Elaboração de um sorvete com biomassa de banana verde
Autoras: Marcelle Sá Franco, Isabel P. Vitiello
RESUMO EM PORTUGUÊS
A polpa da banana verde possui acentuada quantidade de amido, baixa umidade, não
fornece sabor, é emulsionante e estabilizante. Atualmente existe uma preocupação com a
saúde, dessa forma a indústria vem modificando produtos para torná-los mais saudáveis. O
objetivo do trabalho foi de criar um sorvete com a biomassa em substituição da gordura, de
baixa caloria e com aceitabilidade igual ou maior que a do sorvete tradicional. Os sorvetes
foram elaborados com ingredientes tradicionais. A análise sensorial foi realizada na UNISC,
com 100 provadores não treinados dos cursos de Nutrição e Gastronomia. Avaliaram-se os
atributos de apresentação, textura, sabor, sabor residual e aceitação geral através de escala
hedônica, e a preferência. O valor nutricional foi calculado através de tabelas de composição
dos alimentos. A análise dos dados foi realizada pelo ANOVA. O sorvete com a biomassa
obteve a preferência dos provadores. Os atributos apresentação e textura não tiveram médias
com diferenças significativas entre os provadores em geral e entre os alunos separados por
curso. Já para sabor, sabor residual e aceitação geral, as médias foram diferentes
significativamente entre o público geral e no curso da Nutrição. O valor nutricional
apresentado pelo sorvete com biomassa indica que este produto pode ser considerado
reduzido em gordura e energia. De acordo com análise sensorial o sorvete com a biomassa foi
o que obteve maior preferência entre os provadores, demonstrando ser possível a utilização da
biomassa como um insumo na produção de sorvetes agregando valor nutricional.
Palavras-chave: banana verde, biomassa, light, análise sensorial, sorvete
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RESUMO EM INGLÊS
Today's food industry concerns itself with attempts to modify products to make them
healthier. One such food product is ice cream. The objective: to create an ice cream that is
lower in fat and calories but, in order to retain its crowd appeal, still have the consistency and
flavor of traditional ice cream. One such ingredient that can do this is green banana pulp, a
biomass which has a high amount of starch, low humidity, and no flavor, and which is an
emulsifier and stabilizer. A sensorial analysis comparing ice cream made with traditional
ingredients and the biomass ice cream was conducted at UNISC with one hundred
uncalibrated people from Nutrition and Gastronomy courses. Attributes that were evaluated
were presentation, texture, flavor, residual flavor, general acceptance by hedonic scale and
preference. The nutritional value was calculated with a food composition table. The data was
analyzed by ANOVA. The samplers indicated there were no significant differences in
Presentation and Texture. The nutritional value of the biomass ice cream indicates that it may
be considered reduced in fat and calories. The results further indicated that the biomass ice
cream was preferred by the samplers, demonstrating the possible use of the biomass as a
production ingredient which also adds nutritional value.
Key words: green banana, biomass, light, sensorial analysis, ice cream
1 INTRODUÇÃO
As bananeiras são consideradas as culturas mais importantes produzidas em países nas
regiões tropicais e subtropicais do mundo. Segundo dados da Embrapa (2011) citados por
Silva Neto (2011), são cultivadas numa área de 4,8 milhões de hectares, com produtividade
média de 19 toneladas/ha/ano e produção de 95,6 milhões de toneladas. O Brasil ocupa a 5º
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posição no ranking de produção mundial, com uma produção de 7,29 milhões de toneladas
(EMBRAPA, 2011).
A banana tem um excelente valor nutricional, é considerado um alimento completo e
compõem a mesa de indivíduos no mundo inteiro. Segundo Silva Neto (2011),
aproximadamente 84% das bananas produzidas são para consumo do mercado interno, sendo
que apenas 16% são de fato exportados, indicando um elevado consumo da fruta.
No Brasil, o que mais chama atenção é que a área cultivada da fruta é bastante elevada
(511 mil hectares), sendo apenas superada pela Índia (709 mil hectares). No entanto, a
produtividade dessa área é relativamente baixa, o país ocupa o 5º lugar no mundo. Isso indica
um baixo investimento em tecnologia e se percebe que o potencial agrícola e econômico dessa
cultura não está sendo adequadamente aproveitado (SILVA NETO, 2011).
O Brasil não ocupa uma área de destaque nas exportações mundiais. Em 2006, foram
exportadas 194 mil toneladas, correspondendo a menos de 3% da produção total (BARROS,
LOPES, WANDERLEY, 2008). Atualmente, o país vem exportando em torno de 130,9 mil
toneladas, representando 1,8% da produção brasileira e contribuindo com U$ 35,6 milhões de
dólares para as exportações do país, sendo um valor bastante irrisório (SILVA NETO, 2011).
Além da quantidade da fruta exportada ser mínima, o desperdício no país ainda é
elevado, consequência das perdas no pós-colheita e ao descarte da produção que pode chegar
até 40% (CARDENETTE, 2006). Grande parte da produção acaba se estragando na própria
plantação, pois, dependendo da safra, o valor para a colheita acaba sendo maior do que o de
venda (VALLE; CAMARGOS, 2003).
A polpa da banana verde é considerada um produto com alto potencial a ser
industrializado, já que diminui as perdas no pós-colheita (IZIDOR0 et al., 2008). A biomassa
da banana verde, forma como é conhecida a polpa cozida, possui uma grande quantidade de
amido, baixos teores de umidade e de compostos aromáticos, não fornecendo sabor quando
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adicionado a um produto alimentício. Dessa forma, pode ser acrescentada em pães, massas,
sucos, maioneses e em sorvetes (MORAES; MACHADO; ESCOUTO, 2011). A banana ainda
verde tem mostrado características terapêuticas. Apresenta, no máximo, 2% de açúcares e
grande quantidade de amido resistente, considerado um alimento funcional. Além disso,
mantém as vitaminas e minerais presentes na banana madura. O elevado teor de amido
proporciona liga que garante à polpa cozida um excelente espessante e emulsionante
(VALLE; CAMARGOS, 2003).
No Brasil a ingestão de sorvete é baixa, ainda que o clima seja apropriado para o
consumo, dessa forma, há muito espaço para a indústria crescer. Segundo a Associação
Brasileira das Indústrias de Sorvete (ABIS), em 2006 o consumo médio foi de 2,8kg/per
capita, enquanto nos Estados Unidos ultrapassa normalmente 7kg/per capita (ABIS, 2007;
CADENA, 2008).
Segundo Santos (2008), o sorvete tem uma estrutura complexa formada por uma
emulsão constituída de gotículas de gordura, de proteínas, bolhas de ar e cristais de gelo,
disperso em uma fase aquosa e representado por uma solução concentrada de sacarose. As
fórmulas originais são ricas em gordura e sacarose, o que está associado à textura, maciez e
corpo do sorvete. Atualmente existe uma preocupação crescente em relação à saúde e à
qualidade da alimentação (SANTOS, 2008). Nesse contexto, as indústrias vêm agregando ao
sorvete novos sabores, texturas, formas e processos tecnológicos de fabricação (LORA;
PRUDÊNCIO; BENEDET, 2006). A alimentação tem um papel primordial na promoção da
saúde, influenciando diretamente na composição corporal, no aumento do peso e no
desenvolvimento de patologias associadas.
O presente trabalho teve com objetivo elaborar um sorvete substituindo parte da
gordura pela biomassa de banana verde, de forma que o produto final mantivesse as
características típicas de um sorvete tradicional sabor chocolate, bem como reduzisse o valor
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calórico com a diminuição da gordura adicionada. Pretendeu-se também, que através da
aplicação da análise sensorial, o sorvete apresentasse a preferência da metade ou mais dos
provadores e as médias dos atributos fossem iguais ou maiores que a do sorvete controle.
Dessa forma, a elaboração de um produto com redução de calorias, gordura, rico em
micronutrientes e vitaminas e que agregue valor funcional devido à presença do amido
resistente presente na biomassa de banana verde vai ao encontro da melhoria da qualidade da
alimentação, buscando a promoção da saúde.
2 METODOLOGIA
2.1 Caracterização do experimento
O delineamento da pesquisa foi do tipo exploratória e experimental. A coleta dos
dados deu-se a partir do mês de Outubro de 2012. O produto foi elaborado na residência da
pesquisadora, a análise sensorial foi realizada no Laboratório de Análise Sensorial da
Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) e a o valor nutricional calculado através de
tabelas de composição dos alimentos.
2.2 Ingredientes usados no preparo das amostras
Para o desenvolvimento dos dois tipos de sorvetes a banana do tipo Prata e os demais
ingredientes foram adquiridos em um supermercado do município de Santa Cruz do Sul. O
critério de escolha da banana foi pela coloração da casca, ou seja, apresentando cor verde
escura.
2.3 Preparo das amostras
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As bananas verdes escuras foram sanitizadas previamente e colocadas com casca
numa panela de pressão e cozidas durante 15 minutos. Em seguida descascadas manualmente
e batidas num processador de alimentos da marca Philips Wallita, durante 5 minutos, numa
proporção de 1:1 de banana e água do cozimento Após esta etapa, a biomassa foi introduzida
na massa do sorvete. Os ingredientes utilizados na elaboração estão listados na Tabela 1.
Tabela 1. Ingredientes dos sorvetes controle e com biomassa de banana verde
Ingredientes Sorvete Controle Com biomassa de banana verde
Leite 35% 35%
Leite em pó 10% 10%
Creme de leite 15% 15%
Gordura de Palma 15% 0
Biomassa de banana verde 0 15%
Açúcar cristal 15% 15%
Liga neutra 1% 1%
Emustab 1% 1%
Cacau em pó 5% 5%
Chocolate amargo 70% de cacau 4% 4%
Fonte: tabela criada pela própria autora
Os sorvetes foram, primeiramente, homogeneizados em batedeira tradicional e após,
levados à sorveteira, onde foram batidos pelo tempo de 1 hora, após levados ao freezer para
congelamento. A elaboração dos sorvetes encontra-se no fluxograma a seguir.
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Fluxograma 1. Processo de elaboração dos sorvetesFonte: elaborado pela própria autora.
2.4 Realização do teste sensorial
O público alvo que compôs a amostra foi de 100 universitários, de ambos os sexos,
dos cursos de Tecnólogo em Gastronomia e de Nutrição e que assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram avaliados os atributos de aceitabilidade:
apresentação, textura, sabor, sabor residual, aceitação geral. As provas foram realizadas em
cabine fechada com iluminação branca. As amostras de 30g foram oferecidas em copos
plásticos de 50 ml e água a disposição dos provadores para enxaguar a boca. Cada provador
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Adição de metade do volume de leite +
estabilizante
Homogeneização por 3 minutos
Adição da gordura de palma (biomassa de
banana verde) + creme de leite + leite em pó
Homogeneização por 3 minutos
Adição do restante do leite + açúcar
Homogeneização por 3 minutos
Adição do cacau em pó
Homogeneização por 3 minutos
Adição do emulsionante
Homogeneização por 5 minutos
Sorvete está pronto para congelamento
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recebeu, no momento do teste, uma ficha de avaliação utilizando escala hedônica estruturada
de nove pontos baseada na Norma Brasileira 14141/1998 (ABNT, 1998), cujos extremos
correspondem a gostei muitíssimo (9) e desgostei muitíssimo (1). Os alunos foram orientados
quanto à pesquisa e como deveriam julgar os atributos sensoriais e encaminhados às cabines
de análise quando receberam uma amostra enumerada aleatoriamente. Após, terminarem o
julgamento da 1ª amostra receberam água e a segunda amostra. O projeto foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) com o número de protocolo 67574.
2.5 Valor nutricional
O valor nutricional dos sorvetes foi calculado através de tabelas de composição de
alimentos como a Tabela Brasileira de Composição dos Alimentos (TACO, 2011), Tabela de
Composição Química dos Alimentos (PHILIPPI, 2002) e ITAL (1990). As informações
contidas nas tabelas de composição dos alimentos são importantes pilares no controle da
qualidade dos alimentos e como mecanismo para investigar a alimentação de indivíduos e
população. As tabelas buscam gerar dados sobre a composição dos principais alimentos
consumidos, através de análises em laboratórios com capacidade analítica comprovada, a fim
de assegurar confiança no resultado obtido (TACO, 2011). Os valores de macro e
micronutrientes foram calculados e depois, realizada a comparação entre os sorvetes.
2.6 Análise estatística
Os resultados da avaliação dos provadores foram analisados por meio do programa
estatístico ANOVA com 5% de grau de significância e teste de Tukey para afirmar as
diferenças significativas (1% e 5%). O objetivo foi determinar se havia diferença significativa
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entre os sorvetes analisados quanto aos atributos testados. Dessa forma, foi possível detectar
aceitação ou rejeição. Além disso, foi feita a média para a prevalência entre os sorvetes, sendo
que o objetivo do trabalho era de que o sorvete criado fosse igual ou melhor do que o
controle.
Os provadores foram divididos em 3 categorias: totalidade (n=100), provadores do
curso da Nutrição e os do curso da Gastronomia. Dessa forma, foi possível determinar se
havia diferença significativa entre os provadores de cada curso de graduação e quais os
resultados no total. Os TCLE e a pesquisa respondida serão guardados pela pesquisadora por
cinco anos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Análise sensorial
Os resultados da análise sensorial estão descritos na Tabela 2. A análise estatística dos
resultados sensoriais foi realizada na totalidade dos provadores não treinados independente
dos cursos destes. Posteriormente, estes resultados foram analisados separadamente para
verificar a diferença entre os cursos da Nutrição e Tecnólogo em Gastronomia.
Em relação aos resultados dos atributos de apresentação e textura não houve diferença
estatística entre os provadores não treinados em sua totalidade, nem quando foram divididos
nos cursos de graduação, significando que os sorvetes foram considerados iguais. O atributo
de sabor obteve diferença significativa (p<0,05) entre os provadores não treinados em sua
totalidade e entre os do curso de Nutrição (p<0,001). Já da Gastronomia não houve diferença
significativa entre as duas amostras, revelando diferenças entre as percepções dos provadores
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não treinados de cada curso. A percepção a respeito do atributo de sabor entre os provadores
não treinados em cada curso de graduação indicou diferenças, já que este é a mistura entre o
gosto e o olfato, em conjunto com outros elementos como a temperatura, adstringência,
pungência, sendo uma experiência subjetiva (DUTCOSKY, 2011).
O atributo de sabor residual apresentou valores com diferença significativa entre todos
os provadores não treinados (p<0,05) e no grupo dos provadores não treinados do curso da
Nutrição (p<0,05). O último atributo analisado foi aceitabilidade geral e os valores de
diferença significativa foram encontrados na análise das amostras com o total de provadores
não treinados (p<0,001), no grupo da Nutrição (p<0,001). A média desse atributo para o
sorvete controle foi menor do que o com a biomassa indicando uma melhor aceitação.
As médias de aceitação dos atributos na análise sensorial de todos os provadores não
treinados se encontram na faixa de “gostei moderadamente” e “gostei muito”. O percentual de
aceitação para a apresentação foi de 86,77% e 88%, a textura foi de 85,22% e 86,33%, o sabor
83,88% e 89,66% sabor residual 81,55% e 85,88% e a aceitação geral 84,22% e 89,66% para
o sorvete controle e o com biomassa respectivamente. A preferência foi maior para o sorvete
com biomassa, totalizando 58 provadores não treinados, 23 preferiram o controle e 19
gostaram igualmente de ambos. O resultado está apresentado na figura 1.
Tabela 2. Média das análises sensoriais realizadas com os dois sorvetes entre os
provadores não treinados
Média da análise sensorial realizada com todos os provadores não treinados (n=100)
Atributos Apresentação Textura Sabor Sabor residual Aceitação geral
Sorvete
controle
7,81ª* 7,67ª 7,55ª 7,34ª 7,58ª
Sorvete com
biomassa
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Médias da análise sensorial realizada com os provadores não treinados do curso Tecnólogo em
Gastronomia (n=30)
Sorvete
controle
7,56ª* 7,50ª 7,73ª 7,26ª 7,80ª
Sorvete com
biomassa
7,93ª 7,67a 8,03ª 7,40ª 7,96ª
Médias da análise sensorial realizada com os provadores não treinados do curso de Nutrição (n=70)
Sorvete
controle
7,91ª* 7,74ª 7,47ª 7,37ª 7,48ª
Sorvete com
biomassa
7,91ª 7,77ª 8,08b 7,87b 8,11b
* Médias com letras iguais na mesma coluna indicam que não diferença significativa entre as amostras através do teste de Tukey, teste t e Dunkan
Fonte: tabela elaborada pela própria autora
Figura 1. Gráfico com a comparação entre as médias dos tributos de todos os
provadores não treinados (n=100)
Apresentação Textura Sabor Sabor residual Aceitação geral6.8
77.27.47.67.8
88.2
Sorvete controle Sorvete com biomassa
Fonte: a própria autora
Figura 2. Gráfico com a comparação entre as médias dos atributos dos provadores não
treinados do curso de Tecnólogo em Gastronomia (n=30)
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Apresentação Textura Sabor Sabor residual Aceitação geral6.8
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8.2Sorvete controle Sorvete com biomassa
Fonte:
a própria autora
Figura 3. Gráfico com a comparação entre as médias dos atributos dos provadores não
treinados do curso da Nutrição (n=70)
Apresentação Textura Sabor Sabor residual Aceitação geral7
7.2
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7.6
7.8
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Sorvete controle Sorvete com biomassaFonte: a própria autora
Figura 4. Preferência pelos sorvetes entre os provadores
COM BIOMASSA CONTROLE IGUALMENTE DE AMBAS0
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PREFERÊNCIA
Fonte: a própria autora
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3.2 Valor nutricional
Segundo a Resolução nº 39 de 26/04/1999 (BRASIL, 1999) o sorvete é definido como
“produtos congelados obtidos da mistura de gordura e proteínas; ou da mistura de água e
açúcar (es) que podem ser adicionados de outro(s) ingrediente(s) desde que não
descaracterize(m) o produto.” Os sorvetes foram elaborados com os ingredientes tradicionais
utilizados na confecção de sorvetes cremosos, como o leite e gordura. O valor nutricional está
descrito na Tabela 3.
Tabela 3. Composição nutricional do sorvete controle e do com biomassa em 100g dos
produtos
Sorvete Controle Sorvete com biomassa
Calorias 341,89 227,52
Carboidrato (g) 26,38 29,33
Proteína (g) 5,28 5,47
Lipídio (g) 23,92 9,81
Fibra (g) 1,27 1,63
Cálcio (mg) 140,60 141,79
Sódio (mg) 65,01 65,01
Fonte: tabela elaborada pela própria autora
A principal diferença entre as amostras foi a grande redução de gordura no sorvete
com a biomassa, em torno de 61,64%. A gordura no sorvete contribui para dar textura suave e
melhorar o corpo do sorvete. O tipo de gordura influencia nas características organolépticas e
estabilidade do sorvete. A principal gordura de fonte não láctea usada na elaboração do
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sorvete é a gordura hidrogenada, devido aos baixos teores de colesterol, plasticidade e bom
preço (SOUZA, 2010).
Assim sendo, de acordo com a Resolução nº 27 da Secretaria de Vigilância em Saúde
o Ministério da Saúde (SVS/MS), o sorvete com biomassa poderia receber a denominação de
valor reduzido em gordura, bem como em valor energético, já que houve uma redução destes
atributos superior a 25% (BRASIL, 1998). A Tabela 4 indica a porcentagem de cada
macronutriente, bem como sua redução ou acréscimo e a figura 5 evidencia a diferença.
Tabela 4. Porcentagem de macronutrientes dos dois sorvetes, redução ou acréscimo do
sorvete de biomassa em relação ao de controle.
Caloria (Kcal) Carboidrato (%) Proteína (%) Lipídio (%)
Sorvete Controle 341,89 30,86 6,17 62,96
Sorvete com
biomassa227,52 51,56 9,63 38,81
Redução ou
acréscimo33,45% 67,07% 56,07 38,35
Fonte: tabela elaborada pela própria autora
Figura 5. Gráfico ilustrando a os valores nutricionais de cada uma das amostras
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Caloria (Kcal) Carboidrato (%) Proteína (%) Lipídio (%)0
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Sorvete Controle Sorvete com biomassa
Fonte: tabela elaborada pela própria autoraA alimentação tem um papel primordial na promoção da saúde, influenciando
diretamente na composição corporal, no aumento do peso e no desenvolvimento de patologias
associadas. Sabe-se que a população brasileira, no que se refere aos hábitos alimentares, tem
baixo consumo de frutas, hortaliças, grãos e cereais integrais, e elevada ingestão de alimentos
ricos em gordura saturada, trans e colesterol. Em algumas regiões do país o consumo de
gordura ultrapassa 30% do total calórico da dieta. A má alimentação está relacionada com o
sobrepeso e a obesidade e sabe-se que indivíduos portadores de índice de massa corporal
(IMC) elevado têm maiores riscos de desenvolvimento de certos tipos de câncer (mama,
colorretal, endométrio, rim, esôfago), bem como, de doenças crônico não transmissíveis
(SILVA, ARAÚJO, 2009; MALTA, NETO, SILVA, 2011).
Uma alternativa para esse problema é a adição de ingredientes que agreguem valor
nutricional aos alimentos tradicionais (SILVA, ARAÚJO, 2009). Nesse sentido, a pesquisa
com produtos à base de banana verde contribuem para o fornecimento de uma matéria-prima
rica em nutrientes e com excelentes qualidades para a elaboração de gêneros alimentares.
A biomassa foi incluída na elaboração do sorvete devido à presença do amido capaz de
formar liga, tornando-se um excelente espessante (VALLE; CAMARGOS, 2003). Pode ser
usada nos alimentos como em maioneses e no caso, em sorvetes, modificando a sua textura,
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dando volume, substituindo os ovos e diminuindo a concentração de óleos da mistura, já que
pode agir como estabilizante (IZIDORO et.a.l, 2008).
A banana, particularmente quando verde e cozida, está incluída no grupo de alimentos
funcionais do tipo prebióticos, isto é, possuem fibras dietéticas solúveis e insolúveis e fruto-
oligossacarídeo com funções importantes para a saúde e o metabolismo. O fator de maior
importância para considerar a polpa da banana verde um alimento prebiótico é o conteúdo de
amido, isto é em amido resistente (AR). Este não se enquadra na definição original de fibras,
entretanto, devido aos efeitos fisiológicos que apresenta pode ser comparado às fibras
alimentares (SILVA, ARAÚJO, 2009; DOKKUM, 2010).
Os AR’s possuem um menor efeito sobre o volume fecal quando comparado com as
fibras alimentares, no entanto, é uma fonte de carboidrato não disponível para a microflora
colônica. Os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) decorrentes da fermentação desses
carboidratos não acessíveis estão relacionados com inúmeros efeitos benéficos sobre o
metabolismo e saúde em geral. Eles são importantes na inibição da síntese de colesterol,
reduzem o pH do intestino grosso prevenindo tumores, além disso, tornam alguns
micronutrientes como o cálcio, ferro e o zinco mais solúveis e dessa forma, auxiliam na sua
absorção (CARDENETTE, 2006; PASCHOAL et. al., 2009; DOKKUM 2010).
4 CONCLUSÃO
De acordo com o a análise sensorial o sorvete com a biomassa foi o que obteve as
maiores médias em todos os atributos, bem como maior preferência entre os provadores. Foi,
dessa forma, aceito pela maioria, assegurando que a biomassa pode ser utilizada na produção
de sorvetes, sendo um ingrediente que agrega valor nutricional, bem como modifica as
características sensoriais do produto de uma forma benéfica. Nesse sentido, o conteúdo do
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valor nutricional do sorvete com a biomassa demonstrou que foi possível a redução de
gorduras e dessa forma, calorias, indicando que o produto pode ser considerado com redução
de lipídio e energia.
Já se sabe que a dieta da população brasileira encontra-se rica em gordura e sal, com
redução significativa de frutas e verduras. Com o desenvolvimento de tecnologias e da
indústria de alimentos na elaboração de alimentos mais saudáveis, a banana verde pode ser
uma excelente aliada na melhoria da alimentação, já que tem características físicas e químicas
que permitem a sua industrialização. Além disso, agrega valor nutricional, podendo ser
utilizada em substituição de ingredientes que são, tradicionalmente, prejudiciais à saúde como
as gorduras saturadas e as trans. O presente trabalho demonstrou que é possível a elaboração
e substituição de gordura adicionada dos sorvetes pela biomassa da banana verde sem
descaracterização do produto. Os resultados obtidos nesse estudo permitem que sirvam como
base para novas pesquisas assim como fonte de conhecimento, pois através destes, torna-se
evidente que a banana verde tem um alto potencial para ser utilizada como insumo em escala
industrial.
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