Cartografias do Sofrimento e da Saúde Mental na América Latina
Um século da ‘Questão Social’
Workshop Internacional, Londres, 5-6 de Outubro, 2018
As condições de desigualdade, instabilidade e
vulnerabilidade têm configurado de maneira
particular a vida cotidiana nos países latino-
americanos. Neste contexto, o sofrimento e o mal-
estar tem adquirido uma importância cada vez
mais significativa para os indivíduos. O campo da
“saúde mental” parece haver se tornado, desta
forma, o foco político de novas inquietudes e
demandas. A ampla difusão de categorias
diagnósticas tais como “depressão”, “stress”,
“ansiedade” e “adição”, assim como técnicas
médico-terapêuticas, têm sido utilizadas como
recursos conceptuais, morais e políticos para a
análise e intervenção na realidade social.
No princípio do século XX, a América Latina se confrontou com a emergência do que se denominou “a
questão social”. A expressão, importada de países Europeus e norte-americanos em estado avançado
de capitalismo industrial, tinha por objetivo resumir um conjunto de inquietudes frente a diversos
problemas gerados na vida social por processos de modernização e urbanização. A “questão social”
designava condições de miséria e superpopulação nos centros urbanos, precarização da qualidade de
vida dos trabalhadores, surgimentos de epidemias, insalubridade e alta mortalidade infantil. O termo
buscava descrever uma “crise moral” compreendida naquele momento como o resultado da
decadência de certos princípios éticos. Neste contexto, a questão social teve como resposta a
intervenção dos Estados através de um conjunto de políticas sociais, assim como, a formação de
organizações destinadas a defender os interesses de um crescente movimento popular.
Um século depois, o debate acadêmico e político na América Latina recuperou o termo referindo-se à
emergência de uma “nova questão social”. Apesar das diferentes abordagens a esta problemática
durante os séculos XX e XXI, o debate contemporâneo têm insistido em um descompasso entre os
avanços económico-tecnológicos e as condições de vulnerabilidade social a que se vem expostos
alguns grupos. A nova questão social pode ser compreendida a partir do surgimento de novas dinâmicas
de organização dos mercados de trabalho e segurança social, das transformações na estratificação de
classes, da implementação de novos modelos de desenvolvimento econômico, assim como de
processos acelerados de transição demográfica e epidemiológica. Desta forma, o debate em torno da
nova questão social conduziu a uma redefinição das fronteiras entre o social e a saúde coletiva.
© María Faciolince 2016 – Historias del asfalto (Medellín)
O PLASMA Workshop #2 terá por objetivo cartografar este campo de tensões e analisar as fronteiras entre o
sofrimento social e a saúde mental de uma perspectiva histórica, sociocultural e política. A discussão em torno
das distintas realidades latino-americanas contribuirá para o desenvolvimento de uma abordagem integrada
dos desafios contemporâneos e dos desenvolvimentos das políticas no campo da saúde mental na América
Latina. Este convite dá continuidade ao trabalho realizado no Workshop #1 “Mapeando Novas Vozes: Por uma
perspectiva Latino-Americana em Saúde Mental Global” realizado em Paris em 2017. Na ocasião levantou-se
uma discussão crítica sobre o lugar e o papel da América Latina e das ciências sociais no desenvolvimento
atual da Saúde Mental Global. Nesta próxima ocasião, propomos um novo conjunto de perguntas a serem
debatidas:
• Quais são as bases históricas e socioculturais do mal-estar e do sofrimento na América Latina? Que
continuidades e descontinuidades podem ser observadas entre as problemáticas enfrentadas no princípio
do século XX? Que formas assume hoje o mal-estar e o sofrimento na América Latina?
• De que modo as linguagens e instrumentos da psiquiatria e da saúde mental redefinem o imaginário da
“questão social” contemporânea? De que maneira a psiquiatria e a saúde mental estão redirecionando a
implementação de respostas sociais e políticas sobre vulnerabilidades, pobreza e sofrimento?
• Que desafios pressupõe a emergência da denominada “nova questão social” para as instituições de
saúde coletiva, para as organizações de usuários dos serviços de saúde mental, para a academia e para
os diversos atores públicos e privados?
Eixos Temáticos
(1) Aproximações históricas e epistemológicas em torno do sofrimento e da saúde mental na América
Latina
(2) Desigualdade, instabilidade, vulnerabilidade e saúde mental na América Latina
(3) Métodos de investigação social sobre sofrimento e saúde mental na América Latina
(4) Instituições públicas e privadas, políticas sociais e saúde mental na América Latina
O conhecimento e as práticas médicas, “psi” e
“neuro”, transformaram o vocabulário das políticas
públicas, redefinindo as perguntas em torno dos
efeitos subjetivos da pobreza, da desigualdade e
da vulnerabilidade social. Assim, a região se
enfrenta a um duplo desafio: (1) pensar as novas
dinâmicas sociais em termos de trajetórias, recursos
e capacidade de ação dos indivíduos e, (2) pensar
o campo de intervenção e implementação de
políticas e programas de saúde mental em
referência a populações e contextos territoriais e
institucionais heterogéneos. © María Faciolince 2016
Data: 5 e 6 de outubro de 2018 | Local: London School of Hygiene and Tropical Medicine, Londres, Inglaterra.
Inscrições: Este evento é gratuito e aberto ao público.
Apresentação de Propostas: As contribuições de estudantes de pós-graduação e jovens pesquisadores são
especialmente bem-vindas. Aqueles que desejem enviar um resumo ou expressar interesse em contribuir
devem escrever um e-mail para [email protected]. Os resumos devem ser escritos em inglês e ter uma
extensão entre 400 e 600 palavras. Os resumos devem conter um título breve e preciso do trabalho, uma
introdução do estudo, os métodos utilizados, uma discussão dos resultados encontrados e as principais
conclusões. Ainda, os resumos devem conter o nome dos autores, seus vínculos institucionais e seu grau
acadêmico. Os resumos serão analisados pelos membros do comité científico e avaliados com base em
critérios de qualidade e pertinência. O prazo máximo para envio de resumos é 30 de abril de 2018.
Entrega da avaliação dos resumos: 10 de junho de 2018
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Keynote Speakers: Francisco Ortega (Universidade do Estado do Rio de Janeiro); Angela García (Stanford
University); David Orr (University of Sussex).
Participação especial: Nikolas Rose (King’s College London)
Comissão organizadora: Gabriel Abarca (King’s College London), Sofía Bowen (King’s College London), Elaine
Flores (London School of Hygiene and Tropical Medicine), Álvaro Jiménez (Millennium Institute for Research in
Depression and Personality, Chile), Cristián Montenegro (London School of Economics and Political Science),
Claudio Maino (Université Paris Descartes), Felipe Szabzon (École des Hautes Études en Sciences Sociales,
Paris), Norha Vera (King’s College London).
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