Universidade de So Paulo Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
Caracterizao tecnolgica da madeira de Corymbia maculata,
Eucalyptus cloeziana e E. resinifera para a aplicao no design de Produtos de Maior Valor Agregado (PMVA)
Marta Karina Leite
Tese apresentada para obteno do ttulo de Doutora em Cincias, Programa: Recursos Florestais. Opo em: Tecnologia de Produtos Florestais
Piracicaba 2014
2
Marta Karina Leite Desenhista Industrial
Caracterizao tecnolgica da madeira de Corymbia maculata, Eucalyptus cloeziana e E. resinifera para a aplicao no design de Produtos de Maior
Valor Agregado (PMVA)
verso revisada de acordo com a resoluo CoPGr 6018 de 2011
Orientador: Prof. Dr. MARIO TOMAZELLO FILHO
Tese apresentada para obteno do ttulo de Doutora em Cincias, Programa: Recursos Florestais. Opo em: Tecnologia de Produtos Florestais
Piracicaba 2014
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao DIVISO DE BIBLIOTECA - DIBD/ESALQ/USP
Leite, Marta Karina Caracterizao tecnolgica da madeira de Corymbia maculata, Eucalyptus
cloeziana e E. resinifera para a aplicao no design de Produtos de Maior Valor Agregado (PMVA) / Marta Karina Leite.- - verso revisada de acordo com a resoluo CoPGr 6018 de 2011.- - Piracicaba, 2014.
135 p: il.
Tese (Doutorado) - - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2014.
1. Caracterizao tecnolgica 2. PMVA 3. Corymbia maculata 4. Eucalyptus cloeziana 5. Eucalyptus resinifera I. Ttulo
CDD 674.8 L533c
Permitida a cpia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte -O autor
3
Dedico
Em especial minha me, Agda, que sempre
acreditou que eu terminaria mais esta importante
etapa, com carinho ao meu pai, Josimar, e meus
irmos, Rafaela, Ktia e Jnior, que sempre
compreenderam minha distncia.
E, com grande afeto, ao meu grande
companheiro, Ugo Leandro, que me apoiou e
incentivou neste percurso.
4
5
AGRADECIMENTOS
De maneira especial agradeo, primeiramente, Deus que iluminou meu
caminho tornando-o sempre possvel, transformando as dificuldades em importantes
competies contra o tempo.
minha famlia que, com imenso afeto, sempre me apoiou, neste e em tantos
outros desafios, me orientando continuamente honestidade e integridade.
Ao meu querido orientador, Mario Tomazello Filho, que foi alm da
orientao, sendo tambm um amigo, aberto s conversas e boas sugestes.
Aos tcnicos de laboratrio - Maria Aparecida R. Bermudez, Aparecido
Candido Siqueira, Luis Eduardo Facco, Alex Canale, Udemilson Lus Ceribelli,
Sidney Antonio Theodoro (Sid) e Jefferson Lordello Polizel -, aos tcnicos da serraria
Giuliano de Pdua e Silva (Juquinha), Emilio Villa Nova Neto, Anderson Jose de
Almeida (Branco), Luiz Ado Renosto (Palhinha) -, s secretrias Giovana Maria de
Oliveira e Margarete Aparecida Zandon Pinese, equipe da Fazenda Experimental
de Anhembi Engenheiro Joo Carlos Teixeira Mendes, aos tcnicos Carlos
Eduardo Costa Maria, Antonio Carlos Pedrozo, Jos Valdir Furtado da Silva e Sidney
Felix de Souza entre tantos outros, que foram to importantes no andamento deste
trabalho.
Aos professores, que direta ou indiretamente me auxiliaram nesta importante
etapa, Jos Luis Penetra Cerveira Lousada da UTAD/Portugal com anlise e
entendimento estatstico, Adriano Wagner Ballarin da UNESP/Botucatu e Marcio
Augusto Rabelo Nahuz do IPT-SP, com importantes colaboraes fornecidas
durante o exame de qualificao, Jos Carlos Plcido da Silva e Luis Carlos
Paschoarelli, ambos da UNESP/Bauru, pelo incentivo pesquisa, Gilles Chaix do
CIRAD/Frana, Ivaldo Pontes Jankowski, Jos Nivaldo Garcia e Geraldo Bortoletto
Jnior, todos da USP/ESALQ, por proporcionarem conhecimento e auxlio tcnico e
Holmer Savastano Junior da USP/FZEA pelo interesse e colaborao final.
empresa de pisos IndusParquet, bem como sua equipe de funcionrios, em
especial ao Sr. Roberto, Sr. Simo e ao jovem Evandro, que nos auxiliaram com o
mais completo zelo e dedicao.
Aos estimados amigos de laboratrio, especialmente ao, Ugo Leandro Belini,
Matheus Peres Chagas, Mariana Pires Franco, Ivanka Rosada de Oliveira, Priscila
http://www.pusplq.usp.br/areausuario.php?func=180http://www.pusplq.usp.br/areausuario.php?func=180http://www.pusplq.usp.br/areausuario.php?func=1300
6
Garcia Geroto, Alejandro Danilo Venegas Gonzlez, Claudio Anholetto, Saly
Takeshita, Paula Gabriella Surdi, Marcos Arizapana, Angel Thiane Boschiero
Ferreira, Moiss Lobo, entre tantos outros, pelos momentos juntos e pelas trocas
de informaes e incentivos. Bem como aos estagirios Dominique Miyashiro Arce,
Leticia Oliveira Cobello e Tatiane Antunes da Silva pelo empenho e interesse ao
atuar no projeto.
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES),
pelo apoio financeiro do Programa CAPES-Demanda Social, fornecendo a bolsa de
doutorado.
Universidade de So Paulo, com foco Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz, que me proporcionou esta importante oportunidade, satisfazendo
minhas expectativas diante pesquisa.
E a todos aqueles que, de alguma forma, contriburam para que esta etapa
ficasse mais branda.
7
A felicidade no se resume na
ausncia de problemas, mas sim na
sua capacidade de lidar com eles.
Albert Einstein
http://pensador.uol.com.br/autor/albert_einstein/
8
9
SUMRIO
RESUMO................................................................................................................... 13
ABSTRACT ............................................................................................................... 15
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. 17
LISTA DE TABELAS ................................................................................................. 19
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .................................................................... 23
LISTA DE SMBOLOS E UNIDADES ........................................................................ 25
1 INTRODUO ....................................................................................................... 27
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 31
2.1 Objetivo Geral ..................................................................................................... 31
2.2 Objetivos Especficos .......................................................................................... 31
3 REVISO BIBLIOGRFICA ................................................................................... 33
3.1 A madeira ............................................................................................................ 33
3.2 A madeira de reflorestamento como matria prima ............................................. 33
3.3 A aplicao da madeira de reflorestamento em PMVA ....................................... 37
3.3.1 A utilizao da madeira pelas indstrias de PMVA com foco para mveis,
pisos, molduras e esquadrias. ................................................................................... 40
3.3.1.1 Mveis ........................................................................................................... 41
3.3.1.2 Pisos e revestimentos em madeira ............................................................... 43
3.3.1.3 Molduras ........................................................................................................ 45
3.3.1.4 Portas e esquadrias....................................................................................... 46
3.4 Os gneros Corymbia e Eucalyptus .................................................................... 46
3.4.1 As espcies Corymbia maculata, Eucalyptus cloeziana e E. resinifera ............ 48
3.4.1.1 Corymbia maculata........................................................................................ 48
3.4.1.2 Eucalyptus cloeziana ..................................................................................... 48
3.4.1.3 Eucalyptus resinifera ..................................................................................... 49
3.5 Caractersticas tecnolgicas da madeira importantes para PMVA ...................... 50
3.5.1 Propriedade organolptica ou sensorial da madeira ........................................ 51
3.5.1.1 Cor da madeira .............................................................................................. 51
3.5.2 Propriedades fsicas da madeira ...................................................................... 52
3.5.2.1 Densidade bsica da madeira ....................................................................... 53
3.5.2.3 Umidade da madeira ..................................................................................... 53
3.5.2.4 Variao dimensional da madeira ................................................................. 54
10
3.5.3 Caractersticas anatmicas da madeira ........................................................... 55
3.5.4 Propriedades mecnicas da madeira ............................................................... 56
3.5.4.1 Flexo esttica da madeira ........................................................................... 56
3.5.4.1.1 Mdulo de Ruptura (MOR) da madeira ...................................................... 57
3.5.4.1.2 Mdulo de Elasticidade (MOE) da madeira ............................................... 57
3.5.4.2 Cisalhamento da madeira ............................................................................. 58
3.5.4.3 Compresso da madeira ............................................................................... 58
3.5.5 Qualidade da superfcie usinada da madeira ................................................... 58
4 MATERIAL E MTODOS ...................................................................................... 61
4.1 Planejamento experimental ................................................................................ 61
4.2 Caracterizao do local ...................................................................................... 62
4.3 Seleo das espcies e das rvores .................................................................. 62
4.4 Corte das rvores de Corymbia e de Eucalyptus ................................................ 64
4.5 Desdobro ............................................................................................................ 65
4.5.1 Desdobro dos discos e das toras das rvores de Corymbia e Eucalyptus ...... 65
4.6 Propriedades organolpticas da madeira das rvores de Corymbia e Eucalyptus
.................................................................................................................................. 68
4.7 Propriedades fsicas da madeira das rvores de Corymbia e Eucalyptus .......... 69
4.8 Caracterizao anatmica da madeira das rvores de Corymbia e Eucalyptus . 71
4.9 Propriedades mecnicas da madeira das rvores de Corymbia e Eucalyptus ... 73
4.10 Qualidade da superfcie usinada da madeira das rvores de Corymbia e
Eucalyptus, com a aplicao de verniz ..................................................................... 76
4.11 Anlise dos resultados ...................................................................................... 81
5 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................. 83
5.1 Propriedades organolpticas da madeira das rvores de Corymbia e Eucalyptus. -
cor da madeira 83
5.2 Propriedades fsicas da madeira das rvores de Corymbia e Eucalyptus .......... 85
5.2.1 Densidade bsica da madeira ......................................................................... 85
5.2.1 Umidade da madeira ........................................................................................ 86
5.2.2 Variao dimensional volumtrica da madeira ................................................ 88
5.3 Anatomia da madeira .......................................................................................... 90
5.3.1 Comprimento das fibras ................................................................................... 90
11
5.3.2 Dimetro do lume das fibras ............................................................................. 91
5.3.3 Espessura da parede das fibras ....................................................................... 93
5.3.4 Frequncia de vasos ........................................................................................ 94
5.4 Propriedades mecnicas da madeira .................................................................. 96
5.4.1 Flexo esttica da madeira .............................................................................. 96
5.4.2 Compresso paralela da madeira - avaliao a resistncia e elasticidade ...... 97
5.4.3 Trao perpendicular da madeira - avaliao da resistncia ........................... 99
5.4.4 Cisalhamento da madeira - avaliao da resistncia ....................................... 99
5.4.5 Dureza Janka - avaliao da dureza da madeira ........................................... 100
5.5 Qualidade da superfcie usinada da madeira das rvores de Corymbia e
Eucalyptus, com a aplicao de verniz ................................................................... 102
5.5.1 Rugosidade na superfcie da madeira ............................................................ 102
5.5.2 Resistncia da madeira ao impacto por esfera .............................................. 103
5.5.3 Resistncia da madeira abraso ................................................................. 104
5.5.4 Aderncia da madeira ao filme de acabamento ............................................. 105
5.5.5 Resistncia da madeira ao risco no filme de acabamento ............................. 106
5.5.6 Resistncia da madeira s manchas .............................................................. 107
6 CONCLUSES .................................................................................................... 111
7 RECOMENDAES ............................................................................................ 113
REFERNCIAS ....................................................................................................... 115
GLOSSRIO ........................................................................................................... 131
12
13
RESUMO
Caracterizao tecnolgica da madeira de Corymbia maculata, Eucalyptus cloeziana e E. resinifera para a aplicao no design de Produtos de Maior Valor
Agregado (PMVA) As reas de plantaes florestais existentes no pas so insuficientes para o atendimento da demanda por madeira nos mais diversos segmentos, sendo que, para a indstria de produtos de maior valor agregado (PMVA) e construo civil, de modo geral, a madeira , em geral, procedente da explorao no sustentvel das florestas naturais. O uso da madeira de reflorestamento uma possvel alternativa de disponibilizao de madeira de qualidade, adequada aos requisitos tecnolgicos dos PMVA, sem colocar em risco de extino as espcies nativas. Neste contexto, o presente trabalho teve como principal objetivo caracterizar tecnologicamente madeira de trs espcies exticas com boa possibilidade de reflorestamento na regio sudeste do pas, sendo elas, de Corymbia maculata, Eucalyptus cloeziana e E. resinifera, para aplicao da madeira no design de PMVA. Os ensaios laboratoriais compreenderam em caracterizar a madeira quanto suas propriedades (i) organolpticas - cor; (ii) fsicas densidade bsica, umidade e variao dimensional volumtrica; (iii) anatmicas frequncia de vasos, dimetro de lume, espessura de parede da fibra e comprimento de fibras; (iv) mecnicas MOR e MOE para flexo esttica e compresso paralela, resistncia trao normal e cisalhamento e dureza Janka, alm de (v) qualidade de superfcie com acabamento em filme rugosidade, resistncia do filme ao impacto, ao risco, abraso e mancha. Os resultados de avaliao da cor indicaram diferena de tonalidade e cor entre as espcies. A avaliao fsica indicou uma semelhana na densidade bsica das madeiras das espcies analisadas, de mdio a baixo teor de umidade e variao dimensional favorvel para aplicao em PMVA. Na caracterizao das propriedades mecnicas os resultados de MOR e MOE foram similares s madeiras consideradas nobres e utilizadas em PMVA. Nos ensaios de qualidade de superfcie, os resultados encontrados para rugosidade foram bastante satisfatrios, compreendendo s classes N5 a N9 da NBR 8404/1984, com alta possibilidade de aplicao em produtos que requerem boa qualidade de superfcie. Os resultados permitem concluir que as trs espcies estudadas tem alto potencial para aplicao no design em PMVA.
Palavras-chave: Caracterizao tecnolgica; PMVA; Corymbia maculata; Eucalyptus
cloeziana; Eucalyptus resinifera
14
15
ABSTRACT
Technological characterization of wood Corymbia maculata, Eucalyptus
cloeziana and E. resinifera for application in the design of High Value Added Products (HVAP)
The areas of forest plantations in the country are insufficient to meet the demand for
wood in various segments, how to the industry of Products with Higher Added Value (HVAP) and construction, generally, the wood is, coming from unsustainable exploitation of natural forests. The use of wood from reforestation is a possible alternative for the provision of quality wood suitable to the technological requirements of PMVA without putting endangered native species. In this context, the present study aimed to characterize technologically three wooden exotic species with good potential for reforestation in the southeast of the country, being, Corymbia maculata, Eucalyptus cloeziana and E. resinifera for application the wood to design HVAP. The laboratory tests are understood in timber characteristics how in this properties (i) organoleptic properties - color, (ii) physical - Basic density , moisture content and volumetric dimensional variation, and (iii) anatomical - frequency vessel, lumen diameter , wall thickness of the fiber and fiber length, (iv) mechanical - MOR and MOE for bending and compression tests, tensile normal and shear and Janka hardness, and (v) quality of surface finish film - roughness , film resistance to impact, to risk, to abrasion and stain. The color evaluation results showed a difference the tone and color among species. The physical evaluation indicated a similarity in the basic density of wood species analyzed, medium to low moisture content and dimensional variation favorable for application in HVAP. The characterization of the mechanical properties of the MOR and MOE results were similar to those considered noble woods and used in HVAP. In tests if surface quality, the results were quite satisfactory for roughness, comprising rating N5 to N9 NBR 8404/1984, with a high possibility of application in products that require good surface quality. The results indicate that the three species has high potential for application to design HVAP.
Keywords: Technological characterization; HVAP; Corymbia maculata; Eucalyptus cloeziana;
Eucalyptus resinifera
16
17
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fluxograma do planejamento experimental (elaborado pela autora) ........ 61
Figura 2 - Classificao climtica de Kppen-Geiger para o Brasil e estado de So
Paulo (Fonte: Peel et al., 2007, adap. de Cardoso, 2013, readaptado pela
autora) ...................................................................................................... 62
Figura 3 - rvores de Corymbia maculata (A e C), de Eucalyptus cloeziana (B e D) e
de E. resinifera (E): aspectos gerais da sua copa, casca e do tronco ...... 63
Figura 4 - Corte das rvores de Corymbia e de Eucalyptus com a amostragem dos
discos e segmento das toras de lenho; (A) seccionamento do tronco; (B)
identificao na casca e na seo transversal ......................................... 64
Figura 5 - Seo transversal dos discos de lenho das rvores de Eucalyptus
cloeziana (A) e E. resinifera (B) e demarcao das amostras diametrais;
(C) demarcao das amostras radiais na seo transversal e do corpo de
prova de madeira para a caracterizao anatmica ................................. 65
Figura 6 - Tora do tronco de rvore fixada no carro da serra fita e seu desdobro em
pranches de madeira (A); pranches de madeira provenientes do
desdobro de tora (B) ................................................................................. 66
Figura 7 - Vigas de madeira armazenadas para a reduo da umidade e alvio de
tenses (A), caibros selecionados para confeco dos corpos de prova de
madeira (B), corpos de prova de madeira (C, D) ...................................... 67
Figura 8 - Sistema CIELAB 1976 na avaliao da cor da madeira das rvores de
Corymbia e de Eucalyptus (Fonte: adaptado de GONALEZ et al., 2001)
................................................................................................................. 68
Figura 9 - Leitura de espectros da madeira de Coymbia maculata com
espectofotmetro ...................................................................................... 69
Figura 10 - Caracterizao anatmica da madeira das rvores de Corymbia e
Eucalyptus. (B) corpos de provas de madeira para a confeco de lmina
histolgica e macerao; (A, C e D) processo de macerao, com as
amostras de madeira em tubos de ensaio e lmina de material macerado;
(E e F) imagem de fibra para mensurao do comprimento e imagem dos
vasos pelo plano tangencial ..................................................................... 72
18
Figura 11 - Corpos de prova de madeira estabilizados (A) e ensaio de flexo esttica
da madeira (B) ......................................................................................... 73
Figura 12 - Sequncia do ensaio de compresso paralela: (A,B) corpo de prova de
madeira e seu posicionamento do extensmetro, (C,D) corpo de prova de
madeira posicionado e aps o ensaio com a dinmica da fratura ........... 74
Figura 13 - Corpos de prova de madeira (A) ensaio de trao perpendicular do corpo
de prova no incio e no momento do seu rompimento (B,C) e corpo de
prova de madeira rompido (D) ................................................................. 74
Figura 14 - Corpos de prova de madeira estabilizados e preparados para ensaio de
cisalhamento (A, B), posicionamento do corpo de prova de madeira no
dispositivo, no momento e aps o ensaio de cisalhamento sem
rompimento total (C, D, E, F) e aps p rompimento total (G, H e I) ......... 75
Figura 15 - Ensaio de Dureza Janka: corpo de prova de madeira em seo
longitudinal (A, B); e transversal (C) ........................................................ 76
Figura 16 - Indstria de Pisos IndusParquet (A); estufa de secagem industrial de
madeira; (B); linha de inspeo do piso de madeira pronto (C) (Fonte:
www.Indusparquet.com.br) ...................................................................... 77
Figura 17 - Ensaio de corpo de prova de madeira com equipamento rugosmetro .. 78
Figura 18 - Ensaio de impacto do corpo de prova de madeira (A), corpo de prova de
madeira posicionado para execuo do ensaio (B) (Foto: SILVA, T.A.,
2013) ........................................................................................................ 78
Figura 19 - Sistema rotativo empregado para o ensaio de abraso de corpo de prova
de madeira e modelo de equipamento utilizado na realizao dos ensaios
(Fonte: taberindustries.com) .................................................................... 79
Figura 20 - Ensaio de aderncia do filme na superfcie da madeira de E. cloeziana 79
Figura 21 - Ensaio de resistncia ao risco no filme na superfcie da madeira de E.
cloeziana (A) e C. maculata (B) ............................................................... 80
Figura 22 - Corpo de prova de madeira com camada de isolante e de selador
evidenciando manchas na sua superfcie causadas pela gua (A), vinagre
(B) e mostarda (C) ................................................................................... 81
Figura 23 - Cores bases da madeira de C. maculata (A), E. cloeziana (B),
E.resinifera (C) (Fonte: adaptao da sada do software "On Color") ...... 84
19
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Mdias colorimtricas baseadas no sistema CIELAB obtidas para a
madeira de Corymbia maculata, Eucalyptus cloeziana e E. resinifera ..... 84
Tabela 2 - Densidade bsica mdia da madeira de rvores de C. maculata, E.
cloeziana e E. resinifera na direo longitudinal do tronco (kg/m3) .......... 86
Tabela 3 - Densidade bsica mdia da madeira de rvores de C. maculata, E.
cloeziana e E. resinifera na direo radial do tronco (kg/m3).................... 86
Tabela 4 - Teor mdio de umidade da madeira de rvores de C. maculata, E.
cloeziana e E. resinifera na direo longitudinal do tronco (%) ................ 87
Tabela 5 - Teor de umidade da madeira de rvores de C. maculata, E. cloeziana e E.
resinifera na direo radial do lenho do tronco (%) .................................. 88
Tabela 6 - Variao dimensional volumtrica mdia da madeira de rvores de C.
maculata, E. cloeziana e E. resinifera na direo longitudinal do tronco (%)
................................................................................................................. 89
Tabela 7 - Variao dimensional volumtrica mdia da madeira das rvores de C.
maculata, E. cloeziana e E. resinifera na direo radial do tronco ........... 89
Tabela 8 - Comprimento mdio das fibras da madeira de rvores de C. maculata, E.
cloeziana e E. resinifera na direo longitudinal do tronco (mm) ............. 91
Tabela 9 - Comprimento mdio das fibras da madeira de C. maculata, E. cloeziana e
E. resinifera na direo radial do tronco (mm) .......................................... 91
Tabela 10 - Dimetro mdio do lume das fibras da madeira das rvores de C.
maculata, E. cloeziana e E. resinifera na direo longitudinal do tronco
(m) .......................................................................................................... 92
Tabela 11 - Dimetro mdio do lume das fibras da madeira das rvores de C.
maculata, E. cloeziana e E. resinifera na direo radial do tronco (m) ... 93
Tabela 12 - Espessura mdia da parede das fibras da madeira das rvores de C.
maculata, E. cloeziana e E. resinifera na direo longitudinal do tronco
(m) .......................................................................................................... 94
Tabela 13 - Espessura mdia da parede das fibras da madeira das rvores de C.
maculata, E. cloeziana e E. resinifera na direo radial do tronco (m) ... 94
Tabela 14 - Frequncia mdia dos vasos da madeira de rvores de C. maculata, E.
cloeziana e E. resinifera na direo longitudinal do tronco (vasos/mm2) .. 95
20
Tabela 15 - Frequncia mdia dos vasos da madeira de rvores de C. maculata, E.
cloeziana e E. resinifera na direo radial do tronco (vasos/mm2) .......... 95
Tabela 16 - Flexo esttica da madeira- resultado do MOR da madeira de
C.maculata, E. cloeziana e E. resinifera (MPa) ........................................ 97
Tabela 17 - Flexo esttica - resultado do MOE da madeira de C.maculata, E.
cloeziana e E. resinifera (MPa) ................................................................ 97
Tabela 18 - Compresso paralela - resultado de resistncia da madeira de C.
maculata, E. cloeziana e E. resinifera (MPa) ........................................... 98
Tabela 19 - Compresso paralela - resultado de elasticidade da madeira de C.
maculata, E. cloeziana e E.resinifera (MPa) ............................................ 98
Tabela 20 Trao normal - resultado de resistncia da madeira de C. maculata, E.
cloeziana e E. resinifera (MPa) ................................................................ 99
Tabela 21 - Cisalhamento - resultado do MOR da madeira de C. maculata, E.
cloeziana e E. resinifera (MPa) .............................................................. 100
Tabela 22 Valor mdio da dureza Janka na direo longitudinal da madeira do
tronco das rvores de C. maculata, E. cloeziana e E. resinifera (kgf) .... 101
Tabela 23 - Valor mdio da dureza Janka na direo perpendicular s fibras (radial)
da madeira de C. maculata, E. cloeziana e E. resinifera (kgf) ............... 101
Tabela 24 - Valor mdio da dureza Janka na direo perpendicular s fibras
(tangencial) da madeira de C. maculata, E. cloeziana e E. resinifera (kgf)
............................................................................................................... 101
Tabela 25 - Valor mdio da rugosidade da madeira de C. maculata, E. cloeziana, E.
resinifera com acabamento de lixa e verniz (m) .................................. 103
Tabela 26 - Resistncia do filme da superfcie de acabamento da madeira de C.
maculata, E. cloeziana e E. resinifera ao impacto em 3 alturas ............. 104
Tabela 27 - Resistncia abraso da superfcie da madeira de C. maculata,
E.cloeziana e E. resinifera recoberta por filme de acabamento (ciclos) . 105
Tabela 28 - ndice do comportamento de aderncia do filme na madeira de C.
maculata, E.cloeziana e E. resinifera ..................................................... 106
Tabela 29 - Resistncia do filme de acabamento ao risco aderido na superfcie da
madeira de C. maculata, E. cloeziana e E. resinifera ............................ 106
21
Tabela 30 - Resistncia da superfcie natural e aplicao de filme da madeira de C.
maculata, E. cloeziana e E. resinifera s manchas por reagentes
domsticos ............................................................................................. 108
Tabela 31 - Correlao das propriedades fsicas, anatmicas e mecnicas da
madeira das rvores de C. maculata, E. cloeziana e E. resinfera ........ 112
22
23
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABIMCI Associao Brasileira da Indstria de Madeira Processada
Mecanicamente
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
ABRAF Associao Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas
ASTM American Society for Testing and Materials
C. maculata Corymbia maculata
CIRAD Centre de Coopration Internationale en Recherche Agronomique
pour le Dveloppement
CWA Clima temperado mido de inverno seco e vero quente
DAP Dimetro Altura do Peito
E. cloeziana Eucalyptus cloeziana
E. resinifera Eucalyptus resinifera
EGP Edge Glued Panel
ESALQ Escola Su Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations
HVAP Products with Higher Added Value
IAWA International Association Wood Anatomists
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
INRA Institut des sciences et industries du vivant et de l'environnement
- Agro Paris Tech
IPT Instituto de Pesquisas Tecnolgicas
ISO International Organization for Standardization
LAIM Laboratrio de Anatomia e Identificao da Madeira
LVL Laminated Veneer Lumber
LSL Laminated Strand Lumber
MDF Medium De Medium Density Fiberboard
MDP Medium Density Particleboard
MEV Microscopia Eletrnica de Varredura
MOR Modulus of Rupture (Mdulo de Ruptura)
MOE Modulus of Elasticity (Mdulo de Elasticidade)
N Norte
24
NBR Norma Tcnica Brasileira
NIR Near Infrared Spectroscopy
OSB Oriented Strand Board
PMVA Produtos de Maior Valor Agregado
PSL Parallel Strand Lumber
PSF Ponto de Saturao das Fibras
S Sul
SBS Sociedade Brasileira de Silvicultura
SFB Servio Florestal Brasileiro
USP Universidade de So Paulo
UTAD Universidade de Trs os Montes e Alto Douro
25
LISTA DE SMBOLOS E UNIDADES
% Percentual
ha hectare
R$ real - unidade da moeda brasileira
m3 metros cbicos
graus
C graus Celsius
cm centmetros
g gramas
g/cm3 gramas por centmetro cbico
kg/m3 quilograma por metro cbico
kgf quilograma fora
m metros
mm milmetros
MPa mega pascal
m mcron
26
27
1 INTRODUO
As florestas fazem parte do ecossistema terrestre e so fundamentais para a
sobrevivncia de milhares de seres vivos. As florestas naturais e plantadas cobrem
31% da superfcie da Terra (Food and Agriculture Organization of the United Nations
- FAO, 2000) e, no Brasil, representam 60,7% do territrio, com cerca de 516
milhes de ha, distribudas em quatro formaes florestais, sendo a segunda maior
rea florestal do mundo e constituda de 98,7% de florestas naturais e 1,3% de
florestas plantadas. Estas desempenham importantes funes sociais, econmicas e
ambientais, ofertando produtos florestais madeireiros e no madeireiros
(ASSOCIAO BRASILEIRA DA INDSTRIA DE MADEIRA PROCESSADA
MECANICAMENTE - ABIMCI, 2003, BRASIL, 2006; 2010).
As reas de plantaes florestais ocupam cerca de 6,6 milhes de h e 93%
desse total so das espcies dos gneros Eucalyptus e Pinus, insuficientes para
atender as necessidades de consumo de madeira serrada, apesar da elevada
produtividade dessas florestas plantadas (BRASIL, 2010; ASSOCIAO
BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS - ABRAF, 2013).
O setor de produo florestal do Brasil emprega direta e formalmente quase
63 mil pessoas, com as atividades realizadas nas florestas plantadas, sem
considerar o setor industrial, com 600 mil empregos formais, nas atividades de
desdobro de toras, produo de papel e celulose, lminas e chapas de madeira,
estruturas e artefatos, carvo vegetal, alm da indstria moveleira (BRASIL, 2010).
Outras vantagens das florestas plantadas incluem sua sustentabilidade,
rpido crescimento em ciclo de curta rotao, resultando em maior produtividade
florestal; maior homogeneidade do produto madeira, facilidade na adequao de
mquinas e equipamentos e, consequentemente, aumento da produtividade e a
qualidade do produto final. Deve, tambm, ser considerada a proximidade dos
centros consumidores, a reduo dos custos efetivos, como transporte e perda;
gerao de investimentos em infraestrutura; aumento do consumo de bens de
produo local; fomento de diversos tipos de negcios, como plantaes em reas
improdutivas, gerando renda a pequenos e mdios produtores, alm de promover
iniciativas na rea social (BRASIL, 2009; ABRAF, 2010; ABRAF, 2011).
Segundo a ABRAF (2011) dos 300 milhes de m3 de madeira consumida por
ano no pas, nos diversos segmentos industriais, somente 100 milhes de m3 provm
28
de plantaes florestais. Desta forma, significativa parte da madeira utilizada pela
indstria do mobilirio e da construo civil procedente da explorao de rvores
de espcies tropicais. A explorao no sustentvel das florestas naturais resulta na
escassez e no alto custo da madeira para o segmento industrial, sendo que parte
deste montante extrada ilegalmente e sem planos de manejo florestal.
Segundo Brasil (2007), o pas rene condies excepcionais na indstria de
base florestal, pois, a estrutura de explorao, com base em florestas plantadas,
permite uma racionalizao de custos e uma integrao logstica altamente
vantajosa, j que as florestas podem estar dispostas em distncia prxima s
fbricas, o que dispensaria manuteno de estoques elevados, corte antecipado e
reduo nos custos de transporte. No caso das florestas plantadas, o pas
desenvolveu tecnologias de melhoramento gentico e manejo florestal que o
colocam entre os produtores de menor custo e maior produtividade (ABRAF, 2011).
Mattos, Silva e Magalhes (2004) consideram que o setor florestal madeireiro
possui a capacidade de agregar maior valor ao produto, em relao maioria dos
produtos agrcolas e, melhor ainda, se esta atividade estiver relacionada madeira
de reflorestamento. H uma imensa gama de espcies arbreas que podem ser
introduzidas na cadeia de espcies de reflorestamento e ter importante funo
econmica no setor florestal, se utilizadas na indstria madeireira, sobretudo para
Produtos de Maior Valor Agregado (PMVA).
Dentro deste contexto, destacam-se os segmentos industriais de mobilirio,
pisos e esquadrias, que fabricam os PMVA, mas que carecem de pesquisas sobre
os parmetros de qualidade da madeira slida de espcies no convencionais, em
relao s utilizadas nos programas de reflorestamento, para que possam aplic-las
com certeza de bons resultados. Para Pereira et al. (2000), a madeira de
reflorestamento pode ser direcionada para a manufatura de produtos de alta
qualidade sendo que h a necessidade de estudos de sua caracterizao, visando
as inmeras aplicaes como madeira serrada.
De acordo com Nahuz (2007), os produtos slidos de madeira so a base do
crescimento em produo e exportao dos pases em desenvolvimento. Contudo, a
crescente escassez de florestas produtivas e matrias primas tm dificultado
grandes expanses na produo devido indisponibilidade de madeira de
29
reflorestamento. Ento, o uso das florestas plantadas como fonte de matria prima
para as indstrias de madeira serrada fundamental no panorama nacional, sendo
necessrios incentivos para o desenvolvimento de novas tecnologias e estudos de
tecnologia da madeira para produtos florestais.
A possibilidade de disponibilizao de madeira de reflorestamento de
qualidade, adequada aos requisitos tecnolgicos dos PMVA, uma alternativa para
diminuir a explorao de espcies nativas. Ainda, deve-se prever que no exista a
concorrncia do uso da madeira das espcies de reflorestamento consolidadas no
setor madeireiro, como as utilizadas nas indstrias papeleiras e de painis, sendo,
entretanto, necessrio o incentivo aos programas de financiamento do plantio de
novas espcies e o desenvolvimento de pesquisas para a avaliao tecnolgica da
madeira de rvores de espcies de reflorestamento de uso ainda no convencional.
De acordo com Panshin e De Zeeuw (1980) o desconhecimento das propriedades
intrnsecas da madeira e sua aplicao em mtodos de construo ultrapassados
so algumas das causas de desempenho insatisfatrio da madeira frente a outros
materiais.
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31
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Caracterizao tecnolgica da madeira das espcies Corymbia maculata,
Eucalyptus cloeziana e E. resinifera, de uso no convencional em programas de
reflorestamento no Brasil, visando sua aplicao para design de PMVA.
2.2 Objetivos Especficos
Caracterizao tecnolgica da madeira de C. maculata, E. cloeziana e E.
resinifera pela avaliao das suas propriedades:
- organolpticas/sensoriais: colorao;
- fsicas: densidade bsica, umidade e variao dimensional volumtrica;
- anatmicas: caracterizao microscpica, variao radial e longitudinal;
- mecnicas: mdulo de elasticidade (MOE) e mdulo de ruptura (MOR), por meio
de ensaios de flexo esttica e compresso paralela; ensaios de cisalhamento;
trao perpendicular e dureza Janka.
- qualidade da superfcie: rugosidade da superfcie, resistncia abraso,
resistncia aderncia do filme, resistncia ao risco, impacto por esfera e
resistncia a manchas.
- fabricao de pisos de madeira: estudo de caso da aplicao das trs espcies na
confeco de pisos de madeira macia.
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33
3 REVISO BIBLIOGRFICA
3.1 A madeira
A madeira, obtida do lenho das rvores um material heterogneo,
anisotrpico e, portanto, de comportamento complexo.
A madeira, assim como todos os organismos vivos, no se adequa aos
padres e as normas estabelecidas pelo homem (GONZAGA, 2006), mostrando
variaes anatmicas, fsicas, qumicas e mecnicas, em resposta aos fatores do
ambiente, com as suas caractersticas e propriedades fsico-mecnicas variando
com o plano (ZENID, 2007).
Em termos taxonmicos, as rvores so classificadas em dois grupos, sendo
o das gimnospermas conferas e o das angiospermas dicotiledneas. As rvores das
espcies de Eucalyptus e de Corymbia do presente estudo esto includas nas
angiospermas (folhosas) caracterizadas por apresentar os vulos protegidos pelos
ovrios/sementes no interior dos frutos, com o lenho/madeira constitudo por vasos,
fibras curtas, estreitas, densidade mdia a alta, com alburno distinto do cerne, com
variao na cor e desenho, odor e durabilidade natural (WILKES, 1988; CHIMELO,
2007; ZENID, 2007).
3.2 A madeira de reflorestamento como matria prima
No Brasil, as primeiras exploraes madeireiras so datadas no incio no
sculo XVI e ocorreram na sua costa litornea, pela extrao da madeira do pau-
brasil (Caesalpinea echinata) e, de acordo com Lorenzi (1992), empregada na
construo civil e naval, em trabalhos no torno e, principalmente, para a extrao do
corante brasilina para tinta de escrever e tingimento de tecidos.
Os registros histricos indicam que, desde ento, a explorao madeireira se
intensificou com o corte das rvores de somente poucas espcies, em algumas
regies, colocando-as em risco de extino. Desta forma, em 1934 foram
promulgados o Cdigo Florestal e de guas que impuseram restries do
desmatamento de at 75% em reas privadas e instituram o controle do
desmatamento, pela necessidade de licena para a explorao de reas limtrofes
dos rios e dos lagos (BRASIL, 2007).
Nesta poca estabeleceram-se a vinculao do uso da madeira e a reposio
34
das espcies florestais, bem como a criao de unidades de conservao florestal,
como as florestas de proteo, remanescentes, de rendimento e parques nacionais.
No entanto, somente em 1965, foi criada uma comisso de representantes do setor
florestal e tcnicos do Ministrio da Agricultura que apresentou um anteprojeto para
o novo cdigo florestal sancionado em 1965, revogando o de 1934 (BRASIL, 2007).
De acordo com Leo (2000), o novo cdigo florestal destacou-se pela possibilidade
a utilizao de rvores de espcies exticas como as de pinus e eucaliptos nos
programas de reflorestamento.
As florestas brasileiras, segundo Lorenzi (1992), j forneceram a madeira
utilizada a muitos pases do mundo; no entanto, no final do sculo XIX, iniciou-se o
processo de explorao das florestas das regies sul e sudeste do pas, com nfase
s matas de araucria no estado do Paran e de imbuia e peroba no oeste do
estado de So Paulo.
Atualmente, a cobertura vegetal do territrio brasileiro distribui-se em florestas
densas, florestas abertas e de outras formas de vegetao (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA - IBGE, 2011). A madeira das
rvores das espcies ocorrentes nas florestas densas a mais utilizada pelas
indstrias de processamento mecnico, estima-se em 412 milhes de ha,
potencialmente utilizveis, com 245 milhes de ha passveis de mecanizao
(BRASIL, 2007).
Segundo a ABRAF (2012) em 2011, a rea de plantaes florestais de
Eucalyptus e de Pinus totalizou em 6,5 milhes de ha, sendo que as maiores
concentraes acontecem nos estados de Minas Gerais, So Paulo e Paran. Para
as espcies de Pinus, destacam-se os estados do Paran, Santa Catarina, e Rio
Grande do Sul e as de Eucalyptus os estados Minas Gerais, So Paulo e Bahia,
segundo BRASIL (2010).
As atividades de reflorestamento, segundo Zenid (2007), oferecem vantagens
sobre as florestas nativas, como a alta produo/rea, flexibilidade da regio de
plantio, a possibilidade de determinao dos rendimentos, homogeneizao da
matria prima pelo controle dos ciclos de corte, etc.
As florestas plantadas so consideradas uma cultura vegetal introduzida em
determinada regio, composta por uma nica espcie e destinada a uma
35
determinada finalidade (ABRAF, 2011). Atualmente, o segmento florestal tem
investido no incremento da produtividade das rvores de Eucalyptus e de Pinus,
aplicando novas tecnologias, demonstrando a sua importncia para as indstrias do
setor madeireiro (BRASIL, 2009).
Segundo Oliveira e Hellmeister (1998) os primeiros reflorestamentos
incentivados foram implantados para a produo de matria-prima para a indstria
de papel e celulose e energia e carvo vegetal para siderurgia. Atualmente, a
madeira de reflorestamento empregada nas indstrias de painis, construo civil
e embalagens, etc., em constante reorientao.
Para a ampliao da utilizao da madeira de reflorestamento h
necessidade da incorporao de novas espcies que, sem dvida, podero
substituir a madeira das rvores das espcies nativas. Para Zenid (2007) o contnuo
distanciamento das fontes de madeira de florestas naturais torna atraente a
possibilidade da utilizao da madeira de florestas plantadas na construo civil e
na indstria moveleira. H diversas espcies de Eucalyptus que podem ser
plantadas com a finalidade de aplicao como madeira serrada e as principais
espcies para este fim, manejadas a nvel mundial, laminao e produo de postes
so E. grandis, E. saligna, E. microcorys, E. maculata, E. cloeziana, E. paniculata e
E. resinfera (SANTOS, 2006; FERREIRA e SILVA, 2008).
Nesse aspecto, no perodo de 1967-1986 foram reflorestados 6 milhes de ha
nos projetos incentivados e que permitiu a formao de uma base de indstria
florestal para o fornecimento de matria-prima de qualidade, de custo reduzido,
viabilizando a expanso do segmento de celulose e papel e de produtos siderrgicos
com base em carvo vegetal (BRASIL, 2007). Apesar disso, na atualidade, somente
35% da madeira utilizada na indstria madeireira mundial provm de
reflorestamento, sendo o Brasil o 4 maior produtor de madeira, atrs dos EUA,
China e ndia (TOREZAN, 2013).
Na atividade florestal so definidos 2 tipos de explorao econmica, sendo a
extrao da madeira de florestas nativas (com ou sem reposio) e a extrao da
madeira de florestamento e de reflorestamento com Pinus e Eucalyptus no Brasil e,
em menor medida, de espcies nativas (BRASIL, 2007).
No Brasil, a madeira das florestas plantadas, especialmente as de Eucalyptus
e Pinus, constitui-se na mais importante fonte de matria-prima para usos industriais,
36
principalmente para celulose e painis de madeira reconstituda (ABRAF, 2011). As
perspectivas de utilizao da madeira so promissoras, para uma ampla gama de
aplicaes, com agregao de valores ambientais, sociais e econmicos.
Para Oliveira e Hellmeister (1998) as rvores de Pinus produzem madeira de
fcil processamento e boa trabalhabilidade sendo que, no entanto, no apresenta,
na maioria das espcies, caractersticas satisfatrias de resistncia; por outro lado,
a madeira das rvores de Eucalyptus possui um enorme potencial e, em geral,
apresenta resistncia mecnica satisfatria para variadas aplicaes.
De acordo com Brasil (2007) poucos pases desenvolveram as florestas
energticas, como as do Brasil, para a utilizao da madeira de eucalipto para a
produo de carvo vegetal destinado a indstria siderrgica. Verifica-se em outros
pases, uma explorao extensiva de florestas nativas para lenha e carvo, como na
China, ndia, Etipia e outros pases africanos.
Na atualidade, h muitas indstrias florestais que aplicam alta tecnologia na
explorao e utilizao da madeira e que indicam os seus planos de expanso.
Entretanto, apesar do longo tempo do incio das plantaes florestais incentivadas,
o setor industrial de produtos slidos da madeira possui poucas informaes sobre
as caractersticas e aplicaes da madeira, sobretudo das espcies de eucalipto
no utilizadas em escala comercial. Constata-se que o aumento do uso da madeira
de eucalipto de reflorestamento como madeira serrada no Brasil, apesar de ser
bastante incipiente; o mercado recebe pouca madeira serrada de plantaes de
eucaliptos manejadas para essa finalidade (GONALEZ et al., 2006).
De acordo com Andrade (1961) a possibilidade de uso da madeira de
eucalipto em marcenaria e em movelaria existe h muito tempo em diferentes
pases, sendo que nos EUA os empresrios da rea moveleira mostraram boa
aceitao no incio do sculo XX, confeccionando mobilirio comparvel ao das
madeiras tradicionais. Segundo Mangieri e Dimitri (1958) a madeira de rvores de
espcies de eucaliptos utilizada na fabricao de mveis na Austrlia, frica do Sul
e na Argentina, desde a dcada de 1950, caracterizadas pela propriedade de
aspecto atraente, fcil trabalhabilidade mecnica e manual, boas caractersticas para
tratamentos superficiais, colagem e polimento. No Chile, menciona-se que a madeira
de eucalipto utilizada h algum tempo na indstria de mveis e na construo civil
37
(MENDONZA, 1995). No Brasil, a utilizao da madeira de eucalipto pela indstria
moveleira e na construo civil sugere melhores perspectivas (GONALEZ et al.,
2006).
Segundo Oliveira (1999), a madeira de eucalipto utilizada em grande escala
na estrutura interna de mveis estofados, sendo que os prottipos de madeira de
Eucalyptus grandis mostraram excelente resultado, encontrando restries de
disponibilidade e continuidade de suprimento de madeira de qualidade.
Embora a madeira das rvores de espcies de Eucalyptus possam se
apresentar como alternativa para a indstria madeireira, ainda possui as limitaes
inerentes madeira de florestas de rpido crescimento, alm da falta de
conhecimentos tecnolgicos, como entrave sua utilizao econmica.
O eucalipto , portanto, o gnero mais empregado em florestas plantadas no
Brasil, ocupando papel socioeconmico de destaque, tendo sido crescente a sua
utilizao para madeira serrada e laminada pelas caractersticas de alta qualidade; a
viabilidade econmica da madeira de eucalipto relaciona-se com a necessidade de
alternativa para a substituio da madeira de espcies das florestas tropicais e
atlnticas, cada vez mais escassa e sujeita presso de entidades ambientalistas
que visam a sua conservao (NERI, 1998; SHIMOYAMA, 1990; TOREZAN, 2013).
3.3 A aplicao da madeira de reflorestamento em PMVA
A indstria de madeira serrada, processada mecanicamente um complexo
de atividades que abrange mercados distintos e, segundo a ABIMCI (2007), essa
indstria dividida em trs grandes segmentos: madeira serrada, compensados e
manufaturados de madeira (PMVA).
A madeira, sob o aspecto da tecnologia dos produtos florestais, passou por
uma evoluo caracterizada por uma utilizao simplificada, com um processamento
elementar e era empregada como postes, moures, toretes, lenha, usos temporrios
na construo civil, etc. Com a evoluo da tecnologia, a madeira serrada, aplainada
e dimensionada foi transformada em pranchas, tbuas, colunas, vigas, caibros,
ripas, etc. Atualmente, a madeira aps o processamento industrial resulta em
produtos reconstitudos como painis a base de madeira - compensados,
particulados ou de fibras - alm das vigas estruturais.
38
No segmento dos produtos florestais madeireiros, a madeira das florestas
plantadas representa a principal fonte de suprimento da cadeia produtiva de
importantes reas industriais como, celulose e papel, painis reconstitudos, mveis,
siderurgia a carvo vegetal, energia e produtos de madeira slida. A expanso da
produo de madeira de florestas plantadas constitui-se em estratgia para a
reduo dos impactos ambientais da extrao da madeira de rvores de espcies
nativa no certificada ou sem manejo de impacto reduzido para a produo de
PMVA (BRASIL, 2009).
De acordo com Garlipp e Foelkel (2009) a madeira de origem legal ou
certificada uma preocupao global e ser exigida em mercados domsticos
sendo, atualmente, aplicada nas compras pblica e privada de vrios pases; a
madeira das florestas plantadas considerada como instrumento de controle e de
desestmulo produo e comrcio da madeira ilegal.
Martins (2008) afirma que, para minimizar a extrao da madeira de espcies
nativas para a produo de madeira serrada pode-se introduzir no mercado a
madeira de rvores de novas espcies de rpido crescimento oriundas de
reflorestamento. A madeira das rvores de plantaes podem racionalizar os custos
de transporte em uma integrao logstica mais vantajosa, pela proximidade das
indstrias, baixando o custo de manuteno dos estoques, produo, tecnologia,
processamento e beneficiamento dos produtos (GIUSTINA, 2001; ASSOCIAO
BRASILEIRA DAS INDSTRIAS DE MVEIS - ABIMVEL, 2007).
Para a indstria de PMVA restrita a oferta da madeira de rvores de
espcies de reflorestamento adequada s aplicaes. Mattos, Silva e Magalhes
(2004) citam a restrio da disponibilidade e da falta de qualidade da madeira de
reflorestamento para as indstrias de PMVA, alm da necessidade de atendimento
das especificaes industriais e falta das normas e padres. O segmento industrial
poder sofrer com dificuldade do suprimento da madeira, pelas presses ambientais,
elevao do custo da madeira de florestas naturais e pela conscientizao da
utilizao dos recursos florestais renovveis (MATTOS; SILVA; MAGALHES, 2004;
AMPARADO et al., 2008).
A madeira das rvores de novas espcies ou de uso no convencional tem,
ainda, baixa aceitao pelo desconhecimento de suas caractersticas tecnolgicas,
39
rendimento, processamento de desdobro, secagem, usinagem e acabamento. A
madeira de rvores de Eucalyptus e de Corymbia utilizada para a produo de
madeira serrada e com variabilidade das propriedades fsico-mecnicas (MATTOS;
SILVA; MAGALHES, 2004; MARTINS, 2008).
O uso da madeira para produtos slidos depende das suas caractersticas
anatmicas, fsicas, mecnicas, qumicas e estticas, afetando o rendimento e a
valorao dos produtos finais, apontando adequao das aplicaes.
Segundo Foelkel et al. (1975) a capacidade da madeira atender os requisitos
para determinado uso avaliada por um ou mais fatores relacionados com a sua
estrutura e propriedades fsico-mecnicas. A madeira como material anisotrpico
tem alta variabilidade pela complexidade dos processos fisiolgicos envolvidos na
sua formao. Alm disso, a madeira constituda estruturalmente por elementos
anatmicos orientados em diferentes direes e resultado da gentica e do
ambiente.
Para Gonalez et al. (2006) a qualidade da madeira se refere sua
capacidade de atender os requisitos para a fabricao de um produto ou a
combinao das suas caractersticas anatmicas, fsicas, mecnicas e qumicas
permite a sua melhor utilizao da madeira para determinado uso. Com o
conhecimento tecnolgico da madeira possvel verificar o seu potencial de
utilizao na indstria, alm de prever os defeitos.
A combinao das propriedades da madeira direciona a sua melhor forma de
utilizao sendo importante avaliar a sua qualidade para a definio do seu uso,
identificando os fatores que a afetam, alm de quantific-los e determinar o efeito na
qualidade do produto (MOURA, 2000, NASCIMENTO, 2008; SOUZA et al., 2009).
As novas tendncias de utilizao da madeira influenciam no consumo de
seus produtos mais durveis, personalizados, simplificados, de uso compartilhado,
despertando o compromisso com a conscincia ecolgica e a valorizao das
culturas (GIUSTINA, 2001).
Os produtos acabados da madeira de rvores de espcies no convencionais
devem seguir os padres de qualidade das madeiras nobres para a aceitao sem
restries do mercado consumidor nacional e internacional. Segundo Jankowsky
(1995) a qualidade do produto de madeira avaliada pelo atendimento da
40
necessidade do mercado, preo competitivo, acabamento final, alm do atendimento
do apelo ecolgico.
3.3.1 A utilizao da madeira pelas indstrias de PMVA com foco para mveis,
pisos, molduras e esquadrias.
A madeira, utilizada pelo homem desde os seus primrdios, tem sido includa
nas estratgias e legislao visando a sua conservao e consumo responsvel
para o bem estar da humanidade (ADEODATO et al., 2011).
O processo de colonizao do pas e o acesso s florestas naturais induziram
a explorao das madeiras nobre, de melhor qualidade e aspecto esttico na
confeco de PMVA. Gonzaga (2006) considera difcil a substituio da madeira das
rvores das espcies de maior valor econmico e indica a necessidade de pesquisas
da madeira de novas espcies, adaptao das mquinas e o convencimento do
consumidor. Neste aspecto, a cadeia produtiva da madeira contempla sua aplicao
em energia, painis e polpa, estrutura, cimbramentos, mveis, artesanato para
adorno, divisria e lambris (JUVENAL; MATTOS, 2002; SILVA, 2002a).
A indstria da madeira processada mecanicamente tem importante
contribuio scio-econmico-ambiental gerando novos produtos e divisas, atraindo
investimentos e recolhendo impostos, valorizando a terra e criando empregos,
incentivando a educao ambiental e a pesquisa e fixando o homem no campo.
Citam-se, tambm, a manuteno do equilbrio dos ecossistemas naturais,
regulagem do clima, reduo do desmatamento, manejo sustentvel de florestas
certificadas e regularizao dos fluxos de gua (AMBICI, 2007).
Ainda, segundo a ABIMCI (2009), a serraria um importante segmento das
indstrias do setor florestal, pela transformao da madeira (pranchas, tbuas,
blocos, dormentes, vigas, etc) constituindo-se a base para a produo dos PMVA.
Segundo Pereira (2003) no final da dcada de 80 as empresas brasileiras de
madeira serrada foram estimuladas, em funo da competitividade, a investir em
processos e produtos que agregassem maior valor ao produto serrado para
conquistar os mercados externo e o moveleiro.
Os PMVA agrupam produtos como os mveis e seus componentes (clear
blocks - peas com pequenas dimenses, sem defeitos e sem medula), pisos,
41
portas, janelas, molduras, painel colado lateral, etc. (PEREIRA, 2003), sendo, ainda,
muito utilizada a madeira nativa, sobretudo no setor de mveis (ROSA et al., 2007),
pela aparncia, alta resistncia fsico-mecnica, durabilidade e usinabilidade para
emoldurada, torneamento ou entalhamento.
As indstrias de PMVA necessitam de madeira de maior homogeneidade e,
nos segmentos de painis, papel e celulose, utilizam as de reflorestamento,
justamente por serem mais homogneas. Alm disso, a origem da madeira
estratgica prevalecendo o consumo da madeira de plantaes das regies sudeste
e sul e a de florestas nativas no norte e centro-oeste (JUVENAL; MATTOS, 2002).
3.3.1.1 Mveis
A indstria moveleira tradicional e uma das mais antigas do mundo
caracterizada, atualmente, pela avanada tecnologia de produo consolidada, com
padro de desenvolvimento tecnolgico determinado pela indstria de bens de
capital; a indstria foi derivada dos carpinteiros e dos artesos produtores de mveis
que, com a revoluo industrial, utilizaram as mquinas e ferramentas pra obter
economia de esforo e tempo (BRASIL, 1993).
A indstria mundial de mveis , ainda, constituda predominantemente por
pequenas empresas que at os anos 50 visavam atender quase que exclusivamente
o mercado interno em seus pases. O comrcio internacional de mveis teve incio
nos anos 50 quando a indstria moveleira da Dinamarca passou a voltar-se para o
mercado externo, consolidado a partir dos anos 70 pela indstria italiana, sendo a
maior exportadora de mveis por mais de 35 anos com destaque de design,
produo e comrcio (FERREIRA et al., 2008).
No Brasil a indstria de mveis de madeira tem passado por ciclos de
modernizao inicialmente com pequenas marcenarias, operadas com o know-how
de imigrantes europeus, confeccionando produtos tipicamente artesanais (LEO;
NAVEIRO, 2009). Na dcada de 90 a cadeia produtiva da madeira e mveis sofreu
transformao com ganho de produtividade, com a introduo de equipamentos
automatizados, utilizao de novas tcnicas de gesto e uso de outras matrias
primas (MORAES; NASSAR, 2002).
Segundo Rosa et al. (2007) o IBGE classifica a indstria de mveis com base
na matria-prima. A categoria bsica o principal segmento com 72% da produo,
42
constituda pelos mveis de madeira, incluindo vime e junco; os mveis de metal
constituem 12% e os mveis confeccionados em plstico e artefatos do mobilirio
(incluindo colchoaria e persianas) completam a categoria.
As empresas que constituem os principais polos de movelaria esto
localizadas na regio centro-sul do pas, destacando-se os de Bento Gonalves, RS;
So Bento do Sul, SC; Arapongas, PR; Mirassol, Votuporanga e So Paulo, SP;
Ub, MG e Linhares, ES, etc. (BRASIL, 2007).
Os mveis de madeira constituem-se no principal segmento do comrcio
internacional de mveis e com os fatores bsicos de competitividade resumidos em
4 pontos: tecnologia, especializao da produo, design e estratgias comerciais
(BRASIL, 1993). O avano da tecnologia propiciou a otimizao no uso da madeira
macia e, atualmente, cada vez mais so utilizadas como lminas para a aplicao
sobre os painis reconstitudos, valorizando o produto.
As inovaes tecnolgicas na indstria de mveis de madeira originaram-se,
basicamente, das inovaes de produto pelo aprimoramento do design e a utilizao
de novos materiais sendo que, neste caso, as mudanas so tambm exgenas. No
segmento de mveis retilneos, parte das inovaes foi originada da utilizao de
painis MDP e MDF com novos revestimentos introduzidos pela indstria de painis
de madeira (FERREIRA et al., 2008).
Dos segmentos da indstria moveleira, residencial, escritrio e institucionais,
os de mveis de madeira para as residncias e escritrio so os mais importantes e
divididos na categoria de mveis retilneos seriados, torneados seriados e
planejados (BRASIL, 1993; ROSA et al., 2007).
Os mveis de madeira, com expressiva parcela do total da produo, so
divididos em retilneos - lisos, com desenho de linhas retas, confeccionados com os
painis MDF, MDP e compensados -, os torneados com detalhes sofisticados de
acabamento, forma reta e curvilnea, confeccionados com madeira de nativa ou de
reflorestamento e de painis MDF usinados, destinados classe mdia-alta e
exportao (GORINI, 1998).
Outro destaque a ampliao do uso de madeira de rvores de florestas
plantadas de rpido crescimento e a diversificao das madeiras de florestas
nativas. Segundo Gorini (2000) a tendncia do futuro do mvel a praticidade e
43
padronizao, baixo custo e confeco com madeira de reflorestamento sendo que o
Brasil desfruta de um forte potencial de competitividade pelo baixo custo da madeira
de reflorestamento no utilizada em seu pleno potencial (GORINI, 1998).
Em relao matria-prima, Gorini (2000) afirma que a tecnologia possibilitou
a utilizao da madeira de rvores de reflorestamento, como a de pinus (em
substituio a da araucria), eucalipto (menor escala no Brasil, utilizado na Nova
Zelndia, Austrlia e Chile) e a da seringueira (na Malsia, Indonsia, Filipinas e
Ceilo). Destaca-se, ainda, a norma ISO-14000 como fator de inibio do uso da
madeira de lei e estmulo da de reflorestamento (BRASIL, 2002), alm da crescente
restrio ambiental ao uso da madeira e a aumento da importncia da madeira de
reflorestamento (pinus, eucalipto) no comrcio internacional (GORINI, 2000).
Todo o mobilirio criado para uma funo especfica no ambiente, como
armazenar, apoiar, posicionar, dividir, transportar, organizar, separar, etc, alm do
fator emocional na aquisio do mvel (GIUSTINA, 2001). Segundo Coelho e Berger
(2004) a melhoria da qualidade dos produtos da indstria de mveis julgada pelo
material, design, durabilidade, custo/benefcio, adequao ao uso e exigncias dos
clientes.
O setor est em ascenso (BRASIL, 2007) apesar do crescimento das
exportaes, apresenta a necessidade de aprimoramento de sua capacitao
tecnolgica e produtiva e de desenvolver a qualidade e design de mveis, em
particular na pequena e mdia empresa.
A indstria brasileira de mveis, a exemplo dos demais pases produtores,
caracterizada pela grande absoro de mo de obra em relao aos demais
segmentos e pela pequena participao econmica adicionada pela indstria de
transformao, contudo, a indstria brasileira de mveis tem uma posio ainda
muito tmida no comrcio mundial, isto devido tardia modernizao tecnolgica em
relao a outros pases (BRASIL, 1993).
3.3.1.2 Pisos e revestimentos em madeira
O piso uma superfcie contnua ou descontnua, construda para permitir o
trnsito leve ou pesado (SILVA; BITTENCOURT, 2002) e sua escolha deve ser
adequada ao uso e ambiente em que este ser inserido, com a funo de suporte
44
aos usurios, moblia, mquinas e equipamentos, permitindo o trnsito seguro e
confortvel e valorizando esteticamente o ambiente (BARRY, 2008).
Os pisos e revestimentos em madeira so, normalmente, definidos em duas
classes, de madeira macia e de compsitos, levando-se em considerao a forma
de construo e o tipo de produto em madeira que os compem (ABIMCI, 2004).
Historicamente, no se tem o registro da data do uso do revestimento flutuante, para
superfcies horizontais (piso) ou verticais. Porm, este tipo de revestimento de pisos
est associado aos revestimentos de madeira e os laminados (LOPES, 2010).
A qualidade da madeira para pisos est relacionada, principalmente, s suas
caractersticas fsico-mecnicas, com destaque para a estabilidade dimensional e a
resistncia mecnica. Atualmente, vrios pisos de madeira esto disponveis, como
carpetes, assoalho, tacos ou parquetes, decks, etc. que devem ser escolhidos de
acordo com as necessidades, disponibilidade do material e maior rendimento
(MARTINS, 2008).
De acordo com Brasil (2007) os pisos de madeira macia e os laminados
(composto por camadas) so os mais conhecidos; os pisos de madeira macia so
feitos, geralmente, com madeiras nobres, e os laminados utilizam substrato base
de painis (compensados, MDF, HDF, aglomerado) e revestidos com lminas de
madeira nobre ou papis melamnicos.
Segundo Martins et al. (2013) apesar da grande diversidade de madeiras
tropicais so poucas as utilizadas na fabricao de pisos, podendo-se citar o
cumaru, jatob, peroba-rosa e o ip. A qualidade da madeira destas espcies
indicada para pisos, com a desvantagem da degradao do ambiente pela sua
extrao nas florestas ser caracterizada, muitas vezes, como predatria.
A produo brasileira de pisos de madeira macia tem apresentado um
crescimento constante nos ltimos anos, embora no seja conhecido por um padro
de qualidade adequado, competindo no mercado consumidor, principalmente, pela
estratgia de preos, pela desorganizao do setor e ausncia de padro referencial
de sua qualidade (JANKOWSKY et al., 2004).
As recomendaes mais importantes para o bom acabamento do piso de
madeira relacionam-se, por exemplo, ao baixo teor de umidade (12 - 15% de
umidade) e dureza Janka mdia (>400 kgf/cm2), pois sua dureza baixa deixar
45
marcas em sua superfcie e ter espessura mnima de 20 mm (GONZAGA, 2006).
Para confirmar o potencial da madeira de uma espcie e identificar outras de uso
no convencional (ex.: Eucalyptus e Corymbia) para a produo de pisos
necessria a realizao de ensaios (MARTINS et al., 2013).
3.3.1.3 Molduras
As molduras so perfis obtidos do reprocessamento da madeira serrada ou
dos blocks e blanks, que so os blocos de madeira completamente isentos de
defeitos, como ns, fraturas, fendas, fissuras e degradao, e os blocks
emendados, no perfil transversal, por meio de emendas dentadas, ou, finger-jointing,
respectivamente. Estas peas so empregadas quase sempre para acabamentos
interiores com propsito decorativo. Um exemplo de aplicao das molduras, com
efeito decorativo, a utilizao como rodap, aplicados nas junes entre o piso e
parede e em guarnies de portas. Entretanto cabe ressaltar que as molduras
podem assumir formatos e medidas variadas, atendendo s mais diversas
necessidades. No Brasil, o maior consumidor das molduras o segmento da
construo civil, entretanto, a maior parte da produo nacional destinada
exportao (ABIMCI, 2004, 2009).
Segundo Brasil (2007) a estrutura de oferta de molduras pulverizada em
pequenos produtores pouco especializados. Os exportadores, em razo das
exigncias do mercado internacional, so em geral os mais especializados, em
particular os fabricantes de molduras de madeira de espcies de Pinus. A produo
de molduras do tipo exportao tem aumentado rapidamente nos ltimos anos, mas
por se tratar de um produto mais elaborado, o destino das molduras quase que
exclusivamente o mercado internacional.
As madeiras utilizadas na fabricao de molduras so as de Pinus taeda e P.
elliottii, de tropicais nativas, Eucalyptus e de painis MDF. As molduras para o
segmento artstico (quadros, porta-retratos, espelhos, molduras para mveis, chassis
em geral) utilizam madeira de baixa densidade (marup, virola, parapar ou caixeta)
e, em menor quantidade, a do eucalipto, no requerendo madeira de muita
resistncia, sendo que as de baixa densidade so mais baratas, leves, fceis de
secar e de usinar (BRASIL, 2007).
46
3.3.1.4 Portas e esquadrias
No segmento de PMVA, o setor de portas tido como um dos mais
representativos e competitivos, sendo oferecidos pelos fabricantes as portas lisas
(ocas), semi-slidas (com ripas internas), slidas e reconstitudas (painis base
de madeira). O segmento de portas de madeira macia atende geralmente a
construo civil (ABIMCI, 2009).
A produo de portas de madeira uma atividade descentralizada no Brasil
com mais de 2.000 pequenas e mdias empresas, sendo que a ABIMCI (2009)
estima que as 15 maiores empresas respondem por cerca de 50% da produo
nacional; com 300 empresas fabricando 2-3 mil unidades/ms e as restantes menos
de 2 mil unidades/ms.
Esse setor industrial tem passado por intensa modernizao pela adoo de
novas tecnologias e matrias-primas, como a utilizao do MDF e do OSB na
confeco de portas, possibilitando a ampliao das exportaes (BRASIL, 2007).
Uma pesquisa pioneira para a utilizao de componentes de madeira de
rvores de pinus e de eucalipto para a confeco de esquadrias foi realizada pelo
IPT, com intuito de ampliar a sua aplicao (RABBAT, 1988). Em estudo de Laverde
e Ino (2006), para a adoo de componentes de madeiras de uso no convencional
necessrio a sensibilizao, capacitao e conscientizao continuada de
arquitetos, engenheiros, fabricantes e, tambm, do usurio final.
3.4 Os gneros Corymbia e Eucalyptus
Os gneros Eucalyptus e Corymbia, originrios da Austrlia, pertencem
famlia Myrtaceae e possuem madeira com caractersticas anatmicas, fsicas,
mecnicas, qumicas e estticas diferenciadas, permitindo a substituio de vrias
espcies nativas em diferentes aplicaes (HALL; JOHNSTON; CHIPPENDALE,
1975). No entanto, a madeira de rvores de poucas espcies exticas tem sido
caracterizada e, consequentemente, plantada em escala comercial no Brasil (LYNE,
2011).
As primeiras espcies de eucalipto foram reconhecidas pelo trabalho do
botnico David Nelson e do mdico William Anderson, realizados de 1776 a 1779.
Segundo Leo (2000), em 1792, o botnico francs Labillardire descreveu o
47
Eucalyptus globulus, no sul da Austrlia e mudas do gnero levadas para a Frana
(Paris) propiciaram os plantios no litoral francs, italiano e norte da frica, formando
grandes florestas. Hoje, o eucalipto a rvore mais cultivada do mundo, contando
com mais de 500 espcies.
No Brasil, em 1824, foram plantadas a primeiras mudas de Eucalyptus
gigantea no Jardim Botnico do Rio de Janeiro; em 1904 que o Eng. Agr. Edmundo
Navarro de Andrade iniciou o plantio intensivo incluindo 230 espcies do gnero. O
plantio do eucalipto no pas teve incio em meados do sculo XIX, se potencializando
no incio do sculo XX para a produo de lenha, dormentes, moures de cerca e
postes. Entretanto, os plantios em larga escala tiveram impulso a partir da dcada de
1960 e, principalmente, na de 1970 com o advento do programa de incentivo fiscal
aos plantios florestais associados aos investimentos das indstrias de celulose e
papel e siderurgia, e o desenvolvimento da tecnologia de plantio clonal de eucalipto,
responsveis pela elevada produtividade florestal alcanada pelo gnero (HALL;
JOHNSTON; CHIPPENDALE, 1975; PEREIRA et al., 2000; SILVA, 2002a;
AMPARADO et al., 2008; BRASIL, 2009).
Com a vantagem da grande diversidade de espcies de rpido crescimento e
boa adaptao aos tipos de clima e solo as rvores de eucalipto, atualmente, so
utilizadas para a produo de celulose, papel e fabricao de painis de madeira, de
leos essenciais e madeira serrada (GONALVES, 2006; LOPES, 2007; VILAS
BAS; MAX; MELO, 2009).
A madeira das espcies de eucalipto plantadas no pas, como o Eucalyptus
grandis, E. saligna, E. urophylla, etc. e seus hbridos destinada, principalmente,
indstria de papel e celulose, siderurgia e painis de madeira, com possibilidade de
aumentar a oferta para as indstrias de produtos slidos, com custo reduzido,
utilizando espcies de uso no convencional.
Segundo Obino (1996) a madeira das florestas de Eucalyptus deve
apresentar caractersticas de qualidade para atingir o sucesso no mercado, como a
estabilidade dimensional aps secagem, homogeneidade de cor, propriedades
fsico-mecnicas, aptido para receber acabamentos e boa adaptao s linhas de
produtos compostos. A utilizao da madeira de eucalipto como matria prima para
produto de maior valor agregado (mvel, piso, esquadria, etc.) bastante tmida
apesar da sua aplicao na dcada de 80, utilizada na estrutura interna de mveis
48
estofados. Em outros pases, a madeira de eucalipto aceita desde o incio do
sculo XX pela sua facilidade de manipulao nas indstrias moveleiras (OLIVEIRA,
1997; INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLGICAS - IPT, 1989; ORTOLAN,
2003). No Brasil, os primeiros registros de estudos da utilizao da madeira de
eucalipto para movelaria so os da Diviso de Produtos Florestais do IPT, no incio
da dcada de 80, com o desenvolvimento e construo de prottipos de mveis de
escritrio utilizando painis de madeira de ripas de eucalipto (NAHUZ et al., 1999).
3.4.1 As espcies Corymbia maculata, Eucalyptus cloeziana e E. resinifera
3.4.1.1 Corymbia maculata
As rvores de Corymbia maculata, segundo Hall, Johnston e Chippendale
(1975) so originrias da Austrlia, na latitude de 25-37S, altitude de 800 m e
precipitao de 625-1250 mm/ano, temperaturas de 22-35 e 2-5C nos meses
quentes e frios, respectivamente, no suportando geada intensa. As rvores tm
bom crescimento, com DAP de 1,0-1,3 m, altura mdia de 35-45 m, at 70 m
dependendo do local. O tronco predominantemente reto com grande copa, possui
casca rosa-plido ou azul-acinzentado, textura lisa, espessa, com manchas elpticas.
A madeira levemente pesada, com boa estabilidade dimensional, mdia
permeabilidade, boa trabalhabilidade e densidade superior a 850 kg/m3.
A madeira apresenta boas caractersticas para laminao, marcenaria,
construes, dormentes, postes, moires e caixotaria, necessitando de estudos mais
aprofundados pela indstria moveleira. De acordo com Malan (2000) as toras das
rvores de Corymbia maculata no apresentam dificuldades de desdobro ocorrendo,
geralmente, perdas por rachaduras e colapso, mais acentuadas em madeiras de
maior densidade.
3.4.1.2 Eucalyptus cloeziana
As rvores de Eucalyptus cloeziana, de acordo com Hall, Johnston e
Chippendale (1975) so originrias da Austrlia, com 50-70 cm de DAP, 10-40 m at
55 m de altura, com tronco ereto e casca persistente, fibrosa e pouco macia; em
reas menos favorveis ao crescimento as rvores so tortuosas e com menos de
10 m de altura. A ocorrncia das rvores registrada na latitude de 15 45' a 26 15'
49
Sul e altitude de 75-950 m; o clima caracterizado como quente e submido a
mido, temperatura mdia do ms mais quente e mais frio de 29-34 e de 5-18 C,
suportando geada fraca at 5 dias/ano; a precipitao mdia varia de 550-2.300
mm/ano, concentrando-se no vero; no se adaptando em regies com deficincia
hdrica severa e apresenta baixa capacidade de brotao de cepas. O melhor
desenvolvimento das rvores ocorre em solo argiloso e profundo de origem
vulcnica ocorrendo, tambm, em solo de profundidade mdia, arenosos derivados
de granito; os solos devem ser bem drenados e de baixa-mdia fertilidade.
A madeira possui alta densidade (820 kg/m3), durvel e com ampla utilizao
e Trugilho et al. (2003) indicam o potencial como fonte de tanino na casca. A
madeira atende s exigncias da construo civil, postes, dormentes, etc., podendo
atender indstria moveleira de maior valor agregado. No Brasil sua madeira
empregada para produo de lenha e carvo (OLIVEIRA, 1997). As rvores foram
introduzidas h mais de 30 anos com bom crescimento e esto entre as 10
recomendadas para o reflorestamento (MOURA et al., 1993).
3.4.1.3 Eucalyptus resinifera
Segundo Hall, Johnston e Chippendale (1975) as rvores de Eucalyptus
resinifera so originrias do litoral e das cadeias montanhosas litorneas do norte de
New South Wales e ao sul de Queensland, Austrlia. Ocorre a latitude de 17-34S,
altitude de 0-600 m, precipitao de 1350-1500mm/ano e chuva predominante no
vero, com estao seca no ultrapassando a 4 meses. A temperatura mxima e
mnima de 32 e 4C, respectivamente, no tolera geada e deficincia hdrica
severa, tolera o fogo, regenerando por brotao das cepas.
A madeira possui boa estabilidade dimensional, mdia permeabilidade,
levemente pesada e tem densidade superior a 800 kg/m3. Na Austrlia, o Eucalyptus
resinifera uma das mais importantes (FERREIRA, 1979; TURNBULL; PRYOR,
1984) para uso mltiplo da madeira, exceto para produo de celulose (FERREIRA;
SANTOS, 1997). A madeira utilizada para serraria, construes, mveis,
caixotaria, dormentes, postes e moures (FERREIRA, 1979; ANGELI;
BARRICHELO; MLLER, 2005). Segundo Lorenzi et al. (2003) semelhante ao E.
camaldulensis, distinguida pela casca fibrosa e persistente.
50
3.5 Caractersticas tecnolgicas da madeira importantes para PMVA
As principais preocupaes em relao aos produtos base de madeira, dos
usurios e dos produtores, esto ligadas crescente exigncia de qualidade do
produto final, necessidade de certificao, ao emprego de tecnologia adequada e
qualidade da matria-prima (DUCATTI et al., 2001).
A qualidade da madeira para PMVA como mobilirio, pisos, molduras e
esquadrias est relacionada, principalmente, s suas caractersticas fsicas e
mecnicas, que afetam a sua estabilidade dimensional e resistncia mecnica em
relao ao seu uso. Entretanto, as caractersticas anatmicas, qumicas e a
qualidade de superfcie so fundamentais para um resultado mais preciso quanto
utilizao da madeira (ZENID, 2007; JANKOWSKY, 1993). Por essa razo a
caracterizao da madeira destinada aos PMVA deve ser realizada de forma ampla,
abrangendo as propriedades fsico-mecnicas, qumicas, anatmicas, estticas e de
qualidade de superfcie.
Para a caracterizao fsica da madeira, a densidade bsica e a massa
especfica aparente so as formas de representao da sua densidade, importante
para a madeira destinada fabricao de PMVA. A variao dimensional da madeira
constitui-se em importante parmetro que afeta sua aplicao industrial e utilizao.
A variao calculada em percentuais da dimenso inicial: a retrao em relao s
dimenses saturadas da madeira e o inchamento em relao s dimenses secas.
Quanto caracterizao mecnica a avaliao da resistncia da madeira
requisito para a sua utilizao como madeira serrada, devendo atender s
exigncias de esforo estrutural e de flexo esttica (MOE e MOR) os mais
importantes para o seu uso estrutural (WINANDY, 1994). Os mdulos de ruptura
(MOR) e o de elasticidade (MOE) so determinados nos testes de flexo esttica
indicativos da resistncia e rigidez flexo, importante na caracterizao tecnolgica
(GTZ et al., 1993; WINANDY, 1994; SILVA et al., 2005). A dureza determinada
como sendo a resistncia da madeira para a penetrao a um dispositivo que pode
ser uma esfera, agulha ou cilindro, a norma brasileira (NBR 7191/97) utiliza o
mtodo Janka, sendo este ensaio muito importante no emprego da madeira como
matria prima para pisos.
51
As caractersticas anatmicas da madeira (estrutura celular) e qumicas so
importantes na sua avaliao tecnolgica e qualificao industrial, pela correlao
com as propriedades mecnicas (resistncia e estabilidade dimensional) e desenho
(TOMAZELLO FILHO, 1985, 2009; LOPES, 2007).
A aparncia da madeira importante refletindo visualmente na qualidade do
processo criativo dos designers e arquitetos pela incorporao da sua cor e desenho
no projeto (CAVACO, 2001). Na literatura no foram encontrados trabalhos sobre o
desenho da superfcie da madeira de reflorestamento, importante na valorizao dos
produtos e no processo criativo dos designers e arquitetos. A cor da madeira varia
dentro e entre as espcies pelo teor de umidade, exposio luz, contato com
metais, ataque de microorganismos, tingimento e substncias qumicas (LOPES,
2007; MORI et al., 2004).
A cor da madeira classificada, em termos prticos, em esbranquiada,
amarelada, avermelhada, acastanhada, parda, enegrecida e arroxeada
(INTERNATIONAL ASSOCIATION OF WOOD ANATOMISTS - IAWA, 1989) e,
eventualmente so descritas, como o verde, com vrias cores e com padro listrado
e rajado. Os desenhos e figuras so marcas na superfcie das peas de madeira,
resultantes dos arranjos das clulas e das camadas de crescimento formadas no
tronco das rvores durante seu crescimento. Os anis de crescimento no so
perfeitamente circulares gerando uma combinao de desenhos conforme a
orientao do corte no desdobro (ZENID, 1997).
3.5.1 Propriedade organolptica ou sensorial da madeira
3.5.1.1 Cor da madeira
A cor, uma das propriedades organolpticas da madeira, originada das
substncias corantes (resinas, gomas, goma-resinas, derivados tnicos, etc.)
depositadas nas suas clulas, impregnando suas paredes (MORI et al., 2004). Em
geral, a cor da madeira mostra variao de tonalidade mais clara da regio perifrica
(alburno) em relao interna, mais escura (cerne). Alguns dos produtos do interior
e da parede celular da madeira so responsveis pela sua colorao sendo txicos
aos organismos xilfagos, conferindo a colorao mais escura e durabilidade
biodeteriorao. Verifica-se uma relao da cor do lenho das rvores e as variveis
climticas do stio, sendo que, em geral, as de clima temperado so mais claras,
52
leves e macias e as dos trpicos tm cores variadas, escuras, mais pesadas e duras
pelos extrativos (MORI et al., 2004; MORESCHI, 2010).
Para Moreschi (2010) a cor da madeira varia com o teor de umidade e torna-
se, normalmente, mais escura quando exposta ao ar ou radiao solar (aumento
da temperatura) pela oxidao das substncias orgnicas. A madeira pode sofrer
alterao da sua cor natural em contato com metais pela ao de microrganismos.
Algumas madeiras apresentam colorao caracterstica, do castanho ou pardo
(GONZAGA, 2006), importante na produo de mveis, pisos e esquadrias,
determinando sua aceitao no mercado.
As madeiras de tonalidade clara podem modificar artificialmente sua cor com
tintura ou tratamento de gua e de vapor; a madeira recm abatida pode ser
escurecida, adquirindo aspecto envelhecido, aumentando o valor comercial, pelo
tratamento de ar quente com oznio promovendo a secagem e envelhecimento
artificial pela evaporao da gua e oxidao das substncias (MORI et al., 2005).
3.5.2 Propriedades fsicas da madeira
As propriedades fsicas da madeira so referidas como propriedades no
mecnicas (PANSHIN; De ZEEUW, 1980) e indicam as suas aplicaes. Essas
propriedades so utilizadas para a avaliao das caractersticas intrnsecas da
madeira (aparncia, cor, densidade aparente e bsica, teor de umidade) e reao
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