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o. . . . . . . J
: : : JI-
,1--1a.. .<Cu
Segundo a defin ição de T hom as B otiom ore (veja o capítu lo 1),
a sociedade é um a rede de relações en tre pessoas, grupos sociais ei ns ti tu iç õe s. E s sa imag em "do so ció lo g o i ng lê s n o s tr an sm i te a id eia d eum co nju nto d in âm ico fo rm ad o p ela s rela çõ es so cia is, q ue in te rlig ame e nv olv em a s p es so as em uma p erm a nen te tro ca d e co nta to s so cia is.Isso n os lev a ta m bém à noç ão d e p ro ce ss o e de t ran sformaçõe s ao lon-g o d o tempo . C omo v er emo s n es te c ap itu lo , o s p ro ce ss os s oc ia is p od emcon tr ib uir ta n to p ar a a co esã o d a so cie da de q ua nto R ara a e cl os ão d econflitos e enfrentamentos em se u in te rio r. C om te e Durk he im enfa ti-
zavam a im p ortâ nc ia d a c oe sã o e d o c on se nso n a so cie da de. M a rx , aocon trár io , pr ior izava o conflito e m sua form a de luta de classes. P arae le, essa lu ta co nstitu ia o ve rd ad eiro m oto r q ue m ov e a s en gre na ge nsda Hi stór ia .
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CAP ÍTU LO 4 C om o fu nc ion a a socie da de ?
~o
z.::
Observe e responda:
1. Você já presenciou cena semelhante à da foto, ou já viu algo parecido em noticiários de
televisão, no cinema ou em revistas e jornais? Em caso afirmativo, que cena foi essa?2. Para você, a cena da foto é algo habitual na nossa sociedade?
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1 I As relações sociais
Alguns estudiosos definem r el aç ão soc ia l como
a forma assumida pela interação social em cada si-
tuação concreta. Assim, um professor tem um tipo
de relação social com seus alunos, a relação peda-
gógica. Duas pessoas em uma operação de compra
e venda estabelecem outro tipo de relação social, a
relação comercial. As relações sociais podem ainda
ser políticas, religiosas, culturais, familiares, etc.
Da mesma forma que a interação social, a rela-
ção social tem por base um comportamento recípro-
co entre duas ou mais pessoas. Nos termos de Max
Weber, essa reciprocidade é dotada de um sentido
comum às pessoas envolvidas. Segundo essa defini-
ção, as relações de autoridade-obediência, por exem-
plo, são relações sociais, pois envolvem pessoas que
exercem a autoridade e pessoas que obedecem, pois
aceitam a autoridade reivindicada pelas primeiras,
ou se submetem a ela, às vezes a contragosto.
Em uma perspectiva diferente, Karl Marx con-
siderava que as relações sociais eram decorrentes
CAP Í T ULO 4 C om o fu nc ion a a soc ie da de ?
das relações de produção, ou seja, das relações de-
senvolvidas no processo produtivo, material, da
sociedade. Um exemplo típico dessas relações se-
riam as que existem entre o dono de uma fábrica e
seus empregados, ou ainda entre um dono de terra
e seus arrendatários (pessoas que alugam um lote
dessa terra e pagam uma quantia regular ao pro-
prietário por esse arrendamento, ou aluguel).
Para Marx, contudo, as relações sociais não se
restringem ao processo de produção. Este último
constitui a base em que elas se apoiam, mas as re-
lações sociais são mais amplas. Elas estão também
na sala de aula, nos laços familiares, nos vinculos
entre as instituições e entre estas e as pessoas,
nos laços de amizade e assim por diante. Dessa
forma, pode-se dizer, com Thomas Bottomore,
como vimos na abertura do capítulo, que JJa so-
ciedade é uma rede de relações entre indivíduos,
entre grupos sociais e entre instituições", ou seja,
uma rede de relações sociais.
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C A PÍT U LO 4 C om o fu nc ion a a soc iedade?
Além disso, para Marx, essas relações não
são estáticas. Segundo ele, "as relações sociaisestão intimamente ligadas às forças produti-
vas. Adquirindo novas forças produtivas, os
homens modificam o seu modo de produção, e
modificando o modo de produção, o seu modo
de ganhar a vida, modificam também todas as
relações sociais" (MARX,K. In: BIROU,Alain. Di-c ioná ri o da s C i ênc ia s Soci ai s. Lisboa: Publicações
Dom Quixote, 1982, p. 355; para os conceitos de
forças produtivas e modo de produção, veja o
capítulo 7).
Por "re lação" social deve-se entenderuma conduta de várias pessoas - referidareciprocam en te conform e seu conteúdo sig-n ific ativ o, o rien ta nd o-s e p or e ssa r ec ip ro ci-dade [ con te údo s ign if ic a tiv o é o sen tid o, o usig nifica do , a trib uíd o p ela s p esso as à suaação. N a r ela çã o so cia l e xiste reciprocidade,ou seja , cada parte envolvida atribu i umsentid o, o u sig nifica do, à ação da outra}.
U m m ínim o de recip r oc idade na s aç õe s é,
portanto , uma característica conceituol da re-lação soc ia l. O c on te úd o p od e s er o ma is d iv er-so: conflito, inimizade , amor se xua l, am iz ade ,piedade , troca no m erca do, "ruptura" de ump ac to , " co nc or rê nc ia " ec on ôm ic a, e ró tic a o ude outro tipo, et c . O co nc eito , p ois, n ad a d izsobre se entre os agen te s e xi st e " so li da r ie da-d e" o u e xa tame nte o c ont rá ri o. [ ... }
Não afirm am os de m odo algum que numca so co ncret o os participantes da ação m u-tu am e nte r efe rid a p o nh am o mesmo sentidon essa a çã o, o u q ue a do tem a a titu de d a o utraparte. O que em um é "amizade", "amor" ,"piedade" , "fide li dade con tra tua l", pode en-
-----2 I Processos sociais
Os alunos de uma escola resolvem fazer uma
limpeza geral no salão de festas para o baile de
formatura. Organizam-se, um ajuda o outro e
logo o trabalho está acabado. Esse resultado foi
60
contrai-se no outro com atitudes com pleta-men te d if er en te s. [ E ntr eta nto , m e smo n es se scasos , e x is te re ciproc idade em relação ao sen-ti do a tr ibu ído à a çã o pelo s agentes}, na m e-dida em que o agente pressupõe uma d eter-m in ad a a titud e de seu parceiro diante d ele en es sa e xp ec ta tiv a o rie nta s ua c on du ta , o quep od erá ter co nseq uên cia s p ara o desenrolard a a çã o e para a c onf igu raç ão da r el aç ão.
A dap ta d o de : WEBER , M a x . A ção soc ia l e re la çã o soci a l.In : F ORAC CHI , M a ria lic e e MA RT INS, Jo sé d e S ou za (orgs .).
Soc io log ia e soci edade. R io d e Ja ne iro: L ivr os T éc nic ose Ci ent í f i cos , 1977. p . 14 2 -3.
Vamos pensar?
1. o que é o conceito de relação social
tal como foi elaborado por Max
Weber?
2. Segundo Weber, as partes envolvidas
em uma relação social atribuem o
mesmo sentido, ou significado, aessa relação?
possível porque houve cooperação. A cooperação
é um tipo de processo social.
A palavra processo vem do latim procedere, quesignifica avançar, progredir. Designa a contínua
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mudança de alguma coisa numa certa direção. Seu
significado, portanto, contém as ideias de tempoe de movimento, de pequenas alterações em um
fenômeno, de evolução, de mudanças moleculares
que podem levar a transformações mais profundas.
Processo social indica, assim, interação so-
cial, movimento, evolução, mudança nas relações
sociais e na sociedade. Os processos sociais são as
diversas maneiras pelas quais indivíduos e grupos
atuam uns com os outros, a forma pela qual os
indivíduos se relacionam e estabelecem relações
sociais no transcorrer do tempo.
Qualquer mudança proveniente dos contatos so-ciais e da interação social entre os membros de urna
sociedade constitui, portanto, um processo social.
Processos associativos e dissociativosNo grupo social ou na sociedade corno um todo,
indivíduos e grupos se reúnem e se separam, asso-
ciam-se e dissociam-se. Dessa forma, os processos
sociais podem ser associativos ou dissociativos.
Os processos associativos estabelecem formas
de cooperação, convivência e consenso no gru-po. Geram, portanto, laços de solidariedade. Jáos dissociativos estão relacionados a formas de
CAP ÍTULO 4 C om o fu nc ion a a soc ie da de ?
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C A PÍT U LO 4 C om o fu nc ion a a soc ie da de?
divergência, oposição e conflito, que podem se
manifestar de modos diferentes. São responsáveis,assim, por tensões no interior da sociedade.
Os principais processos sociais associativos
são a cooperação, a acomodação e a assimilação.
Os principais processos sociais dissociativos
são a competição e o conflito.
Resumindo:
~ cooperação
/
associativos ~ aco"m~da~ãoassimilação
Processossociais ~ .
di iati <:competiçãolSSOCla lVOS
conflito
A seguir, vamos estudar os processos associa-
tivos e os processos dissociativos. Você vai per-
ceber que não seguimos a ordem apresentada no
esquema anterior. Isso se deve, em parte, à ne-
cessidade de se priorizarem certos processos, seja
para facilitar o entendimento de outro, seja por-
que a partir dele podem surgir novos processos.
Coope ração
A cooperação é a forma de interação social naqual diferentes pessoas, grupos ou comunidades
trabalham juntos para um mesmo fim.
São exemplos de cooperação: a reunião de vizi-
nhos para limpar a rua, ou de pessoas para fazer urna
festa; mutirões de moradores para construir conjun-
tos habitacionais; sociedades cooperativas, etc.
A cooperação pode ser direta ou indireta.
Cooperação d ir eta. Compreende as ações que
as pessoas realizam juntas, corno é o caso do mu-
tirão. Mutirões são atividades que reúnem diversas
pessoas em um esforço comum para alcançar deter-minado objetivo. Nos bairros populares da periferia
de grandes cidades no Brasil, por exemplo, não é
raro que pessoas ligadas por laços de amizade tra-
balhem juntas nos fins de semana para construir a
casa de urna delas. Quando a casa está pronta, as
mesmas pessoas passam a cooperar na construção
da casa de outra família integrante do grupo.
Cooper aç ão ind ir eta . É aquela em que as
pessoas, mesmo realizando trabalhos diferentes,
necessitam indiretamente urnas das outras, por
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não serem autossuficientes. Tomemos o exemplo
de um médico e de um lavrador: o médico nãopode viver sem o alimento produzido pelo lavra-
dor, e este necessita de cuidados médicos quando
fica doente. Existe, assim, entre eles, uma relação
de complementariedade.
Uma das diferenças entre a cooperação direta
e a indireta está no fato de, no primeiro caso, se
desenvolverem relações de solidariedade e apoio
mútuo entre as pessoas envolvidas. Isso não ocor-
re quando a cooperação é indireta, pois nesse caso
as pessoas envolvidas não estão ligadas por um
esforço coletivo destinado a conquistar um obje-tivo comum.
CompetiçãoSegundo o cientista social H. Friedsam, com-
petição é uma forma de interação que envolve luta
ou disputa por bens limitados ou escassos. Essa
interação é regulada por normas, pode ser dire-
ta ou indireta, pessoal ou impessoal, e tende a
excluir o uso da força e da violência. Os bens em
jogo, acrescenta P. Fairchild. "podem ser objetosfísicos ou materiais, assuntos de estima pessoal,
dignidade ou recompensa não material. A essência
CAP ÍTULO 4 C om o fu nc ion a a soc ie da de ?
da competição é um choque tal de interesses que
o atendimento de um indivíduo ou entidade impe-de o atendimento de outro indivíduo ou entidade"
(FRIEDSAM,H. e FAIRCHILD,P. In: D ic io nário d e
C i ênc ia s Soc i a is . Rio de Janeiro: Editora da Funda-
ção Getúlio Vargas, 1987. p. 218-9).
Em outras palavras, competição é uma dispu-
ta entre indivíduos, grupos ou sociedades por bens
que não chegam para todos (bens escassos). A
competição pode levar indivíduos a agir uns contra
os outros em busca de uma situação melhor. Ela
nasce dos mais variados desejos humanos, como
ocupar uma posição social mais elevada, ter maiorimportância no grupo social, conquistar riqueza e
poder, vencer um torneio esportivo, ser o primeiro
da classe, passar no vestibular, vencer um concur-
so, etc.
Ora, nem todos podem obter os melhores
lugares nas esferas sociais, pois os postos mais
importantes são em número muito menor do que
seus pretendentes, isto é, são escassos - da mes-
ma forma que o número de vagas no vestibular é
pequeno em comparação com o número de candi-datos em disputa (veja o boxe a seguir). Assim,
os que pretendem alcançar esses postos ou vagas
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VESTIBULAR: A HORA DA DECISÃO
CAP Í T ULO 4 C om o fu nc ion a a soc ie da de ?
Umexemp lo d e compet iç ão , e nt en did a c om o d isp uta
por bens escassos, é o vestibu la r. Em setem bro de
2007, os c andida to s i ns cr it os p ara o p ro ce ss o s el et iv o d e
2008 d a Fu ve st -fundação que realiza em São Paulo o
mai or v es tib ul ar d o p aís - somavam 140 803 estudantes.
A m aioria deles concorria a 10 302 v ag as n a U nive rsi-
dade de São Paulo (USP). O s ou tro s d isputavam 250
vagas distribuídas entre a F aculdade de Ciências M é-
dicas Santa Casa e a A cademia de Polícia Militar do
B arro B ranco. A relação total, portanto, era, em m édia,
de m ais de dez candidatos por vaga. Em a lg un s cu rso s,
como o d e jo rn ali sm o, e ss a r el aç ão e ra a in da mai or.
O s vestibu la nd os sã o, em sua g ran de m aioria, jo-
v ens d e 18 a 20 anos. B oa p ar te d ele sf ic a c on fu sa d ia nte
d a n ec es sid ad e d e d ec id ir e ntr e os mu it os c ur so s d is poní -
veis. O r es ult ad o é q ue 60% do s q ue pa ssam no vestibu -
lar em São Paulo se arrependem antes da conclusão do
curso e retornam ao vestibular, às t z e z e s desperdiçando
um tem po precioso na própria form ação e ocupando va-
gas que poderiam ser m ais bem aproveitadas por outros
candidatos.
Mas há alternativas para quem chega à porta
do vestibular sem convicção quanto à carreira a seguir.
A lguns cursos oferecem ao futuro profissional um leque
de opções muito mais amplo do que se imagina. "Há
cada veZ mais engenheiros e médicos atuando como
administradores ou arquitetos no ramo de design ",e xempl if ic a Lu iz G o w z a q a Bertelli , p re sid en te d o C en tr o
de lnteqração Empresa-E scola e autor do livro Profis-
sões 2005 (E dito ra C IEE). O ptar por uma dessas
carreiras perm ite, em muitos casos, adiar por alguns
an os a difíc il esc olha da p rofissã o.
Fontes: http://gl.globo.com!NoticiasNestibular e http://
www.simplescidade.com.br - Acesso: 2.10.07.
entram em competição com os demais concorren-
tes. Nessa disputa, as atenções de cada competi-
dor estão voltadas para a recompensa e não para
os outros concorrentes.
É importante também observar que a com-
petição "tende a excluir o uso da força", nas pa-
lavras de Friedsam. Isso porque ela constitui um
tipo de interação regulada por normas, por leis,
ou mesmo pelos costumes. Quando a competição
viola essas normas, transforma-se em conflito.
Há sociedades que estimulam mais a com-
petição do que outras. Entre as tribos indígenas
do Brasil, por exemplo, as relações não são tão
acentuadamente competitivas como na sociedade
capitalista. Esta última estimula os indivíduos a
competirem em todas as suas atividades - na es-
cola, no trabalho e até no lazer -, exacerbando o
individualismo em prejuízo da cooperação.
ConfLitoQuando a competição assume características
de elevada tensão social, sobrevém o conflito.
64
Diariamente, lemos e ouvimos no noticiário
dos jornais, do rádio e da televisão relatos de
conflitos em diversas partes do mundo: com-
bates na Colômbia entre tropas do governo e
guerrilheiros ou narcotraficantes; ocupações de
fazendas pelo Movimento dos Trabalhadores Ru-
rais Sem-Terra (MST) no interior do Brasil, às
vezes seguidas (ou precedidas) de assassinatos
de líderes sindicais a mando de grandes fazen-
deiros; conflitos entre israelenses e palestinos
no Oriente Médio; choques armados entre sol-
dados norte-americanos e rebeldes muçulmanos
no Iraque.
O conflito social é um tipo de interação que
se desenrola no tempo e provoca mudanças na so-
ciedade, tal como a competição. Trata-se, portanto,
de um processo social. Em contraste com a compe-
tição, ele consiste em uma luta por bens, valores
ou recursos escassos, na qual o objetivo dos con-
tendores é neutralizar ou aniquilar seus oponentes.
Dessa forma, ao contrário da competição, o conflitoenvolve, em maior ou menor escala, o emprego da
violência.
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CA P ÍT U L O 4 C om o fu nc ion a a soc ie da de ?
Uma Lu ta por d ireitosConsideremos, por exemplo, as lutas dos ne-
gros norte-americanos por direitos civis. Elas tive-
ram início antes mesmo do fim da escravidão de
africanos e afrodescendentes nos Estados Unidos.
Como se sabe, a abolição da escravatura nesse país
só ocorreu em 1863, em meio a um conflito so-
cial de grandes proporções conhecido como Guerra
d e S ec es sã o (1861-1865). As partes em luta nesse
conflito eram a União, apoiada pelos estados do
Norte e sob a liderança do presidente AbrahamLincoln (1861-1865), e os estados do Sul. Lincoln
queria abolir a escravidão. Os estados do Sul que-
riam conservá-la.
A Guerra de Secessão terminou com o triunfo
da União, ou seja, do exército fiel ao presidente
Lincoln. A escravidão foi abolida, mas os negros
continuaram a sofrer todo tipo de discriminação
e preconceito. Por exemplo, nos estados do Sul,
crianças negras não podiam frequentar escolas
destinadas a brancos. Nos lugares públicos havia
banheiros separados para negros e para brancos.
Nos ônibus, os afrodescendentes só podiam se
sentar nos bancos de trás. Além disso, era co-
mum o linchamento de negros por pessoas bran-
cas, que não eram punidas pelo crime.
O hábito de linchar negros simplesmente
pelo fato de serem negros foi disseminado por
uma organização terrorista chamada Ku Klux
Klan. Criada logo após a Guerra de Secessão, essa
organização secreta, cujos integrantes atacavam
negros indiscriminadamente, existiu até o come-
ço dos anos 1960.
Por essa época, os negros norte-americanoscomeçaram a se mobilizar contra a segregação e a
discriminação que os atingiam. Depois de violentos
choques com a polícia durante os anos 1960, eles
conseguiram ver reconhecidos seus direitos civis.
Passados mais de trinta anos, embora certas formas
de racismo e discriminação ainda persistam nos
Estados Unidos, o negro integrou-se, pelo menos
em parte, à sociedade norte-americana. Esse é um
exemplo de processo social envolvendo conflitos
que levou a mudanças importantes na sociedade.
Assim, diversos afrodescendentes ocupam hoje
posição de destaque até mesmo no governo estadu-
65
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CAP ÍTULO 4 C om o funcion a a sociedade?
nidense, O que antes era impensável. É O caso de
Barack Obama, que em 2008 tornou-se o primeiro
negro a ser eleito presidente dos Estados Unidos.
Já no Brasil, o preconceito contra os negros
nunca foi tão ostensivo quanto nos Estados Uni-
dos. Além disso, sempre foram comuns aqui as
uniões interétnicas - a miscigenação da popula-
ção brasileira é um fato que não se pode negar (ao
contrário do que ocorre nos Estados Unidos). Por
essa razão, há quem afirme que no Brasil temos
uma "democracia racial".
No texto a seguir, você verá que não é bem as-
sim. Apesar de a legislação brasileira proibir quais-quer manifestações de preconceito e discriminação
étnica, as desigualdades sociais entre brancos e
negros ainda estão longe de terem sido superadas.
Elas indicam também alguma forma de racismo.
Existe preconceito contra os negros noBrasil? Essa é urna pergunta para a qual gos-
tamos de responder com um sonoro "não!".
Entretanto, certos dados numéricos pare-
cem afirmar o contrário. Por exemplo: pre-
tos e pardos ganham 4,15 reais por hora, em
média, enquanto os brancos recebem 8,16
reais, também em média, quase o dobro do
que ganham negros e pardos. Em contra-
partida, quando se trata de desemprego, os
negros saem na frente: 11,8% contra 8,6%dos brancos.
No texto a seguir, você encontrará ou-
tras informações, levantadas em setembro
de 2006 pelo Instituto Brasileiro de Geogra-
fia e Estatística (IBGE).
Duas v er da de s in eg á ve is : 1) o Brasil é op aís d a m isc ig en aç ão ; 2) aqui , a igualdaderacia l não passa de m ito . É tam bém onde otom da pele resulta em d iferen ça s, q ue fa -
zem da un iversidade um espaço de m aioriabranca, e tornam as ocupações m ais bem
66
rem un era da s q ua se in acessíveis a os p reto se pa rd os. A s d esigua ldades, visíveis no diaa d ia , estão em n úm ero s d o In stitu to B ra si-le ir o d e Ge og ra fia e E sta tís tica (IBGE ), q ueon tem divulgou a Pesqu isa M ensa l de Em -p re go (PME ), c on sid er an do os c rité rio s d ecor ou de raça.
Realizada em setem bro , a p esqu isa reú-n e d ad os d e seis reg iõ es m etro po lita na s (R e-c if e, Sa lvador, B elo H o riz on te , R io , S ão P au lo
e Por to A legre) . O lev an tam en to m o str a q ue ,d esd e 2 00 2, o B ra sil vem conseguind o um aligeira m elhora na renda e n a e sc ola rid a-d e d a popu lação, m as en contra dificuldadep a ra r ed uz ir a d is tâ n cia e ntr e as raças.
A escolaridade passou de 7,6 para 8anos de estudo; porém , os b ra nc os e stu -dam mais 1,6 ano do que os n eg ro s, c om oem 2002 . A lém disso , enq uan to 45,9% dosb ra nc os h av iam c urs ad o, p elo m en os , o nível
m éd io co mp leto , en tre os pretos e pardos ap ro po rçã o e ra d e 28,5%. Na faixa de 10 a 17
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an os, qu an do tod os d evem estar estuda nd o,ha via 30% ma i s negros fora da escola - noRecife a d if er en ç a c hegava a 45 ,7%.
Na universidade, outra m arca da desi-gualdade: a proporção de pessoas com 18anos ou m ais que f re que n ta v am ou já ha-v iam e sta do em um cu rso superior sub iu napo pu lação , m as a d istâ nc ia e ntre a s raçasestá m a ior: 2 5,5% d os b ra nc os e 8,2% dospretos e pardos encaixavam -se no perfil.Entre a s p esso as o cu pa da s, co m ma i s de 18anos , 21,8% d os b ra nc os e 5,4% d os n eg ro stin ham n ív el su pe rio r.
"- 'f1s e st atí st ic a s mos tr am um a bism o en -tr e a p o pu la çã o b ra n ca e a p op ula çã o d e p re -to s e pardos . É a lg o q ue fa z p arte d o p ro cessoh istó rico d o p aís, p ois eles n ão viera m p ara o
Br as il c omo re is , mas em navi os n e gr ei ro s ",analisa o gerente d a PM E, C im a r Azeredo.
E m tese, pesso as sem instru ção ou comm enos de um ano de estudo deveriam ob ter
a m esm a rem unera ção, m as os b ra nc os g a-nham 60 re a is a m ais n essa faixa de tra ba-l hado re s. A d is par idade s e a ce ntu a c on fo rm eaumenta a esco la rid ad e. N a fa ixa d e o ito a
dez anos de estudo , a diferença é de 135re a is , ou 61 % . Com 11 anos ou m ais , é de82 9 re a is , ou 14 9% (899 ante 1 72 8 re a is ).
Em S alv ad or, os valo res são 908 r e a i s paranegros e 2 062 r e a i s p a ra b ra n co s.
P ara qu em con sid era a d is tâ n cia e ntr e
os rend im entos apenas com o um sinal dad iscrim ina ção racia l - q ue o brasileiro, emg er al, n eg a -, o e co nom ista A n dr é U ra ni f azum a le rta . " A d ife re nç a sa la ria l, em grandep arte , n ão s e deve à c or , m a s às c on d iç õe s d eacesso à ed uca çã o", a va lia ele , q ue é diretorexecutivo do Institu to de E studos do Traba-lh o e Soci edade ( Ie ts ) .
O de se qui lí br io v em s e r ep ro d uz in do e n-tr e a s ge raç õe s, ob se rv a o d ir eto r d a g ra du a-
ção em E co nom ia d a U n iv ers id ad e F e de ra l d oR io d e Ja neiro , M a rcelo P aixã o. E le d efen de
CAP Í T ULO 4 C om o f un cion a a s oc ie da de ?
a çõ es a firm ativa s, co moosistem a de cotasn as u niv er sid ad es , p ar a p ro du zir a lte ra çõ es
signif icativas.E ss a tamb ém é a v is ão d a min i s t r a de P o-
l ít ic a s d e Promoção da Igua ldade Rac ia l, Ma t il -d e R i be ir o . 'f 1 c ria çã o d e c ota s a ju d a a mudara s p er sp ec tiv as d os n eg ro s e a visã o q ue os
e mp re ga do re s tê m d o m er ca do d e tra ba lh o ':Para a p esq uisad ora do In stitu to B ra si-
leiro d e A n álises S ocia is e Ec onôm ic as , P e r-n an da C arva lh o, o p r ec onc ei to c ontr ibu i, emu i t o , para os d ad os en co ntra do s. "H á d is-crim in açã o, m uita s vezes vela da ", d iz. E lem -b ra : dia nte d a p erg unta "o nde você g ua rd a o
seu ra cism o?", feita duran te ca mp an ha co n-tr a o p r ec onc ei to , v á ri as p e ss oas c onf es sa r amm u da r d e c alç ad a q ua nd o, em l uga re s e rmos ,e n con tr am pe la f re n te um negro.
A da pta do d e: RODR IGUES, Kar in e . D e s igu a ld a d e s ra c ia is pe rs is te mna ed u c a ção e no tra ba lh o. O Estado de s . Paulo, 18.11.06.
Pesquise e responda
Faça uma pesquisa em jornais, livros,
revistas e sites da internet para saber
mais sobre a situação de negros e pardos
no Brasil atual - um livro interessante é
Ra cism o no B r as il, de Gevanilda Santos
e Maria Palmira da Silva, publicado pela
editora Perseu Abramo (2005). Depois,
escreva um texto, procurando responderàs seguintes questões.
1. O que são política afirmativa e
sistema de cotas? Você concorda ou
discorda de sua aplicação no Brasil?
2. Existe discriminação contra negros
e pardos no Brasil? Quais são suas
origens históricas e como ela se
manifesta? Caso você ache que não há
discriminação, apresente argumentos
que comprovem sua opinião.
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CA P Í T ULO 4 C om o fu nc ion a a soc ie da de ?
Competição e c on flito
Comparando a competição e o conflito, pode-mos destacar as seguintes características:
• a competição pode tomar a forma de luta pela
existência, como a que se estabelece entre in-
divíduos para a obtenção de alimento ou em-
prego, por exemplo;
• o conflito pode tomar a forma de rivalidade,
disputa, revolta, revolução, litígio ou guerra. O
conflito é bem evidente na luta entre patrões
e empregados em determinadas situações (gre-
ves, por exemplo), nas disputas pela posse da
terra entre latifundiários e trabalhadores ruraissem-terra, ou ainda na guerra entre nações;
• a competição pode ser consciente ou incons-
ciente; o conflito é sempre consciente, ou seja,
os adversários sabem que estão em oposição;
• a competição é impessoal; o conflito é pessoal
e, portanto, emocional;
• o conflito pode implicar víolência ou amea-
ça de víolência; já a competição não envolve
víolência;
• enquanto a competição é contínua, o conflitonão pode durar permanentemente com o mes-
mo nível de tensão;
• no conflito, o primeiro impulso dos oponentes
é tentar neutralizar ou destruir o adversário.
Pessoas ou grupos em conflito podem canali-
zar sua tensão tanto para a guerra como para
a criminalidade, ou ainda reduzi-la a um pro-
cesso de acomodação. Nem todos os conflitos,
contudo, se resolvem pela violência. Muitos
deles comportam negociações e acordos en-
tre as partes. Esse é o caso, por exemplo, dasgreves de trabalhadores, uma forma de pres-
são para obter conquistas, como melhores sa-
lários, menos horas de trabalho, etc. Muitas
dessas paralisações são solucionadas por meio
de acordos ou concessões mútuas entre pa-
trões e empregados.
TerrorismoO conflito pode levar ainda a outra forma
extrema de violência: o terrorismo, resultado desituações extremas de opressão ou exclusão de
grupos sociais, políticos, étnicos, nacionais ou
68
religiosos. Essas situações estimulam o surgi-
mento do extremismo político ou religioso (nestecaso, chamado de fundamentalismo). Enquanto
todas as formas de conflito, inclusive as guer-
ras, levam a uma solução, seja pelos processos
de acomodação, seja pela assimilação, o mesmo
não ocorre com o terrorismo. Incapaz de impor-
se pela ação política ou pela força das ideias,
ele procura destruir o adversário sem medir as
consequências.
Durante certo tempo, cientistas sociais consi-
deraram o terrorismo uma característica de socie-
dades retrógradas. Alguns chegaram a supor que
o processo de modernização das sociedades viria,
cedo ou tarde, pôr um fim aos atentados, mes-mo que em um ou outro lugar pudessem ocorrer
atos isolados.
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Os acontecimentos mais recentes, contudo,
não comprovam essa teoria. Osacrifício de pessoasem nome de urna causa entra, dessa maneira, na
era da globalização. O atentado de 11 de setem-
bro de 2001 - quando foram destruídas as torres
gêmeas do World Trade Center de Nova York, nos
CAP Í T ULO 4 C om o fu nc ion a a s oc ie da de ?
Estados Unidos - mostra que nenhum país está
imune a esse perigo. Ele pode atingir igualmen-te militares e civis; pode ocorrer na Nigéria, na
Arábia Saudita, na Inglaterra, na Espanha, nos
Estados Unidos ou em qualquer outro lugar do
mundo (veja o boxe a seguir).
ATENTADO DA ETA NA ESPANHA
P
rovíncia espanhola situada na região de
fronteira entre a Espanha e a França, a re-gião basca abriga uma população de língua e
cultura diferentes das do povo espanhol. Em
1959, militantes bascos organizaram a ET A (Eus-
k ad i T a A ska ta su na - Pátria Basca e Liberdade),
grupo que luta pela autonomia da região. Em
1966, a ETA optou pela luta armada e desde
então tem praticado ações que o governo es-
panhol considera terroristas. Nos anos 1990,
a organização decretou um cessar-fogo, mas
recentemente voltou a cometer atentados. O
texto a seguir refere-se a um desses atentados.
Madri - U m fu rg ão c ar re ga do d e e xp lo siv os fo i
detonad o ontem na frente d e u m a delegacia de polícia em
Durango, 40 q uilôm etros ao su l de B ilbao, no prim eiro
grande ataque da organização separatista basca ETA
desde o r om pime nto , em ju nh o, d o c es sa r- fo go q ue o grupo
h av ia d ec la ra do . D ois p olicia s fic aram fe rid os n o a te n-
ta do , q ue c au so u g ra nd es d an os m ate ria is n a á re a.
D e acordo com a s autorid ades espanholas, entre
80 e 100 quilos de explosivos fo ram usa dos no ataque."F am ílias e crianças m ora m p erto da delegacia de polí-
cia, o q ue to rn a e ss e a te nta do a in da m ais d es pre zív el",
atacou o re pr ese nta nte lo ca l d o M in is tér io d o In ter io r,
P au li no L u esma .
O atentado, que ocorreu na madrugada de on-
tem , assustou os vizinhos da delegacia . V ária s pessoas
saíram correndo de suas casas para ver o q ue h av ia
o co rr id o. A fo rç a d a e xp lo sã o d estru iu c ar ro s e es tilh a-
çou janela s de vário s prédios ao lad o da delegacia.
Em março de 2006, a ETA declarou um cessar-
fogo e estava discutindo a s co ndiçõ es para o i ní ci o d as
negocia. .ç õe s d e paz com o governo do p rime iro-m in is tr o
sociqlista, José L uiz Z apatero. A falta de concessões
das autoridades, no entanto, irritou os separatistas.
U m a te nta do em d ezemb ro co ntr a o a ero po rto d e Ma-
dri, que deixou dois m ortos, prejudicou ainda mais as
n egociaçõe s ent re o governo e a ETA .
A P E REU TE RS. O Estado de S. Pal/lo, 25.8.07.
,4bed~4Ie ei a /Cir19j1/e ( j « r e ) 4 K O
EZGAUDE jlDOCentenas de pessoas protestam em Bilbao, na Espanha, em junho de 2006, contra a decisão da ETA,grupo
separatista basco, de retomar seus atentados. Contrário ao governo espanhol, a ETAuta pela independênciado chamado "pais basco" promovendo ações violentas Queatingem toda a sociedade espanhola.
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CA PÍTULO 4 C om o f un cion a a soc ie da de ?
Hoje, o terrorismo encontra adeptos entre pes-
soas e grupos que se sentem excluídos num mundoque está se globalizando rapidamente. Alguns deles
temem perder suas culturas e tradições religiosas,
como ocorre com os fundamentalistas muçulmanos.
Outros se desesperam porque estão impedidos de ter
sua própria pátria - ou seja, seus Estados nacionais
e soberanos. Este é o caso dos palestinos no Oriente
Médio. Emsua ação devastadora, provocam uma rea-
ção igualmente perversa: o te rr or ism o d e E sta do.
Acomodação
Nem todo conflito termina com a extinção dooponente derrotado. Em alguns casos, este pode
aceitar as condições impostas pelo vencedor para
fugir ã ameaça de destruição. Ocorre, assim, um
processo de acomodação, pois o vencido acata as
condições do vencedor e adota uma posição de su-bordinação.
A escravização dos povos vencidos, comum
na Antiguidade, é um caso típico de acomodação.
Quando alguém cumpre uma lei ou segue um cos-
tume com os quais não concorda, só para evitar
sanções ou divergências, também se enquadra
num processo de acomodação.
Da mesma forma, imigrantes que chegam a ou-
tro país são levados a passar por processos de aco-
modação: deixam de lado sua língua e seus costu-
mes, adotam modos de vida do povo que os acolheue adaptam-se às condições da nova vida. Procuram
assim se prevenir contra possíveis conflitos e viver
em equilíbrio com o meio social que os cerca.
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Desse modo, a acomodação é o processo so-
cial pelo qual o indivíduo ou o grupo se ajus-ta a uma situação de conflito, sem que ocorram
transformações internas. Trata-se, portanto, de
uma solução superficial do conflito, pois este
continua latente, isto é, pode voltar a se ma-
nifestar. Isso acontece porque nos processos de
acomodação continuam prevalecendo os mesmos
sentimentos, valores e atitudes internas que se-
param os grupos. As mudanças são apenas exte-
riores e manifestam-se somente enquanto com-
portamento social.
Os escravos, por exemplo, nunca aceitaram asituação de servidão que lhes era imposta. Ape-
nas se acomodavam à dominação, mas sempre
que podiam se rebelavam. Revoltas de escravos
ocorreram em diversas épocas da História. A mais
famosa delas foi a rebelião de Espártaco, gladia-
dor que liderou cerca de 120 mil escravos contra
a República romana entre 73 e 71 a.C. Nesse caso,
a acomodação se transforma em conflito social,
que pode assumir (ou não) grandes proporções.
Em Roma, a rebelião liderada por Espártaco du-rou três anos e ficou conhecida como G ue rra d os
Escravos.
No Brasil, uma das formas de resistência con-
tra a escravidão foi a fuga seguida da formação de
quilombos - aldeamentos fortificados, nos quais
os ex-escravos passavam a viver da caça, da pes-
ca, do artesanato e da agricultura. Omaior e mais
duradouro desses aldeamentos foi o quilombo de
Palmares , situado na capitania de Pernambuco.
Palmares, que chegou a reunir cerca de 20 mil
pessoas no interior de suas paliçadas e muralhas,funcionava como um pequeno Estado governado
por seu próprio rei e resistiu a inúmeros ataques
de forças portuguesas e holandesas entre 1600 e
1694, quando só então foi destruído.
Também no caso dos imigrantes, verifica-se
entre eles a tendência a preservar certos traços
fundamentais de sua própria cultura e a formar
redes de ajuda mútua que os mantêm agrupados
em comunidades no interior do país onde passam
a viver.
A acomodação é, assim, o ajustamento de indi-
viduos ou grupos apenas nos aspectos externos de
CAP ÍTU L O 4 C om o fu n cion a a soc ie da de ?
seu comportamento. Ela atenua ou previne o con-
flito. Mas este só desaparece com a assimilação.
AssimiLação
A assimilação é a solução definitiva e mais ou
menos pacífica do conflito social. Trata-se de um
processo de ajustamento pelo qual os indivíduos
ou grupos antagônicos tornam-se semelhantes.
Difere da acomodação porque implica transfor-
mações internas nos indivíduos ou grupos, sendo
estas geralmente inconscientes e involuntárias.
Tais modificações internas envolvem mudanças na
maneira de pensar, de sentir e de agir.A assimilação se dá por mecanismos de imita-
ção, exigindo um certo tempo para se completar.
É um processo longo e complexo.
Um exemplo de assimilação é o do imigran-
te que se integra inteiramente à sociedade que o
acolhe. Ele, que a princípio se acomodou por con-
veniência ao novo país, vai aos poucos deixando-
se envolver pelos costumes, símbolos, tradições e
língua do povo desse país. Não se trata, porém, de
um processo que atinja todos os imigrantes, massomente uma parte deles.
No Brasil, ocorreram casos de assimilação en-
tre os alemães em Santa Catarina e os italianos
em São Paulo. No início, esses imigrantes falavam
sua própria língua e conservavam seus valores e
costumes. Ao preservar essas características, cada
grupo se constituía em uma espécie de corpo es-
tranho na sociedade brasileira.
Apenas quando as características marcan-
tes da cultura de origem se atenuaram ou se
desfizeram - sendo substituídas pelos hábitose costumes locais - os imigrantes puderam ser
assimilados pela nova sociedade. Aos poucos,
eles se desfizeram de sua identidade cultural e
passaram a observar os sentimentos e valores da
nova cultura, tornando-se parte integrante da
sociedade adotada.
Concluindo, o aspecto importante da assimi-
lação é que ela implica uma transformação do sen-
timento de identidade. O processo de assimilação
atinge áreas profundas e extensas da personalida-
de, determinando novas formas de pensar, sentir
e agir.
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CAPÍTULO4 Como funciona a sociedade?
.- ....•Livros sugeridos
• MARX,Karl e ENGELS,Friedrich. Man ife sto d o P artid o C om un ista. 5. ed. R io de Janeiro: Vitória, 1963.• SANTOS,Gevanilda e SILVA,Maria Palmira. Racism o no Brasi l. São Paulo: Perseu Abramo, 2005 .
.- ....•Filmes sugeridos
• Spar tacus , de Stanley Kubrick, 1960. A história da rebelião dos escravos liderada por Espártaco contra o poder de Romaentre 73 e 71 a.C.
• Quilombo, de Cacá (Carlos) Diegues, 1984. A formação do quilombo de Palmares no começo do século XVII, no Brasilcolonial, e a luta de seus habitantes para não serem novamente reduzidos à escravidão.
• Os companhe iros , de Mario Monicelli, 1963. No século XIX, em umacidade italiana, operários de uma fábrica deflagram
movimento grevista orientados por um professor socialista.• O quatn lho , de Fábio Barreto, 1996. Sobre grupo de imigrantes de origem italiana na região de colônias do R io Grande
do Sul.
• Gaij in , de Tizuka Yamazaki, 1980. A saga de imigrantes japoneses em São Paulo.
• Pâ nico em Munique , de WiUiam Graham, 1976. Sobre o atentado de terroristas palestinos contra atletas de Israel du-rante as Olimpíadas de Munique, em 1972.
• F ahr enhe it 11 de s et embr o, de Michael Moore, 2004. Documentário sobre a responsabilidade de Bush nos atentados de11 de setembro de 2001.
Para complementar o estudo do capítulo, assista a um ou mais dos filmes indicados e reflita
sobre as seguintes questões:
• Que relações podem ser estabelecidas entre o enredo do filme e os conceitos estudados neste capítulo?• Há referências, no filme, à noção de conflito social? Quais são elas e como aparecem no filme?
• Há referências ao conceito de acomodação ou ao de assimilação? Sob que formas eles se manifestam nesse filme?
• Há referências à questão do terrorismo? Quais são elas e como aparecem no filme?
Questões propostas
1. o que são relações sociais? Por que Thomas Bottomore define a sociedade corno urna "rede de
relações"?2. Os processos sociais incluem mudanças ao longo do tempo. Para você, isso significa que só
existe processo social quando a sociedade sofre transformações radicais? Que espécie de
mudanças ocorrem nos processos sociais?
3. Quais são as diferenças entre competição e conflito social?
4. Explique a diferença entre acomodação e assimilação.
5. J J A greve de qualquer categoria profissional é urna situação de conflito entre patrões e
empregados. Urna sociedade estável, organizada e democrática controla o conflito. Limita-o
com regras. As negociações coletivas entre os trabalhadores e a indústria são exemplos de
conflitos limitados. Urna grande parte do conflito é canalizada pelos tribunais. Encerrado o
conflito, novas relações podem surgir" (BOUDON,R. e BOURRICAUD,F. D ic io nár io c rítico de
Sociologia. São Paulo: Ática, 1993). Você concorda com esse texto?
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TEXTO 1
Processo social
CAPÍ TU LO 4 C om o funcio na a sociedade?
A ssim como o texto Sociologia e sociedade indus tr ia l, de R alph D ahrendoif (veja a seção Textos
complementares do caP ítulo 1J o que você vai ler ago ra revela as controvérsias existentes n o interior da
Sociologia.
Em uma ciência exata, como a M atemática, não há discordâncias ent re os estudiosos sob re c erta s
proposições. P or e xemp lo, todos concordam que a soma de 2 mais 2 é igual a 4. A s Ciência s S oc ia is , e nt re ta nto ,
são ciências interpretativas. N elas, as m argens para diverg ências são m uito am plas. Aqui, o autor do texto
contrapõe u ma Sociologia influenciada pelo l ibera l ismo à S oc io lo gia in sP ira da n o m arxismo.
A história do conceito de processo social
está intimamente ligada à história do apareci-
mento da Sociologia como ciência autônoma.
Small observou que "todos os sociólogos des-
de Com te têm considerado, mais ou menos
conscientemente, esse conceito como sua
principal premissa". É opinião de Cooley que
"0 primeiro requisito para a formação de um
sociólogo é que ele aprenda a ver as coisas
habitualmente nesse sentido". [...J
A influência de Small foi importante, se
considerarmos que ele foi principalmente um
estudioso da história das ideias e chamou a
atenção para a tradição sociológica do tem-
po de Montesquieu e Savigny [século XVIIIJ,
que era formulada principalmente em termos
da teoria do processo social. [ ... J
O conceito de processo social represen-
ta uma importante reação contra uma teoria
estática. De fato, ele se opõe à concepção da
sociedade como uma estrutura, ou como umarranjo formal ou estático de blocos de maté-
ria. Como tal, está intimamente associado, na
história das ideias, com o pensamento evolu-
cionista enquadrou o pensamento social em
uma perspectiva temporal. [... J
No centro da teoria do processo so-
cial está, assim, a noção de movimento, mu-
dança, fluxo, noção da sociedade como um
contínuo "vir-a-ser". A "sociedade", escreve
Maciver, "existe somente como uma sequên-
cia temporal. É um vir-a-ser, não um ser;um processo, não um produto. A sociedade
somente existe como um equilíbrio instável
das relações presentes". [... J
[A noção de processo J deve ser vista
como centro de uma configuração total de
conceitos, que estão historicamente relacio-
nados com ela e logicamente implícitos nela.
Estes são: 1) o próprio conceito de proces-
so; 2) o conceito de interação social, ou de
sociedade como um fluxo de relações entre
indivíduos; 3) o conceito de continuidade
histórico-social; 4) o conceito de conexão
orgânica entre indivíduo e sociedade; 5) o
conceito de herança social; 6) o conceito
de sociedade como unidade orgânica; 7) o
conceito de múltiplos fatores e a rejeição, na
problemática da causação social, de quaisquer• •elementos particularistas ou deterministas.
A concepção de sociedade como um
todo orgânico recebeu sua expressão clássica
em Hegel [1770-1831]. No pensamento de
Hegel essa teoria combinou-se com uma teo-ria da dialética histórica, acentuando a conti-
nuidade da história. [ ... J
À influência de Hegel, Com te [1798-
-1857], e mais tarde Darwin [1809-1882J, na
formação da teoria do processo social, somou-
se, no século XIX, o pensamento marxista,
com suas repercussões. Este provocou uma po-
lêmica em torno de dois pontos: 1 ) a validade
de uma teoria do conflito na interpretação da
mudança social [teoria da luta de classes], 2 ) a
validade da interpretação materialista da histó-ria, com a seleção de uma única série de fatores
~ - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ~ ~
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CAP Í T ULO 4 C om o f un cion a a s oc ie da de ?
~ . - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ,
~ - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ~ ~
como sendo os que determinam a dinâmica damudança histórica [o autor se refere à impor-
tância atribuída por Karl Marx aos fatores eco-
nômicos como causa das mudanças históricas;
veja o capítulo 7]. [...]
Como reação à posição marxista, di-
versos autores retomaram à teoria sobre a
complexidade da sociedade e sobre a mul-
tiplicidade de fatores que devem ser invoca-
dos para explicar a sucessão dos eventos. A
causação múltipla tornou-se o mote daqueles
que se opunham ou temiam o pensamentomarxista. [ ... ]
Representando um meio-termo entre
marxismo e tradicionalismo, outros autores
discutiram a questão da relação entre os fatores
pessoais e os impessoais no processo histórico,
e a relação entre o indivíduo e a sociedade no
processo social. O ponto de vista que prevale-
ceu foi o da unidade orgânica entre os dois.
É significativo que o livro de Ccoley,
S oc ia l P ro ce ss [Processo social], que se situano fim dessa sequência histórica na tradição
sociológica, apanhe a configuração total dos
elementos existentes na teoria do processo
social. A conexão lógica entre eles é clara. Se
a sociedade é um processo e não um produ-
to ou um aglomerado, segue-se que ela será
somente um fluir de relações ou interações
entre indivíduos. [... ]
E se a sociedade é um fluir de relações,
segue-se que a história é uma ininterrupta
continuidade dessas relações - um processoevolutivo no qual, como no mundo orgâni-
co, a natureza não dá saltos e no qual o ato
mais catastrófico é a tentativa de romper com
o passado [ou seja, a revolução]. O indivíduo
só é impotente; ele vive somente através de
suas relações com os que o precederam: é a
herança social que eles lhe transmitem - sob
forma de conhecimento acumulado, institui-
ções cristalizadas e interesses definidos - que
o capacitam a reunir habilidade e método re-queridos para sobreviver.
74
Assim, o raciocínio sobre a oposiçãode indivíduo e sociedade deixa de ter sen-
tido: o indivíduo vive somente através da
sociedade. [ ...]
A teoria marxista é também uma teoria
orgânica; mas nela a dialética da história é
movida por uma série de causas particulares:
a organização da produção [fator econômico]
está tão unida às outras manifestações sociais
que as mudanças ocorridas naquela se refle-
tem nestas [ou seja, quando as forças produti-
vas mudam, a sociedade também se transfor-ma; veja o capítulo 7].
A linha principal da teoria do processo
social é orgânica, mas num sentido completa-
mente diferente. Não admite qualquer ênfase
particularista [ou seja, em um só fator, como
o econômico], vendo uma homogeneidade
qualitativa no processo social como um todo.
O problema da causação social torna-se, pois,
infinitamente complexo, não permitindo sim-
plificação. Uma mudança em qualquer parte doprocesso social deve ser considerada somente à
luz de outras mudanças (que são causa e efeito
ao mesmo tempo), em termos da multiplicidade
de fatores como base do processo social e em
termos da lógica fundamental do todo.
As ír n p l ícações desse complexo teórico
quanto à mudança social e suas consequên-
cias para a ação social têm um longo alcance.
Acentuando a continuidade ininterrupta da
história e da sociedade, ele tende a sustentar
o status cuo [ou seja, o estado em que se en-contra a sociedade] e inibir a ação revolucio-
nária, que pode eliminar o passado e pôr em
perigo a herança social [posição contrária à
de Marx, que atribuía particular importância
à revolução; veja o texto a seguir].
A mudança que a teoria do processo so-
cial prevê é somente aquela que é decorrência
natural dessa continuidade, e não a mudança
radical ou revolucionária. Afirmando a ligação
orgânica de indivíduo e sociedade, situa o locus[lugar] do processo social e o lugar da mudan-
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CAP Í T ULO 4 C om o fu nc ion a a s oc ie da de ?
~ r - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ~
ça na mente do indivíduo, negando também opapel das forças impessoais na história.
No seu todo, a teoria do processo so-
cial representa o liberalismo no domínio da
Sociologia. [Entretanto], através de sua fun-
ção de racionalizar tanto a adesão ao status
1--__Pense e responda
ouo quanto o medo à ação revolucionária, asformulações da teoria têm apresentado impli-
cações de caráter marcadamente antiliberal.
Adaptado de: LERNER, Max. Processo social. In. CARDOSO,
Fernando Henrique e IANNI, Octavio. Homem e sociedade. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973. p. 205·11.
1. O que quer dizer o autor com a frase: o conceito de processo social "enquadrou o
pensamento social em uma perspectiva temporal"? Qual a diferença entre a teoria do
processo social e a concepção estática da sociedade?
2. Quais são as diferenças entre a teoria do processo social, tal como ela é definida pelo
autor, e a concepção marxista da História e da sociedade?
3. Por que o autor afirma que "através de sua função de racionalizar tanto a adesão ao status
quo quanto o medo à ação revolucionária, as formulações da teoria [do processo social]
têm apresentado implicações de caráter marcadamente antiliberal"?
o texto que você vai ler agora foi publicado em fevereiro de 1848. Escrito por K arl M arx e F riedrich
En gels , ele e xpõ e u ma conc epção da soc iedade qu e a tr ib ui p ar tic ular importância ao conflito . Depois de lê-Ia,
responda às questões formuladas.
2. Já é tempo de os comunistas publicarem
abertamente, diante de todo o mundo, suas
ideias, seus fins, suas tendências, opondo à
lenda do comunismo um manifesto do pró-prio partido.
Para isso, comunistas de várias nacionali-
dades reuniram-se em Londres e redigiram o se-
guinte manifesto, a ser publicado em inglês, fran-
cês, alemão, italiano, flamengo e dinamarquês.
Burgueses e Proletários
A história de toda sociedade existente até
hoje tem sido a história das lutas de classes.
Homem livre e escravo, patrício e ple-
beu, senhor e servo, mestre de corporação e
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TEXTO 2
A luta de classes
Um espectro ronda a Europa - o es-
pectro do comunismo. Todas as potências da
velha Europa uniram-se numa Santa Aliança
para exorcismá-lo. o papa e o tzar (imperadorda Rúss í a), Metternich (ministro da Áustria) e
Guizot (ministro da França), os radicais fran-
ceses e os espiões da polícia alemã.
Qual o partido de oposição que não foi
acusado de comunista por seus adversários no
poder? Qual o partido de oposição que também
não lançou contra seus adversários progressistas
ou reacionários o estigma do comunismo?
Daí decorrem dois fatos:
1. O comunismo já é considerado uma força
por todas as potências da Europa.
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5/10/2018 Como funciona a sociedade? - slidepdf.com
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CAP ÍH JL 04 C om o fu nc ion a a s oc ie da de ?
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companheiro, numa palavra, o opressor e ooprimido permaneceram em constante oposi-
ção um ao outro, levada a efeito numa guerra
ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que
terminou, cada vez, ou pela reconstituição
revolucionária de toda a sociedade ou pela
destruição das classes em conflito.
Desde as épocas mais remotas da his-
tória, encontramos, em praticamente toda
parte, uma complexa divisão da sociedade em
classes diferentes, uma gradação múltipla das
condições sociais. Na Roma Antiga, temos ospatrícios, os guerreiros, os plebeus, os escra-
vos; na Idade Média, os senhores, os vassalos,
os mestres, os companheiros, os aprendizes,
os servos; e, em quase todas essas classes, ou-
tras camadas subordinadas.
A sociedade moderna burguesa [ou so-
ciedade capitalista], surgi da das ruínas da so-
ciedade feudal, não aboliu os antagonismos
de classes. Apenas estabeleceu novas classes,
novas condições de opressão, novas formasde luta em lugar das velhas.
No entanto, a nossa época, a época da
burguesia, tem uma característica: simplificou
os antagonismos de classes. A sociedade glo-
bal divide-se cada vez mais em dois campos
hostis, em duas grandes classes que se defron-
tam - a burguesia e o proletariado.
Dos servos da Idade Média originaram-
se os burgueses privilegiados das cidades anti-
gas. Desses burgueses, surgiram os primeiros
elementos da burguesia atual.
A descoberta da América, o contorno doCabo [da Boa Esperança, no sul da África, em
1488], abriram novo campo para a burguesia
emergente. Os mercados da Índia oriental e da
China, a colonização da América, o comércio
com as colônias, o aumento dos meios de troca
e das mercadorias em geral, deram ao comér-
cio, à navegação, à indústria, um impulso jamais
conhecido antes e, consequentemente, ao ele-
mento revolucionário da sociedade feudal ins-
tável; um rápido desenvolvimento. [...]
A indústria moderna estabeleceu o mer-cado mundial, para o qual a descoberta da
América preparou o terreno. Esse mercado
deu um imenso desenvolvimento ao comér-
cio, à navegação e à comunicação por terra.
[... ] Vemos, portanto, como a própria burgue-
sia moderna é produto de um longo curso de
desenvolvimento, de uma série de revoluções
nos modos de produção e de troca. [...]
Historicamente, a burguesia desempe-
nhou um papel revolucionário.Onde quer que tenha assumido o poder,
a burguesia pôs fim a todas as relações feu-
dais, patriarcais e idílicas. [...]
As armas com que a burguesia abateu o
feudalismo voltam-se agora contra ela mesma.
A burguesia, porém, não forjou apenas
as armas que representam sua morte; produ-
ziu também os homens que manejarão essas
armas: o operariado moderno, os proletários.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido
Comunista. ln. LASKI, Harold. O M an ifes to C om un is ta d e1848.
Rio de Janeiro: Zahar, 1967.
1. Para Marx e Engels há um tipo de conflito social que desempenha um papel central na
história da humanidade. Que tipo de conflito social é esse? Cite um trecho do texto que
confirme sua opinião.
2. Ot ipo de conflito social destacado por Marx e Engels ainda ocupa um lugar central na
história contemporânea?3. Que novos conflitos caracterizam nossa época?
t---.-_Pense e responda
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