CCCeeeccciiitttaaa
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Angela Sánchez
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No bairro onde eu cresci -agora tenho dez años- havia um
circo que não chamava a atenção das pessoas e nem das
crianças.
Se passou quase um ano até que o dono do circo, vendo que
ninguém ia assistir o espetáculo, decidiu vendé-lo. Assim quando o
novo dono abriu as portas, eu já tinha quase oito años, e dessa vez
me interessei em saber como era a vida no circo.
Nas semanas anteriores à primeira função, começaram a
passar os carros fazendo publicidade e assim as pessoas ficaram
sabendo quando seria a função, todos estavam convidados para ir.
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A publicidade era feita, além de pelos alto-falantes, com
papeizinhos coloridos cheios de fotos dos artistas, e diziam mais o
menos assim, “Grandes e pequenos, feios e formosos entrem no
circo dos curiosos”
Então me deu curiosidade e entusiasmo por conhecer, e
decidi, uma tarde em que não tinha aulas, visitar o circo por
primeira vez. Me recebeu um senhor, que acho era o chefe ou
alguma coisa assim, quem me levou a recorrer as casas rolantes
onde viviam os artistas e ali me contaram sobre suas vidas.
O que mais gostei foi da familia dos palhaços. Eram o pai e
seus dois filhos que desde pequenos praticavam os pulos, voltas e
quedas, que mais tarde realizavam na rotina do picadeiro. E
especialmente as pancadas. Na realidade os socos não são de
verdade porque o palhaço que bate não chega nunca a tocar no
rosto do outro palhaço e o barulho que escutamos é o que faz o
segundo palhaço batendo forte com suas proprias mãos.
Um dos irmãos chamado Martim me confessou que fazia
muito tempo escribia todas suas
lembranças no circo, e para que eu
soubesse mais, me emprestou um
caderno cheio de histórias e fotos
suas para eu ler.
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Outro irmão, Ramiro, também me emprestou um livro enorme
onde se contava a história da origem dos palhacos, os diferentes
trajes que eles costumam usar e então fiquei sabendo que existem
dois tipos de palhacos, o Toni que é aquele que conta piadas e o
Mimo que é o mais sapeca e inquieto porém mudo, este é o que
tem o nariz vermelho. E que também há mulheres palhaços.
Eu, como sou tão curiosa, passei uma semana lendo, e
quando voltei para devolver o caderno e o livro, já sabia tudo sobre
a vida dos palhaços. Então a família me fez um monte de
perguntas e me convidou a participar do espetáculo inicial para
atuar junto a eles. Para isso me emprestaram um traje que era
mais ou menos assim, uma calça verde, enorme, uma camisa
branca, um colete da misma cor que a calça mas, de quase um
metro e meio de largura que ficava sobrando dos lados, um par de
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sapatos brancos com pintinhas vermelhas, que eu quase não podia
caminhar, um chapéu verde e um apito que pendurei do pescoço.
Foi o que mais gostei de usar. Também me pintaram o rosto
de vermelho e branco e colocaram um nariz de plástico negro.
Tive que aprender umas palavras para poder atuar com Calito,
Caleta, Carita e Careta, e meu nome foi Cecita porque me chamo
Cecília. Então cada vez que Calito dizia com voz muito alta “O que
Cecita anda fazendoooo?” eu respondia “Pintaaandooo
boooquinhas” e corria detrás deles todos, com um batom gigante,
tentando pintar-lhes a boca, enquanto eles fugiam. Nesse momento
os palhaços faziam tanto escándalo que as pessoas morriam de rir
e batiam palmas.
Desde aquele dia adoro circo e cada vez que posso, e
aparece um novo na cidade, peço para minha mãe para levar-me.
Também é muito importante ler histórias de circo ou qualquer livro
que conte as maravilhas da vida circense porque, se a gente não
puder visitá-lo pelo menos vai sabendo como são e o que fazem.
E agora vou deixar vocês porque eu, como o Martín, tambem
estou escrevendo o meu caderno de lembranças.
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