Cálculo de Riscos de atividades industriais Antonio Fernando Navarro1
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Introdução ao Cálculo de Riscos
Risco é um evento que é decorrente da existência de perigos associados a situações
propícias, o qual, para que materialize, deve estar enquadrado como um evento futuro, ou seja, não estamos
tratando de algo que já ocorreu ou que está ocorrendo; o evento em questão deve ser possível, isto é tem a
possibilidade ou probabilidade de ocorrer; também tem que ser incerto, pois que se estamos tratando de
eventos certos esses já não serão riscos, mas sim eventos possíveis de ocorrer; serem independente da
vontade das partes, ou seja, não podem passar a existir com a colaboração direta ou indireta do ser humano;
serem capazes de causar perdas ou danos, e esses poderem ser mensuráveis. Se o evento não vier a causar
nenhuma perda ou dano não pode ser “matematizado”. Por outra feita, se essas perdas ou danos não puderem
ser mensurados certamente não serão repostas, já que a reposição significa a substituição por outro bem
equivalente ou igual, que somente é obtido com recursos extra, quase sempre provenientes de indenizações
de seguradoras.
O nascimento de uma criança é um risco. Ao longo de sua vida temos a certeza de sua
morte, mas não sabemos como e quando ocorrerá. Também sabemos que se a própria pessoa quiser tirar sua
vida estará cometendo suicídio. Se for atingida por uma bala poderá ser um caso de assassinato.
O lançamento de um empreendimento imobiliário é um risco. Pode dar certo ou não.
Diferentemente dos demais, um cálculo errado sobre a probabilidade de certeza de dar certo, baseado em
pesquisas insuficientes ou ultrapassadas retiram dessas todas as demais características de riscos.
Não faz muito tempo e assistimos pela televisão a explosão da Challenger, que em sua
décima missão em 1986 veio a explodir. Constatou-se a posteriori que houve falhas na manutenção do
equipamento. Se toda a análise da perda estivesse centrada na causa da ocorrência já se poderia prever a
possibilidade da perda.
Construir-se barracos na beira de encostas é um risco. Diferentemente das definições
apresentadas passa a ser um risco assumido e, em assim o sendo, certamente não será indenizado pelas
seguradoras.
Os especialistas reconhecem que os riscos são derivados dos perigos. Por exemplo,
trabalhar no alto de uma casa para instalar uma antena pode ser um trabalho perigoso. Em função disso
podem existir riscos associados, como o de queda. Assim, o risco sucede ao perigo. Destarte, um mesmo
1 Antonio Fernando Navarro é Físico, Engenheiro Civil, Engenheiro de Segurança do Trabalho e professor do curso de
Ciências Atuariais da Universidade Federal Fluminense, Mestre em Saúde e Meio Ambiente, tendo atuado em
atividades industriais por mais de 30 anos como Gerente de Riscos, principalmente em seguradoras e para o IRB Brasil
Re como Perito de grandes sinistros.
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perigo pode ser o responsável por várias causas, mas, dificilmente uma causa pode ser resultado de vários
perigos.
Uma questão aparentemente complexa é a que diz respeito à mensuração dos riscos.
Voltando ao exemplo anterior, qual seria a mensuração do risco de queda? Poderia ser em razão da gravidade
das lesões? Se, assim o fosse, como se mensurar as gravidades? Pelo número de ossos partidos ou pelo
tempo de restabelecimento do acidentado, ou quem sabe, pelos custos que a empresa teve para cuidar desse
funcionário?
Efetivamente, a mensuração dos riscos não é uma tarefa das mais fáceis, notadamente em
algumas áreas específicas. Uma dessas é a que envolve a responsabilidade civil de danos causados a
terceiros, outra a de danos morais. Muitas vezes, pela dificuldade de precificação das perdas os magistrados
passam a arbitrar valores que passam a ser adotados em outras demandas assemelhadas.
Uma das maneiras de se precificar os riscos ocorre através da estipulação de taxas, as
quais, aplicadas a valores específicos pode se transformar em um custo. Quem arbitra o valor específico
quase sempre é o ente que pode ser acionado para a reparação das perdas, também dito segurado. Quem fixa
as taxas é quem passa a se responsabilizar pelas indenizações, uma seguradora. Sob essa ótica, o segurado
que se encontrar sujeito a um risco, proveniente da execução de atividades ou trabalhos perigosos pode
encontrar o amparo ou respaldo de uma seguradora que passará a ser sua parceira na indenização proveniente
de perdas ou danos. O proprietário de um automóvel está sujeito a uma série de riscos. O automóvel pode ser
furtado, roubado ou colidir com outro veículo. Uma seguradora irá avaliar os riscos e apresentar suas taxas
para assegurar que o proprietário do veículo seja acobertado. Ambos, seguradora e proprietário do veículo –
segurado – estabelecem de comum acordo o valor do bem a ser reparado, caso se esteja tratando apenas da
reposição do bem, automóvel. Idêntico procedimento poderá ocorrer com outros riscos e outras atividades.
Contudo, há situações onde o dono do bem é o próprio segurado e o segurador e nessa condição, terá que ter
o conhecimento de quanto poderá perder se houver uma perda ou dano. Um motor elétrico está sujeito a
riscos. Alguns podem ser devido ao desgaste normal do equipamento e da forma de como ele será operado.
As peças que serão substituídas ou reparadas serão as perdas. O responsável por esses custos será o
segurado/segurador.
Inúmeros são os critérios atualmente existentes para a taxação dos riscos industriais. Sob
essa denominação podem estar acobertadas: refinarias, siderúrgicas, petroquímicas, fábricas diversas e outros
empreendimentos de mesma grandeza. Antigamente, quando ainda existiam tarifas para a taxação de riscos,
únicas para todas as seguradoras, seguia-se uma rotina de taxação, que era submetida à apreciação do
Ressegurador.
Para quem não está familiarizado com a linguagem do seguro, as seguradoras possuem
um Limite Técnico para a aceitação dos riscos e um Limite Operacional. As seguradoras podem assumir a
responsabilidade pela assunção dos riscos sozinhas, repassando o que exceda a seu limite de retenção a um
ressegurador e ou a outras seguradoras, de sorte que todo o valor segurado venha a ser acobertado por essas
sociedades. O ressegurador assume as responsabilidades excedentes das seguradoras, sendo um segurador
em um segundo nível, repassa o que ultrapassa a seus limites de retenção a outros resseguradores. Essa via é
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de mão dupla, ou seja, da mesma forma que se envia riscos essas empresas, seguradoras e resseguradoras
recebem riscos.
O vai e vem de riscos é na verdade um vai e vem de recursos, já que risco significa uma
taxa, a qual aplicada ao valor segurado do bem, o risco, é transformada no prêmio de seguros. Nesta fase
ainda está se referindo aos prêmios de riscos sem os carregamentos habituais devido às comissões de
corretagem, despesas operacionais, impostos e encargos e taxas técnicas ou carregamentos, que suprem
eventuais desvios de taxas ou de riscos.
O modelo abaixo exemplifica o limite de retenção da seguradora. Ultrapassado esse limite
há um receptáculo para o mesmo, em linguagem figurada, denominado aqui ressegurador. O que ultrapassa à
retenção do ressegurador é repassado a outros resseguradores, ou os seguradores do ressegurador. Os limites
de retenção aqui relatados são limites por riscos e não limites por carteiras de seguros.
O objeto do seguro é o risco, representado pelas suas consequências. No primeiro
exemplo, uma atividade perigosa de se instalar uma antena no telhado de uma casa é perigosa, apresenta
como um dos riscos a queda do trabalhador. Essa queda pode provocar lesões no trabalhador. São as lesões
que são indenizadas.
No ambiente dos seguradores o risco passa a ter outro significado, como: uma pessoa (no
seguro de vida ou de acidentes pessoais), uma edificação (no seguro de incêndio), um equipamento (no
seguro de riscos de engenharia ou riscos diversos), uma embarcação ou uma aeronave, nos seguros de cascos
marítimos ou aeronáuticos, e por aí segue.
Uma relação importante qualquer que seja o risco é a de que para cada risco há uma taxa,
já que os riscos podem representar prejuízos distintos. Essa taxa aplicada sobre a importância segurada do
bem termina por se transformar no prêmio de seguros. Essa pode ser agravada ou reduzida em função da boa
experiência da seguradora e do segurado não apresentar sinistros.
Em uma apólice que acoberte um edifício contra o risco de incêndio, se houver o
incêndio, não importa a causa e desde que essa esteja contemplada como risco coberto, o incêndio ocorrido é
o sinistro. Se não houver possibilidade de salvar-se nada se diz que houve a “perda total”. Caso haja a
possibilidade de se salvar algo se diz “salvados do incêndio”, que podem ficar de posse do segurado,
reduzindo a perda da seguradora, ou ficar com a seguradora, que indenizará o segurado da perda. Para que
ocorra o equilíbrio da operação as taxas devem corresponder aos riscos assumidos.
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De forma resumida, taxar-se um risco é o mesmo que avaliar-se o grau de perda, seja essa
para o segurado, indústria, ou para a seguradora. Para tal, devem ser conhecidos os modos de falha dos
sistemas, a extensão das perdas, a frequência de como essas perdas ocorrem em um determinado período e os
custos envolvidos. A taxa de risco pode ser resumida como o produto do percentual de frequência das
ocorrências com o percentual das perdas ocorridas, essas tomadas relacionando-se o que se perdeu com o
montante existente não afetado e fazendo parte do mesmo sistema e ou equipamento.
Neste artigo tratar-se-ão dos critérios de taxação dos riscos industriais, ou seja, das perdas
e ou danos que possam ocorrer em instalações industriais, que não necessariamente sejam indenizados por
seguradores.
Os riscos dos seguros industriais
“Riscos são todos os insucessos ocorridos em uma determinada fase ou época e não de
todo esperados”.
Risco não é somente o que está para acontecer ou o que temos receio de que aconteça:
• Hoje teremos o risco de um temporal; Levem os seus casacos; Não cheguem tarde da noite;
• Há risco de vocês serem assaltados, portanto, não cheguem tarde; Não andem por ruas escuras;
• Se vocês não estudarem correrão o risco de não tirar boas notas;
• Não tente consertar o chuveiro para não ter o risco de levar um choque.
Os riscos podem vir a ser encontrados em várias atividades, como:
• procedimentos cirúrgicos;
• operações financeiras;
• construções civis;
• montagens industriais;
• implantação de empreendimentos, etc.
Qualificação - identificação do tipo de risco (trata-se de um risco de incêndio, de um risco de explosão, de
um risco de danos elétricos, etc.).
Risco
Taxas
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Quantificação - determinação do valor da perda, expressa em percentual do valor dos bens ou em valores
absolutos, ou do tamanho do prejuízo a se verificar no futuro (P.Ex. o risco, se ocorrer, poderá gerar uma
perda que irá afetar 48% do patrimônio da indústria).
Quando o risco se materializa tem-se o dano. Quase sempre o dano está associado a uma
perda material, humana, patrimonial ou de responsabilidades.
Os estudos de confiabilidade, hoje traduzidos pela aplicação de softwares específicos
possibilitam que se tenha, de antemão, uma idéia do que pode ocorrer se houver um acidente ambiental. Há
mais de 25 anos já se empregavam softwares, simplificados, que avaliavam o grau de perdas materiais
causadas por eventos envolvendo explosão.
As análises até então, restringiam-se a se equiparar as perdas sofridas, com o rompimento
de um vaso de pressão de um processo, ao equivalente a uma detonação de uma carga de TNT. A partir daí,
simulava-se o impacto expansivo radial da explosão sobre as edificações, trabalhando-se com plantas que
representavam corretamente as edificações e a fonte dos riscos. Durante anos, o Ex-tool foi uma das
ferramentas mais utilizadas no mercado de seguros para a avaliação das perdas máximas admissíveis.
As construções existentes no “caminho” das ondas de explosão eram classificadas
conforme sua resistência estrutural. Ao final, o software apresentava os círculos de perdas, onde os limites
extremos eram a quebra de vidros das janelas, ou seja, os impactos de menor importância. A partir daí eram
tomadas as medidas de prevenção necessárias, quase sempre de reposicionamento dos equipamentos ou do
reforço das estruturas, com o objetivo de redução das perdas. Já naquela época aplicavam-se os conceitos de
níveis de proteção aplicados às instalações mais vulneráveis às perdas.
Entende-se o Grau de Confiabilidade como o inverso do Grau de probabilidade de Falha.
Assim, quanto maior é o grau de confiabilidade menor é o grau de falha. Um sistema altamente confiável
apresenta um baixo nível de falha. Um sistema que apresente elevado nível de falhas é pouco confiável.
Nas questões envolvendo o meio ambiente têm-se situações onde os problemas decorrem
de ações humanas e outros de ações naturais. As ações humanas não são tão simples assim de serem
analisadas, já que podem estar associadas a inúmeras variáveis. As ações naturais também são associadas a
inúmeras variáveis.
Em ambos os casos, de ações humanas e de ações naturais costuma-se praticar regras de
regressões lineares, objetivando-se reduzir os graus de liberdade assumidos pelas funções. Nesta
apresentação vamos nos ater aos acidentes ambientais de forma genérica. Os elementos pesquisados no
gerenciamento de riscos são:
• Riscos que têm maior probabilidade de ocorrência;
• Freqüência de ocorrência dos riscos;
• Causas e conseqüências das ocorrências;
• Perdas usualmente verificadas;
• Processos de prevenção existentes que venham a inibir as ocorrências.
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Os seguros industriais, pelas suas características, são sempre seguros mais técnicos,
exigindo das seguradoras análises de gerenciamento de riscos realizadas por engenheiros. Pelo porte das
empresas quase sempre chegam a ser seguros vultosos, ou seja, com valores segurados que ultrapassam a
capacidade de retenção de riscos do mercado segurador nacional, exigindo transferências de riscos para o
mercado internacional.
A qualificação do mercado segurador e a distribuição dos riscos continuamente
fiscalizada transforma as empresas em instituições com grande liquidez. Um sinistro, a efetivação do risco
sobre o evento segurado, não prejudica financeiramente a seguradora a ponto de causar sua insolvência por
falta de liquidez. Quando há um sinistro vultoso (perda elevada) certamente muitas serão as seguradoras
envolvidas, direta ou indiretamente, sem que o segurado tenha o conhecimento de todo esse processo de
repasse do risco.
Contrariamente, quando o segurado é o próprio segurador, esse participa da reposição de
todas as suas perdas. No início da década de 60 o mercado segurador passou a se beneficiar com os conceitos
de Confiabilidade de Processos, instituído naquela ocasião com o propósito de se assegurar que as perdas
seriam conhecidas. O segurado, ou o industrial pode, dependendo das circunstâncias legais e mesmo
acionárias resolver não contratar o seguro para nada. Mesmo assim deverá ter o conhecimento de suas
responsabilidades futuras com a ocorrência de acidentes. Como ele será o segurador de seus próprios bens,
auto seguro, deverá constituir reservas para fazer frente a eventuais substituições, reparos ou manutenções. A
forma de como isso ocorrerá, em termos de gestão, é idêntica a que se processa quando se contrata um
seguro.
Uma obra industrial compreende um complexo de atividades que demandam vários tipos
de serviços, alguns dos quais apresentam riscos potenciais elevados, capazes de causar inúmeras perdas ou
danos. Assim, existem atividades:
• manuais e com o emprego de equipamentos de vários portes;
• com o emprego de robôs (atividades submarinas e as realizadas em espaços confinados, principalmente
para soldas);
• com a necessidade de apenas uma pessoa e com enorme efetivo de pessoal;
• desde a simples fabricação de uma cadeira à fabricação e montagem de uma plataforma de petróleo;
• executadas no nível do chão, sob o solo ou em alturas elevadas;
• realizadas com o objeto do trabalho estático ou em movimento (P.Ex.: reparo de uma estação espacial);
• sobre o solo ou sob a água;
• com pressões elevadas ou pressões negativas;
• com temperaturas são normais ou elevadas, etc..
Cada uma dessas atividades apresenta características em específicas e que requerem do
analista de riscos ou gerente de riscos um conhecimento aprofundado do processo, principalmente para
compreender o sinistro, ou perda ocorrida, o modus operandi, se acha inserido em uma cobertura de seguros
como um item segurado ou, caso não exista o seguro para tal evento, se a falha se deveu à operação, ao
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próprio equipamento (fadiga de material ou falha de produção, construção ou montagem), ou a outros fatores
intervenientes ao processo.
Na linguagem empregada no gerenciamento de riscos, nas atividades relacionadas com a
segurança industrial ou segurança dos processos, atividades essas bem mais amplas do que as simples
análises de segurança do trabalho, o risco é mensurado multiplicando-se o resultado da frequência das
ocorrências dos acidentes com a severidade ou gravidade dos mesmos.
Pode parecer à primeira vista uma função simples, de multiplicar-se a quantidade de
ocorrências com as perdas geradas, mas não é assim como parece. Em primeiro lugar são relacionadas todas
as ocorrências identificadas ao longo de um período associando-as à perdas desde a falta de produção, danos
aos equipamentos e instalações, e processo. Depois de relacionadas busca-se obter as perdas médias e valores
de ocorrências, para estruturar a análise atuarial. A partir daí, com o apoio de conceitos matemáticos
determina-se o valor da taxa. Nessa fase passa a ser muito importante que o período de avaliação seja tão
extenso quanto se possa ter informações, e essas, tão completas quanto se requer. Muitas vezes as pessoas
mais importantes para informar as frequências das falhas são os operadores dos equipamentos, já que nem
todas as perdas ou danos são relatados. Também é importante se obter informações nos almoxarifados das
empresas e ferramentarias.
Quanto maior a frequência com que os acidentes ou falhas ocorrem mais os
empreendimentos devem investir em supervisão, controle de atividades e capacitação dos trabalhadores.
Quando a frequência é elevada isso pode significar que podem estar associadas várias questões como:
• pressa para a conclusão das tarefas,
• chefias preocupadas com a produção,
• ambientes de trabalho que propiciam a desatenção dos trabalhadores,
• ausência de supervisão dos encarregados,
• falta de manutenção dos equipamentos,
• máquinas, ferramentas ou equipamentos que baixa qualidade,
• emprego de componentes para os reparos ou manutenções não recomendados pelos fabricantes, entre
inúmeras outras questões.
Por outro lado, quando a severidade é alta a empresa deve voltar suas atenções para os
dispositivos de proteção dos trabalhadores e equipamentos, ou seja, reduzir, mitigar ou eliminar os riscos,
além de reavaliar as barreiras ou níveis de proteção, também conhecidas como camadas de proteção. Se a
probabilidade da perda for elevada algumas medidas imediatas devem ser tomadas, como:
• Identificação se a perda pode atingir outros equipamentos, componentes ou sistemas,
• Verificar se o acidente pode paralisar as atividades ou se ficará restrito ao próprio equipamento,
• Identificar se o acidente pode atingir pessoas ou instalações de terceiros,
• Avaliar se a energia dispersa com a ocorrência do acidente pode propagar-se com força suficiente
que ultrapasse as barreiras de contenção,
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• Identificar os níveis de proteção dos equipamentos e se esses são os adequados.
A associação das duas funções que compõem a equação onde o risco faz parte depende de
fatores envolvendo trabalhadores, empresa, ambiente e processos de trabalho, equipamentos empregados,
enfim, pode-se imaginar que há um “sem fim” de aspectos muitas vezes não percebidos ou identificados nas
análises de risco tradicionais e recomendadas em literaturas, como: análises preliminares de riscos, de riscos
de processo, de árvores de falhas, série de riscos e série de eventos, HAZOP, análise dos modos de falhas e
efeitos, e várias outras. Com as novas tecnologias e capacitações dos profissionais, passam a ser mais
empregados os recursos computacionais para a simulação de eventos.
No início da década de 80 a Swiss Re (uma das maiores resseguradores internacionais)
adotava um programa computacional denominado Ex-Tool para avaliação dos danos causados por explosões
de caldeiras. Na época o mercado segurador encontrava-se na dianteira das análises de riscos, principalmente
porque dispunha de bancos de dados confiáveis sobre a ocorrência de sinistros (perdas e danos) em bens
segurados e ou ressegurados com valores elevados e os utilizava para a avaliação da extensão das perdas e ou
danos e para negociar com os resseguradores taxas mais vantajosas em função de eventuais medidas de
contenção adotadas pelos segurados.
O mercado segurador, no início da década de 60, através de seus técnicos, acompanhou
de perto a mudança da cultura dos riscos. A “guerra fria” entre Estados Unidos e Rússia desenvolvia-se
largamente. Os Estados Unidos, preparando-se contra ataques de outros países lançou o projeto de misseis
balísticos intercontinentais. Para preservar as informações de projeto, foram contratadas centenas de
empresas para atuar na fabricação de partes dos mísseis, dispersas pelos vários estados americanos. Essas
empresas não tinham contato entre sí e, em assim o sendo, não sabiam das configurações finais do que
executavam. Contudo, o Governo Americano precisava encontrar um meio de que esse conjunto de
componentes que seriam unidos para a montagem do míssil tivesse o desempenho desejado. Como já havia
estudos sobre a Confiabilidade de Processos esses passaram a ser adotados em todas as fases da fabricação.
De certa forma foi a primeira incursão na área da Qualidade e, mais do que isso, assegurar-se que pelo
elevado grau de confiabilidade exigida em todos os processos ocorresse a minimização ou eliminação das
falhas. Hoje esses conceitos são largamente empregados, desde a fabricação e montagem de módulos de
plataformas de petróleo, fabricação e montagem de seções de navios, montagem de unidades de processo, e,
até o inesperado, a construção de túneis extensos.
Para o mercado segurador as falhas representam os riscos. Assim, partir-se desse conceito
para desenvolve-se atividades de Gerenciamento de Riscos foi apenas um pequeno passo, tanto que no final
da década de 70 as seguradoras nacionais, ao proporem aos resseguradores participação nos chamados riscos
vultosos, tinham que ter profissionais experientes e desenvolver relatórios sobre os riscos. A visão das
seguradoras e das indústrias era a mesma, mas os conceitos não.
Enquanto que na Confiabilidade de Processos avaliava-se o grau de confiança, no
mercado de seguros verificava-se o grau de falhas. Isso passou a ser relativamente fácil na medida em que se
criou uma relação matemática entre confiabilidade e riscos, sendo: C = 1/f, onde C é o grau de confiabilidade
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avaliado e f a frequência de ocorrências de falhas. Nessa função inversa, uma confiabilidade elevada
significa uma baixa incidência de falhas.
Em meados da década de 80 novos conceitos de enquadramento das perdas foram
apresentados para a fixação de franquias e de limites de indenização, que passaram a ser conhecidos como:
PNE – Perda Normal Esperada, nome atribuído àquelas perdas usuais e previstas de ocorrer durante um
processo ou atividade. Essas perdas eram associadas a um elemento do seguro denominado Franquia, ou a
parte do prejuízo que cabia ao segurado. As perdas normais eram esperadas e passaram se relacionar com
aquelas sob responsabilidade do segurado e inerentes aos processos fabris, como de trocas durante dos
processos de manutenção, como a quebra de uma correia, a troca de uma lâmpada ou um relé, substituição de
um coxim, entre outras tantas.
DMP – Dano Máximo Provável, maior dano que poderia ocorrer em uma instalação supondo que todos os
sistemas e dispositivos de controle e redução ou mitigação das perdas fossem acionados. Alguns desses
dispositivos são: sistemas de alarme contra incêndio, chuveiros automáticos contra incêndio (sprinklers),
sistemas fixos de gases ou de pó, barreiras corta-fogo, portas corta-fogo, dispositivos de proteção de
estruturas contra fogo ou explosão (proteções passivas ou barreiras de contenção), e uma série de outros
dispositivos. Admitia-se que os próprios sistemas de proteção existentes pudessem conter as perdas, desde de
apropriados. Nesses casos associava-se a eficácia dos dispositivos às proteções oferecidas por cada um
desses sistemas. Contou-se muito com normas produzidas pela FOC Fire Office Committee, e normas da
NFPA National Fire Protection Association.
PMA – Perda Máxima Admissível, nome atribuído à maior perda que pode ocorrer supondo que o evento
seja extinto completamente, sem a intervenção de dispositivos especiais automáticos ou não. Essa perda
também é conhecida como perda catastrófica. No dimensionamento dessa perda considerava-se que os
dispositivos de proteção falhassem encadeados ou não e que os eventos se extinguissem com a ausência do
calor, do combustível ou do comburente.
Através da PNE definia-se o nível de franquia. Por meio do DMP fixava a taxa normal e a
retenção da seguradora. Através da PMA chegava-se ao limite de catástrofe.
O importante desse comentário é que através de uma boa base de dados e algumas
ferramentas de análise poderiam ser mensurados adequadamente as perdas ou danos. Dois desses bancos de
dados se destacaram no cenário marítimo envolvendo acidentes com embarcações. Os mais empregados
eram o OREDA - Offshore Reliability Data Handbook e WOAD - Worldwide Offshore Accident Databank.
A previsibilidade de ocorrências passava a ser tão habitual quanto a identificação, através
de uma pirâmide de análise de riscos, tendo na base a quantidade de ocorrências de desvios e no topo o
evento maior. Ocorre que tanto em um caso quanto em outro, trabalha-se fortemente em análises
matemáticas envolvendo hipóteses e estatísticas. As ocorrências de acidentes nem sempre assumem o
comportamento matemático previsto. Passam a ser chamados de “pontos fora da curva”.
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Nesse cenário, de variáveis tão díspares pode-se imaginar que não ocorram acidentes? Ou
deve-se considerar que o acidente não precisa necessariamente ocorrer? Há pelo menos umas quatro décadas
atrás, entendia-se que a cada cem quilômetros de dutos lançados era previsível ocorrer uma morte, da mesma
forma que a cada quilômetro construído de ponte podia se esperar uma morte. Ou seja, a morte, como um
dos piores acidentes, era previsível, em função das características das atividades desenvolvidas.
De lá pra cá algo mudou, ou as mortes e, por conseguinte, os acidentes, ainda continuam
sendo previsíveis? De certa maneira os acidentes são ainda previsíveis. As mudanças mais substanciais que
têm ocorrido passam pela gestão dos processos, e formas de controle e ou de contenção, abrangendo o
equipamento em sí e as instalações e ambientes.
Dentro dessa ótica da análise dos processos de gestão, sem se deparar especificamente
com um deles, mas dos princípios gerais é que se irá tratar a questão dos acidentes, com um grande recorte
para a atividade industrial e sobre sua previsibilidade, apresentando algumas considerações técnicas à
respeito das obras industriais e de como podem ser evitados os acidentes, desde aqueles que envolvem o
trabalhador a aqueles que atingem o meio ambiente ou o patrimônio das empresas e de terceiros.
As inspeções de riscos
A inspeção de risco é definida como sendo o meio para o conhecimento do risco, com
vistas a determinação do nível de taxa a ser aplicada. Na verdade, a inspeção de risco não é pré-requisito para
a determinação da taxa, tanto pura, quanto estatística ou comercial. Ela atua definindo carregamentos
técnicos e informando se o risco em questão pode afetar ou vir a ser afetado por eventos originados no
próprio risco ou em riscos contíguos.
A taxa estatística é conhecida como sendo o resultado da divisão do premio estatístico
pela importância segurada, ou capital segurado do próprio risco:
Te = ((Pe ÷ ISr) x 100)%, onde:
Te = Taxa Estatística ou Taxa de Risco Puro.
Pe = Prêmio Estatístico ou Prêmio Puro sem nenhum carregamento técnico ou comercial.
ISr = Importância Segurada específica ao risco assumido, sem qualquer carregamento, impostos ou
emolumentos.
A definição matemática do premio estatístico (Pe) é a do resultado do produto do valor
matemático do risco (Vm) pelo custo médio verificado por sinistro (Cm).
Pe = Vm x Cm
Onde: Vm = nº de sinistros ÷ nº de bens sujeitos a riscos (amostra)
Cm – perda total computada ÷ nº de sinistros
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De um modo geral. O Prêmio Estatístico é a relação entre a perda total computada e o
número de bens sujeitos a riscos.
A Taxa Comercial, da mesma forma que a Taxa Estatística, também é produto de uma
divisão do Prêmio Comercial (Pc) pela Importância Segurada do Risco (ISr).
Tc = ((Pc ÷ ISr) x 100)%
Prêmio Comercial é o resultado da adição do prêmio estatístico com o carregamento
técnico comercial.
Pc = Pe + Ct
Como Carregamento Técnico (Ct) entendem-se:
• despesas administrativas da seguradora (impostos, alugueis, propaganda, pessoal, etc.);
• comissionamentos diversos;
• custos financeiros praticados;
• previsão para sinistros catastróficos;
• variações ocorridas com as características do risco, ou eventuais desvios de sinistralidade;
• taxas e emolumentos;
• sinistralidade, etc.
Por ser o carregamento um percentual do próprio prêmio comercial, costuma-se
representar sua expressão matemática como:
Pc = (Pe ÷ 1) - Ct
Como se vê, poder-se-ia taxar um risco tomando-se por base somente sua historia passada
e os valores segurados atuais, sem necessidade da realização de inspeções, desde que o risco fosse
completamente isolado de qualquer outro. Assim a ocorrência verificada, sinistro, seria somente aquela, não
haveria outra. Entretanto, nem sempre tudo é assim. Há riscos em que o segurado é mais zeloso com os seus
bens, e outros onde a possibilidade deles virem a ser atingidos por sinistros e bem maior, chegando-se a
pensar que o próprio segurado busca o sinistro.
Para a compreensão de todos esses fatos é que se recorre à inspeção de riscos. Ela sempre
deve servir como uma fotografia correta do risco a ser aceito, tirada por um bom profissional e com uma boa
máquina, de sorte que se tenham condições de aplicar a taxa justa. É importante se frisar o aspecto de que o
segurado deve ser sempre contemplado com a taxa considerada justa. O que denominamos aqui como uma
fotografia nada mais é do que um relatório preciso, bem elaborado, contendo todas as informações
necessárias para a compreensão e taxação do risco. Vários são os critérios e formas utilizadas para a inspeção
de riscos, a saber:
• Método de pontos;
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• Cálculo de apreciação do risco incêndio por série de pontos;
• Cálculo do grau de proteção;
• Método de Gretener;
• Método de Purt;
• Método de Messere;
• Método de Cluzel e Eric Sarrat;
• Método de Shibe;
• Método de Aschoff;
• Metodo de Dow;
• Método de Trabaud, etc..
Os Riscos Industriais
Os seguros industriais possuem critérios de taxação específicos e são vistoriados
periodicamente pelos engenheiros das seguradoras e do ressegurador, que avaliam se o que consta dos
critérios de avaliação realmente existe. O processo se assemelha em muito ao que ocorre nas certificações
das empresas, através da adoção de normas de gestão, como as ABNT NBR 9001, ABNT NBR 14001 e
OHSAS 18001, aplicadas, respectivamente às disciplinas de qualidade, meio ambiente e segurança e saúde
ocupacional. Assim, as visitas, dependendo do porte das empresas, podem durar dias, com o acionamento
dos sistemas de combate a incêndios e, algumas vezes, com simulados.
Um aspecto interessante é que o grau de especialização das empresas cresce na medida
que o mercado segurador também cresce, já que as demandas passam a ser cada vez mais complexas e
representam custos mais elevados.
O Mercado Londrino, considerado como referência durante centenas de anos, começou a
se estruturar após o grande incêndio que atingiu a cidade de Londres em 1.666. A partir da descoberta do
risco, a cidade e a Prefeitura começaram a impor sanções e ao mesmo tempo obrigar a existência de
dispositivos de combate a incêndios, desde pá a baldes de couro, enfim, a população, preocupada com o risco
e com a possibilidade de não ter como repor o que foi perdido, passou a se proteger. Na Inglaterra, logo após
o grande incêndio e após frustradas as inúmeras tentativas individuais, que mais se assemelhavam a brigadas
de incêndio de bairros, surgiu a primeira seguradora, constituída em 1.710, sob o nome de The Sun Fire
Office, atuando especificamente na área de seguros contra incêndio. Essa empresa hoje faz parte do grupo
Royal & SunAlliance, considerada a maior seguradora Britânica.
O grande incêndio que praticamente destruiu a cidade de Londres ocorrido no século
XVII, e o advento da máquina a vapor, já na revolução industrial, possibilitou o rápido desenvolvimento de
novas modalidades de seguros, de forma a atender a um crescente mercado consumidor. Grandes acidentes
naturais, como tormentas, maremotos, terremotos, furacões, ciclones, tornados, vieram demonstrar a
premente necessidade do seguro em todos os segmentos, inclusive os industriais. As indústrias ficam mais
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vulneráveis pelas peculiaridades de suas construções e dimensões. Os acidentes naturais são responsáveis por
bilhões de dólares de prejuízos, quase que totalmente assegurados.
Determinando as Taxas de Riscos
A palavra Risco dá margem a uma série de interpretações. Contudo, está sempre
associada, em qualquer caso, a: um insucesso, um perigo, uma perda ou um dano. Riscos são todos os
insucessos ocorridos em uma determinada fase ou época e não de todo esperados. Os riscos podem vir a ser
encontrados em várias atividades. Algumas das que procuramos destacar são as seguintes:
• procedimentos cirúrgicos;
• operações financeiras;
• construções civis;
• montagens industriais;
• implantação de empreendimentos, etc.
Para que a definição fique mais clara, o insucesso é traduzido como um fato gerador de
perdas materiais, financeiras ou pessoais. Tem-se então uma ampliação do conceito para o mercado
segurador.
a) riscos puros
Os riscos puros são aqueles onde há somente duas possibilidades: perder ou não perder.
Não existe a chance de nada acontecer, ou seja, quase que o risco materializou-se.
b) riscos especulativos
Nos riscos especulativos há possibilidade, além da perda ou da não perda, do ganho. O
componente adicional desse enquadramento é o do ganho, que até então não era abordado. Em um jogo,
qualquer que seja ele, pode-se perder, pode-se ganhar e pode-se não perder se não houver a participação do
jogador.
O risco especulativo é diferenciado dos demais riscos por possuir um componente
adicional de ganho, componente esse inexistente nas outras categorias de eventos. Por exemplo, a análise de
um empreendimento imobiliário, em lançamento, é um risco especulativo, já que o mesmo poderá redundar
num ganho. Aplicações em mercados financeiros também são riscos especulativos.
Riscos voluntários
Riscos voluntários são todos aqueles incorridos conscientemente pela empresa ou por
seus funcionários. A morte de soldados durante uma guerra travada entre dois países é um risco voluntário
do país invasor. A navegação em um mar revolto é um risco voluntário do comandante da embarcação.
Atravessar a pé uma grande avenida com o sinal de pedestres fechado é um risco voluntário do próprio
pedestre.
Riscos voluntários também podem ser identificados como todos aqueles em que há um
ato voluntário o qual induz à participação humana no evento. A criança que acende uma fogueira está
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praticando um risco voluntário, porque ela assim o quer, ou seja, deseja acender o fogo. Pode estar
praticando o ato de forma consciente ou não. O risco voluntário enquadra-se na categoria de riscos puros.
Riscos acidentais
Riscos acidentais são os riscos ocorridos sem que tenha havido contribuição voluntária
para tal. O desabamento de um prédio, o alagamento de um pátio de estocagem são riscos acidentais. Os
riscos a que estão sujeitos os construtores são também riscos acidentais. Para que não haja conflito de
interpretação os riscos acidentais podem ser enquadrados dentro das características daqueles decorrentes das
atividades normais de uma empresa, gerados acidentalmente. Da mesma forma como nos riscos voluntários,
os riscos acidentais também são riscos puros.
Riscos aleatórios
Riscos aleatórios são aqueles eventos ocorridos sem a participação humana, tais como:
terremotos, tremores de terra naturais, vendavais, furacões, enchentes, inundações. Na linguagem de seguros
são considerados os eventos de causa externa. Os riscos aleatórios também são conhecidos como riscos da
natureza. A aleatóriedade dos riscos indica que não podem ser previstos. Podem ocorrer a qualquer
momento. Atualmente, com a adoção de dispositivos de monitoramento e controle mais eficazes, pode-se
prever com razoável antecipação a ocorrência de furações e tornados, de terremotos e maremotos, de
erupções vulcânicas e outros riscos da natureza de características catastróficas. A ciência está em uma
velocidade de aprimoramento tal que há controle de queda de meteoros, que estejam enquadrados
tecnicamente em certas dimensões que sejam captadas pelos instrumentos ópticos.
Hoje em dia, com a evolução da informática, o homem já consegue modelar parâmetros
da natureza, com uma margem de erro bastante reduzida. Em nível de condições atmosféricas as análises já
indicam uma previsão com até 5 dias de antecedência, com margens de erro inferiores a 10%. Computadores
mais poderosos já conseguem aumentar o percentual de Confiabilidade das informações, auxiliando em
muito os agricultores em suas tarefas, informando as épocas de secas e de chuvas. Isso não quer dizer que os
riscos, com essas análises estarão deixando de possuir algumas daquelas particularidades a eles inerentes,
quais sejam, a de serem futuros e principalmente incertos.
Uma segunda classificação define os riscos como:
Estáticos Dinâmicos
a) Riscos Dinâmicos
São os derivados da atividade financeira especulativa. O risco do sucesso de um
lançamento imobiliário é um risco dinâmico, da mesma forma que o lançamento de um novo produto no
mercado consumidor.
Esses riscos não são sujeitos, normalmente, a um processo de Gerenciamento de Riscos.
Até o podem ser. Dentre os fatores que impedem uma avaliação mais criteriosa estão: dependência de fatores
externos ao processo, como por exemplo, conjunturas econômicas; execução inadequada do projeto ou
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execução do projeto por empresa ou pessoa que não levou em consideração ou não foi convenientemente
informada de parâmetros importantes.
Se uma empresa resolve lançar um empreendimento imobiliário em um momento em que
o País está em crise ou com falta de liquidez certamente terá dificuldades em vendê-lo. Por outro lado, se o
projeto é maravilhoso mas o local não é adequado com certeza o maior impeditivo da venda será o preço
cobrado de cada uma das unidades lançadas.
b) Riscos Estáticos
São todos aqueles em que a efetivação do evento pode ou deve pressupor uma perda ou
uma redução do patrimônio humano ou material da empresa. Um incêndio ou um alagamento são riscos
estáticos. A determinação da magnitude ou da gravidade dos riscos estáticos deve ser feita partindo-se dos
seguintes dados:
• aleatóriedade das ocorrências de perdas;
• freqüência das ocorrências;
• valores médios das perdas;
• valores acumulados de perdas previsíveis e esperadas;
• perda máxima possível, e outros dados estatísticos.
Na medida em que se define uma freqüência de ocorrências, quantificando-a e se avalia a
extensão provável das perdas verificadas tem-se uma real noção da magnitude do risco, de seu tamanho ou
expressão. Esse dimensionamento possibilita que se determine o risco, em termos numéricos.
Qualquer processo de avaliação de riscos conduz sempre a dados empíricos. Quando se
diz que a probabilidade de uma pessoa morrer pela descarga elétrica de um raio é de 0,0000001% não se está
afirmando que a cada 1.000.000 de pessoas morrerá uma eletrocutada. Quer dizer que de um universo de
pessoas estudadas, o número de mortes por eletrocussão é de 1 para cada 1.000.000. Assim, a freqüência da
ocorrência será de 1 para cada 1.000.000, ou 1:1.000.000.
Ainda tratando do mesmo exemplo de queda de raio, a medida do risco é dada,
principalmente, por dois parâmetros, a saber:
# freqüência: um acidente a cada 1.000.000 de pessoas da amostra;
# gravidade: uma morte por eletrocussão ou uma morte para cada parcela da população sujeita
a risco.
No segmento industrial são utilizadas técnicas de Engenharia de Confiabilidade para a
mensuração de riscos, complementarmente às várias técnicas de Gerenciamento de Riscos existentes,
envolvendo conceitos de Confiabilidade.
Critérios para a determinação das Taxas de Riscos
Quase sempre os critérios de determinação das taxas de riscos iniciavam com a análise
das plantas (desenhos) das instalações da empresa. Nessas plantas eram indicados os principais riscos, os
meios de proteção existentes contra o combate a riscos, as distâncias entre os demais locais, os valores
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envolvidos, os meios de desocupação do local, a possibilidade dos sinistros (eventos) serem debelados
através de meios próprios e em caso contrário, as facilidades existentes que poderiam possibilitar o acesso de
meios externos de apoio. Em resumo, analisavam-se todos os aspectos positivos e negativos supondo que os
riscos pudessem ocorrer em qualquer ponto da indústria e alastrar-se por qualquer meio.
Nessa primeira fase as tarifas e manuais técnicos não saiam de sobre as mesas dos
underwriters, ou subscritores de riscos. Em uma segunda fase eram analisadas as estatísticas dos riscos.
Assim, a determinação de taxas para uma indústria, como um todo, sempre foi uma das
tarefas menos fáceis, mesmo com toda a tecnologia existente, porque, em uma mesma empresa há riscos com
características de todos os tipos, com vários níveis de gradação de perdas, enfim, há milhares de riscos, os
quais, se somados para a obtenção de uma única taxa para uma indústria tornaria o processo de taxação
inviável para a empresa seguradora e para a própria indústria, essa em função dos custos que seriam
cobrados.
Por exemplo, em uma única área, como o de processamento de uma petroquímica, pode
haver riscos de explosões de quebra de equipamentos, de acidentes elétricos, de perda de produção, de
derrames de materiais, enfim, muitos são os riscos. Um dos conceitos que nunca mudou foi o de se avaliar os
riscos das indústrias em função dos níveis de proteção existentes, na medida em que, quanto mais eficazes
fossem os sistemas de detecção e combate aos riscos, menores seriam as perdas ocorridas.
De certa maneira, a lógica é bem simples. Maiores proteções podem corresponder a
menores riscos. Entretanto, mesmo nesses processos de simplificações deve-se contar sempre com a
possibilidade do dispositivo de segurança adotado não vir a funcionar corretamente, assim, não basta apenas
possuir os equipamentos e esses serem os adequados, também devem estar funcionando adequadamente.
Um desses exemplos é o do risco de explosão de caldeiras e vasos de pressão. Quando há
uma explosão são formadas ondas de impacto que se irradiam do ponto onde foi formada. Essas ondas vão
quanto mais distantes se encontrem do ponto de origem, perdendo força. No início podem destruir
edificações, ao final podem apenas vibrar vidros de uma janela. Nesse caso, não há um dispositivo de
proteção específico. Os equipamentos possuem válvulas de alívio. Os equipamentos possuem pontos onde o
excesso de pressão pode ser extravasado. Ou seja, os projetistas preveem que os riscos, quando ocorridos,
possam ser minimizados. Nas panelas de pressão caseiras, para o cozimento do feijão, há uma válvula central
cujo peso produz uma pressão interna de uma atmosfera e outra válvula de segurança. Falhando a válvula
principal é acionada a válvula complementar. O mesmo ocorre com os equipamentos de pressão das
indústrias, que trabalham com pressões centenas de vezes maiores do que a de uma simples panela de
pressão caseira. Entretanto, as falhas podem ocorrer. Até por essa razão é que houve tanto progresso dos
estudos de Confiabilidade de Processos, associando-se estudos de confiabilidade a estatísticas, mecânica,
instrumentação, processos, enfim, a união de vários conhecimentos. Nos tempos mais antigos, quando esses
estudos ainda não eram tão sofisticados e técnicos, as empresas terminavam por enclausurar as áreas de
riscos, construindo grossas paredes de alvenaria ou de concreto, auto portantes direcionando as ondas de
explosão para cima, e não radialmente. Desta maneira protegiam-se os equipamentos nas proximidades e os
custos dos seguros eram menores.
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Uma das seguradoras mais antigas do mercado segurador, fundada em 1866 foi The
Hartford Steam Boiler Inspection & Insurance Company, conhecida como Hartford Insurance Company, que
se notabilizou por possuir elevada expertise na análise de equipamentos sujeitos à pressão, como caldeiras,
por exemplo. Atualmente a empresa faz parte do grupo Munich Re e possui mais de 1.200 engenheiros
especializados na análise de riscos industriais.
Ainda existiam situações onde os equipamentos críticos, em termos de geração de riscos,
ficavam distantes dos demais, quase que da mesma forma que o empregado na distribuição dos paióis de
pólvora, onde os mesmos são construídos semi enterrados e tendo ao redor elevações de terra formando
pequenas colinas. As taxas aplicadas contemplavam a existência dessas distâncias. Ainda hoje, quando se
refere ao depósito de material explosivo, o volume admitido para estocagem em um só lugar depende da
distância que o depósito se encontra das demais construções.
Desta maneira, mesmo simplificando ao máximo os processos de taxação ainda assim a
questão da adequada mensuração torna-se uma tarefa bem difícil. Em um simples exemplo, um sistema de
combate a incêndio através de hidrantes é considerado como um bom dispositivo. Uma rede de hidrantes
bem dimensionada e com os dispositivos adequados pode combater praticamente todos os tipos de incêndio,
inclusive os envolvendo subestações. Nesses casos empregam-se dispositivos do tipo protector spray nas
saídas, ao invés de lançar-se um jato contínuo. Contudo, para que o sistema funcione, em cada uma das
saídas das canalizações, onde há registros, devem ter mangueiras e esguichos. Além disso, o sistema deve ter
sistema de bombeamento, cuja adução se faz através de reservatórios elevados que são alimentados por
cisternas. Se não há água suficiente na cisterna ou no castelo de água, mesmo que a equipe seja muito boa e
as mangueiras estejam posicionadas corretamente pode-se ter uma falha no processo. O sucesso da extinção
ocorrerá com o equipamento em condições operacionais operado por pessoal competente, habilidoso e pró-
ativo.
As probabilidades de falhas, processos esses que até algumas décadas atrás não eram tão
importantes assim passaram a ser importantes, na medida em que cada componente de um sistema deve ter o
desempenho esperado, não menor ou maior, mas sim aquele esperado para que o conjunto funcione
adequadamente. Desta maneira, passamos a compreender que em uma indústria passa-se a considerar como
sistemas ou blocos, tanto os riscos, quanto os processos e os sistemas de detecção e combate a incêndios. Se
um desses blocos falha todo o conjunto passa a apresentar um resultado que não é o esperado.
Uma das teorias que não é específica para o caso em questão, mas que se aplica muito
bem ao que informamos é a teoria dos dominós desenvolvida por Heinrich. Nessa, cada peça representa uma
etapa do processo ou um bloco do sistema. Se esse falha a tendência é a de todo o conjunto falhar. Na cadeia
dos dominós terminamos torcendo para que a peça que caia não seja a primeira, e sim, se tiver que cair, a
última, já que a primeira tem a probabilidade de derrubar todas as demais.
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Os cinco fatores na sequência do acidente - HEINRICH, 1959.
1. personalidade;
2. falhas humanas no exercício do trabalho;
3. causas de acidentes (Atos Inseguros e Condições Inseguras);
4. acidente;
5. lesão.
Uma das conclusões era de removendo uma única peça do dominó a sequência de quedas
seria interrompida, evitando, assim, a ocorrência do acidente. Portanto, as ações de prevenção deveriam se
concentrar nos fatores que antecedem a ocorrência do evento indesejável.
Para Heinrich (1959), o erro humano é o que apresenta a maior probabilidade de
contribuir para a ocorrência do acidente, podendo ser considerado como ponto central. O erro pode ser
decorrente de modos de falha como: conhecimento, atitude, aptidão e habilidade.
Em artigo publicado na Revista Proteção, nº 241, NAVARRO, A.F. & LIMA, G.B.A,
intitulado Desafios da NR-18, p. 72, pp.72.80, janeiro, 2012, Navarro cita que ao longo de 20 anos de análise
de acidentes identificou que a participação humana se dava por vários motivos, como:
Fatores Principais Fatores Contributários
Fome Má alimentação Falta de alimentação
Doença Mal estar Uso de medicamentos que prejudiquem seu equilíbrio ou compreensão
Drogadição Uso de drogas lícitas ou não, que prejudiquem a compreensão ou o desempenho do trabalhador
Pressa
Término da jornada Término do serviço Fome Mal estar físico ou emocional Pressão pelo término da atividade Jornadas excessivas Situações anormais no ambiente do trabalho, como por exemplo, a proximidade do corte de energia elétrica, a necessidade imediata de um ajuste ou reparo de um equipamento, a interrupção momentânea de um setor da empresa, entre outros.
Desatenção
Doença Fome Mal estar físico ou emocional Possibilidade do time de futebol vir a ganhar ou perder logo mais Possibilidade de vir a receber algum telefonema, seja para um novo emprego ou de casa, por algum problema Problemas familiares Problemas financeiros Condições físicas do ambiente do trabalho Condições ambientais adversas Conversas excessivas ao redor
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Jornadas excessivas
Stress
Doença Fome Possibilidade de demissões no trabalho ou do corte de pessoas ou da redução das atividades Ambiente do trabalho Relacionamento interpessoal no trabalho Condições ambientais adversas Jornadas excessivas Local escuro, mal iluminado ou excessivamente iluminado Pressão pela conclusão das tarefas Pressão pelas chefias ou colegas
Falta de treinamento ou capacitação
Não realização de treinamento Treinamento mal transmitido Baixa capacidade de assimilação
Falta de habilidade Compreensão do treinamento Compreensão da atividade Falta de habilidade
Falta de conhecimento Cultura Formação escolar
Problemas psicológicos Doenças / transtornos Transtornos motivados por pressão Fatores motivacionais
Problemas familiares Doenças em família Pressões financeiras
Condições ambientais adversas
Frio Calor Umidade Vibração Movimentação de máquinas e equipamentos
Aspectos ergonômicos
Posto de trabalho Ambiente de trabalho � Ruído � Frio ou Calor � Vibração � Insolação excessiva � Falta ou excesso de iluminação � Conversas excessivas ao redor
Condições de trabalho
Em outra seguradora americana, dos segmentos de property, ou danos materiais,
Insurance Company of North America, foram desenvolvidas análises semelhantes a que tinha se dado a 30
anos, contando com o apoio de Frank Bird Jr., estudioso da área prevencionista, que, no princípio da década
de 50, tomando por base a indústria de seu país, verificou que a prevenção contra acidentes estiva limitada
somente à prevenção contra lesões incapacitantes. Julgava que, para haver algum progresso, não se poderia
esperar a morte do trabalhador para reconhecer o acidente. Já naquela época a Pirâmide de Heinrich que
apresentava uma relação de 1 para cada 29 e para cada 300, já estava sendo aceita no meio industrial como
uma das formas de prevenção dos riscos. Assim, passou a se preocupar também com os acidentes que
provocavam lesões sem perda de tempo e com os acidentes sem lesão.
Em 1954, Bird deu um notável passo no desenvolvimento prevencionista, quando iniciou,
na companhia siderúrgica Luckens Steel Company, com mais de 5.000 empregados, da Filadélfia, um
programa de controle de danos à propriedade. Nesse programa havia a necessidade de se buscar a
identificação, registro e investigação dos acidentes com danos à propriedade, e a determinação de seus custos
para a empresa, para, em seguida, serem tomadas as devidas ações preventivas.
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De 1959 a 1966, a Luckens Steel Company estabeleceu um programa de controle de
todos os acidentes, envolvendo uma análise de 75.000 envolvendo danos patrimoniais e 15.000 acidentes
pessoais, com lesões, dos quais 145 se classificaram com incapacitantes, durante um período de sete anos.
Através dessas investigações Bird propôs um programa de Controle de Perdas e Danos.
Essa estratégia tinha como finalidade principal reduzir ou eliminar as perdas dos acidentes com danos
materiais, sem descuidar dos acidentes com danos pessoais.
Da mesma forma que seu antecessor, definiu quatro aspectos principais em que se
baseava para o desenvolvimento de programas de controle de perdas: informação, investigação, análise e
revisão do processo. O resultado de seu trabalho foi publicado em 1966 sob o título de Pirâmide de Bird.
Nessa verifica-se que para cada acidente com lesão incapacitante, ocorriam 100 acidentes com lesões não
incapacitantes e outros 500 acidentes com danos à propriedade.
Bird (1966) estabeleceu também em seu trabalho a proporção entre os custos indiretos
(não segurados) e os custos diretos (segurados). Tais custos têm por objetivo dar uma idéia de como cada
empresa pode estimar os seus custos individuais em seus programas de Gerenciamento de Riscos. Na década
de 70 foram implantados os programas baseados em conceitos de Taylor e Fayol.
Em 1969, ou seja, três anos após haver concluído a série de pesquisa na Luckens Steel
Company, Bird, estando agora a serviço do Instituto Internacional de Controle de Perdas, contribuiu com sua
experiência para o estudo sobre acidentes industriais que a Insurance Company of North America realizou.
Foram analisados 1.753.498 acidentes, informados por 297 empresas que representavam 21 grupos
industriais, com 1.750.000 empregados que trabalharam mais de três bilhões de horas-homem, durante o
período de exposição analisada.
Foi uma amostra consideravelmente maior do que as anteriores, a qual possibilitou que se
chegasse a uma relação mais precisa que a de Bird. Nesse estudo, foi introduzida também a análise do quase-
acidente, ou seja, acidentes sem lesão ou danos visíveis, pois que esses revelavam potenciais enormes de 69
acidentes, situações com risco potencial de ocorrência sem que tivesse ocorrido ainda a perda pessoal ou não
pessoal. O resultado final desse estudo indicou que para cada acidente com lesão incapacitante (lesão grave),
ocorriam 10 acidentes sem perda de tempo (lesões leves), 30 com danos à propriedade e 600 acidentes que
não representavam lesões ou danos visíveis (quase-acidente). A atuação na base da pirâmide não era a
prioridade, mas sim um complemento da análise.
Em conseqüência dos resultados das diversas experiências em que Bird atuou ou orientou,
criou-se interesse para que muitos especialistas viessem a conhecer sua obra dentro de vários países. Com
isso, numerosos programas de controle de danos foram implantados e novas experiências realizadas.
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Pirâmide de resultados de Frank Bird (1969) da Insurance Company of North America
No final da década de 90 a DUPONT com base em sua experiência em mais de 200 anos
de existência, e apoiando-se nos estudos anteriores criou uma Pirâmide de Desvios, acrescentando um nível a
mais do que o acrescentado por Bird, em relação ao trabalho original de Heinrich.
Pode ser destacado que os dois primeiros trabalhos voltavam-se a ações de redução dos
níveis de perdas indenizadas seja envolvendo pessoas quanto o patrimônio, trabalho esse bastante enfatizado
por Bird. A visão da DUPONT foi a de unificar os conceitos de prevenção de perdas, migrando para o
conceito de prevenção de Riscos. Baseando-se em sua própria experiência a empresa chegou a números
como os apresentados a seguir.
Pirâmide definida por Du Pont du Neymors
Uma questão que deve ser destacada é a que em todas as três pirâmides os valores
crescem decuplicados. Também em todas há um evento topo, ou evento indesejado. Talvez por isso essas
pirâmides possam ser aplicadas a outras áreas como a de Meio Ambiente e a de Saúde, como poderemos
observar mais adiante.
A técnica de Gerenciamento de Riscos voltava-se à identificação das origens de eventuais
sinistros, os quais, reclamados pelos segurados transformavam-se em perdas indenizadas. Ao longo de todo
esse período de mais de 30 anos, avaliamos não só as questões de property (danos ao patrimônio), como
casualty (danos de responsabilidade), marine (danos a embarcações e todo o meio flutuante), engeneering
risks (Erection all risks, Construction all risks e Machinery breakdown insurance) (riscos de engenharia, com
construção e montagem, obras civis e equipamentos), e personal lines (riscos a pessoas).
Durante o período entre 1978 a 2000 aplicamos os conceitos de gerenciamento de riscos
em mais de 500 empresas. Seguramente nessas também ocorriam problemas semelhantes aos encontrados
por Heinrich e por Bird. Utilizando todo o material coletado, os resultados de nossas pesquisas e os relatórios
elaborados definimos também uma Pirâmide de Desvios, que resolvemos denominar de Matriz de Desvios,
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pois que os resultados práticos dessas análises são muito mais de gestão e prevenção. O resultado a que
chegamos foi que, antes mesmo que os desvios possam se manifestar, há questões envolvendo o
conhecimento (cultura) das pessoas e a vontade.
De posse dos resultados dessas auditorias, lançadas em cadernetas, no início, e
posteriormente no sistema, pelo próprio auditor, eram extraídos o total de atos inseguros, o total de condições
inseguras, o total de desvios apontados e o total de pessoas observadas, avaliando as seguintes questões:
1. Emprego correto dos EPIs conforme atividades desenvolvidas
2. Utilização correta e adequada de Ferramentas e Equipamentos
3. Identificação da posição das pessoas quanto a possibilidade de sofrerem acidentes
4. Atendimento aos procedimentos adotados para a execução das atividades
5. Reação comportamental das pessoas com a aproximação dos membros da equipe auditora
6. Organização e limpeza da área de Trabalho
O resultado final era representado por uma planilha, por unidade, com a indicação do HH
programado, HH realizado, % de realização de auditorias, total de desvios observados durante o período
(mês) e a quantidade de desvios observados por hora de auditoria realizada. No período foram analisadas
18.300 auditorias realizadas e 1.280.000 desvios significativos e confirmados. Sim, porque, periodicamente
tínhamos que ir ao campo, e avaliar o panorama geral, para que pudéssemos nos certificar se poderia haver
um auditor lançando mais desvios do que os efetivamente existentes. Transformando esses períodos para
períodos anualizados, chegamos ao seguinte resultado, estratificado a seguir. Deve ser ressaltado que não
ocorreram mortes e nem acidentes com afastamentos, tendo esses sido deduzidos através de métodos
matemáticos de modo a compor a imagem para comparar-se com as demais anteriores:
Triangulo de Desvios de Navarro (2012)
Morte
1
Acidente com
Afastamento
50
Acidente sem
Afastamento
120
Quase Acidentes
310
Desvios
750
Desconhecimento dos Riscos
1300
Desconhecimento Técnico
3500
Nível de ações
proativas
Nível de ações
reativas
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Na avaliação anualizada, a exemplo das demais pirâmides estudadas e apresentadas, o
desconhecimento técnico do empregado faz com que ele não tenha o adequado conhecimento dos riscos.
Pelo fato de desconhecer os riscos termina por cometer desvios técnicos, de procedimentos e de conduta. Ao
cometer os desvios pode estar sujeito a assumir postura ou posição onde haja maior probabilidade de sofrer
acidentes.
Assumindo a postura ou posição inadequada ou desconforme passa a ter maior
probabilidade de ser atingido ou se envolver em acidentes, a princípio sem afastamento, posteriormente, e na
continuidade da postura não conforme tem maior probabilidade ainda de sofrer acidente com afastamento e,
por fim, acidente grave incapacitante ou até morte.
Retornando ao tema da taxa de riscos, essa é proveniente de uma enorme gama de
disciplinas. Trata-se da matemática pura, da estatística, dos estudos de processos, da análise de
equipamentos, do conhecimento dos processos, ou seja, a visão deixa de ser apenas um “achismo” para uma
análise onde se consiga provar que é correta, seguindo do princípio para o fim ou do fim para o começo.
O seguro, em uma descrição simplificada é uma operação contratual onde o proprietário
de um bem oferece a alguém, empresa, a responsabilizá-lo repondo ou reparando o bem, bastando para isso
que o proprietário pague o que se denomina de prêmio de seguros. Assim, há um acordo com regras bem
claras, onde se discrimina o que será acobertado, quais os riscos que serão levados em consideração, o que
será excluído e o que não será objeto do seguro. Ajustadas as partes assina-se a apólice de seguros.
Todavia, essa é a parte mais simples do processo. O quanto custará o risco assumido
normalmente é a grande preocupação dos Atuários e dos gerentes de Riscos das Seguradoras, já que, com seu
conhecimento, compreensão do risco e experiência pessoal e do mercado poderá informar o valor do custo
do risco.
Análise da Questão
Denomina-se custo do risco a parcela do preço do seguro onde o segurador passa a ser o
responsável pela indenização. O custo é na verdade uma taxa resultado de uma análise técnica que é aplicada
ao valor do bem, esse atribuído pelo segurado. Essa, aplicada ao valor dos bens representa o custo do risco.
A esse são agregados outros custos melhor exemplificados mais adiante (despesas de comercialização,
impostos e encargos financeiros, despesas operacionais, entre outras), transformando-se em custo do seguro.
Em 1996, sob o título: Gerenciamento de Riscos Industriais, registramos na Fundação
Biblioteca Nacional - Ministério da Cultura - Escritório de Direitos Autorais - Certificado de Registro ou
Averbação nº 123.087, Livro 190, Folha 202 a publicação de onde iremos tirar alguns conceitos sobre o
tema.
Assim, no início da prática do Gerenciamento de Riscos, nos finais da década dos anos
70, observamos que os conceitos terminavam se mesclando, e que o seguro quase nunca era a causa e sim o
efeito, ou a consequência, para o resultado da aplicação da técnica de gestão. Passamos a compreender que o
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seguro é uma forma de tratamento dos riscos. É uma das maneiras de se recompor um patrimônio afetado por
uma perda ou por um dano.
O mercado de seguros sempre foi um dos pioneiros no incentivo ao desenvolvimento de
ações para a identificação das perdas e danos, com o objetivo da aplicação de medidas de prevenção. As
análises de conduziram aos estudos que redundaram em estratificações das principais causas dos acidentes é
muito semelhante ao das técnicas de gerenciamento de riscos.
As medidas preventivas a serem adotadas dependem do reconhecimento das causas que
podem ser identificadas por meio da coleta de dados durante a investigação dos acidentes, como a Técnica
dos Por Quês, no nosso exemplo anterior.
O uso dos quadros estatísticos (baseados nos dados coletados) pode ser considerado,
portanto, como fundamental para a programação de prevenção de acidentes.
Ainda como mérito de Herbert William Heinrich, concluiu-se que em qualquer
discussão sobre causas e modelos para estimativa de custo de acidentes, não se pode esquecer que não há
uma lógica para definir a ocorrência de um acidente, mas sim, dados estatísticos que apontam para algumas
questões dominantes. Essas questões podem ser posicionadas tal qual dominós, onde a queda de um termina
por provocar a queda de todos.
Algumas das questões pesquisadas partiam da hereditariedade e do meio, passando pela
inadequação pessoal e terminando com o ato perigoso, o acidente e, finalmente, à lesão. H. W. Heinrich e
Roland P. Blake foram os primeiros a apontar que apenas a reparação de danos não era suficiente e, sim, a
necessidade de ações tão ou mais importantes, que além de assegurar o risco de lesões, tendessem a prevenir
os acidentes.
Isso significava que 88,0% dos acidentes são provocados por atos inseguros, 10,0% por
condições inseguras e 2,0% por causas fortuitas e ou imprevisíveis. Em nossa história inicial tivemos o ato
inseguro, o ambiente inseguro, condições inseguras e causas fortuitas. A conclusão dos estudos dos dois
profissionais ficou conhecida como Pirâmide de Heinrich, publicado inicialmente em 1931, onde para um
acidente com lesão incapacitante, correspondiam 29 acidentes com lesões não incapacitantes e 300 acidentes
sem lesão, que não necessariamente não eram relevantes. Esses acidentes eram considerados sem lesão pois
que não havia a cobertura de seguros para os mesmos. Heinrich teve o grande mérito de entender essa
questão, que poderiam existir outras causas que muitas vezes não se dava a importância devida porque não
era indenizadas.
Essa grande parcela de acidentes sem lesão não vinha sendo considerada, até então pelas
seguradoras, pois que não representavam indenizações, ou seja, não eram perdas que pudessem ser
reclamadas. Entretanto, os pesquisadores notaram que havia uma lógica nos números e que essa poderia ser
estendida a todas às demais empresas pesquisadas. A partir de então, a preocupação maior não era mais a
reparação, mas sim a aplicação de medidas preventivas que impedissem a ocorrência de um acidente.
Certamente os custos de tais medidas preventivas seriam menores do que os custos das indenizações
promovidas.
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Pirâmide de Herbert William Heinrich e Roland P. Blake 1931
No final da década de 90 a DUPONT (Du Pont du Neymors) com base em sua
experiência em mais de 200 anos de existência, e apoiando-se nos estudos anteriores criou uma Pirâmide de
Desvios, acrescentando um nível a mais do que o acrescentado por Bird, em relação ao trabalho original de
Heinrich. Pode ser destacado que os dois primeiros trabalhos voltavam-se a ações de redução dos níveis de
perdas indenizadas seja envolvendo pessoas quanto o patrimônio, trabalho esse bastante enfatizado por Bird.
A visão da DUPONT foi a de unificar os conceitos de prevenção de perdas, migrando para o conceito de
prevenção de Riscos. Em programa de capacitação em setembro de 2006, relatava-se que, de cada 100
ocorrências 96% deviam-se a atos praticados pelos próprios trabalhadores e o restante a fatores externos ou
do ambiente do trabalho. No desenvolvimento das explicações, ressaltava, sem exposição de números, os
seguintes resultados:
Apenas o mau posicionamento das pessoas e o emprego de ferramentas e equipamentos
fora de padrões ou com algum tipo de comprometimento eram responsáveis por mais da metades dos desvios
observados. Isoladamente, o trabalhador tinha uma grande expressão nesse cenário por cometer os desvios
intencionalmente ou não, e até por isso a principal vítima do processo de “fabricação de acidentes”,
Na avaliação anualizada, a exemplo das demais pirâmides estudadas e apresentadas, o
desconhecimento técnico do empregado faz com que ele não tenha o adequado conhecimento dos riscos.
Pelo fato de desconhecer os riscos termina por cometer desvios técnicos, de procedimentos e de conduta. Ao
cometer os desvios pode estar sujeito a assumir postura ou posição onde haja maior probabilidade de sofrer
acidentes.
Assumindo a postura ou posição inadequada ou desconforme passa a ter maior
probabilidade de ser atingido ou se envolver em acidentes, a princípio sem afastamento, posteriormente, e na
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continuidade da postura não conforme tem maior probabilidade ainda de sofrer acidente com afastamento e,
por fim, acidente grave incapacitante ou até morte.
O estudo das Perdas
Nos programas de Gerenciamento de Riscos, da mesma forma que nos estudos
desenvolvidos por Heinrich (1931), Bird (1954), DUPONT (1998) e Navarro (2012), através de Pirâmides de
Desvios, objetivava-se, a partir da eleição ou escolha de um evento denominado de topo, quase sempre o
acidente mais grave ou letal, galgar-se, degrau por degrau as causas que contribuíram para a ocorrência do
evento topo.
Nos programas de Gestão de Riscos ou de Perdas, percebe-se sempre que há situações
corriqueiras, que olhadas com maior atenção podem vir a representar um acidente. Uma poça de água no
chão, o descumprimento momentâneo de uma norma, o salto de uma etapa do processo é o primeiro degrau.
A esse pode ser dado o título de Desvio. No Gerenciamento de Riscos, nesse degrau tem-se as perdas mais
corriqueiras e de menor valor. Por exemplo, ao longo do dia em uma fábrica de parafusos, de uma produção
de cinco milhões de parafusos pode-se perder 100 parafusos, por exemplo. O custo deles em relação ao total
não é relevante. As ações para a correção dos problemas muitas vezes custa muitas vezes mais do que as
despesas com as perdas.
Contudo, certas perdas costumam ser freqüentes, bem como conduzir a prejuízos de
pequena monta. Nesses casos, a contratação de seguros de pouco vai adiantar. Para essas perdas que
terminam sendo habituais nos processos, passam a ser denominadas de Perdas Normais Esperadas. Um
arranhão na porta de um carro que fica muito tempo em um estacionamento termina sendo uma perda
normal.
Há uma relação entre as Perdas Normais Esperadas e o que se denomina de Franquia, ou
participação obrigatória do segurado. Faz até sentido que aquilo que é corriqueiro termine sendo assumido
pelo segurado, sob a denominação de Franquia. Uma PNE apresenta como principal característica o fato de
ocorrer com uma maior periodicidade do que as demais perdas, porém com valores (severidade) baixa.
No segundo degrau da escalada tem-se as Perdas Máximas Prováveis. Também pode ser
lido em algumas literaturas a respeito a tradução para Dano Máximo Provável. Essa perda é mensurada como
aquela que ocorre a partir do momento em que um evento é percebido até o controle do mesmo empregando-
se os dispositivos existente de prevenção e controle. Por exemplo, o incêndio pode ser percebido por
sensores, ópticos, de calor ou de luz. Com a detecção, o sistema de prevenção entra em funcionamento. As
ações podem envolver o deslocamento de brigadas de incêndio, o acionamento de um bico de sprinklers, que
provoca a extinção do incêndio. Todos os custos decorrentes do evento somados, são denominados de Perdas
Máximas Prováveis. São assim chamadas, de admissíveis, porque as empresas devem ter seus sistemas de
prevenção e segurança corretamente instalados.
O terceiro e último degrau, de maneira semelhante às Pirâmides, é o da Perda Máxima
Admissível. A perda é caracterizada como tendo um início que pode ser ou não detectado visualmente ou
através de algum dispositivo de segurança e que é extinto sem que tenha havido a intervenção de nenhum
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equipamento, sistema ou equipe de segurança. Assim, o evento termina da mesma forma que começou, sem
a intervenção de ninguém ou de nenhum sistema. As perdas poder vir a ser totais ou não, dependendo para
isso da concentração ou da dispersão dos bens nas edificações e no espaço ocupado pela empresa.
No aprofundamento da análise descobre-se que é possível o gerenciamento de qualquer
tipo de risco e que uma das funções dessa nova ciência e talvez a principal, é a da redução das perdas
humanas e patrimoniais. Nessa linha, o Gerenciamento de Riscos passa a ser uma ferramenta empregada em
programas de Qualidade e Produtividade.
No final dos anos setenta as características das atividades de Gerenciamento de Riscos
eram muito mais próximas das características da Segurança Industrial do que da Segurança Patrimonial ou da
Segurança do Trabalho. Os acidentes patrimoniais e aqueles envolvendo pessoas terminam sendo uma
decorrentes das atividades industriais.
Gerenciando Riscos
Como já comentado, o Gerenciamento de Riscos surgiu nos Estados Unidos nos anos
sessenta, voltado às questões armamentistas. Assim, a cada instante e em cada serviço desenvolvido há
acréscimos de experiências e de metodologias que vieram a dar certo, ou seja, acrescenta-se um pouco da
própria experiência profissional do Gerente de Riscos, incorporando experiências passadas, que tiveram por
mérito, conduzir a resultados positivos.
O risco, tratado no Gerenciamento de Riscos, é um evento que tem probabilidade de
materializar-se em um determinado tempo, acarretando perdas materiais significativas, que podem vir a ser
objeto de análise por uma Seguradora para fins de emissão de uma apólice de seguros. O conceito de risco
varia, de certa maneira, na área de investimentos financeiros, no segmento imobiliário, nos riscos cirúrgicos,
na área de projeto, enfim, em cada atividade humana há riscos. Assim, generalizando pode-se dizer que risco
passa a ser significado de insucesso. Na área de Confiabilidade de Processos o risco transmuda-se para falha.
Essa, quando ocorre, reduz a confiabilidade do processo. Assim, falha passa a ser sinônimo de
vulnerabilidade.
Hoje, estudos mais acurados nos informam, com uma probabilidade de acerto quase
próxima a 100%, qual o risco dominante, qual a perda que ele poderá gerar, e quando será o momento em
que isso pode ocorrerá. É importante que se frise que a certeza de 100% ainda não foi alcançada. Mas, para
quem tinha uma dose maior de incerteza já significa uma grande evolução. Outro aspecto a ser ressaltado é
que, quanto mais próximos nos aproximamos do momento da ocorrência mais próximos também nos
aproximamos no momento em que as ações de prevenção tem que estar sendo aplicadas, já que prevenção
significa o inverso de dano.
f (P) = 1/f (D)
Para ser capaz de gerar danos um risco materializa-se em função de um infindável
número de situações. É como o projeto de se lançar uma sonda espacial para fora do sistema solar a fim de se
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estudar outros corpos celestes. Para que o empreendimento venha a ter sucesso, além de se esperar que tudo
venha a dar certo com o veículo lançador e com a nave espacial, deve-se aguardar o alinhamento dos
planetas, o que só vem a ocorrer a intervalos de tempo definidos, e mesmo assim não se tem total certeza do
sucesso da missão. É o que chamamos de imponderável.
O Gerenciamento de Riscos avalia o imponderável. Chega-se a determinar, por
intermédio de técnicas de avaliação de riscos, qual a probabilidade de se ter sucesso no empreendimento, e
qual a probabilidade de se ter um fracasso. Para modelos de análise mais simples, consegue-se descobrir os
prováveis fatores causadores do insucesso. Assim, elaboram-se previsões com elevado percentual de acertos.
Algumas técnicas de Estudos de Confiabilidade de Processos apresentam resultados bem confiáveis e
próximos de 100%.
O gerenciamento de riscos é uma das melhores ferramentas de avaliação de processos.
Nesses estudos, procura-se saber qual é o “elo mais fraco da corrente”, qual seja, onde uma instalação pode
falhar primeiro? Quando visualizamos um processo temos que enxergar que ele é o resultado de ações
pontuais de equipamentos e sistemas. Um processo pode ser representado como uma caixa de engrenagens,
onde todas devem funcionar em sincronia. Quando uma dessas engrenagens para, por menor que seja, todo o
conjunto também para. Se a menor das menores engrenagens perde um dente isso irá se refletir no
comportamento do conjunto de engrenagens.
Grosseiramente falando, uma empresa pode ser igualada a um processo e as múltiplas
engrenagens aos seus empregados. Parece que não, mas todas as engrenagens são importantes, já que podem
produzir resultados distintos, quando não ajustadas. Se a copeira da empresa falta, isso pode ser um
problema. Observem que a copeira é uma das menores engrenagens da empresa. Na falta da copeira os
chefes irão chamar outros funcionários todas as vezes que quiserem um copo de água ou um café. Se o pó de
café não tiver sido comprado na véspera muitos descerão para tomar o cafezinho na rua. A perda de tempo,
somada, será enorme. Aqui não estamos tratando ainda de acidentes.
Quando um encarregado falta. O seu substituto eventual é seu chefe, que deixará de
cuidar de seu trabalho. Por não conhecer os funcionários, tanto quanto o encarregado, poderá retardar o
trabalho ou mesmo não se aperceber que algo deixou de ser feito ou foi mal feito. Se esses conceitos ficam
claros quando ditos desta forma, porque não o associarmos aos acidentes do trabalho?
O acionamento do conjunto de maneira harmoniosa gera um resultado, que pode ser
denominado de produto. Um processo gera produtos. Esses produtos são fruto do acionamento de
equipamentos. Se um dos equipamentos que compõe o processo falha pode-se dizer que há uma falha do
conjunto.
Transportando esse conceito para uma construção civil ou de montagem, percebe-se que
cada um dos indivíduos que faz parte da equipe são equiparados a equipamentos. O todo é o processo. Em
uma visão geral, cada pessoa desempenha um papel importante no processo. Pode não ser um papel
importante hierarquicamente, ou financeiramente, mas é importante. Quando estamos tratando de um
processo de montagem industrial, vemos que o processo começa com um projeto, que é sucedido pelo
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fornecimento dos insumos, que também é sucedido pela aplicação dos insumos, que também é sucedido pela
junção de cada uma das partes para compor o todo.
A Gestão dos Riscos e a Produtividade
A Sociedade de hoje cobra dos empresários produtos bons e baratos, anteriormente a uma
Sociedade que sabia distinguir as diferenças entre um produto bom e um produto barato, isso porque, para se
chegar a um maior grau de excelência a empresa fabricante tinha que desenvolver pesquisas e
desenvolvimentos e investir em novas tecnologias. Na visão de hoje, o centro das atenções passa a ser a
produtividade. Um prédio residencial que era construído há 30 anos em até três anos, atualmente passa um
pouco de um ano, Mudanças tecnológicas e o aprimoramento dos métodos construtivos contribuíram muito
para tal.
A Produtividade pode vir a ser expressa pela razão entre o Faturamento e os Custos
incidentes para a obtenção do faturamento. Os custos devidos a perdas não são todos perfeitamente
mensuráveis ou previsíveis. Pela inexistência de um maior controle ou de dados confiáveis parte-se para a
contratação de seguros, como um atenuante, ou como uma forma de transferência dos riscos. Ocorre que,
quase sempre, as coberturas oferecidas pelas seguradoras preveem a inclusão de franquias ou de
participações obrigatórias para a empresa, obrigando-as a retenção de parte dos riscos incidentes.
Muitas vezes, um bom programa de prevenção de perdas conduz a diminuição das
ocorrências, ou então, à limitação da extensão de suas consequências a um nível aceitável ou gerenciável.
Em função disto tudo, as empresas que têm um maior controle sobre o seu patrimônio e sobre as suas perdas
costumam praticar a política do auto seguro, transferindo para as Seguradoras somente a parcela de risco que
seria financeiramente insuportável. Graficamente, um dos principais conceitos de Qualidade e de
Produtividade pode vir a ser expresso, de maneira simplificada por:
Faturamento Produtividade =
Custos
Matematicamente a nossa formulação pode ser transformada em f(P) = f(F) ÷ f(C)
Pela amplitude de sua área de atuação a Gerência de Riscos não é uma técnica exata, mas
sim de aproximação. Não é uma técnica ou um conjunto de procedimentos que defina de modo preciso:
haverá um incêndio naquele equipamento nos próximos 200 dias de operação; mas sim, e tão somente que,
dentre uma amostra de 2.000 equipamentos existentes em um empreendimento industrial e em
funcionamento ocorre, em média, um incêndio a cada 200 dias. Essa aproximação se deve ao fato de não se
ter condições de matematizar totalmente os riscos, face às suas inúmeras variáveis. O que se faz é, por meio
de processos matemáticos, estatísticos ou atuariais, e levando-se em conta o histórico de eventos ocorridos,
projetar um comportamento provável e futuro para os riscos.
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Consideremos a análise de um sujeito ao risco de incêndio. De modo amplo, para que
esse venha a estar envolvido pelo incêndio deverá estar operando sob certas variáveis, dentre as quais
destacamos:
� Estar sobrecarregado;
� Estar operando continuamente, sem interrupção;
� Estar envolto por uma atmosfera propícia (com presença de substâncias combustíveis ou comburentes);
� Não possuir um adequado plano de manutenção corretiva ou preventiva;
� Estar empregando materiais, substâncias ou produtos que facilitem a ação do incêndio, sem os cuidados
necessários.
Se qualquer um desses fatores envolvendo a operação vier a ocorrer de forma isolada ou
em conjunto isso já será suficiente, com uma grande probabilidade, para o surgimento de um incêndio.
A imprevisibilidade das ocorrências
Deve-se salientar que muitas correntes de disseminação da cultura do Gerenciamento de
Riscos pregam a identificação e a mensuração de riscos, através da utilização de fórmulas matemáticas.
Entendemos que, para os riscos extremamente simples, ou para as análises de riscos com poucas variáveis ou
com variáveis previamente conhecidas, uma fórmula é um elemento simplificador de uma análise ou de uma
idéia, visto que não demanda, para a conclusão do trabalho, de qualquer análise pessoal. Porém, para riscos
de maior complexidade a simples adoção de uma fórmula ou de uma regra de análise não significa um pré-
requisito para uma boa análise, ou para uma análise confiável. Cabe-se destacar que análises pessoais podem
enriquecer o resultado de um trabalho como também podem vir a comprometê-lo. Se o trabalho de análise
precisa ser despersonalizado a aplicação de fórmulas passa a ser importante. Por outro lado, se o mais
importante é a exteriorização do conhecimento do engenheiro de risco de nada valerá a aplicação de
formulações matemáticas, muitas vezes desconexas do objetivo básico de reconhecimento do risco.
Não faz tanto tempo assim quando aguardávamos nos noticiários de televisão,
principalmente em vésperas de feriados, a repórter informar se ia chover ou não. A intuição e experiência do
meteorologista prevalecia sobre qualquer tipo de cálculo. Com o passar do tempo, foram desenvolvidos
programas de computação extremamente potentes e complexos, que determinam, com uma razoável
precisão, se irá chover dentro dos próximos 4 ou 5 dias. É lógico que nem todos os riscos têm a
complexidade de uma previsão do tempo, principalmente se podemos traçar um modelo matemático
confiável.
Para uma previsão de risco de incêndio os conceitos poderão variar desde resultados bem
simples até resultados mais complexos. Tudo dependerá do que irá se fazer com essa análise. Em grandes
empreendimentos industriais espera-se poder oferecer, com uma pequena margem de erro um cenário mais
realista possível. Para trabalhos menos sofisticados e que não requerem maior conhecimento técnico pode-se
pensar em algo bem simples, como por exemplo, o incêndio iniciando-se em uma lixeira, dessas de
escritório. As perguntas que podem vir a ser feitas para a obtenção de dados preliminares são as seguintes:
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� Qual a probabilidade de um cesto de lixo de escritório vir a pegar fogo?
A probabilidade desse evento ocorrer dependerá do local em que ela estiver localizada, do
tipo de lixo contido nele, do grau de cultura das pessoas que transitam pelas proximidades, do fato de possuir
ou não tampa, e outros fatores mais.
Se a lixeira não estiver em um local com grande tiragem de ar certamente o incêndio
demorará para irromper-se. Se o lixo nela contido não for combustível não haverá chance para o incêndio
iniciar-se. Se as pessoas tiverem um elevado nível de conscientização certamente não permitirão que alguém
jogue algo que possa gerar um incêndio. Se a lixeira tiver uma tampa, pela falta de oxigenação em seu
interior a possibilidade de um incêndio ocorrer será remota. Provavelmente, não há necessidade de criarem-
se modelos probabilísticos para a determinação da possibilidade de ocorrência de incêndio em uma lixeira. O
mais provável é que alguém já tenha alguma estatística montada em cima de ocorrências verificadas em uma
determinada instalação industrial ou em conjuntos de escritórios.
É importante abordar este assunto desta forma, porque muitas vezes somos compelidos a
dar pareceres ou esclarecer se determinado risco irá materializar-se, e, mesmo se ocorrendo, será capaz de
gerar perdas humanas, materiais ou financeiras, equivalentes a milhares de unidades monetárias.
Voltando à exemplificação anterior percebe-se que, mesmo se tratando de um estudo
aparentemente simples, como o envolvendo uma lixeira, dessas mais baratas, não se deve descuidar da boa
interpretação dos dados obtidos. Normalmente, em atividades de escritório, é nesse recipiente que começam
a maioria dos incêndios. Podemos mesmo afirmar que ultrapassa a 60% a estatística de incêndios originários
em lixeiras.
Lembramo-nos de um trabalho de Gerenciamento de Riscos que envolvia um parecer
acerca de uma obra marítima, caracterizada pela deposição de um enrocamento que avançava sobre o mar
uns 400 metros, e a seguir projetava-se da direção paralela à costa, por uns 500 metros. Durante a fase do
projeto executivo e bem no início dos serviços, optou-se por construir-se o molhe do enrocamento em duas
fases, ao invés de uma só fase. Ao sermos consultados fomos verificar as cartas náuticas de correntes
marinhas e o Departamento de Hidrografia e Navegação do Ministério da Marinha, a fim de obter dados
referentes à altura e à força da “onda centenária”. Como o próprio nome indica, uma onda centenária é
aquela que ocorre somente a cada 100 anos, e com uma intensidade tal que a torna ímpar. Pois bem,
analisamos os fatos e chegamos à conclusão que a possibilidade de ocorrer uma onda centenária, naquela
época do ano era bem remota. Esclarecemos os riscos que se corria ao mudar-se o planejamento da execução.
Em um período de um ano e meio ocorreram duas ondas centenárias, com elevadas perdas para o projeto.
Para melhor exemplificar, pedras de 4 a 6 toneladas foram arrastadas como se fossem cascalhos de rio, por
longas distâncias.
O número de etapas básicas empregadas no processo de identificação e Gerenciamento de
Riscos pode variar substancialmente de autor para autor, não sendo algo pré-determinado. Entretanto, alguns
parâmetros devem ser conhecidos.
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Gravidade
A função do Gerenciamento de Riscos
A função do Gerenciamento de Riscos é a de reduzir perdas e minimizar os seus efeitos.
Isso quer dizer que se assume a existência de perdas em todos os processos industriais, como um fato
perfeitamente natural. Entretanto, por meio de técnicas, basicamente de inspeções e de análises, procura-se
evitar que essas perdas venham a ocorrer com certa freqüência, ou reduzir os efeitos dessas mesmas perdas,
limitando-as a valores aceitáveis, ou dentro do perfil estipulado pela empresa em seus orçamentos anuais.
Quando o gerenciamento dos riscos é bem acurado em seus resultados são apresentadas
planilhas onde constam questões associando as frequências com a severidade. Aqui frequência tem o mesmo
conceito de periodicidade e gravidade de tamanho das perdas.
Frequencia
Pequena Média Elevada
Pequena Média Elevada
Pelo gráfico acima, identifica-se que os maiores riscos ocorrerão com o aumento da
gravidade das perdas e a elevação das frequências. O que torno o risco maior é que em um intervalo menor
de tempo fica mais difícil para o empresário recuperar-se das perdas. Isso seria o mesmo que uma pessoa ser
assaltada quatro vezes em um mesmo ano e nesses assaltos levarem seu automóvel de luxo. O que para uns é
um grande azar, para outros pode se tratar de análises de risco equivocadas,
Ocorre que há soluções para frequências elevadas, da mesma maneira que para
severidades elevadas. A frequência elevada gera uma maior exposição do risco. Assim cuidar-se para
reduzir-se essa exposição já é uma medida paliativa. Quanto à severidade, o melhor tratamento da mesma é a
de evitar-se o alastramento das perdas, razão pela qual a empresa deve investir em alterações de processos,
metodologias, meios de trabalho, projetos e equipamentos de segurança, sem nos delongarmos.
O estudo do Gerenciamento de Riscos
Não existe um método único de Gerenciamento de Riscos, ou uma metodologia padrão.
Costuma-se confrontar os procedimentos em vigor com procedimentos-padrão para aquele tipo de etapa,
analisando as possíveis alterações existentes, através de um amplo conhecimento das atividades analisadas.
O Gerenciamento de Riscos é um contínuo processo de busca de defeitos, ou de quase-
defeitos, com vistas à sua prevenção. Esses defeitos são chamados riscos. Risco é uma chance de perda e
provavelmente, o mais importante degrau no processo de identificação e gerenciamento das perdas.
Com as informações obtidas por intermédio da aplicação das várias técnicas adotadas no
Gerenciamento de Riscos e o emprego de metodologias específicas pode-se também quantificar riscos. A
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partir do momento que se qualifica e quantifica um risco tem-se a sua real magnitude ou sua expressão
matemática.
A qualificação é a identificação do tipo de risco ou da qualidade, se é que podemos assim
dizer à respeito das características dos eventos que podem surgir. Trata-se de um risco de incêndio, ou de um
risco de explosão, ou de um risco de danos elétricos, etc.. A quantificação é a determinação do valor da
perda, expressa em percentual do valor dos bens ou em valores absolutos, ou do tamanho do prejuízo a se
verificar no futuro. O risco, se ocorrer, poderá gerar uma perda que irá afetar 48% do patrimônio da
indústria. A perda potencial é de cerca de $ 500,000.
Como veremos adiante, tanto o tipo de risco quanto o valor da perda gerada são bastante
importantes para a fixação do custo do risco, ou seja, do valor que a perda, se ocorrida, pode assumir. Essa
informação é muito importante para a execução de um programa de tratamento do risco. Em função do custo
do risco, que pode vir a ser razoavelmente calculado por processos simples, consegue-se elaborar um plano
de retenção das perdas ou de transferência para uma Seguradora, por intermédio de um contrato de seguros.
Se as perdas são pequenas e a probabilidade de virem a ocorrer é baixa, com toda a
certeza pode se tratar de um caso de retenção do risco, ou de um auto-seguro, Em nossa fala anterior
preferimos tratar da questão relacionando-a a franquia. Ou participação obrigatória. Por outro lado, se a
perda tem características de vir a apresentar danos severos, é o momento de se pensar em transferi-la, por
intermédio da contratação de uma apólice de seguros.
Diferença entre Franquia e Participação obrigatória do Segurado
Denomina-se franquia a um valor quase sempre fixo, que está a cargo do segurado. Ele é
o responsável pela integralização da indenização completando o processo de indenização para a reposição do
bem repondo a franquia. A aplicação da franquia nivela a todos, acobertando somente acima de uma linha de
corte definida através da perda normal esperada.
Participação obrigatória do Segurado, praticada em muitas modalidades de seguros,
inclusive para a redução das taxas, está relacionada a um percentual da indenização. Normalmente baixo, que
deve ser integralizado pelo segurado. Quase sempre essas participações se dão quando há possibilidade do
segurado contribuir ou não para com o agravamento das perdas. Em nosso gráfico anterior a POS pode ser
aplicada nas áreas de zonas verdes. A POS pode, em alguns cálculos atuariais, representar a média das
indenizações que suplantam o Dano Máximo Provável.
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A transferência de risco não é uma operação isolada. O fato de se transferir um risco não
é um pressuposto de que todas as preocupações da empresa estarão resolvidas, ou todos os prejuízos serão
reembolsados, ou as perdas reparadas. Normalmente existem mecanismos dentro do contrato de seguros que
transformam a empresa em co-responsável pelas perdas, ou seja, se um sinistro vier a ocorrer, a empresa terá
que bancar uma parte do mesmo e a seguradora a quem ela transferiu a responsabilidade será responsável
pela diferença. Esse mecanismo de co-responsabilidade é o que denominamos de participação obrigatória do
segurado (POS). Assim, a empresa por não ter condições técnicas de repassar 100% tem que se preparar para
evitar as ocorrências dos eventos.
Uma das formas de prevenção se dá por intermédio da aplicação das técnicas corretas de
Gerenciamento de Riscos, associada a adoção de mecanismos ou de sistemas de prevenção de perdas. No
tocante a esses, iremos destinar alguns capítulos para tratar do assunto especificamente.
A Gerência de Riscos surgiu como técnica nos Estados Unidos, no ano de 1963, com a
publicação do livro Risk Management in the Business Enterprise, de Robert Mehr e Bob Hedges.
Seguramente uma das fontes de consulta ou de inspiração dos autores foi um trabalho de Henry Fayol,
divulgado na França em 1916. A origem da Gerência de Riscos é a mesma da Administração de Empresas, a
qual, por sua vez, conduziu aos processos de Qualidade e de Produtividade. Por ser uma técnica
relativamente nova, sua divulgação e adaptação pelos países variou de acordo com as necessidades de
momento, das experiências dos técnicos que a difundiram, da fase de desenvolvimento pela qual estava
passando o país e outros motivos mais.
No Brasil o seu ingresso deu-se na segunda metade da década de 1970, com aplicação
voltada especificamente para a área de seguros, com vistas à prevenção de riscos em bens patrimoniais,
segurados pelas empresas do setor. Desta forma, seus conceitos começaram a se propagar juntamente com os
conceitos prevencionistas do Mercado Segurador Brasileiro, principalmente no que diz respeito ao risco de
incêndio. Porém, com o intercâmbio entre os países e a melhor compreensão da técnica vislumbrou-se um
melhor futuro para a mesma.
Quase ao final da década de 70, com o desenvolvimento da Engenharia de Confiabilidade
de Sistemas, ou a Engenharia de Segurança de Sistemas, alguns conceitos comuns passaram a se mesclar,
dando nova configuração à Gerência de Riscos. Existem inúmeros eventos que constantemente ameaçam o
patrimônio das empresas. Porém, em linhas gerais, dos eventos geradores de danos que incidem em
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instalações industriais, tanto no que diz respeito à freqüência de ocorrências, como também no tocante à
severidade das perdas, o Incêndio é o mais comum. Na ilustração a seguir apresenta-se um gráfico com os
percentuais médios, aplicados aos riscos maiores ou geradores das ocorrências, verificados nos acidentes
envolvendo indústrias.
X
Y
5
60
15
5 5 5
1 2 1
Quebra deMáquinas
Incêndio
Danos Elétricos
Explosão
Equipament.
Explosão
Substâncias
Impacto de
Veículos
Derrame de
Materiais
Corrosão
Erosão
Finalmente, cumpre ressaltar que muitas vezes a Gerência de Riscos é confundida com a
Segurança Industrial. Ambas têm caráter preventivo. Entretanto, na Gerência de Riscos procura-se tratar o
risco sob o prisma matemático de sua ocorrência, quase que para fins de estudos, enquanto que a Segurança
Industrial parte direto para as medidas corretivas. A linha de trabalho que consideramos ideal é aquela que
associa os métodos de análise empregados na Gerência de Riscos com os procedimentos da Segurança
Industrial.
O livro Gerenciamento de Riscos Industriais vem a tratar das formas de identificação,
mensuração e tratamento dos eventos, ou dos riscos, que atingem indústrias, causando-lhes danos ou perdas,
preenchendo uma lacuna na análise de perdas para fins de tratamento dos riscos. Existem inúmeras
ocorrências que são objeto de análise pelos Gerentes de Riscos, da mesma forma que existem dezenas de
significados para a palavra Risco.
Confiabilidade
Confiabilidade é a probabilidade de um sistema ou algum de seus componentes vir a
desempenhar satisfatoriamente as funções a ele atribuída em projeto, dentro de condições normais de
utilização e operação. A não Confiabilidade, ou o insucesso, é denominada de probabilidade de falha. O
conjunto de falhas ocorridas em um intervalo de tempo é conhecido como taxa de falha.
Normalmente atribui-se à palavra confiabilidade uma quase certeza de que tudo ocorrerá
a contento. Por exemplo: tenho a maior confiança de que tudo correrá bem. Ë uma definição quase que
intuitiva.
Lançam-se mão de estudos de Confiabilidade quando se quer analisar o comportamento
de um sistema, com vistas à análise de prevenção de riscos. Os estudos de Confiabilidade também são
empregados na elaboração de planejamentos de manutenção preditiva.
Confiabilidade (R) pode ser traduzida como a probabilidade de um equipamento, ou de
um sistema, desempenhar satisfatoriamente suas funções específicas, por um período de tempo determinado
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e sob determinadas condições. Probabilidade de Falha (Q) representa o inverso da Confiabilidade, ou a não
Confiabilidade.
Q = 1 - R ⇔⇔⇔⇔ R = 1 - Q
Para Sistemas de componentes em Série, a Confiabilidade assume a seguinte
configuração matemática:
1 2 3 4 5
Para : R1 = 0,90 R2 = 0,90 R3 = 0,90 R4 = 0,90 R5 = 0,90
Rt = R1 x R2 x R3 x R4 x R5 = 0,90 x 0,90 x 0,90 x 0,90 x 0,90 = 0,59 (59%)
No exemplo anterior, em um processo com cinco redundâncias, cada uma com um nível
de confiabilidade de 90% gerará uma Confiabilidade Total de 59%.
Se quisermos aumentar a Confiabilidade de sistemas de componentes em série teremos
que aumentar a Confiabilidade de cada um de seus componentes, visto que a confiabilidade total é a do
conjunto e não a de cada parte desse. Para Sistemas de componentes em Paralelo, a Confiabilidade assume a
seguinte configuração:
1
input output
2
Para: R1 = 0,90 R2 = 0,80 Q1 = 1 - 0,90 = 0,10} } Qt = Q1 x Q2 = 0,10 x 0,20 = 0,02 Q2 = 1 - 0,80 = 0,20} Rt = 1 - Qt = 1 - 0,02 = 0,98 (98%)
No segundo exemplo temos um sistema em paralelo no qual a primeira barreira apresenta
um nível de confiabilidade de 90% e a segunda barreira de 80%. A Confiabilidade Total do conjunto será de
98%. Isso demonstra que se quisermos aumentar o percentual de confiabilidade de processos temos que
pensar em adotar sistemas em paralelo, por serem mais eficazes. Para aqueles que ainda têm dúvidas, basta
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lembrar dos dominós de Heinrich, onde as pedras são posicionadas em sequência. Se a primeira cai o
conjunto inteiro cai. Se a segunda pedra cai, todas as demais que vierem a seguir também cairão. Se a última
cair, o sistema também cai, apesar de haver caído apenas uma pedra do dominó.
A Confiabilidade total em sistemas em paralelo é maior do que a Confiabilidade de cada
um de seus componentes. Aplicada a estudos de Confiabilidade tem-se a Lei Exponencial de Confiabilidade.
-λλλλt -t/T R = e = e , onde:
e = 2,718 λλλλ = taxa de falha (número de falhas por cada hora de operação ou número de operações do sistema) t = tempo de operação T = tempo médio entre falhas T = 1/t
Como exemplo numérico do que acabamos de apresentar podemos ter o seguinte:
{ 4 falhas em 1.000 horas de operação;
{ λλλλ = 0,004; { T = 250 horas;
TMEF = T = 0,25 x 105 horas}
t = 1.000 horas } λ = 1/T = 1/ (0,25 x 10 )5 = 4 x 10-5 falhas / hora e = 2,718 }
-λλλλt - 4x10-5 x 103 R = e = e = 0,9608 (96,08%) Q = 1 - R = 1 - 0,9608 = 0,0392 (3,92%)
As técnicas empregadas nos estudos de Confiabilidade podem variar de acordo com os
objetivos inicialmente propostos para a análise das situações. Algumas das que poderemos empregar são as
seguintes:
Check-list
O Check List é um método é de caráter geral, com abordagens qualitativas, ou seja,
diagnostica situações de riscos a partir de um cenário, avaliado por intermédio de perguntas previamente
estabelecidas. Por essa razão não deve ser empregado como um único método.
Na verdade, trata-se de um relatório elaborado com antecedência, específico para cada
sistema, onde são anotados dados que servirão de base para outros métodos. Usualmente é um descritivo do
sistema e de suas condições de segurança e operação.
O sucesso do emprego de Check-list depende muito das análises posteriores que se
seguirão, bem como dos resultados pretendidos. Os relatórios poderão vir a ser extremamente complexos ou
ao contrário, abordar somente alguns poucos assuntos. De um modo geral contém um grupo de perguntas
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básicas que serão formuladas a operadores dos equipamentos, as quais, analisadas juntamente com outros
dados, permitirão que sejam traçados perfis aproximados do risco.
Por exemplo, iremos supor que se deseja realizar uma palestra a noite, em uma sala de
aula. Os requisitos mínimos indispensáveis poderiam ser analisados através do Check List, como se segue:
1. Quais são as condições de limpeza do ambiente?
ótima boa regular deficiente
2. Existem canetas para o Quadro de aula?
sim não
3. O sistema de ar condicionado está funcionando?
sim não
4. Arrumação das cadeiras está de acordo com o planejado?
sim não
5. Há cadeiras em número suficiente ao de inscritos?
sim não
6. O acendimento das luminárias está correto?
sim não
7. Existirá uma equipe de manutenção para resolver todos os problemas que poderão surgir?
sim não
8. Alguém estará encarregado de acompanhar o palestrante?
sim não
9. Houve divulgação suficiente para o evento?
sim não
10. Os equipamentos de apoio ao palestrante estão funcionando plenamente?
sim não
Para que a análise fique completa teremos que verificar o que falta para o evento não ser
um fracasso. Assim, se as condições de limpeza não forem boas teremos que limpar a sala. Se não houverem
canetas no quadro o palestrante não poderá escrever. Se o ar condicionado não estiver funcionando e for uma
época de muito calor haverá o desconforto da plateia. Se as cadeiras não estiverem arrumadas teremos que
arrumá-las. Se as luminárias não estiverem acendendo poderá não haver a palestra. E assim por diante.
O importante não é a montagem do questionário de verificações, mas sim a sua correta
interpretação, que deverá estar compatível com o resultado a que se pretende. Gerentes de Riscos mais
experientes costumam montar listas de verificações como forma de direcionar o seu trabalho, evitando que
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alguma informação mais importante possa vir a ser esquecida durante os trabalhos. Até mesmo os
especialistas de grandes empresas não deixam de programar as suas perguntas ou as suas dúvidas. “Preciso
verificar essa situação. Não devo me esquecer de perguntar à respeito da última compra efetuada. Será que o
equipamento X sofreu uma reforma ultimamente?” Existem sempre algumas questões-chave, para as quais
nos preparamos previamente, anotando em nossos blocos de notas ou elaborando um questionário.
What if
Trata-se de um método qualitativo, ou seja, um método que permite chegar ao tipo e ao
tamanho de risco, muito importante no emprego em discussões de caráter geral acerca de um sistema, e para
a abordagem das conseqüências maiores de um acidente. Deve-se sempre separar, em um acidente, as causas
das conseqüências. As causas são os fatos geradores os as razões da deflagração do evento. As
conseqüências são os resultados. Existem uma série de perguntas clássicas que podem vir a ser feitas, como
por exemplo:
�E se de repente uma pessoa atravessar a rua com o sinal de pedestres fechado?
�E se a caldeira vier a explodir?
�E se a pressão da linha de vapor subir muito?
O mais interessante da metodologia é que para cada pergunta há várias respostas. Por
meio dessas identifica-se o problema e as prováveis soluções. O objetivo do método é o de identificar,
através da discussão do tema os problemas mais comuns que possam afetar o bom desempenho do sistema
ou de seus componentes. A metodologia trás consigo uma importância maior porque associa causas a
conseqüências. Por exemplo:
E se a pessoa atravessar a rua com o sinal de pedestres fechado? A causa é o ato em si de
atravessar a rua. É um ato voluntário. A conseqüência é o que poderá ocorrer com esse pedestre. Poderá ser
atropelado? Poderá vir a cair ao chão? Poderá vir a chegar ao outro lado da rua incólume? As respostas que
poderão ser fornecidas estabelecerão o padrão de segurança necessário para se evitar o risco em si.
Costuma-se empregar o método juntamente com outros, especialmente o Check-list e a
Análise Preliminar de Riscos.
Técnica de Incidentes Críticos
Trata-se de uma técnica operacional qualitativa, que busca obter informações relevantes
acerca de incidentes ocorridos durante determinada fase ou período, relatadas por testemunhas que os
vivenciaram. Os incidentes são os quase acidentes, ou os acidentes não geradores de perdas. A metodologia
emprega, principalmente, entrevistas com os operadores ou mantenedores dos sistemas sujeitos a estudos.
Alternativamente poderá se lançar mão de trabalhos de bancos de dados, onde todos os acidentes ou
incidentes foram relacionados por tipo de ocorrência.
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Na área naval um dos bancos de dados mais requisitados é o WOAD Statistical Report
(Statistics on Accidents to Offshore Units Engaged in Oil and Gas Activities). O WOAD Worldwide
Offshore Accidente Databank, uma publicação da Det Norske Veritas (DNV) relaciona freqüências de
acidentes, a exposição, estatísticas e várias outras informações as quais possibilitam obter dados necessários
à interpretação da forma de ocorrência dos mesmos.
O incidente é um evento negativo com potencial para provocar danos.
Dentre as inúmeras formas de classificação dos incidentes podemos ter o seguinte
critério:
Classe I : Aqueles que provocam alterações no planejamento ou na produção. Classe II : Aqueles que provocam atrasos no planejamento ou na produção; Classe III : Aqueles que provocam paralisações ou o insucesso do planejamento; Classe IV : Aqueles que afetam a integridade física das pessoas;
Algumas perguntas envolvendo equipamentos que sofreram acidentes são clássicas, como
as que se seguirão. Ocorre que também aqui não se deve rotular procedimentos. Cada Gerente de Riscos
pode buscar obter dados que lhes sejam mais familiares ou que se enquadrem dentro de conceitos já
estabelecidos. Como exemplo citamos:
⇒ Que tipo de acidente pode ocorrer com este equipamento?
• Como?
• Em que circunstâncias?
• Qual foi o resultado?
• Como foi controlado?
• Houve uma extensão dos danos a outros equipamentos ou instalações?
• Quanto tempo durou a paralisação?
• A reposição das perdas foi imediata?
⇒ Já ocorreu algum tipo de paralisação?
• De que ordem?
• Quanto tempo a máquina ficou parada?
• Houve parada de produção?
• Quantos acidentes ocorreram?
• Em que época?
• Com que freqüência?
• Quais foram os tipos de danos verificados e de que ordem?
⇒ Quantas horas os equipamentos ficaram parados?
• Qual ou quais foram as razões dessas paralisações?
• Como se deu o reinicio das operações?
• Quais foram as medidas tomadas durante a paralisação e após o reinicio das atividades?
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O incidente é importante como dado estatístico porque comprova a existência de falhas
operacionais ou de controle, possibilitando a sua imediata reparação.
Com as entrevistas com os operadores dos equipamentos conseguem-se obter inúmeras
informações elucidatórias dos problemas operacionais mais comuns que tenham ocorrido em um intervalo de
tempo estipulado para a análise. A grande questão é que, na maioria das vezes, não se tem uma precisão de
dados estatísticos ou matemáticos, principalmente quanto à data dessas ocorrências, visto que a maioria
dessas não é registrada adequadamente, ou então as informações fornecidas para o registro não estão
completas. A partir daí, monta-se um quadro com os incidentes alocados por tipo de severidade de perda.
A técnica tem um emprego bastante difundido quando há uma precariedade de
informações no tocante a perdas ocorridas. Ou seja, não há um registro ou esse não é tão confiável, que possa
vir a ser empregado em análises matemáticas. A partir daí, em função da quantidade dos incidentes relatados
consegue-se fazer uma extrapolação para a obtenção do número de acidentes, que é o objetivo maior. Desta
forma, em função dos dados apurados e de sua correlação consegue-se obter a razão entre faixas de
incidentes.
Por exemplo, imaginemos que através de um estudo em uma indústria obteve-se
informações relativas a 100 incidentes, ocorridos em um período de 5 anos. Desses 5 foram de gravidade
correspondente a 100% do valor dos bens. A análise efetuada conduziu à seguinte apresentação gráfica:
5
40
60
80
100
Na extrapolação feita poderemos ter cerca de 80% dos acidentes com uma gravidade de
60%, cerca de 60% dos acidentes com uma gravidade de 40%, e cerca de 40% dos acidentes com uma
gravidade de 20%. Basta termos a quantidade de acidentes registrados para podermos extrapolar os
incidentes, por faixas de gravidade de perdas. O mais interessante disso tudo, é que com estes dados
determinaremos o custo dos riscos ou o custo das perdas ou o custo dos seguros, bastando apenas que nos
seja informada a quantidade de acidentes.
Análise Preliminar de Riscos (APR)
Trata-se de uma técnica de inspeção desenvolvida com o objetivo de se obter análise
superficial dos possíveis riscos, de suas causas, das conseqüências advindas com a materialização desses
bem como das medidas corretivas ou preditivas adotadas. Em resumo, a APR visa à identificação de
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elementos perigosos do sistema, das situações de risco, das falhas potenciais, etc., determinando a gravidade
de suas efetivações, normalmente obtidas por meio de simulações. A Análise Preliminar de Riscos procura
enquadrar os riscos segundo categorias, definidas de acordo com os efeitos destrutivos que podem vir a ser
observados, tabeladas como a seguir:
Desprezível ou Negligenciavel (Classe I)
Risco desprezível ou negligenciável é aquele que gera efeitos imperceptíveis, não
conduzindo a degradações físicas ou ambientais que não sejam facilmente recompostas. Normalmente essa
categoria de riscos é perfeitamente absorvida pela empresa, juntamente com os custos de manutenção ou
revisão;
Marginal ou Limítrofe (Classe II)
Risco marginal ou limítrofe é o que gera ocorrências moderadas, controláveis,
necessitando porém de ações saneadoras a médio prazo. São riscos que podem surpreender em termos de
perdas. Usualmente as perdas estão associadas às conseqüências dos eventos;
Crítica (Classe III)
Ocorrência crítica é aquela que afeta substancialmente o meio ambiente, o patrimônio ou
pessoas, necessitando de ações corretivas imediatas. Esse tipo de perda é tratada através do repasse a uma
Seguradora;
Catastróficas (Classe IV)
Ocorrência catastrófica é normalmente geradora de efeitos irreversíveis, afetando pessoas,
sistemas, patrimônios ou ambientes. Quase todos os Gerentes de Risco recomendam como técnica de
tratamento de riscos o afastamento, ou seja, a empresa deve renunciar a essa atividade.
A APR é uma técnica qualitativa, não permitindo mensuração matemática do risco.
Exemplo 1 - se uma bomba de São João fosse atirada no meio de uma rua poderia ser enquadrada como uma
ocorrência desprezível. Atirada próxima a uma pessoa já teria efeito marginal. Se atingisse o seu ouvido
poderia ser classificada como crítica ou catastrófica, dependendo das extensões dos danos.
Exemplo 2 - citamos o emprego de maçarico de solda e corte, seguramente um dos equipamentos com
elevado potencial de geração de perdas. Os fatos iniciadores de perdas seriam: inaptidão do operador; falha
de manutenção do equipamento; defeitos de fabricação e outros mais. As conseqüências dos acidentes
seriam: queimaduras; princípios de incêndio; soldaduras ou cortes inadequados; danos materiais aos produtos
manuseados. As medidas corretivas poderiam ir desde o treinamento do operador até uma melhor
manutenção do equipamento.
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Um modelo de relatório de Análise Preliminar de Riscos de uma situação bem simples é
apresentado a seguir. Observe-se que a maior preocupação é a de associarem-se as causas às suas
conseqüências. No modelo exemplificamos com a atividade de desenho com grafite sobre um papel, não
importando de que tipo. O modelo é o seguinte:
ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCOS Identificação: Elaboração de um desenho com o emprego de lapiseira Subsistema : Grafite
RISCO CAUSA EFEITO CAT. RISCO
MEDIDAS PREVENTIVAS
Rasgo no papel
Emprego de grafite muito duro
Papel rasgado e desenho inutilizado
III Empregar um grafite mais macio ou um papel mais resistente
Borrão no desenho
Emprego de grafite muito macio
Desenho borrado e papel manchado
III Empregar um grafite menos macio ou um papel mais liso
Análise de Modos de Falha e Efeitos (AMFE)
AMFE é um método de análise detalhada, gerando resultados qualitativos e quantitativos,
ou seja, identifica o risco ao mesmo tempo em que o mensura. A AMFE permite a análise das falhas dos
equipamentos, dos componentes e dos sistemas com estimativas de freqüência de ocorrências (taxa de falhas)
e a determinação dos efeitos ou conseqüências dessas mesmas falhas. A técnica, também conhecida como
FMEA - Failure Modes and Effects Analysis, consiste em se estudar o sistema por partes, em conjuntos ou
subconjuntos, sob a forma de diagramas de bloco, analisando não só as ocorrências isoladamente como
também a interpelação existente entre essas e os demais subconjuntos.
Dessa análise particularizada obtém-se: revisão dos modos de falha de cada componente;
efeitos que tais falhas terão sobre outros componentes que, ao falhar gerarão danos a todo o sistema. Como
resultado final tem-se o calculo de probabilidade das falhas do sistema, gerado a partir das falhas de seus
componentes. Logicamente, através desses estudos determinam-se as alternativas de redução das
probabilidades de falha.
Cada falha observada deve ser analisada separadamente como se fosse um evento
independente, sem qualquer relação com os demais, exceto no que diz respeito às suas conseqüências que
poderão ser as mesmas.
A FMEA é por demais eficiente quando aplicada a sistemas simples. Para os casos mais
complexos associa-se à FMEA um estudo de Análise de Árvores de Falha.
Também costuma-se associar a um estudo de criticidade denominado de FMECA -
Failure Modes and Effects and Criticality Analysis. Nesse caso, atribui-se para cada modo de falha uma
classe de gravidade ou severidade. No conjunto estudado tem-se a taxa do risco ou o custo do risco,
informação muito importante para a avaliação dos programas de transferência ou manutenção dos riscos.
As classes de gravidade são as mesmas adotadas no método de Análise Preliminar de
Riscos, ou seja, vão crescendo à medida em que a severidade das perdas vai aumentando. A pior situação é
aquela que envolve vidas humanas. Outro ponto também interessante é que avalia-se a perda de um ponto
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menor para um maior, ou seja, de um subsistema para um sistema, e desse para uma unidade e daí para toda
a empresa:
Classe I : Falha resultando em excessiva manutenção do sistema; Classe II : Falha resultando potencial atraso ou perda de disponibilidade imediata; Classe III : Falha resultando potencial ameaça ao sistema ou às pessoas; Classe IV : Falha resultando potencial perda do sistema e/ou de vidas humanas;
Especialmente em plantas industriais complexas, com grande número de subsistemas
interagindo, emprega-se o método preliminar de HAZOP - Hazards and Operability Study.
A seguir, apresentamos um modelo bem simples de uma FMEA, tendo como área de
análise uma unidade de carbonatação de uma indústria química. Para essa FMEA, ou AMFE, tomamos como
origem do problema uma disfunção elétrica em um painel de alimentação elétrica de um compressor de gás
carbônico, de uma unidade de carbonatação. Através da análise discute-se a tipo de falha, as razões de tal
falha e o que estará conjugado a essa, ou seja, as conseqüências da paralisação do painel. O modelo é o que
se segue:
FMEA - UNIDADE DE CARBONATAÇÃO
Descrição Fase Função Modo de Falha
Causa Local Efeitos Próximo nível
Sistema
Método de detecão de
falha Classe
Medidas Compensa
tórias
Painel de alimentação elétrica PUE 8
Operação normal
Controla o funciona mento do compressor de CO2
Desligamen to do painel
Vasamento de corrente Falha acidental Desligamen to proposital Curto circui to
Atuação da proteção Atuação da proteção Não há for necimento de energia Não há fornecimen to de energia
Desligamen to do compressor Desligamen to do compressor Parada da unidade Parada da unidade
Parada da unidade Parada da unidade Parada da fábrica Parada da fábrica
Visual no painel de controle Visual no painel de controle Supervisão, controle e manutenção Revisão dos dispositivos de proteção
2 2 3 3
Revisão dos dispositivos de proteção Revisão dos dispositivos de proteção Supervisão Controle
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Análise de Árvore de Falha (FTA)
Análise de Árvore de Falha é dos métodos de Confiabilidade de Sistemas o mais
conhecido. A AAF, também conhecida como FTA - Failure Tree Analysis, foi desenvolvida nos Estados
Unidos na década de 60, com o objetivo de estudar o comportamento de mísseis balísticos intercontinentais.
Esses mísseis representavam um alto custo unitário, de milhões de dólares e um elevado risco potencial, não
só durante a armazenagem e transporte como também no lançamento. Os graus de acerto tinham de ser da
ordem de 100%.
Afora esse fato, durante a montagem da arma encontravam-se envolvidas centenas de
empresas de todos os tamanhos, fabricando desde simples arruelas até complexos sistemas de direção de vôo.
As probabilidades de perdas materiais eram enormes. Assim sendo, partindo-se de um raciocínio lógico da
ocorrência de um evento indesejável, ou evento de topo, desenvolveu-se uma metodologia interativa, com o
fim de se descobrir qual ou quais as falhas que, atuando em conjunto ou isoladamente poderiam gerar o
evento não desejado.
Com o objetivo de se ilustrar melhor a metodologia buscaremos um exemplo bem
simples, qual seja: haverá uma palestra à noite em um auditório, bastante importante, com a presença de
pessoas ilustres. O evento negativo seria aquele que inviabilizasse o encontro. Dentre esses escolhemos a
falta de luz no auditório.
A montagem da árvore de falhas obedece quase sempre a mesma seqüência. Uma
seqüência de algumas etapas pode ter uma forma como a apresentada a seguir:
(1) ⇐⇐⇐⇐ evento topo
(2) (3)
eventos conseqüentes
(4) (5) (6) (7)
(8) (9) (10) (11) (12) (13) (14) (15)
(16) (31)
(1) : Falta de luz (2) : Falha do interruptor (3) : Falha de suprimento (4) : Interruptor com defeito (5) : Interruptor desligado
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(6) : Falta de fornecimento (7) : Acidentes com a linha de transmissão (8) : Defeito de fabricação (9) : Quebra de componentes (10) : Desligamento acidental (11) : Desligamento proposital (12) : Desligamento da rede por diferença de tensão (13) : Desligamento da subestação (14) : Acidentes com queda de linha (15) : Acidentes com quedas de posteamento ou equipamento (16) : Falha de componentes (17) : Falha de processo (18) : Quebra acidental ...... (31) : Choque acidental com veículos
A continuação da árvore poderia conduzir a problemas envolvendo até à falha do
interruptor, provocada por um componente defeituoso, ou até um simples acidente com a linha aérea externa
dos condutores de energia elétrica. Para cada um dos eventos determinados chega-se a uma taxa de falha ou a
uma probabilidade de falha, vista no tópico de Confiabilidade. Através da Álgebra Booleana se verifica a
correlação entre esses vários eventos, resultando na probabilidade de ocorrência do conjunto.
Caso a probabilidade seja muito grande pode-se pensar em sistemas alternativos que
garantam o fornecimento de energia elétrica (redundância de sistemas ou sistemas em paralelo). Ocorrendo o
inverso, qual seja, probabilidade muito baixa, pode-se correr riscos.
Na avaliação quantitativa considera-se a probabilidade do evento ocorrer de forma
isolada, quando então emprega-se a comporta “E”, ou a possibilidade do evento ocorrer concomitantemente
com outro, empregando-se a comporta “OU”. Na análise da probabilidade de falha, para cada caminho
crítico determinado opera-se matematicamente, as probabilidades de falha, somadas, se a comporta for
“OU”, e multiplicadas entre si, se as comportas forem “E”.
Os métodos anteriormente descritos geram análises qualitativas e quantitativas, através do
emprego de simulações computacionais e emprego de banco de dados de acidentes. As questões mais
comumente envolvidas nas análises são:
• que tipo de risco pode ocorrer?
• qual a sua freqüência?
• Qual o dano mais comum? A partir dessa fase têm-se condições de conhecer a taxa do risco ou o custo do mesmo,
visto ser essa produto de uma freqüência de ocorrências (f) por uma severidade de perdas ou gravidade (g). O
resultado é o que se segue:
tr = f x g
No momento que se quantificam as perdas em unidades monetárias têm-se condições de
saber quanto custaria cada evento, se ocorrido, e, além disso, se a perda poderia ser assimilável pela empresa,
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dentro de programas normais de financiamento de riscos. É importante salientar que um evento, quando
materializado, nunca traz consigo somente um tipo de perda. Associado a essa poderão existi outras do tipo:
• perda material ou de insumos para a produção;
• perda de produção;
• perda financeira;
• perda pessoal;
• perda de imagem;
• perda de mercado;
• responsabilidades civis, etc.
Exemplo 3 - quando um funcionário apaga um princípio de incêndio com um simples extintor, de
conseqüências primárias, tem-se que agregar ao custo do material que pegou fogo outros custos do tipo:
# custo da recarga do extintor; # custo de homem/hora empregado na extinção; # perda de tempo de produção medida momentos anteriores à extinção até ao restabelecimento normal
das atividades; # custo com a divulgação do acidente e do treinamento dos funcionários; # custo com a análise do acidente; # restauração do ambiente, incluindo a limpeza da área.
Até agora vimos que
→os riscos existem e que precisam ser controlados, avaliados e quantificados.
→os métodos empregados nessa avaliação, bem como que essa pode ser quantitativa ou qualitativa.
→o custo do risco não deve ser mensurado somente pelos seus efeitos mais imediatos, agregando-se a esses custos outros mais, incorridos em função da ocorrência do evento.
A determinação do Dano Máximo Provável, para aplicação na taxação de seguros,
especialmente o de incêndio, sempre foi complexa, visto que a sua conceituação era variável de acordo com
o grau de conhecimento do vistoriador, o avaliador ou do engenheiro de riscos.
Por inúmeras vezes verificamos que os valores constantes dos relatórios de inspeção do
Ressegurador para o DMP, abrangendo cada um dos riscos isolados, eram aceitos e reproduzidos pelas
seguradoras, sem qualquer questionamento, mesmo que contivessem informações do tipo:
DMP da planta 15 = 12%
Qual o parâmetro ou metodologia empregada que permitia chegar-se a esse grau de
precisão? Durante anos buscamos obter informações acerca do assunto, inclusive da existência de parâmetros
que permitissem a avaliação consistente de um risco. Só mais recentemente começaram a surgir softwares
abrangendo a avaliação de perdas, localizadas ou específicas. Porém, nenhum desses se reportando à
determinação do DMP.
Creditamos a não existência dessas ferramentas de avaliação à complexidade de um
incêndio, onde a quantidade de variáveis a ser pesquisadas é muito grande. Em uma linguagem mais
acadêmica, poderíamos dizer que o número de incógnitas é sempre maior do que o número de equações. O
que fazer então?
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Inicialmente, buscamos tornar algumas dessas variáveis fatores conhecidos, através da
fixação de valores razoáveis, fruto de nossa experiência na área. Por exemplo, o tempo de detecção. Outra
variável fixada foi a referente ao ambiente em que o incêndio estava se propagando. Outra variável é a
correspondente aos dispositivos de prevenção existentes no risco. A partir do momento em que começamos a
simplificar a quantidade de variáveis o trabalho tornou-se mais simples. Não quer dizer com isso que
estejamos abrindo mão da técnica em função de uma fórmula mágica. Muito pelo contrário, queremos iniciar
um processo no qual à proporção que for sendo empregada possa ser aprimorada, até que esteja bastante
completa. Se assim não o fizéssemos estaríamos incorrendo no grave erro de descobrir a causa ao invés do
efeito.
Parâmetros básicos
Por muitos anos a correta determinação do DMP foi discutida pelos técnicos de seguros,
por ser este um parâmetro importante para o aumento da retenção dos riscos. Em função do percentual
indicado pelo inspetor de riscos a retenção poderia ser ampliada em até 4 vezes. Entretanto, face às
peculiaridades de cada risco, bem como ao comportamento dos incêndios, com inúmeras variações em
termos de evolução, fica extremamente difícil precisar-se quais os itens relevantes a serem considerados. Por
exemplo, para o estudo de um incêndio é importante a análise do tipo de material que está sendo consumido
pelo fogo, o local onde está se dando o incêndio, as condições ambientes, umidade, temperatura, correntes de
vento, etc.
Conceitos
O Dano Máximo Provável é o maior dano que se verifica entre o lapso de tempo
decorrente do início de um incêndio até a sua completa extinção. Na verdade, todos os danos ou todas as
perdas que se verificam nesse lapso de tempo devem ser somadas, para a determinação do DMP. Uma
sequência elementar do processo é a que se segue:
·início do incêndio; ·detecção; .formação da equipe de combate; .início da debelação do fogo; ·controle do fogo; ·extinção do incêndio.
Em todos os processos de detecção e combate a incêndios pode-se empregar sistemas e
equipamentos com a participação humana ou não. Caso haja o envolvimento do homem, como no emprego
de extintores e hidrantes, o tempo de resposta, tanto para a detecção quanto para o combate é mais longo. Os
dispositivos podem ser ativos, quando combatem ou permitem o combate a incêndios, e passivos, quando
apenas detectam, ou protegem as estruturas e equipamentos.
O DMP difere da Perda Máxima Admissível porque nessa última o incêndio deve auto-
extinguir-se. Como empregado hoje o Dano Máximo Provável é indicado sob a forma de um percentual para
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cada planta ou risco isolado segurado, representando o quanto de material poderá ser perdido nas condições
já citadas.
Atualmente não há uma fórmula ou um método matemático que permita se chegar a esses
percentuais com alguma margem de segurança.
Os peritos costumam empregar nos seus relatórios suas experiências pessoais e
conhecimentos técnicos adquiridos ao longo de seus trabalhos.
Desta forma, um relatório elaborado por um inspetor com muita experiência contém
dados muito mais confiáveis do que o elaborado por um outro inspetor sem a mesma experiência.
Isso não que dizer que o mais inexperiente não esteja empregando as metodologias
indicadas para cada caso. Quer dizer sim, que na ausência de fórmulas que independem da experiência de
cada um o conhecimento individual é muito importante.
Como dissemos o DMP é igual à perda verificada entre o início do incêndio e sua
completa debelação.
Desta forma há que se considerar a existência de um tempo entre cada uma das etapas do
processo. Pode-se dizer que:
DMP = f(t2 - t1)
Onde:
t1 = tempo inicial do surgimento do incêndio
t2 = tempo final correspondente à extinção do incêndio
A função é direta na medida em que quanto maior for esse maior será o prejuízo
verificado. Por exemplo, suponhamos que um detector de incêndio esteja calibrado para um tempo de
resposta de 30 segundos. Após o disparo do alarme na central o tempo de resposta da brigada de incêndio
seja de 60 segundos. Após o acionamento dos seus membros se dê o OK dos sistemas em 60 segundos, e,
finalmente, o combate esteja concluído em 120 segundos. Então o tempo total dispendido será o somatório
de cada um dos tempos indicados, redundando em 270 segundos.
Se o tempo de resposta for maior todos os demais tempos envolvidos também o serão.
Com isso os resultados diferirão dos inicialmente previstos. Se o socorro demora a chegar os prejuízos vão se
acumulando.
Para o cálculo da função tempo deve ser considerar o tempo de cada uma das fases do
processo. O DMP será exposto pelo conjunto de perdas que se verifiquem durante esse tempo.
Tf = ti + t2 + t3 + t4
A forma como os materiais se encontram influencia não só o tempo de combustão como o
modo em que essa se processa. O algodão solto queima muito mais facilmente do que o algodão em fardos.
A serragem da madeira queima muito mais fácil do que uma tora de madeira.
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O óleo Diesel queima mais facilmente do que o óleo de soja, apesar de ambos
apresentarem características físicas de óleo.
Face à variedade de materiais deveremos grupá-los de acordo com algumas de suas
propriedades, como por exemplo:
• - sólidos combustíveis;
• - sólidos inflamáveis;
• -líquidos combustíveis;
• -líquidos inflamáveis;
• - gases combustíveis.
Algumas das classificações internacionais explicitam a diferenciação entre os materiais
de acordo com pontos de fulgor, ou outros parâmetros. Por exemplo, uma classificação americana para
estudo de incêndio considera:
• líquidos insolúveis em água com ponto de fulgor abaixo de 76,6ºC (petróleo, benzeno, querosene,
estireno, tolueno, xileno, naftaleno, etc.)
• líquidos solúveis em água com ponto de fulgor abaixo de 76,6ºC (acetaldeido, acetona, a1cools
metílico, etílico e butílico, dissulfeto de carbono, éter vinílico, etc.)
• líquidos insolúveis em água com ponto de fulgor acima de 76,6ºC (óleos lubrificantes, óleos APF,
óleos vegetais, etc.)
• líquidos solúveis em água com ponto de fulgor acima de 76,6ºC (glicerol, benzil, acetatos,
dietilenoglicol, dipropilenoglicol, dietilcarbitol, dimetoxitetraglicol, etileno, metilglicol, etc.)
Voltando à igualdade anterior, com o acréscimo da função Material (M), tem-se:
DMP = f(t), f(M)
Para obtenção do DMP outro fator importante é o ambiente (A) em que o incêndio ocorre.
Muitas vezes dizemos que o DMP é uma fotografia instantânea de uma dada situação. Se considerarmos o
incêndio ocorrendo em uma sala com as portas e janelas fechadas teremos um resultados final. Se a porta ou
alguma das janelas for aberta o resultado será outro.
Os ambientes podem ser considerados como:
- abertos;
- fechados, com ventilação natural;
- fechados, com ventilação contínua;
- fechados, sem ventilação.
Com a adição do fator ambiente tem-se:
DMP = f(t), f(M), f(A)
Um novo item que deve constar da igualdade é o fator prevenção (P). De nada adianta um
rápido atendimento ao incêndio se não há equipamentos para combatê-lo. Com isso chega-se a:
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DMP = f(t), f(M), f(A), f(P)
Onde:
f(t) = função do tempo
f(M) = função dos materiais envolvidos
f(A) = função do ambiente onde o fogo surgiu
(P) = função de sistemas de prevenção existentes no local
Se a análise for feita de forma crítica poder-se-á até mesmo dispensar a função ambiente.
Assim sendo, tem-se:
DMP = f(t), f(M), f(P)
O DMP é uma função direta do tempo. Quanto maior o tempo gasto maior será o dano.
Da mesma forma, quanto mais favorável ao incêndio for o material maior será o prejuízo ou a perda.
Contrariamente, quanto maior for o nível de prevenção menor será a perda. Com isso, nossa igualdade passa
a ser:
DMP = f(t), f(M), f(i/P)
Encontrar-se uma fórmula onde se adeque todos os parâmetros requeridos não é uma das
tarefas mais fáceis, já que são vários os fatores a serem considerados, cujas associações entre si não estão
ainda totalmente estudadas ou conhecidas. Os riscos envolvendo inflamáveis líquidos já estão em um nível
bem adiantado de estudo, o mesmo não ocorrendo com os demais riscos.
A evolução da informática nos permite concluir que dentro de pouco tempo nosso desejo
será realizado. Enquanto não chegarmos a esse nível podemos sugerir o que se segue:
Definição de um modelo matemático onde o número de variáveis não seja um fator
impeditivo para o desenvolvimento da técnica. Para tanto, poderemos considerar o fogo originando-se em
um ambiente fechado, e não ao ar livre. Outro ponto é o da detecção.
Para facilidade de cálculo empregaremos um sensor, ou detector. Mesmo que o sensor
não exista poderemos extrapolar um determinado tempo de atendimento ao incêndio.
Com esses dados sobra-nos muito pouco em termos de variáveis, já que não estaremos
considerando os efeitos externos provocados pelo ambiente natural, bem como estaremos dispensando as
análises que levem em conta o tempo de atendimento, já que esse pode ser pré-fixado em vista do resultado
da inspeção de risco. A título de ilustração fixaremos alguns dados, tais como:
Função do Tempo
Para a função partiremos de um tempo inicial de dois minutos e meio, soma do tempo de
detecção correspondente a 30 segundos com o tempo de atuação da brigada de incêndio em dois minutos. O
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tempo inicial deve ser agravado como resultado da inspeção de risco, mais exatamente em função da
existência de equipamentos de detecção e combate a incêndios, tais como:
a) empresa com sistema de detecção adequado, constituído por brigada de incêndio, extintores, hidrantes, detectores e sprinklers. Deve-se agravar o tempo inicial em 1 minuto
b) empresa com sistema de proteção regular constituído por brigada de incêndios, extintores e hidrantes. Deve-se agravar o tempo inicial em 4 minutos
c) empresa com sistema de prevenção deficiente, constituído por uma brigada de incêndio incompleta, extintores e rede de hidrantes parcial Deve-se agravar o tempo inicial em 8 minutos
Função Material
Para a função material o ideal é se procurar obter uma divisão que não seja muito extensa,
para não inviabilizarmos o trabalho. Como sugestão indicamos: ·
Classe A : Combustíveis comuns; · Classe B : Líquidos inflamáveis não voláteis; · Classe C : Líquidos inflamáveis voláteis; · Classe D : Líquidos combustíveis comuns; · Classe E : Líquidos combustíveis inflamáveis.
Função Prevenção
Como dissemos anteriormente a função prevenção está intimamente associada ao tempo
de atendimento. Para um razoável enquadramento e até mesmo para uniformizar unidades optamos por
associar a prevenção a um agravamento na função tempo. Os coeficientes de agravação são os constantes da
tabela ao lado. Na montagem da tabela consideramos a existência de um número mínimo de dispositivos de
proteção contra incêndio. Nesse caso, a existência desses dispositivos é obrigatória.
Equipamentos disponíveis Qde de pontos
Grande Risco
Médio Risco
Pequeno Risco
Brigada de Incêndio 10 S S S Vigilância Patrimonial 10 S S S/N Extintores e Carretas 01 S S S Hidrantes Internos 02 S S S/N Hidrantes Externos 02 S S/N S/N Canhões monitores 05 S/N S/N S/N Mangotinhos 01 S/N S/N S/N Moto-bombas 02 S S/N S/N Detectores 05 S S S/N Sprinklers automáticos 10 S S/N S/N Sprinklers Manuais 05 S/N S/N S/N Sistemas fixos de gases 10 S/N S/N S/N Sistemas fixos de espuma 08 S/N S/N S/N Sistemas fixos de pó 08 S/N S/N S/N Botoeiras de alarme 02 S S S/N Carros de bombeiros 05 S S/N S/N Coeficiente de agravação a ser aplicado 85 (1) (2) (3)
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Se a existência desses for opcional, o fato deles existirem significará um aumento da
pontuação, gerando, consequentemente, a uma redução do fator de agravação.
Notas: s/n indica que o sistema é opcional .
(1) até 50 pontos - > sem agravação de 40 a 50 pontos - > agravação de 10% de 30 a 40 pontos - > agravação de 30% abaixo de 30 pontos - > agravação de 100%
(2) até 30 pontos - > agravação de 10% de 20 a 30 pontos - > agravação de 30% abaixo de 20 pontos - > agravação de 100%
(3) ate 15 pontos - > agravação de 20% de 10 a 15 pontos - > agravação de 40% abaixo de 10 pontos - > agravação de 100%
Parâmetros Básicos
A proposta é a de se encontrar um modelo mais simples de determinação do DMP, o qual
pode vir a ser sofisticada à proporção em que forem sendo obtidos novos parâmetros. Desta forma,
escolhendo um ambiente fechado reduz-se o número de variáveis aleatórias. A escolha da detecção via
detectores de fumaça ou iônicos recai no fato deles poderem vir a ser sensibilizados de acordo com as
circunstâncias.
A partir daí a única variável restante é a referente a característica do material existente.
Para fins de estudo a escolha do material recai sobre o que apresente maior risco de incêndio, se existirem
vários materiais no mesmo ambiente. Face ao modelo escolhido os parâmetros que poderão vir a sensibilizar
os detectores são:
Aumento da pressão
O fluxo de ar para alimentação da reação de combustão gera um incremento na pressão
ambiente. Mesmo sendo pequeno pode ser um dado utilizável.
Aumento do fluxo de ar
O consumo de oxigênio gera um aumento da velocidade do ar, provocado pela reposição
do oxigênio consumido. As correntes de convecção do ar também aumentam a velocidade do fluxo de ar.
Aumento da temperatura
O aumento da temperatura é um dos dados relevantes. Para se criar uma situação
agravante poderemos posicionar a origem do foco do incêndio a 9 metros de distância de um detector
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hipoteticamente instalado no ambiente. Cubando-se o volume de ar do ambiente e sabendo-se a quantidade
de calor gerado com a queima tem-se o tempo necessário à sensibilização do instrumento.
Aumento da umidade
Determinadas substâncias ao oxidarem-se liberam água, aumentando o percentual de
umidade do ar.
Aumento da luminosidade
Este conceito deve ser empregado caso o detector seja ótico ou de chamas. A título de
ilustração, a queima de 230 gramas de algodão poderá sensibilizar um detector instalado em uma sala com
um volume de ar correspondente a 1.610 m3. Para tanto o instrumento deverá estar calibrado para uma
velocidade de ar correspondente a 0,2 m/s, a um percentual de umidade relativa a 60%, a uma pressão de ar
ambiente de 750 mmHg e a uma temperatura de 20°C.
Complementarmente ao proposto apresentamos um modelo desenvolvido por nós a
alguns anos, para a avaliação de risco de incêndio, com base em um trabalho divulgado pelo Prof. Jesus
Peres Obeso. Uma das preocupações que tivemos foi a de permitir que a avaliação do risco pudesse ser feita
independentemente da qualificação profissional do inspetor. Ou seja, quisemos excluir o achismo, evitando
dados desnecessários. Outro ponto foi o de permitir que se avaliasse a empresa segurada sob os aspectos de:
• Características das construções;
• Fatores de localização; .
• Fatores inerentes ao processo; ·
• Fatores de concentração;
• Destrutibilidade de substâncias/materiais; ·
• Propagabilidade do fogo; ·
• Sistemas de combate a incêndio existentes na empresa;
• Sistemas de combate a incêndio existentes no maior setor de incêndio.
A cada tópico há uma pontuação máxima e a pontuação recebida pelo item durante a
inspeção. A diferença entre elas demonstra o grau de deficiência do setor ou da empresa.
Método de avaliação de riscos por pontuação de itens empregado na aceitação prévia de risco incêndio
Avaliação do risco de incêndio
I - Características das construções
A) Número de andares ou altura da maior edificação ou risco
1 ou 2 menor do que 6 metros 5 pontos 3 a 5 de 9 a 15 metros 4 pontos 6 a 9 de 18 a 27 metros 2 pontos
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10 ou mais acima de 30 metros 0 ponto
B) Superfície do maior setor de incêndio
de 0 a 500 m2 5 pontos de 501 a 1.500 m2 4 pontos de 1.501 a 2.500 m2 3 pontos de 2.501 a 3.500 m2 2 pontos de 3.501 a 4.500 m2 1 ponto acima de 4.501 m2 0 ponto
C) Resistência ao fogo das estruturas do maior risco
Resistente ao fogo 10 pontos Não combustível l5 pontos Combustível 0 ponto
D) Existência de tetos ou forros falsos
Sem tetos ou forros falsos 5 pontos Tetos ou forros abaixo de lajes de concretos 4 pontos Tetos ou forros de material não combustível 12 pontos Tetos ou forros de material combustível 0 ponto
E) Isolamento contra incêndio do maior risco
Isolado por portas e paredes corta-fogo 10 pontos Isolado por portas e paredes incombustíveis 5 pontos Isolado por portas e paredes combustíveis 2 pontos Sem qualquer tipo de isolamento 0 ponto
F) Qualidade dos pisos do maior risco de incêndio
Pisos incombustíveis 5 pontos Pisos metálicos - não vazados 4 pontos Pisos metálicos – vazados 2 pontos Pisos combustíveis comuns 0 ponto
G) Resistência ao fogo do telhado e de sua estrutura
Resistente ao fogo 5 pontos Não combustíveis 2 pontos Combustíveis 0 ponto
H) Existência de aberturas confrontantes com outros riscos
Aberturas protegidas contra o alastramento dos incêndios 5 pontos Aberturas não protegidas 0 ponto
II - Fatores de Localização
A) Distância aos corpos de bombeiros e guarnições de incêndio
Menor do que 5 Km ou 5 minutos 5 pontos Entre 5 a 10 Km ou até 10 minutos 10 pontos Entre 10 a 20 Km ou até 15 minutos 3 pontos Acima de 20 Km ou 15 minutos 0 ponto
B) Acessibilidade aos edifícios pelas viaturas dos bombeiros externos
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Boa 5 pontos Média 3 pontos Ruim 0 ponto
C) Densidade de edificações ao redor do maior risco de incêndio
Área densamente construída 0 ponto Área mediam ente construída 3 pontos Área parcialmente construída 6 pontos Área esparsamente construída 10 pontos
III - Fatores de risco inerentes ao processo
A) Perigo de reativação do fogo
Baixo 10 pontos Médio 5 pontos Alto 0 ponto
B) Carga térmica
Baixa (até 50 Mcal/m²) 10 pontos Média (até 150 Mcal/m²) 5 pontos Alta (até 300 Mcal/m²) 3 pontos Muito alta (acima de 300 Mcal/m²) 0 ponto
C) Aspectos de ordem e limpeza
Ruim 0 ponto Regular 3 pontos Bom 5 pontos
D) Altura de armazenamento de mercadorias e matérias-primas na vertical
Até 3 metros de altura 5 pontos Ate 6 metros de altura 2 pontos Acima de 6 metros de altura 0 ponto
E) Áreas de armazenamento de mercadorias e matérias-primas na horizontal
Até 500 metros quadrados 5 pontos Até 1.000 metros quadrados 3 pontos Até 3.000 metros quadrados 1 ponto Acima de 3.000 metros quadrados 0 ponto
IV - Fatores de concentração de valores e de conteúdo
A) Concentração de valores dos bens no maior risco de incêndio
Até US$ 1,000,00/m2 10 pontos Até US$ 5,000,00/m2 5 pontos Acima de US$ 5,000,00/m2 3 pontos
B) Características do conteúdo do maior risco
De difícil reposição 0 ponto De média reposição 2 pontos De fácil reposição 4 pontos De imediata reposição 5 pontos
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V - Propagabilidade do fogo na área do maior risco
A) Propagabilidade na vertical
Baixa 5 pontos Média 2 pontos Alta 0 ponto
B) Propagabilidade na horizontal
Baixa 5 pontos Média 2 pontos Alta 0 ponto
VI - Destrutibilidade das substâncias e materiais
A) Por calor
Baixa 5 pontos Média 2 pontos Alta 0 ponto
B) Por fumaça ou por gases tóxicos
Baixa 5 pontos Média 2 pontos Alta 0 ponto
C) Por corrosão
Baixa 5 pontos Média 2 pontos Alta. 0 ponto
D) Por água
Baixa 5 pontos Média 2 pontos Alta 0 ponto
E) Por agentes químicos de combate a incêndios
Baixa 5 pontos Média 2 pontos Alta 0 ponto
Sub-total X
Máx. 160 pontos
VII -Sistemas de combate a incêndio existentes na empresa
A) Extintores 1 ponto B) Hidrantes internos 3 pontos C) Hidrantes externos 5 pontos D) Mangotinhos 2 pontos E) Carros de bombeiro ou moto-bombas 1 ponto F) Chuveiros automáticos contra incêndio 10 pontos G) Detectores automáticos contra incêndio 2 pontos H) Sistemas fixos de gases 5 pontos I) Botoeiras de alarmes 1 ponto
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J) Reserva de água contra incêndio Até 120.000 m3 2 pontos Até 500.000 m3 5 pontos Mais de 500.000 m3 10 pontos
L) Brigada contra incêndio
Multiplicar os pontos obtidos anteriormente por 1 Sub-total Y pontos Máx. 80 pontos
VIII – Sistemas de proteção contra incêndio existentes no maior risco
A) Extintores 1 ponto B) Hidrantes 4 pontos C) Chuveiros automáticos contra incêndio 10 pontos D) Detectores automáticos 3 pontos E) Outros tipos de dispositivos de combate 2 pontos F) Brigada de incêndio pontos
Multiplicar os pontos obtidos anteriormente por 1 Sub-total Z Máximo 40 pontos
IX - Índice de proteção contra incêndio - PCI
PCI = (4 x X) + (3 x Y) + (2 x Z) + {(0,5 V)+(0,5 B)} 160 80 40
V =Vigilância permanente na empresa
B=Existência de Bombeiros profissionais permanentemente
PONTUAÇÃO
PCI até 4.pontos = risco aceitável PCI até 6 pontos = risco regular PCI até 8 pontos = risco bom PCI até 9 pontos = risco muito bom PCI acima de 9 pontos = risco ótimo
A análise final não termina com o preenchimento das planilhas e das avaliações de
eficiência dos dispositivos ou sistemas. Quando um risco apresenta alguma deficiência essa pode ser
corrigida pontualmente, ou afetar a toda a instalação. A indústria deve avaliar nesses casos qual o melhor
plano de contenção dos riscos e comparar sua efetividade com o custo de mudança dos equipamentos ou
processos.
Outro aspecto interessante desta metodologia é a de que a empresa pode ampliar os
conceitos de segurança intrínseca aumentando os pontos para itens específicos, ou inserindo outras questões,
como por exemplo: planos de manutenção, experiência das equipes de operação, tempo de uso dos
equipamentos, existência de procedimentos operacionais, planos de certificação, entre outros, ou seja, não se
trata de um processo de avaliação estático, mas sim dinâmico.
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