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Anlise ambiental das ilhas do Apara e Itauc, municpio de So Sebastio, So
Paulo, Brasil.
Oliveira, Diego Emanuel Campos; Campos, Fausto Pires de; Furlan, Sueli ngelo.
Gegrafo. Departamento de Geografia, Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias
Humanas (FFLCH), Universidade de So Paulo (USP) - Brasil. E-mail:
Bilogo. Instituto Florestal, Secretaria do Meio Ambiente de So Paulo (SMA) - Brasil.
Gegrafa. Departamento de Geografia, FFLCH, USP - Brasil.
RESUMO
Muitos stios de reproduo de aves marinhas insulares na costa do Estado de So Paulo,
apesar de serem pontos crticos para a conservao ambiental, no so protegidos
integralmente, estando expostos a ameaas que incluem desde o furto de ovos das aves
e incndios criminosos a maus tratos fauna e flora local.
O presente trabalho realizou a anlise ambiental de duas ilhas costeira s recentemente
protegidas pela legislao ambiental que constituem colnias de aves marinhas
ameaadas de extino no litoral paulista (Itauc e Apara, no municpio de So
Sebastio), e comparou-as com outra abrangida por unidade de conservao da naturez a
desde 1977 (Ilha da Prainha, no Parque Estadual da Ilhabela).
A partir dos levantamentos e observaes em campo e da pesquisa bibliogrfica,
verificou-se que as ilhas que no so protegidas sofrem grandes perturbaes na flora e
nas colnias de aves marinhas (Sterna hirundinacea , Thalasseus sandvicensis
eurygnatha e Thalasseus maximus, sendo que T. maximus procria exclusivamente no
Estado de So Paulo e tambm considerada ameaada segundo a lista federal).
Observou-se que aps a criao de uma unida de de conservao necessrio odesenvolvimento da gesto e do manejo e uma fiscalizao rigorosa e efetiva.
Palavras-chave: Biogeografia, ilhas, aves insulares, conservao, So Paulo.
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Introduo
A Biogeografia Insular originou grande parte das pesquisas na rea ambiental,
especialmente no que diz respeito ecologia e biogeografia histrica. A Teoria do
Equilbrio de Biogeografia Insular TEBI trouxe uma enorme contribuio nesse sentido,
dando a base necessria para novos estudos de caso e pesquisas empricas.
Nota-se, contudo, que pequenos fragmentos de floresta tropical em ambientes
insulares diminutos tendem a ser preteridos quando se pensa em reas prioritrias para
conservao. Nesse sentido, decidiu-se conhecer melhor esses ambientes, para que a
teoria pudesse ser pensada na prtica, produzindo conhecimento cientfico sobre
pequenas ilhas do litoral paulista.
Seguindo os preceitos bsicos da TEBI, foram escolhidas ilhas que se encontram
em latitudes semelhantes, todas prximas costa atlntica sudeste do Brasil, de tamanho
reduzido, e que se constituem em reas de pouso ou nidificao de aves insulares
marinhas. Tambm se mostrou necessrio um ambiente de controle, para servir de
parmetro para a pesquisa. Dessa forma, foram escolhidas duas ilhas recentemente
protegidas, Itauc e Apara, em So Sebastio, e a Ilha da Prainha, pertencente ao
Parque Estadual da Ilhabela litoral nordeste do Estado de So Paulo - Brasil.
Para a anlise e comparao das ilhas foi utilizado mtodo de avaliao ambiental.
Sua adoo tem como propsito possibilitar a comparao entre as ilhas objeto de
estudo, sem pretender eleger uma delas como prioritria para conservao.
Torna-se fundamental, portanto, apreciar a vegetao das ilhas e sua relao com
o entorno; conhecer as aves que habitam o litoral paulista e, especialmente, aquelas que
so vistas com maior frequncia em pouso ou nidificando nas ilhas objeto de estudo; e
apreciar o histrico do processo de criao de unidades d e conservao no litoral
paulista. Espera-se, assim, contribuir para o enriquecimento do conhecimento acerca das
ilhas desse estado.
Objetivo
O objetivo principal da pesquisa foi realizar a anlise ambiental de duas pequenasilhas costeiras recentemente protegidas pela legislao ambiental que constituem
colnias de aves marinhas ameaadas de extino ou quase ameaadas de extino no
litoral paulista: Itauc e Apara, municpio de So Sebastio.
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Justificativa
O estudo da biogeografia de ilhas, relativamente recente, se tornou importante ao
favorecer a compreenso dos processos biolgicos nos fragmentos florestais e,
consequentemente, das implicaes dos processos antrpicos, como desmatamentos,
fragmentao de habitats e extermnio da fauna (FURLAN, 1997).
A criao das Estaes Ecolgicas Tupinambs1 e dos Tupiniquins2 nos anos 1980
consistiu de iniciativa pioneira no Estado de So Paulo - Brasil. Essas Unidades de
Conservao protegem algumas formas insulares de porte mdio que contm fragmentos
de Mata Atlntica e, ao mesmo tempo, abrangem seu entorno marinho no raio de 1km, a
partir da linha da costa, caracterizando -o como parte integrante a ser administrada
(OLIVEIRA et al., 2007).
Em 1993 foi criado o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, que abrange um
retngulo com cerca de 5.000ha de mar. Essa nova determinao legal demonstrou uma
mudana substancial no tipo de preocupao vigente desde a criao dos parques
estritamente insulares da Ilha do Cardoso (1962), da Ilhabela (1977 ) e da Ilha Anchieta
(1977). Esses parques no abrangem a transio do territrio protegido para ambientes
aquticos e esto sob a administrao de um rgo cuja tradio institucional
preponderantemente para pesquisa em produo florestal 3.
Ao longo de todo o litoral paulista existe um total de 142 formas insulares das quais
cerca de 104 so exclusivamente marinhas, entre ilhas, ilhotas e lajes. Esses ambientes
insulares carecem de um plano de estudos da representatividade dos ecossistemas
abrangidos.
preciso ampliar os estudos que permitam a sistematizao e o planejamento
geral da conservao das ilhas paulistas, assim como o estabelecimento de medidas e
indicadores confiveis para o gerenciamento dos ecossistemas marinhos. Na contramo
dessas iniciativas, os agentes de degradao do litoral atuam em larga e rpida escala,
deixando um quadro preocupante de danos e poluio.
Existem no litoral paulista apenas oito Unidades de Conservao (UCs) da
natureza da categoria de proteo integral que abrigam ambientes marinhos ou1 A Estao Ecolgica Tupinambs foi criada pelo Decreto 94.656, de 20 jul. 1987.2 A Estao Ecolgica dos Tupiniquins foi criada pelo Decreto 92.964, de 22 nov. 1986.3 Em 29 de dezembro de 2006, por meio do Decreto 51.453, foi criado o Sistema Estadual de Florestas,SIEFLOR. Assim, a Fundao para a Conservao e Produo Florestal do Estado de So Paulo(Fundao Florestal) passou a responsabilizar-se pela gesto das unidades pblicas de conservao eproduo do Estado de So Paulo, incluindo o controle, a administrao e a gesto financeira, operacional etcnica das unidades do SIEFLOR. Por sua vez, o Instituto Florestal de So Paulo (IF) passou a serresponsvel pelo controle, administrao e custeio de atividades relacionadas ao desenvolvimento deprojetos de pesquisa nessas mesmas unidades, cabendo ao IF a gesto de parcerias com instituies depesquisa ou de financiamento para os programas e projetos desenvolvidos.
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apresentam divisas com o mar (sem considerar o trecho costeiro do Parque Estadual da
Serra do Mar em Picinguaba). Elas compreendem apenas 35 formas insulares, o que
denota baixa representatividade destes ecossistemas.
Ao considerarmos as aves insulares como bioindicadoras, as trs ilhas estudadas
nesta pesquisa encontram-se entre os ambientes mais ameaados do litoral paulista. O
seu estudo poder contribuir para o aprimoramento da rede de UCs no Estado de So
Paulo4.
Materiais e Mtodos
Foram utilizados, para o desenvolvimento desta pesquisa, mapas em diversas
escalas, fotografias areas e imagens de satlite disponveis e compatveis com as reas
de estudo, alm da bibliografia pesquisada sobre ilhas. Em campo foram necessrios
instrumentos de pesquisa (GPS, bssola, binculos, mquina fotogrfica, tesoura de
poda, prancheta e papel, barbante, fita mtrica etc.) que auxiliaram na realizao dos
levantamentos ambientais.
Tendo em vista a caracterizao da rea de estudo e o cumpr imento dos objetivos
desta pesquisa, as trs ilhas mencionadas foram pesquisadas em campo para coleta de
dados primrios dos habitats. As visitas tiveram a durao de um ou mais dias,
dependendo das condies do tempo e de navegao. Nessas visitas, as ilhas foram
circundadas via martima e percorridas a p em toda sua extenso.
A anlise ambiental das ilhas foi feita com base na utilizao de mtodo que
investiga caractersticas fsicas, biolgicas e histricas dos ambientes. Para tanto, serviu
como referncia para esta pesquisa o trabalho realizado por Vieitas (1995), procurando
demonstrar a importncia da conservao desses ambientes. Em seu trabalho, Vieitas faz
uso de 3 sistemas para analisar diversos critrios: Tans, Knutson e Ubatuba. Na presente
pesquisa utilizado apenas o ltimo, que se mostra mais apropriado por ter sido
desenvolvido especificamente para as ilhas do municpio de Ubatuba (SP), cujas
caractersticas principais se assemelham s das ilhas dos municpios de So Sebastio e
Ilhabela, uma vez que os trs municpios localizam-se em rea geomorfolgicasemelhante o litoral nordeste de So Paulo.
Diferentemente do que se costuma buscar ao fazer uso de um sistema de anlise
ambiental, no se tem o propsito de determinar reas prioritrias para conservao no
presente trabalho. Mesmo porque a rea de estudo compreende apenas trs ilhas, um
4 Duas espcies encontradas nessas ilhas so consideradas ameaadas de extino, de acordo com a listado IBAMA de 2003, e uma terceira tem status de quase ameaada e apresenta populaes pequenas (DEn 53.494, 2008).
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nmero bem menos expressivo do que as 23 ilhas que foram objeto de estudo de Vieitas
(1995). Sendo assim, sero feitas as anlises sugeridas, mas com o objetivo de
demonstrar a importncia de se conservar as trs ilhas estudadas.
No Sistema Ubatuba procurou-se padronizar critrios, adotar uma escala nica e
estabelecer a equivalncia das unidades de valor. Foram utilizados critrios biolgicos,
fsicos, culturais ou de uso humano e estado de conservao, cujos pesos esto
embutidos nos valores e refletem sua importncia relativa. De acordo com esse sistema,
devem ser feitas trs anlises distintas: anlise biolgica e fsica; anlise do estado de
conservao; anlise cultural e de uso humano (BIODIVERSITY SUPPORT PROGRAM
apudVIEITAS, 1995).
Como proposto por Aseredo (2007) em sua pesquisa recente sobre as ilhas de So
Sebastio, os critrios avaliados foram separados em duas anlises distintas: uma
biolgica e fsica e outra do estado de conservao, evitando a anlise cultural e de uso
humano, uma vez que se trata de ilhas pequenas, sem presena de populao residente.
A seguir so apresentados os critrios utilizados em cada uma das anlises realizadas,
juntamente com o valor correspondente a cada item.
Anlise Biolgica e Fsica
Utilizada para a valorao das ilhas de acordo com caractersticas fsicas e
biolgicas como tamanho, facilidade de acesso, diversidade de fisionomias vegetais
naturais e ocorrncia de espcies raras ou ameaadas.
Tabela 1 Tamanho da ilha
Tamanho Valor Tamanho Valor
0,0 - 05 ha 01 50,1 100 ha 06
5,1 - 10 ha 02 100,1 500ha 08
10,1 - 50 ha 04 > 500 ha 10
Tabela 2 Acessibilidade s ilhas
Acesso (distncia da costa e facilidade de acesso ilha) Valor
Muito Fcil Ilha com praia 01
Fcil Ilha prxima, sem praia e com acesso muito fcil pelo costo 03
Difcil Ilha relativamente prxima, com acesso difcil pelo costo 05
Muito Difcil Ilha distante, com acesso muito difcil pelo costo 08
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Tabela 3 Diversidade de fisionomias vegetais naturais
Diversidade de fisionomias vegetais naturais Valor
Muito Baixa 1 fisionomia 02
Baixa 2 fisionomias 05
Intermediria 3 fisionomias 07
Alta 4 fisionomias ou mais 10
Tabela 4 Presena de aves nidificando
Presena de aves nidificando* Valor
Presena 05
Ausncia 01
* Ninhos, mesmo que vazios, tambm sero
considerados.
Tabela 5 Ocorrncia de espcie rara ou ameaada
Ocorrncia de espcie rara ou ameaada Valor
Ocorre 03
No ocorre 00
Anlise do Estado de ConservaoUtilizada para a valorao das ilhas de acordo com caractersticas relacionadas ao
seu estado de conservao, como o grau de alterao antrpica, o grau de ameaa e a
porcentagem de habitats originais remanescentes.
Tabela 6 Grau de alterao antrpica
Grau de alterao antrpica (presena de vestgios de
ocupao humana e alteraes visveis na vegetao)Valor
Nulo Alterao no detectada 10Baixo Algum lixo, fezes, fogueira 07
Intermedirio reas alteradas de pequena extenso,
espcies introduzidas06
IntermedirioTrilhas, reas alteradas de maior extenso,
espcies introduzidas05
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AltoTodos os itens acima e presena de
construes em uso02
Tabela 7 Grau de ameaaGrau de ameaa (existncia de ameaas aos ambientes
naturais da ilha e intensidade da perturbao)Valor
Grande Ilha particular 10
Grande Ilha ocupada de domnio pblico 09
Moderado Ilha particular 08
Moderado Ilha de domnio pblico 07
Pequeno Ilha particular 06
Pequeno Ilha de domnio pblico 05
Pequeno Destruio improvvel 04
Tabela 8 Porcentagem de habitats originais remanescentes
Porcentagem de habitats originais remanescentes
ou com alteraes no visveisValor
Grande (em torno de 90 a 100%) 10
Intermediria alta (75 a 90%) 08
Intermediria (50 a 75%) 06
Baixa (25 a 50%) 04
Muito baixa (at 25%) 02
*Avaliao feita com base em fotos areas e observaes em
campo.
Conforme o mtodo proposto, os valores obtidos em cada uma das anlises
devero ser somados e os resultados, inseridos em uma matriz de integrao quepermitir verificar as ilhas prioritrias para a conservao.
rea de Estudo - litoral de So Paulo
O litoral paulista pode ser dividido em duas reas distintas, de acordo com sua
morfologia: o sul, com a presena de depsitos marinhos e fluvio-lagunares quaternrios,
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com extensa plancie entre as escarpas da Serra do Mar e o oceano; e o norte, com
embasamentos metamrficos pr-cambrianos e Serra do Mar prxima ao oceano.
Uma subdiviso do litoral paulista em quatro unidades possvel levando -se em
considerao o avano dos embasamentos pr-cambrianos em direo ao mar (SUGUIO;
MARTIN, 1978):
I Cananeia-Iguape,
II Itanham-Santos,
III Bertioga-Ilha de So Sebastio,
IV Ilha de So Sebastio-Ubatuba.
O Litoral Norte compreende as unidades III e IV, onde no existem ilhas ocenicas,
apenas ilhas costeiras (Vieitas, 1995).
O litoral do Estado de So Paulo apresenta, de acordo com a classificao de
Kppen, o clima do tipo tropical na maior parte de sua extenso, com temperatura mdia
superior a 18 C no ms mais quente do ano. A precipitao anual varia entre 1600 e
2000 mm, sendo que no ms mais seco esse valor no inferior a 60 mm. Com veres
excessivamente midos, esse tipo climtico no apresenta inverno seco, apenas uma
reduo dos ndices pluviomtricos. Observa-se, no entanto, que a presena da Serra do
Mar influencia o clima no litoral, uma vez que os ventos midos acabam por formar as
chamadas chuvas orogrficas na face voltada para o oceano.
As Florestas Ombrfilas Densas5 Montana e Submontana recobrem
aproximadamente dois teros (22.458ha) da rea vegetada do municpio de So
Sebastio (34.604,4ha). A vegetao secundria dessas florestas ocupa
aproximadamente 20% do municpio (7.010,2ha). A Floresta Ombrfila Densa de Terras
Baixas e sua vegetao secundria ocupam uma pequena parte de So Sebastio
(1.806,5ha). Esto presentes tambm formaes arbreas e arbustivas-herbceas sobre
sedimentos marinhos recentes (3.328,4ha). As formaes vegetais sobre terrenos
marinhos lodosos ocupam uma rea muito pequena (1,4ha). importante salientar que a
maior parte do municpio de So Sebastio est inserida no Parque Estadual da Serra do
Mar, o que contribui para a conservao da Mata Atlntica (INSTITUTO FLORESTAL,2007).
Localizao Das Ilhas
Devido aos critrios utilizados para a seleo das formas insulares a serem
pesquisadas, no presente trabalho concentrou-se a pesquisa no Litoral Norte paulista
5 As Florestas Ombrfilas Densas so genericamente denominadas Mata Atlntica.
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(Mapa 1). As ilhas do Apara (unidade III), de Itauc e da Prainha (unidade IV)
localizam-se dentro do permetro formado pelo quadriltero entre as coordenadas
234940S e 235111S e 452502W e 453231W (Tabela 9). Foram escolhidas ilhas
pequenas, que so justamente as menos conhecidas e menos estudadas, apresentam
maior fragilidade e so importantes ambientes para aves marinhas.
Mapa 1 Localizao da rea de estudo.
Tabela 9 Localizao das ilhas do Apara, de Itauc
e da Prainha
Ilha Latitude Sul Longitude OesteApara**, do 234940 453231
Itauc*, de 234952 452634
Prainha**, da 235111 452502
Fonte: * Dados coletados em campo; ** Google Earth.
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As ilhas que abrigam colnias de aves marinhas no litoral paulista apresentam
dimenses e distncia da costa variadas. A Ilha da Prainha, em Ilhabela, a menor
delas, com cerca de 80m de comprimento e 0,23ha de rea. A ilha de Itauc, na Praia
de Baraqueaba, em So Sebastio, a mais prxima da costa, localizada a poucos
metros do costo rochoso.
As Aves do Litoral Paulista
No litoral do Estado de So Paulo possvel encontrar seis espcies de aves
marinhas que utilizam algumas das 142 formas insulares para alimentao, reproduo e
abrigo. Dados de 2004 estimam em 24.000 indivduos a populao total de aves neste
litoral, somando representantes de Fregata magnificens, Sula leucogaster, Larus
dominicanus, Thalasseus maximus, T. sandvicensis eurygnatha e Sterna
hirundinacea , alm de espcies migrantes visitantes das quais no h estimativas
populacionais.
Situao Atual das Ilhas
As ilhas possuem apenas costes rochosos em seu entorno, muitas vezes
ngremes, o que dificulta, mas no impede o acesso s mesmas. A Ilha da Prainha
guarda uma vegetao diversa e grande concentrao de ninhos. A Ilha de Itauc
apresenta rea considervel (0,5ha) e vegetao expressiva, bem como ninhos de Sterna
hirundinacea (trinta-ris-de-bico-vermelho ). A Ilha do Apara apresenta no somente
rea expressiva (1ha), como tambm possui ao seu redor uma laje e trs rochedos.
A seguir so apresentadas as principais caractersticas destas ilhas (Tabela 10) e a
estimativa de indivduos maduros das aves que as frequentam (Tabela 11).
Tabela 10 Dados bsicos das ilhas objeto de estudo, que funcionam como ninhais
para aves marinhas
Dados
Ilhas
Municpio rea
(ha)
Distncia
da costa(km)
Localizao Legislao
de proteoL
atitudeS
L
ongitude W
Prainha Ilhabela 0,23 2,64 2351 4525 T; PE
Itauc So Sebastio 0,50 0,10 2350 4527 T; APA
Apara So Sebastio 1,00 0,12 2350 4533 T; APA
T: Tombamento CONDEPHAAT - SP, Resoluo 40/85; PE: Parque Estadual; APA:
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rea de Proteo Ambiental Marinha.
Fonte: Campos et al. (2004), modificada.
Tabela 11 Estimativa de indivduos maduros nas ilhas
objeto deste estudo, que constituem stio de reproduo de
aves marinhas
Aves
Ilhas
Sterna
hirundinacea
Thalasseus
sandvicensis
eurygnatha
Thalasseus
maximus
Prainha 600 150 02
Apara 500 50
Itauc 800
SOMA 1.900 200 02
Fonte: Campos et al. (2004), modificada.
Anlise Ambiental
Tendo em vista o sistema proposto por Vieitas (1995) para a anlise ambiental de
ilhas do municpio de Ubatuba, que foi adaptado para este trabalho, apresentaremos a
seguir os resultados alcanados. A anlise fsico-biolgica apresentada na Tabela 12 e
a do estado de conservao na Tabela 13. Conforme explicado anteriormente, os
resultados obtidos com as anlises foram comparados em uma matriz de integrao(Tabela 14), que pretende identificar, por meio de uma anlise rpida, as ilhas mais
importantes para conservao.
Tabela 12 Anlise Biolgica e Fsica das ilhas do Apara, Itauc e Prainha
Ilha Tamanho AcessoDiversidade
de fisionomias
Aves
nidificando
Espcies raras/
ameaadasTotal
Apara 1 5 5 5 3 19
Itauc 1 3 7 5 3 19Prainha 1 3 7 5 3 19
Legenda
Tamanho da ilha 0 - 5 ha: 1 50,1 100 ha: 6
5,1 - 10 ha: 2 100,1 500 ha: 8
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10,1 - 50 ha: 4 > 500 ha: 10
Acessibilidade
s ilhas
Muito Fcil - ilha com praia: 1
Fcil - ilha prxima, sem praia e com acesso muito fcil pelo
costo: 3
Difcil - ilha relativamente prxima, com acesso difcil pelo
costo: 5
Muito Difcil - ilha distante, com acesso muito difcil pelo costo:
8
Diversidade de
Fisionomias
Vegetais
Naturais
Baixa - 1 fisionomia: 2
Intermediria - 2 fisionomias: 5
Intermediaria - 3 fisionomias: 7
Alta - 4 fisionomias ou mais: 10
Presena de
Aves Nidificando
Presena: 5
Ausncia: 1
Ocorrncia de
Espcie Rara ou
Ameaada
No Ocorre: 0
Ocorre: 3
Tabela 13 Anlise do Estado de Conservao das ilhas do Apara, Itauc e Prainha
IlhaGrau alterao
antrpica
Grau ameaaHabitats
originais (%)
Total
Itauc 7 9 10 26
Apara 5 9 2 16
Prainha 7 7 10 24
Legenda
Grau de
alterao
antrpica
Alterao No Detectada: 10
Baixo: algum lixo, fezes, fogueira: 7
Intermedirio: reas alteradas de pequena extenso, espciesintroduzidas: 6
Intermedirio: trilhas, reas alteradas maior extenso, espcies
introduzidas: 5
Alto: todos os itens acima e presena de construes em uso: 2
Grau de Grande, Ilha Particular: 10
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Ameaa Grande, Ilha Ocupada (ou com visitao intensa) de Domnio
Pblico: 9
Moderado, Ilha Particular: 8
Moderado, Ilha de Domnio Pblico: 7
Pequeno, Ilha Particular: 6
Pequeno, Ilha de Domnio Pblico: 5
Pequeno, Destruio Improvvel: 4
Porcentagem
de Habitats
Originais
Remanescentes
Grande (em torno de 90 a 100%): 10
Intermediria Alta (75 a 90%): 8
Intermediria (50 a 75%): 6
Baixa (25 a 50%): 4
Muito Baixa (at 25%): 2
Tabela 14 Importncia das Ilhas para Conservao em So Sebastio e Ilhabela
Biolgicos/
Fsicos
Estado de
conservao
Alto valor
(22 a 31 pontos)
Valor intermedirio
(13 21 pontos)
Baixo valor
(4 12 pontos)
Aparentemente intacto
(29 a 30 pontos)
Relativamente estvel(26 28 pontos)
Itauc
Vulnervel
(21 25 pontos)Prainha
Ameaado
(16 20 pontos)Apara
Crtico
(10 15 pontos)
Legenda
Ilhas prioritrias para conservao
Ilhas com importncia intermediria para conservao
Ilhas de baixa prioridade para conservao
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Considerando o mtodo utilizado (Sistema Ubatuba), conclui -se que a Ilha de
Itauc, entre as trs, a mais importante para conservao seguida das Ilhas da
Prainha e do Apara. Todas, no entanto, apresentam valores intermedirios no que diz
respeito aos aspectos biolgicos e fsicos analisados. A diferena entre as Ilhas de
Itauc e da Prainha pode estar no fato de a segunda ser menos vulnervel, uma vez
que ela j se encontra dentro de uma categoria de proteo mais restritiva que Itauc
o que no garante, por si s, a sua preservao. Por outro lado, era esperado que a Ilha
do Apara fosse considerada a menos prioritria entre as trs, tendo em vista seu atual
estado de conservao (ameaado).
Seguindo os critrios adotados, foi possvel perceber que a Ilha do Apara, mesmo
apresentando o acesso mais difcil entre as trs, no foi poupada da alterao dos
ambientes originais e, hoje, apresenta uma diversidade de fisionomias menor que Itauc
e Prainha. A presena de aves nidificando e a ocorrncia de espcies raras ou
ameaadas algo comum entre as ilhas estudadas.
No que diz respeito ao estado de conservao das ilhas, verificou -se que as ilhas
apresentam, de forma geral, um baixo grau de alterao antrpica, com espcies
introduzidas apenas na Ilha do Apara. A ilha menos ameaada justamente a da
Prainha, provavelmente por estar inserida em uma Unidade de Conservao. Os habitats
originais remanescentes recobrem mais de 90% das Ilhas de Itauc e da Prainha,
situao bastante diferente da encontrada na ilha do Apara, onde a vegetao sofreu
alteraes significativas em sua composio florstica. A ocorrncia de incndio e a
interveno antrpica fizeram com que sua vegetao original fosse bastante
descaracterizada.
Como j destacamos em outros momentos, a determinao de prioridade para
conservao em um universo de trs ilhas analisadas no o objetivo desse trabalho. No
entanto, preciso destacar que o uso de um sistema inadequado pode interferir
negativamente na pesquisa. Para citar um exemplo, o Sistema Tans entende que o
tamanho mnimo adequado para a conservao 10ha e considera como valor de uso opotencial da ilha para educao ambiental, possibilitando o acesso por vrios grupos ou
escolas. Sendo o nosso objetivo pensar a conservao de ambientes insulares de at
1ha, logo concluiremos que esse sistema no adequado nossa realidade. Por isso
importante que o pesquisador tenha em mente os objetivos a serem alcanados. S
assim ele estar apto a avaliar os parmetros a serem utilizados na anlise ambiental.
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Como ressalta Vieitas (1995), o fato de determinada ilha ter sido considerada
prioritria para conservao no significa que esforos conservacionistas no devam ser
dirigidos para outras ilhas. Ressalta-se tambm o fato de no ter sido utilizada a
terminologia no prioritria, mas somente baixa prioridade ao tratar da necessidade de
conservao.
No entanto, concordamos com Vieitas (Op. cit.) quando ela afirma que o processo
de seleo de reas prioritrias para conservao deve sempre utilizar mais de um
sistema de seleo (Knutson, Tans, entre outros). De acordo com seu raciocnio, somente
assim possvel julgar, ao observar os resultados finais, a necessidade de considerar
apenas um ou vrios desses sistemas, pois as concluses podem variar bastante
dependendo dos critrios utilizados e do peso que cada um ter no balano final da
anlise.
Consideraes Finais
A presente pesquisa mostrou a importncia da pesquisa e da conservao de
pequenas ilhas do litoral paulista, especialmente daquelas que abrigam ninhais de aves
marinhas insulares.
As ilhas do Apara e de Itauc esto inseridas em reas de Proteo Ambiental
marinhas, que so unidades de uso sustentvel e caracterizam -se por no proteger
integralmente esses ambientes.
No podemos esquecer que a criao de uma unidade de conservao apenas o
incio de um longo trabalho. Aps a sua implantao, necessrio desenvolver um plano
de gesto e manejo da rea, bem como estruturar uma fiscalizao rigorosa.
O uso do Sistema Ubatuba possibilitou pensar a importncia de preservar
ambientes insulares de propores reduzidas que so fundamentais para a reproduo de
aves marinhas. Percebemos, contudo, que os critrios utilizados para seleo de reas
prioritrias para conservao devem variar de acordo com os objetivos pretendidos. Como
vimos, muitas vezes so priorizadas ilhas de grande extenso que permitem a educao
ambiental, o que no o objetivo da conservao das ilhas ora estudadas.Prope-se, portanto, que sejam pensados mtodos especficos para a anlise
ambiental de ilhas de pequeno porte. Sugere -se, inclusive, que trabalhos mais especficos
a respeito da relao entre as ilhas e entre essas e o continente sejam realizados.
8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira
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