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CECILIA TLUMASKI PRIMA
FÁBULAS, UMA RELEITURA: DE ESOPO A MONTEIRO LOBATO
Trabalho apresentado como requisito de avaliação referente ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO. Orientador: Prof. Ms. Giuliano Hartmann.
IRATI 2012
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UMA RELEITURA DAS FÁBULAS - DE ESOPO A MONTEIRO LOBATO
Cecília Tlumaski Prima1
Prof. Ms. Giuliano Hartmann2
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar estratégias de trabalho quanto às
práticas de leitura e interpretação de fábulas. Para atender às necessidades dos
alunos foram planejadas algumas atividades com os procedimentos metodológicos
que envolvem recursos midiáticos, livros e textos impressos. Esta pesquisa teve o
público-alvo a 5a Série do Ensino Fundamental no Colégio Estadual Imaculada
Conceição, Município de Prudentópolis, Paraná. As reflexões e discussões
ocorreram a partir de fábulas selecionadas previamente, trabalhos individuais, em
grupo e dramatização. A fábula resiste há séculos porque a sua flexibilidade permite
incorporar novos repertórios narrativos e ajustar-se às manifestações do mundo em
diferentes épocas. Por meio da leitura de variadas versões da fábula, buscou-se
enfatizar a reflexão que ela permite despertar no educando sobre seus próprios
comportamentos, sentimentos e possibilita ao mesmo tempo o exercício do senso
crítico. Também foram realizadas discussões no grupo de estudos (GTR) com
professores da Rede Estadual do Paraná.
Palavras-Chave: Leitura; fábulas; aprendizagem.
ABSTRACT
The present article purposes to show some strategies to work about the reading pratices and interpretation of tale. To understand the needs of the students was planned some octivities with the methodological process about the midiatic objects, books and texts. This search was made with the fifth year to elementary school – Imaculada Conceição – in Prudentópolis – PR. The discussions was about the select tales, individual works in dramatization group. The tale resists because its flexibility is consonant to different times. The tale reading rises in the student the reflexion about behavior, fellings and possibility in the some time the critical sense exercise. Was performed discussions in the (GTR) with the Paraná state teachers. Key Words: Reading, tales.
1Pós Graduada em Língua e Literatura Ucraniana, Graduada em Letras pela UNICENTRO, Professora de Língua
Portuguesa e Ucraniana no Colégio Estadual Imaculada Conceição, Aluna do PDE/2010. 2 Professor Mestre em Literatura Brasileira e Doutorando em Literatura pela Universidade Estadual de Maringá
- UEM, docente do Departamento de Letras da UNICENTRO/I. Orientador PDE/2010.
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1 INTRODUÇÃO:
Este trabalho é resultado do Programa de Desenvolvimento Educacional –
PDE, promovido pelo Governo do Estado do Paraná, que objetiva a formação
continuada dos professores da Educação Básica e estabelece um diálogo com
professores do Ensino Superior por meio de atividades teórico-práticas orientadas,
Seminários, Produção Didático-Pedagógica, Projeto de Implementação do trabalho
na escola, discussão com professores no GTR (Grupo de Estudo em Rede), tendo
como resultado a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na prática
escolar da escola pública paranaense.
Esta pesquisa teve como objetivo geral promover atividades pedagógicas
utilizando algumas estratégias de leitura que proporcionassem a reflexão das
contribuições encontradas nas fábulas clássicas e modernas propiciando aos alunos
informações para despertar o interesse e melhor compreensão na leitura desse
gênero literário. Dessa forma foram discutidas várias fábulas dos autores clássicos e
modernos enfatizando as diferenças entre Esopo século VI a.C e Monteiro Lobato
século XX.
O desenvolvimento dos trabalhos pautou-se na elaboração de um projeto
envolvendo uma proposta de trabalho entre literatura, ensino, a confecção de
material didático e sua implementação na escola. Assim, este artigo atende a fase
final da proposta que é divulgar os resultados encontrados e servir de estímulo a
novas pesquisas que possam contribuir no incentivo à leitura.
Para a elaboração do projeto de pesquisa e implementação, buscou-se
embasamento nas Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a Educação
Básica do Estado do Paraná (2008) e na teoria de alguns autores, tais como:
Cosson (2007), Solé (1998), Dezotti (2003) Zilberman (2003), Ceccantini & Lajolo
(2009) e outros. A partir do embasamento teórico foi elaborada Unidade Didática
relacionada à prática da leitura e interpretação de fábulas utilizando recursos e
estratégias que despertassem nos discentes o interesse pelo hábito da leitura e a
compreensão dos significados que emanam dos textos fabulísticos.
Os resultados alcançados foram satisfatórios em função do apoio da equipe
técnico-administrativa do estabelecimento de ensino e pela colaboração e
participação dos alunos. Este poderá ser um caminho importante para que a
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proposta deste projeto continue nos anos subsequentes, pois contribuiu para
provocar no aluno-leitor a reflexão e consequentemente a crítica e contextualização
de sua aprendizagem.
A literatura é um instrumento valioso na formação de leitores, e para isso
cabe justificar que o contato com ela deve se iniciar com o intuito de despertar nos
aprendizes o gosto e o desejo para adentrarem no universo da leitura.
Neste viés, um dos caminhos pertinentes escolhidos para o universo da
leitura é o estímulo para a leitura a partir de fábulas selecionadas. No que se refere
à leitura de fábulas, é pertinente enfatizar que fábulas revelam o universo imaginário
no qual os animais ocupam o espaço e atitudes de seres humanos. Assim permitem
ao leitor uma reflexão acerca de seus próprios comportamentos e sentimentos,
possibilitando para ele o exercício do senso crítico.
Na prática diária, nas aulas de Língua Portuguesa notou-se que a maioria dos
alunos não compreende os textos que são lidos e apresenta dificuldades de
interpretação. Nesse sentido, considerando a importância da leitura no ensino-
aprendizagem realizou-se um estudo a respeito das fábulas para motivar os alunos a
perceberem novos saberes a partir do universo da leitura, tais como: a reflexão, o
questionamento, o posicionamento sobre determinado tema do contexto social,
político, econômico e, principalmente a compreender as maneiras pelas quais a
leitura modifica sua relação com o mundo e com os outros.
Ao realizar a leitura das fábulas, o professor proporciona ao aluno, a análise
crítica do conteúdo do texto e seus valores a serem explorados. Durante as
atividades contemplou-se também a forma composicional desse gênero que foi
analisada pelos alunos no intuito de compreenderem algumas especificidades e
similaridades das relações sociais numa dada esfera comunicativa. Para essa
análise, foi preciso considerar o interlocutor do texto, a situação de produção, a
finalidade, o gênero ao qual pertence, entre outros aspectos.
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2. A LITERATURA NA ESCOLA: OPORTUNIDADE DE CONSTRUÇÃO DE
SENTIDOS PARA O UNIVERSO CIRCUNDANTE
Livro não é gênero de primeira necessidade... É sobremesa: tem que ser posto embaixo do nariz do freguês para provocar-lhe a gulodice
3.
Compreendemos que na literatura estão inseridos os saberes sobre o homem
e o mundo. É nela que encontramos o senso de nós mesmos e da comunidade a
que pertencemos, pois ela além de dar forma aos sentimentos e ampliar a visão do
mundo, também nos humaniza.
Podemos perceber que a literatura tem o poder de resignificar a
personalidade, porque na medida em que o leitor deixa-se seduzir pela literatura,
passa a adentrar em um novo universo, o qual o leva ao horizonte da sensibilidade,
da emoção, da recriação.
Atualmente deparamo-nos com certa insegurança quando tratamos dos
assuntos que circundam a literatura. Alguns estudiosos da contemporaneidade
dizem que a educação literária não tem lugar na escola atual porque estímulos
visuais estão cada vez mais anestesiados pela televisão, pelo computador, lugares
nos quais a imagem está em constante movimento e atrai com maior facilidade as
crianças, adolescentes, jovens e mesmo os adultos.
Mas sabemos que a literatura tem o poder de se transformar em todas as
formas discursivas. Ela ainda possui vários artifícios e guarda em si o presente, o
passado e o futuro da palavra. Além de ensinar a ler e a escrever a literatura
contribui na formação cultural das pessoas. Sendo assim, segundo Cosson:
Na escola, a leitura literária tem a função de nos ajudar a ler melhor, não apenas porque possibilita a criação do habito de leitura ou porque seja prazerosa, mas sim, e, sobretudo, porque nos fornece como nenhum outro tipo de leitura faz os instrumentos necessários para conhecer e articular com proficiência o mundo feito linguagem (COSSON, 2007, p.30).
A partir da década de 70, surge a literatura “Realista para crianças” com o
objetivo discutir temas que no passado eram considerados impróprios (morte,
divórcio, sexo e problemas sociais). E em função disso admite-se que este tipo de
3 LAJOLO, Marisa; CECCANTINI, João Luis. Monteiro Lobato, Livro a Livro. São Paulo: Editora
UNESP, 2009.
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literatura é feita por encomenda e que não combina com o universo da criança, que
na contramão de tal perspectiva, é visto como cheio de magia. A conscientização da
realidade pode ser feita de uma maneira mais agradável.
A literatura que era produzida nos anos 1970 apresentava políticas
centralizadas no poder e na luta pela democracia. Atualmente, “[...] referências
políticas, sociais, culturais ganham multiplicidade e voltam-se à afirmação da
diferença e do lugar do outro” (CADEMARTORI, 2009, p.53).
Ler implica troca de sentidos não só entre o escritor e o leitor, mas também
com a sociedade na qual ambos estão localizados, pois os sentidos são resultados
de compartilhamentos de visões do mundo entre os homens no tempo e no espaço.
De acordo com as orientações das Diretrizes Curriculares (2008), a leitura é
vista como um ato dialógico, interlocutivo. O leitor, nesse contexto, tem um papel
ativo no processo da leitura, e para se efetivar como leitor ativo procura pistas
formais, formula e reformula hipóteses, aceita ou rejeita conclusões, usa estratégias
baseadas no seu conhecimento linguístico, nas suas experiências e na sua vivência
sociocultural. Nessa perspectivam cabe ao professor dar condições para que o aluno
atribua sentido a sua leitura, visando a um sujeito crítico e atuante nas práticas de
letramento da sociedade.
Conforme apontam as Diretrizes Curriculares (2008), somente uma leitura
aprofundada, em que o aluno é capaz de enxergar os implícitos, permite que ele
depreenda as reais intenções que cada texto traz. Entenda-se que a leitura é o
resultado das convenções que uma comunidade estabelece para a comunicação
entre seus membros e fora dela com objetivo de transformar a convivência humana.
O leitor nesse processo dialógico consegue emitir novos significados ao texto,
comparando-o com seu conhecimento, com a sua experiência de vida. De acordo
com a afirmação de Cosson,
As práticas de sala de aula precisam contemplar o processo de letramento literário e não apenas a mera leitura de obras. A literatura é uma prática e um discurso, cujo funcionamento deve ser compreendido criticamente pelo aluno. Cabe ao professor fortalecer essa disposição crítica, levando seus alunos a ultrapassar o simples consumo de textos literários (COSSON, 2007, p.47).
A partir dessa reflexão é importante que o professor realize atividades que
favoreçam a reflexão e a discussão, tendo em vista o gênero a ser lido: do conteúdo
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temático, da finalidade, dos possíveis interlocutores, das vozes presentes no
discurso e o papel social que elas representam, das ideologias presentes no texto,
da fonte, dos argumentos elaborados, da intertextualidade.
Segundo Cosson, “o leitor, portanto é aquele que agencia com os textos os
sentidos do mundo, compreendendo que a leitura é um concerto de muitas vozes e
nunca um monólogo” (2007, p.27). Compreende-se que a leitura pode direcionar o
olhar do aprendiz para as mais diversas interpretações e este será capaz de
estabelecer relações entre a escola e o meio social. A prática da leitura também
auxilia na construção de subjetividades, refletindo sobre o texto, o sujeito vai
interiorizando ideias e refletindo sobre elas, criando e recriando conceitos,
ampliando seus horizontes através de um saber transformador.
De posse da compreensão do texto é que o aluno poderá interpretá-lo, é o
momento no qual se realiza um julgamento acerca do que foi lido. Nessa
perspectiva, reitera Menegassi (2005) que em todo o processo envolvido durante a
leitura do texto, o professor faz o papel de mediador e a partir da observação que o
aluno faz, passa a produzir seu processo de leitura até alcançar um nível de
competência que o caracteriza como leitor ativo. Repensar a leitura como uma
prática social, é antes de tudo, abrir caminhos diferentes para reflexões em torno da
relação do homem com o mundo, é a realidade transfigurada pelo imaginário do
autor e que, por meio da palavra transpõe para o mundo literário os saberes da
humanidade representados na ficção. Porém:
O Brasil não é um país de leitores, situação determinada por fatores de natureza social, econômica, política, histórica, cultural. No entanto, existe hoje especial sensibilidade para esse assunto, traduzidas em inúmeras iniciativas, públicas e privadas, para promover a leitura. Não podemos esquecer, porém, que muitos professores não tiveram as condições necessárias para se desenvolverem devidamente como leitores e, às vezes, pensam ser deficiência pessoal o que na verdade, provém de âmbito muito mais amplo, como a divida social do país com o seu povo (CADEMARTORI, 2009, p.25).
É evidente que os leitores precisam compreender a importância da leitura
para aprender algo, para conhecer o pensamento alheio ou até para se divertir. Para
tanto é necessário que estejam motivados a buscar informações significativas para
acompanhar as mudanças que estão acontecendo no seu contexto.
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Nesta tarefa de motivação o papel do professor é fundamental, pois cabe a
ele preparar o aluno para receber o texto de maneira autônoma para que possa
exercer uma influência sobre as expectativas do discente. A motivação tanto pode
ajudar o aluno a estabelecer laços com o texto como ampliar o entendimento e a
interpretação. Uma leitura motivada conduz o aluno à aprendizagem porque ele
deixa de exercer mecanicamente esta atividade e seu interesse contribui para o
desenvolvimento adequado quanto ao ato de ler.
Por isso, uma metodologia de ensino consequente deve explicitar, para o
processo de leitura, os mecanismos pelos quais a ideologia torna evidente o que não
é, e que, ao contrário, resulta de espessos processos de produção de sentido
historicamente determinados, ideologicamente construídos. A transparência dos
sentidos que brotam de um texto é aparente, e tanto quem ensina quanto quem
aprende ler deve procurar conhecer os mecanismos que estão presentes nesse
processo de interação e conhecimento.
Seguindo então, a linha da perspectiva discursiva surgem relações de caráter
ideológico, possibilitando ao leitor produzir sentidos e fazer parte da história desse
processo. Também o leitor poderá aprimorar, modificar e reelaborar sua visão de
mundo e ter voz na sociedade. Portanto, a leitura se efetiva no ato da recepção,
configurando o caráter individual que ela possui, “[...] depende de fatores linguísticos
e não linguísticos: o texto é uma potencialidade significativa, mas necessita da
mobilização do universo de conhecimento do outro – o leitor – para ser atualizado”
(PERFEITO, 2005, p.54-55).
Nesse sentido, quando se trata de fazer interpretações de fábulas, é
necessário conhecer a ligação do texto com outras culturas, momentos literários em
que foram escritas, ou seja, sem ter uma visão global a interpretação pode ficar
comprometida. Sempre haverá diferenças de um povo e outro quanto ao modo de
estruturar o texto ou quanto aos temas e figuras escolhidos. Entretanto essas
diferenças são determinadas por fatores culturais. O jeito de funcionamento das
fábulas é que permite que sejam vistas como representantes de uma mesma prática
discursiva.
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3. A FÁBULA: CARACTERÍSTICAS E RETROSPECTIVA HISTÓRICA
O mundo da Fábula não é realmente nenhum mundo de mentira, pois o que existe na imaginação das crianças é tão real quanto às paginas de um livro.
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O intuito deste projeto é o enfoque de leitura de fábulas, e, por intento,
geralmente as fábulas trazem à luz a reflexão por meio de ensinamentos de cunho
moral. Para tanto, se faz necessário discutir alguns aspectos no que se referem ao
gênero fábulas. Alguns conceitos5:
-La Fontaine (séc. XVII) - "A fábula é uma pequena narrativa que, sob o véu da
ficção, guarda uma moralidade";
-Fedro (séc. I d.C.) - "A fábula tem dupla finalidade entreter e aconselhar";
-Theon (séc. I d.C.) - "Fábula é um discurso mentiroso que retrata uma verdade".
Além desses conceitos afirma-se em síntese que a fábula é um ato de fala
que se realiza por meio de uma narrativa. Conforme Dezotti (2003, p.22), “na fábula,
o narrar está a serviço dos mais variados atos de fala: mostrar, censurar,
recomendar, aconselhar, exortar, etc.” Razão desse gênero simples e popular que
resiste há séculos. Pois é a flexibilidade dele que permite incorporar novos
repertórios de narrativas e ajustar-se às manifestações de mundo que acontecem
em diferentes épocas.
A fábula passou por três períodos, o primeiro é aquele em que a moralidade
constitui a parte fundamental, o das fábulas orientais, que passaram da Índia para a
China, o Tibet, a Pérsia, e terminaram na Grécia com o Esopo (620-560 a. C.). O
segundo período da fábula se inicia com inovações formais de Fedro (10 a.C.a 69
d.C.). Escritas em versos, as histórias de Fedro são sátiras amargas, bem ao sabor
do gosto latino, contra os costumes e pessoas de seu tempo. O terceiro período
inclui todos os fabulistas modernos, entre os quais Jean de La Fontaine (1621-
1695) é considerado o mestre.
Geralmente nas fábulas os personagens são animais que pensam, sentem e
agem, ou criaturas imaginárias que representam traços do caráter humano. É por
4 LAJOLO, Marisa; CECCANTINI, João Luis. Monteiro Lobato, Livro a Livro. São Paulo: Editora
UNESP, 2009. 5 Disponível em: http://cantinhodasfabulas.vilabol.uol.com.br/acessado em 28/03/2012 as 09h07min.
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isso que se deve buscar a reflexão para as atitudes dos seres humanos analisando
as fábulas para compreender melhor tudo que acontece no mundo circundante,
orientando as pessoas com as lições necessárias para uma convivência mais
consoante com os valores expressos pela sociedade.
No cenário das fábulas de Esopo, 620 a.C. os animais repetiam os padrões
de comportamento humano. No século XVII as fábulas de Jean de La Fontaine
mostravam a agressividade e a ignorância humana representava pelos animais. Já
Monteiro Lobato além de divertir, transmitir uma lição, um ensinamento fala da
natureza humana, da sabedoria, da liberdade, e das injustiças de um jeito
descomplicado e profundo.
Segundo Francia: “Como esquecer o encantador e universal mundo das
fábulas para generalizar ideias, fazer crítica social, propiciar valores, educar
desfrutando...”? (1998, p.05). Notamos que a fábula há muito tempo vem trazendo
“mensagens” para seus leitores, e que, de outro lado, os escritores promovem a
reescrita, abrindo caminho para novas possibilidades e múltiplos significados.
Podemos dizer que a literatura representa os animais como seres vivos, e não
símbolos abstratos de qualidades humanas. A antiga fábula dava traços humanos
aos bichos, no hoje, ao contrário, os animais podem ajudar o leitor a descobrir sua
humanidade:
E se através do gênero das fábulas, os animais foram utilizados para mentalizar e criar nos seres humanos, e para provocar a revisão de atitudes de comportamento social, a realidade dos animais – a riqueza da sua vida, relações e atitudes – de alguma maneira, os faz mestres de relações humanas e comportamentos para as pessoas (FRANCIA, 1998, p.09).
A fábula comporta duas partes: a narrativa e a moralidade. A primeira trabalha
as imagens que compõem a forma sensível, o corpo dinâmico e figurativo da ação. A
outra trabalha com conceitos gerais que pretendem ser a verdade falando aos
homens. No entanto a preferência moderna dá maior enfoque à narrativa. A
moralidade fica nas entrelinhas de maneira oculta. Antigamente a parte filosófica era
mais importante, porém o que diferencia a fábula de outros textos narrativos é a
moral.
Esopo usava a moral para iniciar ou concluir suas fábulas, Lobato costuma
registrar a moralidade quando é imprescindível, abandona quando considera
desnecessária ou incorpora ao texto narrativo e ainda insere nas explicações que
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seguem a cada fábula. A coletânea de Lobato composta de setenta e quatro fábulas
apresenta quarenta e três com a moralidade em destaque após o texto, dezenove
delas incorporam-na no último parágrafo, seis nos comentários em seguida e outras
seis não mencionam nenhuma moralidade, incumbindo ao leitor uma possível
identificação. Por exemplo, “O Rato e a Rã” colocou as crianças do Sítio do Pica-pau
(1920) em dúvida se realmente este texto era uma fábula o que levou a Dona Benta
contar outra fábula a do “lobo e o Cordeiro”.
Pode-se afirmar que as fábulas guardam saberes que vieram da tradição oral
e que as mesmas ocupam muitas vezes, o imaginário de nossas crianças, pelo
motivo de serem contadas e recontadas em casa como também na escola. Assim,
“[...] o leitor entra nesse jogo, pondo de lado a sua realidade momentânea, e passa a
viver, imaginativamente, todas as vicissitudes das personagens da ficção. Aceita o
mundo criado como um mundo possível para si” (BORDINI; AGUIAR, 1993, p.14). É
preciso muitas vezes motivar os alunos para que possam desfrutar dessa leitura
imaginária e descobrir a importância da mesma na sua vida. Portanto, “ler é imergir
num universo imaginário, gratuito, mas organizado, carregado de pistas as quais o
leitor vai assumir o compromisso de seguir, se quiser levar sua leitura, isto é, seu
jogo literário a termo” (BORDINI; AGUIAR, 1993, p.27).
Neste trabalho foram discutidas as fábulas do Esopo, e segundo Dezotti
(2003) o fabulista grego, nasceu na Trácia, região da Ásia Menor, no século VI A.C.
Ele apresentava grandes dificuldades, era rejeitado pela sua aparência. Era
corcunda, sua cabeça era deformada, a pele era diferente do povo local e
apresentava problemas na fala. Porém nada afetou a sua sensibilidade e inteligência
para que por meio de suas fábulas compreendesse as fraquezas e virtudes da
humanidade. Diz-se que ele foi comprado e vendido várias vezes e justamente as
suas viagens trouxeram-lhe conhecimentos e sabedoria, além disso, uma profunda
reflexão acerca do comportamento da humanidade.
Para Aveleza (2003), Esopo em suas narrativas alegóricas demonstrou que
foi um grande conhecedor da psique humana exemplificando-as com várias virtudes
e defeitos; a coragem e a covardia, a bondade e a malicia, o apreço e o desprezo, o
orgulho e a humildade, a perseverança e o fracasso. Além dos preceitos a serem
seguidas as fábulas simbolizam o elogio das virtudes e a censura dos vícios,
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inclusive com uma preocupação ética que vai além de uma simples observação dos
acontecimentos cotidianos.
As fábulas de Esopo segundo Aveleza (2003) são reconhecidas no mundo da
literatura porque as mesmas se revestem sobre vários aspectos como os de
natureza psicológica, filosófica, mitológica, sociológica e etiológica. E ainda
apresentam uma linguagem simples ligada ao cotidiano, predomínio de animais
como personagens, textos bem humorados e curtos, organizam-se em dois
parágrafos: a narrativa e o epimítio, uso abusivo de gerúndios e particípios,
preocupação com a estrutura sintática e frases iniciadas pelas conjunções, e/mas.
Ele divulgava oralmente suas fábulas com o objetivo de criticar e explicar algumas
situações da época em que vivia.
Também analisou-se as fábulas de Monteiro Lobato, sendo ele considerado:
[...] escritor revolucionário, razão pela qual se tornou conhecido como pai da literatura infantil brasileira. Por seu temperamento extremamente prático, o escritor e editor, acompanhando as mudanças da sociedade da época, buscou por meio da literatura lançar as bases para um novo país, o que só poderia ser alcançado pela reflexão e pelo questionamento, elementos fundamentais para combater o estilo conservador que predominava no ensino e nas produções literárias (CARDOSO, 2008, p.289).
As fábulas de Lobato apresentam as seguintes características: animais como
personagens, textos curtos, ações com princípios: moral, político e ético emprego de
expressões populares, gírias, metáforas, neologismos, predomínio do diálogo,
diminutivos e onomatopeias com intenção de agradar o leitor infantil.
Quem narra as fábulas é Dona Benta que representa a voz da tradição,
personagem adulto que concorda com a imaginação criadora das crianças, a Tia
Nastácia aparece com a sabedoria popular e mostra-se favorável em aceitar a moral
das fábulas, mas é o adulto sem cultura, que vê no desconhecido o mal. Já o
Pedrinho e a Narizinho são crianças curiosas e dispostas a aprender, querem ser
felizes e confrontam suas ideias com o que os mais velhos dizem, mas sempre
acreditam no futuro. Já a boneca Emília contesta a lição de moral das fábulas.
Notamos que as fábulas do Monteiro Lobato diferenciam-se dos fabulistas
antigos em virtude de que os leitores apenas ouviam e com os enredos lidos por
Dona Benta, abre-se a discussão entre seus ouvintes. É no início de 1920 que
Monteiro Lobato recria as fábulas antigas, principalmente de Esopo e de La
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Fontaine. Substitui os animais exóticos por aqueles que fazem parte da fauna
brasileira e a sua preocupação especial é com o leitor criança, pois até esta época
não havia uma literatura específica para o público infantil e sim para a comunidade
em geral. Um dos recursos de Lobato usa para cativar as crianças é o humor e a
leitura torna-se mais prazerosa. Dona Benta procura passar valores que são
fundamentais para a formação dos seres humanos, ensina aos integrantes do sítio a
não serem receptores passivos, mas ao contrário a serem críticos, que avaliam e
escolhem o melhor para suas vidas.
A leitura das fábulas por Dona Benta trouxe crescimento em maturidade para
seus discípulos e estes ampliaram seus horizontes. Nessa perspectiva, uma
orientação do professor com esclarecimentos necessários em torno desse texto
literário possibilitará que os alunos leitores das fábulas nas nossas escolas
construam novos significados, tenham uma visão mais aprofundada do texto em
questão e possam vivenciar a função humanizadora da literatura.
3.1 O trabalho com Fábulas: leitura, prática e intervenção pedagógica na
escola
Fazer bons livros para crianças é das coisas mais sérias, nas quais é preciso não só trabalhar com inteligência e coração, mas com uma elevada argúcia e cuidado
6.
Trabalhar com fábulas que é um gênero literário muito antigo presente em
quase todas as culturas humanas e períodos históricos pode suscitar discussões
positivas a respeito de alguns princípios da convivência humana e ideias válidas
para o redimensionamento do mundo contemporâneo.
De acordo com as Diretrizes Curriculares (2008), praticar a leitura em
diferentes contextos requer por parte do leitor, que se compreendam as esferas
discursivas em que os textos são produzidos e circulam, bem como se reconheçam
as intenções e os interlocutores do discurso.
Ao realizar a leitura das fábulas, o professor propiciará ao aluno, a análise
crítica do conteúdo do texto e seu valor ideológico. A forma composicional desse
6 LAJOLO, Marisa; CECCANTINI, João Luis. Monteiro Lobato, Livro a Livro. São Paulo: Editora
UNESP, 2009.
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gênero será analisada pelos alunos no intuito de compreender algumas
especificidades e similaridades das relações sociais numa dada esfera
comunicativa. Para essa análise, é preciso considerar o interlocutor do texto, a
situação de produção, a finalidade, o gênero ao qual pertence, entre outros aspectos
como intertextualidade e a linguagem empregada.
A realização deste trabalho baseou-se no método recepcional onde o ponto
de vista do leitor constitui o maior imperativo. De acordo com Bordini e Aguiar este
método acontece quando,
A atitude receptiva se inicia com uma aproximação entre texto e leitor, em que toda historicidade de ambos vem a tona. As possibilidades de diálogo com a obra dependem, então, do grau de identificação ou de distanciamento do leitor em relação a ela, no que tange às convenções sociais e culturais a que está vinculado e à consciência que delas possui (BORDINI; AGUIAR, 1993, p.81).
Assim, no decorrer das estratégias de ação, as influências dos alunos sobre a
leitura, serão o ponto de partida e de chegada. Na aplicação destas atividades foram
selecionados alguns recursos midiáticos para apresentar as fábulas de uma forma
mais atrativa e lúdica usando TV pendrive, cd, DVD, a pesquisa no laboratório de
informática, para em sequência realizar a leitura dos livros e textos impressos.
Os alunos foram avaliados pela participação e envolvimento nas atividades
em sala de aula. Como instrumentos avaliativos constaram trabalhos, atividades
individuais ou em grupo, além de exposições orais e discussões. Após todas as
atividades realizadas elas foram organizadas em um portfólio cujas especificidades
avaliadas levaram em conta as diferenças de cada aluno.
Ao todo foram ministradas 08 aulas organizadas de forma que houvesse
sequência nas atividades e as mesmas pudessem criar subsídios para que os
alunos adquirissem autonomia necessária na análise reflexiva dos textos lidos.
Durante a aplicação do projeto de intervenção pedagógica as atividades
propostas exploraram as especificidades próprias do gênero fábulas, observaram-se
os elementos que se repetiam quanto a estrutura; narrador, personagens, temas,
espaço, tempo, linguagem e moral. Por meio da leitura de autores e épocas
diferentes os alunos foram despertados para dar o seu ponto de vista a respeito do
texto e contextualizá-lo. No início foi possível perceber que a maioria dos alunos
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apresentou dificuldades no reconhecimento dos temas. Tal constatação auxiliou no
direcionamento do trabalho, uma vez que apontou para a necessidade de dar mais
atenção a este tópico a fim de que compreendessem o tema e pudessem emitir suas
opiniões de acordo com a leitura crítica de cada fábula.
As atividades foram iniciadas com a apresentação de slides com imagens de
animais, fazendo-se algumas perguntas oralmente para verificar quais histórias os
alunos lembravam e se percebiam algumas características semelhantes aos seres
humanos. Na sequência foi apresentado o vídeo: “A águia e seu voo para a Vitória” 7
sendo feita anteriormente uma pré-leitura da história com o objetivo de promover
uma reflexão menos superficial do texto animado. Os alunos mostraram-se
participativos, contribuindo ativamente nas discussões. Após o vídeo explorou-se a
mensagem desta história, bem como as imagens nela contidas. Os recursos não
verbais contribuíram muito para a compreensão do texto. Explicou-se que a águia é
uma ave simbólica utilizada em várias culturas.
O próximo passo foi levar os alunos até o laboratório de informática para que
entrassem em contato com fábulas diversas e estabelecessem uma relação mais
aprofundada com esse gênero textual. Após a orientação do professor os alunos
começaram a leitura observando as ilustrações estáticas e animadas, antigas e
novas e deram opiniões sobre a forma que lhes agradou. Também se discutiu
acerca dos valores contidos nas fábulas e mudanças que aconteceram no decorrer
dos tempos. Para esta aula de leitura, foram levados alguns livros disponíveis na
biblioteca da escola. Foi possível pedir para que os alunos diferenciassem as
épocas em que os autores escreveram as fábulas. Alguns livros utilizados foram: A
tradição da fábula (2003); Fábulas completas (2004) Interpretando algumas fábulas
de Esopo (2003), Fábulas (2008). Comentou-se que os escritores por meio das
fábulas tratam de diversos ensinamentos correspondendo à sociedade de sua
época, mas que podem levar-nos a questionamentos nos dias de hoje.
Como o objetivo era despertar nos alunos o interesse pela leitura, os mesmos
foram organizados em grupos e receberam livros de autores diferentes iniciando a
leitura. O grupo escolheu um texto e efetuou a leitura. Após a leitura perguntou-se
aos alunos sobre o autor, a temática, as personagens, ilustrações e se os conflitos
estão relacionados ao nosso cotidiano.
7 Video retirado de: http://www.youtube.com/watch?v=qFPNwUh6Rmk&feature=related
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O próximo passo foi entregar a cada aluno uma cópia de fábula colada em
faixas de cartolina para que fizessem uma leitura silenciosa. Haviam cópias
repetidas. Jogralizou-se o texto com os colegas que estavam com fábulas iguais,
assumindo os papéis das personagens e narrador. Exploraram-se os aspectos
linguísticos; as marcas temporais (há muito tempo, um dia, certa vez) que indicam
ensinamentos morais presentes em qualquer época. As personificações
características humanas atribuídas aos animais, plantas. Verbos no passado,
emprego de travessões e verbos declarativos; (perguntar, dizer, declarar, contar,
suplicar). De posse da compreensão do texto é que os alunos puderam interpretá-lo,
foi o momento que eles realizaram o julgamento acerca do que foi lido.
Quando se trata de fazer interpretações de fábulas, é necessário conhecer a
ligação do texto com outras culturas, momentos literários em que foram escritas
porque sem ter uma visão global a interpretação pode ficar comprometida. Sempre
haverá diferenças de um povo e outro quanto ao modo de estruturar o texto ou
quanto aos temas e figuras escolhidos. Entretanto essas diferenças são
determinadas por fatores culturais. O funcionamento delas é que permite que sejam
vistas como representantes de uma mesma prática discursiva. A estratégia seguinte
foi a leitura interpretativa da fábula: “A Lebre e a Tartaruga” (Esopo).
Explicando esta fábula de uma maneira alegórica podemos notar duas
características inseparáveis da psique humana que são a preguiça e a diligência.
Analisando pelo lado psicológico temos a presunçosa lebre que se julga invencível
pela sua adversária tartaruga e isso simboliza a desatenção de algumas pessoas
que por serem dotadas pelos dons naturais, chegam a anular tal superioridade por
excesso de autoconfiança.
Quanto a tartaruga que soube superar a sua inferioridade em relação a lebre,
dedicando-se de maneira consciente e esforçada a difícil competição que se
propusera, representa aqueles que se esforçam e são perseverantes nas suas
atividades e assim vencem suas possíveis insuficiências.
Os alunos perceberam essas características e o resultado foi bastante
positivo. Trabalhou-se também a fábula “A Raposa e as Uvas” na perspectiva de
Monteiro Lobato (2008). A raposa é conhecida como personagem esperta, além
disso, são atribuídas outras características: desonestidade, ganância, trapaceira.
Nas histórias que lemos a raposa nunca sofre mal algum e não se dá por vencida.
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Para ser tão astuto é imprescindível ser inteligente e às vezes esta é usada para
práticas do bem ou mal. Conforme a fábula atribui-se ao comportamento humano o
menosprezo por aquilo que ele almejou muito, mas não conseguiu alcançar. E, tal
comportamento pode confundir-se com sentimento de inveja, quando talentos,
qualidades, virtudes e outros bens estão em jogo. As pessoas ao serem
reconhecidas pelos seus talentos, inteligência, deixam os outros na ignorância e
fazem comentários sobre os defeitos, vícios dos mesmos.
Na discussão realizada no final da fábula feita pela Narizinho fica evidente
que se trata de inveja quando ela fala que passou perto da venda com seu
vestidinho novo de pintas cor de rosa e a filha do Elias Turco fez um “muxoxo” e
disse que não gostava de chita cor de rosa. No entanto uma semana depois foi
encontrada com um vestidinho igual ao de Narizinho.
Os alunos compreenderam o porquê de a raposa dizer que as uvas estavam
verdes e deram uma outra possível moral para a fábula.
O término das atividades foi marcado pela produção de uma releitura das
fábulas “A Raposa e as Uvas” e “A Lebre e a Tartaruga”, tais produções foram
organizadas em um livro que posteriormente foi exposto para que os demais alunos
pudessem observar as produções.
Após esse trabalho confirma-se que a leitura tem o poder de compilar as
experiências do educando e ao mesmo tempo permite que ele estabeleça relações
significativas. De acordo com as etapas da Proposta de Implementação pode-se
observar que diferentes caminhos estratégicos foram eficazes para o
desenvolvimento pedagógico, pois foi possível perceber os avanços na leitura
assimilação e compreensão dos temas explorados e maior interesse dos alunos por
empréstimo de livros de leitura.
Também participaram das discussões sobre o projeto e produção do material
didático-pedagógico, professores da Rede Estadual de Ensino por meio do Grupo de
Trabalho em Rede – GTR. Estes professores contribuíram interagindo com colegas
do grupo apresentaram suas experiências com a leitura de fábulas e também
sugeriram algumas atividades complementares que podem ser desenvolvidas nas
aulas. Ficou ressaltado que o material apresenta sugestões práticas e facilita o
trabalho com os alunos porque são atividades que estimulam o raciocínio e a
capacidade de interpretação dos educandos. Segundo os professores é necessário
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uma mudança metodológica e um melhor aproveitamento desse gênero nas escolas.
Portanto nessa tarefa o professor é o elemento fundamental do processo porque irá
estimular o aluno a esta prática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
[...] A prática de leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão, pelas diferentes práticas de leitura, pode ficar sabendo quais são suas obrigações e também pode defender os seus direitos, além de ficar aberto as conquistas de outros direitos necessários para uma sociedade justa, democrática e feliz
8 (SILVA, 2005, p.24).
Para o encaminhamento da prática da leitura, é importante que o professor
realize atividades que favoreçam a reflexão e discussão, tendo em vista o gênero a
ser lido: do conteúdo temático, da finalidade, dos possíveis interlocutores, das vozes
presentes no discurso e o papel social que elas representam, das ideologias
presentes no texto, da fonte, dos argumentos elaborados, da intertextualidade.
O trabalho com fábulas, que compuseram o objeto de estudo da intervenção
pedagógica anteriormente relatada, pode viabilizar o desenvolvimento da reflexão e
do senso crítico, um dos objetivos principais do trabalho com a leitura.
Utilizando as fábulas de Esopo e Monteiro Lobato, os alunos puderam
perceber as características do texto fabulístico e refletir sobre o comportamento e a
natureza humana explorada nesse gênero textual. Além disso, puderam produzir
textos a partir da releitura subjetiva das fábulas: “A Lebre e a Tartaruga” e a “Raposa
e as Uvas”, foi uma experiência significativa no sentido da conscientização sobre a
importância da leitura e do desenvolvimento do gosto e interesse por essa prática.
Os alunos demonstraram no decorrer das estratégias desenvolvidas, que
estavam mobilizados para o conhecimento que a fábula oportuniza a partir do
contato com o seu conteúdo ideológico.
De uma maneira contextualizada, os alunos foram capazes de organizar seus
conhecimentos, compartilhar experiências e socializar suas produções tendo sempre
como foco de interesse a leitura reflexiva enquanto instrumento de superação do
senso comum.
8 SILVA, Ezequiel Theodoro. Elementos de pedagogia da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
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Conclui-se, portanto, que a leitura das fábulas trouxe crescimento aos alunos,
possibilitando aos mesmos a construção de novos significados e um entendimento
que os motivou a perceber e vivenciar a função humanizadora da literatura.
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