Avaliação da Resistência de Microrganismos Patogênicos
à Desinfecção Sequencial com Ozônio-Radiação
Ultravioleta e Cloro-Radiação ultravioleta
Juliana Lourenção
Dissertação apresentada à Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Engenharia Hidráulica e Saneamento.
ORIENTADOR: Luiz Antonio Daniel
São Carlos
2009
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Ficha catalográfica preparada pela Seção de Tratamento da Informação do Serviço de Biblioteca – EESC/USP
Lourenção, Juliana L892a Avaliação da resistência de microrganismos patogênicos
à desinfecção seqüencial com ozônio-radiação ultravioleta e cloro-radiação ultravioleta / Juliana Lourenção ; orientador Luiz Antonio Daniel. –- São Carlos, 2009.
Dissertação (Mestrado-Programa de Pós-Graduação e Área
de Concentração em Hidráulica e Saneamento) –- Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, 2009.
1. Desinfecção seqüencial. 2. Desinfecção de águas
residuárias. 3. Esgotos sanitários. 4. Cloro. 5. Ozônio. 6. Radiação ultravioleta. 7. Escherichia coli. 8. Coliformes totais. 9. Clostridium perfringens. I. Título.
Dedico este trabalho aos meus pais, Nadir e César, por
todo amor doado e por sempre apoiarem e
incentivarem o meu crescimento acadêmico, e aos
meus futuros e já queridos filhos.
Agradecimentos
Agradecer é uma maneira de
exteriorizar a sensação de satisfação
por ter tido apoio para trilhar um
caminho difícil, que exigiu esforço,
dedicação e responsabilidade.
Não vivemos sozinhos, precisamos uns dos outros, e posso
garantir que uma construção por mais simples e pequena
que seja, quando realizada em conjunto, com auxílio
técnico e emocional, o objeto construído tem mais valor,
tem vida, tem consistência.
O resultado dessa construção permitiu semear uma
sementinha rica em vontade de projetar construções
maiores.
AGRADEÇO:
A Deus e seus mensageiros por sempre iluminarem e orientarem a minha vida.
Ao Prof. Dr. Luiz Antonio Daniel pela reconhecida orientação prestada para a
realização deste trabalho, professor que eu tenho muito respeito e admiração.
Aos professores Silvia Cláudia Povinelli, Clovis Wesley Oliveira de Souza, Marcelo
Zaiat, Jurandyr Povinelli, Roque Passos Piveli pelas sugestões para melhorar a dissertação da
qualificação até a defesa e pela disponibilidade por participar das bancas realizadas para a
construção dessa dissertação.
À Escola de Engenharia de São Carlos, em especial ao Departamento de Engenharia
Hidráulica e Saneamento pela oportunidade de realização do curso de mestrado e por
disponibilizar-me área experimental e suporte laboratorial.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pela concessão
da bolsa de mestrado.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo apoio financeiro para
a realização desta pesquisa (processo 07/08499-3).
Ao Alcino pela ajuda tão prestimosa na manutenção dos equipamentos usados.
Agradecimentos
ii
Aos amigos e “professores” que me ajudaram a superar as minhas dificuldades
conceituais: Rafael Ceribelli, Renata Barreira, Théo Syrto, Ricardo Oliveira, Ana Flávia
Pontes, André Pioltine, Bruna Moraes, Aline Tavares e Camila Tolledo.
À Natalia Fischer, Jaqueline Almeida, Gabriel Sacchi, Gustavo Silva, Glaucio de
Souza, Raphael Medeiros e Renata Pereira pela companhia e cooperação prestadas durante a
fase laboratorial.
À Glauce Guimarães por todo suporte técnico laboratorial prestado.
Aos laboratoristas do laboratório de saneamento: Júlio Trofino, Paulo Fragiácomo e
Juliana.
À Rosemeire Aparecida de Jesus (Rose) e Maria Auxiliadora de C. Altieri Pin (Sá)
por toda atenção prestada.
Aos funcionários e professores do Departamento de Engenharia Hidráulica e
Saneamento da USP- São Carlos- pela seriedade, profissionalismo, respeito e por terem me
fornecido a oportunidade de me dedicar e aprender um pouco sobre saneamento.
Aos funcionários e professores do Instituto Oceanográfico da USP - São Paulo- que
conquistaram a minha amizade, incentivaram esta pesquisa e me ajudaram a valorizar este
trabalho em especial Luz Amélia Vega Pérez e Maysa Pompeu.
Agradeço também ao Moysés Gonsalez Tessler, Márcia Caruso Bícego, Aparecida
Antunes da Silva (Cidinha), José Aparecido Teixeira (Cido), Raimunda de Almeida Santos
(Ray), Maria de Jesus Pureza, Claudinha Pires, Evaldo de Almeida Pessoa, Laura do Rosário
Marcolino, André Blumer Bezerra que sempre me acolheram, me ouviram e acompanharam o
meu crescimento.
Às minhas amigas que estiveram presentes em pensamento durante toda a realização
desta dissertação: Lilian Amado Marconato, Louise Franco de Oliveira, Ana Cecília
Albergaria Rizzatti, Darien Danielle Mizuta e, em memória, Karina Bisaio.
Aos meus pais Cesar e Nadir, aos meus irmãos Giovana e Gil por tentarem ter
paciência comigo.
Ao Fernando Matias pelo carinho e amor doados, compartilhados e tão necessários
para a manutenção do meu equilíbrio emocional.
Desculpo-me por não colocar o nome de todos que se preocuparam e se importaram
comigo durante o mestrado, tenho por todas as pessoas que passaram comigo por esta fase
toda a minha admiração.
Sumário
i
Sumário
Lista de Figuras .................................................................................................... v
Lista de Tabelas.................................................................................................viii
Lista de Abreviaturas e Siglas............................................................................xi
Resumo ...............................................................................................................xiii
Abstract ..............................................................................................................xiv
1 Introdução......................................................................................................... 1
2 Objetivos ........................................................................................................... 3
2.1 Objetivo principal..........................................................................................................3
2.2 Objetivos específicos .....................................................................................................3
3 Revisão Bibliográfica ....................................................................................... 4
3.1 Controle de microrganismos.......................................................................................4
3.1.1 Condições que influenciam a ação antimicrobiana ..............................................4
3.2 Doenças - relacionadas à poluição fecal.....................................................................6
3.3 Microrganismos Indicadores de poluição fecal ..........................................................8
3.3.1 Coliformes totais ................................................................................................10
3.3.1.1 Escherichia coli...........................................................................................10
3.3.2 Clostridium perfringens......................................................................................11
3.4 Desinfecção ..............................................................................................................11
3.4.1 Características desejáveis para um desinfetante.................................................13
3.5 Desinfetantes ............................................................................................................16
3.5.1 Cloro ...................................................................................................................17
3.5.1.1 História do cloro..........................................................................................17
3.5.1.2 Aplicação do cloro no tratamento de efluentes ...........................................18
3.5.1.3 Mecanismos de desinfecção com cloro.......................................................22
3.5.2 Ozônio ................................................................................................................22
3.5.2.1 História ........................................................................................................22
3.5.2.2 Usos do ozônio............................................................................................23
Sumário
ii
3.5.2.3 Geração do Ozônio......................................................................................24
3.5.2.4 Mecanismos de Decomposição do Ozônio .................................................25
3.5.2.5 Inativação de bactérias ................................................................................28
3.5.2.6 Comparação do Ozônio com o Cloro..........................................................29
3.5.3 Radiação UV.......................................................................................................30
3.5.3.1 Mecanismos de desinfecção com radiação UV...........................................31
3.5.3.1.1 Razão biológica da letalidade .................................................................31
3.5.3.2 Recuperação de microrganismos irradiados por radiação UV....................32
3.5.3.3 Fatores interferentes na eficácia da desinfecção com UV...........................33
3.6 Cinética de desinfecção ............................................................................................33
3.6.1 Cinética de desinfecção com cloro .....................................................................34
3.6.2 Cinética de desinfecção com radiação UV.........................................................37
3.6.3 Cinética de desinfecção com ozônio ..................................................................39
4 Material e Métodos ........................................................................................ 41
4.1 Ensaios de desinfecção com cloro seguido de radiação UV ....................................41
4.1.1 Fase I – Ensaios de desinfecção com cloro ........................................................41
4.1.2 Fase II - Ensaios de desinfecção com radiação ultravioleta ...............................43
4.2 Ensaio de desinfecção com ozônio seguido de radiação UV ...................................45
4.2.1 Fase I – Ensaios de desinfecção com ozônio......................................................46
4.2.1.1 Quantificação do ozônio .............................................................................48
4.2.1.2 Calibração do Gerador de Ozônio...............................................................49
4.2.1.3 Balanço de massa do ozônio dissolvido na fase líquida .............................51
4.2.2 Fase II - Ensaios de desinfecção com radiação UV............................................54
4.3 Exames microbiológicos...........................................................................................54
4.3.1 Exames para determinação de Clostridium perfringens.....................................54
4.3.1.1 Preparação da água de diluição ...................................................................56
4.3.1.2 Preparação dos meios de cultura para Clostridium perfringens..................56
4.3.1.2.1 Meio diferencial enriquecido para Clostrídios (DRCM)........................56
4.3.1.2.2 Meio de leite tornasssolado ....................................................................57
4.3.1.3 Preparação de Soluções de citrato férrico amoniacal verde a 7% e sulfito de
sódio 4% 57
4.3.1.4 Execução do ensaio .....................................................................................57
4.3.1.4.1 Exame presuntivo ...................................................................................58
Sumário
iii
4.3.1.4.1.1 Leitura da fase presuntiva ................................................................59 4.3.1.4.2 Exame confirmativo ...............................................................................60
4.3.1.4.2.1 Leitura da fase confirmativa ............................................................60 4.3.1.5 Cálculo do Número Mais Provável .............................................................61
4.3.2 Exames para determinação de coliformes totais e Escherichia coli...................63
4.3.2.1 Preparação do meio de cultura Chromocult® .............................................63
4.3.2.2 Preparação das diluições .............................................................................64
4.3.2.3 Execução do ensaio .....................................................................................64
4.3.2.4 Leitura .........................................................................................................65
5 Resultados e Discussão...................................................................................68
5.1 Ensaios de desinfecção com cloro seguido de radiação ultravioleta ........................68
5.1.1 pH .......................................................................................................................74
5.1.2 DQO ...................................................................................................................76
5.1.3 Sólidos Totais .....................................................................................................80
5.1.4 Sólidos Suspensos Totais ...................................................................................81
5.1.5 Nitrogênio amoniacal, pH e Temperatura ..........................................................82
5.1.6 Cinética do cloro.................................................................................................84
5.1.6.1 Inativação de C. perfringens e coliformes totais na desinfecção somente
com cloro 84
5.1.6.2 Inativação de C. perfringens e coliformes totais na desinfecção sequencial
de cloro seguido de UV ................................................................................................85
5.1.6.3 Variação da Inativação dos microrganismos em relação ao tempo de
contato com o cloro ......................................................................................................90
5.1.6.3.1 C. perfringens .........................................................................................90
5.1.6.3.2 Coliformes totais ....................................................................................91
5.1.6.4 Relação entre inativação de microrganismos indicadores e SST................92
5.2 Calibração do gerador de ozônio ..............................................................................94
5.3 Balanço de massa obtido nos ensaios com ozônio ...................................................97
5.4 Ensaios de desinfecção com ozônio seguido de radiação ultravioleta .....................98
5.4.1 pH .....................................................................................................................104
5.4.2 DQO .................................................................................................................105
5.4.3 Sólidos Totais ...................................................................................................107
5.4.4 Sólidos Suspensos Totais .................................................................................108
5.4.5 Cinética de desinfecção com ozônio ................................................................109
Sumário
iv
5.4.5.1 Inativação de C. perfringens, coliformes totais e E. coli na desinfecção
somente com ozônio ...................................................................................................109
5.4.5.2 Inativação de C. perfringens, coliformes totais e E. coli na desinfecção
sequencial 111
5.4.5.3 Influência do tempo de contato com ozônio na inativação de C. perfringens,
coliformes totais e E. coli. ..........................................................................................117
5.4.5.4 Influência dos sólidos suspensos totais na inativação dos microrganismos
indicadores..................................................................................................................121
5.5 Discussão dos resultados comparando os efeitos do cloro e do ozônio sobre o
efluente do reator UASB ....................................................................................................124
5.5.1 pH .....................................................................................................................124
5.5.2 DQO .................................................................................................................124
5.5.3 Sólidos ..............................................................................................................125
5.5.4 Desinfecção ......................................................................................................125
5.5.4.1 Desinfecção Convencional........................................................................125
5.5.4.2 Desinfecção sequencial .............................................................................126
5.6 Limitações para a quantificação de coliformes totais e E. coli ..............................127
6 Conclusões..................................................................................................... 128
7 Sugestões ....................................................................................................... 129
8 Bibliografia ...................................................................................................130
9 Apêndice A....................................................................................................136
9.1 Titulação Iodométrica.............................................................................................136
Lista de Figuras
v
Lista de Figuras
Figura 3.1: Distribuição do ácido hipocloroso e do íon hipoclorito em água, em diferentes
valores de pH e temperatura. ....................................................................................................19
Figura 3.2: Lei de Chick e desvios. ..........................................................................................36
Figura 4.1: Ilustração do reator usado na desinfecção com radiação UV. ...............................43
Figura 4.2: Localização dos pontos de medição da radiação UV no reator .............................44
Figura 4.3: Esquema da unidade piloto utilizada nos ensaios de ozonização. .........................46
Figura 4.4: Representação do volume de controle para obtenção do balanço de ozônio (linha
tracejada). .................................................................................................................................52
Figura 4.5: Figura ilustrativa dos tubos de DRCM ..................................................................59
Figura 4.6: Tubos positivos e negativos de C. perfringens ......................................................60
Figura 4.7: Representação do crescimento de colônias no meio Chromocult Coliform Agar®
..................................................................................................................................................66
Figura 5.1- Variação do pH com a aplicação de cloro. ............................................................74
Figura 5.2- Variação do pH com a aplicação de cloro .............................................................75
Figura 5.3: Variação da DQO no efluente bruto e no efluente clorado nos ensaios de
desinfecção com cloro. .............................................................................................................76
Figura 5.4: Interferência do cloreto na determinação da DQO da amostra clorada................78
Figura 5.5: Valores de DQO do efluente do reator UASB para diferentes concentrações de
Sulfato de mercúrio. .................................................................................................................78
Figura 5.6: Valores de DQO para a amostra desinfetada com cloro em diferentes
concentrações de sulfato de mercúrio.......................................................................................79
Figura 5.7: Variação dos Sólidos Totais nos ensaios de cloro/UV ..........................................80
Figura 5.8: Variação dos Sólidos Suspensos Totais nos ensaios de cloro/UV.........................81
Figura 5.9: Variação do Nitrogênio amoniacal para a amostra de efluente bruto (EB) e do
efluente clorado (EC). ..............................................................................................................83
Figura 5.10: Inativação do C. perfringens e c. totais na desinfecção com cloro para os
modelos de Hom e Watson respectivamente............................................................................84
Figura 5.11: Inativação de C. perfringens, E. coli e coliformes totais para os ensaios de
desinfecção sequencial - cloro seguido de UV (I-A), e para a desinfecção apenas com UV...86
Figura 5.12: Inativação de C. perfringens e coliformes totais nos ensaios II e III...................87
Figura 5.13: Inativação de C. perfringens e coliformes totais nos ensaios IV, V e VI. ...........88
Figura 5.14: Inativação de C. perfringens e coliformes totais nos ensaios VII e VIII. ............89
Lista de Figuras
vi
Figura 5.15: Influência do tempo de contato do cloro na inativação de C. perfringens na
desinfecção sequencial com cloro seguido de radiação UV.....................................................90
Figura 5.16: Influência do tempo de contato do cloro na inativação de coliformes totais na
desinfecção sequencial com cloro seguido de radiação UV.....................................................92
Figura 5.17: Relação entre SST e a remoção de C. perfringens para as doses de UV estudadas.
..................................................................................................................................................94
Figura 5.18: Relação entre SST e a remoção de coliformes totais para as doses de UV
estudadas...................................................................................................................................94
Figura 5.19: Curvas de calibração para a relação entre a produção de ozônio (g O3/h) e a
vazão de gás (L/h). ...................................................................................................................96
Figura 5.20: Variação do pH para os ensaios de ozonização. ................................................104
Figura 5.21: Variação da DQO nos ensaios de desinfecção com ozônio. ..............................105
Figura 5.22: Relação entre a massa de DQO removida (DQOr) e a massa de ozônio
consumido...............................................................................................................................106
Figura 5.23: Variação dos Sólidos Totais nos ensaios de ozonização. .................................107
Figura 5.24: Variação dos Sólidos Suspensos Totais nos ensaios de ozônio/UV. .................109
Figura 5.25: Inativação de C. perfringens na desinfecção somente com ozônio. .................110
Figura 5.26: Inativação de coliformes totais na desinfecção com ozônio somente................110
Figura 5.27: Inativação de E. coli na desinfecção somente com ozônio. ...............................111
Figura 5.28: Inativação de C. perfringens, coliformes totais e E. coli no ensaio de desinfecção
sequencial de ozônio seguido de UV (0-A) e somente UV (0-B). .........................................112
Figura 5.29: Inativação de C. perfringens, coliformes totais e E. coli na desinfecção
sequencial de ozônio seguido de UV para a dose os experimentos I, II, III-A e III-B, para a
dose de 5,6 mgO3/L. ...............................................................................................................113
Figura 5.30: Inativação de C. perfringens, coliformes totais e E. coli para desinfecção
sequencial de ozônio seguido de radiação UV para os ensaios IV, V-A; V-B e VI...............114
Figura 5.31: Inativação de C. perfringens, coliformes totais e E. coli nos ensaios de
desinfecção sequencial de ozônio seguido de UV para os experimentos VII, VIII e IX. ......115
Figura 5.32: Influência do tempo de contato do ozônio na inativação do C. perfringens para
desinfecção sequencial de ozônio seguido de UV..................................................................118
Figura 5.33: Influência do tempo de contato com ozônio na inativação de coliformes totais na
desinfecção sequencial de ozônio seguido de UV..................................................................119
Figura 5.34: Influência do tempo de contato do ozônio na inativação de E. coli na
desinfecção sequencial de ozônio seguido de UV..................................................................120
Lista de Figuras
vii
Figura 5.35: Inativação de C. perfringens relacionando SST para doses de UV estudadas. 123
Figura 5.36: Inativação de coliformes totais relacionando SST para doses de UV estudadas.
................................................................................................................................................123
Figura 5.37: Inativação de E. coli relacionando SST para doses de UV estudadas. ..............124
Figura 5.38: Membrana com colônias de coliformes totais envolvidas por sólidos...............127
Lista de Tabelas
viii
Lista de Tabelas Tabela 3.1: Doenças potencialmente relacionadas à água contaminada ....................................7
Tabela 3.2: Principais microrganismos que têm sido propostos para serem usados como
indicadores..................................................................................................................................9
Tabela 3.3: Algumas características dos desinfetantes usados no presente trabalho ...............15
Tabela 3.4: Compostos orgânicos e seus produtos quando clorados (WATER, 2007)............20
Tabela 3.5: Algumas propriedades do ozônio. .........................................................................23
Tabela 3.6: Iniciadores, promotores e inibidores do ozônio.....................................................27
Tabela 3.7: Reação do ozônio com compostos orgânicos. .......................................................28
Tabela 4.1: Configuração dos experimentos de desinfecção com cloro seguido de UV..........42
Tabela 4.2: Configuração dos experimentos de desinfecção com ozônio seguido de UV.......48
Tabela 4.3: Valores de ozônio consumido e tempo de contato para se determinar CT............54
Tabela 4.4: Composição do meio diferencial enriquecido para Clostridium. ..........................56
Tabela 4.5: NMP e limites de confiança de 95% para várias combinações de resultados
positivos, quando são utilizado cinco tubos por diluição e inóculos de 10 mL, 1 mL e 0,1 mL
(APHA, 1998)...........................................................................................................................62
Tabela 4.6: Métodos analíticos, exames, análises e equipamentos empregados nos ensaios de
desinfecção. ..............................................................................................................................66
Tabela 4.7: Equações de cinética de inativação de microrganismos exploradas no presente
trabalho: ....................................................................................................................................67
Tabela 5.1: Alguns parâmetros de caracterização do esgoto bruto ao reator UASB e efluente a
esse reator (PASSIG, 2005)......................................................................................................68
Tabela 5.2: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento I....69
Tabela 5.3: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento II. .70
Tabela 5.4: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento III. 70
Tabela 5.5: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento IV. 71
Tabela 5.6: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento V. .71
Tabela 5.7: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento VI. 72
Tabela 5.8: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento VII.
..................................................................................................................................................72
Tabela 5.9: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento VIII.
..................................................................................................................................................73
Lista de Tabelas
ix
Tabela 5.10: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento IX.
..................................................................................................................................................73
Tabela 5.11: Análise estatística dos valores de pH do ensaio de cloração...............................75
Tabela 5.12: Análise estatística do Efluente Bruto e do clorado para a DQO. ........................76
Tabela 5.13: Análise estatística do efluente bruto e do efluente clorado para ST....................80
Tabela 5.14: Análise estatística dos SST do efluente bruto e do efluente clorado...................82
Tabela 5.15: Variação do pH, temperatura, N-NH3 para efluente bruto (EB) e clorado (EC). 83
Tabela 5.16: Valores dos parâmetros cinéticos obtidos nos ensaios de desinfecção com cloro-
UV para C. perfringens. ...........................................................................................................89
Tabela 5.17: Valores dos parâmetros cinéticos obtidos nos ensaios de desinfecção com cloro-
UV para coliformes totais.........................................................................................................89
Tabela 5.18: Valores dos parâmetros cinéticos obtidos nos ensaios de desinfecção com cloro e
UV para E. coli. ........................................................................................................................90
Tabela 5.19: Valores de absorbância, Im, dose recebida de UV e os respectivos tempos de
contato da radiação UV. ...........................................................................................................93
Tabela 5.20: Produção do gerador de ozônio em função da vazão de gás e de tensão elétrica.
..................................................................................................................................................95
Tabela 5.21: Valores de Produção, dosagens e tempos de contato usados. .............................97
Tabela 5.22: Resultados do balanço de massa obtido nos ensaios com ozônio. ......................97
Tabela 5.23: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento 0. 98
Tabela 5.24: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento I..99
Tabela 5.25: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento II.99
Tabela 5.26: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento III-
A. ............................................................................................................................................100
Tabela 5.27: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento III-
B. ............................................................................................................................................100
Tabela 5.28: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento IV.
................................................................................................................................................101
Tabela 5.29: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento V-
A. ............................................................................................................................................101
Tabela 5.30: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento V-B.
................................................................................................................................................102
Tabela 5.31: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento VI.
................................................................................................................................................102
Lista de Tabelas
x
Tabela 5.32: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento VII.
................................................................................................................................................103
Tabela 5.33: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento VIII.
................................................................................................................................................103
Tabela 5.34: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento IX.
................................................................................................................................................104
Tabela 5.35: Resumo estatístico dos valores de pH de todos os experimentos de desinfecção
com ozônio. ............................................................................................................................105
Tabela 5.36: Análise estatística do Efluente Bruto e do ozonizado para a DQO. .................107
Tabela 5.37: Análise estatística do efluente bruto e do efluente ozonizado para ST. ............108
Tabela 5.38: Análise estatística dos SST do efluente bruto e do efluente ozonizado. ...........109
Tabela 5.39: Parâmetros cinéticos obtidos nos ensaios de desinfecção seqüencial ozônio-UV
para C. perfringens. ................................................................................................................116
Tabela 5.40: Parâmetros cinéticos obtidos nos ensaios de desinfecção seqüencial ozônio-UV
para coliformes totais..............................................................................................................116
Tabela 5.41: Valores dos parâmetros cinéticos obtidos nos ensaios de desinfecção seqüencial
de ozônio-UV para E. coli. .....................................................................................................117
Tabela 5.42: Valores de absorbância a 254nm, Im, dose de UV e tempo de contato dos
experimentos de desinfecção com ozônio seguido de UV. ....................................................122
Lista de Abreviaturas e Siglas
xi
Lista de Abreviaturas e Siglas
α: Coeficiente empírico
β: Coeficiente empírico
λ: Comprimento de onda
Abs: Absorbância
AMP: Adenosina monofosfato
APHA: American Public Health Association
ATP: Adenosina Trifosfato
AWWA: American Water Works Association
CT: Concentração de desinfetante x tempo de contato, [M].[L-3].[T]
C: Concentração de Ozônio Consumido, [M]. [L-3]
CETESB: Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
Cp: Clostridium perfringens
Ctotais: Coliformes Totais
DBO: Demanda Bioquímica de Oxigênio, [M]. [L-3]
DNA: Ácido Desoxirribonucléico
DQO: Demanda Química de Oxigênio, [M]. [L-3]
Dr: Dose de radiação UV recebida
DRCM: Differential Reinforced Clostridial Medium (Meio enriquecido para
determinação de clostrídios)
E.c: Escherichia coli
EB: Efluente anaeróbio Bruto
EC: Efluente anaeróbio Clorado
EESC: Escola de Engenharia de São Carlos
Ef (%): Eficiência de remoção
EO: Efluente anaeróbio Ozonizado
ETE: Estação de Tratamento de Esgoto
EUV(i): Efluente anaeróbio submetido à radiação UV, o índice i refere-se à
primeira, segunda e terceira dose de UV
I: Intensidade de energia de radiação UV (mW/cm²)
Im: Intensidade média de radiação UV (mW/cm²)
Io: Intensidade de radiação emitida pela fonte (mW/cm²)
Lista de Abreviaturas e Siglas
xii
K: Constante de decaimento, [T-1]
LATAR: Laboratório de Tratamento Avançado e Reuso de Águas
m: Coeficiente empírico
MA: Massa de Ozônio Aplicada, [M]
Moff-gas: Massa de Ozônio no Off-gas, [M]
MR: Massa de Ozônio Residual, [M]
MT: Massa de Ozônio Transferida, [M]
n: Coeficiente de diluição
N: Concentração de microrganismos após tempo t
Nm: Número de organismos não associados à matéria particulada
NMP: Número Mais Provável
No: Concentração inicial de microrganismos
Np: Número de organismos associados à matéria particulada, não afetada pela
radiação UV
[O3]off-gas: Concentração de Ozônio no Off-gas, [M].[L-3]
[O3]R: Concentração de Ozônio Residual, [M].[L-3]
P: Produção de Ozônio
Q: Vazão de Ozônio, [L-3]. [T-1]
RNA: Ácido Ribonucléico
SST: Sólidos Suspensos Totais, [M]. [L-3]
ST: Sólidos Totais, [M]. [L-3]
t: Tempo de contato, [T]
T: Temperatura, ºC
UASB: Upflow Anaerobic Sludge Blanket/ reator anaeróbio de fluxo ascendente
com manta de lodo
UFC: Unidades Formadoras de Colônia
USEPA: U.S. Environmental Protection Agency
USP: Universidade de São Paulo
UV: Ultravioleta
WEF: Water Environmental Federation
WERF: Water Environmental Research Foudation
Resumo
xiii
Resumo LOURENÇÃO, J. (2009). Avaliação da Resistência de Microrganismos Patogênicos à
Desinfecção Sequencial com Ozônio-Radiação Ultravioleta e Cloro-Radiação Ultravioleta.
São Carlos, 2009. 141p. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo.
A remoção de microrganismos patogênicos através da desinfecção é uma necessidade para
diminuir a incidência de doenças na população humana relacionadas com poluição fecal. A
desinfecção sequencial tem grande potencial na remoção de microrganismos, quando
comparada com a desinfecção convencional (um desinfetante). Neste trabalho buscou-se
comparar a resistência de microrganismos indicadores de bactérias - E. coli e coliformes totais
- e bactérias esporuladas - Clostridium perfringens quanto à desinfecção sequencial
empregando cloro seguido de radiação ultravioleta e ozônio seguido de radiação ultravioleta;
e à desinfecção convencional utilizando-se os mesmos desinfetantes aplicados
individualmente em esgoto sanitário tratado previamente em reator UASB. Os ensaios foram
realizados em batelada. As dosagens de cloro aplicadas foram de 10, 20 e 30 mgCl2/L; de
ozônio foram de 5,6; 11 e 16,5 mgO3/L, ambos para os tempos de contato 10, 20 e 30
minutos. Na desinfecção sequencial com cloro foram aplicadas as doses de 1, 5 e 10 Wh/m3
de radiação UV; com ozônio, as doses de radiação foram variadas de 0,5 a 10 Wh/m³. Na
desinfecção sequencial de cloro-UV, foram removidos 2,5 e 5,2 log de C. perfringens e
coliformes totais, respectivamente contra 1,5 e 4,2 log na desinfecção convencional para os
mesmos microrganismos. Na desinfecção com cloro, a ordem decrescente de resistência foi:
C. perfringens> coliformes totais> E. coli. Para ozônio seguido de UV, C. perfringens
apresentou maior resistência e, em alguns ensaios, E. coli apresentou-se mais resistente que
coliformes totais. A ação do ozônio mostrou-se notável para a melhoria da qualidade do
esgoto tratado avaliada pela diminuição das concentrações de sólidos suspensos totais, sólidos
totais, absorbância em comprimento de onda de 254 nm e da DQO, diferentemente do esgoto
clorado no qual ocorreu o aumento nos valores destas variáveis físico-químicas. A ação da
radiação ultravioleta foi potencializada quando aplicada sequencialmente ao cloro e ao
ozônio.
Palavras-chave: Desinfecção sequencial, esgoto sanitário, cloro, ozônio, radiação ultravioleta,
Escherichia coli, coliformes totais, Clostridium perfringens.
Abstract
xiv
Abstract LOURENÇÃO, J. (2009). Resistance Evaluation of Pathogenic Microorganisms to
Sequential Disinfection with Ozone- Ultraviolet Radiation and Chlorine- Ultraviolet
Radiation. São Carlos, 2009. 141p. Master’s Degree Dissertation – Escola de Engenharia de
São Carlos, Universidade de São Paulo.
The removal of pathogenic microorganisms through disinfection is a necessity to decrease the
incidence of diseases in the human population related to fecal pollution. Sequential
disinfection has a great potential on the removal of microorganisms when compared to
conventional disinfection (single disinfectant). This work compared the resistance of
indicators microorganisms of bacteria – E. coli and total coliforms – and spore-forming
bacteria – Clostridium perfringens concerning the sequential and conventional disinfections.
The sequential disinfection initially employed chlorine followed by ultraviolet radiation and
ozone followed by ultraviolet radiation. The conventional disinfection utilized the same
disinfectants individually applied in sanitary sewage previously treated in UASB reactor. The
tests were made in batch. The chlorine dosages applied were 10, 20 and 30 mgCl2/L; ozone
were 5,6; 11 and 16,5 mgO3/L, both for the contact times 10, 20 and 30 minutes. In the
sequential disinfection with chlorine dosages of 1, 5 and 10 Wh/m3 of UV radiation were
applied; with ozone, the dosages of radiation varied from 0,5 to 10 Wh/m³. In the sequential
disinfection with UV-chlorine were inactived 2,5 and 5,2 log of C. perfringens and total
coliforms respectively, against 1,5 and 4,2 log in the conventional disinfection for the same
microorganisms. In the chlorine disinfection, the decreasing resistance order was: C.
perfringens> total coliforms> E. coli. In the ozone disinfection followed by UV, C.
perfringens manifested more resistance and, in some assays, E. coli was more resistant than
total coliforms. The action of ozone was outstanding for the improvement of treated sewage
quality assessed by the decreasing of total suspended solids concentration, total solids
absorbance at a wavelength of 254 nm and of DQO, differently from the chlorine sewage in
which occurred an increase of the values of the physical-chemical variables. The ultraviolet
radiation action was potentiated when sequentially applied to chlorine and to ozone.
Key Words: Sequential disinfection, sanitary sewage, chlorine, ozone, ultraviolet radiation,
Escherichia coli, total coliforms, Clostridium perfringens.
Introdução
1
1 Introdução
Ainda é uma realidade em muitos municípios brasileiros e em diversos locais do
mundo a dificuldade em se tratar o esgoto sanitário facilitando a exposição das pessoas a
recursos naturais contaminados por fezes, podendo ocasionar diversos danos à saúde pública.
Isso ocorre devido à condição econômica desfavorável ou a problemas estruturais políticos
enfrentados pelas administrações locais.
As doenças podem apresentar modos múltiplos de transmissão que se realizam por
meio do consumo de água, transmissão entre pessoas, consumo de alimentos contaminados,
contato primário com corpos receptores, entre outros. Desta forma, o controle da
disseminação das doenças de veiculação hídrica vincula-se à proteção dos mananciais e à
desinfecção tanto de águas de abastecimento quanto residuárias. A proteção dos mananciais
superficiais é feita a partir do constante monitoramento das características das águas naturais
combinado à inativação dos patogênicos por diferentes métodos de desinfecção da água
residuária. A importância da desinfecção no tratamento destas águas pode ser entendida como
a última barreira de proteção contra os microrganismos patogênicos (WEF, 1996).
Grandes volumes de esgoto têm sido despejados em múltiplos locais de descarga e a
autodepuração dos corpos d’ água é insuficiente para reduzir a quantidade de microrganismos
patogênicos. Combinando-se o fato da incapacidade de reduzir o elevado número destes
microrganismos naturalmente ao fato de que o tratamento de esgotos sem desinfecção não
promove a redução substancial destes organismos, torna-se necessária a desinfecção para
reduzir a transmissão de doenças infecciosas e proteger a saúde pública (WEF, 1996).
A qualidade de um corpo d’água está ligada ao uso e ocupação que se faz do solo com
os conseqüentes impactos das atividades humanas e da contaminação produzida por
atividades industriais e agrícolas. O esgoto despejado in natura ou insuficientemente tratado
contém elevada carga de organismos patogênicos, entre eles, bactérias, vírus e protozoários.
Esses organismos, que sobrevivem no ambiente externo ao corpo do hospedeiro,
aumentam em quantidade e distribuição espacial em regiões com alta concentração
populacional, intensificação de atividades humanas, como pecuária, agricultura ou atividades
industriais (TUNDISI, 2003).
Destaca-se, portanto, a importância do esgoto sanitário na veiculação de diversos
microrganismos patogênicos, evidenciando a necessidade do controle da qualidade das águas
Introdução
2
utilizadas para recreação, irrigação e fontes de abastecimento para consumo humano.
(GONÇALVES et al., 2003).
A demanda de água potável, o intensivo lançamento de esgoto sanitário sem
tratamento adequado e sua correspondente diminuição de fontes de água seguras para o
consumo humano têm se tornado uma contínua preocupação da comunidade acadêmica e está
se popularizando, pois as consequências da poluição por esgoto sanitário causam, além das
doenças, a depleção dos níveis de oxigênio dos corpos d’água, ocasionando a morte de
organismos aquáticos por asfixia e, conseqüentemente, causando prejuízos econômicos, danos
aos propósitos de recreação e efeitos desagradáveis de odor e visual.
O desempenho de determinado processo de desinfecção depende da resistência
específica dos diferentes organismos patogênicos ao desinfetante, considerando-se que os
organismos presentes no esgoto possuem sensibilidades diferentes ao tipo e dose dos diversos
agentes desinfetantes. Por exemplo, o ozônio é mais eficiente como agente desinfetante viral.
Portanto, o uso de desinfetantes combinados (usados sequencialmente ou simultaneamente)
vem atender diretamente a essas necessidades (VESCHETTI et al., 2003, SARTORI &
DANIEL, 2003, TYRRELL et al., 1995, HARAKEH, 1987).
No presente trabalho, foram escolhidos, além do cloro que já é um desinfetante
largamente utilizado em todo o mundo e principal agente desinfetante de água e esgoto no
Brasil, outros desinfetantes alternativos. Os outros desinfetantes utilizados foram o ozônio e
radiação UV. A desinfecção sequencial foi configurada em: cloro seguido de radiação UV e
ozônio seguido de radiação UV, na qual foi explorada a resistência de certas bactérias.
Objetivos
3
2 Objetivos
2.1 Objetivo principal
Comparar a resistência dos microrganismos coliformes totais, Escherichia coli e
Clostridium perfringens quanto à desinfecção sequencial ozônio-radiação ultravioleta e cloro-
radiação ultravioleta.
2.2 Objetivos específicos
Comparar a resistência dos coliformes totais, E. coli e C. perfringens quando
submetidos à desinfecção convencional com cloro, ozônio e radiação ultravioleta e à
desinfecção seqüencial cloro-radiação ultravioleta e ozônio-radiação ultravioleta;
Comparar os efeitos do cloro e do ozônio sobre a qualidade da água residuária
da ETE do campus da EESC-USP São Carlos (SP);
Comparar os desinfetantes quanto aos efeitos na qualidade do efluente
desinfetado.
Revisão Bibliográfica
4
3 Revisão Bibliográfica
O lançamento de esgoto sem tratamento ou tratado inadequadamente pode produzir
uma ou mais das seguintes situações indesejadas (PELCZAR et al., 1996):
1. Maior possibilidade para a disseminação de microrganismos patogênicos;
2. Maior perigo na utilização das extensões naturais de água como suprimento potável;
3. A contaminação de ostras e outros moluscos pela poluição, tornando-os impróprios
para o consumo humano;
4. Grandes perdas na população de aves aquáticas devido à contaminação de suas fontes
nutritivas;
5. Maior risco microbiológico em nadar em águas poluídas e diminuição de seu valor
para outros propósitos recreativos;
6. Depleção do suprimento de oxigênio da água pela presença de matéria orgânica
instável no esgoto, prejudicando a sobrevivência dos seres vivos aquáticos;
7. Ação de uma série de condições desagradáveis, tais como odores e acúmulo de
detritos, com redução dos valores de propriedade e utilidades recreativas.
3.1 Controle de microrganismos
A condição sanitária de uma população é determinada, em larga escala, por sua
capacidade de controlar eficazmente as populações microbianas. Cuidados diários, tais como
a purificação da água e a preservação de alimentos, concorrem para o controle das populações
microbianas. Não somente torna-se o produto de consumo seguro sob o ponto de vista de
saúde pública, como também, traz o processo muitos benefícios para o bem estar da
comunidade (PELCZAR et al., 1980).
As principais razões para desenvolver o controle de microrganismos nocivos são
prevenir a transmissão de doenças e a contaminação ou seu crescimento (PELCZAR et al.,
1980).
3.1.1 Condições que influenciam a ação antimicrobiana
Segundo PELCZAR et al., (1980) alguns fatores que influenciam a ação
antimicrobiana são:
1. Temperatura - o aumento da temperatura, quando usado em combinação com outro
agente, acelera a destruição de microrganismos.
Revisão Bibliográfica
5
2. Tipo de microrganismo - as espécies de microrganismos diferem em sua
susceptibilidade aos agentes físicos e químicos. Nas espécies que formam esporos, as
formas vegetativas são muito mais sensíveis que as formas esporuladas.
3. Estado fisiológico das células - células jovens, metabolicamente ativas, são mais
facilmente destruídas que as células velhas ou em latência se o agente nocivo agir
através de uma interferência sobre o metabolismo (assim, as células que não estão
crescendo não seriam afetadas). Alterações na natureza da membrana celular, capazes
de modificar a permeabilidade celular, podem contribuir para a existência de
diferenças na resistência bacteriana.
4. Condições ambientais - as propriedades físicas e químicas do meio ou da substância
que sustentam os microrganismos, isto é, o meio ambiente, têm profunda influência na
destruição microbiana.
5. Condições operacionais- tempo de contato com o desinfetante, intensidade do agente
físico ou químico, concentração de microrganismos.
O mecanismo de ação do desinfetante deve seguir a sequência de eventos de interação
do desinfetante com a superfície da célula seguido da penetração para o interior da célula e
posterior ação no sítio alvo (MCDONNELL & RUSSELL, 1999). Segundo os mesmos
autores, a resposta ao antisséptico ou desinfetante varia para diferentes organismos. A
resposta dos vários organismos pode estar associada à estrutura celular diferenciada,
composição e fisiologia.
Para moléculas de antissépticos e desinfetantes alcançarem seu sítio alvo, as camadas
mais externas das células devem ser cruzadas. A natureza e composição destas camadas
dependem do tipo de organismo e podem atuar como barreira para a permeabilidade, na qual
pode haver redução de tomada (uptake). Alternativamente, mas menos comumente, enzimas
sintetizadas pelos organismos podem degradar alguns compostos. Bactérias Gram-negativas
tendem ser mais resistentes que organismos Gram- positivos (MCDONNELL & RUSSELL,
1999).
Esporos das bactérias do gênero Bacillus e Clostridium têm sido estudados e são os
mais resistentes aos antissépticos e desinfetantes que todos os tipos de bactérias
(BLOOMFIElD, 1999; SAGRIPANTI & BONIFACIO, 1996; RUSSELL, 1990;
FOEGEDING & BUSTA, 1983).
A resistência pode estar associada com enzimas degradativas, mas está mais associada
com a impermeabilidade celular. As camadas e o córtex em esporos, e possivelmente outros
Revisão Bibliográfica
6
componentes da membrana mais externa de bactérias Gram-negativas, limitam a concentração
de biocida ativo que possa alcançar o sítio alvo nestas células bacterianas (RUSSELL, 1999).
3.2 Doenças - relacionadas à poluição fecal
As doenças infecciosas de fonte comum são causadas pela contaminação microbiana
de materiais partilhados por um grande número de indivíduos. Tais fontes comuns de doenças
correspondem à água e alimentos contaminados. Estas enfermidades correspondem a uma
causa significativa de morbidade e mortalidade, especialmente em países em desenvolvimento
(MADIGAN, 2004).
Os microrganismos veiculados pela água e alimentos geralmente se desenvolvem no
intestino e são eliminados pelas fezes. Conseqüentemente, caso estes microrganismos não
sejam detectados (como, por exemplo, por meio de exames) e eliminados pela desinfecção ou
por medidas corretas de cocção e manuseio dos alimentos, um novo hospedeiro pode vir a
consumir desta água ou alimento permitindo que o patógeno colonize seu intestino causando
doenças.
O cozimento inadequado, a manipulação ou o armazenamento impróprio, assim como,
as condições sanitárias deficientes durante o preparo dos alimentos podem causar de um
simples desconforto intestinal a doenças graves devido à presença de microrganismos
patogênicos (PELCZAR et al., 1996).
Duas grandes categorias de doenças microbianas transmitidas por alimentos são:
intoxicação alimentar e infecções transmitidas por alimentos (PELCZAR et al., 1996). A
intoxicação alimentar ocorre após a ingestão de alimentos contaminados com toxinas
produzidas por microrganismos, sendo essa toxina a responsável pelos sintomas clínicos. Já as
infecções transmitidas por alimentos ocorrem quando o patógeno é ingerido e se multiplica
dentro dos organismos. Tais infecções causam usualmente doenças do trato intestinal, embora
outras áreas do corpo possam ser afetadas.
A infecção veiculada pela água ocorre quando o microrganismo infeccioso é adquirido
através de água contaminada por material fecal, contendo patógenos de humanos ou de
animais. Quando esses patógenos de humanos contaminam a rede de abastecimento público
ou outras fontes de água potável utilizadas por muitas pessoas, podem ocorrer surtos de
doenças intestinais, afetando um grande número de pessoas em curto período de tempo
(PELCZAR et al., 1996).
Medidas preventivas relacionadas ao saneamento podem evitar a disseminação dessas
doenças, prevenindo a contaminação de fontes de alimento e água (PELCZAR et al., 1996).
Revisão Bibliográfica
7
A poluição fecal pode adicionar à água uma variedade de microrganismos patogênicos
intestinais. Em qualquer momento, estes agentes poderão estar presentes na água por
recebimento de fezes de animais de sangue quente (CETESB, 1974).
Os microrganismos de maior importância para o homem, relacionados à contaminação
por esgotos, são as bactérias, vírus entéricos e parasitas intestinais. Doenças que são
espalhadas pelo consumo de água e/ ou contato direto podem ser severas e muitas vezes muito
danosas (WEF, 1996).
Algumas doenças contraídas por contato direto ou consumo de água contaminada por
esgotos (água potável e/ou recreacional) estão resumidas na Tabela 3.1.
Tabela 3.1: Doenças potencialmente relacionadas à água contaminada
Bactérias Vírus Protozoários Helmintos Gastroenterites
(diversos grupos de bactérias)
Poliomielite (Poliovirus)
Giárdia (Giardia lamblia)
Schistosomose (Schistosoma
mansoni)
Febre tifóide (Salmonella typhi)
Conjuntivites hemorrágicas
Disenteria amebiana (Entamoeba histolytica)
Ascaridíase (Ascaris lumbricoides)
Disenteria bacilar (Shigella)
Hepatite (vírus da hepatite)
Criptosporidíase (Cryptosporidium
parvum e C.hominis)
Estrongiloidíase (Strongyloides
stercoralis)
Cólera (Vibrio colera) Gastroenterite (Rotavírus) Tricuríase
(Trichuris trichiura)
Doenças pulmonares (Mycobacteria)
Pneumonia (Streptococcus pneumoniae)
Fonte: WEF (1996) e SPELLMAN (1999) modificados. A ocorrência e densidade de agentes patogênicos são muito variadas em água poluída
e em fezes de animais. Esta variabilidade reflete as doenças intestinais que são prevalentes,
num dado momento, nas populações humanas ou animal, as quais contribuem com seus
resíduos num efluente particular ou na bacia hidrográfica (CETESB, 1974).
Os agentes patogênicos de humanos são também encontrados com freqüência no trato
intestinal de outros animais de sangue quente, incluindo animais domésticos, gado, aves
domésticas e animais silvestres. Estes microrganismos podem ser adquiridos através da água e
alimentos contaminados. Tais animais podem se tornar infectados por estes agentes ou servir
Revisão Bibliográfica
8
de hospedeiro. Mesmo os peixes podem se tornar infectados ativamente com microrganismos
patogênicos de humanos após contato com água contaminada e levar estes agentes a cursos de
água limpa de áreas recreacionais (CETESB, 1974).
A diversidade de microrganismos presentes no esgoto sanitário implica em
características bioquímicas diferentes entre si, resultando em divergência de comportamento
quando elementos externos são introduzidos. É o caso, por exemplo, da variação da
temperatura, pH ou ainda a aplicação de agentes de inativação distintos como o ozônio e a
radiação ultravioleta (WEF, 1996).
3.3 Microrganismos Indicadores de poluição fecal A detecção direta de bactérias patogênicas, vírus e cistos de protozoários requer
procedimentos custosos, demorados e laboratoristas bem treinados. Estes requerimentos
induziram a concepção de organismos indicadores de poluição fecal. Em 1914, o Serviço de
Saúde Pública Norte Americano adotou o grupo coliforme como um indicador de
contaminação fecal em água potável. Mais tarde, outros organismos passaram a ser usados
para indicar a ocorrência de contaminação fecal, a eficiência do tratamento de estações de
tratamento de água e esgoto e a deterioração e pós- contaminação do sistema de distribuição
(OLIVIERI, 19831 apud BITTON (1994).
Segundo BITTON (1994), os critérios para um organismo ser um indicador ideal são:
1. Este deve ser um membro da microbiota intestinal de animais de sangue quente;
2. Deve estar presente quando patógenos estão presentes e ausente em amostras não
contaminadas;
3. Deve estar presente em grande número;
4. Assim como o patógeno, deve ter ao menos semelhante resistência ao estresse
ambiental e aos sistemas de tratamento de água e esgoto;
5. Não deve multiplicar-se no ambiente;
6. Deve ser detectado por métodos fáceis, rápidos e não custosos;
7. O organismo indicador não deve ser patogênico.
1 OLIVIERI, V. P. 1983. Measurement of Microbial Quantity .in: Assessment of Microbiology and Turbidity Standards for Drinking Water, P. S. Berger and Y Argaman, Eds. EPA-570-9-83-001, Office of Drinking Water, Washington, DC.
Revisão Bibliográfica
9
Na Tabela 3.2 estão apresentados os organismos utilizados como indicadores, suas
vantagens e limitações.
Tabela 3.2: Principais microrganismos que têm sido propostos para serem usados como indicadores
Organismo indicador
Indicador de contaminação Bom indicador Não indicado Técnicas
Bactérias coliformes
Contaminação de origem fecal e não fecal.
Bactérias entéricas, alguns vírus e
microrganismos menos resistentes que
esse grupo.
Bactérias esporuladas, vírus, helmintos,
protozoários e todos os microrganismos mais
resistentes.
Várias técnicas de fermentação podem ser
feitas apresentando resultados em 24hc.
Bactérias do grupo
coliformes fecais
Contaminação de origem fecala, são bons
indicadores para águas balneárias.
Bactérias entéricas, alguns vírus e
microrganismos menos resistentes que
esse grupo.
Bactérias esporuladas, vírus, helmintos,
protozoários e todos os microrganismos mais
resistentes.
Várias técnicas de fermentação podem ser
feitas apresentando resultados em 24hc.
Klebsiella
Contaminação de origem fecal e não fecal, é o
principal componente da população de coliformes
na vegetação e em resíduos de indústrias de
papel, têxtil e outros.
Recrescimento de coliformes em
sistemas de distribuição de água.
Bactérias esporuladas, vírus, helmintos,
protozoários e todos os microrganismos mais
resistentes.
Rápidas quantificações podem ser feitas
utilizando filtração em membranasc.
E. coli Poluição recente de
origem exclusivamente fecal.
Bactérias entéricas de origem humana,
vírus, e microrganismos
menos resistentes.
Bactérias esporuladas, vírus, helmintos,
protozoários e todos os microrganismos mais
resistentes.
Pode ser feito com a técnica de filtração em membranas e ainda o
método Collilertc, simples e rápidos, que
oferecem resultados em 24h.
Streptococcus faecalis
Determina a fonte da recente contaminação fecal, se é de origem
humana ou animal. Vem surgindo como boa
alternativa devido a sua maior resistência quando
comparado aos coliformes fecais.
Bactérias entéricas de origem animal,
alguns vírusb em águas pouco
contaminadas e microrganismos
menos resistentes.
Bactérias esporuladas, vírus, helmintos,
protozoários e todos os microrganismos mais
resistentes.
Resultados podem ser conseguidos utilizando a
técnica de tubos múltiplos ou filtração em
membranasc.
Colifagos
Poluição de origem fecal. É bastante utilizado na
avaliação da qualidade de água.
Vírus.
Helmintos, protozoários e todos os microrganismos mais
resistentes.
Fornece resultados após um tempo mínimo de 4 a 6 horasc. A quantificação
de colifagos é obtida pela contagem de placa
de lise utilizadas por amostra.
Clostridium perfringens
Ótimo indicador de contaminação fecal onde
foi empregado a desinfecção, ou onde há
poluição remota.
Protozoários. Helmintos e todos os microrganismos mais
resistentes.
Pode ser feito com a técnica de filtração em
membranasd e ainda pela técnica de tubos
múltiplosc,e. Fonte: Organizado por DIAS, 2001, adaptado de WEF (1996); USEPA (1999); LIMA et al. (1999); APHA (1995); APHA (1998). a A sua especificidade como indicador de contaminação fecal é comprometida pelo fato da existência nesse grupo de alguns coliformes que não são de origem exclusivamente fecal. b Por apresentarem maior tempo de sobrevivência e maior resistência aos processos de tratamento, que o grupo dos coliformes, porém o seu uso pode ser questionado. c Conforme descrito no Standard Methods, 1998. d Norma da CETESB L5.403/2004. e Norma da CETESB L5.213/1993.
Revisão Bibliográfica
10
Nos itens subseqüentes, (3.4.1; 3.4.1.1 e 3.4.2) está apresentada uma breve descrição
dos indicadores usados na presente dissertação.
3.3.1 Coliformes totais
Os coliformes são definidos na bacteriologia como o grupo que agrega as seguintes
características: são bacilares, o grupo inclui bactérias aeróbias e anaeróbias facultativas,
Gram-negativas, não formadoras de esporos que fermentam lactose com a produção de gás
em 48h a 35ºC (APHA, 1989; MADIGAN, 2004).
Este grupo inclui uma variedade de organismos, a maioria pertencente ao grupo das
bactérias entéricas. O grupo dos coliformes inclui Escherichia coli, Enterobacter, Klebsiella e
Citrobacter. Estes coliformes são lançados em altos números ( em média 2x109 coliformes
por dia per capita) em fezes humanas e animais, mas nem todas são de origem fecal (APHA,
1989, MADIGAN, 2004). Esses indicadores são úteis para determinar a qualidade de água
potável, água de cultivo de mariscos e águas recreacionais. Em estações de tratamento de
água em consonância com a Resolução No. 357/2005 e a Portaria 518/2004, coliformes totais
juntamente à E. coli são os microrganismos indicadores de eficiência do tratamento e ditam a
qualidade da água para consumo humano.
São utilizados como indicadores de contaminação de água, uma vez que estão
presentes em grandes quantidades no trato intestinal de seres humanos e de outros animais.
São usados também como indicadores para avaliar a eficiência de sistemas de desinfecção. No
entanto este organismo como indicador pode não ser suficiente para assegurar a ausência de
microrganismos patogênicos na água. Ainda mais, muitas vezes águas que não contêm
coliformes podem estar contaminados com vírus e cistos de protozoários, os quais são mais
resistentes às condições adversas do meio ambiente (DIAS, 2001).
3.3.1.1 Escherichia coli
Muitas cepas de E. coli são encontradas no trato gastrointestinal de humanos e animais
de sangue quente. Entretanto, muitas destas cepas podem ser inofensivas (BITTON, 1994).
Há diversas categorias de cepas de E. coli que podem carregar fatores de virulência e
causarem diarréia. Essas são cepas de E. coli enterotoxigênicas (ETEC), enteropatogências
(EPEC), enteroemorrágicas (EAEC) e enteroenvasivas (BITTON, 1994).
A E. coli enterotoxigênicas causa gastroenterite com forte diarréia aquosa
acompanhada de náuseas, cólicas estomacais e vômitos (BITTON, 1994).
Revisão Bibliográfica
11
Aproximadamente 2% a 8% das E. coli presentes na água são patogênicas, causadoras
de diarréia do viajante (BITTON, 1994).
Alimento e água são importantes na transmissão deste patógeno. De qualquer modo, a
dose infectante para ele é relativamente alta, sendo na ordem de 106 a 109 organismos
(BITTON, 1994).
3.3.2 Clostridium perfringens Esses organismos são bactérias Gram-positivas anaeróbias, formadoras de esporo,
sensíveis ao oxigênio e relativamente resistentes a estresse ambiental e à desinfecção
(BITTON, 1994).
Essa bactéria é encontrada no solo, nos vegetais em putrefação, e faz parte da
microbiota natural do trato intestinal de homens e animais (ROBERTS, 1974).
BITTON (1994) diz que os esporos tornam essa bactéria muito resistente para ser
usada como um organismo indicador. É sugerido por este autor, no entanto, o uso deste
microrganismo como um indicador de poluição remota e como um traçador de poluição fecal
em ambientes marinhos.
Em contrapartida, MEDENA et al., (1997) constataram que esporos de C. perfringens
apresentaram-se mais resistentes que oocistos de Criptosporidium parvum, analisando o
decaimento natural desses organismos na água de um rio. Concordando com esses autores,
XU et al., (2002) sugerem que, devido a sua alta resistência à desinfecção, o C. perfringens é
um ótimo candidato a indicador de microrganismos resistentes. Foi concluído, portanto, que
essa bactéria formadora de esporos é um parâmetro que poderia ser muito útil como indicador
da presença do protozoário C. parvum.
3.4 Desinfecção
A desinfecção refere-se à inativação seletiva e/ou destruição de organismos causadores
de doenças. Diferentemente de esterilização, que representa a destruição de todos os
organismos, a desinfecção não destrói todos os organismos presentes (WERF, 1995).
Os organismos causadores de doenças são acompanhados por um largo número de
espécies de organismos saprofíticos que não fazem mal à saúde humana e que são muito
benéficos e essenciais para o tratamento biológico de esgotos (WEF, 1996). Assim, a
desinfecção tem a finalidade de inativar de preferência os microrganismos patogênicos. Por
esse motivo, recomenda-se que a desinfecção seja aplicada após a conclusão do tratamento
biológico obtendo-se assim, maior aproveitamento e eficácia no tratamento de esgotos.
Revisão Bibliográfica
12
As fezes do homem e os esgotos produzidos por ele são as maiores fontes de agentes
patogênicos veiculados pela água. A monitoração de microrganismos patogênicos em esgoto
tem se mostrado um excelente instrumento epidemiológico para determinar quais doenças
podem ser prevalentes na comunidade em um dado momento (CETESB, 1974).
A desinfecção pode ser realizada com agentes químicos, radiação e meios mecânicos.
Os agentes químicos usados como desinfetantes incluem cloro e seus compostos, iodo,
ozônio, fenol e compostos fenólicos, alcoóis, metais pesados, sabões e detergentes sintéticos,
compostos de amônia, peróxido de hidrogênio, e vários álcalis e ácidos. Dentre os diversos
desinfetantes químicos, o cloro é o mais usado universalmente (WERF, 1995).
Bactérias e outros organismos podem ser removidos por meio mecânico, isto é,
sedimentação e filtração durante o tratamento de esgoto sanitário. Os tipos de radiação
incluem radiação ionizante (raios gama) (ELIASSEN & TRUMP2, 1974 citado em WERF,
1995), eletromagnética (BROCK & MADIGAN, 19883 citado em WERF, 1995), radiação
térmica (aquecimento de água a ponto de ebulição).
Os principais mecanismos que são propostos para explicar a ação dos desinfetantes
incluem (SPELLMAN (1999), WERF, (1995)):
Danos na parede celular;
Alteração da permeabilidade celular;
Inibição da conversão pela célula de alimento em energia;
Alteração na natureza coloidal do protoplasma;
Inibição enzimática;
Inibição da reprodução por danos no DNA (ácido desoxirribonucléico) e RNA
(ácido ribonucléico) celular (PELCZAR & CHAN4, 1986 citado em WERF,
1995).
Danos ou destruição na parede celular podem resultar em lise celular e morte. Alguns
agentes, como a penicilina, inibem a síntese da parede celular bacteriana. Compostos
fenólicos e detergentes alteram a permeabilidade da membrana citoplasmática. Essas
substâncias destroem a permeabilidade seletiva da membrana citoplasmática e permitem o
escape de nutrientes vitais, tais como nitrogênio e fósforo. Calor, radiação e agentes altamente
2 ELIASSEN, R & TRUMP (1974) “ High-Energy Electrons Offer Alternative to Chlorine”, Calif. WPCA Bull. Vol. 10, no. 3. citado por WERF, 1995. DISINFECTION Comparison of UV Irradiation to Chlorination: Guidance for Achieving Optimal UV Performance. Water Environment Research Foundation. EUA. 3 BROCK, T. D. & MADIGAN, M. T. 1988, Biology of Microorganisms, 5th ed., Prentice Hall, Englewood Cliffs, NJ. 4 PELCZAR, M. J. JR. & CHAN, E. C. (1986). Microbiology, 5th ed., McGraw-Hill, New York, NY.
Revisão Bibliográfica
13
ácidos ou alcalinos alteram a natureza coloidal do protoplasma. O calor coagula as proteínas
celulares e os ácidos e bases a desnaturam, produzindo um efeito letal (WERF, 1995).
Embora a desinfecção de esgoto tenha sido praticada por muitos anos, sua aplicação
nem sempre produziu o resultado final desejado. A aplicação conveniente precisa incluir o
controle adequado da qualidade microbiológica do efluente e uma medida segura para a
escolha do desinfetante. A desinfecção de água poluída é apenas uma parte do tratamento de
esgoto e não é um substituto. Tentativas de clorar despejos não tratados ou mal tratados
criarão novos problemas de odor e crescimento posterior de bactérias que degradará
posteriormente as águas receptoras (CETESB, 1974).
3.4.1 Características desejáveis para um desinfetante
As características desejáveis para um desinfetante, segundo SPELLMAN, (1999) são:
1. Deve agir durante um tempo razoável;
2. Deve agir mesmo em mudanças de pH e temperatura;
3. Não deve ser tóxico;
4. Não deve adicionar gosto e odores desagradáveis;
5. Deve ser rapidamente disponível;
6. Deve ser seguro e fácil de ser manuseado e aplicado;
7. Deve possibilitar que suas concentrações sejam determinadas com facilidade;
8. Deve ser capaz de manter residual (somente para água);
9. Organismos patogênicos devem ser mais sensíveis à desinfecção que os não
patogênicos.
10. Deve ser capaz de ser aplicado continuamente;
11. A quantidade aplicada deve ser suficiente para produzir água potável segura e
efluente a ser lançado dentro dos padrões de qualidade do corpo receptor.
A desinfecção não deve ser requerida onde os benefícios significativos não são
provados. Os seus benefícios devem ser ponderados com os riscos ambientais e custos. O
cloro deve ser considerado apenas para controle de riscos da saúde pública e não deve ser
usado onde a proteção da vida aquática é a consideração principal. Os meios alternativos de
desinfecção e descloração devem ser considerados onde os efeitos na saúde pública e na vida
aquática conflitam (SPELLMAN, 1999).
O cloro é o desinfetante mais usado no Brasil e no mundo devido a vários fatores de
aplicabilidade e eficiência inerentes de agente químico. No entanto, já é amplamente discutida
Revisão Bibliográfica
14
a possibilidade desse desinfetante gerar subprodutos que podem ser deletérios tanto a biota
aquática quanto ao ser humano. Baseado nesses fatores negativos da aplicação do cloro no
tratamento de esgoto, seguem abaixo alguns pontos pertinentes para se avaliar o emprego de
outros desinfetantes que não seja o cloro.
Critérios usados para selecionar oxidantes e/ ou técnicas desinfetantes (WATER,
2007):
Possibilidade de alcançar níveis altos de tratamento Amplo espectro de ação, reações químicas e taxa de inativação Efetividade Confiabilidade versus potenciais variações na qualidade da água Indução a toxicidade Possíveis efeitos
negativos Formação de subprodutos Capital investido Processo operacional e manutenção de equipamentos Custo Custos associados com pré-tratamentos específicos Capacidade de prever resultados Adequação para potenciais variações na qualidade da água Projeto de
instalação Requerimento de testes pilotos Reagentes para serem transportados e estocados ou produzidos no local Facilidades de uso e monitoramento Condições
operacionais Segurança
Vale salientar nesse momento, que a desinfecção pode ocorrer através de duas fases,
uma chamada de desinfecção primária, que é aquela que o tratamento de água e esgoto tem
como objetivo alcançar, ou seja, atingir o CT necessário para a inativação microbiana, e a
desinfecção secundária, que é aquela que visa manter desinfetante residual ao longo do
sistema de distribuição, ação necessária quando o objeto do tratamento é a água. Na
desinfecção sequencial o desinfetante secundário tem a propriedade de poder causar efeito
sinergístico ou ainda melhorar a qualidade do efluente final antes de ser lançado num corpo
receptor.
Deve se ter em mente que não importa o fator ou fatores considerados para se decidir
qual desinfetante alternativo usar; a consideração principal será que o desinfetante requerido
deve ser avaliado caso a caso com consideração do uso benéfico e critérios (SPELLMAN,
1999).
Na Tabela 3.3 está apresentada uma matriz para determinar a aplicabilidade de
técnicas alternativas de desinfecção e auxiliar na escolha de desinfetantes. Para delimitar a
discussão desse trabalho, os desinfetantes detalhados foram aqueles usados na presente
dissertação.
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Tabela 3.3: Algumas características dos desinfetantes usados no presente trabalho Consideração NaOCl O3 UV
Porte da estação de tratamento Todos os tamanhos Médio para
grande Pequeno a médio
Aplicação nos níveis de tratamento Todos os níveis Secundário Secundário
Confiabilidade do equipamento Boa Boa Boa
Controle do processo Bem desenvolvida Em desenvolvimento Em desenvolvimento
Complexidade do processo Simples para moderado Complexo Simples para
moderado
Segurança Sim, substancial Não, moderado Não, mínimo
Bactericida Bom Bom Bom Virucida Pobre Bom Bom
Toxicidade aos peixes Tóxico Não esperado Não tóxico
Subprodutos perigosos Sim Não esperado Não
Residual persistente Longo Não Não
Contribuição para geração de oxigênio
dissolvido Não Sim Não
Tempo de contato Longo Moderado Pequeno
Reação com amônia Sim Sim (em pH elevado) Não
Remoção de cor Moderado Sim Não Aumento de sólidos
dissolvidos Sim Não Não
Dependência do pH Sim Sim (em pH elevado) Não
Corrosividade Sim Sim Não Fonte: SPELLMAN, 1999.
A presença de matéria orgânica pode reduzir, significantemente, a eficácia de um
agente desinfetante através da competição na ação oxidante ou promovendo a proteção do
germe. O acréscimo de matéria orgânica a uma mistura desinfetante-microrganismo pode
resultar em (Pelczar et al., 1980):
1. Combinação do desinfetante com a matéria orgânica, resultando na formação
de produtos não microbicidas;
Revisão Bibliográfica
16
2. Combinação do desinfetante com a matéria orgânica para formar um
precipitado, o que afasta o desinfetante de uma possível combinação com os microrganismos;
3. Acúmulo de matéria orgânica na superfície da célula microbiana, formando um
agregado que impede o contato com o desinfetante, necessitando dessa forma, de altas doses
de desinfetante para atingir o alvo.
3.5 Desinfetantes
A desinfecção clássica é aquela que é promovida aplicando-se apenas um desinfetante.
O cloro, por muitos anos e ainda nos dias atuais, tem sido o agente mais empregado nas
estações de tratamento de esgotos e possui uma certa hegemonia no tratamento de água,
devido ao seu caráter de desinfecção secundário ( para manutenção de residual na rede de
distribuição de água) ser amplamente reconhecido, ainda que haja o risco da formação de
subprodutos clorados.
No tratamento de esgoto, não é desejável a manutenção de residual de desinfetante
quando o efluente será despejado no corpo receptor, e tem-se buscado alcançar maior
eficiência na remoção de microrganismos utilizando-se menores doses de desinfetantes.
A desinfecção sequencial e combinada, que utiliza mais de um desinfetante
sequencialmente e simultaneamente, respectivamente, tem se mostrado eficiente para reduzir
a formação de subprodutos de desinfecção e adicionar efeito à desinfecção individual devido
ao efeito sinergístico produzido tanto pela aplicação simultânea quanto sequencial.
Efeito sinergístico em processos de desinfecção sequêncial ou combinados são
benéficos por conta da possível redução da dose de desinfetante a ser utilizada e do tempo de
contato requerido para alcançar o mesmo nível de inativação, reduzindo assim custos
operacionais, podendo diminuir a formação de subprodutos de desinfecção (CHO et al.,
2006).
A aplicação sequêncial de certos desinfetantes tem mostrado um maior nível de
inativação que a soma de inativação quando cada desinfetante é aplicado separadamente. Esta
inativação melhorada é geralmente referida como sinergismo em processos de desinfecção
sequêncial (CHO et al., 2006).
Processos avançados de oxidação designam a aplicação de processos conjugados
destinados ao tratamento de águas de abastecimento e, mais recentemente, residuárias, nos
quais sistemas compostos de dois ou mais agentes químicos ou físicos são introduzidos
sequencial ou simultaneamente em operações unitárias específicas para promover a oxidação
de matéria orgânica e inativação de indicadores patogênicos (MONACO, 2006).
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Segundo USEPA (1999), o número de microrganismos sobreviventes às duas etapas
de desinfecção, em comparação a uma única etapa e sob condições semelhantes de dosagem e
tempo de contato, é substancialmente inferior.
MONACO (2006) afirma que a utilização de sistemas combinados de desinfecção
apresenta potencial efetivo de aplicação em unidades reais de tratamento.
3.5.1 Cloro
3.5.1.1 História do cloro
O cloro foi descoberto ocasionalmente em 1774 por Carl Wilhelm Scheele, quando
fazia experiências com ácido muriático e dióxido de manganês. Dessa mistura, desprendeu
um gás amarelo-esverdeado que foi chamado pelo seu descobridor de ácido muriático
“deflogisticado” ou ácido muriático oxigenado. Essa nomenclatura manteve-se até 1810,
quando Sir Humphrey Davy conseguiu provar que o gás misterioso de Scheele era na
realidade um elemento químico, e foi justamente devido a sua característica mais evidente,
isto é, a sua cor amarelo-esverdeada, que recebeu então o nome de Chloro (CETESB, 1974).
Durante muito tempo, conforme relatos de manuais escritos na época, sua preparação
era difícil e seu transporte e manipulação impossíveis (CETESB, 1974).
Faraday, em 1882, conseguiu produzi-lo na forma de óleo. O cloro líquido foi
produzido pela primeira vez na Alemanha, em 1888, no entanto, passou a ser comercializado
apenas em 1909 nos EUA (CETESB, 1974).
Até 1930, o cloro era considerado um simples subproduto da fabricação eletrolítica da
soda cáustica. Foi somente depois da segunda Guerra Mundial e do desenvolvimento da
indústria química que o seu consumo aumentou (CETESB, 1974).
Na vida moderna, o cloro tem um papel muito importante na produção de fibras
sintéticas, borrachas sintéticas, materiais plásticos, produtos sanitários, solventes orgânicos,
inseticidas, produtos farmacêuticos e veterinários, tendo grande importância na desinfecção
de água de abastecimento e na depuração de águas residuárias (CETESB, 1974).
O uso do cloro tem sido associado há muito tempo a um meio de controlar doenças no
homem. Até o século 19, persistia a idéia de que as doenças eram espalhadas pelo odor e que
o controle do odor acabaria com a sua disseminação. Portanto, não é de se causar surpresa
saber que o cloro foi utilizado como desodorante antes que o seu valor germicida tivesse sido
reconhecido. As bactérias foram descobertas aproximadamente em 1680 e por volta de 1880
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pesquisas revelaram que esses microrganismos - agora chamados de patógenos - causam
doenças específicas (WHITE, 1972).
A aplicação do cloro no saneamento é ampla, podendo-se destacar (WATER, 2007):
É usado em águas potável e de piscina;
Em circuito de resfriamento (cooling);
Em tratamento terciário de esgoto;
Usado principalmente para desinfetar água, mas também para controlar o
desenvolvimento de vários organismos (algas, moluscos, mexilhões);
Pode também oxidar compostos responsáveis por gosto e odor;
Oxidar ferro e manganês;
Remover cor;
Melhorar coagulação.
3.5.1.2 Aplicação do cloro no tratamento de efluentes
O Cloro puro (Cl2) dissocia-se quando adicionado na água, segundo a reação (3.1):
Cl2 + H2O ⇌ HClO + H+ + Cl- (3.1)
Essa reação se completa em pH acima de 4,0, onde todo cloro é transformado em
ácido hipocloroso e ácido clorídrico. Apenas o primeiro tem ação desinfetante, pois ele destrói
a enzima essencial para o metabolismo dos microrganismos na oxidação da glicose (PIVELI
& KATO, 2006).
O ácido hipocloroso também se dissocia quando adicionado à água, produzindo o íon
hipoclorito que tem efeito desinfetante inferior quando comparado à forma não dissociada
(equação 3.2).
HOCl ⇌ H+ +OCl- (3.2)
Este equilíbrio é dependente do pH. Para valores de pH acima de 7 prevalece o íon
hipoclorito e abaixo de 7,0 o ácido hipocloroso representado na Figura 3.1.
Revisão Bibliográfica
19
Figura 3.1: Distribuição do ácido hipocloroso e do íon hipoclorito em água, em diferentes
valores de pH e temperatura.
O ponto importante a se considerar é que o ácido hipocloroso (HClO) é um agente
desinfetante poderoso enquanto que o íon hipoclorito (OCl-) tem pouca ou nenhuma atividade
desinfetante. O controle do pH de efluentes de esgoto numa faixa de 6,5 a 7,5 pode garantir o
alto rendimento do ácido hipocloroso. O cloro reage com um grande número de substâncias
na forma de ácido hipocloroso e/ou íon hipoclorito dependendo do pH do meio.
Tratar o esgoto que contém resíduos domésticos e industriais é complexo devido à
natureza de sua composição química. A maioria dos efluentes de esgoto contém quantidades
apreciáveis de amônia. A cloração dessas águas poluídas resulta na formação do ácido
hipocloroso (HOCl) que rapidamente se converte em compostos de cloramina, como
demonstrado nas reações (3.3) a (3.5):
NH3 + HOCl → NH2Cl + H2O (3.3)
NH2Cl + HOCl → NHCl2 + H2O (3.4)
NHCl2 + HOCL ↔ NHCl3 + H2O (3.5)
Além de combinar com a amônia, o ácido hipocloroso reage com aminoácidos,
materiais protéicos e outras substâncias orgânicas para produzir compostos de pequeno ou
nenhum poder desinfetante. Reação com sulfitos, sulfetos, nitritos e íons ferrosos ou
manganosos também dissiparão a ação desinfetante formando compostos com nenhum efeito
germicida (CETESB, 1974).
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A cloração pode criar compostos com poluentes inorgânicos considerados como
deletérios. A presença de subprodutos em água clorada depende do pH do meio, da
quantidade de cloro usado e do tempo de reação (WATER, 2007).
Ação do cloro em compostos inorgânicos esta exemplificada nas seguintes reações,
comuns no tratamento de água para abastecimento e no tratamento de águas residuárias:
Precipitação do Ferro: 2Fe(HCO3)2 + Cl2 + Ca(HCO3)2 → 2Fe(OH)3 + CaCl2 + 6CO2
Precipitação do manganês: Mn+2 + Cl2 + 4OH- → MnO2 + 2Cl- + 2H2O
Oxidação do sulfeto: H2S + Cl2 → S + 2HCl
H2S + 4Cl2 +4H2O → H2SO4 + 8HCl
Oxidação do nitrito: NO2- + HOCl → NO3
- + HCl
O cloro tem uma ação seletiva em poluentes orgânicos. A sua reatividade envolve
sítios especiais de ataque (reduzidos, insaturados, nucleófilos) e causam mudanças estruturais
acompanhados da formação de compostos mais oxidados (Tabela 3.4). No entanto a cloração
da água com o objetivo de produção de água para abastecimento pode criar compostos que
são indesejáveis pelo ponto de vista de odor e sabor (aldeídos, clorofenóis), tóxicos
(trialometanos) e/ou potencialmente carcinogênicos (organoclorados). Assim como no caso de
compostos inorgânicos, a presença destes compostos secundários dependerá do pH do meio,
da quantidade de cloro usado e do tempo de reação (WATER, 2007).
Tabela 3.4: Compostos orgânicos e seus produtos quando clorados (WATER, 2007).
Compostos orgânicos Produtos da cloração Alcoóis Aldeídos, ácidos, cetonas Aldeídos e cetonas Acetonas cloradas, clorofórmio, ácidos
clorados Tiolatos Bissulfetos Sulfetos Óxidos de enxofre Amina Cloramina Aminoácido Aminas, nitrilas, carboxilas Aromáticos Aromáticos clorados
Como as características do esgoto variam de hora a hora, de estação a estação, de dia e
noite, a influência da desinfecção de uma dada dose de cloro consequentemente variará
(CETESB,1974).
O lançamento de esgoto de estações de tratamento de esgoto mal operadas pode
adicionar cargas significativas de nutrientes para bactérias ao corpo receptor. Altos valores de
Dependente do pH da reação
Revisão Bibliográfica
21
DBO residual, podem criar outro problema bacteriológico à jusante se esses efluentes
parcialmente tratados forem clorados (CETESB, 1974).
Como a cloração raramente elimina todos os microrganismos presentes no efluente, os
organismos sobreviventes, protegidos do contato com o cloro pelo material suspenso, servem
de inóculo quando os agregados se desintegram, havendo assim, a liberação de células viáveis
que poderão se nutrir da matéria orgânica que foi parcialmente tratada em sistemas mal
operados (CETESB, 1974).
A maioria dos problemas de multiplicação bacteriana ocorrem num período de 1 a 2
dias de percurso da entrada do efluente clorado, período este, durante o qual os
microrganismos podem se recuperar dos efeitos da cloração e se multiplicar no meio de
nutrientes atingindo elevado número. O crescimento posterior nem sempre ocorre quando o
tratamento secundário do esgoto produz uma excelente redução de nutrientes (CETESB,
1974).
Depois de clorado, o efluente deve ser desclorado para ser lançado no corpo receptor.
A descloração é feita com a adição de substâncias redutoras. Normalmente são utilizados os
compostos de enxofre: dióxido de enxofre, sulfito de sódio e metabissulfito de sódio.
A cinética de descloração com compostos sulfurosos é muito rápida e devido à rapidez
das reações, a mistura é o parâmetro mais importante a ser considerado com compostos de
enxofre usados para descloração (JOHNSON, 1975).
As vantagens do cloro na desinfecção de esgotos estão relacionados a seguir (WERF,
1995):
1. Tecnologia bem estabelecida;
2. É um desinfetante efetivo;
3. Relativamente barato;
4. Cloro residual pode ser mantido, como é desejado para água de abastecimento,
garantindo manutenção do efeito germicida em longas linhas de distribuição de
água potável.
Segundo WERF (1995), algumas desvantagens do uso do cloro em desinfecção de
esgotos são:
1. A toxicidade residual do efluente tratado deve ser reduzida por descloração;
2. Formação de trialometanos e outros hidrocarbonetos clorados;
3. O uso do cloro em baixas concentrações usadas para inativação de coliformes
pode não ser suficiente para ter inativação eficiente de alguns vírus, esporos e
cistos;
Revisão Bibliográfica
22
4. Ocorre aumento no nível total de sólidos dissolvidos no efluente tratado;
5. Aumenta a concentração de cloreto no efluente;
6. Geração de ácido, decorrente da redução do pH se a alcalinidade for insuficiente.
3.5.1.3 Mecanismos de desinfecção com cloro
Algumas hipóteses têm sido propostas para explicar o efeito germicida do cloro e de
seus compostos correlatos. Acredita-se que assim que o cloro é difundido na célula, o
protoplasma celular é oxidado. No entanto, o mecanismo de oxidação sozinho não pode ser
considerado um efeito germicida. É sabido que o cloro precipita proteína e acredita-se que ele
pode alterar o arranjo químico de enzimas e em muitos casos inativá-las diretamente.
Acredita-se também que a presença de compostos clorados destrói a permeabilidade seletiva
da parede celular e permite a difusão dos solutos vitais e nutrientes para fora da célula
(WERF, 1995).
Outro mecanismo proposto é que compostos de cloro hidrolisam os polissacarídeos da
parede celular causando o enfraquecimento da mesma. Se a concentração dos solutos
celulares é menor que a do meio ao entorno, o soluto irá fluir para fora da célula, tornando-a
desidratada e finalmente, o protoplasma celular colapsará. No entanto, ainda que todos os
mecanismos anteriormente descritos possam ocorrer, o mecanismo predominante dependerá
do microrganismo em questão, do composto clorado usado e das características do esgoto
(WERF, 1995).
3.5.2 Ozônio
3.5.2.1 História
Em 1785, Van Marum notou odor durante uma descarga elétrica, mas em 1840,
Schonbein mostrou que esse odor ocorria devido a um gás particular que ele nomeou de
Ozone (que tem origem do grego Ozein). Em 1857, Siemens construiu o primeiro aparato para
produzir ozônio por descargas elétricas e Soret estabeleceu a sua fórmula em 1867
(JOHNSON, 1975).
Em 1886, pela primeira vez, De Meritens desinfetou água com ozônio. E a primeira
instalação permanente foi em Oudshoorn na Holanda, onde água do rio Reno, após
sedimentação e filtração, foi desinfetada com ozônio (JOHNSON, 1975).
Na década de 70, já havia mais de 1000 instalações em 20 diferentes países, incluindo
França, Alemanha, Suíça, Noruega, Holanda, Rússia, Canadá e México (JOHNSON, 1975).
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23
O ozônio é geralmente referido como uma forma alotrópica do oxigênio. É um gás
azul pálido com odor pungente e distinto, que se torna perceptível pelo olfato humano em
concentrações inferiores a 1 ppm no ar. A cor, por sua vez, não é perceptível em
concentrações normalmente produzidas e usadas. O ozônio é aproximadamente 10 vezes mais
solúvel na água que o oxigênio, mas a quantidade que pode ser dissolvida sob condições
operacionais é baixa (JOHNSON, 1975). A solubilidade do ozônio diminui com o aumento da
temperatura. Algumas propriedades do ozônio estão descritas na Tabela 3.5.
Tabela 3.5: Algumas propriedades do ozônio.
Massa Molar 48
Densidade a 0ºC 2,14 g/L
Pebulição -111,9ºC
Pfusão -251ºC
A estabilidade do ozônio é facilmente afetada pelo pH, luz ultravioleta, concentração
de ozônio e concentração de sequestradores (scavengers) de radicais livres (LANGLAIS,
1991). Devido à instabilidade da sua estrutura molecular, principalmente devido à deficiência
eletrônica das suas estruturas de ressonância, o ozônio na fase líquida ou gasosa pode produzir
uma série de reações instantâneas quando em contato com substâncias oxidáveis. Devido a
sua instabilidade, o ozônio deve ser gerado no local de uso, e por ser extremamente corrosivo,
os materiais para a construção de sistemas de ozonização devem ser escolhidos considerando
a compatibilidade com o ozônio (JOHNSON, 1975; WHITE, 1972).
É um gás que está presente naturalmente na estratosfera como o resultado da ação da
radiação UV emitida pelo sol nas moléculas de oxigênio. Provê proteção contra a radiação
UV danosa. (WATER, 2007).
3.5.2.2 Usos do ozônio
O ozônio é o agente oxidante mais forte que pode ser usado em escala prática para o
tratamento de água e esgoto (JOHNSON, 1975).
Devido a sua natureza fortemente oxidante, o ozônio pode reagir e promover
(LANGLAIS, 1991):
1. Controle de gosto e odor;
2. Desinfecção;
3. Remoção de cor;
4. Remoção de DQO e DBO;
Revisão Bibliográfica
24
5. Remoção de sólidos por arraste promovido pelas bolhas na coluna de contato
(JOHNSON, 1975).
6. Oxidação de ferro e manganês;
7. Saturar o efluente com oxigênio dissolvido (JOHNSON, 1975).
8. Tem efeito de coagulação;
9. Controle de turbidez;
10. Oxidação de compostos fenólicos;
11. Oxidação de pesticidas;
12. Controle de crescimento de algas;
13. Controle de subprodutos de desinfecção com compostos clorados;
14. Estabilização biológica.
A ozonização reduz a absorção de radiação ultravioleta, podendo assim, trazer
vantagens para aplicação de reuso (XU et al., 2002).
A reação do ozônio com metais de transição, tais como, ferro, chumbo e prata, leva
esses elementos a formas com estado de oxidação menos solúveis em meio aquoso, podendo
ser removidos por filtração (MONACO, 2006).
No entanto, a presença de matéria orgânica em suspensão pode competir com a
desinfecção na ação do ozônio, pois a cinética de reação da matéria orgânica com o ozônio,
em muitos casos, é mais favorável (MONACO, 2006).
3.5.2.3 Geração do Ozônio
A geração do ozônio no presente trabalho segue o processo denominado descarga
corona. O método baseia-se na conversão de moléculas de oxigênio em ozônio, através da
passagem de ar atmosférico pressurizado entre dois eletrodos nos quais é aplicada uma tensão
elétrica.
Os elétrons gerados na descarga corona possuem energia interna suficiente para
provocar a dissociação de moléculas de oxigênio em seus átomos constituintes, segundo a
reação 3.6.
O2 → 2•O (3.6)
Os átomos de oxigênio liberados, altamente instáveis, reagem com novas moléculas de
oxigênio para formar ozônio gasoso (equação 3.7).
Descarga corona
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25
•O + O2 → O3 (3.7)
Além da descarga corona, existem outros métodos de geração de ozônio, como o
método fotoquímico que utiliza radiação UV, o método eletrolítico e o método radioquímico
com o 137Cs, o 60Co ou o 90Sr como fonte de radiação (COSTA, 2003).
O contato entre as fases gasosa e líquida (efluente) do ozônio ocorre na câmara de
ozonização, onde são promovidas as reações de desinfecção e oxidação-redução.
Embora altamente solúvel em água, a concentração de ozônio na fase gasosa está
limitada a sua baixa pressão parcial na saída do equipamento gerador (2 a 3 % em peso)
(MONACO, 2006).
A diminuição da temperatura e do pH eleva a solubilidade do gás, favorecendo as
reações de oxidação e desinfecção pelo aumento da concentração de ozônio disponível (WEF,
1996), (MONACO, 2006).
3.5.2.4 Mecanismos de Decomposição do Ozônio
Em solução aquosa, o ozônio pode agir com vários compostos de duas maneiras
(LANGLAIS, 1991):
- via oxidação direta;
- via ação indireta.
O mecanismo predominante dependerá das características físico-químicas do efluente
ozonizado.
Na via direta, a oxidação envolve reações seletivas, que atuam diretamente em grupos
funcionais específicos presentes no material alvo, como compostos orgânicos e estruturas
bioquímicas. Essas reações são mais efetivas na inativação de microrganismos quando
comparadas ao processo indireto.
Na via indireta, surgem as reações adicionais envolvendo oxidantes instáveis que
reagem prontamente com as várias substâncias orgânicas e inorgânicas encontradas no
efluente (STAEHELIN & HOIGNÉ, 19855). Essas reações podem ocorrer em três fases:
iniciação, propagação e inibição.
5 STAEHELIN. J. & HOIGNÉ. J.; 1985. Decomposition of Ozone in Water in the Presence of Organic Soluter Acting as Promoters and Inibitors of Radical Chain Reations. Environment Science Tecnology, 19 (12). 1206-1213. Citado por Bilotta, P. (2006). Inativação de Indicadores Patogênicos em Sistemas Combinados de Tratamento e Pré-Desinfecção de Esgoto Sanitário. Tese (Doutorado). Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.
Revisão Bibliográfica
26
A iniciação é a fase determinante. Nela, iniciadores de reação, como os íons hidroxila
( −OH ), convertem o ozônio em ânions superóxido (• −2O ) e radicais hidroperoxil (•HO2), que
por sua vez, formam os íons radicalares (• −3O ), conforme as equações (3.8) e (3.9):
O3 + −OH → [• −2O ↔ •HO2] (3.8)
• −2O + O3 → • −
3O +O2 (3.9)
Na sequência são formados os radicais livres, principais responsáveis pela oxidação da
matéria orgânica e inorgânica devido a sua elevada instabilidade, e em particular a hidroxila
radicalar (•OH) (WEF, 1996), conforme apresentado na reação (3.10):
• −3O + H+ → • −
3HO → •OH + O2 (3.10)
A etapa denominada inibição tem início quando os íons superóxido são consumidos e
não são regenerados. Vários compostos orgânicos e inorgânicos podem agir como inibidores
como, por exemplo, o carbonato ( −23CO ) e bicarbonato ( −
3HCO ) dissolvidos (LANGLAIS,
1991).
Em elevadas concentrações, esses compostos podem interromper totalmente a reação
em cadeia, reduzindo consideravelmente a capacidade de oxidação do ozônio (LANGLAIS,
1991).
Por outro lado, em unidades de tratamento destinadas à desinfecção de esgoto
sanitário, a presença de espécies como −3HCO e −2
3CO estimulam a decomposição do ozônio
pelo mecanismo direto e, portanto, favorecem as reações de inativação (GLAZE, 19876 apud
MONACO, 2006), (STAEHELIN & HOIGNÉ 19857 apud MONACO, 2006). Na
Tabela 3.6 estão apontados alguns iniciadores, promotores e inibidores do ozônio.
Na fase inibidora, os radicais hidroxilas são consumidos pela transferência de elétrons
(equação 3.11):
6 GLAZE. W. H. 1987. Drinking Water Treatment With Ozone. Environment Science Tecnology, 21(3): 224-229. 7 STAEHELIN. J. & HOIGNÉ. J.; 1985. Decomposition of Ozone in Water in the Presence of Organic Soluter Acting as Promoters and Inibitors of Radical Chain Reations. Enviroment Science Tecnology, 19 (12). 1206-1213.
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27
−3HCO + •OH → −OH + HCO3 (3.11)
Tabela 3.6: Iniciadores, promotores e inibidores do ozônio Iniciadores Promotores Inibidores
OH- R2-CH-OH CH3-CO-O- H2O2/HO2
- aril- (R ) alquil- (R ) húmicos Húmicos húmicos
Fe2+ O3 −3HCO / −2
3CORadiação UV
Fonte: AWWA (1991)8, apud MONACO, 2006.
Conforme as diferentes maneiras que o ozônio reage com compostos orgânicos pode
se estabelecer três categorias de compostos (WATER, 2007):
-compostos aromáticos e alifáticos insaturados são facilmente oxidados;
-compostos saturados e insaturados oxigenados ou halogenados são ligeiramente degradáveis;
-compostos que contenham ligações C-H, como o tetraclorometano ou pentaclorofenol são
totalmente inertes.
Compostos suscetíveis à reação com ozônio são principalmente aqueles que contêm
sítios nucleofílicos como oxigênio, nitrogênio, enxofre, fósforo e carvão ativado
(LANGLAIS, 1991).
No processo de degradação, muitos produtos de moléculas clivadas são formados.
Esses são mais oxidáveis, mais polares, possuem menores pesos moleculares e, muitas vezes,
são mais biodegradáveis que seus precursores (LANGLAIS, 1991).
No caso de substâncias poucamente reativas (aquelas que não apresentam sítios
nucleofílicos e possivelmente com estruturas muito simétricas) deve ser necessário combinar
ozônio com outros agentes, tais como UV e H2O2, para eliminar compostos orgânicos
(LANGLAIS, 1991).
O desempenho global da ozonização depende da eficiência da geração e transferência
do gás para o efluente. A concentração de ozônio deve ser estimada a atender a demanda das
reações rápidas de oxidação com as espécies orgânicas e inorgânicas, bem como, promover as
reações com as várias espécies de microrganismos patogênicos ali presentes (MONACO,
2006). 8 AWWA (1991). Ozone in Water Treatment. American Water Works Association. Michigan.
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28
Algumas das reações do ozônio com a matéria inorgânica, que normalmente ocorrem
no tratamento de águas, estão apresentados a seguir:
Precipitação com ferro: 2Fe+2 + O3 + 5H2O → 2Fe(OH)3 + O2 +4H+
Precipitação do manganês: Mn+2 + O3 +H2O → MnO2 + 2H+ + O2 O manganês reage mais
lentamente com ozônio que com ferro. A taxa de eliminação é significativamente menor
quando a água contém substâncias orgânicas. Adicionalmente, a aplicação de excesso de
ozônio promove a formação de permanganato e o desenvolvimento de coloração rosa
(WATER, 2007)
Oxidação do sulfeto: S2- + 4 O3 → SO42- +2 O2
Oxidação do nitrito: NO2- + O3 → NO3
- + O2
Oxidação de halogenos (teoricamente ozônio pode oxidar todos os halogenos). Na prática, a
taxa de reação é virtualmente zero com o cloro, extremamente alto com o iodo e médio com
bromo (WATER, 2007).
Algumas das reações do ozônio com a matéria orgânica estão apresentados na Tabela
3.7.
Tabela 3.7: Reação do ozônio com compostos orgânicos. Compostos orgânicos Produtos da ozonização
Alcenos Ácido, aldeídos saturados, dióxido de carbono
Compostos aromáticos Fenóis, quinonas, ácidos alifáticos, dióxido de carbono
Aminas Hidroxilaminas, óxidos, amidas, amônia, nitrato, ácidos carboxílicos
Alcoóis Aldeídos, ácidos carboxílicos, cetonas Aldeídos e cetonas Ácidos carboxílicos
3.5.2.5 Inativação de bactérias
A inativação de bactéria por ozônio pode ser considerada como uma reação de
oxidação. A oxidação é causada pelo alto potencial de oxidação-redução do ozônio na água;
pela habilidade do ozônio em se difundir em sítios a serem desativados e por espécies
químicas como os radicais livres, que são subprodutos reativos do ozônio (LANGLAIS,
1991).
A membrana bacteriana parece ser o primeiro sítio a ser atacado através das
glicoproteínas ou glicolipídeos ou através de certos aminoácidos como o triptofano
(LANGLAIS, 1991).
O ozônio também prejudica a atividade enzimática da bactéria pela ação em grupos
sulfidril de certas enzimas. Pesquisadores notaram que bactérias ozonizadas perderam sua
Revisão Bibliográfica
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habilidade de degradar açucares e de produzir gases (VROCHINSKII, 19639 apud
LANGLAIS, 1991). A morte bacteriana pode ocorrer devido a mudanças na permeabilidade
celular possivelmente seguida de lise celular (MURRAY et al., 196510 apud LANGLAIS,
1991).
Assim que atravessa a membrana e a parede celular, o ozônio pode agir no material
nuclear, que é um sítio preferencial de oxidação (LANGLAIS, 1991). HAMELIN & CHUNG
(1975) sugerem que o ozônio atua no DNA, alvo considerado mais sensível, e essa ação é
comum a encontrada para os agentes que emitem radiação. Esses autores observaram em seu
trabalho, que bactérias sobreviventes à radiação UV tiveram o comportamento de serem mais
sensíveis quando submetidas à ozonização, que as bactérias parentais.
LANGLAIS (1991) também menciona que os fluidos celulares possuem pH perto do
neutro e uma elevada concentração de íons bicarbonatos. Pode haver inibição devido a alguns
compostos celulares que impedem a ação do ozônio. Mas se o ozônio residual conseguir
atravessar a membrana citoplasmática e o citoplasma, o material genético será rapidamente
degradado, sendo que os sítios principais, no material genético, são as bases nitrogenadas
guanina e timina.
3.5.2.6 Comparação do Ozônio com o Cloro
A oxidação e a reação de inativação bacteriana sempre ocorrem muito rápido, e isso
fez com que Bringman, em 1954, sugerisse que o ozônio reagiria diferentemente do cloro. Ele
propôs que o cloro oxidaria certos sistemas enzimáticos seletivamente, enquanto que o ozônio
atuaria como agente oxidante geral (LANGLAIS, 1991).
O ozônio não se dissocia na água como o cloro, portanto, não sofre assim com a perda
na eficiência da desinfecção. Além disso, ele não reage com a amônia para formar formas
menos desinfetantes como as cloraminas. Esse gás é um forte agente oxidante, no entanto,
uma alta demanda de ozônio é exercida na redução de matéria orgânica e inorgânica,
presentes na água e por ser maior para o ozônio do que para o cloro, essa demanda pode ser
esperada, pois o ozônio é um agente oxidante mais forte que o cloro (JOHNSON, 1975).
O ozônio tem certas vantagens sob o cloro na desinfecção de esgotos (SPELLMAN,
1999):
Ozônio aumenta o oxigênio dissolvido do efluente;
9 VROCHINSSKII, K. K. 1963. Experimental data on Water Decontamination with Ozone. Hyg. Sanit., 28:3. 10 MURRAY, R.G.E. et al. 1965. The location of the Mucopeptide of Sections of The Cell Wall of Escherichia coli and other Gram-Negative Bactéria. Can. J. Microbiol., 11: 3: 547-560.
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30
Ozônio não deixa residual;
Ozônio não tem efeitos indesejáveis sob os organismos aquáticos;
Ozônio diminui a turbidez e a cor.
O maior benefício da desinfecção com o ozônio é que os compostos orgânicos
ozonizados são mais biodegradáveis que os compostos clorados. Entretanto, a maior
deficiência desse gás como desinfetante é que, devido ao seu alto poder oxidante, ele é muito
instável na água, possuindo apenas um pequeno tempo de vida. Em vista disso, a desinfecção
com o ozônio não provê um residual para servir como um indicador de garantia de segurança
microbiológica (JOHNSON, 1975).
Assim como o cloro, o ozônio é um gás tóxico e pode causar doenças severas e morte
se inalado em quantidade suficiente para isso. A vantagem que o ozônio tem sobre o cloro é
que ele é gerado no local de uso eliminando o perigo de transporte. Outro fator de segurança é
que o odor do ozônio é detectado em concentração inferior a do nível de risco (SPELLMAN,
1999).
3.5.3 Radiação UV
O uso da radiação UV na desinfecção de efluentes secundários de esgoto sanitário
surgiu como método alternativo ao cloro por possuir vantagens de não manter residual
desinfetante e minimizar a potencialidade de geração de subprodutos prejudiciais à saúde,
diminuindo a introdução de produtos danosos ao corpo receptor. Radiação UV aplicado como
parte do tratamento de desinfecção é reconhecido por sua mínima produção de subprodutos
(WATER, 2007).
OLIVER & COSGROVE11 (1975) apud COLETTI (2003), em escala de laboratório,
provou a viabilidade da utilização da radiação ultravioleta como agente desinfetante em
efluente secundário de esgoto sanitário.
Antes disso, a radiação ultravioleta já era aplicada, e apenas na desinfecção de água de
abastecimento, pois se acreditava que a matéria em suspensão, cor e turbidez, presentes em
maiores quantidades, absorveriam grande parte da radiação incidente, prejudicando a
desinfecção (COLETTI, 2003).
Pesquisas realizadas no Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de
Engenharia de São Carlos, tais como CAMPOS & PIZZIRANI (1977), SAMPAIO (1985),
DANIEL (1989), DANIEL (1993), SOUZA (2000), BILOTTA (2000), DIAS (2001),
11 OLIVER, B. G. & COSGROVE, E.G. (1975). The disinfection of sewage treatment plant effluents using ultraviolet light. Canadian Journal of Chemical Engineering, v. 53, n. 4, p. 170-174, abril.
Revisão Bibliográfica
31
COLETTI (2003), MONACO (2006) e também pesquisas realizadas em outras entidades no
Brasil e no mundo confirmam a viabilidade do emprego da radiação UV na desinfecção de
esgoto sanitário.
3.5.3.1 Mecanismos de desinfecção com radiação UV
O estudo sobre a morte de células por radiação ultravioleta, em particular por
comprimentos de ondas presentes na luz solar, já se desenvolve a mais de um século. A ação
mutagênica da radiação UV foi experimentalmente estabelecida não muito mais tarde que a
descoberta da mutagenecidade das radiações ionizantes de H. J. Muller em 1927.
Concomitantemente, o espectro de ação para a morte de células e vírus e para a metagênese
indica que esses efeitos ocorrem devido à absorção de energia em ácidos nucléicos,
substâncias que fazem parte dos cromossomos e que carregam a informação hereditária
(HARM, 1980).
Dessa maneira, a ação germicida da luz UV envolve determinados danos no conteúdo
genético dos organismos. Os ácidos nucléicos são os mais importantes absorvedores de
energia da luz no comprimento de onda na faixa de 240 a 280nm (WERF, 1995). Devido ao
fato de o DNA e o RNA carregarem informação de reprodução, danos nestas substâncias
podem efetivamente inativar as células. O dano geralmente resulta da dimerização de duas
moléculas de pirimidina. Os três tipos de moléculas de pirimidina são citosina (encontrados
no DNA e no RNA), timina (encontrado apenas no DNA) e uracila (encontrado apenas no
RNA). Uma vez que as moléculas de pirimidina estiverem dimerizadas, a replicação dos
ácidos nucléicos torna-se difícil assim que a estrutura helicoidal é destruída. Se a replicação
ocorrer, células filhas mutantes serão produzidas e serão inábeis para se replicar (WERF,
1995).
A absorção de altas doses pelas proteínas presentes nas membranas celulares leva ao
rompimento dessas membranas e, com isso, à morte da célula (DANIEL, 2001). Segundo o
mesmo autor, a absorção de baixas doses pelo DNA pode interromper a habilidade de
reprodução do microrganismo.
3.5.3.1.1 Razão biológica da letalidade
O material genético de um organismo celular ou um vírus tem que possuir duas
funções essenciais para se reproduzir e perpetuar a identidade biológica: (1) ele deve se
replicar, então o descendente carrega a mesma especificidade genética dos parentes, e (2) ele
deve deixar disponível em certos componentes celulares a sua informação genética para assim
prover todas as funções fenotípicas vitais. Conseqüentemente, os fotoprodutos de UV no
Revisão Bibliográfica
32
DNA, através da interferência na replicação, transferência de informação ou ambos, podem
causar a letalidade desses organismos celulares ou vírus.
3.5.3.2 Recuperação de microrganismos irradiados por radiação UV
Os microrganismos irradiados podem se recuperar através de dois mecanismos
distintos, denominados de fotorreativação (reversão das alterações) e recuperação no escuro
(substituição dos nucleotídeos lesados) (DANIEL, 1989).
A reversão das alterações é obtida por meio da recuperação fotoenzimática
(fotorreativação) que monomeriza, principalmente, os dímeros de pirimidina. Isso ocorre
através da ação de uma enzima fotorreativante durante a exposição em radiação ultravioleta
de comprimento de onda de 300 a 500nm. Em 254 nm a formação de dímeros é
aproximadamente 8 vezes mais freqüente que a desdimerização (COLLETI, 2003).
A substituição dos nucleotídeos lesados (reparo no escuro) ocorre na ausência da luz e
pode ser realizada mediante a remoção da parte lesada e de uma sequência de nucleotídeos
adjacentes, com posterior re-síntese da sequência original de nucleotídeos.
As vantagens do uso da radiação UV são (USEPA, 1999):
1. Eficácia na inativação da maioria dos vírus, esporos e cistos;
2. Por ser um processo físico, elimina a necessidade de geração, manuseio, transporte e
estoque de produtos químicos tóxicos, perigosos ou corrosivos;
3. Não possui ação residual que possa prejudicar a vida aquática ou os seres humanos;
4. Inofensivo aos operadores, desde que não se exponham à radiação;
5. Os tempos de contato são inferiores aos de outros desinfetantes;
6. Os equipamentos requerem menores áreas do que em outros métodos.
As desvantagens do uso da radiação UV são (USEPA, 1999):
1. Doses baixas podem não ser suficientes para inativar alguns vírus, esporos ou cistos;
2. Alguns microrganismos podem reparar ou reverter os efeitos causados pela radiação
UV através de mecanismos de fotorreativação ou recuperação no escuro;
3. Necessidade do controle de deposição de sólidos no envoltório das lâmpadas;
4. A concentração de sólidos suspensos totais e a turbidez das águas residuárias podem
prejudicar a desinfecção;
5. Necessidade de eletricidade contínua (WITT & REIFF, 1994);
6. Decrescimento da eficiência das lâmpadas com o uso (WITT & REIFF, 1994);
7. Problemas operacionais como rompimento do quartzo das lâmpadas e necessidade de
limpeza periódica das mesmas (SCHIRCH & RODRIGUEZ, 1993).
Revisão Bibliográfica
33
Se a qualidade do esgoto é ruim, a luz UV é incapaz de penetrar os sólidos e a eficiência
do processo decresce. Por esta razão, recomenda-se tratar o efluente com SST ≤ 30 mg/L para
se obter assim, uma elevada eficiência na desinfecção com UV (SPELLMAN, 1999).
3.5.3.3 Fatores interferentes na eficácia da desinfecção com UV
Os fatores interferentes na desinfecção com UV, segundo CHEREMISINOFF (1995),
são:
1. A dose, que é afetada pela potência radiante das lâmpadas, tempo de contato e
turbidez;
2. Presença de constituintes interferentes na água residuária, especialmente ferro,
manganês e dureza (cálcio e magnésio);
3. Formação de curtos circuitos na câmara de contato.
LOGE et al., (1999) investigaram a influência dos sólidos na desinfecção com UV e
fizeram as seguintes proposições: por proteger os microrganismos, o número de partículas
presentes é provavelmente o parâmetro fundamental que influencia a eficiência do processo.
Entretanto, devido à alta porosidade, a radiação pode somente penetrar nos sólidos, mas não
por transmissão através dos sólidos. Por fim, os sólidos absorvem a radiação com atenuação,
seguindo a lei de Beer-Lambert.
3.6 Cinética de desinfecção
Para melhor se entender o funcionamento dos efeitos da desinfecção em uma
população de microrganismos torna-se necessário usar modelos matemáticos. Esses modelos
têm por finalidade descrever o comportamento do número de organismos sobreviventes
sujeitos à desinfecção, auxiliando as previsões de processos, ainda que esteja embutido um
erro inerente da dificuldade de agregar os diversos fatores físicos, químicos e biológicos
interferentes.
A eficiência da desinfecção depende da resistência dos microrganismos ao
desinfetante e da concentração e do tempo de exposição ao agente desinfetante.
A probabilidade de se atingir um alvo é proporcional ao número de alvos, isto é, ao
número de bactérias presentes. A intuição diz que ao se atirar ao acaso em muitos alvos,
haverá boa chance de se abater um deles, mas com o tempo, não só o número de alvos
diminui prontamente, como também se torna cada vez mais difícil se abater os remanescentes
(PELCZAR, 1980).
Revisão Bibliográfica
34
A probabilidade de atingir um alvo é também proporcional ao número de projéteis
disparados, ou seja, à concentração do agente químico ou à intensidade do agente físico
(PELCZAR et al., 1980).
Para água de abastecimento, deve-se alcançar a inativação total dos microrganismos
patogênicos, devido aos riscos que podem causar à saúde dos consumidores e para a
desinfecção de esgoto sanitário é permitido que a inativação forneça concentração compatível
ao uso a que se propõe, alertando que o esgoto sanitário desinfetado nunca será usado como
fonte de água potável, devido ao risco de conter patógenos e compostos orgânicos e
inorgânicos prejudiciais à saúde humana (DANIEL, 2001).
O equacionamento da cinética é o mesmo para cloro, ozônio e UV. Há apenas
adaptações que objetivam melhorar o ajuste matemático para descrever o efeito da ação de
cada desinfetante. Para efeito didático, a cinética para cada desinfetante está descrita em itens
distintos.
3.6.1 Cinética de desinfecção com cloro
Chick equacionou, em 1908, a redução do número de organismos viáveis de culturas
puras de Bacillus anthracis seguindo a reação de primeira ordem, como mostra a equação
3.12.
tKNoNLn .−= (3.12)
K: constante de decaimento [T-1];
N: concentração final de microrganismos [NMP/100mL];
No: concentração inicial de microrganismos [NMP/100mL];
T: tempo de contato [T].
Essa equação é válida para as seguintes condições (DANIEL, 2001):
População homogênea de microrganismo;
Escoamento de pistão ou batelada de mistura completa;
Distribuição homogênea de desinfetante e microrganismos;
Concentração constante de desinfetante ao longo do tempo;
A constante K é válida para cada concentração de desinfetante, não sendo aplicada
para outras concentrações.
Divergências no decaimento exponencial da desinfecção são observadas e considera-
se que muitos fatores podem causar este desvio como, por exemplo, alteração na concentração
Revisão Bibliográfica
35
de desinfetante com o tempo de contato, diferenças na resistência entre os organismos ou fase
da vida em que os organismos se apresentam em uma mesma cultura, existência de grumos de
organismos ou ainda a oclusão dos organismos por sólidos suspensos (U.S. EPA12, 1986
citado por WEF, 1996).
Em 1908, Watson, ao analisar dados com concentração variável de desinfetante, pode
demonstrar uma relação logarítmica entre a concentração do desinfetante e a velocidade de
reação (AWWA, 1995; U.S. EPA, 1986 citado por WEF, 1996; DANIEL, 2001), como
mostra a equação (3.13).
tCKNoNLn n .'.−= (3.13)
C: concentração de desinfetante;
n: coeficiente de diluição;
K’: coeficiente de decaimento bacteriano;
t: tempo de contato.
Se n>1, a concentração de desinfetante exerce maior influência na desinfecção; se n<1,
o tempo de contato exerce maior influência e se n=1, os efeitos da concentração e do tempo
são iguais (DANIEL, 2001).
A inativação de microrganismos em experimentos de bancada, mesmo mantendo a
concentração de desinfetante constante, nem sempre segue o decaimento exponencial predito
na equação 3.12. De fato, podem ocorrer dois tipos de desvios como mostra a Figura 3.2
(AWWA, 1995).
12 USEPA, 1986. U.S. Environmental Protection Agency. Municipal Wastewater Disinfection Design Manual. EPA-625/1-86-021, Cincinnati, Ohio, 247.
Revisão Bibliográfica
36
Figura 3.2: Lei de Chick e desvios.
Na desinfecção química, a concentração de desinfetante pode variar ao longo do
tempo, e particularmente durante os momentos iniciais de contato, o cloro transforma-se
rapidamente da forma livre para a combinada (AWWA, 1995). Segundo o mesmo autor,
resultados obtidos em sistemas de bancada exibem tipicamente o comportamento de curva
assíntota (tailing off). O grau deste comportamento depende da demanda e da concentração de
constituintes reativos presentes no sistema, tais como a amônia. Esse comportamento pode
representar que a parcela de microrganismos restante é resistente à desinfecção, ou que há a
possibilidade de que partículas estejam protegendo os microrganismos mantendo uma fração
sobrevivente mesmo em longo tempo de contato (na porção destacada A da Figura 3.2).
A presença de patamares (sholder) em curvas de inativação é geralmente presenciada
em organismos que formam grumos, o que significa que mais de uma célula deve ser
inativada para se obter a inativação de uma colônia (AWWA, 1995). Isso pode também
ocorrer quando o organismo alvo é resistente ao desinfetante, exigindo um tempo de contato
maior para que a inativação ocorra, ou quando ainda houver material em suspensão que possa
proteger os microrganismos.
O comportamento de curva assíntota foi observado em inativação de coliformes e
vírus usando-se ozônio e cloro livre (AWWA, 1995).
Em 1972, Hom desenvolveu um modelo mais flexível para descrever a cinética de
inativação de microrganismos, como é apresentado na equação (3.14) (AWWA, 1995; WEF,
1996; DANIEL, 2001).
mn tCKNoNLn .'.−= (3.14)
n e m: constantes empíricas.
Revisão Bibliográfica
37
Para a equação 3.14, se m=1 a equação torna-se a lei Chick-Watson. Para m>1 resulta
o comportamento assintótico (cauda), e para m<1, de patamar (sholder).
As constantes e os coeficientes de todos os modelos de decaimento bacteriano são
obtidos por regressão múltipla a partir de resultados experimentais obtidos em laboratório e
em condições físico-químicas controladas e conhecidas. Alterando-se essas condições os
valores dos coeficientes e das constantes deixam de ser válidos, podendo ocasionar erros que
comprometerão a segurança, caso a inativação não alcance o resultado esperado. Assim, pode-
se afirmar que a reprodutibilidade não pode ser garantida devido à variabilidade do recurso a
ser desinfetado e à resistência dos organismos (DANIEL, 2001).
Os dados e as equações obtidas são válidos para estimativas e projetos, devendo
sempre considerar o fator de segurança.
3.6.2 Cinética de desinfecção com radiação UV
A inativação bacteriana na ausência de material particulado é tipicamente modelada
usando-se cinética de primeira ordem; esses modelos geralmente promovem uma boa
aproximação para a inativação por radiação UV. No entanto, a presença de material
particulado pode causar dificuldades na aplicação de modelos de primeira ordem para projetar
sistemas reais. Prever níveis de inativação usando modelo de primeira ordem não explica a
redução na eficiência da desinfecção devido à agregação de microrganismos ou à oclusão de
bactérias na matéria particulada muito evidenciada em altas doses de UV. Inúmeras estações
de tratamento de esgotos operam na região de curva assintótica (cauda) (WERF, 1995).
Uma limitação nos modelos de desinfecção existentes para UV está na habilidade em
predizer com certeza o desempenho em regiões de cauda. É difícil descrever a inativação
nessa região sem o uso de modelos empíricos devido à complexidade da absorção de
partículas e à dispersão da luz UV. O uso de aproximações empíricas, por sua vez, introduz
um nível de incerteza nas predições que passam a ser negligenciadas nos modelos existentes
(WERF, 1995).
A agregação ou oclusão dos microrganismos na matéria particulada impede a
penetração da radiação ultravioleta, reduzindo a eficiência da inativação (DANIEL, 1993).
A inativação bacteriana é usualmente aproximada pelo modelo de cinética de primeira
ordem expressado na equação (3.15):
tIKNoNLn ..−= (3.15)
Revisão Bibliográfica
38
N: número de organismos sobreviventes após a exposição a radiação UV (UFC/100mL ou
NMP/100mL);
No: número inicial de organismos (UFC/100mL ou NMP/100mL);
K: constante de inativação (cm2/ mWs);
I: intensidade de energia de radiação UV (mW/cm2);
t: tempo de exposição (s).
Em analogia à equação (3.15), para este trabalho, foi empregado como dose recebida
(Dr) o produto dos fatores de intensidade de energia de radiação UV (I) pelo tempo (t).
Assim, a equação (3.15) foi expressa como na equação (3.16).
KDrNoNLn −= (3.16)
Dr: Dose recebida por volume (Wh/m3).
Embora o modelo de primeira ordem produza uma boa aproximação da inativação,
desvios desse modelo incluem: retardo na resposta inicial da radiação UV devido à resistência
das bactérias, e redução na eficiência da desinfecção devido à agregação de organismos ou de
proteção das bactérias por conta do material particulado evidenciado em altas doses de UV
(WERF, 1995). SHEIBLE13 (1987) considerou os efeitos da presença de matéria particulada
em suspensão, fazendo distinção entre as frações de microrganismos agregados e não
agregados aos sólidos (3.17) (DANIEL, 1993):
( ) ( )p
kDpm NeNNN r ++= − (3.17)
N: número de organismos sobreviventes (NMP/100mL ou UFC/100mL);
Nm: número de organismos não associados à matéria particulada (NMP/100mL ou
UFC/100mL);
Np: número de organismos associados à matéria particulada, não afetados pela radiação
ultravioleta (NMP/100mL ou UFC/100mL);
k: constante de inativação dos microrganismos pela radiação UV (cm2/ mWs);
Dr: Dose recebida por volume (Wh/m3).
13 SHEIBLE , O. K. (1987). Development of a Rationally Based Protocl for the Ultraviolet Light Disinfection Process”. J. Water Pollution Control Federation, v.59, n.1, 25-31, jan., 1987.
Revisão Bibliográfica
39
Na maioria das aplicações para a desinfecção de esgoto, Nm é normalmente muito
maior do que Np, permitindo que se faça a aproximação (3.18) (SHEIBLE, 1987 citado por
DANIEL, 1993):
opm NNN =+ (3.18)
O Np pode ser estimado a partir da concentração de sólidos suspensos totais (SST)
empregando-se uma dose suficiente para inativar todos os microrganismos que não estejam
protegidos na matéria particulada e aplicando-se a seguinte relação empírica (3.19):
( )βα SSTN p = (3.19)
α, β: coeficientes empíricos.
As constantes α e β podem ser determinadas através do ajuste pelo método dos
mínimos quadrados ou ainda, graficamente, através da forma linear da equação (3.19) obtida
através do lançamento Np em ordenadas logarítmicas e SST em abscissas também
logarítmicas. A constante α é obtida pela interseção da reta com o eixo das ordenadas e a
constante β é a declividade da reta.
Combinando as equações (3.17); (3.18) e (3.19) obtém-se a 3.20: βα )()exp( SSTKDNoN r +−= (3.20)
3.6.3 Cinética de desinfecção com ozônio
Se a reação de desinfecção com o ozônio ocorre conforme a lei de Chick, resulta-se
em uma linha reta quando os dados são plotados em escala semi-logarítmica (tempo na
abscissa - escala aritmética; log N/No - ordenada-escala logarítmica). Na prática, resultados
experimentais nem sempre mostram uma relação linear. Esses desvios são devido a diferentes
fatores, principalmente à agregação de microrganismos, à proteção de organismos por
material particulado e à ausência de constância na concentração de desinfetante. Idade e
condições físicas freqüentemente variam entre as populações, além disso, os organismos
podem possuir material extracelular o que restringirá a difusão do desinfetante. Condições
experimentais podem ter um efeito na eficiência de desinfecção. LANGLAIS (1991)
considera a lei de Watson para a cinética do ozônio.
Para determinar a cinética para a desinfecção somente com ozônio, a definição de CT
foi proposta partindo-se da equação (3.21) apresentada por WU & DOAN (2005):
Revisão Bibliográfica
40
∫=t
tdttCCT0
)( (3.21)
C(t): concentração de ozônio dissolvido residual;
t: tempo de contato.
Para calcular CT, a equação de WU E DOAN (2005) foi modificada no presente
trabalho, utilizando C(t) como taxa de ozônio consumido (concentração de ozônio consumido
dividido pelo tempo de contato) e t como tempo de contato, considerando-se que a vazão
aplicada de ozônio seja constante durante os ensaios.
A seguir é apresentado exemplo de como calcular CT:
Concentração de ozônio consumido (C) = 5,3 mg/L;
Tempo de contato (t) = 10 minutos;
Taxa de consumo de ozônio = 5,3/10 = 0,53 mg.min/L;
Aplicando a equação 3.21:
CT= 5,262
100*53,02
*53,053,010
0
2
0)( ==== ∫∫
ttdttdtCt
t mg.min/L
No estudo de WU & DOAN (2005), em reator de semi-batelada a concentração de
ozônio dissolvido variou com o tempo de contato. Esses autores observaram que a
concentração de ozônio aumentou gradualmente com a aplicação contínua de ozônio até
atingir um valor máximo. Nessas condições, o modelo que melhor se ajustou aos seus valores
foi a equação (3.22).
( )ktCC −−= exp10 (3.22)
Quando o ozônio é dissolvido no esgoto, três reações simultâneas ocorrem:
desinfecção, oxidação química e a própria decomposição do ozônio. No esgoto estão
presentes muitos materiais que consomem ozônio, além das bactérias. No processo da
ozonização, bactérias são inativadas e materiais oxidáveis são mineralizados ou oxidados.
Consequentemente, com a aplicação continua de ozônio, o consumo de ozônio dissolvido
diminue e eventualmente, um equilíbrio entre a produção e o consumo desse gás alcança uma
dada dose de ozônio aplicada que poderá estar mais disponível para agir como desinfetante.
Material e Métodos
41
4 Material e Métodos 4.1 Ensaios de desinfecção com cloro seguido de radiação UV
O ensaio teve por início a coleta do efluente no reator UASB localizado na estação de
tratamento de esgoto do campus da USP – São Carlos, Área 1. Esse esgoto foi coletado e
levado até o Laboratório de Tratamento Avançado e Reuso de Águas (LATAR), localizado no
próprio campus, onde foram realizados os experimentos e as análises.
O efluente anaeróbio utilizado foi proveniente do reator UASB localizado na ETE-
USP - SC. Esse reator possui 2,0 m de lado e 4,7 m de altura útil, com volume total de 18,8
m3. O reator UASB foi alimentado com esgoto sanitário in natura proveniente do Campus I
da USP e de parte da rede coletora do bairro próximo ao Campus, o qual foi submetido a
tratamento preliminar (gradeamento, remoção de areia e remoção de gorduras). Após o
tratamento preliminar, o esgoto era bombeado para um tanque pulmão e distribuído por
gravidade para o reator UASB (PASSIG, 2005).
O reator anaeróbio de manta de lodo (UASB) é uma unidade de tratamento de fluxo
ascendente, que utiliza o processo anaeróbio para degradar a matéria orgânica. A água
residuária passa através de uma região de reação que apresenta elevada concentração de
microrganismos anaeróbios (PASSIG, 2005).
Os ensaios de desinfecção foram realizados em duas fases: Fase I - Desinfecção com
cloro e Fase II - Desinfecção sequencial com cloro e radiação ultravioleta.
4.1.1 Fase I – Ensaios de desinfecção com cloro
A solução de hipoclorito de sódio utilizada era de grau comercial. Essa solução, que
será chamada de estoque ao longo do texto, deve ser mantida refrigerada ao abrigo de luz,
pois, devido o seu alto poder de oxidação, soluções de hipoclorito de sódio são instáveis.
Calor, luz, tempo de armazenamento e impurezas, como o ferro, aceleram a decomposição do
produto (SPELLMAN, 1999).
Essa instabilidade exige que se tenha o rigor de sempre aguardar que a solução estoque
se equalize com a temperatura ambiente e quantificar sua concentração imediatamente antes
de seu uso.
O ensaio de desinfecção com cloro consiste em aplicar uma alíquota de solução
estoque de cloro, que corresponda à concentração desejada, no efluente do reator UASB;
misturar o desinfetante e agitar durante todo o tempo de contato desejado.
Material e Métodos
42
A amostra a ser clorada foi acondicionada em béqueres de vidro de 2 L. Para garantir a
mesma agitação para toda a amostra foi usado o equipamento Jar Teste a 70 rpm.
As dosagens de cloro usadas foram de 10, 20 e 30 mgCl2/L. Para cada dosagem de
cloro, o esgoto foi submetido a 3 tempos de contanto: 10, 20 e 30 min. Para cada combinação
de dosagem de cloro e tempo de contato o esgoto clorado foi submetido a 3 doses de radiação
ultravioleta: 1, 5 e 10 Wh/m3 (Tabela 4.1).
Tabela 4.1: Configuração dos experimentos de desinfecção com cloro seguido de UV
Experimento Dosagem
cloro (mgCl2/L)
Tempo de contato (min.)
Dose Radiação UV (Wh/m3)
I-A 10 10 1; 5; 10 I-B __ __ 1; 5; 10 II 10 20 1; 5; 10 III 10 30 1; 5; 10 IV 20 10 1; 5; 10 V 20 20 1; 5; 10 VI 20 30 1; 5; 10 VII 30 10 1; 5; 10 VIII 30 20 1; 5; 10 IX 30 30 1; 5; 10
O cloro aplicado e as concentrações de cloro total e livre na fase líquida foram
quantificados pelo método DPD Colorimétrico. Foi utilizado o programa 88 do manual do
espectrofotômetro Hack- DR 2010, em comprimento de onda de 530 nm.
Foi definido antes de cada ensaio, o volume de solução estoque de hipoclorito de sódio
a ser adicionado no efluente do reator UASB de forma a se obter a dosagem desejada. O
procedimento constitui em transferir uma alíquota de solução estoque de hipoclorito de sódio
para um béquer contendo água desionizada em volume igual ao do esgoto a ser desinfetado. A
solução foi homogeneizada e a concentração do cloro nessa solução foi determinada pelo
método DPD colorimétrico.
Conhecendo-se a concentração da solução estoque na solução com água desionizada,
calcula-se o volume da solução estoque a ser usado para se obter a concentração desejada no
ensaio de desinfecção pela equação (4.1):
c
cacac C
VCV ++ ×= (4.1)
Vc: volume de solução estoque (mL);
Va+c: volume da solução de água desionizada com solução estoque (mL);
Cc: concentração de cloro na solução estoque (mg/L);
Material e Métodos
43
Ca+c: concentração de cloro na solução de água desionizada com solução estoque (mL).
Definido o volume de solução estoque, iniciou-se o ensaio de desinfecção,
transferindo-o para os béqueres com amostra de efluente do reator UASB. Ligou-se a agitação
pelo tempo de contato especificado para cada dosagem (Tabela 4.1).
Concluído o tempo de contato, coletou-se alíquota e determinaram-se as concentrações
de cloro livre e do cloro total. Em outra alíquota destinada às análises fisicoquímicas e aos
exames para quantificação de E. coli, coliformes totais e C. perfringens, foi adicionado
metabissulfito de sódio para remover o cloro residual livre e combinado.
O metabissulfito reage com o cloro segundo a reação (4.2):
Na2S2O5 + 4HOCl + H2O → 6H+ + 2SO42- + 4Cl- + 2Na+ (4.2)
4.1.2 Fase II - Ensaios de desinfecção com radiação ultravioleta
A desinfecção com radiação ultravioleta foi realizada em reator de bancada (batelada),
constituído com base em aço inoxidável e com as dimensões: 40,2cm de largura, 44,8 cm de
comprimento e 10 cm de profundidade. Sobre essa base foi fixado um refletor em alumínio
com 44,4 cm de comprimento, 39,6 cm de largura e 10 cm de altura, contendo 6 lâmpadas de
15 W, de baixa pressão de vapor de mercúrio e uniformemente espaçadas, conforme
apresentado na Figura 4.1. Trata-se de reator de lâmpadas emersas, as quais não têm contato
direto com o líquido.
Figura 4.1: Ilustração do reator usado na desinfecção com radiação UV.
X
Y
X
Y
BASE DO REATOR
CÚPULA REFLETORA CÚPULALÂMPADAS GERMICIDAS
CÂMARA DE RADIAÇÃO
Material e Métodos
44
Antes de se iniciar o ensaio com a radiação ultravioleta foi necessário avaliar a
intensidade de radiação média no interior do reator. Essa quantificação foi feita por
radiometria, definindo-se o número de pontos equidistantes das paredes do reator (Figura 4.2).
Em cada ponto foi medida a radiação em comprimento de onda de 254 nm. Com o valor de
todos os pontos, determina-se a intensidade média ponderada de radiação emitida pelas
lâmpadas (Io) aplicando-se a equação (4.3):
aaIaIaI
Io nn
∑××+×
=......2211 (4.3)
Io: Intensidade de radiação UV na superfície do reator (mW/cm2);
Ii: Intensidade de radiação UV no ponto de medição i (mW/cm2);
ai: área de influência do ponto de medição i;
i: 1, 2, 3... pontos de medição.
P1
P6
P5
P4
P7 P
8P9
P2
P3
45cm
40cm
7,5cm 15cm 15cm 7,5cm
6,7cm
6,7cm
13,3cm
13,3cm
a
a
Figura 4.2: Localização dos pontos de medição da radiação UV no reator
O valor de Io deve ser calculado periodicamente, pois a radiação emitida pelas
lâmpadas diminui com o passar do tempo. Para o presente trabalho, o valor de Io foi usado no
máximo por dois meses, ou a cada 10 ensaios.
Com os valores de Io e de absorbância em comprimento de onda de 254 nm, sempre
medidos antes de se iniciar os ensaios com radiação ultravioleta, a intensidade média de
radiação (Im) foi calculada pela equação (4.4).
Material e Métodos
45
( )[ ]LaLa
II o
m .exp1.
−−= (4.4)
A: absorbância a 254 nm, em cubeta de 1,0 cm;
L: espessura da lâmina líquida ou trajetória percorrida pela radiação ultravioleta (cm).
a: coeficiente de extinção (cm-1)
a= 2,203.A (4.5)
Com o valor de Im, pode-se determinar a dose recebida por volume (equação 4.6):
2778,0.
LtI
D mr = (4.6)
Im: intensidade média de radiação ultravioleta (mW/cm2);
Dr: dose recebida por volume (Wh/m3);
0,2778: fator de conversão de mW para W, s para h e cm para m.
COLETTI (2003) conceitua que a dose recebida é a energia total efetivamente
disponível para inativação dos microrganismos, sendo influenciada pelas características das
águas residuárias desinfetadas, principalmente absorbância e SST e pela espessura da lâmina
líquida.
O tempo de contato foi calculado a partir da dose recebida e estipulado para cada
ensaio, utilizando a equação (4.6).
Em todos os ensaios realizados, a espessura de lâmina líquida de esgoto foi de 3,0 cm.
Após a conclusão de cada ensaio, uma alíquota de esgoto foi coletada para posteriores
análises microbiológicas e de pH.
As concentrações de cloro residual livre e total foram quantificadas após a conclusão
dos ensaios com a aplicação de radiação ultravioleta, objetivando dessa forma, avaliar o efeito
dessa radiação no cloro remanescente.
Assim então, a fim de se remover o cloro residual livre e combinado, era adicionado o
metabissulfito de sódio nas amostras coletadas após a exposição à radiação ultravioleta.
4.2 Ensaio de desinfecção com ozônio seguido de radiação UV
O efluente do reator anaeróbio da ETE da USP de São Carlos foi bombeado para uma
caixa com o objetivo de ser decantado. Após a decantação, foi bombeado para a coluna de
ozonização.
Material e Métodos
46
Finalizada a ozonização, o efluente foi levado para o Laboratório de Tratamento
Avançado e Reuso de Águas (LATAR), onde foram realizados os ensaios com radiação UV e
a caracterização físico-química e microbiológica.
O ensaio de desinfecção consistiu das fases I e II. Na fase I, o efluente do reator
anaeróbio foi submetido à ozonização e na fase II subseqüente esse efluente ozonizado foi
submetido a três doses crescentes de radiação ultravioleta.
4.2.1 Fase I – Ensaios de desinfecção com ozônio
O ensaio tem por início a coleta do efluente do reator UASB localizado na estação de
tratamento de esgoto do campus da USP – São Carlos, Área 1. Esse esgoto foi bombeado até
uma caixa d’ água de 350L, onde foi decantado por aproximadamente 40 minutos, para então
ser bombeado para a coluna de ozonização.
A amostra de esgoto, antes da desinfecção, foi coletada na própria coluna de
ozonização. Neste ínterim, o ozonizador ficou ligado por pelo menos 10 minutos, injetando
gás oxigênio para haver a estabilização do aparelho. A instalação experimental de ozonização
adotada foi a mesma usada no trabalho de SOARES (2007) (Figura 4.3). A coluna de
ozonização foi preenchida com 15,1L de efluente decantado.
Na base da coluna havia um registro de agulha para controle da vazão de gás, um
registro de esfera conectado ao dreno (esvaziamento da coluna de contato) e um registro de
esfera conectado à tubulação para coleta de amostras.
1
2 3
4
6
57
8
1 - Compresso de Ar
LEGENDA
2 - Gerador de Ozônio3 - Coluna de Ozonização
4 - Frasco Lavador5 - Entrada de Ozônio
6 - Efluente Proveniente do Reator UASB
7 - Efluente Ozonizado
8 - Grade Metálica
9
Tubo de PVC coletor de espuma9 -
Figura 4.3: Esquema da unidade piloto utilizada nos ensaios de ozonização.
Material e Métodos
47
Feito o ajuste da vazão de ozônio, da tensão de produção de ozônio, colocação de 600
mL de solução de KI 2%♣ no frasco lavador, verificação do frasco lavador devidamente
conectado à coluna de ozonização através de uma mangueira de silicone e verificação da
ocorrência do borbulhamento na coluna de ozonização e do frasco lavador, dava-se como
iniciada a desinfecção ao se abrir a válvula de alimentação de ozônio.
Passado o tempo de contato, o ozonizador era desligado, coletava-se 200 mL de
solução de KI do frasco lavador e 50 mL da coluna de ozonização, para se verificar a
concentração de ozônio que não reagiu com o esgoto (off-gas) e o que sobrou dissolvido no
esgoto ozonizado, respectivamente.
As amostras foram coletadas após desligar o gerador de oxigênio, fechar o registro que
envia ar para a coluna de ozonização e abrir o registro do topo da coluna para que o ar acima
do nível de esgoto fosse liberado.
Executada a desinfecção, o efluente ozonizado era armazenado para posterior
desinfecção com radiação UV. O efluente ozonizado excedente era descartado e abria-se o
registro de água para lavar a coluna por três vezes. Após o ensaio, a coluna era preenchida
com água até o próximo ensaio, visando evitar assim o seu ressecamento.
As doses de ozônio usadas no ensaio foram de aproximadamente 5,6; 11,1 e 16,7
mgO3/L. Para cada dose de ozônio, o esgoto foi submetido a 3 tempos de contanto: 10, 20 e
30 min. Para cada combinação de concentração de ozônio e tempo de contato, o esgoto
ozonizado foi submetido a 3 doses crescentes de radiação ultravioleta. Na Tabela 4.2 estão
apresentados os ensaios realizados.
Tabela 4.2 ♣ A solução de KI 2% é preparada adicionando 20 g de iodeto de potássio para cada 1L de água. Esta solução deve ser armazenada no escuro, refrigerada e preparada 48h antes de seu uso. Esse procedimento é necessário para ocorrer a maturação da solução.
Material e Métodos
48
Tabela 4.2: Configuração dos experimentos de desinfecção com ozônio seguido de UV.
Experimentos Dose de Ozônio (mgO3/L)
Tempo de contato (min)
Dose UV1
(Wh/m3) Dose UV2 (Wh/m3)
Dose UV3 (Wh/m3)
O-A 5,6 10 1 3 5 O-B ___ ___ 1 3 5
I 5,6 10 1 5 10 II 5,6 20 1 3 5
III-A 5,6 30 1 3 5 III-B 5,6 30 0,5 1 1,5 IV 10,5 10 1 5 10
V-A 11,1 20 1 3 5 V-B 11,1 20 1 2 3 VI 11,1 30 1 3 5 VII 15,8 10 1 3 5 VIII 16,7 20 1 3 5 IX 16,7 30 1 3 5
4.2.1.1 Quantificação do ozônio
Nos ensaios realizados, o ozônio esteve presente na fase gasosa e dissolvido na fase
líquida (esgoto). Os procedimentos analíticos para a quantificação devem ser adequados às
formas em que o ozônio está presente.
Para a fase gasosa, foi utilizado o método Iodométrico (APHA, 1998). Para a fase
líquida, foi utilizado o método colorimétrico, usando espectrofotômetro da marca Prominent®
- modelo DULCOTEST DT 11 e reagentes da Merck, código Chlor- test 1.14803.001.
No método Iodométrico, o ozônio é medido indiretamente pela reação de oxidação do
iodeto. A reação usada para determinar a quantidade de ozônio no ar ou na água pode ser a
reação de liberação de iodo de uma solução de iodeto de potássio conforme a reação 4.7. Para
maiores informações sobre esta método vide Apêndice A.
O3 + 2 KI + H2O → I2 + O2 + KOH (4.7)
Material e Métodos
49
Para a quantificação do ozônio na fase gasosa, borbulha-se o gás em solução de iodeto
de potássio 2%. A quantificação do ozônio é feita acidulando-se a solução oxidada e
titulando-a com solução de tiossulfato de sódio, usando o amido como indicador.
O ozônio dissolvido na fase líquida pode ser quantificado pelo método iodométrico.
Entretanto, devido ao fato de a concentração de ozônio ser normalmente pequena, o
procedimento depende do arraste de ozônio dissolvido por gás inerte e a coleta do mesmo em
solução de iodeto de potássio. Essas operações tornam o procedimento impreciso
(JOHNSON, 1975). Essa é razão que explica o motivo dessa parcela de ozônio ter sido
quantificada utilizando-se o método colorimétrico.
4.2.1.2 Calibração do Gerador de Ozônio
O gerador de ozônio foi calibrado variando-se a vazão de gás e a tensão no
equipamento. A partir dos resultados da calibração, foram construídas curvas de calibração
relacionando a vazão de gás com a produção do equipamento em gO3/h.
O método usado para calibrar o aparelho gerador de ozônio foi o iodométrico,
seguindo o procedimento descrito em APHA (1998). O método parte do princípio que o
ozônio tem a capacidade de gerar iodo em solução de iodeto de potássio a 2% em meio ácido.
A solução de iodeto de potássio 2% é ozonizada e titulada com solução de tiossulfato de sódio
(Na2S2O3) 0,025N utilizando solução de amido como indicador (SOARES, 2007).
Procedimento para calibração do gerador de ozônio
O procedimento usado seguiu o mesmo adotado por SOARES (2007), como está
descrito a seguir:
1- Adicionar à coluna de ozonização e ao frasco lavador volumes de KI 2%. Esses
volumes adotados devem ser mantidos para todos os pontos das curvas de calibração;
2- Ajustar a primeira vazão de ozônio no rotâmetro, acertar a primeira tensão de
produção de ozônio, ozonizar durante o tempo de contato de 3 a 15 minutos e anotar o tempo
adotado;
3- Depois de transcorrido o tempo de contato, coletar volumes de amostra da
coluna de ozonização e do frasco lavador, fixando-as com solução de ácido sulfúrico (H2SO4)
1N, na proporção de 2 mL de H2SO4 para cada 100 mL de amostra; fazer em duplicata ou
triplicata;
Material e Métodos
50
4- Em seguida, titular cada amostra com tiossulfato de sódio (0,025N) até que ela
apresente-se com a cor amarelo-palha;
5- Adicionar 2 mL de solução indicadora de amido (APHA, 1998) para cada 200
mL de amostra. Este indicador deixará a amostra azulada;
6- Continuar a titulação com o tiossulfato até a amostra ficar transparente, anotar
o volume total de tiossulfato de sódio usado.
7- Com os resultados de volume de tiossulfato usados, determina-se a produção
de ozônio utilizando-se a equação (4.8):
( )xtV
xxVVVxNPam
KIbtiotio 1440−= (4.8)
P: produção de ozônio, g O3/h;
N: normalidade do tiossulfato (Número de equivalente-grama/L);
Vtio: volume de tiossulfato de sódio gasto na titulação da amostra, mL;
Vb: volume de tiossulfato de sódio gasto na titulação do branco, mL;
VKI: volume de iodeto de potássio a 2% adicionado na coluna de ozonização ou no frasco
lavador de gás, L;
Vam: volume da amostra a ser titulada, mL;
t: tempo de contato, min;
1440: fator de conversão.
8- Repetir o procedimento para as demais vazões e tensões de produção de
ozônio.
A produção total de ozônio é dada pela soma das parcelas individuais da coluna de
ozonização e do off-gas.
A dosagem de ozônio está relacionada à produção de ozônio pela equação (4.9):
601000
VxPxtxD = (4.9)
D: dosagem de ozônio aplicado, mg/L;
P: produção de ozônio, g O3/L;
t: tempo de contato, min;
V: volume ozonizado, L.
É importante evidenciar que para ensaios com a mesma produção de ozônio, mesmo
volume de efluente e tempo de contato diferente, a dosagem de ozônio aplicado será diferente.
Material e Métodos
51
Isso se dá devido ao fato de que a dosagem é um valor médio da concentração de ozônio
durante um determinado tempo de contato (SOARES, 2007).
Preparação do branco
1- O branco consiste em colocar 200 mL de solução de iodeto de potássio 2%,
previamente preparada e não ozonizada em dois frascos erlenmeyer (duplicata),
2- Acidificar com 10 mL de ácido sulfúrico 1N em cada um dos frascos;
3- Adicionar 2 mL de solução de amido em cada uma das réplicas;
4- Titular com tiossulfato de sódio (0,025 N) até a cor azulada do indicador
atingir a cor transparente, e anotar o volume gasto de tiossulfato.
Nota: A solução de KI não oxidada com ozônio é incolor. Por isso, a fase de titulação até a
cor amarelo-palha não é realizada na titulação com o branco.
Valores usados para a calibração do gerador de ozônio
A calibração do gerador usado nesta pesquisa foi feita adotando os seguintes valores:
Volume de KI na coluna de ozonização: 4,4 L(SOARES, 2007);
Volume de KI no frasco lavador: 400 mL;
Tempo de contato: 5 min;
Volumes de amostra: 100 mL;
Normalidade do tiossulfato de sódio padronizado: 0,0125N vide apêndice A.
Vazões de gás ozônio (oxigênio a 98 %): 60, 108, 180, 240 L/h;
Tensão de produção de ozônio: 40%, 60%, 80% e 100%.
4.2.1.3 Balanço de massa do ozônio dissolvido na fase líquida
No balanço de massa de ozônio, é possível quantificar a massa ou concentração de
ozônio transferido e consumido durante os ensaios de ozonização e associar esses resultados à
eficiência de inativação dos microrganismos indicadores (SOARES, 2007).
Nos ensaios, utilizou-se a produção de ozônio desejada para se obter a dosagem
requerida. No final do ensaio, obtém-se a concentração de ozônio residual presente no
efluente ozonizado e a concentração de ozônio que não reagiu com o efluente e é capturado
pelo iodeto de potássio a 2% presente no frasco lavador, como é ilustrado na Figura 4.4.
Material e Métodos
52
Figura 4.4: Representação do volume de controle para obtenção do balanço de ozônio (linha
tracejada). Legenda:
Co: concentração de O3 afluente-fase gasosa;
Ce: concentração de O3 efluente-fase gasosa (Off-gas);
Cr: concentração de O3 dissolvido na fase líquida (residual);
Q: vazão de gás aplicada (L/h);
V1: Volume de solução de KI a 2% na coluna de ozonização (para a calibração) ou volume de
esgoto (ensaio de desinfecção);
V2: volume de solução de KI a 2% no frasco lavador de gás.
Apresentam-se, a seguir, todas as variáveis do balanço de massa do ozônio e suas
relações.
Durante o ensaio de ozonização foi aplicado massa de ozônio (MA) no volume de
efluente inserido na coluna de ozonização. Essa massa é obtida pelo produto da dosagem de
ozônio aplicada pelo volume de efluente ozonizado (equação 4.10).
MA = D x V (4.10)
MA: massa de ozônio aplicado (mg).
Gerador O3
Coluna ozonização
Frasco lavador
Rotâmetro
Q, Co
Q, Ce
V1
V2
Cr
Material e Métodos
53
A massa de ozônio aplicada durante o ensaio transforma-se em massa de ozônio
transferida (MT) (equação 4.11) para o meio líquido presente na coluna de ozonização e em
massa não transferida, quantificada no off-gas (Moff-gas) (equação 4.12).
MT = MA- Moff-gas (4.11)
am
gasoffbtiotiogasoff V
xxVVVxNM
24000)( −−
−= (4.12)
MT: massa de ozônio transferida;
Moff-gas: massa de ozônio no off-gas;
N: normalidade do tiossulfato de sódio;
Vtio e Vb: volumes de tiossulfato de sódio gastos na titulação da amostra e do branco, mL;
Voff-gas: volume de solução de iodeto de potássio a 2% adicionado no frasco lavador, L;
Vam: volume de amostra de iodeto de potássio 2% titulada, mL.
A massa de ozônio transferida corresponde à soma da massa residual (equação 4.13)
(MR) e da massa consumida (MC) (equação 4.14):
MR = [O3]Residual x V (4.13)
MC = MT-MR (4.14)
O ozônio consumido (C), em termos de concentração, é estimado pela equação 4.15:
C (mg/L) = D (mg/L) – ( [O3]off-gas + [O3]Residual) (4.15)
D: dosagem de ozônio aplicada, mg/L;
[O3]off-gas: concentração de ozônio no off-gas, mg/L (obtida pela razão entre a massa de ozônio
no off-gas e o volume de esgoto desinfetado);
[O3]Residual : concentração de ozônio residual, mg/L.
Material e Métodos
54
Na Tabela 4.3 encontram-se os valores de CT usados nos ensaios de desinfecção com
ozônio.
Tabela 4.3: Valores de ozônio consumido e tempo de contato para se determinar CT.
Experimentos Tempo contato (min)
[O3]C*
(mg/L)
Taxa de transferência (mg.min/L)
CT (mg.min/L)
0-A 10 5,33 0,53 26,7 0-B __ __ __ __
I 10 5,37 0,54 26,9 II 20 5,03 0,25 50,3
III-A 30 4,97 0,17 74,6 III-B 30 5,28 0,18 79,2 IV 10 8,87 0,89 44,4
V-A 20 10,77 0,54 107,7 V-B 20 10,04 0,50 100,4 VI 30 10,42 0,35 156,3 VII 10 14,37 1,44 71,8 VIII 20 15,46 0,77 154,6 IX 30 14,11 0,47 211,7
* Concentração de ozônio consumido.
4.2.2 Fase II - Ensaios de desinfecção com radiação UV
Os ensaios de desinfecção com radiação ultravioleta seguiram o mesmo procedimento
descrito no item 4.1.2. A única diferença do efluente ozonizado em relação ao clorado reside
no fato de que o primeiro não deixa residual, assim não é necessária essa quantificação após a
passagem do efluente pela radiação ultravioleta, e nem se torna necessário o uso de
substâncias para remover o ozônio residual, o que por outro lado, é imprescindível para o
efluente clorado.
Assim como para o efluente clorado, submetido à radiação UV, foi separada para os
exames microbiológicos uma alíquota do efluente ozonizado após a desinfecção com a
radiação UV.
4.3 Exames microbiológicos
4.3.1 Exames para determinação de Clostridium perfringens
A determinação da bactéria formadora de esporos é realizada através de duas etapas
consecutivas, a primeira chamada presuntiva e a segunda confirmativa, seguindo o
procedimento da norma da CETESB L5.213 (1993) modificada.
Material e Métodos
55
Previamente ao ensaio, devem-se preparar soluções, meios de cultura e esterilizar a
vidraria e outros materiais.
Utilizou-se água de diluição, meio de cultura DRCM (meio diferencial enriquecido
para clostrídios), meio de cultura Litmus Milk, solução de citrato férrico amoniacal verde a 7
%, solução de sulfito de sódio a 4 % e vaselina líquida;
A vidraria utilizada foi:
- Balões e béqueres de borossilicato ou vidro neutro com capacidade adequada para o
preparo de meios de cultura e água de diluição;
- Frasco de água de diluição de borossilicato ou com tampa que permite boa vedação e
seja livre de substâncias tóxicas solúveis, que possa reservar 90 ± 2 mL de água de diluição e
permita a boa homogeneização quando se fizer a agitação;
- Frasco de plástico autoclavável atóxico;
- Pipetas de borossilicato, tipo Mohr, de 1, 2, 5 e 10 mL;
- Tubos de ensaio de 16 mm x 150 mm.
Outros materiais usados foram:
- Bico de bunsen;
- Autoclave;
- Banho-maria a 75 ºC;
- Estufa a 100 ºC;
- Incubadora a 35 ± 0,5 ºC;
- Câmara de UV para esterilizar de vidraria;
- Medidor de pH;
- Estantes para acomodação dos tubos de ensaios empregados na análise;
- Kit de filtração;
- Bomba a vácuo;
- Termômetro;
- Membrana filtrante com 47 mm de diâmetro e 0,2 μm de porosidade, brancas e
estéreis.
Nota: O sistema de anaerobiose sugerido pela norma CETESB/L5.213 foi substituído, após a
inoculação, pela adição de uma camada com aproximadamente 2 cm de vaselina líquida
autoclavada nos tubos de ensaios.
Material e Métodos
56
4.3.1.1 Preparação da água de diluição
Essa água é usada para preparar as diluições das amostras. As diluições são
concentrações preparadas de amostras, cuja finalidade é auxiliar na quantificação dos
organismos alvo.
A água de diluição é feita através da combinação de duas soluções, seguindo a mesma
norma da CETESB: a solução estoque A e a solução estoque B, na seguinte proporção: 1,25
mL de solução estoque A e 5 mL de solução estoque B para cada 1L de água desionizada.
Distribuir volumes de 90 ± 2 mL em frascos com tampa de rosca, esterilizar em autoclave a
121 °C durante 15 minutos e armazenar em geladeira até o uso.
A solução estoque A é preparada dissolvendo-se 34 g de Diidrogênio fosfato de
potássio (KH2PO4) para cada 1 L de água desionizada. Ajusta-se o pH para 7,2 ± 0,5 com
solução de hidróxido de sódio 1 N.
A solução estoque B é preparada dissolvendo-se 81,1g cloreto de magnésio hexa-
hidratado (MgCl2.6H2O) para cada 1 L de água desionizada.
4.3.1.2 Preparação dos meios de cultura para Clostridium perfringens
4.3.1.2.1 Meio diferencial enriquecido para Clostrídios (DRCM)
O meio DRCM é preparado através da combinação dos componentes descritos na
Tabela 4.4.
Tabela 4.4: Composição do meio diferencial enriquecido para Clostridium. Componentes Quantidade
Peptona 10 g Extrato de carne purificado (em pó) 10 g Acetato de sódio hidratado 5 g Extrato de levedura 1,5 g Amido solúvel 1,0 g Glicose 1,0 g L- Cisteína 0,5 g Água destilada 1000 mL
O meio DRCM é um meio usado na etapa presuntiva. As bactérias formadoras de
esporos reduzem o sulfito que é acrescentando ao meio DRCM formando sulfeto e
provocando o enegrecimento do meio. Para preparar o meio DRCM, deve-se dissolver os
componentes descritos anteriormente aquecê-los, agitando-os freqüentemente, mas tomando
cuidado para que não seja atingida a temperatura de ebulição. Distribuir volumes de 10 mL
Material e Métodos
57
em tubos de ensaio de 16 mm x 150 mm, tampar com algodão e esterilizar em autoclave a 121
°C durante 15 minutos. Seu armazenamento deve ser feito em geladeira.
4.3.1.2.2 Meio de leite tornasssolado
O meio de leite tornassolado é o meio usado na etapa confirmativa. Nessa fase, os
clostrídios sulfito-redutores têm a capacidade de fermentar o leite tornassolado de forma
característica, provocando a coagulação do caseinogênio. Essas bactérias, quando inoculadas
neste meio de cultura, fermentam a lactose produzindo ácido e gás, o que provoca o
rompimento de coágulos.
O método sugerido pela CETESB propõem usar uma composição de leite desnatado e
tornassol. No presente trabalho, foi utilizado o meio de cultura Litmus Milk BBLTM, que
exige o uso de 100 g deste meio para cada 1000 mL de água destilada. Aquecer essa solução,
agitando freqüentemente até a completa dissolução do meio e ter o cuidado para que não seja
atingida a temperatura de ebulição. Distribuir volumes de 6 a 7 mL em tubos de ensaio de 16
mm x 150 mm. Tamponar e esterilizar em autoclave, a 121 °C durante 20 minutos. Seu
armazenamento deve ser feito em geladeira.
4.3.1.3 Preparação de Soluções de citrato férrico amoniacal verde a 7% e sulfito de
sódio 4%
Solução de citrato férrico amoniacal verde a 7%: Pesam-se 7 g de citrato férrico
amoniacal verde e dissolve-os em 100 mL de água desionizada. A esterilização é feita através
da filtração com membrana filtrante e com porosidade de 0,2 μm. Todo o material usado para
a filtração e armazenamento da solução foi previamente esterilizado em câmara de UV por 15
minutos. Por fim, a solução preparada é armazenada em frasco rosqueado e em geladeira por
no máximo duas semanas.
Solução de sulfito de sódio a 4%: Pesam-se 4 g de sulfito de sódio e dissolve-os em
100 mL de água desionizada. A esterilização e preservação são feitas seguindo o mesmo
procedimento descrito para a preparação da solução de citrato férrico amoniacal verde através
de filtração.
4.3.1.4 Execução do ensaio
A determinação do número mais provável (NMP) de Clostridium perfringens foi
realizada a partir da aplicação da técnica de tubos múltiplos que consiste na inoculação de
volumes decrescentes da amostra em meio de cultura adequado ao crescimento dos
Material e Métodos
58
organismos alvo, sendo cada volume inoculado em uma série de 5 tubos. Através de diluições
sucessivas da amostra, são obtidos inóculos cuja semeadura fornece resultados negativos em,
pelo menos, um tubo da série em que foram inoculados. A combinação de resultados positivos
e negativos da fase confirmativa permite a obtenção de uma estimativa da densidade das
bactérias pesquisadas através da aplicação de cálculos de probabilidade.
4.3.1.4.1 Exame presuntivo
No dia do ensaio, preparam-se as diluições das amostras procedendo da seguinte
maneira: nomeia-se cada frasco de água de diluição estéril, anotando-se a amostra e a diluição
que deverá conter. Homogeneíza-se a amostra vigorosamente por 30 vezes e com uma pipeta
estéril de 10 mL, obedecendo os cuidados de assepsia, transfere-se 10 mL da amostra para o
frasco previamente identificado contendo 90 ± 2 mL de água de diluição estéril. Dessa forma,
a diluição 10-1 está preparada.
Repete-se o procedimento descrito acima com o frasco contendo a diluição feita
anteriormente 10-1 e com uma nova pipeta estéril de 10 mL, transfere-se 10 mL para um novo
frasco previamente identificado, contendo 90 ± 2 mL de água de diluição estéril. Tem-se
então a diluição 10-2. Da mesma maneira preparam-se as demais diluições desejadas.
As diluições preparadas são aquecidas em banho-maria a 75 °C por 10 minutos a fim
de se remover organismos não esporulados e formas vegetativas.
Antes do seu uso, os tubos de ensaio contendo meio DRCM são aquecidos em béquer
contendo água fervente por 10 minutos e resfriados rapidamente em água gelada para remover
o ar neles existentes. Após esse choque térmico, deve-se ter o máximo de cuidado para não
agitar os tubos evitando assim, reintroduzir oxigênio nos mesmos.
Com as soluções de citrato férrico amoniacal a 7% e sulfito de sódio 4 %, prepara-se
uma solução combinando 50 % de ambas as soluções. Com uma pipeta estéril de 2 mL
adiciona-se assepticamente e cuidadosamente para não acrescentar oxigênio nos tubos
contendo DRCM, 0,2 mL desta solução a cada tubo de ensaio contendo este meio enriquecido
para clostrídios.
Identificam-se e ordenam-se os tubos para inocular as diluições em sequência
decrescente (da maior para a menor diluição efetuada), inoculando-se da amostra mais
desinfetada para a menos desinfetada.
Na inoculação, deve-se homogeneizar lentamente as diluições de uma amostra, para
evitar a oxigenação. Com o auxílio de uma pipeta estéril de 5 mL, inocula-se 1 mL da diluição
em cada um dos tubos com DRCM correspondentes a essa diluição. Com a mesma pipeta de 5
Material e Métodos
59
mL, inoculam-se as demais diluições da mesma amostra correspondente até finalizar a menor
diluição.
Com outra pipeta estéril de 5 mL faz-se a inoculação de outra amostra seguindo o
procedimento do parágrafo anterior.
Após inocular todas as amostras e todas as diluições correspondentes, coloca-se
vaselina nestes tubos, formando uma camada de aproximadamente 2 cm para provocar a
diminuição da possibilidade de trocas gasosas entre a amostra inoculada e o ar, como
substituição do sistema de anaerobiose proposto na Norma da CETESB/ L5.214 seguida no
presente trabalho.
Incubam-se os tubos inoculados a 36 °C por 48 h ± 3 h.
4.3.1.4.1.1 Leitura da fase presuntiva
Transcorrido o tempo requerido de 48h, inicia-se a leitura, considerando resultado
presuntivo positivo para os tubos que apresentarem enegrecimento ou turvação do meio de
cultura.
Figura 4.5: Figura ilustrativa dos tubos de DRCM
A Figura 4.5 mostra a variedade de positivos presuntivos possíveis quando a amostra é
inoculada no meio DRCM. Os tubos que apresentarem turvação ou enegrecimento após 48h
de incubação são considerados positivos presuntivos, cuja confirmação é realizada
inoculando-se esses positivos para o meio de cultura Litmus Milk. O negativo é aquele em
que o meio DRCM não sofre nenhuma alteração, mantendo-se translúcido (tubo localizado à
direita da Figura 4.5).
Material e Métodos
60
4.3.1.4.2 Exame confirmativo
Todos os tubos com resultado positivo presuntivo devem ser submetidos à fase
confirmativa e os restantes descartados.
Na fase confirmativa, calcula-se o número de tubos do meio Litmus Milk BBLTM a
serem utilizados. Esses tubos deverão ser aquecidos por 5 min em um béquer com água
fervente e antes de utilizá-los, é necessário resfriá-los rapidamente em água gelada, para assim
remover todo o ar neles presente.
Identificar todos os tubos de Litmus Milk correspondentes respectivamente a cada
tubo positivo de DRCM.
São coletados em profundidade 0,1 mL da cultura positiva de cada tubo de DRCM
positivo e passados para o fundo do tubo de Litmus Milk, utilizando-se pipetas estéreis de 1
mL.
Adiciona-se vaselina em cada tubo de Litmus Milk até se obter uma camada de 2 cm e
em seguida, incuba-se esses tubos a 36 °C por 48 h ± 3 h.
4.3.1.4.2.1 Leitura da fase confirmativa
A leitura é efetuada considerando como tubos positivos confirmativos de Clostridium
perfringens aqueles que apresentarem concomitantemente as seguintes características:
• Formação de coágulos (decorrente da coagulação do caseinogênio do leite);
• Acidificação (evidenciada pela coloração rosa do meio de cultura);
• Formação de grande quantidade de gás, causando rompimento dos coágulos
(devido à fermentação turbulenta do leite).
Figura 4.6: Tubos positivos e negativos de C. perfringens
Material e Métodos
61
A Figura 4.6 mostra os resultados positivos confirmativos (os quatro tubos da
esquerda para a direita) e um exemplo de tubo negativo (à direita da ilustração) para
Clostridium perfringens.
4.3.1.5 Cálculo do Número Mais Provável
A Tabela 4.5 apresenta o número mais provável (NMP) para várias combinações de
resultados positivos e negativos, quando são inoculadas cinco porções de 10 mL, cinco
porções de 1 mL e cinco porções de 0,1 mL da amostra. Para a sua utilização, procuram-se os
códigos formados por três algarismos correspondentes ao número de tubos com resultado
positivo, no meio confirmativo, em três séries consecutivas inoculadas.
Essa tabela de NMP e os cálculos podem ser usados para exames de coliformes e para
a determinação do NMP de outros organismos que adotar a técnica de tubos múltiplos
(APHA, 1998).
Material e Métodos
62
Tabela 4.5: NMP e limites de confiança de 95% para várias combinações de resultados positivos, quando são utilizado cinco tubos por diluição e inóculos de 10 mL, 1 mL e 0,1 mL (APHA, 1998).
Limite de confiança
Limite de confiança
Número de combinações
positivas NMP/100mL
Inf. Sup.
Número de combinações
positivas NMP/100mL
Inf. Sup.0-0-0 <2 __ __ 4-2-0 22 9 56 0-0-1 2 1 10 4-2-1 26 12 65 0-1-0 2 1 10 4-3-0 27 12 67 0-2-0 4 1 13 4-3-1 33 15 77
4-4-0 34 16 80 1-0-0 2 1 11 1-0-1 4 1 15 5-0-0 23 9 86 1-1-0 4 1 15 5-0-1 30 10 110 1-1-1 6 2 18 5-0-2 40 20 140 1-2-0 6 2 18 5-1-0 30 10 120
5-1-1 50 20 150 5-1-2 60 30 180
2-0-0 4 1 17 2-0-1 7 2 20 5-2-0 50 20 170 2-1-0 7 2 21 5-2-1 70 30 210 2-1-1 9 3 24 5-2-2 90 40 250 2-2-0 9 3 25 5-3-0 80 30 250 2-3-0 12 5 29 5-3-1 110 40 300
5-3-2 140 60 360
3-0-0 8 3 24 5-3-3 170 80 410 3-0-1 11 4 29 5-4-0 130 50 390 3-1-0 11 4 29 5-4-1 170 70 480 3-1-1 14 6 35 5-4-2 220 100 580 3-2-0 14 6 35 5-4-3 280 120 690 3-2-1 17 7 40 5-4-4 350 160 820
5-5-0 240 100 940
4-0-0 13 5 38 5-5-1 300 100 13004-0-1 17 7 45 5-5-2 500 200 20004-1-0 17 7 46 5-5-3 900 300 29004-1-1 21 9 55 5-5-4 1600 600 53004-1-2 26 12 63 5-5-5 ≥1600 __ __
No caso em que são utilizados os mesmos volumes de amostra apresentados na Tabela
4.5, o NMP é obtido diretamente da mesma. Quando são utilizados volumes decimais
diferentes do volume de amostra, procura-se o código formado pelos tubos positivos obtidos
em três séries consecutivas inoculadas, utilizado-se o valor de NMP correspondente a sua
série de diluições. O NMP em 100 mL é obtido utilizando-se a equação (4.16):
NMP/100mL= NMP correspondente ao código x (10/ maior volume inoculado). (4.16)
Material e Métodos
63
Quando são inoculados mais de três volumes decimais, são utilizados para a
composição do código apenas os resultados positivos correspondentes a três séries
consecutivas inoculadas, sendo que o primeiro algarismo escolhido para compor o código será
correspondente ao tubo de maior volume da amostra, devendo ser utilizada a equação (4.16)
para o cálculo de NMP.
A Tabela 4.5 mostra a combinação dos tubos positivos mais comuns. O NMP para
combinações que não aparecem nessa tabela pode ser estimado através da fórmula de Thomas
(APHA, 1998) (equação 4.17).
tubos)os todosem amostra de mL x negativos tubosnos amostra de (mL10 x positivos tubosde número 100/ =mLNMP (4.17)
4.3.2 Exames para determinação de coliformes totais e Escherichia coli
Para a quantificação de E. coli foi utilizada a técnica de filtração em membranas
usando-se o meio Chromocult® Coliform Agar (Merck Cat.No.1.10426) que determina
simultaneamente a presença de coliformes totais e E. coli.
É necessário dizer que este meio de cultura não é autoclavável, exigindo-se então um
cuidado especial para evitar a contaminação do mesmo, portanto, toda a vidraria e a bancada
devem ser esterilizadas antes de sua preparação.
O material usado para preparar o meio de cultura Chromocult® Coliform Agar é:
- Béqueres de borossilicato;
- Placas de Petri de 90 x 15;
- Frascos com rosca para preparar água de diluição seguindo item 4.3.1.1;
- Pipeta de 10 mL estéril;
- Panela para promover banho-maria;
- Bico de Bunsen;
- Bastão de vidro;
- Pinça;
- Kit de filtração;
- Membrana de nitrocelulose de 0,45 μm de porosidade e 47 mm de diâmetro;
- Ebulidor para esterilizar o kit de filtração.
4.3.2.1 Preparação do meio de cultura Chromocult®
Utiliza-se 10 mL de meio de cultura por placa. Calcula-se o número de placas que se
deseja preparar. Pesa-se a massa necessária para o número de placas requerido e dissolve-se o
Material e Métodos
64
meio em água desionizada na proporção de 26,5 g de Chromocult® para cada 1L de água
desionizada.
Prepara-se um banho-maria utilizando-se o bico de Bunsen até atingir o ponto de
ebulição da água. Atingindo a fervura, dispõe-se o béquer com meio de cultura no banho-
maria e agita-se repetidamente com o auxílio de um bastão de vidro, por 30 minutos. Retira-se
o meio de cultura do fogo e coloca-se 10 mL de meio em cada placa de Petri, deixando-o
esfriar e endurecer por pelo menos 30 minutos para então armazená-lo em geladeira até o seu
uso.
4.3.2.2 Preparação das diluições
A água de diluição é preparada seguindo o item 4.3.1.1. As diluições procedem da
seguinte maneira: nomeia-se cada frasco de água de diluição estéril, anotando-se a amostra e a
diluição que deverá conter. Cada diluição é feita em duplicata a fim de que uma das réplicas
seja utilizada na preparação da diluição conseguinte e a outra utilizada para conter 100 mL
totais, ou seja, 90 mL da água de diluição e 10 mL de amostra.
Na diluição, homogeneíza-se a amostra vigorosamente por 30 vezes. Com uma pipeta
estéril de 10 mL, obedecendo aos cuidados de assepsia, transfere-se 10 mL da amostra para
dois frascos previamente identificados contendo 90 ± 2 mL de água de diluição estéril. Assim
a diluição 10-1 está preparada. Com uma das réplicas e com o auxílio de uma nova pipeta
estéril de 10 mL, transfere-se 10 mL da diluição 10-1 para dois novos frascos previamente
identificados, contendo 90 ± 2 mL de água de diluição estéril. Tem-se então a diluição 10-2.
Da mesma maneira preparam-se as demais diluições desejadas.
4.3.2.3 Execução do ensaio
Para o teste, o volume de 100 mL de amostra ou diluição são filtrados em membrana
estéril de porosidade 0,45 μm e 47 mm de diâmetro da marca Gelman GN-6. Sugere-se fazer
a filtragem da amostra mais desinfetada e mais diluída para a menos desinfetada e menos
diluída para evitar a contaminação. No espaço de tempo entre as filtrações, sugere-se também
que se faça a esterilização do kit de filtração e da pinça utilizando água fervente (promovida
por um ebulidor). Após a filtração, as membranas são colocadas em placas de Petri contendo
o referido meio e incubadas a 36 ± 1°C por 24 ± 1 h.
Ao transferir a membrana para a superfície do meio de cultura, é necessário observar
que toda a sua área deve ficar completamente aderida ao meio, podendo realizar movimentos
Material e Métodos
65
giratórios utilizando a pinça fora da área de filtração até a completa adesão da membrana no
meio de cultura.
Nessa técnica, as colônias que apresentarem coloração salmão / vermelha são
reconhecidas como coliformes totais e coloração azul-escura / violeta como E. coli. Na
contagem dos coliformes totais devem-se incluir as unidades formadoras de colônias de E.
coli. Os resultados devem ser expressos em UFC/100 mL.
4.3.2.4 Leitura
Na Figura 4.7 é possível observar colônias azuis na porção central da fotografia,
representando colônias de E. coli, e outras colônias de tom rosado por toda a extensão da foto,
representando as bactérias coliformes totais, as quais a sua totalidade é conferida pela soma da
parcela de E. coli. As colônias amarelas e brancas não são contadas, pois não correspondem
às bactérias coliformes totais.
Consideram-se as bactérias E. coli aquelas de coloração azul escura. Para a sua
confirmação poder-se-ia realizar exames bioquímicos, mas no escopo deste trabalho, esses
exames não foram realizados.
O resultado é expresso em unidades formadoras de colônia por 100 mL de amostra
(UFC/100mL). Para compor o resultado, basta fazer a contagem da placa; o número de
colônias existentes nessa placa é multiplicado pelo valor do inverso da diluição
correspondente. Por exemplo: ocorre o desenvolvimento de 30 colônias em uma placa
correspondente a diluição de 10-3, então o resultado é igual a 30x103= 3x104 UFC/100 mL.
É sugerido incubar mais de uma diluição de uma mesma amostra a fim de se ter
resultados possíveis de serem quantificados. Caso mais de uma diluição seja usada, o que é
preferível, seleciona-se o resultado da menor diluição a fim de se evitar erros inerentes ao
processo de diluição.
Material e Métodos
66
Figura 4.7: Representação do crescimento de colônias no meio Chromocult Coliform Agar®
Os métodos analíticos empregados para a realização das analises e exames, bem como
os equipamentos usados na pesquisa, estão sumarizados na Tabela 4.6.
Tabela 4.6: Métodos analíticos, exames, análises e equipamentos empregados nos ensaios de
desinfecção.
Parâmetros Descrição do Método Cloro residual livre e total
Método DPD colorimétrico, com utilização de Kit da HACK e leitura em espectrofotômetro DR 2010
Ozônio residual Método Iodométrico (titulometria) e método colorimétrico, com leitura em espectrofotômetro Prominent ®- modelo DULCOLEST DT 11 e reagentes da Merck (Chlor test. Cat. No. 1.14803.001
Alcalinidade Total Titulação potenciométrica com ácido sulfúrico, APHA (1998)
pH Potenciométrico Temperatura Termômetro de mercúrio Absorbância em comprimento de onda de 254 nm
Espectrofotômetro DR 4000
Nitrogênio amoniacal Análise por Injeção em Fluxo, APHA(1998) Sólidos Suspensos Totais e Sólidos Totais Método Gravimétrico, APHA(1998)
Demanda Química de Oxigênio (DQO) Método colorimétrico em Refluxo Fechado, APHA(1998)
E. coli e coliformes totais
Técnica de filtração em membranas usando meio Chromocult® Coliform Agar (Merck Cat. No. 1.10426)
Clostridium perfringens Técnica de Tubos múltiplos. Norma CETESB L5.213/93
Os resultados foram expresso em tabelas e gráficos realizados por meio do Software
Excel nas versões 2003 e 2007.
Material e Métodos
67
Para calcular a eficiência de remoção e o log de inativação dos dados microbiológicos
foram usadas as equações 4.18 e 4.19.
( ) 100% xN
NNEf
o
o −=
(4.18)
( ) ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛−=
NoNinativaçãoLog 10log
(4.19)
Ef (%): eficiência de inativação;
N: UFC/100mL (E. coli e c. totais) e NMP/100mL (C. perfringens) para t>0;
No: UFC/100mL (E. coli e c. totais) e NMP/100mL (C. perfringens) para t=0.
Na Tabela 4.7 estão apresentadas as equações referentes à cinética de inativação de
microrganismos.
Tabela 4.7: Equações de cinética de inativação de microrganismos exploradas no presente trabalho:
Watson modificado Hom
Para cloro
Para ozônio ))(exp( CTK
NoN
−=
Na qual CT é calculado conforme o item 3.6.3
Para Ozônio seguido de UV; Cloro seguido de UV; e UV .
No presente trabalho, testes foram feitos para obter o melhor ajuste de equações aos
resultados experimentais.
Para a desinfecção sequencial, tanto do cloro seguido de UV, quanto do ozônio
seguido de UV, foi usada a variável dose recebida de radiação (Dr) em Wh/m3, em vez da
composição de intensidade multiplicada pelo tempo (I x t), a intensidade é expressa em
mW/cm2 e o tempo em segundo (s). A concentração de cloro e a de ozônio na desinfecção
sequencial correspondeu à dose zero de UV.
)exp( ' tCKNN n
aplicadoo
−=
)exp( nrKD
NoN
−=
)exp( ' mnaplicado
o
tCKNN
−=
Resultados e Discussão
68
5 Resultados e Discussão Optou-se por apresentar separadamente os resultados dos experimentos de desinfecção
com cloro e com ozônio para posteriormente finalizar a discussão com a comparação entre as
inferências geradas por ambos os desinfetantes.
5.1 Ensaios de desinfecção com cloro seguido de radiação ultravioleta
A caracterização físico-química e microbiológica do efluente anaeróbio bruto e do
clorado foi realizada medindo-se: o pH, a temperatura, a alcalinidade total, sólidos totais,
sólidos suspensos totais, nitrogênio amoniacal, cloro residual livre e total após a cloração;
exames de Escherichia coli, coliformes totais e Clostridium perfringens. Para o efluente
clorado submetido à desinfecção com radiação UV, foram feitos apenas os exames
microbiológicos e quantificação de cloro residual livre e total do ensaio no qual se aplicou a
maior dose de radiação UV.
Estão apresentados na Tabela 5.1 as características do esgoto bruto e do efluente ao
reator UASB de acordo com PASSIG, 2005. Destacam-se os parâmetros analisados para
caracterizar o efluente desse reator utilizado como amostra para os experimentos de
desinfecção.
Tabela 5.1: Alguns parâmetros de caracterização do esgoto bruto ao reator UASB e efluente a esse reator (PASSIG, 2005)
Parâmetros Esgoto Bruto EfluenteUASB média ± desvio padrão
DQO (mg/L) 566 ± 216 183 ± 152 Sólidos Totais (mg/L) 557 ±310 388 ±127 Sólidos Suspensos Totais (mg/L) 121± 75 82 ± 76
Fonte: PASSIG, 2005 apud SILVA14, 2008.
O reator em si, sua operação e processos não foram objetos do presente estudo. O
Efluente desse reator que foi a amostra submetida a desinfecção.
Nas Tabelas 5.2 a 5.10 está apresentada a caracterização físico-química e
microbiológica do efluente bruto e desinfetado obtida nos ensaios de desinfecção com cloro
seguido de UV.
Efluente bruto (EB) é o termo dado à amostra inicial do sistema de desinfecção,
proveniente da saída do reator UASB da ETE-USP-SC, o qual ainda não está desinfetado. O
14 SILVA, G. H. P. Formação de aldeídos e trialometanos da desinfecção por ozonização, cloração e ozonização/cloração de efluente de tratamento anaeróbio de esgoto sanitário. 401 p. Tese (Doutorado)- Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, (2008).
Resultados e Discussão
69
efluente clorado (EC) é o termo dado ao efluente do reator UASB que sofreu cloração para
uma dada concentração de cloro e um determinado tempo de contato. EUV é a sigla para
denominar o efluente clorado que foi submetido à radiação UV, sendo que os índices 1, 2 e 3
referem-se à primeira, segunda e terceira dose de radiação utilizadas.
Tabela 5.2: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento I. Experimento I-A (9,28;10)(1) I-B (somente UV)
Variáveis EB(2) EC(3) EUV1
(4)
(1Wh/m3)EUV2
(5) (5Wh/m3)
EUV3(6)
(10Wh/m3)
EUV1
sem cloro (7)
(1Wh/m3)
EUV2 sem
cloro(8)
(5Wh/m3)
EUV3
sem cloro(9)
(10Wh/m3)
T (°C) 22,5 22,5 pH 6,35 5,6 5,71 5,83 5,66 6,37 6,45 6,51 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L)
187 115
ST (mg/L) 260 423 SST (mg/L) 44 28 DQO (mg/L) 247 350 N-NH3 (mg/L) 20 20 Cloro residual livre (mgCl/L) 0,31(1
0) 0,79 (12)
Cloro residual total (mgCl/L) 4,51(1
1) 3,29 (13)
E. coli (UFC/100mL) 8x105 6x103 2x102 9x101 7x101 1x103 4x102 4x102 Coliformes totais (UFC/100mL)
1,5x107 7x103 3,8x102 1,1x102 1,1x102 2,6x103 1,6x103 7x102
C. perfringens (NMP/100mL) 5x103 5x103 3x102 4x101 2x101 3,5x103 7x102 2,2x102
Notas: (1) concentração de cloro aplicada (mgCl2/L), tempo de contato (min); (2) efluente bruto; (3) efluente clorado; (4) efluente clorado submetido à primeira dose de UV; (5) efluente clorado submetido à segunda dose de UV; (6) efluente clorado submetido à terceira dose de UV; (7) efluente do reator UASB submetido à primeira dose de UV; (8) efluente do reator UASB submetido à segunda dose de UV; (9) efluente do reator UASB submetido à terceira dose de UV; concentração residual de cloro livre (10) e total (11) após ensaio com cloro; concentração residual de cloro livre (12) e total (13) após ensaio com UV.
Resultados e Discussão
70
Tabela 5.3: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento II. Experimento II (9,6; 20)(1)
Variáveis EB(2) EC(3) EUV1
(4)
(1Wh/m3) EUV2
(5) (5Wh/m3)
EUV3(6)
(10Wh/m3)
T (°C) 22 22 pH 6,38 5,57 5,79 5,7 5,88 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 197 151 ST (mg/L) 393 436 SST (mg/L) 88 79 DQO (mg/L) 371 671 N-NH3 (mg/L) 23 19
Cloro residual livre (mgCl2/L) 0,14 (7) 0,2 (9) Cloro residual total (mgCl2/L) 1,32 (8) 0,48 (10) E. coli (UFC/100mL) 4x105 <1 <1 <1 <1 Coliformes totais (UFC/100mL) 5x106 5,1x102 6,2x102 2x102 1x102 C. perfringens (NMP/100mL) 5x103 1,4x103 1,3x103 4x101 2x101 Notas: (1) concentração de cloro aplicada (mgCl2/L), tempo de contato (min); (2) efluente bruto; (3) efluente clorado; (4) efluente clorado submetido à primeira dose de UV; (5) efluente clorado submetido à segunda dose de UV; (6) efluente clorado submetido à terceira dose de UV; concentração residual de cloro livre (7) e total (8) após ensaio com cloro; concentração residual de cloro livre (9) e total (10) após ensaio com UV.
Tabela 5.4: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento III. Experimento III (9,36; 30)(1)
Variáveis EB(2) EC(3) EUV1
(4)
(1Wh/m3) EUV2 (5)
(5Wh/m3) EUV3 (6)
(10Wh/m3)
T (°C) 22,5 22 pH 6,78 5,62 6,12 6,02 6,02 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 194 142 ST (mg/L) 279 373 SST (mg/L) 40 80 DQO (mg/L) 312 469 N-NH3 (mg/L) 6,83 0(7) Cloro residual livre (mgCl2/L) 0,31 (8) 0,83 (10) Cloro residual total (mgCl2/L) 4,72 (9) 2,9 (11) E. coli (UFC/100mL) 3x105 <1 <1 <1 <1 Coliformes totais (UFC/100mL) 1,4x107 1x103 7x102 1x102 2x102 C. perfringens (NMP/100mL) 3x103 5x103 2,6x102 2,3x102 2,3x102 Notas: (1) concentração de cloro aplicada (mgCl2/L), tempo de contato (min); (2) efluente bruto; (3) efluente clorado; (4) efluente clorado submetido à primeira dose de UV; (5) efluente clorado submetido à segunda dose de UV; (6) efluente clorado submetido à terceira dose de UV; (7) valor abaixo do limite de detecção do equipamento; concentração residual de cloro livre (8) e total (9) após ensaio com cloro; concentração residual de cloro livre (10) e total (11) após ensaio com UV.
Resultados e Discussão
71
Tabela 5.5: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento IV. Experimento IV (22,5; 10)(1)
Variáveis EB(2) EC(3) EUV1
(4)
(1Wh/m3) EUV2
(5) (5Wh/m3)
EUV3(6)
(10Wh/m3)
T (°C) 26 26 pH 6,53 6,58 6,23 6,44 6,34 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 142 136 ST (mg/L) 332 439 SST (mg/L) 70 38 DQO (mg/L) 252 306 N-NH3 (mg/L) 22 18 Cloro residual livre (mgCl2/L) 0,9 (7) 1,38 (9) Cloro residual total (mgCl2/L) 15,76 (8) 10,14 (10) E. coli (UFC/100mL) 3x106 <1 <1 <1 <1 Coliformes totais (UFC/100mL) 2,3x107 4x102 4x101 3x101 1x100 C. perfringens (NMP/100mL) 1,3x104 1,1x103 4x101 2x101 4x101 Notas: (1) concentração de cloro aplicada (mgCl2/L), tempo de contato (min); (2) efluente bruto; (3) efluente clorado; (4) efluente clorado submetido à primeira dose de UV; (5) efluente clorado submetido à segunda dose de UV; (6) efluente clorado submetido à terceira dose de UV; concentração residual de cloro livre (7) e total (8) após ensaio com cloro; concentração residual de cloro livre (9) e total (10) após ensaio com UV.
Tabela 5.6: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento V. Experimento V (22,48; 20)(1)
Variáveis EB(2) EC(3) EUV1
(4)
(1Wh/m3) EUV2
(5) (5Wh/m3)
EUV3(6)
(10Wh/m3)
T (°C) 25,5 25 pH 6,39 5,85 5,86 6,13 5,98 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 130 97 ST (mg/L) 466 588 SST (mg/L) 147 134 DQO (mg/L) 452 454 N-NH3 (mg/L) 15 13 Cloro residual livre (mgCl2/L) 0,48 (7) 0,52 (9) Cloro residual total (mgCl2/L) 3,96 (8) 4,01 (10) E. coli (UFC/100mL) 6x106 <1 <1 <1 <1 Coliformes totais (UFC/100mL) 3,1x107 7x101 5x100 6x100 6x100 C. perfringens (NMP/100mL) 2,4x105 2,7x103 3x102 1,1x102 8x101 Notas: (1) concentração de cloro aplicada (mgCl2/L), tempo de contato (min); (2) efluente bruto; (3) efluente clorado; (4) efluente clorado submetido à primeira dose de UV; (5) efluente clorado submetido à segunda dose de UV; (6) efluente clorado submetido à terceira dose de UV; concentração residual de cloro livre (7) e total (8) após ensaio com cloro; concentração residual de cloro livre (9) e total (10) após ensaio com UV.
Resultados e Discussão
72
Tabela 5.7: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento VI. Experimento VI (21,74; 30)(1)
Variáveis EB(2) EC(3) EUV1
(4)
(1Wh/m3) EUV2
(5) (5Wh/m3)
EUV3(6)
(10Wh/m3)
T (°C) 25,5 25 pH 6,71 6,86 6,21 6,3 6,49 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 154 142 ST (mg/L) 268 386 SST (mg/L) 58 101 DQO (mg/L) 274 408 N-NH3 (mg/L) 20 19 Cloro residual livre (mgCl2/L) 1,12 (7) 0,99 (9) Cloro residual total (mgCl2/L) 9,76 (8) 5,76 (10) E. coli (UFC/100mL) 3,5x106 <1 <1 <1 <1 Coliformes totais (UFC/100mL) 3,3x107 3,8x102 8x101 1x102 5x100 C. perfringens (NMP/100mL) 2,1x104 1,3x103 8x102 4x101 8x101 Notas: (1) concentração de cloro aplicada (mgCl2/L), tempo de contato (min); (2) efluente bruto; (3) efluente clorado; (4) efluente clorado submetido à primeira dose de UV; (5) efluente clorado submetido à segunda dose de UV; (6) efluente clorado submetido à terceira dose de UV; concentração residual de cloro livre (7) e total (8) após ensaio com cloro; concentração residual de cloro livre (9) e total (10) após ensaio com UV.
Tabela 5.8: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento VII. Experimento VII (30,34; 10)(1)
Variáveis EB(2) EC(3) EUV1
(4)
(1Wh/m3)EUV2
(5) (5Wh/m3)
EUV3(6)
(10Wh/m3) T (°C) 26 26 pH 6,63 6,83 6,11 6,12 6,22 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 136 136 ST (mg/L) 199 382 SST (mg/L) 22 30 DQO (mg/L) 101 88 N-NH3 (mg/L) 18 17 Cloro residual livre (mgCl2/L) 2,92 (7) 3,2 (9) Cloro residual total (mgCl2/L) 20,88 (8) 13,88 (10) E. coli (UFC/100mL) 5,9x105 1,0x100 <1 <1 <1 Coliformes totais (UFC/100mL) 2x106 2,7x102 2,8x101 1,1x101 6x100 C. perfringens (NMP/100mL) 5x103 <1 7x101 2x101 2x101 Notas: (1) concentração de cloro aplicada (mgCl2/L), tempo de contato (min); (2) efluente bruto; (3) efluente clorado; (4) efluente clorado submetido à primeira dose de UV; (5) efluente clorado submetido à segunda dose de UV; (6) efluente clorado submetido à terceira dose de UV; concentração residual de cloro livre (7) e total (8) após ensaio com cloro; concentração residual de cloro livre (9) e total (10) após ensaio com UV.
Resultados e Discussão
73
Tabela 5.9: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento VIII. Experimento VIII (31,78; 20)(1)
Variáveis EB(2) EC(3) EUV1
(4)
(1Wh/m3)EUV2
(5) (5Wh/m3)
EUV3(6)
(10Wh/m3)
T (°C) 25 25 pH 6,36 6,65 6,55 6,48 6,75 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 257 218 ST (mg/L) 290 389 SST (mg/L) 42 53 DQO (mg/L) 176 237 N-NH3 (mg/L) 53 42 Cloro residual livre (mgCl2/L) 1,28 (7) 1,22 (9) Cloro residual total (mgCl2/L) 17,12 (8) 10,56 (10) E. coli (UFC/100mL) 1,8x105 <1 <1 <1 <1 Coliformes totais (UFC/100mL) 6,6x106 1,1x102 1x102 8x100 <1 C. perfringens (NMP/100mL) 9x103 5x102 2,3x102 2x101 <1 Notas: (1) concentração de cloro aplicada (mgCl2/L), tempo de contato (min); (2) efluente bruto; (3) efluente clorado; (4) efluente clorado submetido à primeira dose de UV; (5) efluente clorado submetido à segunda dose de UV; (6) efluente clorado submetido à terceira dose de UV; concentração residual de cloro livre (7) e total (8) após ensaio com cloro; concentração residual de cloro livre (9) e total (10) após ensaio com UV.
Tabela 5.10: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento IX. Experimento IX (30,4; 30)(1)
Variáveis EB(2) EC(3) EUV1
(4)
(1Wh/m3)EUV2
(5) (5Wh/m3)
EUV3(6)
(10Wh/m3)
T (°C) 26 26 pH 6,64 6,83 7,08 7,1 6,82 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 202 181 ST (mg/L) 263 455 SST (mg/L) 59 20 DQO (mg/L) 176 134 N-NH3 (mg/L) 24 23 Cloro residual livre (mgCl2/L) 9,35 (7) 2,5 (9) Cloro residual total (mgCl2/L) 30 (8) 15,88 (10) E. coli (UFC/100mL) 6,9x105 <1 <1 <1 <1 Coliformes totais (UFC/100mL) 2,3x106 <1 <1 <1 <1 C. perfringens (NMP/100mL) 3,3x103 <1 <1 <1 <1 Notas: (1) concentração de cloro aplicada (mgCl2/L), tempo de contato (min); (2) efluente bruto; (3) efluente clorado; (4) efluente clorado submetido à primeira dose de UV; (5) efluente clorado submetido à segunda dose de UV; (6) efluente clorado submetido à terceira dose de UV; concentração residual de cloro livre (7) e total (8) após ensaio com cloro; concentração residual de cloro livre (9) e total (10) após ensaio com UV.
Resultados e Discussão
74
5.1.1 pH
Quando o hipoclorito de sódio é adicionado á água, este produz ácido hipocloroso
assim como quando o cloro é hidrolisado.
Nos experimentos I, II e III, nos quais foram adicionados 10 mgCl2/L e foram
submetidos aos tempos de contato de 10, 20 e 30 minutos, respectivamente, observa-se
diminuição no pH após a adição de hipoclorito de sódio. Ao aumentar a dose de cloro
aplicada para 20 e 30 mgCl2/L observa-se a tendência em aumento no pH (Figura 5.1).
Ao aumentar a quantidade de hipoclorito de sódio adicionado às amostras de efluente
secundário ocorre a tendência de aumento nos valores de pH, como mostra a equação (5.1):
NaOCl + H20 ⇌ HOCl + Na+ + OH-
(5.1)
Ademais, a adição de cloreto, inerente à composição da solução de cloro utilizada nos
ensaios de desinfecção, pode alterar a força iônica da amostra desinfetada, podendo assim
interferir no pH.
O pH médio da amostra do reator UASB não desinfetado (EB) é 6,53 (Tabela 5.11). O
pH das amostras desinfetadas encontra-se no intervalo de 5,57 a 7,10, situando-se na faixa de
pH onde 80 a 100 % do cloro está presente na forma de ácido hipocloroso, espécie química de
forte poder desinfetante (Figura 5.1 e Tabelas 5.2 a 5.10).
0
1
2
3
4
5
6
7
8
I II III IV V VI VII VIII IXExperimentos
pH..
EB EC
Figura 5.1- Variação do pH com a aplicação de cloro.
Na Figura 5.2 pode-se observar que há correlação linear em relação às dosagens
aplicadas e tempo de contato. A Figura “A” apresenta para o tempo de contato de 10 minutos
as diferentes doses de cloro aplicada 10, 20 e 30 mgCl2/L, experimentos I, IV e VII
Resultados e Discussão
75
respectivamente. A Figura “B” representa o tempo de contato de 20 minutos e mesma
dosagens de cloro aplicada que em “A” e a Figura“C” é referente ao tempo de contato de 30
minutos.
Figura 5.2- Variação do pH com a aplicação de cloro
Ao aumentar a dose de cloro aplicada de 10 para 30 mgCl2/L parece alterar o
equilíbrio químico da matriz do efluente. Assim, a dosagem de 10 mgCl2/L parece promover
uma tendência em acidificar o efluente do reator UASB, e a dosagem de 30 mgCl2/L provoca
uma neutralização do pH do meio onde o cloro foi aplicado.
A média do pH foi de 6,53 no efluente bruto, 6,26 no efluente clorado e de 6,26 no
efluente sujeito à radiação UV, como pode ser visto na Tabela 5.11.
Tabela 5.11: Análise estatística dos valores de pH do ensaio de cloração
EB EC EUV1 EUV2 EUV3
Média 6,53 6,26 6,18 6,23 6,24 Erro padrão 0,05533 0,19556 0,14113 0,1382 0,13184Mediana 6,53 6,58 6,12 6,13 6,22 Desvio padrão 0,16598 0,58667 0,42338 0,41461 0,39551Variância da amostra 0,02755 0,34418 0,17925 0,1719 0,15643Curtose -1,756 -2,3255 1,65661 1,55171 -1,0498 Assimetria 0,24335 -0,2503 1,19481 0,98391 0,19324Intervalo 0,43 1,29 1,37 1,4 1,16 Mínimo 6,35 5,57 5,71 5,7 5,66 Máximo 6,78 6,86 7,08 7,1 6,82 Soma 58,77 56,39 55,66 56,12 56,16 Contagem 9 9 9 9 9
Nota: EB = efluente bruto, aqueles não desinfetados; EC= efluente do reator UASB após a cloração; EUV1= efluente clorado após desinfecção com a primeira dose de UV; EUV2 = efluente clorado após a segunda dose de UV e EUV3 = efluente clorado após a terceira dose de UV.
y = 0,615x + 5,1067R2 = 0,8949
0
1
2
3
4
5
6
7
8
I IV VII
Experimentos
pH.
EB EC Linear (EC)
y = 0,54x + 4,9433R2 = 0,9283
0
1
2
3
4
5
6
7
8
II V VIII
Experimentos
pH
EB EC Linear (EC)
y = 0,605x + 5,2267R2 = 0,7314
0
1
2
3
4
5
6
7
8
III VI IX
Experimentos
pH.
EB EC Linear (EC)
A B C
Resultados e Discussão
76
5.1.2 DQO
A Figura 5.3 representa a variação da DQO do efluente bruto (EB) e do clorado (EC)
para todos os experimentos realizados.
Figura 5.3: Variação da DQO no efluente bruto e no efluente clorado nos ensaios de
desinfecção com cloro.
A DQO média no efluente bruto foi de 263 mg/L e no efluente clorado foi de 346
mg/L (Tabela 5.12).
Tabela 5.12: Análise estatística do Efluente Bruto e do clorado para a DQO. EB EC Média 263 346 Erro padrão 35,6657 60,2171 Mediana 252,5 349,8 Desvio padrão 106,9973 180,6515Variância da amostra 11448,42 32634,98Assimetria 0,3645 0,2544 Intervalo 351,2 582,7 Mínimo 101,3 88,1 Máximo 452,5 670,8
Considerando a cinética de reação do cloro com a matéria orgânica, geralmente de
primeira ordem, não era esperado o comportamento observado nos ensaios, ou seja, a
remoção de DQO por oxidação com cloro não foi proporcional à dosagem de cloro aplicada
ou à demanda de cloro. Na maioria dos ensaios, houve aumento de DQO, exceto nos ensaios
VII e IX.
0 100 200 300 400 500 600 700
DQ
O (m
gO2/L
)
I II III IV V VI VII VIII IX
Experimentos
EB EC
Resultados e Discussão
77
A DQO é obtida indiretamente pela quantidade equivalente de um oxidante,
normalmente permanganato ou dicromato em solução ácida, necessária para oxidação dos
constituintes orgânicos de uma amostra sob condições controladas. A quantidade consumida
de oxidante é expressa em termos de sua equivalência com oxigênio.
Na tentativa de determinar a existência de uma tendência de aumento nos valores de
DQO com a adição do desinfetante, foram realizados os experimentos:
(A) para uma amostra de efluente do reator UASB, na qual foi adicionado 5 mgCl2/L
em 10 minutos de tempo de contato, foi adicionado sulfato de mercúrio (somente para a
amostra clorada) (Figura 5.4);
(B) em outra amostra do efluente do reator UASB, foi avaliada a adição do sulfato de
mercúrio em diferentes quantidades, tanto no efluente do reator UASB (Figura 5.5) quanto
neste efluente, após a aplicação de 30 mgCl2/L em 30 minutos de tempo de contato (Figura
5.6).
O sal sulfato de mercúrio é recomendado pelo Standard Methods for Examination of
Water and Wastewater (APHA, 1998) para remover a interferência de íons cloreto e brometo,
interferentes na DQO.
O sulfato de mercúrio tem a propriedade de precipitar o cloreto presente nas amostras.
O íon cloreto pode estar presente no esgoto tratado e nas soluções de hipoclorito de sódio
comerciais (solução usada no ensaio de desinfecção com cloro).
Sabe-se que a presença de cloreto nos esgotos é comum e de difícil remoção (PIVELI
& KATO, 2006).
Seguiu-se a proporção sugerida no APHA (1998) de 50 mL de amostra para cada 1g
de HgSO4,. Para otimização do uso de reagente foi utilizado a proporção de 25 mL de amostra
para 0,5g de HgSO4.
Resultados e Discussão
78
Figura 5.4: Interferência do cloreto na determinação da DQO da amostra clorada.
O resultado mostra que a DQO na amostra do reator UASB aumenta de 113 para 129
quando é adicionado cloro, e diminui de 129 para 101 quando é adicionado o sulfato de
mercúrio somente na amostra clorada.
No experimento B, foi feito o teste para avaliar a alteração dos valores de DQO
variando a quantidade de sulfato de mercúrio, tanto para a amostra do efluente bruto (Figura
5.5) quanto para esta amostra após a cloração (Figura 5.6).
Figura 5.5: Valores de DQO do efluente do reator UASB para diferentes concentrações de
Sulfato de mercúrio.
DQO efluente UASB + HgSO4
176
121 108
142
UASB UASB+0,5gHgSO4
UASB+0,75gHgSO4
UASB+1g HgSO4
DQ
O (m
gO2/L
)
DQO + HgSO4
113 129
101
UASB UASB + Cloro(5mgCl2/L, 10min)
UASB + Cloro (5mgCl2/L, 10min)
+HgSO4
DQ
O(m
gO2/L
)
Resultados e Discussão
79
Observou-se que, na amostra do efluente do reator UASB, a DQO diminuiu quando
foi adicionado até 0,75g de HgSO4 em 25mL de amostra de água residuária e aumentou
quando foi adicionado 1g de HgSO4 (Figura 5.5). Por outro lado notou-se uma diminuição de
176 para 134 mgO2/L quando comparada com a amostra de UASB (Figuras Figura 5.5 e 5.6).
Além disso, quando foi adicionado HgSO4 nessa mesma amostra, seus valores aumentaram
de 134 para 155 com 0,75g deste sal e diminuíram para 116 com 1g de HgSO4.
Nota-se que nas Figuras Figura 5.5 e 5.6 a alteração nos valores de DQO quando
quantidades variáveis de sulfato de mercúrio foram adicionadas. Observa-se que o aumento
nas quantidades do sal de mercúrio pode não gerar resultados lineares decrescentes na DQO.
A Figura 5.6 representa o que ocorreu quando foram adicionadas diferentes
quantidades de sulfato de mercúrio à amostra clorada. Observa-se também que não foi
registrado um padrão de resultado com a crescente adição do sulfato de mercúrio.
Figura 5.6: Valores de DQO para a amostra desinfetada com cloro em diferentes concentrações de sulfato de mercúrio.
O APHA (1998) explica que o íon cloreto é o interferente mais comum na
determinação de DQO. O cloreto pode alterar o valor da DQO podendo causar tanto aumento,
ao ser oxidado pelo dicromato, quanto diminuição, ao reagir com a prata do catalisador e
precipitar cloreto de prata, diminuindo a capacidade oxidativa do reagente (SOUTO, 2009). O
mesmo autor acentua que as dificuldades na determinação da DQO causadas pelo cloreto
podem ser minimizadas, mas não eliminadas, pela complexação com sulfato de mercúrio.
Como foram usadas concentrações variadas de cloro, e não foram feitas análises para
DQO da amostra clorada + HgSO4
134 142155
116
UASB + Cloro(30mgCl2/L,30min)
UASB + Cloro(30mgCl2/L, 30 min)
+0,5g HgSO4
UASB + Cloro(30mgCl2/L, 30min)
+0,75g HgSO4
UASB + Cloro(30mgCl2/L, 30min)
+1g HgSO4
DQ
O (m
gO2/L
)
Resultados e Discussão
80
quantificar os cloretos no efluente bruto, no clorado e na solução de cloro usada na
desinfecção, a determinação do valor de sulfato de mercúrio necessária para remover a
interferência do íon cloreto seria dificultosa, portanto decidiu-se fazer as análises de DQO
sem a adição de HgSO4.
5.1.3 Sólidos Totais
A Figura 5.7 representa a variação dos sólidos totais antes e após a cloração. Nota-se
aumento nos valores deste parâmetro com a adição do cloro em todos os experimentos. O
aumento pode ser advindo da adição de solutos, que possam estar presentes na composição da
solução de hipoclorito de sódio.
Figura 5.7: Variação dos Sólidos Totais nos ensaios de cloro/UV
Nota-se na Tabela 5.13 que houve um aumento médio de 1,4 vezes no valor de ST
quando se aplicou cloro.
Tabela 5.13: Análise estatística do efluente bruto e do efluente clorado para ST.
EB EC Média 305 430 Erro padrão 26,8068 22,0011 Mediana 278,5 422,5 Desvio padrão 80,4204 66,0032 Variância da amostra 6467,444 4356,424Assimetria 1,0327 1,9438 Intervalo 267 214,5 Mínimo 198,5 373 Máximo 465,5 587,5
0 100 200 300 400 500 600
ST (m
g/L)
I II III IV V VI VII VIII IX
Experimentos
EB EC
Resultados e Discussão
81
5.1.4 Sólidos Suspensos Totais
Em se tratando dos sólidos suspensos totais, a Figura 5.8 representa a variação deste
parâmetro no efluente bruto e no efluente clorado. Diferentemente dos ST, não ocorreu um
padrão de aumento ou diminuição deste parâmetro após a cloração. Pode-se inferir que o
material existente, tanto dissolvido quanto particulado nas amostras tinha qualidades únicas,
visto que cada experimento utilizava amostra de esgoto com particular qualidade.
Figura 5.8: Variação dos Sólidos Suspensos Totais nos ensaios de cloro/UV
Para melhorar o efeito de desinfecção WANG et al., (2006) combinaram processos de
desinfecção (cloração seguido de radiação UV). Os seus resultados mostraram que a presença
de sólidos suspensos, especialmente de partículas maiores, teve grande impacto na eficiência
de desinfecção com UV, principalmente para este desinfetante quando aplicado sozinho.
Coliformes associados a partículas com diâmetro maior que 10 μm são difíceis de serem
inativados, e são os responsáveis pela cauda (tailing) em curvas de inativação. Pré-cloração
pode diminuir o número de partículas em efluentes secundários e transformar partículas
maiores em menores, transformado-as em parcela dissolvida, diminuindo assim a
concentração de SST e reduzindo a influência das partículas na desinfecção com UV,
realçando a habilidade dos processos combinados mesmo em efluentes contendo carga de
partículas.
Na Tabela 5.14 estão apresentados os valores das variáveis estatísticas para os valores
de SST no efluente bruto e no clorado nos experimentos realizados.
0 20 40 60 80
100 120 140 160
SST
(mg/
L)
I II III IV V VI VII VIII IX Experimentos
EB EC
Resultados e Discussão
82
Tabela 5.14: Análise estatística dos SST do efluente bruto e do efluente clorado. EB EC Média 63,4 62,6 Erro padrão 12,2056 12,8402 Mediana 58,15 53,3 Desvio padrão 36,6169 38,5207 Variância da amostra 1340,798 1483,849Assimetria 1,6093 0,7235 Intervalo 124,6 113,7 Mínimo 22,05 19,85 Máximo 146,65 133,55
5.1.5 Nitrogênio amoniacal, pH e Temperatura
Uma das dificuldades para tratamento de esgoto sanitário ou industrial decorre da sua
composição química complexa. Muitos desses efluentes contém quantidades apreciáveis de
amônia e a cloração dessas águas poluídas resulta na formação de ácido hipocloroso (HOCl),
um composto clorado com alto poder desinfetante. No entanto, esse composto, na presença de
amônia, pode ser convertido em monocloramina e outras cloraminas que possuem caráter
desinfetante menor.
Ao se aplicar dosagens crescentes de cloro em águas contendo amônia, as cloraminas
decompõem-se facilitando a formação de cloro residual livre.
O pH é um fator muito importante para garantir a prevalência de espécies químicas
cloradas com poder desinfetante. O pH observado nas amostras analisadas, tanto para as
amostras brutas (sem cloração) quanto para as cloradas, apresentou valores favoráveis para a
ação desinfetante do cloro, ou seja, abaixo de 7 e não inferior a 5,5 como é evidenciado na
Tabela 5.15.
Resultados e Discussão
83
Tabela 5.15: Variação do pH, temperatura, N-NH3 para efluente bruto (EB) e clorado (EC).
pH NH3 (mg/L)Experimento
Tempo de contato
com Cloro (min)
Cloro aplicado
(mgCl2/L)
Cloro residual
livre (mgCl2/L)
Cloro residual combinado (mgCl2/L)
T (ºC)
EB EC EB ECI 10 9,8 0,31 4,2 22,5 6,35 5,6 20 20II 20 9,6 0,14 1,18 22,0 6,38 5,57 23 19III 30 9,36 0,31 4,41 22,5 6,78 5,62 7 0*IV 10 22,5 0,9 14,86 26 6,53 6,58 22 18V 20 20,48 0,48 3,48 25,5 6,39 5,85 15 13VI 30 21,74 1,12 8,64 25,5 6,71 6,86 20 19VII 10 30,34 2,92 17,96 26 6,63 6,83 18 17VIII 20 31,78 1,28 15,84 25 6,36 6,65 53 42IX 30 30,4 9,35 20,65 26 6,64 6,83 24 23
Nota: EB = efluente bruto; EC = efluente clorado; *Valor abaixo do limite de detecção.
Na Figura 5.9 observa-se que foi detectada nas amostras cloradas uma pequena
diminuição nos valores de N-amoniacal. Entretanto, em alguns ensaios a quantidade de N-
amoniacal manteve-se inalterada após a adição do cloro, com exceção dos ensaios II, III, IV e
VIII nos quais foi visualizado consumo de amônia. Possivelmente o cloro tenha se
transformado em compostos combinados como as cloraminas.
Figura 5.9: Variação do Nitrogênio amoniacal para a amostra de efluente bruto (EB) e do
efluente clorado (EC).
0
10
20
30
40
50
60
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9Experimentos
NH 3
[mg/
L]
NH3-EB NH3-EC
Resultados e Discussão
84
5.1.6 Cinética do cloro
5.1.6.1 Inativação de C. perfringens e coliformes totais na desinfecção somente com
cloro
Na Figura 5.10 observa-se a inativação das bactérias C. perfringens e coliformes totais
quando sofreram a ação do cloro em diversas combinações de concentração de desinfetante e
tempo de contato (CT), ajustados pelos modelos aplicados. A ausência da bactéria E. coli está
ligada ao fato de que ela não resistiu à exposição ao cloro nas dosagens estudadas.
Figura 5.10: Inativação do C. perfringens e c. totais na desinfecção com cloro para os modelos de Hom e Watson respectivamente.
Observa-se que para os CT estudados, a inativação de coliformes totais apresentou-se
mais pronunciada do que para o C. perfringens, visto que a inativação dos coliformes totais
ultrapassou 5 log de remoção enquanto para Clostridium perfringens não foi alcançado 1,5
log de inativação, ficando evidenciado, portanto, o caráter mais resistente das bactérias
formadoras de esporos à desinfecção com cloro.
Verificou-se que o aumento no valor de CT não proporcionou maior log de inativação
para as bactérias estudadas. A inativação de C. perfringens para CT de 96 e 954 mgCl2/L.min
foi de, respectivamente, 0,55 e 1,26 log e para coliformes totais e mesmos CT a remoção foi
de 3,99 e 5,06 log, respectivamente.
A equação (5.2) foi a que forneceu maior coeficiente de correlação (R2 = 0,78064)
para o C. perfringens nos ensaios de desinfecção aplicando-se apenas cloro.
)..7063,0exp( 2318,45680,4 −−= tClNoN
aplicado (5.2)
-6
-5
-4
-3
-2
-1
00 200 400 600 800 1000 1200
log
N/N
o
Coliformes totais- Modelo Watson C. perfringens- Modelo Hom
CT (mgCl2/L.min)
Resultados e Discussão
85
Para coliformes totais a equação (5.3) foi a que apresentou o melhor ajuste (R2 =
0,81233).
)..4278,4exp( 7035,0 tClNoN
aplicado−−= (5.3)
5.1.6.2 Inativação de C. perfringens e coliformes totais na desinfecção sequencial de
cloro seguido de UV
Os valores dosados de cloro não estão claramente presentes nos gráficos de cinética
para a desinfecção sequencial devido à impossibilidade de se conjugar diferentes unidades de
desinfecção no mesmo eixo, haja visto que a unidade de dosagem de cloro é em mg/L e a
unidade de emissão de radiação UV é em Wh/m3. Isso impediria a colocação desses valores
no mesmo eixo e, consecutivamente, as doses de desinfetantes utilizados na desinfecção
sequencial.
Para solucionar esse problema, a dose com valor de 0 Wh/m3 refere-se à aplicação de
cloro de 10 mgCl2/L por 10 min de tempo de contato no ensaio I. No ensaio II, a dose de 0
Wh/m3 refere-se à dose aplicada de cloro de 10 mgCl2/L por 20 min, e o mesmo se aplica até
o ensaio VIII. Não há gráfico para o ensaio IX, pois para todas as bactérias estudadas foi
alcançado 100 % de eficiência de inativação, não restando assim, sobreviventes para aplicar a
cinética.
Portanto, para a Figura 5.11, referente ao ensaio I, e para os demais ensaios em que
somente foi avaliada a desinfecção sequencial (excetuando I-B), foi adotado esse recurso com
o objetivo de se colocar no mesmo eixo as doses de desinfetantes nas quais as amostras foram
expostas.
Na Figura 5.11 pode-se observar a diferença na eficiência de desinfecção quando foi
utilizada a desinfecção sequencial com cloro seguido de radiação UV (I-A) e apenas radiação
UV (I-B).
Nota-se que foi atingido 2,47 log de inativação de C. perfringens após ter passado pela
maior dose de UV recebida (10 Wh/m3) (Figura 5.11 I-A). No entanto, com a mesma
exposição ao UV para a mesma amostra, mas sem ter sido clorada (Figura 5.11 I-B), a
inativação desta bactéria atinge o valor de 1,5 log, evidenciando a potencialização da ação
desinfetante sobre o mesmo organismo quando é aplicado o cloro seguido de radiação UV.
Observa-se o mesmo padrão para as demais bactérias estudadas, ou seja, quando é
aplicada a desinfecção sequencial ocorre uma melhoria na ação desinfetante sobre os
microrganismos, produzindo um aumento de remoção de praticamente 1 log para coliformes
Resultados e Discussão
86
totais e 0,7 log para E. coli.
Figura 5.11: Inativação de C. perfringens, E. coli e coliformes totais para os ensaios de
desinfecção sequencial - cloro seguido de UV (I-A), e para a desinfecção apenas com UV (I-B) do experimento I.
As equações (5.4) – experimento I-A - e (5.5) - experimento I-B - foram obtidas
considerando que a inativação siga o modelo de Watson. Os ajustes dos dados experimentais
foram muito bons com R2 de 0,9882 e 0,9934 para as equações (5.4) e (5.5), respectivamente.
).8505,2exp( 3004,0rD
NoN
−= (5.4)
).3684,0exp( 9739,0rD
NoN
−= (5.5)
No ensaio I, observa-se que, na desinfecção sequencial, a constante de decaimento do
Clostridium é mais de 7 vezes maior quando sujeita a 10 mgCl2/L para 10 minutos de tempo
de contato como o cloro e 10 Wh/m3 do que em relação a desinfecção sujeita somente de 10
Wh/m3 de UV.
Define-se também para este trabalho a equação padrão da desinfecção sequencial de
cloro seguido de UV, somente UV, e mais adiante no texto, para a desinfecção sequencial de
ozônio seguido de UV conforme a equação (5.6).
).exp( nrDK
NoN
−=
(5.6)
K e n são coeficientes encontrados na regressão dos dados do logaritmo da fração
sobrevivente de microrganismos estudados em cada fase da desinfecção, ou seja, após a
cloração e cada dose de UV.
-6
-5
-4
-3
-2
-1
00 5 10 15
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o.
Cp Ct E.c
-6
-5
-4
-3
-2
-1
00 2 4 6 8 10 12
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o.
Cp Ct E.c
I-A I-B
Resultados e Discussão
87
O coeficiente K representa a constante de decaimento da fração sobrevivente de
microrganismos estudados, e n representa a curvatura das curvas de decaimento.
Os valores de todos os coeficientes obtidos na regressão dos dados estão colocados na
Tabela 5.16 para o C. perfringens, na Tabela 5.17 para coliformes totais e na Tabela 5.18 para
E. coli.
Sobre os coliformes totais, observa-se pelas Tabelas 5.17 e 5.18, que a constante de
decaimento destes microrganismos é semelhante a da E. coli, sendo aproximadamente 1,25
vezes maior para a desinfecção sequencial.
No experimento II (Figura 5.12), observa-se que a constante de decaimento do C.
perfringens é 6,32 vezes menor do que a dos coliformes totais, enfatizando a resistência das
bactérias anaeróbias esporuladas.
Comparando os ensaios II e III (Figura 5.12) é possível observar que a inativação dos
coliformes totais foi maior quando o tempo de contato com o cloro foi aumentado de 20 para
30 min. No ensaio II, foi atingido 4,7 log de inativação após a sujeição à maior dose de UV
(10 Wh/m³). Por outro lado, no ensaio III atingiu-se mais de 5 log de inativação. Todavia, um
padrão diferente foi observado para o C. perfringens, que no ensaio II atingiu 2,7 log e no
ensaio III não passou de 1,1 log. Mostrou-se com isso, que com a mesma dose de cloro, o
aumento no tempo de contato não foi favorável para inativação do C. perfringens.
Figura 5.12: Inativação de C. perfringens e coliformes totais nos ensaios II e III.
Na Figura 5.13, observam-se os ensaios nos quais foram aplicados 20 mgCl2/L,
variando o tempo de contato entre 10, 20 e 30 min, - ensaios IV, V e VI, respectivamente.
Observa-se que houve no ensaio V, correspondente a 20 minutos de tempo de contato com o
cloro antecedente a radiação UV, maior eficiência para o C. perfringens seguido de 30
minutos de contato. Para os coliformes totais, a eficiência foi decrescente quando relacionada
-6
-5
-4
-3
-2
-1
00 2 4 6 8 10
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o.
C.totais Cp
-6
-5
-4
-3
-2
-1
00 2 4 6 8 10
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o.
C.totais Cp
II III
Resultados e Discussão
88
com o tempo de contato com o cloro. Assim, 10 minutos de contato com esse desinfetante
forneceu melhor eficiência que 20 e 30 minutos. A melhor eficiência para o menor tempo de
contato com 20 mgCl2/L pode advir do fato que, no ensaio IV, a concentração de sólidos
suspensos totais (SST) foi menor quando comparada com os ensaios V e VI.
No ensaio IV, a concentração de SST foi de 38 mg/L na amostra clorada sujeita à
radiação UV. Próximo ao valor recomendado para desinfecção com radiação ultravioleta (30
mgSST/L).
Figura 5.13: Inativação de C. perfringens e coliformes totais nos ensaios IV, V e VI.
Para a desinfecção sequencial, em que se aplicou 30 mgCl2/L antes da radiação UV
nos ensaios VII e VIII, observou-se que o aumento do tempo de contato com o agente
químico foi favorável para aumentar a eficiência na inativação tanto do C. perfringens quanto
dos coliformes totais. Houve um aumento de quase um log de remoção dessas bactérias
-8
-6
-4
-2
00 5 10
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o.
C.totais Cp
-8
-6
-4
-2
00 5 10
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o.
C.totais Cp
-8
-6
-4
-2
00 5 10
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o.
C.totais Cp
VI
V IV
Resultados e Discussão
89
quando se aumentou de 10 para 20 minutos o tempo de contato com o cloro (Figura 5.14).
Figura 5.14: Inativação de C. perfringens e coliformes totais nos ensaios VII e VIII.
Tabela 5.16: Valores dos parâmetros cinéticos obtidos nos ensaios de desinfecção com cloro-UV para C. perfringens.
Watson Experimento K'(m3/Wh) n R2
I-A 2,8506 0,3004 0,9882 I-B 0,3684 0,9739 0,9932 II 1,4238 0,6444 0,9559 III 2,4526 0,0228 0,9139 IV 5,9099 0,0124 0,0502 V 6,7021 0,0798 0,9933 VI 3,4454 0,2620 0,7968 VII 4,3322 0,1202 0,9139 VIII 3,6669 0,3172 1*
Nota: * A correlação foi de 1, pois haviam apenas dois dados para se fazer a regressão no conjunto de dados. Tabela 5.17: Valores dos parâmetros cinéticos obtidos nos ensaios de desinfecção com cloro-UV para coliformes totais.
Watson Experimento K'(m3/Wh) n R2
I-A 10,6509 0,0517 0,9139 I-B 8,5878 0,0565 0,8785 II 8,9770 0,0790 0,9959 III 10,0866 0,0622 0,6489 IV 12,8881 0,0902 0,6139 V 15,6295 -0,0055 0,9139 VI 12,5578 0,0676 0,4619 VII 11,1552 0,0549 0,9926 VIII 11,0974 0,1274 1
Nota: * A correlação foi de 1, pois haviam apenas dois dados para se fazer a regressão no conjunto de dados.
-7
-6
-5
-4
-3
-2
-1
00 2 4 6 8 10
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o.
C.totais Cp
-7
-6
-5
-4
-3
-2
-1
00 2 4 6 8 10
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o.
C.totais Cp
VII VIII
Resultados e Discussão
90
Tabela 5.18: Valores dos parâmetros cinéticos obtidos nos ensaios de desinfecção com cloro e UV para E. coli.
Watson Experimento K'(m3/Wh) n R2
I-A 8,3077 0,0527 0,9939 I-B 6,7341 0,0600 0,9139
5.1.6.3 Variação da Inativação dos microrganismos em relação ao tempo de contato
com o cloro
5.1.6.3.1 C. perfringens
Observa-se na Figura 5.15, de uma maneira geral, que o aumento do tempo de contato
para 30 minutos não garantiu melhor desinfecção quando aplicado 10 ou 20 mgCl2/L (gráficos
A e B).
Figura 5.15: Influência do tempo de contato do cloro na inativação de C. perfringens na
desinfecção sequencial com cloro seguido de radiação UV.
[Cl2] de 10mg/L
-4
-3,5
-3
-2,5
-2
-1,5
-1
-0,5
00 5 10
Dr (Wh/m3)
Log
N/N
o.
10 min 20 min 30 min
[Cl2] de 20mg/L
-4
-3,5
-3
-2,5
-2
-1,5
-1
-0,5
00 5 10
Dr (Wh/m3)
Log
N/N
o.
10 min 20 min 30 min
[Cl2] de 30mg/L
-4
-3,5
-3
-2,5
-2
-1,5
-1
-0,5
00 5 10
Dr (Wh/m3)
Log
N/N
o.
10 min 20 min
A
C
B
Resultados e Discussão
91
Observa-se que a eficiência de inativação para tempo de contato de 10 minutos com o
cloro (Figura 5.15 (A)), seguido de doses de UV de 1 e 5 Wh/m3, foi maior quando
comparada com tempos de contato de 20 e 30 minutos com cloro. Na dose superior de UV, os
tempos de contato de 10 e 20 minutos atingem mais de 2,5 log de inativação de C.
perfringens, enquanto que na exposição de 30 minutos atingiu apenas 1 log. Além disso, para
a exposição de 30 minutos com cloro, o aumento na dose de radiação UV não favoreceu o
aumento da inativação dessas bactérias.
Quando aplicado 20 mgCl2/L (B) em 20 minutos de contato com o cloro, ocorreu
melhor inativação do que ao contato de 10 e 30 minutos.
Em C, a inativação para 30 minutos de contato com o cloro não consta no gráfico, pois
ocorreu 100% de inativação de C. perfringens. Para a menor dose de radiação ultravioleta
(1Wh/m3) 10 minutos de exposição com o cloro forneceu remoção superior àquela observada
em 20 minutos de contato.
5.1.6.3.2 Coliformes totais
Na Figura 5.16, gráfico A, a eficiência para 10 minutos de contato com o cloro foi
maior ou igual quando comparada com o tempo de contato de 20 e 30 minutos. Em B, na
menor dose de UV (1 Wh/m3), 20 minutos de contato com o cloro já atingiu a melhor
inativação. Em C, quando se aplicam 30 mgCl2/L, o aumento no tempo de contato com o
cloro e o aumento nas doses de UV intensificam a remoção de coliformes totais.
Resultados e Discussão
92
Figura 5.16: Influência do tempo de contato do cloro na inativação de coliformes totais na
desinfecção sequencial com cloro seguido de radiação UV.
5.1.6.4 Relação entre inativação de microrganismos indicadores e SST
Na Tabela 5.19 estão apresentados os valores de absorbância à 254nm medidos no
efluente do reator UASB após a cloração para determinar os tempos de contato de radiação
UV necessários para fornecer as doses recebidas requeridas.
Observa-se que a relação dos valores de absorbância em comprimento de onda de
254nm com o tempo de contato é direta. O aumento da quantidade de material particulado ou
dissolvido na amostra (expressa pela absorbância) faz com que seja necessário maior tempo
de exposição para atingir uma certa dose. A dose recebida (Dr) leva em consideração a
qualidade da água residuária a ser desinfetada.
[Cl2] de 10mg/L
-8
-6
-4
-2
00 5 10
Dr (Wh/m3)
Log
N/N
o.
10 min 20 min 30 min
[Cl2] de 20mg/L
-8
-6
-4
-2
00 5 10
Dr (Wh/m3)
Log
N/N
o.
10 min 20 min 30 min
[Cl2] de 30mg/L
-8-7-6-5-4-3-2-10
0 5 10
Dr (Wh/m3)
Log
N/N
o.
10 min 20 min
C
B A
Resultados e Discussão
93
Tabela 5.19: Valores de absorbância, Im, dose recebida de UV e os respectivos tempos de contato da radiação UV.
Experimento(1) λ: 254nm(2) Im(3) Dr(4)
(Wh/m3) Tempos de contato(5)
(s)
1 10,6 5 52,9 I-A (10mgCl2/L,10min) 0,455 1,828
10 105,9 1 10,2 5 50,9 I-B somente UV 0,434* 1,062
10 101,7 1 13,3 5 66,6 II (10mgCl2/L,20min) 0,588 0,811
10 133,2 1 9,9 5 49,4 III (10mgCl2/L,30min) 0,419 1,094
10 98,8 1 13,8 5 68,8 IV (20mgCl2/L,10min) 0,609 0,785
10 137,6 1 19,1 5 95,4 V (20mgCl2/L,20min) 0,855 0,566
10 190,9 1 20,1 5 100,6 VI (20mgCl2/L,30min) 0,902 0,537
10 201,2 1 8,4 5 41,9 VII (30mgCl2/L,10min) 0,341 1,288
10 83,9 1 12,7 5 63,5 VIII (30mgCl2/L,20min) 0,558 0,851
10 126,9 1 9,4 5 46,9 IX (30mgCl2/L,30min) 0,393 1,152
10 93,7 Notas: *efluente sem cloro; (1) número dado a cada experimento e sua correspondente concentração e tempo de contato com o ozônio; (2) valores de absorbância a 254 nm medidos para o efluente do reator UASB clorado; (3) usando a equação 4.4; (4) doses recebidas fixadas; (5) usando a equação 4.6 para as doses recebidas fixadas.
No cálculo de dose recebida de radiação UV o efeito dos SST foi considerado ao se
calcular a intensidade média de radiação, a qual é dependente da absorbância em λ 254 nm.
Quanto maior a concentração de SST maior a absorbância. Para suprir a maior demanda de
radiação UV e manter a dose recebida constante, aumentou-se o tempo de exposição.
Nas condições em que os ensaios foram realizados e considerando as características do
esgoto desinfetado, a determinação da dose de UV utilizada levou em consideração a
quantidade partículas absorvedoras de radiação. Desta maneira pode-se observar nas
Resultados e Discussão
94
FigurasFigura 5.17 e 5.18 que a inativação de microrganismos através da radiação UV
ocorreu mesmo quando sujeitas à altas concentrações de sólidos suspensos totais.
Figura 5.17: Relação entre SST e a remoção de C. perfringens para as doses de UV
estudadas.
Figura 5.18: Relação entre SST e a remoção de coliformes totais para as doses de UV
estudadas.
5.2 Calibração do gerador de ozônio
A calibração do gerador de ozônio forneceu as produções de gás listadas na Tabela 5.20.
Com as produções e suas vazões respectivas de gás, foram compiladas as curvas de calibração
do equipamento gerador de ozônio.
Dose de 1 Wh/m3
-8-6
-4-2
00 50 100 150
SST (mg/L)
log
N/N
o
Dose de 5 Wh/m3
-8
-6
-4
-2
00 50 100 150
SST (mg/L)
Log
N/N
o.
Dose de 10 Wh/m3
-8
-6
-4
-2
00 50 100 150
SST (mg/L)
Log
N/N
o.
Dose de 1 Wh/m3
-4
-3
-2
-1
00 50 100 150
SST (mg/L)
log
N/N
o.
Dose de 5 Wh/m3
-4
-3
-2
-1
00 50 100 150
SST (mg/L)
Log
N/N
o.
Dose de 10 Wh/m3
-4
-3
-2
-1
00 50 100 150
SST (mg/L)
Log
N/N
o.
Resultados e Discussão
95
Tabela 5.20: Produção do gerador de ozônio em função da vazão de gás e de tensão elétrica.
Tensão 100% Vazão P(g O3/h) P(mg/L)
240 3,07814 58,2981 180 2,802603 53,0796 108 1,81067 34,293 0 0 0
Tensão 80% Vazão P(g O3/h) P(mg/L)
240 2,101952 39,8097 180 1,566624 29,6709 108 1,405238 26,61435 60 0,834483 15,8046 0 0 0
Tensão 60% Vazão P(g O3/h) P(mg/L)
240 1,424919 26,9871 180 1,039167 19,6812 108 0,936825 17,7429 60 0,606181 11,4807 0 0 0
Tensão 40% Vazão P(g O3/h) P(mg/L)
240 0,881718 16,6992 180 0,566819 10,7352 108 0,488094 9,2442 60 0,204684 3,8766 0 0 0
Para este trabalho, na curva de calibração, a produção máxima de ozônio atingiu 3,08 g
O3/h, valor inferior ao informado pelo fabricante de 7 ± 0,7 g O3/h.
Resultados e Discussão
96
Na Figura 5.19 encontram-se as curvas de calibração de ozônio obtidas no presente
trabalho.
Figura 5.19: Curvas de calibração para a relação entre a produção de ozônio (g O3/h) e a
vazão de gás (L/h).
Aos valores observados de produção em função da vazão foram ajustadas as equações
(5.7) a (5.10):
P100% = 0,0211 Q R2= 0,9971 (5.7)
P80% = 0,0146 Q R2= 0,9699 (5.8)
P60% = 0,01 Q R2= 0,9611 (5.9)
P40% = 0,0030 Q R2= 0,9649 (5.10)
Pi%: produção de gás, para a dada tensão ‘i’, em g O3/L;
i: % de tensão (40, 60, 80 e 100);
Q: vazão de gás aplicada, L/h;
R²: Coeficiente de correlação ao quadrado.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
0 50 100 150 200 250Vazão de Gás (L/h)
Prod
ução
de
ozôn
io (g
O3/h
)
P100%
P80%
P60%
P40%
Resultados e Discussão
97
Na Tabela 5.21 encontra-se a produção de ozônio correspondente às dosagens e aos
tempos de contato utilizados nos ensaios de desinfecção, sendo que o volume de efluente
usado na ozonização sempre foi de 15,1L.
Tabela 5.21: Valores de Produção, dosagens e tempos de contato usados.
Experimento t (min) D (mg/L) P (g/h) Vazão (L/h)
0-A 10 5,7 0,515 132 I 10 5,7 0,515 132 II 20 5,7 0,257 66
III-A 30 5,4 0,164 42 III-B 30 5,4 0,164 42 IV 10 10,6 0,960 96
V-A 20 11,4 0,515 132 V-B 20 11,4 0,515 132 VI 30 10,8 0,328 84 VII 10 15,9 1,440 144 VIII 20 16,5 0,749 192 IX 30 17,0 0,515 132
5.3 Balanço de massa obtido nos ensaios com ozônio
Para os ensaios realizados com ozônio, encontram-se na Tabela 5.22 os resultados do
balanço de massa de cada experimento.
Tabela 5.22: Resultados do balanço de massa obtido nos ensaios com ozônio.
Expe
rimen
to
P (g/h)
P (mg/L)
MA (mg)
MT (mg)
MOFF-
GAS (mg)
MR (mg)
MC (mg)
%Tr
ansf
erid
a
%C
onsu
mid
a
[O3]OFF-
GAS (mg/L)
[O3]R (mg/L)
[O3]C (mg/L)
O-A 0,505 5,6 84,2 84,2 0,0 4,1 80,1 100,0 95,2 0,00 0,27 5,3 I 0,505 5,6 84,2 84,1 0,1 3,3 80,8 99,9 95,9 0,01 0,22 5,4 II 0,252 5,6 84,0 83,2 0,8 7,9 75,3 99,0 89,7 0,05 0,52 5,0
III-A 0,168 5,6 84,0 83,4 0,6 8,9 74,5 99,3 88,7 0,04 0,59 5,0
III-B 0,168 5,6 84,0 82,3 1,7 3,2 79,2 98,0 94,2 0,11 0,21 5,3 IV 0,954 10,5 159,0 138,8 20,2 4,4 134,5 87,3 84,6 1,34 0,29 8,9
V-A 0,505 11,1 168,3 168,3 0,0 5,0 163,4 100,0 97,0 0,00 0,33 10,8 V-B 0,505 11,1 168,3 154,8 13,6 2,4 152,4 91,9 90,5 0,90 0,16 10,0 VI 0,337 11,2 168,5 168,5 0,0 10,3 158,2 100,0 93,9 0,00 0,68 10,4 VII 1,431 15,8 238,5 237,9 0,6 21,0 216,9 99,7 90,9 0,04 1,39 14,4 VIII 0,757 16,7 252,3 243,0 9,3 9,4 233,6 96,3 92,6 0,62 0,62 15,5 IX 0,505 16,7 252,5 221,6 30,9 8,2 213,4 87,7 84,5 2,05 0,54 14,1
Legenda: P: produção de ozônio; MA: massa de ozônio aplicada; MT: massa de ozônio transferida; Moff-gas: massa de ozônio no off-gas; MR: massa de ozônio residual; MC: massa de ozônio consumida (equação 4.14); [O3]off-gas: concentração de ozônio no off-gas; [O3]Residual: concentração de ozônio residual; [O3]C: concentração de ozônio consumido.
Resultados e Discussão
98
5.4 Ensaios de desinfecção com ozônio seguido de radiação ultravioleta
Foi feita a caracterização físico-química e microbiológica do efluente anaeróbio bruto
e do ozonizado medindo-se: pH, temperatura, alcalinidade total, sólidos totais, sólidos
suspensos totais, ozônio residual e do off- gas e exames de Escherichia coli, coliformes totais
e Clostridium perfringens. Para o efluente ozonizado submetido à desinfecção com radiação
UV, foram feitos apenas os exames microbiológicos.
Nas TabelasTabela 5.23 a 5.34 está apresentada a caracterização físico-química e
microbiológica do efluente bruto (EB) proveniente da saída do reator UASB, do esgoto
desinfetado com ozônio (EO) do esgoto desinfetado com ozônio seguido de UV (EUV).
Tabela 5.23: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento 0. Experimento 0-A (5,6; 10)(1) Experimento 0-B (somente UV)
Variáveis EB(2) EO(3)
EUV1 comO3
[1
Wh/m3]
EUV2 comO3
[3 Wh/m3]
EUV3 comO3
[5 Wh/m3]
EUV1 semO3
[1 Wh/m3]
EUV2 semO3
[3 Wh/m3]
EUV3 semO3
[5 Wh/m3]
T (°C) 23 23 pH 6,48 7,23 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L)
179 185
ST (mg/L) 350 330 SST (mg/L) 64 35 DQO (mg/L) 436 408 E. coli (UFC/100mL) 1,2x106 1,5x106 7x103 8x101 8x101 5x103 2,2x102 2x102
Coliformes totais (UFC/100mL)
2,6x107 1,1x107 1,4x105 7x102 2x102 2x105 4x103 7,4x103
C. perfringens (NMP/100mL) 5x104 1,7x104 1,4x104 7x102 1,3X102 1,9x103 1,3X103 3x102
[O3]R (4)(mgO3/L) 0,27 [O3]OFF-GAS (5) (mgO3/L) 0,00
C(6) (mgO3/L) 5,33 Notas: (1) concentração de ozônio aplicada (mg/L), tempo de contato (min); (2) efluente UASB bruto; (3) efluente ozonizado; (4) concentração de ozônio residual; (5) concentração de ozônio no off-gas; (6) concentração de ozônio consumido (C).
Resultados e Discussão
99
Tabela 5.24: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento I. Experimento I (5,6; 10)(1)
Variáveis EB(2) EO(3) EUV1
[1Wh/m3] EUV2
[5Wh/m3] EUV3
[10Wh/m3]
T (°C) 20 20 pH 7,1 6,2 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 88 101 ST (mg/L) 359 281 SST (mg/L) 60 34 DQO (mg/L) 322 280 E. coli (UFC/100mL) 2x106 5x105 1,3x103 <1 <1 Coliformes totais (UFC/100mL) 4,3x107 2x106 3,1x104 5,3x103 1,4x103 C. perfringens (NMP/100mL) 8x103 2,8x104 2,2x103 2,3x102 2,3x102 [O3]R (4)(mgO3/L) 0,22 [O3]OFF-GAS (5) (mgO3/L) 0,01 C(6) (mgO3/L) 5,37 Notas: (1) concentração de ozônio aplicada (mg/L), tempo de contato (min); (2) efluente UASB bruto; (3) efluente ozonizado; (4) concentração de ozônio residual; (5) concentração de ozônio no off-gas; (6) concentração de ozônio consumido.
Tabela 5.25: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento II. Experimento II (5,6; 20)(1)
Variáveis EB(2) EO(3) EUV1
[1Wh/m3] EUV2
[3Wh/m3] EUV3
[5Wh/m3]
T (°C) 20 20 pH 6,8 7,2 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 179 201 ST (mg/L) 453 423 SST (mg/L) 150 104 DQO (mg/L) 549 494 E. coli (UFC/100mL) 1x106 5,9x105 3,5x103 6x102 4x102 Coliformes totais (UFC/100mL) 2,1x107 3,7x106 9,2x104 2,1x103 1,7x103 C. perfringens (NMP/100mL) 3x104 1,7x104 2,4x104 5x102 5x102 [O3]R (4)(mgO3/L) 0,52 [O3]OFF-GAS (5) (mgO3/L) 0,05 C(6) (mgO3/L) 5,03 Notas: (1) concentração de ozônio aplicada (mg/L), tempo de contato (min); (2) efluente UASB bruto; (3) efluente ozonizado; (4) concentração de ozônio residual; (5) concentração de ozônio no off-gas; (6) concentração de ozônio consumido.
Resultados e Discussão
100
Tabela 5.26: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento III-A.
Experimento III-A (5,6; 30)(1)
Variáveis EB(2) EO(3) EUV1
[1Wh/m3] EUV2
[3Wh/m3] EUV3
[5Wh/m3]
T (°C) 21 21 pH 6,64 7,06 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 157 164 ST (mg/L) 463 400 SST (mg/L) 195 100 DQO (mg/L) 640 501 E. coli (UFC/100mL) 3x106 9x104 2,9x103 4x102 3x102 Coliformes totais (UFC/100mL) 5,7x107 4,5x106 1x105 1,2x103 8x102 C. perfringens (NMP/100mL) 5x104 1,7x104 3x103 8x102 2,3x102 [O3]R (4)(mgO3/L) 0,59 [O3]OFF-GAS (5) (mgO3/L) 0,04 C(6) (mgO3/L) 4,97 Notas: (1) concentração de ozônio aplicada (mg/L), tempo de contato (min); (2) efluente UASB bruto; (3) efluente ozonizado; (4) concentração de ozônio residual; (5) concentração de ozônio no off-gas; (6) concentração de ozônio consumido.
Tabela 5.27: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento III-B.
Experimento III-B (5,6; 30)(1)
Variáveis EB(2) EO(3) EUV1
[0,5Wh/m3] EUV2
[1Wh/m3] EUV3
[1,5Wh/m3]
T (°C) 21 21 pH 6,51 7,02 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 70 62 ST (mg/L) 245 218 SST (mg/L) 106 42 DQO (mg/L) 287 181 E. coli (UFC/100mL) 2x106 5x103 9x102 9x102 1x102 Coliformes totais (UFC/100mL) 1x108 7,6x105 8x103 2x103 1,2x103 C. perfringens (NMP/100mL) 3x104 5x103 2,4x103 2,4x103 2,7x102 [O3]R (4)(mgO3/L) 0,21 [O3]OFF-GAS (5) (mgO3/L) 0,11 C(6) (mgO3/L) 5,28 Notas: (1) concentração de ozônio aplicada (mg/L), tempo de contato (min); (2) efluente UASB bruto; (3) efluente ozonizado; (4) concentração de ozônio residual; (5) concentração de ozônio no off-gas; (6) concentração de ozônio consumido.
Resultados e Discussão
101
Tabela 5.28: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento IV.
Experimento IV (10,5; 10)(1)
Variáveis EB(2) EO(3) EUV1
[1Wh/m3] EUV2
[5Wh/m3] EUV3
[10Wh/m3]
T (°C) 21,8 21,8 pH 6,47 6,82 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 69 71 ST (mg/L) 272 229 SST (mg/L) 134 63 DQO (mg/L) 341 245 E. coli (UFC/100mL) 2x106 2x103 1x101 <1 <1 Coliformes totais (UFC/100mL) 8,4x107 4,7x105 2x103 1x102 2x102 C. perfringens (NMP/100mL) 7x103 1,3x104 7x102 <1 <1 [O3]R (4)(mgO3/L) 0,29 [O3]OFF-GAS (5) (mgO3/L) 1,34 C(6) (mgO3/L) 8,87 Notas: (1) concentração de ozônio aplicada (mg/L), tempo de contato (min); (2) efluente UASB bruto; (3) efluente ozonizado; (4) concentração de ozônio residual; (5) concentração de ozônio no off-gas; (6) concentração de ozônio consumido.
Tabela 5.29: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento V-A.
Experimento V-A (11,1; 20)(1) Variáveis
EB(2) EO(3) EUV1
[1Wh/m3] EUV2
[3Wh/m3] EUV3
[5Wh/m3]
T (°C) 20,4 20,4 pH 6,84 7,64 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 181 180 ST (mg/L) 319 276 SST (mg/L) 104 33 DQO (mg/L) 429 269 E. coli (UFC/100mL) 1x106 5,3x105 7x103 2x102 5x101 Coliformes totais (UFC/100mL) 5x106 2,8x106 4,9x104 1,6x103 2,9x102 C. perfringens (NMP/100mL) 7x103 5x103 3x103 3x102 <1 [O3]R (4)(mgO3/L) 0,33 [O3]OFF-GAS (5) (mgO3/L) 0,00 C(6) (mgO3/L) 10,77 Notas: (1) concentração de ozônio aplicada (mg/L), tempo de contato (min); (2) efluente UASB bruto; (3) efluente ozonizado; (4) concentração de ozônio residual; (5) concentração de ozônio no off-gas; (6) concentração de ozônio consumido.
Resultados e Discussão
102
Tabela 5.30: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento V-B.
Experimento V-B(11,1; 20)(1) Variáveis
EB(2) EO(3) EUV1
[1Wh/m3] EUV2
[2Wh/m3] EUV3
[3Wh/m3]
T (°C) 19,7 19,7 pH 6,64 7,64 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 112 125 ST (mg/L) 226 172 SST (mg/L) 48 14 DQO (mg/L) 270 202 E. coli (UFC/100mL) 4x105 1,3x103 1x103 1x103 3x102 Coliformes totais (UFC/100mL) 1,5x107 5,1x104 4x103 2,1x103 9,5x102 C. perfringens (NMP/100mL) 2,4x104 7x103 2,3x103 3x102 1,3x102 [O3]R (4)(mgO3/L) 0,16 [O3]OFF-GAS (5) (mgO3/L) 0,90 C(6) (mgO3/L) 10,04 Notas: (1) concentração de ozônio aplicada (mg/L), tempo de contato (min); (2) efluente UASB bruto; (3) efluente ozonizado; (4) concentração de ozônio residual; (5) concentração de ozônio no off-gas; (6) concentração de ozônio consumido.
Tabela 5.31: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento VI. Experimento VI (11,1; 30)(1)
Variáveis EB(2) EO(3) EUV1
[1Wh/m3] EUV2
[3Wh/m3] EUV3
[5Wh/m3]
T (°C) 19,5 19,5 pH 6,68 7,61 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 237 251 ST (mg/L) 551 416 SST (mg/L) 245 137 DQO (mg/L) 794 415 E. coli (UFC/100mL) 7x105 6,2x105 9x103 9x101 1x101 Coliformes totais (UFC/100mL) 5,2x106 3,4x106 4,9x104 2,1x102 2x102 C. perfringens (NMP/100mL) 1,7x104 3x104 8x103 2,3x102 4x101 [O3]R (4)(mgO3/L) 0,68 [O3]OFF-GAS (5) (mgO3/L) 0,00 C(6) (mgO3/L) 10,42 Notas: (1) concentração de ozônio aplicada (mg/L), tempo de contato (min); (2) efluente UASB bruto; (3) efluente ozonizado; (4) concentração de ozônio residual; (5) concentração de ozônio no off-gas; (6) concentração de ozônio consumido.
Resultados e Discussão
103
Tabela 5.32: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento VII. Experimento VII (15,8; 10)(1)
Variáveis EB(2) EO(3) EUV1
[1Wh/m3] EUV2
[3Wh/m3] EUV3
[5Wh/m3]
T (°C) 20,2 20,2 pH 6,89 7,56 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 205 200 ST (mg/L) 743 485 SST (mg/L) 476 191 DQO (mg/L) 1011 534 E. coli (UFC/100mL) 1,1x106 8x105 3x103 3x102 1x102 Coliformes totais (UFC/100mL) 2,6x107 1,1x107 8,6x104 2,3x103 7x102 C. perfringens (NMP/100mL) 5x104 1,6x105 3x104 1,7x102 1,7x102 [O3]R (4)(mgO3/L) 1,39 [O3]OFF-GAS (5) (mgO3/L) 0,04 C(6) (mgO3/L) 14,37 Notas: (1) concentração de ozônio aplicada (mg/L), tempo de contato (min); (2) efluente UASB bruto; (3) efluente ozonizado; (4) concentração de ozônio residual; (5) concentração de ozônio no off-gas; (6) concentração de ozônio consumido.
Tabela 5.33: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento VIII.
Experimento VIII (16,7; 20)(1)
Variáveis EB(2) EO(3) EUV1
[1Wh/m3] EUV2
[3Wh/m3] EUV3
[5Wh/m3]
T (°C) 20,8 20,8 pH 7 7,83 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 167 169 ST (mg/L) 601 385 SST (mg/L) 190 55 DQO (mg/L) 574 222 E. coli (UFC/100mL) 1x106 1x104 7x102 1,4x102 1,5x102 Coliformes totais (UFC/100mL) 3,7x107 4x105 1,4x104 1,3x103 6,2x102 C. perfringens (NMP/100mL) 1,6x105 2,8x104 5x103 1,1x103 1,7x102 [O3]R (4)(mgO3/L) 0,62 [O3]OFF-GAS (5) (mgO3/L) 0,62 C(6) (mgO3/L) 15,46
Notas: (1) concentração de ozônio aplicada (mg/L), tempo de contato (min); (2) efluente UASB bruto; (3) efluente ozonizado; (4) concentração de ozônio residual; (5) concentração de ozônio no off-gas; (6) concentração de ozônio consumido.
Resultados e Discussão
104
Tabela 5.34: Características físico-químicas e microbiológicas do esgoto no experimento IX. Experimento IX (16,7; 30)(1)
Variáveis EB(2) EO(3) EUV1
[1Wh/m3] EUV2
[3Wh/m3] EUV3
[5Wh/m3]
T (°C) 19 19 pH 7,06 7,61 Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 136 136 ST (mg/L) 439 369 SST (mg/L) 205 109 DQO (mg/L) 484 325 E. coli (UFC/100mL) 3x106 8x103 5x102 1,6x102 3x102 Coliformes totais (UFC/100mL) 5,6x107 1x106 5,4x103 8x102 6,6x102 C. perfringens (NMP/100mL) 3x104 3x104 1,1x104 7x102 1,1x102 [O3]R (4)(mgO3/L) 0,54 [O3]OFF-GAS (5) (mgO3/L) 2,05 C(6) (mgO3/L) 14,11 Notas: (1) concentração de ozônio aplicada (mg/L), tempo de contato (min); (2) efluente UASB bruto; (3) efluente ozonizado; (4) concentração de ozônio residual; (5) concentração de ozônio no off-gas; (6) concentração de ozônio consumido.
5.4.1 pH
Houve uma tendência de aumento do pH e da alcalinidade após a ozonização, como
fica claramente ilustrado na Figura 5.20 para o pH, e nas TabelasTabela 5.23 a 5.34 para a
alcalinidade. O aumento dos valores de pH pode ser devido ao stripping de gás CO2. A
remoção deste gás pode promover a diminuição da concentração de H+ como foi observado
nos trabalhos de SOARES (2007) e COSTA (2003).
Figura 5.20: Variação do pH para os ensaios de ozonização.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
pH
0 I II III-A III-B IV V-A V-B VI VII VIII IX
Experimentos
EB EO
Resultados e Discussão
105
A média do pH para o efluente do reator UASB foi de 6,77 e para o ozonizado 7,39.
Valores de variáveis estatísticas para os ensaios de ozonização para o pH estão descritos na
Tabela 5.35.
Tabela 5.35: Resumo estatístico dos valores de pH de todos os experimentos de desinfecção com ozônio.
5.4.2 DQO
A Figura 5.21 representa a variação da DQO do efluente bruto (EB) e do ozonizado
(EO) em todos os experimentos e sua porcentagem de remoção.
É observado remoção de DQO após aplicação de ozônio de mais de 60%. O aumento
na porcentagem de remoção parece apresentar uma proporcionalidade como o aumento da
dosagem de ozônio aplicada (Figura 5.21).
0
200
400
600
800
1000
0 I II III-A III-B IV V-A V-B VI VII VIII IX
Experimento
(mgO
2/L)
0
10
20
30
40
50
60
70
%re
moç
ão
EB EO %remoção
Figura 5.21: Variação da DQO nos ensaios de desinfecção com ozônio.
EB EO Média 6,77 7,29Erro padrão 0,064391 0,132501Mediana 6,77 7,395Desvio padrão 0,223056 0,458998Variância da amostra 0,049754 0,210679Curtose -1,15364 1,275898Assimetria 0,107925 -1,13947Intervalo 0,65 1,61Mínimo 6,47 6,22Máximo 7,12 7,83Soma 81,23 87,44Contagem 12 12
Resultados e Discussão
106
Existe uma relação entre a massa de DQO removida e a massa de ozônio consumida
como mostra a Figura 5.22. Desta maneira pode-se inferir que a oxidação da matéria orgânica
pode ser promovida pelo ozônio. Esta dúvida sobre oxidação da matéria orgânica pode advir
do fato de ocorrer remoção mecânica de partículas com a formação de espuma ao longo da
ozonização.
A massa de DQO removida é obtida pelas equações (5.11) e (5.12).
100)(*)/(*(%))( LVLmgDQOEfmgDQO EB
r = (5.11)
DQOr: massa de DQO removida;
Ef(100%): eficiência de remoção;
DQOEB: DQO do efluente bruto;
V(L): volume de esgoto desinfetado;
( ) 100*%EO
EOEB
DQODQODQO
Ef−
= (5.12)
DQOEO: DQO do efluente ozonizado;
A massa de DQO removida (DQOr) calculada pela equação 5.11 e os valores de massa
de ozônio consumido estão apresentados na Tabela 5.22.
y = 0,0197x + 87,445R2 = 0,5302
0
50
100
150
200
250
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000
DQOr (mg)
MC
(mg)
Figura 5.22: Relação entre a massa de DQO removida (DQOr) e a massa de ozônio
consumido.
A DQO média do efluente do reator UASB para as amostras que antecederam a
ozonização foi de 511 mgO2/L. Após a ozonização a DQO média reduziu-se para 340
mgO2/L, como pode ser visto na Tabela 5.36.
Resultados e Discussão
107
Tabela 5.36: Análise estatística do Efluente Bruto e do ozonizado para a DQO. EB EO Média 511 340Erro padrão 63,8383 36,2505Mediana 459,8576 302,4782Desvio padrão 221,1426 125,5755Variância da amostra 48904,06 15769,21Curtose 1,052397 -1,48703Assimetria 1,127202 0,346656Intervalo 741,1966 353,1479Mínimo 269,9806 180,5637Máximo 1011,177 533,7116Soma 6136,138 4075,813Contagem 12 12
A DQO exerce demanda de ozônio devido à oxidação da matéria orgânica e inorgânica
diminuindo a disponibilidade de ozônio para ação desinfetante (DIAS, 2001).
5.4.3 Sólidos Totais
Uma característica indesejável para a desinfecção é a elevada concentração de ST e
SST. Os sólidos conferem proteção física contra a penetração do agente desinfetante e ainda
competem com este na ação de oxidação, aumentando a demanda de desinfetante, podendo
causar a necessidade de maiores dosagens de desinfetante tendo como consequência aumento
de custos de operação.
A Figura 5.23 representa a variação dos sólidos totais antes e após a ozonização.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
0 I II III-A III-B IV V-A V-B VI VII VIII IX
Experimento
ST(m
g/L)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
%re
moç
ão
EB EO %remoção
Figura 5.23: Variação dos Sólidos Totais nos ensaios de ozonização.
Resultados e Discussão
108
De uma maneira geral ocorreu diminuição dos valores de sólidos totais após a
ozonização, atingindo até 35 % de remoção para maiores doses de ozônio. Esta remoção pode
ser resultante da oxidação que o ozônio promove na matéria degradável, ou ainda pode ser
pelo arraste mecânico através das bolhas de gás, na forma de espuma removida durante a
ozonização.
Ao observar a Tabela 5.37 nota-se que a concentração média de sólidos totais decresce
de 418 para 332 após a ozonização.
Tabela 5.37: Análise estatística do efluente bruto e do efluente ozonizado para ST. EB EO Média 418 332Erro padrão 44,99206 27,865342Mediana 399,5 349,5Desvio padrão 155,8571 96,528375Variância da amostra 24291,43 9317,7273Curtose 0,104142 -1,023705Assimetria 0,751017 -0,190534Intervalo 518 313,5Mínimo 225,5 171,5Máximo 743,5 485Soma 5016,5 3984Contagem 12 12
5.4.4 Sólidos Suspensos Totais
Altos valores de sólidos suspensos totais limitam a ação germicida dos desinfetantes,
pois resulta em agregados partículas-microrganismo, que dificultam, ou mesmo
impossibilitam, a ação dos agentes desinfetantes sobre os microrganismos (DIAS, 2001).
A Figura 5.24 representa a variação dos sólidos suspensos totais no efluente bruto e no
efluente ozonizado. Assim como para os ST, ocorreu remoção de SST após a ozonização,
possivelmente pelo mesmo fenômeno discutido para ST.
Resultados e Discussão
109
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
0 I II III-A III-B IV V-A V-B VI VII VIII IX
Experimento
SST(
mg/
L)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
%re
moç
ão
EB EO %remoção
Figura 5.24: Variação dos Sólidos Suspensos Totais nos ensaios de ozônio/UV.
Na Tabela 5.38 observa-se a análise estatística para os dados de sólidos suspensos
totais antes e após a ozonização.
Tabela 5.38: Análise estatística dos SST do efluente bruto e do efluente ozonizado. EB EO Média 165 76Erro padrão 33,6975 15,1133Mediana 141,85 58,825Desvio padrão 116,7318 52,3540Variância da amostra 13626,31 2740,95Curtose 4,3824 0,4392Assimetria 1,8290 0,9644Intervalo 428,65 176,8Mínimo 47,75 14Máximo 476,4 190,8Soma 1976,95 916Contagem 12 12
5.4.5 Cinética de desinfecção com ozônio
5.4.5.1 Inativação de C. perfringens, coliformes totais e E. coli na desinfecção somente
com ozônio
Na Figura 5.25, estão representados os valores observados experimentalmente no
ensaio de desinfecção com ozônio para C. perfringens, e os valores estimados
correspondentes obtidos pela equação ajustada com R2 de 0,7339 (equação 5.13).
Resultados e Discussão
110
[ ])(0124,0exp CTNoN
−= (5.13)
Figura 5.25: Inativação de C. perfringens na desinfecção somente com ozônio.
Observa-se através dos resultados estimados (ajustados) que a maior remoção de C.
perfringens no maior CT estudado foi de 1,14 log.
Na Figura 5.26 estão representados os valores observados e estimados para os ensaios
de desinfecção com ozônio para os coliformes totais. A equação que apresentou melhor ajuste
foi a (5.14) com R2 de 0,5724.
[ ])(0237,0exp CTNoN
−= (5.14)
Figura 5.26: Inativação de coliformes totais na desinfecção com ozônio somente.
-2,5
-2
-1,5
-1
-0,5
0 0 50 100 150 200 250
CT (mg.min/L)
Log
N/N
o
Log N/No estimado
-1,2
-1
-0,8
-0,6
-0,4
-0,2
0 0 50 100 150 200 250
CT (mg.min/L)
Log
N/N
o
Log N/No estimado
Resultados e Discussão
111
Na Figura 5.27 estão disponíveis os dados observados e estimados para a E. coli nos
ensaios com ozônio. A equação que apresentou melhor ajuste foi a (5.15) com R2=0,53915.
[ ])(02747,0exp CTNoN
−= (5.15)
Figura 5.27: Inativação de E. coli na desinfecção somente com ozônio.
A constante de inativação da E. coli apresentou valor semelhante àquela obtida na
inativação dos coliformes totais de 0,027 e 0,023 L.mg-1.min-1 respectivamente, sendo
praticamente duas vezes maior que a do C. perfringens, que foi de 0,012 L.mg-1.min-1.
Consequentemente, para o maior CT aplicado de ozônio (211 mg.min/L) foram
inativados 1,13; 2,18 e 2,52 log de Clostridium, coliformes totais e E. coli, respectivamente.
A bactéria formadora de esporo tem resistência superior à desinfecção com ozônio seguido de
coliformes e E. coli, sendo essa última a bactéria mais sensível ao ozônio, assim como foi
apresentado para desinfecção com hipoclorito de sódio.
5.4.5.2 Inativação de C. perfringens, coliformes totais e E. coli na desinfecção
sequencial
Os resultados da desinfecção sequencial de ozônio com a radiação UV estão
representados nas FigurasFigura 5.28 a 5.31. Foi realizado apenas um ensaio para se comparar
a desinfecção sequencial com a desinfecção ‘convencional’, ou seja, aplicando-se apenas a
radiação UV. Esse ensaio de comparação foi representado pelos experimentos 0-A
(sequencial: ozônio seguido de UV) e 0-B (somente UV). Os demais ensaios foram realizados
para desinfecção sequencial.
-3
-2,5
-2
-1,5
-1
-0,5
0 0 50 100 150 200 250
CT (mg.min/L)
Log
N/N
o
Log N/No estimado
Resultados e Discussão
112
Comparando-se os ensaios 0-A e 0-B (Figura 5.28), observa-se claramente que a
inativação do C. perfringens é maior na desinfecção sequencial, atingindo 2,76 log quando
sujeito à dose de 5 Wh/m3, contra 1,46 log quando exposto apenas ao UV. O mesmo é
observado para as outras bactérias estudadas, ou seja, a desinfecção sequencial superou a
desinfecção utilizando-se somente UV.
Figura 5.28: Inativação de C. perfringens, coliformes totais e E. coli no ensaio de
desinfecção sequencial de ozônio seguido de UV (0-A) e somente UV (0-B).
De uma maneira geral, como representado na Figura 5.29, observa-se que o C.
perfringens é mais resistente nos quatros ensaios cuja dosagem aplicada de ozônio foi de 5,6
mgO3/L. A E. coli apresentou-se menos resistente que os coliformes totais no ensaio I, porém
nos ensaios II, III-A e III- B, os coliformes totais foram os organismos mais sensíveis à
desinfecção sequencial, quando aplicado 5,6 mgO3/L para os três tempos de contato estudados
(10, 20 e 30min) e para as doses de radiação aplicados.
-6
-4
-2
00 2 4 6
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o
C.totais Cp E. coli
-6
-4
-2
00 2 4 6
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o
C.totais Cp E. coli
0-B 0-A
Resultados e Discussão
113
Figura 5.29: Inativação de C. perfringens, coliformes totais e E. coli na desinfecção
sequencial de ozônio seguido de UV para a dose os experimentos I, II, III-A e III-B, para a dose de 5,6 mgO3/L.
Na Figura 5.30 pode-se observar que como regra, que o C. perfringens apresenta-se
mais resistente que todas as outras bactérias estudadas neste trabalho. No entanto, no ensaio
IV essas bactérias não resistiram à desinfecção sequencial com dose de UV maior que
1Wh/m3. No ensaio V-A, os coliformes totais apresentaram-se mais resistentes que a E. coli,
em V-B a E.coli apresentou-se mais resistente que os coliformes totais e em VI ambas
apresentaram comportamento semelhante quanto a sensibilidade à desinfecção como ozônio
seguido de UV.
-6
-4
-2
00 2 4 6 8 10
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o
C.totais Cp -6
-4
-2
00 2 4 6 8 10
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o
C.totais Cp E. coli
-6
-4
-2
00 2 4 6 8 10
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o
C.totais Cp E.coli
-6
-4
-2
00 2 4 6 8 10
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o
C.totais Cp E.coli
I II
III-A III-B
Resultados e Discussão
114
Figura 5.30: Inativação de C. perfringens, coliformes totais e E. coli para desinfecção
sequencial de ozônio seguido de radiação UV para os ensaios IV, V-A; V-B e VI.
No ensaio V-B, a E. coli atingiu 2,8 log de remoção com a menor dose de UV
utilizada (1Wh/m3) e os coliformes totais apresentaram 3,9 log de remoção quando expostos,
também, à menor dose.
Na Figura 5.31, observa-se o mesmo padrão decrescente de resistência C.
perfringens> E. coli > coliformes totais para os experimentos VII, VIII e IX.
-6
-4
-2
00 2 4 6 8 10
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o
C.totais
-6
-4
-2
00 2 4 6 8 10
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o
C.totais Cp E. coli
-6
-4
-2
00 2 4 6 8 10
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o
C.totais Cp E. coli
-6
-4
-2
00 2 4 6 8 10
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o
C.totais Cp E. coli
IV V-A
V-B VI
Resultados e Discussão
115
Figura 5.31: Inativação de C. perfringens, coliformes totais e E. coli nos ensaios de
desinfecção sequencial de ozônio seguido de UV para os experimentos VII, VIII e IX.
Excepcionalmente, nos ensaios realizados nos experimentos V-A e VI (Figura 5.30),
ocorreu menor resistência à desinfecção por parte da E. coli em relação aos coliformes totais.
Para o modelo de Watson, no qual acrescenta-se o coeficiente n como expoente da
dose recebida (Dr), observa-se maior velocidade de inativação para o C. perfringens quando
aplicado apenas radiação UV (comparando os ensaios O-A e O-B). Observa-se grande
variação dos parâmetros cinéticos quando na ausência ou na presença do coeficiente n na
equação de decaimento das bactérias (Tabela 5.39).
Observa-se nas TabelasTabela 5.39 a 5.41 que os melhores ajustes (R2) ocorrem para o
modelo de Watson. O maior R2 foi o fator preponderante para escolher este modelo para
basear a discussão da inativação dos microrganismos.
-6
-5
-4
-3
-2
-1
00 2 4 6
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o
C.totais Cp E. coli
-6
-5
-4
-3
-2
-1
00 2 4 6
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o
C.totais Cp E. coli
-6
-5
-4
-3
-2
-1
00 2 4 6
Dr [Wh/m3]
Log
N/N
o
C.totais Cp E. coli
VII VIII IX
Resultados e Discussão
116
Tabela 5.39: Parâmetros cinéticos obtidos nos ensaios de desinfecção seqüencial ozônio-UV para C. perfringens.
Chick Watson Experimento K(m3/Wh) R2 K'(m3/Wh) n R2
0-A 1,2513 0,9732 1,3132 0,9806 0,9885 0-B 1,1324 0,9003 2,8225 0,1103 0,9224
I 0,4327 0,8301 1,3681 0,4725 0,9139 II 0,4891 0,8895 0,2637 1,3594 0,9139
III-A 1,2036 0,9196 2,7808 0,3946 0,9900 III-B 3,5391 0,8595 3,7947 0,4402 0,6108 IV __ ___ ___ ___ ___
V-A 0,6383 0,9852 0,8473 0,8158 1* V-B 1,9117 0,9572 2,4141 0,7467 0,9732 VI 1,2549 0,9837 0,8043 1,3406 0,9738 VII 1,3138 0,9122 0,5964 1,6078 0,9035 VIII 1,5040 0,9128 3,3946 0,4082 0,9712 IX 1,1519 0,9971 1,0334 1,0904 0,9916
* conjunto de dados com apenas dois pontos
Tabela 5.40: Parâmetros cinéticos obtidos nos ensaios de desinfecção seqüencial ozônio-UV para coliformes totais.
Chick Watson Experimento K(m3/Wh) R2 K'(m3/Wh) n R2
0-A 2,7334 0,9426 5,3804 0,5260 0,9651 0-B 2,0579 0,8853 5,1067 0,3556 0,8270
I 0,5362 0,7697 7,1928 0,1514 0,9908 II 1,1563 0,8174 5,5807 0,2549 0,9332
III-A 2,7006 0,8878 6,5316 0,3722 0,9352 III-B 8,8132 0,8535 10,1055 0,1799 0,9831 IV 1,6534 0,6974 10,8732 0,0971 0,7714
V-A 1,1302 0,8861 4,6538 0,3276 0,9978 V-B 3,9270 0,7931 8,1778 0,1425 0,9655 VI 2,4527 0,9249 4,8994 0,5192 0,9067 VII 2,4664 0,9209 5,7977 0,3904 0,9833 VIII 2,6752 0,8114 7,9374 0,2123 0,9865 IX 2,8417 0,7962 9,3369 0,1342 0,9437
Resultados e Discussão
117
Tabela 5.41: Valores dos parâmetros cinéticos obtidos nos ensaios de desinfecção seqüencial de ozônio-UV para E. coli.
Chick Watson Experimento K(m3/Wh) R2 K'(m3/Wh) n R2
0-A 2,3449 0,9102 5,3552 0,4174 0,9035 0-B 2,1370 0,8891 5,6333 0,3067 0,9155
I __ __ __ __ __ II 0,9602 0,7823 5,7031 0,1459 0,9793
III-A 2,2789 0,8081 7,0237 0,1841 0,9552 III-B 7,8946 0,7824 8,9520 0,1947 0,6108 IV __ __ __ __ __
V-A 1,1633 0,8716 5,0162 0,3064 0,9921 V-B 2,8258 0,7148 5,8272 0,1487 0,6108 VI 2,4861 0,9670 4,4243 0,5961 0,9917 VII 2,2015 0,8979 5,9269 0,2854 0,9979 VIII 2,2260 0,7532 7,3664 0,8823 0,1295 IX 2,4076 0,6937 8,8490 0,0476 0,4046
5.4.5.3 Influência do tempo de contato com ozônio na inativação de C. perfringens,
coliformes totais e E. coli.
A influência do tempo de contato do ozônio na desinfecção seqüencial com radiação
UV está representada nas Figura 5.32 a 5.34.
Para dosagem de ozônio de 5,6 mgO3/L (Figura 5.32), o decaimento no número de
sobreviventes de C. perfringens foi mais acentuado quando exposto ao tempo de contato de
30 minutos. Entretanto, para essa mesma dosagem de ozônio, a exposição a este gás por 10
minutos forneceu inativação superior a 20 minutos.
Quando foi aplicado aproximadamente 11 mgO3/L, a exposição dessa bactéria ao
tempo de contato de 10 minutos ao ozônio antecedendo a radiação UV promoveu 100% de
remoção, e 20 minutos surtiu maior efeito do que quando ozônio foi aplicado durante 30
minutos.
E por fim, quando foi aplicado ozônio em 16 mgO3/L o C. perfringens apresentou
remoção superior quando exposto por 10 minutos ao gás, do que com a remoção obtida na
exposição de 20 e 30 minutos na maior dose de UV (5Wh/m3).
Resultados e Discussão
118
Figura 5.32: Influência do tempo de contato do ozônio na inativação do C. perfringens para
desinfecção sequencial de ozônio seguido de UV.
Para os coliformes totais, a Figura 5.33 mostra que na menor dose aplicada de ozônio
(5,6 mgO3/L) ocorreu o mesmo padrão ilustrado na mesma dose de ozônio para o C.
perfringens, onde a exposição a este gás pelo tempo de contato de 30 minutos foi mais
eficiente do que em 10 e 20 minutos, sendo que no tempo de contato de 10 minutos a remoção
de coliformes totais foi superior ao tempo de contato de 20 minutos que antecedeu a radiação
UV.
Os coliformes totais apresentaram, após a desinfecção com 11 mgO3/L e em todas as
doses de UV pesquisadas, maior remoção quando expostos por 10 minutos ao gás ozônio
5,6 mgO3/L
-4-3,5
-3-2,5
-2-1,5
-1-0,5
00 1 2 3 4 5
Dr (Wh/m3)
Log
N/N
o
10 min 20 min 30 min
11 mgO3/L
-4-3,5
-3-2,5
-2-1,5
-1-0,5
00 1 2 3 4 5
Dr (Wh/m3)
Log
N/N
o
20 min 30 min
16 mg O3/L
-4-3,5
-3-2,5
-2-1,5
-1-0,5
00 1 2 3 4 5
Dr (Wh/m3)
Log
N/N
o
10 min 20 min 30 min
Resultados e Discussão
119
antecedendo a radiação UV. Isso evidencia que, para a concentração estudada e para as
condições de qualidade da água residuária pesquisada, 10 minutos de exposição a 11 mgO3/L
e para baixas doses de UV esses microrganismos são satisfatoriamente removidos.
Quando o ozônio foi aplicado na concentração de 16 mgO3/L, a remoção foi inferior
ou igual à remoção observada quando foi aplicado 11mgO3/L. Visualiza-se também que
quando foi aplicado a maior dose de ozônio e quanto maior foi o tempo de exposição ao
ozônio antecedendo a radiação UV maiores foram as remoções dos coliformes totais (Figura
5.33).
Figura 5.33: Influência do tempo de contato com ozônio na inativação de coliformes totais na
desinfecção sequencial de ozônio seguido de UV.
Na Figura 5.34, verifica-se o comportamento da E. coli na desinfecção sequencial.
Observa-se novamente que na menor dose de ozônio precedendo a radiação UV (5,6 mgO3/L)
a inativação dessa bactéria foi maior quando exposta ao tempo de contato de 30 minutos com
5,6 mgO3/L
-6
-4
-2
00 2 4 6 8 10
Dr (Wh/m3)
Log
N/N
o
10 min 20 min 30 min
11mgO3/L
-6
-4
-2
00 2 4 6 8 10
Dr (Wh/m3)
Log
N/N
o
10 min 20 min 30 min
16 mgO3/L
-6
-4
-2
00 2 4 6 8 10
Dr (Wh/m3)
Log
N/N
o
10 min 20 min 30 min
Resultados e Discussão
120
ozônio do que em 20 minutos. Nessa condição de menor dosagem de ozônio 10 minutos de
exposição foi mais eficiente do que 30 e 20 minutos.
É possível observar que quando se aplica 11 mgO3/L, a remoção é total em 10 minutos
de exposição ao ozônio, e 20 minutos fornecem remoção superior a verificada para 30
minutos nas menores doses de UV (1 e 3 Wh/m3).
E por fim, quando foi aplicado 16 mgO3/L por 20 minutos de tempo de contato foi
verificado maior inativação de E. coli quando o tempo de contato com o ozônio antecedendo a
radiação UV foi de 20 minutos.
Figura 5.34: Influência do tempo de contato do ozônio na inativação de E. coli na
desinfecção sequencial de ozônio seguido de UV.
5,6 mg O3/L
-14-12
-10-8
-6-4
-20
0 1 2 3 4 5
Dr (Wh/m3)
Log
N/N
o
20 min 30 min
11 mg O3/L
-14
-12
-10
-8
-6
-4
-2
00 1 2 3 4 5
Dr (Wh/m3)
Log
N/N
o
20 min 30 min
16 mgO3/L
-14
-12
-10
-8
-6
-4
-2
00 1 2 3 4 5
Dr (Wh/m3)
Log
N/N
o
10 min 20 min 30 min
Resultados e Discussão
121
5.4.5.4 Influência dos sólidos suspensos totais na inativação dos microrganismos
indicadores
Na Tabela 5.42, encontram-se, para a maioria dos ensaios realizados, os valores de
absorbância em λ 254nm para as amostras brutas e para as ozonizadas. Observa-se a
diminuição destes valores após a ozonização, mostrando a alteração que o ozônio pode
promover no material orgânico ou inorgânico presente nas amostras. A alteração que o ozônio
promove na amostra pode ser pelo motivo da oxidação, ou até mesmo de remoção física
através da espuma formada devido ao borbulhamento do gás. Assim como foi discutido para o
cloro, os tempos de contato para a determinação da radiação UV recebida é dependente deste
valor de absorbância em λ 254nm.
Resultados e Discussão
122
Tabela 5.42: Valores de absorbância a 254nm, Im, dose de UV e tempo de contato dos experimentos de desinfecção com ozônio seguido de UV.
Abs 254nm(2) Experimento(1) efluente
UASB efluente
ozonizado Im
(3) Dose
recebida(4) (Wh/m3)
Tempo de contato(5) (s)
1 18,14 3 54,418 O-A (5,6mgO3/L;10min) 0,92 0,759 0,59539 5 90,69 1 21,91 3 65,72 O-B só UV 0,92 __ 0,49295 5 109,53 1 13,11 5 65,56 I (5,6mgO3/L;10min) NA 0,561 0,82365
10 131,11 1 21,93 3 65,79 II (5,6mgO3/L;20min) 1,092 0,921 0,49242 5 109,65 1 23,35 3 70,04 III-A (5,6mgO3/L;30min) 1,38 0,981 0,46257 5 116,73
0,5 10,59 1 21,19 III-B (5,6mgO3/L;30min) NA 0,501 0,50973
1,5 31,78 1 17,66 5 88,32 IV (10,5mgO3/L;10min) NA 0,768 0,61134
10 176,65 1 19,4 3 58,19 V-A (11,1mgO3/L;20min) 1,072 0,813 0,55677 5 96,98 1 15,6 2 31,2 V-B (11,1mgO3/L;20min) NA 0,346 0,69221 3 46,8 1 30,1 3 90,29 VI (11,1mgO3/L;20min) 1,877 1,266 0,35879 5 150,49 1 39,17 3 117,52 VII (15,8mgO3/L;10min) 2,518 1,648 0,27567 5 195,87 1 11,09 3 33,27 VIII (16,7mgO3/L;20min) 1,429 0,445 0,97373 5 55,45 1 16,98 3 50,94 IX (16,7mgO3/L;30min) 1,191 0,709 0,63599 5 84,9
Nota: NA: não analisado. (1)o número dado a cada experimento e sua correspondente concentração e tempo de contato com o ozônio; (2) valores de absorbância à 254 nm medidos para o efluente do reator UASB, e para o efluente após a ozonização; (3) usando a equação 4.4; (4) doses fixadas; (5) usando a equação 4.6 para as doses recebidas fixadas.
Resultados e Discussão
123
Pode-se notar que ocorre nitidamente a diminuição da absorbância com a aplicação do
gás ozônio (Tabela 5.42). Para a dose de 5,6 mgO3/L houve uma diminuição da absorbância
de 15 para 29% aumentando-se o tempo de contato de 20 para 30 minutos (experimentos II e
III-A). Para a dose de 11 mgO3/L aplicando-se para o tempo de contato de 20 minutos, mas
para amostras com características diferentes, houve diminuição da absorbância no
comprimento de onda de 254 nm de 24 a 33% (experimentos V-A e VI). Quando aplicado 16
mgO3/L a maior diminuição de absorbância foi para o tempo de contato de 20 minutos, com
69 % de remoção (experimento VIII) seguido de 30 minutos de tempo de contato com
remoção de 40% (experimento IX), e 10 minutos com remoção de 35 % (experimento VII).
Observa-se nas Figura 5.35 a 5.37 que o aumento na concentração de sólidos
suspensos totais parece não interferir na inativação dos organismos estudados, mas esse
fenômeno foi considerado na dose recebida de UV, visto que essa dose é dependente da
absorbância a 254 nm assim como foi discutido para a desinfecção com cloro no item 5.1.6.4.
Figura 5.35: Inativação de C. perfringens relacionando SST para doses de UV estudadas.
Figura 5.36: Inativação de coliformes totais relacionando SST para doses de UV estudadas.
Dose de 3 Wh/m3
-6
-4
-2
00 100 200 300
SST (mg/L)
Log
N/N
o.
Dose de 1 Wh/m3
-6
-4
-2
00 100 200 300
SST (mg/L)
log
N/N
o
Dose de 5 Wh/m3
-6
-4
-2
00 100 200 300
SST (mg/L)
Log
N/N
o.
Dose de 1 Wh/m3
-4
-3
-2
-1
00 100 200 300
SST (mg/L)
log
N/N
o
Dose de 3Wh/m3
-4
-3
-2
-1
00 100 200 300
SST (mg/L)
Log
N/N
o
Dose de 5 Wh/m3
-4
-3
-2
-1
00 100 200 300
SST (mg/L)
Log
N/N
o
Resultados e Discussão
124
Figura 5.37: Inativação de E. coli relacionando SST para doses de UV estudadas.
5.5 Discussão dos resultados comparando os efeitos do cloro e do ozônio sobre o efluente do reator UASB
Após apresentados os resultados obtidos pelos experimentos realizados neste trabalho
surgiu a necessidade de comparar os efeitos da aplicação dos sistemas de desinfecção
pesquisados cloro-UV e ozônio-UV. A seguir estão delineadas as principais observações e
inferências geradas através da análise dos dados produzidos.
5.5.1 pH À respeito do pH observa-se para a maioria das dosagens de ozônio utilizadas que a
sua aplicação provocou aumento no pH, podendo advir da ocorrência de stripping de gás
carbônico ou ainda da própria mudança estrutural causada pela a oxidação do material
degradável do efluente do reator anaeróbio.
Quando comparado o efeito do cloro no pH, observa-se que a sua aplicação provoca
provavelmente uma mudança no equilíbrio iônico da amostra desinfetada, alterando de um
estado acidificado quando aplicado 10 mgCl2/L para um estado de pH mais neutro ao
aumentar a dose aplicada para 20 e 30 mgCl2/L.
5.5.2 DQO Devido ao fato de o cloro ser um forte oxidante, era de se esperar diminuição nos
valores de DQO após a sua aplicação pela oxidação do material degradável presente nas
amostras de efluente sanitário. Diferentemente do que era esperado a aplicação de cloro nas
amostras de efluente de reator anaeróbio provocou o aumento no valor da DQO, supostamente
devido à interferência do íon cloreto presente na própria amostra e presente na solução de
hipoclorito de sódio utilizada na desinfecção.
Dose de 1 Wh/m3
-6
-4
-2
00 100 200 300
SST (mg/L)
log
N/N
oDose de 3 Wh/m3
-6
-4
-2
00 100 200 300
SST (mg/L)
Log
N/N
o
Dose de 5 Wh/m3
-6
-4
-2
00 100 200 300
SST (mg/L)
Log
N/N
o
Resultados e Discussão
125
A ozonização provocou diminuição nos valores de DQO em até 60 % quando aplicado
16 mgO3/L. A diminuição nos valores de DQO após a aplicação do ozônio pode ter ocorrido
pela oxidação do material degradável no efluente sanitário estudado, e através da remoção
mecânica de sólidos suspensos pela espuma removida pelo borbulhamento do gás na coluna
de ozonização.
5.5.3 Sólidos Em se tratando de sólidos totais foi observado aumento nos seus valores após a
cloração do efluente do reator UASB. Esta ‘geração’ de sólidos totais foi explicada pelo
possível incremento de sólidos através da adição da solução de cloro. Esta constatação não foi
notada para as amostras ozonizadas. Ou seja, após a aplicação de ozônio ocorreu a diminuição
nos valores de sólidos totais, remoção que ultrapassou 30 %.
A causa da remoção de sólidos totais através da ozonização foi inferida pela remoção
de espuma gerada ao longo da ozonização. A espuma é gerada principalmente devido a
presença de detergentes no esgoto doméstico.
Em relação aos sólidos suspensos totais, a remoção pela ozonização foi grande quando
comparado com os efeitos do cloro no efluente anaeróbio, alcançando valores maiores que 70
%. Em contrapartida, não foi observada tendência de aumento ou de diminuição deste
parâmetro após a aplicação de cloro. Infere-se que ocorre alteração estrutural na matriz do
efluente através da cloração provocando resultados distintos para amostras distintas. Vale
ressaltar que para cada experimento uma amostra, com características particulares de efluente
de reator UASB, foi desinfetada causando então alterações diferenciadas após a oxidação pelo
cloro.
5.5.4 Desinfecção
5.5.4.1 Desinfecção Convencional Comparando a desinfecção por cloro e ozônio, sem levar em consideração a
desinfecção sequencial, a ação do cloro foi superior e mais eficaz na inativação das bactérias
pesquisadas. Isso pode ser evidenciado através da eficiência de remoção dos microrganismos
(log) ao logo dos CT estudados. A resistência do Clostridium perfringens foi visivelmente
superior aos coliformes totais e a E. coli quando cloro ou ozônio foram aplicados. As maiores
diferenças a respeito de sensibilidade ao desinfetante residiu para as bactérias coliformes
Resultados e Discussão
126
totais e E. coli. Pois a bactéria formadora de esporo apresentou resistência aos dois agentes
desinfetantes de maneira similar. Para o mesmo CT de 200mg.min/L o log de remoção não
ultrapassou 1,2 unidades para ambos os desinfetantes.
Diferentemente para as outras bactérias analisadas, as suas sensibilidades foram
distintas após a aplicação dos dois desinfetantes. Isso foi comprovado pelo log de remoção
para mesmos CT. Enquanto as bactérias coliformes e E. coli apresentaram remoção de 2,2 e
2,5 log, respectivamente, após a aplicação do ozônio, o cloro provocou para estas mesmas
bactérias a remoção de 4,5 log e 100% de inativação para o mesmo CT.
5.5.4.2 Desinfecção sequencial Foi observado aumento na eficiência na desinfecção quando os desinfetantes cloro e
ozônio foram aplicados adicionalmente à radiação UV, quando comparado com a aplicação
dos desinfetantes individualmente.
Em relação à sensibilidade das bactérias pesquisadas quando expostas ao cloro
seguido de UV é observado que os coliformes totais são em média 3 vezes mais sensíveis que
o Clostridium perfringens. Enquanto foi removido em média 2,6 log das bactérias formadoras
de esporos, remove-se em média 5,9 log de coliformes totais.
A exposição à desinfecção sequencial de ozônio seguido de UV forneceu inativação
inferior à observada para o cloro seguido de UV, lembrando que as dosagens aplicadas de
ozônio foram, em média, a metade da aplicada pelo cloro e as dosagens de radiação UV
usadas na ozonização também foram inferiores as usadas na cloração.
Desta maneira, surge a dúvida de qual seria o comportamento da inativação dos
microrganismos indicadores se esses tivessem sido expostos às mesmas dosagens dos
desinfetantes aplicados, ou seja, se tivessem sido aplicado as mesmas dosagens para cloro-UV
e ozônio-UV. A comparação pode ser feita somente para a dose de 10 mg/L, com a ressalva
que a dose que se aproxima dessa para o ozônio foi de 11,4mg/L. A comparação destes dados
de inativação permite verificar que o ozônio seguido de UV superou a inativação do
Clostridium perfringens em relação à desinfecção com cloro em 0,35 log, o que não foi
verificado para os coliformes totais, cuja sensibilidade foi maior ao cloro-UV.
Os resultados de inativação para a desinfecção sequencial ozônio-UV provaram que
esta combinação foi, no geral, menos eficiente que para o cloro, mas as dosagens de cloro
foram o dobro das que foram aplicadas para ozônio. Logo fica claro a capacidade desinfetante
potencializada quando é utilizado desinfecção sequencial. Ademais foi provado que o ozônio,
Resultados e Discussão
127
quando aplicado anteriormente ao UV promove uma melhora de qualidade no efluente que
será lançado em corpos receptores. Essas melhorias são comprovadas na diminuição do
lançamento de sólidos, em mudanças físico-químicas do efluente diminuído a DQO e da
remoção de microrganismos.
5.6 Limitações para a quantificação de coliformes totais e E. coli A metodologia de filtração em membranas apresenta limitações para amostras de
esgoto. Como a amostra usada neste trabalho foi de efluente de estação de tratamento de
esgoto, os sólidos suspensos totais interferiram na contagem das colônias de coliformes totais
e de E. coli.
Estão ilustradas na Figura 5.38 colônias de coliformes totais e E. coli de uma amostra
filtrada com alta quantidade de sólidos.
Figura 5.38: Membrana com colônias de coliformes totais envolvidas por sólidos
Portanto, sugere-se a utilização de outra metodologia para a determinação de
coliformes totais e E. coli em amostras que contêm elevada concentração de sólidos
suspensos. Para evitar a operação de filtração sugere-se adicionar a amostra no meio
Chromocult® empregando os procedimentos “pour plate” ou “spread plate”, nos quais não
são necessários a filtração da amostra.
Resultados e Discussão
128
6 Conclusões
O C. perfringens foi a bactéria mais resistente tanto à desinfecção convencional
(apenas um desinfetante) quanto à desinfecção sequencial cloro seguido de UV e
ozônio seguido de UV. A explicação pode estar no fato de que o Clostridium forma
estruturas de resistência (esporo) que pode lhe conferir proteção;
Ocorreu o seguinte padrão de resistência à desinfecção sequencial de cloro seguido de
UV C. perfringens > coliformes totais> E. coli;
Na ozonização seguida de UV, a resistência maior à desinfecção foi para C.
perfringens, no entanto, houve ensaios em que E. coli apresentou-se mais resistente
que coliformes totais;
Devido a alta resistência à desinfecção do Clostridium perfringens, quando comparado
com os coliformes fecais, conclui-se que o uso dessa bactéria como indicador no
exame de rotina no monitoramento de água residuária e águas superficiais podendo ser
benéfico no sentido de proporcionar mais segurança para a saúde da população
humana;
A ação do ozônio melhora a qualidade do efluente, quando comparado com o cloro,
em se tratando de remoção de sólidos, diminuição da absorbância a 254 nm e de DQO;
Na desinfecção sequencial com cloro seguido de UV o tempo de contato de 10
minutos com o cloro forneceu eficiências superiores ou iguais quando comparado com
os tempos de 20 e 30 minutos;
O aumento das concentrações de cloro aplicadas ao longo dos tempos de contato, não
significou em melhoria nas eficiências de inativação dos organismos indicadores;
O cloro teve maior ação desinfetante que o ozônio para as concentrações e tempos de
contato estudados.
Sugestões
129
7 Sugestões
Realizar ensaios de desinfecção sequencial Cloro-radiação ultravioleta e Ozônio-
radiação ultravioleta aplicando-se as mesmas dosagens e intensidades de desinfetantes
para comparar os resultados de resistência de microrganismos patogênicos;
Realizar ensaios de desinfecção sequencial Cloro-radiação ultravioleta e Ozônio-
radiação ultravioleta aplicando-se dosagens e intensidades de desinfetantes menores
que as utilizadas em métodos não sequenciais com vistas reduzir o consumo de
desinfetantes, mantendo-se a eficiência desejada;
Avaliar a persistência dos microrganismos patogênicos no corpo receptor e utilizar as
informações em análise de riscos à saúde da população que venha a usufruir de corpos
d’ água receptores à jusante de estações de tratamento de esgoto sanitário;
Realizar bioensaios ecotoxicológicos para verificar o efeito das concentrações de
residuais dos desinfetantes cloro e o ozônio e de seus subprodutos na biota do corpo
receptor e propor alternativas para diminuir os impactos gerados.
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Apêndice-A
136
9 Apêndice A
9.1 Titulação Iodométrica
Assunto baseado na bibliografia VOGEL (1981)
O tiossulfato de sódio (Na2S2O3.5H2O) é usado para determinar a quantidade de iodo
formado na reação de ozônio com o iodeto de potássio presente no frasco lavador de gás da
ozonização.
Definições pertinentes à titulação iodométrica com tiossulfato de sódio
Solução padrão é a solução que contém o peso do reagente conhecido com exatidão
num volume definido de solução.
Por muitos anos, as concentrações foram expressas em termos de molaridade (i.e.,
número de moles de soluto por litro) e de normalidade (i.e., equivalentes de soluto por litro).
Com a adoção do mol como unidade básica de quantidade pela União Internacional de
Química pura e aplicada (IUPAC), tem-se a definição:
“O mol é a quantidade de substâncias que contém o mesmo número de unidades
elementares que o número de átomos existentes em 0,012 quilograma de carbono-12.
A unidade elementar deve ser especificada e pode ser um átomo, uma molécula, um
íon, um radical, um elétron ou outra partícula ou grupo especificado de tais
partículas”.
Diante disso, o mol não é mais uma unidade de massa, mas sim uma unidade de
quantidade de substâncias, e conseqüentemente, termos como mol-grama ficaram obsoletos.
Com a introdução desta definição vieram propostas de que termos como molaridade,
peso equivalente e normalidade deveriam ser abandonados. No entanto, a experiência veio
mostrar que existem certas vantagens práticas na conservação do uso dos termos equivalente e
solução normal, de modo que as últimas recomendações da IUPAC15 sugerem as seguintes
definições:
“O equivalente de uma substância é a quantidade dela que, numa dada reação, libera
ou substitui a quantidade de hidrogênios que se combina com 3g de carbono-12 no
metano 12CH4.”
15 International Union of Pura and applied chemistry (Aug, 1974). Information Bulletin. No. 36
Apêndice-A
137
Nessa definição, a quantidade de hidrogênios referida pode ser substituída pela
quantidade equivalente de eletricidade ou por um equivalente de qualquer outra substância,
mas a reação que se aplica a reação deve ser devidamente especificada.
Uma solução normal é definida como aquela que contém um equivalente de uma dada
espécie por litro de acordo com a reação especificada; e a solução molar é aquela que contém
um mol de uma dada espécie por litro.
O ‘equivalente’ varia com o tipo de reação e acontece freqüentemente que o mesmo
composto pode apresentar diferentes equivalentes em diferentes reações químicas. O que
significa que para uma dada situação, uma solução pode ter uma concentração molar quando
for empregada para uma finalidade, e uma normalidade, diferente desta, quando for usada
numa outra reação química.
Tipos de reação:
Neutralização:
Equivalente é um ácido;
Equivalente é uma base;
Formação de complexos e reação de precipitação;
Reação de oxidação-redução.
Quando o equivalente é um ácido a sua massa contém 1,0078g de hidrogênio
substituível. O equivalente de um ácido monoprótico é igual ao mol, isto é, a normalidade é
igual à molaridade; de um ácido diprótico o equivalente é ½ mol ou 1/3 mol quando o ácido é
triprótico.
Equivalente de uma base é a massa que contém um grupo hidroxila substituível, i.e.,
17,008g de hidroxila ionizável; 17,008g de hidroxila são equivalentes a 1,0078g de
hidrogênio. Portanto, na base formada pelo grupo 1A da Tabela periódica, o equivalente será
igual ao mol e para o 2A o equivalente será a metade do mol.
No caso da Formação de complexos e reação de precipitação o equivalente é a massa
de substâncias que contém ou reage com 1 mol de cátions univalente M+ (que é equivalente a
1,0078g de hidrogênio), ½ mol de um cátion bivalente M2+, 1/3 de um cátion M3+, etc.
Para o cátion, o equivalente é o mol dividido pela valência. Para um reagente que
reage com esse cátion, o equivalente de um sal em uma reação de precipitação é o mol
dividido pela valência total do íon reagente.
Apêndice-A
138
Numa reação de formação de complexo, o equivalente é mais simplesmente deduzido
escrevendo-se a equação iônica da reação. Por exemplo, o equivalente do cianeto de potássio
na titulação com íon de potássio na titulação com íons de prata é 2 moles, por que a reação é:
2CN- + Ag+ ↔ [Ag(CN2)]-
Reação de oxidação-redução.
O equivalente de um agente oxidante ou redutor é definido como a massa de reagente
que reage com ou que contém 1,008g de H disponíveis ou 8g de oxigênio disponível. Por
‘disponível’ entende-se a capacidade de ser utilizado na oxidação ou na redução.
O processo da oxidação-redução padrão é H = H+ + 1e-, onde e- representa um elétron
por átomo, ou número de avogrado de elétrons por mol. Se soubermos a mudança em número
de avogrado de elétron por íon em qualquer reação de oxidação-redução, poderemos calcular
o equivalente.
O equivalente para um agente oxidante é determinado pela mudança no número de
oxidação que o elemento reduzido experimenta. Assim, por exemplo, para a redução do
permanganato de potássio na presença de ácido sulfúrico diluído a Mn+2:
KMnO4 → MnSO4
Nessa equação, o equivalente é 1/5 do mol, pois o Mn passou do estado de oxidação
de +7 para +2.
Isso ocorre de modo similar na redução do dicromato de potássio em solução ácida:
K2Cr2O7 → Cr2(SO4)3 a mudança no número de oxidação de dois átomos de cromo é
de +12 para +6, ou seja, seis unidades de redução. Portanto, o equivalente do dicromato de
potássio é 1/6 do mol. A fim de se encontrar o equivalente de um agente oxidante, dividimos
o mol pela mudança no número de oxidação por molécula que se passa em algum elemento
chave na substância.
O equivalente para um agente redutor é determinado da mesma maneira pela
mudança no número de oxidação pela qual o elemento oxidado passa.
Para exemplificar, apresenta-se a conversão do sulfato de ferro (II) em sulfato de ferro
(III):
2(FeSO4) →Fe2(SO4)3
A mudança no número de oxidação do ferro vai de +2 para +3, portanto, a mudança é
de uma unidade de oxidação e o equivalente do sulfato de ferro (II) é 1mol.
Assim, de uma maneira geral se estabelece:
Apêndice-A
139
• O equivalente de um elemento que participa de uma reação de oxidação-
redução é a massa atômica dividida pela mudança no número de oxidação.
• Quando um átomo numa molécula complexa passa por uma mudança de
número de oxidação, o equivalente da substância é o mol dividido pela
mudança no número de oxidação do elemento oxidado ou reduzido. Se
estiverem presentes mais de um átomo do elemento reativo, o mol é dividido
pela mudança total no número de oxidação.
Quando um processo químico envolve uma sequência de reações, a reação que
determina o equivalente é aquela em que a solução padrão é utilizada.
Importância deste apêndice
Todas essas definições são importantes para definir o real equivalente do tiossulfato de
sódio na iodometria.
A explicação abaixo versa sobre o valor do equivalente do tiossulfato por Foulk, 1952.
“O iodo livre pode ser titulado com tiossulfato de sódio de acordo com a seguinte
reação:
2Na2S2O3 + I2 → 2NaI + Na2S4O6 (WER) –(Jacobson, 1958)
A mudança no número de oxidação do enxofre do tiossulfato para tetrathionato é um
bom exemplo do fato de que a contagem de cargas de cada elemento como descrito na reação
acima não fornece a distribuição verdadeira de elétrons na molécula. De acordo com a regra
do cálculo do número de oxidação, o número de oxidação aumenta de +2 no tiossulfato para
uma média de 2,5 no tetrationato. Desde que 2 átomos de enxofre possuam essa carga, a
mudança líquida por molécula de tiossulfato é uma unidade. A perda de ½ elétron por átomo
de enxofre é obviamente inconsistente com a teoria aceita da indivisibilidade dos elétrons.
Porém, é mais conveniente calcular o número de oxidação médio de um elemento em um
composto, mesmo que o resultado seja fracional, que assumir diferente número de oxidação
para cada átomo em um mesmo elemento e um composto. Mesmo que o número de oxidação
fracional seja assumido, a mudança total por molécula em uma reação de oxidação-redução
é sempre um número inteiro. Da equação WER parece que cada átomo de enxofre perde ½
elétron. Essa curiosa situação acontece devido ao fato que ambos os elétrons de enxofre não
possuem a mesma quantidade de carga. O ½ elétron representa a carga média em cada um
dos átomos de enxofre.
Apêndice-A
140
O equivalente grama do tiossulfato é o mesmo que o seu peso molecular. Se os
elétrons que foram ganhos e perdidos na equação puderem ser observados, será inferido que
cada mol de tiossulfato perde 1 elétron e cada átomo de iodo ganha 1 elétron."
Preparação de solução de tiossulfato 0,025N
O equivalente do tiossulfato é o mol, 248,18. Para se preparar uma solução de 0,025N
dissolve-se cerca de 6,2 g de tiossulfato de sódio cristalizado em um litro de água, em um
balão volumétrico.
Essa solução pode ser padronizada por vários métodos, podendo ser usado iodato de
potássio, dicromato de potássio, solução padrão de iodo e sulfato de cério (IV).
É importante salientar a estabilidade das soluções de tiossulfato, pois soluções
preparadas com água destilada podem conter um excesso de dióxido de carbono, podendo
ocasionar a decomposição do enxofre:
S2O3-2 + H+ ↔ HSO3- + S
A decomposição do tiossulfato pode ocorrer por ação bacteriana (Thiobacillus
thioparus), particularmente se a solução for guardada por muito tempo e para se evitar esses
inconvenientes, recomenda-se os seguintes cuidados:
1 - Preparar a solução com água destilada fervida previamente;
2 - Adicionar três gotas de clorofórmio ou 10 ml de iodeto de mercúrio (II) por litro
(para melhorar a armazenagem da solução);
3 - Evitar a exposição à luz, pois ela tende a acelerar a decomposição da solução.
Padronização da solução de tiossulfato de sódio
O tiossulfato não é um padrão primário, pois existe uma incerteza sobre o seu
conteúdo exato de água. Assim torna-se necessário realizar a padronização dessa solução. A
padronizaão com o iodato de potássio é realizada através das seguinte equações:
IO3- + 5 I- + 6 H+ =3I2 + 3H20
2S2O3- + I2 = S4O6 + 2I-
O iodato reage com o iodeto de potássio liberando iodo. Portanto, é necessário pesar,
com exatidão 0,14- 0,15 g de iodato de potássio puro e seco, dissolver em 25 ml de água
destilada fervida e fria, adicionar 2 g de iodeto de potássio e 5 ml de ácido sulfúrico 1M.
Titular, com agitação constante, o iodo liberado com a solução de tiossulfato. Quando a cor
Apêndice-A
141
estiver pálida, adicionar solução de amido e continuar a titulação até que a cor mude de azul
para incolor. Titular em triplicada.
Se o amido é adicionado quando a cor amarela ainda estiver muito intensa, um
complexo precipitado pode ocorrer na forma de grânulos escuros. Uma vez formada, essas
partículas escuras se dissolvem lentamente e podem confundir a verdadeira determinação do
ponto final da titulação. Esses grânulos escuros indesejados são evitados adicionando-se o
amido quando a cor da solução na titulação estiver amarelo-palha (Foulk, 1952).
Com a padronização da solução de tiossulfato, pode-se saber com exatidão o valor da
sua normalidade. Essa solução padronizada pode ser então usada para titular soluções com
diversas concentrações de iodo formado com a reação do iodeto de potássio e o ozônio. O
iodato é o correspondente ao ozônio.
Com o valor do volume usado de tiossulfato de sódio nessa titulação, poder-se-á saber
a produção de ozônio produzido após a ozonização capturada no frasco lavador de gás.
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