8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
1/109
0
MÁRCIO AUGUSTO CÉSAR PEREIRA
O BATISMO INFANTIL: SIGNIFICADO, ORIGEM,PROPÓSITOS e IMPLICAÇÕES
São Paulo, Abril de 2003.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
2/109
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
3/109
2
ÍNDICE
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 3
CONSIDERAÇÕES INICIAIS:.................................................................... 6O que é Batismo? .................. ..................... ...................... ..................... ..................... . 6
BATISMO e as CONFISSÕES E CATECISMOS ....................................... .................... 12
A FORMA DE BATISMO ........................................................................ 16 Análise de Textos ...................... ..................... ..................... ...................... ......... 22
BATISMO INFANTIL e CIRCUNCISÃO ............................ ...................... ..................... .. 26
O Ataque Dispensacionalista: .......................................................................... 37
BATISMO INFANTIL e a FÉ ..................... ...................... ..................... ..................... ...... 47
BATISMO INFANTIL E A RESPONSABILIDADE DOS PAIS ......... ...................... ......... 55
BATISMO INFANTIL e SUA EFICÁCIA ...................... ..................... ...................... ......... 74
BATISMO INFANTIL E SANTA CEIA ..................... ...................... ..................... ............. 81
O BATISMO NA HISTÓRIA ................... ..................... ..................... ...................... ......... 84
O BATISMO E A IGREJA PRESBITERIANA .................... ...................... ..................... .. 94
CONCLUSÃO ............................................................................................................... 100
BIBLIOGRAFIA .................... ..................... ...................... ..................... ..................... .... 102
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
4/109
3
INTRODUÇÃO
Quando falamos em batismo infantil nos deparamos
diante de muitas polêmicas e dúvidas. Alguns, como os presbiterianos,defendem o batismo infantil. Outros, como os batistas e pentecostais,
seguem uma linha diferente, entendendo que uma criança não pode, de
forma alguma, ser batizada.
Atualmente há um sério problema nas igrejas, de forma geral. Éque grande número dos defensores do batismo infantil, assim como os
contrários, não entendem bem o que as Escrituras ensinam sobre o
assunto. Muitos até batizam seus filhos simplesmente pelo fato desse
batismo ser uma tradição da Igreja na qual se congrega. Outros também
são guiados a batizar seus filhos, ou não, devido à pressão de pastorese líderes religiosos. Na verdade, precisamos conhecer o real significado
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
5/109
4
do batismo infantil, meditando sobre suas implicações, e firmando-se
sobre as Sagradas Escrituras.
A questão é tão importante que, se o batismo infantil é defendido
pela Bíblia, os que não batizam seus filhos estão perdendo as bênçãos
de Deus, afinal estão desobedecendo-o. Assim também se a Bíblia não
apóia o batismo infantil, os que o praticam também estão em
desobediência para com a Palavra de Deus.
É certo que muitos crentes possuem dúvidas com relação ao
tema em estudo. Dúvidas como: O batismo salva? Qual o significado e
relevância do batismo infantil? Como uma criança pode crer para ser
batizada? Qual a relação entre batismo e circuncisão? Porque não há naBíblia uma ordem expressa para o batismo infantil? E etc.
Essas e outras questões são relevantes e precisamos buscar,
assim como os crentes de Beréia (At 17.11), a resposta bíblica para
cada uma delas.
Com esse estudo não pretendemos lançar críticas aos nossos
irmãos batistas e de outras denominações. Antes o nosso desejo é o de
anunciar todo o desígnio de Deus, revelado nas Escrituras. A Bíblia é a
nossa única regra de fé e de prática, totalmente inspirada por Deus einerrante. Por isso, pedimos ao Espírito Santo, o autor da Bíblia, que nos
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
6/109
5
ilumine a entendermos quais são os deveres e tesouros revelados na
Palavra de Deus. Por fim, com a iluminação do Espírito Santo,
estaremos prontos para colocarmos em prática tudo o que é do agradodo nosso Deus, para Sua Honra e Glória (I Co 10.31).
“Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e
aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus com
salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão em vosso coração.
E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome
de Jesus, dando por ele graças a Deus Pai”.
Colossences 3.16-17
[PRP1] Comentário: I Co 10.31 .
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
7/109
6
CONSIDERAÇÕES INICIAIS:
O que é Batismo?
Antes de falarmos sobre batismo infantil, é preciso entender o
que é o batismo. A palavra batismo provém do grego baptw cujo
significado é mergulhar, submergir, imergir, batizar e lavar, segundo as
suas diversas declinações1. Além disso, a palavra também era usada
para indicar o ato de fazer perecer com afogamento2 . Na Vulgata (LXX)
1 COENEN, Lothar & BROWN, Colin, DICIONÁRIO INTERNACIONAL DE TEOLOGIA
DO NOVO TESTAMENTO, 2ª Ed., São Paulo, Vida Nova, 2000, p.180.2 COENEN, Lothar & BROWN, Colin, DICIONÁRIO INTERNACIONAL DE TEOLOGIA
DO NOVO TESTAMENTO, p. 180.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
8/109
7
a palavra traduz o hebraico mergulhar (exemplo de Naamã, II Rs 5.14).
Berkhof diz que “... é mais que evidente que ambas as palavras, bapto e
baptizo
, tinham outros sentidos, como os de ‘lavar’, ‘banhar-se’ e‘purificar mediante lavamento. A idéia de lavamento ou purificação aos
poucos se tornou a idéia proeminente...”3.
Na literatura secular a palavra batismo estava ligada
a um banho ritual. Outras religiões possuíam seus rituais debanho. Berkhof diz que “o batismo não era uma coisa
inteiramente nova nos dias de Jesus. Os egípcios, os
persas e os hindus tinham todas as suas purificações
religiosas. Estas eram mais proeminentes ainda nas
religiões gregas e romanas” 4. Apesar de haver essesrituais de purificações praticados pelos gentios, eles não
possuem muita relação com o batismo cristão.
A palavra baptw aparece quatro vezes no Novo Testamento (Jo
13.26; Lc 16.24; Ap 19.13), significando mergulhar 5, e muitas vezesaparece no Novo Testamento as suas declinações.
3 BERKHOF, Louis, TEOLOGIA SITEMÁTICA, Campinas, LPC, 1998, p. 635.
4
BERKHOF, Louis, TEOLOGIA SITEMÁTICA, p.627.5 COENEN, Lothar & BROWN, Colin, DICIONÁRIO INTERNACIONAL DE TEOLOGIA
DO NOVO TESTAMENTO, p.181.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
9/109
8
O Batismo é um dos sacramentos ordenados por Cristo. A
Teologia Reformada vê o batismo na idéia de purificação espiritual. “O
batismo era o mais importante entre os sacramentos, porque era o ritode iniciação à Igreja” 6. Os reformados “... procediam baseados na
suposição de que o batismo foi instituído para os que crêem, e que não
gera fé, porém a fortalece”7. Para Calvino, “O batismo representa em
particular duas coisas: a purificação que obtemos pelo sangue de Cristo,
e a mortificação de nossa carne que temos obtido por sua morte”8. Alémdisso, Calvino entendia que:
O batismo serve também à nossa confissão diante dos homens,
pois é um sinal pelo qual, publicamente, fazemos profissão de
nosso desejo de formar parte do povo de Deus, para servir e honrar
a Deus em uma mesma religião com todos os fiéis9.
Na verdade, o significado do Batismo é Cristocêntrico, pois
Cristo, fazendo-se homem, tornou possível a participação da
comunidade dos eleitos em seu corpo. Daí tiramos o significado de que o
Batismo é símbolo da união com Cristo. Aliás, esta é a definição de
6 BERKHOF , Louis, SUMARIO DE DOCTRINA CRISTIANA, 2ª Ed., Grand Rapids,
Michigan, T.E.L.L, 1966,p.222.
7
BERKHOF , Louis, SUMARIO DE DOCTRINA CRISTIANA, p.224.8 CALVINO, Juan, BREVE INSTRUCCION CRISTIANA, 4ª Ed., Barcelona, Felire,1996, p.72.9 CALVINO, Juan, BREVE INSTRUCCION CRISTIANA, p.72-73.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
10/109
9
batismo dada pelo grande Reformador Calvino, nas Institutas. Escreve
Calvino:
O Batismo é uma marca de nosso cristianismo e o símbolo pelo qual
somos recebidos na sociedade da Igreja, para que injetados em
Cristo, sejamos contados entre os filhos de Deus. Nos tem sido
dado por Deus, em primeiro lugar, para servir à nossa fé Nele; e em
segundo lugar, para confissão diante dos homens10.
Júlio Andrade, tomando lições da Igreja Escocesa, chama-nos a
atenção para o importante fato da relação entre Batismo e Encarnação
de Jesus. Diz ele:
Cristo tomando sobre si nossa humanidade, tornou possível nossa
participação em sua humanidade e nossa encorporação em seu
corpo. Cristo tornando-se homem criou a possibilidade de nos
tornarmos seus membros. A incorporação na humanidade e na
encarnação é base de nossa incorporação em seu corpo no
Batismo11.
10 CALVINO, Juan, INSTITUICIÓN DE LA RELIGIÓN CRISTIANA, 3ª ed., PaísesBajos, FELIRE, 1967, Vol. II, Libro IV, 15, 1, tradução minha.11 FERREIRA, Júlio Andrade, ANTOLOGIA TEOLÓGICA – Apostila II, Campinas,1980, p.362.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
11/109
10
Concluímos que o batismo é um dos sacramentos, juntamente
com a Ceia do Senhor. O batismo é um sinal. A pessoa que é batizada
recebe um símbolo de que pertence ao povo de Deus, o povo do Pacto.Este símbolo implica na manifestação da graça de Deus, e ao mesmo
tempo implica na responsabilidade do batizado, como bem expressou
Berkhof:
O sacramento do batismo fortalece a fé (...) representaprimordialmente um ato da graça de Deus, mas, visto que o cristão
professante deve submeter-se voluntariamente a ele, este também
pode ser considerado do lado do homem (...) o batismo significa
também que o homem aceita a aliança e assume as obrigações
próprias dela. É um selo, não meramente de uma aliança oferecida,
mas de uma aliança oferecida e aceita, isto é, decidida12
.
Na verdade, o Batismo é um sinal, e como diz Kuiper, “Os
sacramentos são meios de graça através dos quais Deus o Espírito
Santo costuma compartir sua graça aos crentes...”13. A tarefa da Igreja é
conservar a santidade dos sacramentos. “A Igreja que descuida de talresponsabilidade e despreza tal privilégio não poderá continuar sendo
santa. Pisoteia sua própria glória” 14.
12 BERKHOF, Louis, TEOLOGIA SITEMÁTICA, p.638.13
R.B.KUIPER, EL CUERPO GLORIOSO DE CRISTO, Grand Rapids, Michigan,T.E.L.L., 1966, p.190.
14 R.B.KUIPER, EL CUERPO GLORIOSO DE CRISTO, p.193.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
12/109
11
Sendo assim, estamos diante de um assunto muito importante.
Se a principal função da Igreja é a pregação da Palavra e aadministração dos sacramentos, não podemos negligenciar o que as
Escrituras nos ensinam sobre Batismo infantil.
Para estudarmos qualquer doutrina bíblica, não podemos achar
que há divergências entre o Velho e o Novo Testamento. Ambos formamo todo da Palavra de Deus. Da mesma forma, a Igreja, do Novo
Testamento, não é a substituta do Israel Vetero-testamentário. Pelo
contrário, a Igreja é o próprio Israel de Deus. Entretanto, é preciso
entender que algumas coisas na Igreja são diferentes de Israel, pois em
Cristo o que era sombra tornou-se luz (Hb 10.1). Por isso, fazemos umcontracanto com o Dr. Augustus Nicodemus:
Estou persuadido de que a Igreja cristã é a continuação da Igreja do
Antigo Testamento. Símbolos e rituais mudaram, mas é a mesma
Igreja, o mesmo povo. O Sábado tornou-se em Domingo, a Páscoa,
em Ceia, e a circuncisão, em batismo. Os crentes são chamados de
“filhos de Abraão” (Gl 3.7,29) e a Igreja de “o Israel de Deus” (Gl
6.16. Não é de se admirar que Paulo chame o batismo de “a
circuncisão de Cristo)” (Cl 2.11-12)15.
15 LOPES, Augustus Nicodemus, BATISMO DE CRIANÇAS: ALGUMASCONSIDERAÇÕES, (EXTRAÍDO DA INTERNET).
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
13/109
12
BATISMO e as CONFISSÕES E CATECISMOS
O Catecismo de Heidelberg, em resposta à pergunta
66, declara que os sacramentos são:
São sinais e selos visíveis e santos. Deus os instituiu para nos fazer
compreender melhor e para garantir a promessa do evangelho pelo
uso deles. Essa promessa é que Deus nos dá de graça o perdão
dos pecados e a vida eterna, por causa do único sacrifício de Cristo
na cruz16.
16 CONFISSÃO DE FÉ E CATECISMO DE HEIDELBERG, São Paulo, CEP, 1999, p.
57-58.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
14/109
13
A Confissão dos Países Baixos rege que: “Os sacramentos são
sinais e selos visíveis de coisa interna e invisível, por meio dos quais
Deus age em nós pela virtude do Espírito Santo”17.
A Confissão de Fé de Heidelberg declara que o batismo é a
substituição da circuncisão:
Cremos e confessamos que Jesus Cristo, o qual é “ofim da lei” (Rm 10.4), derramando seu sangue, acabou
com qualquer outro derramamento de sangue que se
possa ou queira realizar para propiciação e satisfação
dos pecados. Tendo abolido a circuncisão, que se
praticava com sangue, ele instituiu em lugar dela o
sacramento do batismo
18
.
A Confissão de Westminster trata a respeito do Batismo
declarando:
O batismo é um sacramento do Novo Testamento, instituído por
Jesus Cristo, não só para solenemente admitir na Igreja visível a
pessoa batizada, mas também para servir-lhe de sinal e selo do
pacto da graça, de sua união com Cristo, da regeneração, da
remissão dos pecados e também da sua consagração a Deus, por
meio de Jesus Cristo, a fim de andar em novidade de vida. Este
17 FERREIRA, Júlio Andrade, ANTOLOGIA TEOLÓGICA, p.349.18 CONFISSÃO DE FÉ E CATECISMO DE HEIDELBERG, p.31.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
15/109
14
sacramento, segundo a ordenação do próprio Cristo, há de
continuar em sua Igreja até ao final do mundo19 .
As Confissões e Catecismos são unânimes quanto à importância
do batismo infantil. A Confissão de Westminster, por exemplo, entende
que:
... seja grande pecado menosprezar ou negligenciar esta
ordenança, contudo, a graça e a salvação não se acham tão
inseparavelmente ligadas a ela, que sem ela uma pessoa não possa
ser regenerada e salva, ou que todos que são batizados sejam
indubitavelmente regenerados20.
Daí a importância do batismo para a vida do crente, nãoexercendo salvação, mas sendo um selo da união com Deus.
O Catecismo de Heidelberg, em resposta à pergunta 74, diz que
as crianças devem ser batizadas:
... porque tanto as crianças como os adultos pertencem à aliança de
Deus e à sua Igreja (...) Por isso as crianças, pelo batismo como
sinal da aliança, devem ser incorporadas à igreja cristã e
distinguidas dos filhos dos incrédulos. Na época do antigo
19 A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER, XXVIII,I., 4ª Ed., São Paulo, CEP, 1999,
p.141.
20 A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER, XXVIII,V, p.144.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
16/109
15
Testamento, se fazia isso pela circuncisão. No Novo Testamento foi
instituído o batismo no lugar da circuncisão 21.
O Catecismo Maior entende que “... as crianças, cujos pais, ou
um só deles, professarem a fé em Cristo e obediência a ele, estão,
quanto a isso, dentro do pacto e devem ser batizadas” 22. De modo
semelhante, o Breve Catecismo, em resposta à pergunta 95, declara que
o batismo deve ser administrado aos “filhos daqueles que são membros
da Igreja visível...” 23.
É importante ressaltarmos aqui, que não se deve batizar a
qualquer criança, mas aos filhos daqueles que pertencem ao Pacto,
afinal, são filhos da promessa (At 2.39).
21
CONFISSÃO DE FÉ E CATECISMO DE HEIDELBERG, p.60.22 O CATECISMO MAIOR, 2ª Ed., São Paulo, CEP, 1999, pergunta 166, p.186.
23 O BREVE CATECISMO, São Paulo, CEP, 1995, p.48.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
17/109
16
A FORMA DE BATISMO
Há alguns cristãos que são defensores do modo de Batismo por
imersão, outros por aspersão, e ainda outros por efusão. O primeiro
entende que a pessoa, para ser batizada, precisa ficar submergida naágua. O segundo modo espalha gotas de água sobre a cabeça do
batizando. O terceiro modo joga uma grande quantidade de água (balde)
sobre a cabeça do batizando.
Na verdade, a Bíblia não estabelece qual o modo correto debatizar. A Bíblia fala que deve ser com água, em nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo.
Se alguém diz que a Bíblia ordena o batismo por imersão, deve
também mostrar onde está tal ordenança. Na verdade, os que defendemo batismo por imersão não se fundamentam na Exegese Bíblica. O verbo
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
18/109
17
“batizar” na Bíblia, como já foi visto, tem várias nuanças, podendo
significar: derramar, limpar, lavar, etc. É no grego secular que o verbo
“batizar” indica imersão. Por isso, os que dizem que a Bíblia ordena obatismo por imersão só podem fundamentar-se na literatura secular.
Os Reformados entendem que o nosso fundamento deve ser
sempre a Palavra de Deus. A Bíblia é a nossa única regra de fé e de
prática e ela mesma é o seu melhor interprete. Sendo assim, nãodevemos dar muita atenção ao que a literatura secular diz a respeito da
palavra “batismo”. Se olharmos para o emprego que a literatura secular
faz da palavra “Ceia”, veremos que é totalmente diferente do conceito
bíblico. Quem nos chama a atenção para este fato é o grande teólogo
Charles Hodge, da cadeira de Teologia Sistemática do Seminário dePrinceton, e professor do nosso querido Rev. Ashbell G. Simonton.
Hodge diz:
A palavra que designa o outro sacramento (a Ceia), não é utilizada
no sentido fixo e uniforme que recebe entre os escritores profanos.
Para eles, denota uma refeição completa, a principal do dia. Nunca
significa tomar um pedacinho de pão e um gole de vinho...24.
24 HODGE, Charles, O BATISMO CRISTÃO, São Paulo, CEP, 1988, p.9.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
19/109
18
Não que devamos desprezar a literatura secular. Às vezes ela
pode ser útil para dar confirmações. Entretanto, a nossa hermenêutica
não pode dar mais valor ao grego clássico do que ao grego “koine”25.
Um outro erro cometido pelos nossos irmãos defensores do
batismo por imersão é que eles acham que o batismo foi criado por João
Batista. Para começar, o batismo de João não era o mesmo que o
batismo cristão (At 19.1-6). Ele preparava o caminho para Jesus, o qualdaria um outro batismo26. A cerimônia de batismo já era conhecida dos
judeus. É verdade que o que os judeus conheciam não era o batismo
para arrependimento, como ministrava João Batista. Entretanto, o
batismo já existia como cerimônia religiosa (cf. Mc 7.4; Lc 11.38;
Eclesiástico 34.25)27
.
25 No período de Cristo a língua mais importante era o grego. Quase todos falavam eentendiam a língua grega. Este é um dos motivos pelo qual os apóstolos escreveram oNovo Testamento em grego. O que é preciso dizer é que a língua grega utilizada paraescrever o Novo Testamento (grego koinê, ou grego comum), não é a mesma que ogrego secular e atual.
26 Alguns podem até pensar que o fato de Jesus ter sido batizado com 30
anos de idade, reforça a tese de que as crianças não devem ser batizadas. Entretanto,quando Jesus completou 30 anos e foi batizado por João, Ele não recebeu o mesmo
batismo cristão. Antes, este era um batismo de preparação para o ministério do
Messias. É preciso lembrar que o batismo de João Batista era para preparar o caminho
do Senhor. Além disso, a questão mais importante é que Jesus foi circuncidado
enquanto pequeno. Aí está a força do batismo infantil. O Batismo Cristão seria
instituído pelo próprio Cristo, e depois adotado pelos apóstolos como substituto dacircuncisão.
27 Eclesiástico é um livro apócrifo escrito por volta do ano 150 a.C.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
20/109
19
Hodge argumenta sabiamente, demonstrando que o batismo era
uma cerimônia comum nos tempos de Cristo. Diz ele:
Que os judeus se batizavam e batizavam (outras coisas), é um fato
tão claro, como fizeram João ou qualquer apóstolo, segundo vemos
expressa e repetidamente assinalado. E, por outro lado, um dos
motivos de queixa contra o salvador foi que ele desprezava ou
omitia este costume em algumas ocasiões; queixa muito estranha,
por certo, se não houvesse existido tão generalizada cerimônia28.
Quando lemos a carta aos Hebreus descobrimos que as
cerimônias de batismos eram muito antigas (Hb 9.9). A Lei de Moisés
prescrevia vários tipos de batismo. Dai entendemos que, quando João
apareceu batizando, ninguém ficou surpreso. Vejam o que diz Hodge a
esse respeito:
João apareceu batizando no deserto, porém não houve mostras de
surpresas ou ignorância: não se dão explicações (...) havia outros
(batismos) tais como o de copo, de camas e de pessoas que vinham
da praça, etc.; porém, o de João era de arrependimento. O que era
novo, era a doutrina que pregava, não a cerimônia que praticava.
Esta prática todos conheciam desde há muito tempo. Era algo que
esperavam ver o Messias fazer, bem como todo profeta verdadeiro.
Por isso, quando João lhes disse que ele não era o Cristo, nem
Elias, nem o profeta, a pergunta imediata que lhe fizeram, foi: “Por
28 HODGE, Charles, O BATISMO CRISTÃO, p.12.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
21/109
20
que, pois, batizas?” (Jo 1.19-25), dando a entender, claramente,
duas coisas: a) Que os profetas tinham o costume de batizar, e b)
Que esperavam que o Messias, quando viesse, faria o mesmo29.
Dissemos que o batismo desde a época de Moisés já era uma
prática conhecida do povo. Agora, faz-se necessário uma outra
observação. Os vários tipos de batismos ou purificações, realizados
pelos judeus, não eram por imersão (cf. Nm 8.7; 19.18-19). Na verdade,
os batismos eram feitos por aspersão.
É significante comparar Nm 19.13 com Eclesiástico 34.25. Este
último foi escrito por volta de 150 anos antes da vinda de Cristo. Isto
quer dizer que, já naquele período, os rituais de purificação eram feitos
por aspersão, e eram chamados de batismos. Até mesmo Josefo, umhistoriador do primeiro século da era cristã descreve o batismo como
sendo o ritual da aspersão.
As palavras, batizar e lavar são usadas, na Bíblia, com o mesmo
sentido (cf. Mc 7.3-4; Mt 15.2; Lc 11.38). O ritual de lavagem era feitotodos os dias e constantemente pelos judeus. Portanto, se o batismo
fosse feito por imersão, como defende os batistas, os judeus precisariam
ter um enorme batistério em casa. É preciso lembrar que os judeus
batizavam mesas e outros objetos do lar.
29 Ibidem, p.13.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
22/109
21
Estamos certos de que o batismo de João Batista não era,
necessariamente por imersão. Além do que já dissemos, João não teria
tempo nem forças para batizar a todos quantos ele batizou se todosfossem batizados por imersão.
Antes de passarmos para a análise de alguns textos bíblicos
sobre batismo, gostaríamos de citar novamente o Dr. Charles Hodge,
elogiando-o pelo seu bom trabalho e entendimento do assunto. Elemostra algumas evidências de que o batismo mais usado na Bíblia, sem
dúvida não era o de imersão. Escreve Hodge:
Afirmamos que os judeus, nos seus freqüentes batismos, não
submergiam a pessoa ou o objeto, mas que aspergiam ou
derramavam o elemento sobre eles. A evidência é: 1. Não obstante
haver sido estes batismos impostos pela Lei de Moisés, em lugar
algum da Lei se ordena a imersão. 2. A imersão não se prescreve
nem se insinua, porém se ordena claramente outro modo. 3. O
modo ordenado, a aspersão, pelo menos dois séculos antes da Era
Cristã, recebe o nome de batismo. 4. Lavar e batizar são palavras
intercambiáveis. Nem para uma coisa, nem para outra se praticava
a imersão. 5. Nas casas nada havia para praticar a imersão, ao
passo que para a aspersão ou efusão havia. 6. Entre as coisas que
eram batizadas, havia algumas que não podiam ser submersas
devidamente, mas que, ao contrário, podiam ser facilitamente
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
23/109
22
aspergidas. 7. Ao mencionar-se a aspersão, com relação àqueles
diversos batismos, fica claro que esta era a prática adotada30.
Análise de Textos
- At 2.41: O texto diz que quase três mil pessoas foram batizadas
em Jerusalém, num mesmo dia. O que é digno de nota é que
Jerusalém não possui nenhum rio, o que dificulta a idéia de que
os quase três mil foram batizados por imersão. A prova de que
não há rio em Jerusalém encontra-se em I Rs 20.20. Esteversículo diz que foi o Rei Ezequias quem trouxe água para
dentro da cidade de Jerusalém. Ezequias construiu o chamado
tanque de Siloé (Jo 9.7), a fim de abastecer a cidade com água
caso a cidade fosse cercada por inimigos. Então, a cidade foi
cercada pelo rei Senaqueribe, mas não houve falta de água,pois Ezequias trouxe água para dentro da cidade. Como diz o
Salmo escrito no período de Ezequias: “Há um rio cujas
correntes alegram a cidade de Deus...” (Sl 46.4). Provavelmente
este rio faça uma alusão ao aqueduto construído por Ezequias.
Adão Carlos Nascimento faz uma pergunta importante: “Onde,
30 Ibidem, p.23.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
24/109
23
em Jerusalém, os apóstolos conseguiriam água para imergir três
mil pessoas, no dia de Pentecostes?...”31.
- At 9.1-19: O texto fala do batismo de Paulo. Ananias vai até
Paulo, o cura e imediatamente Paulo se levanta e é batizado.
Landes diz que:
... Paulo levantou-se para ser batizado e foi batizado em pé, comosão batizados os aspersionistas (...) O particípio levantando-se não
dá lugar a um ato intermediário entre o levantar-se e o batizar-se,
pelo qual Paulo pudesse ter saído para procurar um tanque ou um
rio para se mergulhar 32.
- At 10.44-48: Pedro foi enviado a Cesaréia, a fim de pregar oEvangelho na casa de Cornélio. Depois de pregar, Cornélio e os
de sua casa foram batizados. É muito provável que este batismo
não foi por imersão, pois o texto dá a entender que eles foram
batizados em casa.
- At 16.27-34: O batismo do carcereiro de Filipos parece ter sido
ou no cárcere ou em sua própria casa, o que dificulta a idéia de
imersão. Além disso, é provável que crianças tenham sido
31 NASCIMENTO, Adão Carlos, A RAZÃO DA NOSSA FÉ, 8ª Ed., São Paulo, CulturaCristã, 2000, p.41.32 LANDES, Philippe, O BATISMO CRISTÃO, 2ª Ed., São Paulo, CEP, 1986, p.6.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
25/109
24
batizadas, pois toda a família do carcereiro, bem como de Lídia
(At 16.15) fora batizada.
- Rm 6.4: Este texto está falando do batismo como união com
Cristo, e não de batismo por imersão. A ênfase de Paulo aqui é
de que, uma vez unidos a Cristo pela fé, estamos mortos para o
pecado e vivos para Deus (Rm 6. 13-14). Isto quer dizer que o
texto está tratando de santificação. Calvino expõe muito bem oque falamos quando escreveu:
... o que devemos reter deste tema é que somos batizados para
mortificação de nossa carne; mortificação que começa em nós
desde o batismo e que temos de prosseguir a cada dia, e que será
perfeito, quando passarmos desta vida para o Senhor 33.
Além disso, não podemos comparar o sepultamento de Cristo
com o batismo por imersão. Jesus não foi imergido numa terra, pois
o seu túmulo era uma espécie de caverna. Concordamos com oRev. Landes o qual escreve:
... o batismo imersionista não é semelhante ao sepultamento de
Jesus. O seu corpo não foi colocado debaixo da terra, mas em
túmulo aberto em uma rocha (Mt 27.60). A entrada do túmulo foi
33CALVINO, Juan, INSTITUTAS, IV, 15,11, tradução minha.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
26/109
25
tapada com uma pedra, sem que o corpo de Jesus fosse coberto de
terra. Jesus não foi enterrado à semelhança de uma imersão em
água34.
34 LANDES, Philippe, O BATISMO CRISTÃO, p.10.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
27/109
26
BATISMO INFANTIL e CIRCUNCISÃO
Gênesis 17 traz o texto onde Deus se apresenta a Abraão e faz,
com ele, um Pacto. Este pacto deveria ser marcado com um símbolo,
atestando a relação entre Abraão e seus descendentes, com o SenhorYawéh. Cremos que Gn 17 é muito importante para a compreensão do
nosso trabalho. Assim, iremos estudá-lo de forma mais acurada.
Exegese de Gn 17.1-14:
Aos 99 anos o Senhor aparece a Abraão e faz com ele um
Pacto, ou Aliança. O Pacto da graça já existia desde que Adão e Eva
pecaram. Entretanto, com Abraão, Deus formalizou o Pacto. Na verdade,
o Pacto feito com Abraão não foi diferente do qual foi feito com Noé.
27
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
28/109
27
A expressão usada no verso 2, “farei uma aliança”,é muito
significativa. O verbo fazer aqui, é “natan” no hebraico. A sua tradução é
dar, e assim poderia ser traduzido: “Dou uma Aliança”. Há, aqui, umaimplicação direta sobre a graça de Deus. Deus é o Soberano no Pacto,
pois foi Ele quem “deu” o Pacto a Abraão. Isto significa graça de Deus.
Entretanto, a graça de Deus não excluía a responsabilidade de Abraão
em cumprir as normas estabelecidas no Pacto. Um exemplo de que as
normas teriam de ser cumpridas, encontra-se no verso 14, o qual diz queaquele que não fosse circuncidado deveria ser excluído do povo de Deus
(Gn 17.14).
É certo de que Deus é quem se mostra fiel no estabelecimento
do Pacto, mas o povo deveria ser obediente às normas do Pacto sobpena de maldição. John Murray, escrevendo sobre o Pacto da Graça fala
que, no Pacto há também condições a serem observadas. Diz Murray:
Sem duvida alguma, as bênçãos do Pacto e a relação que o mesmo
tem, não podem ser gozadas ou mantidas pelos beneficiários, a
menos que estes cumpram certas condições (...) que se resumem
em obedecer a voz do Senhor e em guardar o Pacto35.
Se olharmos o contexto, veremos que Abraão havia
desobedecido a Yahwéh. Robertson acredita que “É, possivelmente, por
35 MURRAY, John, EL PACTO DE GRACIA, 3ª Ed., Barcelona, Felire, 1996, p.26(tradução minha).
28
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
29/109
28
causa desta falha por parte do patriarca que se instituiu uma lembrança
mais permanente do relacionamento de Deus com ele”36. No capítulo 12,
Deus tinha feito promessas a Abraão. Dentre as promessas, o Senhordisse que ele se tornaria uma grande nação (Gn 12.1-3). Depois, no
capítulo 15, o Senhor volta a falar com Abraão, prometendo-lhe um filho.
Apesar das promessas de Deus, no capítulo 16 notamos a
impaciência de Abraão e sua esposa. Eles não esperaram o filho dapromessa, e procuraram agir por si mesmos. Já havia passado 11 anos
desde que Deus lhe prometera um herdeiro. Então, Abraão foi ter um
filho com a escrava de sua esposa.
A desobediência de Abraão trouxe grandes problemas para ele e
sua família. Quando iniciamos o capítulo 17 o Senhor dá, graciosamente,
a Aliança com Abraão. Quem nos chama atenção para o detalhe já
observado é o Dr. Van Groningen, um dos maiores eruditos do Velho
Testamento na atualidade. Ele escreve:
Deus Yahwéh continuou seu pacto com Abraão a despeito da
tentativa de Abraão de realizar a promessa pactual da semente
através da serva Hagar. Abrão não exibiu confiança; nem foi
obediente em submissão a Yahwéh, esperando no seu Senhor para
o cumprimento da promessa. A graça de Yahwéh foi, desse modo,
revelada na confirmação do seu pacto com Abraão. Portanto, é
36 ROBERTSON, O. Palmer, CRISTO DOS PACTOS, Campinas, LPC, 1997, p.133.
29
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
30/109
29
totalmente apropriado referir-se à continuação do pacto de Yahwéh
com Abraão como um pacto da graça37.
Um outro fator importante a ser observado em Gênesis 17 é que
o verso 2 faz um paralelo com o verso 7. Enquanto o versículo 2 diz
“Farei uma Aliança”, o versículo 7 diz “Estabelecerei a minha Aliança”. O
interessante é que o verbo “estabelecer” encontra-se no hifhil. Por isso,
ele tem um sentido de continuidade, renovação ou confirmação. Daí o
motivo de defendermos que Deus só fez uma Aliança com o seu povo e
que a mesma Aliança feita com Abraão, nos é confirmada pela pessoa
de Jesus Cristo.
Os versos 2 e 6 trazem a mensagem de que Deus multiplicaria a
semente de Abraão de forma extraordinária. Fazendo um paralelo com o
Novo Testamento, essa numerosa nação incluiria também os gentios.
Paulo escreveu: “... se sois de Cristo, também sois descendentes de
Abraão e herdeiros segundo a promessa” Gl 3.29. O apóstolo fala da
mesma promessa e do mesmo Pacto, e não de um Pacto diferente. É
significativo o verso 27 de Gálatas 3, que diz: “porque todos quantos
fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes”.
A palavra “Aliança” (berit ) seria um pacto eterno ou perpétuo
(ôlam). Deus jamais falharia apesar de Abraão (II Tm 2.13). Nesta
Aliança, Deus não fez pedidos a Abraão. Antes, o Senhor deu-lhe ordens
37 GRONINGEN, Gerhard Van, DA CRIAÇÃO À CONSUMAÇÃO, (obra não publicada).
30
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
31/109
30
a serem cumpridas com diligência. Dentre as ordens dadas por Deus
estava a circuncisão, relatada em Gn 17.9-16.
Deus continua a falar com Abraão, mas requerendo atenção
especial. Abraão deveria manter o pacto feito com ele e sua semente. O
Senhor, agora mais diretamente, passa a mostrar-lhe o que ele deveria
fazer, não para ser considerado merecedor, mas sim para obedecer a
Deus.
A circuncisão deveria representar para Abraão e seus
descendentes, um símbolo de justificação, regeneração e santificação.
Não é preciso lembrar que Abraão já dava indícios de ser justificado
(15.6). Assim, Abraão já se relacionava com Deus, o que implica em
regeneração. Além disso, o próprio ato da circuncisão visava à higiene
do órgão masculino. Isto representa a santificação. Na verdade, desde
cedo (8 dias de vida), os meninos deveriam receber a circuncisão como
uma demonstração de que a sua natureza era pecaminosa,
necessitando de santificação38.
Nada melhor do que um judeu para falar sobre o significado da
circuncisão. Por isso, citamos o pensamento do judeu Kolatch:
38 Ibidem.
31
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
32/109
A palavra hebraica para circuncisão é berit , que significa “aliança”.
Isto se refere à garantia dada por Deus a Abraão (Gênesis 17:2), na
qual Ele prometeu abençoar e faze-lo prosperar se, em troca,
Abraão fosse leal a Deus (“Anda diante de Mim e sê perfeito”). Esta
garantia foi introduzida e selada pelo ato da circuncisão,
denominada em hebraico de ot berit , “assinatura da aliança”.
Gênesis 17.11 registra o acordo nestes termos: “E circundareis a
carne de vosso prepúcio, e será por sinal de aliança entre Mim e
vós39.
Para os judeus a circuncisão era mais importante do que
qualquer coisa. O judeu Alfred J. Kolatch diz que “A circuncisão é
considerada mais importante do que qualquer outro mandamento. Os
rabinos declaram no Talmud que a circuncisão supera todos os outrosmandamentos da Tora”40. O judeu também entende que o propósito da
circuncisão era mostrar que o circuncidado fazia parte do povo de Deus.
O judeu e historiador Borger, em seu livro ”Uma História do Povo Judeu”,
explica o Pacto de Deus com Abraão da seguinte forma:
O Deus de Abraão celebra uma Aliança com seu eleito, o pacto de
um relacionamento especial cujo símbolo é o ritual da circuncisão.
Praticada de longa data entre muitos povos da Antiguidade (...) A
partir de Abraão ela se torna a identificação tribal e a condição de
39 KOLATCH, Alfred J., O LIVRO JUDAICO DOS PORQUÊS, 3ª Ed., São Paulo, Sêfer,2001, p. 17.40 Ibidem, p.19.
32
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
33/109
admissão à aliança da qual faz parte a promessa de que “à tua
semente darei esta terra para possessão perpétua”. (Gn. 17:8)41.
Bem expressou Motyer sobre a circuncisão dizendo que ela é
“... o sinal daquela obra da graça mediante a qual Deus seleciona e
marca os homens para serem Seus. O pacto da circuncisão sobre o
princípio fundamental da união espiritual da família em torno de sua
cabeça” 42. Esta compreensão de Motyer, da circuncisão representar aunião espiritual, está totalmente ligada à idéia do batismo, a união com
Cristo. Paulo, escrevendo aos Romanos, nos capítulos de 9 a 11 de sua
carta, mostra que os gentios foram unidos a Deus em Cristo, assim
como uma oliveira enxertada num ramo (Rm 11-17-19). Sendo assim,
achamos muito importante a afirmação feita pelo Rev. Adão Carlos doNascimento, sobre a ligação que há entre a Igreja e a dispensação
judaica, e a união com Cristo:
Assim como as crianças faziam parte da Igreja, na dispensação
judaica, devem elas fazer parte da Igreja na dispensação cristã. No
Antigo Testamento, as crianças eram recebidas na Igreja pelo rito
da circuncisão (Gn 17.9-14, 23, 27; Lv 12.3). No Novo Testamento,
são recebidas na Igreja pelo batismo, que substituiu a circuncisão
(Gl 2.11,12). Na dispensação da Lei, a criança que não fosse
circuncidada, era eliminada do povo de Deus (Gn 17.14). O crente,
41 BORGER, Hans, UMA HISTÓRIA DO POVO JUDEU, 2ª Ed., São Paulo, Sêfer,2001, p.23.42 J. A. MOTYER, O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA, p.295.
33
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
34/109
na dispensação do Novo Testamento, que não apresenta seus
filhos para o batismo, está quebrando a aliança com Deus e
cometendo grande pecado43.
Sartelle chama-nos a atenção para o fato de que “... as palavras
incircunciso e imundo são sinônimos. Portanto, podemos dizer ... que
Deus utilizou um símbolo externo de limpeza espiritual interior (Dt
30.6)”44. Este símbolo de salvação deveria ser aplicado a todo menino
nascido na casa de Abraão (Gn 17.12). Entretanto, precisamos deixarbem claro que, quando Cristo foi circuncidado, não o foi porque estava
impuro. Assim também, quando Cristo foi batizado por João Batista, não
o foi porque precisava de arrependimento. Robertson demonstra o
motivo pelo qual Jesus precisava ser circuncidado:
O fato de que Jesus formalmente recebeu seu nome em conjunção
com o rito da circuncisão ajuda a iluminar o significado do ato para
Cristo. Seu nome é “Jesus”, “Jeová Salva” (Lc 2.21). Sua
purificação não é por sua própria causa, mas por causa do povo
pecador que Ele salva45.
Os meninos deveriam ser circuncidados ao oitavo dia de vida.
Talvez alguém possa perguntar o motivo pelo qual Deus estipulou que o
43 NASCIMENTO, Adão Carlos, A RAZÃO DA NOSSA FÉ, p. 44-45.44
SARTELLE, John, & EVANS, John, & ANGLADA, Paulo, & PIPA, Joseph, OBATISMO INFANTIL, p.10.
45 ROBERTSON, O. Palmer, CRISTO DOS PACTOS, p.142.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
35/109
35
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
36/109
Os estrangeiros que quisessem fazer parte do povo de Israel
deveriam ser circuncidados (Êx 12.48). Deus, para falar do seu povo e
dos que não são Dele, utilizou-se das palavras circunciso e incircunciso,respectivamente (Is 52.1; Ez 44.9; I Sm 4.6). Assim escreve o judeu
Kolatch:
Os judeus não circuncidados quando crianças, são obrigados a sê-
lo em data posterior, se eles quiserem ser considerados parte da
comunhão judaica em todos os sentidos da palavra. Os homens quedesejam se converter ao Judaísmo também precisam se
circuncidar 48.
A circuncisão não salva. Romanos 4 diz que Abraão foi salvo
pela fé e não pela circuncisão, ou pelas obras. Entretanto, a prescrição
de Deus era a circuncisão como símbolo da salvação ao povo da
aliança. Assim, a circuncisão deveria ser aplicada a todo menino nascido
na casa de Abraão (Gn 17.12). Abraão foi obediente a Deus e aplicou a
circuncisão em todos os machos de sua casa. Ele entendia que a
circuncisão era o sinal e selo do Pacto com o Senhor. Van Groningem
expressa bem este fato ao dizer:
“... quando o Senhor persistiu em sua determinação de manter um
pacto com Abraão e com sua semente, estabelecendo o rito da
circuncisão como sinal e selo desse pacto, Abraão realizou o rito em
si mesmo e em todos os machos de sua casa (Gn 17.23). Assim,
48 KOLATCH, Alfred J., O LIVRO JUDAICO DOS PORQUÊS, p. 20.
36
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
37/109
Abraão indicou a plena aceitação do plano e dos propósitos de
Deus em relação a sua semente, sua terra e ao papel que sua
semente havia de desempenhar nas eras vindouras”49 .
Sartelle faz uma observação importante quando diz que “se nós
tivéssemos vivido na época do Antigo Testamento, como pais crentes,
nós teríamos circuncidado nossos filhos. Logo teríamos aplicado em
nossas crianças o símbolo da salvação...”50.
Calvino disse, muito bem, que “... o Senhor instituiu a
circuncisão naquele tempo, para confirmar seu pacto, e que ao ser
abolida a circuncisão, permanece sempre em pé a razão de confirmar o
pacto; pois convém tanto a nós como aos judeus”51. Dessa forma,
Calvino fez um belo resumo sobre a relação entre a circuncisão e obatismo:
Concluímos, pois, nisto, que os pais tiveram na circuncisão a
mesma promessa espiritual que nós possuímos agora no Batismo; e
que significava a remissão dos pecados, e a mortificação da carne
para viver em justiça (...) Podemos, pois, concluir que tudo quanto
49 GRONINGEN, Gerard Van, REVELAÇÃO MESSIÂNICA NO VELHO
TESTAMENTO, p.130.
50
SARTELLE, John, & EVANS, John, & ANGLADA, Paulo, & PIPA, Joseph, OBATISMO INFANTIL, p.11-12.
51CALVINO, Juan, INSTITUTAS IV, 16, 6, tradução minha.
37
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
38/109
pertence à circuncisão, pertence também ao batismo, exceto a
cerimônia externa e visível52.
O Ataque Dispensacionalista:
Há, na atualidade, uma linha teológica que tem contrariado ahermenêutica e a teologia Reformada. Estamos nos referindo ao
dispensacionalismo, tão amado dos nossos irmãos batistas e de várias
denominações.
O dispensacionalismo tem como defensor um homem chamadoScofield. Este homem ficou famoso pela Bíblia comentada que publicou,
a chamada Bíblia de Scofield. Além dessa Bíblia, a Imprensa Batista
publicou uma “Súmula de dez das mais importantes doutrinas da Bíblia”,
segundo Scofield. A obra a que nos referimos tem como título
“Manejando Bem a Palavra da Verdade”. Desta obra tiraremos algumas
idéias, a fim de prová-las, na Palavra, se possuem alguma veracidade.
Scofield entendia que há um abismo muito grande entre Israel e
Igreja. Para ele, a Igreja é um corpo distinto, cuja única semelhança com
Israel é que, a Igreja também se relaciona com Deus e tem promessas
52 CALVINO, Juan, INSTITUTAS IV,16, 3 e 4, tradução minha.
38
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
39/109
de Deus. Entretanto, segundo a teoria de Scofield, Adão e os Patriarcas
não pertencem à Igreja. Para ele, há um grande contraste entre Israel e
Igreja. Vejamos o que estamos descrevendo, usando as próprias
palavras de Scofield:
... o estudante descobre muitas menções da existência de um outro
corpo distinto, que é chamado a Igreja. Este corpo também mantém
uma relação peculiar com Deus e, como Israel, tem dEle recebido
promessas especiais. Mas a semelhança aí termina, iniciando-se aíum contraste dos mais dignos de nota (...) As escrituras ainda
revelam que nem sempre existiu quer Israel e quer a Igreja. Cada
qual teve um princípio – Israel com a chamada de Abraão, e a
Igreja, no Pentecoste (contrário, talvez, as suas expectativas, pois
tem sido provavelmente ensinado que Adão e os Patriarcas estão
na Igreja)...53.
O termo “dispensacionalistas” refere-se a aqueles que são
seguidores das doutrinas de Scofield. Este divide o tempo, desde a
criação de Adão até a volta de Cristo, em sete períodos totalmente
distintos.
1º Dispensação da Inocência: é o momento do homem antes da
queda.
53 SCOFIELD, C. I., MANEJANDO BEM A PALAVRA DA VERDADE, São Paulo,Imprensa Batista Regular, sem data, p. 8.
39
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
40/109
2º Dispensação da Consciência: após a Queda (conhecimento do
bem e do mal).
3º Dispensação do Governo Humano: tempo de Noé, sendo que ele
deveria governar a terra.
4º Dispensação da Promessa: tempo de Abraão.
5º Dispensação da Lei: de Moisés à Cristo.
6º Dispensação da Pura Graça: Tempo de Cristo (estamos vivendo
nela).
7º Dispensação do Reinado Pessoal de Cristo: volta de Cristo (ainda
não vivemos nela).
A implicação do ensino de Scofield traz resultados desastrosos.
Jamais a Teologia Bíblica traça os diferentes períodos de tempo como
faz Scofield. Na verdade, aqui está a centralidade do motivo pelo qual os
batistas não batizam crianças: eles não crêem que fazermos parte do
mesmo Pacto de Deus com Abraão.
É claro que a teoria dispensacionalista não possuí fundamentos
bíblicos. Os textos que Scofield cita, faz sem exegese e fora do contexto.
Já vimos, pelo texto de Gênesis 17, que Deus não fez outra Aliança com
Abraão. Antes, Deus renovou a Aliança já feita com os servos do
passado, por exemplo, Noé. Foi assim também com Davi, Salomão e
Cristo. Este é o ensino bíblico. A excelência do ensino bíblico é que a
40
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
41/109
Igreja não é diferente do Israel do Velho Testamento. A Igreja também
não é um substituto de Israel. Antes, a Igreja é o próprio Israel de Deus.
A Aliança feita com Israel é a mesma feita com a Igreja. É claro
que algumas coisas mudaram, pois em Cristo temos liberdade dos vários
ritos judaicos. Paulo, escrevendo aos Gálatas, disse: “Para a liberdade
foi que Cristo nos libertou. Permaneceis, pois, firmes e não vos
submetais, de novo, a jugo de escravidão” Gl 5.1.
Paulo Anglada nos dá uma tremenda contribuição quando nos
lembra que:
... é preciso compreender que o Antigo e o Novo Testamento não
ensinam duas religiões diferentes. A Igreja cristã não é uma outra
Igreja. O Apóstolo Paulo revela claramente que a Igreja cristã não é
uma nova árvore, mas apenas um galho enxertado na mesma
árvore cuja raiz é Abraão (Rm 11.13-24)... 54.
Philippe Landes defende, de forma sábia, que a Igreja é o
mesmo povo que o Israel de Deus. Diz ele:
Que a Igreja já existia na Velha Dispensação, prova-se pela
declaração de Estevão, o primeiro mártir cristão, no seu último
54 SARTELLE, John, & EVANS, John, & ANGLADA, Paulo, & PIPA, Joseph, O
BATISMO INFANTIL, p.38.
41
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
42/109
discurso, em que faz referência à presença de Jesus com o povo de
Israel no deserto: “Esse é o que esteve na Igreja no deserto com o
anjo que lhe falava no Monte Sinai; o qual recebeu oráculos de vida
para vo-los dar (At 7.38)55.
Além disso, os dois sacramentos do Antigo Testamento (Páscoa
e Circuncisão) não foram abolidos, mas substituídos pela Ceia e
Batismo, respectivamente. Concordamos com Sartelle, o qual escreve:
A páscoa (o sacramento da igreja visível) transformou-se na ceia,
quando Jesus dela participou pela última vez (...) a circuncisão
(sacramento de admissão na igreja visível) transformou-se no
batismo cristão, visto que não mais havia necessidade de
derramamento de sangue, pois o Cordeiro Pascal estava preste aser imolado. Em Colossences 2:11-12, o batismo cristão é chamado
explicitamente de “circuncisão de Cristo” (o mesmo que circuncisão
cristã)56.
Peter Bloomfield também chama-nos a atenção para o fato de
que, tanto o Novo quanto o Velho Testamento estão em harmonia:
55 LANDES, Philippe, ESTUDOS BÍBLICOS SOBRE O BATISMO DE CRIANÇAS, 2ªEd., São Paulo, CEP, 1952, p. 23.56 SARTELLE, John, & EVANS, John, & ANGLADA, Paulo, & PIPA, Joseph, O
BATISMO INFANTIL, p.40.
42
E t d t ó t h id ú i Ali l d
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
43/109
Em todos os tempos só tem havido uma única Aliança salvadora
entre Deus e os pecadores. É chamada Aliança da Graça (ou Pacto
da Graça), ou, Aliança Abraâmica (ou Pacto Abraâmico). Nós lemos
sobre sua origem em Gen. 17.Há uma continuidade da Aliança desde Abraão até agora.
Não há tal coisa como uma Aliança da Graça do Velho Testamento
e uma Aliança da Graça do Novo Testamento. Não há distinção
entre a Aliança Abraâmica e a Aliança Cristã. Elas são uma e a
mesma coisa. Isto não é posto em nenhuma parte mais claramente
do que em Gal. 3: 16: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão eao seu descendente. Não diz: E AOS DESCENDENTES, como se
falando de muitos, porém como de um só: E AO TEU
DESCENDENTE, que é Cristo”. Assim a Aliança Abraâmica incluía
CRISTO (...) de fato significava preeminentemente Cristo. Ele é a
semente de Abraão - Ele é o único que fielmente guardou a
Aliança.57
Alguns, para combater a idéia de que o batismo infantil é a
continuação da circuncisão, dizem que isso não pode ser assim, pois as
mulheres são batizadas, enquanto que antes, elas não eram
circuncidadas. Entretanto, é preciso entender o motivo pelo qual as
mulheres não eram circuncidadas. O Rev. Ludgero Braga nos dá uma
resposta a esta questão:
57 Peter Bloomfield, ARTIGO EXTRAÍDO DA INTERNET.
43
A não aplicação da circuncisão às mulheres era devida à
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
44/109
A não aplicação da circuncisão às mulheres era devida à
imperfeição do rito. O judaísmo era sombra do Cristianismo, e,
portanto, imperfeito (...) Sem dúvida, a mulher, no judaísmo, tinha
uma posição inferior à do homem, mesmo na religião. E ainda quepela imperfeição do rito, não pudesse ela recebê-lo, não deixava,
contudo de participar de seus privilégios, pois, segundo a lei, ela só
devia casar-se com um circuncidado 58.
Na verdade, em nenhum lugar da Bíblia encontramos a mulher
exercendo cargos de liderança espiritual. É preciso lembrar que a
circuncisão era um ato totalmente religioso. Assim, as mulheres sempre
estavam representadas pelos homens. O Rev. Boanerges Ribeiro segue
a mesma linha do Rev. Ludgero, registrando em seu livro, “Aliança da
Graça”, a seguinte afirmação:
...O Senhor pôs em Abraão e em todos os homens de sua casa
(nos quais estavam então representada as mulheres) um sinal de
aliado; depois disso Abraão e sua semente, desde o 8º dia do
nascimento, trazem no corpo a marca da Aliança, marcada pelo
Senhor da Aliança (Gênesis 17: 26-27; 21:4; Lucas 2:21). Essa
marca é garantia que Deus dá da justiça da fé (Romanos 4:11).
Na Nova Aliança o batismo é a marca. Mas na Nova
Aliança não a recebem apenas os homens da família, mas todos
58 BRAGA, Ludgero, MANUAL DOS CATECÚMENOS, Esboço de Teologia Cristã,
p.146.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
45/109
45
Paulo magnífica o batismo tanto que por meio de clara
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
46/109
... Paulo magnífica o batismo tanto que, por meio de clara
implicação, desaprova a continuidade do rito da circuncisão se
considerado como tendo algo a ver com a salvação. Portanto, a
clara implicação é que o batismo tomou o lugar da circuncisão.Assim, o que é dito em referência à circuncisão em Rm 4.11 como
sendo um sinal e selo, é válido também para o batismo. No contexto
colossense, o batismo é especificamente um sinal e selo de se ter
sido sepultado e ressuscitado com Cristo62.
Robertson entende que há uma união entre a circuncisão e o
batismo. O seu argumento baseia-se também no texto de Colossences
2.11-12. Diz Robertson:
O resultado líquido da declaração de Paulo é unir, da maneira mais
firme, os dois ritos da circuncisão e do batismo (...) No maiscompleto sentido possível, o batismo sobre a nova aliança cumpre
tudo o que era representado na circuncisão sob a velha. Sendo
batizado, o crente cristão experimentou o equivalente do rito de
purificação da circuncisão63.
Um grande divisor de águas para a Igreja Primitiva foi o Concíliode Jerusalém. Este, o primeiro Concílio da Igreja, foi uma reunião em
que os líderes da Igreja se reuniram com o fim de resolver um problema:
alguns fariseus, convertidos ao cristianismo, diziam que não bastava crer
62 HENDRIKSEN, Willian, COMENTÁRIO DO NOVO TESTAMENTO – Colossences eFilemon, São Paulo, CEP, 1993, p.147-148.63 ROBERTSON, O. Palmer, CRISTO DOS PACTOS, p.152.
46
e batizar os gentios Para eles era necessário circuncidar os gentios
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
47/109
e batizar os gentios. Para eles, era necessário circuncidar os gentios
crentes em Jesus (At 15.1,5).
As palavras de Pedro no Concílio de Jerusalém são muito
significantes. Ele disse, em outras palavras, que nem o batismo e nem a
circuncisão salvam: “... cremos que fomos salvos pela graça do Senhor
Jesus, como também aqueles o foram” (At 15.11).
A decisão do Concílio mostra-nos que a circuncisão foi
substituída pelo batismo. Os gentios não precisavam mais ser
circuncidados para pertencerem ao povo de Deus. Entretanto, judeus e
gentios eram sempre batizados, seguindo a ordem deixada por Jesus
(Mc 16.15-16).
Por fim, queremos dizer que, não crer na continuidade do Pacto
implica em não ter consciência da obra evangelizadora da Igreja. Deus
incluiu no seu Pacto, não só os que têm sangue de Judeu. Os que são
descendentes de Abraão e pertencentes ao Pacto, são os que possuem
fé. Van Deursen diz que “... o desconhecimento e o desprezo do Pacto
de Deus é tão fatal também para a nossa visão da situação do mundo”64.
O Pacto de Deus com Abraão é também chamado de Pacto da Graça,
mostrando a graça de Deus se revelando ao homem e dando-lhe a
oportunidade de um relacionamento.
64 DEURSEN, Frans Van, EL PACTO DE DIOS, Su Excelencia y SuDesconocimento, Barcelona, Felire, 1994, p. 10 (tradução minha).
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
48/109
48
... notemos que o assunto do versículo é a salvação e não o
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
49/109
batismo. Portanto, se esse versículo exclui os infantes do privilégio
de serem batizados, por serem incapazes de fé pessoal, então
também os exclui da salvação, visto que o restante do versículoprossegue dizendo que, “quem porém, não crer, será condenado65.
Se quisermos aplicar Marcos 16.16 às crianças, devemos
aplicar, também, II Ts 3.10, onde se lê: “... se alguém não quer trabalhar,
também não coma”. É claro que ambos os textos não foram dirigidos às
crianças e, portanto, Marcos 16.16 não pode ser argumento contra o
batismo infantil.
Em Romanos 4.11, por exemplo, “... Paulo diz especialmente
que a circuncisão é um sinal e um selo da justificação pela fé” 66.
Quando Deus fez a promessa a Abraão em Gn 17, Sartele observa que
os filhos de Abraão “... não tinham nascido, nem tinham confessado sua
fé; ainda assim, Deus estava prometendo que os trataria de uma
maneira especial” 67. Deus não estava dando profecias, mas sim um
Pacto com Abraão e seus descendentes.
65 DIEFFENBACHER, Arthur, BATISMO INFANTIL, Que Dizem as Escrituras, SãoPaulo, Missão Bíblica Presbiteriana no Brasil, sem data, p. 11.66 SARTELLE, John, & EVANS, John, & ANGLADA, Paulo, & PIPA, Joseph, O
BATISMO INFANTIL, p.60.
67 SARTELLE, John, & EVANS, John, & ANGLADA, Paulo, & PIPA, Joseph, O
BATISMO INFANTIL, p.20.
49
Paulo, escrevendo aos coríntios, demonstrou que os filhos de
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
50/109
q
crentes são diferentes dos incrédulos (I Co 7.14). Os filhos dos crentes
são santos, ou seja, são separados do mundo para a comunhão com
Deus. O Rev. Augustus Nicodemus, doutor na área de exegese do Novo
Testamento, explica qual o sentido do termo “santo” usado por Paulo
para se referir aos filhos de crentes:
Se considerarmos que Paulo está usando o termo “santificar” no seu
sentido judaico, amplo – ou seja, de algo separado – e se tomarmos
como referêncial a Igreja como comunidade dos santos, dos que
professam a fé em Jesus Cristo, os filhos do casal são santos no
sentido de que nascem dentro desta comunidade, debaixo da
aliança de Deus com seu povo, e estão portanto separados dos
pagãos e incrédulos. Isto não significa que estão automaticamente
salvos e regenerados, mas que nascem dentro da aliança,
pertencem à comunidade do povo de Deus. Eles mesmos terão de
exercer fé pessoal em Jesus Cristo para que possam ser salvos68.
Além disso, se não podemos ter membros menores na Igreja,
pois os menores não podem dar certeza de sua fé, também não
podemos ter membros maiores (adultos). Isto se prova pelo fato de que
ninguém pode garantir que o adulto realmente tem uma fé verdadeira e
68 LOPES, Augustus Nicodemus & LOPES Minka S., A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA, SãoPaulo, Cultura Cristã, 2001, p.180.
50
pertence à Igreja invisível. Arthur J. Dieffenbacher está correto ao
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
51/109
afirmar:
Ora, não cremos que qualquer pessoa capaz de exercer fé pessoal
seja capaz de ser salvo sem ela, mas que a fé é operada no
coração pelo Santo Espírito de Deus, e que Deus pode levar os
infantes a uma fé salvadora, pessoal, quando se tornam capazes
disso, tal como faz com os adultos, disso não duvidamos. Se não
podemos esperar que Deus opere nos corações alheios, levando-os
à fé pessoal em Cristo, então não há base para a fé na oração que
pede salvação dos outros69.
Seguindo este mesmo raciocínio, afirmamos que, ao mesmo
tempo em que uma criança batizada pode, quando crescer, não viver
conforme a Palavra, assim também pode acontecer com um adulto. Emnossas Igrejas vemos que vários adultos se desviam e passam a andar
longe dos caminhos do Senhor. Neste sentido, concordamos com as
palavras do nosso querido irmão, Rev. Boanerges Ribeiro:
É também possível que a criança batizada venha tambémapostatar-se de Cristo na idade adulta; possibilidade que se estende
ao adulto que se batiza e pode posteriormente vir a apostatar da fé.
No caso do adulto, batizamo-lo aceitando sua profissão de fé no
Senhor Jesus, nos termos da Aliança da Graça; no caso da criança,
batizamo-la aceitando os termos da Aliança da Graça, onde a
69 DIEFFENBACHER, Arthur, BATISMO INFANTIL, Que Dizem as Escrituras, p.8.
51
promessa do Santo Espírito é para os que crêem e para os seus
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
52/109
filhos...70.
Não podemos defender que o batismo só pode ser aplicado a
adultos, pois eles são racionalmente responsáveis. Isto implicaria que a
salvação não seria pela fé, mas pela razão. A fé é dom de Deus, e Deus
dá fé, pela graça, aos seus eleitos, transformando a razão do seu povo.
O Rev. Onezio Figueiredo, preocupado com o pensamento “gnose”, o
qual pensa poder penetrar os segredos da divindade através da razão,escreveu:
Ao sustentarem que o batismo só pode ser ministrado aos
racionalmente responsáveis, objetivamente fazem a redenção
depender da razão e estabelecem a premissa de que a fé surge
com a maturidade psico-racional, sendo, neste caso, uma aquisição
humana, não um dom de Deus, um carisma da graça71.
Alguns alegam que a criança não pode ser batizada, pois o
batismo tem a ver com o arrependimento do batizado. Entretanto, seolharmos à circuncisão, dada no Antigo Testamento, veremos que ela
sempre teve uma conotação de arrependimento. Mesmo assim, a
circuncisão era aplicada nas crianças. Se alguém tem algo contra este
ensino, que pergunte para Deus, como diz Calvino:
70 RIBEIRO, Boanerges, TERRA DA PROMESSA, São Paulo, Semeador, 1988. p.70.71 FIGUEIREDO, Onezio, BATISMO SINAL DO PACTO, São Paulo, IPB – Secretariade Imprensa e Literatura, 1993, p.12.
52
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
53/109
Porque a circuncisão foi símbolo de arrependimento, se vê
claramente em muitos lugares da Escritura, principalmente no
capítulo quarto de Jeremias. E São Paulo a chama de selo da justiça da fé (Rm 4.11). Que perguntem, pois, a Deus, o porque se
fazia aplicar nos filhos...72.
Em várias passagens das Escrituras há a questão de que a
criança recebe as bênçãos decorridas do Batismo através da fé de seus
pais (Mt 9.18-19; 23-26;17.14-18; Lc 7.11-17; Jo 4.46-54; etc.). Nestes e
em outros casos, Jesus curou não por haver fé nos enfermos ou no
morto. Antes, Jesus curou devido à fé dos pais. Talvez alguém possa
dizer que não podemos batizar crianças, pois João Batista não batizava.
Entretanto, a grande questão é que o batismo de João não era o mesmo
batismo instituído por Cristo. O batismo de João visava o
arrependimento, algo que uma criança não pode fazer. O Rev. Manoel B.
de Sousa, em seu livro “Porque Somos Presbiterianos”, afirma que “... as
crianças não eram apresentadas como candidatas a este tipo de
batismo, pois não têm, dada a sua inocência, de que se
arrependerem”73.
Kuiper disse que “... os filhos dos crentes são membros da santa
igreja universal. Todos eles são membros da Igreja visível. Muitos deles
72 CALVINO, Juan, INSTITUICIÓN DE LA RELIGIÓN CRISTIANA, IV, 16, 20. 73 SOUZA, Manoel B., PORQUE SOMOS PRESBITERIANOS, 2ª Ed., Rio de Janeiro,Princeps, 1963, p.175.
53
são inclusive membros da Igreja invisível...” 74. Na verdade, os filhos dos
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
54/109
crentes não são batizados para que se tornem filhos de Deus. Eles já
pertencem a Deus, como bem expressou Calvino:
... os filhos dos fiéis não são batizados para que comecem, então, a
ser filhos de Deus, como se antes fossem estranhos à Igreja; e sim
para que por este solene sinal são recebidos nela como membros
que já eram da mesma. Porque quando o batismo não se omite nem
por desprezo, nem por negligência, não há motivo algum de temor 75.
É interessante que quando uma criança, filho de algum crente
que não defende o batismo infantil vem a falecer, no seu momento de
dor os pais afirmam que seu filho está salvo. Assim, defendem que seu
filho já fazia parte do povo de Deus. Se os pais, nesse momento difícil
declaram que seus filhos faziam parte do Pacto, então eles deveriam
receber o sinal do Pacto.
Depois de tudo o que já dissemos, alguns podem dizer que não
existe texto algum do Novo Testamento em que encontramos os
apóstolos batizando crianças. Pois bem, não existe, também, nenhum
texto que não permita o batismo infantil. Além disso, Calvino fez uma
excelente observação:
74 R.B.KUIPER, EL CUERPO GLORIOSO DE CRISTO, Grand Rapids, Michigan,
T.E.L.L., 1966, p.194, Tradução Minha.
75 CALVINO, Juan, INSTITUICIÓN DE LA RELIGIÓN CRISTIANA, IV, 15, 22.
54
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
55/109
... se esta razão fosse válida, poderíamos concluir também dela,
que as mulheres também não devem ser admitidas à Ceia do
Senhor, posto que não há um texto na Escritura que diga que elascomungaram no tempo dos Apóstolos76.
76 Ibidem, IV,16, 8.
55
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
56/109
BATISMO INFANTIL E A RESPONSABILIDADE
DOS PAIS
Batizar o filho enquanto criança implica em assumir o papel de
pais que amam a Deus e a seus filhos. Quando olhamos para as
Escrituras Sagradas, encontramos, pelo menos, três ordens de Deus aoshomens. Estas ordens resumem todas as nossas funções nesta vida. É
o que chamamos de mandados; espiritual, social e cultural.
Deus criou o homem para se relacionar com Ele e com Sua
criação, a fim de glorificá-lo. Assim, o mandado espiritual diz respeito ao
relacionamento do homem com Deus (Gn 1.26-27; 2.1-3; 2.16-17). Já o
mandado social refere-se ao relacionamento do homem com as
pessoas, especialmente com a família (Gn 1.27-28; 2.4-25). O mandado
cultural, por sua vez, fala do relacionamento que o homem deve ter com
as coisas que Deus criou. O homem deve cuidar e desenvolver a criação
de Deus, pois sobre ele está imposta a responsabilidade de ser vice-
56
gerente da terra (Gn 1.26, 28-30; 2.15). O Dr. Mauro Meister está correto
d fi l d t f d d h i t
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
57/109
quando afirma algumas das tarefas dadas ao homem como vice-gerente:
Ele deveria tomar tempo para cultivar o solo, exercer o domínio e
conseqüentemente, gozar e desfrutar do trabalho de suas mãos,
tudo isso em um ambiente de plena harmonia. Fazendo assim,
também estaria obedecendo ao Criador que o havia criado e
equipado para tais coisas. Portanto, o mandado cultural envolve as
áreas do trabalho, política, ensino, tecnologia, lazer, etc. O ser
humano criado a imagem e semelhança de Deus deveria, em um
certo sentido, desenvolver a criação perfeita, representar o criador e
fazer cumprir a sua soberana vontade. Assim, o seu papel de vice-
gerência seria cumprido sob as estipulações de vida e amor do
pacto da criação”77.
O Batismo Infantil tem implicações diretas na esfera dos três
mandados. Todo relacionamento de aliança envolve compromissos de
ambas as partes. Quando Deus fez aliança com Abraão, o Senhor
assumiu o compromisso de abençoar, não só a Abraão, mas também a
sua semente (Gn 17). Entretanto, este pacto pressupõe que não há
igualdade de Deus com o homem, pois o Senhor foi quem fez, ou deu opacto a Abraão (Gn 17.2). Meister explica corretamente esta verdade:
Este tipo de pacto pressupõe a figura de uma parte “soberana”. Um
dos lados tem a vantagem do domínio e se propõe a cumprir um
determinado papel; o outro, tendo também um papel a cumprir, se
77 Meister, Mauro Fernando, UMA BREVE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PACTO II,IN: FIDES REFORMATA, São Paulo, Seminário JMC, 1999, Vol. IV, nº 1, p.97.
57
submete às exigências pactuais. No pacto divino-humano
encontramos a relação criador-criatura rei soberano-servo78
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
58/109
encontramos a relação criador criatura, rei soberano servo .
Um dos compromissos que cabia a Abraão era circuncidar o seufilho. Esta circuncisão seria o símbolo de que a sua semente fazia parte
do povo de Deus, e, conseqüentemente, pertencia ao Senhor. Além
disso, o ato da circuncisão não bastava. Outra grande responsabilidade
de Abraão era educar os seus filhos no caminho do Senhor. Quando
Deus revelou a Abraão que iria destruir Sodoma e Gomorra, dissetambém que escolheu Abraão para que ensinasse seus filhos e sua casa
a guardar os caminhos do Senhor: “Porque eu o escolhi para que ordene
a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho
do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo; para que o Senhor faça vir
sobre Abraão o que tem falado a seu respeito” (Gn 18.19).
No período bíblico os pais tinham por obrigação instruir os seus
filhos no temor de Deus. Em Deuteronômio 4, Moisés exorta o povo a
que obedeça o Senhor. No versículo 9 do mesmo texto temos que, uma
das provas de obediência seria fazer os filhos saber dos feitos de Deus.
Diz o texto: “Tão somente guarda a ti mesmo e guarda bem a tua alma
que te não esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e se
não apartem do teu coração todos os dias da tua vida, e as farás saber a
teus filhos, e aos filhos de teus filhos”. É bom lembrar que na sociedade
78 MEISTER, Mauro Fernando, UMA BREVE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PACTO,IN: FIDES REFORMATA, São Paulo, Seminário JMC, 1998, Vol. III, nº1, p.118.
58
de Israel, muitas crianças moravam juntamente com seus avós. Dessa
forma a figura do avô era importante para a educação de seus netos
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
59/109
forma, a figura do avô era importante para a educação de seus netos.
Algumas características da responsabilidade dos pais crentes noperíodo bíblico, no que se refere à educação, foram bem observadas no
livro “Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos”. Segue abaixo um resumo
das atitudes dos pais na tarefa de educar os seus filhos, relatados pelo
livro citado acima79:
79 Merril C. Tenney & J. I. Packer & William White Jr., VIDA COTIDIANA NOS TEMPOSBÍBLICOS, adaptado.
RESPONSABILIDADE DO PAI
- Instrução religiosa e de trabalho(lembrar que era um povo agrícola,por isso, nem todos sabiam ler ouescrever).
- Educação dos netos.
- A maior preocupação dos pais judeusera que seus filhos conhecessem oDeus vivo (lembrar que conhecer emhebraico significa ter umrelacionamento de comunhão comalguém, intimidade).
- Na primeira fase da infância, os pais judeus faziam seus filhos memorizar
vários versículos do VelhoTestamento, em forma de credo (Ex:Dt 26.5-10). A intenção era ensinar ofilho de que Deus havia feito umaaliança com eles.
- O pai deveria dedicar tempo para aeducação de seus filhos.
RESPONSABILIDADE DA MÃE
- Especialmente até aoscinco anos de idade, amãe tinha um papeldecisivo na educaçãodos seus filhos. Istoporque, ao completarcinco anos de idade, os
meninos iam trabalharcom os pais, a fim deaprenderem algumaprofissão. As meninasaprendiam as tarefas damãe, a fim de setornarem auxiliadoras dofuturo marido.
- A mãe ensinava suasfilhas a fazer pão, fiar etecer, etc.
59
Alguns textos bíblicos são importantes como prescrições de
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
60/109
Alguns textos bíblicos são importantes como prescrições de
Deus para a tarefa de educar filhos. São eles:
- “Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na
vossa alma; atai-as por sinal na vossa mão, para que
estejam por frontal entre os olhos. Ensinai-as a vossos filhos
falando delas em vossa casa, e andando pelo caminho, e
deitando-vos, e levantando-vos” (Dt 11.18-19).
- “Disse-lhes: Aplicai o coração a todas as palavras que, hoje,
testifico entre vós, para que ordeneis a vossos filhos que
cuidem de cumprir todas as palavras desta lei” (Dt 32.46).
Outros textos importantes poderiam ser citados, como é o caso
de Dt 6.6-7: ”Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração;
tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e
andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te”. Destes
versículos temos que uma criança é como uma faca com um corte cego,
cuja lâmina precisa ser amolada. O livro “Vida Cotidiana nos Tempos
Bíblicos” faz uma importante observação:
A frase “tu as inculcarás” vem de uma palavra que geralmente se
referia a afiar uma ferramenta ou amolar uma faca. O que a pedrade amolar é para a lâmina da faca, assim o é o treinamento para a
60
criança. A educação prepara os filhos para tornar-se membros úteis
e produtivos da sociedade80.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
61/109
Na sociedade de Israel, nos tempos de Jesus, havia classes nas
sinagogas destinadas à educação dos meninos. Lá eles aprendiam a
Lei, como é o caso de Paulo que foi educado aos pés de Gamaliel, um
doutor da Lei muito respeitado (At 5.34; 22.3). Essas classes educativas
funcionavam durante a semana, mas os pais entendiam que a educaçãorecebida em casa era muito mais importante. “Durante a semana, os
meninos iam a essas classes para estudar as Escrituras com os
professores qualificados. Estas classes suplementavam a educação
religiosa que os meninos recebiam dos pais”81.
Atualmente o pensamento de muitos pais está mudado. Alguns
acreditam que não são mais responsáveis pela educação de seus filhos.
Para eles, os professores de seus filhos é que devem educar. Assim, a
escola tem sido vista, não como um complemento à educação do lar,
mas como a única ou a mais importante na educação.
Recentemente, numa escola do Estado de São Paulo, cujo
nome prefiro não revelar, ocorreu um fato que ilustra o que estamos
80 Merril C. Tenney & J. I. Packer & William White Jr., VIDA COTIDIANA NOS TEMPOS
BÍBLICOS, p. 70.81 Ibidem, p.82.
61
dizendo. Um garoto, cursando o primário, deu um soco no vidro da porta
de uma das salas de aula. O problema é que o vidro quebrou e, um
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
62/109
de uma das salas de aula. O problema é que o vidro quebrou e, um
estilhaço atingiu o rosto de um estudante. A diretora, preocupada com o
futuro dos seus alunos, ligou para o pai do menino que quebrou o vidro,
a fim de que seu pai tomasse providencias na educação do filho.
Entretanto, o pai do garoto disse à diretora: “Olha aqui, diretora. Quando
o meu filho faz alguma bagunça em casa, eu não ligo para a senhora
avisando. Portanto, se ele fez alguma bagunça na sua escola, o
problema é seu!”.
Outros casos poderiam ser citados, mas gostaria de expor só
mais um. Numa outra escola, que trabalha com crianças de até 6 anos
de idade, um menino com 2 anos pediu uma banana para a professora.
Ela atendeu o pedido do menino, mas ficou triste com a atitude dele.
Aquela criança pegou a banana e jogou no chão com ar de satisfação e
felicidade. Então, a professora foi conversar com a avó do menino com o
intuito de avisá-la da atitude de seu neto. A avó, porém, disse com ar de
contentamento: “Ah! Lá em casa a fruteira fica num lugar baixo e meu
neto pega duas bananas, descasca, joga no chão e pisa em cima”.
O que causa mais tristeza é que este tipo de educação,
exemplificada acima, é, também, utilizado na educação de muitos filhos
de crentes. Eu creio que este é um grande motivo pelo qual a população
está perdendo o conceito de respeito às autoridades. Muitos não
62
respeitam mais a palavra dos pais, nem dos mais velhos, nem dos
professores. Isto implica que, quando estiverem na adolescência,
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
63/109
p p q , q ,
provavelmente não respeitarão nem às autoridades civis e muitos menos
terão respeito para com Deus. Talvez a causa disso seja algumas linhas
de psicólogos e pedagogos que orientam os pais em desacordo com a
Palavra de Deus.
A verdade é que estamos vivendo uma crise no sistema
educacional. Francisco Solano Portela comenta o assunto da seguinte
forma:
... a realidade é que vivemos uma crise em nossas escolas. A crise
não é gerada somente pela falta de investimentos no setor ou pela
deficiência acadêmica das escolas públicas. Ela estáprofundamente enraizada na filosofia de educação recebida desde a
tenra infância. Ela se reflete concretamente no nosso lar, na
formação dos nossos filhos, no conhecimento que recebem ou que
deixam de receber, na visão de vida que tendem a resolver, nos
padrões de aferição que constroem para sua existência, na suposta
“apreciação da vida com responsabilidade” que leva jovens a viverirresponsavelmente82.
82 PORTELA, Francisco Solano, O QUE ESTÃO ENSINANDO AOS NOSSOS
FILHOS? UMA AVALIAÇÃO TEOLÓGICA PRELIMINAR DE JEAN PIAGET E DOCONSTRURIVISMO, IN FIDES REFORMATA, São Paulo, CPPAJ, 2000, Vol. V, nº 1,p. 71.
63
A educação recebida nas escolas deve ser algo de muita
preocupação para os pais cristãos. Estes têm, por obrigação,
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
64/109
acompanhar os estudos de seus filhos e orientá-los a reter o que é bom,
o que não contraria a Palavra de Deus.
Um dos métodos mais utilizados no atual sistema educacional é
chamado de construtivismo. Este tem a sua base inicial na filosofia e
experiências feitas por Jean Piaget. Apesar disso, não foi Jean Piaget o
fundador do construtivismo. Ele apenas lançou as bases do mesmo83.
Portela dá uma boa explicação do pensamento dessa teoria
construtivista:
... considera o conhecimento como sendo o resultado das
inteirações da pessoa com a ambiente onde vive. Nesse conceito,
todo conhecimento é uma construção que vai sendo gradativamente
formada desde a infância, nos relacionamentos com os objetos
físicos ou culturais com os quais as crianças travam contato84.
Talvez você me pergunte: O que há de mal no Construtivismo?
Não parece ser uma boa filosofia de Ensino? Em resposta dizemos que
essa teoria tem coisas boas, mas também possui muitas coisas ruins.
Dentre as boas, destacamos alguns bons resultados obtidos pela teoria:
83 Ibidem, p.73.84 Ibidem, p. 72.
64
- O aluno tem mais interesse pelo ensino, pois é mais
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
65/109
interativo.
- Os pais são considerados muito importantes no processo de
educação.
- A produção de material didático, em geral, tornou-se mais
atrativo aos alunos, etc.
Entretanto, algumas coisas não são boas nesse processo
defendido pelo construtivismo. Vejamos:
- Ele atinge tanto a esfera do conhecimento como o campo da
moral dos alunos. As crianças devem criar os seus próprios
sistemas de valores. Por isso, não podem existir padrões
morais a serem seguidos. O problema é que a Bíblia
estabelece padrões absolutos a serem seguidos. Não
podemos aceitar que o bem não seja formulado por Deus,
mas, pela nossa sociedade85.
- Para o construtivismo, o conhecimento é um reflexo
subjetivo, gerado na mente de quem aprende. Sendo assim,
estão ensinando para os nossos filhos que não existe
verdade objetiva e é impossível conhecer a realidade. Pois
85 Ibidem, p.76.
65
bem, sabemos que a verdade é uma realidade objetiva, e
que Deus é a verdade e a Sua Palavra também (Jo 17.17).
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
66/109
Este tipo de ensino monta na mente da criança barreiras
para um dia ela acreditar que Jesus ressuscitou, por
exemplo86.
- O construtivismo entende que o que interessa não são as
respostas às perguntas feitas por uma criança. O que
interessa são as perguntas. Isto causa um tipo de educação
sem direcionamento. Entretanto, ao olharmos para a Palavra
de Deus, vamos encontrar que devemos educar as crianças
nos caminhos (direcionamentos) da Palavra87. “Eu sei, ó
Senhor, que não cabe ao homem determinar o seu caminho,
nem ao que caminha o dirigir os seus passos” (Jr 10.23).
O construtivismo trouxe grandes influências à formação de
outras escolas de ensino. Uma delas foi a influencia aplicada à escola de
Summmerhill, fundada em 1921. Para essa escola, a rejeição a
qualquer tipo de autoridade traz grandes benefícios. O importante é obem estar emocional da criança. Portela, citando um autor construtivista
demonstra que há um grande perigo nesta filosofia da educação. Se a
criança “... puder crescer em plena liberdade, sem uma direção
autoritária, sem influência moral e religiosa, sem ameaças e sem
86 Ibidem, p.77-78.87 Ibidem, p.78-80.
66
coação... aí a criança se transformará em um homem feliz e,
conseqüentemente, bom”88.
8/19/2019 BATISMO LIVRO (1) (1)
67/109
Este tipo de pensamento é totalmente contrario ao ensino da
Palavra de Deus. Os pais precisam aprender a falar “não” para os seus
filhos e, às vezes, será preciso discipliná-los. Vejamos o que diz o sábio
inspirado por Deus: “O que retém a vara aborrece o filho, mas o que o
ama, cedo o disciplina” Pv 13.24. Em outro lugar a Palavra de Deus diz:
“Corrige o teu filho e te dará descanso, dará delícias à tua alma” Pv
29.1789.
O Rev. Philippe Landes, em seu trabalho sobre batismo infantil,
declara-se preocupado com a educação dos filhos de crentes. Diz
Landes:
Um dos fenômenos tristes na vida da Igreja, resultante do descuido
dos pais na educação dos filhos, é o fato de que um grande número
deles se afasta da Igreja para o mundo na segunda e terceira
geração. Para impedir esse desvio prejudicial da nossa mocidade
88 Ibidem, p.81.89 Provérbios 3.12 diz: “Porque o Senhor repreende a quem ama, assim como o pai, aofilho a quem quer bem”. A importância da disciplina pode ser vista em outros lugares da
Escritura. O interessante é que Deus convoca os pais a seguirem o seu exemplo.Assim como o Senhor disciplina os seus filhos, também os pais, devem disciplinar seusfilhos (Hb 12.5-13). Qual o pai que daria uma faca para o seu filho pequeno brincar?
67
evangélica, é indispensável que demo
Top Related