2
Comissão Organizadora:
Dr. Reinaldo Sampaio Pereira (UNESP/Marília) – Coordenador
Amanda Veloso Garcia (UNESP/Marília)
Iraceles Ishii dos Santos (UNESP/Marília)
João Paulo Martins (UNESP/Marília)
Mariana Rodrigues Vitti (UNESP/Marília)
Nathália Cristina Alves Pantaleão (UNESP/Marília)
Paulo Henrique Araújo Oliveira Pereira (UNESP/Marília)
Roque Vercesi Pires (UNESP/Marília)
Vinícuis Jonas Aguiar (UNESP/Marília)
3
ÍNDICE AGUIAR, Vinícius Jonas – UNESP Marília – CAPES ................................... 15
ALMEIDA, Silvana Colombo de – UNESP Marília ........................................ 16
ANDRADE, Eloisa Benvenutti de – USP – CAPES ....................................... 17
ANJOS, Diego Marques Pereira dos – UNESP Marília ................................ 18
ARAÚJO, Rodrigo Andia – USP ................................................................... 19
AZEVEDO, Laura Rosa Kugler de – UNESP Marília ................................... 20
BARROS, Wagner de - UFScar ...................................................................... 21
BORGONI, Daniel – UNIFESP – CAPES ........................................................ 22
CANAL, Rodrigo – UFOPA ............................................................................. 23
CAVALCANTE, Gustavo Luis de Moraes – UFSCar – CAPES .................... 24
D’AVERSA, Rafael Alberto Silvério – UFSC - CAPES ................................. 25
FERNANDES, Elaine Carvalho – UNESP Marília .......................................... 26
FERRAZ, Alexandre Augusto – UNESP Marília – FAPESP ......................... 27
FERREIRA, Nicholas Gabriel Minotti Lopes – UNESP Marília .................... 28
FILHO, Fernando Luiz Alencar – UNESP Marília - CAPES .......................... 29
FRANÇA, Lincoln Menezes de - UFSCar ...................................................... 30
FREITAS, Sérgio Francisco de – UENP ........................................................ 31
GÓES, Weber Lopes – UNESP Marília .......................................................... 32
GOETZ, Luis Carlos – UNIOESTE ................................................................. 33
GOMES, André Luiz – UNESP Marília - CAPES ........................................... 34
GRATÃO, Marília Siqueira – UFOP ............................................................... 35
GUIMARÃES, Deborah Moreira – UNIFESP – CAPES ................................. 36
HIDALGO, Maycon Raul – UEM – CAPES..................................................... 37
HORITA, Fernando Henrique da Silva – UNIVEM - CAPES ......................... 38
JÚNIOR, Deusdedt Viana da Cruz – UNESP Marília ................................... 39
KOPCAK, Vandré - UFABC ............................................................................ 40
LALLO, Pedro Gabriel Antonio – UNESP – CAPES ..................................... 41
LEITE, Edilene De Souza - UEL ..................................................................... 42
LIMA, Flávio Campos de – PUC São Paulo – CAPES .................................. 43
LUZ, Gerson Vasconcelos - UNIOESTE ....................................................... 44
MACHADO, Lucas Nascimento – USP – CNPq ............................................ 45
MAESO, Benito Eduardo Araujo - USP ......................................................... 46
MAESO, Benito Eduardo Araujo - USP ......................................................... 47
MARCATO - Gisele Caversan Beltrami – UENP – CAPES ........................... 48
MAROLDI, Marcelo Masson – USP – FAPESP ............................................. 49
4
MARTINS, João Paulo – UNESP Marília – PROPG ...................................... 50
MENDONÇA, José Carlos – UNESP Marília ................................................. 51
MERGULHÃO, Adriano Ricardo – UFSCar – CAPES ................................... 52
MERLUSSI, Pedro – Durham University ....................................................... 53
MONTENEGRO, Gonzalo – UNESP Assis/Universidade do Chile .............. 54
VÉLIZ, Jonathan – Universidade do Chile .................................................... 54
NAGATA, Paulo Tadao – UNESP – Marília ................................................... 55
NASCIMENTO, Roberto Duarte Santana – UNESP Assis - FAPESP .......... 56
NUNES, Antonio Sergio da Costa - UNESP/UFPA ....................................... 57
OLIVEIRA, Karina da Silva – UNESP Marília - CAPES ................................. 58
PANTALEÃO, Nathália Cristina Alves – UNESP Marília - FAPESP ............ 59
PARRA, Eduardo Barbosa – UNESP Marília – CAPES ................................ 60
PEREIRA, Paulo Henrique Araújo Oliveira – UNESP Marília – CAPES ...... 61
PERENCINI, Tiago Brentam – UNESP Marília – FAPESP ............................ 62
PERIN, Diego Rodriguez – UNESP Marília ................................................... 63
PRECIPITO, Lis Maria Bonadio - UNIVEM – CAPES .................................... 64
QUINTANILHA, Flavia Renata ........................................................................ 65
RIBEIRO, Eduardo Soares – UFSCar – CAPES ............................................ 66
RICARDI, João Roberto Vale – UNESP Marília – CAPES ............................ 67
RODRIGUES, Franceila de Souza – UNIFESP - CAPES .............................. 68
ROSA, Sara Morais da - UNESP Marília – FAPESP ..................................... 69
SABINO, Camila Barbosa – UNESP Marília - CAPES .................................. 70
SANTIAGO, Clara Guimarães – Universidade Federal do ABC – FAPESP 71
SANTINI, Guilherme José - Faculdade de São Bento de São Paulo .......... 72
SANTOS, Felipe Thiago dos - UNESP Marília - FAPESP ............................. 73
SANTOS, Héder Junior dos – UNESP Assis ................................................ 74
SANTOS, Iraceles Ishii dos – UNESP Marília - CAPES ............................... 75
SENE, Diogo – UNESP Marília ....................................................................... 76
SILVA, Deivisson Oliveira – UFMG – CNPq.................................................. 77
SILVA, Éliton Dias da – UNESP Marília - CAPES ......................................... 78
SILVA, João Gilberto Turbiani da - UNIFESP Garulhos ............................. 79
SILVA, Josadaque Martins – UNIFESP – CAPES ........................................ 80
SILVA, Pedro Rodolfo Fernandes da – UFSCar - FAPEAM......................... 81
SILVA, Roberto de Sousa - EFLCH UNIFESP / Guarulhos – CAPES.......... 82
VALE, Luciano Nunes do – UNIFESP Guarulhos – CAPES ........................ 83
VERCESI, Roque Pires – UNESP Marília ...................................................... 84
ZANFRA, Beatriz Viana de Araujo – UNIFESP – FAPESP ........................... 85
5
Professor Dr. Lauro Frederico Barbosa da Silveira
Graduação em Filosofia pela Universidade de São Paulo e doutorado em Filosofia pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Experiência na área de Direito, com
ênfase em Semiótica Jurídica. Pesquisa semiótica em Medicina e em Psicanálise,com
ênfase nas relações médico-paciente e analista-analisando. Extensão para a semiótica da
aprendizagem e as relações professor-alunos. Estudo sobre a significação semiótica da
produção se sinais entre peixes elétricos na bacia amazônica. Atuando principalmente
nos seguintes temas: semiótica, interpretante, signo, hábito.
6
O INTENSO DIÁLOGO ENTRE QUÍMICA E FILOSOFIA NA FORMAÇÃO
DO QUADRO CATEGORIAL PROPOSTO POR CHARLES S. PEIRCE
Charles Sanders Peirce (1839-1914) conviveu com profundas mudanças ocorridas nas
ciências e na filosofia ao longo da segunda metade do século XIX e os primeiros anos
do século XX. Formado em física e química pela Universidade Harvard, foi igualmente
um assíduo e original estudioso de Filosofia tendo participado intensamente do
surgimento do Pragmatismo. Com esta ativa corrente de pensamento propôs-se
conceber a verdade como um ideal concreto a ser procurado por uma conduta
eminentemente ética, à qual deveria submeter-se a própria lógica e toda ciência. A
busca da verdade não mais exigiria que se procurasse alguma instância transcendental
que a fundamentasse, mas um rigor lógico eminentemente metodológico de se observar
cuidadosamente os fenômenos, construir hipóteses rigorosas mas irredutivelmente
falíveis, delas deduzir-se consequências experimentalmente verificáveis, e ao longo do
tempo, constitui-se um saber comunitário e, mesmo, cósmico.
Ciência e filosofia, sem perder o que a cada uma lhe seria específico, colaborariam com
seu rigor e, mesmo, com seus limites, para uma constante e laboriosa busca da verdade.
Muitos pensadores e homens de ciência colaboraram durante o século XIX para que este
empreendimento avançasse. Publicaram suas investigações e produziram um profícuo
diálogo.
Peirce ainda jovem iniciou-se neste diálogo e, uma em suas inumeráveis contribuições,
foi colocar a química e a filosofia em mutua colaboração. Resultou daí, na virada do
século XIX para o século XX, a proposição de um novo quadro categorial que, sem de
modo algum negar os mérito daquele que desde os ensinamentos de Aristóteles moldara
o pensamento ocidental, fosse dotado de maior universalidade e liberasse a razão de
referencial estritamente logocêntrico e, portanto, antropocêntrico.
Com recurso à lógica dos relativos que já encontrara em Boole e em de Morgan suas
primeiras e valiosas expressões, e com o avanço, ao longo do século, da teoria das
valências de que seriam dotados os elementos químicos, Peirce acabou por formular
uma teoria fenomenológica de tudo que possa ocorrer à mente, atribuindo às suas
manifestações, as quais denominou Faneron, propriedades combinatórias que
organizando o universo fenomênico pudesse descrevê-lo em sua potencialidade ,
produzindo as condições básicas e irredutíveis de legitimação para que as construções
formais decorrentes da analise matemática representasse os possíveis programas de
conduta na busca de fins que , em seu poder de atração, desse forma e efetivasse a todo
constituinte da realidade fenomênica.
Com as categorias de Potencialidade , Existência e Lei, ou na terminologia proposta por
Peirce , com as categorias respectivamente de Primeiridade, Secundidade e
Terceiridade, aplicadas elementarmente a todos os fenômenos, produzem-se as classes
fenomenologicamente legitimas de signos entre as quais estão compreendidas , o
domínio total das categorias de tradição aristotélicas.
Como são as próprias manifestações fenomênicas que se encontram classificadas ,
assume-se a linguagem mas muito mais do que ela. Todo o cosmos em evolução , e nele
tudo que lhe pertence e que o constitui, poderá ser compreendido como tensionado, pela
Lei da Mente, a um fim que se identifica com a perfeição assintótica de sua Forma
7
Professor Dr. Delamar José Volpato Dutra
Graduado em Filosofia pela UCS, Bacharel em Direito pela UFSC, doutor em Filosofia
pela UFRGS, com estágio de doutorado na Université Catholique de Louvain, Bélgica.
Fez pós-doutorado na Columbia University (New York) e na Aberystwyth University
(País de Gales, Reino Unido). É professor da Universidade Federal de Santa Catarina e
pesquisador do CNPq desde 1999. Pesquisa sobre a fundamentação e a aplicação do
direito, bem como sobre a relação entre moral e direito nas filosofias de Hobbes, Kant,
Schmitt, Habermas, Hart e Dworkin. Publicou os livros “Razão e consenso em
Habermas”, “A reformulação discursiva da moral kantiana” e “Manual de Filosofia do
Direito”.
8
FILOSOFIA E DIREITO: O DIREITO FRENTE ÀS QUESTÕES BIOÉTICAS E
BIOPOLÍTICAS
A palestra pretende analisar os vínculos existentes entre o direito e as questões
bioéticas, como o aborto e a eutanásia, bem como por que tais questões têm vínculos
estreitos com a liberdade religiosa. A palestra pretende analisar especialmente os
argumentos de Habermas e Dworkin sobre o assunto.
9
Professor Dr. Gustavo Maia
Possui graduação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP
Campus de Rio Claro (1995), possui mestrado em Ciências Florestais [Esalq-USP]
(1998) e doutorado em Biologia Vegetal pela UNESP de Rio Claro (2001). Com Pós-
doutorado em Fisiologia do Estresse em Plantas na ESALQ/USP (2003), atualmente é
professor doutor da Universidade do Oeste Paulista. Tem experiência na área de
Botânica, com ênfase em Fisiologia Vegetal, atuando principalmente nos seguintes
temas: ecofisiologia vegetal, estresse em plantas, fotossíntese, relações hídricas e
biologia teórica. É integrante do Grupo Auto-organização do CLE/UNICAMP, onde
desenvolve pesquisa sobre auto-organização e cognição em plantas.
10
PLANTAS COMO SISTEMAS COGNITIVOS INTELIGENTES: ALÉM DA
SIMPLES METÁFORA.
A idéia de inteligência em plantas não é nova. Charles Darwin em 1880 comparou uma
planta a um animal, relacionando o sistema radicular da planta com o cérebro de
animais superiores em seu papel no organismo com um todo. Todavia, em função da
abordagem analítica clássica predominante na biologia, a idéia de plantas como sistemas
vivos inteligentes foi substituída por um modelo mecânico reducionista de máquina pré-
programada. Com o desenvolvimento dos conceitos de complexidade e auto-
organização, mais recentemente foi possível revitalizar a idéia de planta como um
sistema vivo que interage com seu meio de forma não pré-programada, gerando
respostas coerentes no sentido de manter sua sobrevivência como menor custo
energético possível. O processamento de informações e realização de respostas
adequadas às situações externas variáveis é realizada por uma rede de processamento de
informação do tipo “mundo pequeno”, tal qual a maneira como um cérebro computa
informações. Além disso, recentemente descobriu-se em plantas um grande número de
moléculas responsáveis por transmissão de sinais em cérebros como a dopamina,
GABA, serotonina e outras, sugerindo um mecanismo similar na maneira como as
informações são propagadas em ambos os sistemas.
11
Professor Dr. Tommy Akira Goto
Professor Adjunto do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia
(UFU), Doutor em Psicologia pela PUC-Campinas (2007), Mestre em Filosofia e
Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (2002) e Graduado em
Psicologia pela Universidade São Marcos (1998). É membro-colaborador do Circulo
Latinoamericano de Fenomenologia (CLAFEN) e membro-assistente da Sociedad
Iberoamericana de Estudios Heideggerianos SIEH. Tem experiência docente na
Psicologia, com ênfase em Psicologia Fenomenológica de Edmund Husserl e Edith
Stein. Além disso tem atuado e pesquisado as seguintes áreas: Fenomenologia e
Psicologia, Fenomenologia husserliana e steiniana, Psicologia Fenomenológica,
Intervenção em Crise, Políticas Públicas e Psicologia Fenomenológica, Atuação do
Psicólogo no SUAS e Psicologia e Fenomenologia da Religião.
12
A CRÍTICA À PSICOLOGIA CIENTÍFICA E A CONSTITUIÇÃO DA
PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA DE EDMUND HUSSERL
A Fenomenologia Transcendental, fundada pelo filósofo Edmund Husserl (1859-1938),
é uma filosofia que desde seu início manteve uma relação epistemológica com a
Psicologia. Afirma Husserl (1927/1990) que, ao mesmo tempo em que a Fenomenologia
Transcendental, surgiu também “uma nova disciplina psicológica paralela a ela, quanto
ao método e ao conteúdo: a psicologia apriorística pura ou
“psicologia/fenomenológica”, na qual, com um afã reformador, pretende ser o
fundamento metódico sobre a qual pode, por princípio, erguer-se uma psicologia
empírica cientificamente rigorosa”. Nesse sentido, esse estudo tem como objetivo
contextualizar a Fenomenologia Transcendental e evidenciar sua estreita relação com a
Psicologia, destacando as várias críticas que Husserl apresenta à psicologia científica e a
sua proposta de uma outra e “nova” Psicologia: a Psicologia Fenomenológica. Para
Husserl a Psicologia Fenomenológica é a autêntica ciência da vida psíquica (anímica),
porque somente ela está genuinamente dirigida à vida psíquica em si mesma e às suas
estruturas, mantendo seu “olhar” verdadeiramente para a interioridade psíquica. É nesse
sentido que a Psicologia Fenomenológica será uma “nova” Psicologia, ou seja, uma
psicologia como ciência universal e a priori dos seres humanos, cujo objeto de estudo é
o ser anímico/psíquico. Diante disso, pode-se afirmar que a autêntica e genuína
concepção de Psicologia Fenomenológica é fundamental para os psicólogos, porque é
com o desenvolvimento dessa disciplina/ciência que eles poderão resgatar
rigorosamente a subjetividade como fonte originária da vida humana e a sua correlação
com o mundo-da-vida (Lebenswelt).
13
Professor Dr. José Fernandes Weber
Graduado em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE
(1996); Mestre em Educação (Filosofia da Educação) pela Universidade Estadual de
Maringá - UEM (2000); Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas -
UNICAMP (2003) e Doutor em Educação (Filosofia da Educação) pela Universidade
Estadual de Campinas - UNICAMP (2008). Professor Titular (Adjunto C) do
Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atua
principalmente na Graduação e na Pós-Graduação (Mestrado) em Filosofia, na UEL.
TEMAS de interesse: Subjetividade/Singularidade, Arte, Formação (Bildung), Trágico,
Pulsão, Niilismo, Técnica, Imagem (Imaginação); ÁREAS: Estética, Filosofia e
Educação, Antropologia Filosófica; AUTORES: Romantismo Alemão, Hölderlin,
Schopenhauer, Nietzsche e Heidegger.
14
FORMAÇÃO (BILDUNG), EDUCAÇÃO E EXPERIMENTAÇÃO EM
NIETZSCHE
O objetivo da apresentação consiste em abordar algumas das razões pelas quais é
comum se admitir, na filosofia acadêmica brasileira, a razoabilidade do interesse
filosófico sobre quase tudo (filosofia da biologia, filosofia da psicanálise, filosofia da
música, filosofia do corpo, filosofia da história, filosofia da matemática, filosofia da
natureza, etc...), embora seja mantida uma profunda reserva quanto a razoabilidade de
alguma coisa como “filosofia da educação”. Partindo da distinção entre pedagogia e
filosofia da educação, buscar-se á mostrar que um pensamento consequente com as
premissas fundamentais da modernidade não poderá desprezar a educação como um
tema/problema, não apenas digno à reflexão filosófica, mas absolutamente necessário,
sem entrar em contradição. Para destacar os pressupostos, as implicações, mas também
os limites, os problemas desta posição, serão acionadas algumas teses de Rousseau e de
Nietzsche, ao nosso juízo, os dois filósofos nos quais a conjunção entre filosofia,
educação e construção do humano é inconteste. Em tais filósofos a tarefa formativa se
confunde com a própria atividade filosófica, embora seja necessário dizer que, se
Rousseau figura como aquele em que a amarração de tal conjunção é dada pela moral,
em Nietzsche, o nó de amarração se configurará sob a noção de trágico. Assim, será o
caso de responder a pergunta: o que está implicado em uma concepção trágica de
formação?
15
MÁQUINAS E COMPOSIÇÃO MUSICAL: CONTRIBUIÇÕES DA FILOSOFIA
DA MENTE
AGUIAR, Vinícius Jonas – UNESP Marília – CAPES
O processo de composição musical, apesar de apresentar elementos formais e certa
relação com a matemática, não depende exclusivamente do desenvolvimento da
engenharia ou da computação para ser mais bem compreendido. Para justificar tal
afirmação este trabalho elucidará alguns dos problemas relacionados à questão
“máquinas e composição musical” e enfatizará os pressupostos filosóficos subjacentes a
tais problemas. Primeiro serão discutidos os artigos “É o computador um compositor
surdo?” (ZAMPRONHA, 2003) e “Auto-Organização, criatividade e cognição”
(MANZOLLI, GONZALES, VERSHURE, 2000) com o intuito de esclarecer quais
problemas e quais questionamentos filosóficos aparecem na discussão proposta por cada
um dos autores em questão. Em seguida serão realizados alguns apontamentos sobre a
relevância da interdisciplinaridade para a compreensão de problemas como os
apresentados na primeira parte deste trabalho.
Palavras-Chave: Música; Cognição Musical; Filosofia da Mente; Modelos
Computacionais
16
LIBERDADE E DIREITOS HUMANOS EM HEGEL
ALMEIDA, Silvana Colombo de – UNESP Marília
Hegel não é um autor comumente utilizado nos debates travados acerca dos Direitos
Humanos. Para alguns pensadores, Hegel teria sacrificado ao Estado Ético a liberdade
individual, clássico fundamento dos Direitos Humanos. Entretanto, o sistema hegeliano,
e aqui mais precisamente o sistema desenvolvido na sua obra “Princípios da Filosofia
do Direito”, nos dá argumento para a construção de uma teoria hegeliana dos Direitos
Humanos. Hegel responde a uma questão de extrema atualidade dentro da teoria dos
Direitos Humanos contemporânea: como conciliar a vida do Estado, da coletividade,
com a vida do indivíduo como liberdade subjetiva? O conceito hegeliano de liberdade
destaca-se neste aspecto e representa não apenas uma categoria metafísica de uma teoria
do Espírito, mas também um esforço para humanizar o puro individualismo que
desumaniza. Hegel explicita como, ao longo da História humana, a liberdade se
objetiva, e, em cada época, traz à consciência humana algo mais de seu conteúdo, até o
momento em que, no Estado, deixa de ser apenas liberdade em si, passando a ser para si.
O Estado enquanto totalidade ética não implica a negação do individual, da
particularidade, em função do coletivo, do universal, mas sim a mediação dessas duas
esferas, levando à efetivação da liberdade. Na concepção de Hegel, o reconhecimento
dos Direitos do Homem na idade moderna resultou do desenvolvimento do princípio da
liberdade subjetiva, princípio esse que deve ser preservado e desenvolvido ao seu grau
máximo. Entretanto, Hegel reconhece que, na esfera da Sociedade Civil, os Direitos do
Homem, sendo direitos da particularidade, têm caráter meramente formal e abstrato,
uma vez que não há ainda uma identidade verdadeira entre o particular e o universal. As
contradições existentes na Sociedade Civil apenas poderão ser resolvidas, de acordo
com Hegel, no âmbito do Estado. Deve-se passar do formalismo moral para uma ética
que assuma realmente aquelas dimensões nas quais o sujeito singular se universaliza na
História, como sujeito político. O Estado é a forma mais acabada da vida ética concreta.
Nele, o Direito abstrato e formal adquire conteúdo, e a liberdade encontra sua essência e
é efetivamente concretizada.
Palavras-Chave: Hegel; Liberdade; Direitos Humanos
17
O CARÁTER NÃO-PRESENCIAL DO SENSÍVEL NA PROPOSTA
FENOMENOLÓGICA DE MERLEAU-PONTY
ANDRADE, Eloisa Benvenutti de – USP – CAPES
O objetivo é expor o caráter não-presencial do sensível na proposta fenomenológica de
Merleau-Ponty (1908-1961). Na obra O Visível e o Invisível (1964), Merleau-Ponty se
propõe a tarefa de promover um exame radical de nossa presença no mundo. Sob a
perspectiva das noções de visível e invisível, Merleau-Ponty enuncia que pretende
apurar certa reversibilidade daquele que vê e daquilo que é visto. Em outras palavras, o
filósofo quer abarcar um cenário original, e isto quer dizer, abarcar a expressão donde
quer que ela esteja. Entretanto, observamos, que este propósito já se enunciava nos anos
40, ocasião da obra Fenomenologia da percepção (1945). Como nos aponta Moura,
aquele que se propor a interpretar os conceitos presentes na obra merleau-pontiana dos
anos 40, com efeito, suas ideias sobre “percepção”, “linguagem” ou “sentido” estará
diante do que o fenomenólogo chamará em sua última empreitada de “ser bruto”. E no
itinerário de tal empreitada, destacamos, o caráter não-presencial do sensível como um
dos focos específicos de nossa investigação e para esta exposição. No artigo O Filósofo
e sua Sombra, Merleau-Ponty retoma Husserl e destaca a seguinte definição para a ideia
de sensível: o sensível não é feito somente de coisas. É feito também de tudo que nelas
se desenha, mesmo no oco dos intervalos, tudo que nelas deixa vestígio, tudo que nelas
figura, mesmo a título de desvio e como certa ausência. Isto quer dizer que a totalidade
do ser não se encerra em sua presença como experiência ou doação visível ao olhar: o
sensível não é um conjunto de dados positivos, existem antes dimensões de
negatividade que estariam incrustadas nos dados positivos. Posto isso, esperamos
também que se abra com esta investigação a possibilidade de compreender a tarefa da
própria Filosofia como Fenomenologia. Se antes o desafio da fenomenologia
inaugurada por Husserl foi superar o dualismo substancial mente e corpo e a reificação
do sujeito partindo do a priori da correlação do ente transcendente e da diversidade de
suas aparições subjetivas, aqui a tarefa é dar conta de um ser que é parte do mundo e
condição de sua própria aparição no mundo.
Palavras-chaves: Fenomenologia; Linguagem; Ontologia
18
ESPECIALIZAÇÃO, INTERDISCIPLINARIEDADE E TOTALIDADE:
DETERMINAÇÕES SOCIAIS NA PRODUÇÃO DO SABER
ANJOS, Diego Marques Pereira dos – UNESP Marília
O objetivo da presente comunicação é discutir as determinações sociais na produção do
saber. Partiremos da constatação de que a especialização na produção do trabalho
intelectual impera na atual forma de se produzir conhecimento; num segundo momento,
pretendemos discutir a alternativa proposta pela concepção de interdisciplinariedade
para, no fim, fazermos uma reflexão crítica dessas estratégias de metodologia e de
técnica de pesquisa e, assim, apresentarmos a perspectiva da totalidade como superação
dos limites e problemáticas encontrados. O isolamento das diferentes áreas do
conhecimento nas sociedades modernas provocou o exercício teórico de reflexão feito
por intelectuais oriundos de diferentes tradições científicas; nas ciências humanas, tais
reflexões foram mais desenvolvidas devido aos próprios contatos que essa primeira
grande divisão da ciência (irmã separada das ciências naturais) estabelece com seu
objeto de estudo, a sociedade e o ser humano (em toda as suas dimensões filosófica,
política, produtiva, etc.) que vive no seu interior. No que se refere ao exercício
filosófico de compreender abstratamente a realidade social à nossa volta, a crítica da
especialização pode ser desenvolvida com as contribuições de Lukács, em História e
Consciência de Classe (2003), em que este sai em defesa da perspectiva da totalidade
social e a análise de Pierre Bourdieu sobre as leis específicas do campo científico, em
Os usos sociais da ciência (2003). A relevância do debate que aqui propomos extrapola
os limites restritos da formação disciplinar acadêmica, portanto, visa contribuir sobre o
tema da interdisciplinariedade apontando o que há de avanço e os limites da proposta
interdisciplinar para o desenvolvimento da formulação do saber, o que nos remete assim
a uma determinada compreensão filosófica da realidade, ou seja, que busca apreender a
essência dos fenômenos sociais e reproduzi-los no pensamento humano. Assim, mesmo
com a inexistência de uma formação restrita ao campo disciplinar filosófico, me
proponho a debater temas que devem ser objetos da reflexão filosófica, como é o caso
da especialização, interdisciplinariedade e da categoria de totalidade, mas construídos e
elaborados complementando-se com uma perspectiva histórica e social.
Palavras-chave: Especialização; Interdisciplinaridade; Totalidade
19
LINGUAGEM TRANSCENDENTAL E HEURÍSTICA EM UMA CONCEPÇÃO
KANTIANA DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA
ARAÚJO, Rodrigo Andia – USP
A proposta da comunicação em geral será discutir, a partir de uma perspectiva singular
da interpretação heurística da filosofia kantiana, como a ideia de uma história da
filosofia é construída em Kant, isto é, de sistematizá-la ou de torná-la mais clara à luz de
uma filosofia transcendental que, segundo princípios a priori ou propriamente a partir
de esquemas que se desenvolvem, permite Kant pensar na possibilidade de uma história
filosofante da filosofia. Trata-se, contudo, de um tema polêmico e ao mesmo tempo
instigante, pois além do filósofo nos propor na Crítica da razão pura a possibilidade de
uma história integrada ao sistema, mesmo que ela seja aos olhos de Kant inteiramente
conflituosa, nos Progressos da metafísica, esta possibilidade mesma de se pensar um
sentido filosofante para a história não será excluída, um ideal racional que procederia
cronologicamente, segundo o filósofo, por princípios ou esquemas transcendentais que
passariam respectivamente pelos estágios do dogmatismo, ceticismo e criticismo. Na
tentativa então de melhor compreender tal relação, isto é, entre “sistema da razão” e
“sistema da história”, a nossa investigação partirá do pressuposto de que somente uma
teleologia arquitetônica a partir de uma linguagem essencialmente crítica seria capaz de
nos fornecer os elementos mais necessários para fundamentar este ideal filosofante em
uma concepção kantiana da história da filosofia.
Palavras-chave: Arquitetônica; Metáfora; Linguagem; História; Esquema
20
COMPLEXIDADE SEGUNDO WARREN WEAVER
AZEVEDO, Laura Rosa Kugler de – UNESP Marília
O objetivo desse trabalho é discutir o conceito de complexidade proposto pelo
matemático Warren Weaver (2004), que a classifica em três tipos de problemas –
problemas de simplicidade, complexidade desorganizada e complexidade organizada –
enfocando no presente trabalho principalmente o último tipo. Para atingir esse objetivo,
a seguinte questão será proposta: pode a complexidade organizada auxiliar no
entendimento da interdisciplinaridade? Para isso, teremos como ponto de partida a
elucidação do conceito de complexidade organizada proposta por Weaver (2004) e
sistemas complexos, por Morin (2008). Para Weaver (2004), problemas de simplicidade
envolvem casos que podem ser sanados com a resolução de apenas duas variáveis. Se
dirijo a uma velocidade de 100km/h e viajarei por 300km, levarei 3h para efetuar o
percurso. Em contraposição a esse problema está a complexidade desorganizada, que se
utiliza de inúmeras variáveis para alcançar um valor médio de determinado problema:
como o movimento de átomos para formar uma matéria, por exemplo. Medir o
movimento de cada um deles se tornaria impraticável. Já a complexidade organizada,
relevante para o trabalho proposto, consiste em uma visão sistêmica e ampla de um
dado problema. Esse problema pode envolver o estudo dos pressupostos que
caracterizam sistemas complexos, pois para compreender a dinâmica desse tipo de
problema é necessário entender as relações existentes em sistemas. Dessa maneira,
pretendemos aprofundar o estudo acerca do último tipo de complexidade elucidada por
Weaver (2004) e em que medida esse tipo de problema, juntamente com a
caracterização de sistemas complexos, pode ser relevante no entendimento da
interdisciplinaridade na pesquisa.
Palavras-chave: Complexidade; Interdisciplinaridade; Sistemas complexos
21
O PROBLEMA DA ÉTICA NO TRACTATUS LOGICO-PHILOSOPHICUS
BARROS, Wagner de - UFScar
A impossibilidade da Metafísica e da Ética é decorrente, no Tractatus-Logico
Philosophicus, da incapacidade da linguagem representar condições necessárias ou
transcendentais. Pode-se dizer que, para Wittgenstein, a linguagem só pode descrever
fatos, nunca valores ou algum fundamento último da realidade, como a Metafísica. De
acordo com alguns autores (Stenius, Janik, Toulmin), esta delimitação da linguagem
implica na cisão entre fatos e valores, discurso objetivo e valorativo. Uma teoria sobre
valores não possuiria sentido porque visa ir além dos limites da linguagem. Porém,
ainda que o discurso ético seja considerado um contra-senso, a ética desempenha um
papel fundamental na estrutura argumentativa do livro de Wittgenstein, adquirindo o
mesmo estatuto que o da lógica, visto que ambas são consideradas como
transcendentais. Assim, outros intérpretes (Cuter, Scherer) enfatizam que a ética faz
parte da condição do mundo, tal como a lógica, e acusam a primeira interpretação de
separar as reflexões sobre Lógica da Ética no Tractatus. Além disso, ressaltam a relação
da Ética com o sujeito metafísico. O presente trabalho tem o objetivo de apresentar
como a Ética se constitui um problema no interior do texto de Wittgenstein. Para isso,
contrapor-se-á algumas interpretações, revelando quais os pontos em que elas se apoiam
e quais suas possíveis deficiências.
22
OS QUALIA E O EXPERIMENTO MENTAL DE MARY
BORGONI, Daniel – UNIFESP – CAPES
Ao degustarmos um bom café, sentimos seu sabor de certa maneira. Quando alguém
sente uma dor de dente, esta sensação aparece ao sujeito que a experiencia de um
determinado modo. Estas experiências têm uma fenomenologia, isto é, características
qualitativas distintas que, segundo David Chalmers e William Robinson, escapam ao
fisicalismo, a tese de que tudo que existe no mundo é, em última instância, físico. Eles
defendem que as experiências conscientes possuem propriedades qualitativas intrínsecas
que são apreendidas somente em primeira pessoa, os qualia, também conhecidos como
os aspectos subjetivos da experiência. Desse modo, explicar os qualia sob uma ótica
materialista é desfazer o hiato epistêmico e ontológico que parece existir entre
consciência e matéria. Podemos abordar este problema por meio do argumento do
conhecimento de Frank Jackson, em qual ele defende que nenhuma informação física
captura os qualia das sensações. Para tanto, ele utiliza um experimento mental cuja
protagonista, Mary, é uma neurocientista que sempre viveu em um quarto onde tudo era
preto e branco, e aprendeu todas as informações físicas a respeito da visão humana. A
questão crucial feita por Jackson é: ao ver a cor vermelha de um tomate maduro pela
primeira vez, Mary aprenderá algo novo sobre o mundo? Os objetivos desta
apresentação são abordar o problema dos qualia por meio deste experimento de
pensamento. Após expormos este argumento, comentaremos algumas tentativas
materialistas de responder à pergunta de Jackson.
Palavras-Chave: Qualia; Frank Jackson; Experiência; Conhecimento
23
O ARGUMENTO DE G. C. GODDU CONTRA A TRADICIONAL DISTINÇÃO
ENTRE ARGUMENTO DEDUTIVO E INDUTIVO
CANAL, Rodrigo – UFOPA
No artigo The ‘Most Important and Fundamental distinction in Logic’ (2001) G. C.
Goddu apresenta e discute uma defesa contra uma ideia que considera ser tradicional em
lógica, a de que há duas classes gerais de argumentos: os indutivos e os dedutivos.
Goddu afirma que não só não é uma das mais importantes ou fundamentais ideias em
lógica, como é mesmo desnecessário se basear ou fazer apelo a tal distinção. O
argumento central de G. C. Goddu é fornecido, ao mesmo tempo, em que oferece uma
base lógica alternativa para análise e avaliação de argumentos. Nosso objetivo é
apresentar e discutir tal base lógica de forma que, por fim, possamos chegar a conclusão
parcial de que realmente nos permite realizar todas as tarefas relevantes requeridas em
lógica para análise e avaliação de argumentos, como espera C. G. Goddu.
Palavras-chave: Argumento dedutivo e indutivo; Lógica informal; Argumentos
adequados; Suporte adequado.
24
A FÉ PERCEPTIVA CONTRA A ILUSÃO DOS SENTIDOS: O PRIMEIRO
PASSO DO CONHECIMENTO EM MERLEAU-PONTY
CAVALCANTE, Gustavo Luis de Moraes – UFSCar – CAPES
Merleau-Ponty propõe pensar novas teorias que pudessem unir a filosofia com as novas
descobertas da psicologia, além de encontrar novas respostas a antigos problemas
postos pela filosofia, como, por exemplo, a dualidade cartesiana. Através de um estudo
do livro “Fenomenologia da Percepção (1945/2006)” de autoria de Merleau-Ponty,
buscaremos entender os argumentos usados contra a psicologia clássica e contra alguns
filósofos modernos como, por exemplo, Descartes, filósofo o qual Merleau-Ponty deu
grande atenção e as críticas a este autor o fez pensar e encontrar o seu cogito tácito.
Como em Descartes há o cogito como o fundamento primeiro do conhecimento, ou no
limite, de sua filosofia. Em Merleau-Ponty também o há (esse fundamento), em nosso
trabalho tentamos mostrar que sempre há algo anterior ao que conhecemos
reflexamente, sempre há o irrefletido, ou seja, sempre é necessário haver algo como o
cogito tácito para haver um cogito reflexivo. Extrapolando este argumento podemos
pensar que sempre há algo anterior, sempre há um fundamento para o nosso
conhecimento, ou melhor, para a nossa vida. Há em Merleau-Ponty uma certeza e todos
estão cientes dela, entendemos que esta certeza, em nosso filósofo, é a fé perceptiva. E
esta fé é primeira a tudo em nosso conhecimento. Trataremos nesta apresentação a fé
perceptiva, explicando o que é ela, tentado mostra-lá como sendo uma crença inabalável
de que percebemos o mundo, de que nele vivemos concreta e não ilusoriamente. Este é
o primeiro plano de conhecimento. A fé perceptiva, a vivencia silenciosa, que é a
aceitação realista e ingênua do mundo, só é quebrada pela filosofia.
Palavras-chave: Fenomenologia; Percepção; Cogito; Conhecimento; Fé Perceptiva
25
A OBJEÇÃO DE MCINERNEY AO ARGUMENTO DO FUTURO COM
VALOR
D’AVERSA, Rafael Alberto Silvério – UFSC - CAPES
O objetivo desta comunicação é apresentar e discutir uma importante objeção ao
chamado “Argumento do Futuro com Valor” (AFV), formulado no artigo “Why
Abortion is Immoral” (1990), de Donald Marquis. Esse argumento tem como intuito
defender a tese de que prima facie o aborto não é moralmente permissível. Marquis
começa por notar uma intuição comum que possuímos, a saber, a de que matar pessoas
como eu e o leitor é prima facie imoral. Supondo que tal intuição esteja correta, o que
poderá explicá-la? A resposta de Marquis é que a melhor explicação é que a ação de
matar é prima facie imoral em virtude do efeito que tem na própria vítima,
nomeadamente, o efeito de impor-lhe a perda de um futuro com valor. Se isso for
verdade, teremos o seguinte princípio moral: se um indivíduo tem um futuro com valor,
então matá-lo é errado prima facie. Na segunda premissa, temos a afirmação de que,
normalmente, um feto humano tem um futuro com valor. Afinal, o futuro dos fetos
humanos assemelha-se bastante ao futuro de pessoas como nós, uma vez que consiste
tipicamente num conjunto de experiências que valorizamos ou viremos a valorizar. Se
as duas premissas apresentadas forem verdadeiras, a conclusão que se segue é que,
normalmente, é prima facie errado matar um feto humano. Uma das principais objeções
a este argumento foi apresentada pelo filósofo Peter McInerney no artigo “Does a Fetus
Already Have a Future-Like-Ours?” (1990). McInerney tentou refutar o AFV atacando a
sua segunda premissa. Para tanto, ele defende que a aceitação de uma determinada
teoria acerca da identidade pessoal – a teoria da continuidade psicológica – nos justifica
a rejeitá-la. Isso porque, ao adotar essa teoria, seria falso dizer que os fetos humanos
possuem um futuro com valor, dado que não haverá qualquer continuidade psicológica
entre um feto humano qualquer e o indivíduo ao qual ele dará origem. O objetivo dessa
comunicação é responder a objeção de McInerney e mostrar que ela não nos justifica a
rejeitar o AFV.
Palavras-chave: Aborto; Bioética, Donald Marquis; Peter McInerney
26
A IMPORTÂNCIA DO MÉTODO PARA A DELIBERAÇÃO E PARA A
ESCOLHA DELIBERADA NA ÉTICA A NICÔMACO DE ARISTÓTELES
FERNANDES, Elaine Carvalho – UNESP Marília
Na Ética a Nicômaco (doravante EN), Aristóteles sugere uma nova maneira ao homem
para que este possa agir bem. Neste novo modelo ético, o raciocínio teórico não tem
mais o papel necessário e suficiente que possuía, por exemplo, numa ética
intelectualista. O raciocínio do modelo ético proposto pelo Estagirita não possui mais a
precisão do raciocínio teórico. O tipo de raciocínio usado pelo modelo ético do Filósofo
é o raciocínio prático. A deliberação consiste no raciocínio prático da EN. Aristóteles
propõe que o modo que o homem possui para agir bem é a boa deliberação e a boa
(moralmente falando) escolha deliberada. A escolha deliberada não pertence ao
intelecto, mas sim, à parte da alma irracional responsável pelos desejos, mas que
consegue ouvir a razão, ou seja, consegue ouvir o que a boa deliberação detecta. A boa
deliberação deve detectar o justo meio e o homem virtuoso deve escolhê-lo. Nisto
consiste a virtude do homem que o faz atingir a felicidade. Na EN 1094b 12 – 1095a 12,
Aristóteles discute o método com o qual a ética deve ser estudada. Como a finalidade da
EN não é conhecer o que é a felicidade humana (embora não possa prescindir disto),
mas sim, como tornar os homens felizes, tal método já coloca em análise o tipo de
raciocínio que deve ser usado para o estudo da mesma, bem como, qual o tipo de agente
moral capaz de tornar-se um virtuoso. Tal método contempla tanto critérios próprios à
deliberação, como também critérios próprios à escolha deliberada. Sem a discussão do
método, logo no início da EN, é possível ao leitor esperar da mesma uma precisão que
esta não comporta, ou acreditar que qualquer tipo de pessoa possa alcançar a felicidade.
Neste texto, pretendemos analisar estas afirmações, que são de Aristóteles, para com
isso demonstrar a importância do método para a deliberação e da escolha deliberada.
Palavras-chave: Método; Raciocínio Prático; Disposição; Deliberação; Escolha
Deliberada
27
SISTEMAS FORMAIS COMO SISTEMA DE OPERAÇÕES SOBRE SIGNOS
FERRAZ, Alexandre Augusto – UNESP Marília – FAPESP
A existência do sistema de operações sobre signos, como uma estrutura epistêmico-
psicológica dos sujeitos do conhecimento, é uma das hipóteses apresentadas na
dissertação de mestrado do primeiro autor para responder a questão epistemológica:
como o sujeito compreende as estruturas lógico-matemáticas? Neste trabalho,
apresentamos como os sistemas formais podem ser considerados como um sistema de
operações sobre signos. Na Lógica-Matemática, os sistemas formais são considerados
como a parte sintática dos sistemas axiomáticos e, segundo nossa hipótese, as operações
sobre a parte sintática dos signos representam operações sobre a parte semântica desses.
Por isso, o que primeiro explicitamos em um sistema formal é sua linguagem (símbolos,
expressões e fórmulas), de forma que as estruturas das sentenças dessa linguagem
reflitam diretamente as estruturas da relação entre os significados dos elementos que as
compõem, que por sua vez são evocados por meio desses signos. Nesse contexto, um
signo é um significante arbitrário em relação ao significado que evoca: uma palavra,
uma letra, uma sequência finita de símbolos quaisquer etc.; e é arbitrário porque não
guarda semelhança com seu significado e, por isso, é admitido por convenção social.
Tassinari e D’Ottaviano defendem que os sistemas formais podem ser considerados
sistemas de operações sobre signos, no sentido que aqui buscamos mostrar. Segundo os
autores, contemporaneamente “elaborou-se um recurso de análise, denominado sistema
formal (ou teoria formal). Essa noção nasce [...] na Filosofia da Lógica e da
Matemática, com a corrente formalista, que toma como um de seus objetos de estudos
os sistemas de operações sobre signos gráficos”. É nesse contexto que buscamos
relacionar estruturas do conhecimento e as estruturas matemáticas; assim, algumas de
nossas hipóteses buscam justamente mostrar como sistemas formais (teorias abstratas)
podem ser considerados sistemas de operações sobre signos (estrutura epistêmico-
psicológica).
Palavras-Chave: Sistemas Formais; Sistemas de Operações sobre Signos; Lógica-
Matemática; Estruturas epistêmico-psicológicas.
28
A RELAÇÃO ENTRE LIBERDADE E FALIBILIDADE EM JOHN STUART
MILL
FERREIRA, Nicholas Gabriel Minotti Lopes – UNESP Marília
Em filosofia, trabalhar a natureza da liberdade põe-se como uma tarefa desafiadora
devido à sua complexa relação com vários outros conceitos. Destaca-se aqui, por
exemplo, as noções de opinião e bem-estar. Quando tratadas especialmente no livro On
liberty (Da liberdade), John Stuart Mill considerou-as relevantes por estimularem
indagações como: qual o limite de ação da sociedade perante o indivíduo? Sob quais
pretextos pode se alegar ou defender a livre manifestação do pensamento? Ou, mais
greve ainda, uma pessoa que erra é livre? Quais os critérios em se adotar ‘limites’ para
a liberdade individual? Somada as perguntas, um fator de muito relevante para trabalhar
este tema sob tais questionamentos, é sua atualidade no mundo. Dentre tantos outros, o
caso os discursos de intolerância direcionados a determinados grupos da sociedade. É de
se chamar atenção este caso específico, pois ele supostamente se fundamenta no direito
de expressão ou de credo religioso. Assim, pode-se cometer qualquer ofensa, injúria ou
danos de qualquer natureza, tudo em nome de uma crença particular. Isso parece um
contrassenso já que o próprio ato de dano ou ofensa feriria o direito de terceiros à
liberdade. Por isso, Mill sugere que é necessário considerar o princípio da falibilidade
em ordem de manter resguardada a liberdade e o bem-estar. Mill esclarece que este
princípio ensina que ninguém deve pressupor que é infalível sob a possibilidade de, no
erro, ferir a liberdade de outrem. Desta forma, para um exame mais elaborado da
liberdade, convém levar em conta a participação dos erros nas ações e ao enunciar
determinadas posições ideologias ou de pensamentos.
Palavras-chave: Liberdade; Opiniões; Bem-estar; Erros
29
HANSLICK E SUA PROPOSTA DE REFORMA NA ESTÉTICA MUSICAL DO
SÉCULO XIX
FILHO, Fernando Luiz Alencar – UNESP Marília - CAPES
Crítico de música e filósofo, o vienense Eduard Hanslick, em meados do século XIX,
foi uma das mais importantes vozes em encalmada discussão relativamente à estética
musical que vigorava na época. De um lado, encontravam-se os defensores de uma
“estética do sentimento”, tal como Hanslick a denomina, os quais propalavam a opinião
comum de que, em primeiro lugar, a análise do belo musical deve necessariamente
partir dos sentimentos suscitados pela música no sujeito; e, em segundo lugar, de que a
música possui como tarefa e objetivos mais próprios representar sentimentos
determinados em seus contemplantes. Por seu turno, Hanslick marca sua oposição
protegendo ideias nada afins àquelas defendidas por seus opositores. Perseguimos, aqui,
o objetivo de demonstrar como, para Hanslick, uma análise do belo musical não deve
jamais partir dos sentimentos do sujeito, à música não se pode imputar a tarefa e
objetivo de representar belos e agradáveis sentimentos e quaisquer outras espécies de
ideias extra-musicais em seus contemplantes; e, por fim, o belo musical diz respeito tão
somente à relação entre si dos sons.
Palavras-chave: Hanslick; Estética; Música de programa; Música absoluta
30
TOTALIDADE E PROCESSO DE TOTALIZAÇÃO: A LIBERDADE
NECESSÁRIA DE HEGEL E A LIBERDADE DA CONTINGÊNCIA DE
SARTRE
FRANÇA, Lincoln Menezes de - UFSCar
O conceito de liberdade se distingue nas mais diversas perspectivas filosóficas, sendo
que essas distinções se expressam a partir dos fundamentos das concepções filosóficas.
Essa distinção pode ser observada claramente na comparação das perspectivas
filosóficas de G. W. F. Hegel (1770-1831) e J. P. Sartre (1905-1980). Neste trabalho,
analisaremos de forma sucinta e elementar aspectos distintivos das concepções de
liberdade de Hegel e de Sartre, tendo como foco os pontos de partida das perspectivas
filosóficas desses autores, discutindo brevemente as implicações desses pontos de
partida em alguns desdobramentos dos pensamentos desses autores, principalmente no
que se refere às noções de necessidade e contingência, totalidade e processo de
totalização, no que concerne aos respectivos conceitos de liberdade. Hegel afirma que
seu sistema filosófico não pode admitir pressupostos, no entanto, deve ter um começo e
esse começo para Hegel é o ser. O ser, por ser considerado pelo filósofo alemão como o
mais indeterminado e simples, é o ponto de partida dos desdobramentos de seu sistema
filosófico. Hegel parte do ser que imediatamente é indeterminado, mas que no resultado
das mediações é reconhecido em suas determinações. Na Fenomenologia do Espírito
[2002 (1807), §20, p. 36] Hegel afirma que o verdadeiro é o todo, o todo que é essência
que se implementa através de seu desenvolvimento. Essa consideração acerca do
verdadeiro é o núcleo da concepção ontológica de Hegel. Inicialmente, para o filósofo
alemão, a totalidade é indeterminada, mas é importantíssimo considerar que já é
totalidade. O percurso do reconhecimento dessa totalidade será exposto no sistema de
Hegel em cada uma das determinações que se põem no desenvolvimento do todo. E isso
será fundamental à distinção em relação a Sartre. O filósofo francês, ao contrário de
Hegel, tem como um dos aspectos de partida, a indeterminação relativa do para-si, ou
nas palavras do filósofo francês, da “facticidade do para-si”, da contingência.
Palavras-chave: G. W. F. Hegel (1770-1831); J. P. Sartre (1905-1980); Liberdade;
Necessidade contingência
31
INVESTIGAÇÕES SOBRE A RACIONALIDADE INSTRUMENTAL:
HABERMAS
FREITAS, Sérgio Francisco de – UENP
A proposta deste trabalho é proceder a exposição, a discussão e a avaliação crítica sobre
a teoria da ação comunicativa, de Habermas, no debate sobre a razão instrumental e
seus efeitos na contemporaneidade. Será feita uma investigação sobre a esfera do
trabalho e a esfera da interação, em que os estudos habermasianos apontam a
necessidade de “descompressão” desta última, tomada pelo mundo do trabalho, no qual
o controle dos mecanismos do tempo aumentam cada vez mais. Da submissão da esfera
da interação à esfera do trabalho, como consequência o entendimento sobre a política,
entendida como o conjunto das atividades relacionadas à vida prática, passa a exercer
uma função meramente administrativa das questões técnicas. A despolitização torna-se
a consequência mais visível deste processo. A metodologia será a análise e a síntese de
ideias por meio da leitura de textos, aproveitando-se o saber contido nas diversas obras
pesquisadas. É nesta linha de raciocínio que esta pesquisa deverá evoluir; utilizando os
escritos de vários pensadores, este trabalho buscará meios que apontem para a
compreensão da razão instrumental, da ampliação do conceito de racionalidade e de um
possível escape desta espiral que tem norteado o homem contemporâneo.
Palavras-Chave: Razão Instrumental; Interação; Trabalho; Contemporaneidade
32
HEGEL E O “CARÁTER AFRICANO”
GÓES, Weber Lopes – UNESP Marília
A presente comunicação tem como escopo apresentar ao leitor, como o filósofo Hegel
concebeu a África, a partir de seu livro “Lições de Filisofia da História Universal” onde
ele expõe, pelo viés histórico, a formação e organização dos continentes – europeu,
asiatico, africano e americano. Ainda que Hegel seja colocado na posição de filósofos
que expressou o humanismo no sentido mais pleno e devido ter se preocupado com a
universalização do homem, entretanto, ao tratar do continente africano, tema este que
vamos nos ocupar, o autor das Lições não deixou de manifestar a sua visão pejorativa
em relação aos povos africanos, ele expresou a ideologia, que hoje classificariamos de
racista, no qual poderiamos classificar como racismo cultural e não biológico, no que
tange a natureza da forma de organização do grupos sociais daquele continente.
Palavras-Chave: “Carater africano”; Filosofia da História; Filosofia Moderna; Hegel
33
A CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA NO EMÍLIO E O QUE CONVÉM – OU NÃO –
À CONDIÇÃO HUMANA
GOETZ, Luis Carlos – UNIOESTE
Este texto em forma de projeto centra-se na obra Emílio ou Da Educação, na qual
Rousseau aborda o tema infância e educação. Para tanto, investigarei os conceitos de
educação; as fases da infância; as três espécies de mestres, bem como sua importância
para o desenvolvimento e inserção do enfant na sociedade. A proposta das três formas
de educação que transformam a existência humana em si num amplo projeto pedagógico
de formação humana com vistas à plena realização da própria existência. E, ainda por
que a formação e desenvolvimento interno das faculdades e dos órgãos da criança são a
educação da natureza e dessa não ‘temos controle’. O uso que nos ensinam a fazer desse
desenvolvimento é a educação dos homens. A educação das coisas é a experiência do
aprendizado sobre os objetos que nos afetam. Essa é a educação que nos ensinam e dela
podemos, pelo menos em parte, ser senhor. Isso deve ser proporcionado pela educação
bem administrada para que a criança seja criança na época que deve ser e tenha
possibilidades de ser e se tornar um adulto livre e apto a exercer seu papel de cidadão.
Essas são questões que o autor afirma e servirão para nortear a pesquisa em busca da
compreensão da proposta existente na obra Emílio ou da Educação.
Palavras-Chave: Infância; Educação; Enfant; Homem
34
O PROBLEMA DA EUDAIMONIA NA ÉTICA A NICÔMACO DE
ARISTÓTELES
GOMES, André Luiz – UNESP Marília - CAPES
O presente artigo tem por finalidade apresentar um famoso problema na concepção de
eudaimonia (felicidade), presente na Ética a Nicômaco de Aristóteles. Em síntese, o
problema se funda numa possível dupla forma de interpretar a noção de eudaimonia.
Atualmente, as possíveis interpretações são chamadas de: dominante e inclusiva. Esta
nomenclatura foi proposta em 1965 por W. F. R. Hardie, em seu famoso artigo: The
final good in Aristotle’s ethics. Em sua Ética a Nicômaco, Aristóteles afirma que o
saber ético procura conhecer o bem para o homem. Este bem é identificado pelo filósofo
com a felicidade, porém, segundo o estagirita, não devemos entender a felicidade como
simples estado psicológico, pois a felicidade deve consistir numa atividade, ou melhor,
numa atividade da alma consoante à virtude, e se existe mais de uma virtude, segundo a
melhor e mais perfeita. Um sério problema surge no que tange à noção de virtude. A
interpretação intitulada dominante afirma a felicidade como a posse da virtude
intelectual da contemplação, assim, a vida dedicada à sabedoria filosófica seria a mais
excelente e capaz de tornar o homem feliz. Sua rival, a inclusiva, defende outra virtude
central, a virtude própria, que surgiria de um aprimoramento da virtude natural quando
esta é unida com a prudência. Mas só a posse da virtude própria, não garantiria a
felicidade, nessa versão, o homem feliz também deve possuir: bens exteriores, bens do
corpo e os bens da alma. Assim, é a posse destas três classes de bens, cada uma
composta por bens suficientes para garantir a autossuficiência do cidadão, que
possibilitariam a vida feliz ser o caso.
Palavras-chave: Aristóteles; Bem; Felicidade; Virtude; Autossuficiência
35
SÓCRATES: O PRIMEIRO TRANSVALORADOR DOS VALORES
GRATÃO, Marília Siqueira – UFOP
Nietzsche nos apresenta Sócrates (469 a.C – 399 a.C), em O Nascimento da Tragédia,
como o primeiro filósofo ocidental a transvalorar o valor dos valores gregos. Segundo
tal hipótese, tudo o que antes era fundamentado nas criações do pathos artístico — cujo
exemplo mais notável está na justificação da vida por meio da tragédia — passa a ser de
responsabilidade do logos filosófico – termo que pode ser entendido como a própria
racionalidade. Aqui, o jogo fundamental é apostado no plano, não mais da oposição arte
trágica e socratismo estético, mas também da lógica e da intuição. Com isso, segundo
Nietzsche, tem início à negação do Devir através das criações puramente racionais,
naquilo que elevam o útil, o lógico, estável e organizado à posição de objetivo mais alto
da vida espiritual. Assim, temos em Sócrates o primeiro a identificar o pathos artístico
como inferior ao logos filosófico, advertindo que aquele poderia levar ao erro, à
destruição, à inconstância e ao sofrimento, devido a sua característica mutável e
particular. A superioridade da razão é presumida na medida em que ela seria capaz de
proporcionar autonomia e independência em relação à parte irracional da natureza
humana, promovendo um tipo mais elevado de homem, não comprometido com
criações meramente instintivas, tais como os mitos construídos pela introvisão
similiforme dos sonhos. Porém, Nietzsche destaca os aspectos negativos desse saber
socrático em relação a afirmação da vida imanente, ao corpo e à terra. Sendo assim, por
que o povo grego, afirmativo e festeiro não impediu a primeira transvaloração
socrática?
Palavras-chave: Estética; Otimismo teórico; Transvaloração
36
O PROJETO EXISTENCIÁRIO DE UM SER-PARA-A-MORTE NA
ANALÍTICA DE SER E TEMPO
GUIMARÃES, Deborah Moreira – UNIFESP – CAPES
Este trabalho tem como objetivo fazer um estudo do conceito de ser-para-a-morte a
partir da compreensão da morte como um fenômeno da existência, atrelado às noções de
finitude e temporalidade próprias do contexto da filosofia heideggeriana. Mais
precisamente, busca tratar das questões levantadas por Heidegger no decorrer dos
parágrafos 45 a 53 de Ser e Tempo, nos quais o autor aborda a problemática da finitude
a partir do desenvolvimento do conceito de ser-para-a-morte, enquanto modo-de-ser
fundamental constituído pela essência originariamente temporal do Dasein. Como base
para o desenvolvimento deste trabalho, será utilizada a obra Ser e Tempo, na qual o
autor aborda os pontos fundamentais de sua analítica existenciária e desenvolve sua
ontologia fundamental, passando pelos conceitos de ser-aí, ser-no-mundo e ser-para-a-
morte. Doravante, na medida em que a temporalidade será posta como conclusão da
obra do filósofo Martin Heidegger, a busca pelo sentido de ser deve se dar em dados
temporais, uma vez que este sentido será completado por meio da compreensão da
morte como fenômeno que se dá, impreterivelmente, na vida de cada ser-aí lançado no
mundo. Dessa forma, caberá investigar o modo pelo qual Heidegger submeteu o sentido
de ser à morte, submetendo os entes intramundanos a uma existência constituída pela
possibilidade da não-existência, possibilidade esta que será responsável pelo existir do
ser-aí na concretude, tornando possível o assumir de uma posição no mundo em que
habita, conduzindo-o à compreensão existenciária decorrente de sua condição
temporalmente finita, que se desdobrará em um estado de vida determinado pela
autenticidade.
Palavras-chave: Ser-para-a-morte; Finitude; Temporalidade; Analítica existenciária
37
A HISTÓRIA, FILOSOFIA E ENSINO DE CIÊNCIAS
HIDALGO, Maycon Raul – UEM – CAPES
O estudo dos conceitos científicos nos remete diretamente a “como” determinados
conceitos foram construídos, quais as bases filosóficas e de que modo o processo
histórico-social influenciou na forma que entendemos a ciência atualmente. Neste
sentido, vários autores discursam sobre a potencialidade da História e Filosofia da
Ciência (HFC) no ensino de conceitos básicos, sob a ótica de humanizar o ensino e
reaproximar este do contexto reflexivo em que se baseia a própria Ciência.
Considerando a Filosofia como o ponto inicial do pensamento científico,
compreendemos como fio norteador da Ciência a própria dúvida, o que torna uma
pratica incoerente o ensino desta a partir de praticas “essencialmente memorísticas” sem
a atuação do aluno na reflexão sobre seu conhecimento. Acima de tudo, tais aspectos
demonstram uma defasagem no processo de formação inicial, sendo este o ponto
primordial da prática docente. Sob esta ótica parece-nos importante uma intervenção
pedagógica ainda neste período de formação do docente, sob a tentativa de estimular e
proporcionar novas visões sobre a pratica em sala de aula. Não afirmamos porém, a total
efetividade deste modelo uma vez que cada ser é único em suas especificidades
(compreendemos aqui como ser, tanto o aluno como o professor), contudo não nos
faltam relatos sobre os resultados positivos a partir desta metodologia. Neste contexto
discutimos com alunos em formação inicial no curso de Ciências Biológicas durante um
encontro de Biologia a importância e viabilidade de se discutir a HFC em sala de aula
ainda no ensino fundamental, nossos resultados corroboram com a literatura no sentido
de que tais discussões podem ter aspectos positivos no ensino, no entanto a grande
crítica se baseia no como aplicar os conteúdos sob esta perspectiva, denotando uma
carência de discussões sobre HFC durante o processo de formação de professores.
Concluímos deste modo, haver uma carência de ensino dos aspectos da HFC durante a
formação inicial, limitando as possibilidades do professor em formação refletir, aplicar
e avaliar tal metodologia.
Palavras-Chave: História e Filosofia da Ciência; Ensino de Ciências; Formação inicial
38
EDUCAÇÃO JURÍDICA PARA A FORMAÇÃO DE UMA CULTURA
FRATERNA: POR UM OLHAR INTERDISCIPLINAR
HORITA, Fernando Henrique da Silva – UNIVEM - CAPES
Através de uma análise interdisciplinar, o presente artigo propõe uma investigação em
torno da Educação jurídica e do princípio da fraternidade. Desta feita, percorrendo os
reflexos das tendências atuais do ensino jurídico, observando suas crises, falhas e
oportunidades, visa-se auxiliar uma reflexão apontando caminhos que subsidiam na
formação de uma cultura fraterna aos operadores do Direito. Para tanto, como já dito,
utilizou-se uma abordagem interdisciplinar entre a filosofia do Direito com o próprio
Direito, utilizando-se, ainda, o método hipotético-dedutivo, com tipo de pesquisa
qualitativa e a técnica desta, bibliográfica, percorrendo as obras e revistas científicas
especializadas em tal temática. Procurou-se, assim, fazer uma análise mais aprofundada
acerca das bases necessárias à formação de uma cultura fraterna, ensejando que a
educação do Direito seja endereçada a formação e composição de valores. Durante as
ponderações, portanto, fez-se breve digressão acerca do professor de Direito; em
seguida, apontaram-se as crises do ensino jurídico; e por fim, abordou o
desenvolvimento da fraternidade no Direito, demonstrando a importância da
interdisciplinaridade, passando pela clara e absolutamente necessária formação de uma
nova mentalidade, ou seja, uma nova concepção da educação do Direito, cuja a
consequência deve resultar em novas formas de atuação dos operadores do Direito.
Palavras-chave: Direito e Fraternidade; Educação Jurídica; Filosofia do Direito;
Interdisciplinaridade
39
A IMPLICAÇÃO MORAL DA CATARSE NO CANTO VI DA POÉTICA DE
ARISTÓTELES
JÚNIOR, Deusdedt Viana da Cruz – UNESP Marília
O que é catarse? Tal pergunta é feita há séculos e suas possibilidades de resposta são
variadas. De acordo com Aristóteles, seria uma forma de purgação de paixões, ou
purificação das mesmas. Mas, acerca dessa possível afirmativa, outras perguntas
surgem. Quais seriam essas paixões e como orientar nosso entendimento sobre o real
significado da chamada catarse, como purgação ou como purificação? Em uma análise
primeira da obra aristotélica Poética, tem-se a impressão de se tratar apenas de uma
purgação ou purificação da compaixão e o medo. Mas estaria a catarse relacionada a
apenas essas paixões ou a outras além dessas? Tais questões, cunhadas na citação
aristotélica, foram, e ainda são, alvo de estudo de pesquisadores que se debruçam sobre
o tema em busca de compreender o papel da arte para o artista e para aquele ao qual a
mesma exerce efeito, o espectador. Diante desses estudos, outra questão: a arte deve ser
influente sobre a moral ou apenas entreter? Se tomarmos a catarse como purificação,
podemos dizer que a arte simplesmente entretém o público ao qual se destina, visto que
esse enxerga apenas a cena interpretada e as paixões representadas. Já se a tomarmos
como purgação, temos uma arte que expulsa do espectador suas paixões, visto que esse
se vê na personagem, o que lhe faz trazer para a sua realidade as paixões encenadas. Se
para Aristóteles o homem moral é aquele que se policia em relação às paixões buscando
o justo-meio entre vícios e virtudes, a catarse tomada como purgação está diretamente
relacionada aos preceitos éticos abordados pelo filósofo na Ética à Nicômaco.
Relacionadas as duas obras do filósofo, nota-se a relevância de uma tragédia, se tomada
como representação de posturas diante das paixões. Assim, tal representação será uma
facilitadora para o cidadão por explicitar e exemplificar o que são as paixões e quais as
posturas a serem tomadas para alcançar a justa medida.
Palavras-chave: Aristóteles; Catarse; Ética; Tragédia
40
EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NO BRASIL: GENEALOGIA E CONDIÇÕES DE
PRODUÇÃO DE UM CONCEITO
KOPCAK, Vandré - UFABC
A presente pesquisa intenta a reflexão sobre o conceito da “educação científica’ no
Brasil, partindo de uma análise fundamentada epistemologicamente na genealogia desta
expressão e explorando marcas discursivas que denotem a evolução de sua trajetória
como conceito e campo de saber. A pesquisa da genealogia e das condições de produção
deste conceito será realizada com base em uma visão mais geral e histórica até a
exploração de sua materialização linguística através do vocabulário utilizado em
publicações sobre educação científica constantes no banco de teses e periódicos da
CAPES. Com apoio de métodos da Cienciometria e da Análise de Discurso de linha
francesa, serão identificadas marcas discursivas que possam ser associadas às
transformações e rupturas históricas que tenham ocorrido no campo da educação
científica brasileira. A delimitação de conjuntos de recortes discursivos será inspirada
nos conceitos de genealogia e arqueologia dos saberes de Michel Foucault, iniciado a
partir de considerações extemporâneas de Nietzsche como viés crítico ao conceito
tradicional de ciência. O tratamento dos conjuntos de recortes discursivos tomará como
referência o conceito de campo apresentado por Pierre Bourdieu, aqui abordado em sua
representação lexicográfica. Os resultados esperados são, em primeiro lugar, contribuir
para uma visão genealógica do conceito de educação científica no Brasil, evitando o
tratamento apriorístico que geralmente lhe é dado. Em segundo lugar, contribuir para a
criação de uma metodologia mista para a abordagem genealógica de um campo de
saber, equilibrando o trabalho qualitativo concebido no viés da Análise do Discurso de
linha francesa (em sua proposta construtivista) e o enfoque quantitativo da
Cienciometria (em sua abordagem empírica convencional). A investigação sobre o
campo educacional científico brasileiro também poderá revelar aspectos de sua
dinâmica e permeabilidade a interferências.
Palavras-chave: Educação científica; Considerações extemporâneas; Análise do
discurso; Cienciometria; Lexicografia; Brasil
41
TEORIA DA SINALIZAÇÃO
LALLO, Pedro Gabriel Antonio – UNESP – CAPES
O objetivo deste trabalho é desenvolver uma análise da Teoria da Sinalização
(signalling theory). Para cumprir esse objetivo, analisaremos a hipótese de Dawkins et
al.(1984) sobre a definição de sinalização animal. Teoria da sinalização surge em uma
tentativa de explicar sinais animais que estão sob o efeito da seleção natural, apesar de
questões centrais dessa teoria gerarem grandes discussões. Exemplos de sinais variam
desde a mendicância dos filhotes de pássaros às exibições da calda dos pavões que se
destinam a transmitir informações de um indivíduo sinalizador para outro indivíduo
receptor de sinais. Um dos problemas que a teoria da sinalização tenta resolver sobre a
comunicação é procurar entender como que sinais caros para os sinalizadores parecem
convincentes para os receptores, sendo verdadeiros. Dawkins e Krebs empregam a
definição de sinalização animal entendido como manipuladores de comportamentos
alheios e “leitores de mente” para antecipar o comportamento futuro de outros
organismos. Nesse sentido, os receptores assim como os sinalizadores evoluíram – em
uma guerra armamentista - disputando egoistamente, um para manipular e outro para
resistir à manipulação. Devido a inúmeros problemas que surgem com o conceito de
sinalização embasado em informação pela Teoria Matemática da Comunicação de
Shannon, Owren et al.(2009, 2010) entendem que a definição de sinalização animal
deveria ser embasado por uma outra mais flexível que também pode abranger
informação, mas não se limita a ela. Nossa conclusão é que a definição de sinalização
animal pode ser mais inclusiva ao contemplar o conceito de influência comportamental
proposto por Owren et al.(2010).
Palavras-chave: Teoria da sinalização; Sinalização animal; Informação
42
A FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL EM AUGUSTO COMTE
LEITE, Edilene De Souza - UEL
Na busca por uma mentalidade “terrestre e positiva” Isidore Auguste Marie François
Xavier Comte (nascido em 19/01/1798, Montpellier – falecido em 05/09/1857, Paris)
propôs uma classificação para as ciências, sendo que eram 6: matemática, astronomia,
física, química, biologia e sociologia. E a partir 1850-1851, do Sistema de política
positiva ou Tratado de Sociologia instituindo a Religião da Humanidade elas passaram
a ser 7 ciências: a moral passa a ser o 7º núcleo de fenômenos (humanos) constitutivos
da realidade, na sequência da sociologia, cujo método específico é o método subjetivo
ou construtivo (sucedendo o método histórico, específico da sociologia), e cujo objeto
são os fenômenos humanos (sucedendo os fenômenos sociais, específicos da
sociologia), sendo portanto, uma moral científica, e a 7ª ciência fundamental e o 7º
método, supremos e finais. Particularmente em Comte não há a distinção entre ética e
moral, sendo que aparecem predominentemente três acepções para a moral: algo do ou
no sujeito (instinto moral), algo exterior a ele, e como amálgama social. Neste
modelo-moral a “humanidade” tornar-se a principal base racional e Comte afirma que
naturalmente podemos passar do egocentrismo para o sociocentrismo, ou seja, para o
altruísmo e esta possibilidade esta resumida no seu Quadro das dezoito funções do
cérebro ou alma indicando que o fundamento para a Moral de Comte é biológico.
Palavras-chave: Moral; Fundamentação; Biológica; Cérebro
43
A FALÊNCIA DA RAZÃO
Flávio Campos de lima – PUC São Paulo – CAPES
A Carta a D’Alembert de Jean-Jacques Rousseau escrita na segunda metade do século
XVIII é um importante texto sobre o teatro. O objetivo do presente texto é mostrar as
contradições que segundo Rousseau existe na proposta de D’Alembert de se instalar um
teatro de comédia na Pátria de Rousseau, a saber, Genebra. A principal contradição para
Rousseau existente em tal proposta é a argumentação de D’Alembert quanto à
possibilidade deste teatro cujo modelo é Frances poder afinar os hábitos e costumes do
povo Genebrino, uma vez que, seus hábitos e seus costumes são tão diferentes. Para que
o teatro de comedia proposto para Genebra pudesse afinar os hábitos e costumes dos
cidadãos Genebrinos a razão teria que possuir efeitos eficazes nos espetáculos que
fossem ali apresentados, mas segundo Rousseau isso não acontece. Tendo em vista que,
para Rousseau o homem ao mudar de seu estado natural para o estado social foi
corrompido, não é possível afinar os hábitos e costumes de um povo através de artes
imitativas e representativas como tenta sustentar D’Alembert, além do mais, Paris ao
ver de Rousseau é uma grande cidade degenerada e depravada, Genebra por sua vez, é
uma pequena cidade que ainda preserva os costumes moderados e onde o povo é pacato.
Assim, Rousseau diz não ser possível calar-se diante de tal acontecimento.
Palavras-chave: teatro, representação, corrupção, Genebra, Paris.
44
BREVE REFLEXÃO ACERDA DA TENDÊNCIA ANTISSOCIAL DO HOMEM
EM THOMAS HOBBES
LUZ, Gerson Vasconcelos - UNIOESTE
O propósito da comunicação é refletir e discutir acerca do comportamento humano na
inexistência do Estado no sistema filosófico hobbesiano. Os textos-base para a pesquisa
são o De Cive e o Leviatã, respectivamente, os capítulos I e XIII. Conforme o filósofo,
os indivíduos estão sempre dispostos a agirem em função da obtenção do bem para si
(self-interest). O problema é que, numa situação de simples natureza (estado natural),
tal comportamento implica na instauração de conflitos que nos instigando a classificar o
homem como um ser de natureza malevolente ou beligerante. Mas, será que o humano
tem uma natureza essencialmente bélica? A leitura dos referidos textos nos permite
considerar que as causas da “malevolência” não estariam ligadas de modo intrínseco à
natureza humana, mas a maneira como os indivíduos procuram satisfazer seus
interesses, que – resumidamente – diz respeito à autoconservação. Diante disso, todo
indivíduo age em vista da obtenção do que é bom, do que representa o bem para si. A
beligerância seria a consequência ou o reflexo de como se vive. Analisado por esse viés,
o homem não é bom nem mau, mas sim, egoísta. Por natureza, o homem é um ser
antissocial, que – inclusive – admite a vida em sociedade por interesse egoísta. A
melhor maneira de constatarmos tais tendências humanas – propõe Hobbes – é
observando os homens quando estão reunidos.
Palavras-chave: Autointeresse; Estado de natureza; Natureza humana; Conflito
45
DO IDEALISMO SUBJETIVO AO IDEALISMO OBJETIVO: A CRÍTICA DE
HEGEL A FICHTE NO DIFERENÇA ENTRE OS SISTEMAS FILOSÓFICOS
DE FICHTE E SCHELLING
MACHADO, Lucas Nascimento – USP – CNPq
Em nossa apresentação, proporemos uma breve análise da crítica de Hegel à filosofia
fichteana em seu Diferença Entre os Sistemas Filosóficos de Fichte e Schelling. Para
tanto, será de especial importância para nós retomar alguns dos pontos da discussão de
Fichte com Schulze em sua Resenha do Enesidemo, a fim de esclarecer em que medida,
para Hegel, Fichte, da forma como concebe o seu sistema, não consegue sair ainda de
uma filosofia da reflexão que transforma o infinito em algo de finito e, portanto, não é
capaz de responder às objeções céticas em relação à Razão. Nesse sentido, analisaremos
em que medida, para o Hegel de juventude, o sistema de Schelling, tal como
compreendido por Hegel, seria capaz de ir além de uma filosofia da reflexão e manter-
se fiel ao princípio especulativo da filosofia, na medida em que possibilitaria a intuição
transcendental do Absoluto em sua indeterminação característica. Veremos, ainda, em
que consiste, para Hegel, a distinção entre o idealismo subjetivo de Fichte e o idealismo
objetivo de Schelling, e em que sentido essa diferença é relevante para que o Hegel de
juventude possa pensar o fundamento da filosofia em sua incondicionalidade.
Esperamos, desse modo, oferecer um preâmbulo para algumas considerações sobre
como o Hegel de juventude concebe a relação do ceticismo com a filosofia e por que
esta, quando genuína, não é vulnerável aos ataques do ceticismo, mas antes, é
indissociável dele em sua forma legítima.
Palavras-chave: Idealismo subjetivo; Idealismo objetivo; Reflexão; Intuição
transcendental; Indeterminação
46
FORMA E ESTILO EM KAFKA: UM DIÁLOGO CONCEITUAL ENTRE
ADORNO E DELEUZE
MAESO, Benito Eduardo Araujo - USP
A obra de Franz Kafka foi objeto das análises aguçadas de Theodor Adorno e Gilles
Deleuze, nos já clássicos textos "Anotações sobre Kafka" e "Kafka: por uma literatura
menor". Porém, algumas características do texto do autor checo foram examinadas com
maior rigor por ambos os filósofos, em especial um elemento que, apesar da diferença
da terminologia usada por Adorno e Deleuze, parece estar em grande destaque para
ambos. Se, para estes dois pensadores, a dimensão política de uma obra literária estaria
expressa em sua própria escrita, seja como resistência ou como exemplo da literatura
dita “menor”, como isso aproximaria as definições de Forma da obra, por Adorno, e
Estilo de uma obra, por Deleuze, não apenas nas análises sobre o escritor checo ou
sobre as obras de arte, mas em tudo aquilo que é chamado de trabalho do pensamento?
Isso poderia indicar um possível diálogo entre outros elementos constitutivos dos
edifícios conceituais adorniano e deleuziano? Este trabalho, derivado de dissertação de
mestrado defendida recentemente no PPGDF/FFLCH, busca avançar sobre alguns
aspectos nos quais possa ser possível promover um diálogo mais aprofundado entre o
pensamento de Adorno e Deleuze, tendo como ponto de partida tanto a possível
coincidência ou interseção entre os campos conceituais já citados (forma e estilo) como
também o Kafka revelado em cada um dos textos já mencionados. Da mesma forma,
busca-se a averiguação da existência de um caráter político na obra kafkiana, esta uma
leitura pouco usual dos textos do escritor checo exercitada por ambos os filósofos, com
o devido cuidado com as diferenças conceituais e de abordagem de cada autor.
Palavras-chave: Forma, Estilo, Kafka, Conceitos, Literatura
47
DIALÉTICA, MATERIALISMO E DIFERENÇA: DELEUZE E A GRANDEZA
DE MARX
MAESO, Benito Eduardo Araujo - USP
Este trabalho busca investigar tensões, articulações e afastamentos entre o pensamento
deleuziano, notadamente após o estabelecimento de sua parceria com Félix Guattari, e a
tradição filosófica marxiana, com especial interesse nas relações possíveis entre os
corpus teóricos de Deleuze e Marx, em primeiro lugar, e também com o chamado
marxismo ocidental do século XX. Considerando a profundidade e dimensão das obras
destes autores, optou-se por selecionar como pontos de partida para o trabalho a
articulação entre o conceito de dialética a partir de Marx e o conceito de diferença em
Deleuze, assim como o eco marxiano na relação entre capitalismo e esquizofrenia. Além
destes temas – e de seus desdobramentos – será necessária a investigação sobre o
conceito de materialismo, presente tanto em Marx como em Deleuze, sendo a prática
(ou a práxis) a possibilidade e maneira de constituição do ser e da sociedade, esta
enquanto um Corpo sem Órgãos. A partir destes postulados, o trabalho objetiva não
apenas avançar no entendimento dos autores citados, como possibilitar a criação de
novas linhas de fuga e diálogos dentro do corpus destes autores. É possível crer que,
desta forma, o terreno comum aos dois autores possa ser mapeado, ainda que de forma
incompleta, dando condições para o estabelecimento de um sistema entre os autores,
salientando problemáticas comuns e abordagens diversas.
Palavras-chave: Dialética; Materialismo; Desejo; Práxis; Poiesis
48
DILEMAS MORAIS E AS PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO: A
IMPOSSIBILIDADE DA NEUTRALIDADE LIBERAL
MARCATO - Gisele Caversan Beltrami – UENP – CAPES
Seis dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal decidiram pela
constitucionalidade da Lei de Biossegurança, julgando que o art. 5º, que trata do uso
das células-tronco em pesquisas científicas não merece reparo algum. Em relação as
pesquisas com células-tronco embrionárias apesar da decisão já proferida pela Corte
Suprema, ainda há discussões, principalmente, no que tange as questões morais e
religiosas implícitas, pois não basta dizer que a lei deve ser neutra às questões
religiosas e morais. Os contrários à pesquisa se posicionam no sentido de que mesmo
com os avanços científicos que esse tipo de pesquisa traz, haverá a destruição de
embriões e isso é moralmente inaceitável. Para essa corrente de pensamento a vida
começa a partir da concepção. Em razão disso, destruir um embrião equivale a matar
uma criança. Aqueles que defendem as pesquisas se pautam nos avanços que as
pesquisas trarão à medicina e que questões religiosas e morais constituem-se em
ideologia, sendo que esta não pode limitar a ciência. E seguem afirmando que as
convicções religiosas de algumas pessoas não podem ser impostas a toda coletividade,
limitando, dessa forma, seu avanço. Essa discussão não escapa da análise da seguinte
controvérsia moral e religiosa: qual o momento em que o indivíduo passa a existir? Se
considerarmos que o embrião, mesmo que em estágio inicial, já é considerado
moralmente um ser humano, a corrente contrária às pesquisas tem a razão. Nas palavras
de MICHAEL SANDEL (2013, p. 313) “nem mesmo as mais promissoras pesquisas
científicas justificariam o aniquilamento de um ser humano”. Michael Sandel, completa
seu raciocínio acima delineado afirmando que poucos aceitariam a retirada de órgãos de
uma criança com cinco anos de idade para o uso de pesquisas científicas. Desse modo,
constata-se que, os argumentos que permitiram o uso das células-tronco, em pesquisas
cientificas não podem escapar da análise de questões morais acerca do início da vida.
O embrião destruído é um ser humano? A questão legal está intimamente ligada a
questão moral. Sendo assim, em questões que envolva vida é impossível o argumento
liberal de neutralidade entre questões legais e morais.
Palavras-chave: Moral; Células-tronco; Pesquisas Científicas
49
ASSERÇÃO, INFERÊNCIA E RAZÃO
MAROLDI, Marcelo Masson – USP – FAPESP
Robert Brandom desenvolve um racionalismo filosófico que compreende os seres
racionais como usuários de conceitos e sensíveis à "força" das razões. Uma de suas mais
importantes teses é que a semântica não pode ser investigada separadamente da
pragmática, ou seja, o conteúdo semântico se inicia com a prática, ele é instituído por
aquilo que os agentes fazem, suas atitudes uns em relação aos outros. Brandom oferece
seu entendimento da pragmática como uma teoria da asserção. Em relação à
investigação semântica, ele apresenta uma explicação a partir do conceito de inferência,
explorando o papel inferencial que um conteúdo desempenha na linguagem. O resultado
é um modelo de prática social fundada sobre o uso de asserções articuladas por
inferências. Ao mesmo tempo, Brandom sugere que essa prática deve estar vinculada a
um jogo racional. Isto é, uma prática racional é uma prática de uso de sentenças, na
forma de asserções, que expressam conteúdos inferencialmente articulados que podem
servir como razões. Tendo isto em vista, o objetivo deste trabalho é tornar clara a
relação entre os conceitos de asserção, inferência e razão. Para isso, começamos
explicando a prática assertiva e sua relação com o conceito de inferência. Em seguida,
mostramos como essa prática pode ser entendida como uma prática de dar e pedir por
razões.
Palavras-chave: Asserção; Inferência; Razão; Brandom
50
ENAÇÃO: ABORDAGEM DE PRIMEIRA PESSOA COMO MÉTODO PARA
AS NEUROCIÊNCIAS
MARTINS, João Paulo – UNESP Marília – PROPG
O presente trabalho tem como objetivo elucidar o que são metodologias de primeira
pessoa e demonstrar como elas, mais especificamente a enação, criada por Francisco
Varela e Humberto Maturana, neurobiólogos chilenos, podem servir, também, como
método para a neurociência. Essa última, a neurociência, engendra a maioria de suas
pesquisas a partir de experimentos de terceira pessoa, o que caracterizaria o mundo
como sendo algo natural e dado previamente. A partir daí tem-se uma visão de mundo
representacional e abstrata. Tentando dialogar com tal abordagem e sob a influência da
fenomenologia, mais especificamente de Maurice Merleau-Ponty, Varela e Maturana,
constituem a abordagem na enação que caracteriza ser o conhecimento provido de
experiências próprias do sujeito que está em relação com o mundo, um sujeito
encarnado ou corporificado que é autor e ator de sua realidade. Dessa forma, a visão de
mundo deixa de ser representacional e passa a ser enativa, ou seja, o mundo se dá de
acordo com a vida experiencial do próprio sujeito e não mais externa ele. Relacionando
essa abordagem enativa, de primeira pessoa, com a abordagem de terceira pessoa,
defendida pela neurociência, pode-se ter uma forma mais cabal ou completa para se ver
e estudar o homem em sua complexidade.
Palavras-chave: Enação; Neurociências; Fenomenologia; Metodologia de primeira
pessoa
51
A FILOSOFIA COMO TRABALHO SOBRE SI MESMO EM WITTGENSTEIN:
IMPLICAÇÕES ÉTICO-PEDAGÓGICAS À FILOSOFIA E SEU ENSINO.
MENDONÇA, José Carlos – UNESP Marília
O presente trabalho tem por objetivo uma reflexão que vise repensar um ‘sentido’ outro
à prática de filosofia na contemporaneidade, encarando-o como um problema filosófico.
Ou seja, por meio de uma reflexão propositiva, intenta-se ensaiar em repensar um
sentido outro à questão da ‘educabilidade’ da filosofia na contemporaneidade à luz da
concepção wittgensteiniana de filosofia como um “trabalho sobre si mesmo”, com
algumas aproximações conceituais a Pierre Hadot e Michel Foucault. Tal proposição
tem seu bojo tanto da/na experiência de um ofício, o de filosofia, e, nesta prática, aquilo
que me afeta e problematiza na relação com a filosofia: “Qual é o sentido da Filosofia, e
seu ensino, no espaço em que vivemos?”; quanto na pesquisa em andamento como
proposta ao doutoramento cuja temática é o objeto de análise. De forma mais precisa
neste trabalho, impõe-se a questão: “Qual a contribuição à própria filosofia, e, por
consequência, ao seu ensino, da concepção de filosofia como um trabalho sobre si
mesmo?”. Ao desenvolvimento da questão, propõe-se: 1) Apresentar os principais
elementos da noção de filosofia como trabalho sobre si mesmo em Wittgenstein,
circunscrevendo-a em seu contexto problemático; aproximando-a do conceito de
“Cuidado do Si”, desenvolvido por Michel Foucault e Pierre Hadot; 2) Apontar e
analisar as implicações ético-pedagógicas que a noção sinônima de filosofia traz
consigo, a saber, “trabalho sobre si mesmo”, e em que medida as mesmas são um
desafio à filosofia e ao seu ensino na contemporaneidade.
Palavras-chave: Filosofia
52
KANT E A REVOLUÇÃO DO PROBLEMA DA METAFÍSICA
MERGULHÃO, Adriano Ricardo – UFSCar – CAPES
Pretendemos expor a as possíveis interpretações sobre a conceito de tempo (Zeit)
proposto pela obra “Crítica da Razão Pura”, circunscrevendo nossa discussão ao
conjunto histórico de problemas colocados pela interpretação do filósofo Heidegger em
sua obra “Kant e o Problema da Metafísica”, localizando em sua argumentação sua
convergência e contrapontos frente à interpretação oferecida pela escola Neokantiana de
Marburgo. Assim posicionaremos, diferentes tradições filosóficas historicamente
definidas, o Neokantismo e a Fenomenologia de base existencial, e a partir desta
“situação problema” pretendemos promover um diálogo inter partes que busque
delimitar o horizonte dentro do qual a noção filosófica de temporalidade opera a partir
destas duas diferentes perspectivas teóricas, tornando mais evidente quais intenções
estariam ligadas às principais vertentes filosóficas surgidas na Alemanha ao longo
século XX. A partir deste contraponto relativo à visão geral do conceito de tempo e suas
subseqüentes apropriações, desejamos expor o desenvolvimento histórico e conceitual
desta problemática, relacionando-a ao conjunto de questões suscitadas pela proposta de
uma “Revolução Copernicana do pensamento” aos moldes epistemológicos (dos
pensadores neokantianos Cohen, Natorp e Cassirer) e fenomenológicos (i.e. Heidegger).
Como conseqüência da diferença de princípio existente entre as propostas destas
correntes de pensamento, a primeira vista irreconciliáveis, somos levados a opor o
neokantismo e a fenomenologia como “doutrinas” absolutamente distintas, interessa-nos
aqui demonstrar que esta separação é muita mais tênue do que os filósofos envolvidos
desejariam admitir, podendo ser qualitativamente compreendida como uma partilha de
caminhos intelectuais, de certo modo complementares em seus objetivos mais gerais,
tendo em vista que a “origem comum” destas tradições surgem a partir de um contexto
específico, o questionamento gnosiológico propiciado por um “retorno a Kant”, que
trata em última instancia de uma e mesma problemática, a saber, a questão do ser, pois
se a filosofia fundamenta a ciência, o conhecimento do ser é a condição de possibilidade
do conhecimento do real.
Palavras-chave: Fenomenologia, Epistemologia, Heidegger, Neokantismo
53
A MODAL LOGIC OF INDISCERNIBILLITY
MERLUSSI, Pedro – Durham University
In this presentation I will introduce a modal logic of indiscernibility developed by Décio
Krause and me (2013). I will present a two-sorted first order modal logic to deal with
indiscernibillity, enabling us to speak of objects of two different species. The intended
interpretation is that objects of one of the species obey the rules of standard S5, while
the objects of another species do not obey the standard rules of identity, but of a weaker
notion of indiscernibility instead. The basic idea is that in this "actual" world things may
be indiscernible but in another accessible world they can be distinguished in some way.
Quantum mechanics motivates the development, and α is though as indicating that in
some possible (accessible) world α is the case. So, while two quantum systems may be
entangled in this actual world, in some world, due to a measurement, they can be
discerned. Two semantics are sketched for our systems. The first is constructed within a
standard set theory (the ZFC system is assumed in the metalevel), and the inadequacies
of this semantics is enlighten. The second one is constructed within the theory of quasi-
sets, which is more in accordance with the spirit or our logic. Some further
philosophical related analyses are considered. This is our first attempt to apply modal
logics to deal with indiscernibility having the quantum domain in mind.
Palavras-chave: Indiscernibility; Non-identity; Modal logic; Barcan formula; Quasi-set
theory; Non-standard semantics
54
ANTECEDENTES BERGSONIANOS NA CONCEITUALIZAÇÃO DA
ESQUIZOFRENIA EM MINKOWSKI
MONTENEGRO, Gonzalo – UNESP Assis/Universidade do Chile
VÉLIZ, Jonathan – Universidade do Chile
Com o intuito de responder a temática do encontro, interessa-nos mostrar um ponte de
diálogo entre a filosofia e a psiquiatria na obra do médico psiquiatra Eugène Minkowski
(1885-1972). Como ele afirma nas suas obras boa parte da inspiração ao seu
pensamento provêm do filósofo francês Bergson. O nosso objetivo visa atender as
influências precisas de Bergson na conceitualização da esquizofrenia proposta por
Minkowski. Para tanto, será preciso esclarecer a importância dos conceitos de intuição e
elan vital. Segundo Minkowski a descrição clínica da psiquiatria deveria ser capaz de
penetrar nas vivências psíquicas do individuo, adicionando ao papel da razão na
determinação dos diagnósticos, os aportes do que ele nomeia de compenetração;
fazendo, com isso, evidente referência ao conceito de intuição bergsoniano. Como
sabemos, na Introduction à la métaphysique (1903) Bergson estabelece uma distinção
entre intuição e analise baseado na diferença que ele identifica entre o conhecimento do
absoluto e o conhecimento do relativo. No primeiro caso a intuição se posiciona num
ato simples dentro do objeto proporcionando um conhecimento total dele, enquanto no
segundo a análise projeta até o infinito a serie de pontos de vista com os quais tenta
atingir um objeto desde o exterior. Os dois modos de conhecimento, afirma Minkowski,
são necessários, pois segundo ele “los datos que cada uno de ellos proporciona tienen
su valor propio” (La esquizofrenia, 2001: 82). Do outro lado, a esquizofrenia é descrita
em Minkowski em termos de uma falta de contato vital com a realidade, que se mostra
na tendência ao estabelecimento de modos de aproximação estáticos que produzem
modos de razoamento notadamente matemáticos e espaciais (Le temps veçu, 1972). Em
referência direta à descrição das duas tendências vitais fundamentais que configuram a
experiência humana segundo L’Évolution créatrice (1907) de Bergson, Minkowski vai
tentar definir a esquizofrenia em termos de uma perda dos componentes intuitivos
acompanhados de um acrescentamento excessivo do exercício da inteligência e os
fatores de estabilização das relações como podem ser aqueles que se referem ao espaço
e ao cálculo.
Palavras-chave: Intuição; Elan vital; Esquizofrenia; Bergson; Minkowski
55
A VONTADE DE SEGUNDA ORDEM EM FRANKFURT
NAGATA, Paulo Tadao – UNESP – Marília
Esta comunicação pretende apresentar o conceito de vontade de segunda ordem como
estado mental que se sobrepõe à vontade de primeira ordem, conforme exposto por
Harry Frankfurt no seu ensaio “Liberdade da Vontade e o Conceito de Pessoa”.
Segundo Harry Frankfurt, um indivíduo só pode ser conceituado como pessoa se
possuir vontade livre em suas ações, isto é, capacidade de decidir conscientemente o
que quer fazer. A vontade, porém, é um termo dado a ambiguidades não facilmente
discerníveis numa definição superficial simples. Assim vontade pode ser interpretada de
diferentes maneiras de acordo com o nível de investimento cognitivo que ela demanda
como faculdade de um ser vivo. Pode-se dizer, por exemplo, que um animal não
humano também tem vontade, pois existe nele a vontade de comer, de copular para se
reproduzir, de atacar outro animal, de fugir de outro animal, etc., que o fazem decidir
por realizar uma ação. Esse tipo de vontade primária, porém, situa-se em um nível que é
comum a todos os animais, e a essa vontade Frankfurt chama vontade ou desejo de
primeira ordem. A vontade de segunda ordem seria a vontade possível apenas a seres
humanos capazes de reflexão inteligente sobre si mesmos, sendo assim a vontade capaz
de refletir e decidir sobre se quer ter ou não uma vontade de primeira ordem.
Palavras-chave: Vontade; Primeira ordem; Segunda ordem
56
DISCUTINDO LEITURAS ACERCA DE INSTITUIÇÕES SOCIAIS E CRÍTICA
À NOÇÃO DE FEMININO EM DELEUZE, BOURDIEU E TARDE.
NASCIMENTO, Roberto Duarte Santana – UNESP Assis - FAPESP
A crítica à noção de feminino não é uma problemática isolada na filosofia de Gilles
Deleuze. Acreditamos ser algo que, tendo em vista diferentes conexões conceituais ao
longo de sua obra e as ressonâncias destas com algumas ideias que nos aportam autores
de diferentes domínios, pode ser pensado de maneira original, desvencilhando-se das
naturalizações correntes no senso comum. É neste sentido que pretendemos evidenciar e
desenvolver nesta pesquisa o diálogo entre Deleuze e os sociólogos Pierre Bourdieu e
Gabriel Tarde. Com efeito, se, quando considerada em uma perspectiva geral, a
sociologia bourdieusiana pode ser considerada “demais molar” para “seduzir” Deleuze,
como sugerem Sasso e Villani (2003), no que toca a ideia de construção social do
feminino e a relação de desqualificação entre os sexos, entretanto, o esforço de
percepção de Bourdieu ajuda-nos a adentrar na sutileza de hábitos, práticas e
simbologias que reproduzem certa ideia de feminino no correr de diferentes épocas. E,
de outro lado, se Bourdieu contribui para enriquecer nossa leitura do texto deleuziano,
levando a certos temas desta filosofia o problema concreto e urgente da dominação a
que diferentes mulheres estão subjugadas frente a uma organização social androcêntrica,
acreditamos que Deleuze, por sua vez, pode levar aos textos bourdieusianos
instrumentos para repensar a problemática enunciada, considerando-a para além de
supostos determinismos sociológicos, uma vez que alcança, sob a binaridade das
grandes estruturas, sua molecularidade produtora irredutível. A possibilidade deste
diálogo entre os autores se torna mais consistente quando consideramos a relevância que
Deleuze atribui à microssociologia de Gabriel Tarde, cuja parceria teórica é um
importante intercessor para se pensar o feminino como um produto histórico oriundo de
determinada confluência entre fluxos inconscientes e o regime de organização social.
Em nossa comunicação, não pretendemos apresentar resultados finais, mas discutir e
colher ideias dos pontos que estão em desenvolvimento. Tal pesquisa de pós-doutorado
é financiada pela Fapesp.
Palavras-chave: Gilles Deleuze; Pierre Bourdieu; Gabriel Tarde; Feminino;
Instituições sociais
57
A MENTE NATURAL NA PERSPECTIVA ECOLÓGICA
NUNES, Antonio Sergio da Costa - UNESP/UFPA
Faremos um breve recorte sobre o conceito de Mente Primigênia em Vico, filósofo do
séc. XVII, e a novíssima Filosofia Ecológica, na tentativa de estabelecermos pontos de
contato entre essas duas áreas e verificar a possibilidade de um paralelismo naquilo que
podemos verificar de interrelação entres elas. Pretendemos, a partir de uma radiografia
constitutiva da mente primigênia no seu nível mais básico, rudimentaríssima e
puramente sensitiva como proposta de elucidação e problematização da percepção-ação
nos seus nichos e affordances, como bem preconiza Gibson. Bem como, faremos o
recorte interdisciplinar no qual será possível traçar as diversas relações existentes com a
ciência da Cognição, no que diz respeito à linguagem, percepção, memória e o
confronto entre metodologias na prática do fazer científico. Apontaremos a necessidade
de uma nova abordagem através da ordem do certum, como do Princípio da Incerteza de
Heisenberg e a necessidade de se redirecionar o enfoque acerca da mente,
independentemente de um antropocentrismo.
Palavras-chave: Mente primigênia; Certum; Affordance; Complexidade
58
LINGUAGEM, REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE E EXISTÊNCIA: A
CAPACIDADE DE DAR SIGNIFICADO AO MUNDO NA FILOSOFIA DA
LINGUAGEM DE LUDWIG WITTGENSTEIN
Karina da Silva Oliveira – UNESP Marília - CAPES
Esta comunicação pretende discorrer acerca da relação entre representação da realidade
e existência mediada pela linguagem, tendo em vista, as dificuldades envolvidas em
compreender a relação entre denominações e significação à luz das Investigações
filosóficas (1953) de Ludwig Wittgenstein. Neste sentido, pretende-se situar a
problemática em que se insere o significado de um signo, bem como a relação destes
signos entre sua representação da realidade mediada pela linguagem, pois não está
relacionada apenas ao objeto que este signo nomeia, mas também ao uso (Gebrauch)
que se faz deste nome em determinadas situações. Oferecemos argumentos que
representam, com efeito, problemas desenvolvidos sobre uma dimensão do conceito de
uso empregado para os objetos em determinadas proposições que possibilitam conferir a
significação (Bedeutung) da palavra na linguagem. Trata-se, portanto, de uma
reconstrução de conceitos da segunda fase de Wittgenstein a respeito da gramática, cujo
propósito é justificar e explicar os elos semânticos entre a linguagem e a realidade no
quadro argumentativo das Investigações Filosóficas. Trataremos da investigação acerca
da linguagem e sua capacidade de dar significado ao mundo através da relação entre
aquele que conhece e dá sentido ao mundo e aquilo que recebe significado justamente a
partir desta atividade. Neste sentido, pretende-se situar a problemática em que se insere
o significado de um signo, pois não está relacionado apenas ao objeto que este signo
nomeia, mas também ao uso que se faz deste nome em determinadas situações, o uso
empregado para os objetos em determinadas proposições e que vai conferir significado a
palavra.
Palavras-chave: Linguagem; Signo; Uso; Significação
59
MODELOS COMPUTACIONAIS SITUADOS E INCORPORADOS: UMA
QUESTÃO DE ARQUITETURA MECÂNICA.
PANTALEÃO, Nathália Cristina Alves – UNESP Marília - FAPESP
O objetivo do presente trabalho é analisar o projeto de pesquisa da Nova Robótica que
pretende construir modelos computacionais autônomos capazes de agir no mundo sem a
mediação constante de representações. Nesse sentido tal movimento, liderado por
Rodney Brooks, desenvolve uma crítica ao representacionismo da Inteligência Artificial
que considera equivalentes a cognição, a inteligência e o raciocínio simbólico regido
por regras. Ao se distanciar dos pressupostos que orientam a construção de modelos
computacionais na Inteligência Articial tradicional, Brooks (1990) considera que para
uma modelagem efetiva e satisfatória dos processos cognitivos, é necessária uma nova
concepção de arquitetura computacional. Assim, Brooks sugere uma Arquitetura de
Subsunção, segundo a qual os modelos seriam construídos em camadas reativas, ou
seja, cada camada física constituinte do modelo estaria diretamente relacionada com o
meio e decidiriam quando agir. As camadas são reativas por si mesmas, dada a maneira
específica em que foram construídas e também à amplitude e flexibilidade da linguagem
de programação utilizada no desenvolvimento do código-fonte do modelo. Nesse viés,
as ações e o desempenho do modelo não são totalmente previstos pelo programador,
mas dizem respeito à amplitude de seu algoritmo. Por fim, procuraremos analisar em
que medida as contribuições de Brooks somam algum avanço ao projeto da Inteligência
Artificial.
Palavras-chave: Modelos computacionais; Inteligência Artificial; Linguagem reativa;
Arquitetura de subjunção; Cognição situada e incorporada
60
NOTAS PARA UMA COMPARAÇÃO CRÍTICA ENTRE MARCUSE E
ALTHUSSER
PARRA, Eduardo Barbosa – UNESP Marília – CAPES
A noção de Marxismo Ocidental apregoada por Perry Anderson ajuda-nos a entender
todo o distanciamento ocorrido das gerações após Gramsci do marxismo revolucionário.
A aproximação do debate para com a ciência burguesa fez com que esses marxistas, em
geral ligados à academia burguesa, cada vez mais trouxessem influências exteriores ao
marxismo, amalgamando teorias de essência completamente distintas do materialismo
dialético ao seu arcabouço teórico. O próprio Anderson admite a possibilidade de
assimilação de outras teorias ao corpus teórico do marxismo, porém, apenas na medida
em que essas teorias sejam integradas de maneira crítica, isto é, sejam dialeticamente
incorporadas (ou, utilizando de um vocabulário hegeliano, “suprassumidas”) ao
materialismo. Nessa perspectiva, o presente trabalho possui o objetivo de analisar
brevemente as formulações de Louis Althusser e de Hebert Marcuse sob o crivo dessa
crítica ao marxismo ocidental elaborada por Anderson, em linhas gerais trata-se de
analisar como as miscelâneas teóricas implementadas por nossos autores acabam por
despontencializar revolucionariamente suas próprias formulações, perdendo o sentido
da práxis e tornando-se teorias meramente acadêmicas. Em particular, analisaremos a
influência da assimilação da teoria Freudiana em ambos os autores a fim de verificar em
que medida essa afeta, dirige e deturpa o próprio marxismo existente em nossos
filósofos. Os conceitos centrais que serão analisados para este fim são: a possibilidade
ou não da realização de uma revolução social; que tipo de instituição uma possível
revolução deveria engendrar; e qual o real alcance da emancipação humana. Na
comparação entre os autores veremos uma postura que desacredita (Marcuse) e outra
que assume (Althusser) a possibilidade de revolução, uma que critica veementemente a
existência de Estados burocratizados (como o existente na URSS) e a outra que
considerava essa forma política como absolutamente necessária, e, por fim, veremos
uma teoria defendendo a possibilidade de uma emancipação humana plena e irrestrita
enquanto uma segunda considera que a ideologia e o equívoco da consciência são coisas
inerentes aos seres humanos. Todos os apontamentos feitos nesse trabalho pretendem
ser apenas notas introdutórias e preliminares acerca do tema.
Palavras-Chave: Marxismo Ocidental; Marxismo revolucionário; Freud; Revolução;
emancipação humana
61
UMA REFLEXÃO ÉTICA ACERCA DO PROJETO TRANSHUMANISTA
PEREIRA, Paulo Henrique Araújo Oliveira – UNESP Marília – CAPES
O objetivo desse trabalho é discutir o avanço dos ideais transhumanistas sob o viés da
noção de moral distribuída. De acordo com Nick Bostrom (2003), o transhumanismo
consiste numa abordagem interdisciplinar que engloba conhecimentos de diversas áreas,
tais como, robótica, genética e nanotecnologia. O objetivo do projeto transhumanista é o
aprimoramento humano. Esse aprimoramento ocorre de várias formas, quais sejam:
evitando doenças, dores, mortes desnecessárias e, por outro lado, promovendo um alto
aumento da expectativa de vida até a quase imortalidade, além de melhorar outros
aspectos da vida humana: intelectual, atenção, capacidades físicas, sociais, memória.
Entretanto, entendemos que o avanço desses ideais pode trazer sérias consequências, já
que pode alterar radicalmente o modo do ser humano viver e existir. Para discutir esses
problemas éticos nos pautaremos na noção de moral distribuída elaborada por Luciano
Floridi (2013). Por moral distribuída Floridi concebe a responsabilidade compartilhada
entre todos os agentes capazes de desempenhar ações que tenham impactos no ambiente
e na vida de seres vivos. Embasados nesta noção poderíamos afirmar que somos
responsáveis pela preservação da natureza e dos seres vivos. Em outras palavras, as
ações seriam avaliadas da perspectiva de quem as recebe, de quem sofre suas
consequências, não daquela de quem as realiza. Floridi (2013) também ressalta a
existência de facilitadores morais, tais como, liberdade de expressão, respeito, confiança
e transparência, que colaboram com a promoção da moral distribuída. Por outro lado, a
noção de moral distribuída também reserva um desafio: descobrir quais valores e qual
sociedade serão implementados. Nesse sentido, refletindo sobre diversos mundos
possíveis, será que queremos nos tornar transhumanos?
Palavras-chave: Transhumanismo; Moralidade distribuída; Facilitadores morais
62
A FORMAÇÃO EM FILOSOFIA: TRADIÇÃO VERSUS HETERODOXIA
PERENCINI, Tiago Brentam – UNESP Marília – FAPESP
Neste trabalho proponho considerações acerca do seguinte problema: Como
determinados cursos de graduação em filosofia no Brasil compreendem a relação entre o
ensino e o aprendizado da filosofia, bem como entre a leitura e a escrita de texto
filosófico? Cartografo os projetos pedagógicos dos cursos de filosofia da Usp, Unicamp
e Unesp com o objetivo de mostrar as escolhas teóricas determinadas que vigoram
nesses documentos e, sobretudo, a fim de problematiza-las quando a formação em
filosofia é compreendida de maneira diferente em registros de pensamentos como os de
Hadot (1995) e Foucault (1983). Esses autores afirmam que houve, dentro da história da
filosofia, uma dupla interpretação acerca do modo de fazer filosófico. A primeira, mais
tradicional, relega o exercício filosófico à manipulação epistemológica do rigor
discursivo e da verdade como uma finalidade a ser atingida universalmente. A segunda,
mais heterodoxa, abrange a filosofia como um exercício de espiritualidade, uma espécie
de experimentação de si. A hipótese que trago para a verificação sugere que impera nos
cursos em filosofia do Brasil o primeiro e mais tradicional modo de compreensão.
Perquiro ao longo de todo o texto várias amostras sobre como essa opção teórica é
limitada quando a pretensão é ensinar e aprender a filosofia, bem como poderia ser mais
abrangente se o intento é a leitura e a escrita do texto filosófico. Como tese central,
afirmo que o ensino, aprendizado, leitura e/ou escrita da filosofia exigem uma
intervenção filosófica de si para consigo mesmo e com o outro, por parte daquele quem
experimenta essas relações.
Palavras - Chaves: Formação em Filosofia; Ensino e aprendizado da Filosofia; Leitura
e escrita do texto filosófico; Michel Foucault; Pierre Hadot
63
ROUSSEAU CONTRA MOLIÈRE: O TEATRO CÔMICO E SEUS LIMITES
NO SÉCULO DO ILUMINISMO.
PERIN, Diego Rodriguez – UNESP Marília
No século XVIII, em solo francês, desenvolveu-se uma nova forma de enxergar os
espetáculos teatrais. O partido dos filósofos, liderado por Diderot, via na cena dramática
uma forma de continuidade da Enciclopédia. Esta, apesar de ser um foco de resistência
contra uma maneira de pensamento dominante no antigo regime possuía limitações
evidentes, tais como a dificuldade de leitura e mesmo a associação dos verbetes a uma
possibilidade de enfrentamento ao absolutismo. O teatro, assim, configurava-se como
um instrumento capaz de atingir cada vez mais pessoas. Em uma única apresentação,
mais espectadores estariam presentes do que os leitores de um ano inteiro da obra
enciclopédica. A comédia era por sua vez muito bem recebida pelos intelectuais do
período. Tida como capaz de criticar os vícios de costume para posteriormente corrigi-
los tinha seu apogeu com um autor do século XVII: Molière. Considerado por todos a
perfeição cômica do teatro francês, único autor capaz de atingir o logro defendido pelos
filósofos. Ocorre que Rousseau produziu um libelo contra o teatro praticado na França e
contra a instalação de uma casa de espetáculos em sua república natal, Genebra. Foi o
primeiro pensador a romper com seus interlocutores da Enciclopédia, pois via nos
espetáculos, além de uma total falta das perspectivas encontradas pelos outros
pensadores, algo de extremo perigo, sobretudo nas comédias, onde não são os vícios os
criticados, mas sim todos os valores que ainda podem, em uma sociedade corrompida,
ser considerados moralmente bons. O pensador em questão toma Molière como também
o símbolo de uma perfeição cênica e justamente por este motivo, o mais perigoso dos
autores, que não somente não é capaz de alterar qualquer forma de ação social contra o
absolutismo, mas que também oferece um padrão de perniciosidade aos espectadores,
visto que suas lições sempre visam punir os honestos e premiar os seres vis tornando os
espetáculos uma escola de maus costumes e que apenas piora os males políticos do
absolutismo.
Palavras-chave: Rousseau; Molière; Teatro; Política
64
DIREITO E DESENVOLVIMENTO EM AMARTYA SEN: DO
DESENVOLVIMENTO COMO LIBERDADE A TEORIA DE JUSTIÇA
PRECIPITO, Lis Maria Bonadio - UNIVEM – CAPES
O presente artigo tem como objetivo trazer contribuição acerca da relação entre as
concepções de Desenvolvimento como Liberdade e Justiça em Amartya Sen. O artigo
será desenvolvido por uma pesquisa eminentemente bibliográfica de caráter qualitativo,
pelo método hipotético-dedutivo. Amartya Sen parte da teoria de Justiça Distributiva de
John Rawls (criticando-a e ao mesmo tempo a tomando como parâmetro) para conceber
o desenvolvimento como liberdade e, em seguida, sua “Ideia de Justiça”. O
desenvolvimento teria como meio e fim a expansão das liberdades essenciais dos
indivíduos. Nesse entendimento, a importância das liberdades essenciais (entendidas
pelos utilitaristas como bens primários) é que atuam como parâmetro para avaliações
comparativas e como determinante da iniciativa individual na análise do
desenvolvimento de uma determinada sociedade. Com efeito, dispor das liberdades
essenciais faz com que as pessoas se livrem de penúrias (que aumentam as
desigualdades) e, consequentemente, diminui as injustiças. Em última instância, justiça
e desenvolvimento como (e com) liberdade para Amartya Sen são concepções muito
próximas pois para sua promoção demandam o aumento do exercício das (e do acesso
às) liberdades essenciais. Desta forma, conclui-se que quanto mais desenvolvida uma
sociedade é, mais liberdades os indivíduos tendem a exercer, sofrendo então menos
penúrias e privações e diminuindo as desigualdades no acesso e no exercício das
liberdades essenciais (que são também direitos), portanto quanto mais desenvolvida,
mais justa a sociedade tende a ser.
Palavras-chave: Desenvolvimento Como Liberdade; Amartya Sen; Direito ao
Desenvolvimento; Função Promocional do Direito
65
PARALAXE MORAL: A ILUSÃO DA CERTEZA
QUINTANILHA, Flavia Renata
O atual trabalho se propõe em apresentar o problema sobre paralaxe moral através da
análise do artigo de Anscombe: Filosofia Moral Moderna. A crítica apresentada por
Anscombe à estruturação da obrigação moral e à inadequada utilização do termo “dever
moral” será o fio condutor de nossa análise. Através de sua defesa sobre a avaliação
moral do justo ou injusto depender diretamente de uma linguagem que recorra a termos
precisos, procuraremos demonstrar que o equívoco cometido tanto pelo utilitarismo
quanto pelo voluntarismo está em considerar a palavra dever num sentido moral unido a
exigência da ação resulta em uma obrigação exigida por um legislador divino. Segundo
Anscombe, “a busca por “normas” pode levar alguém a olhar para as leis da natureza,
como se o universo fosse um legislador”, ocasionado por uma espécie de paralaxe
moral, ou seja, ao se considerar a existência de uma “lei divina natural” pressupõe-se o
conhecimento do bem e do mal, mas não garante com isso que se chegue a uma noção
de justiça. Bem como, considerar o injusto como moralmente errado não possui uma
base ética a não ser uma força psicológica. O que deve ser feito em determinadas
situações não implica em medir suas ações contra uma noção comum de necessidade.
Para Anscombe questões de justiça tem como primazia o entendimento, atribuindo a
relevância ao contexto para ações éticas.
Palavras-chave: Anscombe; Paralaxe Moral; Ética do Discurso
66
A NOÇÃO DE DURAÇÃO NO SEGUNDO CAPÍTULO DO “ENSAIO SOBRE
OS DADOS IMEDIATOS DA CONSCIÊNCIA”, DE HENRI BERGSON
RIBEIRO, Eduardo Soares – UFSCar – CAPES
No presente trabalho iremos expor o desenvolvimento da noção de duração tal como
aparece no segundo capítulo do “Ensaio sobre os dados imediatos da consciência”,
primeiro livro de Henri Bergson (1859-1941), publicado em 1889. Este conceito será de
fundamental importância para toda a obra posterior do filósofo francês e, aqui,
propomos evidenciar de que maneira ele surge no pensamento bergsoniano e qual é seu
lugar preciso no “Ensaio”. Bergson afirma que a duração, ou o tempo real, é o dado
imediato da nossa consciência, é aquilo que há de mais fundamental em nossa
experiência. Com efeito, Bergson afirma que nossos estados de consciência se
desenrolam numa continuidade de interpenetração; tal interpenetração, que se dá no
tempo, se opõe à justaposição desses estados no espaço. Se trata de uma multiplicidade
de estados heterogêneos em um único continuum de consciência. Contudo, no intuito de
chegar a esse fundamento mesmo de nossos estados psíquicos, é necessário purificar o
tempo, ou em outras palavras, diferenciar a duração do espaço, o tempo real do tempo
espacializado para, assim, apreendermos a duração de nosso próprio eu tal como ela se
apresenta a uma consciência pura. Será preciso distinguir, portanto, a sucessão da
simultaneidade, a qualidade da quantidade, o heterogêneo do homogêneo e a
experiência da linguagem.
Palavras-chave: Duração; Consciência; Espaço
67
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOCRÁTICAS SOBRE O ERRO MORAL NO
DIALOGO PROTAGORAS
RICARDI, João Roberto Vale – UNESP Marília – CAPES
Pretendemos apresentar um dos argumentos no diálogo socrático Protágoras que
corrobora para a demonstração da necessidade e suficiência do conhecimento nas ações
morais. Este argumento se compõe da constatação de que o erro moral (kakia), que é
contrário à virtude (arete), não se justifica pela ação acrática (akrasia), mas apenas pela
ignorância (amathia) ou poder da aparência (phainomenou dýnamis). Deste modo,
Platão nos afirma que é impossível alguém possuir o conhecimento de certa ação moral
(phronesis) e, assim mesmo, agir viciosamente (kakia) – Prot. 357 e. Portanto, aquele
que possui o conhecimento (phronesis) deve necessariamente agir segundo a virtude
(arete), adquirir os bens (agatha) de que carece - Prot. 358 d. Platão constrói, então, este
argumento segundo duas evidências. A primeira delas diz que é da natureza da alma
(psyche) humana agir conforme dois movimentos fundamentais, a saber, mover-se em
direção àquilo que é bom (agathon), afastar-se daquilo que é mau (kakon) (Prot. 354 c3-
5). Em segundo lugar, a akrasia se tornará incongruente com a veracidade destes
movimentos fundamentais, pois seria absurdo alguém cumprir uma ação má, sabendo
que é má; portanto, estaria agindo de modo contrário à própria natureza da alma (Prot.
358 d). Evidencia-se, assim, que o erro moral é explicado não por uma falta de
movimento (akrasía), mas por um estado psíquico denominado poder da aparência
(phainomenou dynamis) – Prot. 356 d; isto é, uma ignorância (amathia) das ações que
envolvem o bem e o mal. Neste ponto, podemos observar que uma das estratégias de
Platão em prol do conhecimento na ação moral perpassa por uma teoria de psicologia,
de uma investigação das funções e estados da alma humana.
Palavras-chave: Socratismo; Erro Moral; Alma; Ação Acrática; Ignorância
68
MIMESE E SEMELHANÇA NO ENSAIO “A OBRA DE ARTE NA ÉPOCA DE
SUA REPRODUTIBILIDADE TÉCNICA”.
RODRIGUES, Franceila de Souza – UNIFESP - CAPES
O objetivo que aqui se persegue é o de estabelecer um caminho histórico de leitura, com
base no ensaio “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica”, sobre a
importância que os conceitos de mimese e semelhança assumem para a reflexão estética
e para a filosofia da arte de Walter Benjamin. A relevância da mimese para a reflexão
estética benjaminiana provém de escavações históricas que sugerem, nas palavras de
Miriam Hansen, uma perspectiva “histórico-antropológica” do conceito. Como nos
recorda Luciano Gatti, essa “recuperação de elementos antropológicos, associados ao
corpo humano como órgão de percepção e expressão”, encontra sua gênese na crítica
aos substratos representativos, ou seja, puramente imitativos da mimese. A proposta de
reavivamento do conceito de mimese por Benjamin vincula-se à necessidade de
constituir parâmetros de “percepção e recepção” aptos a desbravar as possibilidades
criativas e emancipatórias na inter-relação do homem com a natureza e com a técnica
moderna. Ou seja, com o retorno às referências “histórico-antropológicas”, Benjamin
pretende realizar a defesa, frente ao sentido de mimese como pura imitação, de
parâmetros estéticos mais próximos de um caráter experimental. Nesse sentido, é
importante entendermos que o conceito de mimese benjaminiano apresenta dois
momentos centrais: a percepção e a produção de semelhança, dois processos diferentes,
mas correspondentes, dos quais podemos extrair a significação do conceito de mimese
na teoria cinematográfica de Walter Benjamin.
Palavras-chave: Aura; Mimes; Semelhança
69
O SIGNO EM DELEUZE: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A APRENDIZAGEM
NA OBRA PROUST E OS SIGNOS
ROSA, Sara Morais da - UNESP Marília – FAPESP
A investigação que gostaríamos de apresentar neste trabalho, e que de algum modo é
uma problemática que pode abarcar questões concernentes às reflexões acerca do
ensino e da aprendizagem da filosofia, se desenvolve em torno da noção de signo em
Deleuze. Nosso interesse neste estudo reside em compreender, a partir do encontro
entre o pensamento deleuzeano e a obra À La recherche du temps perdu, do escritor
francês Marcel Proust, o alcance da noção de signo para a compreensão da
aprendizagem filosófica. Desse modo, nossa tarefa consiste em verificar,
cartograficamente, na obra deleuzeana “Proust e os signos” (2003) a presença de uma
“teoria dos signos” , a qual possa oferecer-nos saídas fortuitas para alguns problemas
caros ao ensino de filosofia. Nossa hipótese é que na elaboração da noção de signo,
proposta por Deleuze, resida uma nova forma de pensar este aprendizado, uma vez que
para o filósofo francês o signo, efeito de um encontro, é o que exerce sobre nós uma
força violenta que nos dá a pensar , e nos força irredutivelmente a buscar por um
sentido, o que se diferencia grandemente das bases do pensamento “dogmático” que
atua e se erige (nas relações com o saber ) como mera recognição.
Palavras- chave: Deleuze; Signo; Aprendizagem; Filosofia
70
A CONCEPÇÃO DE LEI EM J-J. ROUSSEAU.
SABINO, Camila Barbosa – UNESP Marília - CAPES
O trabalho parte do questionamento de Jean Jacques Rousseau acerca da existência de
leis, no estado natural e suas características, no estado social. O objetivo é compreender
a ideia de lei em cada um desses contextos, por isso, vale ressaltar que um dos desafios
é entender a mudança no conceito da lei descrito por Rousseau no Discurso sobre a
Desigualdade dos Homens, quando da passagem do Estado Natural para o Estado Civil.
Assim, faz-se necessário, num primeiro momento, apresentar as condições de vida no
estado de natureza, destacando as características das leis aplicáveis ao homem
primitivo. Em um segundo momento, pretende-se mostrar o rompimento do homem
com a natureza e o surgimento das desigualdades como consequência da “evolução” da
humanidade. Por fim será feito um exame da obra O Contrato Social para destacar a lei
civil como uma forma de superação da corrupção humana, tendo em vista que ela é
construída através da participação social ou vontade geral. Dessa forma, enquanto a lei
natural decorre da condição primitiva do homem, a lei civil é o resultado de um esforço
pessoal e coletivo do homem social para superar a corrupção através da união (pacto
social), da consciência coletiva (vontade geral) e da responsabilidade moral (obediência
à lei).
Palavras-chave: Lei Natural; Lei Civil; Natureza; Homem primitivo; Vontade Geral
71
CONTROLE DOS CORPOS FEMININOS: O USO DA CIÊNCIA E O NEWS
SELLER
SANTIAGO, Clara Guimarães – Universidade Federal do ABC – FAPESP
Essa pesquisa se pretende a realizar uma análise feminista das matérias direcionadas ao
público feminino no jornal News Seller que circulou no ABC Paulista entre os anos de
1958 e 1968, e a partir dessa data foi rebatizado de “Diário do Grande ABC”, jornal
ainda distruibuído na região. Nosso principal referencial teórico é o filósofo Michel
Foucault e para isso nos propomos a fazer uma genealogia, apontando suas rupturas e
principais discursos apresentados no jornal. Para esta comunicação teremos como
recorte o uso da ciência como legitimação dos discursos para controle dos corpos
femininos, apresentaremos uma ruptura que encontramos logo após a instauração do
golpe militar, e neste contexto, como se configurou os artigos escritos às mulheres e
como o discurso científico passou a ser incorporado, principalmente, nas matérias de
saúde. Foucault aponta o nascimento da medicina científica como uma forma de
controle social, pois este inicia pelo corpo. A medicina, diante deste contexto, poderia
ser entendida também como um mecanismo de controle disciplinar e é através da prática
médica e do controle do corpo que os discursos machistas são perpetuados também,
sejam na definição do que é saudável ao corpo feminino, nas práticas obstetrícias e em
alguns casos na “normalização” da violência. Discutiremos as técnicas do poder, as
hierarquizações que fazem parte desse contexto, e como se dão essas relações dentro de
uma epistemologia feminista. Nesse sentido, buscamos compreender qual o papel da
imprensa feminina, dos discursos produzidos pelo News Seller para controle dos corpos
das mulheres, será que podemos dizer que esses discursos cientificados se instauram de
forma a legitimar a submissão feminina? Essa pesquisa faz parte de um projeto de
mestrado inserido em um programa de pós-graduação interdisciplinar em filosofia
também, é financiado pela Fapesp e está em fase de conclusão.
Palavras-chave: Feminismo; Ciência; Controle dos corpos; Foucault, Genealogia
72
NEOPLATONISMO E NATURALISMO NOS SÉCULOS XVI E XVII E AS
ORIGENS DA DICOTOMIA FATO-VALOR.
SANTINI, Guilherme José - Faculdade de São Bento de São Paulo
O objetivo deste trabalho é, num primeiro momento, apresentar a relação entre o
reavivamento do neoplatonismo e o desenvolvimento da ciência nova nos séculos XVI e
XVII, isto é, do Renascimento ao início da Modernidade; especialmente, como essa
imbricação entre neoplatonismo e naturalismo proporcionou o esvaziamento
ontológico-metafísico da cosmovisão ou Weltanschauung ocidental por meio de uma
concepção matematizante do logos. A essa concepção, própria do naturalismo
mecanicista, pela qual o homem aperfeiçoou seu controle da natureza, se seguiu o
turning point epistemológico, da realidade exterior para a subjetividade individual como
ponto de partida do conhecimento, do qual já se tem falado muito; mas, todavia, se
seguiu também a separação entre a ciência do physis e a ciência do ethos, nas palavras
de Lima Vaz, ou senão, dito de outro modo, a dicotomia entre fato e valor, segundo
Putnam, cisão que teve por resultado imediato a tentativa de aplicar o novo método
científico da physis mecanicamente concebida à ciência do ethos para fundar uma Física
da Moral. Refletir sobre as origens dessa dicotomia, presente até nossos dias,
preocupação primaz dos filósofos hermenêuticos desde o século XIX até hoje,
constituirá, portanto, o segundo momento deste trabalho.
Palavras-chave: Filosofia do Renascimento; Origens da Ciência Moderna; Ethos da
Modernidade; Dicotomia fato-valor
73
DO SILÊNCIO AO GRITO: A OBRA DO CINEASTA INGMAR BERGMAN À
LUZ DA FILOSOFIA DE NIETZSCHE
SANTOS, Felipe Thiago dos - UNESP Marília - FAPESP
Dentro do horizonte interdisciplinar reclamado por essa pesquisa, pretende-se dialogar
as personagens bergmanianas com a filosofia de Nietzsche, mais especificamente com o
conceito de niilismo presente na obra tardia do filósofo. Niilismo, definido como a
desvalorização dos valores instaura-se, para Nietzsche, como dinâmica do fluxo da
história. Assim, o filósofo reconhece algumas fases do niilismo: a negativa, a reativa, a
passiva e, num estado de transvaloração dos valores, a ativa. Ora, Nietzsche pensava ser
o raio que precedia a tempestade, aquele que afirmara a vinda do além-homem, porém,
o século XX chegou e não trouxe o homem almejado pelo filósofo. Tal constatação
toma espaço na obra de Bergman. Reconhecemos nos filmes do cineasta, desde suas
obras iniciais (‘Tormenta’ – 1944, ‘Crise’ – 1945 e ‘Prisão’ – 1949’) até sua produção
de maturidade (‘Gritos e Sussuros’ - 1972, ‘Face a Face’ - 1976, ‘Sonata de Outono’ –
1978), a incapacidade humana de afirmar-se em um mundo sem fundamento em que a
religião, a família, a filosofia, a ciência, o progresso, a história e o dinheiro não são
legitimadores suficientes para que o homem possa não sucumbir à falta de um
fundamento único para a vida. Traçaremos um caminho que não abarcará toda obra de
Bergman, mas que contemple todas as décadas de sua produção. Mostraremos, assim, a
relação de opressão de suas personagens frente às instituições, tal como o silêncio de
Deus, a crise da identidade e a impossibilidade da harmonização das relações amorosas.
Imersas nesses estados agonizantes as personagens bergmanianas ou enlouquecem ou
perdem o eixo de gravidade responsável pela manutenção da vida, mais do que fracas,
perceberemos como elas são niilistas e como tal niilismo esgarça as relações dessas
personagens com o mundo ao seu redor. Pretende-se mostrar, ainda, que Bergman
recorre à arte, tal como Nietzsche, como possibilidade de saída dum niilismo opressivo,
tal como se vê em ‘Noites de Circo’ – 1953 e ‘O Silêncio’ – 1963.
Palavras-chave: Bergman; Cinema; Nietzsche; Niilismo
74
ALGUMAS REFLEXÕES EM TORNO DAS APROXIMAÇÕES E DOS
DISTANCIAMENTOS ENTRE “FUTURISTAS” E “REGIONALISTAS” NO
NORDESTE DOS ANOS DE 1920
SANTOS, Héder Junior dos – UNESP Assis
O “regionalismo nordestino” e o “futurismo” (ou reverbérios no Nordeste do
modernismo capitaneado no eixo Rio-São Paulo) possuem cada qual, nos dias atuais,
uma vasta e significativa fortuna crítica que muito contribui para o esclarecimento de
suas matrizes estéticas, políticas e sociais, sendo o primeiro ainda mais contemplado.
Todavia, os mencionados movimentos artísticos e políticos ainda não provocaram novos
trabalhos que se dispusessem a interpretá-los conjuntamente, numa achega comparativa,
em função das “fabricações de Brasil” que dão sustentação ao cabedal discursivo
emanado pelos grupos em peleja. Observando tal lacuna, justifica-se, ainda agora, o
interesse que determinou, primeiramente a idealização e, posteriormente, a execução
deste estudo comparado, cuja proposição de trabalho recai, prioritariamente, em torno
da presença do jornalista Joaquim Inojosa e do sociólogo/antropólogo Gilberto Freyre,
chamados à baila em função das convergências, mas sobretudo, das divergências para
com os destinos da nação, em especial, no que toca o terreno histórico no qual se arranja
a cena argumentativa dos autores. Dessa forma, o objetivo essencial deste estudo é
examinar comparativamente as propostas estéticas e políticas dos dois grupos
intelectuais surgidos no Nordeste dos anos de 1920, aquele dos “futuristas” e aquele dos
“regionalistas”. Partimos do pressuposto de que os dois movimentos, mesmo que
liderados por intelectuais díspares, ao proporem leituras do país, comportam e
congregam uma inquietação com os rumos que a modernidade conservadora e periférica
assumia no Brasil. Os estilos diferentes de inteligir a história brasileira e comentá-la
mostram as distintas concepções dos autores sobre a política e, consecutivamente, sobre
a estética. Sendo assim, nossa discussão almeja apontar para o modo como seus
discursos, mesmo que organizados de forma contrastiva, se querem de renovação
cultural no início do século XX e almejavam alcançar o mesmo alvo: aprofundamento
da consciência nacional.
Palavras-chave: Arte e sociedade; Futuristas e regionalistas; Cosmopolitismo e
localismo
75
O CONCEITO DE AFETO EM FREUD E UMA POSSÍVEL RELAÇÃO COM
OS PROCESSOS COGNITIVOS
SANTOS, Iraceles Ishii dos – UNESP Marília - CAPES
Nota-se em discussões filosóficas certa predominância de uma compreensão
dissociativa entre cognição e afeto, ou melhor, entre os processos cognitivos e os
processos afetivos. O que discordamos. Pretende-se com o presente trabalho fomentar a
ideia de que o afeto está intrinsecamente relacionado com a cognição. Acreditamos que
uma abordagem como essa possa realizar contribuições para ampliação da concepção de
cognição e, assim, encaminhar a uma visão sistêmica dos processos cognitivos e, quiçá,
da própria racionalidade. Segundo Freud, o afeto é uma das expressões das pulsões
sexuais (FREUD, 1914). A noção de afeto em Freud envolve uma teoria quantitativa de
investimentos. Essa energia pulsional quando não adequadamente descarregada, o afeto
coartado, compõe um acontecimento traumático que provoca as manifestações de
histeria, tais como: histerias de conversão, obsessões e neurose de angústia ou
melancolia (LAPLANCHE & PONTALIS, 2001). Contudo, de que forma essa análise
freudiana pode apresentar contribuições e possíveis ligações com os processos
cognitivos? Em literatura recente, podemos encontrar escritos sobre a importância das
emoções, dos aspectos afetivos, para a cognição. Lançaremos mão do artigo What
Affective Neuroscience Means for Science of Consciouness (2013) e outros para
apresentar a relação entre cognição e afeto. Para, assim, buscar averiguar as possíveis
contribuições da noção freudiana de afeto aos processos cognitivos.
Palavras-chave: Afeto; Cognição; Freud
76
APONTAMENTOS ACERCA DO ESTUDO DO SER EM ARISTÓTELES E
HEIDEGGER: CONTRASTES, COMPOSIÇÕES E SEMELHANÇAS.
SENE, Diogo – UNESP Marília
MARTINS, Clélia Aparecida Martins – UNESP Marília
Temos como objetivo primário de nosso trabalho, lançar alguma luminosidade sobre o
pensamento filosófico, particularmente no que se refere ao tema da metafísica, existente
nos escritos de Martin Heidegger e Aristóteles. Tais pensamentos, no caso do filósofo
alemão, fazem alusão constantemente à obra magna de Aristóteles, Μετά τα φυσικά, ou
na tradução corrente, Metafísica. Nesse tratado, se discute a ciência primeira, que se
refere ao estudo do Ser, entendendo-a como pressuposição para o desenvolvimento de
qualquer outra espécie de conhecimento ou, como estância mais geral de análise dos
entes. Como havíamos dito, ao perscrutar os limites possíveis de compreensão do Ser,
Aristóteles propõe quatro vias de acesso à problemática ontológica, essas são: 1. Ato e
Potencia, 2. Verdade e falsidade, 3. Substancia e demais categorias, 4. Acidentalidade.
Esses quatro modos de dizer o Ser, são fios condutores da reflexão do autor,
conjuntamente a outros. Porem, já no século XX, ao retomar o questionamento grego do
Ser, Heidegger irá utilizar alguns aspectos diversificados em relação a esse tema,
conceitos como Dasein, ser-no-mundo, confirmam essa diferença, no tangente ao estudo
ontológico. Cabe-nos, portanto, fazer um exame minucioso nas obras que contenham
esse tema, em ambos os pensadores, e clarificar os pontos divergentes e os concordantes
com relação ao estudo do Ser último, Ser mais geral ou Ser no tempo, como afirma
Heidegger já nas primeiras páginas de sua obra fundamental, a saber, Sein und Zeit.
Palavras-chave: Metafísica; Ser; Ontologia
77
MEDIAÇÃO DIALÉTICA E CRÍTICA IMANENTE EM THEODOR W.
ADORNO E MAX HORKHEIMER
SILVA, Deivisson Oliveira – UFMG – CNPq
A obra Eclipse da Razão foi escrita por Max Horkheimer durante o período de
colaboração com Theodor W. Adorno na elaboração da Dialética do Esclarecimento,
ambas publicadas em 1947. O objetivo do livro seria apresentar aspectos de uma teoria
filosófica desenvolvida conjuntamente com Adorno. No entanto, embora seja
perceptível um quadro teórico semelhante, notam-se diferenças importantes nas
resoluções propostas para algumas das questões diagnosticadas nas respectivas obras.
Horkheimer pretende indagar a concepção de racionalidade prevalecente nas sociedades
industriais com o intuito de verificar se tal concepção não carrega consigo falhas que a
tornam viciada, e, ainda, investigar o modo como essa racionalidade, denominada
subjetiva, relaciona-se com outra, objetiva, e que segundo o autor predominou até o
Iluminismo. A razão subjetiva é definida como uma racionalidade que tem como núcleo
um mecanismo abstrato de pensamento. Relaciona-se com a capacidade de calcular
probabilidades e articular meios e fins e, nesse passo, não confere importância à questão
de se os fins como tais são racionais. Por sua vez, a razão objetiva é entendida não
apenas como uma força da mente individual, mas como uma entidade que atua no
mundo objetivo, tanto entre os seres humanos, quanto nas instituições sociais e na
natureza. Segundo o autor, a teoria objetiva da razão não excluía a subjetiva, antes, a
considerava como expressão parcial de uma racionalidade mais ampla, universal, da
qual derivavam os critérios de medida de todos os seres e coisas. A ênfase recaía mais
sobre os fins do que nos meios, pois não se trata de coordenação de procedimentos, mas
de conceitos, como a ideia do bem supremo e o destino humano. Segundo Horkheimer,
no desdobrar do processo histórico ocorreu um predomínio desmesurado da concepção
subjetiva sobre a objetiva, predomínio responsável por um estreitamento da
racionalidade. Horkheimer estabelece como proposta teórica uma mediação dialética
entre esses dois conceitos de racionalidade que seja, também, uma crítica recíproca
dessas concepções. Tal encaminhamento difere do programa da Dialética do
Esclarecimento, de crítica imanente da racionalidade subjetiva. Nosso trabalho visa
explicitar as resoluções propostas por Horkheimer no Eclipse da Razão que se
diferenciam da obra escrita com Adorno.
Palavras-chave: Teoria Crítica; Max Horkheimer; Theodor W. Adorno; Mediação
dialética; Crítica imanente
78
KANT E A HISTÓRIA DA FILOSOFIA: UM ENSAIO PARA O PENSAR
FILOSOFICAMENTE
SILVA, Éliton Dias da – UNESP Marília - CAPES
Este trabalho aponta para uma investigação a respeito de temas de um tema central no
ensino de filosofia, a saber, a relação entre a história da filosofia, seu ensino e o
filosofar. Assim, é nosso objetivo investigar as possibilidades de um ensino de filosofia
que propicie ao estudante mais do que um contato com a tradição filosófica, um alcance
do refletir filosoficamente. Preliminarmente, apresentamos os documentos oficiais do
Ministério da Educação, os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Orientações
Curriculares Nacionais, para a Filosofia. Destacamos que a história da filosofia aparece
em uma posição privilegiada, quer seja como centro ou referencial para o ensino, visão
amparada pela concepção de filosofia defendida pelo método estruturalista de leitura e
interpretação de textos. Esta concepção pode ser problematizada frente a estrutura
interna do documento, que procura defender, ainda, supostamente aludindo a Kant, que
“não se ensina filosofia, se ensina a filosofar”. Por fim, adentramos à proposta kantiana,
que estabelece uma distinção entre conhecimento por dados – ex datis – e por
princípios – ex principiis – ao mesmo tempo em que pondera uma distinção entre o
filodoxo e o filósofo. Distingue, ainda, a filosofia em dois sentidos: escolástico e
cosmopolita. No último sentido, não se pode aprender filosofia, pois ela ainda não
existe, e consequentemente, ninguém pode denominar-se filósofo. O conhecimento
histórico-filosófico deve ser submetido aos princípios do entendimento em um
exercício, um ensaio do filosofar.
Palavras-chave: Ensino de filosofia; Leitura estrutural; Kant
79
SOBRE O HOMEM CINDIDO: UMA LEITURA DA TEORIA DO ROMANCE
SILVA, João Gilberto Turbiani da - UNIFESP Garulhos
Publicado em 1915, A Teoria do Romance seria, originalmente, o prefácio de um grande
tratado sobre a poética de Dostoievski, do qual foi redigida apenas a introdução.
Schiller, Kierkegaard e Weber têm papéis muito distintos na Teoria do romance;
podemos interpretar esses três pensadores como responsáveis pelo caminho estético,
ético e metodológico do escrito lukácsiano, sempre tendo em vista a problemática da
cisão na modernidade; o mundo se tornou ausente de significados e o que nos resta é a
resignação quanto aos avanços do capitalismo e a essa eterna cisão, aonde vamos
criando abismos cada vez maiores em relação a nós mesmos. Através da análise da
literatura romanesca, e de como ela se transformou, o autor faz uma análise do presente;
a obra situa-se como um índice da modernidade: o que faz de nós modernos? Como a
literatura se tornou romanesca? O que foi deixado de lado? É possível reencontrarmo-
nos com um passado ideal, ou algo novo está por vir? Estas são as questões levantadas
pelo filósofo, a partir da leitura das seguitnes obras: Dom Quixote, de Cervantes,
Educação Sentimental, de Flaubert e Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister, de
Goethe, culminando com os escritores russos Leon Tolstói e Fiodor Dostoiévski..
Lukacs aponta quatro elementos essenciais na literatura romanesca: a virilidade madura,
o individuo problemático, a ironia e o demoníaco; esses sinalizam em cada romance a
luta contra o que existe, isto é, formas nas quais ocorre o conflito entre a verdade do
homem e a indiferença do mundo. Pelo fato do homem ter se tornado um ser cindido,
ele escreve romances, aonde os heróis também estão cindidos entre éticas: de um lado,
encontra-se a ética das convenções, a vida comum; e, de outro, uma nova ética. O autor
da Teoria do Romance acreditava que esta segunda ética se encontrava na obra do
escritor russo. O presente trabalho se põe a analisar a caminhada que o homem fez
através da literatura a caminho dessa cisão, bem como por qual motivo a obra de
Dostoievski poderia ser considerada como além dessa cisão.
Palavras-chave: Lukacs; Romance; Cisão; Modernidade
80
A ALEGORIA DA NAVEGAÇÃO NO DE BEATA VITA DE SANTO
AGOSTINHO
SILVA, Josadaque Martins – UNIFESP – CAPES
A alegoria da navegação foi empregada pela tradição filosófica antiga, sobretudo, por
Platão. No diálogo Fédon, Platão menciona uma segunda navegação, pois na visão
platônica, a primeira navegação representa o momento de associação ao método
naturalista constituído sobre os sentidos (cf. Fédon, 99b), e que explicava a causa da
realidade a partir dos quatro elementos físicos: água, terra, fogo e ar (cf. Fédon, 99b).
Dessa forma, a segunda navegação (cf. Fédon, 99c-d) seria a passagem das coisas
sensíveis para as coisas inteligíveis, ou melhor, seria a descoberta da realidade
inteligível ao mundo sensível. Conseqüentemente, no Fédon, a segunda navegação
indica a entrada no mundo inteligível (cf. Fédon, 99e-102a), a passagem do mundo
inteligível para a ideia do Bem. Ora, Agostinho, no preâmbulo do De beata vita,
também emprega a alegoria da navegação para declarar que a Filosofia é o único ponto
de acesso à felicidade (cf. beata u., I, 1), e que os navegantes devem alcançá-la por
meio da própria Filosofia. Nesse aspecto, na visão agostiniana, a filosofia seria o porto,
a terra firme e a felicidade seriam onde nossa viagem, nossa navegação terminaria (cf.
beata u., I, 1). Contudo, Agostinho expõe que, aqueles que buscam a felicidade por
meio da filosofia, devem evitar com suma cautela o alto escolho do orgulho e vanglória
que se encontra na entrada mesma do porto (cf. beata u., I, 3). Assim sendo, Agostinho
usa a mesma metáfora da navegação, empregada por Platão no Fédon, porém a usa para
falar daqueles que buscam a felicidade por meio da filosofia (cf. beata u., I, 1).
Portanto, esta comunicação pretende apresentar a forma como Santo Agostinho
emprega a alegoria da navegação no De beata vita, tendo em vista dois objetivos:
primeiro, contrapor o orgulho dos acadêmicos, que asseveravam a impossibilidade de se
alcançar a verdade; e segundo, exemplificar o seu próprio itinerário filosófico de
navegação em busca da felicidade.
Palavras-chave: Felicidade; Filosofia; Navegação
81
A CRÍTICA DE PEDRO DE JOÃO OLIVI (CA.1248–1298) À PASSIVIDADE
DAS POTÊNCIAS SENSITIVA E INTELECTIVA
SILVA, Pedro Rodolfo Fernandes da – UFSCar - FAPEAM
A recepção do pensamento aristotélico no século XIII ocasionou o surgimento de um
intenso debate sobre o conhecimento, resultando na elaboração de várias teorias as quais
estavam longe de serem unânimes em relação aos papéis que cada faculdade
desenvolveria no processo de cognição. Dentre essas teorias, a de Tomás de Aquino
tornou-se, por vários motivos, como que numa leitura padrão da doutrina do Estagirita.
Na compreensão do Doctor Communis, o sentido é uma potência passiva que tem por
natureza ser modificada por um objeto sensível exterior (ST, q. 78, a. 3). Igualmente, o
intelecto é uma potência passiva (ST, q.79, a. 2) no sentido de que está em potência para
o ato do conhecimento por meio de espécies inteligíveis (ST, q. 84, a. 2 e 3). Apesar
disso, há outras teorias que se apresentaram como extremamente interessantes e
inovadoras ao mesmo tempo em que críticas da leitura padrão. Nesse contexto, objetiva-
se apresentar a crítica de Pedro de João Olivi (ca.1248–1298) à passividade das
potências sensitiva e intelectiva. Segundo tal crítica, a potência intelectiva não poderia
desenvolver-se em conhecimento se antes não tendesse para o objeto de modo que a
atenção da sua intenção deve ser dirigida ao objeto. Da mesma forma ocorre com a
potência sensitiva, pois, como por exemplo, embora os ouvidos de alguém que dorme
recebem as mesmas impressões aos daquele que está acordado, a atenção de um permite
reconhecer o objeto da percepção sonora enquanto que no que dorme tal não ocorre.
Palavras-chave: Filosofia medieval; Teoria do conhecimento; Pedro de João Olivi;
Faculdades sensitiva e intelectiva
82
A PROVA DA EXISTÊNCIA DE DEUS EM DUNS SCOTUS
SILVA, Roberto de Sousa - EFLCH UNIFESP / Guarulhos – CAPES
Em busca de se provar de Deus, o filósofo franciscano do século XIII Duns Scotus,
encontra na Metafísica a questão do "ente enquanto ente” (ens inquantum ens), para
idealizar uma prova racional sobre a existência de Deus. A partir dessa questão, esse
projeto investiga, segundo a filosofia do Doutor Sutil, a possibilidade ou não, do gênero
humano obter tal conhecimento nessa vida, também o valor desse conhecimento para o
reconhecimento da Metafísica como Ciência e sua importância para a Filosofia
Medieval Latina. Considerando as diversas provas sobre a existência de Deus, vemos
brotar da mente de Duns Scotus uma prova dentre as mais complexas. Sua prova
consiste numa minuciosa apresentação da existência em ato de um ente infinito, que se
apresenta como necessariamente primeiro nas ordens de causalidade eficiente e final,
igualmente primeiro na ordem eminência. Notamos primeiramente que o argumento de
Scotus confirma a cognoscibilidade da existência de Deus mesmo diante das
contingências do mundo e de suas inúmeras possibilidades. No pensamento de Scotus, a
contingência do mundo físico não exclui a existência de Deus, pelo contrário, o mundo
físico poderia nunca ter existido ou mesmo ser de tantas outras formas quantas forem
possíveis, ainda assim, o argumento da existência do Criador ou da causa primeira
continuaria a ser válido. Scotus apresenta uma metafísica que oferece um mundo de
possibilidades infinitas. Onde tudo que é logicamente possível é real, porém distingue
das coisas que são atualmente existentes, ou seja, as diversas possibilidades em que se
enquadra a disposição lógica do mundo são reais na medida em que são possíveis. Do
mesmo modo, Deus ou a existência de um ente infinito sendo possível é real. No
entanto, o centro questão para Scotus é definir a existência do ente infinito de forma a
aceitá-lo como atualmente existente, ou seja, provar que existe de fato, não como mera
uma possibilidade lógica. Para podermos entender a profundidade de seus argumentos,
temos que analisar, entre outros pressupostos, questão que envolve aceitar a Metafísica
como uma ciência válida para este compreender esse objeto, ou seja, entender se a
Metafísica é capaz de proporcionar um conhecimento adequado à questão, proposta por
Scotus, a saber, Se há entre os entes um ente infinito atualmente existente.
Palavras-chave: Ente; Infinito; Metafísica; Causalidade
83
EXPRESSIONISMO NO CINEMA: O GESTO COMO ALEGORIA
VALE, Luciano Nunes do – UNIFESP Guarulhos – CAPES
Acreditamos que a atuação do ator no cinema expressionista alemão assumiu caráter
alegórico, marcados por gestos estilizados cuja tensão concentradas nas mãos e no arfar
deram forma aos tipos tiranos e autômatos apontados por Siegfried Kracauer em seu De
Caligari a Hitler. Partimos da análise das atuações de Conrad Veidt nos filmes O
Gabinete do Dr. Caligari e As Mãos de Orlac; e também da leitura de Walter Benjamin
e Kracauer, tomando por base o conceito de alegoria do primeiro e os de fenômeno de
superfície e culto da evasão do segundo. Dentro da análise de fenômenos descontínuos
até então desprezados pela alta cultura que está presente na obra dos dois filósofos,
Benjamin apresenta seu conceito de alegoria dentro de seu estudo sobre o drama
barroco alemão no século XVII como contraponto ao até então predomínio do símbolo
classicista; e dentro dessa linha, acabou se tornando um conceito chave para o
entendimento das vanguardas. Nesse sentido, a alegoria do autômato se torna
emblemática para o desenvolvimento da pesquisa. Primeiro, por se tratar de um tipo
presente no cinema de estética expressionista, sempre em contraposição com os tipos
tiranos; segundo, porque na concepção de Benjamin, o autômato é o homem que perdeu
a experiência e representa os seres que vagueiam na sociedade industrial,
movimentando-se de forma mecânica numa completa ausência de sentido. E dessa
forma, ao apresentar a Weltschauuung barroca próxima da expressionista, acreditamos
que a alegoria seja o ponto de intersecção entre a atuação teatral expressionista e a
assimilação de sua forma pela então emergente indústria cultural. Assim, a alegoria do
autômato, dentro do estilizado gestual expressionista seria um fenômeno de superfície
que, no cinema, teria um significado de culto da evasão apontado por Kracauer em seu
artigo Cinema, 1928 e que, posteriormente, seria desenvolvido em seu livro De Caligari
a Hitler, de 1947.
Palavras-chave: Expressionismo; Alegoria; Cinema alemão; Culto da evasão
84
ARI DOS TELLES: A LÓGICA EM LIPMAN
VERCESI, Roque Pires – UNESP Marília
A presente produção textual objetiva apresentar, por meio de uma breve explanação, o
ensinamento de filosofia para crianças a partir da proposta de Matthew Lipman, e que
através de uma de suas novelas “A descoberta de Ari dos Telles” orienta como pode-se
ensinar uma matéria fundamental no ensino de filosofia que é a lógica. O objetivo desse
trabalho é mostrar que através do material de Lipman, que é possível ensinar filosofia
para as crianças de uma maneira fácil e simples de se entender. E assim tornando as
crianças de hoje em adultos questionadores, que buscam conhecimento e que
compreendem o mundo em sua volta . Esse trabalho foi embasado nos seguintes
autores: Matthew Lipman, que em sua novela “A descoberta de Ari dos Teles” é
possível ensinar lógica, além de outros conteúdos como, Filosofia da mente e ética, as
crianças. Em seu livro “O pensar na educação” nos mostra como ensinar filosofia as
crianças. Eder Alonso Castro, que em sua tese de doutorado nos mostra a vida, os
métodos e os materiais de ensino de filosofia para as crianças de Matthew Lipman.
Fernanda Barata, Joaquim Melro e Margarida César que em sua pesquisa nos fala
algumas práticas inclusivas nas aulas de introdução a filosofia e Irving M. Copi, que
mostra em seu livro métodos e ensinamentos sobre a lógica formal. Seus principais
tópicos são como podemos ensinar filosofia para as crianças para que ela possa
desenvolver um raciocínio melhor, sem perder a inocência, e quanto ela é importante na
vida das pessoas, e como é ensinar a lógica para as crianças de uma maneira fácil e
simples de se entender.
Palavras-chave: Matthew Lipman; Lógica; Ensinar filosofia; Educação; Ari dos Teles
85
LIBERDADE E TEMPORALIDADE NA FENOMENOLOGIA DE MERLEAU-
PONTY
ZANFRA, Beatriz Viana de Araujo – UNIFESP – FAPESP
Na obra A estrutura do comportamento, de 1942, Maurice Merleau-Ponty, por meio da
noção de estrutura, combate o naturalismo e o intelectualismo, mostrando que o corpo
não é um agregado de músculos e de nervos que opera de acordo com a causalidade
mecânica e funcional e que a consciência reflexiva não é a única forma da consciência e
nem sua primeira manifestação, mas sim dependente da consciência perceptiva e
indiscernível do corpo como princípio estruturante. Nesse sentido, no capítulo destinado
à questão das relações da alma e do corpo, Merleau-Ponty mostra que todos os
problemas a esse respeito se reduzem ao problema da percepção, entendida como “o ato
que nos faz conhecer existências” e vê a necessidade da filosofia transcendental ser
redefinida a fim de integrar nela o fenômeno do real, sendo tal filosofia a
fenomenologia, com a investigação da percepção desempenhando um papel
fundamental em tal filosofia. Em Fenomenologia da Percepção, de 1945, Merleau-
Ponty retoma o problema das relações da alma e do corpo abordado no livro anterior,
mostrando que a temporalidade resolve tal problema, pois a ideia de subjetividade como
temporalidade nos permite ver que o para-si, a revelação de si a si, é o vazio no qual o
tempo se faz, e o mundo “em si”, que é o horizonte de nosso presente, fazem o
problema redundar em saber como um ser que é porvir e passado tenha também um
presente, o que suprime o problema, já que o porvir, o passado e o presente estão
ligados no movimento de temporalização. Sendo assim, a solução de todos os
problemas de transcendência se encontra na espessura do presente pré-objetivo, onde
encontramos, entre outras coisas, o fundamento de nossa liberdade.
Palavras-chave: Liberdade; Temporalidade; Estrutura; Fenomenologia; Percepção
Top Related