UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
KAREN KIRCHNER
BNDES E A INTERNACIONALIZAÇÃO DOS FRIGORÍFICOS BRASILEIROS
Florianópolis
2017
KAREN KIRCHNER
BNDES E A INTERNACIONALIZAÇÃO DOS FRIGORÍFICOS BRASILEIROS
Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de
Relações Internacionais, da Universidade do
Sul de Santa Catarina, como requisito para
Bacharel em Relações Internacionais.
Orientador: Graciella Martignago, Dr.
Florianópolis
2017
AGRADECIMENTOS
Sou grata pelas energias que emanam pelo universo e respondem ao meu
positivismo e aspiração. Sem algo em que acreditar, eu não estaria finalizando algo tão
importante para meu futuro de vida.
Não tenho palavras que possam agradecer aos meus pais, Altair e Clarice, por
tudo o que fizeram por mim, pelo apoio imenso que deram e dão para passar as dificuldades
que aparecem na vida. Sou extremamente grata a vocês.
Agradeço aos meus familiares que estiveram presentes nesta etapa, que me
apoiaram de diversas maneiras, com suas energias positivas pude chegar até onde cheguei.
Agradeço ao meu namorado, Válter, pela tamanha paciência e companheirismo
neste período de muita dedicação. Sua compreensão, carinho e amor são e foram muito
importantes para mim.
Agradeço aos meus amigos e colegas de faculdade, Gabriela, Gustavo, Lanúsia e
Leon, que me apoiaram e ajudaram nesta jornada, sem o companheirismo de vocês eu não
seria capaz de concluir esta etapa. E que esta amizade dure por mais anos. Agradeço também
aos meus amigos que estiveram me apoiando e acompanhando minha jornada desde o colégio
até este momento, são importantíssimos para mim, em especial Luiza e Victória.
Agradeço à minha orientadora Graciella, por toda paciência e compreensão, assim
como, pelo grande apoio que me deu nesta etapa. Também agradeço aos professores que
foram importantíssimos para meu desenvolvimento acadêmico.
“Não perca a humildade. Além da planície, surge a montanha, e, depois da
montanha surge o horizonte infinito” (André Luiz).
RESUMO
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é o maior banco de
desenvolvimento do Brasil e um dos maiores do mundo, cujos variados programas de
financiamento têm sido importantes para a indústria brasileira. Um dos setores beneficiados
pela política brasileira de internacionalização foi o setor de frigoríficos. Mostrou-se neste
trabalho como o BNDES impulsionou a internacionalização dos frigoríficos brasileiros.
Através de pesquisa bibliográfica e documental, descreveu-se as políticas brasileiras de
incentivo à internacionalização, a indústria de carnes brasileira e, por fim, como o governo
brasileiro usou um banco de desenvolvimento como um instrumento de incentivo à
internacionalização da indústria brasileira, com o objetivo de impulsionar economia brasileira
no mercado internacional através do estudo de três empresas do setor: a JBS, Marfrig e Brasil
Foods (BRF). Constatou-se, assim, o grau de participação do BNDES, por meio de
participação acionária e financiamentos, na internacionalização das multinacionais estudadas,
do período de 2002 a 2016. E também, o quanto o governo brasileiro tem influência sobre a
internacionalização da indústria de carnes.
Palavras-chave: Internacionalização. BNDES. Setor frigorífico.
ABSTRACT
The Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) is the largest bank in
Brazil and one of the world’s largest, whose varied programs in the recent years has been
essential for the Brazilian industry. The meat industry was one of the sectors benefited by the
Brazilian policy of internationalization. It was shown in this paper hoe the BNDES boosted
the internationalization of the Brazilian’s meat industry. Through bibliographical and
documentary research, it was described the Brazilian policies of incentive to
internationalization, the Brazilian meat industry and, finally, how the Brazilian government
used a development bank as an instrument to encourage the internationalization of Brazilian
industry, with the objective of boosting the Brazilian economy in the international market
through the study of three companies in the sector: JBS, Marfrig and Brazil Foods (BRF). The
degree of BNDES participation, through equity participation and financing, was observed in
the internationalization of the multinationals studied, from 2002 to 2016. And also, how much
the Brazilian government has influence on the internationalization of the meat industry.
Keywords: Internationalization. BNDES. Meat industry.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1 - Investimento direto no exterior - Participação no capital - US$ (milhões). .......... 32
Quadro 1 - Formas de apoio do BNDES à exportação. ......................................................... 35
Gráfico 2 - Destino da produção brasileira de carne bovina em 2015. ................................... 40
Gráfico 3 - Destino da produção brasileira de carne de frango em 2016. ............................... 41
Gráfico 4 - Destino da produção brasileira de carne suína em 2016. ..................................... 42
Quadro 2 - Posições de maiores produtores, exportadores e importadores dos três principais
segmentos industriais da carne. ............................................................................................ 43
Quadro 3 - Unidades de negócios da JBS. ............................................................................ 48
Gráfico 5 - Participação acionária do BNDES no capital da JBS (%).................................... 54
Quadro 4 - Unidades de negócio da Marfrig. ........................................................................ 56
Gráfico 6 - Participação acionária do BNDES no capital da Marfrig (%). ............................. 59
Quadro 5 - Unidades de negócio da BRF. ............................................................................. 63
Gráfico 7 - Participação acionária do BNDES no capital da BRF (%). ................................. 68
Gráfico 8 - Composição da renda variável por instrumento (2016) (%). ............................... 70
Gráfico 9 - Composição da renda variável por setor (2016) (%). .......................................... 70
Gráfico 10 - Apoio do BNDES ao setor de carnes (2005-2016) (%). .................................... 71
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Exportação Pré-Embarque – JBS. ........................................................................ 50
Tabela 2 - Renda Variável – JBS. ......................................................................................... 51
Tabela 3 - Operações diretas e indiretas não automáticas – JBS. ........................................... 52
Tabela 4 - Operações indiretas automáticas – JBS. ............................................................... 53
Tabela 5 - Exportação Pré-Embarque – Marfrig. .................................................................. 56
Tabela 6 - Renda Variável – Marfrig. ................................................................................... 57
Tabela 7 - Operações diretas e indiretas não automáticas – Marfrig. ..................................... 58
Tabela 8 - Operações indiretas automáticas – Marfrig. ......................................................... 59
Tabela 9 - Exportação Pré-Embarque – BRF. ....................................................................... 64
Tabela 10 - Renda Variável – BRF. ...................................................................................... 65
Tabela 11 - Operações diretas e indiretas não automáticas – BRF. ........................................ 65
Tabela 12 - Operações indiretas automáticas – BRF. ............................................................ 67
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11
1.2 OBJETIVOS................................................................................................................ 13
1.2.1 Objetivo geral .......................................................................................................... 13
1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................................... 13
1.3 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 14
1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................. 15
2 REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................................ 17
2.1 INTERNACIONALIZAÇÃO ...................................................................................... 17
2.1.1 Internacionalização e a relação com o Estado ....................................................... 23
3 POLÍTICAS BRASILEIRAS DE INCENTIVO À INTERNACIONALIZAÇÃO .... 28
3.1 BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL
(BNDES) ............................................................................................................................. 33
4 SETOR FRIGORÍFICO .............................................................................................. 39
5 INFLUÊNCIA DO ESTADO NA INTERNACIONALIZAÇÃO DOS
FRIGORÍFICOS BRASILEIROS .................................................................................... 44
5.1 JBS .............................................................................................................................. 44
5.1.1 Marfrig .................................................................................................................... 54
5.1.2 Brasil Foods (BRF).................................................................................................. 60
5.1.2.1 Sadia ...................................................................................................................... 60
5.1.2.2 Perdigão ................................................................................................................. 61
5.1.2.3 Brasil Foods ........................................................................................................... 62
5.1.3 BNDES como principal ferramenta de apoio ao setor frigorífico brasileiro. ....... 68
6 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 74
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 77
11
1 INTRODUÇÃO
A competitividade cada vez mais acirrada no mercado interno brasileiro e a
recente globalização, que impulsionou o mercado econômico no ambiente internacional,
influenciam as empresas a buscarem novos mercados, lançando-se para outros países. Porém,
existem certas dificuldades, principalmente, para países emergentes como é o caso do Brasil,
que veio a ter suas primeiras empresas internacionalizadas apenas na década de 90, enquanto
as empresas dos países desenvolvidos estavam em diversos mercados há alguns anos. Nos
estudos da teoria de internacionalização, o caso brasileiro é considerado ainda recente.
Apesar do atual modelo de mercado internacional se caracterizar principalmente
como um sistema de mercado livre, guiado pela mão invisível (oferta e demanda), segundo
Nardi et al (2015), o Estado obtêm certa influência ao intervir no mercado, com objetivo de
corrigir as imperfeições que possam ocorrer no mesmo.
Com isso, em um ambiente em que a globalização tem tomado conta do mercado
nos últimos anos, o Estado torna-se um personagem cada vez mais ativo nas mudanças, ou
seja, o Estado passa a ser um guia social e responsável pela criação de demanda na sociedade
(NARDI et al, 2015).
Ao pensar no termo internacionalização, há muitas dúvidas de como ocorre este
fenômeno e o que está envolvido. É importante frisar que a internacionalização não se limita à
exportação e importação de bens e serviços a partir de uma planta nacional. A
internacionalização se dá através da inserção de uma empresa no exterior que envolve a
produção através da aquisição de uma empresa estrangeira ou na criação de uma planta nova
no exterior. Sendo assim, a empresa cria um vínculo com novos mercados em outros países e
regiões, concorrendo com outras empresas do mesmo ramo nestes novos mercados, de forma
que deve se adaptar a esses novos padrões e exigências (COELHO; OLIVEIRA JUNIOR,
2016; GILPIN, 2002; ROCHA, 2014).
No decorrer da última década, diversas empresas brasileiras começaram a se
destacar em âmbito internacional, período que foi marcado pela expansão de companhias
originadas de países emergentes, de ambientes internacionais instáveis, e que passaram a
competir em novos mercados, mais fortemente estabelecidos, em conjunto com empresas
multinacionais originadas de países desenvolvidos. Um dos principais motivos e incentivos às
empresas brasileiras para tal ato foi devido à parceria do governo brasileiro na
internacionalização dessas empresas, através, principalmente, do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) (ROCHA, 2014). O banco é um instrumento
12
do governo brasileiro para fazer financiamento a longo prazo e investimentos em diversos
segmentos pertencentes à economia brasileira, apoiando empreendedores em seus objetivos,
sejam eles de modernização, expansão e concretização de seus negócios (BANCO
NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2017b).
De acordo com Rocha (2014), muito embora o fluxo de Investimento Direto
Externo (IDE) brasileiro seja baixo, comparado aos demais fluxos que abastassem a economia
mundial, algumas empresas, na última década, cresceram de uma maneira rápida e
apresentam-se na lista das maiores multinacionais do mundo e se tornaram empresas com
grande influência em ambiente nacional. Um evento importante, o qual impactou a estrutura
do país, não só economicamente, como politicamente.
Dentre os produtores da economia brasileira que se destacam, estão os da indústria
frigorífica, de abate de carnes. Consolidado como potência na produção e exportação de carne
bovina na década de 2000 e assumindo a primeira colocação dentre os exportadores no ano de
2004, o Brasil é, atualmente, o segundo maior produtor do mundo, ficando apenas atrás dos
Estados Unidos. Há suposições de que, em uma média de cinco anos, o Brasil irá ultrapassar
os EUA, e assumirá a primeira posição no ranking dos maiores produtores de carne bovina do
mundo (SOCIDADE NACIONAL DE AGRICULTURA, 2016).
De acordo com dados do International Trade Centre (2015), o Brasil exportou em
torno de 13 bilhões dólares em carnes para o mundo em 2015, ficando atrás dos Estados
Unidos que vendeu em torno de 14 bilhões dólares. Deste modo, pode-se observar, a
aproximação brasileira como líder mundial de exportação de carnes.
O fato de o governo brasileiro abster de uma política bem formulada e estruturada
para incentivar as empresas nacionais (COELHO; OLIVEIRA JUNIOR, 2017; COSTA;
SOUZA-SANTOS, 2010), a atuação do BNDES foi uma via importante de estímulo para
internacionalização das empresas brasileiras, principalmente para fortalecimento da indústria
nacional, maior competitividade e maiores exportações, além do acesso à tecnologia e a
geração de divisas, e assim alavancando o crescimento das empresas através das filias no
exterior (COSTA; SOUZA-SANTOS, 2010).
O crescimento do setor agroindustrial foi reconhecido pelo governo brasileiro, que
chegou a implementar políticas industriais que objetivavam estimular a inserção destas
empresas nos mercados externos, o que envolveu a participação de capital público na
estrutura societária de empresas privadas e/ou a concessão de vultosos financiamentos do
BNDES, transformando as empresas brasileiras desta indústria em multinacionais.
13
As empresas multinacionais, como a JBS, Marfrig e Brasil Foods (BRF),
receberam diversos financiamentos por parte do banco para que conseguissem fazer
aquisições no exterior. Alguns desses financiamentos teve participação acionária por parte do
banco, revelando que porcentagens das ações dessas empresas são parte do governo brasileiro.
Esse fato é ainda um tanto quanto desconhecido pela sociedade e é de extrema importância
para o mercado.
Sabe-se então que o governo brasileiro ainda não obtém uma estrutura política
organizada o suficiente para gerar estímulos à internacionalização das empresas brasileiras,
mas através do BNDES, banco estatal, essas empresas conseguiram um apoio e suporte para
impulsionar-se no mercado estrangeiro. Um dos setores mais privilegiados por parte do
banco, é o setor da agroindústria, principalmente no segmento de carnes, que curiosamente o
primeiro financiamento para internacionalizar uma empresa foi com a empresa JBS, que hoje
é uma das maiores processadoras de carne do mundo (ROCHA, 2014).
São essas informações que incentivaram o interesse de estudar a atuação do
governo, através do BNDES, na internacionalização dos frigoríficos brasileiros, que hoje são
grandes multinacionais, com grande importância no mercado, mas ainda casos pouco
analisados pela academia.
Com interesse de contribuir com essa temática, a pergunta de pesquisa deste
trabalho é: Como as políticas e incentivos do BNDES influenciaram a internacionalização dos
frigoríficos brasileiros no período 2002 a 2016?
1.2 OBJETIVOS
A seguir serão apresentados os objetivos geral e específicos deste trabalho.
1.2.1 Objetivo geral
Descrever como as políticas e incentivos do BNDES influenciaram a
internacionalização dos frigoríficos brasileiros no período 2002 até 2016.
1.2.2 Objetivos específicos
a) Apresentar a estrutura do mercado de carnes;
b) Identificar as políticas e incentivos do BNDES para a internacionalização de
empresas brasileiras; e
14
c) Mostrar a participação acionária e os financiamentos concedidos pelo BNDES
às multinacionais brasileiras da indústria de carnes.
1.3 JUSTIFICATIVA
A internacionalização das empresas brasileiras intensificou-se na década de 90,
quando houve a abertura comercial e as mudanças nas políticas comerciais, que criaram um
ambiente favorável para adentrar no mercado internacional. Estas mudanças institucionais
fizeram com que as empresas brasileiras se tornassem atores presentes nessa nova onda de
internacionalização que se estende até os dias atuais.
A importância dos investimentos da agroindústria brasileira no exterior foi
reconhecida pelo governo brasileiro, que chegou a implementar políticas industriais que
objetivavam estimular a inserção destas empresas nos mercados externos, o que envolveu a
participação de capital público na estrutura societária de empresas privadas e/ou a concessão
de financiamentos do BNDES, ou ainda, gerou participações acionárias em alguns casos de
aquisição no exterior. Entretanto, estas políticas ainda foram pouco analisadas em estudos
acadêmicos.
Por isso, dá-se a importância da análise da atuação de um banco estatal, o
BNDES, na internacionalização das empresas no setor agroindustrial com foco na indústria de
carnes, um dos setores mais importantes economicamente para o Brasil, no qual, o país tem
grandes empresas, com enorme importância nacional quanto internacional, que obtêm títulos
como uma das maiores processadoras de carnes bovinas, aviárias e suínas do mundo, como a
JBS e BRF. Não apenas será analisado a atuação do banco na internacionalização dessas
empresas, assim como demais empresas do ramo que obtiveram o apoio nas suas
movimentações no exterior. Segundo Rocha (2014) trata-se de um acontecimento tão
importante para o país, que é de grande importância estudá-lo não só em âmbito econômico,
mas também político.
São poucos os estudos sobre a atuação do governo brasileiro na
internacionalização dos frigoríficos brasileiros. A partir disso, cabe contribuir a esses estudos,
ao analisar este ramo tão forte no mercado nacional e internacional, e também um dos
principais pilares econômicos para o Brasil.
Este estudo contribui também com os formuladores de políticas públicas e
gestores de empresas privadas ao apresentar como ocorreu o crescimento das empresas
brasileiras no exterior. Contribui-se com a academia e a Universidade do Sul de Santa
15
Catarina (UNISUL), para que fique disponível para demais colegas na área, para futuras e
possíveis pesquisas em relação ao tema abordado. A pesquisa também é relevante para o autor
a partir do momento que será um profissional na área de Relações Internacionais.
1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Abordar-se-á neste tópico os procedimentos metodológicos da pesquisa. A
pesquisa é um desenvolvimento formal e sistemático, que tem como objetivo encontrar
respostas para os problemas em questão através de um processo científico (GIL, 2008). Neste
sentido, desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa, ao descrever as políticas e instrumentos do
BNDES para a internacionalização, e quantitativa, ao apresentar medidas de um
comportamento observável (o ‘o quê’), e quanto dos recursos disponibilizados pelo banco
foram captados pelas empresas estudadas, destacando que os dados pesquisados estavam
fragmentados e dispersos em planilhas disponibilizadas pelo BNDES, dessa forma, com a
agregação dos valores encontrados de cada empresa e cada operação separadamente, foi
possível realizar a descrição total dos valores fornecidos pelo BNDES em seus programas
para as empresas (MARSCHAN-PIEKKARI; WELCH, 2006).
A pesquisa desenvolvida foi explicativa porque explicou a atuação do BNDES na
internacionalização dos frigoríficos brasileiros, fazendo uso essencialmente da coleta de dados
do banco e das empresas estudadas. Identificou-se os fatores que determinam ou que
contribuíram para a ocorrência dos fenômenos, mostrando a razão e porquê das coisas e
acontecimentos, o que caracteriza uma pesquisa explicativa, de acordo com Gil (2008). Ao
estudar a atuação do BNDES na internacionalização de frigoríficos brasileiros tem-se aqui um
estudo de casos. Segundo Yin (2005, p.13, tradução nossa)1, “o estudo de caso é um estudo
empírico que investiga um fenômeno atual dentro do seu contexto de realidade, quando as
fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidas e no qual são utilizadas
várias fontes de evidência”.
Os casos analisados foram definidos intencionalmente porque permitiram que se
entendesse um fenômeno específico. Foram considerados revelatory case – aqueles que as
informações descritas são reveladoras. Esta situação ocorre quando o investigador tem a
oportunidade de observar e analisar uma investigação científica previamente não acessível
1 “A case study is an empirical inquiry that investigates a contemporary phenomenon within its real-life context,
especially when the boundaries between phenomenon and context are not clearly evidente” (YIN, 2005, P.13).
16
(MERRIAM, 2002, 2009; PATTON, 2002; TRIVIÑOS 1987; YIN, 1984). Foram escolhidas
outlier companies ou situações onde certos atributos são salientados ou evidenciados
(LERVIK, 2011).
Para a seleção das empresas a serem pesquisadas, foi considerado a relevância
dessas para o processo de internacionalização de empresas brasileiras. Observou-se o
histórico das empresas ao que se refere sua internacionalização em conjunto com dados do
BNDES, localizando, assim, a relação da empresa com o banco através de participação
acionária e outros instrumentos utilizados; a posição das empresas no ranking dos principais
competidores internacionais do setor; a disponibilidade de acesso a dados primários.
Desenvolveu-se também uma pesquisa bibliográfica por esta estar baseada em
estudos prévios sobre o tema, vindos de livros, artigos científicos e fontes secundárias, nas
línguas portuguesa e inglesa. E também é uma pesquisa documental, ou seja, materiais como
artigos de jornais especializados que envolvam o tema da internacionalização das empresas,
bem como os relatórios das empresas estudadas, como o BNDES e os frigoríficos que serão
parte da análise (GIL, 2008).
Assim, através de estudos bibliográficos foram conceituadas teorias de
internacionalização, e a relação do Estado com a internacionalização de empresas, e em
seguida serão apresentadas as políticas brasileiras à internacionalização e um levantamento
histórico sobre o BNDES. Com base em duas principais associações, a Associação Brasileira
das Indústrias Exportadoras de Carne e Associação Brasileira de Proteína Animal, foi
realizada uma análise do mercado de carnes brasileira e apresentada sua estrutura. Também
foram utilizados relatórios financeiros e administrativos anuais das empresas estudadas,
analisados ano a ano (de 2002 a 2016, sempre que possível encontrá-los no site das empresas),
em conjunto com a história das empresas disponíveis nos sites, para que fosse possível
analisar o histórico da internacionalização das empresas. E por meio de documentos
disponíveis pelo BNDES no site do banco, através de consultas individuais de cada empresa
estudada, foi possível analisar os valores concedidos às empresas selecionadas, que diz
respeito aos financiamentos, participação acionária, debêntures, como também operações
destinadas à exportação, aquisição de máquinas e equipamentos, melhoria de capital etc., com
foco no período de 2002 a 2016. Logo, com os documentos analisados das empresas e banco,
foi possível criar uma linha de análise, através do sistema Excel, que permitiu a ordenação e
agregação dos dados, da influência do BNDES na internacionalização das empresas, ligando
as aquisições das empresas e os desembolsos do banco concedidos a elas.
17
2 REFERENCIAL TEÓRICO
É neste campo que serão abordados os fundamentos teóricos do tema de pesquisa
deste trabalho. A partir de uma visão ampla para uma mais específica, serão apresentados
conceitos de internacionalização de empresas e sua relação com o Estado, o mercado nacional
da indústria de carnes, para que então se possa, posteriormente, compreender as políticas
adotadas pelo governo brasileiro na internacionalização das empresas, com enfoque no setor
de frigoríficos.
2.1 INTERNACIONALIZAÇÃO
Temas referentes à internacionalização de empresas destacaram-se no período pós
Segunda Guerra Mundial, que muito se deve à mobilização para reconstrução dos países
afetados pela guerra. Assim, empresas originárias, principalmente dos Estados Unidos, e
também países do continente europeu caracterizaram esse período com seu rápido avanço
internacional (DIAS; CAPUTO; MARQUES, 2012; FLEURY; FLEURY, 2007). A partir
desse fato, ao longo do tempo, adquiriu-se uma necessidade teórica de entender as motivações
das empresas, e o que fez com que obtivessem parte ou um novo meio de produzir/vender seu
produto ou serviço em um território estrangeiro.
Antes de iniciar a apresentação dos estudos teóricos sobre as motivações das
empresas multinacionais à sua internacionalização, tem-se a importância de entender o que é
esse processo.
Os termos “multinacionais e internacionalização” estão interligados.
Multinacionais são empresas que obtêm e administram unidades em dois ou mais países. Suas
aquisições são resultado da internacionalização, que são o fluxo de Investido Direto Externo
(IDE) da empresa para um país estrangeiro, nas suas unidades sejam estas de serviços,
indústrias extrativas ou fábricas. Expressando assim, uma extensão do controle administrativo
da empresa através das fronteiras nacionais (GILPIN, 2002).
Segundo Urbasch (2004) há quatro formas ou etapas de internacionalizar, sendo
elas: exportação; presença comercial; presença produtiva e; presença de pesquisa e
desenvolvimento (P&D). Propõe-se que a ordem natural do processo se dê na ordem
apresentada, sendo de certa forma intuitiva. Contudo, as empresas não necessariamente têm
de seguir esta ordem. Para Almeida (2007), as empresas adotam uma ordem natural ao ocupar
o mercado internacional, contudo, dois momentos principais são caracterizados pelo autor no
18
processo de internacionalização: atender o mercado internacional através das exportações e
uso do Investimento Direto Externo (IDE), seja este para implantar um escritório comercial
ou unidades produtivas.
Diferentes estratégias são adotadas pelas empresas para se internacionalizarem.
Um dos principais motivos que levam as empresas a internacionalizarem é devido às barreiras
comercias, como as tarifas aduaneiras, taxas e cotas de importação. Ou seja, quando um país
obtém taxas altas para produtos importados, uma das opções mais adequadas para a empresa
estrangeira é adentrar naquele mercado, passando através barreiras, pois a partir do momento
que sua produção entra no país, seu produto não será mais taxado como produto importado.
Outra opção considerável seria contratar uma empresa nacional daquele país para produzir seu
produto. A última opção menos conveniente seria abandonar completamente aquele mercado
(FORNARI, 2010).
Estudiosos observaram esse fenômeno em busca de teorias que pudessem explicar
o que está por trás da internacionalização das empresas, ou seja, teóricos buscam responder
aos porquês e o como esse processo ocorre às empresas.
Uma das primeiras teorias da época foi a teoria de Hymer. Em 1960, buscou
entender o fluxo de IDE. Alegou que as empresas não seguem o padrão de driblar as taxas
altas de juros, mas sim que o fluxo de IDE das empresas deve-se à expansão internacional de
cada empresa, ou seja, vem da exploração das vantagens da propriedade ou ownership, que
diz respeito à capacidade de investir o próprio capital e a sua presença física no exterior que é
capaz de eliminar a concorrência naquele mercado. Outra vantagem a ser explorada é a
vantagem de controle, que nada mais é que ultrapassar as imperfeições do mercado ao
explorar e ampliar a empresa. Acrescentava-se que a ideia do fluxo de IDE ocorrer seria
devido às taxas de juros serem maior em outro país e que esse fator seria o que as empresas
buscavam, mas isso é uma consequência. A partir do momento que a empresa se instala em
um território estrangeiro, esta busca financiar suas operações nas fontes locais, o que acaba
por acontecer essa inversão no fluxo de capitais (AMATUCCI, 2009).
Os fluxos de comércio, assim como o local de produção internacional podem ser
explicados pela evolução da tecnologia e a sua dispersão entre as demais economias/países e a
mudança na vantagem comparativa entre as economias nacionais. É a partir disso, que em
1966, Vernon cria sua teoria do ciclo de vida do produto, ou seja, nesta teoria o autor
considera a inovação tecnológica um ponto chave, que vem do intensivo uso de capital e mão-
de-obra especializada. A ideia do ciclo de vida do produto é que em seu próprio mercado, a
empresa passa a introduzir e produzir a inovação, usufruindo do meio até que se torne
19
monopólio do produto. Então, quando os concorrentes passam a dominar a tecnologia, a
empresa deve buscar a concorrência através do preço, levando a confecção de seu produto em
outro país com as condições favoráveis, ou seja, com fatores de produção mais baratos.
Assim, ao produzir mais barato em outro país e exportá-lo de volta para seu país de origem, a
empresa conseguirá introduzir um produto mais competitivo na diferenciação de custo
(AMATUCCI, 2009; GILPIN, 2002).
Outra teoria, e uma das mais famosas, é a Abordagem Eclética de Dunning, no
qual, o teórico John H. Dunning em 1980 aborda que as empresas precisam obter tipos de
vantagens que vençam a de seus competidores. Tem-se então a vantagem de propriedade que
diz respeito aos ativos tangíveis e intangíveis, são alguns exemplos a marca, imagem, mão-de-
obra barata, capacidade tecnológica etc., que fazem com que a empresa possa desfrutar das
vantagens locais propostas pelos países, que são os recursos naturais, infraestrutura, tamanho
do mercado competitivo etc. É a composição dessas vantagens que diferenciam as empresas
multinacionais de países desenvolvidos daquelas de países em desenvolvimentos (ALMEIDA,
2007; AMATUCCI, 2009; FLEURY E FLEURY, 2007).
Dunning classifica, na teoria, algumas motivações que a empresas têm para
internacionalizarem, assim, vão em busca de: recursos naturais (matérias primas e mão-de-
obra baratos); comercialização (instalação de escritórios de representação); acesso a novos
mercados (reflexo da disputa entre as empresas para participarem do mercado internacional);
e ganhos de eficiência (a partir da divisão das etapas de produção têm-se a necessidade de
explorar economias de especialização e localização em busca de vantagens específicas para
cada etapa da produção) (ALMEIDA, 2007; DIAS; CAPUTO; MARQUES, 2012).
O modelo de Uppsala, criada por Johanson e Vahlne em 1977, considera que a
entrada gradual de empresa no mercado internacional é um crescente comprometimento por
parte da empresa para com o mercado externo, através do aprendizado, experiência e
conhecimento. Cada etapa vencida implica em um maior recurso e conhecimento
(ALMEIDA, 2007).
Um ponto extra na teoria, segundo Johanson e Vahlne (1977 apud ALMEIDA,
2007) é a distância psíquica que interfere no fluxo de informação, exemplo disso são fatores
como a língua, educação, cultura, desenvolvimento, entre outros. Esses fatores podem
interferir no fluxo de comércio entre os países, pois a partir do momento que os países têm
uma proximidade cultural, por exemplo, fará com estes fiquem mais “próximos” apesar da
distância física.
20
A percepção do tema internacionalização ser tão atual e comentado deve-se ao
fato de que, como foi rapidamente mencionado, no período pós Segunda Guerra Mundial, as
empresas que se lançaram no mercado mundial tiveram grande movimentação pelo mundo,
essas empresas têm destaque por serem originadas de países desenvolvidos, e um dos
principais motivos de sua internacionalização deve-se pela busca de recursos naturais, outro
ponto que foi consequência do aumento da movimentação das multinacionais deve-se pela
participação das empresas norte-americanas na reconstrução da Europa no pós guerra (DIAS;
CAPUTO; MARQUES, 2012).
Pode-se dividir o período pós-guerra, até os dias atuais, em três momentos, ou
como é conhecido, as ondas de internacionalização. Em que na primeira onda de
internacionalização se destaca as empresas norte-americanas. De acordo com Gilpin (2002) na
década de 60 o IDE sofreu mudanças devido às novidades nos meios de transporte de
comunicação, políticas governamentais favoráveis e também devido ao novo ambiente
internacional, no qual surge a ascensão de poder e economia dos Estados Unidos. A partir do
seu objetivo de acessar o mercado, que até então obtinha predominante característica a
economia fechada, as empresas norte-americanas buscaram fazer forte investimento na
Europa, de acordo com o autor, fora em resposta ao surgimento do Mercado Comum Europeu
e a criação da tarifa externa comum.
As crises de petróleo na década de 70, foram cruciais para a mudança no mercado
internacional, e com as mudanças de regimes de mercado, deu-se espaço para novos players,
em particular os japoneses, seguidos pelos coreanos e demais países asiáticos, ou como pode-
se dizer, os chamados NICs (Newly Industrializes Countries – Países Recentemente
Industrializados), que vieram a ser também membros da segunda onda de internacionalização.
O que se pode destacar, ao que se refere a esses novos participantes no mercado internacional,
a exemplo dos japoneses, que acabaram por desenvolver um novo tema de pesquisa, pois ao
contrário do que até então as teorias de internacionalização contavam, os japoneses não
possuíam nenhuma empresa oligopólio e nem suas características empresariais e tecnológicas
eram conhecidas ainda. Houve então um período de reconstrução industrial por parte desses
novos players na década de 80, para que pudessem competir em novos mercados, como o
ocidente (FLEURY; FLEURY, 2011; GILPIN, 2002).
E por fim, foi na década de 90, até os dias atuais que se estende a terceira onda de
internacionalização, em que os novos protagonistas tiveram que repensar e atualizar seu
sistema de produção, gestão e projetos organizacionais para que pudessem competir
internacionalmente. São os novos protagonistas, conhecidos como BRIC (Brasil, Rússia, Índia
21
e China), os países em desenvolvimento, considerados tardiamente globalizados. Uma
característica das empresas desses países é que no começo de seu processo de
internacionalização, grande parte delas eram empresas estatais, e após tornarem-se empresas
privadas, passaram a obter maior força nos anos 2000, consequentemente impulsionando a
economia desses países emergentes. Outro ponto chave dessas empresas é que estas obtêm
certas vantagens competitivas diferenciadas, o que abalou as empresas de países
desenvolvidos, que se encontravam estagnadas. São essas vantagens o vasto recurso natural
que alguns desses países têm, como é o caso do Brasil e Rússia. Já as vantagens competitivas
da Índia e China deve-se ao seu vasto mercado interno e mão de obra barata (FLEURY;
FLEURY, 2011; RAMAMURTI; SINGH, 2009).
A globalização e o processo de abertura econômica de países emergentes, como o
Brasil, tem grande destaque. Nesse momento fica claro para as empresas dos países em
desenvolvimento a necessidade de serem competitivas no mercado internacional, para que
pudessem manter os mercados internos e ao mesmo tempo expandir-se no mercado
internacional. Para isso buscou-se fazer acordos/alianças com outras empresas, até mesmo
empresas estrangeiras, e instalar unidades de produção ou escritórios comerciais em países
estrangeiros. É perceptível a consequência gerada pela globalização e interdependência no
sistema internacional, pois as empresas deixam de ser afetadas apenas por sua economia
nacional, como também pela competição internacional (ALMEIDA, 2007).
Segundo Fleury e Fleury (2007), os estudos referentes a essa participação de
empresas originadas de países em desenvolvidos são ainda recentes, mas com grande
importância. O termo designado para essas empresas é “late movers”, ou seja, “entrantes
tardios”, ou até mesmo “multinacionais emergentes”. Atualmente, não existe uma teoria que
possa explicar em especial e unicamente a internacionalização desses entrantes tardios. Fleury
e Fleury (2007) explicam que a razão para isso se deve ao fato de que as teorias existentes
foram lançadas em outra época, onde o ambiente internacional tinha características diferentes
do que se tem hoje, além de que os objetivos de tais teorias era analisar as empresas
multinacionais dos Estados Unidos, Japão, Escandinavas, Coreanas, etc. Logo, os autores
consideram a busca por uma teoria que possa explicar, por exemplo, a internacionalização de
empresas brasileiras que são late movers, encontra-se uma posição ambígua, pois não existem
teorias especificas e as existentes são retratadas de um contexto diferente. Assim, tem-se que
a teoria que possa explicar efetivamente a internacionalização dessas grandes multinacionais
emergentes ainda está em processo de construção.
22
Até então, as empresas dos países em desenvolvimento eram vistas
exclusivamente como empresas exportadoras, contudo, o seu sucesso de hoje assumirem uma
posição na produção mundial e operarem com fábricas em países estrangeiros, é visto como
uma grande novidade. As multinacionais emergentes são caracterizadas como sendo empresas
que cresceram em economias protegidas, ou seja, estavam longe da competição internacional,
devido a governos protecionistas; utilizam e obtêm grande recursos naturais e mão-de-obra
barata; sua competência tecnológica é baixa; suas competências gerenciais são um tanto
atrasadas; e atuam em ambiente economicamente conturbados (FLEURY; FLEURY, 2007).
Os benefícios e importância da internacionalização para as empresas e países são
numerosos. Segundo Almeida (2007, p. 268):
[...] em uma economia globalizada, a competitividade das firmas nacionais em
mercados estrangeiros torna-se crescentemente importante para a performance do
país como um todo. A internacionalização deve ser vista como um meio essencial
para o aumento da competitividade internacional das empresas, promovendo o
desenvolvimento dos países e facilitando: i) o acesso a recursos e a mercados; e ii) a
reestruturação econômica.
Assim, o autor acrescenta que um país não consegue aprimorar seu desempenho
econômico, sem empresas competitivas internacionalmente. Ainda, segundo Almeida (2007,
p. 268):
A dispersão geográfica das atividades de P&D pode fortalecer a base tecnológica
das empresas: i) em primeiro lugar, as firmas podem ter um maior acesso às tecnologias, o que não ocorreria sem a internacionalização; ii) em segundo lugar, a
maior escala de produção dilui os custos com P&D. Ou seja, empreendimentos
maiores via internacionalização podem “baratear” os custos de prospecção
tecnológica, ou seja, os gastos com P&D.
Além disso, irá alavancar maior competitividade, dará acesso a novos mercados,
reduzirá ociosidade, dará acesso a equipamentos, serviços, capital e financiamentos
internacionais, gerará uma receita em moeda forte, aumentará a demanda e lucratividade a
longo prazo, ganhará aprendizado, entre outros (ALMEIDA, 2007; URBASCH, 2004). De
fato, é possível concordar com a afirmação de Almeida (2007): ‘’A questão passa a ser
investir no exterior ou acabar sendo comprado por investidores mais poderosos’’, com
tamanha globalização e necessidade de internacionalizar, diversas empresas correm risco de
fecharem as portas ou serem compradas por empresas maiores, devido à falta de investimento
para gerar aumento da sua competitividade, para não depender apenas do mercado nacional.
Muitas vezes, a falta de investimento pode ser culpa em parte dos governos, que não preparam
23
uma estrutura de incentivos nacional para suas empresas, para que estas possam desfrutar do
mercado internacional, trazendo reconhecimento e diversos benefícios para empresa e país.
A seguir ver-se-á qual a relação do Estado com a internacionalização das
empresas.
2.1.1 Internacionalização e a relação com o Estado
Muito embora existam acordos mercado internacionais que celebram e incentivam
o livre comércio, no qual a intenção é de não interferência, ou seja, deixar o mercado ser
guiado pela demanda e oferta, ainda assim, os governos têm influência no mercado,
principalmente para proteger a economia e mercado nacional.
Estudos de Wang et al (2012) afirmam que os graus de envolvimento dos
governos na internacionalização das empresas são diferentes e têm resultados diferentes,
devido aos diversos motivos e objetivos. Assim como o relacionamento das empresas com a
rede de network causam diferentes vantagens, criando diferentes impactos na
internacionalização das empresas. São estabelecidos pelos autores que os envolvimentos do
governo na internacionalização das empresas dependem de duas dimensões distintas, que são:
o grau da propriedade estatal e o grau de afiliação da empresa com o governo. Ou seja, a
primeira refere-se a casos em que o governo influencia a internacionalização através da
aquisição de empresas ou parte dela e a segunda diz respeito ao momento que o governo afeta
a internacionalização da empresa e sua trajetória, criando um relacionamento com as
empresas.
Os diferentes níveis de envolvimento do governo facilitam o entendimento do
comportamento da internacionalização das empresas multinacionais emergentes. Esse
envolvimento do governo afeta a capacidade e a vontade dessas empresas na sua
internacionalização. Essa influência pode afetar, no momento de expansão internacional, os
objetivos estratégicos e decisões da empresa; a disponibilidade e custo de recursos e como são
utilizados; as capacidades da empresa; divulgação de conhecimento, informação e serviço; e
os custos de transação internacional. Vale ressaltar, que nem todo tipo de envolvimento de
governo pode beneficiar igualmente todas as empresas (WANG et al., 2012).
Na década de 80, diversos países passaram a adotar programas de privatização2, o
que começou na França e no Reino Unido, logo se espalhou para diversos países no mundo.
2 Privatização é, como por exemplo, transferência de uma empresa estatal para o domínio do setor privado.
24
Contudo, em países emergentes o processo ocorreu de forma mais lenta, e foram poucas
empresas que passaram por esse processo, quando comparadas à grande movimentação nos
países desenvolvidos (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015).
De acordo com Cuervo-cazurra et al. (2014), esses processos de privatização não
significaram o fim das propriedades estatais, o que aconteceu foi o contrário, marcou o início
de uma série de organizações com capital compartilhado, estatal e privado, tanto em âmbito
nacional como internacional. Logo, Cuervo-cazurra et al. (2014) indicam que isso pode ser
visto como uma maneira do Estado atingir os seus objetivos na política externa em conjunto
com objetivos sociais e financeiros.
Segundo Wang et al. (2012), a questão é que as empresas estatais dependem mais
dos governos do que as empresas privadas, assim estas têm menos chances de sofrer com
mudanças administrativas quando internacionalizar. O autor indica que eventos que conectem
empresas e governo, como por exemplo, fóruns e/ou comitês de negócio, que envolva ambos
em um objetivo comum, fazem com que o comportamento das empresas mude diante da
afiliação governamental. É esse relacionamento que faz com que as expectativas do governo
em influenciar as empresas nas decisões tenha certa eficácia, pois assim que são fornecidos
aos governos os processos de tomada de decisão da empresa, o governo consegue de certa
forma, moldar a maneira em que as empresas multinacionais emergentes fazem escolhas,
influenciando seus objetivos, cultura e decisões, levando, assim, a desenvolver diferentes
respostas de internacionalização.
Ao que diz respeito aos ambientes em que o país é menos liberal, o governo torna-
se mais ativo, afirmam os autores Wang et al. (2012, tradução nossa), logo: “As empresas
devem estabelecer um relacionamento estreito com o governo para aproveitar os favores,
acessos a novos recursos e ser compensado pela falta de fatores”.3
Resume-se que a influência do governo na estruturação da internacionalização das
empresas deve-se ao seu grau de envolvimento. Para empresas estatais há diversos benefícios
ao serem diretamente ligadas ao governo, sendo essa uma forma do governo expor suas
intenções e objetivos no ambiente internacional, em âmbito social e econômico. Para as
empresas privadas, o seu grau de envolvimento com o governo pode guiar a sua
internacionalização de diferentes maneiras, quanto maior o grau de afiliação com o governo,
mais a empresa adquire vantagens e benefícios a serem oferecidos pelo governo. Lembrando
3 “Firms have to establish close ties with governments to enjoy state favors, access new resources and
compensate for the lack of factors” (WANG et al., 2012).
25
que nem todas as vantagens e benefícios oferecidos pelo governo, são igualmente bem
recebidas e aproveitadas por todas as empresas.
Percebe-se a diferença também quando comparadas empresas multinacionais de
economias emergentes e as de economias desenvolvidas. De acordo com Wang et al. (2012),
os governos de economias emergentes estão mais preocupados em ter alta produção e grande
receita local do que com a ideia de incentivar as empresas a internacionalizarem-se, não se
tornou uma prioridade. Enquanto isso, nas economias desenvolvidas, a preocupação com a
globalização, segurança e integração tem se tornado frequente. Então, a ideia é manter a
estabilidade social e financeira, buscando novas estratégias e iniciativas, sendo uma delas
progredir internacionalmente.
Outro ponto relevante é a proteção governamental de países emergentes, nestes o
governo tem tendência a possuir uma economia fechada e mais controlada. A partir disso,
para as empresas, é importante obter uma rede de network para que possa, de alguma maneira,
aproveitar melhor o mercado, tanto nacional quanto internacional (WANG et al., 2012).
De forma simples, Musacchio e Lazzarini (2015) classificam as formas de
envolvimento do Estado no mercado. Assim, de maneira decrescente, tem-se:
a) O governo como empreendedor: controlando empresas estatais de forma
autônoma;
b) O governo como investidor majoritário: controlando a maior parte de ações da
empresa e com parte do capital privado (economia mista);
c) O governo como investidor minoritário: empresas privadas com parte do
capital estatal; e
d) Empresas privadas: sem qualquer participação governamental.
Os casos de estudo deste trabalho tratam justamente do governo como investidor
minoritário e/ou como indutor do crescimento através do fornecimento de empréstimos. Ou
seja, empresas podem ser gerenciadas de maneira privada, mas receberem apoio do governo a
partir de recursos financeiros. Segundo Musacchio e Lazzarini (2015) esse tipo de
participação governamental tem crescido em todo o mundo, e é um meio importante e ainda
pouco estudado.
São diversas as maneiras que o governo pode atuar nesse modelo: obtendo ações
da empresa e/ou utilizando-se de uma holding para obter participação minoritárias em
empresas. Dentro deste campo, os governos também podem utilizar-se de bancos de
desenvolvimento, fundos soberanos e fundos que sejam controlados pelo governo, como
exemplo comum tem-se os fundos de pensão e seguradoras, com objetivo de fornecer
26
empréstimo ou investir de outras formas nas empresas (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015).
Como é o que o Brasil adotou nos últimos anos, que através do BNDES conseguiu fornecer
empréstimo e investir nas empresas brasileiras para incentivar o desenvolvimento tanto da
empresa quanto para o país.
E, nos últimos anos, ficou muito clara a movimentação de diversos países em
incentivar e investir na internacionalização das suas empresas. Caso muito importante de se
mencionar é a China, país que, por muitos anos, permaneceu com forte característica
protecionista e recentemente começou gradualmente, desde a década de 80, a abrir o mercado
fazendo reformas políticas, reorganizando estratégias para seu desenvolvimento. Foi então,
que consolidada em 2002, a criação da política chamada “Go Global” que tem como objetivo
incentivar as empresas a participarem do mercado internacional, investindo diretamente no
exterior, para também impulsionar o aumento de empresas e marcas numa escala global. A
atuação do governo na política “Go Global” é tão somente um guia, um provedor de serviço e
um suporte para as empresas, sendo que a decisão de fazer ou não o investimento cabe
somente às empresas (MASIERO; COELHO, 2014; NICOLAS; THOMSEN, 2008).
Algo parecido ocorreu com a Coreia do Sul, que até a década de 80, o governo
controlava fortemente os negócios internacionais. Foi durante a década de 80 e depois com
maior intensidade nos anos 90 que a Coreia do Sul aos poucos flexibilizou e aceitou algumas
mudanças para que as empresas nacionais pudessem dar melhores respostas ao mercado
internacional. A exemplos de mudança pode-se citar que o governo coreano adotou o Plano de
Reforma do Comércio Internacional, para internacionalizar a economia do país e também
passou a ser membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), consequentemente o país teve que eliminar algumas regulamentações para que
pudesse fazer parte da organização. Depois de um tempo o governo implantou o Plano de
Ativação de Investimentos Externos, para intensificar a expansão internacional, e ao longo
dos anos diversas políticas e instrumentos são implantados pelo governo para fortalecer a
competitividade coreana em âmbito internacional. Como instrumento de apoio, o governo fez
uso de apoio financeiro, institucional, podendo ser fiscal e tributário, além de informação e de
segurança. E para que fosse implantada essas políticas, o governo teve apoio de instituições e
bancos importantes para dar apoio às empresas (NICOLAS; THOMSEN, 2008; RUPPERT;
BERTELLA, 2010).
Como exemplo de país desenvolvido, os Estados Unidos também contaram com
alguma instituição para dar apoio às empresas através de financiamentos, garantias e seguro
contra riscos políticos, como é o caso da Overseas Private Investment Corporation (OPIC)
27
que opera desde a década de 70, apoiando principalmente investidores de médio e pequeno
porte. Além disso, apoios à exportação ocorreram desde a década de 30 no país, através de
uma agência bancária chamada Eximbank, com objetivo de gerar emprego mediante
financiamentos às exportações, além de fornecer garantias e seguros de exportação para as
empresas (ALMEIDA, 2007; ROSA; RHODEN, 2007; SANTOS, 2015). No continente
europeu, a União Europeia inseriu um programa chamado “Europa 2020” que tem como
objetivo fazer uma nova revolução industrial, com intuito de um crescimento inteligente,
promovendo a sustentabilidade e inclusão. Dentro dessa estratégia aparecem temas
relacionados à indústria, como a criação de políticas que se enquadrem nos tempos da
globalização para melhorar a capacidade empresarial das indústrias de concorrer no mercado
internacional, focando principalmente nas pequenas e médias empresas, além de gerar acesso
a financiamentos para incentivar a inovação industrial (UNIÃO EUROPEIA, 2014).
O sucesso dos países desenvolvidos em promover programas de apoio às
exportações, fez com que os países em desenvolvimento adotassem programas parecidos nas
décadas seguintes. Neste período, os países desenvolvidos já se preocupavam em diminuir o
financiamento e aumentar a gestão em seguros e garantias para as empresas (SANTOS, 2015).
Sendo assim, entende-se que a atitude dos governos em beneficiar e apoiar sua
indústria nacional através de financiamentos ou programas que facilitem a
exportação/internacionalização das empresas, acabam por promover vantagens comparativas e
a competitividade no mercado internacional (GILPIN, 2002).
A seguir, falar-se-á sobre a trajetória da política brasileira de incentivo à
internacionalização.
28
3 POLÍTICAS BRASILEIRAS DE INCENTIVO À INTERNACIONALIZAÇÃO
Antes do período marcante que é o pós-Segunda Guerra Mundial, no qual houve o
notável momento em que as empresas atuam com maior intensidade no mercado
internacional, o Brasil, segundo Musacchio e Lazzarini (2015), passava por um momento que
o Estado se posicionava de modo a garantir a sobrevivência das empresas que estavam a falir
e proporcionava alguns incentivos para algumas indústrias, como por exemplo, subsídios.
Algumas dessas empresas, amparadas pelo governo, segundo os autores, que foram os
primeiros campeões nacionais, eram empresas selecionadas pelo governo que passaram a
obter maior privilégio frente às demais, e depois de dissolver as dificuldades, o governo
injetou-lhes capital tornando-se o acionista controlador.
No primeiro momento do governo Vargas, em 1930, obtinha-se características um
tanto quanto liberais, mas no fim da década de 30 e começo de 40, durante a Segunda Guerra
Mundial, o governo tornou-se protecionista, pois percebeu-se que poderia haver dificuldade
em depender de matéria-prima e produtos importados. Desde esse momento até 1990, os
governos seguintes adotaram a política protecionista (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015).
Nas décadas de 1940 e 50, diversas empresas estatais foram criadas para aumentar
a capacidade industrial nacional, e dentre essas empresas como a Petrobrás, Companhia do
Vale do Rio Doce (CVRD), Companhia de Ferro e Aço de Vitória (Cofavi) entre outras,
vieram a ser as maiores empresas nacionais na década de 70. Foi então, que na década de 50,
criou-se o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) com intuito de fornecer
créditos de longo prazo com foco nas indústrias de energia e transporte, fruto de uma
associação brasileira com os Estados Unidos para fins de estudos sobre o crescimento da
infraestrutura do país. Nos anos seguintes, adquiriu outras funções e também mudou o nome
para Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que permanece até
os dias atuais (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015).
Na década de 60, programas de apoio à exportação também foram intitulados para
ampliar e diversificar a agenda, direcionando principalmente para a área de produtos
manufaturados. Algumas das políticas adotadas para aumento das exportações brasileiras,
foram as isenções fiscais, como por exemplo, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias
(ICM) e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Criou-se, na época, o Fundo de
Financiamento à Exportação (FINEX) que obteve significativo apoio para exportações de
produtos de consumo durável como automóveis, televisão, geladeira, etc., como para com
bens de produção, como por exemplo, peças de máquinas. Contudo, o FINEX foi encerrado
29
na década de 80. Nos anos seguintes, em 1990, novos programas de incentivo à exportação
foram criados. Como exemplos, o Programa de Financiamento às Exportações de Máquinas e
Equipamentos (FINAMEX) por parte de BNDES e o Programa de Financiamento às
Exportações (PROEX) pelo Banco do Brasil. Além desses programas, foram criados meios
para facilitar a aquisição de crédito, como o Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos
(CCR), Seguradora Brasileira de Crédito às Exportações (SBCE) e o Fundo de Garantia de
Promoção de Competitividade (FGPC) (SANTOS, 2015).
Nota-se que no período de 1930 até 1990 embora os governos tenham adotado
políticas protecionistas, diversas políticas de apoio e incentivo à exportação foram criadas
para aumentar a capacidade industrial brasileira. Mas nada específico para a
internacionalização das empresas nacionais.
Para Santos (2015), esse período pode ser dividido em quatro ciclos, sendo o
último dividido em dois momentos. O primeiro ciclo é destacado entre 1965 a 1976, no qual
segundo o autor, o Estado focou em realizar o IDE através da estatal Petrobras,
principalmente para abastecer o ambiente interno de petróleo e derivados, não havendo uma
política de internacionalização para empresas privadas. Houve grandes incentivos
direcionados à exportação, além do FINEX, criou-se, em 1972, o Benefícios Fiscais a
Programas Especiais de Exportação (BEFIEX), através deste, havia a isenção de imposto
sobre a importação, mas em respostas às empresas nacionais e estrangeiras deveriam se
comprometer a exportar maior do que o dobro do importado.
O segundo ciclo ocorreu entre 1977 a 1982. Neste período, o fluxo de IDE
destinados a países desenvolvidos caiu de 82% para 59%. Contudo, permaneceu sendo o
principal destino de IDE mundial, também nesse momento houve aumento de 10% para 22%
do fluxo de IDE com destino à América Latina, assim como em paraísos fiscais houve
aumento de 6% para 17%. Isso se deve à expansão dos bancos, com objetivo de buscar
recursos no exterior para incrementar a exportação brasileira e para fornecer empréstimos
locais e para adiar dívidas públicas. Santos (2015) destaca que, nesse período, novamente o
governo atuou na realização de IDE com estratégia na Petrobras. Nesse momento, as políticas
governamentais às exportações foram importantes para se adaptar às crises externas.
O terceiro ciclo é classificado entre 1983 e 1992 e, segundo Santos (2015), neste
período teve as seguintes características: “participação de empresas com vendas abaixo de
US$ 500 milhões, aumento do número de subsidiárias no exterior, forte direcionamento dos
IED a países vizinhos e maior diversificação dos investimentos no setor industrial”. Os casos
de IDE, na época, ocorreram através de instalação de escritórios de importação e assistência
30
técnica, joint venture e também algumas aquisições. Segundo o autor, a maior parte das linhas
de crédito às exportações foram desativadas, devido à pressão dos parceiros comerciais e do
Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), atualmente a Organização Mundial do
Comércio (OMC), e consequentemente, em resposta à crise econômica dos anos 80,
conhecida como “década perdida”, o Brasil passou a estimular exportações através das
isenções tributárias e política cambial ativa. Até mesmo, na época, o Banco do Brasil,
Banespa e Banco Real se internacionalizaram, afim de investir nas estratégias das empresas
brasileiras em internacionalizar sua produção.
Dois momentos são encontrados por Santos (2015) no quarto ciclo. Primeiro,
entre 1992 e 1995, o autor destaca que o IDE ocorreu principalmente pela instalação de
escritórios comerciais, assistência técnica e montagem de produtos. A partir de 1995, o fluxo
de IDE aumentou e foi encaminhado para facilitar as exportações devido à desvalorização da
moeda na época. O autor caracteriza os anos 90 como um ano em que as empresas
reestruturaram as suas estratégias e, naquele momento, passaram a fazer parte da
internacionalização produtiva, isso devido a abertura econômica, ou seja, o governo diminuiu
sua atuação de controle sobre o mercado nacional.
De acordo com Musacchio e Lazzarini (2015), o auge do capitalismo de Estado
atingiu o Brasil em 1970, pelo fato de que o comando do regime militar da época fez com que
o número de empresas estatais aumentasse, sendo que o objetivo da criação dessas empresas
era impulsionar a economia brasileira a partir de uma política industrial que desenvolvesse a
indústria nacional. Essas empresas estatais obtiveram competência de ser um tanto quanto
autônomas, mas para serem autônomas dependiam da lucratividade. Consequentemente,
quanto mais autônoma eram as empresas menos o governo viria interferir. Para isso, as
empresas estatais passavam a criar diversas subsidiárias em diversos setores, chegando ao
ponto de algumas delas emitirem títulos de dívidas em moeda estrangeira para abrir essas
subsidiárias no exterior e acabavam por competir entre si. Muito disso ocorria porque o
governo não monitorava o fluxo de capital das empresas estatais. A partir de uma análise feita
pelo BNDE na época, devido a essa atitude das estatais de criarem subsidiárias em diversos
ramos industriais, acabavam por frear as empresas privadas, o que transmitia a sensação de
que o plano do governo era a estatização de todos segmentos industrias. Neste contexto, o
BNDE lança a ideia de que o governo poderia vir a privatizar algumas dessas subsidiárias,
colocando o banco na posição de designar quais desses segmentos seriam privatizados, além
de fornecer capital para dissolver as dívidas à medida que os lucros líquidos fossem gerados.
Porém, na época, esse plano não foi concluído. Musacchio e Lazzarini (2015) citam que essa
31
ideia por parte do BNDE “antecipou-se ao modelo subsequente do Leviatã como investidor
minoritário”, ou seja, utilizou-se efetivamente esse plano nos seguintes. Em 1990, tornou o
governo um investidor injetando capital estatal através do banco, para auxiliar as empresas.
Foi então que no decorrer da década de 90, diversas empresas estatais passaram por
programas de privatização, a exemplo, pode-se citar empresas como a Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN), Embraer e Vale do Rio Doce.
Ao mesmo tempo, houve a abertura comercial. Segundo Paulino e Sousa (2017), o
Brasil mudou o mercado nacional, tornou-se mais competitivo, ocorreu a diminuição de
barreiras de importação e investimentos, fazendo com que as empresas nacionais passassem a
competir com a indústria estrangeira. Muitas das empresas não conseguiram concorrer e
faliram, outras encontraram-se em um ambiente oportuno para importar novas tecnologias,
modernizando e passando a competir junto ao mercado internacional. Contudo, tudo isso
surtiu maior efeito nos anos 2000 como mostra o gráfico a seguir.
32
Gráfico 1 - Investimento direto no exterior - Participação no capital - US$ (milhões).
Fonte: Adaptado de Brasil (2017a).
Nota-se, então, que o período de 2001 a 2005 houve pouca variação de fluxo de
IDE brasileiro no exterior. Já de 2005 para 2007 houve um salto enorme de fluxo de IDE
brasileiro no mercado internacional.
Isso se deve à criação de novas políticas nacionais destinadas à
internacionalização de empresas, principalmente por parte do BNDES, que a partir de uma
reorientação feita em 2002, passou a investir em formar empresas nacionais com capacidade
de competir internacionalmente (ROCHA, 2014; SANTOS, 2015). Logo, no início da nova
política direcionada à internacionalização, algumas empresas foram selecionadas para
fazerem parte desse projeto. As chamadas “campeãs nacionais” foram as privilegiadas,
obtendo acesso diferenciado e restrito à uma grande quantidade de capital (BRASIL, 2017).
Não só o BNDES, como também outros instrumentos, foram e são importantes
para o comércio exterior brasileiro, como o Ministério das Relações Exteriores (MRE) que é
um órgão público com objetivo de auxiliar o Presidente da República nas questões de política
exterior do país, mantendo relações diplomáticas com demais países, organismos e
organizações internacionais, procurando focar nos interesses do Estado e sociedade brasileira,
o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) que através da
Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) e da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) que
pratica sua influência no comércio exterior. Através da internet, a SECEX consegue atingir o
público empreendedor fornecendo informações úteis sobre exportação, importação, produto,
legislações, eventos, mecanismos e afins. Outro instrumento a ser citado é a Agência
0
200,000
400,000
600,000
800,000
1,000,000
1,200,000
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
33
Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX-Brasil), que atua em inserir
mais empresas brasileiras no mercado internacional, além de procurar diversificar e agregar
maior valor aos produtos brasileiros a serem exportados, como também, aumentar o volume
de produção e comercialização, consolidando a posição dos produtos e serviços brasileiros no
mercado estrangeiro (PEDROZO, 2010; REGO, 2015).
Além disso, a iniciativa de uma cooperação Sul-Sul na época e a integração
econômica entre os países na América do Sul, influenciaram o aumento da
internacionalização das empresas brasileiras, como a criação do Mercosul (DIAS; CAPUTO;
MARQUES, 2012; ROCHA, 2014).
Em suma:
Até o início dos anos 1990, a atuação do Estado deu-se de forma direta, com a
expansão de estatais do petróleo e bancos públicos, e indireta - por meio de isenções
fiscais, financiamento às exportações (interrompida em meados dos anos 1980) e
política cambial -, visando assegurar a reprodução das forças produtivas [...] A partir
de meados dos anos 1990, houve a retomada das linhas de financiamento específicas
visando o aumento das exportações de bens industriais e de serviços. Contudo, uma política de promoção da internacionalização por meio de IED ocorreu, de fato,
apenas no início dos anos 2000, quando dos novos arranjos entre Estado e
empresariado nacional (SANTOS, 2015, p.50).
É a partir desse momento, nos anos 2000, e com essa nova política focada na
internacionalização das empresas, que houve um grande avanço nacional no exterior, o
aumento do fluxo de IDE e o destaque brasileiro no ambiente internacional são notáveis.
Rocha (2014) afirma que apesar do IDE brasileiro ainda ser baixo comparado ao
que circula na economia global, empresas nacionais ganharam tamanha relevância
internacional que passaram a listar entre as maiores transnacionais do mundo.
3.1 BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL
(BNDES)
Para compreender melhor o BNDES é importante destacar a diferença entre o
banco de desenvolvimento e bancos comerciais. De acordo com Musacchio e Lazzarini (2015,
p.294):
Os bancos atuam no negócio de intermediação financeira. Recebem depósitos de
poupadores e emprestam esses fundos a empreendedores ou a governos para
financiar projetos que geram retornos pelo menos iguais às taxas de juros que pagam
aos bancos.
34
A partir do capital da sociedade e aplicando taxas de juros altas, os bancos fazem
seus empréstimos aos empreendedores e projetos governamentais.
Diferentemente dos bancos comerciais, os bancos de desenvolvimento utilizam-se
de fundos governamentais para financiar/investir nas empresas, com projetos a longo prazo.
Por serem utilizados capitais direto do governo, a taxa sobre esse dinheiro é menor,
consequentemente, em comparação aos bancos comerciais, os bancos de desenvolvimento
obtêm uma margem menor de juros (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015).
Criado em 1952, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) tem sido o principal instrumento de apoio às empresas nacionais nos dias atuais. Ao
longo do tempo, o banco sofreu mudanças de acordo com as mudanças governamentais e
econômicas do país. Em números comparativos, em 2010, o valor de créditos concedidos do
BNDES, foi de US$ 96,32 bilhões, enquanto o Banco Mundial teria concedido apenas US$
18,6 bilhões. Como o banco é um órgão público, os fundos vêm do Tesouro Nacional,
impostos e contribuições públicas. Mas, também, o banco adquire recursos no mercado
internacional, através de bancos estrangeiros, agências de fomento de outros países, e até
mesmo do próprio Banco Mundial. Além disso, vale destacar a importância do seu estudo,
pois o BNDES é um dos bancos de desenvolvimento mais antigos e um dos maiores do
mundo, e também é um dos bancos mais eficientes (GARCIA, 2011; MUSACCHIO;
LAZZARINI, 2015).
No início de sua criação, inicialmente nomeado como apenas Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico (BNDE), seu principal objetivo era fornecer créditos para
investimentos a longo prazo em energia e transporte. Ainda nos primeiros anos de sua criação,
no final de 1950 a 1960, o banco passou a operar como uma holding – empresa que tem
controle sobre grande parte das ações de outra empresa – por meio de injeção de capital,
passou a ser um investidor majoritário, mas com foco direcionado paras as indústrias
siderúrgicas. Até então, tudo partia de projetos públicos (MUSACCHIO; LAZZARINI,
2015).
Durante o período de regime militar, o BNDES passou a gerar financiamentos
para empresas privadas também. Curiosamente, até 1964, os empréstimos concedidos pelo
banco eram de praticamente 100% destinados aos projetos públicos. Já por volta de 1970, os
empréstimos concedidos já atingiam 70% destinados às empresas privadas (MUSACCHIO;
LAZZARINI, 2015).
A maior mudança ocorreu em 1982, que além de acrescentar o “social” no nome
(tornando-se o atual BNDES), passando a investir no desenvolvimento social, o banco criou
35
uma subsidiária chamada BNDES Participações (BNDESPAR) para controlar as ações que o
banco vinha adquirindo ao decorrer do tempo e muito especificamente veio a investir mais
intensamente nessa década (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015; RÊGO, 2015).
De acordo com Musacchio e Lazzarini (2015), o papel do BNDES na onda da
abertura comercial e das privatizações nos anos 90 foi muito importante: “Na verdade, o
banco atuou como protagonista dessas reformas em pelo menos três papéis: planejamento e
execução das privatizações, financiamento dos adquirentes e compra de participações
acionárias minoritárias em várias ex-estatais”. Também, nos anos 2000, segundo os autores, o
banco auxiliou diversas operações, coordenou fusões e aquisições com objetivo focado na
construção de grandes empresas nacionais nos variados setores.
No que tange aos programas direcionados às exportações, o BNDES teve destaque
com seus diversos programas, dentro do BNDES-Exim, antigo FINAMEX. São alguns deles:
Quadro 1 - Formas de apoio do BNDES à exportação.
(continua)
Formas de Apoio Objetivo
BNDES Exim Automático.
Financiamento à comercialização de bens
brasileiros no exterior, por meio de bancos
estrangeiros.
BNDES Exim Pré-embarque. Financiamento à produção de bens para
exportação.
BNDES Exim Pré-embarque Empresa
Inovadora.
Financiamento a empresas inovadoras para
exportação de bens de capital, bens de
consumo e serviços de tecnologia da
informação desenvolvidos no Brasil.
Quadro 2 - Formas de apoio do BNDES à exportação.
(continuação)
Formas de Apoio Objetivo
BNDES Exim Pré-embarque Empresa
Âncora.
Financiamento à exportação bens, efetuada
por intermédio de uma empresa âncora.
BNDES Exim Pós-embarque Aeronaves.
Financiamento à exportação de aeronaves e
motores aeronáuticos civis, bem como
serviços associados.
BNDES Exim Pós-embarque Bens. Financiamento à exportação de bens
nacionais e serviços associados.
36
BNDES Exim Pós-embarque Serviços.
Financiamento à exportação de serviços
nacionais, incluindo os bens de fabricação
nacional a serem utilizados e/ou
incorporados ao empreendimento. Fonte: Elaboração do autor com base em dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(2017e).
De acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(2017e), nos financiamentos do programa de pré-embarque, é o próprio exportador que
assume a responsabilidade de amortizar e liquidar a dívida. Já, no programa pós-embarque, o
BNDES desembolsa um valor ao exportador brasileiro como uma forma de antecipar o
pagamento do importador, podendo este ser uma empresa estrangeira ou país.
Segundo Rêgo (2015), através do BNDES Exim, o banco passou a “apoiar
indiretamente a internacionalização das empresas brasileiras, financiando grandes projetos
como a exportação de equipamentos para a usina de Três Gargantas na China e para a
aquisição de aeronaves da Embraer pela American Eagle”. A partir disso, o governo teria
autorizado o novo estatuto em que o banco passasse a ter foco direto na internacionalização de
empresas.
Cabe informar que BNDES não tem uma agência, ou seja, o banco conta com
instituições financeiras credenciadas para que os recursos possam chegar em todas as cidades
do Brasil. É através dessas instituições que ocorre a forma de apoio indireta, em que a
instituição credenciada analisa o financiamento e assume o risco da operação. Também é a
mesma instituição que vai negociar com o cliente as formalidades do financiamento, como
prazo de pagamento e garantias, de acordo com algumas regras do BNDES. A forma indireta
pode ocorrer de duas maneiras, automática e não automática. Na forma automática, a
operação não precisa passar por uma avaliação do BNDES, a operação é recebida e analisada
pelas instituições financeiras credenciadas, e assim que aprovada, a instituição solicita ao
BNDES para validar e liberar os recursos. Os financiamentos devem ter valor de até R$ 20
milhões para serem automáticas. Ao contrário da automática, a operação não automática
indireta deve passar por uma consulta prévia feita pelo BNDES, cabendo ao banco a avaliação
e a aprovação do financiamento. Nestes casos, o valor mínimo é de R$ 20 milhões (BANCO
NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2017f).
Na forma direta, o financiamento deve ser feito diretamente ao BNDES, no qual a
empresa preenche um documento com as informações da empresa e do projeto para que o
banco possa fazer a análise. Os valores dessas operações devem ser maiores que R$ 20
milhões. Há ainda a forma mista, em que tanto o BNDES quanto a instituição assumem o
37
risco das operações, esta ocorre por um acordo entre o banco e as instituições, e não através
do cliente (BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL,
2017f).
Além disso, outro instrumento usado pelo banco é a renda variável, que são
realizadas através de sua subsidiária BNDESPAR, com intuito de fortalecer a estrutura de
capital das empresas, melhores práticas de gestão, governança e sustentabilidade,
desenvolvimento do mercado de capitais e também a criação valor para a carteira de valores
mobiliários da BNDESPAR. A renda variável tem as seguintes modalidades: subscrição de
valores mobiliários; participação em fundos de investimento; aquisição de ações em pregão na
Bolsa de Valores e; aquisição de certificados de investimento (BANCO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2017g).
Sobre a nova política governamental focada na internacionalização de empresas
adotada através do BNDES, Rocha (2014) acrescenta:
Formalmente, o banco já podia emprestar para investimentos diretos brasileiros no
exterior desde 2002, quando uma alteração em seu Estatuto Social passou a autorizar
esse tipo de operação. Mas foi em julho de 2005 que sua diretoria aprovou uma resolução em que se estabeleceram as normas para o financiamento de IDE.
Foi então, que como resultado da abertura comercial e privatização de empresas
na década de 90, em conjunto com novas políticas nacionais voltadas para maior crescimento
da indústria brasileira, a partir de 2005, ocorreram os primeiros investimentos por parte do
banco para financiar a compra de uma empresa em ambiente estrangeiro.
De acordo com Costa e Souza-Santos (2010, p. 172):
Dessa forma, o BNDES apoia a internacionalização de empresas através dos
elementos: i) liberalização das restrições aos investimentos diretos no exterior -
tendo em vista que implicam saída de divisas (isso foi particularmente relevante no
caso de países em desenvolvimento e nas economias em transição); ii) criação de
instrumentos internacionais que facilitem e protejam os investimentos no exterior;
iii) informação e assistência técnica; iv) incentivos fiscais; v) mecanismos de
seguros para os investimentos; e v) financiamento.
Para o setor privado, esses recursos são de grande importância, pois o Brasil até
então não obtinha meios desenvolvidos o suficiente para financiamentos de longo prazo tanto
quanto o que o BNDES proporciona para as empresas (ROCHA, 2014).
Além disso, é de suma importância destacar que o primeiro financiamento através
de IDE feito pelo banco foi a compra de um frigorífico na Argentina chamado Swift Armour
38
S.A. A aquisição foi realizada pela JBS, uma das maiores empresas no ramo alimentício
nacional e mundial (GARCIA, 2011; ROCHA, 2014; VALDEZ, 2011).
Assim como as empresas, o banco expandiu suas atividades administrativas,
abrindo novos escritórios em outros países, a fim de tornar-se mais presente naqueles em que
há maior presença de empresas brasileiras atuando. A exemplo disso, o banco inaugurou em
2009 escritórios representativos em Montevidéu e Londres (GUIMARÃES et al., 2014).
39
4 SETOR FRIGORÍFICO
Nesta parte do trabalho será abordado questões referentes a posição brasileira em
relação ao mundo no setor frigorífico para entender melhor o investimento governamental
neste ramo industrial. Este setor pode ser dividido entre três segmentos principais: carne
bovina, carne aviária e carne suína.
O Brasil tornou-se um dos principais exportadores mundiais de carnes nos anos
2000. Segundo Fornari (2010), em 2008, o Brasil posicionava-se em segundo lugar no
ranking mundial de produção de carne bovina, em terceiro lugar na produção de carne de
frango e em quarto lugar na produção de carne suína. De acordo com Stal, Sereia e Silva
(2010): “No final de 2008, 18 frigoríficos respondiam por 98% das exportações brasileiras,
sendo que os cinco maiores (JBS, Bertin, Minerva, Marfrig e Independência) controlavam
50% do mercado exportador”.
O segmento da carne bovina, segundo dados da Associação Brasileira das
Indústrias Exportadoras de Carnes (2015), o Brasil ficou atrás apenas dos Estados Unidos
entre os maiores produtores do mundo, no qual o Brasil participou com 9 milhões de
toneladas da produção mundial de carne bovina. Os Estados Unidos produziram 10 milhões
de toneladas. Em terceiro lugar estava a União Europeia com 7 milhões de toneladas da
produção mundial e em quarto a China com 6 milhões de toneladas da produção mundial.
No ano de 2015, a porcentagem de carne bovina exportada e consumida no
mercado interno pode ser vista no gráfico seguinte.
40
Gráfico 2 - Destino da produção brasileira de carne bovina em 2015.
Fonte: Adaptado de Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (2016).
Desses valores, o Brasil exporta cerca de 1,8 milhão de toneladas, ficando atrás
apenas da União Europeia que chega a exportar cerca de 2,9 milhões de toneladas. Em
terceiro lugar vem a Índia com 1,7 milhão de toneladas, e em quarto lugar a Austrália com 1,4
milhão de toneladas exportadas (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS
EXPORTADORAS DE CARNES, 2016).
No segmento de carne de frango, o Brasil se encontra em segundo lugar entre os
maiores produtores, com uma produção de cerca de 13 milhões de tonelada no ano de 2016,
ficando atrás apenas dos Estados Unidos que contou com uma produção de aproximadamente
18 milhões de tonelada. Em terceiro lugar segue a China também com cerca de 12 milhões e
em quarto a União Europeia com uma produção de 11 milhões de tonelada (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL, 2017).
É possível ver, com o gráfico a seguir, o destino dessa produção de frango no
Brasil.
81.32%
19.68%
Mercado Interno Exportações
41
Gráfico 3 - Destino da produção brasileira de carne de frango em 2016.
Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Proteína Animal (2017).
Entre os maiores exportadores de frango no ano de 2015, o Brasil se encontra em
primeiro lugar, exportando cerca de 4 milhões de toneladas, e os Estados Unidos exportaram
cerca de 3 milhões de toneladas, ficando em segundo lugar. Em terceiro lugar se encontra a
União Europeia com 1 milhão de tonelada e em quarto lugar a Tailândia exportando cerca de
690 mil toneladas (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL, 2017).
A indústria brasileira de carne suína já é muito menor se comparada com as de
carne bovina e carne de frango. A produção brasileira ocupa a quarta posição, contando com
cerca 3 milhões de toneladas, ficando atrás da China que consta com cerca de 52 milhões de
toneladas, a União Europeia com 23 milhões de toneladas e os Estado Unidos com 11 milhões
de toneladas produzidos no ano de 2016 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA
ANIMAL, 2017).
Desta pequena produção, o destino brasileiro pode ser analisado no gráfico a
seguir:
66%
34%
Mercado Interno Exportações
42
Gráfico 4 - Destino da produção brasileira de carne suína em 2016.
Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Proteína Animal (2017).
A União Europeia é líder na exportação de carne suína contando com 3 milhões
de toneladas exportados em 2016. Em segundo lugar os Estado Unidos ficam pouco atrás com
também 2 milhões de toneladas, em terceiro o Canada com 1 milhão de tonelada exportados.
O Brasil por fim ocupou a quarta posição com apenas 732 mil toneladas exportados
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL, 2017).
No quesito importação, os quatro maiores importadores de carne bovina são,
respectivamente: Estados Unidos, China, Hong Kong e Japão (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DAS INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNES, 2016). É notável que embora os
Estados Unidos produzam muita carne bovina, ainda acaba por importar muito devido ao
tamanho do seu mercado consumidor.
Entre os maiores importadores de frango, tem-se respectivamente: Japão, Arábia
Saudita, México e União Europeia. E importadores de suínos tem-se: China, Japão, México e
Coreia do Sul (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL, 2017). Nota-se
aqui também a dependência asiática da indústria de frangos e suínos, como também da
indústria de carne bovina. Principalmente por parte do Japão, que se encontra em primeiro
lugar como importador das carnes de frango e suíno.
Para ficar mais clara a identificação das posições de maiores produtores,
exportadores e importadores dos três segmentos industriais (carne bovina, suína e de frango),
segue um quadro descritivo que facilita perceber a posição brasileira nos três segmentos
industriais em nível internacional.
80,4%
19,6%
Mercado Interno Exportações
43
Quadro 3 - Posições de maiores produtores, exportadores e importadores dos três principais
segmentos industriais da carne.
Carne Bovina
1º 2º 3º 4º
Maiores Produtores Estados Unidos Brasil União Europeia China
Maiores Exportadores União Europeia Brasil Índia Austrália
Maiores Importadores Estados Unidos China Hong Kong Japão
Carne de Frango
1º 2º 3º 4º
Maiores Produtores Estados Unidos Brasil China União Europeia
Maiores Exportadores Brasil Estado Unidos União Europeia Tailândia
Maiores Importadores Japão Arábia Saudita México União Europeia
Carne Suína
1º 2º 3º 4º
Maiores Produtores China União Europeia Estados Unidos Brasil
Maiores Exportadores União Europeia Estado Unidos Canadá Brasil
Maiores Importadores China Japão México Coreia do Sul Fonte: Elaboração do autor, 2017.
No que diz respeito à produção e exportação das carnes bovina e de frango, o
Brasil tem grande destaque, podendo vir a se colocar em primeiro lugar em ambos os quesitos
em poucos anos se o ritmo de produção e a economia for favorável à indústria.
44
5 INFLUÊNCIA DO ESTADO NA INTERNACIONALIZAÇÃO DOS
FRIGORÍFICOS BRASILEIROS
Até este ponto foi possível ver o grau de envolvimento do BNDES com as
empresas nacionais. Nos últimos anos, após a reforma de suas políticas, sobretudo nos anos
2000, como a política focada na internacionalização de empresas nacionais, diversas empresas
se impulsionaram para o mercado internacional, tornando-se presente na lista das principais
multinacionais do mundo. É neste ponto, que será respondida a problematização de pesquisa,
que busca responder como essa nova política e incentivo do BNDES teve influência na
internacionalização dos frigoríficos brasileiros. A seguir será analisado cada caso
separadamente.
5.1 JBS
A empresa criada em 1953, iniciou suas atividades no interior de Goiás, na cidade
de Anápolis, na época abatendo apenas 5 cabeças de gado ao dia, formou-se o pequeno
açougue chamado então de a Casa de Carnes Mineira. Aos poucos, a empresa foi se
expandindo em território nacional. Em 1970, houve a primeira aquisição, um abatedouro em
Formosa, Goiás, com intuito de abastecer a capital brasileira, Brasília. Foi neste ano também
que surgiu a marca Friboi, muito conhecida nacionalmente nos dias de hoje (JBS, 2017a).
Uma aquisição nos anos 80 foi capaz de aumentar a quantidade de abates de 100
para 300 animais por dia. Com essa aquisição no Distrito Federal, a empresa ampliou sua
venda atingindo as regiões sul e sudeste do Brasil. Em 1988, a JBS adquiriu mais uma
unidade frigorífica em Goiás, somando mais 60 bois abatidos por dia (JBS, 2017a).
Uma unidade com capacidade de abate de mil animais por dia foi adquirida em
1993, em Goiás, mas também foi neste momento que a empresa tem sua primeira unidade que
passa a desossar a carne, e também passa a exportar mesmo que em pequena escala. Três anos
mais tarde, a empresa adquiriu uma unidade que permitiu o seu acesso no Mercado Comum
Europeu, que levou a melhorar sua capacidade financeira, logística e comercial, assim como
também aumentou seu padrão de qualidade. No ano seguinte, com uma aquisição no Mato
Grosso, a empresa pôde criar os pilares do sistema de gestão, que levou a aprimorar a
capacidade de operar as fábricas distribuídas pelo Brasil (JBS, 2017a).
A estreia em produtos industrializados ocorreu em 1999 com uma unidade
adquirida em São Paulo, e também novo passo ao comercializar com o mercado americano.
45
Em 2004, a empresa instalou sua sede corporativa em São Paulo, passo de extrema
importância para a empresa, que até então suas operações não eram centralizadas, e sim
divididas em locais diferentes (JBS, 2017a). Segundo Calmon (2001), a JBS já usufruía de
programas de exportação que o BNDES oferecia, como o Programa BNDES-Exim Pré-
Embarque, para estimular a exportação e aproveitar as condições do mercado internacional.
Embora a política renovada do BNDES para inserção das empresas brasileiras no
mercado internacional tenha sido criada em 2002, o seu primeiro financiamento ocorreu em
2005 para a JBS, cujo financiamento envolvia a aquisição de um frigorífico na Argentina,
envolvendo 75% da empresa argentina Swift Armour S.A (GARCIA, 2011; JBS, 2017a;
PAES, 2010; ROCHA, 2014; VALDEZ, 2011). Segundo Stal, Sereia e Silva (2010) e Rocha
(2014), a empresa adquiriu em 2006 duas unidades pertencentes à CEPA, empresa localizada
na Argentina.
Em 2007, ocorreu um marco importante para a empresa, pois esta passou a ser a
primeira empresa do ramo de frigoríficos a abrir seu capital na Bolsa de Valores no Brasil. Foi
então que, a conhecida Friboi, virou a atual JBS S.A. e o nome Friboi passou a ser uma de
suas marcas. O nome JBS é derivado de José Batista Sobrinho, uma homenagem ao criador da
empresa (JBS, 2017a).
O ano de 2007 foi o ano de diversas aquisições feitas pela empresa. Duas
subsidiárias da Swift Armour S.A., na Argentina, foram adquiridas, ambas localizadas na
província de Buenos Aires. A americana SB Holdings e suas duas subsidiárias (Tupman
Thurlow Co. e Astro Sales International) foram adquiridas também em 2007, atuando no ramo
de produtos industrializados de carne bovina. Uma das compras mais importantes feita pela
JBS foi da americana Swift Foods Company, que veio a se tornar a JBS USA, processando
tanto carne bovina quanto suína. Juntamente, adquiriu uma unidade da Swift Foods Company
na Austrália, que com essas aquisições veio a ser a maior empresa abatedora de carne bovina
e a maior multinacional brasileira no segmento alimentício. Inaugurou também o
processamento de carne suína, pois até então o foco era na carne bovina (JBS, 2007; 2017a;
ROCHA, 2014; STAL; SEREIA; SILVA, 2010).
No ano de 2008, a empresa JBS conclui uma aquisição de 50% do capital de uma
empresa localizada na Itália, a Inalca, a outra metade da empresa ficou com a Cremoni S.p.A.,
empresa que atua com produção, distribuição e abastecimento no setor de carnes. A Inalca é
reconhecida como líder e umas das principais processadoras de carne bovina na Europa.
Incluiu-se junto ao negócio a compra da Montana Alimentari, também pertencente a Cremoni
S.p.A. Com essa joint venture, a JBS passou a operar na linha de fast foods na Europa, sendo
46
a Cremoni uma das maiores fornecedoras de carne para a rede McDonald’s na Europa. Além
disso, a aquisição foi favorável para ampliar-se no mercado Europeu. Em 2008, a empresa
também adquiriu o grupo australiano Tasman e o grupo americano Grupo Smithfield
incluindo neste as unidades de confinamento conhecidas como Five Rivers. No mesmo ano, a
JBS tentou adquirir a National Beef Packing Company, a quarta maior empresa no segmento
de carnes aviária, porém a justiça americana vetou a aquisição (JBS, 2008; FORNARI, 2010;
ROCHA, 2014; STAL; SEREIA; SILVA, 2010).
Marcando a entrada da empresa no segmento de carne aviária, a JBS adquiriu
64% da Pilgrim’s Pride em 2009, uma das maiores do ramo no mercado americano. A compra
da empresa americana contou com suas operações no México e Porto Rico, além de
exportação para mais de 90 países. No mesmo ano, em campo nacional, a JBS incorporou a
empresa Bertin, consolidando-se mais ainda como líder no segmento de carne bovina no
Brasil (JBS, 2009; 2017a; FORNARI, 2010; ROCHA, 2014; STAL; SEREIA; SILVA, 2010).
A Bertin foi uma empresa com sede em São Paulo do segmento de alimentos, a
empresa era um dos maiores exportadores do Brasil (ARCADIS TETRAPLAN, 2007). A
empresa já continha participação em programas do BNDES, como o programa de exportação
pré-embarque, no qual a empresa, apenas no ano de 2008, financiou R$ 422.729 milhões. Em
operações diretas e indiretas não automáticas, a Bertin acordou um financiamento para capital
de giro de R$ 200 milhões. Para sua internacionalização, o BNDES injetou, em forma de
participação acionária, cerca de R$ 2,5 bilhões para apoiar o plano de negócios da empresa,
que incluía a internacionalização de suas operações. Em 2008, o BNDES continha cerca de
27% do capital da empresa (BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO E SOCIAL, 2017).4
Mais duas aquisições foram feitas em 2010, duas empresas australianas, a Tatiara
Meat Company e a Rockdale Beef, sendo esta uma empresa que atua no segmento da carne
bovina, obtendo desde fazendas, setor de confinamentos e frigoríficos até produção de ração.
Com a aquisição da Tatiara, a JBS passou a ser a maior empresa do mercado australiano no
segmento de ovinos (FORNARI, 2010; JBS, 2010; ROCHA, 2014).
4 Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i) o valor das operações
corresponde ao valor do financiamento contratado, isto quer dizer que pode ser que esse valor não tenha sido
completamente repassado para a empresa, pelo fato de que as liberações ocorrem de acordo com a evolução
financeira e física do projeto. Assim como, as operações canceladas não são atualizadas automaticamente, podendo vir a aparecer na consulta.
47
A joint venture, feita em 2008, entre a JBS e o Grupo Cremoni onde ambas
detinham 50% no capital da Inalca, teve fim em 2011, onde a JBS devolveu os 50% para a
Cremoni, abandonando todas as ações jurídicas relacionadas às empresas, dirigentes e
empregados, assim cada uma das empresas continuam prosseguindo nas suas respectivas
atividades. Ao mesmo tempo a JBS adquiriu a Rigamonti, uma empresa italiana que já estava
em negociação desde 2009, passando assim a controlar 100% da Rigamonti que detém 40%
do mercado italiano (JBS, 2010).
Em 2012 foi a vez da empresa canadense XL Foods, que além dos ativos do
Canadá, a compra também incluía ativos da empresa existente nos Estados Unidos, mas o
processo de aquisição da XL Foods foi apenas concluído em 2013, adquirindo assim, duas
unidades no Canadá e duas nos Estados Unidos. Em 2013, houve também importante
incorporação da Marfrig, empresa nacional, em que foram acordados os seguintes termos: 1.
Transferência de determinadas participações societárias que detinham a unidade Seara Brasil
e; 2. Transferência de 100% do capital da sociedade que detinha a unidade de couro do grupo
Marfrig, no Uruguai, conhecida como Zenda. Com a aquisição da Seara, a JBS tornou-se uma
das empresas líderes dos segmentos de aves, suínos e processados no Brasil, concorrendo
diretamente com a Brasil Foods (BRF), empresa nacional líder do mercado (JBS, 2012; 2013;
2017a). Segundo Rocha e Mendes (2013) ao assumir as unidades, a JBS assumiu uma dívida
de 5,8 bilhões de reais.
O frigorífico Independência, empresa nacional que também foi adquirido no ano
de 2013, a aquisição feita pela JBS incluía 4 unidades frigoríficas, 2 curtumes e 2 centros de
distribuição (JBS, 2013). O Independência já tinha um histórico com o BNDES, que de 2002
a 2006, o frigorífico recebeu R$ 83 milhões pelo programa exportação pré-embarque, e
também o BNDES por meio de participação acionária injetou R$250 milhões com objetivo de
internacionalizar a empresa em 2008, adquirindo 13,9% do capital da empresa. No ano
seguinte, o BNDES fez mais um aporte na empresa, totalizando 21% sua participação no
capital da empresa (BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E
SOCIAL, 2017).5
5 Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i) o valor das operações
corresponde ao valor do financiamento contratado, isto quer dizer que pode ser que esse valor não tenha sido
completamente repassado para a empresa, pelo fato de que as liberações ocorrem de acordo com a evolução
financeira e física do projeto. Assim como, as operações canceladas não são atualizadas automaticamente, podendo vir a aparecer na consulta.
48
Em 2014, houve a aquisição das operações da Tyson Foods do México e do
Brasil, tal que a primeira detém três unidades de processamento e sete centros de
distribuições, e a segunda detém três unidades de processamento, sendo duas em Santa
Catarina e outra no Paraná (JBS, 2014).
Concluída em 2015, uma operação que já vinha sendo negociada em 2014, a
australiana Grupo Primo Smallgoods foi adquirida, com presença forte nos mercados da
Austrália e Nova Zelândia, consolidou ainda mais a JBS no mercado australiano. Bem como
também houve aquisição da Moy Park Holding Europe Ltd., empresa situada na Irlanda que
representou o início da JBS da construção de uma plataforma na Europa detentora de
produção e distribuição de seus produtos processados. Posicionando-se como uma das líderes
do segmento de suínos no mercado americano, em 2015, a JBS adquiriu a Cargill Pork,
pertencente a Cargill Meat Solutions Corporation, tal aquisição inclui duas fábricas de
processamento, cinco de ração e quatro granjas de suínos (JBS, 2014; 2015; 2017a).
Com o quadro a seguir é possível visualizar as unidades de negócio da JBS.
Quadro 4 - Unidades de negócios da JBS.
(continua)
Unidades industriais (Bovino). 36 no Brasil, 9 nos Estados Unidos, 9 na Austrália/Nova
Zelândia, 1 no Canadá.
Unidades industriais (Aves). 32 no Brasil, 25 nos Estados Unidos, 7 no México/Porto
Rico e 4 na Europa.
Unidades industriais (Suínos). 8 no Brasil, 5 nos Estados Unidos e 1 na Austrália/Nova
Zelândia.
Unidade industrial (Ovinos). 1 na Austrália.
49
Quadro 5 - Unidades de negócios da JBS.
(continuação)
Unidades industriais (Couro, ração,
pratos prontos, produtos
processados etc.).
25 de couro (Alemanha, Argentina, Brasil, Itália, México,
Uruguai, Vietnã, Estados Unidos, Austrália/Nova
Zelândia), 12 de pratos prontos nos Estados Unidos, 2 de
genética nos Estados Unidos, 28 de ração nos Estados
Unidos e 11 no México/Porto Rico, 8 de produtos
preparados na Europa, 8 na Austrália e 1 México/Porto
Rico e 20 de valor agregado no Brasil.
Confinamentos. 5 na Austrália/Nova Zelândia, 11 nos Estados Unidos e 3
no Brasil.
Centros de distribuição. 43 no Brasil, 8 na Austrália/Nova Zelândia e 21 no
México/Porto Rico.
Unidade de logística. 6 nos Estados Unidos.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em JBS (2017b).
A rapidez com que a empresa se desenvolveu em todos esses anos e a rapidez com
que a empresa adquiriu essas diversas empresas por diversas partes do mundo, teve influência
da inserção de capital do BNDES. Durante os primeiros anos em que a empresa apenas
exportava, envolveu-se com o programa de financiamento do banco referente à exportação
pré-embarque. Na tabela a seguir é possível ver em valores a quantidade de capital absorvida
pela empresa nesse programa.
50
Tabela 1 - Exportação Pré-Embarque – JBS.6
Ano Valor (R$)
2002 83.046.230,00
2003 89.237.450,00
2004 20.170.900,00
2005 195.524.950,63
2006 431.003.500,00
2008 105.755.000,00
2009 260.000.000,00
2010 185.000.000,00
2011 50.000.000,00
Total (R$) 1.419.738.030,63
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i).
A empresa também utilizou de programas focados na internacionalização de
empresas, a exemplos disso são os programas de renda variável e também as operações diretas
e indiretas não automáticas feitas pelo BNDES.
Na tabela a seguir apresenta-se dados das operações de renda variável em que o
banco teve participação, mostrando dados como o ano, tipo de ativo, seu objetivo e o valor
desembolsado pelo BNDES para tal investimento.
6 Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i) o valor das operações
corresponde ao valor do financiamento contratado, isto quer dizer que pode ser que esse valor não tenha sido
completamente repassado para a empresa, pelo fato de que as liberações ocorrem de acordo com a evolução
financeira e física do projeto. Assim como, as operações canceladas não são atualizadas automaticamente, podendo vir a aparecer na consulta.
51
Tabela 2 - Renda Variável – JBS.
Ano Tipo de Ativo Objetivo Valor (R$)
2007 Participação
Acionária
Internacionalização - Aquisição Swift
Foods Company 1.137.006.254,00
2008 Cotas de Fundo
Internacionalização - Aquisição National
Beef Packing Company e Smithfield Beef
Group
660.600.000,00
2008 Participação
Acionária
Internacionalização - Aquisição National
Beef Packing Company e Smithfield Beef
Group
335.267.813,00
2009 Debêntures Internacionalização - Aquisição Pilgrim's
Pride e Associação com Bertin 2.265.280.493,00
2010 Debêntures Internacionalização - Aquisição Pilgrim's
Pride e Associação com Bertin 1.212.287.421,00
Valor Total (R$) 5.610.441.981,00
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i).
É importante destacar neste ponto que, ao que se refere a Tabela 5, no ano de
2008, segundo dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i), a
operação assinada no contrato é referente a aquisição da National Beef Company, porém esta
aquisição foi vetada pelo governo americano, como visto anteriormente.
No quesito das operações diretas e indiretas não automáticas, o BNDES também
financiou para que houvesse a aquisição de parte da Swift Armour, na Argentina, além da
injeção de capital como um financiamento para capital de giro da empresa. Na tabela a seguir
vê-se as operações.
52
Tabela 3 - Operações diretas e indiretas não automáticas – JBS.7
Ano Objetivo Valor (R$)
2005
Financiamento para capital de Giro, no âmbito
do Programa de Geração de Emprego e Renda -
PROGEREN
100.000.000,00
2005
Aquisição de 75% da participação acionária da
Swift Armour Sociedad Anónima Argentina,
com aporte de capital de giro
187.464.000,00
2010 Financiamento para capital de giro, no âmbito
do Programa Especial de Crédito - PEC 162.380.000,00
2010 Financiamento para capital de giro, no âmbito
do Programa Especial de Crédito - PEC 37.620.000,00
Valor Total (R$) 487.464.000,00
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i).
A JBS também fez operações através das instituições financeiras credenciadas do
BNDES, as operações concedidas foram de forma automática. No caso da JBS, segundo
dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017d), todas as
operações indiretas automáticas foram concedidas para o programa BNDES FINAME, que é
um financiamento feito para a produção e aquisição de máquinas, equipamentos e bens de
informática e automação novos, estes produtos devem ser também nacionais e credenciados
pelo BNDES.
Na tabela a seguir é possível ver os valores desembolsados para as operações
indiretas automáticas no decorrer dos anos.
7 Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i) o valor das operações
corresponde ao valor do financiamento contratado, isto quer dizer que pode ser que esse valor não tenha sido
completamente repassado para a empresa, pelo fato de que as liberações ocorrem de acordo com a evolução financeira e física do projeto.
53
Tabela 4 - Operações indiretas automáticas – JBS.8
Ano Valor (R$)
2002 44.520,00
2003 15.740.463,95
2004 32.772.328,33
2005 22.089.183,41
2006 44.618.645,53
2007 78.988.041,79
2008 64.425.102,07
2009 101.111.678,00
2010 41.208.477,46
2011 63.661.789,94
2012 128.825.626,84
2013 148.933.683,20
2014 178.005.322,37
2015 60.486.000,02
2016 8.938.400,00
Total (R$) 989.849.262,91 Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i).
É contabilizado por volta de R$ 8,5 bilhões que a JBS auferiu do BNDES através
de seus programas, não só para internacionalizar como para melhorar o desempenho da
empresa, seja ele de capital, tecnológico, modernização etc. Focando na internacionalização, a
empresa captou através de operações do BNDES cerca de R$ 5,7 bilhões.
No gráfico a seguir é possível analisar o grau de envolvimento do banco no capital
da empresa.
8 Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i) o valor das operações
corresponde ao valor do financiamento contratado, isto quer dizer que pode ser que esse valor não tenha sido
completamente repassado para a empresa, pelo fato de que as liberações ocorrem de acordo com a evolução
financeira e física do projeto. Assim como, as operações canceladas não são atualizadas automaticamente, podendo vir a aparecer na consulta.
54
Gráfico 5 - Participação acionária do BNDES no capital da JBS (%).
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017h). Os dados referentes ao
ano de 2017 são parciais.
Nota-se o salto, entre 2010 e 2011, em que a participação acionária do BNDES
sobe cerca de 13% no capital da empresa. É de relevância destacar que 30% do capital da
empresa já foi pertencente ao BNDES.
O apoio do BNDES à internacionalização da JBS foi de suma importância para
seu crescimento e reconhecimento tanto nacional quanto internacional. Para uma empresa
criada nos anos 50, por muitos anos, até 2000, tinha pouco reconhecimento nacional, e em
apenas 5 anos (de 2005 a 2010) a empresa tornando-se uma das maiores empresas
processadoras de carnes do mundo.
5.1.1 Marfrig
A Marfrig foi criada em 2000 e tem sua sede localizada em São Paulo. Tornou-se
uma das maiores empresas do setor alimentício no Brasil, atuando nas áreas de
desenvolvimento, produção, industrialização, processamento, comercialização e distribuição
de alimentos de origem animal, como carne bovina, suína, ovina, peixes e de aves, além de
pratos prontos, massas, pizzas etc. e processamento e comercialização de couros (DIAS;
CAPUTO; MARQUES, 2012).
Sua internacionalização iniciou no ano de 2006 com as primeiras aquisições feitas
pela América do Sul, onde a primeira aquisição foi da argentina Argentine Breeders &
Packers (AB&P), uma das empresas líderes no segmento de carne bovina. Ainda, no mesmo
21.3120.3620.36
24.5822.99
19.85
30.41
17.0218.46
12.9912.94
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
JBS
55
ano, adquiriu 50% da empresa chilena Quinto Cuarto, uma importadora de carnes, e também
duas empresas do Uruguai; a Tacuarembó, que atua com exportações de carne bovina; e a
Inaler, processadora de carne bovina e ovina (DIAS; CAPUTO; MARQUES, 2012;
MARFRIG, 2017b).
No ano seguinte, as aquisições continuaram. Em 2007, houve a aquisição do
Frigoríficos La Caballada, empresa do Uruguai que veio fazer com que a Marfrig se tornasse
a maior empresa no segmento no mercado uruguaio, e outra empresa uruguaia também foi
adquirida, a Colônia, empresa que produz, processa e exporta carne bovina e seus derivados.
Também adquiriu o Frigorífico Patagônia, empresa chilena com especialização em carne
ovina. Duas empresas argentinas também foram adquiridas, uma detentora de marca Paty,
líder no segmento de hambúrgueres, a Quickfood. e a Mirab, líder em meat snacks, que é
também controladora da Mirab USA, que processa e distribui beef jerky no mercado
americano (MARFRIG, 2007; 2017b; DIAS; CAPUTO; MARQUES, 2012). Desde 2007, a
empresa tem o capital aberto na Bolsa de Valores de São Paulo (MARFRIG, 2007).
No ano de 2008, o foco das aquisições mudou. Houve a aquisição da CDB Meats,
localizada no Reino Unido, que atua com importação e distribuição de alimentos, e também
da OSI, empresa americana, com operações no Brasil, Irlanda, Inglaterra, França e Holanda.
Essa última aquisição incluiu a Braslo, que trabalha com o segmento de carne de aves e carne
bovina, a Agrofrango, do segmento de carne de aves e a Moy Park, que é a segunda a maior
no mercado da Irlanda do Norte, que comercializa por toda a Europa (MARFRIG, 2007;
2017b; DIAS; CAPUTO; MARQUES, 2012).
Do grupo Zenda foram adquiridos 51% no ano de 2009, a empresa uruguaia é
especializada na produção e comercialização de couros, e detém unidades comerciais na
Argentina, México, Estados Unidos, Alemanha e África do Sul (DIAS; CAPUTO;
MARQUES, 2012; MARFRIG, 2017b). Em 2009, também a Marfrig realizou a compra da
Seara, consolidando-se em segundo maior dos segmentos de aves e suínos tanto no mercado
interno quanto externo. A realização da compra da marca Seara, deve-se ao fato de que a
empresa adquiriu a Cargill Inc., empresa que é representado pela marca Seara Alimentos
Ltda. e suas afiliadas na Ásia e Europa e nessa aquisição incluiu a marca Seara no Brasil e no
exterior (MARFRIG; 2009; 2017b).
Outra empresa irlandesa foi adquirida em 2010, a O’Kane Poultry, que atua nos
segmentos de carne de peru e frango, e também da empresa americana Keystone Foods, que
trabalha desde produção até a distribuição dos alimentos dos segmentos: carne bovina, suína,
de peixe e aves (DIAS; CAPUTO; MARQUES, 2012; MARFRIG, 2017b)
56
Duas joint ventures foram feitas entre a Marfrig e duas empresas chinesas em
2011, uma delas a COFCO com foco em distribuição e logística de alimentos, e a Chinwhiz
que atua no segmento de carne de aves (DIAS; CAPUTO; MARQUES, 2012; MARFRIG,
2017b). De acordo com Dias, Caputo e Marques (2012, p. 163):
Nesse mesmo ano, a Marfrig anunciou uma troca de ativos com a Brasil Foods (BRF), uma das quais envolvendo a cessão da totalidade de sua participação
acionária no capital social da Quickfood na Argentina e transferindo os ativos de
processamento de carne bovina de quatro plantas daquela empresa para a nova
companhia Marfrig Argentina.
É até aqui que a empresa percorre a internacionalização, adquirindo empresas e
formando joint ventures, buscando ser referência tanto em ambiente nacional quanto
internacional.
Suas unidades de negócio são distribuídas da seguinte maneira:
Quadro 6 - Unidades de negócio da Marfrig.
Unidades Industriais.
13 situadas no Brasil, 2 no Chile, 9 no
Uruguai, 2 na China, 10 nos Estados Unidos,
1 na Coreia do Sul, 1 na Austrália, 1 na
Malásia e 1 na Tailândia.
Centros de distribuição. 3 centros de distribuição localizados no
Brasil e 1 no Chile.
Escritório de vendas.
Estados Unidos, Peru, Chile, Uruguai, Reino
Unido, Emirados Árabes, China e Hong
Kong. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Marfrig (2017a).
A Marfrig também usufruiu de programas oferecidos pelo BNDES que diz
respeito à exportação. Na tabela a seguir é possível ver os valores financiados pelo BNDES
para a empresa na modalidade exportação pré-embarque.
Tabela 5 - Exportação Pré-Embarque – Marfrig.9
Ano Valor (R$)
2005 1.500.000,00
9 Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i), o valor das operações
corresponde ao valor do financiamento contratado, isto quer dizer que pode ser que esse valor não tenha sido
completamente repassado para a empresa, pelo fato de que as liberações ocorrem de acordo com a evolução
financeira e física do projeto. Assim como, as operações canceladas não são atualizadas automaticamente, podendo vir a aparecer na consulta.
57
2006 75.654.500,00
2007 94.117.500,00
2010 30.397.950,00
2011 24.924.200,00
Total (R$) 226.594.150,00
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i).
A empresa também buscou auxílio do BNDES para o seu processo de
internacionalização, através de operações de renda variável. Na tabela a seguir é possível ver
os tipos de ativos e valores aplicados.
Tabela 6 - Renda Variável – Marfrig.
(continua)
Ano Tipo de Ativo Objetivo Valor (R$)
2007 Participação
Acionária
Apoiar seu plano de negócios, que inclui
ampliação da capacidade produtiva e aquisição
de empresas do setor de proteína animal
102.000.000,00
2008 Participação
Acionária
Aquisição de empresas do grupo OSI no Brasil e
na Europa 715.654.569,00
2009 Participação
Acionária
Apoiar a aquisição da operação brasileira de
proteínas animais e ativos correlatos da Cargill
inc., representada pela Seara alimentos Ltda. E
por afiliadas na Europa e Ásia, incluindo a marca
Seara no Brasil e exterior, plantas industriais e
um terminal portuário
169.376.792,00
58
Tabela 7 - Renda Variável – Marfrig.
(continuação)
Ano Tipo de Ativo Objetivo Valor (R$)
2010 Debênture
Aquisição da Keystone Foods, sediada nos EUA,
com operações na América do Norte e Ásia e de
melhorar a estrutura de capital
2.528.860.025,00
2012 Participação
Acionária
Melhorar sua estrutura de capital e assim
viabilizar a execução da estratégia de
posicionamento do portfólio de marcas e
produtos no mercado interno e externo
84.000.000,00
Valor Total (R$) 3.599.891.386,00
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i)
Observa-se que a empresa não só recebeu capital para que fosse possível adquirir
empresas no exterior, como também para melhorar sua estrutura e modernizar a empresa.
Na tabela a seguir apresenta-se dados das operações diretas e indiretas não
automáticas, neste caso os valores fornecidos pelo BNDES foram para reforço de capital e
ampliação de capacidade produtiva.
Tabela 8 - Operações diretas e indiretas não automáticas – Marfrig.10
Ano Objetivo Valor (R$)
2005 Reforço de Capital de Giro 10.000.000,00
2007 Ampliação de Capacidade de Abate 19.542.183,00
2010 Financiamento de Capital de Giro 200.000.000,00
Valor Total (R$) 229.542.183,00
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i)
A Marfrig também fez operações indiretas automáticas, que através de instituições
financeiras credenciadas do BNDES, a empresa adquiriu capital para o programa do BNDES
FINAME. Na tabela a seguir é possível visualizar os valores fornecidos.
10 Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i) o valor das operações
corresponde ao valor do financiamento contratado, isto quer dizer que pode ser que esse valor não tenha sido
completamente repassado para a empresa, pelo fato de que as liberações ocorrem de acordo com a evolução financeira e física do projeto.
59
Tabela 9 - Operações indiretas automáticas – Marfrig.11
Ano Valor (R$)
2003 1.841.399,88
2004 163.380,00
2006 144.000,00
2007 476.000,00
2010 1.589.151,20
Total (R$) 4.213.931,08 Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i)
As participações da empresa nos programas do BNDES, apresentadas acima,
foram altas, o que levou a empresa a arrecadar cerca de R$ 4 bilhões para sua modernização,
capital de giro, internacionalização, exportação etc. Deste valor, cerca de R$ 3 bilhões foram
direcionados para a internacionalização da empresa no âmbito de aquisição de empresas. No
gráfico a seguir é possível ver a variação da participação do BNDES no capital da Marfrig.
Gráfico 6 - Participação acionária do BNDES no capital da Marfrig (%).
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017h). Os dados referentes ao
ano de 2017 são parciais.
Observa-se o salto da participação acionária no capital da empresa de 2016 para
2017, de cerca de 19% a participação do banco no capital da empresa sobe para cerca de 33%,
isso se deve à conversão das debêntures emitidas pela empresa para ações, nisto a participação
11 Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i) o valor das operações
corresponde ao valor do financiamento contratado, isto quer dizer que pode ser que esse valor não tenha sido
completamente repassado para a empresa, pelo fato de que as liberações ocorrem de acordo com a evolução
financeira e física do projeto. Assim como, as operações canceladas não são atualizadas automaticamente, podendo vir a aparecer na consulta.
33.74
19.619.6219.6219.62
12.2513.8913.8913.8914.66
2.94
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Marfrig
60
do BNDES aumentou consideravelmente no capital da empresa (MARFRIG GLOBAL
FOODS S.A., 2017). Também se nota, entre 2007 e 2008, que a participação acionária do
BNDES sobe cerca de 12% no capital da empresa.
Para uma empresa que foi criada em 2000, em pouco tempo, já se permitiu
avançar no ambiente internacional, e muito se deve ao apoio à internacionalização de empresa
do BNDES. É importante para que a empresa pudesse se consolidar entre as empresas
brasileiras, assim como no mercado internacional.
5.1.2 Brasil Foods (BRF)
A Brasil Foods surgiu em 2009 através de uma fusão entre duas empresas, a Sadia
e a Perdigão, em que a Perdigão passa a mudar sua denominação social para BRF Brasil
Foods S.A., e há a incorporação da Sadia. Para entender melhor a história da BRF, será visto
brevemente a história da Sadia e Perdigão separadamente até o momento da fusão
(FORNARIA, 2010; BRASIL FOODS, 2017).
5.1.2.1 Sadia
Fundada em 1944, na cidade de Concórdia, no estado de Santa Catarina, a Sadia
surgiu atuando no segmento de carne de frango, e depois de um tempo em carne suína. Sua
expansão no mercado nacional iniciou nos anos 50, quando a empresa inaugurou uma unidade
em São Paulo. Anos mais tarde, em 1960, a Sadia passou a fazer parte da Frigobrás
(Companhia Brasileira de Frigoríficos) instalando uma unidade nesta região, em São Paulo, e
é neste momento que a empresa iniciou os primeiros passos da internacionalização,
começando assim, a exportar carne bovina e suína (BRASIL FOODS, 2017; FORNARI,
2010).
Ao decorrer da crescente demanda do mercado internacional, a Sadia criou a
“Sadia Trading” com intuito de centralizar as operações do comércio exterior, passando a
exportar para Oriente Médio, Japão e Hong Kong, já na década de 70. Em 1980, a empresa já
exportava para mais de 40 países. É desde 1970 que a empresa atua com capital aberto na
Bolsa de Valores (FORNARI, 2010; STAL; SEREIA; SILVA, 2010).
Já em 1990, a Sadia abriu seus primeiros escritórios fora do Brasil, situando-se no
Japão, Buenos Aires e Milão. Mas é só em 2006 que a empresa iniciou sua
internacionalização via produção (IDE). Em 2007, houve a aquisição de uma empresa
61
holandesa, BK Poultry, atuando na fabricação de processados de carne bovina e de aves. E,
então, uma joint venture foi realizada com a empresa russa Miratorg, uma distribuidora de
carnes no varejo. A fábrica em Kaliningrado, na Rússia, inaugurou em 2008, com intuito de
abastecer o mercado russo. Contudo, no mesmo ano, a Sadia decide vender a sua parte da
joint venture devido aos derivativos cambiais – contratos com vencimento de até 1 ou 2 anos,
com dólar fixado em determinado valor no momento da assinatura, que quando há alta do
dólar referente ao valor fixado, a empresa deve cobrir o valor, pagando ao banco, e em caso
de a cotação ser tornar menor do que o valor fixado, o banco passa a cobrir o valor, e a
empresa tem o lucro – referentes a crise de 2008 (BRASIL FOODS, 2017; FORNARI, 2010;
STAL; SEREIA; SILVA, 2010).
A Sadia foi uma das empresas que mais sofreu com a crise de 2008, mas também
alguns anos antes, em 2006, a gripe aviária freou os resultados no mercado externo, fazendo
com que a empresa se voltasse para o mercado interno. A crise 2008 teve efeito negativo para
a empresa, que perdeu cerca de R$ 2,5 bilhões, por conta dos arriscados derivativos cambiais,
o que levou a empresa encerrar os investimentos no ano seguinte, e em consequência houve a
incorporação com a Perdigão (FORNARI, 2010; STAL; SEREIA; SILVA, 2010).
As atividades da empresa, como uma empresa autônoma, são encerradas. A Sadia
então obtinha, até 2008, 17 unidades industriais espalhadas pelo Brasil e uma na Rússia
(vendida mais tarde), 12 centros de distribuição e 14 escritórios comerciais no exterior, cujos
estavam presentes na Alemanha, Argentina, Áustria, Chile, China, Emirados Árabes,
Holanda, Inglaterra, Japão, Portugal, Rússia, Turquia, Uruguai e Venezuela (FORNARI,
2010; STAL; SEREIA; SILVA, 2010).
5.1.2.2 Perdigão
Fundada em 1934, na cidade de Videira, em Santa Catarina, pelas famílias
Brandalise e Ponzoni. No período de sua fundação até a década de 70, a empresa progrediu
investindo no setor frigorífico de carne suína e de aves. Seu processo para chegar à
internacionalização começou por voltar de 1975, quando a empresa começou a exportar seus
produtos para a Arábia Saudita. Cinco anos mais tarde, em 1980, a Perdigão direcionou suas
exportações para o mercado europeu e para o Japão (BRASIL FOODS, 2017; FORNARI,
2010; STAL; SEREIA; SILVA, 2010).
Nos primeiros anos de 1990, a Perdigão passou por momentos de dificuldade
financeira, momento em que houve uma reestruturação societária, e que a empresa deixou de
62
ser uma empresa familiar e transferiu o controle para um grupo de fundos de pensão. Em
consequência, a Perdigão teve seu capital aberto, passando a ser Perdigão S.A. e também uma
empresa operacional, Perdigão Agroindustrial S.A. (BRASIL FOODS, 2017; FORNARI,
2010; STAL; SEREIA; SILVA, 2010).
É nos anos 2000 que a empresa começou a se consolidar no mercado
internacional. O primeiro escritório fora do Brasil é localizado em Londres, na Inglaterra. E
ainda no mesmo ano, a Perdigão foi a primeira empresa a entrar com ações na Bolsa de Nova
Iorque. Em 2002, a empresa lançou uma marca mundial, chamada Perdix, que comercializa
produtos processados (BRASIL FOODS, 2017).
Concluída em 2008, a empresa adquiriu a Plusfood, que tem fábricas localizadas
na Holanda, Reino Unido e Romênia, atuando no setor de produtos, principalmente,
congelados, como hambúrgueres, nuggets e grelhados. Esta aquisição marcou a entrada da
Perdigão no segmento de carne bovina, além de proporcionar sua diversificação na Europa
(FORNARI, 2010; PERDIGÃO, 2008; STAL; SEREIA; SILVA, 2010). Em âmbito regional,
a empresa adquiriu, em 2008, a Eleva, uma das maiores empresas da América Latina no
segmento de carnes (frango e suíno) e lácteos. A aquisição incluía também uma unidade
industrial na Argentina (BRASIL FOODS, 2017; STAL; SEREIA; SILVA, 2010).
A Perdigão utilizou de operações diretas e indiretas não automáticas do BNDES
em um valor total, ao redor de R$ 550 milhões voltados para investimento nacional, e também
no programa de exportação pré-embarque a Perdigão absorveu cerca de R$ 190 milhões.12
É então que em 2009 houve a fusão de ambas as empresas (Perdigão e Sadia)
formando o que é hoje a BRF.
5.1.2.3 Brasil Foods
Em 2009 foi realizada a fusão da Sadia com a Perdigão, surgindo então a Brasil
Foods (BRF), assim como houve a mudança de nome, a empresa transferiu sua sede de São
Paulo para a cidade de Itajaí, em Santa Catarina (BRASIL FOODS, 2009;2017)
Em 2012, a empresa adquiriu a Quickfoods, localizada na Argentina, líder em
hambúrgueres no mercado. Também iniciou a construção de uma fábrica em Abu Dhabi, nos
12 Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i) o valor das operações
corresponde ao valor do financiamento contratado, isto quer dizer que pode ser que esse valor não tenha sido
completamente repassado para a empresa, pelo fato de que as liberações ocorrem de acordo com a evolução
financeira e física do projeto. Assim como, as operações canceladas não são atualizadas automaticamente, podendo vir a aparecer na consulta.
63
Emirados Árabes Unidos, que veio a ser inaugurada em 2014. Na China, a empresa fez uma
joint venture com a empresa Dah Chong Hong Limited (DCH) com intuito de distribuir os
produtos da Sadia e do food services em Macau e Hong Kong. Houve também aquisição de
49% da Federal Foods, localizada no Oriente Médio (BRASIL FOODS, 2012; 2017).
Mais tarde, em 2015, a BRF adquiriu a Alyasra Food Company W.L.L., uma
distribuidora localizada no Kuwait. Assim como houve a aquisição da distribuidora de
congelados da Qatar National Import and Export Co., localizada no Oriente Médio. No Reino
Unido, a BRF negociou uma joint venture com a Invicta Food Group Limited, para realizar a
distribuição de produtos processados no mercado regional (Reino Unido, Irlanda e
Escandinávia), e ainda também no Reino Unido a BRF adquiriu a Universal Meats. Na
Argentina, a BRF adquiriu algumas marcas, dentre elas: Vieníssima, GoodMark, Manty,
Delicia, Hamond, Tres Cruces e Wilson, com objetivo de fortificar sua presença no mercado.
E ainda, na Argentina, a empresa adquiriu a Eclipse Holgind Cooperatief UA, uma sociedade
holandesa que controla a empresa Campo Austral (BRASIL FOODS, 2015; 2017).
A empresa argentina Alimentos Calchaquí Productos foi adquirida em 2016,
empresa que detém as marcas Calchaqui e Bocatti. Na Ásia, a empresa comprou 70% das
ações da FFM Further Processing SDN BHD, empresa que atua no processamento de
alimentos na Malásia. Ainda na Ásia, a empresa instalou um escritório, com intuito de
desbravar novas oportunidades no Sudeste Asiático e Oriente Médio. Na Tailândia, a BRF
adquiriu a empresa Golden Foods Siam (GFS), a terceira maior exportadora de carne de
frango do país. Na China, a BRF fechou um acordo com a COFCO Meat, empresa que produz
alimentos de origem suína, atuando em todas as cadeias do segmento. Em Omã, a BRF
adquiriu a Al Khan Foodstuff LLC (AKF), uma distribuidora de alimentos congelados. Por
fim, a BRF constituiu sua subsidiária chamada Sadia Halal, que detém os ativos referentes a
produção, distribuição e comercialização de alimentos que são destinados aos mercados
mulçumanos (BRASIL FOODS, 2016; 2017).
A BRF, em 2016, detinha suas unidades de negócio da seguinte maneira:
Quadro 7 - Unidades de negócio da BRF.
Unidades industriais (América
do Sul).
44 fábricas alocadas entre
Argentina e Brasil.
Unidades industriais (Europa). 2 fábricas, uma na Holanda e
outra no Reino Unido.
64
Unidades industriais (Oriente
Médio/Norte da África). 1 fábrica nos Emirados Árabes
Unidades industriais (Ásia). 6 fábricas alocadas entre
Tailândia e Malásia.
Centros de distribuição.
33 na América do Sul
(Argentina, Brasil, Chile e
Uruguai), 1 no Reino Unido,
13 no Oriente Médio/ Norte da
África (Emirados Árabes,
Kuwait, Omã e Qatar).
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil Foods (2016).
O nome Perdigão permanece como uma das marcas da empresa, e a BRF passou a
ser o nome da empresa que controla a Perdigão, Sadia e muitas outras. De acordo com
documentos da Receita Federal o nome BRF S.A. já data de 1997 (BRASIL, 2017b). Assim,
alguns dados que o BNDES disponibiliza sobre a BRF datam já de alguns anos antes de a
empresa Perdigão mudar a razão social para Brasil Foods S.A.
Na tabela a seguir é possível ver valores destinados para a empresa através do
programa exportação pré-embarque.
Tabela 10 - Exportação Pré-Embarque – BRF.13
Ano Valor (R$)
2002 322.379.202,00
2003 440.663.704,00
2008 45.637.500,00
2009 482.170.000,00
2010 150.000.000,00
2011 332.920.000,00
Total (R$) 1.773.770.406,00
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i).
13 Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i) o valor das operações
corresponde ao valor do financiamento contratado, isto quer dizer que pode ser que esse valor não tenha sido
completamente repassado para a empresa, pelo fato de que as liberações ocorrem de acordo com a evolução
financeira e física do projeto. Assim como, as operações canceladas não são atualizadas automaticamente, podendo vir a aparecer na consulta.
65
Nota-se que, desde 2002, a BRF utilizou-se do programa de exportação pré-
embarque, sendo que a divulgação da fusão entre a Perdigão e Sadia ocorreu em 2009.
Apenas duas operações de renda variável foram feitas pela empresa, na tabela
seguinte é possível observar as operações.
Tabela 11 - Renda Variável – BRF.
Ano Tipo de
Ativo Objetivo Valor (R$)
2007 Participação
Acionária
Subscrição e integralização de ações ordinárias
de emissão da Perdigão S.A., atual BRF, no
âmbito de oferta pública, com o objetivo de
apoiar a aquisição da Eleva Alimentos S.A.
5.439.060,00
2009 Participação
Acionária
Melhorar a estrutura de capital, no processo de
associação entre a Perdigão S.A. e a Sadia S.A. 400.000.000,00
Valor Total (R$) 405.439.060,00
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i).
Observa-se que ambas as operações de participação acionária são destinadas para
âmbito nacional, como para a aquisição da Eleva, mas que envolveu uma unidade na
Argentina, e para a fusão entre a Perdigão e a Sadia.
Ao que se refere às operações diretas e indiretas não automáticas, a lista da BRF
se estende um pouco mais. Nessa tabela a seguir é possível conferir os valores e objetivo de
cada operação, também muito focadas em âmbito nacional.
Tabela 12 - Operações diretas e indiretas não automáticas – BRF.14
(continua)
Ano Objetivo Valor (R$)
2005
1) Modernização e ampliação das unidades produtoras de
Uberlândia/MG, Brasília/DF, Francisco Beltrão/PR e Várzea
Grande/ MT; 2) Implantação de fábrica de margarinas e centro de
distribuição em Uberlândia/MG; 3) Reativação do frigorífico de
bovinos em Várzea Grande/ MT
412.426.012,00
14 Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i) o valor das operações
corresponde ao valor do financiamento contratado, isto quer dizer que pode ser que esse valor não tenha sido
completamente repassado para a empresa, pelo fato de que as liberações ocorrem de acordo com a evolução financeira e física do projeto.
66
2006
1) Modernização e ampliação das unidades produtoras de
Uberlândia/MG, Brasília/DF Francisco Beltrão/PR e Várzea
Grande/ MT; 2) Implantação de fábrica de margarinas e centro de
distribuição em Uberlândia/MG; 3) Reativação do frigorífico de
bovinos em Várzea Grande/MT.
490.799.192,00
2007
Implantação de duas unidades de abate e industrialização, sendo
uma de aves e outra de suínos, no município de Lucas do Rio
Verde/MT
462.455.580,00
2008
Suplemento de recursos para implementação do projeto
Agroindustrial de Lucas do Rio Verde/MT, abrangendo a
construção de novas unidades de abate de aves e suínos, de uma
fábrica de rações e de unidade de industrialização de suínos e a
construção de conjunto habitacional para funcionários da empresa
212.006.908,00
2010
Concessão de limite de crédito para financiar o plano de
investimento, no período 2006 a 2009 e implantação em Embu/SP,
de centro de distribuição; ampliação capacidade de abate de aves;
implantação de fábrica de leite em pó, em Três de Maio/RS
126.962.814,00
Tabela 13 - Operações diretas e indiretas não automáticas – BRF.15
(continuação)
Ano Objetivo Valor (R$)
2011
Transformação de aviários de peru em aviários de frangos nas
propriedades de produtores integrados da BRF, localizados em
diversos municípios do Paraná
58.942.848,00
2012
Utilização do limite de crédito contratado para aquisição de
matrizes de frangos, perus e suínos e implantação, modernização e
expansão em 28 unidades da empresa, inclusive aquisição de
máquinas e equipamentos nacionais necessários à execução do
projeto
811.692.160,00
2015
Utilização do limite de crédito contratado para aquisição de
matrizes de frangos, perus e suínos e implantação, modernização e
expansão em 28 unidades da empresa, inclusive aquisição de
máquinas e equipamentos nacionais necessários à execução do
projeto
598.612.992,00
Valor Total (R$) 3.173.898.506,00
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i).
15 Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i) o valor das operações
corresponde ao valor do financiamento contratado, isto quer dizer que pode ser que esse valor não tenha sido
completamente repassado para a empresa, pelo fato de que as liberações ocorrem de acordo com a evolução financeira e física do projeto.
67
As operações indiretas e diretas não automáticas basearam-se em operações
nacionais, direcionadas à ampliação das unidades da empresa, para modernização etc.
No caso da BRF, suas operações indiretas automáticas, são direcionadas para dois
programas do BNDES, o BNDES FINAME, visto anteriormente, direcionados à compra de
máquinas e equipamentos, e também o BNDES Automático, com objetivo de financiar
projetos de investimentos de valores que não ultrapasse R$ 20 milhões. Neste programa
podem ser financiamentos projetos de implantação, ampliação, recuperação e modernização
de ativos fixos de uma empresa/empresário individual etc., assim como, também projetos de
pesquisa, desenvolvimento e inovação voltados para setores como indústria, infraestrutura,
comércio, agropecuária, etc. (BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO E SOCIAL, 2017c).
Na tabela a seguir é possível verificar os valores direcionados para as operações
indiretas automáticas que BRF utilizou (BNDES FINAME e BNDES Automático).
Tabela 14 - Operações indiretas automáticas – BRF.16
Ano Valor (R$)
2002 18.295.550,71
2003 1.770.560,00
2009 50.000.000,00
Total (R$) 70.066.110,71
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i).
Contabilizando o valor total de todas as operações das tabelas acima, a BRF
embolsou cerca de R$ 5 bilhões. Dentro deste valor, se contar a aquisição da Eleva como um
meio da empresa internacionalizar, pois houve uma unidade na Argentina na negociação,
considera-se então que cerca de R$ 5 milhões foram destinados para a internacionalização da
empresa.
Em comparação com as empresas anteriores, o BNDES teve pouquíssima
participação acionária no capital da BRF no decorrer dos anos. No gráfico a seguir é possível
analisar a porcentagem da participação do banco no capital da empresa.
16 Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017i) o valor das operações
corresponde ao valor do financiamento contratado, isto quer dizer que pode ser que esse valor não tenha sido
completamente repassado para a empresa, pelo fato de que as liberações ocorrem de acordo com a evolução
financeira e física do projeto. Assim como, as operações canceladas não são atualizadas automaticamente, podendo vir a aparecer na consulta.
68
Gráfico 7 - Participação acionária do BNDES no capital da BRF (%).
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017h).
A BRF não participou tanto do programa do BNDES de apoio à
internacionalização via exportações quanto as demais empresas, e nem o banco teve tantas
participações acionárias no capital da BRF em comparação com as outras empresas. Mas a
capitalização de programas voltados para a modernização, ampliação e outros, pode ser visto
como um fator relacionado à internacionalização da empresa, pois quando há a modernização,
ampliação, recursos tecnológicos, a empresa consegue atender o mercado externo com mais
eficiência e qualidade.
O apoio do BNDES para que houvesse a fusão da Perdigão e Sadia pode ser
considerado um fator importante, para estabelecer a empresa atual, a BRF, como uma das
maiores empresas no mercado de carne, principalmente voltado para carne de frango e suínos.
5.1.3 BNDES como principal ferramenta de apoio ao setor frigorífico brasileiro.
Com objetivo de analisar a atuação do BNDES como a principal ferramenta de
apoio às empresas brasileiras, e como foco deste trabalho, analisar sua atuação em se tratando
do setor de carnes brasileira, onde as principais empresas do setor são conhecidas
mundialmente, observa-se que o BNDES teve êxito ao incentivar as empresas a assumirem
uma posição e papel essencial para a economia brasileira.
A internacionalização da JBS e da Marfrig foram semelhantes. Ambas começaram
sua internacionalização voltadas para o mercado continental, da América do Sul, iniciando
0.761.922.542.540.50.60.6
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
BRF
69
suas primeiras aquisições na Argentina. No caso da Marfrig, a empresa se aprofundou mais no
mercado latino, adquirindo empresas no Chile, Peru e Uruguai. Ambas avançaram também
para o mercado americano, forte no consumo de carne, principalmente bovina, foco de
produção de ambas as empresas até então. O avanço da JBS no mercado americano foi mais
intenso, que veio a ser uma das empresas líderes no mercado.
A Marfrig e JBS também investiram sua entrada no mercado Europeu, embora
com pouco destaque se comparadas seus investimentos nos Estados Unidos e nos países
latino-americanos. A Marfrig encontra-se um pouco mais bem-sucedida no mercado Europeu
do que comparada a JBS, contudo, a JBS obtém grande destaque no mercado australiano,
local também bem importante para o comércio de carnes.
Enquanto a JBS e Marfrig investiam na sua internacionalização, a BRF ainda não
existia completamente, enquanto isso a Sadia e Perdigão buscavam seu espaço no mercado
internacional de maneira mais tímida. Mas, ambas já obtinham destaque de exportação para
mercados como China, Hong Kong, Japão, Oriente Médio e Europa, e também alguma ou
outra aquisição ou joint venture. Quando formada, a BRF, também procurou investir mais a
fundo nesses mercados que a Sadia e Perdigão atuavam.
Em meio a todos esses eventos, visto detalhadamente no histórico de cada
empresa, é possível ver a importância do BNDES como sendo uma ferramenta financeira de
apoio às empresas nacionais, pois este fez de pequenas/médias empresas tornarem-se gigantes
do mercado, e isso não só se adequa ao setor de carnes.
Recentemente, o BNDES publicou um livro, chamado Livro Verde, em que neste
são trazidos assuntos referentes aos desembolsos feitos pelo banco para internacionalização
das empresas brasileiras. Segundo essa instituição, “ao BNDES foi delegada a coordenação
dos Programas para ‘Consolidar e Expandir a Liderança’, que reunia setores com capacidade
de projeção internacional: Bioetanol; Petróleo, Gás Natural e Petroquímica; Aeronáutica;
Mineração; Siderurgia; Papel e Celulose; e Carnes” (BNDES 2017a, p. 135).
Através de um política para o desenvolvimento do mercado de capitais, e que
dentro dela se encontra outras políticas, como a de internacionalização de empresas, que por
meio do BNDESPAR, o banco utiliza de instrumentos como o de renda variável, principal
forma de apoio ligada à internacionalização de empresa, em que “possibilitam a apropriação
do lado positivo desses riscos, capturando ganhos maiores em caso de sucesso dos projetos,
de forma que as eventuais perdas sejam (mais que) compensadas pelos retornos de outros
empreendimentos do portfólio” (BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO E SOCIAL, 2017a).
70
No gráfico a seguir é possível ver que tipos de instrumentos são mais efetuados
pelo BNDES ao que diz respeito à renda variável.
Gráfico 8 - Composição da renda variável por instrumento (2016) (%).
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017a).
Observa-se que, dentro da renda variável, seu principal instrumento/tipo de ativo
utilizado são as ações por parte das empresas de capital aberto.
A partir disso, também se tem dados referentes à composição da renda variável
por setores, ou seja, quais setores capitalizaram mais este tipo de financiamento.
Gráfico 9 - Composição da renda variável por setor (2016) (%).
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017a).
77%
12%
9%2%
Ações de Companhias Abertas Debêntures e Derivativos
Ações de Companhias Fechadas Fundos de Investimento
28%
20%
17%
11%
11%
13%
Petróleo e Gás Energia Elétrica Mineração
Alimentos Papel e Celulose Outros
71
A justificativa do BNDES sobre o apoio do setor de proteína animal deriva da
Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), no intuito estratégico de buscar a liderança
mundial e conquistar mercados, que incorporam dois objetivos: o primeiro de consolidar o
país como o maior exportador do mundo em se tratando do segmento de proteína animal, e
segundo fazer o setor de proteína animal ser o principal setor exportador do agronegócio do
Brasil. Isso se deve ao destaque e vantagens competitivas que o setor tem, contudo,
necessitam de uma escala para competir por custo e passar por processos para vencer as
barreiras sanitárias que são impostas no país para a exportação (BANCO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2017a).
No gráfico a seguir é possível ver o apoio destinado ao setor de carnes do período
de 2005 a 2016.
Gráfico 10 - Apoio do BNDES ao setor de carnes (2005-2016) (%).
Fonte: Adaptado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017a).
Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2017a, p.
159), o apoio ao setor teve resultados positivos como:
Evolução na governança, na transparência e na responsabilidade socioambiental;
assunção de uma posição de destaque no mercado mundial de proteínas; expressiva
redução da informalidade, com importantes reflexos na qualidade dos produtos que
chegam ao consumidor; o aumento da renda dos produtores; e a formalização das
relações no setor.
26%
32%
12%
14%
8%
6%
2%
16%
JBS Outros Bertin Marfrig e Seara (2010-2013) BRF Sadia Perdigão
72
Visto a evolução das empresas estudadas e como após os financiamentos
concedidos pelo BNDES às empresas, vê-se a importância do banco para a evolução, não só
do setor de carnes, como para todos os setores industriais, para o futuro da indústria brasileira,
com capacidade de melhorar ainda mais. É visível a mudança econômica e social que o bando
reproduz ao mercado brasileiro e prospera no ambiente internacional.
Na análise feita pelos autores Musacchio e Lazzarini (2015), o BNDES tende a
apontar para as empresas lucrativas, aquelas que são candidatas a serem as “campeãs
nacionais”. Porém, os autores indicam que os empréstimos do BNDES mais parecem uma
transferência de capital do Estado para grandes empresas, sem efeito consistente em
investimentos ou lucratividade/desempenho. De acordo com os autores, a falta de um efeito
consistente em investimento ou lucratividade/desempenho pode ser explicada de duas
maneiras: ou o BNDES concede empréstimos para empresas com mau desempenho e/ou
socorre empresas falidas, e essa podendo sobreviver artificialmente, embora não tenha
vantagens competitivas. Ou o BNDES empresta capital para empresas com bom desempenho,
ao invés das empresas com mau desempenho, então pode-se argumentar que o BNDES está
escolhendo empresas. O que não há nada de errado nisso, desde que os empréstimos sejam
obtidos por motivos de necessidade e não por oportunismo. Mas levando em conta o modo de
aceitação de empréstimos do BNDES que detém de um comitê técnico que analisa o projeto
da empresa, com base na política industrial, tem-se que os empréstimos não são destinados a
maus projetos. Segundo os autores, é possível que o BNDES selecione bons candidatos para
serem os campões nacionais ou com intuito de garantir o pagamento dos empréstimos, o
banco sistematicamente evita empréstimos às más empresas.
Outra análise, feita pelos autores Musacchio e Lazzarini (2015), concerne à linha
de que há uma visão política partidária entre empresa, governo e BNDES. Os autores também
observam que durante as eleições em países emergentes, os empréstimos foram maiores
advindos de bancos de desenvolvimento do que os fornecidos pelos bancos privados. No caso
do BNDES, vislumbrou-se que os empréstimos para empresas localizadas em regiões em que
são governadas por políticos aliados ao governo federal recebem mais capital. Ao analisarem
os dados de sua pesquisa, os autores constataram “que as empresas com boa geração de caixa
(que tendem a ser miradas pelo banco) têm mais dinheiro para doar a políticos e até mais
capacidade para identificar os vencedores mais prováveis”. Logo, os autores concluem que:
[...] vencer contrato com o governo aumenta as chances de que a empresa receba
financiamento substancial do banco. Alternativamente, é maior a probabilidade de
que certos doadores sejam selecionados pelo governo como campeões nacionais,
73
assim como é mais provável que seus setores sejam escolhidos como alvo da política
industrial. Como na economia brasileira vários são os candidatos a campeões
nacionais, é possível que as doações aumentem a probabilidade de que determinada
empresa seja escolhida e apoiada para receber empréstimos maciços
(MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015, p. 317).
Esta análise acima sobre o envolvimento da empresa com o governo e sua relação
com os empréstimos fornecidos pelo BNDES e também suas escolhas, podem ser associadas
com a análise de Wang et al (2012) sobre o envolvimento do governo na internacionalização
das empresas, em que o grau de envolvimento da empresa com o governo pode guiar a sua
internacionalização de diferentes maneiras. Logo, quanto maior o grau de afiliação da
empresa com o governo, mais a empresa adquire vantagens e benefícios a serem oferecidos
pelo governo. Assim como os envolvimentos do governo na internacionalização das empresas
são diferentes também obtém resultados diferentes, devido a diversos motivos e objetivos.
Esta pesquisa também contribui para comprovar que as variáveis contextuais
explicam parte das vantagens de propriedade de uma multinacional, que variam de acordo
com fatores relacionados ao ambiente de negócio e outras características dos países nos quais
a empresa tem origem, ou no país em que opera. De acordo com Dunning (1988), diversas
vantagens de propriedade geradas pelas multinacionais refletem a estrutura institucional dos
países nos quais as empresas se originam. Como ressalta Dunning (1980, p. 10, tradução
nossa)17 “muitas das vantagens de propriedade das empresas de hoje são um reflexo das
vantagens de localização dos países de ontem”. Portanto, para uma compreensão da
internacionalização das empresas de países emergentes, torna-se fundamental explicar o papel
das instituições no desenvolvimento de políticas para internacionalização e observa-se que as
teorias de internacionalização que não consideram as variáveis contextuais apresentam uma
explicação parcial do fenômeno internacionalização de empresas, como é o caso das teorias
comportamentais.
17 “many of today’s ownership advantagens of firms are a reflection of yesterday’s location advantages of countries” (DUNNING, 2015, p. 25).
74
6 CONCLUSÃO
O processo de internacionalização das empresas brasileiras é um fenômeno
histórico recente, se consideradas as ondas de internacionalização globais. O Brasil passou a
ser sede de multinacionais brasileiras, que ao investirem em países desenvolvidos, passou a
chamar a atenção tanto de executivos quanto da academia, pois ainda se buscam teorias que
expliquem este acontecimento.
Com a globalização atingindo o mercado internacional em todos os aspectos, os
governos de países emergentes têm buscado se adaptar e evoluir tanto economicamente
quanto politicamente para alcançar um espaço de reconhecimento perante aos países
desenvolvidos. E, com o intuito de projetar a sua indústria nacional para o mercado
internacional, os governos têm criado políticas públicas para influenciar e apoiar as empresas
a internacionalizarem.
O Brasil, por muito tempo, tem disponível programas referentes à exportação e
importação e os mantém até os dias de hoje, através de instituições como MDIC, MRE,
APEX, SECEX, CAMEX, dentre outros, além dos programas do BNDES.
Muito embora o Brasil tenha começado o processo de abertura comercial na
década de 90, a política focada na internacionalização de empresas do BNDES foi criada
apenas em 2002 e posta em prática em 2005, ou seja, 15 anos depois da abertura comercial.
Esta impulsionou a participação do Brasil na terceira onda de internacionalização de empresas
multinacionais, na qual destacam-se as empresas provenientes de países emergentes. Neste
contexto o BNDES veio praticar a política de internacionalização de empresas. De fato, no
começo do processo de abertura comercial, diversas empresas aproveitaram a oportunidade de
investir no exterior. Contudo, só algumas souberam se adaptar e compreender as exigências
do mercado internacional.
A teoria que analisa a atuação do Estado e a internacionalização de empresas é
cabível em todo e qualquer lugar do mundo, pois, embora a ideia atual do mercado seja de
livre comércio, guiado pela mão invisível, o Estado ainda intervém na economia, só que de
forma indireta. Ou seja, através de instrumentos apoiadores e financiadores de programas e
projetos com intuito de corrigir as imperfeições do mercado e também para prospectar seus
objetivos através das empresas para o mercado internacional. Já as teorias referentes apenas às
internacionalizações de empresas não trabalham temas que diz respeito à atuação do governo
para impulsionar as empresas para o mercado internacional, e sim visam apenas analisar os
fatores internos e externos da empresa, sem qualquer análise sobre algum programa ou projeto
75
de terceiros, que possa vir influenciar sua internacionalização. Sugere-se, portanto, que mais
pesquisas sejam desenvolvidas no sentido de relevar a influência institucional do país de
origem para a internacionalização.
É através do BNDES que o Estado brasileiro exerce influência em setores da
indústria brasileira, com seu objetivo de prospectar empresas que tenham vantagens
competitivas fortes e de setores fortes na economia brasileira, para serem os pilares
econômicos, as campeãs nacionais. Como visto, o BNDES tende a selecionar empresas que
garantem a amortização dos empréstimos, ou seja, sistematicamente evita empresas com mau
desempenho, mas não deixa de ajudar e apoiar empresas que andam mau economicamente.
Buscando as empresas com bom desempenho e de setores específicos da indústria brasileira, o
BNDES financiou diversos projetos voltados a internacionalizar empresas, fazendo com que
se tornassem grandes empresas nacionais e internacionais.
As empresas estudas, principalmente, a JBS, foram casos de destaque na indústria
de carnes brasileira. A JBS que com pouco mais 50 anos, era ainda pouco reconhecida
nacionalmente, mesmo obtendo bastante espaço de atuação pelo território brasileiro, foi com a
política do BNDES voltada para a internacionalização que em 5 anos a empresa se tornou a
maior processadora de carne bovina do país e do mundo. Rapidamente, buscou por mercados
fortes do segmento de carne bovina, começando nos mercados mais próximos, como a
Argentina e pouco tempo já ganhara espaço no mercado norte-americano e australiano.
A Marfrig foi um caso diferente, em que a empresa com pouquíssimos anos de
experiência no mercado brasileiro, logo partiu para o mercado internacional. Criada nos anos
2000, já em 2006 a empresa iniciou o seu processo de internacionalização. Assim como a
JBS, a empresa buscou atuação nos mercados mais próximos, como Argentina, Chile entre
outros, e logo já passara atuar no mercado norte-americano. Mercados fortes do segmento de
carne bovina, foco principal da empresa, foi também com apoio do BNDES que a empresa
pôde internacionalizar facilmente.
Já a BRF, empresa líder nos segmentos de carne de frango e suínos, não usufruiu
de programas voltados especialmente para sua internacionalização, mas em compensação
buscou o BNDES para modernizar e crescer no mercado nacional. Sua internacionalização já
iniciara antes do seu surgimento, pois a Perdigão e Sadia já haviam iniciado seu processo de
expansão para mercados como Ásia, Oriente Médio e Europa, e mesmo após a fusão de
ambas, criou-se oficialmente a BRF e a empresa continuou com atuação nesses mercados.
O BNDES tem participação acionária muito alta na JBS e Marfrig, que até então
detém cerca de 21% e 34%, respectivamente, do capital de cada empresa. Com a BRF, o
76
banco já teve sua participação acionária liquidada, pois data de 2012, em que obtinha apenas
0,76% do capital da empresa. É importante destacar que o BNDES já chegou a possuir cerca
de 30% do capital da JBS.
A justificativa do BNDES de consolidar o país como o maior exportador do
mundo de proteína animal, e fazer o setor de proteína animal ser o principal setor exportador
do agronegócio do Brasil, fez com que as empresas estudadas fossem as escolhidas para esse
processo, principalmente a JBS, que esteve em destaque em diversas matérias de jornais
recentemente, devido a esses empréstimos fornecidos pelo banco. Essa meta a ser atingida
deve-se ao fato que o Brasil enfrenta muitas barreiras sanitárias de exportação da carne por
diversos países, ultrapassando esse limite imposto, seria possível projetar o mercado brasileiro
como maior exportador e produtor de carnes do mundo.
Pode se dizer que a relação entre governo, BNDES e empresas é um ciclo de
circulação de dinheiro, em que o BNDES repassa capital para a empresa por meio de projetos,
e com o vencimento desses projetos a empresa tende a ter maior lucratividade, repassando o
capital para o governo por meio de juros e impostos. Devido a esse laço criado com o
governo, há uma grande tendência de as empresas atuaram ativamente em campanhas
políticas através de doações, logo, a probabilidade da empresa ser escolhida para receber
apoio e empréstimos maciços é alta.
Concluindo, há claramente forte influência do BNDES na internacionalização do
setor de carnes através de diversas operações, mas sobretudo por meio de participação
acionária que permitiu uma importante capitalização das empresas. As empresas constituíram
laços societários com o governo, o que as torna relacionadas fortemente com a política
partidária nacional. A intenção de tornar o setor de carnes um destaque em exportação
mundial deu um passo enorme em apenas 5 anos, à custa de altíssimas operações financeiras
do BNDES que foram fornecidos às empresas através de sua política agressiva de
internacionalização. Apesar do ciclo de dinheiro, entre empresa, governo e banco, é possível
que devido à política formulada pelo BNDES, em alguns anos, o Brasil possa a vir a se tornar
o maior mercado produtor e exportador de carnes.
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