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Universidade da Amaznia
Carrilhes
de Murilo Arajo
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Carrilhes de Murilo Arajo Sobre a primeira edio:
Lido pela pela primeira vez em pblico, quando o autor contava com vinte anos, Carrilhes um livro de adolescncia.
Esse fato explica suas hesitaes. E explica igualmente suas audcias. Arvorava ele inicialmente, quando surgiu a lume, esta
NOTA INDISPENSVEL Em certas poesias, vai impressa em tipo maior uma ou outra frase, fortemente enftica. Ao contrrio, as palavras escritas em tipo menor devem ser lidas brandamente, como num esmorzando.
que eu sentia, ento, como agora, ao contrrio de muitos poetas que vieram a constituir comigo depois as alas do modernismo, que a pontuao era insuficiente para dar todas as inflexes exigidas pela expresso potica.
Serviam de introduo ao livro estas palavras: Meus versos formam simplesmente uma srie de emoes ritmadas e assim
devem ter ao menos um interesse psicolgico. Meus versos obtero poucos acolhimentos de estmulo ou justia, tendo eu
vivido (alis por fora das circunstncias e no por qualquer vaidade) longe dos meios literrios que geram muitas reputaes.
Meus versos se exprimem algumas vezes por formas ainda no usadas, formas intermdias entre a antiga estrofao e a mtrica nova, livres s vezes aparentemente ou livres complementares, ou formando sries com as tnicas deslocadas simetricamente, linha a linha. So tentativas nascidas no da extravagncia, mas da insatisfao que nos causam sempre as formas de exprimir.
Meus versos no tm freqentemente bastante clareza; que a conciso excessiva uma tendncia geral que hoje pesa sobre quase todos os temperamentos: na poesia, futuristas ou saudosistas, um Verhaeren, um Nervo ou um Whitman, so como Debussy na msica, Bergson no ensaio ou Rodin na escultura, a vitria da idia esboada sobre a idia desenhada.
Meus versos, dolorosos que sejam, no nasceram nunca de pieguismos artificiais, mas tm uma origem profundamente humana: o sofrimento. E orgulho-me apenas de ter sofrido, porque a adversidade um ttulo de educao espiritual um ttulo que me honra muito.
A crtica nova mais autorizada coroou, todavia, de modo extremamente generoso, as tentativas do estreante.
A crtica rotineira daqueles tempos de tirania mtrica, ao contrrio, fez grandes restries s discutidas "extravagncias do poeta"...
E no eram extravagncias. Eram as trepidaes de um 14 bis, de um primeiro aviozinho aventureiro, aflito por arrancar-se da plancie rasa, to rasa e to ch. Carrilhes Sinos de Bronze
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Agonia Inrcia
Heri Morto Aos outros Invocao
Elegia Viso
Escravido Palpitando Carnaval
Impossveis Baladilha Pobreza Espuma
Luminosa Hospital Idade
Confisso Coroas Mastros
Sinos de Cristal
Dois anjos A de outrora Aspirao
Sereia Na praia A queixa Sonetilha
Exlio Madrugada
Ingenuamente Esperana
Infncia Romance Pastorinha
Treno Piedade Mariucha Infinitude
Vespertina Sinos de Ouro
Adorao Perfeita
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Essa... Ternura
Espelhos Ninfias Esttica
Despertar Romanesca
Jasmins Epitalmio
Bailado Iluso
Domingo Primitivo Bonana Idealismo
Final Carrilhes
Sou o tristonho sineiro que moureja fiel s vozes do alm, surdo s vozes do cho sou o Quasmodo novo e pobre, em minha igreja
Nossa Senhora da Imaginao.
Invisvel igreja! Igreja da Lei Nova! Templo de naves de ouro e prticos de luar! Amo o teu campanrio espiritual que trova...
(Amem todos o incenso... outros o altar!)
Amo o teu harmonioso campanrio
Imaginrio e inatingvel a vibrar
estas rimas e sons que, solitrio, escuto, limpas, limpo no ar
a gorjear.
Amem outros o altar, amem outros ou incenso, sejam mestres rabis ou deuses da orao...
Serei na torre s.
Sinos! Tudo o que penso Ecoai longe do p,
musicai na amplido!
Rolando ecos no mundo oh, versos ide zoando interpretando a alta e sonora inspirao.
Vozes de ouro e de bronze e de cristal, vozeando eu s posso cantar no vosso carrilho!
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... e s posso chorar no vosso carrilho.
...E s posso chorar... no vosso carrilho... Sinos de Bronze
Sinos de Bronze! o vosso timbre escuto dobrando em luto
dobrando e soluando quando tange.
A angstia negra o corao me morde: O vosso acorde
a Morte vem zo-lo como um alfanje?
Eu vos escuto como um choro fundo, quando aprofundo
o nada... a vida e o ser se me confrange.
Sinos de bronze! a vossa voz to longa, na noite se prolonga
como um gemido ao longe... E plange, plange! Agonia
Os cilcios das dores os cilcios eis a norma de bronze do meu culto!
Venham angstias, venham sacrifcios! Venham profundos males em tumulto!
Venha o choque moral, profundo, herico,
que faz um gnio at de um triste paranico!
Venha esta gua lustral que o nico batismo: a gua vem da lgrima, a salvar do Abismo!
Venha a luta essa luta em que me esforo!
Venha a luta que gera a esperana e o esforo!
Venha um maior pesar, que faa achar mais doce a Morte a rir, que me olha afiando a foice!
Venham profundos males em tumulto, venham angstias, venham sacrifcios! Eis a norma de bronze do meu culto:
os cilcios das dores os cilcios! Inrcia
A cidade! A cidade em seus rumores! E a civilizao turbilhoando!
e a vida em febre forte delirando
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com furores, clamores e estertores!
E h lutadores ao sol marchando! ao sol marchando!
Por que s eu no luto ou no comando? por que sou preso s mgoas interiores
com Saudade e Esperana meus amores e com desiluses me acorrentando?!
E h vencedores,
h vencedores ao sol cantando!...
Heri morto
Ora afinal que vale a vida?... o mundo? Quando, com riso desdenhoso e largo, combateste e venceste, o riso, ao fundo
era talvez... era decerto amargo!
Forte! Agora sorri no teu letargo final, com um riso plcido e profundo
melhor que o riso desdenhoso e largo! Pois afinal que vale a vida?... o mundo?
To nobre, no sofreste entre mesquinhos?
No tinha abrolhos numa grande parte das palmas que colheste nos caminhos?
As rosas do triunfo na tua arte
s agora so limpas dos espinhos para forrar-te o sono e coroar-te!
Aos outros
Sabeis o que ser sombra oh, vs que sois o dia? Sabeis o que sofri, que sofro e sofrerei?
No! Para vs, o sol para vs a alegria! Correi ao bom jardim da esperana.. e colhei!
Colhei risos e mel. Tambm eu sorriria
se soubesse sorrir, pois nem sorrir mais sei...
E agonio de sonho, e sonho de agonia! Mas por que para que, se era triste, sonhei?
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Invocao
Lua elevada, lmpida... trmula e taciturna, s lua, a gara olmpica, pssaro da iluso!
Lua, s polida e difana... Placa espelhar noturna, serves de espelho mgico para a Saudade! no?
Lua de paina alvssima paina a florir soturna,
que arminhos teus levssimos hoje me afagaro?
Lua de sonho e mrmore! Branca e inefvel urna, Derrama-me o teu blsamo! Traze-me a solido!
Elegia
Penso na bruma almalm... No colo da neve de uma neve eternamente fria
sonharia em silncio... e a alvorada do polo no meu sonho de paz esplenderia.
E por que temeria o cu plmbeo de morte?
E por que temeria o gelo em penedia?
No: j sofri sereno outro frio mais forte: certa voz... certo olhar e certo adeus, um dia...
Penso na bruma alm alm, no colo
da neve de uma neve eternamente fria... Oh o inverno sem fim dos defuntos, num solo
onde a cal como neve choveria! Viso
Tenho noite a viso de que as estrelas de ouro
vo descendo ao meu sonho e vm danando em coro.
Sinto-as numa nevrose... numa fascinao... numa alucinao!
Louras, lcidas, longas, lindas, leves, lentas quer agonie ou goze
eu as sinto nevoentas, lnguidas e luarentas,
uma por uma dando o plido claro!
Uma diz: "Chamo-me Apoteose!" Outra diz: "Chamo-me Afeio" Outra , levssima, a Confiana,
outra a Lembrana, outra a Ambio...
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E assim tenho a viso de que as estrelas de ouro vm, danando, ao meu sonho e vo descendo em coro.
Mas choro de aflio...
pois falta a estrela que procuro em choro, falta a que foi na terra um vulto louro,
falta a que est no cu, e acha desdouro descer e iluminar-me o corao!...
Escravido
Comparada ao alm, a Terra um calabouo. Ah! Quando morre algum, esse dobre eu ouo
no d o sinal para um forado se livrar?
Morrer... morrer no de crcere mudar?!
Oh carcereira Vida, haver ainda trguas? ... No sem fim, cada mundo (alguns milhes de lguas...)
para o Pensamento a priso... celular!
Deus s livre e pode em liberdade voar! Palpitando
No rodas rudemente e mecanicamente, no rodas rude, rija e mecanicamente,
mola viva do ser a bater, a bater?!
Corao, no te pude encordoar de esperana! Corao, poderei te encordoar de esperana?
Tua corda j cansa a bater, a bater!
Carnaval
Noite. Noite infernal: Uiva na rua a
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