Universidade Federal da Bahia
Escola de Medicina Veterinria
Mestrado em Cincia Animal nos Trpicos
CARACTERIZAO CLNICA, CLASSIFICAO
HISTOPATOLGICA E GEOPROCESSAMENTO DAS NEOPLASIAS
MAMRIAS EM CADELAS NO MUNICPIO DE SALVADOR-BA
JLIA MORENA DE MIRANDA LEO TORBIO
Salvador Bahia 2008
II
JLIA MORENA DE MIRANDA LEO TORBIO
CARACTERIZAO CLNICA, CLASSIFICAO HISTOPATOLGICA E
GEOPROCESSAMENTO DAS NEOPLASIAS MAMRIAS EM CADELAS NO
MUNICPIO DE SALVADOR-BA
Dissertao apresentada Escola de Medicina
Veterinria da Universidade Federal da Bahia,
como requisito para a obteno do ttulo de
Mestre em Cincia Animal nos Trpicos, na
rea de Sade Animal.
Orientador: Prof. Dr. Joo Moreira da Costa Neto
Co-orientadora: Prof. MsC. Alessandra Estrela da Silva Lima
Salvador Bahia 2008
T683 Torbio, Jlia Morena de Miranda Leo Caracterizao clnica, classificao histopatolgica e georreferenciamento
das neoplasias mamrias em cadelas no municpio de Salvador, Bahia / Jlia Morena de Miranda Leo Torbio Salvador - Bahia, 2008.
121p. Orientador: Prof. Dr. Joo Moreira da Costa Neto Co-orientadora: Prof. MsC. Alessandra Estrela da Silva Lima
Dissertao (Mestrado em Cincia Animal nos Trpicos) Universidade Federal da Bahia, Escola de Medicina Veterinria, 2008.
1. Neoplasia mamria. 2. Cadela. 3. Anlise espacial de varredura. 4. Estadiamento clnico. 5. Fatores socioeconmicos I. Joo Moreira da Costa Neto II. MEV/UFBA III. Ttulo
FICHA CATALOGRFICA
ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA EMV-UFBA
III
CARACTERIZAO CLNICA, CLASSIFICAO HISTOPATOLGICA E
GEOPROCESSAMENTO DAS NEOPLASIAS MAMRIAS EM CADELAS NO
MUNICPIO DE SALVADOR-BA
JLIA MORENA DE MIRANDA LEO TORBIO
Dissertao defendida e aprovada para obteno do grau de Mestre em Cincia Animal nos
Trpicos.
Salvador, 29 de agosto de 2008.
Comisso Examinadora:
___________________________________________________
Prof. Dr. Joo Moreira da Costa Neto UFBA Orientador
____________________________________________________ Prof. Dr. Geovanni Dantas Cassali - UFMG
_____________________________________________________ Profa. Dra. Maria Emlia Bavia UFBA
IV
Dedico este trabalho:
minha filha, Gabriela, razo de toda minha
luta, mesmo to pequena sempre soube ser
compreensiva, obrigada pelo Amor
Incondicional e minha me Lucia, pelo apoio
e compreenso nesta etapa to importante da
minha vida. Amo vocs.
V
AGRADECIMENTOS
Deus em primeiro lugar por sua perfeio na maneira de conduzir tudo, por minha
existncia e por me guiar sempre pelos caminhos certos e justos, abenoando-me e colocando
a cada momento a pessoa certa para me amparar.
meu orientador, Prof. Dr. Joo Moreira da Costa Neto, por desde o comeo acreditar no
meu potencial e me fazer acreditar que eu era capaz. Acolheu-me com um carinho imenso,
fazendo sempre que eu me sentisse em casa. Cada palavra de incentivo e carinho, cada tarefa
a executar, cada grito e bronca, serviu de alavanca nessa caminhada. Obrigada pelos dias e
noites perdidas, pela pacincia, orientao incansvel, pelas oportunidades de crescimento
profissional e por seu exemplo de dignidade, dedicao e amor profisso. Obrigada por
tudo!!!!!
minha co-orientadora, Prof. MsC. Alessandra Estrela da Silva Lima, que dedicou seu
precioso tempo a esse experimento, contribuindo de forma incomensurvel para a finalizao
desse projeto, sempre to disposta a ajudar, aberta e paciente. Obrigada por cada lmina lida,
cada dica dada, cada dia perdido. Obrigada por entrar na nossa vida dessa forma to intensa,
deixando de ser a professora Alessandra e se tornando a amiga Estrelinha, sem voc este
trabalho no existiria.
minha famlia, que meu porto seguro, sem a qual no teria chegado at aqui.
Primeiramente minha filha, Gabriela, apenas por existir. Obrigada pela pacincia e
compreenso nos meus momentos de ausncia, desde to pequena sempre to compreensiva!
Obrigada pelo AMOR de filha, e obrigada por me fazer sentir esse amor de me. A sua voz
sempre acalmou meu corao que morre de saudades. Filha, isso tudo para voc, obrigada
por entender.
minha me, Lucia, exemplo de profissionalismo, carter e dedicao ao trabalho, de quem
tanto me orgulho, agradeo por ter dado a oportunidade de me tornar quem sou, me apoiando
nos momentos difceis e me ajudando a seguir em frente. Obrigada pelo amparo a cada
telefonema desesperado de saudade. Me obrigada pelo amor incondicional, obrigada por
tudo!
VI
Ao meu pai, Luis Turiba, pela oportunidade, amor e carinho dispensados para me tornar quem
eu sou hoje. Sempre presente, me ajudando nos momentos de desespero. Obrigada pai, pelo
exemplo de ser humano trabalhador e acima de tudo de carter que voc , obrigada por ser
meu pai.
Ao meu marido, Ronaldo, o motivo de fora para eu encarar essa aventura. Obrigada pelo
companheirismo, carinho e amor. Sempre to presente, me fez construir um lar, mesmo longe
da minha casa e da minha famlia. Obrigada por ser minha famlia aqui em Salvador, com sua
pacincia suportou todos os meus momentos de estresse, me dando carinho e AMOR quando
eu mais precisava e menos merecia. Obrigada por fazer parte de minha vida e estar do meu
lado nessa vitria.
Aos meus irmos Thiago e Joo e as pequenas Lusa e Manu, por fazerem parte da minha
vida, me amparando e ajudando, irmos que sei poder contar sempre. Obrigada pelo carinho e
amor a minha filha. Aos meus sobrinhos lindos Naomi e Thales, pelo amor e carinho a titia e
a minha cunhada Akemi.
A minha av Aurora por todo amor, carinho e mimos dedicados a mim durante toda a minha
vida.
Ao Vicente S, pelo carinho sempre e principalmente pelos cuidados incansveis ao meu
maior tesouro, nossa Gabi. Obrigada tambm pelos cuidados a minha me, por ter se tornado
seu companheiro, me deixando tranqila por estar longe.
A famlia Nascimento Cerqueira, por se tornar minha famlia aqui em Salvador, obrigada por
todo carinho, apoio e cuidados.
Ao Laboratrio de Patologia Comparada ICB-UFMG, especialmente ao Prof. Dr. Geovanni
Dantas Cassali e ao Prof. MsC. nio Ferreira, por todo o tempo dispensado para leitura das
lminas de histopatologia.
VII
Prof. Dr. Maria Emlia Bavia por ter nos recebido de uma forma to carinhosa em seu
laboratrio, acreditando e incentivando o desenvolvimento desse projeto, obrigada por
disponibilizar todos os recursos necessrios e tempo para concluso dessa dissertao.
A todos do Laboratrio de Monitoramento de Doenas pelo Sistema de Informao
Geogrfica (LANDOSIG), especialmente Luciana, Deborah e Martha, pela acolhida,
pacincia e ajuda, indispensveis para a realizao deste trabalho. Meninas vocs foram de
mais, no tenho nem como agradecer!
Ao Prof Eduardo Trindade e aos funcionrios e estagirios do laboratrio de Anlises
Patolgicas da UFBA, especialmente, Lorena e Karine, pela ajuda, pacincia e por fazerem
parte da equipe, sem vocs a realizao desse projeto no seria possvel.
Aos meus estagirios do Centro Cirrgico da UFBA, que contriburam imensamente na
realizao dessa dissertao e a todos os que fizeram e fazem parte do grupo de pesquisa de
Tumor de mama da UFBA, isso s o comeo, ns chegaremos longe.
A todos os funcionrio e colegas da Clivepa, hoje vocs so mais que colegas, so amigos de
verdade, de alguma forma cada um contribuiu para que eu pudesse realizar esse trabalho.
Obrigada pela pacincia e compreenso de vocs. Especialmente a Juliana que entendeu a
apoiou essa minha fase, muito obrigada!
Ao curso de Mestrado em Cincia Animal nos Trpicos e todos os seus professores,
funcionrios e colegas que nos proporcionaram inesquecveis momentos de prazer em busca
do conhecimento.
A todos os professores do Mestrado em Cincia Animal nos Trpicos da Escola de Medicina
Veterinria da UFBA, pela grande contribuio para o nosso mestrado, e por se tornarem
exemplos para a nossa vida profissional e pessoal.
( FAPESB), pela bolsa de estudos concedida durante o curso.
Aos grandes amigos, preciosos presentes que ganhei nesta maravilhosa etapa da minha vida:
Vanessa, Vanessinha, Tiazinha, Milton, Marcelo, Claudinho, Jssica, Walnilson, Matheus,
VIII
Welington, Lnin, Diana, Carolzinha, Raquel, Priscila, Rafael, ris, Euler e a todos os no
citados, mas no menos importantes, pela imensa pacincia, carinho, palavras de conforto nas
horas difceis e momentos inesquecveis de descontrao.
A todos os estagirios do Centro Cirrgico do HOSPMEV/UFBA que colaboraram para a
realizao desse trabalho.
todos os funcionrios da UFBA, pela hospitalidade desde o primeiro contato, que com cada
sorriso e cada bom dia me fizeram sentir em casa.
amiga Raquel, companheira nos momentos de desespero para concluso desse mestrado,
com seu jeito turrona me assustou no primeiro momento, mas com o tempo mostrou o corao
imenso e se tornou uma grande amiga. Obrigada por sempre estar presente, pelos momentos
de alegria, descontrao e todas as longas conversas. Quequel voc se tornou uma amiga,
daquelas de verdade, e vai estar sempre dentro do meu corao. Valeu Quel!!!! H! Obrigada
tambm por todas as mastectomias realizadas!!!!!
Ao grande amigo Mrio, uma pessoa incrvel, que mesmo perdendo o estgio para que eu
entrasse no Centro cirrgico da UFBA me recebeu de braos abertos e sempre disposto a
ajudar. Obrigada por Bob, se hoje ele est comigo foi porque voc me ajudou! Minha
conscincia, obrigada pelos momentos maravilhosos de descontrao e verdadeiras
gargalhadas, pela ajuda sempre que precisei. Obrigada tambm pelas mastectomias, igual a
Quel!
Ao Emanoel, grande amigo Guga, que junto com Raquel e Mrio se tornaram a minha famlia
na UFBA. Obrigada pelo carinho, conversas interminveis na sala de Joo, o nico capaz de
resolver qualquer problema tecnolgico que surgiu durante todo esse perodo de desespero.
Valeu pela companhia at a hora que fosse preciso, por toda ajuda, a cada grito Guuugaaa era
capaz de solucionar o problema, voc foi fundamental para execuo desse projeto, no tenho
como agradecer.
amiga de Braslia Dbora, pela companhia, conversas, conselhos, sadas, compras e
fundamental ajuda. Voc sempre me fez sentir um pouco mais perto de casa. Obrigada pela
IX
amizade sempre sincera, por estar presente nessa aventura maluca de nos meter em uma terra
desconhecida que hoje se tornou nosso lar, sem voc no sei se conseguiria.
todos os amigos de Braslia, que sempre foram fundamentais em minha vida. Obrigada por
existirem e sempre estarem presentes, vocs fazem muita falta. Davi, Lilia, Lud, Mari, Manu,
Karine, Marthinha, S, Lilica, Carol, Rogi so alguns poucos entre tantos. Obrigada por
sempre torcerem por mim e acreditarem que eu seria capaz.
Aos meus ces, Bob, Preta e Morena pela companhia, proteo e amor incondicional, com
vocs no sinto medo, sei que estaro sempre aqui.
Aos meus cachorros de Braslia, Tita, Pablo, Dreiphus, Doroty, Loira, Ceci, Rita, Fiel e
Nenm pela proteo, carinho e confiana que sempre demonstraram, principalmente quando
chego, pela festa que fazem.
todos os ces que de alguma forma fizeram, fazem ou faro parte de minha vida.
A todos aqueles que participaram de alguma forma na construo deste caminho, deste sonho
que hoje se torna uma realidade, meus sinceros agradecimentos!
Agradecimento especial ao nosso eterno colega Levi Fiza (in memorian), obrigada por ter
feito parte dessa equipe, sua passagem por aqui, mesmo que to rpida, foi essencial.
Exemplo de profissional conseguiu mudar os conceitos de anestesia na UFBA, engrandecendo
muito a cirurgia e em especial nosso grupo de pesquisa. Voc fez histria por aqui....
X
Bom mesmo ir a luta com determinao, abraar a vida com paixo, perder
com classe e vencer com ousadia, pois o triunfo pertence a quem se atreve...
A vida "muita" para ser insignificante.
(Charles Chaplin)
XI
SUMRIO
4.2 Materiais e Mtodos ........................................................................................... 70 4.2.1 rea de estudo ................................................................................................ 70
Pginas
LISTA DE ABREVIATURAS..................................................................................... XIII
LISTA DE FIGURAS................................................................................................... XV
RESUMO....................................................................................................................... XVII
ABSTRACT................................................................................................................... XVIII
1. INTRODUO GERAL......................................................................................... 1
2. REVISO DE LITERATURA................................................................................ 4
2.1 Morfofisiologia da glndula mamria .............................................................. 4 2.2 Neoplasia mamria ............................................................................................. 6
2.2.1 Etiologia e fatores predisponentes ao tumor de mama na cadela ................ 9 2.3 Mtodos diagnsticos .......................................................................................... 16
2.3.1 Clnico ............................................................................................................ 16 2.3.2 Citologia aspirativa por agulha fina (CAAF) ............................................... 18 2.3.3 Histopatologia ................................................................................................ 19
2.4 Classificao clnica TNM .................................................................................. 21 2.5. Prognstico ......................................................................................................... 23 2.6 Terapia do tumor mamrio ............................................................................... 25 2.7 Geoprocessamento e o cncer ............................................................................ 28 2.8 Anlise espacial de varredura ............................................................................ 33
3. ARTIGO CIENTFICO I ....................................................................................... 35
3.1 Introduo ........................................................................................................... 37 3.2 Materiais e Mtodos ........................................................................................... 38
3.2.1 Seleo e avaliao dos animais ................................................................... 38 3.2.2 Estadiamento clnico ...................................................................................... 40 3.2.3 Classificao histopatolgica ........................................................................ 40 3.2.4 Geoprocessamento ......................................................................................... 41 3.2.5 Anlise estatstica ........................................................................................... 42
3.3 Resultados ............................................................................................................ 42 3.4 Discusso .............................................................................................................. 47 3.5 Concluses ........................................................................................................... 58 3.6 Referncias bibliogrficas .............................................................................. 60
4. ARTIGO CIENTFICO II .............................................................................. 65
4.1 Introduo ........................................................................................................... 68
XII
4.2.2 Dados epidemiolgicos .................................................................................. 71 4.2.3 Anlise estatstica espacial SatScan .............................................................. 72
4.3 Resultados ............................................................................................................ 73 4.4 Discusso .............................................................................................................. 80 4.5 Concluses ........................................................................................................... 83 4.6 Referncias bibliogrficas ..................................................................................
84
5 CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................
88
6 REFERNCIAS ........................................................................................................
89
7 ANEXOS .................................................................................................................... 108
XIII
LISTA DE ABREVIATURAS % = por cento
TNM = Tumor-Linfonodo-Metstase
EROs = Espcies reativas ao oxignio
IGF-1 = Fator do crescimento tipo insulina 1
cm = Centmetro
HOSPMEV = Hospital de Medicina Veterinria
UFBA = Universidade Federal da Bahia
IMC = ndice de massa corprea
= alfa
= beta
LABAP = Laboratrio de Anatomia Patolgica
CBKC = Confederao do Brasil Kennel Clube
OMS = Organizao Mundial de Sade
LPC = laboratrio de patologia clnica
UFMG = Universidade Federal de Minas Gerais
IBGE = Instituto Brasileiro e Geografia e Estatstica
ZIs = Zonas de informao
LAMDOSIG = Laboratrio de Monitoramento de Doenas pelo Sistema de Informao
Geogrfica
SPSS = Statical Package for the Social Sciences
ANOVA = Anlise de varincia
SRD = Sem raa definida
CAAF = Citologia aspirativa por agulha fina
WHO = World Health Organization
XIV
CaTMB = Os carcinomas em tumor misto benigno
OMS = Organizao Mundial da Sade
UICC = Unio Internacional Contra o Cncer
OSH= ovariosalpingohisterectomia
COX-2 = ciclo-oxigenase-2
GPS = Sistema de Posicionamento Global
SR = Sensoriamento Remoto Orbital
SIG = Sistema de Informao Geogrfica
UTM = Universal Transversa Mercator
km = Quilmetro quadrado
MAPA = Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento
SaTScan = Satellite Transponder Scanner
Km = Quilmetro
XV
LISTA DE FIGURAS
Pgina
Figura 1 - rea de Estudo Zonas de Informaes do Municpio de Salvador, Bahia. Identificado no mapa os endereos das cadelas acometidas por neoplasia mamria e o Hospital Veterinrio da UFBA
42
Figura 2 - Idade das cadelas acometidas por neoplasia mamria atendidas no Hospital Veterinrio da UFBA
43
Figura 3 - Porcentagem das raas acometidas por neoplasia mamria
43
Figura 4 - Freqncia do tipo de alimentao oferecida aos animais portadores de neoplasia mamria e sua correlao com a condio corporal do animal
44
Figura 5 - Freqncia do tamanho dos tumores das cadelas acometidas de neoplasia mamria e sua correlao com a presena ou no de metstase pulmonar
45
Figura 6 - Incidncia de tumores malignos e benignos mamrios das cadelas atendidas no Hospital Veterinrio da UFBA
46
Figura 7 - Cadelas acometidas de tumores mamrios A, B, C e D (setas). Em E, aspectos histolgicos do tumor misto benigno presente em A, HE. 100x. Em F, aspectos histolgicos do carcinoma evoluindo em tumor misto benigno presente em B, C e D, HE. 400x.
54
Figura 8 - Cadela, SRD, nove anos de idade portadora de carcinossarcoma. A) aspecto geral do animal apresentando massa neoplsica na cadeia mamria direita medindo 22 x 11 cm, acometendo principalmente as glndulas torcicas; B) raio-x lateral do trax revelando reas radiopacas no parnquima pulmonar (seta), compatveis com metstase; C) procedimento cirrgico para mastectomia radical unilateral; D) aspecto morfolgico da cadeia mamria excisada com aumento de volume das glndulas mamrias torcicas; E e F) superfcie de corte da massa tumoral; e G) viso histolgica do carcinossarcoma, HE. 100x (detalhe mostrando proliferao maligna de componente epitelial e mesenquimal, HE. 400x) e H) formao de cartilagem e matriz mixide atpica, HE. 100x (detalhe, cartilagem fortemente celularizada e condrcitos atpicos, HE. 400x).
55
Figura 9 - Cadela, SRD, nove anos de idade portadora de carcinossarcoma. Achados de necropsia. A) infiltrao neoplsica em tecido subcutneo e musculatura superficial (detalhe, superfcie de corte da massa); B) infiltrao neoplsica em pulmes e pericrdio (setas) (detalhe, efuso pleural sanguinolenta); C) infiltrao neoplsica na pleura costal (seta); D) infiltrao neoplsica no miocrdio (seta); E) infiltrao neoplsica no parnquima renal (seta); F, G e H)
56
XVI
metstase viscerais correspondentes microscopia HE.100x.
Figura 10 - Cadela, Cocker Spaniel, 11 anos de idade com carcinoma inflamatrio. A) aspecto geral do animal; B) aspecto macroscpico do carcinoma inflamatrio com ulcerao central da mama abdominal caudal direita; C) raio-x lateral do trax com presena de massa radiopaca circular em parnquima pulmonar (seta), compatvel com metstase; D, E, F) achados de necropsia realizada 63 dias aps diagnstico clnico, mltiplas nodulaes no parnquima: (D) esplnico (setas), (E) pulmonar (seta), e (F) renal (seta); G) microscopia de carcinoma slido associado a intensa reao inflamatria difusa HE. 100x. H) presena de mbolos em linftico HE. 400x.
57
Figura 11 - rea de Estudo Zonas de Informaes do Municpio de Salvador, Bahia
71
Figura 12 - Deteco de Cluster para Neoplasia Mamria em Cadelas, atravs da Anlise de Varredura Puramente Espacial, no Municpio de Salvador, Bahia, Brasil (2006 2008)
74
Figura 13 - Visualizao em Terceira Dimenso do Risco Relativo por ZI da Anlise Puramente Espacial no Municpio de Salvador, Bahia, Brasil
76
Figura 14 - Caractersticas dos Animais Pertencentes aos Clusters Primrios e Secundrios da Anlise Puramente Espacial no Municpio de Salvador, Bahia, Brasil
77
Figura 15 -
Deteco de Cluster de Risco para Neoplasia Mamria em Cadelas, atravs da Anlise de Varredura Retrospectiva Espao-Temporal, no Municpio de Salvador, Bahia, Brasil (2006 2008)
78
Figura 16 - Visualizao em Terceira Dimenso do Risco Relativo por ZI da Anlise Retrospectiva Espao-Temporal no Municpio de Salvador, Bahia, Brasil
79
XVII
TORBIO, J.M.M.L. Classificao clnica, classificao histopatolgica e geoprocessamento das neoplasias mamrias em cadelas atendidas no Hospital Veterinrio da Universidade Federal da Bahia, no perodo de janeiro de 2006 a maio de 2008. Salvador, Bahia, 121 pg. Dissertao (Mestrado em Cincia Animal nos Trpicos); Escola de medicina Veterinria, Universidade Federal da Bahia, 2008. RESUMO As neoplasias tm seu prognstico influenciado por variveis ambientais, demogrficas e socioeconmicas. Acredita-se que, o tumor de mama da cadela, a exemplo do que acontece nas neoplasias mamrias da mulher, tambm sofra influncia de tais fatores. Foram analisadas as informaes obtidas atravs do atendimento de cadelas com neoplasia mamria no Setor de Clnica Cirrgica do Hospital de Medicina Veterinria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no perodo de janeiro de 2006 a abril de 2008. O objetivo desse trabalho foi realizar a caracterizao clnica, a classificao histopatolgica e o georreferenciamento dessa patologia, bem como, a criao de mapas temticos da distribuio espacial desses eventos e a identificao de clusters para a doena no municpio de Salvador, Bahia. A partir das caractersticas clnicas e histopatolgicas das neoplasias mamrias analisadas, observou-se alta prevalncia dos carcinomas evoluindo em tumores mistos benignos. Por serem estes, tumores malignos focais inseridos em neoplasias benignas, acredita-se que o diagnstico precoce favorece o prognstico. Pela anlise espacial de varredura, verificou-se que os casos de neoplasia mamria no esto homogeneamente distribudos no municpio. Foram detectados dois aglomerados, o primrio, abrangendo 67,3% dos casos estudados com maior verossimilhana, e estatisticamente significante (p< 0,001); e o secundrio com apenas 3,0% das notificaes e sem significado estatstico. Como o perodo de estudo foi de apenas 2,5 anos, os resultados da anlise retrospectiva espao temporal no foram satisfatrios, apesar de apresentarem um aglomerado primrio significante (p
XVIII
TORBIO, J.M.M.L. Clinical characterization, histopathology classification and geoprocessing of mammary tumors in bitches attended at Veterinary Hospital from Federal University of Bahia, from January 2006 to May 2008. Salvador, Bahia, 121 pg. Dissertation (Masters degree) Veterinary Medicine School from Federal University of Bahia, 2008.
ABSTRACT
The tumors have their prognosis influenced by environmental, demographic and socioeconomic variables. It is believed that the mammary tumour of the dog, similar to what happens in breast cancer in women, also suffer influence of such factors. It was analysed the informations obtained through the care of bitches with mammary tumours in the Division of Surgical Clinic of the Medicine Veterinarys Hospital from the Federal University of Bahia (UFBA), from January 2006 to April 2008. The aimed of this work was the clinical characterization, pathology classification and geoprocessing of this disease, as such as thematic mapss creation by the spatial distribution of these events and the identification of clusters for the disease in the city of Salvador, Bahia. There was a high prevalence of carcinoma developing in mixed benign tumors in the animals of this study. This kind of tumours are focal malignant tumours inserted into benign tumors, because of this, it is believed that early diagnosis promote a better prognosis. For the scanning spatial analysis, it was found that cases of breast cancer are not homogeneously distributed in the municipality. Were detected two clusters, the primary, covering 67.3% of the cases studied with the greatest likelihood, and statistically significant (p
1
1. INTRODUO GERAL
Nos ltimos anos, o estudo das interaes homem-animal tem revelado que tais
relaes so extremamente importantes para muitos proprietrios de animais de companhia
(LANE et al., 1998). Essa interao tem aumentado a preocupao com a sanidade animal e
propiciado a preveno e o diagnstico precoce de muitas enfermidades.
Tal fato tem contribudo para o desenvolvimento da oncologia veterinria,
particularmente no que se refere ao tumor mamrio canino, que a neoplasia mais freqente
nas cadelas, e tem despertado grande interesse dos pesquisadores tendo em vista o elevado
ndice dos tumores malignos, em grande parte reflexo do diagnstico tardio, que compromete
o tratamento e reduz a taxa de sobrevida dos animais (SILVA et al., 2004; CAVALCANTI,
2006). Adicionalmente, devido s semelhanas epidemiolgicas, clnicas e biolgicas, tem
sido proposta a sua utilizao como modelo comparativo para a o estudo do cncer de mama
na mulher (SCHNEIDER, et al., 1969; PELETEIRO, 1994; CASSALI, 2000; MEUTEN,
2002).
Os tumores mamrios representam 52% de todas as neoplasias nas cadelas, sendo que
50% delas no momento do diagnstico j apresentam carter maligno (DE NARDI, 2007),
representadas principalmente pelos carcinomas que se disseminam preferencialmente por via
linftica para linfonodos regionais e pulmes (SOUZA et al., 2001a; QUEIROGA e LOPES,
2002; MOORE, 2006).
A etiologia do cncer de mama multifatorial, com a participao de fatores
genticos, ambientais, nutricionais e principalmente hormonais (PERSSON, 2000; SILVA et
al., 2004). Este ltimo mostra-se mais evidente, considerando-se que se observa maior
incidncia dos tumores mamrios em cadelas no castradas (SCHNEIDER et al, 1969;
RUTTEMAN et al., 2001). Fatores como pseudogestao, obesidade e utilizao de
2
progestgenos so considerados, por alguns autores, como predisponentes ao
desenvolvimento de tumores mamrios (MOL et al, 1997).
A obteno do diagnstico definitivo, assim como o estabelecimento do prognstico e
posterior avaliao da medida teraputica, depende principalmente do diagnstico
histopatolgico e do estadiamento clnico do tumor, este ltimo institudo pelo sistema tumor-
linfonodo-metstase (TNM) (OWEN, 1980; EHRHART,1998; PEREZ ALENZA et al.,
2000).
A cirurgia a medida teraputica de eleio para as neoplasias mamrias, devendo ser
realizada com ampla margem de segurana. Esta a forma de tratamento que confere maior
sobrevida para cadelas pois, at o momento, os protocolos descritos na literatura utilizando
frmacos antineoplsicos e/ou radioterapia so pouco efetivos (BIRCHARD, 1995;
RUTTEMAN et al., 2001; DE NARDI, 2007).
Na espcie humana, as neoplasias tm seu prognstico influenciado por variveis
ambientais, demogrficas e socioeconmicas (OMALLEY et al., 2001; BANKS et al., 2002;
SCLOWITZ et al., 2005). Acredita-se que o tumor de mama da cadela, a exemplo do que
acontece nas neoplasias mamrias da mulher, tambm sofra a influncia de tais fatores. Desta
forma, tem sido relatada a identificao e o monitoramento destas variveis, a partir das
geotecnologias, visando preveno de vrias neoplasias. (SAMBAMOORTHI e
McALPINE, 2003; HSU et al., 2004; HBNER et al, 2004; BOING e ROSSI, 2007).
Os profissionais de sade tm sido cada vez mais solicitados para intervir em reas
que parecem ter uma taxa de ocorrncia dos eventos mrbidos maior que o esperado em
determinado perodo, sendo aplicado o estudo de deteco de conglomerados buscando
estudar a espacializao dos casos e testar hipteses sobre o padro observado (MAYER,
1983; JACQUEZ, 1996; ASSUNO, 2001).
3
O presente trabalho teve por objetivo determinar a freqncia dos tumores mamrios
em cadelas residentes no municpio de Salvador e atendidas no HOSPMEV/UFBA no perodo
compreendido entre janeiro de 2006 a abril de 2008. Tambm busca realizar a caracterizao
clnica, a classificao histopatolgica e o georreferenciamento dessa patologia, verificando a
existncia ou no de correlao entre as condies socioeconmicas do proprietrio e o
provvel prognstico do animal no momento da consulta, buscando o diagnstico precoce e a
teraputica adequada.
4
2. REVISO DE LITERATURA
2.1 Morfofisiologia da glndula mamria
Nos ces as mamas so dispostas bilateralmente da regio torcica ventral inguinal.
O complexo mamrio pode ser dividido em setores que se apresentam semelhantes ou
distintos em termos de bilateralidade (LUIZ et al., 2002). Os mamilos indicam a posio das
glndulas mamrias que podem variar de oito a 12, sendo mais comum o nmero de 10
distribudas da seguinte forma: quatro torcicas de tamanho menor, quatro abdominais de
tamanho mdio e duas inguinais ou pbicas de maior tamanho (EVANS e CHRISTENSEN,
1993; DYCE et al., 1997).
A glndula mamria uma glndula tubuloalveolar composta, considerada como
sudorpara modificada de localizao subcutnea, com funo nutridora nas fmeas da classe
Mammalia. Elas derivam embriologicamente do ectoderma e desenvolvem-se como botes
epiteliais que crescem no mesnquima subjacente, a partir de espessamento linear paralelo
denominado crista mamria que se estende, da regio axilar inguinal. No final do
desenvolvimento embrionrio, as projees epiteliais canalizam-se formando os ductos
lactferos, enquanto que os botes originam os ductos pequenos, os alvolos secretores e as
clulas mioepiteliais (BANKS, 1991; EVANS e CHRISTENSEN, 1993; DYCE et al., 1997).
Cada glndula apresenta um complexo glandular ligada papila (teta), recoberta por
tecido cutneo. Ela constituda de tecido epitelial glandular em seu parnquima e de tecido
conectivo, ou intersticial, no seu estroma (EVANS e CHRISTENSEN, 1993; BRAGULLA e
KNIG, 2004). A organizao histolgica do sistema de ductos nica, com os mesmos
envoltos por tecido conjuntivo e adiposo (EVANS e CHRISTENSEN, 1993). O revestimento
dos ductos formado por dupla camada de clulas epiteliais cbicas ou cilndricas baixas.
5
medida que os ductos vo se ramificando para formar ductos intra-lobulares, o epitlio
transforma-se em simples, cilndrico ou mesmo cbico (ZUCCARI et al., 2001a).
O amplo espectro morfolgico da mama normal varia de acordo com a fase da vida do
indivduo (puberdade, gravidez, lactao e involuo), do ciclo estral ou do efeito de
determinadas drogas ou terapia hormonal (PELETEIRO, 1994; ZAKHOUR e WELLS, 1999).
At a puberdade, assim como nos machos, as mamas das cadelas se apresentam
rudimentares, com seu sistema de ductos (alvolos e lbulos) pouco desenvolvidos (EVANS e
CHRISTENSEN, 1993). O desenvolvimento da glndula mamria se inicia com a puberdade.
O estrognio, o hormnio do crescimento, e os esterides adrenais so responsveis pela
proliferao do sistema ductal, promovendo tambm o aumento discreto das clulas adiposas.
Em fmeas grvidas ou com pseudociese, a progesterona promove desenvolvimento
glandular, com proliferao de clulas epiteliais na poro terminal dos ductos intralobulares
para formar os alvolos secretores. De forma geral, na maioria dos animais domsticos o
desenvolvimento da mama se evidencia no tero mdio da gestao (STABENFELDT, 1993;
PELETEIRO, 1994). Influncias hormonais sobre as glndulas mamrias dos carnvoros
domsticos ocorrem at idades avanadas, uma vez que estes no entram na menopausa
(ZUCCARI et al., 2001a).
A irrigao sangunea das glndulas mamrias contm trs segmentos: o segmento
torcico, que irrigado pelos ramos intercostais da artria torcica interna; o segmento toraco-
abdominal, irrigado pela artria epigstrica cranial superficial; e o segmento inguino-
abdominal, que tem suas pores cranial e caudal irrigadas pelos ramos terminais da artria
epigstrica caudal superficial (EVANS e CHRISTENSEN, 1993; HEDLUND, 2002; LUIZ et
al., 2002), existindo ainda na poro caudal a possibilidade da irrigao complementar pelo
ramo labial ventral (HARVEY, 1996; JOHNSTON, 1998). As papilas mamrias dos trs
primeiros pares de mama recebem aporte sanguneo por irrigao direta terminal. J os pares
6
quatro e cinco revelam predominncia de irrigao indireta (LUIZ et al., 2004). O trajeto das
veias segue basicamente o das artrias (EVANS e LAHUNTA, 1994).
A drenagem linftica feita a partir das mamas torcicas craniais e caudais para os
linfonodos axilares e das mamas abdominais caudais e mamas inguinais para os linfonodos
inguinais superficiais (linfonodo mamrio). As mamas abdominais craniais podem apresentar
drenagem mista (linfonodo axilar e inguinal) (HARVEY, 1996; BRAGULLA e KNIG,
2004). Essa drenagem pode sofrer variao individual, assim como ser influenciada pelo
estgio da lactao ou presena de massa tecidual e/ou obstrutiva (HARVEY, 1996). A
drenagem linftica interliga algumas glndulas homolaterais, mas segundo alguns autores no
existe comunicao entre as cadeias mamrias direita e esquerda (PELETEIRO, 1994).
Contudo, Pereira e colaboradores (2003) observaram em seu estudo que a neoplasia mamria
pode alterar a drenagem linftica padro, formando novos canais de drenagem e recrutando
um maior nmero de linfonodos, podendo dessa forma haver ligao linftica entre as cadeias
contralaterais.
Os linfonodos axilares esto acomodados em uma massa de gordura localizado na face
medial da poro distal do msculo redondo maior, na regio da primeira e segunda costela.
Situados ventralmente artria e veia toracodorsal, seu tamanho varia de 0,5 a cinco
centmetros. Os linfonodos inguinais superficiais se localizam na face dorsolateral das
glndulas mamrias, prximo ao osso pbico. Geralmente se apresentam em pares, mas
podem ser encontrados at quatro linfonodos nessa regio, variando de 0,5 a dois centmetros
de comprimento (SAAR e GETTY, 1986).
7
2.2 Neoplasia mamria
H algum tempo o interesse na obteno de conhecimentos mais especficos na
oncologia veterinria vem crescendo, principalmente pela elevada ocorrncia dos processos
neoplsicos nos animais de companhia, especialmente, nos caninos (MUELLER e
DALMOLIN, 1970; PELETEIRO, 1994; SOUZA et al., 2001b). A prevalncia de neoplasias
est intimamente relacionada com a maior longevidade observada nesses animais
(PELETEIRO, 1994; MORRISON, 1998; WITHROW, 2001; DE NARDI et al., 2002;
DAGLI, 2008).
Os tumores da glndula mamria das cadelas, em virtude de similaridades
epidemiolgicas, clnicas e biolgicas com as neoplasias na mulher, tm despertado o
interesse de pesquisadores para empreg-los como modelo comparativo para o estudo desta
patologia (SCHNEIDER et al., 1969; STRANDBERG e GOODMAN, 1974; PELETEIRO,
1994; CASSALI, 2000; WITHROW, 2001). Alm das vantagens que esses estudos podem
trazer medicina, as neoplasias mamrias em cadelas apresentam uma grande diversidade
morfolgica, instigando os estudos a seu respeito (PELETEIRO, 1994).
As neoplasias mamrias acometem quase que exclusivamente as fmeas, sendo rara
ocorrncia nos machos (BENJAMIN et al.,1999; MISDORP et al., 1999; DE NARDI et al.,
2002; OLIVEIRA, et al., 2003; PIRES et al., 2003). Na espcie canina, o segundo tumor
mais observado, precedido apenas pelos tumores cutneos. Quando consideradas somente as
fmeas, a neoplasia de maior ocorrncia (MOULTON, 1990; PELETEIRO, 1994; DALECK
1996; MISDORP et al., 1999; RUTTEMAN et al., 2001; SOUZA et al., 2001b; DE NARDI
et al., 2002).
A freqncia dos tumores de mama em cadelas aumenta a partir dos seis anos de
idade, com rara ocorrncia em animais com menos de dois anos (MOULTON, 1990;
8
PELETEIRO, 1994). A idade mdia de ocorrncia dos tumores mamrios de nove a 11 anos
(BENJAMIN et al., 1999; RUTTEMAN et al., 2001; CASSALI, 2002; DE NARDI, et al.,
2002; OLIVEIRA et al., 2003; PIRES et al., 2003; CAVALCANTI e CASSALI, 2006;
FURIAN et al., 2007). A princpio no existe predileo racial, mas alguns trabalhos apontam
as raas Poodle, Dachshund, Pointer e Retrievers como mais frequentemente acometidas
(PELETEIRO, 1994; MEUTEN, 2002; RUTTEMAN et al., 2001; CASSALI, 2002;
CAVALCANTI e CASSALI, 2006; FURIAN et al., 2007).
A maior incidncia de tumores mamrios na cadela ocorre nas mamas inguinais e
abdominais, possivelmente por essas apresentarem um parnquima mamrio mais
desenvolvido e, consequentemente, mais exposto ao hormonal (BRODEY et al., 1983;
PELETEIRO, 1994; RUTTEMAN et al., 2001; QUEIROGA e LOPES, 2002; BERGMAN,
2004). A mesma glndula pode apresentar mais de um tipo de tumor (tumores mltiplos) e na
maioria das vezes os tumores mamrios acometem mais de uma mama (tumores
multicntricos) (BRODEY et al., 1983; PELETEIRO, 1994; BENJAMIN et al., 1999;
BERGMAN, 2004).
Metade das neoplasias observadas nessa espcie de carter maligno (DALECK,
1996; MORISSON, 1998; CASSALI, 2000; RUTTEMAN et al., 2001; QUEIROGA e
LOPES, 2002). As neoplasias benignas, em geral, surgem em idade mais jovem
(RUTTEMAN et al., 2001; PELETEIRO, 1994). Estudos observaram que a procura tardia dos
pacientes ao servio mdico veterinrio pode ser responsvel pela maior malignidade dos
tumores mamrios, pois os tumores benignos podem evoluir e se transformarem em malignos
(MOULTON e ROSENBLAT, 1970; KARAYANNOPOULO et al., 1990; OLIVEIRA et al.,
2003; BERTAGNOLLI et al., 2005). Bertagnolli e colaboradores (2005) observaram em seu
estudo uma descontinuidade da camada de clulas periductais/periacinares reativa protena
9
p63 nos tumores benignos, sugerindo que isso ocorre antes da invaso estromal ou da
transformao maligna desses tumores.
No momento do atendimento clnico, 25% a 50% dos pacientes com neoplasia
mamria maligna j apresentam metstase (HEDLUND, 2002; RASSNICK, 2005). A
distribuio dos focos tumorais determinada, em grande parte, pelas caractersticas
anatmicas das veias e dos vasos linfticos que drenam os locais onde se situam os tumores
primrios (CONTRAN et al., 2000). A maioria dos tumores malignos nos animais, no
entanto, resulta em metstase para os pulmes (SOUZA et al., 2001a; QUEIROGA e LOPES,
2002; MOORE, 2006). Isto ocorre devido ao intenso fluxo de sangue que passa por este
rgo. A grande trama de capilares torna a circulao mais lenta e atua como um filtro para os
agregados de clulas tumorais, que se alojam na rvore vascular, inserindo pseudpodos entre
as clulas endoteliais e migrando para o parnquima pulmonar (CONTRAN et al, 2000).
A existncia de metstases torcicas, abdominais ou do tecido linfide pode ser
verificada com o auxlio de diagnsticos por imagem (JOHNSTON, 1998; HEDLUND, 2002;
BAPTISTA et al., 2007). A avaliao dos pulmes realizada por meio do raio-x torcico em
trs incidncias: latero-lateral esquerda e direita e ventro-dorsal (QUEIROGA e LOPES,
2002; MOORE, 2006; BAPTISTA et al., 2007). A imagem radiogrfica demonstra a presena
de ndulos bem circunscritos, radiopacos, mais frequentemente localizados nos lobo caudal e
acessrio (BAPTISTA et al., 2007).
Em mulheres o cncer de mama o principal responsvel por efuses pleurais
malignas e a segunda causa mais freqente de ascite (MONTE et al., 1987). Cassali e
colaboradores (1999) observaram efuso pleural em uma cadela portadora de tumor de mama,
cujo diagnstico foi realizado a partir da citologia desse derrame, demonstrando metstase
antes mesmo do diagnstico de neoplasia mamria.
10
2.2.1 Etiologia e fatores predisponentes ao cncer de mama na cadela
A etiologia do tumor mamrio controversa entre os autores, sendo consideradas
como hipteses a origem viral, influncia da dieta e obesidade, transcrio gnica,
componentes genticos, estresse oxidativo e, principalmente, influncia hormonal
(PELETEIRO, 1994; GURGEL et al., 1997; BENJAMIN et al., 1999; FONSECA e
DALECK, 2000; GALIZIA e WAITZBERG, 2001; RAY, et al., 2001; ZUCARI et al.,
2001a; SILVA et al., 2004; BARBATO et al., 2005). Na espcie humana, autores determinam
alguns fatores de risco para o cncer de mama como a hereditariedade, gentica, nuliparidade,
obesidade, dieta gordurosa, terapia de reposio hormonal prolongada e ingesto alcolica
(BARROS et al., 2001; BARBATO et al., 2005).
Partculas virais tm sido encontradas em clulas de tumores de mama de gatas e
cadelas, mas a identificao de qualquer tipo viral ainda no pde ser feita com preciso
(NERURKAR et al., 1990; PELETEIRO, 1994).
Do ponto de vista gentico as neoplasias mamrias manifestam-se como espordicas,
familiares e hereditrias. A neoplasia espordica resulta de mutao cromossmica em
indivduos at ento sem pr-disposio doena, onde os genes BRCA-1 e BRCA-2,
supressores tumorais envolvidos no controle da transcrio (COTRAN et al., 2000), sofrem
mutaes, predispondo ao surgimento do cncer de mama (DENG e BRODIE, 2001). Na
forma familiar, a doena est presente em dois ou mais indivduos parentes em primeiro ou
segundo grau. O risco familiar cerca de trs vezes maior que o da populao em geral. Por
fim, a forma hereditria caracterizada por padro autossmico dominante de transmisso, o
que determina alto risco e precocidade etria ao diagnstico (GURGEL et al., 1997).
Benjamin e colaboradores (1999) demonstraram, em seu experimento com uma
colnia de Beagles acompanhados por toda a vida, que 71% das fmeas apresentaram tumor
11
mamrio, dados superiores aos descritos na literatura. Os autores atribuem este aumento
exatamente ao componente gentico, j descrito em trabalhos anteriores (BENJAMIN et al.,
1998).
Recentemente, fatores nutricionais, principalmente a obesidade, tm sido apontados
como papel chave na suscetibilidade neoplasia (GREENWALD et al, 2001; QUEIROGA e
LOPES, 2002; GERMAN, 2006, CLEARY, 2007). A dieta lista entre os possveis
responsveis pela etiologia do cncer, sendo esta a principal rota de exposio dos animais
aos carcingenos qumicos (GREENWALD et al, 2001). Segundo Barbato e colaboradores
(2005), em mulheres o peso est diretamente correlacionado ao risco de cncer de mama na
ps-menopausa e maior ndice de massa corprea (IMC) nesta faixa etria pode apresentar
associao com o cncer. Essas mulheres sofrem transformao no tecido adiposo da
androstenediona em estrona e consequentemente em estrgeno, elevando a concentrao
plasmtica deste hormnio e desencadeando a proliferao celular na glndula mamria,
aumentando a probabilidade de mutao (YOO et al., 2001; SILVA et al., 2004).
Em ces foi demonstrado que animais magros possuem menor ocorrncia de cncer
que os obesos. Desse modo, fatores nutricionais podem ter papel no desenvolvimento do
tumor de mama, em particular antes do primeiro ciclo estral, nos primeiros meses de vida
(SONNENSCHEIN et al, 1991). Pesquisadores constataram que a obesidade no primeiro ano
de vida, assim como um ano antes do diagnstico pode predispor as fmeas s neoplasias e
piorar seu prognstico (PEREZ ALENZA et al, 2000; MOORE, 2006).
Jeric e Scheffer (2002) demonstraram em seus estudos que a maioria dos ces obesos
recebem petiscos ou comida caseira misturada alimentao e que a freqncia dos animais
acima do peso aumenta a partir dos dois anos de idade e sofre um declnio abrupto a partir dos
12 anos. Em um estudo, Sirivaidyapong (2003) demonstrou que, dentre as cadelas com
tumores de mama, 91,3% foram alimentadas com comida caseira, enquanto que aquelas que
12
no apresentavam tumor mamrio apenas 10% foram alimentadas com comida caseira.
Estudos indicam que a alimentao caseira, principalmente no que se refere alta ingesto de
carnes bovinas, sunas e gordura animal e a obesidade aumentam o desenvolvimento das
neoplasias mamrias, tendo esses fatores atuao maior como promotor e no iniciador da
carcinognese (PELETEIRO, 1994; CONTRAN et al, 2000; RAY, et al., 2001;
SIRIVAIDYAPONG, 2003; MOORE, 2006).
Muitos trabalhos foram conduzidos para avaliar a associao entre ingesto de
alimentos ricos em gordura, gordura total e alguns tipos de cidos graxos com risco de cncer,
inclusive o de mama. Esses achados sugerem que a ligao entre gordura e risco de cncer
depende do tipo de gordura consumida ou at mesmo do total de gordura ingerida
(GREENWALD et al, 2001; BARBATO et al., 2005; GARCA-SOLS e ACEVES, 2005).
Ainda no se sabe exatamente como os cidos-graxos podem influenciar na carcinognese
mamria, mas modelos experimentais de ratos comprovaram a existncia de correlao
positiva (GARCA-SOLS e ACEVES, 2005). As quebras cromossmicas e peroxidao dos
cidos graxos poliinsaturados levam superproduo de espcies reativas de oxignio
(EROs). Quando h elevao na concentrao desses compostos, seja por aumento ou
diminuio da produo de antioxidantes disponveis, ocorre a leso tissular e a neoplasia
(GALIZIA e WAITZBERG, 2001; RAY et al, 2001).
O componente etiolgico hormonal hoje o principal fator estudado, particularmente
pelas diferenas significativas de incidncia tumoral entre cadelas castradas e no castradas. O
risco de aparecimento desse tumor nas cadelas castradas antes do primeiro cio de 0,05%, 8%
aps o primeiro e aps o segundo o risco aumenta para 26%. A proteo conferida pela
castrao desaparece aps os dois anos e meio de idade, quando nenhum efeito obtido
(SCHNEIDER et al., 1969).
13
Os hormnios so responsveis por grande parte do controle no metabolismo das
clulas. Quando h descontrole da secreo hormonal ocorre a proliferao celular com
conseqentes mutaes genticas, levando a vrias alteraes, dentre elas o cncer
(GUYTON, 1991; HENDERSON e FEIGELSON, 2000; MEUTEN, 2002; SILVA et al.,
2004). Desta forma as modificaes organizacionais da glndula mamria, que ocorrem nas
cadelas por ao dos hormnios, apesar de fisiolgicas podem ensejar alteraes neoplsicas
diversas em qualquer local do rgo, mas especialmente no tecido epitelial (ZUCCARI et al.,
2001a).
Os hormnios envolvidos na carcinognese mamria incluem o estrgeno, a prolactina
(DENG e BRODIE, 2001; SILVA, 2003b), a progesterona (VORHERR, 1987), os
andrgenos (KODAMA e KODAMA, 1970) e at os hormnios tireoidianos (NOGUEIRA e
BRENTANI, 1996; SILVA, 2003b; FERREIRA, 2005). No entanto, para Carreo e
colaboradores (1999), a participao dos hormnios na carcinognese se restringe
proliferao das clulas j transformadas por outros carcingenos. Na espcie humana,
linhagens de clulas de cncer de mama submetidas a cultura celular in vitro, utilizando
estrgeno, insulina e IGF-1 como fatores de crescimento, demonstrando o aumento do
nmero de clulas submetidas a esse tratamento (CLEARY, 2007).
O estrgeno induz a proliferao do epitlio ductal das glndulas mamrias,
promovendo o crescimento celular e, desta forma, propiciando as condies necessrias para
que as mutaes genticas ocorram (TATEYAMA e COTCHIN, 1977; MEUTEN, 2002).
Esse crescimento estimulado pela liberao do fator de crescimento tumoral e do fator de
crescimento semelhante insulina e pela inibio do fator de crescimento tumoral
(NORMAN e LITWACK, 1997). Lespangnard e colaboradores (1987) demonstraram que, em
tumores mamrios de ces, a proliferao celular significativamente exacerbada pelo
estrgeno e, em menor grau, pela progesterona.
14
Receptores de estrgeno e de progesterona tm sido identificados nas cadelas em
mama normal, neoplasias benignas e carcinomas. A presena desses receptores no ncleo de
clulas tumorais sinal claro da dependncia hormonal dessas neoplasias, principalmente
quando h presena dos dois receptores ao mesmo tempo (MOULTON, 1990; PELETEIRO,
1994).
Trabalhos utilizando tcnicas de imunomarcao em tumores de mama de cadelas
constataram que 70% dos tumores benignos e cerca de 40% a 60% dos malignos possuem
receptores para estrgeno ou progesterona. Deste modo, quanto menos diferenciada a
neoplasia menor a expresso dos receptores hormonais e maior a autonomia das clulas
neoplsicas, tornando pior o prognstico da cadela (PINOTTI, 1991; PELETEIRO, 1994;
CASSALI, 2000; GERALDES et al., 2000).
A progesterona, apesar de no ser considerada isoladamente como carcinognica, pode
apresentar um papel muito importante no desenvolvimento dos tumores mamrios j que cria
um ambiente altamente proliferativo, estimulando o crescimento dos tumores ocasionados por
outros fatores (McGUIRE et al., 1971; MARTINS e LOPES, 2005).
Em ces e gatos a progesterona exgena estimula a sntese de hormnio do
crescimento na glndula mamria, com proliferao lbulo-alveolar e conseqente hiperplasia
de elementos mioepiteliais e secretrios, induzindo a formao de ndulos benignos em
animais jovens (MOL, et al., 1997; RUTTEMAN et al, 2001; MEUTEN, 2002). Tais
alteraes, no entanto, podem predispor o tecido a uma transformao maligna (MOULTON e
ROSENBLAT, 1970). Giles e colaboradores (1978) demonstraram, em seu experimento
realizado com Beagles, que 66% dos animais que receberam contraceptivos orais base de
estrgeno e progesterona durante cinco a sete anos desenvolveram ndulos mamrios, dos
quais 95% eram benignos. Alguns autores concordam que, para um progestgeno desenvolver
15
tumor mamrio h necessidade do uso prolongado ou em doses muito elevadas (MIALOT et
al., 1981; MORRISON, 1998).
A pseudociese ocorre na fase de diestro, quando h um aumento na concentrao de
progesterona que tem como funo a supresso da atividade do miomtrio, crescimento das
glndulas endometriais e promoo do desenvolvimento das glndulas mamrias. Aps sete
dias do final dessa fase haver diminuio da concentrao da progesterona e um aumento da
concentrao de estrgeno e prolactina (GOBELLO et al., 2001; CONCANNON e
VERSTEGEN, 2005; MARTINS e LOPES, 2005). Nos casos de pseudociese recorrentes ou
aps a lactao as concentraes de prolactina esto elevadas, o que causa reteno lctea
predispondo formao de neoplasias mamrias (FINDLER, et al., 1966, MARTINS e
LOPES, 2005).
A prolactina estimula o crescimento do tumor mamrio a partir da facilitao da ao
mittica do estrgeno, aumentando o nmero de seus receptores. Apesar de ser um hormnio
necessrio para a manuteno da atividade secretria, no desempenhando papel sobre a
proliferao celular da glndula mamria (BERNSTEDM e ROSS, 1993; SILVA et al., 2004;
MARTINS e LOPES, 2005), no se pode descartar a possibilidade da prpria prolactina
estimular a atividade mittica das clulas do epitlio mamrio (MULDOON, 1981). O risco
de desenvolvimento do cncer de mama essencialmente determinado pela intensidade e
durao da exposio do epitlio mamrio ao conjunta da prolactina e do estrgeno
(KOJIMA, et al., 1996).
Finalmente, todos os tumores cuja induo tenha ocorrido atravs de um suporte
hormonal tendem a se tornar autnomos. Essa autonomia, fase final desse tipo de
carcinognese, caracterstica comum aos tumores hormnios-dependentes. Quando essa fase
ocorre, morfologicamente j houve perda das caractersticas de diferenciao celular da
16
linhagem de origem (BRENNAN, 1975; CASSALI, 2000; GERALDES et al., 2000; PEN et
al., 2003b; SILVA et al., 2004).
Alguns pesquisadores associam as neoplasias mamrias de mulheres aos
desequilbrios endcrinos decorrentes dos cistos foliculares e do corpo lteo persistente, alm
de outros fatores como pseudogestao, nuliparidade, obesidade e utilizao de
anticoncepcionais base de progestgenos (MOL et al, 1997). Segundo Morris e
colaboradores (1998), cadelas nulparas ou com pequeno nmero de partos tm maior
predisposio de cncer de mama quando comparadas com animais que tiveram vrias crias.
2.3 Mtodos Diagnsticos
2.3.1 Clnico
Protocolos especficos devem ser utilizados para a identificao das neoplasias
mamrias. So divididos em trs partes: o histrico clnico detalhado; exame clnico contendo
toda descrio sobre a leso macroscpica; e, por ltimo, a informao detalhada da
microscopia do tumor (FERREIRA et al., 2003; BERGMAN, 2004). A utilizao desse
protocolo de suma importncia para alcanar o diagnstico e prognstico do tumor
(FERREIRA et al., 2003; HENRY, 2007).
Neoplasias mamrias se apresentam como ndulos, usualmente circunscritos e de
dimenses variveis. Cerca de 90% destas leses so detectadas pelo exame clnico
(PELETEIRO, 1994; MISDORP et. al., 1999). O tamanho dos tumores varia de milmetros
at leses que podem atingir 20cm, mas normalmente no ultrapassam 10cm nas cadelas
(PELETEIRO, 1994; QUEIROGA e LOPES, 2002). Em alguns casos apresentaro ulceraes
17
cutneas, sinais de inflamao e aderncia a tecidos adjacentes (QUEIROGA e LOPES,
2002).
O exame clnico deve seguir uma rotina padronizada, com o levantamento mais
completo possvel da histria pregressa. Dados sobre o ambiente, a dieta, a histria mdica, os
registros de tratamentos anteriores, alm de durao, velocidade de crescimento e aspecto da
massa observada e presena ou no de edema, tambm so de extrema importncia para o
diagnstico e tratamento das neoplasias (STONE, 1998).
O exame fsico constitudo de duas etapas fundamentais, a inspeo e a palpao. Os
procedimentos fornecero dados sobre o tumor, linfonodos regionais e aspecto geral do
animal, que devem ser detalhadamente especificados (BERGMAN, 2004). A palpao deve
envolver todas as mamas e os linfonodos regionais, que deve ser dedilhada, por setor, em
posio correta do paciente e das mos do examinador (PINOTTI, 1991). Aproximadamente
70% de todos os tumores de mama so palpveis e quase 50% dos tumores com 0,6 a 1,0 cm
de dimetro j so detectveis ao exame clnico (DONEGAN e SPRATT, 1988).
Embora leses com determinadas caractersticas, como maior dimetro, forma
irregular e presena de ulcerao e aderncia, tenham maior probabilidade de ser malignas, o
exame fsico apenas no consegue determinar este diagnstico (BARROWS et al., 1986;
KIRPENSTEIJN e RUTTEMAN, 2006; NOVELLAS et al., 2007), fazendo-se sempre
necessrio o exame citolgico e histopatolgico (BRASIL, 2004; ZUCCARI, 1999;
KIRPENSTEIJN e RUTTEMAN, 2006).
A nica neoplasia mamria cujo diagnstico predominantemente clnico o
carcinoma inflamatrio (PEN et al., 2003a; GOMES et al., 2006; HENRY, 2007). Este
tumor, extremamente agressivo, se caracteriza histologicamente pela presena de qualquer
subtipo de carcinoma associado a intensa reao inflamatria, infiltrando inclusive a derme,
associado de invaso linftica. Macroscopicamente caracteriza-se por uma massa em forma de
18
placa contnua, firme, hipermica, quente e sem demarcao especfica. Tambm podem ser
verificados edema e eritema da pele e tecidos adjacentes a mama, dor e prurido (RASSNICK,
2005; STRAW, 2005; GOMES et al., 2006). O carcinoma inflamatrio apresenta o pior
prognstico de todas as neoplasias mamrias. Sua evoluo extremamente rpida, sendo a
sobrevida mdia de no mximo 60 dias aps o diagnstico (PEN et al., 2003a; GOMES et
al., 2006; HENRY, 2007). A citologia aspirativa ou por esfregao pode ser til na
confirmao deste diagnstico (STRAW, 2005).
2.3.2 Citologia aspirativa por agulha fina (CAAF)
A CAAF uma adaptao da citologia esfoliativa, preconizada por Papanicolau na
metade do sculo XIX, e nos ltimos anos tem sido amplamente utilizada mundialmente por
mdicos e mdicos veterinrios, inclusive para as neoplasias mamrias (ROCHA, 1998;
ZUCCARI et al., 2001b).
A interpretao da origem celular nas CAAF dos tumores mamrios caninos
complicada, considerando que essas neoplasias podem ter apresentao histolgica diferente
nos ndulos de um mesmo animal e s vezes at em partes diferentes do mesmo ndulo
(RUTTEMAN et al., 2001). Zuccari e colaboradores (2001b) avaliaram um grande nmero de
diagnsticos corretos de malignidade, com histognese errnea. Alguns autores defendem a
eficcia da CAAF para tumores de mama de origem epiteliais, sendo de limitado valor nos
casos de tumores mistos ou que revelem vrias diferenciaes celulares, havendo necessidade
de puncionar mais de um local (TRANCOSO et al, 2002). A avaliao citolgica da mama
requer o conhecimento prvio da histologia porque a partir desse entendimento possvel
diagnosticar uma neoplasia (ZAKHOUR e WELLS, 1999).
19
Rutteman e colaboradores (2001) no consideram a CAAF como mtodo diagnstico
mais indicado para cadelas, j que tumor mais freqente nas fmeas caninas o tumor misto.
Assim h necessidade de vrios pontos de coleta, embora a distino entre material benigno e
maligno no implique em mudanas da conduta cirrgica. Ela considerada uma tcnica til
para diagnstico diferencial e em linfonodos suspeitos de metstase, j que possvel
identificar nesse local tumores de diversas origens, como linfossarcomas, lipomas,
mastocitomas entre outros (ZUCCARI et al., 2001b).
As amostras citolgicas so freqentemente utilizadas em funo da facilidade, da
rapidez e da segurana desse tipo de diagnstico, que ainda apresenta as vantagens do baixo
custo e boa tolerncia dos pacientes coleta (ROCHA, 1998; ZAKHOUR e WELLS, 1999;
CASSALI, 2000; KIRPENSTEIJN e RUTTEMAN, 2006). Devido semelhana dos achados
citolgicos entre os tumores mamrios da mulher e da cadela, o mesmo critrio de avaliao
da citologia utilizado pela patologia humana pode ser utilizado na patologia veterinria
(CASSALI et al, 2007). O corante Pantico permite um bom contraste de cor entre ncleo e
citoplasma, sendo esta colorao indicada para amostras secas ao ar, de manejo rpido e
fcil e tambm pouco onerosa (COWELL e TYLER, 1989; TRANCOSO et al., 2002).
2.3.3 Histopatologia
O exame histopatolgico o mtodo de eleio para o diagnstico preciso das
neoplasias, tornando possvel a identificao da morfologia das clulas neoplsicas
(ZUCCARI et al, 2001b; BALDIN, 2006; NOVELLAS et al., 2007; DAGLI, 2008). A
informao histopatolgica de extrema importncia no estudo dos tumores mamrios devido
relao direta que existe entre seus componentes, o prognstico da leso e a teraputica
adequada (FRANCO, 1997; ZUCCARI et al, 2001b; BALDIN, 2006; DAGLI, 2008). Fatores
20
como o tipo e o grau histolgico, necrose tumoral, elastose e invaso vascular so
imprescindveis para o estudo sobre o comportamento biolgico do tumor (FRANCO, 1997).
A complexidade do tumor mamrio decorre principalmente da prpria glndula
mamria, cuja estrutura histolgica heterognea. As neoplasias originam-se das clulas
epiteliais ductoalveolares, clulas mioepiteliais adjacentes ao epitlio ou clulas do tecido
conjuntivo intersticial (ZUCCARI et al., 2001a; CARVALHO, 2006).
Alm disso, a possibilidade de tipos histolgicos mltiplos do tumor mamrio torna
difcil seu diagnstico preciso. Ao se coletar material para exame histopatolgico deve-se
tomar o cuidado de retirar diversos fragmentos de todos os ndulos para que no haja um
diagnstico equivocado (HEDLUND, 2002; PELETEIRO, 1994; OLIVEIRA et al., 2003).
Existe uma dificuldade na padronizao histopatolgica das neoplasias mamrias
devido discordncia dos autores quanto nomenclatura desses tumores, impossibilitando
estudos epidemiolgicos comparativos eficazes (PELETEIRO, 1994; OLIVEIRA et al.,
2003). O critrio WHO (World Health Organization) para classificao das neoplasias
mamrias utilizado por diversos autores (MISDORP, et al., 1999; CASSALI, 2000;
MOORE, 2006; NOVELLAS, 2007) e deveria ser empregado na rotina para facilitao na
comunicao entre os patologistas e clnicos, obtendo resultados mais criteriosos e
harmoniosos nas pesquisas (DAGLI, 2008).
A metodologia para se classificar os tumores varia consideravelmente, porm h um
consenso geral para as seguintes categorias: adenomas, carcinomas, e tumores mistos
benignos e malignos, que so os tipos mais freqentes na cadela (MOULTON, 1990). A
maioria dos tumores mamrios de origem epitelial (adenomas e carcinomas) (BERGMAN,
2004), sendo bastante comum tambm a incidncia de tumores mistos, de origem epitelial e
mioepitelial (ZUCCARI et al., 2001a; BERGMAN, 2004; CONCANNON e VERSTEGEN,
2005). Contudo, sarcomas tambm podem ser observados (BERGMAN, 2004).
21
Em cadelas o tumor misto benigno o mais frequentemente encontrado, sendo
possvel observar a presena de tecidos sseo e cartilaginoso nesses tumores (NERURKAR,
1989; ZUCCARI et al., 2001a; MEULTEN, 2002). Os carcinomas em tumor misto benigno
(CaTMB) so tumores malignos focais inseridos em neoplasias benignas. Todos os subtipos
de carcinomas (slido, papilar, tubular, micropapilar e anaplsico), podem compor esse tumor
(CAVALCANTI, 2006). O alto ndice de CaTMB encontrado por alguns autores no Brasil
justificado pela demora na procura do servio Mdico Veterinrio (DE NARDI et al., 2002;
OLIVEIRA et al., 2003; CAVALCANTI, 2006), uma vez que h evidncias que sugerem a
transformao maligna dos tumores misto benignos (MEUTEN, 2002; BERTAGNOLLI et
al., 2005).
Os carcinomas simples so tumores compostos de um tipo celular lembrando clulas
epiteliais luminais. Com bases na diferenciao, podem ser graduados em tbulo-papilar,
slido e anaplsico. O carcinoma complexo composto por clulas epiteliais luminais e
mioepiteliais, sendo que o componente mioepitelial estaria implicado na proteo da glndula
mamria. Em virtude dessa diferenciao e dos elementos estruturais, o prognstico pode
sofrer interferncia (BOSTOCK, 1986; CAVALCANTI e CASSALI, 2006). Cavalcanti e
Cassali (2006) observaram aumento na malignidade do carcinoma complexo para o carcinoma
simples e deste para o sarcoma. Considerando-se apenas o grupo dos carcinomas simples, a
evoluo da malignidade observado foi: no infiltrativo (in situ), tbulo-papilar, slido e
anaplsico.
A utilizao da anlise da expresso gnica de neoplasias mamrias vem se
desenvolvendo bastante nos ltimos anos. Tcnicas como FISCH, CISH, Microarray, Mamma
Preint e Oncotype tm sido utilizadas na classificao de tumores, na avaliao prognstica e
preditiva e na caracterizao do potencial metasttico e da influncia hormonal e ambiental no
desenvolvimento do cncer (CASSALI et al., 2008).
22
A utilizao destes mtodos vo desde marcadores imunoistoqumicos para expresso
de genes individuais a partir de protenas, tecidos e DNA at a utilizao de tcnica de
Microarrays, onde possvel identificar simultaneamente centenas de genes em um mesmo
tumor ou grupos de tumores (CASSALI et al., 2007).
2.4. Classificao clnica TNM
Os tumores mamrios so classificados pelo sistema TNM (tumor-linfonodo-
metstase), proposto pela organizao mundial da sade e aplicado apenas aos carcinomas
(OWEN, 1980). Essa classificao foi determinada, principalmente, para que o clnico se
torne capaz de estabelecer um prognstico e planejar a teraputica mais adequada, podendo
ainda avaliar o resultado do tratamento bem como comparar seus resultados com os de outros
colegas (PELETEIRO, 1994; MOORE, 2006; DAGLI, 2008).
A classificao TNM e a diviso dos casos em grupos por grau de aparente extenso
anatmica da doena se baseia no fato de que os tumores seguem um curso biolgico comum.
A Organizao Mundial da Sade (OMS) estabeleceu o TNM para tumores mamrios caninos
levando em considerao os fatores similiares ao TNM humano. T o dimetro (T1 menor
que 3cm; T2 3 a 5cm e T3 maior que 5cm); N envolvimento linfonodal regional (N0
ausente; N1 - ipsilateral; N2 bilateral); e M metstase a distncia (M0 ausente e M1
presente) (OWEN, 1980; QUEIROGA e LOPES, 2002, MOORE, 2006). Aps a avaliao
destes fatores, os casos sero classificados em estgios que variam de I a V graus crescente de
acordo com a gravidade da doena (BRASIL, 2004; RUTTEMAN et al., 2001; MOORE,
2006).
A prtica de se dividir os casos de cncer em grupos, de acordo com os chamados
estadios, surgiu do fato de que as taxas de sobrevida eram maiores para os casos nos quais a
23
doena era localizada, em relao aqueles nos quais a doena havia se estendido alm do
rgo de origem. Esses grupos eram freqentemente referidos como casos iniciais e
avanados respectivamente (BRASIL, 2004).
A Unio Internacional Contra o Cncer (UICC) acredita que importante alcanar a
concordncia no registro da informao precisa da extenso da doena para cada localizao
anatmica, porque a descrio clnica acurada e a classificao histopatolgicas das
neoplasias podem interessar a um nmero de objetivos correlatos, a saber: dar alguma
indicao do prognstico; ajudar o mdico no planejamento do tratamento; auxiliar na
avaliao dos resultados de tratamento; facilitar a troca de informao entre os centros de
tratamento; e contribuir para a pesquisa contnua sobre o cncer humano e animal
(PELETEIRO, 1994; BRASIL, 2004).
2.5. Prognstico
Fatores prognsticos so definidos como sendo as caractersticas clnicas, patolgicas
e biolgicas dos indivduos e seus tumores que permitem prever a evoluo clnica e a
sobrevida do paciente, sem que o mesmo tenha sido submetido a terapias adicionais e
adjuvantes aps a cirurgia inicial (ALLRED et al., 1998; CAVALCANTI, 2006).
Tumores menores de 3cm, sem invaso linftica apresentam melhor prognstico que
aqueles maiores ou que j apresentam alguma metstase para linfonodos (PEREZ ALENZA,
et al., 1997; QUEIROGA e LOPES, 2002; PHILIBERT et al., 2003; BALDIN et al., 2005;
MOORE, 2006; HENRY, 2007). Philibert e colaboradores (2003) demonstraram em seus
estudos aumento de sobrevida de aproximadamente oito meses em cadelas com tumor
mamrio menor que 3cm, resultados semelhantes ao de Queiroga e Lopes (2002), onde
animais com grandes massa tumorais apresentaram uma menor sobrevida.
24
Tumores com tamanho maior que 3cm foram tambm relacionados com menor tempo
livre da doena, diminuio nos marcadores de estrgeno e mutao no gene p53, fatores
esses relacionados com a piora no diagnstico da doena (KURZMAN E GILBERTSON,
1986; PEREZ ALENZA et al., 1997; CHIARELLI et al., 2000; WAKUI et al., 2001;
CAVALCANTI, 2006).
Aspectos como crescimento invasivo, com aderncia aos tecidos adjacentes, tumores
volumosos, ulcerao da pele e envolvimento de linfonodos axilares ou inguinais so
parmetros clnicos associados a um pior prognstico, com menor chance de sobrevivncia
aps a exciso cirrgica de tumores de mama em cadelas (PEREZ ALENZA et al., 2000;
BERGMAN, 2004; MOORE, 2006; HENRY, 2007).
A classificao em estadio clnico permite informar o prognstico das neoplasias
mamrias, a partir da alocao de graus, que variam de I a V e o prognstico piora com o
aumento na ordem crescente da classificao (RUTTEMAN et al., 2001; QUEIROGA e
LOPES, 2002; MOORE, 2006).
Em pesquisas recentes, critrios de graduao histolgica propostos pelo sistema de
Nottingham para os carcinomas humanos vm sendo utilizados na avaliao de carcinomas
mamrios de cadelas (KARAYANNOPOULOU et al., 2005; CAVALCANTI e CASSALI,
2006). Esse mtodo considera os critrios de ndice de formao tubular, pleomorfismo
nuclear e contagem mittica. Cada um desses critrios recebe um escore de pontos
individualmente, que varia de 1 a 3. Para a determinao do grau histolgico combinado do
tumor, soma-se o escore de cada critrio avaliado que pode variar de trs a nove pontos,
tendo-se grau I (3 5), grau II (6 -7) e grau III (8 9) (ELSTON e ELLIS, 1998 apud
CAVALCANTI e CASSALI, 2006). Karayannopoulou e colaboradores (2005) observaram
uma menor sobrevida naqueles animais com grau III. Eles demonstraram ainda uma
correlao entre o grau e o tipo histolgico, onde os CaTMB e carcinomas complexos se
25
apresentavam nos graus I e II, enquanto que o carcinoma simples se apresentavam em grau
III, sendo este ltimo de pior prognstico.
Cadelas portadoras de neoplasias malignas apresentam sobrevida significativamente
mais curta do que aquelas com tumores benignos. Esse nmero varia entre 25% e 40% de
sobrevida do animal aps dois anos da extirpao cirrgica do tumor. A perda de
diferenciao das clulas de tumores de mama confere uma progressiva piora no prognstico
desses animais. Nos casos em que as leses de mama surgem de maneira multicntrica, o
tumor de pior prognstico determinar a evoluo clnica do paciente (CAVALCANTI,
2006).
As neoplasias em seu estgio mais avanado produzem efeitos sistmicos,
denominados de sndrome paraneoplsica. Em tumores mamrios so observadas
hipercalemia, hipoglicemia, eosinofilia e anemia, assim como febre, hiporexia, letargia e
consequentemente caquexia do animal. Nesses casos o prognstico da patologia j bastante
desfavorvel (PEREIRA e KEGLEVICH, 2005; MORRISON, 2007).
2.6 Terapia do tumor mamrio
Na Medicina, assim como na Medicina Veterinria, preconiza-se a cirurgia como
tratamento da neoplasia mamria (HARVEY, 1996; HEDLUND, 2002; BARROS et al.,
2001; QUEIROGA e LOPES, 2002; BERGMAN, 2004; RASSNICK, 2005; STRAW, 2005;
MOORE, 2006), com exceo dos carcinomas inflamatrios (HEDLUND, 2002;
QUEIROGA e LOPES, 2002; RASSNICK, 2005, STRAW, 2005; GOMES et al., 2006), que
podem ser tratados, apenas paliativamente, com antiinflamatrios esterides ou no
esterides, no sendo observado relao com a taxa de sobrevida (RASSNICK, 2005).
26
Diversas tcnicas cirrgicas so descritas para a exrese do tumor mamrio, desde a
lumpectomia, ou nodulectomia, at a mastectomia radical bilateral (HARVEY, 1996;
HEDLUND, 2002; BARROS et al., 2001, MOORE, 2006). A escolha da melhor abordagem
cirrgica depende principalmente do nmero de tumores e das suas caractersticas clnicas,
assim como da sua localizao na cadeia mamria, observando que a abordagem mais radical
poder no trazer benefcios acrescidos em termos de sobrevida total (HEDLUND, 2002;
QUEIROGA e LOPES, 2002; MARTINS e FERREIRA, 2003; BERGMAN, 2004,
KIRPENSTEIJN e RUTTEMAN, 2006; MOORE, 2006).
Straw (2005) determina que o procedimento de eleio deva ser o mais simples
possvel para a retirada do tumor com uma boa margem de segurana, no sendo aceitveis
resseces incompletas. A lumpectomia a exrese apenas do ndulo, sem margem de
segurana e pode ser considerada naqueles tumores encapsulados e menores de 3cm que
apresentem linfonodos sem alteraes (HARVEY, 1996; HEDLUND, 2002; RASSNICK,
2005, KIRPENSTEIJN e RUTTEMAN, 2006). A mamectomia considerada para tumores
maiores que 3cm, com boa delimitao, sem sinais de malignidade. Refere-se a retirada da
glndula mamria acometida, com seus tecidos subcutneo e adjacentes (STRAW, 2005;
KIRPENSTEIJN e RUTTEMAN, 2006).
A mastectomia regional um procedimento cirrgico de retirada das mamas em bloco
levando em considerao a drenagem linftica da mama acometida, a tcnica de escolha nos
casos de tumores maiores de 3cm, mltiplos e com sinais de malignidade. A mastectomia
radical a realizao de exrese de toda cadeia mamria, indicada nos casos de tumores
mltiplos no adjacentes, podendo ser unilateral ou bilateral (HARVEY, 1996; RUTTEMAN
et al., 2001; HEDLUND, 2002; STRAW, 2005; KIRPENSTEIJN e RUTTEMAN, 2006).
A cirurgia de mastectomia radical bilateral dever ocorrer em dois tempos cirrgicos,
observando-se a margem de segurana de intervalo de trs a quatro semanas entre elas, o que
27
facilita a cicatrizao e diminuindo os riscos ps-operatrios (HEDLUND, 2002;
QUEIROGA e LOPES, 2002).
Os linfonodos inguinais so extrados durante o procedimento cirrgico de retirada da
mama inguinal juntamente com o segmento cutneo e tecido adiposo dessa regio, caso o
procedimento seja realizado de forma adequada (HARVEY, 1996; RUTTEMAN et al., 2001;
HEDLUND, 2002). J os linfonodos axilares devem ser retirados apenas quando estiverem
reativos e palpveis (HARVEY, 1996; RUTTEMAN et al., 2001; HEDLUND, 2002;
KIRPENSTEIJN, 2006).
A realizao da ovariosalpingohisterectomia (OSH) no momento da exrese do tumor
de mama ainda muito controversa. Alguns autores no demonstram vantagens adicionais no
tempo livre da doena e na sobrevida (QUEIROGA e LOPES, 2002; BERGMAN, 2004,
MOORE, 2006, KIRPENSTEIJN e RUTTEMAN, 2006), outros relacionam aumento da
sobrevida dos animais castrados no momento da mastectomia ou no mximo dois anos antes
da retirada do tumor primrio (SORENMO et al., 2000; SELTING, 2006). Caso se opte pela
realizao conjunta dos procedimentos, Queiroga e Lopes (2002) indicam a realizao da
OSH antes da mastectomia, em tempos operatrios distintos, evitando que clulas neoplsicas
sejam introduzidas de forma iatrognica na cavidade abdominal.
A radioterapia indicada, em humanos, aps as cirurgias conservadoras e algumas
mastectomias (BARROS et al., 2001). Em cadelas sua utilizao paliativa em tumores no
operveis, como por exemplo em carcinomas inflamatrios, ou em casos de no se conseguir
a exrese total do tumor (RASSNICK, 2005, STRAW, 2005), no demonstrando nenhuma
relao com aumento da sobrevida do animal (KIRPENSTEIJN e RUTTEMAN, 2006).
Protocolos quimioterpicos, empregando frmacos como a doxorrubicina, a
mitoxantrona (QUEIROGA e LOPES, 2002) e determinadas associaes como: 5-flurouracil
com ciclofosfamida, doxorrubicina com ciclofosfamida ou doxorrubicina com cisplatina
28
(RASSNICK, 2005, STRAW, 2005) tm demonstrado alguma eficcia no tratamento
adjuvante das neoplasias mamrias, embora ainda no existam trabalhos especficos
publicados sobre o melhor frmaco ou protocolo teraputico (QUEIROGA e LOPES, 2002;
BERGMAN, 2004; RASSNICK, 2005, STRAW, 2005, KIRPENSTEIJN e RUTTEMAN,
2006). Na mulher, alguns protocolos so utilizados no pr-operatrio com o objetivo de
reduzir o volume tumoral, facilitando assim a resseco de tumores relativamente grandes
(BARROS, 2001).
Na espcie humana, a hormonioterapia empregada nos tumores com receptores
hormonais positivos (BARROS et al., 2001; RASSNICK, 2005) que, no seu estadio de
crescimento inicial, so responsivos a hormnios antagonistas e frmacos anti-hormonais
(SILVA et al., 2004). O tamoxifeno utilizado nesses casos, e apesar de seu xito na
Medicina (PUGLISI e SOBRERO, 1999; NORUSINIA et al., 2005), estudos realizados em
cadelas no demonstraram resultados satisfatrios at o momento (QUEIROGA e LOPES,
2002; BERGMAN, 2004, STRAW, 2005), alm de efeitos colaterais como piometra,
inclusive em cadelas castradas (piometra de coto), infeco urinria e comportamento infantil,
restringindo seu uso na Medicina Veterinria (BERGMAN, 2004, RASSNICK, 2005,
STRAW, 2005). O conhecimento da expresso dos receptores hormonais pode vir a auxiliar
bastante no tratamento das neoplasias mamrias de cadelas (SILVA et al., 2004).
Inibidores de COX-2, como o Firocoxib, podem ser utilizados como terapia adjuvante
em tumores mamrios malignos, uma vez que mais de 50% desses tumores expressam essa
enzima. Sua utilizao associada a outras terapias pode ser benfica em cadelas que
apresentem tumores com alto grau de malignidade. A combinao com quimioterpicos
ainda pouco estudada e deve ser utilizada com ressalvas (RASSNICK, 2005).
29
2.7 Geoprocessamento e o cncer
O geoprocessamento, ou geotecnologia, um conjunto de tcnicas de coleta,
tratamento, manipulao e exposio de informaes georreferenciadas em uma rea
geogrfica especfica, associando mapas e dados alfanumricos da pesquisa atravs de
programas computacionais (ROCHA, 2002; SKABA et al., 2004; HINO et al., 2006).
considerada uma tecnologia de carter multidisciplinar, cujas ferramentas facilitaram o acesso
das informaes, sua organizao e anlise de modo simples, rpido e econmico (CMARA
e MEDERIOS, 1996; CARVALHO et al. 2000).
De terminologia ampla, o geoprocessamento envolve diversas tecnologias, dentre as
quais a cartografia digital, o sistema de posicionamento global (GPS - Global Position
System), o sensoriamento remoto orbital (SR) e o sistema de informaes geogrficas (SIG)
(CARVALHO et al., 2000; HINO et al., 2006).
A digitalizao de mapas cartogrficos fundamenta-se na transferncia das
informaes grficas em papel (mapas ou fotos j existentes) para o formato digital
(CROMLEY, 1992; ROCHA, 2002). Tal processo realizado atravs de sistemas de
computadores, cujos elementos que compem determinada carta so convertidos em pontos,
linhas ou polgonos em um plano cartesiano com posies referenciadas geograficamente,
baseado em levantamentos de campo com GPS, por vetorizao de fotos areas ou imagens
de satlites, ou ainda agregando todos estes recursos em um s trabalho (SILVA, 2003a;
LOPES, 2005).
O Sistema de Posicionamento Global (GPS) um sofisticado sistema eletrnico de
navegao, com base em uma rede de satlites que permite a localizao imediata, bem como
o horrio e a velocidade, de qualquer ponto do globo terrestre ou bem prximo a ele, num
referencial tridimensional. constitudo por um complexo sistema de satlites em rbita ao
30
redor do planeta, de estaes rastreadoras situadas em pontos diferentes da terra e dos
receptores GPS manuseados pelo usurio (BLITZKOW, 1995; GORGULHO, 2001;
TEIXEIRA e FERREIRA, 2005).
O Sensoriamento Remoto Orbital (SR) consiste na aplicao de determinados
dispositivos colocados a bordo de satlites ou aeronaves, que possibilitam sem o contato
fsico com o alvo, a obteno de informaes sobre os fenmenos na superfcie terrestre ou de
objetos, medindo as taxas energticas entre eles e o meio ambiente (ROCHA, 2002). Cada
corpo na natureza possui uma radiao peculiar, que pode ser absorvida, refletida ou emitida,
sendo importante tambm para diferenciao entre os corpos e a obteno de informaes
sobre sua forma, tamanho, e at mesmo sobre suas caractersticas fsico-qumicas
(MIRANDA et al.,1996).
O Sistema de Informao Geogrfica (SIG) considerada a mais completa das
geotecnologias j que capaz de englobar todas as outras. Pode ser definido como um sistema
computacional, que envolve softwares especficos para serem utilizados no armazenamento,
captura, cruzamentos de informaes e anlise de dados georreferenciados que podem ser
relacionadas entre si e com outros dados no espaciais de um banco de dados, produzindo
informaes geogrficas que podem ser visualizados sobre um mundo real com um propsito
especfico (SOUZA et al., 1993; BURROUGH e MACDONNELL, 1998; CASTRO et al.,
2003; BURSTEIN, 2002; DARCO et al., 2003; SKABA et al., 2004; PAULA e DEPPE,
2005).
Na grande maioria dos programas SIG, os dados grficos so organizados em planos
de informao denominados de layers (nveis ou camadas). Cada uma dessas camadas
contm feies grficas relacionadas espacialmente e representam um tema ou classe de
informaes com caractersticas homogneas associadas entre si atravs de coordenadas
geogrficas comuns, organizados de acordo com o foco da pesquisa (dados edafoclimticos,
31
topogrficos, tipos de vegetao, uso do solo, geologia, hidrologia, fatores socioeconmicos,
etc.). Assim, a seleo dos temas que iro compor a base de dados faz parte do processo de
modelagem do sistema e esto subordinados aos objetivos do projeto (PINA, 1999; ROB,
2003).
No decorrer dos anos, o geoprocessamento vem se consolidando como uma valiosa
ferramenta tecnolgica para as mais diversas reas de conhecimento e de atuao sobre os
meios fsico e social. Dentre as muitas aplicaes destacam-se as reas do planejamento
urbano e regional, gerenciamento de recursos, monitoramento ambiental, planejamento do uso
do solo, comunicaes, marketing, cincia geogrfica, transportes, agropecuria, segurana
pblica, prevenes de acidentes, sade pblica, turismo, pesquisa, entre outras (BRASIL,
1994; TIM, 1995; PINA, 1999; ROCHA, 2002; BAVIA 2006).
No mbito da sade pblica, relativamente recente a aplicao das tcnicas de
geoprocessamento como instrumento de anlise. A preocupao com a distribuio geogrfica
de enfermidades e a utilizao de mapas ainda bastante limitada (HUGH JONES, 1989;
BAVIA, 1996). Tal concepo originou-se com o mdico ingls John Snow em 1854, ao
tentar solucionar o problema de morbi-mortalidade por clera na cidade de Londres,
mapeando a procedncia das pessoas envolvidas no processo epidmico. Desta forma, pde
verificar que as mesmas se concentravam geograficamente em uma regio especifica, cuja
fonte de abastecimento de gua local estava contaminada pelo vibrio colrico (CAMERON e
JONES, 1983; SNOW, 1990; BAVIA, 2006).
O uso do geoprocessamento tem propiciado um novo enfoque aos estudos
epidemiolgicos, sendo possvel, atravs dessa ferramenta, a determinao da situao de
sade em uma rea, gerao e anlise das hipteses, identificao de fatores e grupos de risco,
planejamento e programao de atividades, monitoramento e avaliao das intervenes
32
(CASTILLO-SALGADO, 1996; BARCELLOS e RAMALHO, 2002; MS/OPAS, 1983;
BAVIA et al., 2005; PIKULA, 2006; CARNEIRO, 2007; LAGROTTA et al., 2008).
Atualmente, inmeros pesquisadores tm demonstrado a utilidade prtica das
geotecnologias na identificao e monitoramento das variveis demogrficas, ambientais e
socioeconmicas associadas s variaes da incidncia de agravos sade como acidentes
escorpinicos (BARBOSA, 2001; CAMPOLINA, 2006); remoo de enxames migratrios
(SANDES-JNIOR, 2007) e doenas das mais diferentes etiologias como: a Esquistossomose
(BAVIA et al., 2001; CARDIM et al., 2008), Leishmaniose Tegumentar (KAWA e
SABROZA, 2002; APARICIO e BITTENCOURT, 2004); Leishmaniose Visceral
(WERNECK & MAGUIRE, 2002; BAVIA et al., 2005; CARNEIRO, 2007), Malria (BECK,
et al., 1994; GURGEL, 2003), Dengue (MEDRONHO et al., 1993), Leptospirose
(BARCELOS et al., 1999), Raiva (RIBAS, 2005), Cisticercose (FITERMAN, 2005); Febre
do Vale do Rio Rift (POPE et al., 1992); Filariose de Bancroft (THOMPSON, 1996)
No que diz respeito s aplicaes destas tecnologias no estudo do cncer, Hbner e
colaboradores (2004) correlacionaram fatores scio-ambientais a ocorrncia dos casos da
doena em Santa Catarina e utilizaram o SIG para gerao de mapas temticos, facilitando a
atuao de gestores nas tomadas de deciso sobre divulgao, preveno e tratamento dessas
patologias.
Sclowitz e colaboradores (2005) observaram que a existncia de estudos de base
populacional sobre a prevalncia e fatores associados ao diagnstico precoce das neoplasias
mamrias em humanos de extrema importncia para diminuio de sua morbidade e
mortalidade. Trabalhos demonstram que o nvel socioeconmico um dos fatores de maior
importncia nas condutas preventivas do cncer de mama em mulheres (OMALLEY et al.,
2001; BANKS et al., 2002; SCLOWITZ et al., 2005). Exames preventivos como a
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mamografia mais frequentemente realizada por mulheres novas, de maior nvel econmico e
maior nvel educacional (SAMBAMOORTHI e McALPINE, 2003).
A categoria espao/territrio como alternativa metodolgica para estabelecer uma
aproximao entre condies e qualidade de vida de extrema importncia no m
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