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CINQUENTA ANOS DE MEMÓRIA E HISTÓRIA DA E.E. “QUINTINO
VARGAS”- JOÃO PINHEIRO –MG - REPRESENTAÇOES DE EX-
PROFISSIONAIS E PROFISSIONAIS ATUANTES – 1980- 2017
Maria Rita Ferreira Dias de Souza1
RESUMO: Este artigo tem como objetivo apresentar a contribuição da Escola Estadual
“Quintino Vargas” no decorrer dos 50 anos de ensino na cidade de João Pinheiro, MG na
percepção de ex-profissionais e profissionais atuantes. Apresenta o aporte da história oral de
momentos de uma trajetória que ainda está na memória da população pinheirense, cidade do
sertão de Minas Gerais. É uma pesquisa de cunho qualitativo por ter sido amparada na revisão
bibliográfica de Costa (2014), Rüsen (2006), Thompson (1997), Freire (2005) entre outros e
em relatos orais. Para tal, utilizou-seum questionário para entrevistar um ex-diretor e
adiretoraatual. Aosex-alunos que são atualmente professoresda instituição, foi feita a
entrevista oral. Acredita-se que estes além de contribuírem com o processo educativo da
escola, são fontes vivas da história do educandário pesquisado. Foram entrevistados 10
profissionais, dos quais um é aposentado,do período de 1980 a 2017. As respostas orais foram
gravadas, analisadas e posteriormente transcritas fidedignamente para a conclusão desta
pesquisa.
Palavras-chave:Memória. Educação. Cinquentenário. História. Escola
A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos
gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas
e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos
colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha
poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada,
porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso
canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não têm voz. (Ferreira
Gullar -corpo a corpo com a linguagem)
Refletindo as palavras do poeta, nos debruçamos nas reminiscências do passado para
conhecer por meio das lembranças de pessoas que experenciaram vivências diversas
relacionadas à história da escola estadual Quintino Vargas. Cada vivência compartilhada nas
dependências dessa escola contribui para a formação pessoal e profissional de muitos
munícipes. Essa contribuição é notável nos diversos profissionais de destaque na sociedade
pinheirense, os quais não se propagariam se não houvesse sido criada essa instituição de
ensino.
1Especialista em Letras, especialista em Docência do Ensino Superior, especialista em Metodologia do Ensino e
Tecnologia para Educação à Distância, graduada em Letras, graduada em Pedagogia, professora de Língua
Portuguesa na rede estadual de ensino de Minas Gerais, professora do Ensino Superior, coordenadora de
Relações Institucional e Coordenadora Adjunta de Pedagogia da Faculdade Cidade de João Pinheiro.
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Partindo do princípio de que todas as pessoas em todos os tempos e lugares fazem
história, buscamos neste estudo dar oportunidade a diversos atores sociais de contar suas
lembranças sobre a instituição em sua comemoração de aniversário.
Entendemos que a História é escrita e reescrita a cada novo olhar do pesquisador que
se pautando no método, iluminado pela teoria e motivado pela arte criacional, vai alinhavando
fatos, histórias e experiências diversas, motivado pela vontade de “contar”. José Carlos Reis
(2005) disse que o historiador é como o pássaro de minerva que passa a noite examinando o
dia. Nesse sentido, o historiador vive o presente examinando o passado. Este conhecimento
do passado é sumamente importante por se constituir em ponto de reflexão para conhecer e
entender o presente. O saber histórico contribui para fortalecimento de laços de pertencimento
e identidade. Este pertencimento se fortalece à medida que, quando contamos nossa história
narramos também as experiências diversas vividas ao longo de nossa formação.
Pensar e escrever sobre a história desta Instituição de ensino que foi responsável pela
formação de grande parte da população pinheirense, significa também trilhar pelos caminhos
da história local e regional, levando em consideração ser João Pinheiro o maior município em
extensão territorial de Minas Gerais e ser a educação um aspecto de fundamental importância
na formação de um povo.
A educação pública em João Pinheiro na década de 1960 era oferecida apenas de
primeira a quarta série. Não existia uma escolacom oferta do ginasial, o que impedia os jovens
decondição financeiramenos privilegiadade continuarem seus estudos. Foi pesquisado alguns
registros os quais foram feito com base nas histórias orais de pessoas que acompanharam o
período de discussões para a criação da escola. Segundo esses relatos houve um grande
empenho político doprefeitoSperidião Simões da Cunha e do governador de Minas senhor
Magalhães Pinto.
Foi nesse desenrolar de histórias de gabinete e de quintais que a união para a
construção da sede da Escola Estadual “Quintino Vargas”aconteceu. Delgado (2006, p.18) diz
que a história oral “Não objetiva a história em si mesma, mas um dos possíveis registros do
que passou e sobre o que ficou como herança ou como memória” e uma história que
contribuiu para o crescimento pessoal e cultural de uma população não podem seresquecidas,
principalmente quando esta mudou e ainda muda a vida de milhares de pessoas no que diz
respeito à educação, segmento que transforma a sociedade. Sendo assim, escolheram-secinco
profissionais que atuaram e cinco que atuam na escola, dos atuantesdeterminou-se um
parâmetro, serem ex-alunos. Consideramos que esses tenham percepção sobre o papel da
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referida escola e valorizamo substancial trabalho desenvolvido, contribuição das quatro
décadas da escola, que está guardado na memória e deve ser registrado para que não fique
perdido.
Ao pesquisarmos e escrevermos sobre a trajetória histórica da escola percebemos que
entrecruzou em diversos momentos com a e história local e geral, pois, não somos ilhas e
diversos fatos ocorridos em nossa caminhada se entrecruzam com a história mais geral.
Esse tema foi escolhido em função de euter estudado na referida escola na década de
70, época em que a educação formal era para uma minoria. Esse educandário atendia a
demanda de uma classe mais privilegiada, alunos de classe menos privilegiada para
ingressarem na mesma tinham que passar por um curso de admissão e serem aprovados com
nota no mínimo sete e meio. Também tinham que provar serem capazes de arcar com
despesas paraaquisição de uniforme e livros.
Ingressar era uma barreira e quando o sonho almejado acontecia por mérito, era
extremamente complicado conviver e ser aceito. Era a época do regime militar e a ideologia
de igualdade não era o foco. Os alunos da classe dominada ouviam todo tipo de discurso
favorável ao dominante. A crença de que era possível vencer com dedicação e esforço não era
propagada, até porque os filhos da classe dominante já tinham como certo onde estariam, pois
sempre teriam a mão do papai para garantir emprego.
Foram experiências bem controversas, de um lado professores que não acreditavamna
competência dos alunos pobres, de outros professores que vez ou outra tentavam propagar a
ideologia de uma sociedade com direitos iguais. Os estudantes tentavam muito se adaptar,
mas na maioria das vezes evadiam. Uma frase marcante desse período“vai embora dormir.
Para que tentar? Você não vai passar de uma doméstica”. Esse foi o discurso de uma
professora direcionado a mim, que tinhaa ilusão de ascensão cultural, social ou profissional.
A princípio revolta, mas também a percepção de que escolhas poderiam ser feitas. Já
naquela época persistência me comandava, o que pode ser traduzido poeticamente por Cora
Coralina “Desistireu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério; é que
tem mais chão nos meus olhos do que o cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus
passos, do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha
cabeça.”.
O sonho de transformação havia sido plantado pela família e pelas várias leituras que
pregavam a ideologia capitalista. Um dos textos ideológicos e marcantes foi presente de
minha a mãe, queganhou em uma Farmácia, por ter adquirido um vidro de Biotônico
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Fontoura,foi Jeca Tatuzinho de Monteiro Lobato lançado em 1924 e consideradoa peça
publicitária de maior sucesso na história da propaganda brasileira.Esse tipo de leitura
influenciou-me a acreditar que dedicação, esforço e compromisso promoviam o sucesso, e
isso só seria possível viaeducação formal. Eu percebia que a ascensão de vida, só
aconteceriaatravés de uma boa formação e que esta seria aúnica forma de libertar-medesse
determinismo social excludente. Isto posto a expectativa estabelecida, favoreceua superaçãoe
aceitação de que se com a educação o ser não tem tantas oportunidades, sem ela ele não tem
nenhuma.“Se a educação sozinha, não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade
muda.” (FREIRE, 2000, p.31).
Um dos aspectos mais fascinantes de A reprodução é a caracterização do
modo pelo qual os professores se convertem de modo consciente ou não, em
agentes da marginalização cultural das classes baixas. Cabe aos docentes a
tarefa de converter, no espaço da sala de aula, os recursos culturais de
natureza pré-escolar e extraescolar, acumulados pelos alunos da classe
dominante, em recursos propriamente escolares; essa conversão favorece
regularmente os alunos da classe dominante na competição escolar com os
alunos das classes inferiores. (MARQUES, 2007.p. 108)
Não foram apenasexperiências negativas, e mesmos as negativas, evidenciam que a
escola teve e tem um papel muito importante na formação de todos que por ali passaram. Por
issoé importante relembrar ecompartilhar essas vivências experimentadas na instituição. Suas
práticas pedagógicas corretas ou não, abriram caminhos para quem abuscou, pois elaera a
única instituição de ensino fundamental II na cidade, tanto que se tornou referência e o sonho
da maioria dosestudantespinheirenses. Por três décadas a E. E. “Quintino Vargas” foi à única
escola pública a promovero ingresso de estudantes no mercado de trabalho, tanto com
formação profissional de nível médio, quanto com a inserção dos seus egressos no ensino
superior. Essa compreensão do importante papel da escola na vida dos estudantestem extrema
relevância social, uma vez que ao compartilhar esse tipo de memória fica explícito que
embora os discursos utilizados não tenham sido positivos, o efeito que causaram foram
cruciais para oefetivo desenvolvimento de grande parte da juventude pinheirense.
Para conhecermos o passado é necessário debruçar sobre ele e fazer-lhe indagações.
Todavia, temos que ter ciência de que as perguntas feitas ao nosso objeto de estudo não serão
respondidas pelos documentos e fontes diversas as quais analisaremos ao longo do percurso
da pesquisa, mas pelos pesquisadores que, pautando-se no método e vai respondendo aos
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questionamentos por eles mesmos elaborados. Essas indagações são de importância ímpar por
se constituírem em eixos norteadores do estudo.
Tendo conhecimento da importância da problematização para alcançar os resultados
da pesquisa, colocamo-las aqui sob a forma interrogativa. Como se deu a criação da Escola?
Onde a escola funcionou até a construção da sede situada à Rua Paulo Afonso? Como foi a
aquisição do terreno e a construção do prédio? Quando o campo de futebol e quadras antigas
foram construídas? Quantas reformas aconteceram pós-construção? Quando a nova quadra foi
construída?
No âmbito socioeducativo, buscamos responder: Qual o primeiro nível de ensino
funcionou na escola? Quais os cursos profissionalizantes foram oferecidos pela escola e
quando foram implantados? Quando o ensino médio passou a científico? Quando houve a
primeira extensão de séries? Quando iniciou a oferta da EJA? Qual foi o tempo de duração do
reinventando o ensino médio? Por que e quando retornou o curso profissionalizante? Quais as
principais transformações ocorridas ao longo de sua história no aspecto educacional?De que
forma a escola contribuiu com a formação dos alunos nela inseridos. Quando houve a
primeira extensão de séries?
Esse trabalho teve como objetivodescobrir através da pesquisa de campo, utilizando as
memórias de ex-profissionais e profissionaisda Escola Estadual “Quintino Vargas”entre a
década de 80 ao ano de 2017,a contribuição da escola para a formação dos seus alunos e as
principais transformações ocorridas ao longo da sua trajetória histórica. Objetivou-se também
utilizar a oralidade através de memórias de ex-profissionais e profissionais atuantes para
conhecer a história daEscola Estadual Quintino Vargas;investigar a contribuição dessa
instituição de ensino na vida da comunidade, bem como compreender a importância desse
estabelecimento de Ensino na vida dos profissionais que nela atuaram; descobrir os diversos
profissionais oriundos desse estabelecimento que se projetaram e teve ascensão social,
política e econômica.
O estudo foi realizado em um cunho qualitativo com aplicação de entrevistas a cinco
ex-funcionários e cinco funcionários, com ênfase em funcionários que foram alunos da escola
pesquisada. Além das entrevistas foi feita uma pesquisa bibliográfica aos registros presentes
na documentação da referida escola, bem como ao museu de vozes.
Neste presente pretendemos entender o passado através das contribuições de vozes de
sujeitos que vivenciaram na referida escola algumas experiências e no decorrer desse
vivenciar colaboraram com aconstituição de muitas identidades. Por issoa importância de se
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analisar o passado sob a ótica deles. O passado sofre influência do tempo, que será
rememorado para cada entrevistado, o qual contribuirá com a nossa perspectiva de traçar as
representações construídas por aqueles que foram influenciados pela sua experiência de
estudo neste estabelecimento.
Segundo Delgado (2007, p. 36) tempo, espaço e História caminham juntos. No
decorrer desta pesquisa buscamos conhecer a história da instituição pesquisada, a qual de uma
forma bem ímpar contribui para que houvesse uma transformação social na comunidade na
qual ela está inserida. Entendemos que o tempo influencia as informações coletadas via
entrevista, uma vez que a memória humana não é uma máquina precisa. Algumas informações
podem perpassar pelo crivo de ideologias do entrevistado, que filtrará e informará o que
considerar mais importante, ou não deixará lacunas em função do tempo transcorrido. A
influência do tempo pode ser confirmada em Delgado.
Na dinâmica da temporalidade, o que e especifico e tambémmúltiplo. Em
outras palavras, se o tempo confere singularidade a cada experiência
concreta da vida humana, também a define como vivência da pluralidade, já
que, em cada movimento da história, entrecruzam-se tempos múltiplos, que,
acoplados a experiência singular/ espacial, lhe conferem originalidade e
substância. (DELGADO, 2007, p.36)
ConformeDelgado aHistória como manifestação coletiva incorporao que foi vivido
tanto individual quanto coletivamente, e as experiências ajudam a reconstruir o passado ao
trazer sua reminiscência para o presente através de narrativas dessas vivências coletivas. Para
isso é ativado a memória que segundo definição de Lent (2008) “Memória” éa capacidade
geral do sistema nervoso central de adquirir, guardar e evocar informações; e utilizar a palavra
“memórias” para designar cada uma ou cada tipo delas.
O estudo da memória passa da Psicologia à Neurofisiologia. São utilizados na
Filosofia, Sociologia, antropologia e na psicanálise. Wilson define memória como “a
habilidade de adquirir, armazenar e evocar informações”. Para Jacques Le Goff, a memória é a
propriedade de conservar certas informações, propriedade que se refere a um conjunto de
funções psíquicas que permite ao indivíduo atualizar impressões ou informações passadas, ou
reinterpretadas como passadas. De qualquer área do conhecimento que utilizar sabe- se que a
memória juntamente com a oralidade são alicerces que ajudam a desvendar o passado.
Valermo-nos de memórias individuais voluntárias ou involuntárias, para descobrirmos
os valores ecultura, relatados por cada sujeito convergindo para aquisição da memória
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coletiva, que nos possibilitará viajar no tempo e trazer ao presente fatos que estavam
enterrados na memória por falta de serem ativados. Para Marilena Chaui, “a memória e uma
evocação do passado. E a capacidade humana de reter e guardar o tempo que se foi salvando-
o da perda total” (CHAUIapud DELGADO, 1995, p. 125).
A memória é um componente fundamental para compreendera identidade, individual e
coletiva. A memória coletiva além de ser uma conquista é também manifestação de poder,
pois as sociedades cuja memória oral insurge transformando-a em registros da coletividade,
predomina arecordação manifestada pela memória e mantém-sea tradição através do registro.
Utilizamostanto a entrevista oral quanto vídeos com entrevistas disponibilizadas pelo
Museu de Vozes da Casa da Cultura de João Pinheiro. Esses vídeos sãorico patrimônio
cultural da cidade, o qual foi idealizado e consolidado por historiadores que não aceitaram
deixar esquecida a história da cidade. Alguns dos personagens desse museude alguma forma
colaboraram com a criação daescola pesquisada. Todos os recursos utilizados para suscitar
lembranças colaboram para o enriquecimento dos registros, neste caso estaremos nos valendo
de memória social e histórica, definição apresentada no livro História oral - Memória, tempo,
identidades.
No mundo contemporâneo, muito se tem escrito e discutido acerca da
faculdade humana de relembrar e recordar. Entre os diferentes tipos de
memória identificados por filósofos e historiadores, cabe destacar a memória
social ou histórica, que, de acordo com Marilena Chaui (1995), e fixada por
uma sociedade através de seus mitos fundadores, de relatos, registros,
depoimentos, testemunhos. São as vozes da memória expressas por diferentes
tipos de registro como: narrativas, filmes, fotografias, telas, esculturas,
imagens, livros, musicas, monumentos, peças publicitárias, documentários,
relíquias, no sentido apresentado por Meneses: “Relíquia, semioforo, objetos
históricos: seus compromissos são essencialmente com o presente, pois e no
presente, que eles são produzidos como categoria de objeto e às necessidades
do presente que eles respondem.” (MENESES, Apud, Delgado, 2006, p 26).
Para trazer à tona informações sobre o objeto que se propôs pesquisar, bem como sua
evolução durante as cinco décadasutilizamosas narrativas orais definidas por Delgado como:
Narrativas sob a forma de registros orais ou escritos são caracterizadas pelo
movimento peculiar a arte de contar, de traduzir em palavras os registros da
memória e da consciência da memória no tempo. São importantes como estilo
de transmissão, de geração para geração, das experiências mais simples da
vida cotidiana e dos grandes eventos que marcaram a História da humanidade.
Sao suportes das identidades coletivas e do reconhecimento do homem como
ser no mundo. (DELGADO, 2007, p.37)
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Nosso objeto de pesquisa é uma escola de João Pinheiro, cidade situada nos Noroeste
de Minas Gerais. A escola Estadual “Quintino Vargas”situada à Rua Paulo Afonso, 600, João
Pinheiro Minas Gerais. De acordo comarquivos da referida escola ela foi criada pela Lei
3.984 de 27 de dezembro de 1965. Conforme ata de 30 de janeiro de 1966, foi oficialmente
autorizado instalar o curso de admissão no referido estabelecimento. Estiveram presentes
várias autoridades, dentre elas o deputado Jorge Vargas presidente da Assembleia Legislativa,
João Bosco Murta, Speridião Simões da Cunha prefeito de João Pinheiro,Dr. Olavo Valadares
de Oliveira, promotor de justiça da comarca, o vice-prefeito Manoel Luis de Paula Filho, Frei
Miguele outras autoridades. A reunião foi presidida pelo diretor da escola, professor Hércules
Teixeira Gomes. Ele informou aos presentes que de acordo com o oficio assinando por dona
Maria Antonieta, chefe do Departamento do Ensino Médio da Secretaria de Educação estava
autorizado à abertura do ginásio estadual Quintino Vargas, assimpublicado no Jornal “Minas
Gerais”:
De ordem do SenhorSecretário está autorizado a instalar o curso de
Admissão nesse estabelecimento. Observais para tanto o “Aviso” publicado
no Jornal "Minas Gerais" de 28 de setembro de 1965 referentes às matérias a
serem lecionadas. Deveis comunicar-me também os nomes dos professores,
bem como o início do exercício para efeito de pagamento. (Caderno de Ata
E. E. Quintino Vargas, 1966)
A escola estadual “Quintino Vargas”foi de extrema importância para o
desenvolvimento da cidade de João Pinheiro, por issorelataremos como ela começou e o que
foi feito através de sua criação em prol do desse desenvolvimento. Conforme vídeo
disponibilizado pelo museu de vozes, e entrevista feita com professor Hércules Teixeira
Gomes, ele era professor de Matemática em Morada Nova, estava fazendo um curso em Belo
horizonte e foi procurado em sala de aula pelo prefeito da cidade Speridião Simões da
Cunha,juntamente com o deputado Jorge Vargas. Eles queriam que ele viesse para João
Pinheiro para abrir a escola que ofertasse as séries posteriores ao primário. Segundo professor
Hércules ele iria trabalhar num colégio em Unaí, mas foi convencido a aceitar amissão de
abrir a escola em João Pinheiro.
Foi organizado tudo para a abertura do ginásio particular Quintino Vargas, nome
escolhido em homenagem ao pai do deputado acima citado. A escola não tinha prédio próprio
e funcionou por um bom tempo na Escola Estadual Presidente Olegário. O ginásio era
mantido pela fundação EducacionalPinheirense, da qual professor Hércules era presidente.
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Segundo professor Hércules foi necessário angariar recursos para o funcionamento da escola,
e oprimeiro evento organizado foi um contrato com avedete Virginia Lane,para fazer um
show na cidade. O eventoaconteceria no clube recém-inaugurado chamado “Sinhá Maria”.
Mas as mulheres da cidade não concordaram. Autoridades e professor Hérculesidealizarama
primeira festa do algodão com candidatas a rainha nos mesmos moldes da festa do milho de
Patos de Minas.
Conforme narrativa de Hércules,a festa foi um sucesso, filmadae narrada por um
grande repórter da época o repórter Esso, Heron Domingos, mas o show da vedete também
aconteceu. A partir dessa primeira festa foram realizadas mais duas festas do algodão e
posteriormente a festa do carvão. Esses eventostrouxeram desenvolvimento para a cidade e
tudo começou com ação do diretor para a manutenção do ginásioparticular Quintino Vargas.
A escola tornou-se estadual e ogovernador da época, Magalhães Pinto incumbiu ao
professor Hérculesde coordenar os trabalhos de construção da referida escola. A oposição
ficou contra e criticou o lugar escolhido para a construção, diziam que erano meio do mato e
afastado do centro da cidade. O professor Hércules ressalta que uma dos grandes apoiadores
nessa fase, foi o padre Frei Norberto, pessoa competente e dedicada, principalmente se o
assuntofosse referente ao setor educacional.
De acordo com o professor Hércules a política era violenta e quando mudava o
governador os diretores das escolas eram demitidos e substituídospor alguém do partido que
assumia o poder. Quando Israel Pinheiro assumiu o governo de Minas Gerais, o primeiro
diretor do ginásio “Quintino Vargas”foi exonerado. A construção queele coordenava ainda
nãotinha sido concluída. Alunos e professores que apoiavam o diretorinstigaram-no a criar o
curso Técnico em Contabilidade, desafio aceito e realizado. Mas as moças precisavam de um
curso adequado a elas e solicitaram o curso Normal. E foi assim que a cidade que tinha apenas
uma escola de primeira a quarta série conseguiu mais três escolas: Ginásio Estadual Quintino
Vargas, Colégio Comercial de João Pinheiro e Colégio Normal Frei Dionísio. Professor
Hércules relata com humor como foi sua saída do ginásio;
Quando o prefeito me exonerou, eu fiquei contrariado, mas resolvi seguir
em frente e abrir outro colégio. Falei com o diretor que assumiu que não
era inimigo dele, mas que eu seria seu concorrente... (riso). Os alunos que
estavam comigo fizeram até o enterro do prefeito por ele ter me exonerado,
eu não participei, mas teve até caixão “(riso)”. (vídeo Museu de Vozes,
2011).
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As questões problematizadoras foram apresentadas nas entrevistas as duas gestoras,
em função dos registros a que elas têm acesso. Serão denominadas de gestora A e B.Segundo
gestora A e B, a escola não tinha prédio próprio, por isso funcionou no prédio da escola
estadual Presidente Olegário à noite, sob os cuidados de Geraldo Vinicius de Oliveira,
professor de Educação Física. Em 1969 as turmas passaram para o prédio próprio. O ginásio
“Quintino Vargas”foi construído com verba estadual por Zurico Osório Torres,maso terreno
foi doado pelo Sr. Francisco Couto. Segundo registro de relatos orais,muitas crianças
ajudaram a quebrar pedras para a construção. Não há especificidade sobrea construção das
quadras, mesmo porque na década de 70 havia apenas uma grande área que era um campo de
futebol, o qual era utilizado por crianças e adolescentes, pois era ponto de encontro dos atletas
da cidade. Após a construção as quadras passaram por várias reformas, em 2005/2006 foram
inauguradas duas quadras modernas, sendo que uma delas é coberta. Outra aquisição
importante para a estrutura física da escola foi à construção do teatro. A gestora A, considerou
importante registrar que, “em 2004, foi inaugurado o Teatro Prof.ª Maria do Carmo Menezes
da Silveira”.
As questões relacionadas ao pedagógico da escola foram respondidas pelas gestoras já
citadas. Perguntamos quais os cursos profissionalizantes foram oferecidos pela escola e
quando foram implantados. Segundo a Gestora B de acordo com consulta a arquivos da
escola, para criação do Ensino Médio houve empenho do prefeito João Batista Franco, do
Deputado Dalton Canabrava e apoio do governador de Minas Gerais, Tancredo de Almeida
Neves. Houve a publicação dodecreto 23.420 de 06/02/1984, para os cursos Normal, Técnico
Agrícola e Técnico em Contabilidade. A escola não tinha salas disponíveis, por isso as turmas
do 2º grau funcionaram por alguns meses na E. E. Capitão Speridião, sob os cuidados da vice-
diretora Cleusa Antônia de Souza. Posteriormente foram adaptadas salas de aula no teatro que
estava em construção.
O primeiro nível de ensino ofertado pela escola foi o ginasial, atual ensino
fundamental II, da década de 60 até quase metade da década de 80, pois somente em 84 houve
a criação do ensino médio.A escola cumpria com o Art. 1º da LDB 5692/71 O ensino de 1º e
2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação necessária ao
desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto realização, qualificação para
o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania. Segundo um dos entrevistados a
maior preocupação era com a qualificação para o trabalho, e que com a criação do ensino
médio acentuou-se o interesse em preparar os alunos para o vestibular. A escola desde seu
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inicio já manifestava preocupação com o perfil de aluno que iria devolver para o mercado de
trabalho, por isso era bem criteriosa em sua seleção.
Os critérios de ingresso no ginásio “Quintino Vargas”eram muito
rigorosos. O aluno tinha que passar pelo exame de admissão,
respondendo a uma prova escrita e oral. A média mínima a ser
atingida era sete e meio. As aulas aconteciam à tarde para meninas e a
noite para os meninos. (Entrevistada 1)
Na década de 90 foi extinto o ensino profissionalizante e o ensino médio passou a ser
apenas científico. Em 2001 foi aberta a primeira extensão de turma, na comunidade e
Assentamento Fruta D’Antas, como segundo endereço. Isso foi feito através de uma parceria
entre o estado e o município. O objetivo era evitar o longo percurso de mais ou menos 160
quilômetros,que os alunos do ensino médio tinham que fazer todos os dias.
Em 2013 a E. E. “Quintino Vargas”passou a ofertar também a Educação de jovens
eAdultos do 6º ao 9º do ensino fundamental e ensino médio. Ainda nesse mesmo ano houve a
implantação do Reinventando o Ensino Médio - REM. Era um novo modelo que
oportunizariaformação para várias áreasde empregabilidade, mas foi extinto em 2015. Em
2015 a escola volta a ofertar ocurso Normal em Nível Médio (CNNM), para alunos que
haviam concluído o ensino médio. Sabemos que as transformações educacionais influenciam
a sociedade e que elas são cruciais para o desenvolvimento de um país. Ao questionarmos
sobre as principais transformações ocorridas na escola, bem como a importância do
desenvolvimento de projetos culturais e de lazer que oportunizem a formação integral do
aluno. Obtivemos a seguinte informação:
Desde o princípio, as equipes gestoras e todos os segmentos procuravam
inovar, aperfeiçoar na busca de projetos que incentivassem e contribuíssem
para a formação integral do educando, dentre eles podemos citar: Olimpíadas
esportivas e de conhecimento, Gincana Cultural e esportiva, Sarau Musical e
literário, Semana Literária, Projetos de Solidariedade, Festa Junina, Show de
Talentos, Por tudo isso, essa Escola é destaque na qualidade de ensino
prestado à sua clientela, comprovado pelos resultados das avaliações
externas (Ideb), Olimpíadas de Matemática (OBMEP), dentre outras, como
também pelos bons resultados dos alunos para ingresso no ensino superior.
Todos os servidores desta instituição sentem-se orgulhosos por contribuir,
com sua dedicação para a educação pinheirense e atender ao propósito de
fazer uma educação pública de qualidade. (Gestora A)
A escola Estadual Quintino Vargas, quando foi criada em 1965, tinha como
perspectiva básica preparar seus alunos para prosseguirem seus estudos na
Universidade. Assim o vestibular era o alvo mais importante, sendo que os
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índices de aprovação que tem conseguido dede então se constituem num de
seus orgulhos. No entanto desde sua criação, a escola através de um processo
contínuo de reflexão dos seus professores, especialistas da educação,
gestores e com a participação dos pais vem acompanhado e analisando as
mudanças que acontecem na sociedade. (Gestora B)
No decorrer da pesquisa, à medida que as entrevistas foram sendo realizadas, detectou-
se a necessidade de acrescentarsobre a gestão escolar, tendo em vista evidências deque o
desenvolvimento desta foi de acordo com o perfil de cadagestor que nela atuou. Nesse
contexto é importante definir gestão. Sua origem etimológica é do Latim GESTIO, “ato de
administrar, de gerenciar”, de GERERE, “levar, realizar”. Segundo Oliveira (2002)gestão
significa gerenciamento, administração.
Na percepção de Libâneo (2013)organização, administração e gestão têm significados
muito parecidos, assim como gestão e direção. Compreende-seque o clima organizacional de
uma instituição de ensino depende em demasiada liderança do gestor. Cada escola constrói
sua cultura organizacionala partir do perfil de gestão. O gestor que é autoridade, masque
valoriza o trabalho em equipe, que estimula a comunicação, que aceita opiniões, certamente
torna essa cultura mais agradável e pacífica, bem como estimula a eficiência com eficácia. A
Escola Estadual “Quintino Vargas”passou por vários tipos de gestores e cada um deles
implementou um pouco de sua ideologia para que a instituição se tornasse o que ela é hoje.
Podemos entender essa cultura organizacional:
Como o conjunto de pressupostos básicos – inventados, descobertos ou
desenvolvidos por um determinado grupo ao aprender sobre como lidar com
problemas de adaptação externa e integração interna – que funcionaram bem
o suficiente para serem considerados válidos e ensinados para novos
membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir em relação a
esses problemas (SCHEIN apudPAGLIUSO, 2004, p. 17).
Em cada década houve um perfil de gestor, sendo que os primeiros eram sempre
indicações políticas e cada vez que mudava o comando político da cidade automaticamente
havia mudança do gestor da escola. A priori parece difícil distinguir se a escola tinha um
gestor ou um diretor. Libâneo aponta diferenças entre gestão e direção:
Os processos intencionais e sistemáticos de se chegar a uma decisão e de
fazer a decisão funcionar caracterizam ações que denominamos gestão.
Direção são umprincípio e atributo da gestão mediante a qual é canalizado o
trabalho conjunto das pessoas, orientando-as no rumo dos objetivos.
(LIBÂNEO, 2013, p. 88)
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Analisando os relatos das memórias de uma entrevistada, emergiu a necessidade de
definir os vários tipos de gestão. Segundo Libâneo há a concepção cientifico - racional com
visão mais burocrática e tecnicista da escola. Há também a concepção sócio critica, em que se
considera o caráter intencional das ações, bem como as interações sociais do grupo e da
escola no contexto sociocultural e político. Neste último há ênfase no coletivo que possibilita
discussões para execução de projetos e práticas educativas.
Libâneo citandoautores como Escudero e Gonzáles (1994), Luck (2001),Lima (2001),
apresenta mais quatro concepções de gestão: a primeira, a técnico-científica que se baseia na
hierarquia, cargos,funções e regras para que o trabalho seja eficiente, esta gestão é mais
conhecida como burocrática. A segunda éa gestão auto-gestionária baseada na
responsabilidade coletiva sem centralização de direção havendo participação direta de todos
os atores envolvidos. A terceira é a gestão interpretativa, esta é contrária à concepção
cientifica - racional e sua rigidez. O foco dessa concepção é a análise dos processos de
organização da gestão, bem como da subjetividade presente nas intenções e interações entre
as pessoas. A quarta concepção é a democrático-participativa que preconiza a tomada de
decisões coletiva, mas sem desmerecer a participação individual. Essa gestão enfatiza tanto as
tarefas quanto as relações interpessoais.
Com base nas entrevistas pode-se afirmar que osgestores citados a seguir usaram uma
dessas formas de gestão para que a escola chegasse à atualidade com sua cultura
organizacional bem peculiar. O primeiro gestor foi Hércules Teixeira Gomes (30/01/1966 -
31/12/1967. Retornando posteriormente em (23/09/1987 -05/03/1989). O segundo foi Dr.
Nuno Campos (1968-1970). O terceiro, Dulce Amorim Silveira (02/01/1971-02/02/1974).
Quarto e quinto gestores fase bem pequena duas Pessoas as quais só consta primeiro nome,
Vasco e Maria Aracy (1974-1975). O sexto gestor foi Nabih Murad (29/05/1975-
29/07/1983). O sétimo gestor, Inêz Neiva de Oliveira (30/07/1’984-24/08/1987). Oitavo
gestor, Maria Bercholina de Jesus (06/03/1989-14/01/1997). Nono gestor, Maria do Carmo
Menezes Silveira (15/11/1989-29/01/1997). Décimo gestor, Maria Selma dos Reis
(31/01/1997-11/01/2000). Décimo primeiro gestor, Carmem Lúcia de Melo Lima
(12/01/2000-31/03/2004). Décimo segundo gestor, Maria Zilma Teixeira de Oliveira
(01/04/2014 -21/01/2012). Décimo terceiro gestor, Orlinda Maria Alves Simões Bomtempo
(2012-2015 - 2016-2018).
É relevante explicitar que os gestores eram indicados por prefeitos e o governador
validava a indicação. Somente a partir de 1997 foi feita a primeira eleição para gestor da
.
referida escola, a partir de então se pressupõe a presença de uma gestão democrática. O fato
de a comunidade poder escolher o diretor da escola não garante uma gestão realmente
democrática. Conforme Drucker (2002) o principal desafio das organizações no século XXI e
a gestão. Evidentemente cada gestão dependia também das políticas públicas do estado para
conseguir mais desenvolvimento para a escola. A entrevistada 1 foi funcionária na escola de
1984 até os anos 2000, ausentando-se apenas por cinco anos para outra função fora da E. E.
“Quintino Vargas”e nos relata sobre todos gestores com os quais ela trabalhou:
A Inez foi à diretora que lutou pro... Para criar o ensino médio, ela era aquela
diretora idealista, apaixonada pela escola. Ela que criou o curso técnico, o
normal, o ensino médio. Ela criou o técnico agrícola, ela tinha uma ideologia
para esse curso, setivesse continuado esse curso, João Pinheiro estava top.
Nem sei porque esse curso não foi pra frente. Já tinham arrumado a
fazenda... Era na Ruralminas. Ela gostava de festa.Festa bonita muitas festas
bonitas, ela era pedagoga. O Nabih ele era um diretor muito técnico, mas ele
não tinha... Ele era um diretor muito severo, muito exigente com aula, com
vigiar como é que estava dando aula, se ninguém faltava. Ele punha muito
medo passava aquele desconforto e aquela falta de confiança. A Maria do
Carmo ficou muito tempo assim acho que dois mandatos. Ela foi àquela
diretora,com o lado lúdico na escola. Ai teve uma modificação não me
lembro... Começou o científico. Ela foi assim àquela diretora,companheira e
trazia muitos cursos pros professores, era amigo de todo mundo e promoveu
muito a escola em todos os sentidos assim no pedagógico. Teve a
implantação das gincanas culturais, era muito bom. Agente trabalhava
demais, mas era bom, tinha as festas juninas maravilhosas. A época da Maria
Selma e da Carmem foi à época dos computadores, foi à chamada
implantação na tecnologia na escola. Foi o período em que o governo
liberouos computadores. Eu achavauma dificuldade, quem ficou a
vidafazendo as provas para rodar no mimeógrafo e a mão. Não tinha
computador, não tinha nada, era na máquina de escrever ou a mão. Foi uma
época de muitos cursos em Belo Horizonte para ensinar os professores a usar
a tecnologia. Na época da Maria Zilma a escola estava com muito problema
de indisciplina, a escola estava num outro patamar, o alunado era mais livre
tinha mais liberdade, a gente até falava os meninos de hoje, nossa que
dificuldade, eles vinham sem aquele domíniodos pais, sem aquela
educaçãoque trás do lar. Maria Zilma sempre contornando, desenvolvendo
projetos, pulso firme, mas levando a escolapara ela continuar o seu brilho
fazendo jus ao nome que ela tinha. Desenvolveu muita coisa e o ensino
também continuava. Foi um período que foi implantado a avaliação do
ensino, começou a observar a cruzar os dados de notas dos alunos, como
estava a aprendizagem dos alunos, como estava o trabalho dos professores.
A escola teve coisa boa nesse período, implementou muita coisa boa. Foi um
período em que houve reformas, a gente ficou muito feliz, houve reforma no
aspecto físico, foi quando a gente construiu a biblioteca diferente da outra
que virou pólo de informática.(Entrevistada 1)
.
Aos funcionários ex-alunos da escola foram feitos os questionamentos abaixo. O
entrevistado um estudou no final da década de 60. O entrevistado dois estudou na década de
70. O entrevistado três final da década de 80. O entrevistado quatro na década de 90. O
entrevistado cinco nos anos 2000. Que memórias você tem do seu tempo como estudante
nesta escola? Que influência aformação na E. E. “Quintino Vargas”teve para sua escolha de
profissão? Emsua percepção qual a contribuição quea E. E. “Quintino Vargas” teve para o
desenvolvimento, social, cultural e econômico de João Pinheiro?
Lembro que tive que fazer prova de admissão era prova escrita e oral a dona
Inêz que fazia as provas... Na época que eu estudei era tudo misturado
meninas e moças, às vezes quando as moças queriam aprontar elas
mandavam as meninas vigiar pra ver se o professor Hércules estava vindo.
Ela influenciou porque me deu base para fazer o segundo grau e depois eu
fiz faculdade. Olha a escola foi de suma importância, porque o Quintino era
um marco, era o desejo de todo mundo estudar naquela escola, os
adolescentes, queriam estudar lá porque tinha um ensino muito bom, muito
apertado. Os meninos quando terminava o ginasial, aqueles que não iam
continuar o ensino médio aqui, eles saiam e se davam muito bem onde iam
estudar. Esses meninos recebiam elogios, esses elogios os pais contavam.
Nesse tempo os pais se preocupavam com os filhos e traziam os elogios,
falavam, olha foi graças a vocês. Eles passavam no vestibular. Nós tivemos
uma turma de muitos médicos, engenheiros, advogados. Olha sei de dois ou
três se for contar daquela turma que não fez faculdade. Sem dúvida o
desenvolvimento cultural, profissional, técnico, econômico e social podemos
dizer que a base veio dessa escola. (Entrevistada 1)
Ah eu lembro na época de Educação Física eu era tímida, como isso me
ajudou, os projetos da educação física eram projetos assim dinâmicos e que
eles assim me ajudaram muito, muita dança, muitos jogos, como eu joguei
vôlei, como marcou vôlei na minha vida nessa escola. Eu quase nem comia,
minha vida era jogar vôlei (riso) isso m ajudou bastante. A escola me ajudou
bastante,foi com o que eu tirei dessa escola, com as informações, meu
crescimento aqui que eu tive a visão diferente de que eu faria o curso
superior.Como essa escola ajudou no desenvolvimento da cidade, eu tenho
inclusive uma lembrança, por exemplo, ali da sala dois, nós tínhamos ali um
ensino médio que hoje são profissionais excelentes na nossa cidade. Nós
tínhamos Dr. Flávio que foi meu aluno, Dr. Arilsinho, Dr. Leonardo que
foram nossos alunos, esses são médicos né, então agente lembra mais porque
estão atuando aqui na cidade. Então são muitos profissionais excelentes que
foram nossos alunosnessa escola que contribuem muito hoje na nossa
sociedade. (Entrevista 2).
Estudei na Quintino Vargas na década de 80, as quatro série finais do ensino
fundamental, era uma formação muito boa, a única escola mais central que
recebia os alunos da Presidente Olegário. Com certeza a minha base está na
formação dessa escola. Passei minha adolescência nesta escola, depois de
formada como professora, trabalhando aqui há quinze criei meus filhos tenho
uma caminhada, um laço, um amor, um carinho, é uma vida nesse
.
educandário. Fui aluna, professora, vice-diretora e agora estou gestora, eu
acredito muito na formação da escola Quintino Vargas. Eu vejo minha
formação como aluna, meu trabalho como professora daqui tem saído muitos
profissionais, excelentes profissionais para o mercado de trabalho.Também
como meus alunos, vejo grandes profissionais. Como gestora vejo a escola
em outro patamar, nossos alunos passando no vestibular em grandes
faculdades. Eu acredito muito na formação da escola Quintino Vargas, temos
excelente professores e acredito que essa escola tem ajudado sim o
desenvolvimento da nossa sociedade. (Entrevistada 3)
A Quintino Vargas era muito glamour, muitas festas, o desfile e as férias de
ciências, fato marcante, época de inflação recessão, pouco dinheiro e minha
turma não queria participar da feira, mas a diretora não aceitou. Ela disse que
o terceirocientifico não podia ficar de fora. Nossa turma,combinamos de
última hora participar sem gastar dinheiro. Eu como sempre gostava muito
de falar, me mandaram estudar sobre a ditadura militar. Era uma sala com
vários ambientes: ditadura, anos dourados, movimento ripe. E eu apresentei,
o publico ficava encantado, uma menina magrinha explicando tudo sem
olhar no livro, isso foi um divisor de águas pra mim. A influência dessa
escola na minha formação é que meu sonho era fazer faculdade, a Quintino
era a única escola que ofertava o ensino médio na cidade. Eu entrei, naquela
época era a penúltima turma de técnico e normal e tinha o cientifico. Como
eu vim de outra escola e havia muita procura tínhamos que fazer prova e não
tinha a vaga garantida no curso que eu queria. Eu fui colocada no normal,
fiquei muita decepcionada, que eu não queria, meu sonho era fazer
científico, não me via como professora de primeira a quarta série, mas tinha
que persistir. A professora de psicologia pediu uma redação e relatei que
estava no curso errado porque não tinha vaga. No segundo ano fui para o
científico e por causa da feira de ciências optei por história. No anoqueme
formei, passei em primeiro lugar no concurso, fui tomar posse um dia antes
da minha colação de grau, por sortejá tinha defendido a monografia, tomei
posse só com o histórico. Eu vejo assim que eufaço parte da Quintino
Vargas. Eu ouço pelos corredores e salas, eu me lembro, recordo as melhores
fases da minha vida, os desfiles,as festas, o ensino, o despertar da leitura foi
tão forte na Quintino para mim.Eu só tenho a agradecer a Deus por ela ter
feito parte da minha vida, aqui eu tive excelentes professores,não tive
dificuldade nenhuma na faculdade, ela foi um marco na minha vida.
(Entrevistada4)
Para mim foi relevante à criação do segundo endereço, foi minha solução,
porque deslocar da fazenda até acidade para estudar era inviável. Eu tinha
quase quinze anos, as aulas eram à noite, então nós tínhamos que deslocar 60
quilômetros, chegava a casade madrugada, era muito difícil. A ideia de
estudar foi um sonho pra nós que não foi quebrado ao meio. A escola me
influenciou não no momento, porque talvez a gente não tivesse consciência
disso naquele momento enquanto estávamos como estudante no ensino
médio,mas depois quando sai que olhei pra trás que eu vi quanta garra minha
e dos meus colegas. Eu olhava pro meus professores, eles tinham muita
energia e disposição pra ir lá, a distância que era e eles se entregavam muito
pra gente. Apesar da dificuldade de contratempo, falta de energia, fatores
climáticos, eles se entregavam de coração, eram grandes mestres. Apesar das
dificuldades que tínhamos aprendemos muito, tivemos uma experiência de
vida muito grande, valeu apena. Eu pensei porque não eu também? Ou seja,
.
me tornar aquilo o qual eu me espelhei. A escola foi sim o meu grande
exemplo, aminha grande base. Considero fazer parte do desenvolvimento
assumindo minha profissão. Quando efetivei, eu imaginei que seria locada
em qualquer escola, nunca imaginei que voltaria para ela, porque pensei é a
Quintino Vargas então o cargo dela com certeza já foi preenchido, mas todas
as pessoas já tinham escolhido outras escolas, e La esta ela esperando por
mim. Foi Deus que me deu o presente de retornar pra minha casa. Então
tomar posse além de ter sido a gratidão de ter conquistado esse espaço e
voltar pra Quintino Não tem descrição, ou seja, voltar de novo no seio no
qual me embasei e no qual eu quero frutificar.(Entrevistada 5)
Todos os entrevistados foram unânimes ao corroborar com a pesquisa enfatizando a
importância e a qualidade do ensino ofertado pela escola. Alguns com ternas lembranças,
outros lembram de conflitos, entretanto todos confirmam uma salutar saudade de seu tempo
como estudante. Há um orgulho explicito da identidade construída tanto como aluno quanto
como profissionais. Todos eles manifestam uma alegria ímpar em pertencer à família
Quintino Vargas. Esse grupo entrevistado acompanhou o desenvolvimento que a Quintino
ajudou a promover, mas mantêm algumas características das pequenas cidades do sertão das
Gerais, e também sabem valorizar tudo aquilo que a vida lhes oportuniza.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao iniciar esta pesquisa não tinha discernimento da importância da história oral tanto
para informação quanto para preservação do patrimônio cultural de uma comunidade.
Percebique o pesquisador contribui sobremaneira para a continuidade e manutenção da
história. Apreendi aimportância do compromisso com a veracidade dos fatos relatados, bem
como a acuidade de ser fidedigno aos relatos. Fato interessante, o pesquisador precisa ser
criterioso, ter método ao utilizar-se da história oral, mas acredito que a objetividade dos
registros dos relatos não nos proporciona a riqueza dos fatos implicitamente relatados que são:
os gestos, a expressão facial, o sorriso, a voz embargada e até mesmo lágrimas. O
encantamento com esses detalhes em cada entrevista certamente oportunizou em mim um
maior interesse pela pesquisa, bem como respeito maior pelas memórias vivas que tem em
cada comunidade. Os entrevistados manifestaremorgulho por participar da pesquisa
apresentaram sentimento de pertencimento e ao mesmo tempode dor, desaudade e melancolia.
.
Contar e fazer história são uma dádiva que nos enriquece e nos permite desempenhar
uma função de grande relevância social. Conhecer a história e preservar a memória é fator
primordial na constituição identitária. Debruçar sobre os arquivos, pesquisarnas memórias
deex-funcionários constitui uma forma de conhecer, preservar e compor com mais
intensidadea identidade de um enorme percentual da população pinheirense.
As memórias reminiscentes oportunizadas pela história oralcorroboraram com o que se
propôs investigar, a E.E. “Quintino Vargas” oportunizou aos pinheirenses conhecimento e
educação formal, e isso transformou a vida dessa cidadezinha tão pequenina do sertão mineiro
em realidade concreta, poisantes da criação da escola pesquisada tudo nesta cidade se resumia
emesperança. E o futuro de grande parte da população jovem passou a ser também realidade,
porque tiverem um ensino de qualidade focado na inserção deles na vida adulta e nomercado
de trabalho. É o saber da História como possibilidade e não como determinação. O mundo
não é. O mundo está sendo. (...) Não sou apenas objeto da História, mas seu sujeito
igualmente. No mundo da História, da cultura, da política, constato não para me adaptar,mas
para mudar. (Freire 1996. 46).
REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS
DELGADO, Lucília de Neves. História oral - Memória, tempo, identidades. Autêntica
Editora, 2007.
FREIRE, Paulo; Pedagogia da indignação cartas pedagógicas e outros escritos. Fundação
UNESP São Paulo 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
REIS, José Carlos. As identidades do Brasil:de Varnhagen a FHC. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2006.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990.
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 6ª Ed. Rev. e
ampl. São Paulo: Heccus editora, 2013.
MARQUES, Azeredo Décio.A ideologia docente em A reprodução, de Pierre Bourdieu e
Jean-Claude Passeron. Educação & Linguagem. Ano 10 • Nº 16 • 106-126 Jul. - Dez. 2007.
PAGLIUSO, Antonio Tadeu. Gestão organizacional. Saraiva. 2010.
.
THOMPSON, Paul.A voz do Passado – História Oral: Paz e Terra 1987.
WILSON, Bárbara A. Reabilitação da memória. ArtMed, 2011.
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