INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA
Instituto Superior de Engenharia de Lisboa
Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa
Avaliação das necessidades da braquiterapia
contemporânea e os desafios de implementação do
paradigma: cuidados de Radioterapia baseados no valor
Luís Manuel Lopes Marques
Trabalho Final de Mestrado para obtenção do grau de Mestre em Engenharia Biomédica
Orientadores
Doutora Maria Esmeralda Ramos Poli (CHULN)
Doutor Pedro Miguel Martins Ferreira (ISEL/FCUL)
Júri
Presidente: Doutora Maria Margarida Ribeiro (ESTeSL)
Vogal (arguente): Doutor Luís Prudêncio (CHULN)
Vogal (orientador): Doutora Maria Esmeralda Ramos Poli (CHULN)
Setembro de 2019
INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA
Instituto Superior de Engenharia de Lisboa
Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa
Avaliação das necessidades da braquiterapia
contemporânea e os desafios de implementação do
paradigma: cuidados de Radioterapia baseados no valor
Luís Manuel Lopes Marques
Trabalho Final de Mestrado para obtenção do grau de Mestre em Engenharia Biomédica
Orientadores
Doutora Maria Esmeralda Ramos Poli (Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte)
Doutor Pedro Miguel Martins Ferreira (ISEL/Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa)
Júri
Presidente: Doutora Maria Margarida Ribeiro (ESTeSL)
Vogal (arguente): Doutor Luís Prudêncio (Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte)
Vogal (orientador): Doutora Maria Esmeralda Ramos Poli (Centro Hospitalar Univ. Lisboa Norte)
Setembro de 2019
I
DEDICATÓRIA
Este trabalho é dedicado à minha esposa Carminda,
mãe incansável dos nossos filhos Luís Miguel e Clarisse Isabel,
sempre presente na nossa vida e que nos ama de forma incondicional.
“Nowadays people know the price of everything and the value of nothing.”
The Picture of Dorian Gray, Oscar Wilde.
II
Este trabalho é escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico.
III
RESUMO
A braquiterapia é uma técnica de tratamento oncológica essencial no cancro do colo do útero
e, também é utilizada como técnica adjuvante à Radioterapia externa como no tratamento da
mama ou de em exclusiva noutros tipos de cancros como os de próstata e pele.
A utilização de métodos de imagens tridimensionais como a ressonância magnética na
braquiterapia contemporânea, requer aplicadores com materiais de menor durabilidade que
os metálicos usados no passado, o que aumentou o custo dos consumíveis usados nesta
técnica.
À semelhança da Radioterapia externa contemporânea, a braquiterapia actual também
evoluiu tecnologicamente o que tem elevado seu custo ao longo dos anos. Em contraste com
a Radioterapia externa onde tem havido uma grande quantidade de evidências na sua
viabilidade e necessidades, os dados relacionados com a braquiterapia são escassos.
Este trabalho tem como objectivos principais a avaliação de necessidades e dos custos
associados à aplicação da braquiterapia de alta taxa de dose em pelo menos uma das
patologias onde esta técnica de tratamento é essencial, o cancro do colo do útero. Os
objectivos secundários incluem estudar o processo de utilização da radiação no tratamento
oncológico; conhecer os tipos de cancro predominantes em Portugal e a distribuição dos
centros de braquiterapia; os recursos necessários para a realização de braquiterapia e os
custos associados à técnica.
Com base em dados nacionais, pode-se observar que há uma assimetria entre a
predominância de cancro do colo do útero e a localização dos equipamentos de braquiterapia.
Os custos estimados por sessão de braquiterapia intracavitária indica uma discrepância
grande em relação aos preços praticados pelo Serviço Nacional de Saúde ao abrigo da
Portaria em vigor. As simulações de custo realizadas com um número de tratamentos
hipotéticos, indicam a necessidade de se optimizar o número de tratamentos realizados por
ano afim de diluir os custos associados à aquisição do equipamento, sua manutenção e, os
materiais consumíveis específicos a cada tipo de patologia a tratar com a técnica de
braquiterapia.
O desenvolvimento de um paradigma baseado em valores para o tratamento de radiação
oncológica é um processo com várias etapas onde a análise de custo é uma delas. Assim
IV
para a criação de valor, é fundamental a reorganização dos cuidados de saúde através da
integração da prática centrada no doente.
Palavras-Chave
Braquiterapia, análise de custo, braquiterapia intracavitária, recursos em braquiterapia
V
ABSTRACT
Brachytherapy is an essential treatment technique for cervical cancer and is also used as an
adjunctive technique to external radiotherapy such as breast or exclusively applied in the
treatment of other cancers such as prostate and skin.
The use of three-dimensional imaging methods as magnetic resonance imaging in
contemporary brachytherapy requires applicators with materials less resistant than those used
in the past, which increased the cost of consumable applicators for the technique.
Similar to contemporary external radiotherapy, current brachytherapy has also evolved
technologically which has increased its cost over the years. In contrast to external
radiotherapy, where there has been a lot of evidence on its viability and needs, data related to
brachytherapy are scarce.
This study aims to assess the needs and costs associated with high dose rate brachytherapy
applications at least in one pathology where this treatment technique is essential, the cervical
cancer. Secondary objectives include to study the process of using radiation in the cancer
treatment; to know the predominant types of cancer in Portugal and the distribution of
brachytherapy centres across the country; the resources required for brachytherapy and the
costs associated with the technique.
Based on national data, one can note an asymmetry between the prevalence of cervical cancer
and the location of brachytherapy equipments.
The costs estimated for the intracavitary brachytherapy session indicate a large discrepancy
in value when compared with the reimbursement for National Health Service according to the
National Regulation. The cost simulations performed in this work, using an hypothetical
number of treatments per year, indicate the need to optimize the number of treatments
performed per year in order to dilute the costs associated with equipment purchase,
maintenance and consumable items used according to the type of pathology to be treated with
this technique.
Developing a value-based paradigm for the treatment of cancer is a multi-step process where
a cost analysis is one of them. Thus, for value creation, the reorganization of health care
through the integration of patient-centered practice is critical.
VI
Keywords
Brachytherapy, cost analysis, intracavitary brachytherapy, brachytherapy resource
VII
AGRADECIMENTOS
À Doutora Esmeralda Poli, Coordenadora da Unidade de Física-Médica do Hospital de
Santa Maria do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte pela valorosa orientação
científica, tendo transmitido os conhecimentos teóricos e práticos fundamentais que
permitiram a conclusão deste trabalho.
Ao Doutor Pedro Ferreira, Professor do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa
(ISEL), docente da disciplina de Física Médica Avançada do curso de mestrado e grande
incentivador da minha incursão na área da física-médica, pelo apoio e disponibilidade
demonstrada ao longo deste trabalho.
Ao meu amigo e colega de curso João Pedro Ribeiro, engenheiro electrotécnico e
mestre em Engenharia Biomédica, sempre motivador e sempre presente até ao momento da
entrega deste trabalho.
À minha amiga e colega de curso Cândida Sofia Vitorino, Técnica Superior de
Diagnóstico e Terapêutica (Radiologia) e mestre em Engenharia Biomédica, pelo incentivo à
conclusão deste trabalho.
Aos meus colegas de curso e amigos pela ajuda, amizade e companheirismo ao longo
de todo o curso de mestrado.
Agradeço ainda ao ISEL e à Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa
(ESTeSL) pelo esforço e dedicação dos docentes na minha formação como estudante e
profissional de engenharia.
A todos que me apoiaram, o meu muito obrigado.
VIII
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IX
Índice
RESUMO ..............................................................................................................................III
ABSTRACT .......................................................................................................................... V
AGRADECIMENTOS .......................................................................................................... VII
Índice ................................................................................................................................... IX
Índice de Figuras .............................................................................................................. XIII
Índice de Tabelas .............................................................................................................. XV
Lista de Acrónimos e Abreviaturas ................................................................................ XVII
Lista de Símbolos ............................................................................................................. XIX
Capítulo 1 ............................................................................................................................. 1
Introdução ......................................................................................................................... 1
1.1. Enquadramento ......................................................................................................... 1
1.2. Objectivos .................................................................................................................. 1
1.3. Estrutura da dissertação ............................................................................................ 2
Capítulo 2 ............................................................................................................................. 5
Necessidades em Radioterapia e paradigma do valor ...................................................... 5
2.1. As necessidades na utilização da técnica de braquiterapia ........................................ 5
2.2. Paradigma: cuidados de Radioterapia baseados no valor .......................................... 6
Capítulo 3 ............................................................................................................................. 9
Fundamentos Teóricos da Radiação ................................................................................ 9
3.1. Classificação da Radiação ......................................................................................... 9
Radiação Ionizante ..........................................................................................10
Radiação com LET baixo e alto .......................................................................11
Uso da Radiação Ionizante ..............................................................................12
Electrões ..........................................................................................15
Positrões ..........................................................................................16
Classificação da radiação ionizante indirecta com fotões.................................16
X
Capítulo 4 ............................................................................................................................19
Cancro, Diagnóstico e Tratamento ...................................................................................19
4.1. Diagnóstico ...............................................................................................................19
4.2. Tratamento ...............................................................................................................20
4.3. Centro de Radioterapia .............................................................................................23
Capítulo 5 ............................................................................................................................25
Braquiterapia ...................................................................................................................25
5.1. Introdução .................................................................................................................25
5.2. Características das fontes de fotões .........................................................................28
5.3. Sistemas de pós-carregamento remoto ....................................................................32
5.4. Imagem .....................................................................................................................36
5.5. Esquema de utilização da braquiterapia ...................................................................37
Capítulo 6 ............................................................................................................................39
Metodologia – Materiais e Métodos .................................................................................39
6.1. Enquadramento Teórico da Metodologia...................................................................39
6.2. Técnica de Tratamento dos dados ............................................................................40
Capítulo 7 ............................................................................................................................41
Resultados e Discussão ..................................................................................................41
7.1. Resultados ................................................................................................................41
7.2. Discussão .................................................................................................................49
Capítulo 8 ............................................................................................................................51
Conclusões e Trabalhos Futuros .....................................................................................51
8.1. Conclusões ...............................................................................................................51
8.2. Trabalhos Futuros .....................................................................................................51
Referências Bibliográficas ................................................................................................53
Anexo 1. Radiação, Grandezas e Unidades .................................................................55
Anexo 2. Isótopos mais Comuns..................................................................................59
Anexo 3. Estadiamento do Cancro ...............................................................................61
Anexo 4. Equipamentos de Imagiologia ......................................................................65
XI
Anexo 5. Unidade de Cobalto .......................................................................................67
Anexo 6. LINAC ..............................................................................................................69
Anexo 7. Braquiterapia - Layout ...................................................................................73
Anexo 8. Estudo de Materiais e Consumíveis Utilizados nas Patologias Submetidas
à Braquiterapia HDR...........................................................................................................77
Anexo 9. Cálculo do Custo dos Recursos Humanos ..................................................81
XII
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XIII
Índice de Figuras
Figura 1: Classificação da radiação – representação parcial, baseado em (Podgoršak, 2016).
............................................................................................................................. 9
Figura 2: Utilização da radiação ionizante na medicina. .......................................................11
Figura 3: Cancro Cervical. ....................................................................................................31
Figura 4: Cancro do endométrio. ..........................................................................................31
Figura 5: Cancro da próstata. ...............................................................................................31
Figura 6: Cancro da mama. ..................................................................................................31
Figura 7: Remote afterloading. .............................................................................................34
Figura 8: [A] Consola tratamento; [B] Cofre para transferência e transporte de fonte. ..........34
Figura 9: Sistema de detecção de radiação: Monitor de área e Sonda. ................................34
Figura 10: Sala tipo de Braquiterapia (Gryaznov, Velichko, Senchik, Korenkov, & Kireeva,
2016). ..................................................................................................................35
Figura 11: Dados (GLOBOCAN, 2018) sobre a incidência de cancro em Portugal. ..............41
Figura 12: Taxas de incidência e mortalidade padronizadas por idade (Mundial)
considerando os 10 principais tipo de cancro (GLOBOCAN, 2018). .....................42
Figura 13:Distribuição geográfica dos tumores no colo do útero no ano de 2010 – taxa de
incidência padronizada à população europeia (RORENO, 2016). ........................43
Figura 14: Break even point para número de tratamentos tipo intracavitário ........................48
Figura 15: Break even point para número de tratamentos tipo intracavitário com agulha .....49
Figura 16: Exemplo de estadiamento do cancro da bexiga (Ajithkumar & Hatcher, 2011). ...64
Figura 17: [A] Unidade de Cobalto-60 típica, a fonte move-se da posição blindada (Off) para
uma posição não blindada (On) para produzir um feixe de raios-gama para
tratamento. [B] Equipamento Co-60, Best Theratronics, Ltd., Otava, Ontário,
Canadá (Bourland, 2016). ....................................................................................68
Figura 18: LINAC Oncor (SIEMENS, 2009). .........................................................................69
Figura 19: Colimador Multi-Lâminas modelo 160 MLC (SIEMENS, 2010). ...........................69
Figura 20: Diagrama esquemático de um LINAC adaptado de (Saeed, 2016). .....................70
Figura 21: Planta típica da sala de tratamento e controle de braquiterapia HDR, adaptado do
documento (IAEA, 2015). .....................................................................................73
Figura 22: Layout típico para a Área da Braquiterapia, baseado no documento (IAEA, 2015).
............................................................................................................................74
Figura 23: Exemplo de aplicador ginecológico intersticial, constituído de sonda, anel e
agulhas flexíveis (Karlsson, Thunberg, With, Mordhorst, & Persliden, 2017). .......78
XIV
Figura 24: Distribuição de dose típica de braquiterapia ginecológica com sonda intersticial e
anel, planos axial, sagital e coronal (Chapman, Ohri, Showalter, & Doyle, 2013). 78
Figura 25: Exemplo de aplicador ginecológico tipo cilindro. ..................................................79
Figura 26: Exemplo de braquiterapia endobronquica com inserção de dois cateteres (Fijuth,
2009). ..................................................................................................................79
Figura 27: Material para aplicação endobronquica. Acedido em 29-09-2019 em
https://www.elekta.com/brachytherapy/bronchus-and-esophagus/. ......................79
Figura 28: Braquiterapia intersticial de mama - tratamento (Nirpendra, Singh, Sharma,
Opendra, & Patton, 2017). ...................................................................................80
Figura 29: Braquiterapia de próstata - tratamento (Prada, 2016). .........................................80
XV
Índice de Tabelas
Tabela 1: Proposta de passos para criar valor em Radioncologia (Teckie et al., 2014). ........ 6
Tabela 2: Valores para vários feixes de radiação LET. .........................................................12
Tabela 3: Tipos de implantes em braquiterapia. ...................................................................27
Tabela 4: Classificação dos TB relativamente à sua duração. ..............................................27
Tabela 5: Classificação dos TB relativamente ao carregamento da fonte. ............................27
Tabela 6: Classificação dos TB relativamente à taxa de dosea. ............................................28
Tabela 7: Características dos isótopos usados na braquiterapia (Podgoršak, 2005). ...........29
Tabela 8: Esquema de utilização dos materiais / equipamentos. ..........................................37
Tabela 9: Esquema de braquiterapia de alta taxa de dose. ..................................................37
Tabela 10: Recursos de braquiterapia HDR (excluindo prostática com sementes) disponíveis
em Portugal (dados 2012). ...................................................................................42
Tabela 11: Resumo Radioncologia – 2012 (Oliveira & Trigo, 2013)......................................44
Tabela 12: Valor atribuído por tratamento: Braquiterapia intracavitária com agulha. ............44
Tabela 13: Equipamento – Estimativa de custos de aquisição (IMPIC, 2019). .....................45
Tabela 14: Equipamento – Estimativa de custo para a manutenção (IMPIC, 2019). .............45
Tabela 15: Recursos Humanos por tratamento conforme cálculos no Anexo 9, no âmbito do
cancro do colo do útero. .......................................................................................46
Tabela 16: Acessórios para intracavitário (estimativa de custos). .........................................46
Tabela 17: Acessórios para intracavitário com agulha (estimativa de custos). .....................47
Tabela 18: Braquiterapia Intracavitária – Estimativa vs Valores atribuídos do SNS. .............47
Tabela 19: Braquiterapia Intracavitária com agulha – Estimativa vs Valores atribuídos do
SNS. ....................................................................................................................47
Tabela 20: Break even point para tratamentos de Braquiterapia Intracavitária .....................48
Tabela 21: Break even point para tratamentos de Braquiterapia Intracavitária com agulha ..48
Tabela 22: Radiação: Grandezas, Unidades e Conversões. ................................................56
Tabela 23: Fatores de ponderação da radiação recomendados. ..........................................57
Tabela 24: Isótopos mais comuns. .......................................................................................59
Tabela 25: Sistemas de um LINAC.......................................................................................70
Tabela 26: Organização e procedimentos da sala de braquiterapia HDR (IAEA, 2015)........75
Tabela 27: Materiais consumíveis utilizados nas patologias submetidas à braquiterapia HDR.
............................................................................................................................77
Tabela 28: Cálculo do custo dos Recursos Humanos...........................................................81
XVI
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XVII
Lista de Acrónimos e Abreviaturas
3D Três Dimensões
3DCRT 3-Dimensional Conformal Radiotherapy ou
Radioterapia conformada tridimensional
AJCC American Joint Committee on Cancer
Comité Conjunto Americano sobre Cancro
ALARA As Low As Reasonably Achievable ou
Tão baixo quanto razoavelmente exequível
AVAC&R Aquecimento, Ventilação, Ar Condicionado e Refrigeração
BT Braquiterapia
CCORE Collaboration for Cancer Outcomes Research and Evaluation ou
Colaboração para pesquisa e avaliação de resultados no cancro
CCP Código dos Contratos Públicos
DIRAC DIrectory of RAdiotherapy Centres ou
Directório de Centros de Radioterapia
EBEST Evidence-Based Estimation method ou
Método de Estimativa Baseado na Evidência
EI Energia de Ionização
HDR High Dose Rate ou Alta Taxa de Dose
HVL Half-Value Layer ou espessura semi-redutora
HW Hardware
IAEA International Atomic Energy Agency
IGRT Image Guided Radiotherapy ou Radioterapia guiada por imagem
IMRT Intensity Modulated Radiation Therapy ou
Radioterapia de intensidade modulada
INE Instituto Nacional de Estatística
IORT Intraoperative Radiotherapy ou Radioterapia intraoperatória
LDR Low-Dose Rate ou Baixa Taxa de Dose
LET Linear Energy Transfer ou transferência linear de energia
LINAC Linear Particle Accelerator ou acelerador linear de partículas
MDR Medium-dose rate ou taxa de dose média
MLC Multi-Leaf Collimator ou colimadores multi-lâminas
PCNT Probabilidade de complicação do tecido normal
PCT Probabilidade de Controlo do Tumor
PDR Pulsed Dose Rate ou Taxa de Dose Pulsada
PET Positron Emission Tomography ou
Tomografia por emissão de positrões
XVIII
PI Potencial de Ionização
RF Radiofrequência
RM Ressonância Magnética
RTE AL Aceleradores de partículas para Radioterapia externa
SF6 Hexafluoreto de enxofre
SI Sistema Internacional
SNS Serviço Nacional de Saúde
SPECT Single Photon Emission Computed Tomography ou
Tomografia computadorizada por emissão de fotão único
SRS Stereotactic RadioSurgery ou Radiocirurgia estereotáxica
SW Software
TB Tratamentos de Braquiterapia
TBI Total Body Irradiation ou irradiação total do corpo
TC Tomografia Computadorizada
TNM Tumor lymphNodes Metastasis (sistema de estadiamento de cancro, de
acordo com o tumor, linfonodo e metástase)
TPS Sistema de Planeamento do Tratamento
TSDT Técnico Superior de Diagnóstico e Terapêutica
TSEI Total Skin Electron Irradiation ou irradiação total da pele com eletrões
UICC Union for International Cancer Control ou
União para o Controlo Internacional do Cancro
XIX
Lista de Símbolos
Q Carga em coulomb
A Actividade
Bq becquerel é o símbolo dado para a grandeza actividade duma fonte de
radiação ionizante. No Sistema Internacional a unidade é: s-1.
c velocidade da luz no vácuo = 299 792 458 metros por segundo
C coulomb é o símbolo dado para a grandeza quantidade de carga eléctrica.
No Sistema Internacional em unidades de base é: s·A (segundo ampere).
Ci curie – unidade de actividade (antigo sistema)
cm centímetro
D Dose absorvida
E Dose efectiva
Eab Energia Absorvida
Etr Energia transferida
eV electrão-volt
Gy
gray é o símbolo dado para a grandeza de dose absorvida de radiação
ionizante num meio material. No Sistema Internacional a unidade é: J/kg
Gy/h gray por hora, taxa de dose
h Hora
HT Dose equivalente
J joule
K Kerma (acrónimo de Kinetic Energy Released in Matter)
keV/μm Unidades para LET
kg kilograma
kV kilo-volt
Constante de decaimento
m / mar Massa em kg / Massa do ar em kg
MHz mega-hertz
N Número de átomos radioactivos
R röntgen – unidade antiga de exposição
rad unidade antiga para dose absorvida (D)
rem unidade antiga para dose equivalente (HT)
Sv sievert, no Sistema Internacional a unidade é: J/kg
wR Factor de ponderação da radiação
wT Factor de ponderação do órgão T
XX
X Exposição
Z Número atómico
1
Capítulo 1
Introdução
1.1. Enquadramento
Em qualquer sistema de assistência à saúde é essencial que os doentes tenham
acesso às terapias que sejam capazes de oferecer melhorias alcançáveis e sustentáveis nos
resultados clínicos como qualidade de vida, sobrevida livre de doença, redução de toxicidade
e outras. A Radioterapia é uma das terapias utilizadas no tratamento do cancro que vem sendo
cada vez mais aplicada tanto para doentes curativos como no tratamento de cancro não
curativo. No entanto, o acesso ao tratamento é frequentemente limitado ou não disponível em
vários países. A justificação no investimento para o tratamento sofre desafios ainda maiores
nos países com baixo rendimento. A Radioterapia contemporânea demanda um investimento
inicial em infraestrutura e equipamentos significativos quando comparados com outras áreas
da saúde. A avaliação dos custos na Radioterapia é essencial para orientar decisões ao nível
regional e nacional. No entanto, o acesso à informação é limitado e, quando existente, muitas
vezes não é claro o suficiente devido à falta de metodologia para a sua análise. Além disso,
quando se definem prioridades nos gastos com a saúde, estas deveriam representar o óptimo
uso não somente para os doentes com cancro, mas também para a sociedade como um todo.
Assim, o investimento atribuído à Radioterapia deveria estar associado aos resultados dos
cuidados prestados e permitir o seu acesso, idealmente, a toda população. Portugal é um país
com uma distribuição geográfica um pouco distinta de alguns países membros da
Comunidade Europeia, parte da população vive em ilhas, o que aumenta o desafio no que diz
respeito ao acesso à Radioterapia.
1.2. Objectivos
Este estudo tem o objectivo de examinar a viabilidade da Radioterapia na actualidade,
com foco na Braquiterapia de Alta Taxa de Dose ou HDR (High Dose Rate). Pretende-se
conhecer os tipos de cancro predominantes no país e as técnicas para tratamento
consideradas; o estado da arte em Radioterapia, as tecnologias disponíveis no país e sua
distribuição regional para identificar as necessidades actuais a fim de definir uma abordagem
de avaliação do custo baseado no valor da cadeia de tratamento do doente oncológico na
2
Radioterapia, que promova a mudança de paradigma abordando os elementos que são
importantes para o doente e abrangem o senso de valor.
1.3. Estrutura da dissertação
A dissertação encontra-se estruturada em oito capítulos, existindo uma interligação
entre os mesmos através de uma lógica de sustentabilidade teórica dos conceitos necessários
para a realização do caso de estudo. Apresentam-se alguns anexos com importância, para
complementar o corpo do documento.
No Capitulo 1 é feito o enquadramento do trabalho e pertinência do mesmo e,
seguidamente, são apresentados os objectivos.
No Capítulo 2 são apresentadas as necessidades em Radioterapia e o paradigma do
valor, no qual é feito uma revisão da literatura sobre o tema.
No Capítulo 3 é feito um enquadramento teórico generalizado à radiação
electromagnética e de partículas, onde se insere a radiação ionizante directa e indirecta
utilizada em medicina no diagnóstico e tratamento do cancro.
No Capítulo 4 descreve-se o diagnóstico do cancro, que frequentemente requer
estudos de imagem adquiridos através da Radiologia Convencional e da Medicina Nuclear, e
técnicas de tratamento. É apresentada a Radioterapia, para tratamento curativo ou paliativo
do cancro, e respectivos requisitos genéricos de funcionamento.
No Capítulo 5 é feito uma exposição alargada sobre a técnica de tratamento
braquiterapia, onde são descritos os tipos principais de tratamento, as patologias tratadas, as
fontes utilizadas e respectivos equipamentos e instalações, e os recursos humanos
necessários para o normal funcionamento da área.
No Capítulo 6 é descrita a metodologia, os materiais e métodos utilizados na
elaboração desta dissertação.
No Capitulo 7 são apresentados os resultados e respectiva discussão.
3
Por último, no Capítulo 8 são apresentadas as conclusões e apontadas algumas
perspectivas de trabalhos futuros, com base no trabalho desenvolvido.
4
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.
5
Capítulo 2
Necessidades em Radioterapia e paradigma do
valor
Este Capítulo 2 aborda a revisão da literatura referente ao tema.
2.1. As necessidades na utilização da técnica de braquiterapia
Nos últimos anos, tem havido uma grande quantidade de evidências na viabilidade e
necessidades da Radioterapia. Em contraste com o esperado, têm sido observadas lacunas
consideráveis no acesso à Radioterapia, não só em países de baixo e médio rendimento mas
também na maioria dos países Europeus (Zubizarreta, Van Dyk, & Lievens, 2017).
No que diz respeito à braquiterapia, a literatura sobre os recursos e custos nesta área
é muito escassa.
A braquiterapia é um tratamento essencial do cancro do colo do útero. Provavelmente,
este é o motivo pelo qual o cancro de colo do útero é uma das poucas patologias onde é
possível encontrar algum dado na literatura.
Utilizando o modelo CCORE-EBEST (Collaboration for Cancer Outcomes Research
and Evaluation (CCORE) - Evidence-Based Estimation method (EBEST)) foi calculado para
cada país, com base nos dados do (GLOBOCAN, 2012), o número de indicações de
Radioterapia externa e braquiterapia de colo do útero que requer braquiterapia (Wong,
DeLaney, & Barton, 2016).
A proporção de casos de Radioterapia que requer braquiterapia foi de 1,5% para
países de alto rendimento e 14% em países de baixo rendimento, geralmente, usando entre
1 a 5 fracções (Nag et al., 2002).
Este trabalho utiliza dados da literatura e nacionais para estimar as necessidades e
custo de alguns procedimentos de braquiterapia de alta taxa de dose.
6
2.2. Paradigma: cuidados de Radioterapia baseados no valor
O actual sistema de saúde, considerando o elevado custo sem melhoria proporcional
na qualidade ou nos resultados, tem solicitado apreciáveis pedidos de mudança no formato
como são entregues e pagos os cuidados. Assim, têm sido propostos alguns modelos de
prestação de cuidados de saúde baseados em valor (Teckie, McCloskey, & Steinberg, 2014).
O desenvolvimento de um paradigma baseado em valores para o tratamento de
radiação oncológica é um processo formativo. Podemos dizer que estamos no início. Os
componentes de valor - estrutura, processo, resultado e custo - não são teóricos ou esotéricos,
conforme mostra a Tabela 1. No entanto, o núcleo dessa transformação de valor para a
oncologia por radiação envolve a árdua tarefa de estabelecer e padronizar estruturas e
processos que reduzem a variação nos cuidados e garantam a elevada qualidade, enquanto,
e simultaneamente, medem rigorosamente o processo, resultados e custos. Além disso,
considerando a medição de dados na saúde no presente, os resultados devem transcender a
convenção actual e abordar os elementos que são importantes para o doente e abrangem o
senso de valor. Nesse sentido, medir o custo do atendimento, para um campo em que o
elevado custo é um problema abrangente, não é nada menos que crítico. Finalmente, é
fundamental para a criação de valor a reorganização dos cuidados através da integração da
prática centrada no doente, porque facilita a medição de resultados e custos durante todo o
processo, e coloca os doentes em primeiro lugar.
Tabela 1: Proposta de passos para criar valor em Radioncologia (Teckie et al., 2014).
Estrutura Processo Resultado Custos
Envolver a unidade de prática integrada com
modelos para prestação de cuidados
Optimizar a acessibilidade, a pontualidade, a coordenação de
cuidados
Medir os objectivos e os resultados subjectivos
Medir todos os custos envolvidos com o cuidado de dado
episódio realizado
Promover credenciamento afim de reduzir a variação
entre as práticas
Estabelecer padrões de processo que são
centrados no doente e focados na segurança
Criar registos nacionais fáceis de se
usar
Ir além das cobranças facturadas e conhecer o
custo total verdadeiro por ciclo de atendimento
Incentivar os utentes a seleccionar os
prestadores que atendem aos padrões
de alto valor
Facilitar o acesso do doente às informações sobre os aspectos do
processo de seus cuidados
Relatar resultados, aderência às
directrizes, e aderência às melhores práticas
entre prestadores
Gerir valor na reforma de estratégias de
pagamento
7
Estimativa de custo: um passo necessário na adopção de tecnologias avançadas em
braquiterapia.
No âmbito do desenvolvimento desta tese, que tem como finalidade a avaliação de
custos numa área específica de tratamento oncológico, considerou-se importante o
conhecimento dos fundamentos teóricos na aplicação da radiação nesta área da medicina.
8
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9
Capítulo 3
Fundamentos Teóricos da Radiação
No presente capítulo faz-se um enquadramento teórico generalizado à radiação
electromagnética e de partículas, onde se insere a radiação ionizante (raios-X, raios-gama e
radiação beta) utilizada em medicina no diagnóstico e tratamento do cancro.
3.1. Classificação da Radiação
A radiação é classificada em duas categorias principais, como mostra a Figura 1: não
ionizante e ionizante, dependendo da capacidade de ionizar a matéria. A energia de ionização
(EI) ou potencial de ionização (PI) dos átomos é definida como a energia mínima necessária
para ionizar um átomo e é normalmente especificada em eletrão-volt (eV). Na natureza, a EI
varia de alguns eletrão-volt (∼4 eV) para elementos alcalinos a 24,6 eV para hélio (gás nobre)
com EI para todos os outros átomos situados entre os dois extremos (Podgoršak, 2016).
Figura 1: Classificação da radiação – representação parcial, baseado em (Podgoršak, 2016).
10
A radiação não ionizante refere-se assim a todos os tipos de radiação
electromagnética que não transportam energia suficiente por quantum para ionizar átomos ou
moléculas do absorvedor. Um espectro da radiação ultravioleta, luz visível, fotões
infravermelhos, microondas e ondas de rádio são exemplos de radiação não ionizante
(Podgoršak, 2016).
A radiação ionizante pode ionizar a matéria, directa ou indirectamente, porque a sua
energia quântica excede o potencial de ionização de átomos e moléculas do absorvedor. A
radiação ionizante tem muitos usos práticos na indústria, agricultura e medicina, mas também
apresenta um risco para a saúde quando usada de forma descuidada ou inadequada. A física
médica é amplamente, ainda que não exclusivamente, baseada no estudo e uso da radiação
ionizante na medicina; a física da saúde lida com os riscos na saúde decorrentes da radiação
ionizante e com questões de segurança relacionadas ao uso da radiação ionizante
(Podgoršak, 2016).
Radiação Ionizante
A radiação ionizante é classificada em duas categorias distintas de acordo com o modo
de ionização, e também em duas categorias de acordo com a densidade de ionização que
produz no absorvedor.
De acordo com o modo de ionização, existem duas categorias de radiação ionizante,
directa e indirecta:
1. Radiação ionizante directa: compreende partículas carregadas (electrões,
protões, partículas α e iões de carbono) que depositam energia no absorvedor
através de um processo directo de uma etapa envolvendo interacções de Coulomb
directamente entre a partícula carregada ionizante e os electrões orbitais dos
átomos no absorvedor.
2. Radiação ionizante indirecta: compreende partículas neutras (fotões como raios-
X e raios gama e neutrões) que depositam energia no absorvedor através de um
processo de duas etapas, a seguir descrito:
• Na primeira etapa, os fotões por efeito fotoeléctrico, dispersão de Compton ou
produção de pares libertam as partículas carregadas no absorvedor (os fotões
libertam electrões ou pares electrão/positrão, os neutrões libertam protões ou
iões mais pesados).
11
• Posteriormente, as partículas carregadas libertadas depositam energia no
absorvedor através de interacções directas de Coulomb com electrões orbitais
dos átomos no absorvedor (Podgoršak, 2016).
As radiações ionizantes directa e indirecta são usadas no diagnóstico e tratamento da
doença. Os ramos da medicina que utilizam radiação ionizante no tratamento de doenças são
a Radioterapia e a medicina nuclear. O ramo da medicina que utiliza radiação ionizante no
diagnóstico da doença é chamado de imagiologia médica e geralmente é dividido em duas
categorias: radiologia de diagnóstico baseado no uso de raios-X para imagiologia, e a
medicina nuclear, com base no uso de radionuclídeos para a geração de imagens conforme
se pode verificar na Figura 2 (Podgoršak, 2016).
Figura 2: Utilização da radiação ionizante na medicina.
Radiação com LET baixo e alto
A densidade de ionização produzida pela radiação ionizante no tecido depende da
transferência linear de energia (Linear Energy Transfer ou LET) do feixe de radiação ionizante.
O LET é definido como a quantidade média de energia que uma determinada radiação
ionizante transmite ao meio absorvente (como o tecido biológico) por unidade de comprimento
do caminho e é usada em radiobiologia e protecção contra radiação ionizante para especificar
a qualidade de um feixe de radiação ionizante. De acordo com a densidade de ionização
produzida no absorvedor, existem duas categorias distintas de radiação ionizante:
1. Radiação LET baixo (também chamada de “escassamente ionizante” ou sparsely
ionizing).
12
2. Radiação LET alto (também chamada de “densamente ionizante” ou densely
ionizing).
O LET refere-se à energia média localmente transmitida para o meio pela partícula
carregada com energia específica ao atravessar um distância “dl” (diferencial do comprimento)
no meio material. O LET é medido em keV/μm com 10 keV/μm a separar a radiação baixo
LET (escassamente ionizante) da radiação alto LET (densamente ionizante). A Tabela 2
apresenta uma lista de vários feixes de radiação ionizante, e os LET que estes produzem no
tecido.
Tabela 2: Valores para vários feixes de radiação LET.
Radiação baixo LET
LET
(keV / m)
Radiação alto LET
LET
(keV / m)
Raios-X: 250 kVp 2 Electrões: 1 keV 12,3
Raios Gama: Co-60 0,3 Neutrões: 14 MeV 12
Raios-X: 3 MeV 0,3 Protões: 2 MeV 17
Electrões: 10 keV 2,3 Iões Carbono: 100 Mev 160
Electrões: 1 MeV 0,25 Iões pesados 100-2000
Uso da Radiação Ionizante
O estudo e o uso da radiação ionizante começaram com três importantes descobertas:
os raios-X por Wilhelm Röntgen em 1895, a radioactividade natural por Henri Becquerel em
1896, e o rádio por Pierre Curie e Marie Curie-Sklodowska em 1898. Desde então, a radiação
ionizante desempenhou um papel importante na física atómica e nuclear, onde introduziu a
era da física moderna como em muitas áreas diversas do empreendimento humano, como a
medicina, a indústria, a geração de energia, a produção de armas, a gestão de resíduos e
serviços de segurança. Em paralelo com o desenvolvimento de novos usos práticos da
radiação ionizante, tornou-se visível que a radiação ionizante pode causar danos somáticos
e genéticos ao material biológico, incluindo o tecido humano. Para o uso seguro da radiação
ionizante, é imprescindível que os utilizadores tenham não apenas uma compreensão clara
da física subjacente, mas também dos riscos biológicos decorrentes da radiação ionizante.
A seguir, algumas áreas onde a radiação ionizante é utilizada (Podgoršak, 2016):
1. Na medicina, onde é utilizada para: (i) geração de imagens em radiologia
13
diagnóstica e medicina nuclear; (ii) tratamento do cancro em Radioterapia e na
medicina nuclear; (iii) irradiação sanguínea para prevenir a doença do enxerto
contra o hospedeiro associado à transfusão (*); e (iv) esterilização de dispositivos
médicos de uso único.
(*) O risco de doença do enxerto contra o hospedeiro pode ser precavida por
inactivação dos linfócitos T residuais dos componentes que se obtém por irradiação
com raios gama.
2. Nos reactores nucleares em que é utilizada para: (i) pesquisa básica em física
nuclear; (ii) produção de radionuclídeos utilizados na medicina e na indústria; e (iii)
geração de energia eléctrica.
3. Na radiografia industrial, onde é usada para inspecção não destrutiva de soldadura
no fabrico de aviões, carruagens bem como em condutas de grande diâmetro,
gasodutos e oleodutos.
4. Na exploração de poços, onde é usada para obter informações sobre meios
geológicos e zonas de hidrocarbonetos utilizáveis para perfuração.
5. No controlo de pragas de insectos, onde os insectos são modificados e ficam
estéreis através duma dose de radiação elevada e depois são libertados na
natureza para controlar e erradicar pragas de insectos.
6. Nos serviços de segurança, onde é usada para a triagem de carga e bagagem, bem
como para o saneamento de correspondências principalmente contra a bactéria
antraz (Bacillus anthracis).
7. Na produção de alimentos, onde é usado para irradiação de alimentos como carne,
aves, peixes, temperos, frutas frescas, vegetais e grãos para: (i) matar bactérias,
vírus, parasitas e bolor; (ii) retardar o processo de amadurecimento; (iii) evitar
germinação; e (iv) prolongar a vida útil.
8. Na gestão de resíduos, onde os resíduos hospitalares e o lodo do esgoto doméstico
são irradiados com o objectivo de matar microorganismos patogénicos e bactérias
causadoras de doenças antes de serem libertados no meio ambiente.
14
9. Na indústria química, onde o processamento de radiação produz uma modificação
química de materiais industriais, como polímeros (polietileno) e borracha bruta (1ª
fase do fabrico do elastómero) usada em pneus vulcanizados.
10. Na produção de armas baseadas em fissão e fusão para fins militares (Podgoršak,
2016).
A maioria das radiações ionizantes foram consideradas adequadas para uso em
Radioterapia externa (ou de feixes externos); no entanto, o seu uso varia significativamente
de uma partícula para outra devido a considerações físicas e económicas. Geralmente, no
que diz respeito à Radioterapia, as radiações ionizantes directas são divididas em duas
categorias:
(i) Terapia de electrões com feixes de electrões de megavoltagem.
(ii) Terapia com hadrões com feixes de hadrões (protões e outros iões leves, exemplo:
iões de carbono).
Os electrões interagem com os átomos absorvedores principalmente por meio das
interacções de Coulomb com os electrões das órbitas atómicas ocorrendo perda (ionização)
na colisão, e com os núcleos atómicos ocorrendo perda de radiação, às vezes também
denominada perda de Bremsstrahlung.
Os hadrões, com excepção dos neutrões que se enquadram na categoria de radiação
ionizante indirecta, interagem com os átomos do absorvedor através das interacções de
Coulomb com os electrões das órbitas atómicas ocorrendo perda na colisão, bem como
através de fortes interacções com os núcleos atómicos (chamados de reacções nucleares).
Os electrões têm sido usados na Radioterapia de rotina para o tratamento de lesões
superficiais nos últimos 50 anos, enquanto os feixes de protões, os feixes de hadrões mais
comuns usados na Radioterapia de feixe externo, foram usados apenas recentemente numa
escala mais ampla, ainda que limitada.
Os feixes de electrões são produzidos de forma relativamente económica em
aceleradores lineares clínicos (LINAC - Linear Particle Accelerator). Os feixes de protões, por
outro lado, são produzidos num ciclotrão ou sincrotrão, máquinas significativamente mais
sofisticadas e dispendiosas em comparação com os LINAC. Actualmente, muito trabalho está
a ser desenvolvido em meios alternativos para a geração de feixes de protões, com o objectivo
15
de projectar máquinas compactas que possam ser instaladas em hospitais a exemplo dos
LINAC clínicos (Podgoršak, 2016).
A terapia com hadrões (protões e outros iões leves), ou terapia de partículas, é uma
forma de Radioterapia que utiliza partículas carregadas em vez de raios-X para fornecer a
dose de Radioterapia aos doentes. Esta terapia tem vantagem sobre os raios-X pois deposita
a maior parte da sua energia em profundidade característica do feixe de hadrões que se está
a utilizar e pode ser modelado com grande precisão. Os protões são partículas com radiação
de LET superior aos fotões, o LET pode chegar a ser inferior a dezenas de KeV/m no pico
de Bragg. Esta transferência linear de energia é idêntica à dos feixes convencionais de fotões
e electrões de elevada energia ao entrar no tecido. Agora, os protões apresentam uma eficácia
radiobiológica ligeiramente superior comparativamente aos feixes convencionais em
profundidade. Tal é devido ao perfil característico da dose em profundidade que apresenta
um pico-de-Bragg (Bragg-Peak), que poupa o tecido saudável até ao tumor, pois os protões
fornecem uma dose menor de radiação aos tecidos vizinhos do tumor. Assim, a racionalidade
para o uso dos protões é a sua selectividade física melhorada, i.e., melhores propriedades
para modelação da dose, reduzindo os órgãos em risco (na vizinhança ou trajectória do feixe)
e portanto os efeitos colaterais (Dosanjh, Amaldi, Mayer, & Poetter, 2018).
Electrões
Os electrões desempenham um papel importante na física médica e, devido à sua
massa relativamente pequena, são considerados partículas carregadas leves. Joseph J.
Thomson descobriu os electrões em 1897 enquanto estudava a descarga eléctrica num tubo
Crookes com vácuo parcial. Estes são usados directamente como feixes para a terapia do
cancro, e são responsáveis pela deposição da dose no meio por feixes de fotões e eletrões e
governam os aspectos experimentais e teóricos da dosimetria de radiação. Quanto ao seu
modo de produção, os electrões enquadram-se nas seguintes categorias:
• Os electrões libertados no meio por efeito fotoeléctrico são referidos como
fotoelectrões.
• Os electrões produzidos por aceleradores lineares (LINAC) para uso em
Radioterapia com energias cinéticas tipicamente na faixa de 4 MeV a 30 MeV são
denominados de electrões de mega voltagem (Podgoršak, 2016).
16
Positrões
O positrão ou anti-electrão é uma antipartícula de um electrão com a mesma massa
(0,511 MeV/c2), spin (1/2) e carga (1,602 × 10-19 C) iguais em magnitude, mas com sinal oposto
ao do electrão. Em 1928, Paul Dirac foi o primeiro a postular a existência do positrão e, em
1932, Carl D. Anderson descobriu a primeira evidência de antimatéria no seu estudo
experimental sobre raios cósmicos. Existem três maneiras de gerar positrões: (1) decaimento
beta com emissão de positrões, (2) produção de pares nucleares e (3) produção de tripletos:
1. Os positrões emitidos pelos núcleos por decaimento radioactivo β+ são usados na
tomografia de emissão de positrões (PET) e são referidos como partículas beta ou
raios beta.
2. Os positrões produzidos através da produção de pares nucleares, devido a fotão
interagir com campo eléctrico do núcleo, e a produção de tripletos (3), devido a fotão
interagir com um campo eléctrico forte de um electrão, desempenham um papel
importante nas interacções de fotões de alta energia com o meio absorvente
(Podgoršak, 2016).
Classificação da radiação ionizante indirecta com fotões
A radiação ionizante indirecta com fotões consiste em três categorias de fotões:
ultravioleta (UV), raios-X e raios gama. Embora a radiação UV seja de uso limitado na
medicina, a geração de imagens e o tratamento de doenças são realizados com fotões de
maior energia, como raios-X e raios gama. No que diz respeito à origem dos fotões, estes
enquadram-se em cinco categorias:
1. Raios Gama: fotões resultantes de transições nucleares;
2. Energia de aniquilação (annihilation quanta): o processo de aniquilação de
positrões (e+) ocorre quando um electrão e um positrão se aniquilam produzindo
fotões;
3. Raios-X característicos: fotões resultantes da transição de electrões entre orbitais
atómicas;
4. Raios-X Bremsstrahlung: fotões resultantes da interacção de Coulomb entre
17
electrões energéticos e positrões com os núcleos atómicos do absorvedor;
5. Radiação do ciclotrão (ou bremsstrahlung magnético): fotões resultantes de
partículas carregadas (exemplo: electrões, positrões e protões) movendo-se
através de um campo magnético (Podgoršak, 2016).
Para melhor compreensão das grandezas e unidades empregues para o uso da
radiação ionizante na medicina incluiu-se o Anexo 1 – Radiação, Grandezas e Unidades.
Os isótopos mais comuns utilizados na medicina para tratamento e diagnóstico estão
descritos no Anexo 2 – Isótopos mais comuns.
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19
Capítulo 4
Cancro, Diagnóstico e Tratamento
Tratado neste capítulo, o diagnóstico do cancro frequentemente requer estudos de
imagem que, em muitos casos, usam pequenas quantidades de radiação ionizante, e noutros,
métodos sem uso de radiação ionizante, como a Ressonância Magnética (RM) e a ecografia.
Procedimentos como raios-X, mamografia e tomografia computorizada (TC) na Radiologia
Convencional, tomografia por emissão de positrões (PET, Positron Emission Tomography) e
tomografia computorizada por emissão de fotão único (SPECT, Single Photon Emission
Computorised Tomography) na Medicina Nuclear, são importantes para o estadiamento, a
terapêutica e o acompanhamento dos doentes. É apresentada a Radioterapia, para
tratamento curativo ou paliativo do cancro, e respectivos requisitos genéricos de
funcionamento.
4.1. Diagnóstico
O diagnóstico e avaliação de lesões de cariz neoplásico/ tumoral (oncológicas) para o
devido tratamento nem sempre é um percurso simples, dado que na maioria das vezes, existe
necessidade de recorrer a vários métodos de imagem nas áreas da imagiologia (Radiologia
Convencional ou Medicina Nuclear) para que se processe uma triagem, o estadiamento
(localização da lesão com a respectiva extensão e, avaliação da possibilidade de focos
secundários – metastização), o planeamento terapêutico, a avaliação da resposta terapêutica
e a vigilância a longo prazo dos doentes.
Para identificar o local do tumor primário e avaliar o seu tamanho e disseminação para
os tecidos adjacentes e para outros órgãos e estruturas do corpo é necessário um diagnóstico
confiável. Assim, um diagnóstico apropriado é da maior importância na decisão clínica para a
abordagem terapêutica a adoptar e no estabelecimento do prognóstico (IAEA, 2019).
Diagnóstico Precoce
A probabilidade de cura para um doente oncológico depende fortemente do
estadiamento da doença no momento do diagnóstico consoante a sua classificação. Quando
este é diagnosticado no “Estadio 0” (classificação no Anexo 3), existem maiores
20
probabilidades de ser tratado com sucesso. A detecção precoce do cancro depende de muitos
factores tais como: o rastreamento da população em risco; a capacidade dos doentes e
profissionais de saúde para reconhecer sinais de alerta; e o uso de métodos de diagnóstico
para diferenciar o cancro de outras doenças, bem como determinar com precisão a
localização e a extensão do tumor. As modernas tecnologias de diagnóstico por imagem
fornecem a capacidade de discriminar tecidos até um milímetro usando RMI e TC, ou de
alguns milímetros usando PET ou SPECT (IAEA, 2019).
Anatomia versus Função (IAEA, 2019)
O diagnóstico por imagem pode ser dividido em duas grandes categorias: os métodos
que definem detalhes anatómicos muito precisos e aqueles que produzem imagens funcionais
ou moleculares.
O primeiro método, usando tomografia computorizada (TC) e ressonância magnética
(RM), pode fornecer bastante detalhe sobre a localização da lesão, tamanho, morfologia e
alterações estruturais nos tecidos circundantes, mas fornece apenas informações limitadas
sobre o funcionamento do tumor.
O segundo método, usando RM para fins funcionais e, PET e SPECT, para fornecer
informações sobre a fisiologia do tumor até ao nível molecular, mas não pode fornecer
detalhes anatómicos.
A combinação destes dois métodos permite a integração da anatomia e da função
numa única abordagem. A introdução destas imagens “híbridas” permite a caracterização de
tumores em todas as etapas. As informações obtidas com estas técnicas permitem melhorias
significativas na gestão do doente e numa distribuição adequada dos recursos afectos à saúde
(IAEA, 2019).
4.2. Tratamento
Radioterapia
A Radioterapia é uma das terapias mais utilizadas para o tratamento do cancro. Utiliza
a radiação nas suas diferentes formas (fotões, electrões, protões e neutrões) para destruir
tumores, isoladamente ou em combinação com a cirurgia e/ou a quimioterapia. A Radioterapia
pode ser externa (Radioterapia por feixe ou teleterapia) ou interna (braquiterapia).
21
Radioterapia Externa
A Radioterapia externa refere-se à terapia de radiação fornecida por uma fonte ou mais
fontes de radiação externa a uma certa distância do corpo. É o tipo mais comum de
Radioterapia utilizada no tratamento do cancro e geralmente é aplicada por uma unidade de
Cobalto-60 (desenvolvido no Anexo 5), que fornece raios gama de alta energia, ou um
acelerador linear (LINAC) que pode fornecer raios-X de alta energia ou electrões
(desenvolvido no Anexo 6). No esquema mais comum, o tratamento é administrado
diariamente por um período de 4 a 8 semanas (IAEA, 2019).
Para fornecer uma dose uniforme de radiação ao alvo, que pode ter vários centímetros
de espessura, a fonte de radiação é colocada a uma certa distância do doente (normalmente
100 cm). O tecido saudável, incluindo a pele, também pode ser irradiado na trajectória do
feixe. Para reduzir este efeito, o tratamento é feito de vários ângulos, e maximiza a dose na
intersecção dos feixes, e para minimizar o efeito radiobiológico nos tecidos adjacentes, pode-
se ainda usar de feixes de energia mais elevada para tumores mais profundos.
Técnicas mais Recentes de Radioterapia Externa ou Teleterapia
A Radioterapia conformada tridimensional (3DCRT, 3-Dimensional Conformal
Radiotherapy) ainda é uma das técnicas mais utilizadas actualmente. Entre as técnicas mais
recentes de Radioterapia externa estão a Radioterapia de intensidade modulada (IMRT,
Intensity Modulated Radiation Therapy), Radioterapia guiada por imagem (IGRT, Image
Guided Radiotherapy) e Radiocirurgia (SRS, Stereotactic RadioSurgery), permitem que a
Radioterapia forneça uma dose menor de radiação para tecidos saudáveis e uma dose maior
para o tumor. Os doentes que recebem Radioterapia não experimentam sensação física
enquanto são expostos à radiação; assemelha-se muito à exposição raio-X. No entanto,
ocorrem efeitos colaterais. Em tecidos que se dividem rapidamente, como a mucosa e a pele,
as reacções precoces são semelhantes às "queimaduras solares". Nas células com divisão
mais lenta, por exemplo, nos rins ou vasculares que sustentam o cérebro e a medula espinhal,
a tolerância à radiação é menor. Caso sejam tratados acima de um certo limite, estes tecidos
correm o risco de desenvolver efeitos tardios que geralmente se tornam aparentes somente
muitos meses após o tratamento (IAEA, 2019).
Braquiterapia
A braquiterapia, do grego brachys que significa “curta distância”, é uma forma de
Radioterapia na qual uma fonte radioactiva é colocada perto do tumor, directamente adjacente
a este ou dentro do próprio tumor. Este procedimento fornece uma alta dose de radiação para
o alvo e somente uma dose mínima afecta os tecidos circundantes. A braquiterapia também
22
aparece na literatura especializada como Radioterapia interna ou Radioterapia de fonte
selada. Autores como Podgoršak também utilizam as designações curieterapia (curietherapy)
ou terapia endocurie (endocurie therapy) (Podgoršak, 2005).
Diferentes Modos de Tratamento
A braquiterapia usa fontes radioactivas seladas, que são colocadas directamente nos
tumores (intersticial) ou nas cavidades do corpo (intracavitária). Um exemplo de braquiterapia
intersticial é o implante de Iodo-125 (125I) no interior da próstata, que administra a dose
necessária durante todo o período de vida útil das fontes. No entanto, o mais usual é a
inserção de uma fonte radioactiva no corpo que depois é removida quando o tempo calculado
para a entrega da dose de radiação especificada estiver completo. Esta técnica é a
braquiterapia de alta taxa de dose.
Tipos de Irradiação Administrada
O tratamento pode ser administrado de acordo com a taxa de dose (dose administrada
durante um período de tempo determinado) através de:
• Braquiterapia de baixa taxa de dose (LDR, low-dose rate) utiliza fontes de Irídio-192
(192Ir) e Iodo-125 (125I) entre outras. Nesta técnica, um "aplicador" é colocado na
cavidade ou dentro do tumor e a fonte é inserida no aplicador até ser removida
(geralmente de 12 a 24 horas), estando o doente numa sala isolada. Este processo
geralmente requer internamento hospitalar. No LDR também é feita a implantação
permanente de fontes de radiação conhecidas por “sementes” que emitem até 2
Gy/h utilizando Iodo-125. Este processo é usualmente feito em ambulatório
hospitalar. A braquiterapia de baixa taxa de dose é habitualmente utilizada para
cancro da próstata e melanoma coróide.
• Braquiterapia com média taxa de dose (MDR, medium-dose rate) é caracterizada
por uma taxa média de fornecimento da dose, entre os 2 Gy/h e os 12 Gy/h. Era
utilizada no cancro ginecológico.
• Braquiterapia com alta taxa de dose (HDR, high dose rate) pode ser fornecida com
fontes miniaturizadas de Cobalt-60 (60Co) ou Iridium-192 (192Ir), que permitem uma
taxa de dose superior a 12 Gy/h, representando períodos de tratamento curtos. Por
esse motivo, o HDR pode ser administrado como tratamento de ambulatório. A
braquiterapia HDR é um componente essencial do tratamento com radiação para
cancros ginecológicos. Outras indicações para a braquiterapia HDR incluem:
23
próstata, mama, sarcomas de tecidos moles, alguns tumores de cabeça e pescoço
e cancro de pele (IAEA, 2019).
• Braquiterapia com taxa de dose pulsada (PDR, Pulsed Dose Rate) tem um processo
de aplicação semelhante à técnica HDR que utiliza um dispositivo pós-carga
(afterloading), contudo a radiação é emitida em pequenos “pulsos” ao longo de
várias horas, sendo biologicamente semelhante às técnicas tradicionais de LDR,
em que as fontes são carregadas manualmente nos cateteres e aplicadores. Agora,
ao contrário da técnica HDR, os tratamentos por PDR são aplicados em doentes
internados (Miranda, Alves, Oliveira, Roldão, & Matias, 2014).
4.3. Centro de Radioterapia
A implementação de um Serviço de Radioterapia geralmente inclui as radioterapias de
feixe externo: Cobalto-60, aceleradores lineares (LINAC) e a braquiterapia.
A Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA) mantém um registo internacional
informatizado dos hospitais e instituições clínicas que oferecem terapia de radiação, à qual foi
atribuído a designação de DIRAC (DIrectory of RAdiotherapy Centres ou Directório de Centros
de Radioterapia). A base de informação DIRAC engloba dados sobre as máquinas de
Radioterapia por feixe, dispositivos e fontes usados em braquiterapia, equipamentos para
dosimetria, cálculos de doses de doentes e garantia de qualidade.
A cirurgia, a Radioterapia e a quimioterapia continuam a ser a base do tratamento de
doentes com cancro, pelo que, um departamento de Radioterapia deve ser integrado num
processo abrangente de tratamento do cancro.
Um centro de Radioterapia deve ser operado com pessoal qualificado, i.e., com
médicos oncologistas, físicos médicos de Radioterapia clinicamente qualificados e técnicos
de Radioterapia, incluindo enfermagem com especialização na área oncológica e restante
equipa médica e técnica, conforme necessário. Deve ainda assegurar os componentes
essenciais: configuração da instalação, equipamentos, recursos humanos e procedimentos,
para que o centro tenha o equipamento essencial e a equipa adequada e necessária para
tratar a maioria dos tumores, com a intenção de alcançar o controlo local da doença na medida
24
do possível. Ainda, o centro deve manter um registo actualizado dos doentes e tipos de cancro
tratados, incluindo procedimentos para acompanhamento destes doentes (IAEA, 2008).
No Serviço Nacional de Saúde (SNS) os serviços de oncologia médica e de
Radioterapia existem nos hospitais e centros hospitalares do Grupo I, assumindo que
cumprem com o mínimo de população servida e em função de mapas nacionais de
referenciação e distribuição de especialidades médicas e cirúrgicas. As instituições do Grupo
I estabelecem relações de referenciação com instituições do Grupo II, III e IV para a área de
Oncologia, caso não tenham capacidade técnica ou recursos disponíveis. Também aplicável
às instituições do Grupo II, que estabelecem relações de referenciação com o Grupo III e IV
para as áreas em que não tenham capacidade técnica ou recursos disponíveis de acordo com
a Portaria 82/2014 de 10 de Abril, Diário da República Nº 71/2014 - I Série.
No sector privado existem centros de Radioterapia que, para além da produção própria
interna, também ajudam a suprir as necessidades de tratamento do sector público quando
este tem um pico de procura e/ou dificuldades técnicas com os equipamentos instalados
(IAEA, 2008).
25
Capítulo 5
Braquiterapia
Neste capítulo é feito uma exposição alargada sobre a técnica de tratamento
braquiterapia, onde são descritos os tipos principais de tratamento, as patologias tratadas, as
fontes utilizadas e respectivos equipamentos e instalações, e os recursos humanos
necessários para o normal funcionamento da área.
5.1. Introdução
Braquiterapia é o termo utilizado para descrever o tratamento de curta distância do
cancro com radionuclídeos (pequenas fontes radioactivas seladas) posicionados na
vizinhança ou aplicados dentro do volume neoplásico a ser tratado. A dose é então entregue
de uma forma contínua, seja por um pequeno período de tempo (implantes temporários) ou
durante a vida da fonte até ao seu decaimento total (implantes permanentes), e maioria das
fontes utilizadas emite fotões. A braquiterapia é, geralmente, uma opção de tratamento para
muitos tipos de cancro: da próstata, do colo do útero, do endométrio, da mama, da pele, dos
brônquios, do esófago, da cabeça e pescoço, bem como para sarcomas de tecido mole e
outros tipos.
Na braquiterapia existem vários tipos de aplicação descritas na Tabela 3, contudo o
foco do trabalho encontra-se nos tipos de aplicação a seguir:
• Intracavitário, no qual as fontes são colocadas perto do volume tumoral utilizando
as cavidades naturais do corpo humano, sendo implantes temporários de curta
duração;
• Intersticial, no qual as fontes são implantadas no volume tumoral, de uma forma
permanente ou temporária. Nesta segunda forma é utilizado um pós-carregamento
remoto (remote afterloading), equipamento mostrado na Figura 7.
Em termos de física das radiações para tratamento, a braquiterapia apresenta
vantagem sobre a Radioterapia externa, pois consegue fazer a entrega da dose duma forma
mais localizada no volume para tratamento, permitindo doses mais altas ao alvo e menor dose
26
nos tecidos adjacentes. Como desvantagem, a braquiterapia somente pode ser utilizada para
casos em que seja possível colocar fontes de radiação “in loco”.
No caso do cancro da próstata, a dimensão prostática ideal para braquiterapia
depende de vários parâmetros como volume, forma etc. A actividade utilizada para irradiar
volumes de maiores dimensões pode implicar doses mais elevadas sobre a uretra, recto e
bexiga havendo o risco de maior morbilidade nestas situações. A retenção urinária pós-
braquiterapia ocorre entre 1 a 10% dos casos sendo mais comum nos implantes efectuados
em próstatas de maior volume. (Viegas Campos Pinheiro, 2006).
Para os tratamentos nos quais é utilizada a optimização da dose, o tempo de
tratamento depende do posicionamento das fontes relativamente aos pontos calculados para
administrar a dose, e também da actividade da fonte de radiação a ser administrada.
O planeamento de braquiterapia é realizado através de sistemas de planeamento
computorizado que permitem o cálculo da distribuição da dose até em tempo real, como no
caso de implantes de próstata. As fontes de braquiterapia são calibradas em termos de kerma
no ar (RAKR: reference air kerma rate).
Assim, os seguintes componentes são importantes para qualquer planeamento de
braquiterapia:
• Utilização de um modelo dosimétrico adequado para o cálculo da distribuição de
dose no tumor e suas adjacências;
• Utilização de fontes calibradas.
Estes não são todos os componentes necessários. Um tratamento não atinge o seu
objectivo se a fonte falhar as posições calculadas. Devido ao gradiente de dose que
caracteriza a braquiterapia, as falhas de posicionamento podem ser prejudiciais para o
tratamento pretendido. Por essa e outras razões de segurança, são realizados periodicamente
testes para controlo de qualidade e segurança da fonte.
Do ponto de vista radiobiológico, a dose entregue pela braquiterapia pode originar
efeitos complexos na taxa de dose, efeitos que podem influenciar o resultado terapêutico. A
administração contínua da dose tem influência na reparação dos danos subletais e
potencialmente letais, proliferação e outras cinéticas celulares, as quais podem modificar a
resposta do tumor e dos tecidos saudáveis à radiação (Podgoršak, 2005).
27
As Tabelas 3 a 6 (Podgoršak, 2005) sumarizam os tratamentos de braquiterapia (TB)
quanto ao tipo de implante, tempo de duração do tratamento, método de carregamento da
fonte e taxa de dose.
Tabela 3: Tipos de implantes em braquiterapia.
Tipo de implante
Descrição
Intracavitário As fontes são colocadas no interior das cavidades junto à
periferia do tumor
Intersticial As fontes são aplicadas cirurgicamente no interior do tumor
Plesioterapia As fontes são colocadas em contacto com a área lesada
Intraluminal As fontes são alojadas no lúmen do tumor
Intravascular Uma única fonte é colocada no interior de uma artéria
Intraoperatória As fontes são implantadas dentro do tumor durante a cirurgia
Tabela 4: Classificação dos TB relativamente à sua duração.
Tipo de implante
Descrição
Temporário A dose é libertada num curto período de tempo e as fontes
são removidas após a dose prescrita ter sido administrada
Permanente A dose é libertada durante o período de vida da fonte até o
seu decaimento completo
Tabela 5: Classificação dos TB relativamente ao carregamento da fonte.
Métodos de carregamento
Descrição
Carregamento
manual
O aplicador é pré-carregado e contém fontes radioactivas
quando se coloca no interior do doente
Pós-carregamento
O aplicador é colocado inicialmente no interior da posição alvo,
onde mais tarde serão carregadas as fontes de modo manual ou
automático com recurso a um equipamento de apoio
28
Tabela 6: Classificação dos TB relativamente à taxa de dosea.
Taxa de Dose Valor numérico da taxa de
dose nos pontos alvo
Baixa taxa de Dose (LDR) 0,4 – 2 Gy/h
Média taxa de dose (MDR)b 2 – 12 Gy/h
Alta Taxa de dose (HDR)c > 12 Gy/h
(a) A definição está de acordo com a Comissão Internacional de Unidades e Medidas de
Radiação (ICRU - International Commission on Radiation Units & Measurements).
(b) MDR não é utilizada habitualmente, apenas em poucos casos, dado que os resultados são
bastante inferiores relativamente à utilização de tratamentos com LDR ou HDR.
(c) Na prática, os tratamentos com HDR são administrados com uma taxa de dose
substancialmente mais alta do que a fornecida pelo limite inferior de 12 Gy/h.
5.2. Características das fontes de fotões
As fontes de braquiterapia são usualmente encapsuladas; a cápsula tem vários
propósitos:
• Armazenar e selar a radioactividade;
• Fornecer rigidez mecânica à fonte e;
• Absorver qualquer radiação alfa e, para fontes emissoras de fotões, radiação beta
devida ao decaimento da fonte.
A radiação de uma fonte de braquiterapia geralmente consiste em:
• Raios gama, que formam a componente mais importante da radiação emitida;
• Raios-X característicos emitidos por captura de electrões e;
• Raios-X característicos e bremsstrahlung com origem na cápsula da fonte.
A escolha do radionuclídeo emissor de fotões mais adequado para um tratamento
específico de braquiterapia depende de várias características físicas e dosimétricas
relevantes, das quais as mais importantes são:
• Energia dos fotões e penetração do feixe de fotões nos tecidos e nos materiais de
blindagem;
• Semivida ou período de semidesintegração;
• Espessura semi-redutora para materiais de blindagem, que reduz a intensidade da
radiação incidente para metade;
• Actividade específica;
29
• “Source strength” – pode ser definida em termos da taxa Kerma-ar numa distância
especificada no espaço livre (geralmente 1 m) ao longo de um bissector
perpendicular à fonte linear (AAPM, 1987);
• Queda do valor de dose com o inverso do quadrado da distância à fonte (este é o
efeito dosimétrico dominante, devido às distâncias muito curtas de tratamento
usadas na braquiterapia).
A energia dos fotões influencia a penetração no tecido, bem como os requisitos de
protecção contra a radiação. A distribuição de dose no tecido, dentro das curtas distâncias de
interesse do tratamento, não são muito influenciadas pela dispersão de fotões quando as
energias dos fotões estão acima dos 300 keV. Contudo, a atenuação é bastante significativa
para fotões de baixas energias da ordem dos 30 keV e menores.
A espessura semi-redutora requerida para proteger dos fotões de alta energia das
fontes de braquiterapia é de alguns milímetros de espessura de chumbo (Pb). Para fotões de
baixa energia a espessura requerida de chumbo é usualmente inferior a uma décima de
milímetro.
Tabela 7: Características dos isótopos usados na braquiterapia (Podgoršak, 2005).
Isótopo
Energia média do
fotão (MeV)a
Semivida
Espessura semi-redutora em chumbo
(mm)c
Constante taxa de
Kerma-arb
(𝝁𝑮𝒚. 𝒎𝟐
𝑮𝑩𝒒. 𝒉)
Cobalto-60: 60Co 1,25 5,26 anos 11 309
Césio-137: 137Cs 0,66 30 anos 6,5 77,3
Ouro-198: 198Au 0,41 2,7 dias 2,5 56,2
Irídio192: 192Ir 0,38 73,8 dias 3 108
Iodo-125: 125I 0,028 60 dias 0,02 -
Paládio-103: 103Pd 0,021 17 dias 0,01 -
(a) Apenas são valores aproximados que dependem da fonte de energia e da filtragem.
(b) Utilização de valores genéricos para a constante de taxa Kerma no ar ou uma constante de
taxa de dose para uma fonte de fotões de baixa energia pode originar erros substanciais
nos cálculos de dose. Assim, os valores não são fornecidos para o I-125 e o Pd-103.
(c) Espessura semi-redutora ou HVL (Half-Value Layer) em chumbo.
Na Tabela 7 acima apresentam-se algumas das características físicas das fontes de
braquiterapia mais comuns, ainda que a fonte 198Au não seja tão usual. As fontes Rádio-226
30
(226Ra) e Radônio-222 (222Rn) foram descontinuadas por razões de segurança, ainda que a
sua longa história de uso clínico tenha influenciado os conceitos utilizados actualmente na
braquiterapia.
Quanto às características mecânicas, as fontes de fotões de braquiterapia apresentam
vários formatos: agulhas, tubos, sementes, fios e pastilhas (ou pellets) e geralmente são
utilizadas como fontes seladas, usualmente com encapsulamento duplo de forma a garantir
blindagem adequada contra a radiação alfa e beta emitida pela fonte, e para prevenir perda
do material radioactivo. Exemplos:
• A fonte de Césio-137 está disponível em vários formatos, tais como: agulhas, tubos
e pellets.
• A fonte de Irídio-192 está disponível na forma de fio, com um núcleo radioactivo
constituído por uma liga de irídio-platina, com revestimento de platina de 0,1 mm de
espessura. Estas fontes também estão disponíveis como sementes, duplamente
encapsuladas e com revestimento de aço inoxidável, e como fios de fita de nylon.
Os equipamentos de pós-carregamento remoto (remote afterloading) para
braquiterapia HDR utilizam fontes de Irídio-192 especialmente produzidas com
actividade na ordem dos 370 GBq (10 Ci).
• A fonte de Iodo-125 está disponível geralmente através de sementes, sendo
usualmente inserida no volume do tumor com recurso a dispositivos de “disparo”
especiais.
• Finalmente, as fontes de Cobalto-60 para braquiterapia estão disponíveis como
pellets com uma actividade na ordem dos 18,5 GBq (0,5 Ci) por pellet.
Em termos clínicos, são abordados seguidamente, e duma forma sumária, os dois
principais tipos de tratamento mencionados no início deste capítulo.
A braquiterapia intracavitária é maioritariamente utilizada no tratamento dos cancros
no útero, cervical e endométrio, patologias expostas nas Figuras 3 e 4 respectivamente, com
a especificação de dose, descrita inicialmente através do sistema de Manchester e
posteriormente actualizado no documento ICRU 38 (Podgoršak, 2005).
As Figuras 3, 4 e 5 foram adaptadas do site https://www.mayoclinic.org/diseases-
conditions/ da Mayo Foundation for Medical Education and Research (MFMER). A Figura 6 foi
adaptada do site https://breast360.org/topics/2017/01/01/breast-anatomy/ da organização The
American Society of Breast Surgeons Foundation e ambos os sites foram acedidos na data
29-01-2019.
31
Figura 3: Cancro Cervical.
Figura 4: Cancro do endométrio.
Figura 5: Cancro da próstata.
Figura 6: Cancro da mama.
A braquiterapia intersticial tem aplicação no cancro da próstata e no cancro da mama,
patologias expostas nas Figuras 5 e 6 respectivamente, sendo o sistema de Paris a
32
especificação de dose actualmente mais utilizada. No passado, outros dois sistemas foram
muito utilizados: sistema Patterson-Parker e sistema Quimby (ICRU_58, 1985). De notar que
os sistemas de cálculo de dose mencionados não serão objecto de exposição neste trabalho.
5.3. Sistemas de pós-carregamento remoto
Na braquiterapia de baixa taxa de dose com carregamento manual, as fontes de
radiação são carregadas manualmente nos aplicadores e cateteres colocados dentro ou junto
ao volume alvo. No final do tratamento as fontes são removidas, novamente de forma manual.
Este procedimento resulta nalguma exposição à radiação do pessoal médico e do pessoal de
suporte. Assim, para minimizar a exposição à radiação, foram construídos equipamentos de
pós-carregamento remoto (remote afterloading) controlados por computador, conforme
mostra a Figura 7, instalados em salas de tratamento com blindagem para assegurar a
atenuação da radiação ionizante, estando a consola de controlo do equipamento no exterior
da sala de tratamento, ou numa sala adjacente a esta, como mostram as Figuras 19 e 20
respectivamente, no Anexo 7.
Existem três dispositivos diferentes de pós-carregamento (afterloading) remoto:
• LDR (Low Dose Rate);
• HDR (High Dose Rate);
• PDR (Pulse Dose Rate).
A utilização destes sistemas de pós carregamento remoto oferece uma série de
vantagens comparativamente ao procedimento de carregamento manual, tais como:
• Aumento da capacidade de tratamento de doentes;
• Consistência e reprodutibilidade do tratamento efectuado;
• Redução da exposição à radiação da equipa clínica e de suporte.
Os componentes essenciais de um sistema de pós carregamento remoto são os
seguintes:
• Cofre adicional para guardar a fonte radioactiva, conforme Figura 8;
• O robô/cofre onde a(s) fonte(s) se localiza(m), ver Figura 7;
33
• Possibilidade de ter uma única fonte radioactiva ou múltiplas;
• Consola para operar o equipamento remotamente, conforme Figura 8;
• Controlo da fonte e do mecanismo de avanço;
• Tubos-guia de transferência das fontes e aplicadores para o tratamento e;
• Sistema de planeamento do tratamento computorizado.
As três fontes radioactivas mais comuns nos sistemas de afterloading remoto são o
Cobalto-60, o Césio-137 e o Irídio-192. Actualmente, a fonte mais utilizada no afterloading é
o Irídio-192, devido a energia média dos raios-gama (~400 keV), e do valor elevado da sua
actividade específica. Contudo, a sua semivida de 73,8 dias é uma desvantagem pois requer
a uma troca frequente da fonte, tipicamente três a quatro vezes por ano.
No caso dos sistemas HDR que utilizam uma única fonte de Irídio-192, tipicamente
com uma actividade de 370 GBq – 740 GBq (10 Ci – 20 Ci), a taxa de dose para tratamento
excede os 12 Gy/h.
Os sistemas LDR utilizam múltiplas fontes radioactivas em conjunto com espaçadores
com o objectivo de atingirem taxas de dose para tratamento na ordem dos 0,4 Gy/h a 2 Gy/h.
O sistema PDR também utiliza uma única fonte de Irídio-192, no entanto, com uma
actividade de 37 GBq (1 Ci) para fazer tratamentos curtos de HDR, usualmente com intervalos
de uma hora para simular tratamentos contínuos de LDR.
As vantagens de utilizar sistemas HDR relativamente aos sistemas LDR são
(Podgoršak, 2005):
• Optimização da distribuição de dose;
• Tratamento de ambulatório;
• Menos tempo de tratamento e;
• Menor exposição à radiação da equipa clínica e físicos.
Existem algumas desvantagens na utilização dos sistemas HDR:
• Potencial para exposições elevadas acidentais e erros graves e;
34
• Complexidade do tratamento requer grande envolvimento, comprometimento,
experiência e conhecimento da equipa clínica, físicos e enfermagem.
Figura 7: Remote afterloading.
Figura 8: [A] Consola tratamento; [B] Cofre para transferência e transporte de fonte.
Figura 9: Sistema de detecção de radiação:
Monitor de área e Sonda.
Nas salas de tratamento de braquiterapia
deve estar instalado um sistema de
detecção de radiação semelhante ao
mostrado na Figura 9 para monitorização
contínua da exposição à radiação. O
monitor de área está na sala de controlo
e a sonda na sala de tratamento, e no seu
exterior junto à porta está um sinalizador
luminoso, com luz vermelha é interdito a
entrada na sala durante a irradiação.
Na Figura 7 apresenta-se um sistema de afterloading remoto, e na Figura 8 são
mostrados a consola de tratamento e o cofre para guardar a fonte radioactiva aquando da sua
substituição.
Ainda, e relativamente à detecção da radiação, após serem implantadas as fontes no
doente, os níveis de radiação devem ser verificados na sala de tratamento de braquiterapia
HDR, de forma contínua para monitorização da área. Os níveis de radiação nas áreas
adjacentes à sala de tratamento onde há pessoal monitorizado devem ser tão baixos quanto
35
razoavelmente exequível, princípio ALARA (As Low As Reasonably Achievable). Exemplo, a
sala de controlo com 100% de ocupação a uma distância de 7 m da fonte de 370 GBq na
mesa de tratamento, com a blindagem local, deve apresentar um valor de dose equivalente
inferior a 0,1 mSv por semana (Glasgow, 2006).
Na braquiterapia LDR, os doentes com implantes permanentes somente podem
receber alta hospitalar se, no momento da alta, o nível de radiação a um metro com um
dosímetro calibrado for inferior a 50 Sv por hora para uma carga corporal de
aproximadamente 1,1 GBq ( aprox. 30 mCi) ou menos (Khalil, 2011). Para os implantes
temporários, após o procedimento devem ser contadas as fontes para garantir que todas
foram removidas do doente antes da alta hospitalar.
Figura 10: Sala tipo de Braquiterapia (Gryaznov, Velichko, Senchik, Korenkov, & Kireeva, 2016).
Legenda da Figura 10:
a – Ecógrafo;
b – Transdutor Endocavitário (sonda de ultra-sons);
c – Suporte para inserção passo-a-passo (stepper support) da sonda de ultra-sons;
36
d – Computador com sistema de planeamento 3D;
e – Equipamento de pós-carregamento remoto (remote afterloading) e;
f – Cofre para fonte.
Ainda na Figura 10, entre o ecógrafo e o afterloading remoto, e junto à parede do fundo
da sala, é possível encontrar a mesa de tratamento, que deverá ser radiotransparente para o
caso de existirem procedimentos clínicos com TC, sendo possível adicionar à sala um “arco
em C” com intensificador de imagem para avaliar que a posição do aplicador mantém-se a
mesma em relação à anatomia do doente desde a sua inserção até ao início do tratamento.
5.4. Imagem
Na braquiterapia a imagem assume grande importância para garantir que a posição
da fonte é correctamente estimada junto ao tumor conforme delimitado pelo médico
oncologista.
Para a imagem são utilizados os equipamentos de Ressonância Magnética (RM), de
Tomografia Computorizada (TC), de ecografia, e de radiologia convencional digital utilizando
um arco em C. Os tecidos moles apresentam um contraste superior na RM que também
fornece melhor informação sobre a extensão do tumor contudo, duma forma geral, a imagem
por TC está mais disponível. De notar que todo o equipamento de imagem deve passar por
um controlo de qualidade periódico para garantir a precisão espacial e a correcta transferência
de imagens para o Sistema de Planeamento do Tratamento (TPS) (Dieterich, Ford, Pavord, &
Zeng, 2016).
A imagem é utilizada nas seguintes fases:
• Planeamento do tratamento, e
• Verificação do tratamento dentro da Sala de Braquiterapia.
As imagens de RM, CT e ecografia têm maior aplicação no planeamento. A imagem
de ultrassonografia é utilizada no planeamento do tratamento da próstata, e na imagem guiada
para o posicionamento do aplicador no tratamento ginecológico, e na mama. No caso do arco
em C, a imagem é utilizada para verificar a posição dos aplicadores antes do tratamento.
37
5.5. Esquema de utilização da braquiterapia
Tabela 8: Esquema de utilização dos materiais / equipamentos.
Fases do
tratamento
Inserção de aplicador para a passagem de fonte de radiação
Simulação do tratamento
Planeamento da distribuição de dose
Tratamento
Materiais/ Equipamentos utilizados em cada fase do
processo
Materiais: Materiais:
Materiais:
Agulha, Cateter,
Marcadores radiopacos para CT/RM
Equipamentos: TPS** - planeamento do tratamento através de imagens 3D de CT/RM ou de utrassonografia da anatomia do doente com aplicador
Tubos de transferência
Aplicador ginecológico*,
Conectores metálicos
Aplicador com agulhas.
Equipamentos: Equipamentos:
CT, RM e/ou ecografia
Remote afterloading ou pós carregamento remoto
*Existe também a possibilidade de utilização de aplicador retal para braquiterapia endoretal.
**TPS: do inglês Treatment Planning System (Sistema de Planeamento Computorizado do
tratamento).
Tabela 9: Esquema de braquiterapia de alta taxa de dose.
Introdução do aplicador Simulação do tratamento Planeamento Tratamento
***Médico: Anestesiar;
Técnico Superior de Diagnóstico e Terapêutica (TSDT):
Físico: Médico e Físico:
Inserir o aplicador Adquirir imagens de CT e RM
Planear o tratamento
Realizar o tratamento
Enfermeira: Médico: Médico e Físico: Médico e Enfermeiro:
Inserir marcador radiopaco.
Adquirir Imagem de ecografia.
Aprovar o plano de tratamento
Após Tratamento
Médico e Físico:
Retirar aplicadores
Avaliar imagem.
*** Médico (quantas especialidades forem necessárias para o procedimento): Radioncologista
(para todos os procedimentos), pneumologista (aplicação endoluminal), etc.
38
Página intencionalmente deixada em branco.
39
Capítulo 6
Metodologia – Materiais e Métodos
No presente capítulo apresenta-se um enquadramento teórico da metodologia
utilizada, com os materiais de estudo e métodos utilizados na exposição para análise dos
dados para obtenção da informação com o objectivo de conhecer o custo por doente tratado
na braquiterapia versus valores atribuídos do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
6.1. Enquadramento Teórico da Metodologia
Este estudo apresenta um carácter quantitativo e com tratamento retrospectivo dos
dados na área da Radioterapia, em particular da braquiterapia, área secundária quando
comparada com a principal da Radioterapia por feixe externo utilizando aceleradores lineares
ou unidades de Cobalto-60.
Numa primeira exposição serão divulgados dados nacionais sobre a distribuição dos
médicos radioncologistas e sobre os equipamentos instalados e a funcionar, conforme
informação disponibilizada no site da Ordem dos Médicos conforme link
https://ordemdosmedicos.pt/radioncologia-em-portugal/. Isto pretende analisar a distribuição
de recursos de radioncologia ao nível nacional, i.e., continente e ilhas e concluir sobre a sua
equitatividade.
Na exposição seguinte são apresentados dados sobre os cancros mais predominantes
em território nacional, no total, por género e respectiva região anatómica. Para complementar
os dados, foram adicionados valores de incidência relativamente à idade e sexo ao nível
mundial com adição de indicadores como a mortalidade.
Seguidamente, e para a braquiterapia HDR, apresenta-se o número de equipamentos
instalados no país e sua distribuição geográfica.
Durante o desenvolvimento deste trabalho foram estudados os materiais consumíveis
e equipamentos (HW e SW) necessários para a realização dos tratamentos em cada patologia
possível de tratamento no SNS por braquiterapia HDR.
40
Finalmente, e para o cálculo do custo por doente tratado na braquiterapia, é
apresentada a seguinte informação dos custos para: (1) equipamentos utilizados na
braquiterapia HDR; (2) manutenção preventiva dos equipamentos; (3) recursos humanos para
tratamentos; e (4) consumíveis clínicos. Para obtenção dos custos dos pontos 1, 2 e 4, foi
consultada a plataforma electrónica Portal BASE: Contratos públicos online -
http://www.base.gov.pt/Base/pt/Pesquisa/ que se destina a divulgar informação pública sobre
os contratos públicos sujeitos ao regime do Código dos Contratos Públicos (CCP). Este portal
tem por função essencial centralizar a informação sobre os contratos públicos celebrados em
Portugal, permitindo assim o seu acompanhamento e monitorização. Para o ponto 3 foi
considerada a tabela remuneratória em vigor para cada classe profissional.
Depois de calculados os custos por tratamento, onde foram considerados os custos
referidos no parágrafo anterior, foi realizada a sua comparação com o valor atribuído pelo
SNS (Portaria No 207/2017 de 11 de Julho, Diário da República, No 132 - I Série, 2017) para
dois casos hipotéticos A e B. Para ambos os casos estudados, do total de número de
tratamentos realizados por ano, foi considerado que 20% dos casos eram da patologia do
cancro do colo do útero e, foram aplicadas duas técnicas de tratamento (intracavitária e
intracavitária com agulhas), com o objectivo de se avaliar a optimização dos recursos que são
inerentes ao serviço e não específico somente à patologia. Com os custos obtidos é calculado
o break even point ou ponto de equilíbrio, para o número de tratamentos da patologia em
estudo.
6.2. Técnica de Tratamento dos dados
Para o tratamento dos dados, elaboração de tabelas e gráficos, e consolidação destes
para obtenção de informação, foi utilizado o software Microsoft Excel™.
41
Capítulo 7
Resultados e Discussão
Neste capítulo, apresentam-se os dados quantitativos para suporte à discussão e
fundamentação das devidas conclusões.
7.1. Resultados
Seguidamente apresentam-se as figuras com incidências de cancros ao nível nacional,
as taxas de incidência e mortalidade dos dez principais tipos de cancro, a predominância do
cancro de colo do útero por região do país, incluindo as regiões onde se encontram os
equipamentos para braquiterapia.
Figura 11: Dados (GLOBOCAN, 2018) sobre a incidência de cancro em Portugal.
42
Figura 12: Taxas de incidência e mortalidade padronizadas por idade (Mundial)
considerando os 10 principais tipo de cancro (GLOBOCAN, 2018).
Tabela 10: Recursos de braquiterapia HDR (excluindo prostática com sementes) disponíveis em Portugal (dados 2012).
Zona Norte Número de
braquiterapias
IPO Porto 1
CRP – Clínica de Radioterapia do Porto, Lda.
1
Zona Centro
IPO Coimbra 1
Centro Hospitalar e Universitário Coimbra, EPE
1
Zona Sul
IPO Lisboa 1
CHULN (Lisboa) 1
Hospital da Luz (Lisboa) 1
Centro Oncológico Dra Natalia Chaves (Carnaxide)
1
Hospital Espírito Santo Évora, EPE
1
Na Figura 13 apresenta-se o mapa de Portugal com a distribuição geográfica dos
tumores no colo do útero no ano de 2010, considerando as taxas de incidência específicas
padronizadas para a idade e para o sexo feminino por região.
43
De acordo com o Registo Oncológico Nacional, no cálculo das taxas de incidência de
cancro foram utilizadas as estimativas oficiais da população residente em 31 de Dezembro de
2010 nos municípios de Portugal Continental e nas Regiões Autónomas da Madeira e dos
Açores, fornecidas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Os resultados foram expressos
como taxa anual por 100.000 pessoas-ano. Para permitir a comparação de taxas entre
populações com diferentes estruturas etárias, as taxas foram padronizadas pelo método
directo, com recurso à população padrão europeia (RORENO, 2016).
Ainda na Figura 13, os centros de braquiterapia mencionados na Tabela 10 estão
assinalados no mapa com uma bola de cor preta.
Figura 13:Distribuição geográfica dos tumores no colo do útero no ano de 2010 – taxa de incidência padronizada à população europeia (RORENO, 2016).
44
Seguidamente, apresenta-se a Tabela 11 com os dados nacionais sobre a distribuição
dos médicos e dos equipamentos de Radioterapia externa (RTE AL) e braquiterapia (BT)
instalados e a funcionar em Portugal no ano de 2012.
Tabela 11: Resumo Radioncologia – 2012 (Oliveira & Trigo, 2013).
Zona Nº Serviços/ Zona Especialistas
médicos RTE AL BT
Norte 7 31 16 2
Centro 2 14 5 2
Sul e Ilhas 15 37 26 5
TOTAL 24 82 47 9
A Tabela 11 evidencia de uma forma sumária a distribuição por região dos
especialistas médicos e dos equipamentos de AL e BT onde, 55% dos AL estão na Zona Sul
e Ilhas, e considerando que somente existem dois AL na Quadrantes no Funchal, um na
Quadrantes em Faro e dois no Hospital Espírito Santo em Évora de acordo com (Oliveira &
Trigo, 2013), verifica-se que 45% dos AL estão na Zona de Lisboa e Vale do Tejo, rácio que
se repete para os equipamentos de braquiterapia, considerando as 4 unidades na Zona de
Lisboa comparativamente ao total de 9 instaladas em Portugal Continental, pois à data do
estudo não existiam equipamentos instalados nas ilhas.
Tabela 12: Valor atribuído por tratamento: Braquiterapia intracavitária com agulha.
Descrição Tipo Códigos
Contabilisticos
Valor atribuído
(Portaria
207/2017
de 11-Julho)(*)
Nº de
Fracções
(**)
Dose/
Fracção
(**)
TC de Simulação Simulação 45200 0,00 € 5 6 Gy
BT Plan Dos Conf 3D Planeamento 45270 0,00 € 5 6 Gy
BT intracavitária Tratamento 45300
ou 45310 256,49 € 5 6 Gy
TOTAL = 256,49 € /tratamento
(*) (Portaria No 207/2017 de 11 de Julho, Diário da República, No 132 - I Série, 2017).
(**) Nº de Fracções e Dose/Fracção conforme (Banerjee & Kamrava, 2014).
45
Tabela 13: Equipamento – Estimativa de custos de aquisição (IMPIC, 2019).
Descrição Vida
Esperada Custo de aquisição
Custo por ano
Equip. de pós carregamento remoto de fonte de alta taxa de dose
vida útil aprox 10 anos
145 000,00 € 14 500,00 €
Mesa radiotransparente de braquiterapia
vida útil aprox 10 anos
20 000,00 € 2 000,00 €
Ecógrafo 3D vida útil aprox 10 anos
93 700,00 € 9 370,00 €
Sistema de planeamento computorizado para braquiterapia
vida útil aprox 10 anos
18 000,00 € 1 800,00 €
TC para verificação (2% utilização para braquiterapia)
vida útil aprox 10 anos
500 000,00 € 1 000,00 €
Total = 776 700,00 € 28 670,00 €
Nº tratamentos/ ano
caso A = 200 (*) 143,35 €
Nº tratamentos/ ano caso B =
400 (*) 71,68 €
(*) Por tratamento.
Tabela 14: Equipamento – Estimativa de custo para a manutenção (IMPIC, 2019).
Descrição Prazo Custo ano S/ IVA
Equip. de pós carregamento remoto para fonte de alta taxa de dose
12 meses 12 500,00 €
Mesa radiotransparente de braquiterapia 12 meses 1 900,00 €
4x Fontes de Irídio-192 12 meses 24 000,00 €
Ecógrafo 3D (**) 12 meses 3 000,00 €
TC 32 cortes (utilização aprox. 2%) 12 meses 500,00 €
Sistema de planeamento 3D 12 meses n.d.
Total = 41 900,00 €
Nº tratamentos/ ano caso A =
200 (*) 209,50 €
Nº tratamentos/ ano caso B =
400 (*) 104,75 €
(*) Por tratamento; n.d. – Não disponível.
(**) O ecógrafo é utilizado para guiar a colocação de agulhas e aplicadores no doente.
Período de Manutenção: dias úteis 09h00 às 18h00; Substituição de peça no máximo 48 horas;
Tempo de resposta no local para Manutenção Correctiva: 12 horas; e Disponibilidade = 95%.
46
Tabela 15: Recursos Humanos por tratamento conforme cálculos no Anexo 9, no âmbito do cancro do colo do útero.
Profissional Salário Mensal (com todos os
encargos)
Tempo horas Procedimento
Custo/hora (Euros)
Custo Total (Euros)
Horas anuais de trabalho
1 Físico-Médico (1) 2 359,44 € 1 15,52 € 15,52 € 1824
1 Enfermeiro(a) (2) 2 046,08 € 1 15,38 € 15,38 € 1596
1 TSDT para CT (2) 2 211,36 € 0,25 16,63 € 4,16 € 1596
1 Médico Anestesista (1) 3 992,00 € 1 26,26 € 26,26 € 1824
1 Radioncologista (1) 3 992,00 € 1 26,26 € 26,26 € 1824
Total = 87,59 € (*)
(*) Por tratamento.
(1): O custo hora do profissional considerando 250 dias úteis/ano com 22 dias úteis de
férias e 8 horas de trabalho por dia, total de 1824 horas/ano = (250-22) dias/ano x 8 horas/dia.
(2): O custo hora do profissional considerando 250 dias úteis/ano com 22 dias de férias
e 7 horas de trabalho por dia, total de 1596 horas/ano = (250-22) dias/ano x 7 horas/dia.
Legenda: TSDT - Técnico Superior de Diagnóstico e Terapêutica.
Tabela 16: Acessórios para intracavitário (estimativa de custos).
Acessórios 6F, 150cm Set
Vida Esperada Custo (**) Custo
unitário Afectação
Conjunto aplicador de anel 60º ou 45º CT/RM
vida útil aprox. 2 anos
18 008,78 € 9 004,39 €
[1] Por unidade/ano
Tubo transferência ginecológico (3 tubos)
vida útil aprox. 10 anos
3 894,95 € 389,50 €
[2] Por unidade/ano
Total / ano =
9 393,89 €
(*) ([1]+[2])/ nº tratamento
Nº tratamentos
ginecológicos /ano caso A = 40 234,85 € (*)
Nº tratamentos
ginecológicos /ano caso B = 80 117,42 € (*)
(*) Por tratamento.
(**) (IMPIC, 2019)
47
Tabela 17: Acessórios para intracavitário com agulha (estimativa de custos).
Descrição Vida Esperada Custo (**) Custo
unitário Afectação
Conjunto aplicador intersticial ring CT/RM
vida útil - aprox. 2 anos 18 978,22 € 9 489,11 € [1]
Por unidade/ano
Tubo transferência ginecológico (3 tubos)
vida útil - aprox. 10 anos 3 894,95 € 389,50 € [2]
Por unidade/ano
Agulhas Proguide 6F 294mm Sharp (5 unidades)
descartável 400,00 € 80,00 € [3]
Por doente
Nº tratamentos Intracavitários
com agulha/ano caso A = 40 326,97 € (*) Custo por
tratamento
Nº tratamentos Intracavitários com agulha/ano caso B =
80 203,48 € (*) Custo por tratamento
(*) {([1]+[2])/Nº trat}+[3]; (**) (IMPIC, 2019)
Tabela 18: Braquiterapia Intracavitária – Estimativa vs Valores atribuídos do SNS.
Caso de Estudo Estimativa de
Custos por tratamento
Valores atribuídos do SNS
por tratamento
Diferença (%)
Caso A 675,29 € 256,49 € -163 %
Caso B 381,44 € 256,49 € -49 %
Tabela 19: Braquiterapia Intracavitária com agulha – Estimativa vs Valores atribuídos do SNS.
Caso de Estudo Estimativa de
Custos por tratamento
Valores atribuídos do SNS
por tratamento
Diferença (%)
Caso A 767,41 € 256,49 € -199 %
Caso B 467,50 € 256,49 € -82 %
Para a braquiterapia intracavitária apresenta-se a Tabela 20 e a Figura 14 sendo
possível observar o break even point, ou ponto de equilíbrio, para 140 tratamentos, 20% do
total de 700 tratamentos de um Centro de Braquiterapia.
Para a braquiterapia intracavitária com agulhas apresenta-se a Tabela 21 e a Figura
15 sendo possível observar que o break even point se obtém para 270 tratamentos, 20% do
total de 1350 tratamentos de um Centro de Braquiterapia.
48
Tabela 20: Break even point para tratamentos de Braquiterapia Intracavitária
(*) Valor atribuído do SNS por tratamento = 256,49 €
Figura 14: Break even point para número de tratamentos tipo intracavitário
Tabela 21: Break even point para tratamentos de Braquiterapia Intracavitária com agulha
(*) Valor atribuído do SNS por tratamento = 256,49 €
Nº Tratamentos Nº Trat. (20%) Manutenção Recursos Consumíveis TOTAL Diferença
por ano da patologia Equipamento Humanos Reutilizáveis por tratamento TOTAL-SNS*
200 40 143,35 € 209,50 € 87,59 € 234,85 € 675,29 € 418,80 €
400 80 71,68 € 104,75 € 87,59 € 117,42 € 381,44 € 124,95 €
695 139 41,25 € 60,29 € 87,59 € 67,58 € 256,71 € 0,22 €
700 140 40,96 € 59,86 € 87,59 € 67,10 € 255,50 € 0,99 €-
705 141 40,67 € 59,43 € 87,59 € 66,62 € 254,31 € 2,18 €-
Estimativa de Custos por Tratamento
Equipamento
€-
€0,20
€0,40
€0,60
€0,80
€1,00
€1,20
138 139 140 141
Dife
ren
ça
entr
e v
alo
res
Estim
ado
s e
SN
S
Nº Tratamentos
Break Even PointTratamento Intracavitário
Nº Trat. Nº Trat. (20%) Equipamento Manutenção Recursos Consumíveis Consumíveis TOTAL Diferença
por ano da patologia Equipamento Humanos Reutilizáveis Descartáveis por tratamento TOTAL-SNS*
200 40 143,35 € 209,50 € 87,59 € 246,97 € 80,00 € 767,41 € 510,92 €
400 80 71,68 € 104,75 € 87,59 € 123,48 € 80,00 € 467,50 € 211,01 €
1345 269 21,32 € 31,15 € 87,59 € 36,72 € 80,00 € 256,78 € 0,29 €
1350 270 21,24 € 31,04 € 87,59 € 36,59 € 80,00 € 256,45 € 0,04 €-
Estimativa de custos por tratamento
49
Figura 15: Break even point para número de tratamentos tipo intracavitário com agulha
7.2. Discussão
Na pesquisa de bases de dados nacionais não foi possível encontrar de forma clara e
padronizada os custos envolvidos na aquisição de consumíveis e equipamentos, e a sua
aplicação ao nível dos cuidados de saúde (exemplo: quantos tratamentos podem ser
efectuados com a aquisição de X isótopos radioactivos).
Este estudo não considerou os custos directos relacionados com a segurança e
controlo de qualidade (monitor de área, dosímetro de leitura directa, câmara poço, etc)
imprescindíveis para a execução da técnica de tratamento e, que não foram encontrados nas
bases de dados pesquisadas. Também não foram considerados os custos indirectos
associados à utilização do espaço e de facilidades operacionais, tais como: água,
electricidade, AVAC&R, transporte e/ou estadia de doentes quando necessário.
Considerando os valores apresentados nas Tabelas 18 e 19 e comparando as
estimativas dos casos A e B com os valores atribuídos do SNS para as duas técnicas de
braquiterapia intracavitária, é perceptível de uma forma simples que o valor atribuído por
tratamento está subestimado e que há necessidade de se avaliar a optimização de recursos,
especialmente dos equipamentos instalados com vida útil de 10 anos, afim de se desenvolver
maior experiência em centros de referência e reduzir os custos por tratamento.
€-
€0,05
€0,10
€0,15
€0,20
€0,25
269 270 271
Difere
nça e
ntr
e v
alo
res
Estim
ado
s e
SN
S
Nº Tratamentos
Break Even PointTratamento Intracavitário com agulha
50
Para os valores apresentados nas Tabelas 20 e 21 e graficamente através das Figuras
14 e 15, é percetível que o break even point para o número de tratamentos intracavitários é
de 140 e para o caso intracavitário com agulha é de 270 tratamentos, requerendo dum Centro
de Braquiterapia uma produção diária de aproximadamente 3 ou de 6 tratamentos
respectivamente, para garantir os 20% de tratamentos da patologia em estudo e break even
points mencionados.
51
Capítulo 8
Conclusões e Trabalhos Futuros
8.1. Conclusões
O trabalho realizado pretende dar resposta ao objectivo proposto no Capítulo 1.
O custo associado aos profissionais pode vir a ser reduzido com o aumento de
experiência da equipa na realização de todas as etapas que envolve a técnica. O aumento da
experiência técnica dos profissionais normalmente tem como consequência o aumento da
eficiência e eficácia na utilização da técnica e redução do tempo durante todo o processo de
sua execução, desde a inserção do material até o tratamento.
Nota-se uma grande assimetria na localização dos recursos de tratamento e
localização geográfica onde há maior predominância de cancros que se beneficiaria com a
técnica estudada.
Os custos dos tratamentos podem ser reduzidos com um estudo mais aprofundado
para optimização de recursos existentes nos centros de referência.
8.2. Trabalhos Futuros
Considerando a importância do tema abordado, e a pertinência do mesmo no âmbito
do custo da saúde e do respectivo valor para o doente, propõe-se para trabalhos futuros as
seguintes avaliações a nível nacional, nas instituições públicas e privadas, no formato de:
- Elaboração de inquéritos aos serviços de Radioterapia para avaliação de custos
associados à técnica de tratamento, e materiais na Área da Braquiterapia, devendo ser
considerados:
• Os processos de tratamento administrativo geral e clínico (protocolos
instituídos por patologia);
52
• Os tempos dos recursos humanos por patologia (enfermagem, médicos,
físicos, técnicos de equipamento e outros);
• Os consumíveis clínicos por patologia; e
• Os equipamentos utilizados, respectivo custo de aquisição/instalação,
manutenção e operação (energia e outros).
- Elaboração de inquéritos para avaliação de casos tratados com braquiterapia e
resposta ao tratamento, exemplo: sobrevida livre de doença e qualidade de vida.
53
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55
Anexo 1. Radiação, Grandezas e Unidades
A medição da radiação é muito importante em qualquer uso médico da radiação, seja
para diagnóstico ou tratamento da doença. No diagnóstico, a avaliação da qualidade da
imagem para diagnósticos fidedignos e a optimização da imagem para obter a melhor
qualidade de imagem possível com a menor dose de radiação possível para o doente, são
processos essenciais que contribuem de modo a minimizar o risco de morbidade induzida
pela radiação. Na Radioterapia, a dose prescrita deve ser administrada com exactidão e
precisão para maximizar a probabilidade de controlo do tumor (PCT) e minimizar a
probabilidade de complicação do tecido normal (PCNT). Sendo no último, o risco de
morbidade inclui efeitos agudos da radiação (lesão por radiação), bem como efeitos tardios,
como indução do cancro e danos genéticos.
Várias grandezas e unidades foram introduzidas com o objectivo de quantificar a
radiação e as mais importantes estão listadas na Tabela 20. Também estão listadas na Tabela
20 as definições para as várias grandezas. Apresenta-se ainda a relação entre as unidades
antigas e as unidades SI para algumas das grandezas:
• A exposição (X) está relacionada a capacidade dos fotões ionizarem o ar. A
unidade antiga é o roentgen (R) sendo definida como a carga de 2,58 × 10−4 C de
qualquer sinal produzido por quilograma de ar.
• Kerma (K) (acrónimo de Kinetic energy released in matter) é a energia cinética
libertada na matéria, estando definido para radiações ionizantes indirectas (fotões
e neutrões) como, a energia (1 J) transferida para partículas carregadas por unidade
de massa (kg) do meio absorvedor.
• A dose absorvida (D) é uma grandeza física que não considera os efeitos
biológicos/químicos da energia absorvida, e define-se como a energia absorvida
por unidade de massa do meio absorvente. A sua unidade SI denomina-se Gray
(Gy) sendo definida como 1 Joule (J) de energia absorvida por quilograma (kg) de
meio absorvente.
• Dose equivalente (HT) é definida como a dose absorvida multiplicada por um factor
de ponderação de radiação wR. A unidade SI de dose equivalente é o sievert (Sv).
56
• Dose efectiva (E) é definida como a dose equivalente multiplicada por um factor de
ponderação tecidular wT. A unidade SI é J/kg, denominada sievert (Sv).
• A actividade (A) de uma substância radioactiva é definida como o número de
decaimentos nucleares por tempo. A unidade SI de Actividade é becquerel (Bq) e
correspondente a uma desintegração por segundo.
Tabela 22: Radiação: Grandezas, Unidades e Conversões.
Grandeza Definição Unidades SI
Exposição X 𝑋 =
Δ𝑄
Δ𝑚𝑎𝑟 2,58 ×
10−4𝐶
𝑘𝑔 𝑎𝑟
Kerma K 𝐾 =
Δ𝐸𝑡𝑟
Δ𝑚 1 𝐺𝑦 = 1
𝐽
𝑘𝑔
Dose absorvida D 𝐷 =
Δ𝐸𝑎𝑏
Δ𝑚 1 𝐺𝑦 = 1
𝐽
𝑘𝑔
Dose Equivalente HT 𝐻𝑇 = 𝐷. 𝑤𝑅 1 𝑆𝑣
Dose Efectiva E 𝐸 = 𝐻𝑇 . 𝑤𝑇 1 𝑆𝑣
Actividade A 𝐴 = 𝜆. 𝑁 1 𝐵𝑞 = 1 𝑠−1
Considerando:
Q – Carga do sinal recolhido
mar – Massa do ar
Etr – Energia transferida das partículas de ionização indirecta às partículas carregadas no
absorvedor
Eab – Energia Absorvida
m – Massa do meio
wR – Factor de ponderação da radiação
wT – Factor de ponderação tecidular ou tissue weighting factor do tecido ou órgão T
– Constante de decaimento
N – Número de átomos radioactivos
Gy – gray
Sv – sievert
Bq – becquerel (1 Bq = 1 decaimento/segundo)
57
As unidades röntgen (R) para a Exposição, rad para Dose Absorvida, rem para Dose
Equivalente e curie (Ci) para Actividade já não são utilizadas tendo sido substituídas por
unidades SI. Apresenta-se a seguir as conversões para estas unidades:
1 Gy = 100 rad com 1 rad = 0,01 J s-1
1 Sv = 100 rem
1 Ci = 3,7 x 1010 s-1 = 3,7 x 1010 Bq
De acordo com (Jr et al., 2007), é utilizada a dose equivalente para considerar o “dano
potencial” de diferentes radiações, conforme Tabela 21 infra. Por exemplo, 1 Gy (1 J/kg) de
radiação alfa é 20 vezes potencialmente mais de risco que 1 Gy de radiação gama. Portanto,
1 J/kg (unidade física) de dose absorvida gama corresponde a 1 Sv de dose equivalente, e 1
J/kg (unidade física) de dose absorvida alfa corresponde a 20 Sv de dose equivalente.
Tabela 23: Fatores de ponderação da radiação recomendados.
Tipo de Radiação Factor de ponderação da radiação wR
Fotões 1
Electrões 1
Protões 2
Partículas Alfa 20
Neutrões É uma função contínua da energia de
neutrões
Nota: Todos os valores estão relacionados com a radiação incidente no corpo ou, para
fontes internas de radiação, emitidos pelo(s) radionuclídeo(s) incorporado(s).
58
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59
Anexo 2. Isótopos mais Comuns
Tabela 24: Isótopos mais comuns.
Símbolo Elemento Isótopo Radiação
(emissão principal) t1/2
Semivida* HVL**
(mm Pb)
P Fósforo (Phosphorus) P-32 beta 14,26 dias -
Ru Ruténio Ru-106 beta 373,6 dias -
Co Cobalto Co-60 gama 5,271 anos 11
Sr Estrôncio (Strontium) Sr-90 beta 28,79 anos -
Y Ítrio Y-90 beta 28,79 anos -
Pd Paládio Pd-103 raios-X 16,99 dias 0,008
Rh Ródio Rh-106 beta 373,6 dias -
I Iodo Iodo-125 raios-X 59,41 dias 0,025
Cs Césio Césio-137 gama 30,07 anos 5,5
Ir Irídio Ir-192 gama 73,83 dias 2,5
Au Ouro (Aurum) Au-198 gama 2,695 dias 2,5
alfa = (núcleos de Hélio duplamente ionizados: He2+);
beta = (electrões); ;
gama = (ondas electromagnéticas). . (*) t1/2 = semivida ou período de semi-desintegração: intervalo de tempo necessário para o número de núcleos radioactivos se reduzir a metade. Considerando a constante de decaimento radioactivo λ (lambda) como a probabilidade de um núcleo radioactivo decair por unidade de tempo então t1/2 calcula-se da seguinte forma:
(**) Half-Value Layer (HVL) - Espessura do material em que 50% da radiação incidente é atenuada.
Considerando o coeficiente de atenuação linear (miú) a então HVL calcula-se da seguinte forma:
𝑡1/2 = log 2/𝜆 ≃ 0,693/𝜆
𝐻𝑉𝐿 = 0,693/𝜇
60
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61
Anexo 3. Estadiamento do Cancro
O estadiamento do cancro é o processo para determinar a extensão do cancro no
corpo e respectiva localização. O estadiamento descreve a severidade da doença num
indivíduo com base na dimensão do tumor original (primário) e na dispersão do cancro no
corpo. A compreensão do estadio do cancro ajuda os médicos a elaborar o prognóstico e a
propôr um plano de tratamento para cada doente. Ainda, o estadiamento fornece uma
linguagem comum à comunidade médica para uma comunicação eficaz sobre o cancro de
cada doente e possibilitando em conjunto definirem as melhores opções de tratamento. A
compreensão do estadio do cancro também é fundamental para identificar ensaios clínicos
que possam ser apropriados para doentes específicos. (American Joint Commitee on Cancer,
2019)
Existem quatro tipos diferentes de estadiamento (American Joint Commitee on Cancer,
2019):
1. O estadiamento clínico determina a quantidade de cancro baseada no exame
físico, nos exames de imagem e nas biópsias das áreas afectadas.
2. O estadiamento patológico só pode ser determinado para doentes que foram
submetidos a cirurgia para remover o tumor ou para identificar a extensão do
cancro. O estadiamento patológico combina os resultados do estadiamento clínico
(exame físico, teste de imagem) com os resultados cirúrgicos.
3. O estadiamento da terapêutica após terapêutica ou após terapêutica neo-
adjuvante determina a dimensão do cancro restante após o doente ter feito o
primeiro tratamento sistémico (quimioterapia ou terapia hormonal) e/ou
Radioterapia antes da cirurgia, ou até no caso de não cirurgia. Esta avaliação pode
ser efectuada através de directrizes clinicas e/ou directrizes da patologia.
4. O re-estadiamento é utilizado para avaliar a extensão da doença no caso de
reincidência do cancro após tratamento. O re-estadiamento ajuda a determinar as
melhores opções de tratamento para o cancro reincidente.
Os sistemas de estadiamento têm elementos comuns e baseiam-se no conhecimento
comumente entendido sobre a maneira como o cancro se desenvolve e se espalha no corpo.
62
Na maioria dos casos, o estádio é baseado em quatro factores (American Joint Commitee on
Cancer, 2019):
1. Localização do tumor primário (original);
2. Tamanho do tumor e extensão dos tumores;
3. Envolvimento linfonodal (independentemente do cancro se ter espalhado ou não
para os nódulos linfáticos mais próximos);
4. Presença ou ausência de metástases afastadas (independentemente do cancro se
ter espalhado ou não para outras partes afastadas no corpo).
Para o estadiamento os médicos necessitam de recolher dados sobre o cancro. A
informação necessária provém de vários testes usados para o estadiamento de vários tipos
de cancro.
Estes testes podem incluir (American Joint Commitee on Cancer, 2019):
• Exames físicos que podem fornecer pistas sobre a extensão do cancro. O exame
físico pode determinar a localização e o tamanho do(s) tumor(s) e fornecer
informações adicionais sobre se o cancro se espalhou para os gânglios linfáticos
e/ou para outros órgãos.
• Testes de imagem, como raios-X, tomografia computorizada (TC) e ressonância
magnética (RM), podem mostrar a localização do cancro, o tamanho do tumor e se
o cancro se disseminou para outros órgãos.
• Testes de laboratório que fornecem informações sobre sangue, urina e outros
fluidos e tecidos removidos do corpo após biópsia.
• Relatórios de patologia que podem fornecer informações sobre o tamanho do
tumor, o crescimento deste noutros tecidos e órgãos, o tipo de células cancerígenas
e o grau do tumor (similaridade entre as células cancerígenas e as células do tecido
normal). Os relatórios de patologia frequentemente confirmam o diagnóstico de
cancro, bem como o estadio.
63
• Os relatórios cirúrgicos das amostras removidas durante a cirurgia podem
determinar o tipo e extensão da infiltração do tumor e fornecer informações sobre o
envolvimento de gânglios linfáticos e órgãos.
O sistema de estadiamento TNM foi desenvolvido e é mantido por American Joint
Committee on Cancer (AJCC) e por Union for International Cancer Control (UICC). É o sistema
de estadiamento mais usado por profissionais médicos em todo o mundo. O sistema de
classificação TNM foi desenvolvido como uma ferramenta para os médicos definirem o estadio
de diferentes tipos de cancro com base em certos critérios padronizados.
O sistema de estadiamento TNM baseia-se na extensão do tumor (T), na extensão da
disseminação para os gânglios linfáticos ou lymph nodes (N) e na presença de metástases
(M).
A categoria “T” descreve o tumor original (primário):
TX – O tumor primário não pode ser avaliado;
T0 – Não há evidência de tumor primário;
Tis – Carcinoma in situ (cancro no estadio inicial que não se espalhou para o tecido
vizinho);
T1-T4 – Tamanho e/ou extensão do tumor primário.
Os estadios T1 e T2 significam que o tumor está localizado.
Os estadios T3 e T4 significam que o tumor está localmente avançado.
A categoria “N” descreve se o cancro atingiu ou não os gânglios linfáticos na
vizinhança:
NX – Não é possível avaliar os gânglios linfáticos locais;
N0 – Os gânglios linfáticos locais não foram envolvidos (ausência de cancro nos
gânglios linfáticos);
N1-N3 – Os gânglios linfáticos locais foram envolvidos (número e/ou extensão da
disseminação).
A categoria “M” informa se existem metástases distantes (propagação do cancro para
outras partes do corpo):
M0 - Sem metástases distantes (o cancro não se espalhou para outras partes do
corpo);
M1 - Metástase distante (o cancro espalhou-se para partes distantes do corpo)
64
Como cada tipo de cancro tem seu próprio sistema de classificação, letras e números
nem sempre significam a mesma coisa para todos os tipos de cancro. Uma vez que T, N e M
são determinados, estes são combinados sendo atribuído um estadio geral de 0, I, II, III, IV.
Às vezes, esses estadios também são subdivididos, usando letras como IIIA e IIIB
(American Joint Commitee on Cancer, 2019).
Classificação para estadiamento geral (CUF Instituto de Oncologia, 2017):
Estadio 0 - O cancro não ultrapassou a membrana basal, considerando-se in situ, ou
seja está confinado no seu sítio, não invadiu tecidos próximos (na
verdade, ainda não cumpre critério de "malignidade");
Estadio I - O cancro invadiu a submucosa ou a muscular;
Estadio II - O cancro invadiu a serosa ou órgãos vizinhos;
Estadio III - O cancro invadiu gânglios linfáticos circundantes ou na vizinhança do
órgão;
Estadio IV - O cancro metastizou para órgãos distantes do tumor primário.
Na Figura 14 apresenta-se um exemplo do estadiamento geral.
Figura 16: Exemplo de estadiamento do cancro da bexiga (Ajithkumar & Hatcher, 2011).
Legenda da Figura 14:
Urotélio - Camada tecidual (epitélio) que recobre grande parte do tracto urinário,
incluindo a pelve renal, os ureteres, a bexiga urinária e partes da uretra.
Lâmina própria - Fina camada de tecido conjuntivo que faz parte da mucosa.
Peritónio - Membrana serosa, a maior do corpo, transparente e que recobre tanto a
parede abdominal como as vísceras.
65
Anexo 4. Equipamentos de Imagiologia
O diagnóstico do cancro frequentemente requer estudos de imagem que, em muitos
casos, usam pequenas quantidades de radiação. Procedimentos como raios-X; tomografia
computadorizada (TC); ressonância magnética (MR); tomografia por emissão de positrões
(PET) e tomografia computadorizada de emissão de fotões (SPECT) são importantes na
tomada de decisão clínica, incluindo terapia e acompanhamento. Apresenta-se a seguir os
métodos de imagem baseados nos raios-X, na TC, e na RM.
Os raios-X descobertos por Roentgen em 1895 foram utilizados no primeiro sistema
de imagem médica para diagnóstico. A radiação de raios-X é absorvida de modo diferente
pelos tecidos, dependendo da densidade destes. Devido à predominância do efeito
fotoeléctrico, os raios-X da ordem de kV são mais atenuados pelo osso, produzindo grande
contraste destas estruturas com os outros tecidos. A semelhança das densidades dos tecidos
moles adjacentes dentro do corpo é uma limitação para este sistema de imagem, sendo uma
técnica de imagem importante para tecidos de maior densidade, a exemplo do tecido ósseo,
contudo de difícil aplicação para patologias dos tecidos moles.
Actualmente os equipamentos convencionais de raios-X estão a ser progressivamente
substituídos por outros usando tecnologia digital de menores custos e com mais valia na
redução de dose para o doente.
Em 1973 Hounsfield ganhou o Prémio Nobel pela participação no desenvolvimento da
Tomografia Computorizada ou TC (no inglês CT, Computorized Tomography) que faz uso de
raios-X emitidos por uma ampola num movimento circular e perpendicular ao organismo,
permitindo adquirir dados tridimensionais que processados por computador produzem
secções tomográficas (cortes) de áreas específicas do corpo. Este sistema fornece uma
melhor imagem das patologias dos tecidos moles.
Actualmente existem vários tipos de aparelhos de TC, diferem no tipo de ampola que
emite os raios-X, com as características dos detectores, dos conjuntos ampola detectores, e
com o movimento da mesa. Uma rotação pode ser inferior a um segundo e a reconstrução da
imagem é quase instantaneamente. Este tipo de equipamento permite o estudo de "cortes"
ou secções transversais do corpo humano que a radiologia convencional não consegue
porque apresenta todas as estruturas do corpo sobrepostas. Assim, na TC é obtida uma
imagem com maior resolução espacial permitindo uma maior distinção entre tecidos
66
adjacentes, contudo a dose de radiação ionizante é maior para o doente, em particular pela
forma cumulativa.
Os princípios da ressonância magnética ou RM (no inglês MR, Magnetic Resonance)
foram descritos por Bloch e Purcell em 1946 contudo a sua aplicação na Medicina só foi
iniciada em 1971 por Damadian, e Lauterbur e Mansfield foram galardoados com o Prémio
Nobel de Medicina e Fisiologia em 2003 pelas suas descobertas e contributos neste domínio.
A RM consiste numa técnica de imagem não invasiva que utiliza um campo magnético
de 0,5 Tesla a 7 Tesla produzido por um íman supercondutor imerso em hélio líquido, ondas
de radiofrequência e um sistema computorizado para adquirir imagens detalhadas dos órgãos
internos do corpo humano. Esta técnica permite uma melhor visualização dos tecidos moles,
possibilitando a análise de aspectos morfológicos, anatómicos e funcionais, com a vantagem
de não utilizar radiação ionizante e desconhecerem-se quaisquer efeitos nocivos resultantes
da sua aplicação no doente.
Na RM a aquisição de imagem é obtida à custa da interacção com os átomos de
hidrogénio que constituem o corpo humano, estes quando são submetidos a um campo
magnético forte alinham-se com o campo e rodam em torno do seu eixo num movimento
semelhante a um pião (movimento de precessão). Este movimento será tanto maior quanto
maior for a magnitude do campo magnético. Quando uma radiação electromagnética é emita,
à mesma frequência da precessão dos hidrogeniões, estes podem absorver a energia desta
radiação e rodar, invertendo a direcção e ficando alinhados no sentido oposto ao campo
magnético. Quando se desliga a corrente geradora de radiofrequência os átomos deixam de
se mover e voltam à posição inicial, fornecendo informação sobre os tecidos da área que está
a ser estudada. Caso seja importante evidenciar algumas estruturas poderá haver
necessidade de administração de agentes de contraste, por via oral ou endovenosa.
O pós processamento dos dados obtidos permite a reconstrução das imagens que
podem ser fornecidas nos diferentes planos: axial, coronal e sagital. Os tecidos respondem
de modo diferente às ondas de radiofrequência enviadas e produzem diferenças nos sinais
recolhidos pelas antenas, que são a base da informação de interesse para o diagnóstico,
podendo-se diferenciar os tecidos com patologias dos normais (Penedo, 2013).
67
Anexo 5. Unidade de Cobalto
Em 1951 o físico medico canadiano Harold Elford Johns (1915-1998) foi pioneiro no
uso de Cobalto-60 (60Co) como fonte de raios gama para o tratamento de Radioterapia, tendo
representado um passo importante na obtenção de fotões de alta energia acima de 1 MeV,
fotões de "megavoltagem". À data, os meios electrónicos de produção de fotões a partir de
tubos de raios-X de alta energia eram limitados a 300 keV no máximo por causa do arco
eléctrico nos potenciais de aceleração mais altos. Para produzir potenciais acima de 300 keV
eram necessários aceleradores de partículas específicos como por exemplo: Betatrons e
aceleradores de Van de Graaff.
As unidades de Radioterapia externa de Cobalto-60 apresentam características
importantes que lhes permitem funcionar nas regiões do globo com recursos mais limitados,
quer de infraestrutura operacional quer financeiros, pois são equipamentos que apresentam
um custo mais baixo e um design relativamente simples, e menores requisitos para o normal
ambiente operacional, em comparação com os aceleradores lineares. Contudo, estas
unidades apresentam a desvantagem de utilizarem fontes seladas de 60Co que requerem uma
substituição periódica a cada 5 a 7 anos, pois a fonte decai com uma meia-vida de 5,263 anos,
e quando a taxa de dose baixa para 1 Gy/min os tempos de tratamento podem ser excessivos
ficando comprometido o efeito radiobiológico para a eficácia do tratamento. Em cada
transformação um núcleo de 60Co decai para 60Ni, com emissão imediata de dois raios gama
com energias de 1,17 MeV e 1,33 MeV cada. A actividade típica é de 2,22 × 1014 Bq a 3,33
× 1014 Bq para taxas de dose de aproximadamente 2 Gy/min a 3 Gy/min e variam de 80 cm a
100 cm da fonte.
Numa das configurações mais comuns de unidades de Radioterapia externa de
Cobalto-60 a fonte é armazenada na cabeça blindada da máquina, montada na extremidade
de um pistão móvel dum cilindro ou num eixo horizontal, conforme mostra a figura 15. No
início do tratamento, a fonte é movida para uma posição sobre uma abertura no escudo que
permite a emissão de um feixe de tratamento. Um colimador consistindo de barras
intercaladas de um material de número atómico Z elevado é usado para definir o tamanho do
campo à medida que o feixe atravessa a abertura na blindagem com o descerramento da
porta do “cofre”. O tamanho máximo do campo é de 35 cm × 35 cm a 80 cm ou 100 cm da
fonte. Uma luz é usada para delinear as dimensões do campo de radiação. Em termos de
segurança o sistema está projectado para a fonte recolher automaticamente para o “cofre” no
caso do término do tratamento ou no caso de falha do dispositivo. Ainda, existe uma barra de
68
pressão de emergência (barra T) para a fonte regressar manualmente à blindagem do “cofre”,
caso seja necessário. (Dieterich et al., 2016)
Figura 17: [A] Unidade de Cobalto-60 típica, a fonte move-se da posição blindada (Off) para uma posição não blindada (On) para produzir um feixe de raios-gama para tratamento. [B] Equipamento Co-60, Best Theratronics, Ltd., Otava, Ontário, Canadá (Bourland, 2016).
Um equipamento com fontes de Co-60 muito utilizado para tratamentos de radio cirurgia de
crânio é o modelo Gamma Knife da Elekta. Actualmente este equipamento utiliza 192 fontes
de Co-60 (Bhatnagar et al., 2009).
69
Anexo 6. LINAC
Os aceleradores lineares, vulgo LINAC (Linear Particle Accelerator), são capazes de
emitir múltiplas energias de electrões e fotões, sendo seleccionada a mais adequada para
cada tratamento. Estes equipamentos trabalham com taxas de dose absorvidas mais
elevadas que as unidades de Cobalto-60, obtendo-se assim uma redução nos tempos de
tratamento (Serreta, 2012).
A Figura 16 mostra a fotografia de um LINAC Oncor da Siemens e a Figura 17 um
colimador multi-lâminas, parte integrante da cabeça do braço do acelerador linear (Gantry).
Figura 18: LINAC Oncor (SIEMENS, 2009).
Figura 19: Colimador Multi-Lâminas modelo 160 MLC (SIEMENS, 2010).
Seguidamente, a Tabela 23 lista os sistemas usuais dum acelerador linear, e depois a
Figura 18 mostra um diagrama esquemático das diferentes partes que compõem um
acelerador.
Resumidamente, o canhão de electrões injecta os electrões na secção de aceleração
onde está localizado a guia de ondas do LINAC. Esta secção também recebe as microondas
produzidas no sistema gerador de radiofrequência de alta potência, sendo estas que aceleram
os electrões. Para isso, o modulador fornece pulsos de alta frequência ao canhão e ao gerador
de radiofrequência de forma síncrona. Os pulsos fornecidos ao canhão são da ordem de 15 a
45 kV, enquanto os fornecidos ao gerador de radiofrequência são de cerca de 120 kV (Serreta,
2012).
70
Tabela 25: Sistemas de um LINAC.
Tipo de Sistema Descrição
Sistema de injecção de electrões Canhão de electrões fornece os electrões
para o guia de onda.
Magnetron ou Klystron Utilizados na produção de campos de alta
potência de RF de microondas(~106 MHz).
Modulador de pulso Fornecer pulso de alta tensão e curta
duração para ser aplicado a Magnetron ou
Klystron e, no canhão de electrões.
Sistema de transporte/ monitorização do
feixe
Guia de ondas acelerador para acelerar os
electrões/ câmara de ionização.
Sistemas auxiliares Bomba de vácuo, circuito de água fria,
sintonizador de rádio-frequência (RF), gás
pressurizado para o dieléctrico de
transmissão RF, blindagem de RF e outros.
Sistema de segurança para bloqueio /
Safety interlock system
Sistemas de bloqueio de hardware e de
software.
Sistema de feedback controlado por
computador
Câmara de monitorização, encoders de
posição físicos, micro-switches limitadores
Colimador do feixe / Sistema de aplicação Colimadores de mandíbula (Jaw collimators)
colimadores multi-lâminas (MLC – Multi-Leaf
Collimator), colimadores micro multi-lâminas
(mMLC – micro Multi-Leaf Collimator).
Figura 20: Diagrama esquemático de um LINAC adaptado de (Saeed, 2016).
71
O hexafluoreto de enxofre (SF6) é usado no guia de onda de alimentação (que conecta
o Klystron à parte principal do LINAC), para parar os arcos eléctricos causados pelas
microondas que criam cargas eléctricas fortes. De notar que o SF6 isola o tubo acelerador e
tem alta rigidez dieléctrica.
Depois, o feixe de electrões é guiado para os colimadores através de um campo
magnético na cabeça do LINAC, que desvia o feixe 90º ou 270º da sua direcção original, como
mostra a Figura 18 para o segundo caso.
A seguir, se o tratamento utiliza feixe de fotões, o feixe de electrões incide num alvo
para produzir raios-X e então passa por um filtro aplanador e câmara de ionização para
monitorização do feixe, até passar pelos colimadores que dão a forma desejada para
tratamento.
Relativamente às técnicas usuais de tratamento, geralmente estas são feitas com uma
distância foco-isocentro ou uma distância fonte-superfície de 100 cm, moldando os feixes com
blocos de liga ou com colimadores multi-lâminas. Porém, para tratar certas patologias, existem
outras técnicas menos comuns, como irradiação total do corpo (TBI - Total Body Irradiation),
irradiação total da superfície de pele (TSEI - Total Skin Electron Irradiation), Radioterapia
intraoperatória (IORT - Intraoperative Radiotherapy), Radioterapia estereotáxica, radiocirurgia
e Radioterapia de intensidade modulada (IMRT - Intensity-Modulated Radiotherapy) (Serreta,
2012).
72
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73
Anexo 7. Braquiterapia - Layout
Figura 21: Planta típica da sala de tratamento e controle de braquiterapia HDR, adaptado do documento (IAEA, 2015).
74
A Figura 19, na página anterior, mostra a planta de uma sala de controlo e de
tratamento blindada, com uma parede de betão armado equivalente a 4 cm de chumbo
conforme recomendado por (IAEA, 2015). No entanto, a espessura precisa e a concepção da
protecção dependerão do design da sala, da carga de trabalho e dos regulamentos locais.
Por razões de segurança, a sala de tratamento deve ter um cofre para a fonte no caso
do equipamento de pós carregamento falhar a recuperação da fonte, e uma pinça de cabo
longo para o manuseamento desta. Na instalação deve ainda existir detectores portáteis de
radiação e instruções para situação de emergência (IAEA, 2015).
Figura 22: Layout típico para a Área da Braquiterapia, baseado no documento (IAEA, 2015).
A Figura 20 mostra um layout típico para a Área da Braquiterapia no qual é considerado
uma sala de procedimento de enfermagem, uma sala para o tratamento e adjacente a esta o
controlo, uma sala de recobro para o pós tratamento, muito importante no tratamento em
75
ambulatório, uma sala de CT ou RM, um armazém de material clínico e a sala de espera para
os doentes e respectivos acompanhantes com chamada iminente. Depois da linha vermelha
somente profissionais com acesso autorizado devem estar no local. Ainda, o bunker não tem
porta, sendo bastante o labirinto para garantir a protecção radiológica, com a vantagem de
manter um acesso rápido ao doente, e um espaço mais limpo.
Quanto à configuração do layout, é possível considerar três opções principais de
arranjo da Área de Braquiterapia como unidade de HDR sumarizadas na Tabela 24: (1) sala
de tratamento para a unidade, e partilha das salas de procedimento, utilizando um bloco
operatório (BO), e de imagem com recurso às salas de CT ou RM do Serviço de Imagiologia,
reduzindo a eficiência e comprometendo a imobilização do sistema aplicador; (2) sala de
tratamento com possibilidade de procedimento (anestesia) com características de BO
(esterilização) para inserção do sistema aplicador, mantendo-se a desvantagem do transporte
do doente para fazer imagem noutro serviço, obrigando ainda a deslocação da anestesiologia
e da cirurgia; (3) situação integrada com sala de tratamento com imagem e possibilidade de
procedimento, sendo esta a opção mais eficiente em termos de fluxo da actividade clínica, e
mais eficaz para garantir o posicionamento do aplicador, pois não requer o transporte do
doente entre várias salas, que inclusive podem não estar no mesmo piso da instalação.
Tabela 26: Organização e procedimentos da sala de braquiterapia HDR (IAEA, 2015).
Procedimento Opção 1 Opção 2 Opção 3
Anestesia Sala de procedimento
Sala de tratamento
Sala integrada
Inserção do aplicador
Sala de procedimento
Sala de tratamento
Sala integrada
Imagem Sala de TC/RM (imagem)
Sala de TC/RM (imagem)
Sala integrada
Tratamento Sala de tratamento
Sala de tratamento
Sala integrada
Remoção do aplicador
Sala de tratamento ou Sala de procedimento
Sala de tratamento
Sala integrada
Recuperação do doente
Recobro Recobro Recobro
76
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77
Anexo 8. Estudo de Materiais e Consumíveis Utilizados nas
Patologias Submetidas à Braquiterapia HDR
Tabela 27: Materiais consumíveis utilizados nas patologias submetidas à braquiterapia HDR.
(*) (Portaria No 207/2017 de 11 de Julho, Diário da República, No 132 - I Série, 2017)
(**) Os custos estimados de aquisição são baseados na consulta da plataforma electrónica
Portal BASE: Contratos públicos online - http://www.base.gov.pt/Base/pt/Pesquisa/ que se
destina a divulgar informação pública sobre os contratos públicos sujeitos ao regime do
Código dos Contratos Públicos (CCP)
Seguidamente são apresentadas imagens de alguns materiais utilizados nas
patologias submetidas à braquiterapia HDR nas Figuras 21, 23 e 25. Na Figura 22 é
apresentado um exemplo de planeamento ginecológico de braquiterapia HDR, e na Figura 24
a aplicação de dois cateteres nos brônquios. As figuras 26 e 27 mostram tratamentos, mama
e próstata, respectivamente.
Tubo vaginal 1.750,00 2anos
Conjunto 4 cilindros de 30 mm 891,00 2 anos
Conjunto aplicador vaginal TC/RM 21.350,52 2 anos
Barra perineal 1.750,00 2 anos
Tubo transferência ginecológico (3 tubos) 3.894,95 10 anos
Conjunto marcadores radiopaco (3 tubos) 3.894,95 10 anos
Conjunto aplicador de anel 60º CT/RM 18.008,78 2anos
Conjunto aplicador de anel 45º CT/RM 18.008,78 2anos
Conjunto aplicador intersticial ring CT/RM 18.978,22 2anos
Agulhas Proguide 6F 294mm Sharp (5 unidades) 400,00 descartável
Tubo transferência ginecológico (3 tubos) 3.894,95 10 anos
Tubo transferência para agulhas 4F ou 6F 10-18 (9 tubos) 1.471,08 10 anos
Tubo transferência para agulhas 4F ou 6F 1-9 (9 tubos) 2.946,44 10 anos
Agulhas (36 unidades) 4.260,17 descartável
Cateter para braquiterapia endoluminal (20 unidades) 2.732,00 descartável
Cateters radiopacos lumencath 6F, L=150 cm (2 packs c/ 5 unid.) 1.366,00 descartável
Cateter radiopaco L=150 (089510) 3.527,70 10 anos
Guide Wire, I=260 cm 75,00 descartável
Conector metálico não disponível 10 anos
Conjunto aplicador superfícial de pele 7.890,30 5 anos
Tubo transferência para agulhas Flex 6F 1-9 (9 tubos) 1.950,04 10 anos
Tubo transferência para agulhas Flex 6F 10-18 (9 tubos) 1.197,34 10 anos
Tubo transferência para agulhas 4F ou 6F 10-18 (9 tubos) 1.471,08 10 anos
Tubo transferência para agulhas 4F ou 6F 1-9 (9 tubos) 2.946,44 10 anos
Agulhas (165 unidades) 4.598,35 descartável
Código Tratamento
Portaria 207/2017 de 11-Julho (*)
MATERIAL
Descrição UtilizaçãoCusto estimado
de aquisição (**)
45325
Intersticial complexa
(próstata)
45325
Intersticial complexa
(mama ou outro implante multi-planar)
45327
Endoluminal
(brônquios)
45345
Plesioterapia
(pele)
45300
Intracavitário simples
(ginecológico)
45310
Intracavitário complexo
(ginecológico)
78
Figura 23: Exemplo de aplicador ginecológico intersticial, constituído de sonda, anel e agulhas flexíveis (Karlsson, Thunberg, With, Mordhorst, & Persliden, 2017).
Figura 24: Distribuição de dose típica de braquiterapia ginecológica com sonda intersticial e anel, planos axial, sagital e coronal (Chapman, Ohri, Showalter, & Doyle, 2013).
79
Figura 25: Exemplo de aplicador ginecológico tipo cilindro.
Figura 26: Exemplo de braquiterapia endobronquica com inserção de dois cateteres (Fijuth, 2009).
Figura 27: Material para aplicação endobronquica. Acedido em 29-09-2019 em https://www.elekta.com/brachytherapy/bronchus-and-esophagus/.
80
Figura 28: Braquiterapia intersticial de mama - tratamento (Nirpendra, Singh, Sharma, Opendra, & Patton, 2017).
Figura 29: Braquiterapia de próstata - tratamento (Prada, 2016).
81
Anexo 9. Cálculo do Custo dos Recursos Humanos
Tabela 28: Cálculo do custo dos Recursos Humanos.
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