CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC
CURSO DE PSICOLOGIA
BRUNO FREIRE TAVARES DAS NEVES
JACQUELINE DOS SANTOS
ORIENTADOR: Mº CLAUDIO JORGE GOMES MORAIS
UMA INTERPRETAÇÃO EXISTENCIAL DA EXPERIÊNCIA: UM OLHAR DA
PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA NO CONTEXTO SOCIAL ESCOLAR
O SER-NO-MUNDO
MACEIÓ
2018
BRUNO FREIRE TAVARES DAS NEVES
JACQUELINE DOS SANTOS
UMA INTERPRETAÇÃO EXISTENCIAL DA EXPERIÊNCIA: UM OLHAR DA
PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA NO CONTEXTO SOCIAL ESCOLAR
O SER-NO-MUNDO
Artigo para Conclusão de Curso,
apresentado ao Curso de Graduação em
Psicologia, do Centro Universitário
CESMAC.
Orientador: Prof. Mº Claudio Jorge Gomes
Morais
MACEIÓ
2018
Sumário
RESUMO ................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 5
R E F E R E NC I AL T E ÓR IC O ............................................................................................ 7
M E T ODOL OG I A ............................................................................................................. 11
DESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA VIVIDA .......................................................... 16
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 20
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 22
4
UMA INTERPRETAÇÃO EXISTENCIAL DA EXPERIÊNCIA: UM OLHAR
DAPSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA NO CONTEXTO SOCIAL ESCOLAR
O SER-NO-MUNDO
BRUNO FREIRE TAVARES DAS NEVES1
JACQUELINE DOS SANTOS2
Mº CLAUDIO JORGE GOMES MORAIS3
RESUMO
O presente artigo relata o trabalho realizado a partir do Campo de estágio da Psicologia
Escolar e processos educativos, desenvolvido com adolescentes do Colégio Professor
Edmilson Pontes em Maceió Alagoas. Refletimos sobre o papel da Psicologia Social
Escolar, buscando construir ações norteadas pelo Ensino de Habilidades de vida
proposto pela Organização Mundial da Saúde, com o objetivo de ressignificar os
relacionamentos interpessoais e a dinâmica da instituição escolar, sempre com o
enfoque no desenvolvimento crítico frente às adversidades dialógicas possibilitando
uma melhoria para além da escola, assumindo uma postura ativa no compromisso
social. O trabalho dos estagiários abarcou os 7ºs anos A e B, adolescentes de 12 á 14
anos e o 3º ano, adolescentes de 16 á 18 anos. A experiência evidenciou a importância
da Psicologia Social, dentro do contexto escolar, o olhar da Psicologia Fenomenológica
Existencial possibilitou o contato que os estagiários estabeleceram com os alunos. Este
olhar foi à chave para uma atuação transcendente dentro do contexto no qual estavam
inseridos. Assim foi possível contribuir para o desenvolvimento de ações no Campo da
Psicologia Social Escolar.
Palavras-chave: Psicologia Social Escolar, Habilidades de Vida, Relacionamentos
Interpessoais, Atuação transcendente
1Graduando do Curso de Psicologia do Centro Universitário Cesmac, Maceió-Alagoas,email:
2Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário Cesmac, Maceió-Alagoas, email:
3Professor Mestre Orientador, Centro Universitário Cesmac, Maceió-Alagoas, email:
[email protected] , junho de 2018.
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ABSTRACT: This article reports the work accomplished from the field of educational
psychology and educational processes, developed with adolescents of Professor
Edmilson Pontes College in Maceió-Alagoas. We reflected on the role of Social
Psychology School, aiming to build actions guided by Teaching of Life Skills, proposed
by the World Health Organization, aiming to re-significate interpersonal relationships.
Dynamics of school institution, always focusing on the critical development towards the
adversities, allowing an improvement beyond the school, taking an active stance on
social commitment. The work of the trainees covered 7th years A and B, adolescents
from 12 to 14 years old and the third year, adolescents from 16 to 18 years old. The
experience evidenced the importance of Social Psychology, within the school context at
sight of Existential Phenomenological Psychology. It became possible the contact that
the trainees established with the students. This vision was the key to a transcendent
action within the context which they were inserted. Thus, it was possible to contribute
to development of actions in the field of Social Psychology School.
Keywords: Social Psychology School, Life Skills, Interpersonal Relationships,
Transcendent Performance.
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo relatar uma experiência de estágio em
Psicologia Escolar e processos educativos no curso de graduação em Psicologia no
Centro Universitário CESMAC. Para esta análise, recorremos à própria experiência
ontológica como estagiários, no Colégio Professor Edmilson Pontes, localizado em
Maceió – Alagoas.
O estágio supervisionado de Psicologia Escolar organizado através de 240 horas
de atuação dentro das escolas e cinco horas semanais de supervisão em grupo,
possibilitou aos futuros profissionais identificar necessidades e possibilidades de
aperfeiçoamento das relações interpessoais e multiprofissionais. Por outro lado, o
estágio supervisionado de Psicologia Escolar destacou-se por oportunizar as escolas o
recebimento de serviços psicológicos, em caráter de clínica ampliada, contribuindo para
que as mesmas possam alcançar, de forma sadia, seus objetivos pedagógicos, ao tempo
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em que desenvolva capacidade instrumental (técnica e interpessoal) para participar de
interações construtivas com todos os agentes.
A intervenção no contexto escolar foi norteada pelo Ensino de Habilidades de
vida proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1997), As Habilidades de
Vida propostas pela OMS são: tomada de decisão, resolução de problemas, pensamento
criativo, pensamento crítico, comunicação eficaz, relacionamento interpessoal,
autoconhecimento, empatia, capacidade de lidar com as emoções e com o stress. Cada
habilidade foi trabalhada e discutida de forma dinâmica, através da técnica de grupo e
rodas de conversa.
Nossa atuação foi direcionada sobre o enfoque da Psicologia Fenomenológica
Existencial. O olhar fenomenológico compreende o indivíduo enquanto ser no mundo.
A presente abordagem possibilita-nos compreender o ser em sua subjetividade,
buscando o cuidar autêntico do ser humano, visto que, nós, como profissionais de
psicologia, muitas vezes valorizamos apenas a técnica, desvalorizando assim a relação
verdadeira com a existência do ser.
A fenomenologia busca entender como o ser humano percebe o fenômeno e
como este se percebe. Geralmente, nosso olhar comum não permite evidenciar o
fenômeno em si mesmo. Através desta abordagem, é possível obter um olhar sensível e
amplo do ser no mundo, buscamos acessar e compreender as relações dos alunos com o
mundo e sua realidade. Nossa intenção não foi intervir apenas no seu ambiente externo
escolar, mas fazer diferença no seu interno, sua vida social.
Fundamentada nas características do existir, a fenomenologia se preocupa em
valorizar o ser. Nós, como estagiários de psicologia, não devemos tratar o ser humano
em sua superficialidade. Assim, suspendemos nossos pré-juízos e pré-conceitos para
conhecer apenas o fenômeno, aquilo que se mostra, se revela. A proposta da intervenção
sobre o ensino de habilidades de vida foi para a vida, para além do cenário escolar. Em
nossos encontros, os alunos relacionavam os temas com sua vida cotidiana, acolhemos
suas experiências e nos permitirmos interagir com cada ser, rompemos as barreiras da
nossa relação com os alunos e valorizamos a experiência em sua singularidade.
Escolhemos a ênfase escolar devido à urgência da atuação de psicólogos
escolares nas instituições de ensino, tendo em vista as demandas observadas no dia a dia
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das intervenções. A escola é um ambiente rico, quando se trata de existência humana, há
sempre uma possibilidade de estabelecer uma ação, relação para obter certo contato
genuíno com os entes que estão ali. Lançados às possibilidades do que vem a ser, a
experiência proporcionou aos estagiários a abertura de um novo olhar para a
compreensão do que está sendo humano e do que vem a ser humano; é importante
ressaltar o papel da Psicologia Social no ambiente escolar, uma vez que o olhar social
fez com que nosso trabalho lograsse bons resultados, foi a chave da nossa atuação. O
trabalho alcançou alunos dos 7ºs anos A e B com a faixa etária de 12 á 14 anos e uma
turma do 3º ano com a faixa etária de 16 á 18 anos.
Buscamos repensar a prática da atuação do Psicólogo Escolar em um contexto
real, social, estabelecer a dialética entre Psicologia Social e Escolar, uma articulação
possível para o desenvolvimento de intervenções, visando estratégias psicossociais na
instituição escolar, contribuindo assim para a formação de um sujeito pensante, crítico e
autônomo dentro da própria vida.
RE FE RE NC IA L T EÓR ICO
A atuação em um viés social atua na emancipação do homem, no contexto
histórico-social-existencial-ontológico da produção e reprodução da incapacidade de
lidar com o mundo de uma forma linear com as próprias emoções, a prática social vem
pensar como está sendo essa reprodução, esse laboratório do próprio monstro. Assim
comenta Salanskis (2011, p.19):
Os existenciais de Heidegger são nomes gerais de atitude, nos quais
somos convidados a reconhecer os padrões das atitudes mais singulares
que, em escalas temporais variadas, de fato assumimos: por exemplo, o
ser-no-mundo, o compreender, a angústia, só para nomear três deles. É
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igualmente compreensível que as diversas atitudes genéricas se
organizem umas em relação às outras.
“A criança é, assim, o reflexo do que o adulto e a sociedade querem que ela seja
e temem que ela se torne” (Silvia, Lane, 2001, p. 109).
A criança é na verdade um reprodutor social, o mundo moderno é uma escola
para as crianças, a alienação do sujeito não permite que o mesmo tenha conhecimento
de si frente ao mundo, tome consciência e consiga reproduzir adequadamente suas
representações, transformando as crianças em meros reprodutores da alienação
introjetada, não como um ser extraterrestre, mas ali-é-nada, quando se trata de se
reconhecer frente o que se produz e se reproduz.
Afastada a idéia de socialização enquanto integração podemos recuperar a idéia
de socialização evolutiva, proposta por Charlot. Para ele, a socialização deve ser tratada
como um processo evolutivo da condição social da criança. Assim, o problema não é
investigar como a criança se socializa, mas “como a sociedade socializa a criança.”
(Silvia Lane, 2001.p 131)
O ponto culminante da prática social não é só entender o indivíduo e a
sociedade, mas a dialética que existe entre ambos, o significado que conecta ambos; não
há prática social para entender a fatalidade, sem entender os fatos que constituíram tal
demanda. A criança, o jovem, o ser humano está inserido em um universo de multi-
possibilidades rumo a transcendência, seja ela qual for, em outras palavras, a super-
ação,
Socializar-ação não consiste em aglomeração de sujeitos, mas sim do
pertencimento mútuo nas ações, ou seja, nas ações do outro, o sujeito se identifique,
dialogue, dia-logos, a possibilidade do clamor no discurso, dis-curso, como dizia
Heidegger “O clamor justamente não é e nunca pode ser algo planejado, preparado ou
voluntariamente cumprido por nós, O clamor “se faz “contra toda espera e mesmo
contra toda vontade.”
Dentro do contexto escolar a prática social é relevante para conhecer o homem
para além do local que o mesmo está inserido, entender o processo do mundo ulterior, a
escola influencia as relações dos jovens na atualidade, entender a formação dos jovens e
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interagir com os mesmos, não para tornarem algo que seja utópico, mas que os mesmos
sejam gestores dos próprios pensamentos.
É o que Nietzsche tem em mente ao escrever: “Quando alguém tem caráter, há
sempre alguma sua vivência que se torna recorrente” (Walter, Benjamin, 2016). E isso
reverbera na educação atual, essas vivências-não-vividas pelos jovens e sim pelos seus
pais, como uma transposição de valores dotados em sua história de vida.
A atuação social nesse contexto é mais que urgente, é existencial, pois a
humanidade está em um processo decadente, vive em valores que não lhe cabem, só
para se assemelharem a outros que possuem a mesma linha de pensamento. Com o viés
da psicologia social, além de o sujeito compreender o mundo à sua volta, o mesmo
passa a entender sobre o processo bio-psico-social-cultural,capacitando-se a encontrar
um sentido para a própria vida.
Segundo (Silvia Lane, 2001), “a função do grupo é definir papéis e,
consequentemente, a identidade social dos indivíduos; é garantir sua produtividade
social.” Nossa atuação dentro do contexto escolar foi entrar em contato com identidade
social de cada aluno, cada indivíduo que estava disposto a se conectar conosco. Nossa
proposta foi tornar o grupo mais coeso, unido, em harmonia, o processo de interação
dos adolescentes é um desafio, encontramos grupos que divergiam entre si, a partir da
técnica grupal, dinâmicas, rodas de conversa, abrimos a possibilidade da resolução dos
conflitos, saímos do papel do psicólogo que comanda as dinâmicas, para pessoas que se
sentavam junto com os alunos. Permitir que o aluno fosse sujeito do processo e não um
objeto fez total diferença.
“É através da análise da transversalidade que se torna possível o conhecimento
da segmentaridade do grupo e da sua autonomia, bem como de seus limites, condição
para um grupo se tornar grupo-sujeito, isto é, aquele que percebe a mediação
institucional.” (Silvia Lane, 2001.p.79)
Desta forma, buscamos destacar a importância da prática social na instituição
escolar, para a constituição de um sujeito autônomo; a escola deve promover o diálogo
entre aluno e sociedade, pois é importante o conhecimento biopsicossocial ser
trabalhado, para que o aluno obtenha a possibilidade de lidar com a sua realidade social.
O objetivo de trabalhar o ensino de habilidades de vida: tomada de decisão, resolução
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de problemas, pensamento criativo, pensamento crítico, comunicação eficaz,
relacionamento interpessoal, autoconhecimento, empatia, capacidade de lidar com as
emoções e com o stress. Foi exatamente para que fosse possível aplicar cada habilidade
no cotidiano do aluno, através dos temas, que tivemos a possibilidade de ir além, de nos
permitirmos conhecer e nos envolver com cada aluno, cada história de vida. Isso tornou
nosso trabalho gratificante.
“Podemos então verificar que toda análise que se fizer do indivíduo terá de se
remeter ao grupo a que ele pertence, á classe social, enfocando a relação dialética
homem-sociedade, atentando para os diversos momentos dessa relação.” (Silvia Lane,
2001.p.84). Cabe ao profissional de psicologia, se apropriar do olhar da Psicologia
Social Escolar e desenvolver espaços para que os grupos de alunos façam reflexões,
discutam problemas sociais, respeitando sempre a subjetividade individual e grupal. É
necessário ao psicólogo repensar suas atuações profissionais, através do olhar da prática
da Psicologia Social Escolar, procurar auxiliar o ser humano, o adolescente, para uma
consciência transformadora diante da sua realidade existencial.
“A sociedade atual vive dificuldades imensas com relação à violência, conflitos
interpessoais, gangues juvenis, fracasso dos planos educacionais, entre outros. Daí a
importância de estudos no campo das relações interpessoais, e das habilidades sociais.”
(Almir Del Prette e Zilda A.P.DelPrette, 2014).
Dentro da práxi na escola, não há a menor possibilidade de delimitar o encontro
com-os-outros. Por mais planejada que seja a intervenção é necessário também o acaso,
não que seja algo aleatório a práxi, mas também pelo que está por vir dentro do
fenômeno que se estabelece no diálogo. Permitir que o outro se expresse em sua
totalidade,possibilitar que o mesmo se manifeste de forma congruente com suas crenças,
com suas individualidades, com sua própria existência, isso é intrínseco do ser. Por mais
diversa que sejam as relações dialógicas o homem estabelece o Eu-Tu, ou seja, a
afirmação da existência do outro e a sua própria existência.
A palavra princípio EU-TU só pode ser proferida pelo ser na sua totalidade. A
união e a fusão em um ser total não pode ser realizada por mim e nem pode ser
efetivada sem mim. O EU se realiza na relação com o TU, é tornando-me EU que digo
TU. Toda vida atual é encontro. (Buber,Martin. 1974)
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A partir dessa citação, constata-se que só aconteceu um verdadeiro encontro. A
dialética entre estagiários e alunos, a partir dessa relação EU-TU, o EU se realiza nessa
relação com o TU, o ser humano só é alguém com o outro, sozinho não é nada. A
riqueza da experiência vivenciada neste estágio, não seria válida, se este diálogo não
tivesse acontecido por isso Buber afirma: Toda vida atual é encontro.
M ETODO LOG IA
A primeira supervisão do estágio obrigatório, na clínica escola do curso de
psicologia, sob a supervisão da professora Silvana Paula, aconteceu no dia 4 de
setembro de 2017. Neste primeiro encontro, conhecemos a metodologia adotada para
esse semestre. A professora nos deu as boas vindas, apresentou-nos cada texto que iria
ser trabalhado em nossos encontros e nos esclareceu os métodos de avaliação. Através
de uma dinâmica para que nos apresentássemos ao grupo falando sobre nossos defeitos
e qualidades, fomos orientados para também escrevermos no papel os nomes de três
pessoas com quem gostaríamos de trabalhar do grupo e o porquê e três pessoas com
quem não gostaríamos de trabalhar em grupo e o porquê. Em seguida entregamos o
papel à professora para sua avaliação. Esta dinâmica possibilitou um novo olhar da
nossa supervisora para que houvesse a formação dos grupos de intervenção.
O mapeamento institucional foi feito através da entrevista com a diretora e com
os coordenadores pedagógicos. A diretora da escola nos relatou os problemas mais
recorrentes que eram percebidos por ela: “problemas familiares”. Indagamos se ela
percebia alguma turma específica que necessitasse da nossa intervenção, ao que nos
respondeu as turmas do 7º e 8º anos, composta de alunos entre 12 e 14 anos. O motivo
seria a “dificuldade em lidar com figuras de autoridade, irreverência e desrespeito com
os mais velhos”. Ressaltou que esta idade é uma idade crucial de transição da infância
para a adolescência, e que por isso precisam de uma atenção especial.
Após o mapeamento institucional acerca das necessidades e pontos emergenciais
da escola, focamos nossa atuação no treino de habilidades de vida proposto pela
Organização Mundial da Saúde, o qual se configura como um processo de
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desenvolvimento de competências psicossociais consideradas essenciais para o
desenvolvimento humano, visando trabalhar o relacionamento interpessoal através do
ensino de habilidades de vida, considerado uma estratégia na redução de
comportamentos de risco para o aumento dos cuidados da saúde mental e física do
adolescente.
Nossa intervenção tinha um foco nos alunos dos 7ºs anos A e B, porém, fomos
surpreendidos com o pedido da coordenadora do Ensino Médio, bastante preocupada
com a situação do 3º ano. Relatou a desmotivação dos alunos, o baixo rendimento e nos
propôs a trabalhar com eles sobre motivação e orientação vocacional pelo fato das
avaliações a que eles teriam que ser submetidos no decorrer do ano. Abraçamos o
desafio e nos prontificamos a desenvolver um trabalho específico com estes alunos
adequando o nosso projeto de intervenção as particularidades desta faixa etária, para
isso, modificamos apenas a forma de abordá-los e a linguagem apropriada aos mesmos.
O projeto foi realizado em quinze encontros, em três meses, iniciando a primeira
intervenção no dia 5 de outubro e finalizando no dia 15 de dezembro de 2017. Cada
encontro, em cada uma das turmas tinha uma hora de duração. Serão relatadas as
intervenções realizadas até o dia 30 de novembro. Tendo em vista a entrega do relatório
final de estágio, no dia 1 de dezembro de 2017, as intervenções foram realizadas no mês
de dezembro como conclusão do projeto de intervenção. Por conta do comprometimento
desta equipe com a escola, foram realizadas de acordo com a proposta estabelecida no
projeto inicial.
Na abertura do projeto no dia 5 de outubro, com os alunos dos 7ºs anos A e B, a
proposta foi conhecer as duas turmas. Solicitamos a chave do auditório da escola e
organizamos a sala em um grande círculo que integrasse bem as duas turmas. Logo após
o intervalo, as turmas dos 7ºs anos A e B foram trazidas por suas respectivas
professoras. No início nos apresentamos e aplicamos a dinâmica de aquecimento
chamada “a caixa de bombons”. Como material utilizamos uma caixa de sapatos que
continha uma instrução: “abra a caixa” e uma caixa de bombons. O procedimento da
dinâmica foi este: colocamos uma música animada, o aluno decidiria se abriria a caixa
ou se passaria a vez, colocando a caixa para continuar passando de mão em mão. Um
dos estagiários estava cuidando do som de costas para não ver quem estaria com a caixa
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ao parar a música. Um pequeno suspense foi feito, com perguntas do tipo: Estão
preparados? Quem ficar com a caixa vai ter que executar a instrução, seja lá qual for a
ordem, vai ter que obedecer. Os alunos ficaram receosos e desconfiados, passando a
caixa rapidamente, relataram que estavam com medo, pois achavam que era um “mico”.
Iniciamos por três vezes a música e, na última vez, avisamos que seria para valer que
quem ficasse com a caixa ao parar o som, teria que a abrir. Uma aluna finalmente abriu
a caixa e viu que, dentro havia uma caixa de bombons. Todos ficaram surpresos: dentro
estava uma caixa de bombons! O objetivo da dinâmica foi refletir sobre os nossos
comportamentos em relação aos novos desafios, estimular os alunos a aceitarem o
desafio de estarem conosco em nossas reuniões. Abrimos a plenária para que os alunos
pudessem falar o que acharam da dinâmica, como se sentiram, alguns relataram que
estavam curiosos para saber o que havia dentro da caixa, mas infelizmente a música não
parou neles e a grande maioria relatou que não desejava abrir a caixa, pois não queriam
executar a instrução. E assim finalizamos a primeira dinâmica e iniciamos a segunda.
Na segunda dinâmica de apresentação, o procedimento foi este: pedimos que os alunos
formassem duplas, o 7º ano A com 7º ano B, de início ficaram resistentes, mas, fomos
estimulando-os e assim formaram-se as duplas. Solicitamos que cada um se
apresentasse para o outro falando: nome, idade, onde mora e o que gosta de fazer. Na
segunda etapa da dinâmica, pedimos que cada um apresentasse o colega em voz alta
para que todos se conhecessem. A dinâmica fluiu bem e atingimos o resultado de
conhecer a todos.
Na segunda intervenção nos encontramos com os alunos do 7º B, abrimos a
discussão sobre o que é a psicologia, falamos sobre sonhos e metas, elaboramos uma
atividade para conhecer melhor os alunos, onde cada aluno respondeu, em uma folha de
papel, às seguintes perguntas expostas no quadro: quem sou eu? O que acho da escola?
O que acho dos professores? Os alunos escreveram livremente e ao término da atividade
recolhemos as cartas para lermos em casa.
No terceiro encontro nossa intervenção foi com os alunos do 7º A, repetimos a
mesma atividade passada no 7º B, abrimos a discussão sobre o que é a psicologia,
falamos sobre sonhos e metas, elaboramos a mesma atividade para conhecer melhor os
alunos. Neste dia também ficamos observando os alunos do 7º A na aula do professor C.
de religião.
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Na nossa quarta intervenção, planejamos apresentar o novo estagiário B, às
turmas dos 7ºs anos. Ao chegarmos à escola fomos abordados pela coordenadora
pedagógica do ensino médio S., que solicitou nossa intervenção no 3 º ano. Logo após o
intervalo nos apresentamos à turma em sala de aula, cada estagiário falou um pouco de
si e de sua vida, em seguida, solicitamos que os alunos se apresentassem para nós e nos
falassem um pouco sobre eles e o que gostariam de fazer depois da conclusão do 3 º
ano. Todos falaram exceto três que não se sentiram à vontade. O encontro fluiu bem e
saímos de lá encantados.
No nosso quinto encontro planejamos apresentar nosso projeto. Nas primeiras
aulas fomos para os 7ºs anos primeiro para o A, depois para o B. O novo estagiário teve
seu primeiro contato com os alunos, nos apresentamos novamente e falamos sobre
nosso projeto de habilidades de vida, esclarecendo o conceito de habilidades e
competências. Os alunos estavam atentos e bastante receptivos, logo após apresentamos
uma foto de Bem Carson e perguntamos se algum deles o conhecia, todos responderam
que não, em seguida um dos estagiários apresentou a história de Bem Carson, uma
história de superação e fizemos o link com os conceitos de habilidade e competência.
Logo após, fomos para o 7° B e depois do intervalo para o 3° ano; repetimos a mesma
intervenção em cada turma.
No nosso sexto encontro apresentamos a primeira habilidade proposta em nosso
cronograma: autoconhecimento. No primeiro momento fomos para o 7° B, um dos
estagiários abordou sobre o conceito, explanando a auto-observação para as suas
habilidades, limites e respeito ao outro, em seguida aplicamos uma dinâmica chamada
“A caixa de sucatas”, com os alunos em círculo, apresentamos uma caixa com objetos
diversos. Em seguida, os alunos foram orientados a escolher um objeto com o qual se
identificassem. A maioria se apresentou e explicou por que escolheram o objeto. Alguns
que não se sentiram à vontade. Posteriormente, foi realizada uma discussão a respeito da
importância de reconhecer atitudes e características pessoais e de refletir sobre o
processo de autoconhecimento. Durante a dinâmica houve a discussão sobre bullyng e,
finalizamos falando sobre a importância de se colocar no lugar do outro. Em seguida,
fomos para o 7° A, nosso encontro foi em baixo de uma árvore próxima à quadra da
escola. Repetimos a mesma intervenção, a maioria participou, exceto alguns alunos que
apenas observaram. Também nos encontramos com o 3° ano que estava em aula vaga,
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nosso encontro foi em sala, em círculo, repetimos a mesma intervenção, a maioria
participou, alguns ficaram observando.
No nosso sétimo encontro, planejamos trabalhar o relacionamento interpessoal.
No primeiro momento fomos para o 7º B, apresentamos a habilidade de relacionamento
interpessoal, em seguida aplicamos a dinâmica chamada “o problema”: orientamos os
alunos para que cada um respondesse no papel entregue por uma das estagiárias, à
seguinte pergunta: “Qual a sua dificuldade em relação a esta turma?”, no segundo
momento pedimos para que cada aluno colocasse seu papel no centro do círculo,
misturamos os papéis e orientamos para que os alunos escolhessem um papel e
falassem, na 1º pessoa, sobre o problema exposto e dissesse qual solução daria,
colocando-se no lugar do outro. O objetivo desta dinâmica foi desenvolver a
compreensão do outro. No momento em que os alunos falaram a solução do problema
do colega, houve a possibilidade de se colocar no lugar do outro. Logo após o intervalo,
aplicamos a mesma intervenção no 7º A, a maioria dos alunos participou. Não foi
possível ir ao 3º ano devido à carga horária dos alunos.
No nosso oitavo encontro, planejamos apresentar a habilidade de empatia, a
dinâmica utilizada foi “compreendendo o outro”. Como material, utilizamos bolas de
sopro e orientamos para que os alunos projetassem a si mesmos na bola, seus sonhos,
suas características, falamos para que cada um protegesse sua bola e posteriormente
pedimos para que cada um ajudasse ao outro a equilibrar a bola. A dinâmica possibilitou
a reflexão dos alunos em relação a ser empático, respeitar o outro e compreender as
dificuldades de ser empático na sociedade em que vivemos hoje.
No nosso nono encontro apresentamos a habilidade de “lidar com os
sentimentos”. No primeiro momento, um dos estagiários expôs à temática apresentando
as emoções básicas: alegria, medo, tristeza, raiva e afeto. Em seguida, aplicamos a
dinâmica “atividade para lidar com os sentimentos”, os alunos responderam a um
questionário sobre emoções, todos responderam e discutimos cada resposta, destacamos
a importância de reconhecer as próprias emoções e as emoções do outro, de tomar
consciência do quanto elas influenciam o comportamento e como manejá-las
adequadamente. Aplicamos esta intervenção nos dois sétimos A e B todos participaram,
não foi possível ir ao 3º ano.
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No nosso décimo encontro apresentamos à habilidade de lidar com o estresse
para os 7ºs anos A e B. A dinâmica utilizada foi a “técnica de inter-relacionamento”,
indicada pela nossa supervisora. Nesta técnica apresentamos imagens com temas como:
esporte dança, música, artes marciais, comidas e cada aluno escolheu um tema com o
qual se identificou. Logo após, formamos grupos com cada tema, estimulamos que os
alunos discutissem o porquê de sua identificação com aquele tema e imagem,
possibilitando a interação de alunos que não costumavam conversar. Em seguida,
lançamos o desafio de que no próximo encontro, os alunos iriam confeccionar cartazes e
estariam livres para criar a forma de apresentação; orientamos que a melhor equipe iria
ser premiada.
Neste mesmo encontro, fomos para o 3º ano, onde aplicamos a dinâmica “o
problema” para que o grupo pudesse escrever as suas dificuldades pessoais, de
relacionamento na escola como um todo e depois esses problemas seriam trocados. Um
teria a oportunidade de se colocar no lugar do outro e dar sugestões para os seus
problemas, proporcionando assim um desabafo, uma exposição de problemas junto às
possibilidades de soluções, num debate e na comunicação grupal.
Nosso projeto de intervenção foi realizado no total de treze encontros, foi
possível trabalhar e lidar com inúmeros temas e questões diagnosticadas como carentes
de ajustes na instituição. No entanto, o tema focal do trabalho pôde ser explorado em
todos os encontros: o relacionamento interpessoal, as oficinas e dinâmicas sempre
culminavam no debate de como lidar com o outro, compreender o outro, conhecer-se e
assim conhecer o outro. A nossa intenção foi justamente a abertura e maior disposição
do grupo para a integração e compreensão do outro, através do ensino de habilidades de
vida.
DESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA VIVIDA
Em todos os encontros propusemos atividades diferentes, mas sempre com uma
reflexão que tinha como subsídio a técnica usada e o que era analisado no decorrer do
processo que se constituía. Toda a equipe participava de forma ativa analítica.
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Nós recebemos muitos elogios do corpo docente, principalmente com os
resultados que obtivemos no estágio, pois adentramos ao universo dos jovens para
entender o fenômeno que emergia dentro da relação. “Quer dizer apenas que não
devemos interrogar a consciência de fora, como se interrogam vestígios do fogo e do
acampamento, mas de dentro; deve-se buscar nela a significação. A consciência, se o
cogito deve ser possível é ela mesma o fato, a significação e o significado.” (Sartre,
2006, p51) entramos no universo dos meninos para melhor habilitá-los a uma
ressignifica-ação de suas relações.
Recebemos falas dos profissionais como, por exemplo, “Vocês estão de
parabéns, não é uma tarefa fácil deixar os alunos participativos, eles estão acostumados
com os estagiários do CESMAC, e vocês foram um dos grupos que mais conseguiram
desenvolver alguma atividade com eles”. Essa fala da professora demonstra uma clara
satisfação com o trabalho desenvolvido, pensando em uma práxi social; um
desenvolvimento dessas habilidades que pode potencializar algo mais promissor para
eles no futuro, uma quebra de resistência ao outro para potencializar o convívio
saudável. Em cada intervenção um aluno diferente que não participava se manifestava,
expressava-se e dialogava conosco, nos procurava nas extensões da escola.
Perguntavam sempre quando nós voltaríamos.
Em termos motivacionais que a coordenadora pedagógica nos pediu ajuda, os
alunos do 3º ano fizeram a prova Brasil super motivados, não houve evasão no dia da
prova e tudo correu bem. Sendo assim, de acordo com o nosso olhar na práxi social,
fomos potencializadores de potencialidades. A capacidade de se tornar algo para além
da própria realidade é inerente a eles, todos possuíam capacidade para isso, porém não
sabiam que possuíam, então fomos mais que incentivadores e técnicos quando se tratava
da mente, fomos humanos que acreditaram no outro, no poder de afirmação do outro,
mas, é claro, com técnicas científicas.
Também ouvimos o relato da aluna “mesmo que alguns colegas não queiram
participar, quero dizer para vocês que estes encontros estão me ajudando muito,
Obrigada.” Tendo como ponto de vista a práxi social entende-se que a reflexão da aluna
foi para além do próprio corpo, ou seja, ela se percebeu dentro das atividades e percebeu
os colegas e os facilitadores, o processo empático, a nossa luta para promoção de algo
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diferente e uma reflexão acerca do que estava acontecendo com ela e com o grupo no
qual ela está inserida.
Mangrulkar, Whitman e Posner (2001) afirmam que os métodos interativos são
mais efetivos, já que o desenvolvimento das habilidades está relacionado a uma
pedagogia ativa. Procuramos expor as habilidades de vida de forma didática, sempre
desenvolvendo dinâmicas e rodas de conversa.
Assim como foi supracitado, os conteúdos que foram passados foram bem
assimilados, infelizmente não pudemos atingir a todos, pois pode-se ter no curso uma
certa resistência dos membros envolvidos, não adianta termos a técnica se o outro não
deseja vivenciar a possibilidade.
Tendo como ponto de partida uma experiência no âmbito escolar sem retirar o
conteúdo magnum que é a práxi social dentro da escola, na elaboração de possibilidades
e de conteúdos que os alunos do 7º ano A e B e os alunos do 3º ano do ensino médio
necessitam elaborar. A práxi social no viés escolar tem um cunho transcendente, pois a
escola é uma das instituições sociais que os jovens passam mais tempo, acreditamos no
papel de agente trans-formar-dor que executamos no curso ontológico da vida dos
jovens, mas essa atuação não poderia ser efetuada com a precisão que obteve sem o
auxílio da equipe, estagiários de psicologia, alunos, corpo docente, funcionários da
escola, todos atuaram de forma direta ou indireta no processo de trans-forma-ação
dentro do processo de habilidades de vida como melhoria do relacionamento
interpessoal.
Dentro da atuação social no viés escolar foi necessário um contato direto com o
universo dos jovens, uma viagem ao universo e ao contexto de vida de cada um, em
outras palavras, foi necessária certa “Analítica Existencial” do processo no qual
adentramos, que só foi possível com o trabalho conjunto da equipe de três estagiários
altamente qualificados para a atuação, mas na práxi social, nos permitimos conhecer o
universo deles e percebemos que não foi só a técnica que deu resultado, mas sim o olhar
humano dentro da relação dialética, dialógica.
Em um dia de atuação, cuja atividade tinha como principal tópico, como lidar
com o estresse, um garoto relatou “Eu gosto de aliviar meu estresse dando pau nos
comédias.” Para ele dar “Pau” consiste em agredir torcedores de uma torcida
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organizada, sendo assim o estagiário saiu da posição que ocupava e foi de encontro a
ele, relatando que, o que o fazia relaxar frente às dificuldades que emergiam na vida era
a luta, então todos ficaram se perguntando: “lutar”? Perguntaram: “Bruno, se alguém
mexer com você o que você faz? Senta a porrada?” O estagiário disse que não, pois não
precisava agredir ninguém pois tem certeza da sua capacidade, o outro tenta agredir por
que duvidadas próprias capacidades; através da luta é possível se expressar e lidar
melhor com as pessoas, com as coisas e com as adversidades da vida.
Dentro da práxi da Psicologia Escolar-Social da qual não podemos nos
desprender nunca, dentro do viés da atuação dos estagiários, tivemos várias outras
conquistas como da Jovem B., uma menina que não sabia como lidar com o estresse e
era alvo de Bullying. Começou a reagir às ofensas de uma forma diferente, como por
exemplo, no dia em que uma colega de classe fala de religião com um dos estagiários:
as meninas são pertencentes do protestantismo e a B não, é de outra religião Cristã e as
meninas estranharam como ela tomou a atitude de revelar a crença. Ela ficou toda sem
graça por não ter aceitação das colegas de turma e o estagiário tomou rápida a situação e
verbalizou “Conheço, mas conheço pouco.” Por essa fala que foi para além da técnica,
não está no roteiro positivista da ciência na qual estamos inseridos, a aluna sorriu e saiu,
em outra oportunidade, a mesma menina sofreu uma agressão de bullying e foi pedir
ajuda na coordenação, no último dia de estágio, a aluna entrega uma Carta e uma Bíblia
da religião dela, e para a outra estagiária também entrega uma carta e um chaveiro como
forma de-monstrar-ação de gratidão e afeto aos estagiários.
Dentro de toda a teoria estudada e vista, encontramos uma gama de teorias
estudadas dentro do contexto, Karl Marx, Sartre, Heidegger, Carl Rogers, Nietzsche,
Reich, encontramos bastante teoria na escola, mas principalmente respostas para a vida,
uma multi-necessidade de transcendência da própria relação humana com o mundo.
Encontramos fragmentos teóricos diversos, mas toda a teoria com uma dinamicidade
abissal, cíclica e a conclusão é que o psicólogo deve atuar cada vez mais com o viés de
trans-formar-ação social dentro de qualquer contexto de atuação.
Para nós estagiários foi um aprendizado imenso, pois não há teoria sem prática e
não há prática sem teoria, foi uma experiência incrível e um aprendizado sem igual, pois
atuamos com pessoas que nunca tínhamos atuado, de uma forma que nunca
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imaginamos, tivemos o privilégio de conhecer pessoas maravilhosas e de sermos gratos
eternamente.
Dentro do estágio, tivemos uma aluna que já tinha recorrido aos estagiários
várias vezes com queixa de Bullying. Em uma intervenção, a menina sofreu bullyng
mais uma vez e, nesse dia, na frente dos estagiários. Então, um dos estagiários percebeu
que a menina queria chorar e perguntou se a mesma gostaria de sair da sala. O estagiário
acompanhou a mesma e conseguiu estabelecer um diálogo com ela, que saiu do
contexto técnico da práxi Ele foi tão humano que se tornou terapêutico, quando fez uma
demonstração e disse: “Vamos supor que em minhas mãos eu tenha um presente. Se eu
te der esse presente e você não quiser, ele vai ser seu ou vai continuar a ser meu?”, a
menina responde, “Seu”; o estagiário fala: “é isso que acontece, quando alguém a
ofende, você não é obrigada a aceitar “esse presente”, o outro lhe dá isso, porque isso
pertence a ele, é isso que ele tem a lhe dar”. A menina nesse momento foi acolhida e
conseguiu voltar para a sala. Na outra semana, a menina sofreu o mesmo bullyng, mas
pela primeira vez, reagiu às ofensas, procurou a coordenadora da escola e, no final do
estágio, a jovem falou para o estagiário, “Obrigada por tudo, agora eu sei que as pessoas
podem gostar de mim do jeito que eu sou.”
Eu não experiencio o homem a quem digo TU. Eu entro em relação com ele no
santuário da palavra-princípio. Somente quando saio daí posso experienciá-lo
novamente. A experiência é distanciamento do Tu. (Buber, Martin 1974)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que o embasamento teórico e a relação estabelecida junto às técnicas
utilizadas foram cruciais para o sucesso do processo, a instituição que nos abriu as
portas é um modelo de escola para o mundo, pois a gestão funciona, o corpo docente é
comprometido e há um envolvimento profissional com os entes que ali estão como
alunos Nós percebemos que a atuação do psicólogo na escola Brasileira não pode ser
desvencilhada do cunho social, pois ali, a existência clama por uma intervenção urgente.
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O trabalho feito por nós, estagiários, só obteve êxito, porque conseguimos
potencializar-potencialidades, dentro de cada um dos envolvidos com o movimento,
podendo assim sermos agentes transformar-dores na trajetória da existência de cada um
dos indivíduos que estavam inseridos.
Por mais difícil que tenha sido o estágio, a dor de perceber a realidade dos
estudantes da rede pública brasileira, conhecer a realidade da escola e saber que as
principais problemáticas que os alunos possuem são extra-escolares, pois não há
possibilidade concreta de perceber o ente, se não compreender o meio social, a
totalidade do social que o envolve, as influências externas à realidade escolar. Sendo
assim, a prática foi eficiente, pois possibilitou um processo de des-alienação do próprio
percurso de vida, assim possibilitando autenticidade nas relações fenomenológicas
existenciais que foram que estão sendo, e que vêm a ser.
A equipe foi movida a ampliar seus conhecimentos sobre o ser humano, a
suspender seus pré-conceitos e conhecer o fenômeno ali desvelado. Empenhamo-nos a
ir a fundo, para reduzir o fenômeno à sua essência; percebemos a importância crucial da
Psicologia Social no contexto escolar, através do olhar fenomenológico existencial das
relações; provocamos reflexões; buscamos criar condições para novas formas de ver o
mundo circundante dar sentido à existência que se manifesta.
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REFERÊNCIAS
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BUBER, Martin. Eu e Tu. 8º Ed. 1974.
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Escolar/Educacional in: Weschler, S.M. (org.) Psicologia Escolar: Pesquisa,
FormaçãoePrática; Campinas, Ed. Alínea; 1996
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http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n3/v11n3a11http://www.scielo.mec.pt/pdf/psd/v3n2/v3n2a09.pdf
RESUMOINTRODUÇÃOREFERENCIAL TEÓRICOMETODOLOGIADESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA VIVIDACONSIDERAÇÕES FINAISREFERÊNCIAS
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