934), ao afirmar que o bebê é um sujeito social? Nenhum deles disse
que os pequenos precisam aprender a contar ou a segurar o lápis. Por isso,
acredito que uma proposta pedagógica para a creche deve ter espaço para a
formação de valores, a constituição da criança como sujeito, as relações
sociais e as questões de vínculo, segurança e afeto. Todos devemos estar
conscientes de que os bebês conhecem o mundo em todas as suas facetas:
cheiros, gostos, formas, texturas, sons - e só depois vão organizar esse
conhecimento.
Como os bem pequenos aprendem na Educação Infantil?
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BEATRIZ Sempre de forma ativa. Na relação com as pessoas, os objetos, o
ambiente, outros bebês ou crianças mais velhas. É preciso valorizar a
exploração e a manipulação, investindo em materiais que possibilitem isso,
como os brinquedos. Um cubo áspero de um lado e escorregadio de outro
permite que o bebê entenda essas diferenças. Os pequenos também
aprendem fazendo escolhas. O francês Gilles Brougère diz que o bebê já sabe
se deseja ou não brincar. Quando não quer, chora. Quando quer, estica a mão,
mexe a perna, dá um grito. É importante respeitar esse interesse. Além disso, é
fundamental entender que não é o professor que ensina a criança a explorar e
escolher. Isso acontece naturalmente. Seu papel é propiciar oportunidades. Daí
a importância do ambiente para garantir a interação com segurança e conforto.
Como deve ser o espaço da creche?
BEATRIZ Ele deve ter diferentes objetos motivadores, como brinquedos e
outros materiais que ofereçam diversas experiências. Não é preciso ter seis
bonecas na sala porque há seis crianças. Existe essa idéia de que elas têm
dificuldade de dividir. Na verdade, elas vêem o objeto do outro e querem
brincar junto para interagir.
Quais são as qualificações pessoais mais importantes para trabalhar em
creche?
BEATRIZ Gostar das crianças é essencial, mas não basta. A pessoa tem de
estar preparada para cuidar e educar. Precisa saber lidar com imprevistos, se
relacionar bem com outras pessoas e ter ética. Não é admissível tirar a
mamadeira da boca de um bebê, colocá-lo no berço e se despedir só porque
está na hora de ir embora.
Como deveria ser a formação inicial?
BEATRIZ Para começar, a expressão cuidado deve ser entendida como cuidar
e educar. Também é importante saber trocar fralda, dar banho, segurar no colo
e ter noções de primeiros socorros. É essencial entender como se dá o
desenvolvimento humano dentro de situações coletivas, como a escola, e ser
formado para refletir sobre a própria prática.
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Quer saber mais?
CONTATOS
Beatriz Ferraz
Escola de Educadores, R. Brás Mendes, 70, casa 3, 05443-070, São Paulo,
SP, tel. (11) 3853-6562
AGORA ASSISTA AO VIDEO: (conecte-se a net e depois use o botão lado direito do
seu mouse e abra em abrir hiper link)
video:Educação Infantil: Cuidar, Educar e Brincar
entre no link:http://www.youtube.com/watch?v=RiFXduOjRUI
Programa da disciplina Fundamentos e Princípios da Educação Infantil. As especialistas em educação infantil Beatriz Ferraz e Tizuko Morchida analisam situações de cuidado, educação e brincadeira com crianças pequenas em creches e pré-escolas. Fomos a algumas escolas para mostrar na prática que o educar está associado em diversas atividades realizadas na educação infantil - no banho, na troca de fraldas, na alimentação e higiene. Mostramos também que a brincadeira é o eixo da educação infantil e que a partir dela a criança
também aprende.
MOVIMENTO: POR QUE ELE É TÃO IMPORTANTE
Confira como organizar o espaço da creche com a finalidade de estimular a linguagem corporal para impulsionar o desenvolvimento físico e cognitivo dos
pequenos
Com apuração de Márcia Scapaticio
Um dos primeiros movimentos que os bebês executam logo ao nascer é sugar.
Com o passar do tempo, o repertório aumenta e é aperfeiçoado com base no
contato com o entorno, as pessoas e os objetos. Essa oportunidade é
importante para garantir a sobrevivência dos pequenos e a comunicação deles
com o ambiente antes da aquisição da linguagem oral. Por meio de gestos,
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eles exploram e conhecem o mundo em que vivem. Esse estágio foi descrito
como sensório-motor (ou projetivo) pelo médico, psicólogo e filósofo francês
Henri Wallon (1879-1962).
Na creche, trabalhar a temática do movimento requer planejamento. A
ausência de berços, somada a atividades de dança que envolvem gestos
repetitivos e coreografados e os tradicionais circuitos que desafiam a turma a
descer, subir, rolar, entrar e sair, é interessante. Mas é preciso garantir ainda
mais, pensar em propostas que desafiem as crianças constantemente a ir e vir,
a explorar ações que ainda desconheçam, a experimentar sensações e a
conhecer o próprio corpo, possibilidades e limites. Para isso, organizar a sala
com elementos pertinentes e espaços livres é essencial.
Não existe uma fórmula para criar um ambiente corporalmente desafiador. No
entanto, bons exemplos podem ajudar, mostrando como o espaço deve ser
organizado para favorecer a pesquisa de movimentos e a estimulação dos
sentidos da criançada. A foto acima apresenta uma das salas da CEI Nossa
Senhora das Graças. Observe que a diversidade é contemplada para além do
tipo de objeto. A disposição e o tamanho de cada um são pensados pelos
educadores.
Essa preocupação, de acordo com o livro Educação de Bebés em Infantários
(Jacalyn Post e Mary Hohmann, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 380
págs., edição esgotada), é importante para incentivar diversas interações.
Objetos grandes e pequenos, colocados no alto e mais próximos ao chão,
permitem que os bebês investiguem meios de alcançar todos eles. Além disso,
garantir que na sala existam peças grandes, como as de mobiliário, evita que
eles vejam o adulto como um gigante.
Além de garantir um bom trabalho com movimento, essas intervenções rendem
frutos para a construção e o desenvolvimento da autonomia e da identidade,
outro eixo fundamental na Educação Infantil. Segundo Ana Lúcia Bresciane,
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psicóloga e formadora de professores, o desenvolvimento motor favorece as
descobertas e a expressão de sensações e sentimentos, promovendo a
comunicação segundo as marcas simbólicas, próprias da cultura infantil. Nara
de Oliveira, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),
completa: "Pensar de forma opositiva, corpo versus mente, só reforça
estereótipos". Então, aproveite ao máximo as oportunidades de pôr a turma
para se mexer.
A importância de rolar, pular e dançar
Todos os agitos imagináveis com o corpo são essenciais para interagir com os
colegas e aprender a ocupar os espaços
Os bebês vão para a creche cada vez mais cedo. Geralmente, não falam e
passam grande parte do dia olhando as mãos, tentando pegar os pés, sorrindo,
chorando, balançando a cabeça... Estão explorando o próprio corpo e se
comunicando com quem está por perto. Cabe às escolas de Educação Infantil
desenvolvê-los e propor atividades adequadas a isso (com os materiais
apropriados). "Pesquisas mostram que as experiências sensoriais e motoras
vividas na primeira infância desempenham um papel fundamental na formação
do cérebro", diz o psicomotricista André Trindade, especializado em
atendimento a bebês.
Nessa fase, a ação é a principal forma de linguagem. É assim que os pequenos
interagem com o meio e aprendem sobre si mesmos, as pessoas que os
rodeiam e os lugares que freqüentam. Por isso, não existe hora específica para
pôr a turminha para se movimentar. Ao contrário, é preciso fazer isso o tempo
todo. Pular, rolar, dar cambalhotas, correr - tudo é fundamental para a
meninada se relacionar com os colegas e descobrir o mundo. No banho, por
exemplo, bater pernas e mãos na água permite que a criança descubra do que
é capaz, além de despertar sensações (o que se chama de consciência
corporal).
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Só mais tarde, quando a criança pronuncia as primeiras palavras, percebe que
há outros meios de se comunicar. Mas ela não perde o dinamismo e a
necessidade de explorar o mundo com o corpo. É por isso que situações de
contenção motora, como ficar sentado muito tempo, atrapalham o
desenvolvimento. "A Pedagogia tem de ser intencionalmente planejada e
contemplar o que é possível e necessário para o grupo", diz Isabel Porto
Filgueiras, professora do curso de Educação Física da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.
As teorias sobre o desenvolvimento motor, em especial as de Jean Piaget,
Henri Wallon e David L. Gallahue, explicam por que alguém não consegue
fazer determinado movimento. No entanto, não servem para todos os
indivíduos, pois não é possível esperar o mesmo de todos.
Há casos de bebês que se sentam com 5 meses, enquanto outros só vão fazer
isso aos 8. Essa diferença é normal e se dá por causa dos diferentes ritmos
biológicos. Daí porque, hoje, considera-se melhor pensar nas competências
individuais e não na idade.
Pensamento e ação
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"Voar" sobre o próprio eixo (acima) ou rodar no gira-gira (próxima imagem):
assim a turma de 1 e 2 anos de São Paulo experimenta novas sensações.
Foto: Fernanda Sá
Piaget criou a expressão construção dos esquemas de ação para batizar a
forma como os pequenos aprendem quando se movimentam. Para o
pesquisador suíço, desde muito cedo nós, humanos, pensamos antes de agir
e, toda vez que enfrentamos um desafio, aplicamos o que já sabemos. Ou seja,
quando uma criança sabe andar, mas não saltar, e encontra um obstáculo no
caminho (como um cabo de vassoura), ela primeiro tenta pisar sobre ele em
vez de passar por cima sem tocá-lo. Provavelmente, isso provocará a perda do
equilíbrio e o fim da caminhada. Piaget escreveu que, ao se levantar, será
preciso criar um esquema de ação diferente. Ou seja, pela exploração surge
outro jeito de vencer cada desafio.
Wallon estudou o movimento como uma forma de linguagem. Sua preocupação
era com a expressão, não com a coordenação motora. Segundo ele, o recém-
nascido está mais interessado nas relações sociais do que no próprio corpo.
"Ele quer estabelecer vínculos para entender seu papel no mundo", explica a
professora Isabel Porto Filgueiras. Para isso, o bebê usa o movimento para
atrair a atenção. Já Gallahue estuda as possibilidades e limitações nas fases
de desenvolvimento motor. Ele descreve cada etapa e como a criança evolui. É
por isso que mais importante do que executar uma ação perfeitamente é saber
fazê-la de vários jeitos. "É na diversidade que os pequenos começam a
aprender sobre o mundo", completa Isabel.
Grandes conquistas
Nas primeiras semanas de vida, a postura do bebê é retraída. Pernas e braços
só começam a se expandir por volta do terceiro ou quarto mês. A partir daí, ele
passa a ter ações voluntárias, mas ainda dominadas por reflexos. A etapa
seguinte é fortalecer a musculatura dorsal e as conquistas viram sentar, se
arrastar, engatinhar, ficar em pé e andar. Junto com a locomoção e o equilíbrio
vem a exploração voluntária. O pequeno pega um brinquedo, balança, leva à
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boca e coloca em cima de outro. Pela limitação do campo visual, tato e visão
são unidos. Ou seja, para enxergar, ele precisa tocar.
É fundamental variar as posturas: ficar de bruços, de lado e sentado (com ou
sem almofadas ou no bebêconforto). Nessa fase, os bebês precisam ser
acolhidos, no colo, no berço ou no solo. André Trindade sugere fazer "ninhos"
dentro da sala. "Forre o chão com tecidos macios (colcha ou edredom) e monte
um canto com muitas almofadas. Isso provoca a sensação de contorno e
proporciona o bem-estar."
Com a criança andando, proponha novos desafios para aperfeiçoar a
locomoção. Subir e descer escadas, escorregar, girar, rolar e agachar são boas
opções para explorar as possibilidades e limitações do corpo (saiba como uma
escola de São Paulo faz isso no quadro abaixo). Mais adiante, com a entrada
no mundo da fantasia, o ideal é oferecer muitos brinquedos e apresentar
atividades que utilizem as linguagens falada e escrita, como as brincadeiras de
roda.
Descobertas no parque
Foto: Fernanda Sá
Desenvolver a sensação corporal. Esse era o objetivo do trabalho de Sandra
Oliveira Augusto Mathias e Alinete Aparecida Lombardi Alves, do CEI Cidade
de Genebra, em São Paulo. Professoras do B2 (1 e 2 anos), elas perceberam
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como as crianças eram fascinadas pelos brinquedos do parque.
"O encantamento se explica pelo tamanho dos objetos. São bem maiores que
os do nosso solário, onde os pequenos estavam acostumados a ficar", lembra
Sandra. Mas o sentimento vinha acompanhado de outro: o medo. "Eles temiam
a altura do escorregador e a velocidade do gira-gira, mas queriam
experimentar", conta Alinete. Auxiliadas por Isabel Porto Filgueiras, as duas
apresentaram uma seqüência de atividades à turma: desafios capazes de
ajudar a meninada a conhecer melhor o próprio corpo, além de descobrir
sensações e movimentos. Girar foi o estímulo inicial, primeiro no gira-gira e
depois no próprio eixo. "Às vezes, pegávamos um no colo ou pelos braços para
'voar' com a gente", diz Sandra.
Depois, elas espalharam colchonetes pelo chão e mostraram como se faz para
rolar. Na seqüência, repetiram a ação num plano levemente inclinado, também
sobre colchonetes. Quando todos já estavam craques, foram levados a um
pequeno barranco dentro da creche. Ali, a brincadeira era descer abraçado a
Sandra ou Alinete - e, mais tarde, sozinhos. A última tarefa foi fazer
cambalhota. Isabel avalia que os pequenos aprenderam muito mais. "Eles
entenderam a se movimentar no tempo e no espaço, pois precisavam combinar
os movimentos com os colegas para ninguém se bater nem se machucar",
explica. "E também ficaram mais corajosos."
Para crianças que têm algum tipo de deficiência, vale a pena pensar em ações
que elas possam realizar e que contribuam para aumentar o repertório motor.
"Em alguns momentos, elas fracassarão e, em outros, terão sucesso. Isso faz
parte da vida", diz a professora Eliane Mauerberg-de Castro, da Universidade
Estadual Paulista, em Rio Claro, no interior paulista. Os cegos não têm
referência visual de como o próprio corpo se comporta. Por isso, sempre fale
em voz alta o que eles estão fazendo. Os com deficiência mental podem
explorar o balanço, a corrida e o salto. Já os surdos têm desenvolvimento
motor normal (a dificuldade está apenas na comunicação). Para os com
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deficiência física, Elaine recomenda elaborar regras "que funcionem como
restrição para as demais, como correr de mãos dadas".
Mobilidade é a ordem
Muitos pensam que o movimento na Educação Infantil é sinônimo de aulas de
balé, judô e natação. Marcelo Jabu, co-autor dos Parâmetros Curriculares
Nacionais na área de Educação Física, diz que "a iniciação precoce em
modalidades artísticas e esportivas tem mais a ver com os sonhos dos pais".
Segundo ele, para o judô e o balé, é necessária muita contenção muscular, ou
seja, essas são atividades que privilegiam a força, não o movimento. A natação
requer menos esforço, mas é preciso verificar como é apresentada. "Não é
possível conduzir uma aula na piscina da mesma maneira que com adultos
numa academia."
Na creche, funciona bem investir na ampliação de repertório. Ensine
brincadeiras tradicionais e parlendas, explore mímicas e imitações, monte
circuitos com obstáculos e mostre coreografias de cantigas de roda. O trabalho
com dança pode até culminar na festa junina ou numa comemoração do Dia
das Mães, desde que as propostas façam sentido. "O melhor caminho é
apresentar danças que explorem novos gestos e ritmos tanto em grupo como
individualmente", afirma Simone Alcântara, formadora de professores na área
de movimento do Instituto Avisa Lá, em São Paulo.
Portanto, nada de deixar os bebês no berço. Mais do que colocá-los no chão, é
preciso interagir e apontar caminhos. Toda criança pequena precisa de
estímulos para se locomover, apoios para se equilibrar e objetos para
manipular. Outra prática comum é confinar em solários. Em muitos casos, os
espaços ficam no andar de cima da instituição e têm piso cimentado e grades
para todos os lados. Levar ao parque é, claro, mais trabalhoso. Mas, se
ninguém fizer isso, a turma perde a oportunidade de sentir o que é pisar na
grama", diz Simone. Envolva os demais funcionários.
Muita ação no berçário
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Bebê fica de bruços sobre o rolinho e é estimulado a pegar os brinquedos à
sua frente, em creche do Recife: fortalecimento da musculaturaFoto: Teresa
Maia
Na Escola de Educação Infantil Baby Mel, no Recife, a turma de até 1 ano só
fica no berço enquanto dorme. "Quando um acorda, é levado imediatamente
para a sala de movimento", diz a diretora pedagógica Lídia Loreto. O espaço
tem poucos móveis, colchonetes no chão e muitos materiais para chamar a
atenção dos pequeninos.
Os que ainda não conseguem se sentar são colocados de bruços sobre um
rolinho na altura do peito ou da barriga pela auxiliar Alexsandra Travassos da
Silva, que logo posiciona um brinquedo à frente deles. Depois, ela desliza a
criança para a frente e para trás, estimulando-a a pegar o objeto. "Essa ação
fortalece a musculatura e estimula o bebê a rastejar para, mais adiante, ter
condições de engatinhar", explica a psicomotricista relacional Ana Cristina
Serrano Raposo.
Para cada fase, um desafio. Quem dá pistas de que está pronto para se sentar
é apoiado por almofadas, que ajudam a sustentar o tórax. Já os que querem
ficar em pé, além da barra fixada na parede, têm acesso a um pequeno
cavalete. "Sempre seguro a cintura da criança para auxiliá-la a abaixar e
levantar", diz Alexsandra. "Assim, ela fica segura para os primeiros passos."
Espaço e materiais
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Do ponto de vista da infra-estrutura, o primeiro item a ser verificado é o piso.
Ele não pode ser escorregadio e o ideal é que haja rampas com pouca
inclinação para subir e descer engatinhando ou escadas com poucos degraus.
Também é fundamental espalhar equipamentos que dêem suporte às crianças,
como uma barra na altura das mãos (de preferência, com um grande espelho
para que todos possam se reconhecer e testar expressões). "Como estão
construindo a identidade, fatalmente vão brincar com a própria imagem",
explica Simone Alcântara.
Além de preparar um espaço com diferentes propostas, é preciso acolher. Se o
bebê está começando a ficar sentado, grandes almofadas em volta dão suporte
a essa postura. Se quer ficar em pé, pufes e caixas de papelão ajudam. É
importante verificar se o calçado facilita o caminhar ou se a meia é
antiderrapante. Bolas macias de diferentes tamanhos, arcos e argolas
estimulam novas ações. Mas cuidado com a adequação dos brinquedos às
habilidades dos pequenos. "Um bambolê, por exemplo, é grande para os
pequenos. Nesse caso, é melhor confeccionar um com conduíte ou mangueira
de acordo com o tamanho médio da turma", explica Isabel Filgueiras.
Brincadeiras de roda
Crianças dançam na classe, em São Paulo: projeto para fazer com que todos
aprendam a formar uma roda e cantar músicas tradicionaisFoto: Fernanda Sá
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Shirley Souza Cruz, professora do minimaternal (2 anos), e Elisangela Eloy de
Souza, responsável pelo 1º estágio (3 anos), do CEI Recanto Infantil Parque
Figueira Grande, em São Paulo, perceberam que os pequenos ainda não
sabiam formar uma roda. "Quando pedíamos para eles se organizarem, não
dava certo", lembra Elisangela. Além disso, a oralidade também precisava ser
desenvolvida. Foi assim que elas bolaram o projeto Cante, Brinque e Encante.
Cada uma em sua sala, as duas leram textos sobre a história das danças
regionais e exibiram um vídeo sobre o tema. Depois, apresentaram a música
Abre a Roda, Tindolelê. Escreveram a letra numa cartolina e ensinaram a
cantar e dançar. Quando todos estavam afiados, foi organizado um encontro
para compartilhar o aprendizado e interagir. "Um sempre ensina alguma coisa
para o outro", afirma Shirley.
A atividade começou com um rápido alongamento e desde o início já era
possível registrar avanços. "As crianças conseguiam não só ficar em roda
como também acompanhar a música, cantando e batendo palmas, formar fila,
andar para trás, requebrar e abaixar", conta Elisangela. A empolgação foi tão
grande que, no fim, um coro explodiu na sala: "De novo, de novo!"
Quer saber mais?
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André Trindade
CEI Cidade de Genebra, R. Cachoeira Poraquê, 100, 05574-450, São Paulo, SP, tel.
(11) 3781-1290
CEI Recanto Infantil Parque Figueira Grande, R. Gaspar do Rego Figueiredo, 499,
04915-140, São Paulo, SP, tel. (11) 5897-5629
Eliane Mauerberg-de Castro Escola de Educação Infantil Baby Mel, R. Virgínia Loreto, 96/123, 52060-370,
Recife, PE, tels. (81) 3442-2423 e 3441-3560
Isabel Porto Filgueiras
Simone Alcântara
BIBLIOGRAFIA Atividade Física Adaptada, Eliane Mauerberg-de Castro, 595 págs., Ed. Tecmedd, tel.
(16) 3512-5500, 89 reais
O Bebê e a Coordenação Motora, Marie-Madeleine Béziers e Yva Hunsinger, 80
págs., Ed. Summus, tel. (11) 3872-3322, 35,90 reais
19
O Despertar do Bebê, Janine Lévy, 144 págs., Ed. Martins Fontes, tel. (11) 3241-3677,
26,88 reais
Sugestão
Objetivos
- Trabalhar em grupo e aprender regras de convivência, como esperar a vez, ganhar e
perder.
- Desenvolver habilidades corporais (pular, virar cambalhota etc.).
Material necessário
Colchonete, corda e obstáculos para as crianças pularem, como argolas e bambolês.
Flexibilização
Para garantir a participação de crianças cadeirantes nesta atividade, o educador terá que
contar com alguém que possa empurrar a cadeira. O ideal é que os próprios colegas
cumpram este papel. O professor pode organizar um rodízio para empurrar a cadeira em
alguns trechos do percurso, como, por exemplo, a passagem por baixo das cordas. É claro
que, neste momento, a corda deve ser levantada, mas não o suficiente para a criança não
ter que fazer nenhum movimento. Se ela for capaz de abaixar a cabeça ou dobrar o tronco,
estes movimentos devem ser propostos.
É importante ressaltar, porém, que a simples adaptação do espaço e do material nem
sempre dá conta de garantir a participação destas crianças e, sendo assim, é fundamental
que o professor planeje, com antecedência, desafios possíveis para eles, e dos quais
todos possam participar. As cambalhotas, por exemplo, podem ser também substituídas
por "manobras radicais", assim: a partir de um sinal sonoro, todas as crianças devem sair
correndo e, ao ouvir outro tipo de sinal, devem mudar de direção rapidamente, ou parar
bruscamente. Atividades como essa podem garantir muita diversão se a criança com
deficiência física puder fazer uma dupla com algum de seus colegas, que empurrará a
cadeira. O importante é garantir a participação de todos na maioria das situações.
Desenvolvimento
No pátio, monte um circuito com vários materiais: estique cordas e peça que os pequenos
passem por baixo sem encostar nelas, coloque bambolês no chão e diga que pulem de um
para outro e oriente para que façam cambalhotas sobre colchonetes. Apresente o que
deve ser feito em todo o circuito e acompanhe as crianças em cada um dos desafios,
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evitando que tenham medo ou se machuquem.
Avaliação
Observe a diferença na participação de cada criança frente aos desafios corporais
propostos para planejar as próximas atividades envolvendo maiores e menores
dificuldades.
Consultoria: Priscila Monteiro
Coordenadora do Programa Além dos Números, do Instituto Avisalá, em São Paulo, e
selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.
Flexibilização: Maria da Paz Castro (Gunga)
Orientadora de Práticas Inclusivas da Escola da Vila, São Paulo, SP.
A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA COMO PARTE DOS MOMENTOS DE FORMAÇÃO
Para articular os momentos onde os cuidado estão mais presentes com as
atividades pedagógicas, mantendo uma rotina saudável para alunos e
professores, é preciso atuar em sintonia com a equipe docente e incluir a
organização do tempo nas reuniões formativas. Nesses encontros, os professores
trazem informações sobre o andamento das atividades, a ocorrência de momentos de
espera, de irritabilidade e alterações nos horários de sono, higiene e alimentação.
Com base nesses dados, o gestor identifica demandas individuais e coletivas, repensa
os horários e divide encaminhamentos com toda a equipe, inclusive com os
funcionários de apoio.
Com o objetivo de otimizar esse trabalho, a diretora Ursula Goulart Lima Rozon, da IMI
Diméia Maria Ferreira Diniz Endo, em São José dos Campos, a 100 quilômetros de
São Paulo, elaborou um quadro detalhado em que é possível visualizar em qual
espaço da escola estará cada grupo nos diversos momentos do dia. "Remanejamos as
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turmas e reposicionamos o pessoal da cozinha, os professores e os educadores para
melhor atender às necessidades de todos nos diversos espaços de aprendizagem",
conta Ursula. O quadro é entregue à equipe e, com base nele, cada docente planeja
as atividades de seu grupo. Enquanto as crianças almoçam, por exemplo, sempre
com a presença de dois educadores, um auxiliar arruma os colchões na sala para o
momento de dormir - que só tem lugar depois da escovação dos dentes - e
funcionários da limpeza preparam o ambiente que será usado por elas depois do
soninho. Quando todos estão acomodados, é hora de os adultos almoçarem - porém,
um grupo por vez.
SUGESTÃO DE PAUTA DE REUNIÃO: Repensando a rotina
- Reserve pelo menos uma hora por semana para conversar com os educadores e a
equipe de apoio sobre a organização do tempo e do espaço na escola. Para que a
reunião seja produtiva, incentive todos a fazer anotações ao longo da semana sobre o
andamento da rotina, como o tempo que as turmas levam para se alimentar (ou ser
alimentadas, no caso dos menores) e quais estão deixando as fraldas e aprendendo
usar o vaso sanitário.
- Comece pedindo que cada um conte ao grupo o que observou, abrindo espaço para
a exposição de problemas e a sugestão de encaminhamentos. Aproveite para
compartilhar os dados relativos à organização do tempo que foram transmitidos pelos
professores durante os momentos de formação.
- Verifique se, nos horários planejados, há tempo para orientar as crianças em relação
aos hábitos de higiene e alimentação, se as demandas de sono são respeitadas e se a
escala de limpeza não está atrapalhando as atividades elaboradas pelos professores.
- Questione se os materiais pedagógicos têm sido preparados com antecedência,
evitando esperas desnecessárias. Isso vale para fraldas, utensílios de higiene, comida,
louças e talheres.
- Reforce que, de acordo com cada faixa etária, é importante reservar tempo para o
desenvolvimento de autocuidados, como limpar-se depois de ir ao banheiro, alimentar-
se sem ajuda e amarrar os próprios cadarços. Importante: lembre os educadores e
funcionários de que ninguém deve agir com pressa, atropelando a criança e realizando
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as tarefas por ela.
- Registre as alterações de rotina propostas, combine a data do próximo encontro e
comunique possíveis mudanças à equipe docente.
Nas turmas de Educação Infantil, a rotina deve ser muito bem planejada para dar conta
dos cuidados com as crianças pequenas e garantir a realização de atividades de cada
eixo de aprendizagem. Foto: Gabriela Portilho
Saber o que vai acontecer é um privilégio que todos queremos, não é mesmo? Assim,
poderíamos evitar alguns incidentes e estar mais preparados para certas ocasiões…
No entanto, isso também poderia tirar a graça do inesperado e da surpresa, ambos tão
normais durante nossa vida. Por isso, acredito que é ideal haver um equilíbrio:
precisamos ter certo controle sobre o que e como as coisas vão acontecer, mas
também ter algumas boas surpresas ou saber que o que planejamos pode dar errado
alguma hora.
Essa realidade também se aplica à Educação Infantil quando pensamos no
planejamento do dia a dia dos pequenos. Nós, que trabalhamos com as crianças,
sabemos que quanto menores elas são, mais organizada deve ser sua rotina, porque
a própria criança funciona como “um reloginho”, como costumam dizer.
Turmas de 1 e 2 anos
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Nas turmas de 1 e 2 anos, por exemplo, existem horários específicos para troca de
fralda, alimentação e repouso. A partir da organização dessa rotina, saberemos em
que momentos podemos realizar brincadeiras, jogos e trabalhos de artes, literatura e
parque. Portanto, a creche tem que assegurar o bem estar físico das crianças e
junto a isso encaixar as outras atividades, considerando as expectativas de
aprendizagem de cada eixo.
Existem atividades que precisam acontecer todos os dias, como a hora da história, a
roda de cantoria, atividades de movimento e de oralidade. Já os trabalhos com
desenho, pintura, modelagem e outros podem acontecer apenas de 2 a 3 vezes por
semana.
O mais importante nessa faixa etária – e o que fará as crianças se acostumarem
com a rotina – é que o professor deixe bem claro a programação do dia, algo
mais ou menos assim: “Hoje é segunda-feira, dia de fazer atividade com tinta!
Vamos fazer uma meleca nas mesinhas. Em cada uma, vou colocar três cores de tinta
e vocês vão misturar com as mãozinhas, certo?”.
Turma de 3, 4 e 5 anos
Nas turmas de 3, 4 e 5 anos, as crianças já saberão o que e quando vai acontecer se
o professor estabelecer uma rotina compartilhada com elas. Quantas vezes eu já não
escutei as famílias comentarem: “Desde cedo, essa menina está louca para vir à
escola porque hoje é dia de pintura de na maquete que confeccionaram!”. Nessa
idade, é normal que os pequenos acompanhem atentamente a programação dos dias
e cobrem que tudo o que estava previsto aconteça.
Aqui, esclareço uma questão: ter definido que nas terças é dia de fazer atividade de
pintura, por exemplo, é a rotina, enquanto a novidade é como e onde será essa
pintura. Neste ponto, entra o planejamento do professor, que consiste em elaborar
uma sequência diversificada utilizando o chão do pátio, o muro dos fundos, o uso de
mesinhas deitadas nos corredores, papeis fixados (temporariamente) nas árvores e
brinquedos do parque e muitas outras variações que assegurem o objetivo da
atividade, mas traga desafios e propostas diferenciadas.
Ao elaborar a rotina, o professor pode considerar fazer uma intercalação entre
as atividades que exigem maior concentração com outras durante as quais as
crianças ficam mais dispersas. Por exemplo: depois de uma atividade na qual o
desafio é a leitura de nomes, realizar uma brincadeira do eixo de movimento; ou ainda,
depois do momento do parque, propor uma roda de cantoria na qual as crianças
podem descansar e voltar a se concentrar.
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Acredito que, quando planejamos uma rotina mais equilibrada, alternando os
diferentes momentos e considerando a necessidade das crianças de se movimentar
bastante, o clima da sala de aula fica mais tranquilo e acontecem menos conflitos e
mais cooperação entre as crianças.
E vocês, coordenadores, como ajudam seus professores a
organizar a rotina na Educação Infantil?
Quer saber mais?
CONTATOS
Ana Paula Yazbek
CMEI Santa Efigênia, R. Maria de Lurdes Kudri, 412, 82700-050, Curitiba, PR, tel. (41) 3354-
5025
Creche Casa do Aprender, R. Piacatu, 2058, 06240-160, Osasco, SP, tel. (11) 3696-8354
Elza Corsi de Oliveira
IMI Diméia Maria Ferreira Diniz Endo, R. Nelson José de Carvalho Ferreira, 91, 12239-170,
São José dos Campos, SP, tel. (12) 3966-1605
Rotina: por que é tão importante planejar o dia na Educação Infantil?
April 1, 2014 às 9:34 am | Educação Infantil - Leninha Ruiz
HIGIENE: OS CUIDADOS ESSENCIAIS NA CRECHE
Na creche/Pré-escola Saúde SAS/USP, do momento da escovação à hora das atividades, tudo é planejado pelos educadores para garantir um ambiente limpo
e organizado. Isso contribui para que os momentos da rotina dos bebês resultem em saúde e aprendizagens
ACESSE PELO ENDEEREÇO E VEJA OS VIDEOS:
http://revistaescola.abril.com.br/creche-pre-escola/seis-videos-cuidados-higiene-
creche-697254.shtml (é só vc clicar usando o botão do lado direito do mouse, e entrar
em “abrir hiperlink”)
Especialistas são unânimes ao dizer que no dia dos pequenos os cuidados e a Educação
devem ser articulados. "Cuida-se ao educar e educa-se ao cuidar", explica Zilma de Oliveira,
docente da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP),
campus de Ribeirão Preto.
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Para que os bebês estejam bem acolhidos e preparados para uma rotina cheia de descobertas,
desafios e aprendizagens, é preciso um olhar atento às questões de higiene. E isso não tem a
ver só com a limpeza do ambiente, dos objetos e dos brinquedos. Envolve também o modo
como as crianças se relacionam com elas mesmas, com as outras, com o espaço ao redor e
com as tarefas cotidianas. Isso inclui a hora do banho e de dormir.
A permanência em ambientes fechados (que aumenta a concentração de germes) e as mãos
mal lavadas (que disseminam agentes causadores de doenças) estão entre os principais
problemas das creches hoje, segundo Damaris Maranhão, docente da pós-graduação em
Educação Infantil do Instituto Superior de Educação Vera Cruz (Isevec), ambos localizados em
São Paulo.
Trata-se de hábitos simples, porém importantes, que precisam fazer parte do dia a dia (leia as
próximas páginas). Eles ajudam a prevenir gripe, diarreia, piolho e outros males. Em todos os
casos, é importante que as tarefas sejam divididas entre o professor e o auxiliar. Embora seja
importante trabalhar a questão da higiene com zelo, vale lembrar que nenhum tipo de
exagero é bem-vindo. "Alguns fatos podem escapar do controle vez ou outra. Nesse caso,
nada de desespero", explica Damaris.
Colocar em prática todos esses hábitos ensina comportamentos adequados aos bebês. "Ao
cuidar deles, transmitimos valores sobre os cuidados consigo mesmo e com o outro", explica
Mariana Exposito, diretora da Creche/Pré-Escola Saúde SAS/USP, na capital paulista.
Soninho
- Mantenha as portas e as janelas abertas, inclusive nos dias frios, para evitar o aumento de germes no ar, o que facilita a transmissão de doenças. - Garanta que entre os colchonetes haja meio metro de distância. - Disponha os bebês em posições opostas: a cabeça de um não deve ficar próxima à do outro.
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- Assegure que todos tenham fronha e lençóis próprios e identificados, assim como chupetas e paninhos. - Auxilie as crianças a fazer a higiene nasal antes de dormir. - Lave as chupetas após o uso com água e detergente e guarde-as em potes individuais. Amarrá-las às roupas é anti-higiênico.
Eta soninho bom!
Objetivo
Propiciar momentos de descanso proveitosos.
Tempo estimado
Livre.
Materiais necessários
Berços, colchonetes (que podem ser substituídos por esteiras ou redes) e lençóis.
Flexibilização
Para crianças com deficiência física (nos membros inferiores)
Ofereça um ambiente bem adaptado para que o bebê possa alcançar objetos próximos e
tenha certa mobilidade. Os colchonetes ajudam muito as crianças com deficiência física
nos membros inferiores. Caso todos durmam em berços você deve ajudar o bebê a descer
quando ele desejar. Mantenha um bom contato com a família e com os profissionais de
saúde que acompanham essa criança. A troca de informações entre vocês é fundamental
para encontrar caminhos para desenvolver a autonomia dos bebês.
Desenvolvimento
Antes da hora de dormir
- Certifique-se de que a sala esteja limpa, organizada, arejada e com pouca iluminação.
Uma música suave torna o ambiente mais acolhedor.
- Até os 8 ou 10 meses, os bebês ficam em berços, que devem estar distantes uns dos
outros, no mínimo, 60 centímetros. Quando começarem a descer por conta própria, o
melhor é recorrer a colchonetes. Eles devem ser colocados lado a lado. Caso haja pouco
espaço, coloque as crianças em posição invertida: uma na cabeceira e outra nos pés,
evitando a respiração face a face. Em regiões de inverno intenso, forre o chão com placas
de EVA, fáceis de higienizar e inodoras.
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- Antes de os pequenos deitarem, retire babadores, calçados e roupas apertadas ou
volumosas.
- Não deixe que adormeçam com fraldas sujas ou molhadas.
- Os cobertores e lençóis são de uso exclusivo de cada um, mesmo que não sejam
trazidos de casa. Isso evita a transmissão de pediculose (piolho), escabiose (sarna) ou
outras doenças.
- Alguns rituais, como contar histórias e ninar, ajudam a diminuir a ansiedade e agitação.
Objetos usados em casa (paninhos, chupetas e brinquedos) podem trazer segurança
afetiva.
Durante o sono
- Um adulto deve sempre ficar por perto durante a soneca, pois uma criança pode acordar
assustada ou indisposta e precisar de ajuda imediata, ou tropeçar ao levantar. Às vezes,
algumas querem brincar ou acordar o amigo ao lado.
- Não interrompa o sono das crianças.
- Algumas podem resistir em função da mudanças de rotina da família no dia anterior,
início de uma infecção e erupção de dentes, por exemplo. Para esses momentos, monte
na sala um canto com livros, brinquedos e outros materiais. Assim, elas se entretêm em
atividades calmas e silenciosas.
Depois do despertar
- Retire os materiais com a ajuda dos maiores.
- Faça a higienização dos colchões
Consultora Rose Mara Gozzi
Diretora da creche da Universidade de São Paulo - Unidade Oeste, em São Paulo.
Troca da fralda
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- Lave as mãos antes e depois, evitando a contaminação própria e entre os bebês. Eles também devem ter as mãos lavadas, pois existe a chance de tocarem nas secreções enquanto são limpos e trocados. - Mantenha o cesto de lixo (com pedal) próximo e descarte as fraldas sujas tão logo sejam retiradas. - Evite fraldas de pano. É difícil acondicionar as usadas para que sejam enviadas à casa das crianças. A pré-lavagem também não é recomendada, pois há o risco de contaminação. - Limpe o colchonete sempre antes e depois de cada troca com água e sabão. Outro procedimento possível é forrá-lo com uma toalha de uso individual (que deve ser substituída todos os dias) e, sobre ela, colocar papel toalha. - Use luvas descartáveis só se houver machucados na criança ou em você. Mesmo assim, lave bem as mãos antes e depois. Banho
- Garanta o uso de toalhas individuais, que devem ser penduradas em cabideiros, identificadas e separadas umas das outras. A lavagem pode ser feita na casa das crianças ou na creche a cada dois ou três dias ou sempre que houver a necessidade. - Assegure que os pentes também sejam de uso individual e guarde-os em bolsas identificadas. - Se o bebê estiver com a fralda muito suja, remova as fezes com lenços umedecidos ou água corrente e só então coloque-o na banheira. - Banhe os pequenos com as mãos. Buchas e esponjas podem machucar ou transmitir doenças.
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- Lave a banheira com água e detergente depois de cada banho. Escovação
- Para supervisionar a escovação da turma inteira, forme grupos com no máximo cinco integrantes. - Auxilie as crianças a escovar os dentes, orientando os movimentos. - Ensine aos pequenos que as escovas são de uso pessoal e descarte as que eventualmente forem trocadas entre eles. - Os porta-escovas devem ser individuais e identificados e permitir que elas permaneçam secas e arejadas. - Para enxaguar a boca, cada criança deve usar o próprio copo plástico. - Troque as escovas de dente a cada três ou quatro meses.
Os sete erros da escovação
Descubra quais são - e saiba como evitá-los
O momento da escovação é um dos raros exemplos em que a parceria entre as áreas da
saúde e da Educação costuma ser bem-sucedida. A maioria dos professores reserva a
esse hábito um espaço na rotina diária da classe e sabe que ele deve ser iniciado antes
mesmo do nascimento do primeiro dente (nos bebês, usam-se gaze e água na limpeza
bucal). No entanto, cuidar dos dentes geralmente é o que menos acontece na hora da
escovação. Sobretudo em turmas numerosas, em que não há como dar atenção individual,
é comum ver crianças comendo pasta e mastigando escova, copos em más condições de
higiene... A foto que ilustra esta reportagem traz sete erros básicos nessa atividade. Tente
descobrir quais são e confira a resposta no rodapé da página.
"Quando falamos da escovação na escola, é fundamental ter claro que a atividade deve
funcionar como uma orientação sobre a importância, a frequência e a forma correta de
realizá-la. Mas cabe aos pais reforçar a prática para que ela vire um hábito", afirma
Damaris Gomes Maranhão, consultora de saúde e professora de Enfermagem da
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Universidade Santo Amaro (Unisa), em São Paulo. Daí a importância do trabalho conjunto
com a família, receita que deu bons resultados na Creche Santo Antônio, em Sinop, a 508
quilômetros de Cuiabá. No início do ano letivo, a coordenadora Maria Aparecida Kaiser
levou um dentista para ensinar técnicas de higiene bucal a pais e crianças. "Os pequenos
agora chegam com os dentes escovados, coisa que antes não acontecia", comenta. No
encontro com o dentista, é importante pedir que ele esclareça a maneira correta de
conservar a escova, qual tipo de pasta usar (e em que quantidade) e os cuidados
necessários com o consumo excessivo de alimentos que causam cárie, como balas,
chocolares e biscoitos recheados.
A criança tenta escovar e o adulto ajuda se for preciso
O professor, claro, também deve ensinar. Entre as informações básicas, é preciso
destacar que o sentido correto da escovação não é o de vai-e-vem, mas o de movimentos
circulares, executados sem força excessiva para não machucar a gengiva. "A língua
também deve entrar na limpeza - nesse caso, com escovadas de trás para a frente, como
uma vassoura tirando a sujeira", explica Mário Sérgio Swerts, dentista e professor da
Universidade José do Rosário Vellano, em Alfenas, a 351 quilômetros de Belo Horizonte.
Também vale seguir a recomendação de respeitar o ritmo de cada criança. É possível
deixar que ela tente, sozinha, fazer os movimentos indicados, mas, no início, é natural que
a escovação não fique perfeita. Aí, entra em cena o adulto, que precisa terminar a
escovação até que a criança desenvolva a autonomia suficiente para completar a tarefa.
Quer saber mais?
CONTATOS
Creche Santo Antônio, Av. das Itaúbas, 2452, 78550-000, Sinop, MT, tel. (66) 3511-
1906
Damaris Gomes Maranhão
Mário Sérgio Swerts
BIBLIOGRAFIA
Creche e Pré-escola: Uma Abordagem de Saúde, Lana Ermelinda da Silva dos Santos
(org.), 244 págs., Ed. Artes Médicas, tel. 0800-559-033, 57,10 reais
Lavagem das mãos
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- Lave as mãos com água e sabonete em abundância e ensine as crianças a fazer o mesmo ao chegar à creche, antes das refeições, depois de ir ao banheiro ou de trocar a fralda e na volta do parque. A limpeza deve incluir as palmas, os dorsos, todos os dedos, as unhas e os punhos. - Para a secagem, dê preferência a toalhas de papel descartáveis. Se apenas as de tecido estiverem disponíveis, garanta que sejam para uso individual. Nesse caso, é fundamental que sejam trocadas com frequência a fim de serem lavadas e secas antes de serem usadas novamente. - Combine com todos os profissionais da creche envolvidos no preparo e na manipulação dos alimentos servidos que eles lavem as mãos em pias específicas para a tarefa. - Oriente a comunidade - o que inclui os pais dos bebês - a limpar as mãos ao entrar na creche, com água e sabão ou com álcool gel. Alimentação
- Deixe os alimentos esfriar à temperatura ambiente. Não assopre, pois isso aumenta a chance de contaminações. - Identifique as mamadeiras com o nome dos bebês. - Leve as crianças para o refeitório em grupos pequenos, evitando que fiquem aglomeradas enquanto se alimentam. Assim, todas podem aproveitar o momento e receber ajuda para aprender hábitos à mesa, como se servir e usar talheres. - Reserve um espaço para que as mães amamentem os bebês, distante dos locais de troca de fralda e de banho. - Certifique-se de que todos lavem as mãos antes das refeições, inclusive os bebês que tomam mamadeira ou mamam no peito.
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Apresentação dos alimentos aos bebês da creche
Por volta dos 3 anos, a criança já come sozinha e é comum que deixe de lado comidas
nutritivas. Explore estes sabores e estimule novos hábitos dos pequenos
Introdução
Há um ditado popular muito famoso que diz que "é de pequenino que se torce o pepino". A
explicação da expressão está no fato de que é possível direcionar o crescimento desta
planta até a colheita. Isso é semelhante ao que ocorre quando alguém apresenta um
comportamento às crianças da creche. Neste momento, elas agem muito por repetição,
imitando o comportamento dos adultos ou dos colegas.
Esta atitude pode ser aproveitada para o que costuma ser um problema para muitos pais:
a alimentação. Comer corretamente pode ser ensinado aos pequenos e é uma estratégia
muito mais eficiente do que fazer barganhas ou prometer doces caso comam frutas e
verduras. É fundamental que a criança não cresça associando comida saudável a um
dever que será recompensado com algo que ache mais gostoso.
É comum que os pequenos se precipitem ao afirmar que não gostam de uma comida,
principalmente se ela não for colorida, vistosa, doce ou já conhecida. Ajude a mudar este
hábito indicando boas alternativas para as refeições da creche e mostrando que comida
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saudável pode sim ser muito gostosa.
Objetivos
Apresentar diferentes tipos de alimentos aos bebês
Estimular a curiosidade das crianças sobre hábitos alimentares mais saudáveis
Reconhecer os sabores das comidas
Desenvolvimento
Alimentação correta, atividades físicas regulares, doses hormonais e os genes são os
principais influentes para o crescimento. Ao contrário da herança genética, que é imutável,
comer corretamente é um hábito que pode ser estimulado pela escola já na Educação
Infantil.
Para crescer com saúde o corpo precisa de doses altas de alimentos energéticos, como
carboidratos, e construtores, como proteínas. É necessário consumir também os
reguladores (frutas, legumes e verduras), que auxiliam as atividades celulares e regulam
todo o metabolismo fisiológico. Tenha isso em mente na hora de apresentar comidas às
crianças. Experimente as texturas, as formas, o cheiro e o paladar de frutas e verduras e
oriente os pequenos a conhecerem estes alimentos. Claro que o professor não pode
deixar de reconhecer que as frituras têm gosto agradável ao paladar - e as crianças sabem
disso. Mas é preciso saber, desde cedo, os riscos que as pessoas correm ao abusarem
desse tipo de alimentação. Portanto, conscientize os alunos para a necessidade de todos
os nutrientes na alimentação diária.
A seguir, vamos apresentar algumas estratégias válidas para incentivar as crianças a
comerem de maneira saudável. Os responsáveis pela alimentação das creches podem
variar essas atividades conforme a necessidade e disponibilidade e não precisam seguir
exatamente a sequência apresentada. Vale lembrar que fatores externos, como as
estações do ano, também influenciam já que boa parte das frutas não estão disponíveis o
ano todo.
Atividade 1
Leve os alunos ao supermercado. Na primeira visita, eles vão querer ficar na área de
brinquedos ou ver os alimentos "mais gostosos", como doces e biscoitos industrializados.
Mas é importante insistir. Leve as crianças primeiro ao setor de frutas, verduras e vegetais
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crus. Muitos não conhecem estes alimentos como realmente são, só na forma de geleias e
patês ou na fotografia da caixinha de suco. No supermercado elas poderão ver a fruta,
tocar e sentir seu cheiro. Explorar as sensações contribui para aumentar o interesse e a
curiosidade por estes alimentos, mostrando que são mais atrativos do que as crianças
imaginam.
Atividade 2
Levar as crianças para uma volta na feira também é interessante, mas tome muito cuidado
por causa do movimento da rua e do trânsito. Se não for possível visitar uma feira livre,
leve a turma em um sacolão ou traga algumas frutas e verduras para a sala. O mais
importante é garantir que os pequenos tenham contato com a comida: peguem, sintam o
cheiro, vejam como é a forma, a textura, se tem casca ou não e que observem a
multiplicidade de cores dos alimentos naturais.
Atividade 3
Procure associar o cheiro ao paladar das frutas. Peça que as crianças comparem esses
dois sentidos. Pergunte se o cheiro da fruta se parece com seu gosto. Compare as frutas
com mais água - ideais para os dias de verão - com as mais secas. Outra possibilidade é
apresentar diferentes tipos de uma mesma fruta. Exemplo: laranja cravo, laranja lima e
tangerina. Indique as diferenças entre o gosto, a cor, o tamanho e o formato delas.
Aproveite para reforçar a importância da ingestão de água e de sucos de frutas, que são
coloridos e bem saborosos. Embora seja mais prático consumir sucos prontos ou refrescos
em pós, eles costumam ter uma alta taxa de sódio, enquanto os sucos de frutas são mais
nutritivos e sem conservantes.
Atividade 4
Leve os pequenos para a cozinha e deixe que observem como os alimentos são
preparados. Uma visita à cozinha da creche pode surtir efeitos muito positivos. Ajude os
alunos a observarem a lavagem dos alimentos, a separação de grãos e o corte das carnes
e das frutas. As crianças costumam não ter noção, por exemplo, que a carne crua é mais
dura do que cozida. Mostre esta diferença a elas, indicando que o cozimento dos
alimentos facilita a nossa mastigação e também a digestão. Não esqueça de tomar muito
cuidado com a segurança das crianças e faça esta atividade com ajuda de outros adultos.
Atividade 5
Use a hora das refeições para contar as funções dos alimentos que estão sendo ingeridos.
Diga que as carnes contêm proteínas que servem para a formação dos músculos. Leite e
derivados têm um elemento chamado cálcio, fundamental para a rigidez dos ossos. Os
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sais minerais, que regulam o funcionamento do metabolismo, são encontrados em frutas e
verduras. Explique também que os carboidratos fornecem a energia que precisamos para
fazer todas as atividades do nosso dia a dia. Eles são encontrados em massas e pães.
Não deixe de destacar que, em geral, doces e salgadinhos têm carboidratos, mas estão
associados a óleos e gorduras, cujo acúmulo prejudica a saúde. Conte estas informações
para as crianças conforme elas comem. Isso é importante para explicar que o que
comemos tem uma função no nosso organismo.
Atividade 6
É comum gostar de pães recheados, pizzas, biscoitos e achocolatados. Explique que
esses alimentos derivam de vegetais que podem ser comidos antes de serem
processados. Um exemplo: muitas crianças quando comem biscoitos recheados, preferem
o recheio. Mostre que quando o biscoito tem sabor de morango, é porque foi produzido a
partir desta fruta. Leve morangos para os pequenos experimentarem. Se possível, faça o
mesmo com chocolate. A turma deve adorar este doce, mas poucos sabem que vem de
uma fruta chamada cacau. Se possível, apresente esta fruta para a turma. Deixe que
toquem, sintam o cheiro e provem. É provável que alguns vão dizer que tem gosto de
chocolate, enquanto outros não vão achar qualquer relação entre os dois.
Atividade 7
Corte pequenos pedaços de folhas como alface ou escarola e peça que as crianças
experimentem. Leve também as folhas de alguns temperos como hortelã, manjericão ou
orégano e mostre como os temperos dão cheiro e sabor à salada.
Neste momento, explique que há óleos mais saudáveis, como o azeite, que também dão
mais sabor aos vegetais. E que as manteigas, ainda que importantes para o corpo, só
serão úteis se forem consumidas em pequenas quantidades, já que são muito gordurosas
e a gordura causa doenças como problemas cardíacos. Outro tempero importante é o sal,
que dá gosto às comidas, mas causa riscos para a pressão arterial por isso deve ser
consumido com moderação. Converse com o responsável pela alimentação da creche e
procure fazer com que as crianças se habituem a pouco sal na comida.
Avaliação
Os alimentos e o momento das refeições podem ser muito úteis para a compreensão da
importância de comer bem. As crianças, que normalmente são muito curiosas, podem ser
estimuladas a experimentar alimentos saudáveis a partir das cores, do cheiro e da forma.
Por meio das sensações, estimule a turma am preferir os açúcares das frutas ao açúcar
refinado. Mostre que existem feiras e mercados onde é possível achar alimentos
saudáveis. Observe o interesse dos pequenos ao longo das atividades. Veja se estão
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comendo frutas e vegetais com mais curiosidade e se dispensam atenção para os
alimentos que antes não queriam.
Marcos D. Muhlpointner
Biólogo e professor de Ciências do Colégio I. L. Peretz.
20 mitos e verdades sobre alimentação infantil
Algumas das dúvidas mais frequentes sobre alimentação da garotada e, para acabar de vez com elas, pediu ajuda a alguns dos melhores
especialistas no assunto
Publicado em 13/09/2013
1. Suco de beterraba acaba com anemia?
Não. Uma xícara de beterraba ralada possui, pasme, apenas 0,8 miligrama de ferro. “A
criança anêmica tem que consumir todo santo dia 5 miligramas do mineral para cada quilo
de peso, durante três meses”, explica o pediatra Ary Lopes Cardoso, do Instituto da
Criança do Hospital das Clínicas, de São Paulo. Já um bife pequeno de fígado tem, em
média, 8,5 miligramas desse nutriente.
2. Posso colocar todos os dias um bolinho desses comprados prontos na lancheira
do meu filho?
Se for sem recheio nem cobertura, vá em frente. “Eles são ótimas fontes de carboidratos”,
afirma a nutricionista Priscila Maximino, da Nutrociência, em São Paulo. Mas, se pertencer
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à categoria dos recheados, a coisa muda de figura. Para obter a consistência cremosa, os
recheios são produzidos com gordura hidrogenada, verdadeiro veneno. Em altas
quantidades, leva à obesidade e ao aumento do colesterol (sim, criança também pode
acumular essa substância nas artérias). Para variar, experimente substituir os bolos por
bolachas salgadas ou um sanduíche.
3. Crianças de qualquer idade podem comer frutos do mar?
“De jeito nenhum. Por uma questão de segurança, espere que complete 2 anos”, orienta
Priscila Maximino. Os principais riscos são a intoxicação alimentar e as alergias. É bem
verdade que cozinhar ou assar esse tipo de alimento diminui o perigo, mas, como seguro
morreu de velho, é melhor evitar.
4. Café faz mal para os baixinhos?
A bebida não é das mais indicadas, porque a cafeína pode deixar a criança agitada.
“Porém, uma xícara pequena de café puro por dia não faz mal a ninguém”, afirma Ary
Lopes, para alívio das mães que não abrem mão do pretinho misturado com o leite. Se
você já ouviu dizer que ele prejudica a absorção de cálcio, saiba que não há razão para se
preocupar. “A quantidade de cafeína presente em um copo de café com leite é tão
pequena que não interfere na retenção do mineral pelo organismo”, esclarece o nutrólogo
e pediatra Mauro Fisberg, da Universidade São Marcos, em São Paulo.
5. O leite de soja pode substituir o de vaca?
“Sim, se o problema for intolerância à lactose”, explica Renata Cocco, pediatra da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Se não, o de vaca é melhor, porque tem
mais cálcio.” É bom saber, ainda, que um grupo de proteínas do leite de vaca, as
caseínas, pode provocar reações como urticária. Por isso, em caso de dúvida, consulte o
pediatra. Só ele pode pode recomendar o tipo de leite mais adequado para a sua criança.
6. Meu filho adora peixe cru. Tudo bem?
Acima de 2 anos, tudo bem. “Para não arriscar, só vá a restaurantes impecáveis no que se
refere à higiene”, recomenda Ary Lopes. Caso a preferência recaia sobre o salmão — que
andou na berlinda como agente da difilobotríase (doença que provoca dor abdominal,
náuseas e vômitos) —, cheque se foi previamente congelado a 21 graus e se o
estabelecimento tem o certificado sanitário, que garante a procedência e a qualidade do
pescado.
7. Alimentos com corantes causam alergia?
A resposta é não para a grande maioria dos baixinhos. Além dos corantes, os espessantes
e os conservantes, encontrados nos produtos industrializados, também são mal-afamados.
“Mas testes comprovam que apenas 5% dessas substâncias estão relacionadas a crises
alérgicas”, revela a pediatra Renata Cocco. “Já os alérgicos ao ácido acetilsalicílico,
componente da aspirina, precisam tomar cuidado, porque tendem a apresentar reações
aditivos alimentares.”
8. A carne vermelha é essencial para a criança crescer saudável?
“Sim, ela é uma importante fonte de proteínas, gordura, ferro e zinco”, confirma a médica
Roseli Sarni, presidente do departamento científico de nutrologia da Sociedade Brasileira
de Pediatria. Contra anemia, ela é imbatível. Está lotada do chamado ferro-heme, ou ferro
orgânico, que é muito mais bem aproveitado pelo corpo do que o mineral presente nos
vegetais. Segundo a especialista, a anemia afeta mais de 40% das crianças em idade pré-
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escolar no Brasil. Por isso a carne vermelha deve ser consumida ao menos três vezes por
semana, de preferência acompanhado de uma fonte de vitamina C, como a laranja, para
aumentar a absorção do ferro. O frango e o peixe são bons substitutos, mas, fique
sabendo, não contêm a mesma concentração do tal ferro-heme.
9. Refrigerante diet e guloseimas adoçadas artificialmente devem ser evitados?
"Não há nenhum componente nesses produtos que seja comprovadamente nocivo à
saúde”, afirma a pediatra Renata Cocco. Nenhum estudo concluiu, por exemplo, que
aspartame faça mal ao organismo dos pequenos.“Mas, por serem artificiais,
recomendamos que esses alimentos sejam consumidos só quando realmente há
necessidade", explica a pediatra.
10. Gemada é capaz de dar pique?
Ela foi a queridinha das mães zelosas até alguns anos atrás. Não é mais, até porque nem
mesmo os especialistas a recomendam. “O ovo cru pode estar contaminado com
salmonela”, adverte a nutricionista infantil Suzy Graff, de São Paulo. “A bactéria pode
provocar diarréia, vômito ou até levar à morte.” Infelizmente, ovos de diversas marcas
podem estar contaminados por causa de higiene e refrigeração deficientes. Como é quase
impossível saber quais têm condições de consumo, o mais seguro é fritá-los ou, melhor
ainda, cozinhá-los.
11. É verdade que alimentos crus e duros ajudam a desenvolver a musculatura da
boca?
“Sim, eles estimulam a mastigação, fortalecendo os músculos e facilitando a fala”, diz
Renata Cocco. Quando introduzir a sopa na dieta do bebê, em vez de bater os
ingredientes no liquidificador, experimente passá-los na peneira. Depois que seu filho
estiver mais crescido, amasse os alimentos com um garfo para que possam ser
mastigados. E, assim que alguns dentes tiverem nascido, ofereça alimentos crus, como a
cenoura e a maçã, em pequenos pedaços — esta última dica, aliás, vale para todo o resto
da infância e a adolescência.
12. Leite fermentado ajuda a combater a diarréia?
“Sim, os lactobacilos presentes no leite fermentado competem com as bactérias nocivas
no organismo, modificando e colonizando a flora intestinal com germes benéficos”, informa
o nutrólogo Mauro Fisberg, de São Paulo. Assim, o consumo desse tipo de bebida pode
abreviar a duração da diarréia. Se o problema persistir, procure o pediatra.
13. Jantar muito tarde provoca sono agitado?
A chance de isso acontecer é grande, principalmente se a refeição for rica em gordura,
que leva mais tempo para ser digerida, e a criança for para a cama logo depois de comer.
Durante o sono, o organismo funciona mais lentamente e isso inclui a digestão. O
estômago, então, fica mais pesado e chega a incomodar. “Já uma refeição com baixo teor
de gordura leva pelo menos duas horas para ser digerida”, afirma Ary Lopes Cardoso.
“Após esse período a criança pode se deitar tranqüilamente”, completa o médico.
14. O que a mãe deve observar no rótulo - o índice de gordura ou o de sódio?
Os dois. Não há uma dosagem máxima recomendada por produto - e, se houvesse, ela
seria diferente conforme a idade. Mesmo assim é bom ficar de olho nesses ingredientes. A
gordura, lembre-se sempre, não pode fornecer mais do que 30% das calorias diárias
consumidas pela criança. Não precisa ficar fazendo conta a toda hora: basta usar o bom
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senso e, se oferecer algo com teor de gordura nas alturas ao seu filho, cuidar para que o
restante do cardápio daquele dia seja mais leve. Para o sódio, vale o mesmo raciocínio,
lembrando que até 12% da meninada entre 6 e 18 anos é hipertensa - e aí o excesso de
sal, já sabe… Vale conversar com o pediatra sobre o assunto, afastar essa hipótese e
pedir uma orientação sobre o consumo diário de sal adequado para o seu filho.
15. É melhor comer frutas com ou sem casca?
“O mais indicado é consumi-las com casca, quando possível, porque ela é uma ótima fonte
de fibras”, garante Fábio Ancona Lopes, especialista em nutrição infantil da Unifesp. Mas
enfatiza: as frutas devem ser muito bem lavadas em água corrente e com a ajuda de uma
escovinha, para que fiquem livres de resíduos de agrotóxicos, substâncias extremamente
prejudiciais.
16. Os macarrões instantâneos são liberados?
“A massa em si não faz mal nenhum, pois é uma excelente fonte de carboidratos”, afirma a
médica Roseli Sarni. O problema está no condimento que dá sabor e faz com que o prato
seja um dos preferidos da garotada. “Além de ser um tempero artificial, ele contém grande
quantidade de sódio, que leva ao aumento da pressão e à retenção de água.” Em outras
palavras, poder pode, mas só de vez em quando.
17. Vale a pena incluir aqueles pós multivitaminados na alimentação dos meus
filhos?
“Esses pós devem ser ingeridos como complementos da alimentação só se a criança
apresentar déficit de nutrientes ou estiver abaixo do peso.”, diz Mauro Fisberg. Eles são
indicados principalmente quando é necessário aumentar o aporte de calorias, vitaminas ou
sais minerais no organismo. O ideal é que esse tipo de suplemento seja utilizado sob a
orientação de um nutricionista, já que é muito calórico.
18. As informações estampadas nas embalagens se referem às necessidades
nutricionais de crianças ou de adultos?
“Em geral elas se referem às necessidades dos adultos, exceto quando os produtos são
dirigidos ao público infantil”, esclarece Fábio Ancona Lopes. “O importante é saber que
cada idade requer tipos e quantidades específicos de nutrientes”, completa. E as
recomendações mais indicadas para cada faixa só o especialista pode fazer. Moral da
história: vale olhar o rótulo? Até vale, mas apenas para ter uma leve referência quando o
consumidor é uma criança.
19. Sopas prontas substituem uma refeição?
“De jeito nenhum. A quantidade de fibras e nutrientes presente nesses produtos é muito
pequena”, diz categoricamente a nutricionista Priscila Maximino. Sem falar no alto teor de
sódio. Se numa hora de aperto você precisar recorrer à praticidade desse tipo de refeição,
trate de complementá-la com uma porção de carne, outra de legumes e uma fruta.
Lembre-se: nada como a velha e boa sopa caseira, preparada com ingredientes
fresquinhos.
20. Quantas vezes por semana doces e refrigerantes podem entrar no cardápio?
Depende. “Se a criança estiver acima do peso, ofereça duas porções de desses itens por
semana”, recomenda a nutricionista Priscila Maximino. Mas, se ela não vive em pé de
guerra com a balança, três porções semanais estão de bom tamanho. “Esses alimentos
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devem ser oferecidos com muito mais parcimônia em caso de colesterol ou triglicérides
altos ou mesmo hipertensão”, completa
Retirada das fraldas
- Garanta que as crianças usem penicos, vasos de tamanho adequado ou com tampas adaptadas. - Estabeleça uma rotina de várias idas ao banheiro para que os pequenos se acostumem. - Os penicos devem ser colocados sempre no banheiro, distantes do vaso sanitário e do cesto de lixo. O fundo deles deve ser forrado com papel higiênico. Terminado o uso, o conteúdo precisa ser despejado no vaso, e o objeto, lavado. - Ajude as crianças a se limpar com papel higiênico (ou chuveirinho, se necessário), bem como a lavar as mãos em seguida.
Chegou a hora de largar a fralda
Pais e professores precisam atuar em conjunto para identificar os sinais de maturidade das
crianças e auxiliá-las a usar o vaso sanitário
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FASE DE CRESCIMENTO Representar a troca de fralda com brinquedos ajuda os pequenos a
entender o processo. Foto: Ivan Amorin
A criança tem cerca de 2 anos, demonstra alguma segurança nos movimentos motores,
possui autonomia ao falar e sabe controlar os esfíncteres, as estruturas musculares que
regulam a retenção e a eliminação das fezes e da urina. Já avisa que quer fazer xixi e
demora um tempinho para fazer cocô. Quer imitar os irmãos ou amigos mais velhos, pede
para sentar no vaso sanitário e passa mais horas com a fralda seca.
Nós, adultos, por termos ultrapassado esse desafio há tanto tempo, às vezes nos
esquecemos do elevado grau de exigência que é dar adeus às fraldas. O pediatra norte-
americano T. Berry Brazelton, considerado um dos maiores estudiosos dessa passagem,
resume o tamanho do desafio na introdução do livro Tirando as Fraldas. "Primeiro, as
crianças devem sentir um movimento intestinal em curso. Então, devem conter esse
movimento, ir aonde lhes dizem para ir, sentar-se - e fazer. Então, dar a descarga. Depois
disso tudo, elas têm que assistir aquilo desaparecer para sempre. Nunca mais verão
aquela parte delas novamente!"
Brazelton é enfático ao afirmar que esse processo não pode ser forçado: é essencial
esperar que a criança mostre sinais de maturidade para a retirada das fraldas (o quadro
abaixo indica as principais pistas sobre esse momento). Nessa fase, pai, mãe e
professores precisam se unir num trabalho de equipe, que pode durar de poucos dias a
vários meses.
Passagem sem trauma
A idéia é apoiar essa etapa sem deixar que a ansiedade e a pressão atrapalhem. "Com
família e educadores de acordo quanto ao momento de início da retirada da fralda, é
importante que os procedimentos sejam incorporados em casa e na creche", diz Beatriz
Ferraz, coordenadora da Escola de Educadores, em São Paulo. Cabe à instituição de
Educação Infantil se organizar para que esse processo seja vivido como uma boa
experiência (leia na página 56 um projeto institucional sobre o tema).
O papel do educador é de um observador atento. Leva a turma ao banheiro regularmente,
convidando todos a se sentar no vaso e entender sua função. E age junto às famílias para
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encaminhar a criança rumo ao desenvolvimento.
cuidados
"No começo do ano, perguntamos se os pais acham que seus filhos já estão preparados
para iniciar a retirada de fralda. Se acreditam que sim, combinamos de tentar a mudança
de hábitos", afirma Maristela Schupecheki Ferreira, professora do maternal da CMEI
Professor Antônio Nunes Cottar, em Ponta Grossa, a 113 quilômetros de Curitiba.
CRIANDO VÍNCULOS Na CMEI Professor Antônio Nunes Cottar, a turma divide dificuldades em rodas de
conversa. Foto: Ivan Amorin
No ambiente escolar, os cuidados incluem conversas com a turma, exercícios de troca de
fralda com bonecos e preparação do banheiro para os pequenos. A CMEI onde Maristela
trabalha tem vasos baixos. Uma boa dica é recomendar aos pais que adaptem os de casa
com tampas menores, mais adequadas para a idade. "Isso ajuda as crianças a se sentir à
vontade. Essa medida também transmite segurança, mostrando a eles que podem fazer
xixi e cocô sem o risco de cair no vaso", explica.
Outra idéia é estabelecer uma rotina constante de idas ao banheiro. Para evitar a espera
da turma, a professora Maristela divide tarefas com sua assistente. "Enquanto uma leva a
criança ao banheiro, a outra fica na sala, brincando com massas de modelar e blocos de
encaixe, ou envolvida em atividades de música, movimento e leitura", conta.
Vale discutir ainda uma estratégia bastante usada por muitas creches e famílias na
passagem da fralda ao vaso: a introdução do penico. Embora não seja necessário - afinal,
é mais uma coisa à qual a criança vai ter de se adaptar -, ele pode ser usado para dar
mais confiança desde que fique sempre no banheiro, tanto por motivos de higiene como
para acostumála ao espaço correto.
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A criança está pronta?
Os pequenos começam a demonstrar interesse pela retirada das fraldas aos 2 anos.
Muitas vezes, esse processo é mais familiar para os educadores do que para os pais. Por
isso, além de auxiliar as crianças a atravessar essa fase, é preciso orientar também os
adultos. O principal é saber reconhecer quando cada um está pronto para utilizar o vaso. O
pediatra T. Berry Brazelton enumera alguns sinais de maturidade, que devem ser
observados com atenção:
- A criança já aprendeu a andar e tem paciência para ficar sentada.
- Presta atenção no que os adultos dizem e mostra que entende.
- Compreende que tem desejos e capacidade de dizer não.
- Sabe o lugar dos objetos e começa a guardá-los corretamente.
- Imita os mais velhos com gestos ou na maneira de andar.
- Faz xixi e cocô em horários previsíveis e tem mais consciência do próprio corpo.
Compreensão com os "acidentes"
Os discursos e as ações da instituição e da família podem estar bastante ajustados, as
crianças conseguem ficar secas na creche, mas, chegando em casa, relaxam e pedem as
fraldas. Ou, por causa da chegada de um irmão, voltam a fazer xixi fora do lugar. Diante
dessas situações, oriente os pais a ir com calma. Fornecendo informações sobre as
atitudes dos pequenos durante o dia, recomende que não dêem muito líquido antes de
dormir e peça que não retirem as fraldas à noite até ter alguma certeza de que elas não
serão molhadas. E não os deixe se esquecer da maior tarefa de nós, adultos: estimular a
criança a realizar essa passagem por conta própria. Assim, a confiança infantil ganha um
forte impulso.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
Tirando as Fraldas, T. Berry Brazelton e Joshua D. Sparrow, 118 págs., Ed. Artmed,
tel. 0800-703-3444, 23 reais
CONTATOS
Beatriz Ferraz
CMEI Professor Antônio Nunes Cottar, R. Dourado, 55, 84043-010, Ponta Grossa,
PR, tel. (42) 3229-3337
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Da fralda ao vaso
Objetivos
- Favorecer um processo tranqüilo de retirada de fraldas para as crianças, respeitando
ritmos e necessidades.
- Auxiliar a equipe a construir competências para o bom acompanhamento do processo.
- Promover um diálogo com as famílias, favorecendo ações em conjunto com a creche.
Tempo estimado
O ano todo.
Desenvolvimento
1ª etapa O trabalho deve ser iniciado com a articulação com as famílias. Em reunião com
pais ou responsáveis, compartilhe informações sobre a retirada das fraldas. Ressalte três
pontos importantes: o primeiro é que a iniciativa deve partir das crianças e é uma
importante conquista na vida delas. O segundo é que os adultos devem ficar atentos aos
sinais de que ela já está pronta. E o terceiro é que as ações em casa e na creche devem
ser coordenadas. Quanto mais a instituição se colocar como parceira, aberta para
esclarecer dúvidas e disponível para ajudar na resolução de problemas, mais tranqüilo e
bemsucedido será o processo.
2ª etapa Um ou dois meses depois da primeira reunião, chame os pais para conversar
individualmente ou em pequenos grupos. Estabeleça decisões para dar início à retirada de
fraldas de cada criança: para algumas, será o caso de manter só à noite; para outras, será
preciso esperar mais.
3ª etapa Com os professores e a equipe de funcionários, realize encontros de formação
para que eles compreendam como se dá o processo de abandono das fraldas. Estabeleça
os principais procedimentos - o mais importante é a criação de uma rotina específica para
que todos possam ir ao banheiro.
4ª etapa Na sala, o processo precisa ser flexível para respeitar as fases de cada um. A
professora pode convidar a turma para ir ao banheiro, em média, a cada 30 minutos. É
importante combinar essa atividade com outras para os que já utilizam o vaso
normalmente. Para incentivar a troca de informações sobre essa fase, promova conversas
com as crianças e escute seus comentários.
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Avaliação
Observe junto com os colegas e os pais a evolução de cada criança. Acolha as que
demonstram mais dificuldade, ouça suas angústias e evite que se sintam repreendidas ao
deixar "escapar" um xixi ou cocô.
Consultoria: Beatriz Ferraz
Coordenadora da Escola de Educadores, em São Paulo.
Atividades
- Diariamente, solicite que a equipe de limpeza higienize os brinquedos depois de a criançada usá-los. Coloque os materiais, a cada período de atividades, em um gaveteiro plástico, a ser retirado pelos funcionários. Assim, todos poderão ser lavados com água e sabão e colocados para secar ao ar livre. Enquanto isso, os pequenos poderão usar uma nova leva de brinquedos. - Assegure a ventilação dos ambientes que os pequenos frequentam, bem como a alternância entre momentos de atividades internas e externas, evitando que as crianças passem longos períodos em um único ambiente fechado, o que aumenta a chance de transmissão de males como gripes, resfriados e infecções.
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